Piloto de Stuka - Hans-Ulrich Rudel

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PILOTO DE STUKA( TROTZDEM )

Hans-Ulrich Rudel(1916-1982)

Oberst St.G2 2.530 misses de combate, 9 vitrias (7 caas em combate) 519 tanques destrudos, 800 veculos de todos os tipos, 150 peas de artilharia, inmeras pontes, 70 embarcaes anfbias, um encouraado, um cruzador, um destroyer.

"Voc o maior e mais corajoso soldado que o povo alemo jamais teve", disse Adolf Hitler para aquele filho de um pastor protestante em 1 de janeiro de 1945. Seu nome: Hans-Ulrich Rudel, um nome que se tornaria lenda e sinnimo de uma bravura da Luftwaffe.

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Introduo

ans-Ulrich Rudel comeou sua surpreendente carreira de piloto em 1939, durante a campanha da Polnia. Do primeiro ao ltimo dia de guerra na frente oriental (1941 a 1945), de Leningrado a Stalingrado e depois de Moscou at Berlim, Rudel bateu-se incessantemente contra os russos, e foi um dos raros pilotos a atravessar seis anos de combates areos. No foi por acaso que ganhou a fama de piloto "indestrutvel". Abatido em cerca de trinta ocasies, o fim do Conflito o encontrou pilotando um Fw 190D-9, com uma perna amputada e outra engessada! Rudel nasceu em Konradswaldau, Silsia, numa parte da Alemanha que hoje pertence Polnia, em 02 de julho de 1916. Sempre foi tido como um garoto tmido e assustado e sua professora lembrava-se dele como "uma criana adorvel mas um estudante terrvel". Sua falta de habilidade nos estudos era compensada pelo seu interesse em atividades esportivas. Quando o Partido Nazista assumiu o poder em 1933, Rudel ainda era um adolescente. Ele ingressou na Juventude Hitlerista (Hitlerjugend), tornando-se lder de esquadro (Scharfhrer) - uma tima forma de escapar da escola. No entanto, aps deixar esta Organizao ao completar 18 anos, ele no se filiou ao NSDAP, ao contrrio do que normalmente se afirma. Em 1936, aos 20 anos de idade, aps completar seus estudos em Schweidnitz e Grlitz, ele juntou-se Luftwaffe como Fhnrich (aspirante--oficial). O principal atrativo, foi a possibilidade de poder continuar praticando seus esportes, notadamente o atletismo. Aps concluir seu curso de piloto, em 1939, Rudel prestou os exames para treinamento avanado na Sturzkampffliegerschule (Escola de Pilotos de Mergulho) mas, surpreendentemente, aquele que se tornaria o mais famoso piloto de Stuka foi recusado. Ao contrrio de sua vontade, ele seria treinado como piloto-observador. Deste modo, quando a guerra eclodiu, em setembro de 1939, o ento Leutnant Rudel efetuou misses de reconhecimento de longo alcance durante a Campanha da Polnia, recebendo sua Cruz de Ferro de 2 Classe em 11 de outubro de 1939. Rudel nunca desistiu de sua aspirao e, aps vrias tentativas, ele finalmente foi admitido para treinamento em maio de 1940. Durante toda a Campanha da Frana, o j Oberleutnant Rudel permaneceu na Sturzkampffliegerschule prxima a Stuttgart. Em setembro daquele ano, ele seria transferido para o 1./St.G 2 "Immelmann" (1 Staffel da Stukageschwader 2) e voaria suas primeiras misses bordo do avio durante a invaso da Ilha de Creta - embora no tenha estado na zona de batalha.Hans-Ulrich Rudel _________________________________________________________________________

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esta altura da guerra, a Luftwaffe operava o mais famoso avio da Blitzkrieg: o bombardeiro de mergulho Junkers Ju 87 Stuka. Assim, nos comandos desta aeronave o jovem Rudel mergulhava sobre o alvo como uma guia de rapina, em um ngulo de quase 90, lanando sua bomba com uma preciso cirrgica. Nas preparaes para a Operao Barbarossa, a unidade de Rudel foi transferida para a Frente Oriental e, em 23 de junho de 1941, s 3:00hs da manh, ele voou sua primeira misso de combate em um ataque de mergulho. Nas 18 horas seguintes, Rudel voaria um total de quatro misses. Em 18 de julho de 1941, ele seria condecorado com a Cruz de Ferro de 1 Classe. Mas seu primeiro grande momento na guerra ainda estava por vir. Em 23 de setembro de 1941, os dois Staffeln do I/St.G 2 (Gruppe I do St.G 2) atacaram a frota sovitica ancorada no porto de Kronstadt (na rea de Leningrado), defendido por mais de 1.000 armas antiareas. Entre os navios l ancorados, estava o encouraado "Marat", de 26.500 toneladas - um dos dois nicos navios de grande porte da esquadra vermelha. Mais tarde, Rudel se recordaria: "Foi terrvel. Havia exploses por todos os lados. O cu parecia estar repleto de cascalhos. Eu estava me sentindo muito mal e o vo foi uma tortura. (...) O mergulho, num ngulo de 70 a 80, tirou o meu flego. Eu tinha o "Marat" em minha mira, ele se aproximava cada vez mais mais rpido. O navio se tornava cada vez maior. Eu via as bocas de suas armas antiareas apontando ameaadora-mente para mim. (...) No havia tempo para me preocupar com o fato de que um tiro direto de flak poderia me partir em pedaos. O "Marat" j preenchia completamente meu visor. Os marinheiros corriam pelo deck do navio, alguns carregando munies. Um dos canhes virou em minha direo e comeou a disparar. Neste momento eu apertei o boto que liberava a bomba. Puxei o manche para trs com toda minha fora, na tentativa de tirar o avio do mergulho, j que minha altitude era de apenas 300 metros. A bomba de 1.000kg que tinha acabado de soltar no poderia ser lanada de uma altitude inferior a 1.000 metros sob o risco de destruir o bombardeiro. Mas eu no estava me importando com isso. Eu queria atingir o "Marat" - nada mais. Embora eu puxasse o manche como um louco, eu tinha a sensao que o avio no estava me obedecendo. Eu estava quase perdendo os sentidos. Havia uma sensao terrvel em minha cabea e estmago, quando eu escutei a voz excitada de meu artilheiro de r: 'Herr Oberleutnant, o navio explodiu! Eu me virei lentamente. L estava o "Marat" atrs de uma nuvem de fumaa quase impenetrvel de 400 metros." Ao finalizar seu mais bem sucedido ataque, Rudel, descendo dos cus em um ngulo de 90, saiu do mergulho a apenas 4 metros da superfcie da gua! "Somente nesse momento eu percebi que ainda estava vivo" - ele afirmou bem depois. Este feito poderia ter dado a Rudel uma condecorao, mas isso no ocorreu. Hauptmann Steen,Hans-Ulrich Rudel _________________________________________________________________________ 5

que comandou todo o Gruppe que participou daquele ataque disse a ele: "eu tenho certeza que voc compreender que eu no posso condecorar um nico homem depois desta corajosa misso na qual o Gruppe inteiro tomou parte (...) eu considero o valor da equipe como um time, o que mais importante do que recomend-lo para a Cruz de Cavaleiro". Alm do encouraado "Marat", Rudel e seu Ju 87 afundariam um cruzador, um destroyer e cerca de 70 embarcaes anfbias e ainda danificaria o encouraado "Revoluo de Outubro" (irmo do malfadado "Marat"), at o fim da guerra. Na vspera do Natal de 1941, Rudel voou sua 500 misso e, seis dias depois, em 30 de dezembro, ele foi condecorado com a Cruz Germnica em Ouro pelo General der Flieger Wolfram von Richthofen, quando j havia sido designado Staffelkapitn do 9./St.G2. Depois disso ele seria enviado para Graz (ustria) para atuar como instrutor de novas tripulaes de Stuka. Em 06 de janeiro de 1942, o Oberleutnant Hans-Ulrich Rudel foi, finalmente condecorado com a merecida Cruz de Cavaleiro da Cruz de Ferro, mas ele somente retornaria frente de batalha - devido sua insistncia - em junho de 1942. Em setembro de 1942 ele receberia o comando do 1./St.G 2, operando na rea de Stalingrado, em apoio s tropas do 6 Exrcito alemo, sob comando do Generaloberst Friedrich von Paulus que tentava conquistar aquela cidade. Nesta ocasio a utilizao de bombas contra os tanques soviticos foi percebida. A idia de utilizar aeronaves armadas com canhes de grande calibre contra blindados data desta poca. No final daquele ano os alemes criaram o "Versuschskommando fr Panzerbekmpfung" (Comando Especial para Combate a Blindados), posteriormente conhecido como "Panzerjagd kommando Weiss", em homenagem a seu comandante, Oberst Otto Weiss. Depois de uma srie de testes com vrias aeronaves na localidade de Rechlin (Alemanha) das quais Rudel participou - decidiu-se pelo emprego do Junkers Ju 87D-3 equipado com dois canhes Rheinmetall-Borsig Flak 18, com seis projteis de 37mm cada um. O "Panzerjagdkommando Weiss" foi enviado frente em fevereiro de 1943. No dia 10 daquele mesmo ms Rudel voou sua 1000 misso de combate e se tornou um heri para a imprensa alem. Quase imediatamente ele foi designado para atuar na nova unidade, ento sediada em Briansk. As primeiras unidades foram primeiramente utilizada contra barcaas de transporte de tropas anfbias no Mar Negro e, no espao de trs semanas, Rudel destruiu 70 destes barcos. Em 16.03.1943, durante uma batalha de tanques na regio de Belrogod, Rudel destruiu seu primeiro tanque com seu Stuka equipado com os canhes de 37mm: "meu artilheiro de r disse que o tanque explodiu como uma bomba e que tinha visto seus pedaos voando logo atrs de ns", recordou-se Rudel.

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Mais tarde, a maioria dos Ju 87D-3 foram convertidos para destruidores de tanques e redesignados como Ju 87G-1, quase sempre sendo apelidados de "Panzerknacker" (Des truidor de Tanques) ou de "Kanonenvogel" (Pssaro Can-ho), sendo que tal converso estava completa em outubro de 1943. Em 14 de abril de 1943, Hans-Ulrich Rudel foi condecorado por Hitler com as Folhas de Carvalho da Cruz de Cavaleiro (o 229 soldado agraciado) e, pouco depois, promovido a Hauptmann. Em 05 de julho de 1943, durante a Operao Zitadelle - a derradeira ofensiva alem em Kursk, que seria a maior batalha de tanques da Histria - os dois primeiros Staffeln equipados com as novas configuraes de Stukas encontravam-se em operao: o Pz.J.Sta./St.G 1 e Pz.J.Sta./St.G 2 (Panzerjagdstaffel do Stukageschwader 1 e 2). Totalizando apenas nove avies, o Staffel de Rudel fora designado para atuar em apoio 3 Diviso SS "Totenkopf". No primeiro dia da Operao, em sua primeira misso, ele destruiria sozinho quatro tanques e, antes daquele dia terminar, seu score havia subido para doze. Depois ele diria: "Ns todos nos sentamos contaminados pela gloriosa sensao de ter evitado um maior derramamento de sangue do povo alemo com cada tanque destrudo." Ao mesmo tempo, em razo do sucesso de seus esquadres, novos Panzerjagerstaffeln foram formados. Baseado em suas experincias, Rudel desenvolveu novas tticas para seus avies. Ele descobriu que o melhor mtodo de atingir os tanques era, voando a baixa altitude, atirar em sua parte de trs (o motor do T-34, o principal blindado russo, era montado na traseira e seu sistema de arrefecimento no permitia a instalao de uma blindagem mais espessa). O aspecto interessante era que, atacando da retaguarda, ele sempre estaria voando em direo s suas prprias linhas - o que interessante se seu avio estiver avariado. Outro ponto fraco do T-34 eram as laterais. Usando esta ttica e voando um avio que no ultrapassava meros 350 km/h (o que o tornava um alvo fcil para os inimigos), Rudel destruiria um nmero fantstico de blindados: 519 tanques soviticos, o equivalente a cinco regimentos completos!!! Uma "orao" era muitas vezes feita por soldados alemes na Frente Russa quando os tanques T-34 avanavam em direo s suas linhas: "Meu Deus, nos envie Rudel!". E ele quase sempre vinha... e nunca um nico homem causou tamanho dano sobre um inimigo, chegando a destruir 17 tanques em um nico dia - no por acaso que os russos ofereceram pela sua cabea um prmio de 100.000 rublos. Alm disso, tambm totalizaria 150 canhes antitanques e antiareos, abateria nove avies inimigos e, em seis ocasies, aterrissaria atrs das linhas soviticas para resgatar outras tripulaes de Stukas abatidos. Em 17 de julho de 1943, Rudel tornou-se Gruppenkommandeur do III/St.G 2 e, em 25 de novembro do mesmo ano, ele mais uma vez dirigiu-se presena de Hitler para se tornar o 42 soldado em toda Wehrmacht a receber as Espadas da Cruz de Cavaleiro da Cruz de Ferro. No incio de maro de 1944, ele voou sua 1500 misso de combate. Rudel no bebia e no fumava e, em vez de sair com os amigos de sua Geschwader para divertir-se, ele aproveitava seus raros momentos de folga paraHans-Ulrich Rudel _________________________________________________________________________ 7

