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WILLIAM PALLA PERCEPÇÕES SOBRE A VIOLÊNCIA NO COTIDIANO DO TRABALHO DOS PROFISSIONAIS DA ENFERMAGEM Dissertação apresentada ao Curso de Pós- Graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo para obtenção do Título de Mestre em Saúde Coletiva. São Paulo 2019

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WILLIAM PALLA

PERCEPÇÕES SOBRE A VIOLÊNCIA NO COTIDIANO DO TRABALHO DOS

PROFISSIONAIS DA ENFERMAGEM

Dissertação apresentada ao Curso de Pós-

Graduação da Faculdade de Ciências

Médicas da Santa Casa de São Paulo para

obtenção do Título de Mestre em Saúde

Coletiva.

São Paulo

2019

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WILLIAM PALLA

PERCEPÇÕES SOBRE A VIOLÊNCIA NO COTIDIANO DO TRABALHO DOS

PROFISSIONAIS DA ENFERMAGEM.

Dissertação apresentada ao programa de Pós-

graduação Stricto Sensu em Saúde Coletiva da

Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de

São Paulo para obtenção do Título de Mestre.

Área de Concentração: Condições de vida, trabalho

e ambiente na metrópole.

Orientadora: Prof.ª Dra. Patrícia Martins Montanari

Co-orientador: Prof. Dr. Paulo Artur Malvasi

São Paulo

2019

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FICHA CATALOGRÁFICA

Preparada pela Biblioteca Central da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo

Palla, William Percepções sobre a violência no cotidiano do trabalho dos profissionais de enfermagem./ William Palla. São Paulo, 2019.

Dissertação de Mestrado. Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo – Curso de Pós-Graduação em Saúde Coletiva.

Área de Concentração: Programas e Serviços no Âmbito da Política de Saúde

Orientadora: Patrícia Martins Montanari Coorientador: Paulo Artur Malvasi 1. Saúde Coletiva 2. Recursos humanos 3. Enfermeiros 4.

Ciências Sociais 5. Violência BC-FCMSCSP/59-19

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Ciência e amor.

“A ciência incha, mas o amor edifica” -Paulo.

(I Coríntios, 8:1.) A ciência pode estar cheia de poder,

mas só o amor beneficia. A ciência, em todas as épocas, conseguiu inúmeras expressões evolutivas. Vemo-la no mundo, exibindo realizações que pareciam quase intangíveis. (...)

O amor, porém, aproxima-se de seus labores e retifica-os, conferindo-lhes a consciência do bem. (...) A ciência pode concretizar muitas obras uteis, mas só o amor institui as obras mais altas. (...)

O mundo permanece em obscuridade e sofrimento, porque a ciência foi assalariada pelo ódio, que aniquila e perverte, e só alcançará o porto de segurança quando se render plenamente ao amor (...).

(Emmanuel)

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Dedicatória

Dedico este trabalho a Walter Palla (in memoria), pai, melhor amigo e grande

incentivador desta obra, que dedicou toda sua vida a educação e formações de seus

filhos; quem me ensinou o verdadeiro valor do trabalho e da dignidade através de

seu amoroso exemplo.

A meus filhos, Lucas e Lívia, por quem estudo e trabalho em busca de um amanhã

mais justos.

A minha amada esposa Danielle, que compreendeu minhas ausências nos períodos

de estudos e por estar sempre ao meu lado em todos os momentos.

A minha mãe Madalena e meu tio Zé.

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Agradecimentos

Em especial à minha esposa, por ter sempre acreditado em minha

capacidade mostrando-se verdadeira companheira do todas as horas, por todo amor

dedicado. O amor da minha vida e minha estrela guia, que me leva a acreditar em

novos e belos horizontes.

À minha mãe, pela insistência na educação que me alicerçou até chegar aqui.

A mão que se estende, auxilia e educa.

A meu tio Zé pelos bons conselhos. O segundo pai que a vida me deu.

À minha família, pelo apoio.

À Professora Drª Patrícia Martins Montanari, pessoa que admiro e respeito, e

por ensinar o verdadeiro valor de uma Professora, por todo seu carrinho e

dedicação. O exemplo que me faltava.

À Professora Drª Regina Maria Giffoni Marsiglia (in memoria), a primeira

orientadora desta jornada, por sua dedicação e contribuições epistemológicas.

Aos Professores e Colegas do Departamento de Saúde Coletiva da

Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo, pela amizade, afeto e alegrias

compartilhadas. Em especial, ao Professor Drº Paulo Artur Malvasi, pela Co-

orientação deste trabalho, e pelos conselhos.

À Professora Drª Erika Tiemi Fukunaga, que muito contribuiu para a

organização dos dados.

À Professora Drª Maria Amélia Veras, pelas ideias, técnicas e pela

coordenação deste excelente curso conjuntamente com os Professores Drº Cassio

Silveira e Nivaldo Caneiro Junior; por confiarem e acreditarem no meu trabalho.

Ao Professor Drº Nelson Ibanez, pelas ótimas aulas de Sistemas Comparados

de Saúde.

À banca de qualificação e defesa Professores: Drª Paulo Fernando de Souza

Campos, Drª Maria Fernanda Terra e Drª Lívia Keismanas de Avila, pelo carinho,

delicadeza e dedicação na leitura deste trabalho, pelas perguntas instigantes que

provocaram mais e pertinentes aprofundamentos no tema que fizeram, sem dúvida,

deste trabalho melhor.

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SUMÁRIO

Lista de Figuras

1. INTRODUÇÃO 1

1.1 Institucionalização da Enfermagem no Brasil 1 1.2 O Conceito da Violência………………………………………………………….11

1.2.1 Tipologia e Classificação da Violência ................................................... 36 1.2.2 Violência, poder e legitimidade: uma abordagem teórica ..................... 39 1.3 Violência e a equipe de enfermagem ....................................................... 41

2. OBJETIVOS 45

2.1 Objetivos Gerais 45

2.2 Objetivos Específicos 45

3. PRESSUPOSTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS 46

3.1 Metodologia Qualitativa 47

3.1.1 Critérios de inclusão 51

3.1.2 Critérios de não inclusão 52

3.1.3 Aspectos Éticos da Pesquisa 52

3.1.3.1 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 53

3.2 Método Quantitativo 53

4. RESULTADOS 55

4.1 Resultados Quantitativos 55

4.2 Resultados Qualitativos 84

4.2.1 Princípio da Violência 85

4.2.2 Reflexos da Intolerância na Enfermagem 89

4.2.3 Preconceito na Enfermagem 94

4.2.4 Desigualdades de Genero na Enfermagem 97

4.2.5 Representações Sociais da Violência na Enfermagem 99

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4.2.6 Ideologicas Defensivas na Enfermagem 104

4.2.7 “Abafar o Caso” 111

4.2.8 Condições de Trabalho 115

4.2.9 Apontamentos para o Debate da Redução da Violência Institucional 119

5. CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS 122

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 125

7. ANEXOS 135

7.1 Anexo A – Apresentação do Estudo 135

7.2 ANEXO B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 138

7.3 ANEXO C - QUESTIONÁRIO DE PESQUISA SOBRE A VIOLÊNCIA NO AMBIENTE PROFISSIONAL DA ENFERMAGEM COREN/SP - 2018 140

8. APÊNDICES 144

8.1 APÊNDICE A 144

8.2 APÊNDICE B 145

8.3 APÊNDICE C 146

8.4 APÊNDICE D 147

Resumo

Abstract

Lista de Abreviaturas e Siglas

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Lista de Figuras

Figura 1 - Principais Características dos Dispositivos Legais para institucionalização

da Enfermagem. .......................................................................................................... 9

Figura 2 - Folder do COREN/SP contra violência na enfermagem...........................31

Figura 3- Foto da campanha contra violência na Enfermagem................................ 32

Figura 4 - Folder de campanha do COREN/SP, CREMESP e CRF/SP contra

violência na enfermagem...........................................................................................33

Figura 5 – Caracterização dos entrevistados em profundidade................................48

Figura 6 - Distribuição em porcentagem dos Enfermeiros, segundo Gênero, 2018. 55

Figura 7 - Distribuição em porcentagem de Enfermeiros segundo Cor/Raça - SP. .. 56

Figura 8 - Distribuição em porcentagem de Enfermeiros segundo Faixa Etária, 2018.

.................................................................................................................................. 57

Figura 9 -Distribuição em porcentagem de Enfermeiros segundo anos de Formação.

.................................................................................................................................. 58

Figura 10 - Distribuição em porcentagem de enfermeiros por Formação. ................ 59

Figura 11 - Distribuição detalhada de enfermeiros segundo Formação. .................. 59

Figura 12 - Distribuição em porcentagem do comportamento dos pacientes em

relação aos profissionais. .......................................................................................... 62

Figura 12.1 - Porcentagem do comportamento dos pacientes em relação aos

profissionais, 2018. ................................................................................................... 63

Figura 12.2 - Distribuição em números absolutos comportamento dos pacientes em

relação aos profissionais. .......................................................................................... 63

Figura 13 - Distribuição em porcentagem das violências reconhecidas/assinaladas.

.................................................................................................................................. 64

Figura 13.1 - Distribuição em porcentagem do número de violências assinaladas. . 65

Figura 14 - Distribuição em porcentagem da Frequência de Violências. .................. 66

Figura 14.1 - Distribuição em porcentagem de violência segundo faixas etária. ...... 66

Figura 14.2 - Distribuição em porcentagem de Violência segundo Faixa Etária....... 67

Figura 14.3 - Intervalos de Confiança segundo Distribuição em porcentagem de

violência segundo faixa etária. .................................................................................. 68

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Figura 15 - Distribuição em porcentagem da fonte de agressão. ............................. 69

Figura 16 - Distribuição em porcentagem das possíveis causas de agressão. ........ 70

Figura 17 - Tipos de violências referidas pelos enfermeiros. ................................... 71

Figura 18 - Enfermeiros segundo existência de discriminação no ambiente do

trabalho - São Paulo. ................................................................................................. 73

Figura 19 - Enfermeiros segundo tipo de discriminação sofrida no ambiente do

trabalho - São Paulo (Admite-se mais de uma resposta). ......................................... 73

Figura 20 - Distribuição em porcentagem dos Tipos de Instituições Onde Ocorreu a

violência (foi permitido assinalar mais de uma alternativa). ...................................... 74

Figura 21 - Distribuição em porcentagem de Tipo de Atendimento no Momento da

Agressão. .................................................................................................................. 75

Figura 22 - Distribuição em porcentagem de Violências segundo Setor/Local onde

Ocorreu a Agressão. ................................................................................................. 76

Figura 23 - Distribuição em porcentagem da Realização de Denúncias. ................. 77

Figura 24 - Distribuição em porcentagem segundo Local onde Atua e Oferta de

Apoio a Vítima de Violência....................................................................................... 77

Figura 25 - Distribuição em porcentagem das Causas de não Denúncia. ................ 78

Figura 26 - Distribuição em porcentagem dos Locais de Denúncia. ......................... 79

Figura 27 - Distribuição em porcentagem da Avaliação da Denúncia. ..................... 80

Figura 27.1 - Distribuição em porcentagem dos Motivos pelos quais o Resultado da

Denúncia foi Negativo. .............................................................................................. 81

Figura 27.2 - Distribuição em porcentagem dos Motivos pelos quais o Resultado da

Denúncia foi Positivo. ................................................................................................ 81

Figura 28 - Distribuição em porcentagem das Ações Esperadas pelos Enfermeiros

por parte do COREN/SP para Redução dos Casos de Violência.............................. 82

Figura 29 - Fluxo da violencia profissional na enfermagem....................................122

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1. INTRODUÇÃO

1.1 Institucionalização da Enfermagem no Brasil

A finalidade desta seção é resgatar os acontecimentos históricos mais

relevantes para a construção da imagem e representação da enfermagem, descritos

pelo campo da história da enfermagem brasileira. A história então passa a servir

como base para a tomada de decisões (Souza Campos, Montanari, 2011) bem como

a tradição arendtianana, na leitura de Azeredo e Schraiber (2017), entendida como

os postulados do passado que auxiliam nos momentos de (in)decisões, de

dificuldades e mudanças. Conceitos distintos, mas que legitimam o poder da história

na formação da identidade profissional (Souza Campos, Oguisso, 2014) e por isso

devemos analisar criticamente os conteúdos históricos e não simplesmente

sistematizá-los ao longo de uma linha do tempo.

Portanto a associação entre a historicidade e as representações sociais

oferece a esta pesquisa possibilita estabelecer um referencial analítico e

interpretativo acerca do conteúdo representacional no sentido de investigar os

processos que o constitui, contribuindo, com isso com a desnaturalização, partindo

do pressuposto que ele é parte de uma construção histórica (Villas Bôas, 2010).

A abordagem histórica revela contradições inerentes aos processos históricos

e sociais e possibilita o enfrentamento, ainda que teórico, das reciprocidades entre

as práticas profissionais e a totalidade social que as integram, localizando nesse

movimento os sujeitos historicamente, como produto e reprodutor da estrutura social

(Souza Campos, Montanari, 2011).

A história tem grande poder sobre a formação da imagem e construção de

representações sociais de um grupo ou categoria profissional, sendo a análise da

história social da enfermagem complementar para estudos críticos do cotidiano

(Villas Bôas, 2010; Souza Campos, Montanari, 2011). Sobre a luz destas duas

teorias será tecido o texto a seguir.

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A enfermagem no período pré-republicano no Brasil, embora não fosse

baseada em modelos estabelecidos como ciência, mas atrelada ao senso comum,

prestava assistência e cuidados a enfermos cujos atores principais eram três

primeiro os pajés, segundas as mães pretas, amas de leite e terceiros grupos

religiosos. Sobre estes três principais atores da enfermagem, desse período,

podemos complementar que:

1º) Os cuidados mais antigos relacionados a tratamento no Brasil, de que se

tem relatos são os dos pajés que ainda são atuais em algumas poucas comunidades

indígenas que restaram, representantes sociais, guardiões da cultura e curandeiros

ou tratadores que prestam seus serviços em favor dos cuidados através da oferta de

produtos naturais da vasta gama da biologia brasileira (Souza Campos, Oguisso,

2014).

A figura do cuidador através dos tempos se modifica nos grupos humanos

devido ao conhecimento dos meios de cura que, aliado ao misticismo, se fortalece e

se materializa na figura de um sacerdote, xamã ou feiticeiro por meio de danças e

magias para afugentar demônios que, segundo a crença da época, provocavam

doenças. Com isso, formou-se uma verdadeira casta que se apoderava das funções

místicas e religiosas, interpretando e decidindo o que era bom ou ruim, se tornando

os guardiões das tradições (Oguisso, 2005).

2º) Os cuidados a doentes, a higiene e a nutrição no contexto da escravidão

era oferecido pela figura das mães pretas e amas de leites que adquiriam esses

conhecimentos de forma prática e/ou intuitiva ou com alguma transmissão de

informação, mas de maneira não formal e mesmo assim eram reconhecidas em seu

valor de cuidadoras de saúde, uma vez que não era incomum que estas incríveis

mulheres conseguissem conquistar respeito em uma época dominada pelo racismo,

preconceito e machismo; sendo esse conhecimento a única possibilidade de

ascensão social.

As mães pretas tinham seu lugar na sociedade também como parteiras

práticas, pela reconhecida experiência e vivência do processo de parto e eram

chamadas a realizarem estes procedimentos, tendo por isso mais prestígio social

que outros pretos da época e legitimidade entre os pretos. Já as amas de leite eram

reconhecidas pelos cuidados e conhecimentos de nutrição, higiene e tratamento

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prestados aos sinhozinhos, seus filhos brancos, uma vez que eram comumente

afastadas de seus filhos biológicos para dedicarem-se exclusivamente à

alimentação, criação, educação e manutenção da saúde de seus filhos brancos,

para que as sinhás pudessem se dedicar mais e melhor a seus senhores, postura

exigida da mulher da época (Souza Campos, Oguisso, 2014).

A proximidade que as amas de leite ou mães pretas adquiriam com seus

sinhozinhos, à medida que estes se tornavam senhores, foi-lhes dando mais

prestígio e respeito e, em alguns casos, alforria, o que não era de interesse para a

sociedade à época, levando a redução gradativa desta prática. As amas de leite

pretas passaram a ser substituídas por senhoras brancas de classe social inferior,

que conciliavam o aleitamento de seus filhos biológicos com o dos sinhozinhos ou

filhos de grandes senhores (Souza Campos, Oguisso, 2014).

3º) Para discutirmos os cuidados prestados por grupos religiosos teremos que

voltar ainda mais no tempo para entendermos as influências que esses grupos

sociais sofreram em sua formação e conformação antes de desembarcarem em

nossas terras. Grupos religiosos sempre marcaram fortemente sua presença nos

cuidados e na saúde ao longo dos tempos; mais especificamente no nosso país por

sermos colonizados por estas culturas carregamos em nossa sociedade as marcas

dessas sociedades religiosas (Oguisso, 2005).

Os religiosos tinham em sua formação conhecimentos como anatomia e

farmacologia como os grandes eruditos da época, por exemplo, os franciscanos que

tinham suas tradições históricas baseadas nos cuidados prestados aos cruzados na

Europa e Oriente Médio, mas que traziam sua tradição e cultura de cuidados ao

nosso país sendo responsáveis possivelmente pela tradição da enfermagem

masculina.

E o poder de mediação entre os mundos divino e espiritual e o mundo físico e

carnal que o sacerdote vai adquirindo pode trazer a ele o direito de eliminar do grupo

qualquer suspeito de portar o mal ou por carregar sinais aparentes como síndromes.

Tais condições eram utilizadas para justificar a perseguição a grupos como ciganos,

mendigos e loucos, desenvolvendo alterações econômicas e sociais (Oguisso, 2005;

Kiple, 2006).

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Os cuidados na idade média no ocidente sofreram fortíssima influência do

cristianismo, particularmente no período entre os séculos V e XVII, com a queda do

império romano, que contava com uma igreja recém-saída da clandestinidade, que

ao conseguir organizar-se trabalhou em três frentes: A luta pelo poder econômico e

social; A vida monástica como alternativa a insegurança do ambiente; e finalmente o

patrocínio das cruzadas para domínio da terra santa (Porter, 2006).

Nos primeiros séculos da idade média o protagonismo dos cuidados era dos

escravos e das mulheres, legitimados pelo machismo e preconceito da época; já no

final do século XI sugiram diversas ordens militares masculinas, como a Ordem dos

Cavaleiros Hospitalares de São João de Jerusalém, Ordem de Cavaleiros de São

Lázaro e Ordem dos Cavaleiros Hospitalares Teutônicos, formadas por monges

enfermeiros (Oguisso, 2005; Porter, 2006).

A ordem de São João chegando à ilha de Rodes, na Grécia, formou grupos

para separar as pessoas que tivessem alguma doença epidêmica das demais por

características físicas e isolá-las por 40 dias, daí o termo quarentena. Na ilha

mediterrânea de Malta a ordem dos cavaleiros construiu um famoso hospital em

1617 que contava com um pequeno quadro na cabeceira com as ordens dos

médicos e cirurgiões da época que deveriam ser seguidas por quem praticava os

cuidados. E para proteger a população da ilha inspecionavam-se o porto e as

embarcações instituindo quarentenas àquelas que supostamente tivessem contato

com as epidemias. A lepra, em particular neste período, obrigava os doentes a

afastar-se das coletividades, vestir-se de modo a serem identificados e tocar um sino

para que as pessoas sadias pudessem se afastar (Oguisso, 2005).

É possível que alguns comportamentos segregadores do presente sejam

fundamentados em comportamentos do passado, como os anteriormente citados.

Estas ordens militares foram desaparecendo ou sendo substituídas por outras

instituições de acordo com a necessidade da época, como as chamadas ordens

medicantes de São Francisco de Assis, Ordem dos Pregadores de São Domingos,

os dominicanos, a dos carmelitas e dos agostinianos, que surgiram no século XII

quando a burguesia começava a superar o feudalismo, alterando a organização

social (Oguisso, 2005).

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Aspectos relevantes da enfermagem no período das cruzadas é que era

praticada por homens, em sua maioria militares com monges enfermeiros,

caracterizando como atividade masculina e está rígida hierarquia e disciplina

existente pode ter sido carregada aos dias atuais (Porter, 2006).

As tradições masculinas dos cuidados religiosos podem ser ainda mais

antigas uma vez que os primeiros hospitais foram inicialmente destinados aos

monges, como o nosocômio de São Basílio (369 a 372) na Capadócia e,

posteriormente, sendo destinados a pobres e enfermos (Geovanini, 2010).

São João de Deus, outro enfermeiro popularmente intitulado, aos 40 anos

deixou a carreira militar para tratar cavalos e, ao notar que estes animais eram mais

bem tratados que muitos homens, saiu em peregrinação acolhendo pessoas em

piores condições em sua casa, necessitando pedir donativos para manutenção de

seus ideais; encontrou com um religioso que o incentivou a usar hábito e ser

chamado de João de Deus, pois desta forma acolheria mais donativos para seus

tutelados, chegando a fundar uma hospital em Granada, Espanha. (Oguisso e

Freitas, 2014)

São Camilo de Lellis (1550 – 1614) buscava donativos para montar um

exército de enfermeiros, farmacêuticos e médicos e pelo trabalho desempenhado

com os doentes é considerado modelo de todos os enfermeiros. Santa Luiza de

Marillac, após alguns anos de formação com São Vicente de Paulo (1576-1660),

fundou uma escola para jovens camponesas em 1633 ensinando-as os ofícios dos

cuidados na perspectiva dos ideais revolucionários e humanísticos orientados pelo

mestre. A influência do benemérito pastor Theodor Fliedner foi notada na história da

enfermagem, principalmente, por ter recebido em sua escola protestante Florence

Nightingale, em 1851, onde lecionava junto com sua esposa Frederika para

formação de jovens diaconisas em nome da filantropia (Oguisso e Freitas, 2014).

Nota-se, portanto, algumas das características da divisão sexual do cuidado e

a associação deste a um caráter místico e religioso, que se modifica de acordo com

o período e contexto social, ou seja, cuidados que eram fornecidos por grupos

femininos podem passar a ser oferecidos por grupos masculinos e vice-versa. E a

característica mística dos cuidados, que são gradativamente centralizadas e

difundidas pelo cristianismo durante a idade média, religião importada e logo

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institucionalizada, chegando a ser considerada religião nacional até o período

republicano.

Reformas sociais e culturais continuavam a acontecer mesmo dentro do

cristianismo como a de Martinho Lutero, professor universitário em Wittenberg,

Alemanha, seu pais natal, que motivado por questões das indulgencias, trocas de

perdão por doações ou ajuda a cúria provocou o rompimento com a igreja, ação

incentivada pelo papa Leão X, atitude que tomou feição excessivamente comercial.

Lutero, chamado pelo papa a retratar-se, recusou-se, sendo excomungado em 1520,

a inquietação provoca o imperador Carlos V que também convoca Lutero a dar

explicações, mas que não se intimida e também é expulso do império e se refugia

em um castelo onde por 10 meses traduz a bíblia para o Alemão e com isso

aumenta o número de adeptos a doutrina luterana. Este movimento que seria de

reforma posteriormente transformou-se em revolução após intervenções de diversos

grupos que continuam alterando e reformando a religião até os dias de hoje

(Oguisso, 2005).

Outra revolução religiosa aconteceu a partir de 1534, na Inglaterra país natal

de Florence Nightingale, com Henrique VIII que, ao não conseguir o consentimento

do papa Clemente VII para anular seu casamento, fundou a igreja Anglicana, onde o

rei é o líder supremo da religião no país, confisca todos os bens da igreja católica e

expulsa os religiosos do país causando uma grande e longa crise assistencial aos

pobres, doentes e órfãos tutelados destes religiosos (Oguisso, 2005). Mas a

ausência de católicos tornou-se terreno fértil para a nova doutrina protestante que

influenciou o modelo nightingaleano.

