PERFIL ANTROPOMÉTRICO DE JOGADORAS DE FUTEBOL · PERFIL ANTROPOMÉTRICO DE JOGADORAS DE FUTEBOL...
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ
LUÍZA MONTINGELLI
PERFIL ANTROPOMÉTRICO DE JOGADORAS DE FUTEBOL
CURITIBA2007
LUÍZA MONTINGELLI
PERFIL ANTROPOMÉTRICO DE JOGADORAS DE FUTEBOL
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de Bacharelado em Educação Física.Orientador: Prof. Ms. Márcio José Kerkoski
CURITIBA2007
AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador, Professor Mestre Márcio Kerkoski, que me auxiliou em
todas as etapas desta pesquisa.
Á minha amiga e professora Camila Guanabara, por todo o apoio e ajuda em
todas as etapas deste trabalho, da minha graduação, e também da minha
profissão.
Ás minhas amigas Fernanda e Ana, por sempre estarem dispostas a me
ajudar.
Ao meu amigo e professor de Futsal Sandro Mendes, por tudo que me ensinou
e proporcionou na minha vida profissional.
Aos meus familiares, por tudo, e principalmente pela compreensão.
PERFIL ANTROPOMÉTRICO DE JOGADORAS DE FUTEBOL FEMININO
MONTINGELLI, L.
RESUMO
O objetivo do estudo foi de determinar o perfil antropométrico de jogadoras de Futebol Feminino Categoria Junior de acordo com a posição em campo. Participaram do estudo 40 jogadoras com idade entre 13 e 18 anos, pertencentes às cinco equipes que disputaram o Campeonato Metropolitano Feminino Categoria Júnior, no ano de 2006. As variáveis coletadas foram massa corporal, estatura, espessuras de dobras cutâneas, perímetros corporais e diâmetros ósseos e tiveram a finalidade de estabelecer o perfil antropométrico das atletas. Os dados foram apresentados através de tabelas, com média, desvio padrão e amplitude de cada posição e do grupo. Os resultados demonstraram que as goleiras de futebol feminino possuem maior estatura, peso e maior perímetro em todas as variáveis avaliadas. As atletas de linha apresentaram características semelhantes dentre as posições, apresentando leves diferenças de uma posição para outra. As zagueiras apresentaram valores muito próximos a média do grupo em todas as avaliações. As laterais obtiveram os menores valores em todos os pontos analisados, e as volantes, em quase todos, mas principalmente no percentual de gordura. As meias apresentaram um alto valor do percentual de gordura e massa gorda, sendo classificado como acima da média segundo a tabela classificatória de Heyward & Stolarczyk. Sendo assim, os resultados permitem concluir que a função tática desempenhada não parece ser um fator decisivo para causar modificações morfológicas nestas atletas, ou que o treinamento destas atletas não está sendo realizado dentro do princípio da especificidade para cada posição. Além disso, os resultados do presente podem contribuir para futuras comparações, reciclagem ou adequação do planejamento e treinamento físico.
Palavras-chave: antropometria, futebol feminino, perfil antropométrico.
ANTHROPOMETRIC PROFILE OF ATHLETES OF WOMEN’S FOOTBALL
Luíza Montingelli
ABSTRACT
The objective of the present study was to determine the
anthropometric profile of Feminine football players Category Junior in according
to the position in field. 40 players with age between 13 and 18 years had
participated of the study, they belong to the five teams that had disputed the
Metropolitan Championship Feminine Category Junior, in the year of 2006. The
variable collected were: body mass, stature, skinfold thicknesses, body
perimeters and body diameters and had had the purpose to establish the
anthropometric profile of the athletes. The data had been presented through
tables, with average, shunting line standard and amplitude of each position and
of the group. The results had demonstrated that, in relation to the
anthropometric variables, the goalkeepers from women’s soccer have greater
stature, weight and greater perimeter in all the evaluated variables. The line
athletes had presented similar characteristics amongst the positions, only
presenting a light difference in some evaluations between the aggressors and
the other positions. The half-backs had presented values very closed to the
average of the group in all the evaluations. The left and half backs had obteined
the lesser values in all the analyzed points, and the center forwards, in almost
all, but mainly in the percentage of fat. The inside lefts and the inside rights had
presented a high value of the percentage of fat and fat mass, being classified
as above of the average according to classificatory table of Heyward &
Stolarczyk. Therefore, the results of the present study allow us to conclude that
the played tactical function in the game does not seem to be a decisive factor to
cause morphologic modifications in these athletes, or that the training of these
athletes is not being realized inside of the principle of the especificity for each
position. Moreover, the results of the present study can contribute for future
comparisons, recycling or adequacy of the planning and physical training.
Word-key: anthropometry, feminine soccer, anthropometric profile.
LUÍZA MONTINGELLI
PERFIL ANTROPOMÉTRICO DE JOGADORAS DE FUTEBOL
PUCPR – CAMPUS CURITIBA
Monografia apresentada ao curso de Bacharelado em Educação Física, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, como requisito à obtenção da graduação.
COMISSÃO EXAMINADORA
__________________________
Prof. Ms. Márcio José Kerkoski
__________________________
Prof. Ms. Rodrigo Reis
Curitiba, 23 de maio de 2007
Dedicado aos amigos e profissionais que atuam com
o futebol feminino de Curitiba, e a todas as pessoas
que fazem parte e contribuem para a evolução da
modalidade.
SUMÁRIO
1. Introdução.............................................................................. 7
1.1 Introdução................................................................... 7
1.2 Problema..................................................................... 7
1.3 Objetivos..................................................................... 8
1.3.1 Objetivo Geral................................................... 8
1.3.2 Objetivos Específicos..................................... 9
1.4 Justificativa.................................................................. 9
2. Referencial Teórico.............................................................. 11
2.1 Conceitos de cineantropometria................................ 11
2.2 Futebol Feminino....................................................... 13
2.3 Futebol Feminino de Curitiba..................................... 18
2.4 Medidas e Avaliações no Futebol.............................. 20
2.5 Aspectos do Futebol.................................................. 24
2.6 Componentes do treinamento desportivo no futebol.. 28
2.7 Estudo das qualidades físicas aplicadas ao futebol... 31
2.8 Qualidades específicas dos jogadores por posição... 38
2.9 Efeitos fisiológicos do treinamento desportivo............ 40
3 Metodologia........................................................................... 41
3.1 Tipo de Pesquisa............................................................. 41
3.2 População........................................................................ 41
3.3 Amostra........................................................................... 41
3.4 Critérios de inclusão e exclusão...................................... 42
3.4.1 Critérios de inclusão........................................... 42
3.4.2 Critérios de exclusão......................................... 43
3.5 Instrumento de coleta de dados.......................................43
3.6 Procedimentos................................................................ 44
3.7 Avaliação dos dados....................................................... 44
4. Resultados e discussão.............................................................46
4.1 Resultados e discussão................................................... 46
5. Conclusão.................................................................................. 52
5.1 Conclusão........................................................................ 52
5.2 Recomendações.............................................................. 54
5.3 Considerações finais........................................................54
6. Referências Bibliográficas........................................................ 43
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Idade, peso e estatura.............................................................. 46
Tabela 2 – Perímetros musculares (cintura, quadril, coxa e panturrilha)... 47
Tabela 3 – Diâmetros ósseos (rádio-ulnar, umeral, femural)..................... 49
Tabela 4 – Composição Corporal (massa gorda, massa magra e percentual
de gordura)..................................................................................................50
1. INTRODUÇÃO
1.1 Introdução
A busca por melhores resultados no meio esportivo tem seu
foco voltado não somente para o setor do conhecimento, mas para a fisiologia
do exercício, nutrição e outras linhas que vão além, investigando a ação dos
nutrientes, dos ergogênicos e dos hormônios no aumento da força, da
velocidade e da resistência. Entre outras áreas do conhecimento que dão
suporte à melhora do desempenho dos atletas, a ciência do treinamento
desportivo tem lugar de destaque. O planejamento e organização de cargas
como freqüência, intensidade e duração, e também o tempo de recuperação
são elementos do treinamento que contribuem para o aperfeiçoamento das
capacidades físicas. O profissional de Educação Física que toma
conhecimento dos aspectos morfológicos de sua equipe tem mais facilidade de
planejar e organizar os treinamentos, e também de torná-los eficazes. No
futebol, como em outros esportes, as características antropométricas, bem
como a habilidade técnica e tática e o desempenho físico individual, são os
fatores mais importantes para o sucesso da equipe.
Dentre os diversos esportes coletivos, um em crescente
popularidade é o futebol feminino. Assim, informações a respeito das
características antropométricas de atletas de elite seriam particularmente
importantes para estabelecer comparações com as mais jovens. Portanto,
levando-se em consideração que são muitos os fatores que influenciam o
desempenho esportivo e a lacuna existente na literatura de estudos que
procuraram determinar o perfil antropométrico de praticantes de futebol em
integrantes da população feminina, a presente investigação tem como
propósito verificar as características antropométricas de atletas de futebol
feminino de alto nível competitivo de acordo com a função que exercem nos
jogos (goleiras, zagueiras, laterais, volantes, meias e atacantes).
1.2 Problema
Qual o perfil antropométrico das jogadoras de futebol feminino
de Curitiba com idade entre 13 e 18 anos?
1.3 Objetivos
1.3.1 Objetivo Geral
Identificar o perfil antropométrico das atletas de 13 a 18 anos
que disputam o Campeonato Metropolitano de Futebol de Campo, categoria
Junior.
1.3.2 Objetivos Específicos
- Avaliar o nível de gordura corporal, massa corporal, massa magra e
massa gorda das atletas;
- Comparar os resultados das atletas com os resultados padronizados
para esta população, identificando as diferenças;
- Estabelecer ou reciclar o programa de treinamento.
1.4 Justificativa
O desempenho esportivo deve ser encarado como um produto da
interação dos aspectos morfológicos (estrutura), funcional-motor, ambiental,
psicológico e genético. A cineantropometria fornece métodos para análise e
comparação de alguns destes aspectos, permitindo-nos medir as formas,
proporções, maturações biológicas e funções motoras. É possível notar que a
estrutura corporal segue tendência de homogeneização em grupos de atletas
competitivos, em relação a um perfil que se acredita como adequado ou
indicado para alguma modalidade específica. A importância em se determinar
um perfil físico de esportistas está no fato da existência de uma relação entre a
forma corporal e o desempenho físico.