treinar arremesso de dardo e sempre que possvel, corridas de longa distncia (10.000 metros). Essa sua eterna paixo por esportes viria a salvar sua vida. Durante uma misso em 21.03.1944 para bombardear uma ponte sobre o rio Dniestr, seu esquadro foi atacado por caas Lavochkin La-5. O ala do ento Major Rudel foi forado a aterrissar atrs das linha inimigas. Rudel tambm pousou para resgatar seus amigos, mas foram quase que imediatamente cercados por tropas soviticas, sendo que a neve fofa impediu o seu avio de decolar. Os quatro soldados tiveram que realizar sua fuga a p. Mas logo o rio bar-rou seu caminho, sendo que eles tiveram que atravess-lo a nado. Seu artilheiro veio a falecer nas guas glidas, embora Rudel tenha nadado de volta para ajud-lo. Os outros dois homens tambm no resistiram e morreram vtimas dos perseguidores russos. Mas Rudel continuou. Aps percorrer 50 km a p e descalo, ferido no ombro por um tiro e perseguido por tropas montadas e ces, ele atingiu as linhas alems. Alguns dias depois, ele estava voando sua 1.800 misso, razo pela qual Hans-Ulrich Rudel se tornou, em 29 de maro de 1944, o 10 soldado alemo a ser condecorado com a Cruz de Cavaleiro com Folhas de Carvalho, Espadas e Diamantes pelo prprio Hitler, que ficou fascinado com a bravura do jovem piloto. Nesse nterim, Rudel destrua cada vez mais tanques, medida que as foras alems recuavam para dentro do III Reich. Em 28 de maro de 1944 ele acumulava 202 tanques destrudos, nmero que havia aumentado para 300 em 06 agosto. Em novembro de 1944, enquanto voava prximo a capital hngara (Budapest), ele foi ferido na perna, mas retornaria ao servi o alguns dias mais tarde - com sua perna engessada - para atingir a marca de 463 blindados destrudos em 23 de dezembro daquele ano. No entanto seu grande dia viria no Ano Novo de 1945. Nesta data Rudel receberia a Cruz de Cavaleiro com Folhas Douradas de Carvalho, Espadas e Diamantes, uma condecorao da qual ele seria o nico recebedor. Na mesma ocasio ele foi promovido ao posto de Oberst e recebeu o Schlachtfliegerspange mit Brillanten (Clasp de Vo para Apoio Terrestre com Brilhantes - criado em reconhecimento sua 2000 misso). Nesta ocasio foi comunicado que ele estava sendo proibido de voar em misses de combate, o que Rudel no estava disposto a aceitar. J havia conseguido evitar esta ordem outras vezes, mas nesta ocasio Hitler parecia irredutvel. Para ele, o jovem Oberst j havia feito o suficiente. Foi ento que Rudel disse: "Mein Fhrer, eu no aceitarei esta condecorao e a promoo se no me for permitido que continue a voar com minha Geschwader!" Um longo silncio se seguiu. Ningum contrariava Hitler!!! O Fhrer olhou-o por um

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longo perodo e finalmente disse: "Muito bem. Se voc realmente precisa voar... v em frente. Mas se cuide. Eu preciso de voc. O povo alemo precisa de voc". Cinco semanas depois, a sorte de Rudel acabou. Atingido na parte em sua coxa direita por um tiro de uma bateria antiarea de 40mm, em 09 de fevereiro de 1945, prximo a Frankfurt am der Oder, ele sangrou quase at a morte com seu osso estilhaado. Pousando em aerdromo alemo e levado rapidamente a um hospital de campo, sua perna direita foi amputada na altura do joelho. Levado posteriormente a um hospital em Berlim, l ele receberia uma prtese. Mas, mesmo assim, Rudel no desistiu. Ele voltaria a voar antes do final da guerra utilizando sua prtese, destruindo mais 13 outros tanques e co-mandando a mais antiga e mais conhecida das unidades de apoio terrestre: a Schlachtgeschwader 2 "Immelmann", j equipada com os novos Fw 190D-9. Em 08 de maio de 1945, quando a Alemanha se rendeu, Oberst Rudel, que estava na regio da Bohemia, voou sua 2530 e derradeira misso, em direo s tropas americanas situadas no aeroporto de Kitzingen, prximo a Wurzburg, escapando pela ltima vez captura pelos soviticos. Seu derradeiro ato, foi destruir os avies medida que iam pousando, mediante uma aterrissagem forada. Rudel seria interrogado primeiro na Inglaterra e, posteriormente, na Frana, retornando finalmente a um hospital na Bavria, para convalescer de seus ferimentos. Aps sua alta em 1946, ele trabalhou por um tempo como empreiteiro no negcio de transporte de cargas e, em 1948, ele emigrou para a Argentina, onde trabalhou para o governo daquele pas como assessor da Fora Area, mas estendendo seus negcios tambm no Paraguai e Brasil. Neste ltimo, onde esteve por vrias vezes na regio de Santa Catarina e passou alguns de seus ltimos dias de vida, o mais bem sucedido piloto da Luftwaffe e de toda a Segunda Guerra Mundial s deixou timas recordaes: "O Sr.Rudel esteve inmeras vezes aqui em nossa regio, era uma pessoa explendida." - Annimo. Rudel retornou para a Alemanha nos anos 50, envolvendo-se na poltica onde no foi muito bem sucedido devido suas posies excessivamente conservadoras, ainda atreladas ao pensamento totalitrio dos anos 30. Ele escreveu sua biografia, chamada "Trotzdem", que foi traduzida para oito lnguas (inclusive o portugus, "Piloto de Stuka") e se tornou um dos grandes clssicos da literatura sobre aviao da II Guerra Mundial. Mas mesmo em tempos de paz, Rudel continuou praticando esportes. Esquiava, corria e chegou a escalar o monte Llullay-Yacu na Argentina (6.902 mts). Ele tambm era muito respeitado nos EUA, onde foi entrevistado em vrias ocasies por militares americanos durante o desenvolvimento do avio A-10 Wartog (um novo tank-buster, movido a jato e equipado com um canho rotativo Gatlin de 20mm - muito usado na Guerra do Golfo). Suas atividades s diminuiriam aps um derrame em 1970, que o deixou com o brao direito paralisado. Ainda assim, apoiar Rudel podia se revelar algo muito perigoso. Em 1976, durante o encontro de veteranos do St.G 2 Immelmann com os jovens pilotos alemes da mesma unidade da Bundesluftwaffe, Rudel foi levado reunio e realizou um bem sucedido discurso para os preHans-Ulrich Rudel _________________________________________________________________________ 9

sentes. Criticado duramente, Rudel foi publicamente defendido pelo ento General Walter Krupinski - que foi sumariamente demitido. O balano matemtico de sua carreira formidvel: Rudel voou 2530 misses de combate (das quais 400 foram a bordo de um Fw 190D-9), sendo abatido em cerca de 30 ocasies. Em seis anos, ele destruiu cerca de 150 peas de artilharia, 519 tanques e aproximadamente 1000 veculos variados. Alm do couraado "Marat", ele afundou dois cruzadores e um destrier e danificou seriamente outro encouraado, como j foi descrito. Sob outra perspectiva, devemos ainda considerar que seus vos cobriram uma distncia de mais de 600.000km e usaram mais de 5.000.000 de litros de combustvel. Em adio a estes nmeros, Rudel despejou mais de 1.000.000kg de bombas, disparou mais de 1.000.000 de projteis de metralhadoras, e efetuou mais de 150.000 disparos de 20mm e mais de 5.000 disparos de 37mm. Sem sombra de dvida, a despeito de sua controvertida figura, inegvel que Hans-Ulrich Rudel foi um piloto experiente, que amava voar e combater. Ele odiava estar em licena ou em repouso mdico e mesmo quando teve sua perna amputada, ele no se deixou deprimir e continuou a voar e destruir. Ele demonstrou um poder, firmeza, destemor e determinao sem paralelos, mas nenhuma das imagens que temos dele durante a guerra nos mostra qualquer sinal das difceis situaes vividas em combate em seu rosto. Sua bravura pessoal est, portanto, alm de qualquer questionamento, e seu lugar na histria da aviao militar plenamente merecido. Hans-Ulrich Rudel, o soldado mais condecorado de toda Wehrmacht morreu aos 66 anos de idade, em 18 de dezembro de 1982. A seu pedido, todas as suas condecoraes foram doadas por sua viva para um Museu Alemo, onde repousam at esta data, j que Rudel no queria v-las leiloadas nos Estados Unidos. Mas, como no podia deixar de ser, mesmo seu funeral foi controvertido. Embora a Bundesluftwaffe tenha proibido a presena de pilotos em seu funeral, vrios pilotos apareceram para uma ltima homenagem. No momento em que ele era colocado no local de seu repouso definitivo, dois caas McDonnel Douglas F-4 Phantom da Luftwaffe fizeram uma saudao a baixa altitude como um ltimo adeus perante a cova aberta. Os autores desta ltima e merecida homenagem nunca foram identificados...

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Ficha do PilotoUnidades: - * Sturzkampfgeschwader 2 - Staffelkapitn do 9./St.G2 - Staffelkapitn do 1./St.G2 (9.42 - ) - Kommandeur do III/St.G2 (17.7.43 - ) - Kommodore (4.45 - 8.5.45)

- Panzerjagdkommando Weiss* Renomeada Schlachtgeschwader 2 (SG2) a partir de out/1943.

