PESSOAS QUE A EMPREGAM ELISABETH SILVA DE VIEIRA … · relación a la reducción del diptongo [ja]...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
DEPARTAMENTO DE LETRAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DA LINGUAGEM
ATITUDES LINGUÍSTICAS DE GRADUANDOS EM LETRAS EM RELAÇÃO
À REDUÇÃO DO DITONGO FINAL [] EM PALAVRA PAROXÍTONA E ÀS
PESSOAS QUE A EMPREGAM
ELISABETH SILVA DE VIEIRA MOURA
Natal, dezembro de 2017.
ELISABETH SILVA DE VIEIRA MOURA
Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Estudos
da Linguagem, PPgEL, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como parte dos requisitos necessários à
obtenção do título de Doutor em Linguística Aplicada.
ORIENTADORA: Profa. Dra. Maria Hozanete Alves de Lima
NATAL, dezembro de 2017.
ELISABETH SILVA DE VIEIRA MOURA
ATITUDES LINGUÍSTICAS DE GRADUANDOS EM LETRAS EM RELAÇÃO
À REDUÇÃO DO DITONGO FINAL [] EM PALAVRA PAROXÍTONA E ÀS
PESSOAS QUE A EMPREGAM
Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Estudos da
Linguagem, PPgEL, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutora em Linguística Aplicada.
Tese defendida e aprovada em 7 de dezembro de 2017.
BANCA EXAMINADORA
______________________________________________________________________
Prof.ª Dr.ª Maria Hozanete Alves de Lima (UFRN, orientadora)
______________________________________________________________________
Prof.ª Dr.ª Carla Maria Cunha (UFRN)
______________________________________________________________________
Prof.ª Dr.ª Maria Alice Tavares (UFRN)
______________________________________________________________________
Prof. Dr. Aldir Santos de Paula (UFAL)
______________________________________________________________________
Profª. Drª. Maria Margarete Fernandes de Sousa (UFC)
Aos meus filhos
AGRADECIMENTOS
Agradeço, primeiramente, a Deus, pela força e iluminação para a conclusão
desta pesquisa.
Aos meus pais, José Arnaud e Maria Marinete, que me deram as bases da
educação, dos valores e convicções que carrego, incentivando-me a dar passos cada vez
maiores no meu aperfeiçoamento profissional.
Ao meu esposo Jorge e aos meus filhos Cassiel e Paloma, que tornam os meus
dias mais felizes, trazendo-me a motivação necessária para a execução de minhas
atividades diárias.
A todos os familiares queridos que torceram pelo meu crescimento e me deram
palavras de apoio e carinho a cada momento.
À minha orientadora Prof.ª Drª Maria Hozanete Alves de Lima, por quem sinto
um enorme carinho e que me acolheu, orientou e apoiou sempre com entusiasmo,
alegria e energia.
À Prof.ª Dr.ª Carla Maria Cunha, pela acolhida desde a época do mestrado e
posteriormente no doutorado em meu Estágio à Docência no Ensino Superior, com
quem tive a oportunidade de aprofundar meus conhecimentos sobre a língua portuguesa,
em especial à fonética, e com quem aprendi muito. Sua orientação e acompanhamento
foram essenciais para a conclusão desta tese.
À Prof.ª Dr.ª Maria Alice Tavares, ao Prof. Dr. Aldir Santos de Paula e à Prof.ª
Drª. Maria Margarete Fernandes pelas sugestões e orientações que tanto contribuíram
com minha pesquisa.
Aos docentes e coordenadores do Programa de Pós-graduação em Estudos da
Linguagem (PPgEL) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Quando o português chegou
Debaixo de uma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português.
Oswald de Andrade
RESUMO
Com base em estudos sociolinguísticos sobre o problema empírico da avaliação e com o intuito de contribuir com as pesquisas sobre o valor social dos elementos variáveis, esta tese visa a verificar a atitude linguística de estudantes de Letras da Universidade Federal
do Rio Grande do Norte em relação à redução do ditongo [ja] átono final de palavra
paroxítona. Nosso corpus é composto de testes aplicados aos estudantes calouros e concluintes, observando-se três componentes da atitude – cognitivo, afetivo e
comportamental – em relação à redução citada, como em paciença/poliça, e em relação à pessoa que usa essa variante. Sendo assim, esta pesquisa se justifica na medida em que se propõe a mostrar a importância da elaboração e validação de testes de atitude para a
observação do valor social das variantes linguísticas. Diante disso, as questões fundadoras de nossa pesquisa são as seguintes: (i) que testes podem ser aplicados para
verificar as atitudes linguísticas?; (ii) quais são as atitudes linguísticas de universitários do curso de Letras, nos períodos iniciais e finais do curso, em relação à redução do ditongo [ja] átono final de palavra paroxítona? Diante dessas questões, nossos objetivos
são os seguintes: (i) desenvolver e validar testes para avaliar atitudes linguísticas em função de seus três componentes – cognitivo, afetivo e comportamental; (ii) descrever e
analisar atitudes de universitários do curso de Letras, nos períodos iniciais e finais do curso, em relação à redução do ditongo [ja] átono final de palavra paroxítona. Como expectativa aos objetivos norteadores da pesquisa, apresentamos as seguintes hipóteses:
(i) a escala de Likert, a escala de diferenciador semântico e a escala de distância social devem mostrar-se adequadas para avaliar as atitudes; (ii) alunos concluintes, por já
terem uma formação teórica sobre os fenômenos de variação e mudança linguística, apresentariam uma postura diferente no que respeita ao fenômeno de mudança e variação. As escalas mostraram-se adequadas para a verificação das atitudes, porém os
alunos concluintes não apresentaram atitudes melhores que os calouros. Pesquisas sobre atitudes linguísticas são significativas para discussões sobre preconceito e prestígio
linguísticos e para auxiliar na compreensão de como se dão as mudanças na língua. A elaboração de testes significativos pode contribuir para um melhor esclarecimento das atitudes dos falantes e de sua influência na variação/mudança linguística, e, ao permitir
a observação do valor social das variantes linguísticas, os testes de atitude podem subsidiar análises feitas por quem pesquisa o mesmo fenômeno variável, mas não faz
testes de atitude. Além disso, trazer à tona a questão da atitude linguística nos cursos de Letras tem sido uma discussão pertinente para possibilitar aos futuros professores a reflexão sobre o tema e a transposição para a sala de aula desses conhecimentos que são
importantes para a formação integral do educando.
PALAVRAS-CHAVE: Variação linguística. Atitudes linguísticas. Variação fonética.
Monotongação.
ABSTRACT
Based on sociolinguistic studies about empirical problems of evaluation, and attempting
to contribute with variable elements’ social value, this thesis aims to verify the linguistic attitude of students of Portuguese Language and Literature Course from a
public university in Natal, Rio Grande do Norte. Our corpus data is composed by applied tests for Portuguese Language and Literature students - freshmen and seniors -, by observing attitude’s three components - cognitive, affective and behavioral – relating
to diphthong’s [ja] reduction in paroxytone unstressed words, as in paciença/poliça, according to who is using this variant. Based on our analysis, we support that freshmen
and seniors judgments are different from the studied variant. Therefore, this research is justified when it proposes to show how it is important elaborating and validating these attitude tests by the observation of linguistic variant’s social value. Consequently, our
research’s founding questions are the following: (i) which tests can be applied to verify linguistic attitudes? (ii) what are freshmen and seniors undergraduate students of
Portuguese Language and Literature Course linguistic attitudes concerning stigmatized variable phonetic phenomena? While considering these issues, our goals are as follows: (i) developing and validating tests to assess linguistic attitudes according to their three
components - cognitive, affective and behavioral; (ii) describing and analyzing undergraduate students attitudes in their first and last semester regarding stigmatized
variable phonetic phenomena; (iii) defining and identifying the three components of judge listening attitudes; and, (iv) verifying the influence of linguistic studies on these students’ change of attitudes. As an expectation for the guiding objectives of this
research, we present the following hypotheses: (i) because of previous theoretical backgrounds about variation and linguistic change phenomena, senior students present a different standpoint regarding change and variation phenomenon. The scales were
adequate for the verification of the attitudes, but the seniors students did not present better attitudes than the freshmen. Researches on linguistic attitudes are significant for
linguistic prejudice and prestige discussions, and to assist in understanding how language changes occur. The elaboration of significant tests will contribute to a better clarification of the speakers’ attitudes and their influence on linguistic variation /
change, and by allowing the social value of language variants to be observed, attitude tests can support analyzes made by those who research the same variable phenomenon,
but do not perform attitude tests. Additionally, bringing up the question of linguistic attitude in Literature courses has been a relevant discussion to enable future teachers to reflect about the subject and how these knowledges are important for classroom’s
transposition in student’s complete formation.
Key-Words: Linguistic variation. Linguistic attitudes. Phonetic variation. Monophthongization.
.
RESUMEN
Fundamentado en estudios sociolingüísticos sobre el problema empírico de la evaluación y con el propósito de contribuir con las investigaciones sobre el valor social
de los elementos variables, esta tesis apunta la actitud lingüística de estudiantes de la graduación de Letras Portugués de la Universidad Federal del Rio Grande del Norte en relación a la reducción del diptongo [ja] átono final en palabra paroxítona. Nuestro
corpus se compone de pruebas aplicadas a los estudiantes ingresantes y concluyentes, considerando tres componentes de la actitud - cognitiva, afectiva y comportamental - en
relación a la reducción mencionada, como en paciença/poliça, y en relación a la persona que utiliza esa variante. Por lo tanto, esta investigación se justifica en la medida en que se propone mostrar la importancia de la elaboración y validación de pruebas de actitud
para la observación del valor social de las variantes lingüísticas. Por tanto, las cuestiones fundadoras de nuestra investigación son las siguientes: (i) qué pruebas
pueden aplicarse para verificar las actitudes lingüísticas?; (ii) cuáles son las actitudes lingüísticas de universitarios de la graduación en Letras Portugués, en los períodos iniciales y finales del curso, en relación a la reducción del diptongo [ja] átono final de la
palabra paroxítona? Ante estés cuestionamientos, nuestros objetivos son los siguientes: (i) desarrollar y validar pruebas para evaluar actitudes lingüísticas en función de sus tres
componentes - cognitivo, afectivo y comportamental; (ii) describir y analizar actitudes de universitarios de la graduación en Letras Portugués, en los períodos iniciales y finales del curso, en relación a la reducción del diptongo [ja] átono final de la palabra
paroxítona. Como expectativa a los objetivos orientadores de la investigación, presentamos las siguientes hipótesis: (i) la escala de Likert, la escala de diferenciador
semántico y la escala de distancia social deben mostrarse adecuadas para evaluar las actitudes; (ii) alumnos concluyentes, por tener una formación teórica sobre los fenómenos de variación y cambio lingüístico, presentarían una postura distinta en lo que
se refiere al fenómeno de cambio y variación. Se mostraran adecuadas las escalas para la verificación de las actitudes, pero los alumnos concluyentes no presentaron actitudes
mejores que los alumnos ingresantes. Las investigaciones sobre actitudes lingüísticas son significativas para discusiones sobre prejuicio y prestigio lingüísticos y para ayudar en la comprensión de cómo se dan los cambios en la lengua. La elaboración de pruebas
significativas puede contribuir a una mejor aclaración de las actitudes de los hablantes y de su influencia en variación/cambio lingüístico, y, al permitir la observación del valor
social de las variantes lingüísticas, las pruebas de actitud pueden subsidiar análisis realizados por quienes investigan el mismo fenómeno variable, pero no hacen pruebas de actitud. Además, traer la cuestión de la actitud lingüística en los cursos de graduación
en Letras Portugués ha sido una discusión pertinente a la reflexión de los futuros profesores sobre el tema y la transposición en la clase de esos conocimientos que son
importantes para la formación integral del alumno.
PALABRAS CLAVE: Variación lingüística. Actitudes lingüísticas. Variación fonética. Monotongación.
LISTA DE FIGURAS, QUADROS, GRÁFICOS E TABELAS
Figura 1: Estrutura da sílaba segundo a teoria autossegmental 34
Figura 2: Estrutura da sílaba segundo a teoria métrica 34
Figura 3: Representação da primeira sílaba da palavra perspectiva 34
Figura 4: Representação de uma sílaba pesada e de uma leve, respectivamente 35
Figura 5: Molde silábico do português 36
Figura 6: Sílabas de estrutura CCVCC 36
Quadro 1: Passos na construção de uma escala de Thurstone 41
Quadro 2: Passos na construção de uma escala de Likert 42
Quadro 3: Exemplo de escala tipo diferenciador semântico 43
Quadro 4: Exemplo de escala tipo Guttman 44
Gráfico 1: Distribuição percentual relativa ao sexo dos alunos entrevistados 53
Gráfico 2: Distribuição percentual relativa à idade dos alunos entrevistados 54
Tabela 1: Distribuição percentual do posicionamento dos calouros sobre
pessoas que falam paciença/poliça
54
Tabela 2: Estatísticas descritivas e teste de Friedman na comparação no
posicionamento sobre as pessoas que falam paciença/poliça
56
Tabela 3: Teste de Wilcoxon na comparação dois a dois dos posicionamentos
sobre as pessoas que falam paciença/poliça
56
Tabela 4: Distribuição percentual do posicionamento dos concluintes sobre
pessoas que falam paciença/poliça
57
Tabela 5: Teste de Friedman na comparação do posicionamento do
concluintes sobre as pessoas que falam paciença/poliça
58
Tabela 6: Teste de Wilcoxon na comparação dois a dois dos posicionamentos
dos concluintes sobre as pessoas que falam paciença/poliça
59
Tabela 7: Distribuição percentual das notas do julgamento dos calouros em
relação às pessoas que pronunciam paciença/poliça quanto à
escolarização
61
Tabela 8: Distribuição percentual das notas do julgamento dos calouros em
relação às pessoas que pronunciam paciença/poliça quanto à
instrução
62
Tabela 9: Distribuição percentual das notas do julgamento dos calouros em 62
relação às pessoas que pronunciam paciença/poliça quanto à
inteligência
Tabela 10: Distribuição percentual das notas do julgamento dos calouros em
relação às pessoas que pronunciam paciença/poliça quanto à
atenção
62
Tabela 11: Distribuição percentual das notas do julgamento dos calouros em
relação às pessoas que pronunciam paciença/poliça quanto à
competência
63
Tabela 12: Distribuição percentual das notas do julgamento dos calouros em
relação às pessoas que pronunciam paciença/poliça quanto ao
esforço
63
Tabela 13: Estatísticas descritivas e teste de Friedman na comparação dos
julgamentos dos calouros sobre as pessoas que pronunciam as
palavras paciença/poliça
64
Tabela 14: Valor-p do teste de Wilcoxon na comparação dois a dois dos
julgamentos dos calouros sobre pessoas que pronunciam as palavras
paciença/poliça
64
Tabela 15: Distribuição percentual das notas do julgamento dos concluintes em
relação às pessoas que pronunciam paciença/poliça quanto à
escolarização
65
Tabela 16: Distribuição percentual das notas do julgamento dos concluintes em
relação às pessoas que pronunciam paciença/poliça quanto à
instrução
65
Tabela 17: Distribuição percentual das notas do julgamento dos concluintes em
relação às pessoas que pronunciam paciença/poliça quanto à
inteligência
66
Tabela 18: Distribuição percentual das notas do julgamento dos concluintes em
relação às pessoas que pronunciam paciença/poliça, quanto à
atenção
66
Tabela 19: Distribuição percentual das notas do julgamento em relação às
pessoas que pronunciam paciença/poliça quanto à competência
66
Tabela 20: Distribuição percentual das notas do julgamento dos concluintes em
relação às pessoas que pronunciam paciença/poliça quanto ao
67
esforço
Tabela 21: Estatísticas descritivas e teste de Friedman na comparação dos
julgamentos de impressões sobre as pessoas que pronunciam as
palavras paciença/poliça
67
Tabela 22: Valor-p do teste de Wilcoxon na comparação dois a dois dos
julgamentos dos concluintes
68
Tabela 23: Distribuição percentual para o tipo de relação que calouros teriam
com pessoas que pronunciam paciença/poliça e valor-p para o teste
de Fisher
69
Tabela 24: Distribuição percentual para o tipo de relação que concluintes
teriam com pessoas que pronunciam paciença/poliça
70
Tabela 25: Distribuição percentual do posicionamento dos calouros sobre a
pronúncia de paciença/poliça
72
Tabela 26: Estatísticas descritivas e teste de Friedman na comparação no
posicionamento sobre a pronúncia paciença/poliça
74
Tabela 27: Valor-p do teste de Wilcoxon na comparação dois a dois dos
posicionamentos dos calouros sobre a pronúncia paciença/poliça
75
Tabela 28: Distribuição percentual do posicionamento dos concluintes
entrevistados sobre a pronúncia paciença/poliça
75
Tabela 29: Estatísticas descritivas e teste de Friedman na comparação dos
posicionamentos dos concluintes sobre a pronúncia paciença/poliça
77
Tabela 30: Valor-p do teste de Wilcoxon na comparação dois a dois dos
posicionamentos dos concluintes sobre a pronúncia paciença/poliça
78
Tabela 31: Distribuição percentual das notas do julgamento dos calouros em
relação à pronúncia paciença/poliça, quanto à beleza
79
Tabela 32: Distribuição percentual das notas do julgamento dos calouros em
relação à pronúncia paciença/poliça quanto à correção
79
Tabela 33: Distribuição percentual das notas do julgamento dos calouros em
relação à pronúncia paciença/poliça, quanto à adequação
79
Tabela 34: Distribuição percentual das notas do julgamento dos calouros em
relação à pronúncia paciença/poliça, quanto à agradabilidade
80
Tabela 35: Distribuição percentual das notas do julgamento dos calouros em
relação à pronúncia paciença/poliça quanto a ser cuidada
80
Tabela 36: Distribuição percentual das notas do julgamento dos calouros em
relação à pronúncia paciença/poliça quanto a ser ou não engraçada
81
Tabela 37: Estatísticas descritivas e teste de Friedman na comparação dos
julgamentos dos calouros sobre a pronúncia paciença/poliça
81
Tabela 38: Valor-p do teste de Wilcoxon na comparação dois a dois dos
julgamentos dos calouros
82
Tabela 39: Distribuição percentual das notas do julgamento dos concluintes em
relação à pronúncia paciença/poliça quanto à beleza
82
Tabela 40: Distribuição percentual das notas do julgamento dos concluintes em
relação à pronúncia paciença/poliça quanto à correção
83
Tabela 41: Distribuição percentual das notas do julgamento dos concluintes em
relação à pronúncia paciença/poliça quanto à adequabilidade
83
Tabela 42: Distribuição percentual das notas do julgamento dos concluintes em
relação à pronúncia paciença/poliça quanto à agradabilidade
83
Tabela 43: Distribuição percentual das notas do julgamento dos concluintes em
relação à pronúncia paciença/poliça quanto ao cuidado
84
Tabela 44: Distribuição percentual das notas do julgamento dos concluintes em
relação à pronúncia paciença/poliça quanto a ser engraçada
84
Tabela 45: Estatísticas descritivas e teste de Friedman na comparação dos
julgamentos dos concluintes em relação às variantes
paciença/poliça
84
Tabela 46: Distribuição percentual sobre quando os calouros entrevistados
falariam/escreveriam as palavras paciença/poliça
85
Tabela 47: Distribuição percentual sobre quando os concluintes entrevistados
falariam/escreveriam as palavras paciença/poliça
86
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
16
2 19
2.1 A SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
ATITUDES LINGUÍSTICAS – CONCEITOS
A INTERPRETAÇÃO FONÉTICO-FONOLÓGICA DOS DITONGOS,
HIATOS E MONOTONGOS
19
2.2 25
2.3 31
3 INTERFACE ENTRE SOCIOLINGUÍSTICA E PSICOLOGIA SOCIAL
– POR UMA QUESTÃO METODOLÓGICA
41
3.1 MEDIÇÃO DE ATITUDES
TRATAMENTO ESTATÍSTICO DOS DADOS
41
3.2 49
3.2.1 Teste de Friedman 49
3.2.2 Teste de Wilcoxon 50
3.2.3 Teste de Fisher 51
4 ATITUDES LINGUÍSTICAS DOS ESTUDANTES DE LETRAS:
DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS
53
4.1 ATITUDES EM RELAÇÃO À PESSOA QUE FALA
PACIENÇA/POLIÇA
54
4.1.1 Componente cognitivo 54
4.1.1.1 Calouros 54
4.1.1.2 Concluintes 57
4.1.2 Componente afetivo 61
4.1.2.1 Calouros 61
4.1.2.2 Concluintes 65
4.1.3 Componente comportamental 69
4.1.3.1 Calouros 69
4.1.3.2 Concluintes 70
4.2 ATITUDE EM RELAÇÃO À REDUÇÃO DO DITONGO [] ÁTONO
FINAL DE PALAVRA PAROXÍTONA
72
4.2.1 Componente cognitivo 72
4.2.1.1 Calouros 72
4.2.1.2 Concluintes 75
4.2.2 Componente afetivo 79
4.2.2.1 Calouros 79
4.2.2.2 Concluintes 82
4.2.3 Componente comportamental 85
4.2.3.1 Calouros 85
4.2.3.2 Concluintes 86
5 CONCLUSÕES 89
REFERÊNCIAS 92
16
1 INTRODUÇÃO
Especialmente, a partir dos estudos de Weinreich, Labov e Herzog (WLH), na
década de 60, a heterogeneidade linguística começou a ser descrita e analisada de forma
mais sistemática, observando-se, também, a influência dos fatores sociais sobre a
língua.