A substituição para estes religiosos seriam mulheres encontradas nas ruas e

em prisões, e seu recrutamento teria formado um contingente composto em sua

maioria por mulheres analfabetas. Período descrito por Charles Dickens como

período negro da enfermagem, que em sua crítica às condições sociais utiliza-se de

Sairey Gamp como modelo de enfermeira da época como o mais baixo nível de

sensibilidade e indiferença (Oguisso, 2005).

Em sua saga para descrever as más condições sociais que afligiam a

população inglesa da época, Dickens trouxe benefícios, mas ao se utilizar da figura

da enfermeira Sairey Gamp estigmatizou a profissão e reafirmou a hierarquia no

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âmbito da enfermagem. Esta grande figura da enfermagem enfrentou preconceitos

pela sua origem pobre diferentemente de Florence Nightingale, que teve sua origem

nas mais altas classes sociais (Souza Campos, Oguisso, 2013).

No Brasil as primeiras organizações sociais religiosas foram as Santas Casas

de Misericórdias, com o objetivo da caridade a órfãos e pobres, sendo a primeira

Santa Casa de Misericórdia a da Vila de Santos, fundada em 1543, por Brás Cubas,

seguida por diversas outras similares pelo país (Moreira, 2010, Machado, 2010).

Acreditava-se que havia cuidados de enfermagem ou similares nestas instituições,

prestados por jesuítas, destacando-se como enfermagem masculina mais antiga do

país os religiosos Pe. Jose de Anchieta, e Frei Fabiano de Cristo que exerceu a

função de enfermeiro no Convento de Santo Antônio (1708) no Rio de janeiro por 40

anos (Moreira, 2010).

Talvez o precursor da enfermagem pré-profissional no Brasil tenha sido o

Padre José de Anchieta (1534 – 1697), jesuíta espanhol, que em 1554 fundou a Vila

de São Paulo acudindo as duas maiores necessidades da população: a educação e

a saúde com terapêuticas trazidas de Portugal associadas às ervas medicinais

conhecidas pelos indígenas (Oguisso e Freitas, 2014).

Os religiosos inseririam escravos e voluntários a assistência de enfermagem,

sendo o título de prático dado a indivíduos com pouca experiencia devido à

desvalorização que o enfermeiro tinha na época (Moreira, 2010). O desprestigio da

profissão facilitava o distanciamento da enfermagem da universidade. Embora os

leigos exercessem esses cuidados de enfermagem para as pessoas mesmo sem

formação, havia a necessidade de se organizar a enfermagem, o que exigiria do

processo de formação um investimento que ainda não existia na formação destes

indivíduos, com a finalidade de organizar e melhorar a prática.

Em 1842, no Rio de Janeiro houve a fundação do Hospício Pedro II que

resultaria na formação da primeira Escola Profissional de Enfermeiros1 e

Enfermeiras, em 1890, chamada Alfredo Pinto (Moreira, 1999; 2010; Machado,

2010) com três fatores que favoreceram a formação dessa escola e

1Escolas de enfermagem de influência francesas onde não havia discriminação com relação a aceitação

indivíduos do sexo masculino, posteriormente isto mudaria a partir da institucionalização do padrão Nightingaleano, trazido por enfermeiras norte-americanas em meados de 1920.

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consequentemente foi marcada institucionalização e profissionalização da

enfermagem no Brasil seriam eles: 1) a vontade de psiquiatras em profissionalizar os

cuidados prestados ao seus pacientes. Muitos médicos eram formados na Europa

especialmente na França e quando retornavam ao Brasil traziam os ideais da

enfermagem profissional, laica e submissa; 2) A saída das irmãs da caridade e

serventes do sexo feminino da Santa Casa de Misericórdia do Hospício Nacional de

Alienados (Hospício Pedro II) que, em meio à crise, guardas e serviçais da

instituição passaram a ser educados na escola, cujo objetivo era preparar

enfermeiros para os hospícios e hospitais do país sobre a influência dos modelos de

enfermagem francesa (Moreira, 1999); 3) Quase cem anos depois, em 1920, os

investimentos de parceria público (Estado brasileiro) e privada (Fundação

Rockefeller), motivada por interesses de médicos sanitaristas eminentes da época,

resultaria em outro movimento da enfermagem que teria sido a americanização da

profissão (Souza Campos, Oguisso, 2014; Moreira, 2014).

Porém, os médicos sanitaristas do DNSP, diferentes dos psiquiatras do

Hospício Pedro II, eram influenciados pelos padrões de enfermagem da América do

Norte e, portanto, nightingaleano, pois estudaram na Universidade Johns Hopkins.

No contexto estudado, a profissionalização da enfermagem acontecia de forma

demanda-dependente da institucionalização, pois na medida em que as postulantes

se formavam dentro dos padrões estabelecidos para época, eram imediatamente

absorvidas pelas instituições públicas.

O surgimento da enfermagem se deu mediante a necessidade social, criada

por uma lacuna existente na assistência médica que não era capaz de dar conta da

demanda e da especificidade da necessidade de saúde da população. O Hospício

Pedro II não chegava a ser uma instituição laica, uma vez que quem prestava

serviços de cuidados também eram religiosas, desde 1852. Somente no momento

em que as religiosas se retiraram da instituição em 1890 que se iniciou o processo

de profissionalização da enfermagem, sendo necessária a contratação de

enfermeiras francesas2 para substituição das religiosas (Oguisso e Freitas, 2014).

2 A escolha por enfermeiras francesas se dá, pois na época a França era tida como modelo na organização de hospitais na Europa, principalmente em psiquiatria (Machado, 2010).

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O processo de formação do enfermeiro parte desta organização, que se deu a

partir do Decreto 791 de 1890, considerado marco da profissionalização e também

da institucionalização da Enfermagem brasileira, recorte histórico importante para

compreendermos o desdobramento do trabalho que está por vir.

Por questão de justiça devemos citar aqui o surgimento de um pequeno

hospital em São Paulo, chamado Samaritano, que iniciou como forma de resistência

ou protesto ao domínio das Santas Casas que não aceitavam de bom grado prestar

cuidados a pessoas não católicas, o que motivou um imigrante chinês a doar todos

seus bens a favor desta causa (Machado, 2010). Em contraposição, foram

contratadas enfermeiras inglesas formadas nos moldes nightingaleanos que a partir

de 1896 começaram a receber alunas em regime de internato e as candidatas

deveriam ter grau suficiente de instrução, educação, falar inglês e serem robustas

fisicamente. Tamanha exigência levou a escola a formar até 1905 apenas 5

enfermeiras (Oguisso e Freitas, 2014). Observa-se que o status social e

características físicas eram importantes para o sucesso da aspirante a enfermeira no

padrão nightingaleano fato que pode se repetir até os dias atuais.

Com a finalidade de associarmos os dispositivos legais na formação à

institucionalização profissional da enfermagem adaptamos o Quadro a seguir, a

partir do estudo de Carrijo (2012).

Figura 1 - Principais Características dos Dispositivos Legais para institucionalização

da Enfermagem.

Dispositivos Legais Principais Características

Decreto 791/1890

Criou a Escola Profissional de Enfermeiros e

Enfermeiras, destinada a “preparar enfermeiros e

enfermeiras para os hospícios e hospitais civis e

militares”.

Decreto 16.300/1923

Aprovou o regulamento do Departamento

Nacional de Saúde Pública, criando o Serviço de

Enfermeiras e “uma escola para instruir e

diplomar Enfermeiras”.

Decreto 20.109/1931 Elevou a Escola de Enfermagem Anna Nery à

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Escola padrão.

Decreto-Lei 13.040/1942

Fundação da Escola de Enfermagem da

Faculdade de Medicina da Universidade de São

Paulo.

Lei 775/1949 e Decreto

27.426/1949

Primeira Lei que regulamentou o ensino de

enfermagem no Brasil, definindo o nível de

preparação de pessoal de Enfermagem em duas

categorias: Enfermeiro e Auxiliar de

Enfermagem.

Parecer 271/1962

Uniformizou as exigências da escolaridade e da

habilitação para o curso, que passa a ser de

categoria superior.

Parecer 303/1963

Modificou o Parecer 271/1962, articulando os

cursos de Enfermagem e Enfermagem

Obstétrica – tronco comum de 2 anos, com um 3º

ano diversificado para os dois cursos. Manteve

Enfermagem de Saúde Pública em um 4º ano

optativo, “sendo de todo recomendável” que as

obstetrizes também cursassem esta disciplina.

Parecer 163/1972 e

Resolução 4/1972

Buscou ajustar-se às exigências da Lei nº

5.540/1968 – Reforma Universitária; consolidou o

enfoque biomédico e centrou o ensino no modelo

de assistência hospitalar vigente.

Lei 7.498/86

Regulamente as atividades privativas do

Enfermeiro, as realizadas por Técnicos e

Auxiliares de Enfermagem e parteira

determinando responsabilidades a cada um

deles e estabelecendo prazo para extinção de

Atendentes de Enfermagem.

Constituição Federal 1988 Coloca a saúde como “direito de todos e dever

do Estado”.

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Lei 8.080/90 e Lei 8.142 Institui o SUS e versa sobre a participação

social.

Portaria 1.721/1994 e

Parecer 314/1994

Determinou que os currículos plenos dos cursos

de graduação em Enfermagem fossem

elaborados pelas instituições de ensino superior,

contendo disciplinas relativas às Ciências

Biológicas e Humanas e quatro áreas temáticas:

"Bases Biológicas e Sociais da Enfermagem,

Fundamentos da Enfermagem, Assistência de

Enfermagem e Administração em Enfermagem".

Resolução CNE/CES

3/2001

Instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais do

Curso de Graduação em Enfermagem; definiu o

perfil do Enfermeiro, competências e habilidades

gerais e específicas.

O modelo inicial de ensino da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto (EEAP)

caracterizou-se por certa ‘frouxidão’ proveniente da ausência de rituais de seleção e

formação regulados pela técnica acadêmica e cientifica (Moreira, 1999), com seções

masculina, feminina e mista, sendo que a seção feminina recebera mais recursos

financeiros pelo próprio Alfredo Pinto, então ministro da Justiça (Moreira, 2010).

Por meio de ações educativas, preventivas e de cuidado, a enfermagem

atuou na reorganização da saúde pública e do serviço hospitalar, sob o olhar

hierarquicamente superior do médico. Internamente, organizava o trabalho a partir

de segmentações estabelecidas de acordo com outra hierarquia em que a ação de

cuidado direto ao paciente seria gradativamente delegada a auxiliares e técnicos3

com formação básica e elementar e, sem a origem social e cultural das enfermeiras

3Adaptação Brasileira decorrente do arranjo de divisão do trabalho por classes sociais. Analogamente ligado ao

estabelecido na Inglaterra de que as (ladyes nurses) enfermeiras de classe socioeconômica mais elevada, que eram preparadas para as atividades de supervisão, direção e organização do trabalho em geral, e as de nível socioeconômico inferior (nurses), que podem ser comparadas às irmãs de caridade provenientes das aldeias, que eram mais preparadas para o trabalho manual, o cuidado direto, a obediência e a submissão (Padilha;

Mancia, 2005).

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chefes, cabia às supervisoras o papel de educadoras e facilitadoras da equipe. Na

ótica das enfermeiras, educação neste momento estava muito mais para o ideal de

‘instrução’ do que para a formação de consciência crítica (Moreira, 1999).

Na sequência de acontecimentos relacionados às escolas de enfermagem, e

para atender a possível demanda de cuidados a soldados doentes ou feridos na

Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918), fundou-se em 1914 a Escola de

Enfermagem da Cruz Vermelha Brasileira, fornecendo recursos humanos em saúde

para as missões de Cândido Mariano da Silva Rondon, no Serviço de Proteção ao

Índio, destinando amparo às populações nativas a viverem de acordo com seus

costumes (Teixeira, 2012).

A historiografia da enfermagem destaca a primeira escola da Cruz Vermelha

Brasileira, no Rio de Janeiro, que imprime o modelo militar de enfermeira “em

tempos de guerra e de paz” e a Escola de Enfermagem da Cruz Vermelha - Filial

Estado de São Paulo, (EECVB-FESP) que objetivava formar duas principais

categorias de enfermeiras: as voluntárias ou samaritanas e a profissionais ou

hospitalares. O curso tinha a duração de três anos, cada qual compreendendo dois

períodos, o primeiro de ensino teórico e teórico-prático em laboratórios e o segundo

período de aplicação e estágios. Além da EECVB-FESP, foi criada, em 1916, no Rio

de Janeiro, a Escola Prática de Enfermeiras (Oguisso et al, 2009).

A Escola da CVB de São Paulo, assim como a do Rio de Janeiro estavam

isentas da equiparação ao Decreto nº 20.109/31, pois seus cursos eram

subordinados ao Ministério da Guerra. Possuíam regulamentos próprios, mas

preservavam o padrão nightingaleano, uma vez que somente admitiam mulheres e

preconizava o uso do uniforme, hábito militar. O uniforme acabou constituindo

importante elemento de distinção no cotidiano das alunas e na vida profissional. Seu

uso correspondia ao rigor existente na época, vinculado a uma disciplina rígida, na

qual estavam submetidas alunas e enfermeiras formadas por esta escola (Carrijo,

2012).

O curso preparava enfermeiras para assistência aos feridos da Primeira

Guerra Mundial considerando a noção de fronte de batalha. O curso composto por

duas séries, com as disciplinas de Anatomia e Fisiologia; Assistência aos enfermos

de clínica médica e higiene; Assistência aos enfermos de clínica cirúrgica;

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Assistência às mulheres grávidas e aos recém-nascidos e Economia doméstica. No

mesmo ano da criação da Escola Prática de Enfermeiras da CVB, o livro intitulado

Livro do enfermeiro e da enfermeira foi lançado por Getúlio dos Santos, então diretor

da Escola. Acredita-se que as qualidades da enfermeira pautavam-se nos princípios

humanitários preconizados pelo Movimento Internacional da Cruz Vermelha (Carrijo,

2012).

A partir da década de 1920, o Higienismo foi a principal ideologia sobre a qual

se pautaram as interpretações acerca do processo saúde-doença juntamente com a

descoberta dos microrganismos, período marcado pelas campanhas, para o

combate e controle de epidemias, cujo objetivo era o de sanear o meio e modificar

os modos de vida das populações, dos grandes aglomerados urbanos (Galleguillos,

Oliveira, 2001).

Nesse processo de instituição da enfermagem profissional no Brasil

destacam-se alguns atores fundamentais: os médicos sanitaristas, grupo de

enfermeiras norte-americanas, enviadas pela Fundação Rockefeller4 e os visitadores

de enfermagem. A movimentação destes três grupos e a expressão de seus

interesses diversos podem ser percebidos nos relatórios produzidos pela missão

norte-americana (Moreira, 1999).

Carlos Chagas, eminente sanitarista da época, (descobridor do Mal de

Chagas - 1908) e herdeiro de Oswaldo Cruz na diretoria do Instituto de mesmo

nome, (1918-1934), acumulou a função de diretor do Departamento Nacional de

Saúde Pública (DNSP), criado em 1920 e solicitou auxilio a Fundação Rockefeller

para reorganização e profissionalização da enfermagem no país, o que resultou na

Missão de Cooperação Técnica para o Desenvolvimento da Enfermagem no Brasil,

culminando na implantação da Escola de Enfermeiras do Departamento Nacional de

Saúde Pública (EEDNSP) (Barreira, 1997; Machado, 2010; Carrijo, 2012).

A Fundação Rockfeller financiou a vinda das Enfermeiras fundadoras da

EEDNSP e organizadoras do Serviço de Enfermagem do DNSP, dotando-o de 31

enfermeiras, das quais 26 da América do Norte e 5 da Europa (Galleguillos, Oliveira,

4Eminente família, escolhida para estreitar os laços e contatos, entre os governos Brasileiro e Americano, com

diversos interesses políticos e principalmente econômicos de exploração de recursos e mão de obra na américa latina, teve fundamental papel na formação da profissão da enfermagem por patrocínio a formação destas profissionais (1921- 1932), posteriormente transformada em Fundação Rockefeller(Galleguillos, Oliveira, 2001).

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2001), apesar do veto do presidente Epitácio Pessoa ao orçamento para 1922 que

acarretou corte geral das despesas em todos os órgãos governamentais. Tendo

recebido do presidente a confirmação pessoal de apoio ao programa, L. W. Hackett

decidiu cobrir, com recursos do International Health Board (IHB), as despesas com

salários e treinamento das enfermeiras de saúde pública até que novo orçamento

fosse aprovado pelo Congresso, mantendo-se firme em seu propósito (Moreira,

1999; Ferreira, 2006).

Além de Carlos Chagas, um dos que mais se empenhou pela criação da

EEDNSP foi o também sanitarista Plácido Barbosa, diretor do Serviço de

Tuberculose do DNSP. Para ele, a doença advinha de condições ambientais e,

portanto, a propagação de novos hábitos por estas enfermeiras de saúde pública

seria fundamental (Teixeira, 2012).

Um fato que influenciava esse pensamento era o fato de que os sanitaristas

do DNSP acompanhavam o movimento de saúde pública norte-americano,

especializando-se na Universidade John Hopkins (Baltimore-EUA) e tinham contato

com as enfermeiras de saúde pública e através desse contato surgiu a ideia de

implementar esta prática no Brasil, muito por responsabilidade dos médicos

sanitaristas da Inspetoria de Profilaxia a Tuberculose, como por exemplo JP

Fontenelle, considerado um dos grandes incentivadores desta profissionalização.

Ele organizou inicialmente o serviço de enfermeiras visitadoras, por não considerar

um serviço apropriado para médicos (Barreira, 1997).

Documento datado de 1925 demonstra a aproximação entre o DNSP e o IHB

com finalidade de profissionalizar (padronizar) a enfermagem no país. O IHB vinha

atuando no Brasil desde 1916, de modo a aprimorar os gastos públicos com saúde

e, consequentemente, o campo para a enfermagem estava em expansão, já que era

valorizado o trabalho de saúde pública (Moreira, 1999).

Os esforços brasileiros nesse sentido teriam começado em janeiro de 1921,

quando o Dr. Plácido Barbosa consultou o diretor-geral do IHB sobre a possibilidade

de instituir o serviço de enfermagem no Brasil, de forma organizada e oficial. É

importante ressaltar que já havia sido aprovado o programa de visitas de

enfermagem em conjunto com o trabalho nas clínicas do Departamento Nacional de

Saúde, sendo de responsabilidade do Departamento de Tuberculose o treinamento

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das visitadoras em seus dispensários. O ponto de vista de Barbosa — no combate à

tuberculose, o ambiente devia ser alvo de intervenção especializada — levava-o a

ser favorável à instituição de uma escola de enfermagem no Brasil, sem abrir mão

dos visitadores. Em janeiro de 1921, Wickliffe Rose enviou uma carta-convite a Ethel

Parsons5, então diretora do Bureau of Child Hygiene and Public Nursing da

Secretaria de Saúde do Texas, comunicando o interesse do governo brasileiro em

criar um centro de treinamento para enfermeiras visitadoras no Rio de Janeiro, em

conjunto com a Faculdade de Medicina. Com a volta de Plácido Barbosa dos

Estados Unidos seriam tomadas as providências relativas à dotação orçamentária

(Moreira, 1999).

Em maio de 1921, Carlos Chagas formalizou com o IHB a cooperação com

vistas ao desenvolvimento do serviço de enfermagem no país. Em julho do mesmo

ano, teve início a colaboração, com a nomeação de Ethel Parsons para organizar a

escola. Que depois de seu relatório6, constatou a inexistência de profissionais

treinadas e de escolas que oferecessem o mínimo de formação reconhecida

segundo os padrões anglo-saxônicos (Moreira, 1999; Ibanez et al, 2010).

O Decreto nº 15.799/1922, Artigo 3º, previa o funcionamento da EEDNSP

anexa ao Hospital Geral da Assistência, com a fundação da EEDNSP em 1923,

batizada em 1926 de Escola de Enfermeiras Dona Anna Nery (decreto 17.268/26).

Simbolicamente instituída, a escola padrão mantinha elementos da tradição

nightingaleana como a admissão de mulheres com rígido processo eletivo, porém,

deslocando o espaço de formação para fora do ambiente hospitalar. Por meio do

Decreto 16.300, de 31 de dezembro de 1923, aprovou-se o regulamento do

Departamento Nacional de Saúde Pública (Moreira, 1999; Carrijo, 2012).

5Ethel Parsons seria uma das protagonistas na fundação da EEDNSP, trazendo diversos valores, já instituídos a

enfermagem norte-americana, como a subordinação a médicos e o altruísmo. Mas em contrapartida não soube absorver as boas práticas e tradições da enfermagem que já existiam no Brasil. 6Relatório que, como seus defensores, não levou em consideração a cultura e costumes brasileiros,

segregando as visitadoras de saúde que já haviam comprovado seu bom trabalho e boa vontade, através de resultados positivos notados na saúde da população com seus serviços de prevenção a saúde, porém eram pessoas que não tinham o mesmo nível social de Miss Parsons.

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Art. 221. A fiscalização do exercício profissional dos médicos, pharmaceuticos, dentistas, parteiras, massagistas, enfermeiros e optometristas será exercida pelo Departamento de Saúde Pública, por intermédio da Inspetoria de Fiscalização do exercício da Medicina. (Carrijo, 2012. p. 78)

O modelo introduzido pela Fundação Rockefeller pretendia formar

Enfermeiras, agora excluindo o sexo masculino, com treinamento e controle

exercidos pelas enfermeiras norte-americanas. Surgia a perspectiva de uma carreira

construída por e para profissionais de enfermagem, ainda que com chancela

médica, à qual se tinha acesso por seleção e na qual se ascendia por mérito. Outro

marco da institucionalização da enfermagem nesse período foi criação do Serviço de

Enfermeiras do Departamento Nacional de Saúde Pública, unidade sobre a

superintendência da enfermeira-chefe Kieninger, que trouxe consigo dos Estados

Unidos outras sete enfermeiras de saúde pública para auxiliá-la.

Estas atuavam como professoras/supervisoras das enfermeiras visitadoras7

das divisões de Tuberculose, Doenças Contagiosas e Higiene Infantil, que dividia a

cidade do Rio de Janeiro, em cinco zonas, cada uma delas subdividida em distritos,

com um visitador(a) de saúde para cada distrito. Em cada zona, uma enfermeira

norte-americana ficou responsável pela Divisão de enfermagem, tendo sobre sua

direção dois grupos de visitadoras de saúde, para higiene infantil e tuberculose. As

visitadoras de saúde do Serviço de Doenças Venéreas trabalhavam

independentemente sobre supervisão, também de uma das enfermeiras norte-

americanas. Estas cuidavam do ensino, da organização, do aperfeiçoamento, das

visitadoras, respondendo por seu trabalho perante os diretores (médicos) dos outros

serviços. (Barreira, 1997; Moreira, 1999).

Sendo que o serviço de visitação domiciliar era visto como não apropriado

para os médicos, e não muito bem visto pela parte mais pobre da população

(Barreira, 1997). Abrindo oportunidade para uma nova profissão.