Aeronaves: - Junkers Ju 87 - Focke-Wulf Fw 190D Campanhas: - Blitzkrieg - Balcs - Frente Oriental - ??.??.1939 - Leutnant Promoes: - 29/12/1944 - Oberst Condecoraes: - 11/10/1939 - Cruz de Ferro de 2 classe - 18/07/1941 - Cruz de Ferro de 1 classe - 30.12.1941 - Cruz Germnica em ouro - 06/01/1942 - Cruz de Cavaleiro da Cruz de Ferro - 14/04/1943 - Folhas de Carvalho da Cruz de Cavaleiro .........................(229) - 25/11/1943 - Espadas da Cruz de Cavaleiro...........................................(42) - 29/03/1944 - Diamantes da Cruz de Cavaleiro........................................(10) - 29/12/1944 - Folhas de Carvalho douradas..............................................(1) - 29/12/1944 - Clasp de vo em ouro com diamantes

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Aeronaves

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ndiceI - DO GUARDA-CHUVA AO STUKA ...................................................................... 14 II - GUERRA CONTRA OS SOVITICOS .................................................................. 20 III - NO MEIO DA TEMPESTADE ................................................................................ 25 IV - A LUTA POR LENINGRADO ................................................................................ 30 V - DIANTE DE MOSCOU ........................................................................................... 38 VI - DA TEORIA PRTICA ....................................................................................... 43 VII - STALINGRADO ...................................................................................................... 49 VIII - RETIRADA .............................................................................................................. 54 IX - STUKA CONTRA TANQUE .................................................................................. 59 X - DO KUBAN A BJELGOROD ................................................................................. 63 XI - REGRESSO AO DNIEPER ...................................................................................... 67 XII - SEMPRE PARA OESTE .......................................................................................... 74 XIII - UM BANHO NO DNIESTER .................................................................................. 82 XIV - APROXIMA-SE A DECISO ................................................................................. 97 XV - NATAL DE 1944 ...................................................................................................... 110 XVI - A LUTA DESESPERADA DOS LTIMOS MESES ............................................. 124 XVII - O FIM ........................................................................................................................ 136- PREFCIO ...............................................................................................................

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CAPTULO IDo Guarda-Chuva ao Stuka1924 - Meu pai pastor em Seiferdau, pequena aldeia da Silsia. Tenho exatamente oito anos. Um domingo meus pais vo a Schweidnitz, cidade vizinha, para assistirem a uma parada area. Naturalmente, a idia de me levarem tambm nem sequer lhes ocorre; fico chorando de raiva e, sua volta, submeto-os a um verdadeiro dilvio de perguntas. Tudo me interessava, ou melhor, me apaixona, at aos mnimos detalhes. Especialmente a incrvel histria de um homem que, saltando de um avio, chegou indene ao solo, graas ao seu pra-quedas. Vencida por minhas splicas, minha me confeccionou, com um pequeno retalho de seda, um modelo reduzido, ao qual prendi uma pedra. Para minha grande alegria, o pra-quedas lanado do alto da escada, desceu lentamente e quase sem nenhum choque pousou seu fardo no cho do vestbulo. O que se pode fazer com uma pedra, pensei, devo poder fazer comigo mesmo. E quando, no domingo seguinte, meus pais novamente me deixaram sozinho em casa, resolvi tentar a grande experincia. Lanando mo do guarda-chuva materno, subo ao primeiro andar, passo ao batente da janela, abro o guardachuva e, sem me dar tempo de sentir medo, salto no vazio. Aterrisso sobre a terra fofa de um tufo de flores e constato, com doloroso espanto, que esfolei os quatro membros, sem falar de uma fratura na tbia direita. O guarda-chuva, que resistiu a tantas borrascas, aproveitou, no entanto, essa rpida viagem area para revirar-se no avesso, de sorte que minha descida se transformou em queda livre. Contudo, nem a dor, nem a clera paterna conseguem abalar minha resoluo: quero ser aviador! Durante meus anos de liceu, - pois meu pai insiste em que eu aprenda o grego e o latim - dedico todos os meus lazeres ao esporte, ou, mais exatamente, a todos os esportes. Sem dvida, a esse treinamento intensivo, e particularmente prtica do decatlon, no vero, e do esqui, no inverno, que devo minha constituio robusta e a excepcional resistncia fadiga. Pratico tambm motociclismo - mas minha moda: com algumas pranchas e um cavalete de marceneiro, construo um trampolim rudimentar. Monto em minha velha motocicleta e, a toda velocidade, subo pelas pranchas : um salto de dois ou trs metros, e volto a retomar contato com o solo; uma virada brusca, que levanta poeira do cho, e volto ao ponto de partida, recomeando tudo. Minha me treme de medo e meu pai me chama de aprendiz de acrobata. Seu descontentamento ainda mais agravado pelo fato - evidentemente deplorvel - de que absolutamente no quero compreender a necessidade de fazer regularmente minhas lies. Todavia, bem ou mal, vou chegando ao bacharelado e o problema da escolha de uma profisso vai-se tornando cada vez mais urgente. Como minha irm mais velha estuda medicina, meu pai, um simples pastor, no tem possibilidades de custear a instruo longa e onerosa que a profisso de piloto comercial exige. Decido-me, ento, pela carreira mais modesta de monitor de educao fsica. Mas, repentinamente, sem que ningum esperasse, o governo alemo decreta a criao da Luftwaffe. O Ministrio do Ar, passa de imediato, a pedir voluntrios, para a formao de uma reserva de oficiais. Mas o concurso de admisso difcil, muito difcil, com certeza, para a ovelha negra dublada de preguioso - que eu sou. Alguns amigos, mais idosos que eu e certamente mais experimentados, tentam a sorte e fracassam. Ao que parece, de seiscentos candidatos, s restaro, ao final, sessenta; e, apesar de minha confiana (atrevimento, diz meu pai), a idia de que eu faa parte desses dez por cento nem sequer me ocorre. No obstante, quero ao menos tentar. O deus do acaso deve velar por mim, pois, em agosto de 1936, recebo o boletim de ingresso na escola de guerra de Wildpark-Werder, para primeiro de dezembro do mesmo ano. Dois meses de servio com trabalho obrigatrio em Muskau (Silsia), onde grupos de jovens constroem diques ao longo do Neisse. Depois, parto para Wildpark-Werder. Inicialmente, nossa instruo aquela de todos os " azuis", com a diferena, porm, de que nosso programa singularmente acelerado, de sorte que, aoHans-Ulrich Rudel _________________________________________________________________________ 14

cabo de seis meses, j somos infantes perfeitamente treinados. Quanto aos avies, - s os vemos do solo; comumente, acompanhamos com olhar nostlgico suas evolues rpidas - sobretudo de bruos na lama glacial do campo de manobras. Mesmo fora dos cursos propriamente ditos, a vida nem sempre cor-de-rosa: recomendam-nos (o que, na verdade, significa que nos "ordenam") que no bebamos nem fumemos, que dediquemos todo tempo livre ao esporte, e, particularmente, que manifestemos desdenhosa indiferena pelas tentaes da Capital, todavia bem prxima. Apesar dessa austeridade oficial, minha mania de s beber leite suscita comentrios desaprovadores, para no dizer mais. Mas como consigo notas satisfatrias nas vrias matrias militares, tanto quanto nas provas esportivas, nosso oficial instrutor se mostra bastante satisfeito comigo, com a reserva, porm, de que me acha "um pouquinho esquisito".No segundo semestre, fomos transferidos para Werder, pequena e encantadora cidade situada entre dois grandes lagos. Finalmente, vamos voar. Pacientes monitores se esforam por nos inculcar os princpios e os segredos da pilotagem. Dia aps dia, sobrevo, com duplo comando, nosso campo de aviao. Depois de sessenta exerccios, sou dado por capaz de voar sozinho, o que faz de mim, simplesmente, um aluno mdio. Ao mesmo tempo, seguimos cursos tcnicos e conclumos nossa instruo militar. Ao fim do semestre, recebemos nosso certificado de piloto. A terceira e Ultima parte do programa bastante montona: s muito raramente voamos, mas, em compensao, estudamos da manh noite a ttica do combate areo e terrestre, o armamento, as transmisses, e assim por diante. A medida que se aproxima o exame final, uma espcie de febre assalta todos os aspirantes a oficial; com crescente impacincia, ficamos a imaginar a que categoria vamos ser destacados. Naturalmente, quase todos sonham tomar-se piloto de caa; mas compreendemos que isso no possvel, pois a Luftwaffe no se compe apenas de caas. Alguns, sempre bem informados, murmuram que todo nosso grupo ser destacado na aviao de combate. Por fim, os espritos se acalmam; no momento, trata-se de enfrentar a prova final. Depois do exame - bastante duro, alis - os candidatos aprovados recebem seus diplomas, com o grau de segundo-tenente. Antes de deixarmos a Escola de Guerra, visitamos ainda um centro de treinamento de D.C.A., s margens do Bltico. Enquanto assistimos a alguns exerccios, anunciam-nos a chegada - de todo inesperada - de Goering. O marechal conversa familiarmente conosco e, em segundo, indaga se em nosso grupo h voluntrios para as novas esquadrilhas de Stukas. Essas formaes acabam de ser constitudas, mas ainda lhes falta certo nmero de jovens oficiais. Reflito rapidamente: "Gostaria de pilotar um caa, mas, certamente, deveria contentar-me com um avio de combate; o melhor, ainda, apresentar-me como voluntrio para os Stukas". O fato que os avies de combate, pesados e de pequena maneabilidade, no me entusiasmam muito. Mas j estou com a mo levantada, e o ajudante de campo do marechal me inscreve na lista. Poucos dias depois, recebemos as ordens de destino: quase todo o grupo destinado A. . . aviao de caa! claro que me sinto terrivelmente decepcionado, mas nada h que fazer: serei piloto de Stuka! Em junho de 1938, reuni-me A minha esquadrilha, em Graz, capital da Estria. Trs meses antes, as tropas alems entraram na ustria, sob aclamaes entusisticas da populao. Nosso grupo, instalado em Thalerhof, acaba de receber novos Junkers 87, de dois . lugares; o velho Henschel, de um s lugar, no ser mais usado.. para os ataques em piqu (6). Aprendemos a voar em grupo, a atirar e bombardear, e sobretudo a picar, num ngulo cada vez mais vertiginoso, que quase chega aos noventa graus. Meus progressos no so nada rpidos - tanto menos quanto, ao momento de minha chegada, os outros pilotos j tm em seu ativo vrias semanas de treinamento. Comeo a adaptar-me, claro, mas muito - lentamente - pelo menos para o comandante da esquadrilha, que me considera um caso desesperado. Minha obstinao em passar as horas de folga nas montanhas vizinhas e no campo de esportes, mais do que no mess (7) - onde, ainda por cima, s bebo leite no me tornam nada popular, muito pelo contrrio. Apesar de tudo, sou promovido a primeiro-tenente e, pouco antes do Natal, o Ministrio pede que meu grupo designe um oficial para ser destacado no Centro de Reconhecimento Areo,Hans-Ulrich Rudel _________________________________________________________________________ 15