Comparando os resultados de atletas com os padrões
estabelecidos pela literatura, poderemos perceber qual a contribuição do
treinamento deste desporto para a condição e aptidão física das jogadoras,
podendo ainda avaliar a organização do treino por parte dos técnicos e
professores, e suas contribuições físicas e morfológicas.Poucos trabalhos
falam das necessidades físicas, do perfil antropométrico e da composição
corporal de jogadoras de futebol feminino. Para estabelecer programas
específicos de treinamento é necessário conhecer além das exigências físicas
da atividade, o perfil antropométrico das atletas para saber se este está além
ou aquém do perfil adequado para a função desempenhada em campo. Sabe-
se ainda que quantidades elevadas de gordura corporal prejudicam o
desempenho dos indivíduos, além de constituírem fator de risco para diversas
doenças, sendo, portanto fundamental o controle adequado da adiposidade
corporal. Observa-se a necessidade de se investir em pesquisa para a melhora
da performance física das jogadoras, evitando, desta maneira, que o
esgotamento físico durante a partida tirem o brilho de um bom jogo de futebol.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 CONCEITOS DE CINEANTROPOMETRIA
Com o crescente interesse na pesquisa orientada para o
Esporte, Saúde e Atividade Física, inúmeros profissionais de diferentes
informações têm utilizado a Antropometria como uma ferramenta para
descrever e fundamentar aspectos de seus estudos. A Antropometria, desde os
primórdios da Ciência, tem sido empregada para fornecer subsídios quanto à
forma, tamanho, proporções e, mais modernamente, da composição corporal
na ontogênese humana.
Segundo Beunen e Borms (1990), “Cineantropometria” implica
em mensurar avaliação e avaliar diversos aspectos do homem, do nascer ao
morrer, bem como as características físicas do ser humano. Seu propósito
maior é estudar variações inter-humanas, considerando características e
qualidades do indivíduo, de grupos comparados entre si.
Petroski (1995, p. 85) conceitua “Cineantropometria” como
“uma área científica emergente que estuda forma, dimensão, proporção,
composição, maturação e o desenvolvimento do corpo na ontogênese humana
em relação ao crescimento, ao desporto, à atividade física e à nutrição.”.
“Cineantropometria” não é um termo novo para rotular uma
área de estudo que por tradição tem cabido à Antropometria, mas sim uma
nova concepção de estudo do homo movens.” (MAIA & JANEIRA, 1991, p.
118)
“Uso da medida do estudo do tamanho, força, proporcionalidade, composição e maturação do corpo humano,
com o objetivo de ampliar a composição e maturação do corpo humano, em relação ao crescimento, atividade física e ao estado nutricional. Engloba, assim, análise de diferentes aspectos do indivíduo, em especial os que se relacionam com a sua compleição física, como forma, proporcionalidade e composição corporal” (De ROSE, PIGATTO, & De ROSE, 1984, p.11).
Essa nova área de estudo veio “substituir” as disciplinas
“Antropometria” e “Biometria”, a qual enfatizava a área somática, utilizando a
bioestatística para avaliar os fenômenos biológicos envolvidos. Estas eram
disciplinas ensinadas nos currículos de Educação Física, cujo objetivo era,
entre outros, construir e melhorar técnicas de medidas para as variações inter-
humanas. (VELHO, LOUREIRO, & PIRES NETO, 1993). Várias são as
aplicações da cineantropometria, portanto, que seu “tripé” fundamental
constitui-se de estudos de Composição Corporal, proporcionalidade, e
Somatotipia.
Podemos concluir que “Cineantropometria” é uma área que
estuda as medidas do homem, considerando sua forma, tamanho, proporção,
composição, maturação, dimensão e função, ajudando-nos no entendimento de
seu desenvolvimento geral (crescimento, exercício, performance, estado
nutricional) assim possibilitando tomadas de decisão ou intervenções mais
específicas por parte do profissional que a aplica e estuda.
A Antropometria, por sua vez, detém importância fundamental
nos estudos do homem, e a partir dela é que se pode diversificar e
complementar os estudos através da história. Os estudos da composição
corporal, tanto quanto os estudos de Somatotipia e Proporcionalidade, são
possíveis a partir de técnicas de medidas provindas da Antropometria.
2.2 O FUTEBOL FEMININO
O gosto pelo futebol é mundial, e rompendo barreiras sociais às
mulheres passaram das arquibancadas para o campo, do campo para a
arbitragem e assim foram evoluindo no esporte. Segundo Soares (2004),
atualmente as mulheres estão em todas as áreas do esporte, não há fronteiras
para elas, que estão se destacando até mesmo no futebol, esporte que seria
um dos últimos a ser praticado por elas até pouco tempo atrás. A sociedade
reforça as atividades sedentárias para as meninas, deixando aquelas
atividades mais vigorosas e habilidosas para os meninos. Esta rejeição cultural
faz com que a maioria das meninas não de continuidade ao esporte após o
ensino médio. Segundo Clark (1995), a sociedade e a cultura podem ter um
profundo efeito sobre os comportamentos de movimento de um individuo,
particularmente na área do esporte e da atividade física. Com isso além das
dificuldades do esporte em si, as mulheres têm que enfrentar a sociedade,
mudando conceitos e estereótipos masculinos para obter um bom rendimento e
aceitamento na modalidade.
Mundialmente equipes como a Suécia, Noruega, China e Estados
Unidos são altamente qualificadas no futebol feminino, o treinamento é levado
a sério e o país investe muito nesta nova geração. As universidades
patrocinam jogadoras, pois o futebol feminino fornece muito rendimento
financeiro para as universidades, os treinamentos são rígidos e
profissionalizantes buscando sempre os melhores resultados. A FIFA esta
desenvolvendo um trabalho sistemático para popularizar mais o futebol
feminino pelo mundo, campanhas, produções de vídeos, realização de
campeonatos e apoio para obter uma melhor divulgação e aceitação mundial.
No Brasil, o universo do futebol caracteriza-se por ser um
espaço eminentemente masculino. Como tal espaço não é apenas esportivo,
mas também sociocultural, os valores nele embutidos e dele derivados
estabelecem limites que, embora nem sempre tão claros, devem ser
observados para a perfeita manutenção da ordem atribuída ao jogo. No caso
da sociedade brasileira, sabemos bem que “futebol é coisa para homem”. Não
surpreende, portanto, que as mulheres não sejam reconhecidas como mais um
sujeito da história do país do futebol, apesar de se fazerem presentes nos
campos desde os primeiros anos desse esporte entre nós.
Em 1921 foi realizada a primeira partida de futebol feminino, em São
Paulo entre mulheres catarinenses e tremembeenses. Em 1965, após decreto
regulamentado pelo regime militar, o futebol feminino foi proibido no Brasil.
Somente após 17 anos foi revogado pelo Conselho Nacional do Desporto.
Em 1996, nas Olimpíadas de Atlanta, o futebol feminino brasileiro fica
em quarto lugar e a partir daí, o espaço para a mulher futebolista começou a
crescer e as seleções nacionais passaram a evoluir a cada ano.
Atualmente nas escolas é comum ver meninas jogando futebol com os
meninos, demonstrando habilidades antes escondidas por inúmeros fatores
sociais. Mundialmente o futebol feminino já se tornou profissional, mas no
Brasil ele ainda enfrenta desafios. Aos poucos está crescendo em todo o país,
e os grandes clubes futebolísticos estão investindo no futebol feminino, em
menor escala do que no masculino, mas já é grande o progresso atingido. No
Paraná os três grandes clubes de futebol da capital possuem treinamentos
(escolinhas) para as meninas, no Paraná Club as meninas ainda treinam com
os meninos, já no Coritiba e no Atlético Paranaense os treinamentos são
separados, buscando o treinamento mais especifico para as mulheres, mas
apenas no Coritiba as meninas têm uma expectativa maior com relação ao
futebol e disputam competições de alto nível. No Atlético, o futebol feminino
tem o objetivo apenas de marketing para o clube, e não participa de
competições.
De acordo com Faria Júnior (1995), talvez um dos motivos para
o atraso da prática do futebol pela mulher tenha sido devido a pouca
participação e oportunidades oferecidas a elas, com uma Educação Física
injusta, burguesa e machista. Com certeza o principal empecilho para a prática
do futebol feminino refere-se ao discurso preconceituoso e estereotipado
transmitido ao longo do último século quanto a esta prática. Além do discurso,
foram utilizados argumentos biológicos para afastar a mulher do futebol.
Ballariny (1940; citado por FARIA JÚNIOR, 1995), da Escola de Medicina,
afirmou que o futebol era um esporte violento e prejudicial ao corpo feminino,
podendo até causar danos permanentes aos órgãos reprodutores da mulher.
Ballariny acreditava ainda que a prática do futebol masculinizava o corpo das
mulheres, desenvolvendo pernas mais grossas, tornozelos muito fortes e
joelhos deformados. Outro falso argumento utilizado para contra-indicar o
futebol feminino foi a ocorrência de lesões mamárias (FARIA JÚNIOR, 1995).
No campo psíquico, o futebol foi considerado como um agravante do
espírito agressivo e combativo, qualidades incompatíveis com o gênio e com o
caráter feminino (FARIA JÚNIOR, 1995). Segundo Castellani Filho (1988),
outro entrave para a implementação do futebol feminino, refere-se à legislação
brasileira que, durante a época da ditadura militar, através do Conselho
Nacional de Desportos (CND) baixa as seguintes instruções às entidades
desportivas do país sobre a prática de desportos pelas mulheres:
Deliberação – CND – N. º 7/65.
N. º 1 – Às mulheres se permitirá a prática de desportos na
forma, modalidades e condições estabelecidas pelas entidades
internacionais dirigentes de cada desporto, inclusive em
competições, observado o disposto na presente deliberação.
N. º 2 – Não é permitida a prática de lutas de qualquer
natureza, futebol, futebol de salão, futebol de praia, pólo
aquático, pólo, rugby, halterofilismo e baseball.
Somente em 1979, o Conselho Nacional dos Desportos, CND, através
da Deliberação n. º 10, revogou a de n. º 7/65. Apesar de todas estas
dificuldades, através de pequenas manifestações que ocorreram de maneira
muito lenta, a mulher começou a buscar o seu espaço nos campos de futebol.