O trabalho diário de uma enfermeira de Saúde Pública era o de visitar famílias

onde houvesse doença, incapacidade física ou necessidades de conselhos para

7Enfermeiras visitadoras, era como eram conhecidas até então, pessoas selecionadas por médicos sanitaristas

para participação nas campanhas de saúde e higiene da época, e habilitadas através de curso de doze palestras, em sua maioria o grupo era composto, como grande parte de população, por pessoas não alfabetizadas e leigas, que transmitiam seus conhecimentos empíricos através de visitas domiciliares, e recebiam remuneração incondizente.

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prevenir doenças, cuidar de acamados, detectar defeitos físicos e doenças em seu

início; ensinar os membros da família ou até vizinhos a seguirem as determinações

médicas e as medidas de proteção; explicar o valor da boa higiene do meio e dos

princípios da boa alimentação; encaminhando os médicos aos doentes e os doentes

aos médicos (Barreira, 1997).

Dentre as diversas dificuldades iniciais ressaltadas nas próprias palavras da

enfermeira de Saúde Pública Ethel Parsons, enviada dos Estados Unidos pela

Fundação Rockfeller, estavam a falta de conhecimentos científicos e vocacionais do

grupo de “visiting nurses” (Barreira, 1997; Moreira, 1999). Grupo composto por 44

moças, selecionadas pelos próprios médicos sanitaristas do DNSP de acordo com

suas próprias preferências para a época, já desenvolviam visitas domiciliares com o

intuito de envolver a população nas medidas sanitária, necessárias para a vida em

aglomerados urbanos (Moreira, 1999).

Com o intuito de aprimorar a qualidade do serviço dessas 44 enfermeiras

visitadoras, foi instituído em caráter de emergência um curso de seis meses, que em

momento oportuno poderia ser oferecido para profissionais que tivessem bom

desenvolvimento e perfil para serem enfermeiras. Este curso conferia o título de

“visitadora de saúde”, termo surgido após a avaliação destas enfermeiras norte-

americanas, por estas não terem formação básica necessária para serem

designadas enfermeiras (Barreira, 1997).

Ethel Parsons, em seus relatórios, constatou que não havia, no país, escola

de enfermagem que apresentasse os padrões mínimos8 e, nem enfermeiras

treinadas nestes padrões, e que os hospitais, de modo geral, eram bem construídos,

mas viviam lotados, que os médicos eram interessados e conscienciosos, mas que a

enfermagem era feita por homens e mulheres ignorantes. E defendia a figura da

enfermeira de Saúde Pública, constituída por ela como pilar na luta sanitária

mundial, que ao ensinar o princípio da vida sadia aos indivíduos, obtendo a

colaboração das pessoas ao projeto sanitário e, traze-los no momento oportuno ao

8Os padrões mínimos mencionados referiam-se aos americanizados, ricos em valores característicos

da enfermagem nightingaleana, que se seriam fortemente incorporados a profissão brasileira.

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contato com os recursos médicos da coletividade, a enfermeira de Saúde Pública

provaria seu merecido valor (Barreira, 1997).

A partir das necessidades constatadas pelas enfermeiras norte-americanas

houve a idealização de uma escola de enfermagem do DNSP, com a participação e

colaboração dos Médicos Sanitaristas, que também ministravam aulas as

estudantes e por isso o currículo era composto por quatro quintos de assistência

hospitalar, pois a enfermeira seria a “mensageira da saúde”, “verdadeira instrutora

sanitária, que tratava e dava conforto ao doente com suas próprias mãos, pela

experiencia que adquiriu no hospital” (Barreira, 1997).

Com esta afirmação pode-se inferir que, a assistência domiciliar (Home-care)

já existia nos início da institucionalização da profissão, não desenhado como

conhecemos hoje, mais executado pelas mãos das enfermeiras de Saúde Pública,

que acumulavam mais esta função, visão também impregnada na formação dos

valores desta profissão, quando lemos os termos “dar conforto com suas próprias

mãos”.

Esta escola desenvolvia fortemente a ideologia de que a profissão deveria ser

praticada unicamente por mulheres, que encontrariam nela a oportunidade de

desenvolver a arte de cuidar da vida, esquecendo-se de si mesma, devendo ser

chamada de vida de devotamento, podendo ainda representar uma “emancipação

honrosa9 da mulher”(Barreira, 1997).

Em 1925, em carta endereçada a Fundação Rockfeller, Miss Parsons

demonstra a importância que dá a Escola de Enfermagem, quando as verbas são

restringidas e as atividades devem ser reduzidas; ela opta por dispensar 12

visitadoras, porém, as atividades na escola não deveriam sem afetadas e seriam

mantidas as visitas relacionadas às atividades pré-natais e as crianças menores de

dois anos. Esta decisão também foi influenciada pelo “crescente respeito e confiança

no serviço de enfermagem e, no futuro da profissão nas mentes do povo brasileiro”

(Barreira, 1997). Esta atitude também demonstra a importância do que viria a ser a

9A inserção de mulheres no mercado de trabalho, mesmo que limitada ao campo da enfermagem como uma emancipação honrosa da mulher, uma vez que a sociedade machista, da época, destinava à mulher a criação, higiene, cuidados e educação das crianças no lar, esse papel feminino pode se expandir aos meios institucionais do Estado moderno brasileiro e na iniciativa privada (Souza Campos, 2014).

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enfermagem obstétrica e pediátrica, especialidades desenhadas e estabelecidas

atualmente.

A construção da identidade de enfermeira foi estruturada no exercício de

violências raciais10 e institucionais. Critérios de recrutamento e seleção das

candidatas que procuravam evitar candidatas que carregassem estigmas, como

serem negras ou terem posturas que não fossem aceitas pela elite. O devotamento

ilimitado ao serviço e a obediência11 estrita às ordens eram condições para

permanência na escola de enfermagem da época ou no emprego (Villa et al, 1994;

Barreira, 1997).

Segundo Moreira (1999), as primeiras enfermeiras formadas em 1925 pela

EEDNSP iniciaram seu trabalho na área de saúde pública, porém aquelas formadas

posteriormente dedicaram-se ao trabalho hospitalar, como parte do processo de

modelização e expansão dos hospitais consoante a transição da economia

predominantemente agrária e exportadora para a urbano-industrial. As reformas,

realizadas durante o governo de Getúlio Vargas, incluíram a criação do Ministério da

Educação e da Saúde Pública, que remodelou os serviços sanitários do país

garantindo o seu controle, fortalecendo a centralização política e econômica.

(Galleguillos, Oliveira, 2001).

É interessante como os diferentes contextos sociais refletiram o

desenvolvimento das diferentes especializações da enfermagem, por exemplo, a

inserção da enfermagem em saúde coletiva, obstetrícia e Home-Care.

Na década de 1930, surge o primeiro decreto brasileiro com o propósito de

regulamentar o exercício da enfermagem, decreto 20.109, que vigorou até 1949.

Este instrumento buscava regulamentar a uniformização ou equiparação de

instituições de ensino de formação da profissão, oficializando o ensino da

enfermagem em nível superior e constituindo uma escola padrão nightgaleano.

Desta forma, determinou-se o controle do ensino às enfermeiras norte-americanas,

10 Padrões semelhantes de violência racial podem ser encontrados nas análises dos dados deste trabalho. 11 Padrões de obediência (Foucault, 1999) como os citados também são observados nas análises dos dados deste trabalho.

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da Escola de Enfermagem Anna Nery12 (EEAN), e consequentemente postulou-se o

termo “Enfermeira Padrão”(Carrijo, 2012).

Esta política, associada às exigências rígidas em relação ao processo de

admissão das alunas, condicionou as demais escolas brasileiras a funcionarem nos

moldes da EEAN, fechando inúmeras outras escolas e impossibilitando que outras

abrissem seus cursos, o que consequentemente, restringiu o contingente de

enfermeiras brasileiras, abrindo espaço para a formação de auxiliares e atendentes

de enfermagem para suprir as necessidades (Carrijo, 2012).

Precisamente em 05 de setembro de 1939 a Escola de Enfermeiras Católicas

Luiza de Marillac foi fundada no Rio de Janeiro, com a finalidade de formar

enfermeiras irmãs de caridade. No embate de poder entre o estado e clero, o poder

dos religiosos novamente é reforçado no país atribuindo-se direitos iguais aos das

enfermeiras de saúde pública às irmãs com prática em enfermagem e farmácia

(Oguisso e Freitas, 2014).

Nos anos 1940, com a 2ª grande guerra (1939-1945), houve um novo

estreitamento das relações entre os governos de Getúlio Vargas e o norte-

americano, principalmente, através da Fundação Rockefeller, que tinha interesses

em melhorar as condições sanitárias do Brasil e viabilizar seus investimentos na

mão de obra nacional. Esta relação culminou na formação do Instituto de Assuntos

Interamericanos, tendo como uma de suas iniciativas fornecer bolsas de estudos

para formação de profissionais de saúde (Carrijo, 2012; Ferreira, 2006).

No período de 1942 a primeira escola de enfermeiros da história do Brasil

passa para responsabilidade do Ministério da Saúde e fundem-se as seções mista e

feminina. O regulamento da escola é aprovado pelo Decreto 40.472, atendendo às

exigências da época e modificando totalmente os objetivos da escola. Que até então

era dirigida sempre por médicos passa a ser dirigida pela enfermeira Maria de

Castro Pamphiro uma das pioneiras13 que ficaria no cargo até 1956 (Moreira, 2010).

12 Tendo a brasileira Ana Justina Ferreira Néri se destacado pelo seu cuidado aos soldados feridos durante a Guerra do Paraguai. Por sua dedicação e incansável assistência dispensada aos soldados, ao final da guerra foi condecorada pelo Governo Brasileiro (Cardoso, Miranda, 1999). 13 Pioneiras – título concedido às primeiras enfermeiras formadas no Brasil pela Escola de Enfermagem Anna Neri, em 1925, sob os moldes americanizados e financiadas pela Fundação

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Na EEAP havia, em 1943, uma turma de especialização em enfermagem em

psiquiatria, que formou 8 enfermeiros com o título, sendo 3 do sexo masculino:

Aderbal Dourato Mattos, Alceu Pereira de Andrade e Francisco Xavier de

Albuquerque. Demonstrando também alguns dos pioneiros da enfermagem

masculina, renegada pela história, dificultando a identificação de jovens da época

com a profissão. Em 18 de outubro do ano seguinte foi fundada a Escola de

Enfermagem Raquel Hadook Lobo14, que passaria a integrar a Universidade Federal

do Rio de Janeiro, e também foi fundada a Escola de Enfermagem da Universidade

Federal Fluminense (Moreira, 2010).

Nesse período, a Fundação Rockeffeler continuava influenciando a formação

da identidade profissional da enfermagem, quando, em 02 de novembro de 1947,

finalmente entrega o novo prédio da Faculdade de Enfermagem de São Paulo15,

com o que havia de mais moderno para os padrões educacionais da época, próxima

ao futuro hospital de clínicas, maior campo de estágios médico, embora neste

momento a enfermagem tivesse seu potencial mais voltado à saúde pública uma vez

que era a maior necessidade da época (Souza Campos, Oguisso, 2014).

O poder de influência política da Fundação Rockefeller se estendeu graças ao

apoio mantido através de investimentos nesta Escola de Enfermagem de São Paulo,

que tinha como objetivo político formar profissionais dentro dos padrões anglo-

saxões de enfermagem e perpetuar seu modus sobre outras escolas do país,

servindo de influência para estados como Amazonas, Pernambuco e também outros

programas já existentes como no Rio de Janeiro (Souza Campos, Oguisso, 2014).

Este processo técnico e político da enfermagem asseguraram definitivamente

o lugar da enfermagem na universidade adquirindo novo status, principalmente após

a “reunião de Campos do Jordão” de Adhemar de Barros e representantes

internacionais da Fundação Rockefeller e o Diretor do Conselho Sanitário

Internacional, onde foram estabelecidos os meios para este fim como o abandono do

Rockefeller, tendo sido posteriormente posicionadas estrategicamente a frente cargos influentes (Souza Campos, Oguisso, 2014). 14 Primeira brasileira a assumir a direção da EEAN em 1931. (Oguisso, Freitas, 2014). 15 São Paulo, no final da década de 40, começa a ser reconhecida como capital econômica do país, provavelmente por isso a Fundação Rockefeller volta seus olhos para ela dando continuidade em seus planos de profissionalização da enfermagem dentro dos moldes americanizados.

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licenciamento de enfermeiras práticas e a criação de escolas com padrões como

residência para as alunas. Ainda assim, para a manutenção da imagem da

enfermeira perfeita permaneceu a exigência de que as candidatas deveriam ser

solteiras e viúvas, esquecendo-se dos enfermeiros como de costume para o novo

padrão da profissão baseado nos modelo anglo-saxão a fim de construírem uma

profissão que transmitisse ideais de sucesso e perfeição para atrair mulheres de

classes sociais mais abastadas (Souza Campos e Oguisso, 2014).

Os estereótipos da enfermagem nightgaleana, encontraram algumas

resistências para serem instituídos, pois outros padrões de enfermagem já haviam

sido implementados no Brasil, como o modelo francês legitimado na tradição de

enfermagem masculina da escola de Enfermeiros e Enfermeiras Alfredo Pinto, uma

das mais antigas escolas de enfermagem do país e, que formava profissionais em

maior escala.

Já a escola do hospital Samaritano de São Paulo formava profissionais em

menor número, dentro dos moldes nightingaleanos, cujas alunas dominassem a

língua inglesa não levando em consideração a tradição de cuidado da população

brasileira.

O modelo nightgaleano, escolhido para dominação do modo de trabalho da

enfermagem, foi fundamental para o desenvolvimento da profissão como a

conhecemos hoje, com grande desenvolvimento cientifico e universitário porem este

modelo desfavoreceu grandemente a aceitação masculina na profissão e serviu de

terreno fértil para segregação racial dominante no período pós 1940, onde a

realidade social era marcada pela marginalização do negro, mesmo sendo aceitas

mulheres no mercado de trabalho em alguns altos cargos com principal exemplo a

pioneira das pioneiras Edith Fraenkel ainda assim as mulheres negras e homens na

enfermagem permaneciam reduzidos a alguns poucos, e no caso das mulheres

negras talvez até mais discriminadas por terem que demostrar uma capacidade

muito maior para conseguir o mesmo acesso a direitos de moças brancas ao

ingresso em cursos de enfermagem de alto padrão. (Souza Campos e Oguisso,

2014)

Edith Fraenkel teve sua carreira na enfermagem iniciada no curso de

primeiros socorros da cruz vermelha brasileira onde foi cedido o título de socio

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honorário da instituição fornecendo a oportunidade de fazer o curso de visitadoras

do serviço de tuberculose sendo ao término contratada para o mesmo serviço.

Em 1922 estimulada por Ethel Parsons através de uma bolsa de estudos

fornecida pela Fundação Rockefeller ingressou na Escola de Enfermagem do

Hospital Geral da Filadélfia sendo a primeira enfermeira brasileira graduar-se no

curso de três anos completos o que conferiria a ela o título de pioneira das pioneiras,

como estudante exemplar e tendo seu histórico acompanhado por Ethel Parsons

após formada e tendo algum período de vivencia em escolas de enfermagem nos

Estados Unidos retornou ao Brasil para ser a única e primeira a exercer o magistério

de enfermagem permaneceu na função até 1927 quando a primeira turma de

enfermeiras foi formada no Brasil as pioneiras que foram escolhidas para substituir

as professoras de enfermagem do curso brasileiro de padrões nightgaleano (Souza

Campos e Oguisso, 2014).

E Edith Fraenkel retornou ao DNSP como enfermeira-chefe passando a

substituir sua incentivadora Ethel Parsons no cargo de superintendente-geral do

serviço de enfermagem quando a mesma retornou ao seu país natal. Em 1939

passou a superintendente do Serviço de Enfermagem do Ministério da Educação e

Saúde sendo convidada para a direção da Escola de Enfermagem de São Paulo,

permanecendo na função de 1941 a 1955, atuando concomitantemente na

articulação política profissional através da educação na Escola de Enfermagem e na

organização social da profissão a frente da Associação Brasileira de Enfermeiras

Diplomadas (ABED) que daria início a atual Associação Brasileira de Enfermeiros

(ABEN) (Revista Brasileira de Enfermagem, 2002).

Três conjunturas políticas chamam atenção para a ligação da enfermagem

com a educação e aconteceram simultaneamente durante o período de formulação

(americanização) da profissão no Brasil: primeiro a exigência de formação em

educação formal ou magistério com formação básica necessária para o ingresso no

curso universitário em enfermagem fornecido pela Escola de Enfermagem de São

Paulo e segundo o governo do estado de São Paulo concedia o afastamento, sem

vencimentos, para professoras primarias ingressarem na Escola de Enfermagem

(Carrijo, 2012) e terceiro a unicidade do Mistério da Educação e Saúde em único

ministério reforçando a ligação das duas áreas. Padrão de ligação que se repete até

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os dias atuais uma vez que enfermeiros de grande destaque e prestígio ocupam

cargos também no ensino e educação em enfermagem.

Sobre o Serviço Especial de Saúde Pública (SESP) registros evidenciam

posições estratégicas ocupadas por alunas da Escola de Enfermagem de São Paulo

indicando cargos de destaque a ex-bolsistas do Programa de Enfermagem da

SESP, como professoras de universidades e altos cargos na administração pública

de saúde, o que favoreceu a modificação da identidade profissional da enfermagem

no país (Souza Campos e Oguisso, 2014).

As candidatas a Escola de Enfermagem de São Paulo, em suas cartas de

admissão tinham discursos carregados de representações da enfermagem,

relacionados com a abnegação de interesses pessoais pela profissão, no período

anterior a 1947, e nos relatos posteriores a este período, demonstravam ideais

direcionados a gestão e administração dos cuidados e da educação em

enfermagem, tendo em pauta reivindicações a melhores condições sociais e

econômicas das enfermeiras graduadas (Souza Campos e Oguisso, 2014).

Também em 1947, aconteceu o Primeiro Congresso Nacional de

Enfermagem, organizado pela principal figura de liderança da enfermagem

brasileira, da época, Edith Fraenkel que certamente foi utilizada como exemplo por

diversas enfermeiras, principalmente as formadas na Escola de Enfermagem de São

Paulo, onde era na maioria das vezes homenageada por suas formandas. Sua

trajetória de vida foi marcada por sucesso, diferente da maioria das mulheres deste

período, assumindo diversos cargos de destaque na saúde e educação do país.

(Revista Brasileira de Enfermagem, 2002).

A reformulação do currículo do curso de enfermagem aconteceu através da

Lei nº. 775/1949, que carregava influências do Guide for School of Nursing, como a

exigência da conclusão do curso colegial e influências também no modelo

biomédico, iniciado com as novas tecnologias no hospital. Tratou-se de um modelo

tradicional de ensino que trazia algumas atualizações para o cenário profissional,

como o reconhecimento da categoria auxiliar de enfermagem, determinando 18

meses para sua formação e nova divisão técnica do trabalho (Carrijo, 2012).

Para ratificar as contingências descritas acima a enfermeira Wanda de Aguiar

Horta, a partir de 1951, começa a constituir um referencial próprio da enfermagem

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sendo sistematizadas, a partir das primeiras teorias da área, com o propósito foi de

fundamentar os cuidados de enfermagem e tornar possível a autonomia e

independência na sua atuação junto ao paciente. Esta que foi uma das protagonistas

da profissão, afirmou que a enfermagem não poderia sobreviver como ciência sem

uma filosofia própria: esta profissão necessitava de ser enfermeiro, ser paciente e

ser enfermagem. Com isso, Horta desenvolveu a Teoria das Necessidades

Humanas Básicas, tendo como objeto principal o ser humano, visando o bem-estar

do paciente em todo o ciclo vital e de recuperação (Gonçalves, 1988).

Outras brilhantes enfermeiras como Lygia das Dôres Matta, Josephina de

Mello e Maria de Lourdes Almeida tiveram que venceram o duplo preconceito em

1950, primeiro por serem mulheres buscando defender seus ideais de emancipação

em uma sociedade machista, e segundo por serem pretas, pardas ou não se

enquadrarem nos “padrões” estéticos da época.

Lidya das Dôres Matta, que se identificava como parda e tinha uma origem

nas classes sociais pobres, diferente de suas colegas da segunda turma de

enfermeiras da Escola de Enfermagem de São Paulo (EESP), teve sua história de

vida marcada pela excelência como havia de ser às pessoas não brancas que

quisessem conquistar seus objetivos. Devido ao reconhecido destaque conquistado

em seus trabalhos como docente no Estado do Pará, Lygia assumiria em 1956 a

direção da EEAP, assegurada por decreto assinado pelo Presidente da República e

com o desafio de revitalizar a escola que passava por uma crise financeira e

estrutural (Souza Campos e Oguisso, 2014).

Maria de Lourdes Almeida, outra bolsista da EESP, jovem culta, humilde,

paraense, preta e filha de casamento desfeito, atuou como consultora, orientado e

supervisionando estágios na Universidade de São Paulo, recebendo o prêmio de

melhor aluna da turma de 1948, de Edith Fraenkel, foi supervisora do Serviço

Especial de Saúde de Araraquara como parte do programa de desenvolvimento pela

Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, atuando como

professora da Escola Paulista de Enfermagem em 1959, concorreu ao prêmio da

ABEn de enfermeira do ano de 1972 (Souza Campos, Oguisso, 2013).

Josephina de Mello tinha história de vida semelhante a outras bolsistas EESP

não brancas, exceto por sua elevada posição social em Manaus, sua cidade natal,

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de educação bilíngue atributos que lhe davam uma postura altiva, teve sua trajetória

de sucesso com destacado prestigio sendo provedora da Santa Casa de

Misericórdia e vice-presidente da Associação das Misericórdias do Brasil, membro

efetivo da ABEN, recebendo o prêmio de enfermeira do ano de 1969, e a medalha

de Mérito Oswaldo Cruz em 1978, do Presidente da República Geilsel por relevantes

serviços a nação Brasileira foram alguns dos êxitos desta enfermeira (Souza

Campos, Oguisso, 2013).

Lygia das Dôres Matta, Josephina de Mello e Maria de Lourdes Almeida

ilustram a história de tantas outras enfermeiras negras brasileiras que sofreram e

ainda sofrem cotidianamente com a violência racial e outras intolerâncias. Outras

enfermeiras negras da história paulista militaram no período pré-profissional, durante

a revolução constitucionalista de 1932, como Maria José de Barros e Maria Benedita

Julia, que ficaram conhecidas como enfermeiras da Legião Negra, acompanhadas

por dezenas indicadas como oficiais e enfermeiras da Legião Negra, a mais celebre

denominada Maria Soldado “mulher símbolo de 32” chegaram a ser responsáveis

pelo avanço ou recuada de tropas desta revolução (Oguisso, Löw, 2014).

O momento político de 1950 foi caracterizado pela entrada de capital externo

no país e o planejamento da Comissão Econômica Para América Latina (CEPAL),

sendo um de seus objetivos o reordenamento e planificação da saúde nas Américas,

mas que era determinada como pré-requisito para obtenção de empréstimos do

Fundo Monetário Internacional (Gallegullos e Oliveira, 2001).

Em setembro de 1955 a enfermagem passa a ser considerada profissão no

Brasil, tendo seu exercício profissional regulamentado no país através da Lei 2.604

(Brasil, 1955). E a Lei 2.822/56 que formaliza os registros de diplomas de

enfermeiros expedidos até o ano de 1950 (Moreira, 2010).

A década de 1970 foi marcada pela institucionalização de agentes sanitaristas

da enfermagem na Secretária de Estado da Saúde de São Paulo (SES-SP)

causando forte mudança no processo de trabalho do enfermeiro a partir da criação

do Serviço de Enfermagem na Coordenadoria de Saúde da Comunidade,

responsável pela coordenação dos centros de saúde. A enfermeira passa a

implementadora de políticas públicas de saúde num movimento que se intensifica

em 1976 com a criação de uma nova fase nas práticas sanitárias com a criação de

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programas de saúde que amplia diversidade da assistência coletiva e individual

(Villa et al, 1994).