tendo em vista uma instruo especializada. B evidente que todos os chefes de esquadrilha declaram no poder dispor de nenhum de seus homens - todos, menos o meu, que encontra a inesperada oportunidade de desembaraar-se do "bebedor de leite". Bem que tento lutar, afirmar meu desejo de continuar piloto de Stuka; como ningum vem em meu socorro, no consigo deter o movimento inexorvel da (G) Vo picado. (N. do T.) (7) mess, alojamento destinado a oficiais. (N. do T.) mquina administrativa. Em janeiro de 1939, parto para a escola de pilotos de reconhecimento, em Hildesheim. Desde o primeiro dia, sinto-me infeliz, incrivelmente, indizivelmente infeliz. Nossa instruo compreende o reconhecimento areo terico e prtico. Parece que, ao final do curso, seremos destacados em determinadas esquadrilhas, especializadas em misses de reconhecimento operatrio. Durante os vos de treinamento, o instrutor mantm os comandos, a fim de permitir que nos dediquemos exclusivamente ao nosso trabalho de observao - tarefa fastidiosa, que no se adapta a um temperamento de piloto. Todos os dias, tiramos fotografias na vertical, na diagonal, na horizontal, e no sei mais de quantas maneiras. noite, reunimo-nos para o ensino terico, ainda mais enfadonho. Por fim, sou enviado a Prenzlau, nos confins do Brandeburgo, onde se encontra estacionada a 121 esquadrilha de reconhecimento de longa distncia. Dois meses depois, a esquadrilha se transfere para a regio de Schneidemuhl, na fronteira polonesa. Em seguida, vem a campanha da Polnia. Jamais esquecerei o dia em que sobrevoei a fronteira pela primeira vez. Fechado na cabina de pilotagem, fico a imaginar, com alguma inquietao, sobre o que nos espera. A primeira barragem de D.C.A. constitui para ns singular surpresa, e ningum tem vontade de rir; quanto aos raros caas poloneses, cada um deles nos forneceu excelente motivo de discusso. A teoria rida que tanto maldizamos durante o vero transformou-se em palpvel realidade :incessantemente, fotografvamos estaes, centrais e entroncamentos ferrovirios, a fim de informar o Alto Comando sobre os movimentos das tropas inimigas. Inicialmente, operamos na regio compreendida entre Thorn e Kulm e a seguir, pouco mais tarde, patrulhamos ao longo da estrada de ferro Brest-Litowsk-Kowel-Luck. O G.Q.G. deseja conhecer os detalhes do dispositivo inimigo na Polnia oriental e fixar-se, na medida do possvel, sobre as intenes dos mesmos. s vezes, descemos tambm na direo de Breslau, para explorar o espao meridional. Logo chega ao fim a campanha da Polnia e nosso grupo volta a Prenzlau. O comandante de minha esquadrilha est bem a par de meu pouco entusiasmo pelos vos de reconhecimento. Julga, porm, que, dadas as circunstncias - pois a verdade que estamos em guerra - qualquer pedido de reverso a um grupo de Stukas nem sequer seria tomado em considerao. Recusa-se, portanto, a intervir, e minhas prprias tentativas nesse sentido fracassam lamentavelmente . Passamos o inverno de 1939-1940 na regio do Hesse, em Fritzlar, perto de Kassel. Nosso grupo deve realizar vrias misses de reconhecimento na direo oeste e noroeste. Como esses vos se faro a grande altitude, os pilotos so inicialmente enviados a Berlim, onde se submetem a toda espcie de testes, para determinao de sua resistncia ao mal das alturas. "Resistncia insuficiente", me diagnosticam os mdicos. Desta vez, meu chefe se manifesta disposto a apoiar meu pedido de reverso aos Stukas, avies que nunca ultrapassam uma altitude mdia. Mas quando duas de nossas equipagens so abatidas pela D.C.A. ou pela caa francesa, o comandante, premido pela falta de pessoal, novamente me envia comisso mdica. Dessa vez, o veredicto algo diferente: "Resistncia excepcionaI aos efeitos da altitude", afirmam os mdicos, acrescentando que, minha primeira visita, alguma enfermeira (com toda certeza) deve ter cometido um engano qualquer. Mas o Ministrio do Ar no deseja manter-me no meu grupo atual, nem destacar-me num grupo de Stukas : manda-me para as imediaes de Viena, em Crailsheim, onde se acha estacionado um regimento de instruo da Luftwaffe. Mal assumo minhas funes de adjunto do coronel ~ que me obrigam a cuidar de toda a papelada administrativa da unidade - Tem incio a campanha da Frana. Trato de pr em movimento todas as engrenagens possveis e imaginveis, chego at a infringir os sacrossantos regulamentos hierrquicos, telefonando diretamente direo do pessoal,Hans-Ulrich Rudel _________________________________________________________________________ 16

em Berlim, mas no consigo ser enviado ao fronte; somente o rdio e os jornais me permitem acompanhar, a distncia, as operaes. At ento, nunca me sentira to desmoralizado; tenho a impresso de estar colocado parte, como um pestilento. O fato que esta existncia de desesperante monotonia. S muito raramente tenho a oportunidade de voar, pois, sem falar do trabalho burocrtico, temos que dedicar todos os nossos esforos e todo nosso tempo instruo dos recrutas. Certo dia, passeando em companhia do coronel num pequeno avio esporte, perco-me num labirinto de nuvens e evito, no ltimo instante, a crista de uma montanha envolvida pela bruma. Depois da aterrissagem, o coronel interrompe com um gesto minhas explicaes confusas, lana-me um olhar eloqente e se afasta. Para minha infelicidade, no faltava acontecer mais nada. Minhas inumerveis cartas, peties, reclamaes, alm dos telefonemas trouxeram-me finalmente o to almejado resultado ou talvez tenha sido meu coronel que se resolveu a intervir, para ver-se livre de mim. Fui enviado a Caen, As margens da Mancha, onde volto a encontrar minha primeira unidade - a esquadrilha de Stukas de Graz. Infelizmente, continua no havendo misses. Um de meus camaradas tenta fazer-me adquirir a experincia que os demais conseguiram durante as campanhas da Polnia e da Frana. Realizamos todos os dias vrios vos de exerccio. Evidentemente, no me falta boa vontade, mas essas coisas no se aprendem de um dia para outro, e eu decididamente no sou o que se poderia chamar um "elemento de elite". compreendo tudo, mas somente depois da quinta ou sexta vez. E quando, aps algumas semanas, o grupo parte para a Europa Oriental, levanta vo sem mim; preferem deixar-me em Graz, onde farei parte de uma esquadrilha de reforo. A verdade que ainda tenho muito que aprender, e de mim para comigo mesmo indago, por vezes, se o conseguirei. Tem incio a campanha dos Balcs e, mais uma vez, fico de fora. No entanto, pelo menos provisoriamente, Graz a base de partida de vrias esquadrilhas de Stukas. Quanto a mim, s me resta observ-las a decolar e aterrissar. O fronte se desloca rapidamente: nossas tropas levam de roldo o exrcito Iugoslavo, ocupam a Grcia, enquanto eu - pobre de mim! - continuo na retaguarda, exercitando-me em vo de grupo, nos piqus, no lanamento de bombas. Mas, de sbito, certa manh, exatamente ao cabo de um ms, tomo uma resoluo: "Agora basta, de uma vez por todas! Estou pronto! A partir de hoje, farei com meu avio o que quiser!" E, de fato, fao tudo o que quero. Meus dois instrutores no precisam mais repetir as lies: agora, podem fazer-me passar por todo o programa do "circo", experimentar-me em todas as figuras de alta acrobacia, que eu fico literalmente colado aos seus avies, trate-se de looping, de um piqu ou de uma chandelle sobre o dorso. Quanto as bombas coloco praticamente todas dentro do crculo de dez metros. E nos exerccios de tiro areo, em cem disparos consigo noventa na mosca. Em suma, estou em forma, e prometem enviar-me para o fronte com o prximo grupo de reforo. Poucos dias antes da pscoa, finalmente, chega o grande momento. Trata-se de enviar vrios avies A esquadra de Stukas estacionados na Grcia meridional. Levantamos vo e alcanamos, via Agram e Skoplije, a cidade de Argos. A, fico sabendo que devo dirigir-me ainda mais para o sul: a primeira esquadra de Stukas tem base em Mola, no ponto extremo do Peloponeso. Ao chegar, dirijo-me desde logo , grande tenda que abriga os servios administrativos. Sinto-me febril, tenso, cheio de impacincia para realizar minha primeira misso real. Ao entrar, dou de frente com o ajudante de campo do coronel: nossos rostos se fecham ao mesmo tempo, pois j nos conhecemos, e muito bem: trata-se de meu instrutor de Caen . . . - Que veio fazer aqui? - indaga ele num tom glacial. - Voar, contra o inimigo. - Antes de lhe confiar qualquer misso, precisamos estar seguros de seu perfeito domnio do Stuka. Sinto-me a ponto de explodir, mas consigo dominar-me, mesmo quando ele acrescenta, com um sorriso condescendente. - Fez muitos progressos? Houve um silncio, que se tornou cada vez mais insuportvel, at que, com a coragem do desespero, declarei: - Atualmente, domino perfeitamente meu avio.Hans-Ulrich Rudel _________________________________________________________________________ 17

Num tom desdenhoso - ou que pelo menos assim me pareceu - ele responde, acentuando slaba por slaba:- Submeterei seu caso ao coronel. Esperemos que sua deciso lhe seja favorvel. Pode retirar-se. Quando, depois de ter encontrado uma cama numa tenda menos atravancada, passeio pelo campo, no posso deixar de manter a cabea baixa. Em parte, verdade, por causa do sol ofuscador, mas sobretudo pelo meu abatimento. Depois, lembro-me que estou errado em ceder dessa forma ao desnimo. naturalmente, o ajudante de campo no tem muito boa opinio a meu respeito, mas. isso no prevalecer, necessariamente, na deciso final do coronel. Mas se esse animal tiver tal influncia sobre o "velho". . . no, improvvel. Mas, se. . . A ordem de me apresentar imediatamente ao gabinete do coronel livra-me, felizmente, de ficar por mais tempo preso nesse jogo enervante de hipteses vs. Afinal, trata-se de meu chefe, e devo confiar na independncia de seu julgamento. Apresento-me, batendo os calcanhares. O coronel responde saudao com certa indiferena, me considera em silncio durante uns vinte ou trinta segundos, que me parecem uma eternidade. Em seguida, limpa a garganta e diz: -. J nos conhecemos, no ? Como minha expresso deve refletir certo espanto, com negligente gesto de mo ele explica: - claro que nos conhecemos, visto que meu ajudante de campo o conhece. Conhece-o, mesmo, to bem, que por ora o probo de voar. Se, no futuro, as perdas de pessoal vierem a obrigar-me . . .No ouo o fim da frase. Pela primeira vez sinto empolgar-me por algo irresistvel, pela mesma fora que, anos depois, me amparou, na noite em que dentro de um avio despedaado regressei penosamente nossa base, com sangue a correr dos ferimentos e sentindo fugirem-me as ltimas foras: uma vontade feroz e, ao mesmo tempo, a revelao de que, mesmo na guerra moderna, a vitria pertence ao homem que quer triunfar sobre os obstculos. O coronel continuava falando, mas eu no ouvia nenhuma de suas palavras. Furiosamente, desesperadamente, luto contra a revolta que me sufoca. Felizmente, consigo dominar-me. E a voz do ajudante de campo que me chama realidade : - Pode retirar-se. Encaro-o: seu rosto est impassvel. Bato continncia, dou meia volta e saio, perfeitamente calmo, pelo menos na aparncia. Poucos dias depois, o Alto Comando lana a operao contra Creta. No campo, os motores rugem sem cessar, enquanto eu permaneo em minha tenda e tapo raivosamente os ouvidos. Creta ser a prova de fora decisiva entre os stukas e a frota. Trata-se de uma ilha; ora, segundo todas as regras estratgicas conhecidas at ento, somente foras martimas superiores podero arrebatar essa ilha aos ingleses. E a Inglaterra uma potncia naval de primeira ordem, o que no se poderia pretender com relao Alemanha, especialmente no Mediterrneo, onde o estreito de Gibraltar nos impede, at, levar ao local das operaes nossas poucas unidades. No seja essa a dificuldade: as leis imutveis da estratgia, a superioridade martima dos ingleses - tudo isso nossos Stukas jogam pelo cho, num impulso irresistvel e eu continuo embolorando em minha tenda. - . . . que por ora o probo de voar. Cem vezes, mil vezes por dia essa frase ressoa em meu crebro, irnica, desdenhosa, mordaz. No campo, os camaradas, animados de alegre excitao, contam suas proezas e descrevem o sucesso de nossos pra-quedista . 5. s vezes, tento persuadir um deles a ceder-me sua vez; chego, mesmo, a tentar suborn-los. Mas no h nada a fazer: todos me olham com ar divertido, dir-se-ia quase de comiserao, e sinto, em minha clera impotente, um aperto na garganta. Os

Hans-Ulrich Rudel _________________________________________________________________________

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stukas decolam, regressam e tornam a decolar, num incessante carrossel. Em minha tenda, sinto nsias de gritar, de raiva e de humilhao. "J nos conhecemos", disse o coronel No, ele no me conhece, e hei de prov-lo. Algum dia, h de chegar essa oportunidade, e eu a esperarei pacientemente, com inquebrantvel confiana. Pois tudo se resume Disso: nunca perder a autoconfiana!