Tódaro (1997) ressaltou que na década de 40, na cidade do Rio de Janeiro, as
mulheres da classe trabalhadora lutavam contra o controle social e iniciaram a
prática do futebol.
A situação do futebol feminino nacional melhorou um pouco, a partir dos
primeiros anos da década de 80, quando, na gestão do doutor Manoel José
Gomes Tubino, no Conselho Nacional de Desportos (CND) reconheceu que
era necessário estimular as mulheres nas diversas modalidades. Em
06/03/1986, o CND baixou a Recomendação n. º 02, na qual “reconhece a
necessidade de estímulo à participação da mulher nas diversas modalidades
desportivas no país” (CASTELLANI FILHO, 1988).
Um grande marco na trajetória do futebol feminino foi a criação do
Esporte Clube Radar, em 1982. Este clube carioca difundiu o futebol feminino
brasileiro, dando-lhe crédito através de campanhas vitoriosas inclusive no
exterior. Em 1988 o Radar encerrou suas atividades culminando com uma
estagnação temporária do futebol feminino no Rio de Janeiro (REVISTA
PLACAR, 1995; citado por TÓDARO, 1997).
A situação do futebol feminino nacional voltou a melhorar somente
quando a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) repassou a administração
da seleção brasileira para uma empresa particular. Foi a partir de 1994 que a
Sport Promotion recebeu os direitos de cuidar e explorar o esporte até o
Campeonato Mundial de 1999 (LEITE, 1999). Com o objetivo de formar uma
nova geração de atletas para integrar a seleção brasileira, a Sport Promotion
organizou em conjunto com a Federação Paulista de Futebol o primeiro
Campeonato Paulista de Futebol Feminino, a Paulistana-97. Este campeonato
contou com o apoio de patrocinadores próprios e com a transmissão dos jogos
pela televisão.
A partir de meados da década de 90, aconteceram grandes mudanças
no futebol feminino, proporcionadas pelo projeto de marketing adotado por
algumas equipes que definia o perfil das atletas como jovens e sempre que
possível atraentes, pela maior organização do futebol feminino no país,
refletindo na conquista de bons resultados em importantes competições
internacionais (Olimpíadas e Mundial) e pelos interesses da mídia,
principalmente televisiva que passa a incluir a modalidade em parte de sua
grade de programação, através de exibição de partidas, cobertura nos
telejornais esportivos e até mesmo a inclusão do tema em telenovelas.
No instituto de Psicologia (IP) da USP foi realizada uma pesquisa com
jogadoras de futebol e constatou que o preconceito é a principal causa de
estresse emocional entre as atletas.
Atualmente, verifica-se um aumento na participação da mulher dentro do
esporte, mas a marca de uma sociedade "sexista" ainda se mantém. Existe
dentro do esporte uma 'polícia' do gênero. Ocorre uma forte normatização do
comportamento das mulheres, que se verifica, por exemplo, no preconceito
com aquelas que aparentam serem homossexuais. Contudo, apesar do
preconceito, as meninas se afirmam enquanto jogadoras.
2.3 FUTEBOL FEMININO DE CURITIBA
A cidade de Curitiba conta com três equipes de futebol
feminino (Vila Fanny, Novo Mundo e São Paulo) e mais três na região
metropolitana da cidade (São José dos Pinhais, Jaborá e Colombo). Dessas
seis equipes, somente a equipe de São José dos Pinhais não possui categoria
de base (time Junior), e todas as equipes fazem parte de Clubes de Futebol
Amador da cidade. A Federação Paranaense de Futebol é quem promove os
campeonatos femininos em Curitiba e no estado do Paraná, e é a única
federação estadual no Brasil a promover competições nesta categoria (nos
outros estados, as competições são extra-oficiais). Pelo fato das equipes
femininas estarem agregadas aos clubes amadores, a dificuldade de
profissionalização da modalidade é ainda maior. Nos outros estados, as
equipes femininas estão inseridas nos próprios clubes profissionais
masculinos, facilitando a inserção das atletas no mundo do futebol. Os clubes
amadores sobrevivem através de patrocínios, ajuda de políticos e de sócios do
clube, e geralmente passam por grandes dificuldades financeiras. As equipes
femininas destacam o nome dos clubes, mas como necessitam de recursos
financeiros para inscrição em competições, federação de atletas e pagamento
de arbitragem, muitas vezes não recebem ajuda do próprio clube, que reserva
seus poucos recursos para os campeonatos masculinos, que geram maior
público e patrocinadores. Assim, as equipes femininas geralmente são
independentes dos clubes, e apesar de estarem inseridas nos mesmos,
acabam utilizando a estrutura e nome, quase sempre sem contar com ajuda
nos custos do esporte.
Outra dificuldade encontrada na modalidade é a falta de
recursos humanos especializados inseridos nas equipes. Dentre todas as
equipes da grande Curitiba, apenas o Vila Fanny Futebol Clube conta com
profissionais formados e especializados na área de Educação Física e
treinamento de Futebol. Este fato rendeu à equipe resultados surpreendentes
nas categorias de base nos últimos anos. O Vila Fanny sagrou-se tri-campeão
metropolitano categoria Júnior (2004/2005/2006) e bi-campeão invicto nas
duas únicas edições do campeonato metropolitano Sub-17 (2002/2003). Títulos
que expressaram o bom trabalho realizado pela comissão técnica, que
planejou e estruturou os treinamentos de forma adequada, preparando física,
técnica e taticamente a categoria de base do clube. Os resultados dessa
melhor preparação já podem ser observados no desenvolvimento das
jogadoras que agora fazem parte da equipe adulta, é possível notar um melhor
preparo físico, técnico, tático e de inteligência esportiva nessas atletas que
passaram por um bom desenvolvimento na categoria de base.
Já na categoria adulto, é importante ressaltar as dificuldades
em reunir toda a equipe para a realização dos treinamentos, tendo em vista
que as atletas não têm dedicação exclusiva ao esporte e tem outras
obrigações, como trabalho, estudo, etc. Outro fator determinante é o
amadorismo encontrado no esporte. As jogadoras não podem objetivar serem
profissionais na modalidade, pois a falta de incentivo privado limita os salários
e os sonhos das atletas.
Apesar da Federação Paranaense de Futebol ser a única no
país a promover campeonatos femininos, a falta de organização atrapalha o
futebol feminino do estado. O calendário não é estabelecido no começo do
ano, as competições são organizadas e realizadas conforme a disponibilidade
da própria federação, dificultando para as equipes o desenvolvimento do
planejamento anual, por não ter conhecimento prévio das datas das
competições.
Os treinamentos aplicados às equipes também não estão
dentro dos padrões encontrados na literatura, se tratando de treinamento
desportivo no futebol. A falta de conhecimento científico da comissão técnica
implica em sessões de treino muito fracas ou muito fortes para as atletas, e
muitas vezes não são eficazes. A ausência de periodização, má divisão de
cargas, e tempo de recuperação, assim como a falta de acompanhamento
psicológico e nutricional, são fatores que contribuem diretamente para a
estabilização da modalidade, dificultando a evolução do esporte e do
desempenho das atletas.
O excessivo número de jogos aliado a falta de treinamento
adequado resulta em possíveis problemas musculares e articulares,
principalmente com a falta de exercícios para fortalecimento muscular. As
equipes de Futebol Feminino deveriam se preocupar mais com as atletas e
reciclar a estrutura profissional, visando aplicar um sistema de treinamento
adequado para a população através de profissionais graduados em Educação
Física. Com o conhecimento dos profissionais, o planejamento (macro, meso e
microciclos) das equipes poderá ser restabelecido, o que com certeza trará
melhores resultados para as atletas, para os times e conseqüentemente para o
Futebol Feminino do Paraná.
2.4 MEDIDAS E AVALIAÇÕES NO FUTEBOL
Para um planejamento mais eficaz, é imprescindível a coleta
de dados e aplicação de testes para tomadas de decisões. Medidas, teste e
avaliação referem-se aos elementos específicos do processo de tomada de
decisão. Segundo Morrow (2003), medida é o ato de mensurar e geralmente
resulta em indicar um número para o caráter que foi avaliado; teste é o
instrumento ou ferramenta utilizada para fazer uma medida em particular, e
avaliação é uma declaração de qualidade, de excelência, de mérito, de valor ou
de merecimento sobre o que foi avaliado. A avaliação implica na tomada de
decisão, portanto, a partir de avaliações físicas é possível estabelecer ou
reciclar o programa de treinamento (CARNAVAL, 1995). Obter e relatar os
dados tem pouco significado se não for relacionado a algo. Por isso a
importância de comparar os dados obtidos nos testes com os padrões
indicados para essa população.
A medição dos pontos anatômicos, além da estatura e da
massa corporal, possibilita computar os somatotipos, a gordura corporal
relativa (usando as equações de predição), os índices de área de superfície
corporal, o índice de massa corporal, a relação cintura-quadril, o padrão de
gordura ideal e o perímetro corrigido. O perfil antropométrico também permite
que se estimem as massas óssea, muscular, de gordura e residual, usando a
técnica de fracionamento de massa corporal (DRINKWATER e ROSS, 1980;
KERR, 1988).
Para a realização das medidas antropométricas, deve-se
seguir uma metodologia definida internacionalmente, a fim de que os
resultados publicados sejam claramente entendidos e possam ser utilizados
por autores, estudantes e pesquisadores.
A avaliação física pode ser utilizada como avaliação inicial dos
atletas, análise de grupo e de indivíduos. Auxilia no conhecimento da evolução
dos jogadores, na seleção dos jogadores para cada posição, no descobrimento
de novos talentos e na reavaliação do trabalho. Para Rinaldi e Arruda (2001, p.
187), "a avaliação física dos jogadores de futebol tem se mostrado importante
no sentido de oferecer parâmetros mais exatos para um programa de
treinamento".