O surgimento da sistematização das ações de enfermagem (SAE) como

forma de organizar o trabalho viabilizará os treinamentos dos agentes menos

qualificados para cumprir etapas do trabalho prescritas, a implantação de maior rigor

na divisão técnica do trabalho, diversidade entre os vários agentes legitimando a

hierarquia e a disciplina, possibilitando o controle social através do processo de

trabalho (Villa et al, 1994).

O caráter gerencial que a enfermagem assume causou certa contradição

entre o enfermeiro preparado para cuidar diretamente de enfermos que passa a

ocupar lugar de controle na produção de serviços de saúde e coordenar equipe de

enfermagem, sobrando pouco tempo para a assistência direta (Villa et al, 1994).

Dentro do modelo de programa de saúde o trabalho do enfermeiro passa a

funcionar em sistema de linha de produção padronizado, articulado e integrado para

serem mais eficientes e reduzirem a morbidade-mortalidade de grupos populacionais

(Villa, 1994).

Já o ensino da enfermagem nesse período também passaria por duas

mudanças curriculares. Primeiramente o Conselho Federal de Educação fixou o

primeiro Currículo Mínimo em 1962 e determinou a disciplina Enfermagem em

Saúde Pública como não obrigatória. Em 1972, uma nova reformulação curricular

criou três habilitações optativas (Saúde Pública, Obstetrícia e Médico-Cirúrgico) e

manteve a disciplina enfermagem em saúde pública como não obrigatória,

privilegiando o modelo biologista, adotado desde a institucionalização da

Enfermagem no Brasil (Galleguillos, Oliveira, 2001).

Na política em 1970 tivemos os anos de maior rigidez da ditatura militar no

Brasil, nos anos do governo Medici, onde exílios, prisões, assassinatos e torturas

foram frequentes embora esses dados tenham sido maquiados pelas grandes

emissoras de rádio e televisão da época, com os veículos de comunicação

manipulados pelos sensores e apoiadores da ditadura surgiu à notícia do milagre

financeiro no país (Ibanez, Marsiglia, 2000).

Diante da crise e da inadequação do sistema de saúde, evidenciadas pela

epidemia de meningite em 1975, e também como resultado da 5º Conferência

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Nacional de Saúde, foi aprovada a lei do Sistema Nacional de Saúde (6229/1975), a

qual permitiu a formulação de propostas que buscavam modelos alternativos de

organização dos serviços de saúde:

A Reforma Sanitária teve origem na década de 70, motivada pelos esforços e propostas de vários movimentos nos aspectos básicos: universalização, equidade, integralidade, resolutividade dos problemas de saúde mediante ações de descentralização e controle social, dentro de um processo participativo” (Galleguillos, Oliveira 2001, p.470).

Em um período em que eram combatidas as ideias democráticas e ideais

comunistas e socialistas aconteceu à constituição do Sistema Nacional de Saúde

(SNS), apoiado pela Conferencia de Alma Ata, em 1978, que preconizava a saúde

para todos até 2000, através da atenção básica, movimento que se tornaria

hegemônico após a formação do Sistema Único de Saúde (SUS) (Ibanez, Marsiglia,

2000; Ibanez et al, 2010).

Enquanto isso os congressos brasileiros de enfermagem, já bem organizados

e representativos, se ocupavam de temas como ensino e pesquisa em 1977, o SNS

em 1978 e desafios da enfermagem brasileira em 1979, temas que demonstram o

engajamento da profissão e a efervescência de ideias democráticas (Scoeller, 2010).

A década de 1980 caracterizou-se pela luta por redemocratização e eleições

gerais e diretas, trazendo questões que a ditadura não permitia. A 7º Conferência de

Saúde tratava de temas como a Extensão das ações de saúde através dos serviços

básicos e sua 8º edição foi dedicada aos fundamentos da Reforma do Sistema

Nacional de Saúde e financiamento setorial (Ibanez, Marsiglia, 2000). No panorama

profissional da enfermagem em 1986, houve a eleição do Movimento Participação

para a ABEN, que traria retrocessos com relação ao controle do ensino por

organizações de enfermagem e redução dos incentivos a pesquisa por parte da

associação, mas que traria maior participação social e visibilidade política para

categoria (Scoeller, 2010).

A organização do trabalho em saúde é constituída por rígida hierarquia, rotina

e carga horária de trabalho. E ainda neste contexto, o trabalho da enfermagem

configura-se em divisões técnicas e sociais, em que o trabalho passa a ser

desenvolvido em graus de formação diferenciados: Enfermeiro, Técnicos de

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Enfermagem e Auxiliar de Enfermagem. Cabendo ao Enfermeiro o papel de detentor

do saber e controlador do processo de trabalho em enfermagem e aos demais

trabalhadores da equipe, o papel de executores de tarefas delegadas (Lima, 2014).

Também em 1986 a Lei 7.498 regulamentou as atividades privativas do

Enfermeiro, as realizadas por Técnicos e Auxiliares de Enfermagem e parteira

determinando responsabilidades a cada um deles e estabelecendo prazo para

extinção de Atendentes de Enfermagem (Scoeller, 2010). Em 1988 os ideais

democráticos talvez atingiriam seu auge com a nova constituição que determinou a

saúde como direito de todos e dever do Estado e como continuidade deste

movimento, em 1990, a Lei 8.080 que institui o SUS e Lei 8.142 que versa sobre a

participação social das comunidades (Ibanez, Marsiglia, 2007).

Participação social esta que colocaria o usuário como protagonista dos

serviços de saúde expressando seus desejos, vontades e manifestando suas

insatisfações, acontecimento que nunca mais seria retrocedido e sim continuaria

avançado na luta pelos diretos dos usuários/pacientes, o profissional da saúde antes

detentor de todo o conhecimento e o paciente como sujeito passivo de seus

cuidados.

Desde os anos 1990 o Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) vem

aumentando exponencialmente o número de resoluções ressaltando que em 2001

foi criado o código de ética dos profissionais da enfermagem. O COFEN continuaria

ganhando poder e prestígio até 1996, quando denúncias de corrupção e desvio de

verbas do então presidente Gilberto Linhares vieram a tona, culminando nas mortes

dos enfermeiros Guaraci, Marcos Otavio Valadão, presidente da ABEN seção Rio de

Janeiro e Edma Valadão, sua esposa e presidente do Sindicato dos Enfermeiros do

Rio de Janeiro, participantes das denúncias de irregularidades no COFEN (Scoeller,

2010).

Estes e outros acontecimentos levariam o fortalecimento dos Concelhos

Regionais de Enfermagem (COREN) em detrimento do desprestigio político do

COFEN.

A partir de 1992, uma das escolas médicas mais tradicionais do Brasil, a

Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP),

começou a mobilizar o preparo de novos cursos de graduação, entre eles o de

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enfermagem, que iniciou seu projeto em 1999 sendo autorizado pelo Concelho

Nacional de Educação pela portaria 2.146/2000 em 22 de dezembro do mesmo ano

(Costa, 2013).

O segundo curso da FCMSCSP, mantido pela Fundação Arnaldo Vieira de

Carvalho (FAVC), fundação tão antiga quanto a própria FCMSCSP, pois iniciaram

suas atividades juntas no ano 1962 e funcionam uma em função da outra, com seu

primeiro diretor o Prof. Dr. Emilio Athie (Marsiglia, 2013).Tendo o seu curso de

enfermagem disponível, suas atividades práticas ocorriam no Complexo Hospitalar

da Irmandade de Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Embora o curso de

enfermagem seja relativamente novo se comparado a alguns dos mais antigos,

iniciado precisamente em 26 de março de 2001, formando sua primeira turma em

dezembro de 2004 com apenas 12 enfermeiros, tem suas origens mais profundas na

Escola de Enfermagem São José importante centro formador fundado em 1980

(Costa, 2013).

O curso de Enfermagem da FCMSCSP visa à habilitação do profissional em

todos os níveis da atenção à saúde, portanto tem formação generalista e holística,

visando suas atividades na saúde coletiva, assistência hospitalar e fomenta a

carreira de docência e pesquisa (Costa, 2013). Podemos observar, portanto, muitos

valores adotados pelas primeiras instituições de formação como EEAN e EEUSP.

Costa (2013) revela que 19,5%, em média, dos alunos formados na primeira,

segunda e terceira turmas consideravam-se negros. A faculdade conta também com

um Grupo de Pesquisa em Recursos Humanos que acompanhou as políticas de

ações afirmativas de sua própria instituição, observando os reflexos positivos destas

políticas, nos mostrando que alguns preconceitos podem ser enfrentados com

políticas bem elaboradas e monitoradas.

A questão da formação profissional tem sido observada atualmente por

associações profissionais, como o Conselho Regional de Enfermagem do Estado de

São Paulo (COREN/SP) e um dos aspectos destacados tem sido a violência contra

os profissionais da enfermagem nos ambientes de trabalho.

Em 09 de dezembro de 2015, a então presidente do COREN/SP Fabiola

Mattozinho lança dados alarmantes sobre o estado da violência contra os

profissionais da enfermagem que, segundo sondagem realizada com 4.293

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profissionais, demonstrou que 77 % da categoria sofreram violência. Destes, 85%

são mulheres (COREN/SP, 2015).

Em 11 de abril de 2016, o COREN/SP realiza campanha para redução da

violência no ambiente de trabalho com panfletagens em hospitais e serviços de

saúde, tentando sensibilizar a população sobre os malefícios da assistência de

enfermagem em um ambiente de violência. Esta campanha acontece juntamente

com o CREMESP – Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo,

quando lançam dados preocupantes segundo pesquisa: 77% dos profissionais da

enfermagem relatam ter sido vítimas de atos violentos (CREMESP, 2016)

Com o slogan “Violência não resolve” e os dizeres “quando um profissional de

saúde é agredido, quem perde é você”, o Coren ilustrou algumas situações pelas

quais os profissionais passam durante o seu cotidiano e lançou a campanha para as

redes sociais com a #violencianaoresolve para atingir maior público. Conforme

imagem ilustrativa.

Figura 2 - Folder do COREN/SP contra violência na enfermagem.

Fonte: Retirado de matéria da Rede Globo, 2016.

A campanha teve bom resultado a ponto de ser noticiada na rede globo em

diversos telejornais da emissora e também na internet no portal do G1. A então

presidente do conselho comenta de acordo com reportagem:

“A presidente do Coren-SP, Fabíola de Campos Braga Mattozinho, afirmou à reportagem que criação do grupo de trabalho visa atender uma demanda necessária por conta da ocorrência de casos de violência contra os profissionais da saúde e a alta exposição dessas situações. “O objetivo é

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mapear os casos a fim de minimizar quaisquer tipos de agressão, trabalhar o fluxo e criar protocolos de atendimento a estes profissionais, além de entender as razões para a intolerância. Não se pode tolerar este quadro na saúde” (Globo, 2016).

Em 15 de março de 2017, o COREN/SP e o CREMESP realizam ato público

para o fim da violência contra profissionais e apontam possíveis causas da violência

no ambiente de trabalho e propõem abordagem para que os profissionais lidem

melhor com essas circunstâncias (COREN/SP, 2017).

Em setembro lançam dados mais alarmantes ainda: 64,9% dos profissionais

de enfermagem não registraram qualquer tipo de denúncia em virtude do descrédito

nas instituições, dando também a ideia de que além da violência ser frequente é

recorrente a causa de danos morais a pessoa como o descrédito a instituição que

trabalha (COREN/SP, 2017). Mostrando que o panorama da violência profissional é

ainda pior que o imaginável.

Encerrando o ato com uma manifestação que foi a soltura de balões brancos

sobre a Avenida Rebouças área de grande circulação em São Paulo para

aumentarem a visibilidade do evento. Conforme imagem:

Figura 3 - Foto da campanha contra violência na Enfermagem.

Fonte: COREN/SP, 2017

Já em 18 de setembro de 2018, o COREN/SP une forças com os CRF/SP –

Conselho regional de Farmácia de São Paulo e seu já parceiro CREMESP e lançam

a campanha “Quem cuida merece respeito”. Nesse folheto vemos que a atual

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presidente do COREN/SP, Renata Pietro, busca novas parcerias envolvendo o

CRF/SP na campanha e modifica os dizeres da campanha acrescentando: “Pare.

Pense. Respeite” e um site para o tema que disponibiliza dados estatísticos da

incidência de violência contra os profissionais que revela que na maioria das

situações a enfermagem sofre mais violência que as outras profissões comparadas

(COREN/SP, 2018).

Figura 4 - Folder de campanha do COREN/SP, CREMESP e CRF/SP contra violência na enfermagem.

Fonte: COREN/SP; 2018b.

A rede globo de televisão acompanhou evento de divulgação desses dados e

noticiou em rede municipal de São Paulo pelo SP1, em 18 de setembro de 2018, os

dados da pesquisa acima citada e, embora destaque a maior incidência da violência

entre os profissionais da enfermagem, escolhe o presidente do CREMESP para falar

sobre o tema. Demonstrando que a opinião da imprensa levou em maior

consideração o saber médico que o da enfermagem demonstrando descredito a

categoria.

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A presidente do COREN/SP em 08 outubro de 2018 se reúne com o então

secretário estadual de segurança pública, Mágino Alves, para lhe apresentar os

dados da pesquisa, Renata Pietro então afirma que os caminhos para redução da

violência contra o profissional da enfermagem seria a conscientização da sociedade,

incentivar as vítimas a denúncia e ingressar com assistência de acusação nos

processos que envolvam agressões aos profissionais de enfermagem, para que

todos saibam que há repressão (COREN/SP, 2018b).

Nota-se a preocupação com relação aos cursos de enfermagem atualmente,

independentemente de suas histórias, uma valorização bastante grande do conceito

obtido por estes no MEC, o que evidencia a possibilidade de escolha da instituição

pelo aluno, revelando certa concorrência entres os cursos de enfermagem.

Notamos que as movimentações dos grupos políticos e sociais da

enfermagem, e de fora dela, interferem sobre a formação da identidade profissional

e do etos institucional e profissional, fornecendo campos para o crescimento e

desenvolvimento de ideologias que moldam comportamentos que incidem sobre os

sujeitos (enfermeiros).

Mostrando o valor deste estudo histórico para a compreensão dos valores e

ideologias constituídas atualmente na enfermagem, embora não consideremos o

tema esgotado em suas possibilidades de debate, consideramos satisfatórios para

nosso intento a compreensão dos constituintes históricos da imagem profissional do

enfermeiro em São Paulo.

1.2 O Conceito de Violência

O vocábulo violência deriva do latim, violentia, que nos direciona ao termo vis

(emprego de força ou vigor). A força se torna violência quando irrompe em carga

negativa, causando sofrimento em quem recebe, mas apenas é caraterizada como

negativa quando a cultura, em que o indivíduo se insere, reconhece o ato como

realmente causador de dano (Silva, 2011).

De modo mais genérico, poderíamos utilizar o conceito de violência para fazer

referência a qualquer mecanismo de imposição unilateral, isso é, resistida da

vontade em um determinado conflito, que recorra a meios que se imponham sobre

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ameaça de prejudicar ou a forçar o consentimento do outro (Noel, 2008). Assim, em

termos gerais atos de violência consistem em ações humanas sejam individuais, de

grupos, de classes, de nações, que ocasionam a morte de seres humanos ou,

afetam sua integridade e sua saúde física, moral, mental ou espiritual (Brasil, 2001).

Em 2002, a Organização Mundial da Saúde se pronunciou em relação à

violência de forma mais contundente do que a que vinha adotando até então,

quando apenas classificava os efeitos desse fenômeno ou realizava análises e fazia

recomendações esporádicas sobre o assunto. Para isso, divulgou o Relatório

mundial sobre violência e saúde, no qual define o problema como:

“... uso intencional da força física ou do poder real, ou em ameaça, contra si

próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma comunidade, que

resulte ou, tenha qualquer possibilidade de resultar em lesão, morte, dano

psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação” (Krug et al, 2002:

pag 2).

Por ser um fenômeno complexo e multicausal que atinge as pessoas e as

afeta emocionalmente e/ou fisicamente para compreendê-la é importante distinguir

violência de agressividade. A agressividade é um impulso nato, essencial à

sobrevivência, à defesa e à adaptação dos seres humanos; constitui-se como

elemento protetor que possibilita a construção do espaço interior do indivíduo,

promovendo a diferenciação entre o eu e o outro. Portanto, a agressividade, ao

contrário da violência, inscreve-se no próprio processo de constituição da

subjetividade. A transformação da agressividade em violência é processo social e

psicossocial, para o qual contribuem as circunstâncias, o ambiente cultural, e as

relações comunitárias (Arendt, 2013; Minayo, 2005).

A noção de violência está atrelada ao padrão cultural de determinada

sociedade. À medida que comportamentos individuais e sociais se modificam o

senso moral pode ser alterado, haja vista coisas aceitáveis no passado que não são

permitidas atualmente. Portanto, o conceito de violência pode se modificar na

medida em que a noção de moral, valores, normas e regras de socialização se

modificam, estando associados (Zucal e Noel, 2010).

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Deve ser levado em consideração que, em grupos ou, até mesmo, categorias

profissionais, o senso de moral e noções de violência, podem ser diferentes. Como

também, podem se modificar a frequência e intensidade dos episódios,

acompanhando o conjunto de relações sociais como classe, cultura, subculturas e

localidade. (Zucal e Noel, 2010).

A violência de anos atrás, não é a mesma vivenciada hoje (Minayo, 2005) e,

provavelmente, não será a mesma amanhã, embora existam formas que persistem

ao longo do tempo e, possivelmente, são aquelas já naturalizadas, que não

conseguimos perceber, pois estão completamente impregnadas na construção e

constituição dos indivíduos e instituições. Essa constatação ao invés de minimizar a

questão, amplia a necessidade de precisão conceitual.

1.2.1 Tipologia e Classificação da Violência

Em seu artigo sobre conceitos, teorias e tipologias de violência, Minayo (2005;

2009), discorre sobre os tipos de manifestações que provocam sérias

consequências para a vida pessoal e social, citando a violência criminal, violência

estrutural, violência institucional, violência interpessoal, violência intrafamiliar,

violência auto-infligida, violência cultural, violência de gênero, violência racial e

violência contra pessoas deficientes.

Violência Criminal é praticada por meio de agressão grave às pessoas, por

atendado à sua vida e aos seus bens e constitui objeto de prevenção e repressão

por parte das forças de segurança pública.

Violência Estrutural ocorre nas formas de manutenção das desigualdades

sociais, culturais, de gênero, etárias e étnicas, que produzem as várias formas de

submissão e exploração de umas pessoas pelas outras.

Violência Institucional se realiza dentro das instituições, sobretudo por meio

de suas regras, normas de funcionamento e relações burocráticas e políticas,

reproduzindo as estruturas sociais injustas.

Violência Interpessoal se dá, principalmente, na relação e na comunicação.

Quando essa interação ocorre com prepotência, intimidação, discriminação, raiva,

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vingança e inveja, costuma produzir danos morais, psicológicos e físicos, inclusive

morte. Devemos distinguir entre conflito e violência.

“Violência entre pares” é em geral qualquer comportamento agressivo que

traga como finalidade gozar do consentimento do outro, no contexto de um conflito,

com o objetivo de vingar-se, divertir-se, construir fronteiras inter e intragrupais ou,

para construir prestigio (Noel, 2008).

A definição de Violência Psicológica, em contrapartida, depende de uma

imputação: como não vemos o dano, devemos inferi-lo, e esta inferência implica em

acolher o relato da vítima ou de um testemunho. Existirá, portanto, uma assimetria

epistemológica básica entre o dano físico e psicológico, o primeiro é visível, e o

segundo não (Zucal e Noel, 2010).

A violência intrafamiliar, também conhecida como violência doméstica, a

qual se refere aos conflitos familiares transformados em intolerância, abusos e

opressão (Minayo, 2009).

A Violência Auto-infligida é caracterizada pelo comportamento suicida, o eu

abarca a ideação suicida, tentativa ou o ato em si. Neste tipo de violência, o

indivíduo investe contra si de forma física e/ou psicológica (OMS, 2002).

Configura-se como Violência Cultural aquela que se expressa por meio de

valores, crenças e práticas, repetidas e reproduzidas que se tornam naturalizadas.

Para mudar essa naturalização da violência é preciso atuar, intervir e, inclusive,

denunciar e punir quando for o caso. Os movimentos feministas, negros,

homossexuais são expressões da luta para “desnaturalizar” as formas de

reprodução e dominação (Minayo, 2005).

Violência Racial, uma das mais cruéis e insidiosas formas de violência

cultural é a discriminação por raça (Minayo, 2005). Constatou-se que em todos os

Estados, com exceção do Paraná, os negros com idade entre 12 e 29 anos

apresentavam maior risco de exposição à violência, em comparação aos brancos na

mesma faixa etária. O risco relativo de um jovem negro ser vítima de homicídio era

2,6 vezes maior do que um jovem branco (Cerqueira et al, 2017).

Violência de Gênero constitui-se em formas de opressão e de crueldade nas

relações entre homens, mulheres e outros gêneros sociais, estruturalmente

construídas, reproduzidas na cotidianidade (Minayo, 2005; Helman, 2009).

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“[...] 65,3% das mulheres assassinadas no Brasil, no último ano, eram

negras, na evidência de que a combinação entre desigualdade de gênero e

racismo é extremamente perversa e configura variável fundamental para

compreendermos a violência letal contra a mulher no país.” (Cerqueira et al,

2017, pag. 37).

Além dessas definições, podemos considerar a noção de assédio para a

finalidade de discutir a violência no contexto do exercício da enfermagem. O assédio

laboral é caracterizado como comportamentos repetidos, inoportunos que

cumulativamente tem efeito devastador a vítima e incluem constrangimento,

humilhação, ameaças e o assédio, tanto moral como sexual (Baptista, 2017). É

fenômeno psicossocial e multidimensional, psicossocial, pois atinge ao indivíduo, ao

grupo, a instituição e a organização do trabalho produzindo alterações e disfunções

e multidimensional porque se apresenta como uma serie de sintomas físicos e

psicológicos específicos e inespecíficos, não reduzíveis a uma configuração típica

(Barbosa et al, 2011).

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2003), a violência também

pode ser classificada conforme a sua natureza em: atos físicos, sexuais,

psicológicos e privações ou negligência. O intuito de estabelecer uma tipologia e

classificação de violência permite compreender os padrões em que ela acontece no

mundo, no cotidiano de famílias, comunidades ou em ambientes como os de saúde.

Todos os tipos de manifestação de violência descritos pelos autores acima

citados nos ajudam a ver a violência como um fenômeno complexo, multi-causal.

Essa tipologia nos ajudará a precisar melhor as situações que pretendemos

descrever nesta pesquisa.

Diante de tanta complexidade de tipologias e classificações, Minayo (2009)

enfoca que a violência, antes de ser um problema intelectual, constitui-se como uma

questão sociopolítica que afeta materialmente os serviços de saúde, seus custos e

sua organização. Envolvem também os profissionais como atores que contribuem

para superar ou exacerbar suas expressões. Para buscar uma análise mais precisa

dos dados empíricos, entretanto, faz-se necessária a escolha de uma abordagem

teórica do tema da violência.

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1.2.2 Violência, poder e legitimidade: uma abordagem teórica

Para a compreensão do tema violência no contexto de atuação profissional

dos enfermeiros propõe-se algumas diferenciações a respeito de autoridade, poder e

violência. Parte-se aqui de reflexões elaboradas por Azeredo e Schraiber (2017),

que propõem um novo aporte teórico sobre o prisma da política nacional de

humanização, influenciados pela perspectiva teórica de Hannah Arendt.