Hans-Ulrich Rudel _________________________________________________________________________

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CAPITULO IIGuerra Contra Os SoviticosPouco a pouco, conclui-se a ocupao de Creta. Sou encarregado de levar para a Alemanha um avio danificado. Regresso via Sofia-Belgrado e pouso em Kottbus, onde devo aguardar "minhas ordens". Naturalmente, fico sem notcias e comeo a imaginar o que devo fazer. Todos falam de uma nova campanha que, realmente, parece iminente, dado que numerosas unidades de infantaria e de aviao partem na direo leste. A maioria julga que obtivemos do governo russo livre trnsito para o Oriente Prximo, para alcanar as reservas de petrleo da Gr-Bretanha. Todos se dizem bem informados, mas, na verdade, ningum sabe de nada. s quatro horas da madrugada do dia 22 de junho, o rdio anuncia que estamos em guerra com a Russia. Corro imediatamente s oficinas de reparaes, onde se encontram vrios avies da esquadrilha "Immelmann". Pouco antes do meio-dia, h um avio pronto e, a essa altura, no posso mais me conter. Parece que minha esquadra se encontra estacionada em algum ponto da fronteira da Prussia Oriental e da Polnia. Aterrisso inicialmente em Insterburgo para obter informaes. Num Estado Maior consigo a indicao desejada: meus companheiros acabam de se instalar num novo campo prximo do burgo de Raczi, a uns cinqenta quilmetros a sudeste. Meia hora depois estou pousando nesse campo, em meio a grande nmero de avies que voltam de alguma misso ou se preparam para decolar. O aerdromo literalmente fervilha de avies. Quando, finalmente, encontro "meu" primeiro grupo - a encantadora unidade que, na Grcia, no me permitiu sequer passear sobre Creta - o ajudante de campo manda que me apresente primeira esquadrilha. O chefe dessa esquadrilha, um tenente, explica-me sorrindo que ele no exatamente uma pessoa grata, que no da a mnima importncia a isso e que est satisfeito por acolher outra ovelha negra. Em suma, minha lamentvel reputao que granjeou sua simpatia. Tenho que separar-me do avio que trouxe de Kotbus. Mas me consolo ao saber que, para a prxima incurso, me confiaro um velho aparelho ainda mais slido. De resto, s penso numa coisa: "Agora, posso finalmente mostrar do que sou capaz". Como estou visivelmente cheio de entusiasmo, meu chefe de esquadrilha me atribui ainda outro encargo que, com certeza, ningum mais desejaria. Com ajuda do mecnico chefe, cumpre-me providenciar para que, em cada misso, a esquadrilha disponha do maior nmero possvel de avies. Alm disso, fico encarregado da ligao com a seo ttica da esquadra. Em nossa primeira sortida, sigo meu chefe como uma , sombra, a tal ponto que ele teme uma coliso; bem depressa, porm, ele percebe no haver perigo de que eu perca o controle de meu avio. Nesse mesmo dia, realizamos quatro misses contra o inimigo, na regio compreendida entre Grodno e Wolkowysk. Os soviticos esto com enorme quantidade de tanques em todas as estradas, Com suas colunas de abastecimento. Trata-se, na maioria, de blindados KV-I e KV-II, bem como de T-34. Jogamos nossas bombas contra os tanques e as baterias de D.C.A., nossas metralhadoras varrem com Suas rajadas os caminhes e a infantaria, depois do que voltamos ao campo municiamos-nos e tornamos a partir. Esse pequeno jogo continua durante vrios dias - com a primeira decolagem s trs horas madrugada e a ltima aterrissagem l pelas dez horas da noite. Nessas condies, as horas de sono esto reduzidas ao mais estrito mnimo. Desde que lhe sobre um minuto livre, o piloto trata de esticar-se debaixo de um avio e, naturalmente, dorme de imediato s vezes, os chefes de esquadrilha tm algum trabalho para fazer suas equipagens partir; os pilotos adormecidos, acordando em sobressalto, agem quase como sonmbulos, tamanha sua fadiga. Consolamo-nos, pensando que, algum dia, poderemos talvez. entregar-nos a todo esse sono que nos atordoa. . . Desde a primeira incurso observo as inmeras obras de fortificao, ao longo de toda a fronteira. Freqentemente essas construes se dispem, em profundidade, por centenas deHans-Ulrich Rudel _________________________________________________________________________ 20

quilmetros no interior da Rssia; por vezes, nota-se que os trabalhos ainda esto em curso. Sobrevoamos aerdromos quase terminados; em alguns, conclui-se a pavimentao das pistas, em outros os avies aguardam. . . no se sabe o qu. Margeando a estrada de Witebsk, importante campo est literalmente coberto de bombardeios Martin. S que todos esses avies esto imveis: os russos devem estar com falta de combustvel ou de pessoal. No obstante, vendo-se desfilar interminavelmente fortificaes, estradas estratgicas e campos de aviao, no se pode deixar de pensar: "Que sorte que tenhamos tomado a iniciativa!" visvel que os soviticos haviam organizado as regies fronteirias como base de partida de uma ofensiva contra Alemanha. Alis, contra que outro pas a Rssia poderia bater-se a oeste da Europa? Somente com a Alemanha, lgico -somente. Com ela. E se nosso Alto-Comando lhes tivesse dado o tempo de concluir seus preparativos, com certeza seria muito difcil, talvez impossvel, deter o famoso "rolo compressor". Fiis nossa misso ttica, lutamos continuamente frente das primeiras linhas da ofensiva. Sucessivamente e sempre por alguns dias - usamos como base de partida os campos de Ulla, Lepel e Janowici. Nossos objetivos quase no variam : tanques, veculos, pontes, posies fortificadas, baterias de D.C.A. De quando em quando, pedem-nos a inutilizaro de uma via frrea ou, ainda, que "cuidemos" de um dos trens blindados que os soviticos gostam de usar como apoio de artilharia. Enfim, trata-se de quebrar toda e qualquer resistncia que pudesse retardar o avano de nossas pontas-de-lana ofensivas. Os russos se defendem como podem. Sua D.C.A., leve ou pesada, sempre temvel. Sua aviao, ao contrrio, no oferece quase nenhum perigo. Com relao caa, s possuem, no momento, alguns obsoletos - Rata Polikarpov I-15 e I-16- sem termo de comparao com nossos Messerschmitt 109. Sempre que esses infelizes Rata se chocam com nossa caa, so abatidos uns aps outros. Contudo, apesar dessa inferioridade como avies de caa, os Rata tm maneabilidade bem melhor e, sobretudo, so bastante mais rpidos que nossos stukas; em conseqncia disso, no podemos nos permitir ao luxo de simplesmente, ignor-los. Quanto aviao ofensiva dos soviticos, isto , os avies de bombardeio e de combate, no pesa muito, estamos ocupados em destru-la, no ar e no solo. Na maior parte, so avies antigos, como os bombardeiros Martin e os D.B.III.. Atualmente raro vermos tipos mais modernos, como os P.II . S bem mais tarde a ajuda americana se manifestar nesse campo, com a apario macia dos bimotores Boston. Se a oposio area quase nula durante o dia, o mesmo no acontece noite. Freqentemente, os aviadores soviticos fazem incurses noturnas sobre nossas posies, procurando molestar a chegada de reforos e de abastecimento, como tambm para nos impedir de dormir. Embora os resultados obtidos sejam mnimos eles no se desencorajam. em Lepel que os vemos agir pela primeira vez. Lanam suas pequenas bombas bem na orla da floresta onde instalamos nossas tendas. Diversos companheiros meus so feridos. Com certeza, os russos viram filtrar-se algum raio de luz. Os pilotos soviticos, especialmente quando sobrevoam nossas linhas avanadas, cortam repentinamente o motor e descem em em vo planado; ouve-se apenas o frmito metlico dos cabos - trata-se de biplanos - e, depois, no silncio ansioso, o assobiar e espoucar das bombas; no instante seguinte, o ronco do motor que volta a funcionar. A bem dizer, mais enervante que perigoso. Temos um novo chefe de esquadrilha, o capito Steen, ele vem do grupo em que, no ano de 1938, fiz meus primeiros cursos de instruo num stuka. ele se habitua bem depressa minha mania de ficar literalmente colocado cauda de seu avio e segui-lo de poucos metros, mesmo em piqu. O capito tem boa pontaria, e a nica coisa que me cabe acompanh-lo no que faz. Se sua bomba erra o alvo, a minha o atinge, com toda certeza. Dessa maneira estamos certos - tanto eu como ele de que acertaremos; enquanto isso, os outros avies da esquadrilha podem ocupar-se com a D.C.A. ou outros objetivos prximos. Como era de se esperar, o comandante do grupo informou seu novoHans-Ulrich Rudel _________________________________________________________________________ 21