Os postulados de Labov ([1972], 2008) apresentam uma percepção da língua
como um sistema de caráter heterogêneo. Seus estudos no campo da sociolinguística
trouxeram à tona diversas reflexões sobre a variação/mudança linguística.
A Sociolinguística contribuiu muito nas reflexões sobre preconceito e prestígio
linguísticos, que podem ser abordados à luz de um dos cinco problemas fundamentais
contemplados na investigação sociolinguística. Conforme WLH (2006), estes problemas
seriam: o problema dos condicionamentos ou restrições, o da transição, o do
encaixamento, o da implementação e o da avaliação linguística, sendo este último o
foco de nossa pesquisa. O problema da avaliação nos leva a observar o papel do falante
em relação à própria língua e às mudanças que nela ocorrem.
Para contribuir com as pesquisas sobre o valor social dos elementos variáveis e
motivada a dar continuidade à pesquisa de Moura (2013), que verificou atitudes
linguísticas de professores da Educação Básica de Natal/RN, esta tese visa a verificar a
atitude linguística de estudantes de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte. Nosso corpus é composto de testes aplicados aos calouros e aos concluintes,
observando-se os três componentes da atitude – cognitivo, afetivo e comportamental –
em relação à redução do ditongo [ja] átono final de palavra paroxítona, como em
paciença/poliça e em relação à pessoa que usa essa variante. Sendo assim, esta pesquisa
se justifica na medida em que reforça a importância da elaboração e validação de testes
de atitude, já que esses testes nos permitem a observação do valor social das variantes
linguísticas e podem embasar outras análises do mesmo fenômeno linguístico feitas por
quem não fez testes de atitude.
Diante disso, as questões fundadoras de nossa pesquisa são as seguintes:
(i) Que testes podem ser aplicados para verificar as atitudes linguísticas?
(ii) Quais são as atitudes linguísticas de universitários do curso de Letras da
UFRN, nos períodos iniciais e finais do curso, em relação à pessoa que usa a redução do
ditongo [ja] átono final de palavra paroxítona?
17
(iii) Quais são as atitudes linguísticas de universitários do curso de Letras da
UFRN, nos períodos iniciais e finais do curso, em relação à redução do ditongo [ja]
átono final de palavra paroxítona?
Diante dessas questões, nossos objetivos são os seguintes:
Objetivo geral:
Desenvolver e validar testes para avaliar atitudes linguísticas em função de seus
três componentes – cognitivo, afetivo e comportamental.
São objetivos específicos nesta análise:
(i) aplicar testes de escala de diferenciador semântico, de escala de distância
social de Bogardus, de escala de Likert para verificar os três componentes da atitude.
(ii) descrever e analisar atitudes de universitários do curso de Letras, nos
períodos iniciais e finais do curso, em relação à pessoa que usa a redução do ditongo
[ja] átono final de palavra paroxítona.
(iii) descrever e analisar atitudes de universitários do curso de Letras, nos
períodos iniciais e finais do curso, em relação à redução do ditongo [ja] átono final de
palavra paroxítona.
Como expectativa aos objetivos norteadores da pesquisa, apresentamos as
seguintes hipóteses:
(i) os testes de escala de diferenciador semântico, de escala de distância social de
Bogardus e de escala de Likert seriam satisfatórios para a medição dos três
componentes das atitudes linguísticas.
(ii) alunos concluintes, por já terem uma formação teórica sobre os fenômenos
de variação e mudança linguística (tema corrente no curso de Letras), apresentariam
uma postura diferente no que respeita ao fenômeno analisado. Nesse sentido, eles
apresentariam uma atitude mais positiva tanto em relação à pessoa que emprega a
redução do ditongo [ja] átono final de palavra paroxítona quanto a essa variante. Por
outro lado, os alunos calouros, embora já expostos à temática de variação e mudança,
mas sem o amadurecimento de um aluno que já cursou oito períodos do Curso de
Letras, apresentariam uma atitude negativa diante do fenômeno analisado.
O fenômeno linguístico avaliado nos testes foi a redução do ditongo [ja] átono
final de palavras paroxítonas, tais como polícia > poliça, paciência > paciença, bem
como foi verificada a atitude em relação às pessoas que empregam a variante citada.
Além de observarmos essa variante na fala de algumas pessoas, encontramo-la em
algumas pesquisas linguísticas abaixo referidas:
18
Muitas vez eles não obedece as poliça, porque uma vez mehmo aí que teve uma festa aí na Matinha mehmo, que chamaru a poliça e não obedeceru a poliça, obedecerunão. [Inf. 06 F III] (SANTANA E NASCIMENTO, 2011, p.15) Hoji, onzi do seti di dois mil e dozi, quarta-feira, nessi momento eu tô participanu di uma entrevista, ai eu quero contá um calso, algumas coisa que aconticeu cumigu, assim nuns tempo di mais novo, eu era disisperado, sem paciença. (MATIAS, 2012, p.42)
A pesquisa de Santana e Nascimento (2011) analisa a variação linguística na
estrutura de negação utilizada na fala da Matinha, comunidade rural da cidade de Feira
de Santana (BA). A pesquisa de Matias (2012) investiga a variação linguística na fala
dos baianos que residem na cidade de Jussara-GO.
Sem dúvida, pesquisas sobre atitudes linguísticas são importantes devido a sua
importância para discussões sobre preconceito e prestígio linguísticos e para auxiliar na
compreensão de como se dão as mudanças na língua. A elaboração de testes
significativos contribui para um melhor esclarecimento das atitudes dos falantes e de
sua influência na variação/mudança linguística. Além disso, trazer à tona a questão da
atitude linguística nos cursos de Letras tem sido uma discussão pertinente para
possibilitar aos futuros professores a reflexão sobre o tema e a transposição para a sala
de aula desses conhecimentos que são importantes para a formação integral do
educando.
Para o cumprimento dos objetivos propostos, esta tese foi dividida em cinco
seções. Após a introdução, apresentamos nossa fundamentação teórica, divida em três
partes: nossa base sociolinguística, a contribuição da Psicologia Social aos estudos das
atitudes, bem como uma pequena revisão teórica sobre ditongos, hiatos e monotongos.
Em seguida, apresentamos a metodologia com nossos testes de atitude e o tratamento
estatístico utilizado. No quarto capítulo, descrevemos e analisamos os dados relativos às
atitudes dos alunos de Letras em relação à pessoa que fala paciença/poliça e em relação
às variantes paciença/poliça. Encerramos com nossas conclusões.
19
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Neste capítulo, tratamos sobre a teoria Sociolinguística e sobre o que ela tem
permitido pensar a respeito da variação linguística e outros conceitos fundamentais.
Assim, explanamos sobre os princípios basilares da teoria variacionista laboviana e
sobre os aspectos que motivam e direcionam as mudanças na língua. Expomos, também,
os conceitos de atitude, em um sentido amplo, com base na Psicologia Social – teoria
que complementa as discussões relativas ao tema da atitude linguística – e em alguns
estudos sociolinguísticos. Por fim, apresentamos as principais discussões sobre os
ditongos crescentes e sua monotongação.
Embora os temas tratados neste capítulo sejam base para a análise de nossos
dados, não objetivamos aprofundamento das discussões e conceitos teóricos aqui
apresentados.
2.1 A SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
A Sociolinguística variacionista, também conhecida como teoria laboviana,
teoria da variação e mudança linguística, sociolinguística quantitativa, entre outros, tem
seu marco em meados do século XX, época em que conflitos sociais americanos entre
grupos que disputavam seu lugar social eram recorrentes (a exemplo dos conflitos
étnicos, nos quais os negros eram subestimados por terem uma linguagem considerada
de má elaboração ou de baixo prestígio em relação à linguagem dos brancos). Tal teoria
decorre de uma abertura no campo dos estudos linguísticos: a linguística passa a
interagir com outras áreas de estudo, a exemplo da sociologia, da psicologia e da
filosofia. Da junção entre a linguística e a sociologia surge, em termo cunhado por
Haver C. Currier, em 1953 (CALVET, 2002), a Sociolinguística, cuja visão não é a do
funcionamento da língua em sua imanência, mas em seu uso, algo que seria conflitante,
por exemplo, à linguística estruturalista.
Quando a linguística foi reconhecida como ciência, seu objeto de estudo era a
langue. Saussure (1916), em seu Curso de Línguística Geral, estabeleceu a dicotomia
langue/parole e determinou que o objeto da linguística fosse apenas a langue, deixando
de fora (por questões metodológicas que não discutiremos aqui) a maioria dos
20
fenômenos variáveis, colocando em evidência apenas um objeto, de certa forma,
homogêneo.
De acordo com Monteiro (2008), as primeiras tentativas de inaugurar uma
linguística que levasse em consideração, nas suas análises, os aspectos sociais da
linguagem – a sociolinguística – foram com Bright em 1966, e Fishman em 1972.
Bright teria sido o primeiro a apontar a diversidade linguística como objeto de estudo da
sociolinguística. Mas, é somente a partir dos estudos de Weinreich, Labov e Herzog
(WLH), na década de 60, que se teve êxito nas tentativas de descrever a
heterogeneidade linguística e de verificar a influência dos fatores sociais sobre a língua.
Nesta perspectiva, a língua passa, então, a ser considerada heterogênea e em constante
variação, sendo condicionada por fatores (extra)linguísticos e estilísticos.
WLH, na comunicação apresentada em 1966 na Universidade do Texas
(Empirical Foundations for a Theory of Language Change - EFTLC), chamam-nos a
atenção para a identificação problemática entre estruturalidade e homogeneidade. Na
perspectiva adotada pelos autores, estruturalidade não significa, necessariamente,
homogeneidade, de modo que as línguas são naturalmente heterogêneas sem deixarem
de ser sistemáticas, ordenadas, pois a variação linguística também está inserida na
estrutura das línguas.
WLH ([1968] 2006) defendem que a língua é sempre sistemática, mesmo em
períodos de variação ou mudança linguística. Para isso, trazem o seguinte
questionamento: “se uma língua tem de ser estruturada, a fim de funcionar
eficientemente, como é que as pessoas continuam a falar enquanto a língua muda, isto é,
enquanto passa por períodos de menor sistematicidade?” ([1968] 2006, p. 35).
Seus estudos apontaram para a premissa de que a variação é parte de um
processo social, e de que as mudanças sociais ocorridas em qualquer que seja a
sociedade, em seus diversos estratos (raça, sexo, idade, classe econômica, etc.), se
“encaixariam” no funcionamento da língua, modificando-a. Para Labov e seus
companheiros de pesquisa, Weinreich e Herzog, antes de a mudança estar
completamente inserida na língua, se realizaria o fenômeno da variação, de modo que
seria possível ao falante certas escolhas: lexicais, sintáticas, morfológicas e/ou
fonéticas.
O termo sociolinguística é considerado por Labov (2008) redundante, já que não
consegue conceber uma linguística divorciada do social. Seguindo o modelo laboviano,
o pesquisador sociolinguista obterá seus dados de pesquisa de uma comunidade de fala,
21
termo que, segundo Labov (2008), refere-se a grupos que possuem normas e atitudes
comuns relativas ao uso da língua, distinguindo-se de outros grupos. Sendo assim, por
exemplo, Brasil e Portugal são diferentes comunidades de fala, apesar de ambas se
utilizarem do português, e cada uma delas é constituída por uma grande quantidade de
outras comunidades de fala. Nessa perspectiva, a variável linguística é constituída de
variantes linguísticas. Para definir uma variável linguística, Labov (2008) afirma que é
necessário:
(a) estabelecer o espectro total de contextos linguísticos em que ela ocorre; (b) definir tantas variedades fonéticas quanto for possível distinguir; (c) estabelecer um índice quantitativo para medir valores das variáveis.” (LABOV, [1972] 2008, p.92).
Em relação ao item (b), o autor se refere, especificamente, às formas fonéticas
possíveis de variar entre si, mas, salvo as devidas proporções, podemos dizer que o
conteúdo do item pode ser aplicado também a outros tipos de variantes associados a
outros níveis da estrutura linguística.
Entende-se por variável linguística duas ou mais variantes da língua que se
intercambiam. (cf. WLH, [1968] 2006). No entendimento de Pagotto
Para a sociolinguística quantitativa o conceito de variável linguística é central porque, de um lado permite conceber o sistema linguístico como intrinsecamente heterogêneo, e de outro torna possível dar conta da íntima interseção entre o sistema linguístico propriamente e a estrutura social da comunidade que dele faz uso, permitindo, por fim, estudar os fenômenos de mudança linguística. Podemos dizer que uma variável linguística se define pelas seguintes características: 1) é um elemento do sistema linguístico 2) é controlado por uma única regra 3) comporta pelo menos duas formas variantes 4) suas formas variantes são passíveis de contagem [...](PAGOTTO, 2004, pág. 50)
Sob orientação da citação de Pagotto (2004), entendemos que a variável
linguística traz sob si uma concepção de língua caracterizada pela heterogeneidade e,
por esta forma de constitutividade interna, há a possibilidade de variação e mudança que
são realizadas linguisticamente em determinado ambiente social.
22
As variantes linguísticas podem possuir valor ou significação social
diferente, ou seja, podem ser avaliadas diferentemente por falantes que não
compartilhem as mesmas normas. É comum que haja uma variante mais prestigiada que
outras. Essa variante de prestígio é, normalmente, associada a um falante ou grupo
social de status mais alto. Isso pode fazer com que falantes de outras variedades
procurem imitar a variante de prestígio, ocasionando uma variação linguística, que pode
ou não levar à mudança na língua. Labov afirma que
não se pode entender o desenvolvimento de uma mudança linguística sem levar em conta a vida social da comunidade em que ela ocorre, ou, dizendo de outro modo, as pressões sociais estão operando continuamente sobre a língua, não de algum ponto remoto no passado, mas como uma força social imanente agindo no presente vivo (LABOV, [1972] 2008, p. 21).
Já que o valor social das variantes linguísticas é heterogêneo, há, também,
variantes estigmatizadas pela sociedade. Numa sociedade de classes, as diferenças
linguísticas nem sempre são bem aceitas. Normalmente, usos que se distanciam da
variedade de prestígio são discriminados e seus falantes também. Sendo assim, variação
linguística e avaliação social estão relacionadas. Comumente, variantes utilizadas por
falantes da parte inferior da pirâmide social são altamente discriminadas, mas, à medida
que essas variantes migram para outras classes e chegam à classe dominante, o
preconceito deixa de existir, a esse fenômeno Bortoni-Ricardo chama de regras graduais
ou traços graduais. Tal fenômeno se aplica quando variáveis características de um ponto
do continuum (rural – urbano, oralidade – letramento, menos monitorado – mais
monitorado) passam a ser usadas também no outro ponto (cf. BORTONI RICARDO,
2004, regras graduais). Variantes conservadoras e inovadores disputam seu lugar na
língua, passando por restrições e/ou estigma até que uma prevaleça sobre a outra e gere
mudança ou, simplesmente, as duas convivam em constante variação. As variantes
inovadoras são as que, na maioria das vezes, recebem uma marca social negativa,
fazendo com que o falante tenha que encontrar estratégias para evitá-la.
A variação pode resultar em mudança linguística – fenômeno de caráter
universal e não aleatório. Embora seja fácil perceber que as línguas sofrem constantes
modificações, não é simples identificar as causas de uma mudança e como ela ocorre.
23
Labov aponta três problemas envolvidos na explicação da mudança linguística: “a
origem das variações linguísticas; a difusão e propagação das mudanças linguísticas; e a
regularidade da mudança linguística” (LABOV, 2008, p. 19). Afirma, ainda, o autor que
a propagação de novos usos linguísticos está na origem de uma mudança e, depois
disso, há somente uma continuação do padrão.
WLH (2006), ao destacar que a comunidade de fala é heterogênea, não
consideram como objeto de descrição linguística o idioleto. Isso traz implicações para a
nova teoria linguística. Conforme afirma Lucchesi (2004), o objeto de análise
linguística, na perspectiva de WLH, é a gramática da comunidade de fala. A
comunidade de fala, numa perspectiva sociolinguística, é um objeto essencialmente
heterogêneo. O que não quer dizer que a variação seja livre. Todo e qualquer processo
de variação é condicionado por fatores internos e externos à língua, por isso, nessa
abordagem teórica, falamos em heterogeneidade estruturada ou ordenada. Essa visão do
objeto linguístico, proposta por WLH, segundo Lucchesi, exigia que se integrasse
o conjunto da relações sociais, culturais e ideológicas nas quais a língua se atualiza. E, para dar conta da heterogeneidade e pluralidade dessa realidade sociocultural, a língua devia ser formalizada, não como um sistema homogêneo e unitário, mas como um sistema heterogêneo e plural (LUCCHESI, 2004, p. 171).
Um fenômeno empírico fundamental para sustentar essa concepção de língua é a
possibilidade de o falante ajustar sua competência linguística à heterogeneidade da
língua e atuar sobre o sistema heterogêneo, selecionando, entre variantes concorrentes,
de forma consciente ou não, uma forma linguística a depender da situação e de sua
intenção.
A linguagem sofre grande influência de aspectos sociais e culturais dos sujeitos,
bem como de suas crenças, que são, de certa forma, também direcionadas por questões
sociais. Os sujeitos falantes possuem também uma dimensão subjetiva que se reflete
diretamente na linguagem. Sob esse aspecto, nas últimas décadas os estudos voltados
para as avaliações linguísticas ganharam grande representatividade.
A contribuição dos estudos de WLH ([1968], 2006) no campo da
sociolinguística representou a possibilidade de analisar fatos linguísticos com base em
alguns postulados: (i) a língua funciona enquanto muda, ou seja, se mostra na sociedade
24
de forma heterogênea sem que isso ofereça comprometimento a seu funcionamento em
si; (ii) o processo de variação é inerente ao sistema linguístico, que se apresenta
heterogêneo, formado por regras e sistematizado em unidades variáveis; (iii) a mudança
linguística representa um processo de atualização da língua que procede de variações no
decorrer da história. As mudanças decorrem de variações, no entanto as variações não
implicam necessariamente mudança; (iv) a variação não é um processo acidental. A
análise dos condicionamentos estruturais e sociais da variação permite compreender e
revelar os mecanismos que produziram as mudanças que afetam o sistema da língua.
Partindo do pressuposto de que toda norma tem uma organização e, portanto,
tem uma gramática, seria incoerente afirmar que analfabetos ou falantes de variedades
populares não sabem gramática. Estando os enunciados linguísticos inseridos em
determinada variedade, não podemos avaliá-los a partir das regras de outra variedade. O
que acontece é que há falantes que não dominam determinadas normas linguísticas, e
não falantes que não sabem a gramática de sua língua.
As discussões sobre preconceito e prestígio linguístico, além de outros temas
referentes à variação e mudança são embasados por meio dos cinco problemas
empíricos tratados por WLH ([1968], 2006): os condicionamentos ou restrições, a
transição, o encaixamento, a implementação e a avaliação linguística.
O problema das restrições ou dos condicionamentos diz respeito às condições
que favorecem ou restringem as mudanças em uma língua, e também ao conjunto de
suas mudanças possíveis. Esse problema pode conduzir a teoria à ideia de que as
mudanças seguem princípios gerais/universais, como acreditou Labov (LABOV, 1982,
p. 26-27 apud LUCCHESI, 2004, p. 173). Porém, posteriormente, o próprio Labov
observa que essa ideia pode nos conduzir a incompatibilidades com a visão histórica da
abordagem da mudança. Buscar restrições universais seria buscar por uma faculdade da
linguagem isolada, que não se sustenta através das pesquisas feitas até então, logo, a
questão dos princípios universais acabou sendo desconsiderada por Labov.
O problema da transição diz respeito ao percurso percorrido pela mudança,
esclarecendo o pesquisador quanto ao processo por meio do qual a mudança ocorre, se
esse processo ocorre em estágios discretos ou em um continuum. Partindo do
pressuposto de que a mudança se dá no decorrer de um continuum, seria possível
superar tanto a concepção estrutural da mudança linguística quanto a concepção
estruturalista da língua.
25
O problema do encaixamento refere-se à inserção da mudança no sistema
linguístico ao qual ela afeta, à natureza e à extensão dessa inserção/encaixamento. Ou
seja, diz respeito à concepção da própria estrutura linguística e da mudança dentro dela;
e mais, a mudança deve ser concebida mediante relações internas ao sistema ou através
da interação entre esse sistema e a estrutura social da comunidade de fala? Nessa
perspectiva teórica, o problema do encaixamento se desmembra em dois: o
encaixamento na estrutura linguística e o encaixamento na estrutura social, sendo esse
último um grande avanço do modelo sociolinguístico.
O problema da implementação é apresentado por Lucchesi, retomado de Labov,
por meio da seguinte questão: “Por que uma dada mudança ocorreu em um momento e
em um lugar determinados, e não em outro momento e/ou lugar?” (LUCCHESI, 2004,
p. 179). Numa abordagem sociolinguística, a explicação da mudança está relacionada à
descrição dos seus mecanismos de implementação.