Nesta perspectiva, a autoridade é vista como uma relação especificamente

assimétrica, e esta relação não é pautada na violência, tampouco no convencimento

e persuasão. Antes, essa relação assimétrica é definida pela própria hierarquia, cujo

direito e legitimidade faz com que as partes da relação reconheçam o seu lugar,

estável, predeterminado. E para que exista autoridade é necessário que antes haja

legitimidade e, para isso também é necessário que exista uma tradição, de

obediência a esses sujeitos (Azeredo, Schraiber, 2017).

“A tradição em Arendt, é entendida como os postulados do passado que

auxiliavam os homens do presente nos momentos de (in)decisões, de

dificuldades e mudanças. Esses postulados são questionados durante o

período Moderno, principalmente por conta do novo lugar da ciência na vida

da sociedade. Assim, esse fio que ligava o passado ao futuro é rompido

pelo imperativo da dúvida cartesiana que põe em xeque toda forma de

autoridade, de hierarquia e de herança do passado” (Azeredo, Schraiber,

2017 p. 3017).

O poder em Arendt, diferentemente da autoridade que seria baseado na

tradição herdada, é conceituado como uma ação orquestrada e decidida entre

homens iguais para o exercício da política: “o poder só tem existência no encontro

humano no qual palavras e atos não se separam, e na dependência de um acordo

temporário de muitas vontades e intenções” (Azeredo, 2017). Diversos interesses

pessoais e particulares estão contidos em uma relação de poder, mas o exercício da

socialização humana racional permitiria que fossem colocados de lado para uma

finalidade comum, este seria o exercício da política no sentido arendtiano.

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Nesta perspectiva política do exercício do poder, os atos não são utilizados

para violentar, mas para realizar e criar conjunturas, trazendo a noção de que o

poder pode ser compartilhado e dividido sem prejuízo ou diminuição da estrutura do

poder. Desse modo, o poder é potencializando ou aumentado através de seu

compartilhamento ou divisão (Azeredo, 2017). Seria o compartilhamento do poder

que garante a legitimidade da ação.

A violência, por sua vez, é compreendida por Arendt pelo seu caráter

instrumental. A ação violenta não possui legitimidade, pois exclui a palavra, a vida

compartilhada. A violência representa um comando, um meio instrumental para o fim

da dominação o que é muito diferente do poder no sentido arendtiano: “do cano de

uma arma emerge o comando mais efetivo, resultando na mais perfeita e

instantânea obediência. O que nunca emergirá daí é o poder” (Azeredo, Schraiber,

2017 p. 3019). Tanto a violência como o poder, conceitos distintos, podem trazer

obediência, mas o que diferencia um do outro são os métodos utilizados para a

obtenção desta obediência.

A compreensão do fenômeno violência como a ausência do poder político,

pode ser vista como uma crise que traz a oportunidade de reavaliação das

estruturas sociais, como nos provoca Minayo (2006), a violência dramatiza causas

emergentes e as situa no debate público, e nos sinaliza a necessidade de nova

avaliação epistemológica do poder (Azeredo, 2017).

A violência e o poder tanto são opostos: enquanto um domina o outro se

ausenta. A violência em instituições em hospitais ou presídios, por exemplo, são

comumente estabelecidas por atos racionais justificados na estrutura operante, que

podem levar à submissão. Vez que:

“toda diminuição de poder é um convite à violência – (...) porque aqueles

que detêm o poder e o sentem escorregar por entre as mãos, sejam eles o

governo ou os governados, encontraram sempre dificuldade em resistir à

tentação de substituí-lo pela violência” (Arendt, 2013 p. 56).

Mas, seguindo a perspectiva teórica de Arendt, a violência surge quando o

poder está ameaçado, sendo utilizada como recurso para manutenção de um cargo,

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posto ou posição, por exemplo, enquanto a base legitima do poder, a comunicação e

a política entre os homens não existem nesse contexto.

1.3 Violência e a equipe de enfermagem

A violência nos serviços de saúde é um fator preocupante e apresenta-se em

diversas facetas, como agressões físicas, psíquicas e verbais, o assédio moral e

sexual, cometido por familiares, pacientes ou colegas de trabalho (Cezar, Marziale,

2006).

E o trabalho é um aspecto central da constituição do indivíduo e de suas

relações sociais não se restringem apenas a venda da força de trabalho em troca de

remuneração. O processo de validação social pelo trabalho é um fator de

pertencimento a grupos para o acesso aos direitos sociais. Como alicerce da

constituição do sujeito e de sua rede de significados aos processos de

reconhecimento, gratificação e mobilização da inteligência. Esses processos estão

relacionados a construção da identidade e da subjetividade relacionados ao trabalho

e o sujeito (Lacman et al, 2011).

As pessoas com suas histórias de vida, formação, experiências, crenças e

valores, são confrontados a partir do trabalho. Este confronto, construído por

instituições, processos, modos e formas de organização, pode produzir

desenvolvimento psicossocial, prazer, mas pode também produzir sofrimento e

violência social (Lacman et al, 2011).

Dejours (1992) afirma que a organização do trabalho pode causar sofrimento

ao trabalhador, pois muitas vezes as necessidades da organização não estão de

acordo com as necessidades do corpo do trabalhador, em sua fisiologia e em sua

integração psicossomática. Determinadas imposições organizacionais, se não

estiverem legitimadas aos trabalhadores, podem ferir a autoestima e causar

adoecimento do corpo e da mente.

No caso da enfermagem, há uma série de aspectos particulares a serem

considerados quando pensamos nos casos de violência. Observa-se que, por

estarem mais próximos aos pacientes e familiares, os profissionais tornam-se mais

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vulneráveis a agressões, uma vez que são os primeiros a receber as manifestações

de insatisfação com o atendimento (Campos, Pierantoni, 2010; Vasconcellos et al,

2012). Outro aspecto é a relação da enfermagem com outras categorias

profissionais da área da saúde com maior poder e que desfrutam de maior

autonomia profissional, levando a fragmentação e a justaposição das linhas de

mando, seguindo lógicas próprias dessas categorias profissionais (Marsiglia, 2011).

Além da relação com médicos e outras categorias profissionais, as relações de

trabalho entre enfermeiros e chefes/supervisores de enfermagem, são também

críticas a discutirmos a violência no ambiente de trabalho.

Há que se considerar também as relações trabalhistas. Toda forma de

privação e infração de princípios fundamentais, direitos trabalhistas e

previdenciários, a negligência em relação às condições de trabalho, bem como a

omissão de cuidados, socorro e solidariedade diante de algum infortúnio,

caracterizados pela naturalização da morte e do adoecimento, são consideradas

violência relacionada ao trabalho (Oliveira, Nunes, 2008).

A violência no trabalho em saúde, especificamente na equipe de

Enfermagem, vem se tornando um problema de saúde pública, sendo a violência

ocupacional um fator que prejudica a saúde e a carreira dos trabalhadores de

enfermagem (Contreira-Moreno, Contreira-Moreno, 2004).

A violência contra os profissionais de enfermagem no ambiente de trabalho é

considerada uma epidemia mundial pela Organização Mundial de Saúde (OMS)

desde 2003 No estado de São Paulo, os dados são alarmantes, conforme revela

sondagem realizada pelo COREN/SP em 2017, em que 77% dos entrevistados

revelaram ter sofrido algum tipo de agressão durante o exercício profissional

(Baptista, 2017). E em 2018 chegando 91,6% dos enfermeiros sendo agredidos

durante o exercício profissional, na faixa etária mais afetada, e em média 86,6%

geral de enfermeiros, revelando um aumento da frequência.

O trabalho da enfermagem como pertencente ao setor saúde é comumente

caracterizado como intenso, altamente regulamentado e regulado por níveis de

burocracia impostas por estritas normas de comportamento e caracterizadas por

cargas de trabalho, muitas vezes consideradas desafiadoras (Hughes, Clancy,

2009). Essa forma de organização do trabalho altamente hierarquizada aponta para

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relações de poder dentro dos serviços de saúde. Diante disso, situações de violência

e sofrimento físico ou psicológico podem ser exercidas por outros profissionais e, até

mesmo, pela direção das instituições sobre os trabalhadores de enfermagem.

O trabalho que está sendo realizado, particularmente nos hospitais, é caótico,

orientado para a crise, induzindo o estresse, o que pode causar dificuldades na

comunicação e criação de consenso para o trabalho em equipe e, com a ausência

mediadora da palavra, incitar a raiva e a hostilidade dirigidas. Esse ambiente é um

terreno fértil para violência, contemporaneamente referida como bullying no local de

trabalho (Hughes, Clancy, 2009).

Em um estudo realizado por Molinos, Coelho, Pires e Lidner (2012) sobre

violência com profissionais da atenção básica, eles afirmam que a implantação da

política pública de prevenção à violência não tem sido suficiente, o que,

provavelmente, pode interferir nos índices de percepção de ocorrência de violência.

Os profissionais, em sua maioria, não foram treinados e, os que o foram não se

consideram aptos a responder de forma satisfatória a atos violentos. A maior parte

dos profissionais considera que o ambiente de trabalho pode melhorar em relação à

segurança. Foram reveladas falhas na política de prevenção e na capacitação para

detectar, registrar, defender-se e prevenir a violência.

A manifestação da violência em ambientes de saúde pode ter um impacto

profundo, tanto para a pessoa como para as instituições. As vítimas da violência

experimentam consequências negativas, tais como: Perda de autoconfiança e

autoestima, perda de confiança para suas próprias habilidades profissionais e

expertise; Perda de satisfação no trabalho; níveis elevados de estresse; Trauma;

Inabilidade permanente ou temporária; Custo dos litígios contra os perpetradores da

violência; Sentimentos de raiva, medo, depressão e culpa; Impacto negativo nas

relações interpessoais. Além disso, no nível hospitalar, a violência pode ter o

seguinte impacto: Maior absenteísmo e uso da licença por doença; Perda de moral e

motivação dos funcionários; Comportamento de prevenção, que pode ter um

impacto negativo no desempenho dos funcionários; Aumento dos custos de

instalação e manutenção de equipamentos de segurança (Stathopoulou, 2007).

Corroborando com a estas afirmações, Bordignon e Monteiro (2016) afirmam

que os profissionais de enfermagem que experienciam a violência no trabalho estão

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propensos a sofrer uma gama de consequências relacionadas à sua saúde,

envolvendo as dimensões física e psicológica, que podem implicar na capacidade do

trabalhador em realizar suas atividades cotidianas, na relação deste com os demais,

na condição financeira, em sua qualidade de vida e no sistema de saúde.

Acrescentam ainda que as consequências da violência no trabalho da enfermagem

perpassam a instituição de saúde empregadora, pelas repercussões em seus

trabalhadores, o que pode levar à redução da força de trabalho, adoecimento ou

desgaste da equipe, comprometer a qualidade do cuidado prestado àqueles que

recorrem aos serviços e gera custos.

Ferri e colaboradores (2016), em um estudo realizado com profissionais de

saúde, observaram que a violência é um fenômeno significativo que toda a saúde

dos trabalhadores especialmente enfermeiros, correm riscos de sofrer algum tipo de

agressão. Diante disto, propuseram que fossem realizados treinamentos

profissionais efetivos no gerenciamento de eventos violentos como boa colaboração

e comunicação entre os membros da equipe e monitoramento constante e uma

abordagem empática - nunca simetricamente agressiva - para o paciente, estendida

à família ou aos cuidadores, a fim de prevenir a violência no local de trabalho de

saúde.

Em suma, pode-se afirmar que a violência no campo profissional da

enfermagem é um fenômeno recorrente e reproduzido na contemporaneidade.

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2. OBJETIVOS

2.1 Objetivos Gerais

• Investigar como a violência institucional é percebida pelos profissionais da

Enfermagem.

• Analisar as repercussões da violência institucional nas condições de vida e

trabalho das(os) enfermeiras(os) em diferentes áreas de atuação, na cidade

de São Paulo.

2.2 Objetivos Específicos

• Caracterizar as formas de violência sofridas pelos entrevistados.

• Verificar a influência destas formas de violência na enfermagem.

• Identificar os elementos empíricos constituintes das narrativas de violência.

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3. PRESSUPOSTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS

O proposito deste capítulo é descrever os procedimentos metodológicos

adotados pela pesquisa bem como enunciar os referenciais teóricos assumidos. A

opção pela metodologia quanti-qualitativa se deu em função da própria natureza do

fenômeno estudado e pela necessidade de conhecer o grupo pesquisado no que se

refere às variáveis clássicas do campo da violência no trabalho em saúde.

A pesquisa foi desenvolvida em três etapas: a primeira constituiu a

aproximação ao tema, realizada a partir da revisão de literatura especializada que

abrangeu a consulta a livros sugeridos pelos orientadores e em artigos científicos

publicados entre 2001 e 2018, selecionados através de busca no banco de dados do

Scielo, Medline, Dedalus e Lilacs, por meio das palavras-chaves: Violência

Institucional e Enfermagem; a segunda fase abrangeu a observação de campo, que

foi sistematizada em um diário, com as atividades cotidianas do pesquisador, onde

foram transcritas rotinas de trabalho diário, mas principalmente as situações de

violência presenciadas por ele de junho de 2017 a janeiro de 2019.

Neste período de observação foram identificados elementos que auxiliaram a

construção do roteiro da pesquisa e também foi notado que alguns enfermeiros

tinham receio de tratar da violência institucional dentro de seus ambientes de

trabalho, principalmente pela proximidade com colegas e chefias (no caso destes

serem fontes da agressão). Por isso, foi solicitado aos entrevistados que indicassem

os locais e horários mais adequados para que as entrevistas transcorressem com

menor interferência externa e favorecesse o livre diálogo; e a terceira fase da

pesquisa considerou dois tipos de fontes de dados:

1) Fonte primária: entrevistas gravadas com enfermeiros maiores de 21 anos

e com mais de 5 anos de vivência na enfermagem;

2) Fonte secundária: análises dos bancos de dados sobre violência no

ambiente de trabalho do Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo

– 2018 (Anexos C e Apêndices A e B), e da pesquisa sobre o Perfil da

Enfermagem no Brasil da FIOCRUZ/COFEN – 2013.

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3.1 Metodologia Qualitativa

Nesta fase, a abordagem qualitativa das narrativas buscou apreender os

sentidos e significados da violência no cotidiano das práticas desses profissionais e

captar as representações sociais, segundo diversas trajetórias de formação e

inserções profissionais (Triviños 1992, Spink, 1997). Foram realizadas entrevistas

em profundidade a partir de um roteiro temático (Anexo A), sem, contudo, pretender-

se criar uma estrutura rígida de respostas em função das singularidades dos

entrevistados. O roteiro, neste aspecto, facilitou as situações de entrevistas e em

nenhum momento cerceou os entrevistados ou a mim. Desta forma, foram

incentivadas narrativas mais livres, minimizando o risco de indução a padrões de

respostas, favorecida pela relação dialógica que caracterizou todas as entrevistas

(Kidder, 1987).

No processo de reelaboração do roteiro, os principais temas abordados

foram: caracterização dos sujeitos; contextualização das situações de violência

institucional; caracterização do agressor; percepção da violência; modificações após

o evento, e ainda houve espaço para comentários e sugestões quanto ao próprio

roteiro, por parte dos sujeitos da pesquisa, e também pela banca de qualificação,

aspectos importantes que ocasionaram modificações no roteiro. Assim, a

atualização do roteiro foi considerada validada por especialistas e esteve

diretamente ligada ao próprio processo de realização das entrevistas.

A seleção dos entrevistados considerou como critérios a diversidade de

características sociodemográficas, trajetórias formativas e inserções profissionais e

também compunham a rede de relacionamento do pesquisador e da orientadora da

pesquisa. Sendo assim, os profissionais que tiveram disponibilidade e demostraram

interesse em participar das entrevistas foram contatados via telefone, tratando-se

assim de uma amostra por conveniência.

Entre os meses de dezembro de 2018 e abril de 2019 realizei dez entrevistas,

com os profissionais que se disponibilizaram neste período. Aqueles que não

participaram da pesquisa estavam em férias ou tinham compromissos de modo que

não foi possível esperá-los. Outros aspectos que inviabilizaram a participação nas

entrevistas foi o fato dos sujeitos não terem sofrido violência ou não aceitaram falar

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sobre o tema, o que é compreensível devido à natureza íntima que envolve os

relatos como afetos e traumas que também estão imbuídos nas situações de

violência no trabalho.

Figura 5 – Caracterização dos entrevistados em profundidade.

Fonte: Elaborado pelo pesquisador por meio dos dados obtidos nas entrevistas em profundidade.

Os participantes demonstraram atitude receptiva em relação à pesquisa de

modo geral, não se inibiram para falarem de episódios da sua vida profissional e de

suas relações políticas. A abordagem qualitativa, neste caso, revelou-se importante

também para o esclarecimento de algumas questões ligadas às estruturas

organizacionais das instituições onde trabalharam.

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49

Todo o processo foi muito rico, desde o contato com os enfermeiros. Acredito

que o conteúdo das entrevistas tenha se colocado, para os entrevistados, como um

espaço de reflexão sobre o cotidiano das relações profissionais e sobre as situações

de violências a que são submetidos durante o trabalho que realizam. Momento de

lembrar que rompe com a rotina: distanciamento necessário e possibilidade de

reflexão crítica.

As entrevistas foram gravadas em arquivo de áudio MP3, totalizando

aproximadamente 660 minutos de gravação, e transcritas para a posterior análise.

Como a linguagem oral, também denominada coloquial, se vale das repetições,

utiliza termos onomatopéicos, privilegia o fluxo de ideias em detrimento das regras

que regem o texto escrito, a transcrição das entrevistas constitui-se em um recurso

de decodificação de linguagem que exigiu várias audições do material gravado para

que o sentido do que foi dito não fosse distorcido. Além disso, ao transcrever os

áudios, a atenção às nuances, silêncios, entonações que se expressam pelo uso da

pontuação.

Para transcrever quase 11 horas de entrevistas e preservar ao máximo os

detalhes já comentados anteriormente, contei com a colaboração da orientadora

deste trabalho que me auxiliou quanto ao rigor que a técnica exige. Na medida em

que as transcrições eram realizadas, passavam pela validação da orientação do

trabalho para que as transcrições ficassem o mais próximo possível do que está

registrado. Após a transcrição de cada entrevista, nova audição era feita para corrigir

erros de digitação e compreensão (Montanari, 2003).

O material impresso foi objeto de várias leituras. Em uma primeira edição,

vícios de linguagem foram eliminados, repetições excessivas de algumas

expressões, padronizando-se, assim, o estilo empregado no conjunto das

entrevistas, na busca de clareza e concisão textual. Certas palavras soltas,

inversões gramaticais que dificultam a compreensão do texto foram substituídas pela

ordem direta, assim como algumas concordâncias verbais foram acertadas, uma vez

que a interpretação empreendida no presente estudo considera exclusivamente o

conteúdo verbal disposto (Montanari, 2003).

Em uma segunda edição, foram eliminados trechos das entrevistas que se

repetiam, assim como os nomes dos profissionais foram substituídos pela letra inicial

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50

E, de entrevista, seguido pelo número relativo à ordem das transcrições, sendo

então o primeiro sujeito a ser transcrito E1, o segundo E2 e assim por diante. No

caso das instituições foram preservados alguns substantivos e adjetivos genéricos:

Hospitais, Universidades, Empresas e Institutos, seguidos pelo tipo de atendimento

que a instituição presta como: público, privado ou filantrópico, exemplo, Instituto A

público, Hospital W filantrópico atendimento público, Hospital X filantrópico,

atendimento particular etc.

Ao final das edições, encaminhei para cada entrevistado mensagem de

agradecimento por sua contribuição ao estudo e também sua entrevista transcrita

para que lessem e corrigissem alguns aspectos que por ventura julgassem

necessários, juntamente com outros questionamentos referentes a dados que

seriam importantes para a compreensão do evento relacionado à violência,

informações que por ventura não tivessem ficado claras no momento da entrevista, o

que também contribuiu com a edição final. As referências aos entrevistados que se

conheciam foram retiradas no momento do envio das entrevistas e, posteriormente,

acrescentadas novamente para as análises.

Cabe ressaltar que este trabalho minucioso de revisão e edição foi feito

sempre com a máxima preocupação de preservar o sentido original do que foi dito e

o sigilo profissional dos entrevistados e das instituições, uma vez que nossa

intenção com este trabalho foi unicamente estudar o fenômeno da violência na

enfermagem e nunca constranger sujeitos ou instituições e estimular intolerâncias.

Em termos de procedimentos de leitura das narrativas, esse processo

compreendeu três momentos: O primeiro correspondeu ás primeiras leituras de cada

entrevista, realizadas com base no roteiro, cujo objetivo foi tomar contato com os

relatos impressos, portanto com os temas que apareciam em cada entrevista e com

aqueles que eram recorrentes, podendo, assim, ser montada uma grade de

interpretação provisória; em um segundo momento, fez-se uma leitura apurada de

cada relato isoladamente, em que se enunciam as singularidades. São as chamadas

leituras verticais; e, por fim, as leituras horizontais, em que tais singularidades são

tematizadas de acordo com aquela grade provisória, que se atualiza ao longo do

processo de impregnação e interpretação, direcionadas pelos referenciais teóricos

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51

que orientam a presente pesquisa: trabalho, violência e representações sociais

(Minayo,1993; 1995; Bardin, 1997).

Essas narrativas ofereceram diversas possibilidades de interpretação.

Contudo, visando à compressão das práticas profissionais e das representações

pessoais e coletivas em relação à violência no trabalho que os entrevistados

realizam, foi oportuno organizar a análise conjunta das narrativas, segundo eixos

norteadores:

1. Os aspectos da experiência de cada sujeito entrevistado, em que foram

contempladas trajetórias de formação e trajetórias profissionais,

concepções sobre diferentes situações e reflexão sobre as violências

vivenciadas, individual e coletivamente;

2. Os conceitos em que foram vivenciadas as violências pelos sujeitos,

considerando o ambiente físico e as condições materiais de trabalho, a

relação inter-pessoal, a percepção sobre as organizações do trabalho e as

diretrizes que as orientam;

3. As representações acerca da violência na enfermagem: reflexão sobre a

própria natureza do objeto de investigação; sobre a relação entre os

objetivos da mesma e composição das estruturas institucionais e a

avaliação sobre a articulação que fazem entre os saberes técnicos e

operantes dos conceitos de violência.

3.1.1 Critérios de inclusão

Foram incluídos neste estudo profissionais da enfermagem que atenderam

aos critérios descritos abaixo:

• Bacharéis em enfermagem;

• Profissionais com no mínimo cinco anos de experiência (vivência profissional);

• Ambos os sexos;

• Maiores de 21 anos;

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52

• Profissionais que aceitarem participar do estudo, após assinarem o Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido;

3.1.2 Critérios de não inclusão

Não foram inclusos neste estudo profissionais empregados da Irmandade de

Santa Casa de Misericórdia de São Paulo;

3.1.3 Aspectos Éticos da Pesquisa

Esta pesquisa atendeu todos os preceitos éticos e regulatórios, disposto na

Resolução 466/12, do Conselho Nacional de Saúde, foi submetida apreciação do

Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Irmandade Santa Casa de

Misericórdia de São Paulo, registrado pelo número de CAAE 03791818.3.0000.5479,

devidamente aprovado com o número do parecer: 3.081.142. (Apêndice D).