chefe de esquadrilha sobre os qualidades e defeitos de seus pilotos; no que me diz respeito, a informao sobre os defeitos certamente foi maior que sobre as qualidades. Mas o capito Steen no se prende a julgamentos superiores. Quando, dias depois lhe perguntam se "Rudel no por demais lamentvel, ele responde sem pestanejar: meu melhor piloto". O ajudante de Campo no mais far perguntas a meu respeito. O capito Steen reconhece minha tenacidade, certo, mas, por outro lado, no chega precisamente a confiar em que eu tenha uma carreira muito longa e feliz. Em seu entender, sou muito "louco", o que, entre pilotos, no representa apenas uma brincadeira, mas tambm uma espcie de elogio. pois ele sabe perfeitamente bem que, nos meus piqus, endireito meu avio bastante tarde para estar absolutamente certo de atingir o objetivo e no desperdiar munies. - Qualquer dia isso terminar mal, muito mal... - costuma dizer. fora de dvida que os fatos teriam confirmado essa triste profecia se, justamente naquela poca, eu no tivesse me beneficiado de uma sorte to descomunal. Mas, a cada ao, cresce a minha experincia e muito tenho a agradecer ao capito Steen. Sinto-me feliz em poder voar com ele. Contudo, sempre me ocorre o pensamento de que, cedo ou tarde, perderei minha pele. Certo dia, quando atacamos em vo rasante uma coluna russa, alguns disparos bem dirigidos da D.C.A. obrigam um de nossos avies a uma aterrissagem forada. Nossos companheiros pousam numa pequena campina, cercada, em trs lados, por espessas moitas de arbustos, que fervilham de soldados russos. A equipagem salta em terra e se abriga atrs do avio. Vejo nitidamente os pequenos jatos de terra que as rajadas das metralhadoras soviticas riscam no cho. Se no vierem buscar imediatamente nossos homens, eles esto perdidos. evidente, no h um segundo a perder, pois o inimigo est a poucos metros. . . uma loucura, mas. . . tanto pior! Baixo as rodas e, descendo para a campina, preparo-me para aterrissar. A minha frente, na folhagem, distingo os uniformes cinza-claros dos "Ivs". Bem no momento em que vou pousar, uma srie de detonaes sacode o avio. uma rajada de metralhadora em cheio no motor! E minha interveno se torna intil; no adianta aterrissar, j que, com o motor atingido, no conseguiria mais levantar vo. Sou obrigado a abandonar meus companheiros prpria sorte. Vejo-os, ainda, darem sinais de adeus, antes de concentrar toda minha ateno no aparelho, seriamente danificado. O motor geme, estremece, trepida, mas acaba por arrancar, bem a tempo de me permitir sobrevoar um pequeno bosque, raspando as rvores. Quase no vejo nada, pois espessa camada de leo recobre os vidros do cockpit, e fico a imaginar por quanto tempo os pistes superaquecidos vo agentar. A qualquer momento pode ocorrer a pane definitiva. Em baixo, vrios soldados russos se atiram ao cho, enquanto alguns outros me alvejam. O resto da esquadrilha j ganhou altura, para colocar-se fora de alcance das armas individuais. Meu avio consegue levar-me at nossos postos avanados, onde consigo mal e mal pousar. Um carro me leva depois a nosso campo. Quando vou fazer meu relatrio, encontro um companheiro de Graz, o aspirante Bauer, excepcional piloto e que ser, alis, um dos raros sobreviventes de nossa esquadra. Dou-lhe um aperto de mo, fao o relatrio e, meia hora depois, novamente decolo em outro avio. Mas minha srie negra ainda no terminou. Ao regressar, danifico a asa direita; no fundo, no estou aqui para ningum, pois a espessa nuvem de poeira que recobre o campo me impede de ver os outros avies. Onde encontrarei outra asa? Aqui, no existe; parece que conseguirei uma em Ulla, nossa base anterior, onde deixamos um avio totalmente inaproveitvel, exceto a asa direita. O capito Steen est furioso: - Enquanto seu avio no estiver em bom estado, voc no voar! - conclui ele, num tom que no admite rplica.

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No voar? Para mim a mais terrvel das punies. Parto imediatamente para Ulla, onde, com ajuda de dois mecnicos de outra esquadrilha e at de alguns soldados de infantaria, consigo, trabalhando toda a noite, desmontar minha asa danificada e substitu-la pela do avio condenado. de sorte que a gente precisa.s quatro horas e meia da manha tudo est pronto, e regresso ao nosso campo; chego bem a tempo de participar da primeira incurso. O capito olha para mim, sacudindo a cabea, mas no momento em que decolamos me dirige um sorriso. Mais uma vez, tudo acabou bem. Tomei o mximo cuidado nesse dia, temeroso de uma terceira complicao. Alguns dias depois sou destacado, na qualidade de oficial tcnico, para o terceiro grupo, o que me obriga a dizer adeus primeira esquadrilha. O capito Steen sente-se to triste quanto eu, mas nada pode fazer. Apenas assumo meu novo posto, o comandante do grupo tambm removido. No dia seguinte chega seu substituto: capito Steen! Decididamente, sou um sujeito de sorte. Apertando-me vigorosamente a mo, o capito diz : - Ento, meu velho! A coisa no foi to grave assim. Mas que algazarra essa? Corremos para fora. um pequeno grupo de pilotos, s gargalhadas, rodeia um velho caporalchefe, que parece singularmente plido. O pobre soldado pretendera abastecer seu isqueiro usando um galo cheio de combustvel. De sbito, o galo estourou literalmente em seu rosto - brincadeira de mau gosto, que o caporal-chefe certamente no esperava. Nada de grave lhe acontece, a no ser algumas queimaduras superficiais. Quanto a mim, lamento principalmente o combustvel, pois h velhas camponesas da regio que costumam troc-lo por ovos frescos. Parece que o utilizam para fazer aguardente! Evidentemente, essa troca proibida, mas no h quem no goste de ovos de galinha. Com relao aguardente que os camponeses tentam vender-nos, trata-se de uma variante particularmente infernal da cachaa de pior espcie, to forte que nem mesmo se consegue suportar uma gota sobre a pele. Os russos a bebem e nem sequer fazem careta. Enfim, tudo deve ser uma questo de hbito, como o que tm de dividir as igrejas em duas partes, por meio de um tabique de madeira; uma parte serve de sala de cinema e a outra de cavalaria. Cada povo tem seus costumes, como disse o capito Steen ao experimentar, pela primeira e ltima vez a famosa aguardente base de combustvel. No momento, toda nossa atividade se concentra na auto-estrada Smolensk-Moscou, onde os russos acumularam enorme quantidade de material. Freqentemente, os caminhes e blindados rodam por ela em trs colunas, num cortejo ininterrupto. Graas a nossos incessantes ataques, essas massas compactas, ao cabo de alguns dias, no passam de um amontoado de ferragens retorcidas. Cada vez que sobrevo esse verdadeiro cemitrio, penso comigo mesmo:"Meu Deus! Se todos esses tanques se tivessem despejado sobre a Alemanha!" Felizmente, conseguimos afastar esse perigo - esse perigo mortal. Caminhes, canhes e tanques so esmagados, pulverizados, transformados em ferro-velho. Enquanto isso, o exercito alemo avana, num irresistvel impulso. Em breve, passamos a operar do campo de Duchowtchina, ao norte da estao de Jarzewo, onde ainda se desenvolve encarniado combate. Certo dia, um Rata surge do teto de nuvens, entra num mergulho picado quase na vertical contra ns e abalroa o avio de Bauer,O Rata cai como uma pedra e se esmaga no solo, enquanto Bauer consegue dar meia-volta e voltar com seu avio, seriamente danificado. noite, a rdio de Moscou canta louvores ao tenente sovitico que "sacrificou a vida atirando-se contra um imundo Stuka que ferido de morte, abateu-se em chamas". A rdio russa deve estar bem informada, evidentemente; quanto a ns, temos especial predileo pelos belos contos de fadas, que nos fazem lembrar da infncia... Trs quilmetros alm, o exrcito prepara uma nova ofensiva de grande envergadura. Estamos certos de que participaremos da mesma e ficamos bastante surpreendidos, pois, quando, numa bela manh, recebemos ordens de partir para outro setor do fronte. Nosso novo campo, prximo da aldeia de Rehibitzy, fica a cento e cinqenta quilmetros a oeste do lago Ilmen. Logo que nos instalamos, recomeamos nosso trabalho de demolio.

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Atacando sempre, da manh noite, apoiamos as colunas de infantaria e de tanques que avanam na direo do leste e do norte.

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CAPITULO IIINo Meio da TempestadeEm Rehilbitzy, o vero sufocante e trrido; quando no voamos, procuramos a sombra relativamente fresca das tendas. Nosso COmandante, o capito Steen, partilha de todas as nossas alegrias e tristezas. S de raro em raro tenho oportunidade de conversar com ele; todavia, tanto eu quanto ele temos a impresso de que nos entendemos perfeitamente bem. noite, depois da ltima incurso, d um passeio pela floresta ou pela estepe; s vezes o acompanho, outras vezes exercitome no lanamento de peso ou de disco, quando no dou volta ao campo em passo acelerado. Essa atividade fsica a melhor distenso que se pode ter, depois da prova enervante do combate; propicia-nos um bom sono e nos permite estar lpidos e dispostos no dia seguinte. Alm do mais, Steen no muito amigo do lcool e compreende, portanto, muito bem minha total absteno; isso me livra um pouco das eternas piadas que minha mania de s beber leite sempre provocou. Steen um condutor de homens como raramente se encontra. Graas sua ascendncia pessoal, sua energia, seu sangue-frio, e tambm ao cuidado que dispensa aos seus homens, consegue dos pilotos o mximo que eles podem dar. Como todos ns, tem horror D.C.A., mas nenhuma barragem, por mortfera que seja, conseguiria lev-lo a lanar suas bombas antes de haver picado at poucos metros do objetivo. Forma equipe com o ajudantechefe Lehmann o mais velho de nossos metralhadores. Quanto a mim, vo com o mais jovem, o sargento Scharnovski. O pequeno Alfredo, como o chamamos, o dcimo terceiro filho de um campons da Prssia Oriental. um taciturno que quase no abre a boca; talvez por isso que ningum consegue tir-lo fora de si. Enquanto o tenho por detrs de mim, com o dedo crispado no gatilho de sua metralhadora, no temo os caas russos; nenhum Iv pode ser to frio, to fleumtico quanto o pequeno Alfredo. J tivemos em Rehilbitzy tempestade de inaudita violncia. Trata-se, certamente, de um trao caracterstico do clima continental russo; ao menor resfriamento da temperatura ocorre um verdadeiro desencadeamento da clera celeste. Em pleno dia, faz-se noite, repentinamente, as nuvens se arrastam quase pelo cho e despejam enormes cataratas. S se consegue ver num raio de alguns metros. Quando de nossas incurses, temos o cuidado de contornar essas tempestades apocalpticas. Mas um dia, bem a contragosto, vejo-me no centro da tormenta. Apoiamos o exrcito, na regio de Luga, por misses ofensivas e defensivas. Alm disso, cumprimos s vezes misses estratgicas bem atrs das linhas inimigas. Assim, recebemos certo dia a ordem de atacar a estao de Tschudowo, na estrada Leningrado-Moscou, de capital importncia para o encaminhamento dos reforos russos. Excurses precedentes nos permitiram reconhecer de maneira bem precisa a fora e a localizao das baterias de D.C.A. Esta bastante poderosa, mas, desde que no nos encontremos com novas formaes de caas, julgamos que poderemos nos safar sem grandes perigos. Minutos antes da partida, uma formao de avies de combate soviticos ns os chamamos os Gustavos de Ferro - ataca nosso campo. Mergulhamos nos fossos cavados margem da pista. O tenente Stahl pula por ltimo, de ps juntos, e aterrissa exatamente sobre meus rins. Isso bem mais desagradvel que o sangue dos Gustavos que, acolhidos por fogo nutrido de nossa D.C.A., lanam suas bombas sem fazer qualquer pontaria e passam em rasante bem perto do solo. Mais uma vez muito barulho para nada. Decolamos, enfim, tomamos o rumo nordeste e subimos at trs mil metros. O cu est bem limpo sem qualquer nuvem. A minha frente vai o capito Steen. Nossas asas quase se tocam e eu distingo, atravs dos vidros de nossos respectivos postos, seu rosto impassvel e seu sorriso confiante. Logo mais, uma vasta depresso, surge a superfcie azul do lago Ilmen. Muitas vezes temos sobrevoado suas guas calmas e claras, seja na direo norte, para Novgorod, seja na direo sul, para Stara Rusa - dois pontos nevrlgicos do fronte, cujos nomes imediatamente despertam, em cada um de ns, a lembrana das situaes crticas que ali vivemos. Quando estamos a poucosHans-Ulrich Rudel _________________________________________________________________________ 25