Finalmente, o problema da avaliação nos leva a observar o papel do falante em
relação à própria língua e às mudanças que nela ocorrem. As reações subjetivas dos
falantes tanto podem interferir no curso da realização de uma mudança, quanto podem
fazê-la retroagir. Isso porque, além dos elementos distintivos e funcionais, os elementos
variáveis da estrutura da língua também atingem o nível da consciência dos falantes. As
variantes de determinado fenômeno variável são avaliadas socialmente, adquirindo,
assim, sua significação social, seu valor social. A questão aqui levantada é a de
determinar o quanto essa avaliação subjetiva afeta a mudança linguística. Para que se
perceba, empiricamente, a avaliação dos falantes a determinados elementos linguísticos,
são aplicados testes específicos a esse fim. É interessante observar que, num estágio
final, há uma consciência grande da mudança e, na maioria das vezes, as reações diante
das formas inovadoras são negativas. Essas formas são comumente associadas a
atributos sociais negativos. Em relação ao nível de consciência do falante sobre a
mudança, as variantes podem se classificar em indicadores, marcadores ou estereótipos.
Os indicadores são as variantes “sobre as quais há pouca força de avaliação, podendo
haver diferenciação social de uso dessas formas correlacionada à idade, à região ou
grupo social, mas não quanto a motivações estilísticas.” (Coelho et. al., 2015, p.67) São
exemplos de indicadores a monotongação dos ditongos [ej] em peixe e [ow] em couve.
Os marcadores “exibem diferenças de classe e estratificação estilística. [...] Os falantes
são mais conscientes da variação na comunidade de fala.” (Tagliamonte, 2012, p.28).
Seu uso costuma não ser estigmatizado, “mas está correlacionado a variáveis estilísticas
26
(grau de intimidade, por exemplo) e sociais (como a faixa etária dos falantes)” (Coelho
et. al., 2015, p.66). As variantes nós e a gente são exemplos de marcadores. Já os
estereótipos são “variáveis linguísticas que são amplamente reconhecidas. Elas se
tornam objeto de discussão na comunidade.” (Tagliamonte, 2012, p. 28) “São traços
marcados de forma consciente. Alguns deles podem ser estigmatizados socialmente, o
que pode conduzir à mudança linguística rápida e à extinção da forma estigmatizada.”
(Coelho et. al. p. 66) A monotongação do ditongo [ja] em análise é um exemplo de
estereótipo linguístico. Os testes de atitude podem ser melhor aplicados a marcadores e,
mais ainda, a estereótipos.
2.2 ATITUDES LINGUÍSTICAS – CONCEITOS
Sobre as avaliações que os falantes fazem em relação aos modos de falar do
outro, ouvimos, constantemente, que determinada pessoa fala mal, fala errado, fala bem,
fala melhor etc. Ainda escutamos que em um determinado lugar se fala melhor, em
outro se fala arrastado, em outro se fala cantado... Essas questões estão diretamente
interligadas às nossas atitudes linguísticas.
A Sociolinguística, enquanto ciência que busca, por meio de aspectos também
sociais, explicações para a variação e a mudança linguísticas, recorre a outras ciências
para o esclarecimento acerca de determinados usos linguísticos. No caso de pesquisas
sobre atitudes linguísticas, desde Weinreich, Labov e Herzog (1968) requisita-se à
Psicologia Social tanto para a explicação do tema quanto para propor metodologias de
observação e medição dessas atitudes. Segundo Rodrigues (2009, p.13) “Psicologia
Social é o estudo científico da influência recíproca entre as pessoas (interação social) e
do processo cognitivo gerado por esta interação (pensamento social)”.
Muitos são os conceitos de atitude encontrados na literatura da Psicologia
Social. Lima ([1993] 2004, p. 188), exemplifica essa multiplicidade de definições sob
diferentes perspectivas teóricas:
Por atitudes entendemos um processo de consciência individual que determina actividades reais ou possíveis do indivíduo no mundo social. – Thomas e Znaniecki, 1915, p.22
27
Atitude é um estado de preparação mental ou neural, organizado através da experiência e exercendo uma influência dinâmica sobre as respostas individuais a todos os objectos ou situações com que se relaciona. – G. W. Allport, 1935. Atitude face a um objecto consiste no conjunto de scripts relativos a esse objecto. Esta perspectiva combinada com uma teoria abrangente acerca da formação e da selecção dos scripts daria o significado funcional ao conceito de atitude que outras definições não possuem. – Abelson, 1976, p. 41. Atitudes são predisposições para responder a determinada classe de estímulos com determinada classe de respostas. – Rosenberg e Hovlend, 1960, p.3 A variável dependente nos estudos de dissonância cognitiva é, com muito poucas excepções, a afirmação de autodescrição de atitudes ou crenças. Mas como é que se adquirem estes comportamentos autodescritivos? A afirmação de determinada atitude pode ser vista como uma inferência a partir da observação do seu próprio comportamento a das variáveis situacionais em que ocorre. Desta forma, as afirmações de um indivíduo são funcionalmente equivalentes às que qualquer observador exterior poderia fazer sobre ele. Quando a resposta à pergunta “Gosta de pão de milho?” é Acho que sim, visto que estou sempre a comê-lo, parece desnecessário invocar uma fonte de conhecimento pessoal privilegiada para dar conta da resposta”. – Bem, 1967, PP. 75-78. As atitudes são vistas geralmente como predisposições comportamentais adquiridas introduzidas na análise do comportamento social para dar conta das variações de comportamento em situações aparentemente iguais. Como estados de preparação latente para agir de determinada forma, representam os resíduos de experiência passada que orientam, enviesam ou de qualquer outro modo influenciam o comportamento. Por definição, as atitudes não podem ser medidas directamente, mas têm de ser inferidas do comportamento. – Jos Jaspers, 1986, p.22. Atitude é uma predisposição para responder de forma favorável ou desfavorável a um objecto, pessoa, instituição ou acontecimento. – I. Ajzen, 1988, p.4. (Lima, [1993] 2004, p. 188).
Ainda segundo a autora, a literatura consagrou a definição que Eagly e Chaiken
(1993) propõem em “The Psychology of Attitudes” devido ao seu caráter sistemático e
analítico sobre o tema.
Eagly e Chaiken (1993, p.1) definem atitude como “tendência psicológica que se
expressa numa avaliação favorável ou desfavorável de uma entidade específica”. Nessa
perspectiva, as atitudes não seriam diretamente observáveis, mas sim inferidas a partir
da observação dos comportamentos, sejam eles verbais ou outros.
Lima ([1993] 2004) destaca o julgamento avaliativo como expressão das atitudes
e ressalta que esse é um dos poucos pontos consensuais nas definições de atitude. Esse
julgamento avaliativo possui três características: direção, intensidade e acessibilidade.
28
A direção se refere à possibilidade de sermos favoráveis ou desfavoráveis a
determinado assunto, objeto ou ser; a intensidade pode ser pensada, inclusive, dentro de
uma mesma direção, seriam as posições extremadas vs. posições fracas; e a
acessibilidade diz respeito, quando o sujeito se depara com o objeto da atitude, à
possibilidade de sua ativação na memória ser automática ou não.
Essas respostas avaliativas, além de possuírem as características citadas, podem
se expressar em três modalidades distintas: cognitiva, afetiva e comportamental. O
componente cognitivo da atitude diz respeito a crenças, ideias, opiniões, pensamentos
que expressam uma avaliação mais positiva ou menos do objeto da atitude. O
componente afetivo se refere a emoções e sentimentos suscitados pelo objeto da atitude.
O componente comportamental diz respeito tanto ao comportamento quanto às
intenções comportamentais manifestos.
Rodrigues (2009) afirma que a formação de atitudes é uma consequência do
processo de tomada de conhecimento do ambiente social que nos circunda. Sobre os
diversos conceitos registrados na literatura, o autor sintetiza como elementos
essencialmente característicos das atitudes os seguintes pontos: “(a) uma organização
duradoura de crenças e cognições em geral; (b) uma carga afetiva pró ou contra um
objeto social; (c) uma predisposição à ação” (RODRIGUES, 2009, p.81). Assim,
conceitua atitude como sendo “uma organização duradoura de crenças e cognições em
geral, dotada de carga afetiva pró ou contra um objeto social definido, que predispõe a
uma ação coerente com as cognições e afetos relativos a este objeto” (RODRIGUES,
2009, p.81).
Tarallo (1997, p.14), refere-se às atitudes como “armas usadas pelos residentes
para demarcar seu espaço, sua identidade cultural, seu perfil de comunidade, de grupo
social separado.” Conforme Tarallo, a atitude linguística, favorável ou desfavorável, do
falante o remete a uma identidade que o diferencia dos demais grupos.
Lambert e Lambert (1975) definem de forma mais completa e clara o conceito
de atitude que embasa seus testes quando investigaram a avaliação de canadenses
falantes de francês e inglês, em relação à sua própria língua:
Uma atitude é uma maneira organizada e coerente de pensar, sentir e reagir a pessoas, grupos, problemas sociais ou, de modo mais geral, a qualquer acontecimento no ambiente. Os componentes essenciais de atitudes são pensamentos e crenças, sentimentos e emoções, bem como tendências para reagir. Podemos dizer que uma atitude se forma quando tais componentes estão de tal modo inter-relacionados que as
29
tendências de reação e os sentimentos específicos se tornam coerentemente associados ao objeto da atitude (p. 100).
Lambert e Lambert, no início da década de 1960, para a análise das atitudes,
gravavam dois textos de um mesmo falante bilíngue, cada um em uma língua (francês e
inglês) e os apresentava a um grupo de pessoas como textos produzidos por pessoas
diferentes. O grupo ouvia os textos e recebia a orientação de descrever os falantes,
através das vozes, em relação à altura, à beleza física, à aptidão para dirigir, ao senso de
humor, à inteligência, à religiosidade, à confiança em si, à confiabilidade, à jovialidade,
à bondade, à ambição, à sociabilidade, ao caráter e à simpatia. Os resultados mostraram
que, primeiramente, o grupo não percebeu que os textos eram de um mesmo falante;
depois, que o grupo não avaliava as vozes, e, sim, as línguas. Esse teste foi muito
interessante, pois nos confirmou que somos avaliados pela língua que utilizamos. A
partir disso, podemos inferir que também somos avaliados pela variedade linguística
utilizada.
A definição de atitude de Lambert e Lambert nos auxilia na compreensão do
termo, apresentando-nos a relação estrita entre atitude, crença e avaliação, pois esses
conceitos podem ser facilmente confundidos devido a essa relação existente entre eles,
assim como eventualmente podem ser utilizados como sinônimos. Tentaremos, então,
deixar claro o que entendemos por cada um deles e quais são suas relações.
Santos (1996) afirma que
Crença seria uma convicção íntima, uma opinião que se adota com fé e certeza. Para deixar bem claro que se trata de uma apropriação do objeto sem uma percepção clara, sem análise, sem validade científica ou filosófica; que se trata, enfim, de uma forma de assentimento objetivamente insuficiente, já foi usado na literatura linguística o nome superstição (p. 8).
Seria a partir de nossas crenças sobre os usos linguísticos, sobre que construções
seriam boas ou ruins que temos determinadas atitudes em relação e elas, pois, ainda
conforme Lambert e Lambert (1975), nossas crenças são componentes das nossas
atitudes. Lambert e Lambert também apontam os sentimentos como componentes
afetivos das atitudes, ou seja, a avaliação – que pode ser positiva ou negativa. Santos
(1996) diz que o termo atitude, num sentido amplo, teria três componentes: o afetivo, o
cognitivo e o conativo, sendo que o componente afetivo responderia pela avaliação. A
30
avaliação seria o componente alvo do interesse de pesquisas sobre atitude; por isso,
algumas vezes, temos esses dois termos como sinônimos nesta pesquisa.
Para Cyranka (2007, p. 20), pesquisadora de atitudes linguísticas de alunos de
escolas públicas,
o estudo das atitudes linguísticas está relacionado ao da avaliação linguística, isto é, ao exame dos julgamentos dos falantes em relação à língua ou ao dialeto utilizado por seu interlocutor, estando subentendidas aí as mudanças implementadas, ou em implementação na língua, em relação à variedade considerada padrão. Os componentes dessas atitudes são o que pensam, sentem e como reagem os falantes expostos aos estímulos linguísticos que lhe são apresentados.
A autora considera que as atitudes são determinadas pelas crenças linguísticas
socialmente construídas.
Hora (2012), em uma de suas pesquisas sobre o tema, define atitude como sendo
uma
orientação avaliativa para um objeto social de algum tipo, quer seja um língua, ou uma nova política governamental etc. E assim, como uma ‘disposição’, uma atitude pode ser vista como tendo um grau de estabilidade que permite-lhe ser identificada (HORA, 2012, p.3).
Segundo o autor, o modo como pensamos sobre as línguas é influenciado pela
ideia da existência de uma língua padrão. Ele afirma que línguas muito conhecidas
como o Inglês, o Francês, o Espanhol e o Português são línguas de cultura da língua
padrão. Nesse tipo de cultura, posições ideológicas de poder dominariam as atitudes
linguísticas do falante sem que este tivesse consciência dessas posições ideológicas.
Quando pensamos em uma língua padrão, referimo-nos a uma variedade uniforme,
homogênea, desde aspectos fonético-fonológicos a aspectos sintáticos ou semânticos.
Uma língua, portanto, invariável, imutável. A ideologia do padrão seria, então,
constituída por fatores externos ao próprio processo de padronização. Logicamente, essa
uniformidade só pode ser concebida num nível de abstração da língua, pois, na prática,
esse ideal não se concretiza.
Nas línguas da cultura do padrão, acredita-se que há formas variantes mais certas
que outras, ou seja, em fenômenos variáveis, uma variante é aceita como legítima
enquanto outras são consideradas erradas, sendo, assim, rejeitadas. Grupos sociais
31
menos favorecidos acabam sendo discriminados por utilizarem as variantes “erradas” ou
não-padrão.
No processo de seleção do que faz parte ou não da língua-padrão, a noção de
prestígio é muito importante. O prestígio tem relação direta com o status social do
falante. Comumente, se confere prestígio às variantes presentes nas falas da população
de classe alta, deixando clara a influência de fatores socioeconômicos na seleção de uma
ou outra variante. Contrariamente a essas formas linguísticas prestigiadas, há as formas
estigmatizadas, normalmente formas linguísticas rejeitadas no processo de escolarização
e de uso das camadas mais pobres da sociedade.
Concordando com Hora (2012), percebemos que a padronização linguística é
umas das grandes responsáveis, se não a maior, pelas reações dos falantes em relação a
uma língua, consequentemente, grande responsável pelo preconceito linguístico (cf.
Bagno, 2002).
2.3 A INTERPRETÇÃO FONÉTICO-FONOLÓGICA DOS DITONGOS, HIATOS E
MONOTONGOS
Esta seção tem como objetivo apresentar os ditongos crescentes que
possibilitam, nesta pesquisa, a monotongação alvo das atitudes linguísticas focalizadas.
Ao tratar sobre ditongos, abordamos também a sílaba, seus tipos, e o reconhecimento
dos segmentos passíveis de preencher essas posições. Ainda engloba essa discussão o
entendimento sobre verdadeiros ditongos e sobre a variação entre ditongos crescentes e
hiatos, com base em gramáticos tradicionais e em linguistas. Também apresentamos
alguns resultados de pesquisas que apresentam o uso da variante monotongada de
ditongos crescentes.
Inicialmente, destacamos as perspectivas de quatro gramáticos: Luft (2002),
Rocha Lima (2010), Cunha e Cintra (2008) e Bechara (2003) sobre a conceituação de
sílaba e de ditongo, e sobre o status do ditongo crescente.
Luft (2002) inicia sua apresentação dos ditongos com a definição de Câmara
Júnior (1964 apud Luft, 2002, p. 221) "Grupo vocálico pronunciado na mesma sílaba e
constituído de vogal silábica ou base, e de uma vogal auxiliar assilábica, que em
32
português é uma das semivogais [y] ou [w]”. O gramático afirma que a estrutura de um
ditongo apresenta uma vogal e uma semivogal. A semivogal pode vir antes ou depois
da vogal formando, respectivamente, um ditongo crescente e um ditongo decrescente.
Subdivide os ditongos em estáveis, os verdadeiros ditongos (decrescentes) e os
variáveis (crescentes), realizados tanto como ditongos quanto como hiatos, exceto os
casos em que estão envolvidos, além da vogal núcleo da sílaba, os dígrafos ‘qu’ e ‘gu’,
que geram a produção fonética de uma consoante oclusiva seguida pela semivogal
bilabial [w], a exemplo da formação da primeira sílaba da palavra [‘kwazi]. A
ditongação, seja ela qual for, é considerada um fenômeno fonético, não fonológico,
dependente de contexto. Finaliza a seção dos ditongos com uma lista de ditongos
decrescentes e crescentes, tanto orais quanto nasais. Na seção dos hiatos, ele chama a
atenção para os encontros –ia, -ie, -io, -ua, etc. Declara que os encontros vocálicos
átonos finais de palavra iniciados por /i, e, o, u/ são, na fala espontânea, realizados como
ditongos de uma forma geral, mas que é possível a realização como hiatos. Quanto ao
acento tônico, prefere considerar as palavras em que se encontram os ditongos
paroxítonas e sugere que assim o façam também. Após essa e outras discussões, apenas
no final do capítulo de classificação dos fonemas, conceitua sílaba como “unidade
fônica emitida num só impulso expiratório, e caracterizada pela presença de um centro
de sílaba ou fonema silábico” (Luft, 2002, p. 228). Apresenta as possibilidades
estruturais da sílaba e afirma serem possíveis combinações com mais de duas
consoantes abrindo ou fechando a sílaba em realizações fonéticas. Ilustra a afirmação
com um ditongo crescente: “preá /pre’a/ > [pri’a] ou [‘prja]” (Luft, 2002, p. 229). Nesse
caso, a semivogal é interpretada como consoante.
Rocha Lima (2010), conceitua sílaba como unidade de som proferida de uma vez
e exemplifica os tipos silábicos. Inicia a apresentação dos encontros vocálicos pelos
hiatos, que são conceituados como um encontro de vogal-base mais vogal-base. Sendo
assim, em palavras como “goi-a-ba” não há hiato entre a vogal ‘i’ e a vogal ‘a’. Os
ditongos são considerados um encontro de vogal + ‘i’ (ou ‘u’) em função consonantal.
Podem ser orais ou nasais, crescentes ou decrescentes. O autor segue a perspectiva que
considera apenas os ditongos decrescentes como verdadeiros ditongos, à exceção dos
crescentes constituídos pela sequência dos dígrafos como anteriormente descrita. Para
encerrar a discussão sobre os encontros vocálicos, ele abre um item intitulado
“encontros instáveis”, que são encontros vocálicos variáveis na pronúncia. O autor
33
condiciona tal variação à influência de fatores de ordem regional, grupal ou ainda ao
grau de tensão psíquica do falante. Estão incluídos nesses encontros instáveis os
encontros ‘ia’, ‘ie’, ‘io’, ‘ua’, ‘ue’, ‘uo’ átonos finais de vocábulo, a exemplo de
“ausência” e “vácuo”, e os encontros formados por “i” ou “u” (átonos) + vogal seguinte
(átona ou tônica), a exemplo de “fiel” e “crueldade”.
Cunha e Cintra definem sílaba como “vogal ou grupo de sons pronunciados
numa só expiração” (2008, p.66). Sobre a estrutura da sílaba, alegam que é formada por
uma vogal, ditongo ou tritongo, acompanhados ou não por consoante. Reconhecem os
ditongos como decrescentes e crescentes, orais e nasais. Afirmam que apenas os
decrescentes são estáveis. Os crescentes só têm estabilidade quando formados por [w],
diante de [k] ou [g], seguidos da vogal núcleo da sílaba. Em uma observação final, os
gramáticos chamam a atenção para os encontros vocálicos átonos finais de sílaba,
afirmando que são, em geral, ditongos crescentes, mas que podem ser pronunciados
como hiatos. Na escrita, não admitem a separação desses encontros variáveis.
Bechara descreve a sílaba como “um fonema ou grupo de fonemas emitido num
só impulso expiratório” (2003, p. 84). Em relação a sua constituição, afirma que podem
ser simples ou compostas, e que estas podem ser abertas ou fechadas. Considera que os
encontros vocálicos originam os ditongos, tritongos e hiatos. Os ditongos são formados
pelo encontro de uma vogal e de uma semivogal, ou vice-versa, em uma mesma sílaba.
Assim como os outros gramáticos, classifica os ditongos em crescentes, decrescentes,
orais e nasais. Apresenta os principais ditongos crescentes e observa que sua existência
pode ser discutível. Aponta também o descompasso entre a variabilidade da pronúncia
desses ditongos e a invariabilidade da escrita deles, que sempre são grafados como
ditongos e nunca como hiatos na separação silábica, demonstrando, assim, sua
preferência pela forma ditongada.
Diante da exposição da perspectiva dos gramáticos, primeiramente, percebe-se
que não há consenso sobre a análise da semivogal na formação de um ditongo,
classificada algumas vezes como consoante. A instabilidade do ditongo crescente é
apontada por todos os gramáticos, porém nenhum deles menciona, também, como
possibilidade a variação fonética entre o ditongo decrescente e o hiato. Sobre a
preferência de pronúncia, apenas Luft (2002) se pronuncia preferencialmente pela
pronúncia do ditongo, embora Cunha e Cintra (2008) e Bechara (2003) só permitam
como possibilidade escrita a forma ditongada, sugerindo, assim, a mesma preferência.