Adicionalmente, esta pesquisa também preza pelos princípios éticos descritos

na Resolução 510/2016, que trata da pesquisa em Ciências Humanas e Sociais,

reconhecendo a liberdade e autonomia de todos os envolvidos no processo de

pesquisa, respeitando os valores culturais, sociais, morais e religiosos, bem como,

aos hábitos e costumes, dos participantes da pesquisa. Além de ser garantida a

confidencialidade das informações, da privacidade dos participantes e da proteção

de sua identidade. Ainda, foi garantido a não utilização das informações obtidas em

pesquisa em prejuízo dos seus participantes. Somando-se a isso, não é criada,

mantida ou ampliada situações de risco ou vulnerabilidade para indivíduos e

coletividades, não acentuado o estigma, o preconceito ou a discriminação.

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3.1.3.1 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Após aprovação pelo comitê de ética em pesquisa, todos os participantes

foram esclarecidos a respeito do estudo, e os concordantes assinaram o termo de

consentimento livre e esclarecido (TCLE) (Anexo A e B).

3.2 Método Quantitativo

Com a finalidade de dimensionamento da força de trabalho da enfermagem e

também da violência percebida e vivida no cotidiano profissional utilizamos a

abordagem quantitativa de diferentes bancos de dados: da Fundação Oswaldo Cruz

(FIOCRUZ), do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), e do Conselho

Regional de Enfermagem do Estado de São Paulo (COREN/SP) (Banco de dados

FIOCRUZ/COFEN, 2013; Bando de dados COREN/SP, 2018).

Os dados mencionados referem-se às inscrições ativas e, dessa forma, um

profissional pode ter mais de uma inscrição, em categorias distintas ou na mesma

categoria (inscrição secundária), sendo contabilizados mais de uma vez e não foram

consideradas inscrições inativas.

Para vislumbrar a representatividade da enfermagem no país utilizamos os

dados nacionais do COFEN (2019) que reúne as inscrições profissionais de

enfermagem registradas nos 27 conselhos regionais dos estados brasileiros e do

distrito federal, totalizando 2.179.460 inscrições, dentre elas: 412.099 auxiliares de

enfermagem (18,9%), 1.237.844 técnicos de enfermagem (56,8%), 529.346

enfermeiros (24,2%) e 261 obstetrizes (0,1%). A mais numerosa categoria

profissional do campo da saúde no Brasil, fortemente inserida no SUS e com

atuação nos setores público, privado, filantrópico e de ensino (FIOCRUZ/COFEN,

2017)

Grande parte desta força de trabalho concentra-se na Região Sudeste, com

mais da metade dos enfermeiros (53,9%), técnicos e auxiliares de enfermagem

(56,1%) (FIOCRUZ, 2015). Sendo que o estado de São Paulo contém 24,8%

(539.853) de todos os registros ativos do país, correspondendo ao maior contingente

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da força de trabalho da enfermagem entre os estados da federação, com 197.367

auxiliares de enfermagem, 210.815 técnicos de enfermagem, 131.417 enfermeiros e

254 obstetrizes (COFEN, 2019).

Foi realizado pelo COREN/SP, em 2018, a maior pesquisa sobre violência

contra os profissionais de enfermagem em seu ambiente de trabalho, via formulário

eletrônico, utilizando o programa SurveyMonkey, sendo disparados e-mails de

convite para participação a todos os profissionais cadastrados no COREN/SP,

conforme deliberação da 1161º Reunião Ordinária de Diretoria do Conselho,

realizada em 06 de abril de 2018.

O banco de dados desta pesquisa foi disponibilizado mediante ofício de

solicitação encaminhado a presidência do COREN/SP, acompanhado de carta de

intenções e projeto de pesquisa, sendo aprovada a liberação dos dados para esta

pesquisa em Reunião Ordinária de Diretoria, realizada em 28 de janeiro de 2019

(Apêndices A e B)

Os dados foram disponibilizados em 30 de janeiro de 2019, contendo

formulários preenchidos por todas as categorias profissionais hoje registradas no

COREN/SP, sendo elas Atendentes de Enfermagem, Auxiliares de Enfermagem,

Técnicos de Enfermagem, Enfermeiros e Obstetrizes. Os formulários foram

preenchidos de 15 de agosto de 2018 a 24 de agosto de 2018. O programa utilizado

para análises estatísticas foi o SPSS versão 13.0.

O número total da amostra fornecida pelo COREN/SP foi de 4018 formulários

preenchidos, com questões abertas e fechadas. Destes, foram selecionados de

acordo com os critérios desta pesquisa os enfermeiros, com mais de 21 anos de

idade e mais de 5 anos de formação, totalizando 1657 enfermeiros. Que serão

doravante chamados de enfermeiros, mesmo que tenham outra formação como:

Atendentes de Enfermagem, Auxiliares de Enfermagem, Técnicos de Enfermagem,

Enfermeiros especialistas em Obstetrícia ou Obstetras, pois não descartamos as

formações anteriores.

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4. RESULTADOS

4.1 Resultados Quantitativos

Dos questionários respondidos, 1430 (86,6%) se identificam com o gênero

feminino e 213 (12,9%) se identificam com o masculino e 14 (0,8%) não declararam,

(neste questionário não foi levado em consideração o sexo dos respondentes,

apenas o gênero com o qual se identificam). E, também, não foram considerados

outros critérios importantes para caracterização dos sujeitos da pesquisa como, por

exemplo, raça/cor/etnia. Minorias e populações marginalizadas, como o caso de

negros, indígenas e LGBTQAIT+ no Brasil, são mais vulneráveis a maioria dos tipos

de violência, porém nesta parte da pesquisa não poderemos analisar essas

variáveis, pois não foram levadas em consideração na realização da pesquisa

raça/cor ou sexo. (Cerqueira et al, 2017)

Figura 6 - Distribuição em porcentagem dos Enfermeiros, segundo Gênero.

Fonte: Elaborado pelo pesquisador a partir do Banco de dados COREN/SP, 2018.

Na figura 6 podemos observar a distribuição por gênero auto-identificado.

Embora não tenham sido encontrados em nossa pesquisa dados a serem

comparados ou que utilizem gênero na categorização da amostra, foram

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encontrados outros estudos que utilizam do sexo para identificação da amostra,

como Araujo e Rotenberg (2011), que inferem sobre a representatividade das

mulheres na enfermagem, podendo chegar a 94% dependendo do grupo estudado e

Leite e Otaviano (2013), em que o sexo feminino representou 91,6% e o masculino

8,4% em suas amostras.

Já no banco de dados FIOCRUZ/COFEN (2013), o sexo feminino

corresponde a 86,6% e o masculino a 12,8% (não responderam 0,5%), no estado de

São Paulo em estudo de Vasconcellos, Griep, Lisboa e Rotenberg (2012), os

resultados foram semelhantes, embora o estudo tenha sido realizado no município

do Rio de Janeiro, sendo 86,6% do sexo feminino e 13,4% ao sexo masculino,

semelhantes aos dados do banco COREN/SP (2018).

Foi utilizada, ainda, a pesquisa sobre o perfil da enfermagem no Brasil (Banco

de dados FIOCRUZ/COFEN, 2013) que traz dados sobre a raça ou cor dos

enfermeiros, o que melhora e incrementa a caracterização da enfermagem no

estado de São Paulo.

Figura 7 - Distribuição em porcentagem de Enfermeiros segundo Cor/Raça - SP.

Fonte: Elaborado pelo pesquisador a partir do banco de dados FIOCRUZ/COFEN - 2013.

Com relação à faixa etária dos enfermeiros, 23% estavam entre 24 e 33 anos

no momento da pesquisa; 49,4% tinham entre 34 e 43 anos, 19,6% entre 44 e 53

anos e 7,9% tinham 54 anos ou mais. Levando em consideração que o banco de

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dados COREN/SP (2018) trabalhou com faixas etárias, sendo a menor a dos

indivíduos com 23 anos ou menos, para assegurarmos que fossem seguidos os

critérios de inclusão desta pesquisa foram removidos 258 formulários respondidos

com esta faixa etária.

Figura 8 - Distribuição em porcentagem de Enfermeiros segundo Faixa Etária.

Fonte: Elaborado pelo pesquisador a partir do Banco de dados COREN/SP, 2018.

Quanto ao meio de coleta dos dados, era esperado que pessoas na faixa

etária acima de 40 anos fossem menos representadas pela menor familiaridade com

as ferramentas da informática. E os profissionais mais jovens teriam também seu

cadastro mais atualizado, por terem sido recentemente incluídos, diminuindo a

possibilidade de mudança do endereço eletrônico, com a finalidade de manter

atualizados os dados cadastrais o COREN/SP, realiza a confirmações dos dados

semestralmente em seu site para usuários que utilizam o portal eletrônico, porém

ainda existem os profissionais que fazem consultas e solicitações na sede.

Levando em consideração algumas das limitações do estudo acima

mencionadas, podemos considerar que a maior porcentagem de indivíduos está na

faixa etária de 24 a 33 anos com 49,4% da amostra, levando em consideração

também que foram incluídos profissionais que tinham curso superior completo, que

tem duração média de 4 anos, e para isso precisam da formação completa no nível

médio, então esperamos indivíduos formados no nível superior com pelo menos 21

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anos, pois este seria o tempo regular mínimo para o cumprimento de todas as

etapas da formação (Costa, 2013).

No banco de dados FIOCRUZ/COFEN (2013), cuja metodologia foi diferente,

formulário enviado pelo correio, as faixas etárias mais prevalentes foram distintas:

42.431 respondentes de 26 a 35 anos (40,3%) e 29.537 entrevistados de 36 a 45

anos (28%).

Com relação ao tempo de formação dos profissionais, 52% tinham entre 6 e

14 anos de formado, 35,2% de 15 a 24 anos de formado, 8,8% de 25 a 34 anos de

formado, 3,6% de 35 a 44 anos de formado e 0,4% mais de 45 anos de formado.

Não foram levados em consideração formulários respondidos por enfermeiros com 5

anos ou menos de formado, também, para assegurar o cumprimento dos critérios de

inclusão desta pesquisa.

Figura 9 -Distribuição em porcentagem de Enfermeiros segundo anos de Formação.

Fonte: Elaborado pelo pesquisador a partir do Banco de dados COREN/SP, 2018.

Dos 1657 enfermeiros respondentes da pesquisa, 1% tinham também a

formação de Atendentes de Enfermagem, 20,5 % tinham a formação de Auxiliar de

enfermagem, 22,6 % eram também Técnicos de Enfermagem e 3% eram também

Obstetrizes ou fizeram especialização em Obstetrícia, sendo que poderiam acumular

todas as formações como foi o caso de 0,1% da amostra, já a maioria 66,7% ou

1105 sujeitos eram formados exclusivamente no curso superior em enfermagem.

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Figura 10 - Distribuição em porcentagem de enfermeiros por Formação.

Fonte: Elaborado pelo pesquisador a partir do Banco de dados COREN/SP, 2018.

De todos os enfermeiros um terço (33,3%) tinha formação adicional dentre as

opções apresentadas; desmembramos as variáveis para podermos pensar sobre

possíveis trajetórias de formação.

Figura 11 - Distribuição detalhada de enfermeiros segundo Formação.

Fonte: Elaborado pelo pesquisador a partir do Banco de dados COREN/SP, 2018.

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Ter passado por mais de uma das categorias profissionais da enfermagem

pode significar a busca por melhores condições de vida e trabalho, considerando

que em muitas carreiras existem planos para ascensão social e econômica do

funcionário, por exemplo, na carreira pública. Na enfermagem pode haver a intenção

de ascensão de poder e status social através do conhecimento acumulado, gerado

pelos diferentes níveis do exercício profissional, além das diferenças salariais entre

as categorias.

Encontramos nas entrevistas relatos de enfermeiros que podem nos dar

subsídios empíricos para discutirmos a questão:

(...) iniciei na enfermagem em 2006, como técnico de enfermagem; em 2009 terminei minha graduação e no mesmo ano já começei a atuar como enfermeiro (...) o técnico faz, em outros lugares quem faz é o enfermeiro (...)

E10

(...) eu me formei em 2007, já estava com mais de 30 anos, mais ou menos e assim que eu me formei eu fui trabalhar direto (...) eu trabalhava em uma empresa como socorrista e assim que eu tirei o COREN em fevereiro eles me passaram para enfermeiro e como eu já trabalhava há muito tempo com gestão, eles passaram a parte de coordenação de toda a equipe de enfermagem (...) para minha responsabilidade. (...) Comecei a fazer o serviço! Contratava, fazia entrevistas, treinamento, as demissões, então tinha essa gestão que era minha; se eu achasse que não estava de acordo eu tinha total autonomia para poder tanto contratar quanto para poder demitir! Foi esse caminho depois de formado! (...) Tinha uma auxiliar de enfermagem comigo e eu falei. Isso é ser enfermeira? Se isso é ser enfermeira, eu ser melhor que isso! Eu acho que o mínimo que a gente tem que tratar as pessoas é de igual para igual!

E9

Comecei em 1969 na lavanderia do hospital, trabalhei por 2 anos, depois 4 anos de atendente de enfermagem, 10 anos como auxiliar de enfermagem e 34 anos de enfermeiro (...). Eu como enfermeiro chefe acho que nunca demiti ninguém! (...) Se bem que na nossa área tem muita chance de emprego! Mas tem outras áreas que não tem tanta! (...) E na enfermagem todos fazem, né? Enfermeiro faz a ação, o técnico faz (...). Só que tem a variação no campo do saber, de anatomia, fisiologia, farmacologia, do porquê estar fazendo isso!

E8 Eu sou mineira, venho de uma família muito humilde e a minha irmã que já morreu queria muito trabalhar em hospital e a gente não conseguia, porque lá na minha cidade tinham as pessoas que eram escolhidas para trabalhar em determinados lugares! Então eu falei para ela: - Não chora não, quando eu terminar de fazer o meu colegial eu vou para uma cidade grande estudar, e aí você vem, e lá nós podemos trabalhar em um hospital! Foi assim que começou (...). Eu vim para São Paulo nos anos 83 para fazer o curso de auxiliar de enfermagem, depois eu me encantei, amei demais e falei: é isso que eu quero! Então vou seguir carreira! Mas o que me fez também fazer a faculdade foram os momentos que você sofre, porque eu trabalhava na UTI,

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aquelas enfermeiras que chegavam lá eram capacitas pelos auxiliares de enfermagem que estavam (...), a gente ensinava os enfermeiros tudo, não a parte administrativa! (...) Mas depois de um ano, quando as enfermeiras estavam bem dominando tudo, qualquer coisa elas queriam te dar advertência, mas aí não dá! Eu ensino um enfermeiro e depois ele vai querer me dar advertência! Eu também vou ser um! Vou fazer enfermagem! Vou fazer faculdade! Aí eu fiz a faculdade de enfermagem, não para judiar de alguém (...) quero ser uma enfermeira diferente! De trabalhar junto é claro (...).

E5 (...) fazia curso de enfermagem, (...) decidi entrar para área da saúde! Me encantei com o atendimento de emergência em um curso de CFC que eu fiz para tirar a habilitação (...) técnica de enfermagem consegui me formar (...) e acabei engatando na minha carreira, assim, na área da saúde com cabeça! Aí entrei na faculdade em 2006 e terminei em 2010! (...) Mas já acabei a faculdade pensando em uma pós! Aí fiz a pós voltada para o que eu já trabalhava como técnica de enfermagem no Instituto (...), aí começei a pós lá na faculdade (...) em 2010. Só com a intenção de arrumar emprego, sem saber se ia conseguir terminar! Porque eu precisava e estava também entrando em um emprego novo! Aí veio aquele questionamento: terminar a pós ou engatar na minha carreira? Daí conversei com a diretora que me incentivou a continuar a pós de qualquer jeito! (...) E eu consegui terminar a pós! (...) Foi em 2010, um mês depois que me formei comecei a trabalhar de enfermeira (...). Tenho duas formações fechadas, pós-graduação! Aí eu queria arrumar alguma coisa lá no hospital (...). Aí comecei a me dar muito bem lá dentro, então fui convidada para trabalhar como instrutora dentro da UTI (...) e fiquei muito feliz lá dentro! (...) Aí senti que estavam me dando asas! E fiz a entrevista e consegui ir para o setor de educação continuada!

E3 Tem que se fazer respeitar! Tem que ter conhecimento! Que você sabe, que é respeitado quando você tem conhecimento! Isso é fundamental! (...) Eu entrei para enfermagem em 97. Eu era técnica de enfermagem (...). E fui fazer o que eu gosto! E depois disso eu trabalhei na assistência, muitos anos, passei em concursos! (...) lá nos anos de 2000, assim que sai da faculdade já entrei! Trabalhei mais de 12 anos!

E2

Os sujeitos têm diferentes motivações ao ingresso na enfermagem. Mas

naqueles do sexo masculino E8, E9 e E10 os ideias parecem estar mais associados

à ascensão social e econômica, enquanto nos sujeitos do sexo feminino os ideais

geralmente podem estar associados ao altruísmo, aos cuidados e apareceram mais

de uma vez nos discursos o encantamento e paixão pela profissão.

Mas foi unânime para os sujeitos a ideia de que há facilidade de encontrar

emprego na enfermagem quando comparado a outras áreas. Corrobora para esta

sensação o fato de 87,3% dos enfermeiros do estado de São Paulo informarem que

não estiveram desempregados nos últimos 12 meses (Banco de dados

FIOCRUZ/COFEN, 2013) embora o mesmo estudo informe que 77,3% dos

enfermeiros revelam dificuldades de encontrar emprego.

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Os sujeitos com mais de uma formação na enfermagem nos deixam a

impressão de que há uma carreira a ser trilhada na enfermagem. Que se inicia com

atividades operacionais na área da saúde e posteriormente começa-se a trilhar a

carreira da enfermagem propriamente dita como atendente, auxiliar, técnico,

enfermeiro, depois chefe de enfermagem ou docente.

Seriam os cargos de professor, chefes, supervisores e gerentes de

enfermagem aqueles que têm maior experiência e domínio dos conhecimentos como

consequência da ascensão social do enfermeiro de nível superior. Semelhantes aos

moldes estruturais da enfermagem inglesa do século XX das nurses, ladies nurses e

matrons. Terreno fértil para imposições e submissão dos corpos16.

Segundo o tratamento com respeito pela população usuária foi notado pelos

enfermeiros que:

Figura 12 - Distribuição em porcentagem do comportamento dos pacientes em

relação aos profissionais.

Fonte: Elaborado pelo pesquisador a partir do Banco de dados COREN/SP, 2018.

16 A submissão de corpos e transformações de corpos dóceis é tema de Fucoult (XXXX) e esta

expressão foi extraída do texto citado e utilizada para definir possíveis relações de poder contidas em

algumas estruturas sociais, que podendo causar danos aos indivíduos. Maiores detalhes são tratados

nas análises das representações sociais deste trabalho.

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Sobre a sensação de respeito aos profissionais, foi perguntado a eles sobre o

comportamento dos pacientes durante a assistência de enfermagem nos últimos três

anos e a diferença no comportamento atual. Vejamos as respostas a seguir.

Figura 12.1 - Porcentagem do comportamento dos pacientes em relação aos

profissionais.

Fonte: Elaborado pelo pesquisador a partir do Banco de dados COREN/SP, 2018.

E agora veremos como os sujeitos que mudam de opinião.

Figura 12.2 - Distribuição em números absolutos comportamento dos pacientes em

relação aos profissionais.

Atualmente

Total

Não sabem

informar

Não

respeitam Respeitam

Últimos

3 anos

Não sabem

informar 22 10 6 38 2,3%

Não respeitam 12 879 67 958 57,8%

Respeitam 13 250 398 661 39,9%

Total 47 1139 471 1657 100,0%

2,8% 68,7% 28,4% 100,0%

Fonte: Elaborado pelo pesquisador a partir do Banco de dados COREN/SP, 2018.

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Podemos observar, em amarelo, que 78,4% dos entrevistados mantiveram

sua opinião com relação à sensação de respeito dos pacientes ao longo de três

anos. Porém, essa sensação diminuiu em 15,1% de acordo com as respostas.

Podemos notar em vermelho aqueles que mudaram de ideia, sendo que 250

enfermeiros que acreditavam ser respeitados por seus pacientes passaram a não se

sentir mais respeitados contra 6,5% dos entrevistados que não se sentiam

respeitados há três anos e passaram a senti-lo atualmente.

Por tratar-se de estudo retrospectivo admite-se limitações como as do

esquecimento, mesmo assim traz uma reflexão do estado atual da sensação de

respeito dos enfermeiros e do que eles esperam dos pacientes durante seu trabalho.

Parecem dizer que os enfermeiros estão sendo menos respeitados pelos pacientes

ao longo do tempo.

Foi pedido aos enfermeiros que assinalassem qual ou quais conceitos se

enquadram como violência no trabalho, permitindo-lhes assinalar mais de uma

alternativa. Sendo que todos os conceitos são tipos de violência discutidos por este

trabalho.

Figura 13 - Distribuição em porcentagem das violências reconhecidas/assinaladas.

Fonte: Elaborado pelo pesquisador a partir do Banco de dados COREN/SP, 2018.

Esta pergunta foi realizada para identificar a percepção do enfermeiro em

relação às violências cotidianas. Sendo assim, está mais perto de reconhecer todos

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os tipos de violência àqueles que assinalaram maior quantidade de alternativas.

Acreditando que o reconhecimento do problema é o primeiro passo para o

enfrentamento dos casos e consequentemente a redução do problema. Vejamos a

distribuição das respostas.

Figura 13.1 - Distribuição em porcentagem do número de violências assinaladas.

Fonte: Elaborado pelo pesquisador a partir do Banco de dados COREN/SP, 2018.

Os enfermeiros que assinalaram todas as 11 alternativas foram 22,7%,

portanto, reconheceram todos os tipos de violência indicados, porém estiveram perto

também de acertar completamente aqueles que assinalaram o maior número de

alternativas, demonstrando que o enfermeiro reconhece alguns tipos de violência

mais comuns, porém ainda distante do ideal.

Embora não tenha sido a maioria dos enfermeiros a assinalarem todas as

alternativas, as mais assinaladas chamam atenção, sobretudo neste trabalho que

lança mão da perspectiva arendtiana das relações de poder. Assim, nos interessa

saber que as agressões decorrentes de relações de poder são reconhecidas por

70,4% dos enfermeiros, mostrando que são sensíveis a este tipo de violência. Sendo

menos apontada, apenas que, as tipologias de violências, muito bem difundidas pela

OMS (2002): verbal com 90,6%, psicológica 89,9%, moral 78,8% e física 74,2%.

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O modo sexual de violência, bastante conhecido, não foi reconhecida nem por

50% dos enfermeiros.

Agora com relação aos enfermeiros que sofreram violência no seu trabalho,

52,8% consideram ter sofrido mais de uma vez e 14,4% consideram não ter sofrido.

Figura 14 - Distribuição em porcentagem da Frequência de Violências.

Fonte: Elaborado pelo pesquisador a partir do Banco de dados COREN/SP, 2018.

Quando analisamos a frequência da violência de acordo com a faixa etária, as

médias dos enfermeiros que não sofreram violência são bastante distintas, como

mostra a figura a seguir.

Figura 14.1 - Distribuição em porcentagem de violência segundo faixas etária.

Faixa etária Não Sim, uma

vez

Sim, mais de uma

vez

Sim, frequentemente

Total

24 a 33 anos 32 33 217 101 383

8,4% 8,6% 56,7% 26,4% 100,0%

34 a 43 anos 109 99 431 180 819

13,3% 12,1% 52,6% 22,0% 100,0%

44 a 53 anos 58 43 165 58 324

17,9% 13,3% 50,9% 17,9% 100,0%

54 anos ou mais

39 12 62 18 131

29,8% 9,2% 47,3% 13,7% 100,0% Fonte: Elaborado pelo pesquisador a partir do Banco de dados COREN/SP, 2018.