quilmetros de nosso objetivo, vemos subir no horizonte uma negra massa de nuvens. A tempestade estar antes ou depois da estao que temos de atacar? Com o canto dos olhos vejo o capito Steen examinar seu mapa. Agora j estamos atravessando alguns bancos de nuvens isoladas, guarda avanada da tempestade. Por mais que abra os olhos, no vejo a estao, que deve estar bem sob a borrasca. A julgar pelo tempo decorrido, no pode estar muito longe, mas impossvel nos orientarmos nesta regio montona, delimitada por grossas nuvens que parecem assentar diretamente no cho. s vezes, durante dois ou trs segundos, nave~ gamos em plena escurido, para emergirmos de novo em plena claridade. Com medo de perder contato com meu chefe, me aproximo ainda mais de seu avio, at cerca de dois metros. Isso parece arriscado, mas o melhor meio de evitar uma coliso nestas malditas nuvens. As formaes que nos seguem vm igualmente cerradas;todos os pilotos devem pensar como eu. Mas por que Steen no d meia-volta? Um ataque com esta tempestade me parece empresa insensata, previamente condenada. Talvez esteja a procurar no mapa o traado de nossas linhas, a fim de encontrar, nestas paragens, outro objetivo interessante. Assim no voltaramos de mo abanando. Ei-lo que desce ligeiramente, com certeza para procurar passagem entre as camadas de nuvens. Mas tudo est fechado. Subimos, procurando passar por cima da tempestade, pois ir por baixo no coisa nem de se pensar. Steen dobra seu mapa e, bruscamente, da meia volta, virando sobre a ponta da asa; ele est bem consciente das ms condies atmosfricas, mas deve ter-se esquecido que minha asa quase roa a dele - e do lado em que vira. Reajo numa frao de segundo, numa virada seca, mais seca ainda que a dele, o que me permite evitar o acidente fatal. Vejo-me quase de dorso, Ora, sob o avio esto presas duas bombas de setecentos quilos, esse enorme peso acentua ainda mais o movimento de bsculo de maneira que, dois segundos depois, meu avio mergulha, com o nariz frente, para a massa negra de nuvens. Ao meu redor, completa escurido. Ouo assobios estridente,", turbilhes sinistros. De todos os lados, filetes de gua escorrem pelo cockpit. s vezes, ofuscante claro rasga a noite. Formidveis rajadas de vento sacodem e jogam o avio, cujos arrebites gemem e estalam de maneira inquietante. No vejo nada, nem o sol, nem o horizonte - nenhum ponto sequer, que me permita orientar o aparelho. Os quadrantes do quadro de bordo esto loucos, suas agulhas parecem anunciar o fim do mundo. Se ainda se pode crer no que indicam, o avio cai como uma pedra, girando ao redor dos eixos vertical e horizontal. A acelerao de minha queda terrificante. - preciso que eu lute com todas as minhas foras para endireitar-me - sem perda de um s instante - pois o altmetro baixa cada vez mais. . . O avio, agora, desenvolve quase seiscentos quilmetros; com certeza mergulha praticamente na vertical. O altmetro indica, numa sucesso rpida, 2.300, 2.100, 2.000, 1.800, 1.700, 1.600, 1.500. Se a coisa continuar assim, haver, dentro de poucos segundos, uma enorme deflagrao, e ser o fim. Estou ensopado, a ponto de imaginar se suor ou se a gua que penetra na cabina. 800 metros, 600, 500 - sempre 500 metros! No estou mais caindo! Consegui endireitar-me! Se ao menos no houvesse esta terrvel presso sobre os controles de profundidade! 400 metros, 350, 300 tudo no passou de iluso; continuo a despencar-me. volta do avio o nada, a noite total; os relmpagos continuam a cegar-me. Puxo o manche com ambas as mos, num ltimo e desesperado esforo. O sangue lateja-me nas frontes, tenho a impresso de estourar. Na verdade, luto sem convico, pois esse combate entre os elementos desencadeados me parece to intil! Depois lembro-me bruscamente que meu altmetro est marcando 200 metros a mais; isso significa que me esmagarei no cho quando a agulha ainda estiver indicando 200 metros. Continuo puxando o manche e fecho os olhos. Um choque terrvel. "Bem, penso, estou morto." E me creio morto, realmente, durante um ou dois segundos. Depois, subitamente, concluo que isso estpido : se estivesse morto no pensaria mais, no acreditaria mais em coisa alguma. At que ouo o rugido do motor - por conseqncia, ainda estou vivo. E eis que me chega a voz impassvel do pequeno Alfredo: - Meu tenente - diz ele, num tom de voz natural - devemos ter batido em qualquer coisa!

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Essa calma fleumtica me tira a respirao. Mas, pelo menos, sei algo: o avio no se abateu; continua voando. Essa constatao me ajuda a recuperar o controle dos nervos. Uma rpida olhada ao altmetro: a agulha comea a subir! Agora, sinto que me sairei bem. A bssola indica que o avio se dirige para oeste - a boa direo para alcanar nossas linhas. Fixo o quadro de bordo como que para hipnotizar os instrumentos; Oxal funcionem normalmente, apesar de nossa queda e do choque. Com infinitas precaues, descrevo uma curva, para constatar se meu pobre avio ainda obedece aos comandos. Pouco a pouco, a escurido se torna menos opaca at que samos da zona da tempestade. Atrs de mim, Alfred Scharnovski anuncia, com voz indiferente : - Um grande buraco em cada asa, e em cada buraco pequeno ramo de btula. Falta, tambm, um considervel pedao do leme lateral e os flapes. No mesmo instante, emergimos em plena claridade: o avio atravessou a camada inferior das nuvens. Olho para fora e vejo, realmente, que carrego nas asas dois pequenos galhos de btula. essa carga imprevista, como tambm os estragos no leme e nos flaps que explicam tudo : a perda de velocidade ascensional, a indocilidade aos comandos. Durante quanto tempo ainda meu pobre stuka agentara? Provavelmente, estou a uns cinqenta quilmetros atrs da frente russa. Para um avio em perfeito estado de vo no seria nada, mas com meu "zinco" danificado. . . Lembro-me das bombas e me desembarao imediatamente desse peso suplementar. Mais leve o avio readquire um vo mais normal. Mas outro temor comea a obcecar-me: a caa russa. Em todas as nossas misses neste setor nos chocamos com caas soviticos. Comigo, eles teriam as coisas facilitadas; me abateriam sem alvejar-me, mas simplesmente olhando- me de banda. Ainda dessa vez a sorte me sorri: o cu est vazio; no descubro nenhum ponto suspeito. O que no impede que eu solte um suspiro de alvio quando alcano nossas primeiras linhas. Claudicante, arrasto-me para nosso campo. Como temo que, na aterrissagem, o avio, cada vez mais recalcitrante, caia bruscamente e se esmague contra o solo, ordeno a Scharnovski que fique pronto para saltar quando eu lhe der ordem. Em seguida, tento reconstruir as diversas fases do milagre que me permitiu sair vivo daquele verdadeiro inferno: A fora de puxar o manche, provavelmente conseguira endireitar o avio bem no instante em que ia tocar o solo. Ganhando a horizontal, deveria ter passado a toda velocidade entre vrias btulas, duas das quais haviam furado minhas asas e nelas ficado presas. Por inacreditvel sorte, a hlice no sofrera nenhum choque; pouca coisa bastaria para arranc-la ou, pelo menos, retorc-la. De qualquer forma, pensei, tinha que ser um Junkers 87, o avio mais forte da Luftwaffe, continuar voando depois de semelhante aventura. O caminho de volta pareceume interminvel. Por fim, descubro numa clareira o campo de stoltzy, onde se encontram estacionados nossos caas. Meu prprio campo fica a poucos quilmetros Scharnovski, assim que estivermos sobre a pista voc saltar de pra-quedas. - Peo-lhe desculpas, meu tenente, mas no saltarei. Estou certo de que o senhor aterrissar sem acidentes. - Que se pode fazer com semelhante animal ?. Nem sequer tenho tempo de pensar no problema, pois nosso campo j est vista. Pela primeira vez, ele me parece um lugar encantador, onde me aguardam os companheiros que julguei nunca mais veria. Numa das barracas, dependurada num prego, est a tnica de meu uniforme e, em seu bolso interno, a ultima carta de minha me. Dizer que ainda no a li! ridculo; um piloto deveria sempre ler e reler as cartas de sua me!. Dir-se-ia que h uma reunio diante do gabinete do comandante, que, talvez, j esteja dando instrues para a prxima incurso. Tratemos de nos apressar. Mas, o que h? Todos erguem a cabea para mim, e o grupo se dispersa. Inicio a aterrissagem e, para conservar uma boa margemHans-Ulrich Rudel _________________________________________________________________________ 27

de segurana, pouso antes que o avio tenha perdido muita velocidade. Tudo corre bem; o avio rola, meio aos trancos, at o fim da pista e consigo parar no Ultimo momento. J alguns companheiros acorrem. Logo aps eu deso, muito desageitadamente, pois estou, quando nada, com as pernas moles. Scharnovski continua absolutamente calmo; parece que volta de uma excurso de fim de semana. Agora todos os pilotos me cercam, apertam-me as mos, felicitam-me. Livro-me o mais depressa que posso e vou apresentar meu relatrio ao comandante: - Tenente Rudel regressando de misso, no realizada. Devo assinalar que o avio, tendo tocado o solo nas proximidades do objetivo, est bastante avariado. O comandante sorri, me aperta afetuosamente a mo, abana a cabea e se retira. Meus companheiros me contam, ento, que o "velho" os convocara para fazer-lhes o seguinte discurso :A equipagem do tenente Rudel tentou realizar o irrealizvel. Picando atravs da tempestade para atingir o objetivo, encontrou a morte. . . Ia terminar a frase quando meu despedaado avio surgiu na outra extremidade da pista. Ele ficou extremamente vermelho. E a seguir muito plido, depois do que, num gesto seco, dispensara os pilotos. E quando, pouco depois, me chama para obter detalhes sobre minha involuntria aventura, ouve-me com visvel incredulidade. Por mais que lhe explique que foi sua virada brusca que de certa maneira, me precipitou nas nuvens, est persuadido de que mergulhei voluntariamente atravs da tempestade. E no se da por vencido. - Mas asseguro-lhe, meu capito, que absolutamente no era minha inteno. . . - Sim, est bem. . . Eu o conheo, sei que maluco. Voc no queria voltar sem atacar a estao. - O senhor superestima minha coragem. - No, no superestimo. Alis, no se trata de coragem mas de loucura. qualquer dia destes voc perder a pele. Bem, vamos partir novamente dentro de meia hora. Naturalmente, fiz minha ltima incurso do dia em outro avio. noite, fao uma boa prtica de acelerado, a fim de descontrair os msculos e, sobretudo, para distender meus nervos crispados. Em seguida, caio num sono profundo. No dia seguinte, voamos novamente na direo de Novgorod; a visibilidade boa e logo mais a grande ponte sobre o Wolchow se desfaz sob nossas bombas. Neste setor, os soviticos, tentam fazer passar, pelas pontes do Wolchow e do Lowat - um curso de gua que d vazo ao lago Ilmen, ao sul - o mximo de reforos em homens e material, para impedir o desbarato do seu fronte. Por esse motivo que atacamos seguidamente essas pontes. Mas logo constatamos que as destruies, embora considerveis s conseguem demorar um pouco mais o envio dos reforos. e que mesmo essa demora coisa passageira. Com extraordinria rapidez o gnio sovitico constri numerosos pontes, alm disso, ao cair a noite, turmas de trabalhadores consertam mal e mal os pisos esburacados por nossas bombas, e o trfego recomea. Todos os dias, sem exceo, realizamos vrias incurses, e esse esforo continuado acarreta numerosas manifestaes de fadiga nervosa, algumas um tanto desagradveis. Atualmente no se pode mais confiar a um s piloto o cuidado de receber e anotar as instrues telefnicas que a esquadra transmite. l pela meia noite ou mesmo mais tarde. O comandante determina que qualquer mensagem seja recebida e registrada por dois homens, apesar dessa precauo, freqentemente ocorrem equvocos. mal-entendidos" no exato sentido literal do termo. Ento, um dos homens atribui a culpa ao outro, e vice-versa. A realidade que quase todos ns estamos to esgotados que, ao chegar a noite, somos incapazes de nos concentrar. Finalmente, o prprio capito Steen se encarrega da recepo das chamadas telefnicas, e me pede que o secunde. Uma noite, minutos antes das vinte e quatro horas, o comodoro que nos chama, pessoalmente!- Amanh cedo, precisamente s cinco horas, dirijam-se sobre Batjeskoje, com a proteo dada pela caa. Auxiliados por nossas lanternas de bolso, examinamos os mapas. absolutamente necessrio encontrar esse bendito lugar, mas, depois de decifrarmos dezenas e dezenas de nomes russos, noHans-Ulrich Rudel _________________________________________________________________________ 28

conseguimos descobri-lo. Nosso desespero to grande quanto a prpria Rssia inteira. Por fim, Steen confessa: - Peo-lhe desculpas, meu coronel, mas no consigo localizar esse lugar... - De to encolerizado, o comodoro se pe a usar gria: - Com mil demnios, como que esse moleiro quer comandar uma esquadrilha, se no capaz de compreender quando se marca um encontro com ele num miservel de um lugar ... - Isso eu compreendi, meu coronel; a situao desse lugar que ignoro. Se o senhor pudesse indicar-me em que quadriltero do mapa se encontra essa aldeia. . .H um longo silncio. Olhamonos, sorrindo e do outro lado da linha, o coronel pigarreia e num tom contrito, admite: - Caramba! No sei de nada. Talvez meu ajudante de campo. . . ei! Ernemann! Explique aqui ao capito... - O ajudante-de-campo realmente nos explica a localizao exata da pequena localidade, no meio de imenso pntano, respiramos e nos apressamos a ir dormir, para gozarmos, pelo menos, de quatro horas de sono.