34
Apresentamos, em seguida, a perspectiva linguística sobre o ditongo crescente.
Para isso, assinalamos brevemente a representação silábica de duas teorias basilares
para a discussão em questão: a teoria autossegmental, representando as perspectivas
teóricas que analisam os constituintes silábicos sem hierarquia entre eles, e a teoria
métrica, que considera tal hierarquia. Trazemos também resultados de pesquisas
variacionistas que relatam o uso da monotongação de ditongos crescentes e seus
possíveis fatores condicionantes internos e externos.
A teoria autossegmental, formulada em Kahn (1976 apud COLLISCHONN,
1999), representa a sílaba em uma camada independente à qual os segmentos estão
diretamente ligados, conforme ilustra a figura 1:
Figura 1: Estrutura da sílaba segundo a teoria autossegmental.
Já a teoria métrica, apresentada em Selkirk (1982 apud COLLISCHONN, 1999),
propõe que as sílabas (σ) são estruturadas com base em um ataque (A) e em uma rima
(R). A rima, por sua vez, é formada por um núcleo (Nu) e uma coda (Co). Veja:
Figura 2: Estrutura da sílaba segundo a teoria métrica.
35
Harris (1983 apud SIMIONI, 2007) afirma que os constituintes silábicos são
sempre binários. Sendo assim, uma rima com mais de dois segmentos cria uma estrutura
recursiva. Um exemplo disso é a primeira sílaba da palavra “perspectiva”, representada
abaixo.
Figura 3: Representação da primeira sílaba da palavra perspectiva.
Extraído de Simioni, 2007, p.3.
A teoria autossegmental afirma que os três segmentos apresentados na figura 1
relacionam-se igualmente, já a teoria métrica
prevê um relacionamento muito mais estreito entre a vogal do núcleo
e a consoante da coda do que entre esta vogal e a consoante do ataque.
Além disso, a primeira teoria prevê que somente a sílaba como um
todo pode ser referida pelas regras fonológicas. (COLLISCHONN,
1999, p. 100)
Na teoria métrica, as sílabas podem ser classificadas como pesadas ou leves, a
depender de sua constituição. As sílabas pesadas constituem-se de mais de um
elemento, porém nem todas as sílabas de mais de um elemento são pesadas. Isso
depende da estrutura interna da sílaba: para que uma sílaba seja considerada pesada, é
necessário que haja uma rima complexa, ou seja, rima constituída por vogal e consoante
ou por duas vogais (ditongo ou vogal longa). Observe a diferença nas sílabas abaixo.
Figura 4: Representação de uma sílaba pesada e de uma leve, respectivamente.
36
Na primeira sílaba (car) há uma rima complexa, uma rima ramificada. Na
segunda (cra), o ataque é que se ramifica. Observa-se que a constituição do ataque,
mesmo ramificado, não é relevante para a interpretação da sílaba pesada. Ou seja, a
distinção entre sílabas leves ou pesadas focaliza a rima. Sílabas com rima ramificada
são consideradas pesadas e sílabas com rima não ramificadas são consideradas leves.
Collischonn (1999) considera que apenas os ditongos leves podem sofrer
monotongação.
Bisol (2013) apresenta como molde silábico do português a seguinte
representação.
Figura 5: Molde silábico do português.
Extraído de Bisol, 2013, p.23.
Essa representação arquiteta a estrutura binária silábica, apresentando seus
constituintes – ataque e rima – dos quais a rima é obrigatória. A rima, também binária,
37
constitui-se de núcleo e coda, sendo o núcleo sempre preenchido por uma vogal, e a
coda por uma soante ou por uma produção fonética do arquifonema /S/. O ataque pode
ter até dois segmentos, restringindo-se o segundo a uma soante não nasal.
Há ainda as sílabas de estrutura CCVCC, representadas abaixo, que a autora
explica por meio da regra de adjunção de /S/ à rima bem formada (HARRIS, 1983 apud
BISOL, 2013).
Figura 6: Sílabas de estrutura CCVCC.
Extraído de Bisol, 2013, p.24.
Câmara Júnior (1988) afirma que a sílaba, quando completa, é composta de um
aclive, um ápice e um declive. O ápice corresponde à vogal (fonema silábico) e não
pode faltar na sílaba. Os outros fonemas (assilábicos) compõem o aclive e o declive e
podem não ser preenchidos em alguns tipos silábicos. Segundo o autor a sílaba tem as
seguintes estruturas fundamentais:
V (sílaba simples), CV (sílaba complexa, mas aberta ou livre porque
termina no silábico), e, como sílabas fechadas ou travadas, VC (em
que falta o aclive) e CVC (sílaba completa com aclive e declive). A
exemplificação em português pode ser: há (V), pá (CV), às (VC), par
(CVC). (CÂMARA JR., 1988, p. 26)
O autor reconhece como verdadeiros ditongos os ditongos decrescentes. Os
ditongos crescentes são reconhecidos apenas depois das consoantes /k/ ou /g/, quando
integram ao que a modalidade escrita considera dígrafos ‘qu’ e ‘gu’, como em “quadro”
e “guarda”. Ele afirma que, embora a delimitação da fronteira silábica seja muito nítida
de maneira geral, é flutuante em alguns contextos:
38
1) /i/ ou /u/ precedido ou seguido de outra vogal átona (ex.: vaidade,
ansiedade); 2) /i/ ou /u/ seguido de outra vogal mas tônica ( ex.:
suar, fiel, miolo); 3) /i/ ou /u/ seguido de outra vogal átona em
posição final (ex.: Glória, óleo /óliu/, fátuo). (CÂMARA JR.,
1988, p 33)
O último agrupamento de exemplos apresentados seria de variação livre entre
um ditongo crescente e um hiato, sem que haja oposição distintiva, ou seja, essa
variação não possibilita a formação de uma palavra diferente.
Lopez (1979) também reconhece a variação livre entre o ditongo crescente e
uma sequência de duas vogais. Atenta para o fato de que, quando sucedidas por outra
vogal, as vogais altas sempre podem tornar-se glides independentemente da tonicidade
da sílaba em que se encontram. A autora ainda esclarece que os glides se alternam tanto
como vogais altas como vogais médias, já que vogais médias não acentuadas podem
elevar-se diante de outra vogal, a exemplo de [vo‘ah] ~ [vu‘ah] ~ [vw‘ah].
Sobre os ditongos (decrescentes), Bisol (2013) afirma que é a regra de formação
da coda que os explica. A posição da vogal alta produzida como semivogal
(constituindo com outra vogal um ditongo) é a mesma das soantes /n, l, r/. Os únicos
ditongos crescentes invariáveis seriam aqueles formados pelas sequências /kw, gw/
diante de /a/ e /o/.
Couto (1994) segue uma perspectiva teórica diferente da dos outros
pesquisadores. O autor reconhece os casos de variação livre entre alguns ditongos
crescentes e hiatos, porém indica a existência de ditongos crescentes, além dos já
reconhecidos, formados por [w], diante de [k] ou [g], seguidos da vogal núcleo da
sílaba, que não estão em variação livre com hiato. Cita como exemplo palavras como
‘ideia’, ‘assembleia’, ‘ceia’, ‘meia’, ‘veia’, dentre outras. Em defesa disso, afirma que a
semivogal do ditongo é ambissilábica. Segundo o autor, nesses casos, a semivogal está
associada a duas sílabas: primeiramente formando um ditongo decrescente e, em
seguida, o crescente.
Sobre os ditongos crescentes pós-tônicos (os focalizados em nossa pesquisa)
Simioni (2008) afirma que sua realização é quase categórica como ditongos e não como
hiatos, ao contrário daqueles em posição pretônica ou tônica. A realização de um hiato,
39
nesses casos, forma uma palavra proparoxítona, que possui um padrão marcado em
português, o que explica a preferência pelo ditongo.
Hora (2012) pesquisa a variação de ditongos crescentes em palavras paroxítonas
do corpus do Projeto Variação Linguística no Estado da Paraíba – VALPB, com
informantes nascidos em João Pessoa e dados estratificados de acordo com o sexo, a
faixa etária, e os anos de escolarização dos informantes. Afirma que o fenômeno já se
apresentava em pesquisas diacrônicas.
Seus dados mostram que falantes mais escolarizados têm a maior probabilidade
de aplicar a regra de monotongação em ditongos cujas vogais têm saliência fônica
(diferença material fônica) menos perceptível, como em “espécie” e “árduo”. Os
falantes com menos anos de escolarização podem aplicar essa regra independentemente
do grau de saliência entre as vogais, a exemplo de "paciença" e “edifiço”. Já que nos
dois primeiros exemplos a saliência entre as vogais é menor e a elevação de [e] para [i]
e de [o] para [u] é um processo natural no português brasileiro, a aceitação dessas
formas é bem maior do que a aceitação das últimas ocorrências exemplificadas.
Observando-se a variável sexo, os dados mostram que as mulheres preferem a forma
ditongada, enquanto os homens preferem as formas monotongadas. Os resultados
relativos à variável faixa etária mostraram que o uso ditongado é preferencial dos jovens
(15 a 25 anos) e dos idosos (acima de 49 anos). O contexto fonológico precedente foi a
variável estrutural mais significativa do estudo. Quando o contexto fonológico
precedente é preenchido pelas coronais /s/, /r/, /l/, /n/ e a labial /p/, o processo de
monotongação é favorecido, como em “princípio”, “armário” e “ciência”.
Elias (2008) verifica uma grande incidência da monotongação de ditongos
crescentes orais em final de palavras na escrita de alunos da primeira série do Ensino
Fundamental. Observa que a partir da segunda série essa frequência diminui, chegando
a uma frequência nula na terceira e na quarta série, confirmando assim a influência da
variável escolaridade na monotongação. Em relação ao contexto, a autora atesta a
influência de /s/, /r/ e /ʒ/, precedentes aos ditongos (mesma sílaba), na supressão do
glide.
Hamdan (2013) também apontou em sua pesquisa forte variação entre o ditongo
crescente em final de sílaba e sua redução na fala de uberlandenses. Sua pesquisa está
em fase de conclusão e, posteriormente, dar-nos-á mais subsídios para reflexões sobre o
tema.
40
Alguns estudos como Haupt (2011) apontam a quase categoricidade da
monotongação de alguns ditongos decrescentes, a exemplo de peixe > pexe. Esse tipo
de monotongação não é estigmatizado. Já os monotongos derivados de ditongos
crescentes como em paciência > paciença, polícia > poliça, são variantes marcadas,
estigmatizadas, geralmente relacionadas ao nível de escolaridade do falante.
Os apontamentos teóricos sobre a instabilidade dos ditongos crescentes são
quase um consenso, porém há outras possibilidades de observar o fenômeno, como no
caso da ambissilabicidade da semivogal em alguns casos. É necessário observar que os
ditongos decrescentes verdadeiros também são passíveis de variação com hiato. O que
os diferencia dos outros ditongos é a menor probabilidade dessa variação. A estrutura
silábica também merece estudos mais aprofundados, já que, além da constatação de que
o ataque da sílaba seguinte se mostra influente para a monotongação dos ditongos
decrescentes variáveis, observou-se que o ataque da mesma sílaba influencia a
monotongação dos ditongos crescentes. A saliência fônica também se mostrou
relevante, tanto para a monotongação (ou não) dos ditongos crescentes, quanto para a
atitude linguística dos falantes.
Os aspectos linguísticos estruturais também justificam uma frequência menor da
variante monotongada e sua falta de aceitação por grande parte dos falantes. Essa
questão corrobora o fato de que ainda há muito que se discutir sobre os encontros
vocálicos em português.
41
3 INTERFACE ENTRE SOCIOLINGUÍSTICA E PSICOLOGIA SOCIAL – POR
UMA QUESTÃO METODOLÓGICA
Este capítulo apresenta as escolhas metodológicas da pesquisa. Inicialmente
apresentamos os principais testes utilizados para o que nos propomos a fazer, em
seguida, os testes aplicados por nós, bem como o tratamento estatístico dado ao corpus.
3.1 MEDIÇÃO DE ATITUDES
Se pretendermos medir atitudes, é necessário que tenhamos formas
eficientemente estruturadas para a realização de tal fim. Exporemos, aqui, alguns testes
apontados pela literatura para a medição dos três componentes das atitudes – cognitivo,
comportamental e afetivo.
Escalas de atitude são as formas mais comumente usadas para medir atitudes.
Como já foi dito, não sendo as atitudes diretamente observáveis, pressupomos medi-las
através de crenças, opiniões e avaliações auto-descritivas dos sujeitos à determinada
entidade concreta ou abstrata.
Segundo Lima ([1993] 2004), Thurstone (1928) propôs uma escala que
caracteriza a atitude do sujeito por meio do seu posicionamento diante de proposições
elaboradas previamente. É necessário selecionar frases objetivas para que os sujeitos
assinalem as com que concordam. Os passos seguidos na construção dessa escala estão
sintetizados no quadro 1.
Quadro 1: Passos na construção de uma escala de Thurstone.
1. Obter (através dos meios de comunicação social, da literatura, etc.) um conjunto de cerca de 100 frases que manifestem opiniões acerca do objecto de atitude e que tenham as seguintes características: sejam curtas e claras e que, no seu conjunto, manifestem todos os posicionamentos possíveis face ao objecto de atitude, desde o muito favorável até ao muito desfavorável. 2. Proceder à avaliação de cada uma destas frases por um conjunto de sujeitos (100 ou uma amostra representativa da população à qual vai ser aplicada a escala), numa escala de 11 pontos. Os sujeitos, designados por juízes, deverão esquecer a sua posição pessoal e indicar, para cada frase, se ela representa uma atitude favorável ou desfavorável face ao objecto de atitude, lembrando-se sempre que a distância entre cada ponto da escala é igual (1 = posição completamente desfavorável; 11 = posição completamente favorável). 3. Calcular o valor de escala de cada item através do cálculo de uma medida de tendência central (média ou mediana) a partir das pontuações dadas pelos juízes. 4. Seleccionar as frases que constituirão a futura escala de atitudes (normalmente entre 20 e 30 frases) de acordo com os seguintes critérios:
critério de ambiguidade: devem ser excluídos os itens com maior variância, isto é,
42
aqueles em que há menor consenso entre os juízes quanto á sua classificação;
critério de irrelevância: devem ser excluídos os itens que não apresentem variação entre sujeitos com atitudes diferenciadas, o que quererá dizer que não é um item opinativo ou que é um item irrelevante para o objecto de atitude que estamos a medir;
critério de sensibilidade: os itens finais da escala deverão situar-se entre o 1 e o 11, cobrindo igualmente toda a gama de atitudes possíveis face ao objecto.
5. Apresentar aos sujeitos as frases constantes da versão final da escala, pedindo que assinalem aquelas com que estão completamente de acordo. 6. Calcular o valor individual da atitude através da média dos valores de escala dos itens assinalados pelo sujeito.
Extraído de Lima ([1993] 2004, p. 191).
Esse tipo de escala, porém, está sendo pouco usada atualmente, devido a certas
dificuldades, como a morosidade na sua construção e a subjetividade na organização
dos valores dos itens.
Pouco depois da escala de Thurstone ser apresentada, Likert propõe, em 1932,
outra escala. Nesta, são elaboradas frases que manifestem apenas dois tipos de atitude:
um favorável e um desfavorável em relação a uma entidade. A partir das frases dadas, o
próprio sujeito aponta seu posicionamento. Suas etapas da construção são expressas no
quadro 2.
Quadro 2: Passos na construção de uma escala de Likert.
1. Obter (através dos meios de comunicação social, da literatura, etc.) um conjunto de frases que manifestem opiniões acerca do objeto da atitude, e seleccionar aquelas que manifestem claramente uma posição favorável ou desfavorável face ao objecto de atitude. 2. 2. Pedir a uma amostra representativa da população à qual vai ser aplicada a escala para se posicionar face a cada uma das frases escolhidas, numa escala com cinco posições: «Concordo em absoluto» «Concordo parcialmente» «Não concordo nem discordo» «Discordo em parte» «Discordo em absoluto». 3. Eliminar as frases sem variação, ou em que o posicionamento da amostra não se assemelhe a uma distribuição normal. 4. Cotar as respostas às frases favoráveis atribuindo o valor 5 à resposta «concordo em absoluto» e o valor 1 à resposta «discordo em absoluto». Cotar as frases desfavoráveis relativamente ao objecto de atitude da forma invertida: atribuir o valor 1 à resposta «concordo em absoluto» e o valor 5 à resposta «discordo em absoluto». A cotação final é encontrada através da soma dos valores atribuídos às respostas a todos as frases seleccionadas. 5. Proceder a uma análise de consistência interna da escala através da correlação entre cada item e o score final. Eliminar os itens que apresentem fracas correlações, uma vez que mediriam aspectos marginais da atitude que procuramos avaliar. Sujeitar a versão final da escala a um teste de fiabilidade psicométrico. O mais comum é o coeficiente Alfa de Cronbach (Nunnally, 1978) que, variando entre 0 e +1, procura avaliar a correlação entre a presente escala e uma escala hipotética com o mesmo número de itens: kr = ____________
43
1 + (k – 1) r em que k é o número de itens da escala, r é a correlação média entre os itens. 6. Calcular o valor individual da atitude através da soma dos valores dos itens que a constituem.
Extraído de Lima ([1993] 2004, p. 194).
Essa escala é mais rápida de produzir e aplicar, tornando-se, assim, mais popular
na medição de atitudes.
Há, também, para esse fim, as escalas de diferenciadores semânticos, surgidos
nos fins dos anos 50 na Universidade de Illinois segundo Lima ([1993] 2004). Essas
escalas possuem dimensões bipolares representadas por adjetivos antagônicos e é
formada de 7 pontos, que variam de -3 a + 3. Essa técnica acabou por privilegiar o
caráter avaliativo da atitude, podendo inclusive ser usada para avaliar qualquer objeto
de atitude com uma mesma escala; porém, não permite, por exemplo, o esclarecimento
das crenças que sustentam a atitude. Um exemplo dessa escala se encontra no quadro
03.
Quadro 3: Exemplo de escala tipo diferenciador semântico.
Pretendemos saber sobre a polícia. Encontra a seguir uma série de adjectivos opostos, e pedimos-lhe para assinalar a sua posição nos espaços que estão entre os dois. Use a casa do meio quando achar que nenhum dos adjectivos se aplica, ou se a sua posição for média: POLÍCIA Boa ___:___:___:___:___:___:___ Má Simpática ___:___:___:___:___:___:___ Antipática Honesta ___:___:___:___:___:___:___ Desonesta Justa ___:___:___:___:___:___:___ Injusta Agradável ___:___:___:___:___:___:___ Desagradável Prestável ___:___:___:___:___:___:___ Cruel +3 : +2 : +1 : 0 : -1 : -2 : -3 Nota: A cotação da escala é pela soma das respostas dadas, de acordo com a pontuação indicada na linha de baixo. Valores positivos indicam atitudes favoráveis face à polícia, enquanto que valores negativos indicam o contrário.
Extraído de Lima ([1993] 2004, p. 197).
Guttman (1994 apud Lima [1993] 2004), partindo do princípio de que as atitudes
podem se situar num continuum, elaborou uma escala que permite testar esse
pressuposto. As escalas de Guttman ou Escalas Cumulativas são construídas como as
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bonecas russas1, de tal modo que seus itens se encaixam uns dentro dos outros. Isso
implica que, ao aceitar um item, o sujeito aceitará também os de nível inferior. Um
exemplo dessa técnica é a escala de distancia social de Bogardus (1993, apud Lima
[1993] 2004), exemplificada no quadro 04.
Quadro 4: Exemplo de escala tipo Guttman.
Extraído de: Lima ([1993] 2004, p. 198).
Outra técnica utilizada para medir atitudes utiliza apenas uma pergunta em vez
de uma escala. Essa técnica foi usada por Lima, Vala e Monteiro (1989) na busca por
avaliar atitudes de uma empresa em relação a seu próprio trabalho. Para isso, utilizaram
uma única pergunta cuja resposta seria analisada por meio de uma medida resumo (1=
extremamente insatisfeito a 7= extremamente satisfeito).
Os testes de atitude linguística são fundamentais para que possamos
compreender melhor as influências do falante à própria língua e às mudanças nela
1 Boneca russa ou matrioska é um brinquedo artesanal, tradicional da Rússia, que reúne uma série de
bonecas de tamanhos variados , umas menores que as outras, de tal forma que uma encaixe dentro da
outra.
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ocorridas. Essas influências podem se dar tanto no curso da realização de uma mudança,
quanto na retroação da mesma. Além disso, como os estudantes de Letras são
professores em formação, suas atitudes podem influenciar no comportamento
linguístico e social de seus alunos.
Diante das possibilidades de testes apresentadas acima, elaboramos o nosso.
Segue abaixo. Ressaltamos que, nesta pesquisa, não analisamos as questões discursivas
apresentadas no questionário por limitações de tempo, o que pode ser feito em pesquisa
posterior.
Questionário de pesquisa2
Ressaltamos que não buscamos respostas certas ou erradas, mas, sim, as suas
impressões, opiniões e/ou sentimentos em relação às questões abordadas; sendo assim,
pedimos que seja o mais sincero e que não troque opiniões com outros participantes da
pesquisa.