A antropometria é importante como fator de avaliação para o
treinamento físico, como as medidas de perímetro, diâmetro e dobras cutâneas
(RODRIGUES; ROCHA, 1985). O ponto até o qual a composição corporal pode
ser alterada depende do grau e da duração do treinamento (GALLAHUE;
OZMUN, 2001). As mulheres têm um requerimento adicional mínimo de
gordura (gordura específica sexual) que é armazenada na maior parte da área,
ao redor dos seios e ao redor do quadril. Esta gordura aumenta o peso corporal
da mulher em 5-9% e está envolvida na produção de estrogênio, assegurando
o equilíbrio hormonal e a função menstrual (BEN, 1993). Se o nível de gordura
estiver abaixo do essencial nas mulheres pode promover desequilíbrios
hormonais (redução da produção de estrogênio), irregularidades na
menstruação (Oligomenorréia), disfunção menstrual e cessação dos ciclos
(amenorréia), infertilidade.
Os pesquisadores acreditam que o nível de gordura é determinado pelo próprio
corpo, no ponto onde ele se sente melhor. Isto é geneticamente determinado e
não pode ser alterado facilmente. Além disso, os cientistas descobriram uma
seqüência genética (o chamado gene da obesidade) que controla os níveis de
gordura por meio do apetite e do metabolismo. Aqueles gene-defeituosos têm
um controle de apetite mau-ajustado e são propensos a comer demais e a
engordar. Os genes do apetite são controlados no cérebro por um tipo de
termostato (adipostato); Se o nível de gordura corporal aumenta acima da faixa
genética, as células de gordura produzem mais leptina. Isto sinaliza o cérebro
que os níveis de gordura, estão muito altos, de modo que o adipostato
responde aumentando o metabolismo e reduzindo o apetite. Se o nível de
gordura corporal cai abaixo da faixa genética, a produção de leptina é reduzida,
o metabolismo se torna mais lento.
O futebol, por ser considerado uma modalidade complexa,
apresenta uma dificuldade de criação de modelos específicos para a avaliação
e controle do treinamento (Dufor, 1989; Fernandes, 1994; Talaga, 1984, 1985;
Campeiz, 1997), no entanto, torna-se de fundamental importância o controle da
característica das ações competitivas dos futebolistas, objetivando encontrar
parâmetros que contribuam na formulação de sistemas de preparação mais
eficientes.
Recentes estudos também têm descrito as características
antropométricas e fisiológicas de futebolistas, podendo destacar os estudos
europeus (Reilly e Thomas, 1976), africanos (Slaokun e Marthur, 1985 apud
Green, 1992), asiáticos (Kansal, 1980 apud Green, 1992) e australianos
(Winters, Roberts e Davis, 1982 apud Green 1992). Nesses estudos,
observam-se elevados índices de correlação entre a porcentagem de gordura e
o rendimento desportivo (Boileau e Lohman, 1977); (Housh, Thorland, Johnson
e Tharp, 1988, apud Santos, 1999), evidenciando a incompatibilidade entre a
melhoria do desempenho competitivo e os altos índices de adiposidade
subcutânea.
Valores ótimos de adiposidade são difíceis de se definir,
podendo estar relacionado com a posição que ocupa em campo. No entanto o
peso em excesso, pode ser prejudicial e por esta razão no meio desportivo,
tenta-se obter qual é o nível ideal de massa magra e gordura, que poderiam
possibilitar o aumento do desempenho nas várias modalidades e atividades
físicas. Santos (1999), observou, que de acordo com a posição ocupada em
campo, as variações do percentual de gordura são pequenas, existindo uma
relação entre o aspecto funcional do futebolista e o seu perfil somático, que por
sua vez está relacionado com a capacidade de realizar deslocamentos
específicos durante os jogos (Rebelo, 1993).
A estatura também é um importante fator para a orientação da
especialização nas várias posições e táticas da equipe. Bangsbo (1994),
encontrou em 65 jogadores de elite dinamarquesa, média de 181 cm. Os
goleiros (189 cm) e os defensores (188 cm) foram os mais altos, a média de
altura dos laterais, meio-campistas e atacantes foi em torno de (178 – 179 cm).
Similares observações foram obtidas por Bell e Rhodes (1975); Reilly (1979).
Entretanto em cada posição é observada uma grande amplitude de variação
em tais medidas. O mais importante é que tais medidas podem influenciar no
desempenho tático dos jogadores. Os atacantes altos forçam e usam as
jogadas aéreas, enquanto os atacantes mais baixos forçam as jogadas em
velocidade com bola lançada em profundidade.
Segundo Green (1992), as variáveis antropométricas
possibilitam aos técnicos e cientistas do desporto avaliar, modificar e
prescrever programas de treinamento. Observamos no percentual de gordura
um fator muito importante no que se refere ao desempenho atlético, o mesmo é
confirmado nos estudos de Arruda e Rinaldi (1999) apud Tricoli et al. (1994),
onde afirmaram que o futebol é uma modalidade que envolve a execução de
deslocamentos rápidos, saltos e mudanças de direção, podendo qualquer
excesso de peso corporal sob a forma de gordura causar um prejuízo no
rendimento.
São poucos os estudos publicados que tratam de avaliação
antropométrica em jogadoras de futebol feminino. Isso restringe o estudo
dentro da modalidade, pois há poucos parâmetros encontrados para a
comparação de resultados. Um estudo realizado por Davis e Brewer com 14
jogadoras de futebol pertencentes a seleção inglesa, demonstrou que o
percentual de gordura médio encontrado foi 21,1%. Withers et al. verificaram
uma quantidade de gordura relativa de 22% em atletas de uma equipe
australiana, e Queiroga et. al. encontrou em seus estudos a média de 23,2%
de gordura relativa nas atletas de elite de futsal feminino. Assim, é possível
observar que os valores médios são bastante próximos entre as atletas de
futsal e de futebol de campo (23,2; 21,1 e 22%, respectivamente), e que ambos
os resultados estão dentro dos padrões de percentual de gordura ideal
estabelecidos por Heyward & Stolarczyk (1996, p.5), que sugerem o percentual
aceitável de 23% para mulheres.
2.5 ASPECTOS DO FUTEBOL
O futebol é uma modalidade esportiva intermitente, com constantes
mudanças de intensidades e atividades. A imprevisibilidade dos
acontecimentos e ações durante uma partida exige que o atleta esteja
preparado para reagir aos mais diferentes estímulos da maneira mais eficiente
possível (BARBANTI, 1996). A prática do futebol exige o aprendizado e
aplicabilidade de várias valências motoras, segundo Garcia, Muino e Telena
(1977), o futebol exige resistência, velocidade, agilidade e força. Para Kunze
(1987) o futebol exige uma série de capacidades, velocidade, resistência e
força como princípios decisivos, mas também agilidade e flexibilidade. Não
podemos descartar o aprendizado motor, trabalhar nas categorias de base a
coordenação motora, o equilíbrio corporal, a lateralidade, a agilidade dentre
outros é fator crucial para um bom desempenho futuro. O futebol tem um
grande quesito ao seu favor, a aceitação é mundial, sendo assim a pratica
desta modalidade por crianças é uma das mais aceitas no país, partindo deste
principio fica mais fácil trabalhar as valências e habilidades motoras neste
esporte por sua aceitabilidade.
Os futebolistas realizam esforços decisivos relacionados ao
metabolismo anaeróbio alático com uma pequena participação lática. Por outro
lado, o metabolismo aeróbio é requerido principalmente nos momentos de
recuperação entre os esforços curtos e intensos (Carzola e Fahri, 1999;
Bangsbo, 1996; Aoki, 2002).
Os jogadores de futebol devem reagir e deslocar-se
rapidamente, com grande poder de aceleração. A força e a velocidade estão
interligadas nas intensas e curtas ações motoras físicas, técnicas e táticas,
com grande participação do sistema anaeróbio. Portanto, a potência anaeróbia
representa uma variável muito importante para os atletas.
Segundo Gréhaigne & Guillon (1992), futebol é a relação de oposição
entre os elementos de duas equipes em confronto e a relação de cooperação
entre os elementos da mesma equipe, ocorridas num contexto aleatório, que
traduzem a essência dos jogos desportivos coletivos, razão pela qual é
classificado em jogo de oposição. O jogo propõe mudanças constantes de
atitudes a serem tomadas pelos jogadores que ora estão atacando e ora estão
defendendo.Tomar atitudes certas, ou melhor, tomar a melhor atitude poderá
resultar no objetivo central do jogo, o gol. Por isso é importante trabalhar as
habilidades motoras e cognitivas nos atletas para que os mesmos possam agir
da maneira mais correta durante o jogo. Associar coordenação motora com o
intelecto de saber o que fazer como fazer a melhor jogada, sendo assim
associa-se também a técnica com a tática buscando um jogo com menos erros.
Basicamente o futebol pode ser analisado em duas situações: os
momentos de posse de bola e os momentos sem posse de bola. Durante o
jogo, 98% dos deslocamentos são realizados sem a posse de bola,
justificando-se a importância de uma boa preparação física. No plano
fisiológico, independentemente da posição ocupada em campo, o futebolista é
exigido aproximadamente entre 13 e 15 % da duração de uma partida; nesses
curtos períodos ocorrem as ações determinantes para a conclusão de uma
jogada, e isto corresponde entre 107 a 139 ações intensas por jogo (Carzola e
Farhi, 1998). Entendendo-se por ações intensas, todos os deslocamentos de
curta duração, dribles, saltos, mudanças de direção, confrontos e disputas com
e sem a posse de bola. Como estas ações duram entre 1 e 5 segundos, isto
representa uma ação intensa a cada 43 segundos. Portanto, a recuperação
rápida entre duas ou mais ações intensas torna-se uma exigência, como
conseqüência da evolução do jogo (Carzola e Fahri, 1998; Bangsbo, 1994;
Frisselli e Mantovani, 1999).
Segundo Teodorescu (1984), no futebol a relação de cooperação /
oposição manifesta-se na realização de ações individuais, de grupo e coletivas,
especificas e congruentes com objetivos e finalidades em cada momento do
jogo, segundo as regras de ação e princípios de gestão bem definidos
denominados como componentes fundamentais da tática.
As posições básicas no futebol de campo são seis, sendo possível haver
variações secundárias para direções opostas, ou outras movimentações que
possam ser criadas.
Goleira: É quem protege o gol. É o único jogador que pode
usar as mãos, e mesmo assim só pode usá-las dentro da área. Sua função é
impedir que a bola passe pelas traves.
Zagueiras: As zagueiras ou centrais tem a função de ajudar a
goleira a proteger o gol, tentando desarmar as atacantes adversárias.