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Referente às faixas etárias trabalhadas, por este estudo, a violência

demonstrou-se mais frequente nos enfermeiros mais jovens, com 91,6% de

entrevistados de 24 a 33 anos referindo ter sofrido violências no ambiente de

trabalho, 86,7% dos entrevistados entre 34 e 43 anos, 82,1% dos enfermeiros entre

44 e 53 anos e na faixa com 54 anos ou mais foi de 70,2% dos enfermeiros.

Demonstrando tendência de não ter sofrido violência com mais anos de vida

(p>0,001).

Figura 14.2 - Distribuição em porcentagem de Violência segundo Faixa Etária.

Fonte: Elaborado pelo pesquisador a partir do Banco de dados COREN/SP, 2018.

Para demonstrarmos com maior precisão que a violência é mais frequente em

enfermeiros mais jovens foi levado em consideração os respectivos intervalos de

confiança de cada faixa etária, na figura abaixo podermos observar a sobreposição

ou não dos intervalos de confiança.

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Figura 14.3 - Intervalos de Confiança segundo Distribuição em porcentagem de

violência segundo faixa etária.

Fonte: Elaborado pelo pesquisador a partir do Banco de dados COREN/SP, 2018.

E foi notado que o intervalo de confiança da primeira faixa etária de 24 a 33

anos não se sobrepõem a duas últimas faixas de 44 a 53 e 54 anos ou mais, e

também as duas primeiras faixas de 24 a 33 anos e 34 a 43 anos não se sobrepõem

a última faixa de 54 anos ou mais, apontando tendência de que quanto menor a

faixa etária mais frequente são os relatos de violência.

Tendências semelhantes de sofrer violências em enfermeiros mais jovens

foram encontradas por Vasconcellos, Griep, Lisboa e Rotenberg (2012) em estudo

realizado com enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, na faixa dos 18 a

35 anos: 76,9% dos profissionais afirmaram ter sofrido violência verbal, 71% dos

profissionais entre 36 e 45 anos e 57,9% dos profissionais com 46 anos ou mais

também informaram ter sofrido violência verbal (n= 1509 e p< 0,001).

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Estudo realizado no município de Caxias, no estado do Maranhão, com 121

profissionais, (enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem) também

demonstram a tendência dos mais jovens e menos experientes sofrerem mais

violência psicológica e acrescentam ao debate a possibilidade do enfermeiro sofrer

mais violência que auxiliares e técnicos de enfermagem (Lima, Sousa, 2015).

Dentre os enfermeiros que sofreram violência com qualquer frequência,

76,6% afirmam que sofreram violência de acompanhantes ou familiares, 67,3%,

informam que a violência partiu de pacientes, 32,7%, informam que sofreram

violência por parte do empregador, 29,6%, assinalaram que sofreram violência da

equipe de enfermagem, 18,3%, assinalaram que sofreram violência da equipe

medica e 4,5% informam que sofreram violência de outros profissionais como

fisioterapeutas, farmacêuticos, psicólogos e etc. Foi permitido assinalar mais de uma

alternativa.

Figura 15 - Distribuição em porcentagem da fonte de agressão.

Fonte: Elaborado pelo pesquisador a partir do Banco de dados COREN/SP, 2018.

Na investigação conduzida pelo COREN/SP (2015) com 8332 respondentes

da enfermagem demonstrou-se que 74% sofreram algum tipo de violência no

ambiente de trabalho, 52% foram agredidos duas vezes ou mais e 73% informam

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que estes incidentes continuam acontecendo no local em que trabalham.

Enfermeiros de um hospital geral suíço referiram que incidentes violentos

envolvendo visitantes afetaram 95% dos enfermeiros durante sua carreira

(Bordignon, Monteiro, 2016). Podemos inferir que das fontes de agressão

exploradas na literatura a mais comum a enfermeiros são os acompanhantes e

pacientes.

Figura 16 - Distribuição em porcentagem das possíveis causas de agressão.

Fonte: Elaborado pelo pesquisador a partir do Banco de dados COREN/SP, 2018.

Sobre as causas institucionais mais referidas pelos entrevistados para a

violência sofrida estão, respectivamente: Estrutura da instituição (falta de

medicamentos/leitos/equipamentos/profissionais) com 62,9%, Atendimento da

instituição (demora e fila para atendimento/consulta/exames) com 48,6%, Paciente

insatisfeito com a assistência prestada 42,4% e não souberam informar com 8,6%.

Na questão acima foi permitido assinalar mais de uma alternativa.

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Figura 17 - Tipos de violências referidas pelos enfermeiros.

Fonte: Elaborado pelo pesquisador a partir do Banco de dados COREN/SP, 2018.

De acordo com a tipologia da violência (OMS, 2003) sofrida pelos enfermeiros, foram as mais frequentes respectivamente: 93% Verbal, 75,4 % Psicológica, 22% Física e 4% Sexual, dentre os que sofreram violências. Na questão acima foi permitido assinalar mais de uma alternativa. Em consonância com os dados deste estudo, Vasconcellos, Griep, Lisboa e

Rotenberg (2012) descreveram a maior frequência da violência verbal sobre a física

e sexual (n= 1905). Lima e Sousa (2015) revelam incidência de 71% de violência

psicológica em amostra com 124 enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem

e Marques e Silva (2017) obtiveram resultados consonantes em pesquisa com 191

enfermeiros portugueses, concluindo que as violências verbais e psicológicas foram

as mais frequentemente relatadas. Também segundo Cordenuzzi, Lima, Prestes,

Beck, Silva e Dal Pai (2017) as expressões mais cotidianas da violência na

enfermagem são do tipo verbal.

Foi observado que os indivíduos que se declararam do gênero masculino

estão mais sujeitos a sofrem violência física no seu ambiente de trabalho na

enfermagem: 36,8%; no grupo de que se identificou com o gênero feminino foram

20% que assinalaram ter sofrido violência física no seu ambiente de trabalho (p

<0,001 no teste de Qui-quadrado).

Com relação à violência sexual, o grupo do gênero masculino apresentou

7,1% de menções ou casos e o grupo do gênero feminino apresentou 3,6%. Em

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números absolutos, das 1225 enfermeiras do gênero feminino 44, apontam ter

sofrido violência sexual, e no grupo do gênero masculino dos 182 enfermeiros 13

assinalaram ter sofrido violência sexual em seu trabalho na enfermagem.

Proporcionalmente, o número de menções de violência sexual foi mais de duas

vezes maior no gênero masculino (P < 0,05, no teste de Qui-quadrado).

Fatores de confusão podem ter levado a este resultado e não devem ser

descartados com a subnotificação da violência contra a mulher, vergonha de realizar

a denúncia e até mesmo o medo de retaliações, fatores já comentados no Atlas da

violência (2017).

O assédio sexual também foi alvo de estudo em pesquisa realizada nos

Estados Unidos, exclusivamente com enfermeiras, sendo que 71,8% das

entrevistadas sofreram assédio sexual no trabalho. Os pacientes foram responsáveis

por 53,4% das agressões e os médicos por 25,0%. Os comportamentos mais

comuns de assédio foram propostas e intimidações, insinuações e toques, como, por

exemplo, segurar com força, agredir com tapas, entre outros. Revelando como

consequência raiva, desgosto, constrangimento, nervosismo, humilhação, vergonha,

demonstrando que o assédio sexual foi prejudicial para essas trabalhadoras

(Contreira-Moreno, Contreira-Moreno, 2004)

Fator que não poderia deixar de ser comentado a partir das análises feitas do

banco de dados do COREN/SP (2018) é que existem relações intrínsecas aos

estudos relacionados ao gênero, que é a discriminação sofrida por pessoas com

gênero distinto do genótipo, não pode ser analisada neste estudo, mas que foi

contemplando no banco de dados da FIOCRUZ/COFEN (2013).

E podemos notar que a discriminação é um problema existente em pelo

menos um em cada dez ambientes de trabalho na enfermagem no estado de São

Paulo.

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Figura 18 - Enfermeiros segundo existência de discriminação no ambiente do

trabalho - São Paulo.

Existência de discriminação Números absolutos %

Sim 13.626 12,9 Não 77.913 73,9

Às vezes 5.487 5,2 NR 8.413 8

Total 105.438 100 Fonte: Elaborado pelo pesquisador a partir do banco de dados FIOCRUZ/COFEN - 2013.

A discriminação e formas de intolerância podem proceder muitas formas de

violência (Barreto, Heloani, 2015) sendo os tipos de discriminação presentes na

enfermagem bastante diversos, como demostra a figura a seguir.

Figura 19 - Enfermeiros segundo tipo de discriminação sofrida no ambiente do

trabalho - São Paulo (Admite-se mais de uma resposta).

Tipo de discriminação Números absolutos %

Gênero 7.316 42,8 Orientação Sexual 1.463 8,6

Racial 4.207 24,6 Peso/obesidade 3.658 21,4

Necessidade especial 457 2,7

Total 17.101 Fonte: Elaborado pelo pesquisador a partir do banco de dados FIOCRUZ/COFEN - 2013.

Mais estudos relacionando gênero com violência na enfermagem devem ser

realizados, testando a hipótese de determinados gêneros serem mais dispostos a

alguns tipos de violência, embora haja certa resistência cultural para estudos deste

tipo em ambientes profissionais. Não foram encontrados outros estudos que

relacionem o gênero masculino com violência sexual como os descritos acima. Outro

fator que deve ser estudado mais profundamente seria uma análise multivariada

relacionando sexo, gênero e tipo de violência. Mas não foi possível neste estudo,

pois o banco de dados não continha a informação do sexo dos respondentes, como

já comentado anteriormente.

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Não foram observadas diferenças estatísticas significativas com relação à

incidência de violência do tipo psicológica e verbal com relação aos gêneros

identificados na amostra estudada (Banco de dados COREN/SP, 2018), embora

tenham sido identificadas frequências mais elevadas em relatos de violência verbal

em mulheres (p=0,019) no estudo de Vasconcellos, Griep, Lisboa e Rotenberg

(2012).

Para compreendermos melhor o evento violento vejamos os tipos de

instituições onde ocorreram as agressões aos enfermeiros.

Figura 20 - Distribuição em porcentagem dos Tipos de Instituições Onde Ocorreu a

violência (foi permitido assinalar mais de uma alternativa).

Fonte: Elaborado pelo pesquisador a partir do Banco de dados COREN/SP, 2018.

Foi apontado pelos enfermeiros o local de maior ocorrência de agressões as

instituições SUS/Pública com 74,3% e as instituições filantrópicas seriam 4,6 vezes

menos violentas que as SUS/Públicas. (Banco de dados COREN/SP, 2018).

Segundo Vasconcellos, Griep, Lisboa e Rotenberg (2012), algumas das possíveis

causas para discriminação das instituições públicas de saúde seria a concepção do

usuário de que os serviços são de má qualidade e que não possuem regras em seu

funcionamento e que a maior demanda destes serviços é composta por população

carente, pressupondo uma tendência de menor compreensão das regras

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institucionais e consequentemente desobediência às normas e piores

relacionamentos com os trabalhadores que instituem as normas e regras.

Estes dados nos leva, também, a uma reflexão sobre a realidade das

instituições filantrópicas do estado de São Paulo, onde instituições deste tipo, com

prestígio e incentivos, não destinam a maior parte de seus atendimentos ao SUS ou

ao público geral e sim a atendimentos privados de saúde, desviando o cárter

institucional e revelando um sistema filantrópico de interesse privado com raras

exceções. Tal perversão do caráter institucional filantrópico, cuja finalidade é social e

pública pelas isenções fiscais, serve, muitas vezes, aos interesses privados e

favorecem maiores lucros.

Sobre a área de atendimento que estava sendo dado pelo enfermeiro no

momento da agressão: 92,5% dos enfermeiros informaram que atuavam com

adultos, já em outras especialidades como na pediatria e geriatria a frequência de

relatos de agressões foi pelo menos três vezes menor. Sendo que na questão

abaixo foi permitido assinalar mais de uma alternativa.

Figura 21 - Distribuição em porcentagem de Tipo de Atendimento no Momento da

Agressão (foi permitido assinalar mais de uma alternativa).

Fonte: Elaborado pelo pesquisador a partir do Banco de dados COREN/SP, 2018.

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76

Figura 22 - Distribuição em porcentagem de Violências segundo Setor/Local onde

Ocorreu a Agressão (foi permitido assinalar mais de uma alternativa).

Fonte: Elaborado pelo pesquisador a partir do Banco de dados COREN/SP, 2018. Legendas: RPA -Recuperação Pós Anestésica; UTI – Unidade de Terapia Intensiva; UBS – Unidade Básica de Saúde; ESF – Estratégia Saúde da Família e PS – Pronto Socorro. Na questão acima foi permitido assinalar mais de uma alternativa.

O segmento com maior frequência de violência apontado pelos enfermeiros

foi o pronto socorro ou pronto atendimento, com ocorrência de 48,4% de todos os

casos de violência. Dados semelhantes a esses foram observados por Lima e Sousa

(2015) em estudo sobre violência psicológica em profissionais da enfermagem

(Enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem).

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Figura 23 - Distribuição em porcentagem da Realização de Denúncias.

Fonte: Elaborado pelo pesquisador a partir do Banco de dados COREN/SP, 2018.

Entre os enfermeiros que sofreram violência, pouco mais de um quarto

fizeram denúncia da agressão vivenciada. Revelando baixa expectativa benéfica no

resultado da denúncia, o que dificulta o enfrentamento do problema.

Figura 24 - Distribuição em porcentagem segundo Local onde Atua e Oferta de

Apoio a Vítima de Violência.

Fonte: Fonte: Elaborado pelo pesquisador a partir do Banco de dados COREN/SP, 2018.

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78

Sobre os locais de atuação dos enfermeiros, apenas 18,1% oferecem apoio

ou orientação aos profissionais vítimas de violência, sendo que a maior parte dos

locais não oferecem esse tipo de apoio ou orientação e 15% sequer sabiam se seus

locais de atuação forneciam algum tipo de apoio, permitindo notar que, mesmo que

haja alguma organização no sentido de apoiar ou orientar esta pode ser tímida,

ineficiente e não terem visibilidade necessária para cumprir sua finalidade ou ainda

os entrevistados podem não se interessam pelo assunto e por isso não souberam

informar se existe ou não apoio e orientação às vítimas em seu local de trabalho.

Para aqueles que não fizeram a denúncia foi perguntado o motivo, questão

em que foi permitido selecionar mais de uma alternativa.

Figura 25 - Distribuição em porcentagem das Causas de não Denúncia (foi permitido assinalar mais de uma alternativa).

Fonte: Fonte: Elaborado pelo pesquisador a partir do Banco de dados COREN/SP, 2018

Das menções, 55,9% referiram a falta de apoio da instituição como

impedimento para a denúncia e 18,2% não sabiam como fazer a denúncia, o que

corrobora com o item anterior, sobre o desconhecimento e inexistência desses

mecanismos. Motivos como sensação de impunidade (61%), o receio de perder o

emprego (36,3%), receio de uma nova agressão ou retaliação (25,9%) remetem a

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sentimentos comuns em situações de violência, como o medo e a desconfiança,

decorrendo daí a necessidade de ambientes e condições de trabalho mais seguras e

estáveis aos enfermeiros, para que os cuidados de enfermagem e atenção à saúde

sejam oferecidos com segurança e excelência.

A falta de conhecimento na forma de lidar ou realizar a denúncia requer

formação especializada e maior investimento em treinamentos para os enfermeiros

no âmbito de seu conselho profissional, para a estruturação de atendimentos

adequados aos profissionais vítimas de violência e também que esses profissionais,

no âmbito da docência, possam discutir e ensinar sobre o tema de forma eficiente.

Para aqueles que fizeram a denúncia, em números absolutos 368 ou os

25,9%, já comentados anteriormente, foi pedido para que informassem o local onde

a denúncia foi realizada:

Figura 26 - Distribuição em porcentagem dos Locais de Denúncia (foi permitido

assinalar mais de uma alternativa).

Fonte: Elaborado pelo pesquisador a partir do Banco de dados COREN/SP, 2018.

A maior parte das menções (82,3%) indicou a procura pela chefia para fazer a

denúncia, seguido pela polícia, apontada como local da denúncia por 38,6%. 11,1%

denunciaram em comissão de ética, 9,8% procuraram o conselho profissional e

4,6% denunciaram ao sindicato. Na questão acima foi permitido assinalar mais de

uma alternativa.

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80

Demonstrando que a instancia mais procurada para denúncias de violência

são as chefias, em 82,3% das vezes, portanto, essas devem estar bem preparadas

para iniciarem o processo de acolhimento da vítima de violência. Sabendo

reconhecer o tipo de violência e tendo uma escuta atenta da denúncia, para assim,

conseguir ampliar as possibilidades de proteção para a vítima. Fato que também

dificulta a denúncia nos casos em que o agressor é a própria chefia.

Outra questão abordada pelo estudo é como o enfermeiro avalia o resultado

se sua denúncia.

Figura 27 - Distribuição em porcentagem da Avaliação da Denúncia.

Fonte: Elaborado pelo pesquisador a partir do Banco de dados COREN/SP, 2018.

Dentre os sujeitos que denunciaram de violência, 79,2% avaliam

negativamente o resultado de sua denúncia, e entre as justificativas estão: falta de

acolhimento e sensação de desproteção; 60,8% disseram não haver qualquer

devolutiva ou providência após a denúncia. Sendo permitido assinalar mais de uma

alternativa.

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Figura 27.1 - Distribuição em porcentagem dos Motivos pelos quais o Resultado da

Denúncia foi Negativo.

Fonte: Elaborado pelo pesquisador a partir do Banco de dados COREN/SP, 2018.

Dos que avaliam positivamente a denúncia, 80,6% sentiram-se acolhidos e

mais protegidos e 32,3% avaliaram positivamente a sua denúncia, pois o agressor

foi punido.

Figura 27.2 - Distribuição em porcentagem dos Motivos pelos quais o Resultado da

Denúncia foi Positivo.

Fonte: Elaborado pelo pesquisador a partir do Banco de dados COREN/SP, 2018.

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Sobre a expectativa dos enfermeiros entrevistados em relação ao COREN/SP

no combate e reposta à violência, tem-se o percentual das menções:

Figura 28 - Distribuição em porcentagem das Ações Esperadas pelos Enfermeiros

por parte do COREN/SP para Redução dos Casos de Violência (foi permitido

assinalar mais de uma alternativa).

Fonte: Elaborado pelo pesquisador a partir do Banco de dados COREN/SP, 2018.

Sobre a ação esperada do COREN/SP para combater esta situação, 90%

esperam fiscalização das condições de trabalho e do dimensionamento de

profissionais; 68,4% esperam que o COREN/SP cobre das autoridades a criação de

fluxos para prevenção, acolhimento e proteção às vítimas; 65,9% esperam a

realização de campanhas para conscientizar a sociedade e 49,2% esperam a

realização de eventos e campanhas para orientar os profissionais vítimas de

violência.

Houve 138 respostas diferentes das fornecidas pelo estudo, entre elas

algumas denúncias e manifestações de insatisfação com as políticas adotadas por

instituições como hospitais, empresas, serviços públicos, privados além de

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reclamações contra COREN/SP. Esperamos que esses formulários tenham sido

avaliados pelo conselho e levados em consideração como denúncia, sobretudo

aqueles que tinham esse objetivo.

A ideia da educação como forma de solução da violência, com campanhas

para possivelmente reduzir os agravos como violência parece o principal

apontamento para amenizar a questão, sugestão proposta pelo próprio COREN/SP

na formatação das respostas para o questionário e a maioria das pessoas parece

concordar. Bastante semelhante às campanhas para redução de problemas de

saúde propostas pela saúde coletiva nos últimos 20 anos (Ibañes, Mello, Marques,

2010).

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84

4.2 Resultados Qualitativos

Para a compressão dos significados foram criadas categorias de forma

sistematizada dentro da teoria das representações sociais (Spink, 1997).

Princípio da Violência: neste item iniciaremos a discussão sobre a intolerância

e como seus reflexos podem afetar as interações no trabalho cotidianos da

enfermagem. Falamos também sobre o preconceito e a desigualdades de gênero na

enfermagem

Representações Sociais da Violência na Enfermagem, ou seja, a quais

contextos, vivências, fatos tais representações estão vinculados;

Ideologias Defensivas da Enfermagem: as quais a violência cotidiana do

trabalho da enfermagem produz conceitos individuais e coletivos que constroem ou

produzem realidades como formas de enfrentamento das dificuldades geradas pela

violência no ambiente de trabalho da enfermagem, esta teoria é aplicada a

enfermagem e analisada sobre a luz da teoria das representações;

“Abafar o Caso”: capítulo que desvenda algumas técnicas para a preservação

da imagem das instituições, a qualquer custo, dificultando o enfrentamento da

violência dentro das estruturas de trabalho;

Condições de Trabalho da Enfermagem: neste trecho serão discutidos fatores

institucionais que podem influenciar o desenvolvimento da violência;

Apontamentos para o debate da redução da violência institucional;

Estas dinâmicas das relações de trabalho da enfermagem constroem e

destroem a realidade em um fluxo dinâmico. Para a construção da teoria são

levados em consideração os contextos em que os relatos foram produzidos e as

elaborações mentais que os sujeitos fazem durante as entrevistas.

Expressões são criadas a partir do modo de lidar com os fatos transformando

os acontecimentos em representações e permitindo assim sua análise. Por isso a

análise dos discursos, dos sujeitos da pesquisa, é muito importante para este

trabalho e é onde buscaremos as explicações para os eventos violentos que

observamos no cotidiano do exercício profissional do enfermeiro e atribuiremos valor

as sensações entrevistados, dando voz a seus sentimentos, que podem nos

ajudaram a desvendar nossas dúvidas sobre os acontecimentos de violência.

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85

4.2.1 Princípio da Violência

No cotidiano do trabalho, enfermeiros acabam convivendo com

acontecimentos e circunstâncias desagradáveis, situações que vão em desencontro

com seus valores e até mesmo com a sua ética, a estes momentos chamaremos de

maus encontros. Já aos momentos agradáveis, que promovem a felicidade e

realização destes profissionais, chamaremos de bons encontros (Seligmann-Silva,

2011)

Acreditamos também que os enfermeiros podem ter que conviver com estes

maus encontros que, em geral, são motivados por aspectos políticos do convívio

profissional, refletidos por relações assimétricas de poder (Azeredo, Schraiber,

2017)

Os bons e maus encontros são resultados de interações sociais entre

pessoas, momentos e principalmente circunstâncias e podem levar a construção de

representações sociais que, por vezes, se manifesta através de vocabulário,

diálogos próprios dos grupos sociais, elaborados e mediados por experiências e

vivências de violência, podendo ser aprendidas através de outros encontros e

reproduzidas socialmente (Montanari, 2003; Vilas Bôas, 2010).

Além dos encontros que se estabelecem, busca-se a causalidade da violência

cotidiana da enfermagem, que parece iniciar-se em um fenômeno muito mais sutil do

que os já descritos anteriormente, e que parece preceder a violência, que é

exatamente a relação interpessoal hostil, em que se colocam empecilhos e barreiras

no trabalho em equipe, dificultando a interação benéfica entre os sujeitos [bons

encontros] e favorecendo a desqualificação e precarização das relações de trabalho

e chegando a seu ápice no desrespeito alheio a qual chamaremos aqui neste

trabalho de intolerância (Barreto, Heloani, 2015). Que pode ser motivada por uma

competição entre os enfermeiros e seus pares como contido nos comentários a

seguir:

Não sei o que leva a pessoa a manter uma distância! Levantar uma barreira! (...) talvez ela fosse muito jovem, inexperiente, ficou com medo, de repente, ou então foi recomendada, tinha alguma orientação do serviço! Não sei, não sei, fiquei sem saber o que aconteceu!