1. Tendo em vista a pronúncia das palavras paciência e polícia como “paciença” e
“poliça”, aponte suas impressões sobre quem fala dessa forma por meio de uma escala
numérica de 1 a 6 referente aos seis pares de características apontadas abaixo. Marque
apenas uma opção em cada par de adjetivos . As impressões mais negativas devem
apontar para os números 1, 2 e 3; e as impressões positivas são expressas por meio dos
números 4, 5 e 6. O número 1 significa que você concorda totalmente com o julgamento
negativo e o número 6, que concorda totalmente com o julgamento positivo. Não há
posição para julgamentos neutros.
Não Escolarizada (1) (2) (3) (4) (5) (6) Escolarizada
Não instruída (1) (2) (3) (4) (5) (6) Instruída
Não inteligente (1) (2) (3) (4) (5) (6) Inteligente
Desatenta (1) (2) (3) (4) (5) (6) Atenta
Incompetente (1) (2) (3) (4) (5) (6) Competente
Não esforçada (1) (2) (3) (4) (5) (6) Esforçada
2 Questionário elaborado por Elisabeth Silva de Vieira Moura sob a orientação da Profª Drª Maria
Hozanete Alves de Lima e a colaboração da Profª Drª Carla Maria Cunha.
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2. Marque a(s) afirmativa(s) que indica(m) como você se relacionaria com pessoas que
falam “paciença/poliça”?
( ) Se quisesse me casar, não veria inconveniente em fazê-lo com uma pessoa que fala
desse jeito.
( ) Não veria nenhum inconveniente em convidar uma pessoa que fala dessa forma
para almoçar comigo.
( ) Preferiria considerá-las como pessoas conhecidas de vista e com as quais se
trocariam algumas palavras ocasionais.
( ) Não me agradariam encontros com essas pessoas.
( ) Preferiria que essas pessoas fossem eliminadas.
Justifique sua posição.
3. Que opiniões, impressões e/ou sentimentos você tem sobre pessoas que pronunciam
as palavras paciência e polícia da seguinte forma: “paciença” e “poliça”? O que as leva
a falarem assim?
4. Aponte suas impressões sobre a pronúncia das palavras paciência e polícia como
“paciença” e “poliça” por meio de uma escala numérica de 1 a 6 referente aos seis pares
de características apontadas abaixo. Marque apenas uma opção em cada par de
adjetivos. As impressões mais negativas devem apontar para os números 1, 2 e 3; e as
impressões positivas são expressas por meio dos números 4, 5 e 6. O número 1 significa
que você concorda totalmente com o julgamento negativo e o número 6, que concorda
totalmente com o julgamento positivo. Não há posição para julgamentos neutros.
Feia (1) (2) (3) (4) (5) (6) Bonita
Errada (1) (2) (3) (4) (5) (6) Certa
Inadequada (1) (2) (3) (4) (5) (6) Adequada
Desagradável (1) (2) (3) (4) (5) (6) Agradável
Descuidada (1) (2) (3) (4) (5) (6) Cuidada
Não engraçada (1) (2) (3) (4) (5) (6) Engraçada
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5. Marque a(s) afirmativa(s) que indica(m) quando você falaria/escreveria as palavras
“paciença/poliça”.
( ) em qualquer situação comunicativa, oral ou escrita.
( ) em situações formais de escrita.
( ) em situações formais de oralidade.
( ) em situações informais de escrita.
( ) em situações informais de oralidade.
( ) excepcionalmente.
( ) nunca.
Justifique sua posição.
6. Julgue as pronúncias “paciença/poliça”. Explique sua resposta.
7. Você já leu/ouviu comentários sobre a possibilidade ou não possibilidade de
pronunciar uma palavra de maneiras diferentes? Cite.
8. Considerando os pontos de vista abaixo, selecione, dentre os posicionamentos feitos,
um que reflita o seu posicionamento sobre as pessoas que falam “paciença/poliça”.
Marque apenas uma opção para cada ponto de vista (proposição).
Concordo
totalmente
Concordo
em grande
parte
Discordo
em grande
parte
Discordo
totalmente
1. Pessoas que pronunciam paciença/poliça costumam não
ver erros onde há.
2. Pessoas que pronunciam paciença/poliça não discernem o certo do errado.
3. Pessoas que pronunciam paciença/poliça desconhecem o próprio idioma.
4. Só as pessoas que não tiveram
convívio acadêmico pronunciam paciença/poliça.
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5. Pessoas que pronunciam
paciença/poliça estão tão acostumadas a falar errado que nem se preocupam com a forma
como pronunciam as palavras.
6. Pessoas que pronunciam paciença/poliça não gostam de
estudar.
7. A maioria das pessoas que pronuncia paciença/poliça vive no nordeste.
9. Considerando os pontos de vista abaixo, selecione, dentre os posicionamentos feitos,
um que reflita o seu posicionamento sobre a pronúncia “paciença/poliça”. Marque
apenas uma opção para cada ponto de vista (proposição).
Concordo
totalmente
Concordo
em grande
parte
Discordo
em grande
parte
Discordo
totalmente
1. Pronunciar corretamente uma palavra é pronunciar tal palavra
de modo mais fiel à escrita.
2. Não pronunciar um elemento da palavra é errado.
3. Pronunciar uma palavra de
maneiras diferentes é normal/ esperado/ possível.
4. Acrescentar, na palavra, um
som que ela, na forma escrita, não apresenta é errado.
5. Retirar, na palavra, um som que ela, na forma escrita,
apresenta é errado.
6. Falar uma palavra de modo diferente de como ela é escrita é
natural, em uma conversa informal.
7. Falar uma palavra de modo
diferente de como ela é escrita é errado no ambiente de trabalho.
8. Falar uma palavra de modo diferente de como ela é escrita é
muito comum no dia a dia.
49
9. Falar uma palavra de modo
diferente de como ela é escrita faz parte da diferença entre a escrita e a fala.
3.2 TRATAMENTO ESTATÍSTICO DOS DADOS
Para análise do julgamento das atitudes de alunos do curso de Letras foi
necessária a aplicação de três testes estatísticos (fórmulas para os cálculos dos
resultados) – teste de Friedman, de Wilcoxon e de Fisher. Neste estudo, foram
utilizados testes estatísticos não-paramétricos, que são aplicados, em geral, para
qualquer tipo de observação que não atende aos pressupostos da média e desvio padrão
para representarem uma população. Estes termos referem-se à média e ao desvio-
padrão, que são os parâmetros que definem as populações que apresentam distribuição
normal. A estatística paramétrica possui outros testes, porém, para que esses sejam
utilizados, é necessário que o objeto de estudo (população) possua certas características,
ou seja, é preciso ter distribuição normal, ou aproximadamente normal, e que a amostra
não seja muito pequena. Já os testes não-paramétricos são usados quando os dados não
atendem às condições exigidas pelos testes paramétricos.
3.2.1 Teste estatístico de Friedman
O teste de Friedman (1937) é a versão não paramétrica da ANOVA (Análise
de variância) para amostras dependentes. Para aplicação do teste é realizada uma
ordenação dos dados atribuindo-lhes postos de acordo com seus valores. Na hipótese
nula afirma-se que a média dos grupos é igual à média populacional, enquanto a
hipótese alternativa afirma que existe diferença entre as médias dos grupos
estudados.
Os procedimentos para realização do teste começam pela ordenação dos
postos. K observações, da menor para a maior, são separadas em cada um dos blocos
e são atribuídos os postos {1, 2, ..., k} para cada bloco da tabela de observações. Neste
caso, os blocos são os julgamentos dos entrevistados em relação às impressões. Assim,
50
somam-se os números de ordem (atribuídos por bloco) dentro de cada um dos
tratamentos , com estatística de teste definida por:
(CASTELLAN JR. e SIEGEL , 2006, p 204).
Caso Fj(t) = F(t+τj), uma função de distribuição do tratamento j, com j = 1, 2, ...,
k, no teste de Friedman, estamos interessados em testar na hipótese nula H0: τ1 = τ2 = ...
= τk contra a hipótese alternativa de que pelo menos um dos τ1, τ2, ..., τk é diferente dos
demais. Desse modo, ao nível de significância α de 5%, rejeitamos a hipótese H0 se S ≥
sα, caso contrário não rejeitamos a hipótese nula, em que a constante sα é escolhida.
3.2.2 Teste estatístico de Wilcoxon
O teste de Wilcoxon (1945) é utilizado para se verificar a diferença entre
médias de duas amostras pareadas. O teste considera o sentido da diferença entre os
postos (posição). Sua grande vantagem é que o peso dos postos é atribuído de acordo
com a magnitude da diferença. Em sua hipótese nula afirma-se que as médias são
iguais para os blocos; nessa situação, a hipótese nula será de que não existe diferença
entre os julgamentos relacionados às palavras “poliça/paciença”, enquanto a hipótese
alternativa afirma que existe diferença significativa para o julgamento.
Para realização do teste, atribui-se para cada par a diferença (d), com sinal; em
seguida, são atribuídos os postos a essas diferenças independentemente de sinal. Em
caso de empates, atribui-se a média dos postos empatados. Para cada um desses postos
será atribuído também o sinal + ou o sinal – do d que ele representa. A partir dos sinais,
obtemos o valor de , que representa a menor das somas de postos de mesmo sinal.
Determinamos também o N (total das diferenças com sinais).
Para amostras menores que 25, o valor de p pode ser obtido pela distribuição
binomial:
51
k
x
xNx qpx
NkXPp
0
)(
(MAGALHÃES, 2015, p. 84).
Caso, N > 25, a média e o desvio padrão aproximados são obtidos com base na
soma das posições dos postos. Em seguida, obtemos o valor de z calculado e o valor de
z tabelado, aproximando-se assim de uma distribuição normal, com:
;
T
TTz
2
zz tab
(CASTELLAN JR. e SIEGEL, 2006, p 113-114).
Assim, o valor calculado é comparado ao valor teórico de z. De modo que, se z
calculado for menor que z tabelado, não se pode rejeitar a hipótese nula, ou seja, as
médias são iguais para os blocos.
O valor-p é a probabilidade de a amostra observada ser verdadeira, sob a
hipótese nula , ou seja, é a probabilidade que a estatística de teste tenha valor tão
extrema quanto o valor observado.
3.2.3 Teste estatístico de Fisher
O teste exato de Fisher (1934) é utilizado para pequenas amostras, permitindo
o calculo da probabilidade associada às características em questão. Para realização do
teste, é necessária a construção de uma tabela de contingência 2x2, comparando-se dois
grupos. Com base na tabela, calcula-se a probabilidade de ocorrência das frequências
observadas a partir da distribuição de probabilidade:
52
(CASTELLAN JR. e SIEGEL, 2006, p. 127).
De modo que A, B, C e D são os valores da tabela:
Evento X Y Total
1 A B A+B
2 C D C+D
Total A+C B+D A+B+C+D
Com isso, a hipótese nula afirma que a probabilidade de ocorrência é a mesma
para cada uma das células.
Os programas usados para a análise dos dados são o Excel 2007 para
organização e o SPSS versão 17.0 para execução dos testes.
53
4. ATITUDES LINGUÍSTICAS DOS ESTUDANTES DE LETRAS: DESCRIÇÃO
E ANÁLISE DOS DADOS
Apresentamos, neste capítulo, a descrição e a análise dos dados relativos aos
testes aplicados aos estudantes de Letras – calouros e concluintes –, observando-se os
três componentes da atitude – cognitivo, afetivo e comportamental – em relação à
redução do ditongo fonético [ja] átono final de palavra paroxítona, como em
paciença/poliça e em relação à pessoa que usa essa variante.
Entrevistamos 40 alunos, 20 calouros e 20 concluintes do curso de Letras.
Conforme o gráfico abaixo, 67% dos entrevistados são do sexo feminino e 33% do sexo
masculino.
Gráfico 1: Distribuição percentual relativa ao sexo dos alunos entrevistados.
Fonte dos dados: Levantamento de dados primários, 2014. 1.
Em relação à faixa etária dos entrevistados, notamos que 38% estão na faixa
etária dos 17 aos 22 anos, outros 38% estão na faixa etária dos 23 aos 29 anos e, por
fim, 24% dos entrevistados pertencem à faixa etária com 30 anos ou mais, conforme o
gráfico 2.
54
Gráfico 2: Distribuição percentual relativa à idade dos alunos entrevistados.
Fonte dos dados: Levantamento de dados primários, 2014. 1.
Sendo assim, nosso grupo de entrevistados compôs-se majoritariamente de
mulheres jovens.
4.1 ATITUDES EM RELAÇÃO À PESSOA QUE FALA PACIENÇA/POLIÇA
4.1.1 Componente cognitivo
O componente cognitivo da atitude corresponde a crenças, ideias, opiniões,
pensamentos que expressam uma avaliação mais positiva ou menos do objeto da atitude.
Os resultados referem-se à questão 8 do questionário aplicado.
4.1.1.1 Calouros
Tabela 1: Distribuição percentual do posicionamento dos calouros sobre pessoas que falam
paciença/poliça.
Posicionamento Nota
Total 1 2 3 4
P1. Pessoas que pronunciam paciença/poliça costumam não ver erros onde há.
41 29 24 6 100
P2. Pessoas que pronunciam paciença/poliça não discernem o certo do errado.
76 24 0 0 100
P3. Pessoas que pronunciam
paciença/poliça desconhecem o próprio idioma.
82 6 12 0 100
55
P4. Só as pessoas que não
tiveram convívio acadêmico pronunciam paciença/poliça.
71 18 11 0 100
P5. Pessoas que pronunciam paciença/poliça estão tão
acostumadas a falar errado que nem se preocupam com a forma
como pronunciam as palavras.
35 41 24 0 100
P6. Pessoas que pronunciam paciença/poliça não gostam de estudar.
59 35 6 0 100
P7. A maioria das pessoas que pronuncia paciença/poliça vive no nordeste.
71 29 0 0 100
Fonte dos dados: Levantamento de dados primários, 2014. 1- Discorda totalmente; 2- Discorda em grande
parte; 3 - Concorda em grande parte e 4 – Concorda totalmente.
Dos calouros entrevistados, 41% discordam totalmente que as pessoas que falam
paciença/poliça costumam não ver erros onde há, 29% discordam em grande parte, 24%
concordam em grande parte com essa afirmativa e 6% concordam totalmente. Quanto a
não discernirem o certo do errado, 76% dos entrevistados discordam totalmente que as
pessoas que falam desse modo não discernem o certo do errado, 24% discordam em
grande parte e nenhum dos entrevistados concordou com a afirmativa.
Em relação à falta de conhecimento do próprio idioma, 82% discordam
totalmente que as pessoas que falam paciença/poliça desconhecem o próprio idioma,
6% discordam em grande parte e 12% concordam em grande parte. No que se refere ao
convívio acadêmico, 71% discordam totalmente que as pessoas que pronunciam
paciença/poliça não tiveram convívio acadêmico, 18% discordam em grande parte e
11% concordam em grande parte.
Quando questionados sobre essas pessoas estarem tão acostumadas a falar errado
que nem se preocupam com a forma como pronunciam as palavras, 35% discordam
totalmente, 41% discordam em grande parte e 24% concordam em grande parte. No
julgamento sobre não gostar de estudar, 59% discordam totalmente que pessoas que
falam desse modo não gostam de estudar, enquanto 35% discordam em grande parte e
6% concordam em grande parte. Por fim, 71% discordam totalmente que pessoas que
falam desse modo vivam no nordeste e 29% discordam em grande parte.
56
Tabela 2: Estatísticas descritivas e teste de Friedman na comparação no posicionamento dos calouros
sobre as pessoas que falam paciença/poliça.
Posicionamento Média
Desvio
Padrão Mínimo Maximo Valor-p
P1. Pessoas que pronunciam
paciença costumam não ver erros onde há.
1,94 0,97 1 4
0,000
P2. Pessoas que pronunciam
paciença não discernem o certo do errado.
1,24 0,44 1 2
P3. Pessoas que pronunciam paciença desconhecem o próprio idioma.
1,29 0,69 1 3
P4. Só as pessoas que não tiveram convívio acadêmico pronunciam
paciença.
1,44 0,73 1 3
P5. Pessoas que pronunciam paciença estão tão acostumadas a
falar errado que nem se preocupam com a forma como pronunciam as
palavras.
1,88 0,78 1 3
P6.Pessoas que pronunciam paciença não gostam de estudar.
1,47 0,62 1 3
P7. A maioria das pessoas que
pronuncia paciença vive no nordeste.
1,31 0,48 1 2
Fonte dos dados: Levantamento de dados primários, 2014.
De acordo com o valor-p3 observado no teste de Friedman, há diferença
significativa, ao nível de confiança de 95%, no julgamento dos posicionamentos sobre
as pessoas que pronunciam as palavras paciença/poliça, ou seja, existe diferença no
modo como os entrevistados julgam essas pessoas.
Tabela 3: Teste de Wilcoxon na comparação dois a dois dos posicionamentos sobre as pessoas que falam
paciença/poliça.
Posicionamento Valor-p
P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7
P1 - 0,00 0,00 0,03 0,35 0,02 0,00
P2 - 0,35 0,09 0,00 0,05 0,16 P3 - 0,29 0,00 0,18 0,50 P4 - 0,02 0,37 0,21
P5 - 0,02 0,00
P6 - 0,09
P7 - Fonte dos dados: Levantamento de dados primários, 2014.
3 Para que o valor-p seja significativo, é necessário que seja menor que 0,05. Encontrado esse resultado, é
aplicado o teste de Wilcoxon, que objetiva identificar entre quais variáveis dependentes houve diferença.
57
O teste de Wilcoxon, na tabela 3, mostrou diferença entre o modo como as
pessoas julgam o posicionamento P1 versus os posicionamentos P2, P3, P4, P5 e P6;
assim como no julgamento do posicionamento P2 versus os posicionamentos P5 e P6.
Foi possível observar que também existe diferença significativa entre o posicionamento
P3 versus o posicionamento P5. Além de diferenças no P4 versus P5; P5 versus P6; P5
com P7 e, por fim, P6 e P7.
Esses dados mostraram resultados interessantes: os calouros têm pouquíssimas
crenças negativas em relação à pessoa que fala paciença/poliça. A avaliação do
componente cognitivo foi mais positiva em todas as afirmativas, embora
estatisticamente diversificada conforme apontam os testes de Friedman e Wilcoxon.
Essas diferenças estatísticas se deram dentro das opções positivas de cada
posicionamento.
4.1.1.2 Concluintes
Tabela 4: Distribuição percentual do posicionamento dos concluintes sobre pessoas que falam
paciença/poliça.
Posicionamento 1 2 3 4 Total
P1. Pessoas que pronunciam paciença/poliça costumam não ver erros onde há.
6 38 38 19 100
P2. Pessoas que pronunciam paciença/poliça não discernem o certo do errado.
44 31 19 6 100
P3. Pessoas que pronunciam
paciença/poliça desconhecem o próprio idioma.
63 19 19 0 100
P4. Só as pessoas que não tiveram
convívio acadêmico pronunciam paciença/poliça.
44 44 13 0 100
P5. Pessoas que pronunciam paciença/poliça estão tão
acostumadas a falar errado que nem se preocupam com a forma como
pronunciam as palavras. 31 19 44 6 100
P6. Pessoas que pronunciam paciença/poliça não gostam de
estudar. 50 31 13 6 100
58
P7. A maioria das pessoas que
pronuncia paciença/poliça vive no nordeste.
63,0 37,0 0,0 0,0 100,0
Fonte dos dados: Levantamento de dados primários, 2014.
Dos concluintes entrevistados, 6% discordaram totalmente, 38% discordaram em
grande parte, 38% concordaram em grande parte e 19% concordaram totalmente que
pessoas que pronunciam paciença/poliça costumam não ver erros onde há. 44%
discordaram totalmente que pessoas que pronunciam paciença/poliça não discernem o
certo do errado, enquanto 31% discordaram em grande parte, 19% concordaram em
grande parte e 6% concordaram totalmente.
Sobre o posicionamento que afirma que pessoas que pronunciam
paciença/poliça desconhecem o próprio idioma, 63% disseram discordar totalmente,
19% discordaram em grande parte, 19% concordaram em grande parte e ninguém
concordou totalmente. Já para o posicionamento de que só as pessoas que não tiveram
convívio acadêmico pronunciam paciença/poliça, 44% discordaram totalmente, 44%
discordam em grande parte e 13% concordaram em grande parte.
Para o posicionamento de que pessoas que pronunciam paciença/poliça estão tão
acostumadas a falar errado que nem se preocupam com a forma como pronunciam as
palavras, 31% discordaram totalmente, 19% discordaram em grande parte, 44%
concordaram em grande parte com essa afirmação e 6% concordaram totalmente. Já no
posicionamento que afirma que pessoas que pronunciam paciença/poliça não gostam de
estudar, 50% discordam totalmente desta colocação, 31% discordaram em grande parte,
13% concordaram em grande parte e 6% concordaram totalmente. Por fim, 63%
discordam totalmente que a maioria das pessoas que falam desse modo vive no nordeste
e 37% concordam em grande parte.
Tabela 5: Teste de Friedman na comparação do posicionamento dos concluintes sobre as pessoas que
falam paciença/poliça.
Posicionamento Média
Desvio
Padrão Mínimo Maximo Valor-p
P1. Pessoas que pronunciam paciença/poliça costumam não ver erros onde há.
2,69 0,87 1 4
0,00 P2. Pessoas que pronunciam paciença/poliça não discernem o certo do errado.
1,88 0,96 1 4
59
P3. Pessoas que pronunciam
paciença/poliça desconhecem o próprio idioma.