Laterais: As laterais (direita e esquerda) ocupam as
respectivas laterais do campo. Também ajudam a goleira a proteger o gol, e
normalmente são as responsáveis de repor a bola em jogo quando esta sai
pelas linhas laterais do campo. No futebol feminino, as laterais são
responsáveis pela rápida condução da bola ao ataque, cobranças de escanteio
e levantamento de bolas na área. Geralmente são as mais velozes e ágeis,
tanto atacando como defendendo.
Volantes: As volantes fazem uma linha de defesa anterior à das
zagueiras, desarmando os ataques adversários. No futebol feminino exercem
papel fundamental na marcação, cobertura, e velocidade de saída no contra-
ataque.
Meio-Campistas: As meias, médias, meio campistas têm basicamente a
função de fazer a conexão entre a defesa e o ataque do time, atuando tanto na
marcação como nas jogadas ofensivas. No futebol feminino, as meio
campistas são as jogadoras mais habilidosas e com maior técnica, pois são as
principais jogadoras ofensivas da equipe.
Atacantes: Nos esportes coletivos, a atacante é a atleta encarregada de
finalizar uma jogada e marcar gols para o seu time. No contexto feminino, as
atacantes são as jogadoras mais fortes, com pouca movimentação, mas com
maior objetividade.
As posições definem a área do campo de atuação de um
jogador, mas não o prendem a ela. Jogadores podem trocar de posições,
sendo isso bem freqüente. Os goleiros têm uma mobilidade menos versátil por
sua função, mas também podem participar de cobranças de faltas e
escanteios.
2.6 COMPONENTES DO TREINAMENTO DESPORTIVO NO FUTEBOL
Os esportes coletivos, de uma forma geral, são trabalhados
basicamente da mesma maneira, variando o conteúdo de acordo com a
modalidade esportiva. No futebol, “a preparação física constitui parte do
sistema de treinamento do atleta, cujo objetivo é a educação das capacidades
físicas e com relação a isso se torna necessário ter a própria noção de
capacidade física” (ZAKHAROV, 1992 p.95).
Tem como objetivo principal o desenvolvimento ou
aperfeiçoamento das principais capacidades motoras. São elas: a força,
velocidade, resistência (aeróbica e anaeróbica), flexibilidade, habilidade, ritmo,
coordenação, agilidade, entre outras. É chamado de condicionamento físico
(BARBANTI, 1997).
A percepção do objeto como um sistema constitui o ponto de
partida da análise filosófica da categoria “capacidade” (em relação aos
problemas da física, este objeto é o organismo humano). O estudo dos
sistemas está relacionado, antes de tudo, com o esclarecimento dos elementos
que compõem e de sua interligação. Se encararmos o organismo como em
sistema geral, será possível destacar, nesse sistema, muitos elementos
(estruturas morfológicas, órgãos, e outros) que ficam numa determinada
interligação ordenada. Qualquer tarefa funcional que deva ser resolvida pelo
organismo realiza-se graças a determinada interligação de seus elementos.
Esta interação não é livre, mas rigorosamente determinada pela função que o
organismo realiza, o que permite destacar o sistema funcional como uma forma
de auto-organização que permite reunir, seletivamente, diferentes órgãos e
sistemas do organismo humano para obtenção do resultado necessário ao
organismo (ZAKHAROV, 1992 p. 96).
O organismo humano possui grande quantidade de
capacidades, uma vez que, em condições diferentes de interação com o meio-
ambiente, ele revela diversas capacidades funcionais. Desta forma, as
capacidades funcionais do homem podem se definir como o conjunto de
propriedades do organismo que se revelam no processo de sua interação com
o meio-ambiente (ZAKHAROV, 1992).
A preparação física pode ser divida em dois aspectos. O da
preparação física geral, que como o próprio nome já diz, visa o
desenvolvimento generalizado do potencial do indivíduo no conjunto das
qualidades físicas de base. E o outro, é o da preparação física especifica, que
visa desenvolver as peculiaridades de cada esporte ou disciplina.
A escolha da composição dos meios de treinamento e dos
métodos de preparação física é determinada, antes de tudo, pelas exigências
de preparação de muitos anos, na modalidade concreta do desporto, e pelo
nível do desenvolvimento individual das capacidades físicas do desportista.
Tendo em vista tudo isso, pode-se distinguir dois níveis de tarefas de
preparação física. O primeiro, orientado no sentido do desenvolvimento
multilateral geral das capacidades física, e o segundo, as idéias sobre o
desenvolvimento harmonioso normal do homem e no sentido da criação de
uma base para o aperfeiçoamento interior na modalidade esportiva escolhida.
A solução das tarefas deste nível se relacionam com a preparação física geral.
O segundo nível de tarefas de preparação física pressupõe que haja
exigências máximas em gênero da atividade desportiva (ZAKHAROV, 1992
p.96 e 97).
Ao desenvolver uma preparação física de alto rendimento,
pode-se identificar seis fases perfeitamente definidas. As duas primeiras
pertencem ao período pré-preparatório, outras duas ao período preparatório, e
as duas últimas abrangendo o período de competição e período de transição
(TUBINO, 1993).
Outro componente do treinamento desportivo no futebol é a
Preparação Técnica. Segundo BARBANTI (1997), a preparação técnica visa o
aprendizado da técnica esportiva como uma forma racional, e é um processo
em longo prazo, sem interrupções, que deve estar sempre em
aperfeiçoamento.
A técnica dos movimentos específicos do desporto é essencial
para se ter um bom jogador, mas o aprendizado não depende apenas dos
treinadores. Costuma-se dizer que a técnica não se ensina efetivamente, o seu
aprendizado depende do dom natural, da vocação de cada indivíduo, se ele é
ou não portador. O trabalho do treinador consiste então em aperfeiçoar estes
movimentos em seus atletas, para que os mesmos passem a ser como uma
ação reflexiva, que o atleta haja automaticamente, responda de imediato a uma
ação proposta.
Para o desenvolvimento de uma boa técnica, é preciso estar
com a condição física em bom estado, pois desta forma ela é melhor
assimilada.
Um importantíssimo componente em esportes coletivos, que
exigem bastante treino, além de ser fundamental para atingir o melhor
resultado em competições, é a preparação tática. Mas está intimamente ligada
e depende muito das condições físicas e técnicas (BARBANTI, 1997). A tática
é um plano pré-estruturado para melhor conduzir o time e as suas ações em
campo, para isso exige-se raciocínio dos atletas para desenvolver as jogadas
em conjunto e organizar a forma de jogo. O desenvolvimento desta habilidade
é extremamente racional, o atleta deve estar completamente integrado aos
outros companheiros do time, as ações são em conjunto, com isso o raciocínio
deve ser o mesmo para que todos possam acompanhar as jogadas. O trabalho
do treinador é treinar as jogadas chaves com seu time e aperfeiçoar os erros.
Também faz parte do treinamento desportivo no futebol a
dimensão Recuperação. “A fadiga ou esgotamento instalado após a atividade
esportiva depende do tipo de carga/estímulo desta atividade. A fadiga precede
o esgotamento, funcionando como um mecanismo de proteção, com a função
de evitar o esgotamento total das reservas físicas” (VIRU apud WEINECK,
1999 p. 626).
Embora o limiar da fadiga sempre possa ser aumentado em
função do estado de treinamento, a recuperação após o esporte adquire uma
importância cada vez maior. A adoração de uma carga esportiva sem
considerar a necessária recuperação pode levar a um desgaste excessivo das
reservas energéticas e conseqüentemente redução do desempenho. A carga
do treinamento e o tempo de recuperação estão relacionados entre si, e
exercem influência um sobre outro (WEINECK, 1999). “Por esta razão, um
sistema racional de carga e recuperação é um pré-requisito para o aumento da
eficácia do treinamento” (WOLKOV apud WEINECK, 1999 p. 626).
2.7 ESTUDO DAS QUALIDADES FÍSICAS APLICADAS AO FUTEBOL
A velocidade é uma característica neuromuscular, que está
presente em todas as situações nos vários esportes.
Para BARBANTI, (1997), velocidade é uma capacidade de
realizar um movimento no menor espaço de tempo.
Segundo ZACIORSKI apud BARBANTI (1997) a transferência
da velocidade somente ocorre quando os movimentos apresentarem
coordenações semelhantes.
“A velocidade do jogador de futebol é uma capacidade
verdadeiramente múltipla, a qual pertencem não somente o reagir e agir rápido
a saída e a corrida rápidas, velocidade no tratamento com a bola, o sprint e a
parada, mas também o reconhecimento da utilização rápida de certa situação”
(WEINECK, 2000 p. 355)
A velocidade é bastante específica e também relativa. Dentre
as formas de velocidade, um indivíduo pode executar um movimento bem
rápido e outro relativamente lento. As formas de velocidade que são
encontradas no jogo de futebol são as seguintes:
Velocidade de reação: Velocidade com a qual um atleta é
capaz de responder a um estímulo.
Velocidade de deslocamento: Capacidade máxima de um
indivíduo deslocar-se de um ponto para outro.
Velocidade de percepção: “É a Capacidade para a percepção
de situações de jogo e sua modificação no menor espaço de tempo possível”
(WEINECK, 200 p. 355).
Velocidade de antecipação: “Capacidade de adiantar-se ao
desenvolvimento do jogo e, especialmente, ao comportamento do adversário
direto no menor espaço de tempo possível” (WEINECK, 2000 p. 355).
Velocidade de decisão: “É a capacidade do jogador de
decidir-se no menor tempo possível por possibilidade potencial de
ação”.(WEEINECK, 2000 p. 355)
Velocidade de ação (com bola): “Capacidade de realização
rápida de ações específicas do jogo sob pressão do adversário e do tempo”
(WEINECK, 200 p. 355).
Velocidade – habilidade: Segundo SCHIMPER/BRAUSKE
apud WEINECK (2000), entende-se por velocidade/habilidade como uma
“Velocidade complexa e específica para determinada modalidade esportiva. Ela
possui característica de execução que controla a velocidade dos processos
cognitivos e motores das ações de jogo técnico-tático, que são controladas
emocional e motivacionalmente de forma adversa, refletindo-se em situações
de jogo”.