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CAPITULO IVA Luta Por LeningradoO CENTRO de gravidade do fronte se desloca cada vez mais para o norte. Em setembro de 1941, somos enviados a Tyrkowo, ao sul de Luga, de onde realizamos incurses cotidianas na regio de Leningrado. O exrcito de terra ataca a cidade - melhor diria a fortaleza - do oeste para o sul. A situao da praa, entre o golfo de Finlndia e o lago Ladoga, favorece consideravelmente os defensores, visto que reduz a frente de ataque a uma faixa relativamente estreita. J h vrias semanas nossas tropas avanam muito lentamente; s vzes, tem-se a impresso de que marcam passo. Aos 16 de setembro, o capito Steen nos rene para explicarnos a situao militar nesse setor. o principal obstculo ao nosso avano constitudo pela frota russa, que patrulha a certa distncia da costa, e cuja artilharia, extremamente poderosa, intervm continuamente contra nossas unidades. A base dessa frota fica em Kronstadt, o maior porto de guerra sovitico, edificado numa ilha do golfo de Finlndia. A uns vinte quilmetros alm, na direo leste, abre-se o porto de Leningrado; para o sul, entre os portos de Oranienbaum e de Peterhof, esto concentradas, numa faixa costeira de dez quilmetros de largura, foras russas numerosas e perfeitamente equipadas. O capito pede que assinalemos todas essas indicaes em nossos mapas, para que possamos reconhecer, ao simples olhar, o traado do fronte. Naturalmente, supomos que nosso prximo ataque ser dirigido contra essas concentraes de tropas, mas, para surpresa geral, o "patro" volta ao problema constitudo pela frota russa. Compe-se essa frota de dois couraados de 23.000 toneladas, o Marat e o Revoluo de Outubro, de quatro ou cinco cruzadores, entre os quais o Mximo Gorki e o Kirov, e, finalmente, de vrios torpedeiros. Conforme o lugar em que a infantaria russa reclame o apoio de sua artilharia terrivelmente precisa, esses navios se deslocam ao longo da costa. Os dois couraados, porm, evitam tanto quanto possvel sair do canal mais profundo, entre Kronstadt e Leningrado. Ora, nossa esquadra recebeu ordens de atacar essa frota. Bombardeiros comuns so impotentes contra objetivos relativamente pequenos e mveis, tanto mais que preciso contar com uma D.C.A. poderosssima. Bombas comuns, munidas de detonadores normais, igualmente so impotentes, pois explodiriam na primeira ponte blindada; certo que demoliriam uma parte das superestruturas, mas nunca conseguiriam afundar o navio. Vamos receber, para essa misso, bombas de mi' quilos, munidas de detonadores de retardamento; esses projteis podero penetrar profundamente no casco, para explodir s depois de haverem alcanado pontos vitais. Dessa forma, poderemos mandar ao fundo qualquer navio, inclusive o maior dos couraados. Algumas horas depois, quando o tempo realmente mau parece condenar-nos a uma total inatividade, recebemos repentinamente a ordem de atacar de imediato o couraado Marat, que acaba de ser localizado por nossos avies de reconhecimento. O boletim meteorolgico pouco encorajador: pssimo tempo at Krasnowardeisk, trinta quilmetros ao sul de Leningrado; sobre o golfo de Finlndia, 5/ 10 e at 7/ 10 de nuvens, com limite inferior da camada a 800 metros. O que significa que teremos de atravessar essa camada, cuja espessura sobre nosso campo atinge 2.000 metros. Toda a esquadra decola e se encaminha para o norte. uma esquadra reduzida sua mais simples expresso, pois s compreende trinta avies, enquanto, no papel, conta com oitenta. Enfim, como numero nem sempre fator decisivo. Infelizmente, nossas bombas de mil quilos ainda no chegaram. Como o Stuka, com seu nico motor, no se presta ao vo sem visibilidade, o chefe da esquadrilha obrigado a manter seu avio de maneira a nos servir de guia. Os outros pilotos voam atrs dele, em formao to cerrada que cada qual pode ver as asas de seus dois vizinhos. Envolvidos por essas nuvens espessas e negras, no podemos nos permitir que, entre as extremidades das asas de dois avies que voam lado a lado, haja uma distncia superior a trs ou quatro metros. Ultrapassando-se esse afastamento, corre-se oHans-Ulrich Rudel _________________________________________________________________________ 30

risco de perder o contato, com a quase certeza de no mais restabelec-lo. Por outro lado, tem-se tambm a quase certeza de bater contra outro avio, de cuja proximidade nem sequer se suspeitava no instante anterior. E essas colises so particularmente detestveis. Assim, em mau tempo, a segurana de cada piloto da esquadrilha depende, em grande parte, das qualidades do chefe, que - s ele se orienta exclusivamente pelas indicaes de seus instrumentos de bordo. At cerca de 2.200 metros, subidos atravs da massa compacta de nuvens. Por medida de precauo, as trs esquadrilhas voam ligeiramente distanciadas umas das outras, mas logo que emergimos na claridade se reagrupam em formao cerrada. Evidentemente, no vemos mais a terra; a julgar pelo tempo decorrido, estamos para chegar sobre o golfo de Finlndia. Pouco a pouco, a coeso das nuvens se relaxa. De quando em quando, vemos brilhar a gua azul do golfo, atravs de um rasgo nas nuvens. Portanto, estamos prximos do objetivo, mas onde, exatamente? impossvel encontrar pontos de referncia, pois os momentos de visibilidade so muito rpidos. De repente, sobrevoando uma espcie de imenso funil, que corta verticalmente a deslizante massa cinzenta, vejo algo. Imediatamente, aviso pelo rdio meu chefe de esquadrilha: - Ateno, Rei 1 a Rei II... Ateno. . . A resposta imediata: - Rei II a Rei 1. . . Estou na escuta. . . - Acabo de ver, bem na vertical, um grande navio. . . o Marat, com certeza. . .Mal termino a ltima palavra da mensagem e j o capito Steen entra num piqu e desaparece no funil. Sigo-lhe os passos (se assim se pode dizer). Atrs, bem na minha esteira, segue o tenente Klaus. Agora j distingo nitidamente o navio. No h duvida alguma : o Marat. S temos poucos segundos para examinar a situao e tomar uma deciso. Incontestavelmente, a tarefa de inutilizar o navio somente nossa. As outras esquadrilhas com certeza no tero tempo de passar por essa nesga de nuvens, pois estas, como tambm o navio, esto em movimento. Mas o que tanto nos atrapalha serve tambm para alguma coisa: as nuvens nos escondem, e a D.C.A. somente poder alvejar-nos quando tivermos sado das mesmas, isto , quando estivermos a menos de oitocentos metros. Portanto, a ttica a seguir simples : descida em vo picado, lanamento das bombas, e tratar de ganhar altura. Desde que entremos novamente nas nuvens, no correremos grande risco. A D.C.A. s atirar ao acaso ou, no mximo, apenas nos alvejar com ajuda de seus aparelhos de localizao pelo som, mtodo ainda bastante aproximativo. Por isso, vamos! Chegou o momento! Vejo que as bombas do capito Steen se destacam e caem perto do navio, mas sem atingi-lo. Aperto o boto de lanamento. . . uma de minhas bombas atinge o alvo e explode bem no meio da popa. Infelizmente, com seus quinhentos quilos, no provocar danos decisivos. Vejo um jato de chamas, mas no tenho tempo de continuar apreciando o espetculo, pois a D.C.A. russa se encarnia cada vez mais. Atrs de mim, os outros avies da esquadrilha avanam pelo funil. Agora os russos j compreenderam que os "malditos Stukas" vm por aquele buraco, e concentram todo seu fogo nesse ponto. Precipitamo-nos para as nuvens e retomamos o caminho de volta, sem ter recebido um nico obus. Mas da para diante, as coisas no correro to bem: aprenderemos na prpria carne que a D.C.A. encarregada de proteger a frota russa pode ser terrivelmente eficaz. Desde ento, sobrevoar o golfo de Finlndia constituir empresa bastante desagradvel. Naquela noite, reunidos no moss, discutimos apaixonadamente os efeitos que nosso golpe possa ter obtido : quem nos ouvisse poderia julgar que toda a esquadrilha composta de tcnicos especializados no estudo da blindagem dos navios de guerra. O capito Steen est ctico; lembranos constantemente que, segundo o pensamento dos tcnicos martimos, uma bomba de quinhentos quilos insuficiente para pr fora de combate um navio de linha. Alguns otimistas temiam em acreditar, ou melhor, em desejar, que minha bomba fez mais do que simplesmente arranhar aHans-Ulrich Rudel _________________________________________________________________________ 31

primeira ponte; talvez tenham razo, pois, durante os dias seguintes, nossos avies de reconhecimento se esfalfam em explorar todos os ancoradouros do golfe, e o Marat no localizado. Quarenta e oito horas depois, consigo colocar uma bomba em cheio na ponte de um cruzador, que submerge em poucos minutos. Desde nossa primeira incurso contra a frota russa, o tempo firmou, o que no favorece muito nossos planos. A D.C.A. mortfera, pior que tudo que ainda irei ver, nos outros setores da frente leste. Segundo informaes colhidas pelo reconhecimento, h, na regio que devemos atacar, 1.000 peas de D.C.A. em cada quadrado de dez por dez quilmetros. E estou seguro de que esse numero absolutamente no exagerado. As barragens que encontramos formam verdadeiros bancos de nuvens. Em geral, no interior de um stuka, ouvem-se as exploses sOmente quando ocorrem a poucos metros do avio. Mas o que ouvimos, desde que penetramos nessa zona, no so exploses isoladas, mas um trovejar ininterrupto, uma tormenta de fim de mundo. A concentrao de D.C.A. comea bem no limiar da faixa costeira, ainda em mos dos soviticos. Mais adiante, h os portos de Oranienbaum e de Pcterhof, protegidos por formidvel artilharia antiarea. Sobre as guas flutua uma multido de pontes, barca