1,56 0,81 1 3
P4. Só as pessoas que não tiveram
convívio acadêmico pronunciam paciença/poliça.
1,69 0,70 1 3
P5. Pessoas que pronunciam paciença/poliça estão tão acostumadas a falar errado que
nem se preocupam com a forma como pronunciam as palavras.
2,25 1,00 1 4
P6. Pessoas que pronunciam paciença/poliça não gostam de estudar.
1,75 0,93 1 4
P7. A maioria das pessoas que pronuncia paciença/poliça vive no
nordeste.
1,33 0,49 1 2
Fonte dos dados: Levantamento de dados primários, 2014.
De acordo com o valor-p observado no teste de Friedman, há diferença
significativa, ao nível de confiança de 95%, nos posicionamentos sobre as pessoas que
pronunciam as palavras paciença/poliça, ou seja, existe diferença em relação às crenças
sobre essas pessoas.
Tabela 6: Teste de Wilcoxon na comparação dois a dois dos posicionamentos dos concluintes sobre as
pessoas que falam paciença/poliça.
Posicionamento Valor-p
P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7
P1 - 0,01 0,00 0,00 0,06 0,01 0,00
P2 - 0,18 0,28 0,05 0,36 0,5 P3 - 0,29 0,01 0,28 0,17 P4 - 0,03 0,45 0,04
P5 - 0,08 0,01
P6 - 0,05
P7 - Fonte dos dados: Levantamento de dados primários, 2014.
De acordo com a tabela 6, conforme o teste de Wilcoxon, existe diferença entre o
modo como as pessoas julgam o posicionamento P1 versus os posicionamentos P2, P3,
P4, P6 e P7; assim como no julgamento do posicionamento P2 versus o posicionamento
P5. Foi possível observar que também existe diferença significativa entre o
60
posicionamento P3 versus o posicionamento P5. Além de diferenças no P4 versus P5;
P4 versus P7; P5 com P7 e, por fim, P6 e P7.
Os dados relativos ao componente cognitivo da atitude dos concluintes
indicaram uma postura mais positiva, embora tenhamos encontrado um posicionamento
negativo – pessoas que pronunciam paciença/poliça costumam não ver erros onde há.
Também percebemos um posicionamento dividido – pessoas que pronunciam
paciença/poliça estão tão acostumadas a falar errado que nem se preocupam com a
forma como pronunciam as palavras. Esses dois posicionamentos estão relacionados à
noção de erro.
Ao analisarmos o componente cognitivo da atitude, ou seja, as crenças, ideias,
opiniões, pensamentos que expressam uma avaliação mais positiva ou menos sobre a
pessoa que fala paciença/poliça, dos dois grupos entrevistados – calouros e concluintes
– constatamos alguns dados interessantes. Alguns posicionamentos julgados
negativamente estavam mais relacionados às crenças dos concluintes, contrariando
nossas expectativas.
No caso de P1, apenas 30% dos calouros concordaram que pessoas que
pronunciam paciença/poliça costumam não ver erros onde há, diferentemente dos 57%
dos concluintes que concordaram. Esperávamos resultado inverso em todos os
posicionamentos. P2 também chamou nossa atenção, embora a maioria de calouros e
concluintes tenha discordado da afirmativa de que pessoas que pronunciam
paciença/poliça não discernem o certo do errado. Nesse caso, observamos que nenhum
dos calouros concordou com a afirmativa, porém 25% dos concluintes concordaram.
Essa diferença é significativa. No caso da afirmativa P3 de que pessoas que pronunciam
paciença/poliça desconhecem o próprio idioma, a quantidade de concluintes que
concordou também foi maior que a dos calouros – 19% e 12%, respectivamente. Com
P4 – só as pessoas que não tiveram convívio acadêmico pronunciam paciença/poliça,
calouros e concluintes tiveram julgamentos próximos: 12% e 13% de concordância
respectivamente. A avaliação de P5 – pessoas que pronunciam paciença/poliça estão tão
acostumadas a falar errado que nem se preocupam com a forma como pronunciam as
palavras – também foi inesperada. Mais uma vez os calouros concordaram menos que
os concluintes: 24% e 50%. O posicionamento P6 – pessoas que pronunciam
paciença/poliça não gostam de estudar – também teve discordância entre os
entrevistados: 6% dos calouros concordaram contra 19% dos concluintes. Por fim, P7,
que diz que a maioria das pessoas que pronuncia paciença/poliça vive no nordeste,
61
apresentou resultados iguais para calouros e concluintes: todos discordaram da
afirmativa. P1 e P5 se destacaram de forma negativa para os concluintes, mostrando que
estes creem que pessoas que falam paciença/poliça falam errado. Os calouros não
compartilharam da mesma crença.
4.1.2 Componente afetivo
Segundo os critérios escolaridade, instrução, inteligência, atenção, competência
e esforço, analisamos o componente afetivo da avaliação das pessoas que falam
paciença/poliça. Tal componente se refere a emoções e sentimentos suscitados pelo
objeto da atitude.
Nas próximas tabelas, 1 significa concorda pouco, 2 significa concorda em
grande parte e 3, concorda totalmente. Os resultados referem-se à questão 1 do
questionário aplicado.
4.1.2.1 Calouros
Tabela 7: Distribuição percentual das notas do julgamento dos calouros em relação às pessoas que
pronunciam paciença/poliça quanto à escolarização.
Impressão Nota
Total 1 2 3
Escolarizada 25 6 13 44
Não Escolarizada 25 19 12 56
Total 50 25 25 100 Fonte dos dados: Levantamento de dados primários, 2014.
Constatamos que os alunos calouros têm opiniões diferentes quanto à
escolaridade das pessoas que pronunciam as palavras paciença/poliça. 13% dos alunos
concordam totalmente que essas pessoas são escolarizadas, enquanto 6% concordam em
grande parte e 25% concordam pouco, totalizando 44%. 12% concordam totalmente que
as pessoas que falam dessa maneira são não escolarizadas, enquanto 19% concordam
em grande parte e 25% concordam pouco, totalizando 56%.
62
Tabela 8: Distribuição percentual das notas do julgamento dos calouros em relação às pessoas que
pronunciam paciença/poliça quanto à instrução.
Impressão Nota
Total 1 2 3
Instruída 6 12 12 30
Não Instruída 29 18 23 70
Total 35 30 35 100 Fonte dos dados: Levantamento de dados primários, 2014.
No julgamento referente à instrução, 12% dos entrevistados concordam
totalmente que as pessoas que falam desse modo são instruídas, enquanto 12%
concordam em grande parte e 6% concordam pouco, totalizando 30%. 23% concordam
totalmente que as pessoas que falam desse modo são não instruídas, 18% concordam em
grande parte e 29% concordam pouco, totalizando 70%.
Tabela 9: Distribuição percentual das notas do julgamento dos calouros em relação às pessoas que
pronunciam paciença/poliça quanto à inteligência.
Impressão Nota
Total 1 2 3
Inteligente 38 31 12 81
Não inteligente 19 0 0 19
Total 56 31 12 100 Fonte dos dados: Levantamento de dados primários, 2014.
No que se refere à impressão de inteligência das pessoas que pronunciam as
palavras paciença/poliça, 12% responderam que concordam totalmente que as pessoas
que pronunciam desse modo são inteligentes, enquanto 31% concordam em grande
parte e 38% concordam pouco, totalizando 81%. Já os que julgaram as pessoas como
não inteligentes representam 19%, concordando pouco. Ou seja, a maioria dos
entrevistados teve a impressão de que as pessoas que falam desse modo são inteligentes.
Tabela 10: Distribuição percentual das notas do julgamento dos calouros em relação às pessoas que
pronunciam paciença/poliça quanto à atenção.
Impressão Nota
Total 1 2 3
Atenta 13 31 0 44
Desatenta 18 19 19 56
63
Total 31 50 19 100 Fonte dos dados: Levantamento de dados primários, 2014.
O julgamento sobre a atenção das pessoas que pronunciam as palavras
paciença/poliça ficou dividido, embora nenhum dos entrevistados tenha concordado
totalmente que pessoas que falam dessa forma sejam atentas. Concordaram em grande
parte 31% dos entrevistados e 13% concordaram pouco, num total de 44%. Os
entrevistados que concordam totalmente que essas pessoas são desatentas representam
19%, bem como os que concordam em grande parte, 18% são os que concordam pouco,
totalizando 56%.
Tabela 11: Distribuição percentual das notas do julgamento dos calouros em relação às pessoas que
pronunciam paciença/poliça quanto à competência.
Impressão Nota
Total 1 2 3
Competente 38 25 6 69
Incompetente 18 13 0 31
Total 56 38 6 100 Fonte dos dados: Levantamento de dados primários, 2014.
No julgamento da competência ou incompetência, notamos que a maioria dos
entrevistados acredita na competência das pessoas que pronunciam as palavras
paciença/poliça, totalizando 69%. Destes, 6% concordam totalmente que essas pessoas
são competentes, 25% concordam em grande parte e 38% concordam pouco. Dos que
acreditam que essas pessoas são incompetentes, nenhum concordou totalmente, 13%
concordam em grande parte e 18% concordam pouco, totalizando 31%.
Tabela 12: Distribuição percentual das notas do julgamento dos calouros em relação às pessoas que
pronunciam paciença/poliça quanto ao esforço.
Impressão Nota
Total 1 2 3
Esforçada 13 31 13 57
Não esforçada 17 13 13 43
Total 30 44 26 100 Fonte dos dados: Levantamento de dados primários, 2014.
Os alunos entrevistados mostraram opiniões bem balanceadas para o julgamento
das pessoas em relação ao esforço. Concordam totalmente que as pessoas que falam
desse modo são esforçadas 13%, enquanto 31% dos entrevistados concordam em grande
parte e 13% concordam pouco, totalizando 57%. Os que julgaram que essas pessoas não
64
são esforçadas foram 43% dos entrevistados, divididos em 13% que concordam
totalmente, 13% que concordam em grande parte e 17% concordam pouco.
Tabela 13: Estatísticas descritivas e teste de Friedman na comparação dos julgamentos dos calouros
sobre pessoas que pronunciam as palavras paciença/poliça.
Impressão Média Desvio
Padrão Mínimo Maximo Valor-p
Escolaridade 3,31 1,54 1 6
0,002
Instrução 3,06 1,73 1 6
Inteligência 4,47 0,92 3 6
Atenção 3,19 1,56 1 5
Competência 3,94 1,29 2 6
Esforço 3,81 1,72 1 6 Fonte: Levantamento de dados primários, 10/2014.
De acordo com o valor-p observado no teste de Friedman há diferença
significativa, ao nível de confiança de 95%, no julgamento das pessoas que pronunciam
as palavras paciença/poliça.
Tabela 14: Valor-p do teste de Wilcoxon na comparação dois a dois dos julgamentos dos calouros sobre
pessoas que pronunciam as palavras paciença/poliça.
Impressão Valor-p
Escolaridade Instrução Inteligência Atenção Competência Esforço
Escolaridade - 0,15 0,01 0,34 0,07 0,25 Instrução - 0,00 0,33 0,02 0,05
Inteligência - 0,00 0,04 0,04
Atenção - 0,04 0,07 Competência - 0,28 Esforço - Fonte: Levantamento de dados primários, 10/2014.
Ou seja, existe diferença no modo como as pessoas julgam a escolaridade, a
instrução, a inteligência, a atenção, a competência e o esforço. Existe diferença
significativa entre a escolaridade e a inteligência, entre a instrução, a competência e o
esforço. Além de diferenças significativas entre inteligência e as impressões sobre a
atenção, a competência e o esforço. Também podemos observar a diferença entre
atenção e competência.
Analisando os resultados desse teste, constatamos sobre o modo como os
calouros julgam as pessoas que pronunciam as palavras paciença/poliça que não houve
nenhum comportamento padrão, ou seja, os alunos julgaram de forma diversa as
pessoas que pronunciam as palavras desse modo. Para a escolaridade, instrução e
65
atenção, mais de 50% dos entrevistados apresentaram atitudes negativas. Já para a
impressão de inteligência, a maioria acredita que essas pessoas são inteligentes – 81%.
Para a impressão de competência, 69% apresentaram atitudes positivas. O julgamento
do esforço também foi positivo – 57%. Isso significa que os calouros ficaram divididos
em suas avaliações
4.1.2.2 Concluintes
Tabela 15: Distribuição percentual das notas do julgamento dos concluintes em relação às pessoas que
pronunciam paciença/poliça, quanto à escolarização.
Impressão Nota
Total 1 2 3
Escolarizada 0 36 0 36
Não Escolarizada 0 43 21 64
Total 0 79 21 100 Fonte dos dados: Levantamento de dados primários, 2014.
Dos alunos concluintes entrevistados, 36% concordam que pessoas que falam
paciença/poliça são escolarizadas, enquanto 43% concordam em grande parte que essas
pessoas são não escolarizadas e 21% concordam totalmente que as pessoas que falam
desse modo são não escolarizadas.
Tabela 16: Distribuição percentual das notas do julgamento dos concluintes em relação às pessoas que
pronunciam paciença/poliça quanto à instrução.
Impressão Nota
Total 1 2 3
Instruída 7 22 0 29
Não Instruída 29 21 21 71
Total 36 43 21 100 Fonte dos dados: Levantamento de dados primários, 2014.
Na impressão referente à instrução, 22% concordam em grande parte que essas
pessoas são instruídas e 7% concordam pouco. Entre os entrevistados que tiveram a
impressão negativa , 29% concordam pouco que essas pessoas não são instruídas, 21%
concordam em grande parte e 21% concordam totalmente.
66
Tabela 17: Distribuição percentual das notas do julgamento dos concluintes em relação às pessoas que
pronunciam paciença/poliça quanto à inteligência.
Impressão Nota
Total 1 2 3
Inteligente 21 21 21 63
Não inteligente 21 0 16 37
Total 42 21 37 100 Fonte dos dados: Levantamento de dados primários, 2014.
No que se refere à impressão de inteligência, 21% responderam que concordam
totalmente que as pessoas que pronunciam desse modo são inteligentes, enquanto outros
21% concordam em grande parte e 21% concordam pouco, totalizando 63% de atitude
positiva. Já os que tiveram a impressão negativa, 21% concordaram pouco e 16%
concordam totalmente.
Tabela 18: Distribuição percentual das notas do julgamento dos concluintes em relação às pessoas que
pronunciam paciença/poliça quanto à atenção.
Impressão Nota
Total 1 2 3
Atenta 7 22 14 43
Desatenta 7 21 29 57
Total 14 43 43 100
Fonte dos dados: Levantamento de dados primários, 2014.
Relativo à atenção, os entrevistados que concordam totalmente que essas pessoas
são desatentas representam 29%, os que concordam em grande parte representam 21% e
os que concordam pouco representam 7%. Os entrevistados que concordam em grande
parte que essas pessoas são atentas foram 22%, os que concordam pouco foram 7%, e
14% dos alunos concluintes concordam totalmente que as pessoas que pronunciam
paciença/poliça são atentas.
Tabela 19: Distribuição percentual das notas do julgamento dos concluintes em relação às pessoas que
pronunciam paciença/poliça quanto à competência.
Impressão Nota
Total 1 2 3
Competente 14 21 22 57
Incompetente 22 21 0 43
Total 36 42 22 100
Fonte dos dados: Levantamento de dados primários, 2014.
67
No julgamento da competência, notamos que a maioria dos entrevistados
acredita na competência das pessoas que pronunciam as palavras paciença/poliça –
57%. Dos que acreditam que essas pessoas são incompetentes, 22% concordam pouco e
21% concordam em grande parte.
Tabela 20: Distribuição percentual das notas do julgamento dos concluintes em relação às pessoas que
pronunciam paciença/poliça quanto ao esforço.
Impressão Nota
Total 1 2 3
Esforçada 21 15 14 50
Não esforçada 29 14 7 50
Total 50 29 21 100 Fonte dos dados: Levantamento de dados primários, 2014.
Os alunos entrevistados mostraram opiniões divididas para o julgamento relativo
ao esforço das pessoas que pronunciam as palavras paciença/poliça. Concordam
totalmente que as pessoas que falam desse modo são esforçadas 14%, enquanto 15%
dos alunos concordam em grande parte e 21% concordam pouco. Os que julgaram que
essas pessoas não são esforçadas se dividem em 7% para os que concordam totalmente,
14% concordam em grande parte e 29% concordam pouco.
Tabela 21: Estatísticas descritivas e teste de Friedman na comparação dos julgamentos dos concluintes
sobre as pessoas que pronunciam as palavras paciença/poliça.
Impressão Média Desvio
Padrão Mínimo Maximo Valor-p
Escolaridade 2,86 1,70 1 5
0,013
Instrução 2,86 1,46 1 5
Inteligência 4,00 1,66 1 6
Atenção 3,14 1,96 1 5
Competência 4,00 1,52 2 6
Esforço 3,57 1,60 1 6 Fonte: Levantamento de dados primários, 10/2014.
De acordo com o valor-p observado no teste de Friedman da tabela 23, há
diferença significativa, ao nível de confiança de 95%, no julgamento de impressões das
pessoas que pronunciam as palavras paciença/poliça. Ou seja, existe diferença no modo
68
como as pessoas julgam escolaridade, instrução, inteligência, atenção, competência e
esforço.
Tabela 22: Valor-p do teste de Wilcoxon na comparação dois a dois dos julgamentos dos concluintes.
Impressão Valor-p
Escolaridade Instrução Inteligência Atenção Competência Esforço
Escolaridade - 0,39 0,02 0,18 0,02 0,12 Instrução - 0,01 0,31 0,00 0,06 Inteligência - 0,07 0,5 0,20 Atenção - 0,09 0,21 Competência - 0,12 Esforço - Fonte: Levantamento de dados primários, 10/2014.
Na Tabela 22 é possível observar que existe diferença estatística significativa
entre escolaridade e inteligência, entre escolaridade e competência, instrução e
inteligência e por fim instrução e competência.
Ao analisarmos todos os critérios de julgamento dos concluintes em relação às
pessoas que pronunciam paciença/poliça, notamos que o julgamento mais negativo foi
relativo à escolaridade, à instrução e à atenção. À escolaridade, 64% dos entrevistados
apresentaram atitude negativa. À instrução, 71% atribuíram notas negativas. Já para o
julgamento de inteligência, 63% atribuíram notas positivas. No quesito atenção, a maior
porcentagem foi de atitude negativa – 57%. Relativo à competência, 57% apresentam
julgamento positivo. O julgamento do esforço apresentou resultados iguais de atitude
positiva e negativa – 50% cada. Isso significa que os concluintes ficaram divididos ao
avaliar a pessoa que fala paciença/poliça.
Comparando-se calouros e concluintes em relação ao componente afetivo da
atitude, que se refere a emoções e sentimentos suscitados pelo objeto da atitude,
observamos dados pouco diferenciados.
No julgamento da escolaridade, tanto calouros quanto concluintes julgaram a
escolaridade das pessoas que pronunciam as palavras paciença/poliça de forma negativa
– 56% e 64%, respectivamente. Quanto à instrução, ambos os grupos apresentaram
atitudes negativas – 70% dos calouros e 71% dos concluintes. O julgamento da
inteligência recebeu notas positivas dos dois grupos, embora a avaliação dos calouros
tenha sido mais positiva quantitativamente – 81% contra 63% dos concluintes. O
julgamento da atenção recebeu avaliação negativa de ambos os grupos de forma
igualitária – 56% dos calouros e 57% dos concluintes. A competência foi julgada
69
positivamente por ambos, 69% dos calouros e 57% dos concluintes. E, por fim, o
julgamento quanto ao esforço recebeu avaliações positivas dos calouros – 57%; os
concluintes, porém, mostram-se divididos – 50% apresentam atitudes positivas e 50%
negativas.
Nossas expectativas não foram atendidas, pois esperávamos avaliações mais
diferenciadas entre calouros e concluintes, o que, em geral, não ocorreu. Apenas o
julgamento do esforço foi diferenciado, porém, não da forma como esperávamos.
Esperávamos atitudes mais positivas dos concluintes, que, no caso, mostraram-se
divididos.
4.1.3 Componente comportamental
O componente comportamental diz respeito tanto ao comportamento quanto às
intenções comportamentais manifestos. Neste caso, refere-se às intenções
comportamentais em relação à pessoa que fala paciença/poliça. Os resultados referem-
se aos dados da questão 2 do questionário.
4.1.3.1 Calouros
Tabela 23: Distribuição percentual para o tipo de relação que calouros teriam com pessoas que
pronunciam paciença/poliça e valor-p para o teste de Fisher. Como se relacionaria com pessoas
que falam paciença/poliça Concorda Discorda Total Valor-p
Se quisesse me casar, não veria
inconveniente em fazê-lo com uma pessoa que fala desse jeito. 12 88 100
<0,001
Não veria nenhum inconveniente em convidar uma pessoa que fala dessa
forma para almoçar comigo. 82 18 100
Preferiria considerá-las como pessoas conhecidas de vista e com as
quais se trocariam algumas palavras ocasionais. 12 88 100
Não me agradaria encontros com
essas pessoas. 0 100 100
Preferiria que essas pessoas fossem eliminadas. 0 100 100 Fonte dos dados: Levantamento de dados primários, 2014.