Durante a execução do desporto, o esportista deve, por muitas
vezes, por o seu corpo em movimento quando parado, pará-lo quando se
encontra em movimento, acelerá-lo, desviar sua trajetória, mudar de direção,
saltar, chutar e etc. ara executar esse movimentos, ele necessita de força. A
força é uma característica neuromuscular com a importância determinante no
esporte.
Força dinâmica: è a força em movimento. Pode ser dividida
em dois subtipos:
Força absoluta – Valor máximo de força que pode
desenvolver uma pessoa num determinado movimento.
Força relativa – cociente entre a força absoluta e o peso
corporal da pessoa.
Força estática: é o tipo de força que explica o fato de haver
força produzindo calor, mas não ocorrendo produção de trabalho em forma de
movimento. É também chamada força isométrica. A força estática não é um
tipo de força muito evidente nos diversos desportos, mas está presente em
situações especiais das disputas, em que ocorrem oposições para os gestos
específicos de modalidade. A força estática é desenvolvida diretamente pela
aplicação de exercícios isométricos.
Força explosiva: è o tipo de força que pode ser explicada pela
capacidade de exercer o máximo de energia num ato explosivo. Também
conhecida como potência muscular.
Todas essas manifestações de força são utilizadas nos mais
variados desportos, sendo que no futebol, pela sua complexidade e de acordo
com as ações motoras específicas a força rápida e a resistência de força são
as mais utilizadas nas curtas e intensas ações específicas do jogo, bem como
na profilaxia de lesões.
Observa-se também de acordo com a sua posição tática
específica, o jogador utiliza uma modalidade de força com mais freqüência
(Arruda e Rinaldi, (1999); Whithers et al (1982) apud Barbanti 1996).
Do ponto de vista da física, as condições mecânicas que
regem o equilíbrio do corpo humano são iguais às que regem os outros, isto é,
todo corpo está em equilíbrio, quando não há forças que provoquem
movimento de translação ou de rotação; ou ainda quando todas as forças
atuantes sobre o corpo se anulam, quer dizer, a resultante é igual a zero
(BARBANTI, 1997).
Equilíbrio dinâmico: é o tipo de equilíbrio conseguido em
movimento. O equilíbrio dinâmico, assim como os demais tipos de equilíbrio,
depende do dinamismo dos processos nervosos. Essa qualidade física não
deve merecer uma atenção especial na preparação física. O seu
desenvolvimento é obtido pela aplicação de exercícios técnicos do desporto em
treinamento. Em outras palavras, o equilíbrio dinâmico pode ser trabalhado
juntamente com os fundamentos técnico da modalidade, os quais apresentam
necessidade dessa valência física para sua otimização (TUBINO, 1993).
Equilíbrio estático: é o tipo de equilíbrio conseguido numa
determinada posição. Assim como os outros tipos de equilíbrio, o sistema
nervoso é a variável principal para o sucesso nessa qualidade física. Também
o equilíbrio estático não deve ser treinado separadamente em sessões de
preparação física, devendo fazer parte dos treinos dos gestos técnicos
específicos do desporto visado.
A coordenação na atividade motora do ser humano é a
harmonização de todos os processos parciais do ato motor, em vista do objeto
e da meta a ser alcançada pela execução do movimento (MEINEL apud
BARBANTI, 1997). A Palavra em si significa “ordenar junto”, e isso, para a
fisiologia no que se refere ao trabalho muscular, é seguir certas regras de
atividade muscular agonista e antagonista e dos respectivos processos do
sistema nervoso.
A coordenação é uma qualidade física considerada pré-
requisito para que qualquer atleta atinja o alto nível. O desenvolvimento da
coordenação ocorre desde os primeiros anos de vida e essa valência física
estará sempre implícita nas destrezas específicas de qualquer desporto.
O ritmo é outra valência física, intimamente ligada ao sistema
nervoso, e que está presente em todas as modalidades desportivas, embora
não mereça uma atenção particular em treinamento. Assim sendo, constata-se
um treinamento com a utilização permanente de ritmo inclusive direcionando as
próprias progressões pedagógicas para maximização das técnicas visadas
(TUBINO, 1993).
A agilidade é outra qualidade física que na maioria dos
desportos deve ser desenvolvida desde o período de preparação física geral.
No conceito de agilidade o tempo é uma variável importante para essa
valência, o que evidencia a presença implícita da velocidade nessa qualidade
física. Por isso mesmo, a agilidade também é denominada de velocidade de
troca de direção.Além da velocidade, a flexibilidade também pode ser
considerada como um pré-requisito para o desenvolvimento de agilidade.
Justamente pela necessidade da presença da flexibilidade é que se indica um
melhor aproveitamento do treinamento de agilidade nos jovens, pois é na
juventude que existem maiores possibilidades de melhorias na flexibilidade
(TUBINO, 1993).
A outra observação necessária é o fato que a agilidade é uma
Valencia física específica da maioria das modalidades, o que a coloca como
um alvo praticamente durante todo o período preparatório. Quanto à medição
da agilidade, os testes envolverem também a coordenação.
É uma característica de rendimento que pertence à natureza
humana. Suas características se fundamentam em fatores orgânicos,
filosóficos e psíquicos. A resistência é determinada pelo sistema cárdio-
respiratório, pelo metabolismo, sistema nervos, sistema orgânico, pela
coordenação de movimentos e por componentes psíquicos. Aparece em vários
setores da vida humana, por isso dizemos resistência física, sensorial,
emocional (psíquica) (BARBANTI, 1997).
Tipos de resistência:
Resistência aeróbica: É a qualidade física que permite a um atleta
sustentar por um longo período de tempo uma atividade física relativamente
generalizada em condições aeróbicas, isto é, nos limites do equilíbrio
fisiológico denominado “steady-state” (TUBINO, 1993). A obtenção da
resistência aeróbica é medida pelo consumo de oxigênio (VO2 máximo), cujo
resultado pode ser fornecido em ml/kg/min. Os investigadores MELLEROWICZ,
FRIC e HANSEN apud TUBINO (1993), atestam que os diversos tipos de
testes utilizados para medir a resistência aeróbica não apresentam resultados
totalmente coincidentes. A resistência aeróbica pode ser medida em
laboratórios ou por testes de campo.
Resistência anaeróbica: É a qualidade física que permite a
um atleta sustentar, o maior tempo possível, uma atividade física em condições
anaeróbicas, isto é, numa situação de débito de oxigênio (TUBINO, 1993).
Resistência muscular localizada: É a qualidade física que
permite a um atleta realizar no maior tempo possível a repetição de um
determinado movimento com a mesma eficiência (TUBINO, 1993). O
desenvolvimento da resistência muscular localizada está diretamente
condicionada por algumas variáveis de ordens fisiológicas e psicológicas.
Apresenta como resultado alguns efeitos como:
- Capacidade para execução de um número elevado de repetições dos gestos
específicos desportivos;
- Melhor elasticidade dos vasos sanguíneos;
- Melhor capilarização nos músculos treinados;
- Melhor utilização da energia;
- Maiores possibilidades para um trabalho posterior de desenvolvimento de
qualquer tipo de força.
Entendemos por flexibilidade a capacidade de aproveitar as
possibilidades de movimentos articulares o mais amplamente possível em
todas as direções. Ela possibilita a execução de movimentos com grandes
amplitudes de oscilações nas várias articulações participantes (BARBANTI,
1997).
A flexibilidade determina a mobilidade total das pessoas, pois
soma todas as mobilidades parciais do corpo humano. O desenvolvimento da
flexibilidade em atletas apresenta os seguintes resultados:
- Facilita o aperfeiçoamento nas técnicas do desporto em treinamento;
- Dão condições para uma melhoria na agilidade, velocidade e força;
- É fator preventivo contra acidentes esportivos (lesões,
contusões, etc.);
- Provoca um aumento na capacidade mecânica e dos músculos e
articulações, permitindo um aperfeiçoamento mais econômico de energia
durante o esforço.
A descontração total é o tipo de descontração que capacita o
atleta recuperar-se de esforços físicos realizados. É uma qualidade física
presente a todos os desportos, pois as exigências atuais de treinamento e de
competição solicitam a presença dessa valência física praticamente durante
todos os períodos de treinamento.A descontração total está intimamente ligada
a processos psicológicos, onde a mente é a variável principal de qualquer
tentativa de desenvolvimento dessa qualidade física.
Descontração diferencial é a qualidade física que permite a
descontração dos grupos musculares que não são necessários à execução de
um ato motor específico. É também chamada de relaxamento diferencial. É
uma valência física que colabora para eficiência mecânica dos gestos
desportivos, ou seja, capacita os atletas a executarem suas técnicas
desportivas específicas da modalidade eleita com um máximo de economia
energética.
2.8 QUALIDADES FÍSICAS E ESPECÍFICAS DOS JOGADORES POR
POSIÇÃO
A identificação das qualidades físicas dos desportos já foi
colocada como passo fundamental para a eficácia de uma preparação física.
Sabendo-se que o período preparatório de uma preparação física está dividido
em duas fases (fase de preparação física geral e fase de preparação física
específica), resolveu-se somente abordar agora algumas pontuações quanto
as qualidades físicas específicas, que serão alvo principal na fase de
preparação específica (TUBINO, 1993).
Algumas qualidades físicas dependentes da eficácia de
processos nervosos como ritmo, coordenação, equilíbrio e a descontração
diferencial, não são treinadas, especialmente, pois o aperfeiçoamento dessas
valências é obtido juntamente com o desenvolvimento das técnicas
específicas.
As demais valências que não foram citadas podem ser
desenvolvidas em sessões específicas na preparação física.
Quando se treina a velocidade e a flexibilidade, os atletas
estarão desenvolvendo-se também na agilidade.
Quando a flexibilidade estiver sendo alvo do treinamento,
implicitamente está-se dando condições para o desenvolvimento da
velocidade, força e agilidade.
No futebol, a especificação deverá ser por posição e utilização
técnica dos jogadores. Assim, cada situação de treinamento poderá provocar
algumas alterações. Entretanto, existem algumas colocações que podem ser
consideradas efetivas (TUBINO, 1993).
As goleiras necessitam de resistência aeróbica, como pré-
requisito para o desenvolvimento da resistência anaeróbica e outras qualidades
físicas. Deve-se trabalhar a velocidade de reação, força explosiva dos
membros superiores e inferiores, ritmo, agilidade, coordenação, flexibilidade,
descontração total, descontração diferencial.