70
Quando questionados sobre o tipo de relacionamento que teriam com pessoas
que pronunciam paciença/poliça, apenas 12% dos entrevistados afirmaram que não
veriam problemas em casar com pessoas que falam desse jeito, enquanto 88%
responderam que não casariam. 82% afirmaram que não veriam problemas em convidar
uma pessoa que fala dessa maneira para almoçar. No que se refere a considerá-las como
conhecidas de vista, com as quais trocariam algumas palavras, apenas 12%
concordaram, enquanto 88% disseram não adotar esse comportamento. Nenhum dos
entrevistados apontou desagrado ao se encontrar com essas pessoas ou vontade de
eliminá- las.
Ainda é possível observar que existe diferença estatística significativa entre as
respostas sobre o modo como os entrevistados se relacionariam com pessoas que
pronunciam paciença/poliça.
Os resultados afirmam que os calouros toleram bem a convivência com essas
pessoas, exceto se essa convivência for íntima quanto a de um cônjuge. Ou seja, ao
observamos a expectativa comportamental dos calouros, concluímos que há uma
tendência para o distanciamento íntimo com pessoas que falam paciença/poliça, embora
não haja agressividade nem repulsa ao contato mais distanciado.
4.1.3.2. Concluintes
Tabela 24: Distribuição percentual para o tipo de relação que concluintes teriam com pessoas que
pronunciam paciença/poliça. Como se relacionaria com pessoas
que falam paciença/poliça Concorda Discorda Total Valor-p
Se quisesse me casar, não veria
inconveniente em fazê-lo com uma pessoa que fala desse jeito.
38 63 100
<0,01
Não veria nenhum inconveniente em convidar uma pessoa que fala dessa
forma para almoçar comigo.
88 13 100
Preferiria considerá-las como pessoas conhecidas de vista e com as
quais se trocariam algumas palavras ocasionais.
0 100 100
Não me agradaria encontros com essas pessoas.
0 100 100
Preferiria que essas pessoas fossem eliminadas.
0 100 100
71
Fonte dos dados: Levantamento de dados primários, 2014.
Quando questionados sobre o tipo de relacionamento que teriam com pessoas
que pronunciam paciença/poliça, 38% dos concluintes entrevistados afirmaram que não
veriam problemas em casar com pessoas que falam desse jeito, enquanto 63%
responderam que não casariam com essas pessoas. 88% dos entrevistados afirmaram
que não veriam problemas em convidar uma pessoa que fala dessa maneira para
almoçar. No que se refere a considerá-las como conhecidas de vista e com as quais
trocariam algumas palavras, nenhum dos alunos concluintes disse que adotaria esse
comportamento, assim como não desagradam a eles encontros com essas pessoas, os
concluintes não querem eliminá-las. Isso significa que a maioria dos concluintes não se
casaria com alguém que fala dessa forma, mas que as outras formas de convívio social
seriam mantidas.
Ainda é possível observar que existe diferença estatística significativa entre as
respostas do modo como os entrevistados se relacionariam com as pessoas que
pronunciam paciença/poliça.
Ao analisarmos o componente comportamental da atitude em relação à pessoa
que fala paciença/poliça, constatamos que há uma disposição para o distanciamento
íntimo, embora haja aceitação de convivência com essas pessoas em outras situações.
Comparando-se calouros e concluintes, constatamos comportamentos bem
aproximados. Ambos os grupos não teriam uma relação tão íntima quanto o casamento
com essas pessoas, embora pudessem tê-las em seu convívio pessoal. Apenas alguns
calouros relataram desejo de não conviver com essas pessoas.
Sendo assim, constatamos, em relação à pessoa que fala paciença/poliça, que
(i) o componente cognitivo foi positivo, à exceção de alguns concluintes que
creem que essas pessoas costumam não ver erros onde há e que estão tão acostumadas a
falar errado que nem se preocupam com a forma como pronunciam as palavras;
(ii) o componente afetivo foi o que recebeu mais avaliações negativas em
comparação com os outros componentes. Pessoas que empregam a variante pesquisada
foram avaliadas como não escolarizadas, não instruídas e desatentas;
(iii) o componente comportamental apresentou disposição para o convívio com
essas pessoas, excetuando-se uma aproximação tão íntima quanto o matrimônio, o que
reflete a definição de atitude de Tarallo (1997) como uma forma de demarcar seu grupo
72
social separado, ou seja, essa atitude indica a consciência dos falantes entrevistados de
que as pessoas que usam a forma em análise pertencem a outro grupo social.
Logo aferimos que, em geral, ambos os grupos entrevistados apresentaram uma
atitude mais positiva que negativa em relação à pessoa que fala paciença/poliça.
4.2 ATITUDE EM RELAÇÃO À REDUÇÃO DO DITONGO [] ÁTONO FINAL DE
PALAVRA PAROXÍTONA
Após analisarmos as atitudes relativas às pessoas, passemos à descrição e análise
das atitudes relativas à redução do ditongo [] átono final de palavra paroxítona.
4.2.1 Componente cognitivo
Nesta seção, verificamos crenças, ideias, opiniões, pensamentos que expressam
uma avaliação mais positiva ou menos sobre as variantes paciença/poliça. Analisamos
este componente da atitude por meio das respostas à questão 9 de nosso questionário.
4.2.1.1 Calouros
Tabela 25: Distribuição percentual do posicionamento dos calouros entrevistados sobre a pronúncia de
paciença/poliça.4
Posicionamento 1 2 3 4 Total
P1. Pronunciar corretamente uma palavra é
pronunciar tal palavra de modo mais fiel à escrita.
29 29 35 7 100
P2. Não pronunciar um elemento da palavra é errado.
47 47 6 0 100
P3. Pronunciar uma palavra de maneiras
diferentes é normal/ esperado/ possível. 12 35 53 0 100
P4. Acrescentar, na palavra, um som que
ela, na forma escrita, não apresenta é errado.
35 59 6 0 100
P5. Retirar, na palavra, um som que ela, na
forma escrita, apresenta é errado. 24 65 11 0 100
4 Neste teste, 1 significa discordo totalmente, 2 discordo em grande parte, 3 concordo em grande parte e 4
concordo totalmente.
73
P6. Falar uma palavra de modo diferente
de como ela é escrita é natural, em uma conversa informal.
12 41 47 0 100
P7. Falar uma palavra de modo diferente de como ela é escrita é errado no ambiente de trabalho.
12 47 29 12 100
P8. Falar uma palavra de modo diferente de como ela é escrita é muito comum, no
dia a dia.
12 6 29 53 100
P9. Falar uma palavra de modo diferente de como ela é escrita faz parte da diferença
entre a escrita e a fala.
6 18 47 29 100
Fonte dos dados: Levantamento de dados primários, 2014.
Dos calouros entrevistados, 29% discordaram totalmente que pronunciar
corretamente uma palavra é pronunciá-la de modo mais fiel à escrita, outros 29%
discordam em grande parte, 35% concordaram em grande parte e 7% concordaram
totalmente. Com a ideia de que não pronunciar um elemento da palavra seja errado,
47% discordaram totalmente, outros 47% discordaram em grande parte e apenas 6%
concordaram em grande parte.
Concordaram em grande parte, 53%, que pronunciar uma palavra de maneiras
diferentes é normal/ esperado/ possível, 35% discordaram em grande parte e apenas
12% discordaram totalmente com esse posicionamento. No que se refere à ideia de que
acrescentar, na palavra, um som que, na forma escrita, não foi representado é errado,
35% discordaram totalmente, 59% discordaram em grande parte e 6% concordaram em
grande parte com essa atitude. Para o inverso, a ideia de que omitir na fala um som
representado na forma escrita seja errado, 24% discordaram totalmente, 65%
discordaram em grande parte e 11% concordaram em grande parte. Com a ideia de que
falar uma palavra de modo diferente de como ela é escrita ser natural em uma conversa
informal, 47% concordaram em grande parte, 41% discordaram em grande parte e 12%
discordaram totalmente.
No ambiente de trabalho, 12% concordaram totalmente que é errado falar desse
modo, 29% concordaram em grande parte, enquanto 47% discordaram em grande parte
e 12% discordaram totalmente. Com a ideia de que falar uma palavra de modo diferente
de como ela é escrita seja muito comum no dia a dia, 53% concordaram totalmente,
29% concordaram em grande parte, 6% discordaram em grande parte e 12%
discordaram totalmente. Por fim, com o posicionamento de que falar uma palavra de
modo diferente de como ela é escrita faz parte da diferença entre a escrita e a fala, 29%
74
concordaram totalmente, 47% concordaram em grande parte, 18% discordaram em
grande parte e 6% discordaram totalmente.
Tabela 26: Estatísticas descritivas e teste de Friedman na comparação no posicionamento dos calouros
sobre a pronúncia paciença/poliça.
Posicionamento Média Desvio
Padrão Mínimo Maximo
Valor-
p
P1. Pronunciar corretamente uma
palavra é pronunciar tal palavra de modo mais fiel à escrita.
2,18 0,95 1 4
0,000
P2. Não pronunciar um elemento da
palavra é errado. 1,59 0,62 1 3
P3. Pronunciar uma palavra de maneiras diferentes é normal/
esperado/ possível.
3,29 0,99 1 4
P4. Acrescentar, na palavra, um som que ela, na forma escrita, não apresenta é errado.
1,71 0,59 1 3
P5. Retirar, na palavra, um som que
ela, na forma escrita, apresenta é errado.
1,88 0,60 1 3
P6. Falar uma palavra de modo
diferente de como ela é escrita é natural, em uma conversa informal.
3,24 0,97 1 4
P7. Falar uma palavra de modo
diferente de como ela é escrita é errado, no ambiente de trabalho.
2,41 0,87 1 4
P8. Falar uma palavra de modo diferente de como ela é escrita é
muito comum, no dia a dia.
3,24 1,03 1 4
P9. Falar uma palavra de modo diferente de como ela é escrita faz parte da diferença entre a escrita e a
fala.
3,00 0,87 1 4
Fonte dos dados: Levantamento de dados primários, 2014.
De acordo com o valor-p observado no teste de Friedman, há diferença estatísica
significativa ao nível de confiança de 95%, nos posicionamentos sobre as variantes
paciença/poliça, ou seja, existe diferença no modo como os entrevistados as julgam.
Ainda de acordo com a tabela 27 e o valor-p para o teste de Wilcoxon, existe diferença
entre a maioria dos posicionamentos.
75
Tabela 27: Valor-p do teste de Wilcoxon na comparação dois a dois dos posicionamentos dos calouros
sobre a pronúncia paciença/poliça.
Posicionamento Valor-p
P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9
P1 - 0,00 0,00 0,01 0,07 0,00 0,12 0,01 0,01
P2 - 0,00 0,08 0,01 0,00 0,00 0,00 0,00
P3 - 0,00 0,00 0,45 0,01 0,33 0,09
P4 - 0,04 0,00 0,00 0,00 0,00
P5 - 0,00 0,00 0,00 0,00
P6 - 0,00 0,44 0,11
P7 - 0,01 0,04
P8 - 0,17
P9 -
Fonte dos dados: Levantamento de dados primários, 2014.
Analisando esses dados, concluímos que o componente cognitivo da atitude dos
alunos calouros foi positivo, pois eles se posicionaram favoráveis às questões de
variação, especialmente ao discordarem do posicionamento 2 – Não pronunciar um
elemento da palavra é errado. A única postura desfavorável foi a maioria ter discordado
de P6 – Falar uma palavra de modo diferente de como ela é escrita é natural, em uma
conversa informal.
4.2.1.2 Concluintes
Tabela 28: Distribuição percentual do posicionamento dos concluintes entrev istados sobre a pronúncia
paciença/poliça.
Posicionamento 1 2 3 4 Total
P1. Pronunciar corretamente uma palavra é pronunciar tal palavra de modo mais fiel à
escrita. 6 25 44 25 100
P2. Não pronunciar um elemento da palavra
é errado. 25 44 31 0 100
P3. Pronunciar uma palavra de maneiras diferentes é normal/ esperado/ possível.
13 19 69 0 100
P4. Acrescentar, na palavra, um som que ela, na forma escrita, não apresenta é errado.
31 25 31 13 100
P5. Retirar, na palavra, um som que ela, na forma escrita, apresenta é errado.
38 25 31 6 100
76
P6. Falar uma palavra de modo diferente de
como ela é escrita é natural, em uma conversa informal.
0 0 31 69 100
P7. Falar uma palavra de modo diferente de como ela é escrita é errado, no ambiente de trabalho.
6 13 56 25 100
P8. Falar uma palavra de modo diferente de como ela é escrita é muito comum, no dia a
dia. 0 6 25 69 100
P9. Falar uma palavra de modo diferente de como ela é escrita faz parte da diferença
entre a escrita e a fala. 6 6 38 50 100
Fonte dos dados: Levantamento de dados primários, 2014.
Os entrevistados julgaram de forma bem diversificada a pronúncia. Apenas 6%
discordaram totalmente de que pronunciar corretamente uma palavra é pronunciá-la de
modo mais fiel à escrita, 25% discordam em grande parte, 44% concordaram em grande
parte e 25% concordaram totalmente. A maior parte dos entrevistados discordou com a
ideia de que não pronunciar um elemento da palavra é errado, 25% discordaram
totalmente e 44% em grande parte, apenas 31% concordaram em grande parte.
13% discordaram totalmente que pronunciar uma palavra de maneiras diferentes
é normal/ esperado/ possível, 19% discordaram em grande parte, mas a maioria, 69%
dos entrevistados, concordou em grande parte e ninguém concordou totalmente. Com a
ideia de que acrescentar, na palavra, um som que ela, na forma escrita, não apresenta é
errado, a maior parte dos entrevistados discordou, 31% totalmente e 25% em grande
parte; 31% concordaram em grande parte e 13% concordaram totalmente.
No que diz respeito a retirar, na palavra, um som que ela, na forma escrita,
apresenta ser errado, 38% dos entrevistados discordaram totalmente e 25% discordaram
em grande parte; 31% concordaram em grande parte e 6% concordaram totalmente.
Com o posicionamento 6, falar uma palavra de modo diferente de como ela é escrita é
natural em uma conversa informal, nenhum dos entrevistados discordou; todos
concordaram, 31% em grande parte e 69% totalmente. Já no posicionamento 7, 6%
discordaram totalmente e 13% discordaram em grande parte; 56% concordaram em
grande parte e 25% concordaram totalmente com a ideia de que falar uma palavra de
modo diferente de como ela é escrita é errado no ambiente de trabalho.
Com a ideia de que falar uma palavra de modo diferente de como ela é escrita
ser muito comum no dia a dia, nenhum dos entrevistados discordou totalmente e 6%
discordaram em grande parte; 25% concordaram em grande parte com essa afirmativa e
77
69% concordaram totalmente. Por fim, 6% discordaram totalmente e 6% discordaram
em grande parte que falar uma palavra de modo diferente de como ela é escrita faz parte
da diferença entre a escrita e a fala; 38% concordaram em grande parte e 50%
concordaram totalmente.
Tabela 29: Estatísticas descritivas e teste de Friedman na comparação dos posicionamentos dos
concluintes sobre a pronúncia paciença/poliça.
Posicionamento Média Desvio
Padrão Mínimo Maximo Valor-p
P1. Pronunciar corretamente uma
palavra é pronunciar tal palavra de modo mais fiel à escrita.
2,88 0,89 1 4
0,00
P2. Não pronunciar um elemento da palavra é errado.
2,06 0,77 1 3
P3. Pronunciar uma palavra de
maneiras diferentes é normal/ esperado/ possível.
3,69 0,48 3 4
P4. Acrescentar, na palavra, um som
que ela, na forma escrita, não apresenta é errado.
2,25 1,06 1 4
P5. Retirar, na palavra, um som que
ela, na forma escrita, apresenta é errado.
2,06 1,00 1 4
P6. Falar uma palavra de modo diferente de como ela é escrita é
natural em uma conversa informal.
3,69 0,48 3 4
P7. Falar uma palavra de modo diferente de como ela é escrita é
errado no ambiente de trabalho.
3,00 0,82 1 4
P8. Falar uma palavra de modo diferente de como ela é escrita é
muito comum no dia a dia.
3,63 0,62 2 4
P9. Falar uma palavra de modo
diferente de como ela é escrita faz parte da diferença entre a escrita e a
fala.
3,31 0,87 1 4
Fonte dos dados: Levantamento de dados primários, 2014.
De acordo com o valor-p observado no teste de Friedman, há diferença
significativa, ao nível de confiança de 95%, no julgamento sobre as variantes
paciença/poliça, ou seja, existe diferença no modo como os entrevistados julgam as
variantes.
78
Tabela 30: Valor-p do teste de Wilcoxon na comparação dois a dois dos posicionamentos dos concluintes
sobre a pronúncia paciença/poliça.
Posicionamento Valor-p
P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9
P1 - 0,01 0,01 0,04 0,01 0,00 0,31 0,00 0,05
P2 - 0,00 0,25 0,44 0,00 0,00 0,00 0,00
P3 - 0,00 0,01 0,5 0,01 0,38 0,09
P4 - 0,09 0,00 0,02 0,00 0,01
P5 - 0,00 0,01 0,00 0,01
P6 - 0,00 0,35 0,05
P7 - 0,01 0,14
P8 - 0,02
P9 -
Fonte dos dados: Levantamento de dados primários, 2014.
Ainda de acordo com a tabela 29 e o valor-p para o teste de Wilcoxon, existe
diferença entre a maioria dos posicionamentos.
Nossa análise sobre o componente cognitivo da atitude em relação às variantes
paciença/poliça, mostrou que os concluintes têm uma postura positiva em relação aos
dados, à exceção do posicionamento 1 – Pronunciar corretamente uma palavra é
pronunciar tal palavra de modo mais fiel à escrita – com o qual a maioria concordou.
Comparando-se os dois grupos, calouros e concluintes, em relação às crenças,
ideias, opiniões e aos pensamentos que expressam uma avaliação mais positiva ou
menos sobre as variantes paciença/poliça, observamos que ambos os grupos
apresentaram majoritariamente posturas positivas. A diferença foi apenas a
concordância de P1 – Pronunciar corretamente uma palavra é pronunciar tal palavra de
modo mais fiel à escrita – e P6 – Falar uma palavra de modo diferente de como ela é
escrita é natural em uma conversa informal. Relativo a P1, 58% dos calouros
discordaram que pronunciar corretamente uma palavra é pronunciá-la de modo mais fiel
à escrita, diferentemente dos apenas 31% de concluintes que também discordaram, ou
seja, os calouros foram mais favoráveis à variação na fala. Quanto a falar uma palavra
de modo diferente de como ela é escrita ser natural, em uma conversa informal (P6),
53% dos calouros discordaram; todos os concluintes concordaram com essa afirmativa,
isto é, a esse posicionamento, os concluintes foram os mais favoráveis.
79
4.2.2 Componente afetivo
O componente afetivo, analisado por meio da questão 4 do questionário, se
refere a emoções e sentimentos suscitados pelas variantes paciença/poliça.
4.2.2.1 Calouros
Tabela 31: Distribuição percentual das notas do julgamento dos calouros em relação à
pronúncia paciença/poliça quanto à beleza.
Impressão Nota5
Total 1 2 3
Bonita 13 13 0 26
Feia 27 20 27 74
Total 40 33 27 100 Fonte dos dados: Levantamento de dados primários, 2014.
No que se refere à beleza, 13% concordam pouco que as variantes
paciença/poliça são bonitas, 13% concordam em grande parte e nenhum concordou
totalmente. Entre os que as julgaram feias, 27% concordaram pouco, 20% concordaram
em grande parte e 27% concordaram totalmente com esse julgamento.
Tabela 32: Distribuição percentual das notas do julgamento dos calouros em relação à
pronúncia paciença/poliça, quanto à correção.
Impressão Nota
Total 1 2 3
Certa 27 7 13 47
Errada 26 20 7 53
Total 53 27 20 100 Fonte dos dados: Levantamento de dados primários, 2014.
Dos entrevistados, 27% concordaram pouco que as variantes são certas, 7%
concordaram em grande parte e 13% concordaram totalmente; 26% concordaram pouco
que elas são erradas, 20% concordaram em grande parte e 7% concordaram totalmente.
Tabela 33: Distribuição percentual das notas do julgamento dos calouros em relação à
pronúncia paciença/poliça, quanto à adequação. Impressão Nota Total
5 1 – concorda pouco, 2 – concorda em grande parte, 3 – concorda totalmente.
80
1 2 3
Adequada 14 20 13 47
Inadequada 26 20 7 53
Total 40 40 20 100 Fonte dos dados: Levantamento de dados primários, 2014.
No que se refere à adequação das palavras “paciença/poliça”, 14% dos
entrevistados concordam pouco que essa forma seja adequada, 20% concordam em
grande parte e 13% concordam totalmente. Dos entrevistados que a julgaram
inadequada, 26% concordaram pouco, 20% concordam em grande parte e 7%
concordaram totalmente.
Tabela 34: Distribuição percentual das notas do julgamento dos calouros em relação à
pronúncia paciença/poliça quanto à agradabilidade.
Impressão Nota
Total 1 2 3
Agradável 7 33 13 53
Desagradável 27 13 7 47
Total 34 46 20 100 Fonte dos dados: Levantamento de dados primários, 2014.
Para o julgamento da agradabilidade, 7% concordaram pouco, 33% concordaram
em grande parte e 13% concordaram totalmente que essa variante seja agradável. Dos
que a julgaram desagradável, 27% concordam pouco, 13% concordaram em grande
parte e 7% concordaram totalmente que ela é desagradável.
Tabela 35: Distribuição percentual das notas do julgamento dos calouros em relação à
pronúncia paciença/poliça quanto a ser cuidada.
Impressão Nota
Total 1 2 3
Cuidada 27 13 0 40
Descuidada 20 33 7 60
Total 47 46 7 100 Fonte dos dados: Levantamento de dados primários, 2014.
No julgamento referente à pronúncia ser cuidada ou não, dos entrevistados que
julgaram paciênça/poliça como sendo uma pronúncia cuidada, 27% concordaram
pouco, 13% concordaram em grande parte e nenhum concordou totalmente. Aqueles
que julgaram ser uma pronúncia descuidada, 20% concordaram pouco, 33%
concordaram em grande parte e 7% concordaram totalmente.
81
Tabela 36: Distribuição percentual das notas do julgamento dos calouros em relação à
pronúncia paciença/poliça quanto a ser ou não engraçada.
Impressão Nota
Total 1 2 3
Engraçada 33 14 13 60
Não
engraçada 7 13 20 40
Total 40 27 33 100 Fonte dos dados: Levantamento de dados primários, 2014.
Sobre considerar paciença/poliça engraçadas, 33% concordaram pouco que essa
pronúncia é engraçada, 14% concordaram em grande parte e 13% concordaram
totalmente. Dos entrevistados que julgaram não ser engraçada a pronúncia, 7%
concordaram pouco que o modo de falar não é engraçado, 13% concordaram em grande
parte e 20% concordaram totalmente.
Observando-se a porcentagem total das avaliações positivas e negativas, os
alunos calouros entrevistados julgaram, em geral, de forma negativa a pronúncia em
questão. No julgamento da beleza, a maior parte dos entrevistados julgou de forma
negativa – 74%. No julgamento relativo à correção, as maiores frequências foram no
julgamento de que ela é errada – 53%. Sobre o julgamento da adequação, 50%
julgaram-na inadequada. Quanto a ser agradável, 53% julgaram de forma positiva.
Quanto ao cuidado, 60% dos entrevistados julgaram-na de forma negativa. Quanto a ser
engraçada, 60% dos entrevistados julgaram ser engraçada essa pronúncia.
Tabela 37: Estatísticas descritivas e teste de Friedman na comparação dos julgamentos dos calouros
sobre a pronúncia paciença/poliça.
Impressão Média Desvio Padrão
Mínimo Maximo Valor-p
Beleza 2,67 1,40 1 5
0,01
Correção 3,47 1,46 1 6
Adequabilidade 3,6 1,55 1 6
Agradabilidade 3,93 1,62 1 6
Cuidado 3,00 1,25 1 5
Graça 3,64 1,65 1 6 Fonte dos dados: Levantamento de dados primários, 2014.
82
De acordo com o valor-p observado no teste de Friedman, há diferença
significativa ao nível de confiança de 95%, no julgamento das variantes
paciença/poliça.
Tabela 38: Valor-p do teste de Wilcoxon na comparação dois a dois dos julgamentos dos calouros.
Impressão Valor-p
Beleza Certa Adequada Agradável Cuidada Engraçada
Beleza - 0,01 0,00 0,00 0,16 0,09 Certa - 0,34 0,10 0,16 0,43 Adequada - 0,14 0,08 0,44 Agradável - 0,00 0,38 Cuidada - 0,20 Engraçada - Fonte dos dados: Levantamento de dados primários, 2014.
Ainda de acordo com a tabela 38 e o valor-p para o teste de Wilcoxon, existe
diferença entre o modo como as pessoas julgam as impressões de beleza versus
adequação e agradabilidade, além da diferença significativa entre ser agradável e
cuidada.
Os dados nos apontaram para uma avaliação bastante negativa das variantes em
questão, o que significa que o componente afetivo da atitude dos calouros é negativo.
4.2.2.2 Concluintes
Tabela 39: Distribuição percentual das notas do julgamento dos concluintes em relação à pronúncia
paciença/poliça quanto à beleza.
Impressão Nota
Total 1 2 3
Bonita 8 23 0 31
Feia 46 8 15 69
Total 54 31 15 100 Fonte dos dados: Levantamento de dados primários, 2014.
Os alunos concluintes têm opiniões bem diferentes quanto à beleza da pronúncia
de paciença/poliça. 8% concordam pouco que essas formas sejam bonitas, 23%
concordam em grande parte e nenhum deles concorda totalmente. A maioria desses
entrevistados considerou feias essas formas, 46% concordaram pouco, 8% concordam
em grande parte e 15% concordam totalmente.
83
Tabela 40: Distribuição percentual das notas do julgamento dos concluintes em relação à pronúncia
paciença/poliça quanto à correção.
Impressão Nota
Total 1 2 3
Certa 7 14 0 21
Errada 43 14 22 79
Total 50 28 22 100 Fonte dos dados: Levantamento de dados primários, 2014.
Na impressão referente à correção, 7% concordaram pouco que essas formas são
certas, 14% concordaram em grande parte e nenhum deles concordou totalmente.79%
dos concluintes acham as formas feias, sendo que 43% concordaram pouco com o
julgamento, 14% concordaram em grande parte e 22% concordaram totalmente.
Tabela 41: Distribuição percentual das notas do julgamento dos concluintes em relação à pronúncia
paciença/poliça quanto à adequabilidade.
Impressão Nota
Total 1 2 3
Adequada 7 14 0 21
Inadequada 36 29 14 79
Total 43 43 14 100 Fonte dos dados: Levantamento de dados primários, 2014.
No que se refere ao julgamento da adequabilidade das variantes
“paciença/poliça”, 7% concordaram pouco que elas são adequadas, 14% concordaram
em grande parte e nenhum dos entrevistados concordou totalmente. 36% concordaram
pouco que as variantes são inadequadas, 29% concordaram em grande parte e 14%
concordaram totalmente.
Tabela 42: Distribuição percentual das notas do julgamento dos concluintes em relação à pronúncia
paciença/poliça quanto à agradabilidade.
Impressão Nota
Total 1 2 3
Agradável 7 22 0 29
Desagradável 57 14 0 71
Total 64 36 0 100 Fonte dos dados: Levantamento de dados primários, 2014.
No julgamento da agradabilidade das variantes em estudo, 7% dos concluintes
concordaram pouco que as variantes sejam agradáveis, 22% concordaram em grande
parte e nenhum deles concordou totalmente. 57% concordaram pouco que elas sejam
84
desagradáveis, 14% concordaram em grande parte e nenhum deles concordou
totalmente.
Tabela 43: Distribuição percentual das notas do julgamento dos concluintes em relação à pronúncia
paciença/poliça quanto ao cuidado.
Impressão Nota
Total 1 2 3
Cuidada 0 23 0 23
Descuidada 46 8 23 77
Total 46 31 23 100 Fonte dos dados: Levantamento de dados primários, 2014.
No julgamento referente ao cuidado, a maioria dos entrevistados julgam as
variantes citadas como descuidadas. Apenas 23% concordaram em grande parte que as
variantes sejam cuidadas. 46% concordaram pouco que as variantes sejam descuidadas,
8% concordaram em grande parte e 23% concordaram totalmente.
Tabela 44: Distribuição percentual das notas do julgamento dos concluintes em relação à pronúncia
paciença/poliça quanto a ser engraçada.
Impressão Nota
Total 1 2 3
Engraçada 40 13 20 73
Não engraçada 7 13 7 27
Total 47 26 27 100 Fonte dos dados: Levantamento de dados primários, 2014.
Quanto a serem engraçadas, 40% concordaram pouco, 13% concordaram em
grande parte e 20% concordaram totalmente. Apenas 7% concordaram pouco que as
variantes não são engraçadas, 13% concordaram em grande parte e 7% concordaram
totalmente.
Tabela 45: Estatísticas descritivas e teste de Friedman na comparação dos julgamentos dos concluintes
em relação às variantes paciença/poliça.
Impressão Média Desvio
Padrão Mínimo Maximo Valor-p
Beleza 3,15 1,34 1 5
0,83
Certa 2,79 1,31 1 5
Adequada 2,79 1,25 1 5
Agradável 3,29 0,99 2 5
Cuidada 2,92 1,50 1 5
Engraçada 3,93 1,75 1 6 Fonte dos dados: Levantamento de dados primários, 2014.
85
De acordo com o valor-p observado no teste de Friedman não existe diferença
significativa, ao nível de confiança de 95%, no julgamento das variantes
paciença/poliça, por isso não foi necessária a aplicação do teste estatístico de Wilcoxon.
Em síntese, os alunos concluintes entrevistados julgaram de forma negativa as
variantes quanto à beleza, à correção, à adequabilidade, à agradabilidade, ao cuidado e à
graça. No julgamento da beleza, a maior parte dos entrevistados julgou-as feias, com
69%. Quanto à correção, 79% julgaram-nas erradas. Quanto à adequabilidade, 79% dos
entrevistados julgaram-nas inadequadas. Quanto a ser agradável, 71% julgaram-nas
desagradáveis. Relativo ao cuidado, 77% dos entrevistados julgaram-nas descuidadas.
Quanto a serem engraçadas, 73% dos concluintes julgaram-nas engraçadas. Para todos
os pares de adjetivos/características, o julgamento das variantes foi negativo, ou seja os
concluintes avaliam mal as variantes apresentadas.
Conforme esclarecem os dados analisados, o componente afetivo (emoções e
sentimentos suscitados pelas variantes paciença/poliça) apresentou atitudes negativas
de ambos os grupos – calouros e concluintes, embora as atitudes dos concluintes tenham
sido mais negativas que as dos calouros. O quesito agradabilidade foi o único que
recebeu avaliação positiva por parte de um dos grupos, os calouros.
4.2.3 Componente comportamental
O componente comportamental diz respeito tanto ao comportamento quanto às
intenções comportamentais manifestos em relação às variantes paciença/poliça. Esses
dados foram extraídos das respostas à questão 5 do questionário.
4.2.3.1 Calouros
Tabela 46: Distribuição percentual sobre quando os calouros entrevistados falariam/escreveriam as
palavras paciença/poliça. Quando falaria /escreveria as
palavras paciença/poliça Concorda Não
concorda Total Valor-p
Em qualquer situação comunicativa,
oral ou escrita. 6 94 100
0,048 Em situações formais de escrita. 6 94 100
Em situações formais de oralidade. 6 94 100
Em situações informais de escrita. 29 71 100
86
Em situações informais de oralidade. 41 59 100
Excepcionalmente. 24 76 100
Nunca. 24 76 100 Fonte dos dados: Levantamento de dados primários, 2014.
Quando questionados sobre quando falariam ou escreveriam as palavras
paciença/poliça, apenas 6% dos entrevistados afirmaram que as falariam/escreveriam
em qualquer situação comunicativa, oral ou escrita, em situações formais de escrita e
em situações formais de oralidade. Enquanto 29% afirmaram que falariam/escreveriam
desse modo em situações informais de escrita, outros 41% falariam/escreveriam em
situações informais de oralidade. Já 24% afirmaram que falariam/escreveriam desse
modo excepcionalmente e outros 24% nunca falariam/escreveriam assim. De acordo
com o teste de Fisher, existe diferença significativa na maneira como os entrevistados
falariam/escreveriam as palavras paciença/poliça.
Isso significa que não há intenções ou tendências comportamentais para o uso
das variantes analisadas. Os poucos casos de uso apontados, em geral, foram
justificados pelos entrevistados como usos em caso de brincadeira com amigos.
4.2.3.2 Concluintes
Tabela 47: Distribuição percentual sobre quando os concluintes entrevistados falariam/escreveriam as
palavras paciença/poliça. Quando falaria /escreveria as
palavras paciença/poliça Concorda Não
concorda Total Valor-p
Em qualquer situação comunicativa, oral ou escrita. 0 100 100
<0,01
Em situações formais de escrita. 0 100 100
Em situações formais de oralidade. 0 100 100
Em situações informais de escrita. 6 94 100
Em situações informais de oralidade. 69 31 100
Excepcionalmente. 13 87 100
Nunca. 38 62 100 Fonte dos dados: Levantamento de dados primários, 2014.
Quando questionados sobre quando falariam ou escreveriam as palavras
paciença/poliça, 100% dos entrevistados afirmaram que não as falariam/escreveriam em
qualquer situação comunicativa, oral ou escrita, em situações formais de escrita e em
situações formais de oralidade. Apenas 6% afirmaram que falariam/escreveriam desse
modo em situações informais de escrita, outros 69%, em situações informais de
oralidade. 13% afirmaram que falariam /escreveriam desse modo excepcionalmente e
87
outros 38% nunca falariam/escreveriam assim. De acordo com o teste de Fisher, existe
diferença significativa na maneira como os entrevistados falariam/escreveriam as
palavras paciença/poliça.
Os dados desse componente da atitude esclarecem que não há intenções ou
tendências comportamentais para o uso das variantes julgadas por parte dos concluintes.
O componente comportamental, que diz respeito tanto ao comportamento quanto
às intenções comportamentais manifestos em relação às variantes paciença/poliça,
mostrou-se bem parecido para calouros e concluintes. Em geral, a maioria dos alunos
dos dois grupos não usaria a variante pesquisada, porém os dados negativos foram mais
altos para os concluintes. A única situação em que prevaleceu a tendência para o uso foi
quando se trata de situações informais de oralidade, nas quais a maioria dos concluintes
afirmou que usaria tais formas linguísticas. Logo aferimos que, em geral, ambos os
grupos entrevistados apresentaram uma atitude mais negativa em relação às variantes
paciença/poliça.
Diante dos dados e das análises apresentados, constatamos, em relação às
variantes paciença/poliça, que
(i) o componente cognitivo foi positivo, exceto alguns concluintes que creem
que pronunciar corretamente uma palavra é pronunciá- la de modo mais fiel à escrita.
(ii) o componente afetivo foi o que recebeu mais avaliações negativas em
comparação com os outros componentes. As variantes foram julgadas como feias,
erradas, inadequadas, descuidadas e engraçadas por ambos os grupos de entrevistados.
(iii) o componente comportamental não apresentou intenções ou tendências de
uso, excetuando-se os concluintes que afirmaram que poderiam usar a variante em
situações informais de oralidade.
Os dados também nos possibilitaram verificar que as atitudes negativas foram
mais concentradas em relação às variantes que às pessoas. Isso pode significar que a
atitude em relação às pessoas foi dissimulada, pois é complicado desvincular as
variantes dos falantes que delas fazem uso.
Além disso, a atitude negativa em relação à forma monotongada em análise pode
ser explicada por alguns fatores:
(i) conforme Hora (2012), o perfil dos entrevistados de mulheres jovens prefere
a forma ditongada;
88
(ii) ainda conforme Hora (2012), falantes mais escolarizados não costumam
monotongar o ditongo crescente quando a saliência fônica é mais perceptível entre as
vogais do ditongo, como é o caso do ditongo [ja] em análise;
(iii) a falta de explanação sobre o fenômeno da monotongação pelos gramáticos
tradicionais, além da discussão pouco profunda sobre os ditongos crescentes e
decrescentes;
(iv) a realização quase categórica dessas formas como ditongo, conforme
Simioni (2008).
89
5 CONCLUSÕES
É comum, ao conversarmos com um amigo ou ao lermos um jornal, por
exemplo, que nos deparemos com opiniões e sentimentos diversificados em relação a
determinados assuntos, como a descriminalização do aborto, a falta de rigidez do atual
código penal, a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo e diversos
outros temas que suscitam opiniões divergentes entre a população em geral. Em 2011,
com a publicação da coleção didática da Editora Global “Por uma vida melhor”6, que
apontou como possibilidade, na linguagem coloquial, a falta de concordância entre
sintagmas da oração, ficou claro o quanto os usos linguísticos também são alvo de
declarações que apontam para atitudes variadas. O livro, distribuído para a Educação de
Jovens e Adultos, trouxe, em seu capítulo de concordância, exemplos de concordância
não redundante, encontrados comumente na fala popular – “nós pega o peixe”. O
exemplo servia para deixar clara para o estudante como seria a concordância conforme a
norma culta e a necessidade de adequação da fala à situação comunicativa. O capítulo
também objetivava provocar uma pequena discussão sobre preconceito linguístico. A
mídia não compreendeu a questão tratada no livro e, rapidamente, acusou-o de ensinar o
português “errado” aos alunos, mostrando, assim, sua atitude negativa diante da variante
sem concordância apresentada.
Os estudos linguísticos, por meio de pesquisas com o falante, têm se mostrado
ricos e fundamentais para a explicação e descrição de diversos fenômenos linguísticos;
porém, pouco se tem pesquisado, no Brasil, as atitudes do ouvinte frente aos usos
linguísticos, mais especialmente, aos usos estigmatizados. Necessário se faz que
ampliemos esses estudos. Buscamos, com este trabalho, contribuir, portanto, para esta
natureza de pesquisa.
A elaboração de testes de atitude linguística é fundamental para que se possa
verificar a avaliação linguística dos falantes e, consequentemente, sua influência à
própria língua e às mudanças nela ocorridas. Tais influências podem se dar tanto no
curso da realização de uma mudança, quanto na sua retroação.
No contexto da formação de professores de Língua Portuguesa, especialmente, a
relevância do tema se expande ao auxiliar no esclarecimento da origem de certas
incoerências no ensino de Língua Portuguesa e da rejeição de alguns professores em
6 RAMOS, Heloisa. Por uma vida melhor. Coleção viver e aprender. São Paulo: Editora Global. 2011.
90
trabalhar a variação linguística na Educação Básica. Atitudes muito negativas em
relação a variantes marcadas podem ser a justificativa para que esses professores não
queiram explorar a variação, pois teriam que legitimar tais variantes.
Intencionando contribuir com as pesquisas sobre o valor social dos elementos
variáveis, esta tese analisa a atitude linguística de estudantes de Letras da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte – UFRN. Observamos, por meio de testes aplicados
aos calouros e concluintes, os três componentes da atitude – cognitivo, afetivo e
comportamental – em relação à redução do ditongo [ja] átono final de palavra
paroxítona, como em paciença/poliça, e em relação à pessoa que usa essa variante.
Nossa análise permitiu constatar que:
(a) os testes de atitude desenvolvidos e aplicados são válidos e adequados para
verificar atitudes linguísticas;
(b) no que diz respeito ao componente cognitivo da atitude, alunos concluintes
apresentam atitudes iguais ou mais negativas que os calouros em relação à pessoa que
fala paciença/poliça, contrariando nossa hipótese de que concluintes apresentariam
atitudes mais positivas devido a um maior conhecimento sobre a linguagem. Em relação
às variantes, concluintes apresentam atitudes mais positivas do que as dos calouros.
(c) em relação ao componente afetivo, calouros e concluintes apresentam mais
atitudes negativas que positivas, quase não se diferenciando em relação à pessoa. Em
relação às variantes, ambos os grupos apresentam atitudes negativas, embora as atitudes
dos concluintes tenham sido mais negativas que as dos calouros.
(d) em relação ao componente comportamental, calouros e concluintes
apresentam atitudes bem aproximadas relativas à pessoa: ambos não teriam uma relação
tão íntima quanto o casamento com essas pessoas, embora pudessem tê-las em seu
convívio pessoal. Em relação à variante, as atitudes mostram-se equivalentes para
calouros e concluintes: a maioria não usaria a variante pesquisada.
(e) em geral, a atitude dos calouros é mais positiva que a dos concluintes.
Após a rodada e análise dos dados, em conversa informal, o professor da turma
dos informantes calouros relatou-nos que essa turma, em especial, teve uma discussão
diferenciada sobre o tema da variação/mudança linguística um pouco antes da aplicação
dos nossos testes. Tal discussão pode ter influenciado os resultados desta pesquisa.
Como em alguns casos a atitude dos concluintes é mais negativa que a dos
calouros, acreditamos que os estudos linguísticos não exerceram influência suficiente
para uma mudança de atitudes dos graduandos concluintes de Letras, indicando-nos que
91
é preciso outras atividades acadêmicas se o objetivo for esse. Nossas expectativas não
foram atendidas, pois esperávamos atitudes diferenciadas entre calouros e concluintes, o
que, em geral, não ocorreu. Acreditávamos que o conhecimento linguístico teórico
ajudaria a desenvolver atitudes positivas, o que levaria os concluintes a se diferenciarem
positivamente dos calouros. Seria interessante, em pesquisas futuras, debruçarmo-nos
sobre a temática da mudança de atitudes, o que não foi discutido nesta pesquisa e que
pode esclarecer melhor o resultado comparativo entre calouros e concluintes.
Nossa pesquisa sociolinguística variacionista, com foco no problema empírico
da avaliação, além de constatar diferenças no julgamento de alunos calouros e
concluintes do curso de Letras, contribui com as pesquisas na área ao sugerir testes que
podem ser aplicados na medição das atitudes. Tais testes podem ser aplicados,
aperfeiçoados ou servir de modelo para que sejam criados outros testes. Sem dúvida,
pesquisas sobre avaliação e atitude linguísticas precisam ser incentivadas devido a sua
importância para reflexões sobre preconceito e prestígio linguísticos e para auxiliar na
compreensão de como se dão as mudanças na língua. Além disso, ao permitir a
observação do valor social das variantes linguísticas, os testes de atitude podem
subsidiar a análise de fenômenos variáveis feita por quem pesquisa o mesmo fenômeno
variável, mas não faz testes de atitude.
92
REFERÊNCIAS
BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico – o que é, como se faz. 15 ed. Loyola: São
Paulo, 2002.
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