As zagueiras e atacantes mais adiantadas devem desenvolver
a força explosiva dos membros inferiores com mais ênfase, embora essa
valência física seja necessária para todas as jogadoras, em menor escala.
As volantes e laterais, devem ser submetidas ao treinamento
das velocidades de reação, deslocamento, força explosiva dos membros
superiores, coordenação, ritmo, agilidade, resistência anaeróbica, flexibilidade,
descontração diferencial e descontração total.
Além destas qualidades específicas, vê-se necessário que
todos os jogadores desenvolvam a resistência aeróbica (endurance), a
resistência anaeróbica, a flexibilidade e a descontração total por meios diretos.
Independentemente da posição, necessitam ainda de coordenação, ritmo, e
descontração diferencial, qe são valências a ser aperfeiçoadas com o
treinamento técnico.
Para TUBINO (1993), todos os jogadores necessitam também
das resistências aeróbica e anaeróbica, e muscular localizada nos membros
inferiores.
2.9 EFEITOS FISIOLÓGICOS DO TREINAMENTO DESPORTIVO
É necessário reconhecer que o sucesso nos esforços
anaeróbicos está associado com as capacidades dos músculos esqueléticos.
As modificações que ocorrem nesses músculos como resultado do
treinamento anaeróbico resultam em maiores capacidades do sistema ATP-
PC e da glicólise anaeróbica em gerar ATP. Com relação ao sistema ATP-
PC, é aprimorado por duas modificações bioquímicas significativas: Tanto um
aumento nas reservas de ATP e PC no músculo quanto uma maior atividade
das enzimas-chave que participam do sistema ATP-PC. Ocorrem adaptações
do corpo ao treinamento anaeróbico. Estas incluem aprimoramento no
rendimento de potência máxima e no rendimento de potência média, maiores
reservas de ATP e PC, maior atividade das enzimas que participam tanto do
sistema ATP-PC quanto da glicólise anaeróbica, e uma hipertrofia bastante
seletiva das fibras musculares esqueléticas. Além disso, a massa cardíaca é
aumentada nos atletas treinados anaerobicamente em comparação com os
controles que não se exercitam.
3. METODOLOGIA
3.1 Tipo de pesquisa
O estudo caracteriza-se por ser uma pesquisa de campo exploratória de
natureza quantitativa, pois são atribuídos valores aos resultados e objetivos.
Caracteriza-se também por ser uma pesquisa descritiva, que segundo Best
(1972 p.12-13) aborda quatro aspectos: descrição, registro, análise e
interpretação de fenômenos atuais, objetivando o seu funcionamento no
presente. Para Hymann (1967 p.107-108), a pesquisa descritiva e a simples
descrição de um fenômeno.
3.2 População
A população a ser considerada neste estudo envolve jovens com idade
entre 13 e 18 anos, integrantes das cinco equipes que participam do
Campeonato Metropolitano Feminino de Futebol, categoria Junior, no ano de
2006, totalizando 100 atletas.
3.3 Amostra
A amostra foi composta por 40% do total da população, isto é, 40
atletas, pois segundo as orientações de Tritschler (2003:155), as pesquisas
descritivas devem conter pelo menos 10% da população ou 20% quando a
população for pequena (menos de 150 pessoas). Foi selecionada de forma
aleatória, com 13 atletas de cada equipe, sendo as mesmas integrantes das
três principais equipes que disputam o campeonato.
As atletas apresentaram média de idade de 15,5 anos, praticavam a
modalidade em média há dois anos, e treinavam em média duas horas e meia
por dia, com freqüência de três a cinco vezes por semana. Dormiam em média
oito horas por dia. Das 40 atletas, somente duas não estudavam. Dez
jogadoras cursavam o Ensino Médio, cinco já haviam concluído o segundo
grau e vinte e cinco estão no Ensino Fundamental. Nenhuma atleta era
Universitária. Apenas duas ainda não haviam menstruado na época da
pesquisa e a idade média me menarca foi em torno dos 12 anos. Nenhuma
atleta referiu fazer uso de suplementos de vitaminas, complemento alimentar
ou algum medicamento.
3.4 Critérios de inclusão e exclusão
3.4.1 Critérios de inclusão
- Ser jogadora de futebol de campo;
- Possuir idade entre 13 e 18 anos;
- Preencher o termo de consentimento;
- Não possuir nenhum problema de saúde ou físico que impeça
da participação da avaliação;
3.4.2 Critérios de exclusão
- Não realizar um dos testes propostos;
- Estar fora da faixa etária prevista;
- Estar doente ou impossibilitado de realizar os testes;
- Não estar com as vestimentas adequadas;
- Participar da equipe há menos de três meses.
Em torno de 13 atletas por equipe foram selecionadas de forma aleatória
para a participação no teste. Como critério de exclusão, utilizamos o tempo de
treinamento, quando este for menor de três meses indicará que a atleta não
deverá participar dos testes. Da mesma forma foram excluídas atletas que
estão em fase de recuperação de cirurgias ou problemas articulares.
3.5 Instrumentos de coleta de dados
Para coleta de dados foram aplicados testes de medida de duas Dobras
Cutâneas (subescapular e tricipital), utilizando o Plicômetro cientifico Cescorf.
Cinco perímetros corporais (cintura, quadril, coxa medial e panturrilha) com a
Fita antropométrica Mabbis, três diâmetros ósseos (rádio-ulnar, umeral e
femural) com o Paquímetro de segmento, e peso e altura, utilizando a Balança
Fizziola com precisão em 50 gramas, seguindo o protocolo de Dartagnan Pinto
Guedes.
Para medir, é imprescindível a determinação exata do ponto anatômico e
minimizar a diferença inter e intra-avaliador. Dessa forma, todas as medidas
serão feitas seguindo as orientações de Guedes (1989).
3.6 Procedimentos
Após o contato com os professores das equipes, foi agendada uma data
para a aplicação dos testes. Cada equipe foi avaliada em uma data diferente, e
cada atleta foi avaliada individualmente, de uma forma que nenhuma pudesse
interferir no teste da outra. Inicialmente as avaliadas foram chamadas uma a
uma em sala com temperatura ambiente, trajando as vestimentas adequadas
(shorts e top) e sem ter praticado atividade física antes da avaliação.
A avaliadora desenvolveu o seu trabalho, aferindo primeiramente os 5
perímetros (cintura, quadril, coxa medial e panturrilha). Após coletar esses
dados o avaliador passou a coletar os diâmetros ósseos (radio-ulnar, umeral e
femural) e então a avaliadora aferiu as dobras cutâneas (tríceps e
subescapular). Foram realizadas três medições de cada dobra, e a partir
destas foi retirada a média para utilizá-la na formula final. Após esses
procedimentos o avaliador mensurarou a massa corporal e a estatura da atleta.
3.7 Avaliação dos dados:
Para avaliação dos dados será utilizado o Protocolo de Guedes,
seguindo as seguintes formulas:
% G = 1,33 (SE) – 0,013 (SD)² - 6,8
Massa Gorda: MG (%G / 100) x PESO EM KG
Massa Magra: PESO – MG (resultado em quilos)
100- %G (em %)
Somatória de dobras: SE + TR
Após obter os resultados individuais, os mesmos foram tratados
estatisticamente, e a partir destes dados foram calculadas as médias, desvio
padrão e amplitude, e assim foi possível traçar um perfil antropométrico das
atletas de futebol de campo categoria Juniores de Curitiba/Pr.
4. Resultados e Discussão
4.1 Resultados e discussão
Tabela 1 – Idade, peso e estatura.
IDADE (anos) PESO (kg) ESTATURA (m)Posições Média Desv.
Pad.Amplitude Média Desv.
Pad.Amplitude Média Desv. Pad. Amplitude
Geral (n=40) 15,5 1,9 5 51,8 7,46 25 1,55 0,06 0,3
Goleiras (n=3) 17,3 1,1 2 64,1 7,91 11,2 1,67 0,04 0,7
Zagueiras (n=7) 15,1 2,07 5 51,1 7,97 19,3 1,55 0,04 1,3
Laterais (n=7) 15,1 1,72 5 46,01 5,24 13 1,50 0,05 1,6
Volantes (n=6) 16 1 3 50,3 0,87 1,6 1,53 0,07 1,5Meias (n=10) 15 1,6 4 46 6,99 13 1,56 0,04 1,2
Atacantes (n=7) 16 2,5 5 54 7,17 19,1 1,58 0,03 1,0
O grupo avaliado tinha idade entre 13 e 18 anos, e a média de
idade ficou em 15,5 anos. As goleiras apresentaram a idade média mais alta e
a menor amplitude, que significa que o grupo é mais homogêneo na idade.
Seguidamente, as atacantes e volantes apresentaram a maior média de idade,
16 anos. As demais posições obtiveram a média de idade muito próxima da
média do grupo.
As goleiras mostraram-se mais pesadas em relação às outras
posições, seguidas pelas atacantes, zagueiras e volantes. A maior massa
corporal apresentada pelas goleiras em relação às outras jogadoras de linha é
proveniente não de um maior desenvolvimento muscular, mas sim de uma
maior concentração de gordura. Isso é decorrente da menor movimentação
exigida nos jogos, treinos, e também pelas características fisiológicas das
jogadoras dessa posição. As laterais e meias mostraram-se mais leves, o que
pode ser explicado pelo fato dessas posições exigirem mais agilidade e
velocidade. A média geral foi 51,8 kg, e as médias das volantes e zagueiras se
aproximaram bastante desse resultado.
A média de estatura da equipe ficou em 1,55 m, sendo que as
goleiras apresentaram as estaturas mais elevadas, seguidas pelas atacantes,
meias e zagueiras. As laterais e volantes apresentaram a menor estatura, o
que pode ser explicado pela exigência das posições, onde as goleiras devem
ser as mais altas para haver menos dificuldade na hora de defender o gol, as
atacantes necessitam de maior estatura para obter vantagem em jogadas
aéreas, e às laterais é exigida maior velocidade e agilidade, levando vantagem
assim, as de menor estatura.
Tabela 2 – Perímetros musculares (cintura, quadril, coxa e panturrilha).
Cintura (cm) Quadril (cm) Coxa (cm) Pant. (cm)
Posições _X D.P. A
_X D.P. A
_X D.P. A
_X D.P. A
Geral (n=40)
65 5,47 26 86,7 6,7 25 47,3 4 16 33,1 2,5 10
Goleiras (n=3)
70,5 3,53 5 95,5 4,9 7 52,7 4,5 6,5 36,2 2,4 4,5
Zagueiras (n=7)
64,7 3,66 10 86 7,1 16 46,4 4,2 11 33,4 2,7 7
Laterais (n=7)
60,5 2,93 8,5 81,1 2,8 10 45,6 3,1 8 31,75 1,4 4
Volantes (n=6)
64,3 1,15 2 85,3 2,51 5 47,1 2,02 4 32,3 1,5 3
Meias (n=10)
63,6 4,3 11 87,5 6,7 18 47,6 4,5 12 33,6 2,65 7
Atacantes (n=7)
68,8 7,4 21 89,5 7,6 12 47,8 4,5 13 33 3,1 8
As goleiras apresentaram as maiores médias de perímetro em
todas as circunferências avaliadas, provavelmente pela maior estatura e peso
encontrados nas atletas dessa posição. As laterais apresentaram as menores
médias em todas as circunferências, distanciando-se também da média do
grupo. As demais posições obtiveram valores muito próximos da média do
grupo, ficando um pouco acima as médias de cintura e quadril das atacantes.
As médias de circunferência de panturrilha foram muito próximas em todas as
posições, esse resultado pode ser considerado o mais homogêneo da
avaliação.
Tabela 3 – Diâmetros ósseos (rádio-ulnar, umeral, femural).
Rádio-ulnar
(cm) Umeral (cm) Femural (cm)
Posições Média Desv. Pad.
Amplitude Média Desv. Pad.
Amplitude Média Desv. Pad.
Amplitude
Geral (n=40)
4,8 0,2 0,9 5,7 0,4 2,4 8,7 0,6 2,2
Goleiras (n=3)
4,9 0,5 0,8 6,4 1,3 1,9 9,15 0,3 0,5
Zagueiras (n=7)
4,9 0,2 0,7 5,9 0,2 0,8 8,8 0,6 1,8
Laterais (n=7)
4,6 0,2 0,5 5,6 0,2 0,7 8,03 043 1,1
Volantes (n=6)
4,7 0,2 0,5 5,6 0,2 0,3 9 0,4 0,
Meias (n=10)
4,9 0,2 0,5 5,8 0,3 1,1 9,03 0,46 1,4
Atacantes (n=7)
4,8 0,1 0,3 5,5 0,3 1 8,9 0,72 1,7
Os diâmetros ósseos foram mensurados em centímetros, e as
goleiras apresentaram os valores mais altos em dois dos três pontos (femural e
umeral). As laterais apresentaram os menores valores de diâmetro ósseo
femural, abaixo da média do grupo. O diâmetro rádio-ulnar apresentou-se
semelhante em todas as posições e na média do grupo, e também apresentou
a menor amplitude entre os grupos. O diâmetro umeral teve o seu maior valor
nas goleiras, seguido pelas zagueiras. As demais posições tiveram seu valor
próximo a media geral. As variações encontradas nos diâmetros podem ser
explicadas pelas diferenças biológicas individuais das atletas e também pelos
diferentes níveis maturacionais encontrados na população.
Tabela 4 – Composição Corporal (massa gorda, massa magra e percentual de gordura).
Massa Gorda
(kg) Massa Magra
(kg) % Gordura
Posições Média Desv. Pad.
Amplitude Média Desv. Pad.
Amplitude Média Desv. Pad.
Amplitude
Geral (n=40)
12,1 5,1 18 39,7 5,3 21 22,9 7,6 27
Goleiras (n=3)
15,3 5,9 8,4 48,7 1,9 3,7 23,5 6,3 9
Zagueiras (n=7)
11,9 3,1 8,2 39,1 5,1 22 23,2 3,7 9
Laterais (n=7)
8,8 2,9 8,5 37,1 4 12,4 19 5,2 14
Volantes (n=6)
9,9 2,8 5 40,3 2,6 5,2 19,9 5,47 9
Meias (n=10)
15,4 7,1 16 37,1 5 12,1 28,6 10,9 26
Atacantes (n=7)
12,3 5,6 17 41,6 5,5 15,2 22 8,4 26,2
A partir dos resultados das avaliações, foi calculada a massa
gorda, massa magra e percentual de gordura. As médias de massa gorda
variaram bastante de acordo com as posições, apenas as atacantes
apresentaram o resultado próximo a média do grupo (12,1 kg). As laterais
apresentaram o menor valor entre as posições e as goleiras, o maior. As
médias de massa magra apresentaram valores próximos a média do grupo
(39,7 kg), se distanciando apenas as goleiras, com o valor mais alto entre as
posições (48,7 kg). As meias e zagueiras apresentaram a mesma média de
massa magra (37,1 kg). A média geral do percentual de gordura está dentro
dos padrões ideais encontrados na literatura para esta população (22,9 %),
mas tratando dos grupos, apenas as meias obtiveram valores acima do que se
considera aceitável para a população de jogadoras de futebol (28,6 %). As
goleiras, zagueiras e atacantes demonstraram valores próximos a média do
grupo, e, portanto, próximos aos padrões encontrados na literatura. As laterais
e volantes apresentaram os menores valores de percentual de gordura, que
segundo Hayward & Storlaczyk são classificados como percentuais abaixo da
média ideal.
5. CONCLUSÃO
5.1 Conclusão
Dentro de tudo aquilo que foi visto no referencial teórico, muito pode ser
aproveitado para podermos compreender o que foi demonstrado nos testes
aplicados. A peculiaridade dos atletas pelas suas posições, as condições e
qualidades físicas específicas, métodos de treinamento de velocidade e
agilidade, e principalmente a composição corporal das atletas. Nota-se que
com o passar dos tempos tem havido uma evolução na visão do treinamento
esportivo. Inúmeros novos autores têm surgido no Brasil e no exterior, trazendo
conceitos e idéias renovadas que tem acrescentado muito no trabalho das
atividades desportivas, inclusive no Futebol Feminino. É importante que os
treinadores dessa modalidade procurem buscar nessas novas fontes
informações para evoluir o seu trabalho, mantendo-se informados e atualizados
naquilo que pretendem trabalhar.
A partir dos resultados encontrados e apresentados acima, foi
possível concluir que o perfil antropométrico das jogadoras de futebol feminino
que disputam o Campeonato Metropolitano de Futebol, categoria Júnior, estão
dentro dos padrões encontrados na literatura, se tratando do percentual de
gordura. Mesmo com poucos estudos publicados nesta área, podemos concluir
que a média de percentual de gordura encontrada nas jogadoras de futebol de
elite está dentro da média que se considera aceitável para a saúde (23%),
segundo a tabela classificatória de Heyward & Stolarczyk (1996, p.5), e que a
média encontrada no presente estudo (22,9%) também está próxima dos
padrões encontrados na literatura. Não foram encontrados padrões para massa
corporal, estatura, perímetros e diâmetros para jogadoras de futebol, o que
impossibilitou a avaliação dos dados obtidos. Esses resultados foram
comparados entre as posições e o grupo, onde as goleiras apresentaram a
maior média de massa corporal total e estatura (valências diretamente
proporcionais), maiores médias dentre os perímetros, na idade, nos diâmetros
umeral e femural, e na massa magra (esta que está diretamente ligada a
massa corporal total). Em todas as avaliações, as zagueiras apresentaram os
resultados mais próximos a media do grupo, e valor idêntico ao do grupo na
avaliação da estatura. As laterais apresentaram valores inferiores a media do
grupo em todas as avaliações, e também os menores valores quando
comparados aos valores das outras posições. As volantes também
apresentaram valores inferiores em quase todas as avaliações realizadas;
apenas ficaram além da média na idade, no diâmetro ósseo femural e na
quantidade de massa magra. Apresentaram os menores valores de percentual
de gordura, muito abaixo da média do grupo e do padrão encontrado para essa
população. As meio-campistas obtiveram valores variados quando comparados
a média do grupo; hora além, hora aquém da média geral, mas apenas no
percentual de gordura e na massa gorda foi possível observar uma diferença
significativa com relação a média geral (28,6% e 15,4 kg média da posição e
22,9% e 12,1 kg a média geral). Os resultados encontrados no grupo das
atacantes foi levemente superior em algumas avaliações (massa magra, massa
gorda, diâmetro femural, idade, perímetros de cintura e quadril, massa e
estatura), levemente inferior em duas (percentual de gordura, diâmetro umeral)
e equivalente em outros quatro pontos analisados (perímetros de coxa medial e
panturrilha, percentual de gordura e diâmetro rádio-ulnar), concluindo assim a
avaliação dos dados.
5.2 Recomendações
Pretende-se, com este estudo, abrir caminhos para o estudo desta
modalidade e convencer os dirigentes dos clubes que participam do
Campeonato Metropolitano que é necessário fazer uma reciclagem do
programa de treinamento e oportunizar os profissionais da área de Educação
Física para realizarem seu trabalho, visando melhorar as capacidades físicas
das atletas com base nas literaturas e artigos publicados. Recomenda-se que
seja feito o estudo em outras categorias e equipes, para que existam estudos
para possíveis comparações, reciclagem ou adequação do planejamento e
treinamento físico, que é fundamental no preparo das atletas de futebol. Outra
questão importante é analisar detalhadamente o perfil antropométrico desta
população, tendo em vista que serão as futuras atletas da modalidade.
5.3 Considerações Finais
Foi possível verificar a falta de treinamento físico específico e a ausência
de aconselhamento nutricional para as atletas, o que pode implicar em
complicações de saúde e alto percentual de gordura. Seria possível perceber a
eficácia dos treinamentos se estes existissem, pois todas as equipes obtiveram
basicamente a mesma média geral e por posições, comprovando mais uma
vez a falta de estrutura dos clubes, que na maioria das vezes os técnicos e
preparadores físicos não estão ligados à área de Educação Física. Justamente
por este motivo, o Futebol Feminino tem dificuldades para expandir-se e atingir
a mídia; a falta de planejamento e estrutura das equipes faz com que as atletas
não tenham um bom preparo físico, e com isso não tenham um bom
rendimento, dificultando ainda mais a ascensão do esporte.
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