E1

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86

Eu nunca me indispus com ninguém era a minha percepção entre um colega e outro, então já ficavam em alerta pois se fez com o colega pode fazer comigo, aí você fica em vigilância o tempo todo oito horas ou às vezes doze horas, mas é muito cansativo! Você passa a maior parte do tempo no seu trabalho, se relaciona mais com as pessoas do trabalho que com a minha mãe, com minha irmã do que com meu pai que mora longe. E lá infelizmente eu não conseguia depositar a minha confiança nas pessoas (...)

E7 (...) ela foi sacana! Ela agiu de má fé! Porque ela deveria ter falado: (...) vamos preparar juntos! Eu acho que isso era o mínimo”.

E8

E esta relação, talvez motivada pela concorrência entre pares, como apontam

os entrevistados ao longo dos relatos, caracterizando sua forma nas frases a

seguir:

Entre os próprios colegas você vê isso (...) E4

(...) entre um colega e outro (...).

E7

Eu acho que teve de colega para colega.

E8

Descrevem relações de trabalho entre colegas que levam a intolerância que

pode preceder a violência interpessoal tratada por Minayo, (2009) e tratada por

Contreira-Moreno e Contreira-Moreno (2004), como violência interna, quando ocorre

no ambiente de trabalho, da maneira que são descritas pelos sujeitos como “entre

um colega e outro”, parece estar legitimada pelo modus operandis do

relacionamento cotidiano do trabalho onde um colega se beneficia em detrimento de

outro como descrito por Barreto e Heloani (2015).

E os entrevistados continuam a elaborar o tema descrevendo e explicando

uma relação de camaradagem, coleguismo e trabalho em equipe, provenientes do

que deveriam ser bons encontros:

Se você não sabe passar uma sonda nasoenteral de uma maneira que eu sei passar, ou não sabe fixar um cateter, eu acho que tenho que ensinar você também (...).

E8 Acho muito importante quando você for falar com algum funcionário seu, você como coordenador ou como chefe daquela equipe, é muito importante chamar ele de um lado e se tiver que transferir esse funcionário ser transparente com ele! Falar assim para ele: -Olha você é um ótimo

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funcionário trabalha muito bem, mas agora a empresa precisa de você em outro lugar, em outro departamento, outro setor, você será muito útil lá!

E5 No Instituto encontrei um chefe, homem! Ma-ra-vi-lhoso! Que é meu amigo até hoje! Uma equipe que era uma graça (...)! E falei, gente eles fazem a enfermagem que eu acredito! Olha que legal! Adorei, fique super empolgada! Eu era assistencial, e a gente fazia muita coisa lá. Eram quatro enfermeiros por turno em uma clínica de dezesseis leitos. Mas muito, muito legal, aprendi horrores! Resgatei a punção, fui estudar, então foi muito bom e não lembro de ter sofrido violência nesse período, foi legal! (...) muito legal!

E1

Nestes trechos das entrevistas também são descritas e explicadas relações

que desfavorecem a interação benéfica entre pares, como desrespeito e falta de

coleguismo compatíveis com os maus encontros:

Agora tem colega, às vezes na enfermagem, que quer ser bom em tudo (...) as pessoas não costumam querer ensinar o outro a trabalhar (...)

E8

Que é aquela coisa assim, que a pessoa desconfia, alguns enfermeiros eram legais se davam ao trabalho de dar espaço e nos conhecer, e aí ficavam à vontade, era tranquilo (...) e a gente consegui evoluir. Mas tinha enfermeiro que fazia questão de não se aproximar (...)! Nem para falar assim, olha se você quiser tomar um café! Uma coisa de companheirismos, nada!

E1 (...) parecia que só o que ela queria é dar uma cutucada olhar para sua cara e sair!

E3

E finalizam os relatos sobre a intolerância, descrevendo suas sensações a

respeito deste episódio:

Tinha um lugar que assim, eu achei que um horror! Um horror! (...) e tudo que eu queria tinha que ir lá perguntar uma vez, perguntar duas vezes, perguntar três vezes, eram assim muito difíceis. (...) Eu achei que isso é uma violência profissional! Não é? Não é nada assim acintoso né! Mas é uma exclusão! Exclui você da dinâmica do serviço! Era penoso! Ela não se incomodava de eu assumir paciente! Eu assumia e tal! Mas ela fugia de mim, ela me evitada, assim cinco cruzes!

E1

E desde o último episódio que eu fiz o processo para educação continuada, entrei, e me frustrei muito entrei no começo de 2018, fiquei muito feliz, mas depois me levou a uma frustração muito grande, porque muitas pessoas se distavam e eu gostava de me destacar onde estava, não que eu precisava de atenção, precisava sentir que estava bem no ambiente (...) e começei a não sentir isso! E fiquei frustrada quase o ano inteiro. (...) Então ficou muito ruim foi difícil eu achar meu espaço!

E3

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88

Fiquei muito sentido! (...) Mas eu fiquei chateado! Na minha vida profissional a única coisa que marcou foi isso [intolerância]! O resto, eu tiro de letra!

E8

Os acontecimentos relatados acima dificultam a existência de um

relacionamento mais colaborativo entre os colegas de trabalho, ou entre empregador

e empregado, mas ocorre nas entrelinhas do relacionamento de forma velada e nos

bastidores; a violência é tão sutil a ponto de não conseguir ser caracterizada por

muitas pessoas, mas ainda assim causa uma modificação na relação profissional

sendo talvez o primeiro passo das outras formas de violência (Pedro et al, 2017).

Eu acho que tem uma violência velada em campo de estágio! E1

Essa é a situação! (...) é velada! E2

Ela esconde isso né! E esse assédio pode até ser velado, ele pode ser assim na entrelinha (...) fica meio velado isso (...)

E6

Posterirormente, nos discursos, os sujeitos “justificam” os motivos pelos quais

a intolerância, acontece e elaboram suas reflexões acerca destas situações:

Quando você não conhece, quando você não é a enfermeira daquele local! Me causa ansiedade, preocupação, porque nunca sei o que vou encontrar! Então eu fico pisando em ovos um tempo, até me apropriar das rotinas, da dinâmica, saber como funcionam as coisas.

E1

Mas tem essa violência esse assédio tem o tempo todo! Entre os próprios colegas você vê isso, tipo se puder pisar ou te ferrar para ficar “bem na fita” com a chefia, acho que você vive isso sabe! Então não é só aquela violência de bater! Tem aquela violência sexual! Assédio tem vários outros! Mas não é o bater, bater as vezes é o não bater que dói mais que bater né!

E4 Aí eu falei, mas espera aí fulana minha colega de trabalho da noite, nós estávamos aqui! Aqui na sala da nossa chefe procurando a tira de glicemia capilar, você viu que eu rodei o hospital inteiro! E você fez dos seus e não me deu pelo menos uma para fazer do meu pior paciente? Que estava com problema de glicemia! E isso rolou um mal-estar muito grande! E a minha chefe mais uma vez queria me advertir! Por que o da colega estava feito e o meu não estava? Violência! Violência!

E5

Na zona oeste eu não conseguia perceber essa inocência, mas não sei se é inocência, mas esta transparência como eu percebia na outra equipe e aí as atitudes de algumas pessoas de não ser parceiro na hora do trabalho.

E7

Agora o enfermeiro incrimina, olha lá, olha lá era para ter feito 5 ml de KCL [cloreto de potássio] fez 20. Eu vi! Eu vi! Então por que você não quis fazer nada? “-Há eu não falo com ele!” Eu acho que o enfermeiro tem esse

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grande problema “-há se eu ficar de bem com o chefe vou ganhar um final de semana a mais!” Eu acho que nisso o enfermeiro ainda pensa pequeno!

E9

Os sujeitos alternam exemplos de bons e maus encontros, interações que

exemplificam o conflito existente entre algumas relações políticas de trabalho entre

colegas, como o trecho a seguir:

(...) eu vinha de uma equipe muito boa de médicos e enfermeiros, muito parceiros, muito maduros no sentido de ter discussões, mas sem serem agressivos uns com os outros. Aí eu fui para uma equipe lá na zona oeste que foi completamente o oposto, eram eu acho que mal-amadas, não se entendiam, não se aceitavam, sei lá, mas a maioria das pessoas sempre queria prejudicar o trabalho do outro (...)

E7 Então eu tentei me aproximar! Falando de coisas que eu tinha estudado, para lidar com família essas coisas! Zero de interesse, zero, não queria! Perguntei coisas que eu não sabia! Sobre catéteres novos que tinha lá e tal! Mas era tudo assim muito complicado!

E1

E essa agressão esta pressão em cima o funcionário com o tempo de trabalho, nós os enfermeiros, acabamos sentindo você acaba vendo que quando trabalha em um setor de risco como UTI e pronto socorro o funcionário fica mais abalado emocionalmente é quando você vê que tem muitos afastamentos por problema de saúde ou está deprimido, então você tem que ser muito forte para vivenciar isso a enfermagem em si hoje não é fácil! Nunca foi né! Não é fácil! Então você tem que ter aí uma resposta tem que ser forte para isso (...)

E4

Na medida em que se instala a crescente mercantilização e tecnologização do

trabalho deixa-se mais evidentes o acirramento da intolerância (Schraiber, 2008).

E ao final das entrevistas os sujeitos revelam os reflexos e modificações

causadas pela intolerância no ambiente profissional como veremos no capítulo a

seguir.

4.2.2 Reflexos da Intolerância na Enfermagem

Estes trechos das entrevistas mostram a reação à intolerância que às vezes

consiste no afastamento da fonte agressora. No geral, é a atitude mais esperada

como reação a violência (Selingman-Silva, 2011). Mas, muitas vezes, por questões

de subsistência, as pessoas passam por estas situações sem poder enfrentá-las,

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tratá-las ou afastar-se o que pode levar a transtornos mais profundos pela repetição

a exposição à intolerância.

Fiquei pensando muito sobre continuar porque eu não estava feliz. (...) pelo peso de estar em um ambiente que não estava me sentindo confortável. (...) Então eu saí de férias (...) E estava pensando em voltar e sair de lá, porque eu não estava feliz (...)

E3

(...) existem violências verbais, psicológicas, mas eu decidi não continuar mais lá e acho que coloco isso como um processo, de certa forma, de eu me sentir violentada em alguns momentos e acabei saindo da empresa (...) Eu tive que ir embora porque, assim, não conseguia mais ficar, estava atrapalhando a minha vida (...) vi que as coisas mais básicas eu acabava perdendo por conta de um trabalho que não me valorizava (...) Me sentia meio violentada, eu acho que era essa palavra, para esse momento, mas me sentia insatisfeita e foram coisas que me fizeram dizer, não, não quero isso para mim (...)

E6

(...) a questão de relacionamento interpessoal que foi muito sofrido para mim, (...) e aí eu fiquei lá quase dois anos também, aí apareceu essa vaga que estou (...) foi o gancho de vir!

E7

Eu falei, não vou ser enfermeira! Não quero esse ambiente, para mim! E fui tentando outras coisas! Sei lá desisti! Fiquei fazendo muitos cursos tentando outras coisas! Não tinha nem COREN para você ter uma ideia! Ai, eu precisei trabalhar. Fui tentar outras coisas! Fui tentar entender!

E1

Estes mal-estares entre colegas de trabalho ou entre empregador e

empregado podem provocar o afastamento do trabalho, o que em grande escala

compromete a força de trabalho (Bordignon, Monteiro, 2016; Novaes, 2018). Na

medida que as pessoas precisam se afastar por conta da intolerância ou da

violência, isto causa modificações no ambiente de trabalho e na vida da pessoa,

respondendo a um dos nossos questionamentos.

E os reflexos da intolerância no ambiente de trabalho notados após seus

eventos podem perdurar por tempo indeterminado enquanto o conflito não for

resolvido, como vemos nos trechos a seguir:

Depois é seguinte, nós convivemos muitos anos depois juntos! Trabalhamos depois seis anos juntos nós dois e sempre que eu a via ficava com o pé atrás, né! Até que ponto eu podia confiar nela? Então acho que isso foi uma maneira de desconfiança! (...) às vezes você tem uma diferença com um colega, e aquela diferença você carrega para o resto da vida, que aquela diferença não deveria existir! Devia ter apenas um conflito profissional!

E8

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91

Quando fui passar uma orientação para um técnico de enfermagem e esse cara me ameaçou, e depois eu fiquei com medo pensando assim: Será que esse cara é louco? E se esse cara me pegar? Mas sei lá! O cara desce para rua e sei lá! Me dá um tiro! O cara ficou tão nervoso, tão nervoso que achei que o cara iria me pegar na rua, aí você fica meio cabreiro! Né! Olhando, não sabe a maldade do ser humano! (...) Mas eu fiquei meio assim pensando que o cara poderia fazer alguma coisa com o meu carro que fica na rua, ou sei lá comigo.

E10

Isso ela [a gerente] podia fazer com qualquer um de nós, desde que não estivesse servindo, descartar a gente desse jeito! Aquilo para mim também era uma violência institucional. Coagir você! Porque isso é coagir! A ter que denunciar o seu colega de trabalho por conta de uma situação. [ESF]

E2

A desconfiança pode ser vista também como uma marca da intolerância.

Mesmo no caso que envolve enfermeiro e técnico de enfermagem, o sujeito

descreve a exposição a intolerância e a vulnerabilidade que a relação de trabalho

conflituosa os coloca, ainda que com aparente segurança em seu ambiente interno

de trabalho, mantida pela relação de poder que o enfermeiro desfruta em relação ao

técnico de enfermagem (Marsiglia, 2011). Notamos, também, que no ambiente

externo ao trabalho ainda existem reflexos da violência a serem enfrentados e que

podem ocasionar transtornos mentais como a síndrome do pânico, aflições e

sensações de insegurança, decorrendo daí modificações na vida pessoal. (Campos,

Pierantoni, 2010). Esses sentimentos que geram a desconfiança estão presentes em

diversas inserções profissionais do enfermeiro, como na atenção primaria,

secundária, terciaria e até no ensino da profissão (Bordignon, Monteiro, 2016).

A expressão “marcou” aparece com regularidade na maioria dos relatos como

se as vítimas carregassem um estigma da intolerância e da violência, mas que não

são visíveis aos olhos, mas quando relembram o momento das agressões as

marcações ressurgem junto com sensações de dor e impunidade. Estas marcas da

violência latentes podem ser despertadas por novos episódios de intolerância, e

voltarem à tona, como uma memória que guiar os sujeitos nos momentos de

indecisão (Souza Campos, Montanari, 2011; Azeredo, Schraiber, 2017).

Aquilo me pesou muito! Porque você trabalha oque! Para a vida! Ai você, vai decidir ali! Ser o Juiz! Me marcou! Mais não me levou para licença médica! Fui sai dali! Fui para estratégia saúde da família onde eu trabalhava! Trabalhei o dia inteiro! Em casa tinha os filhos pequenos! Mais assim tomei um banho mais ficava com aquilo na cabeça! Meu deus do céu!

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92

Foi para a estratégia suade da família, onde eu trabalhava, trabalhei o dia inteiro! Ai em casa tinha criança pequena, marido e tudo! Tomei um banho, mais aquilo ficava na minha cabeça! E eu falava assim, meu deus do céu! Eu tenho que focar! Focar! Focar! Mais aquilo foi muito difícil! (...) Mais aquilo me desanimou! Porque toda vez que eu entrava ali na sala de emergência, ficava lembrando daquele episódio! Que o médico fez, e ficava esperando! Eu falava meu deus! Será que vai acontecer isso? Apesar de que como eu já tinha feito um relatório, ele já sabia. E a formiga sabe a folha que pica! Que qualquer coisa eu podia fazer um relatório.

E2 (...) a postura da doutora que estava me afligindo de trabalhar, mas eu não deprimia, mas eu sentia que ela ia chegar me incomodava! Eu falava caraca! Me incomodava, não queria passar por aquilo de novo! (...) Eu sinto isso, que algumas pessoas gostam de ver esse sentimento de temor! E se você não sabe lidar acaba tendo isso com frequência e as pessoas se aproveitam! Então você aprender a lidar e ter o resultado diferente de acordo com a forma que você se posicionou!

E3 Esse me marcou porque eu não estava esperando. Você não espera levar um tapa na cara de alguém assim (...) Você sempre vai encontrar algum que vai te xingar, um que vai te ofender, um que vai bater, um que vai pisar no seu pé só um pouquinho para dar uma doidinha e você vai se questionar sempre. Mas faça o seu melhor sempre de o melhor de você.

E4

Isso levou uns quatro ou cinco anos para aquilo sair do meu coração sofri de mais, de mais, meu deus você não tem a dimensão da dor que foi para mim! [os olhos do sujeito ficaram cheios de lagrimas]

E5

Não sei até que ponto! Mais isso marcou! Marcou! (...) Essa menina me marcou sim! Ela foi sacana desculpe a expressão, mas ela foi sacana! Ela usou de má fé!

E8 Essa foi uma das vezes que marcou! (...) Mas eu acho que o que me marcou bastante foi o caso desta paciente, que eu tive uma agressão física realmente e existiam tantos outros. (...) Mas eu acho que esse da agressão física dos socos das cusparadas na cara, que eu acho que de tudo mesmo com o passar dos anos me marcou bastante!

E9

E como uma reação aos maus tratos sofridos o sujeito resolve revidar

pacificamente para romper o elo da corrente de violência e da intolerância,

quebrando também um paradigma de que se deve revidar com violência as ofensas

recebidas.

Exemplifica sua atitude em:

(...) eu adoro lidar com público e eu acolho as pessoas de braços abertos é aquilo que eu falei a mulher bateu eu poderia muito bem pela dor, tem muitas pessoas que revidam e é aí onde você perde a sua cabeça! (...) eu procuro sempre tratar bem as pessoas para ser bem tratada!”

E4

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93

(...) porque eu sou uma pessoa que não pago com a mesma moeda (...) eu tomo e continuo ainda tomando, não consigo reagir tão rápido a alguma agressão de uma pessoa! Primeiro eu recebo e absorvo, infelizmente, absorvo, sofro e depois (...) então este condensar dentro de mim as vezes gera essas coisas ruins que estão dentro de mim!

E3

Afirma, assim, sua posição com relação à reação mais acertada para ela com

reação a violência.

Há também sujeitos que viram como alternativa às agressões os processos

judiciais como ressarcimento de danos, buscando na justiça a solução para a

violência do ambiente de trabalho.

Mas muitas vezes a reação a violência foi processo! E1

E por incrível que pareça, todos os negros afrodescendentes tinham os cabelos alisados. Todos era um padrão. O que se há de fazer? E hoje a instituição tem um índice muito grande de processos (...). [O sujeito bate palma com satisfação] Muitos processos por inúmeras situações, coerção, os métodos coercitivos que eles utilizavam, né são várias situações. É duro!

E2

Alguns sujeitos não puderam reagir as injurias sofridas ou não se sentiram

preparados para revidar.

E daquele dia em diante o que aquele médico me perseguia! Era incrível! Não tinha como comunicar o que ele tinha feito! Foi um absurdo aquilo! Aquela situação a pessoa chegar em você e falar escolhe quem é que vai viver!

E2 Assim, deixei que o tempo apagasse essa dor! Porque quem iria olhar para um número dentro do hospital como a E5? Só o tempo poderia me ajudar como ajudou hoje eu tenho uma grande amizade com a pessoa que me colocou para fora da UTI! Passou não existe mais dor, mas no momento foi muito duro! Só o tempo te ajuda em tudo na sua vida só o tempo.

E5 Eu reagi, eu fiquei com cara de pastel né, aí eu fiquei me questionando! (...) Então eu fiquei passada e a hora (...) fiquei desapontada me sentindo um zero à esquerda, é uma coisa que você não espera e isso me marcou muito! Mas a vida continua, não é isso! (...) Eu acho que em qualquer situação você não tem como revidar! Porque pensa você de plantão aí chaga o seu chefe te agride! Você vai revidar? Não, não tem nem como! Você pode até tentar se reportar a alguém da melhor forma, acima dele deve ter alguém! Só que depende muitas vezes, (...) se ele de uma forma (...) tenha vamos dizer “rabo preso” vamos dizer assim! Se não você vai ter que arcar com as consequências!

E4

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94

E, como nem sempre é vista a possibilidade de reação a intolerância por parte

da vítima, justificada possivelmente pela sensação de desanimo e impotência

vivenciado pelas vítimas após o episódio de violência (Molinos et al, 2012; Pedro et

al, 2017)

Assim a sensação de impunidade e impotência aumentam, como são colocas

as observações dos sujeitos acima. Mais dados que corroboram para esta sensação

podem ser encontrados na discussão quantitativa deste trabalho onde é indicada a

sensação de impunidade como principal causa para que enfermeiros não denunciem

agressões.

4.2.3 Preconceito na Enfermagem

Mesmo tendo passado mais de cem anos da abolição o racismo continua

presente nos relatos dos entrevistados pretos, como sendo sistêmico nas relações

de trabalho dos enfermeiros.

Acho assim muitas vezes as pessoas desacreditam, nessa parte intelectual do negro. Eles olham assim e pensam como é que é isso? Mas nem por isso eu deixo de gostar da minha cor! De ser quem eu sou! De maneira nenhuma! Eu cresci em uma época que era mais difícil, mas que a gente aprendeu a ter resiliência!

E2

Aí essa senhora tinha ido na farmácia para pegar medicação e a receita estava vencida, então ela pegou uma senha preferencial para passar no acolhimento e ver se tinha condição dela conseguir uma outra receita! Aí veio outra pessoa que pegou uma senha, (...) e quando passou na frente dela porque estava com consulta agendada ela ficou muito agressiva e dizia: - Porque passaram ela na minha frente! Que todos eram incompetentes e que ninguém ali prestava para nada. Só que daí ela focou na menina da direita que era uma pessoa negra e ela dizia: - Eu não quero mais passar em acolhimento nenhum, porque vocês são todos incompetentes. E jogou o papel na menina que ainda assim foi tentar ajudar, a mulher não falava gritava e a unidade estava cheia só que a menina tentava ajudar-la, só que o computador estava muito lento como sempre e a paciente agressiva ficava gritando o tempo todo na cabeça dela e dizia: - Tá vendo a demora para fazer uma coisa simples, está vendo você não

deveria estar aí porque é uma burra é uma incompetente! E7

Foi feio pra caramba. Sabe o pronto atendimento? As duas da manhã entrou um paciente para tomar glicose na veia e disse: - Todo preto ou é veado, ou é corno! Falou e saiu pelo corredor (...). Isso me deixou bem chateado! Para que fazer isso? Bom pelo menos se ele tivesse conversado comigo!

E8

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95

Na medida que você falou sobre a violência que abrange bastante coisa, você acha que a violência é só tapa na cara, não mais ô diversas vezes, desrespeito, pressão de quem está comandando, cuidador, nossa no Hospital um cuidador, eu desacreditei, jamais esperava isso, esperava de paciente, de família! Mas de cuidador? Tem que saber lidar, até me ofendeu, o que ela falou: não sei o que safado! Olha a situação? (...) Dai ela falou não sei se foi preto safado ou neguinho safado (...) eu nunca me ofendi com relação a isso, nunca! Senti que eu fiquei sabe? Furioso por conta disso né! Mas enfim depois eu fiquei pensando e falei para a coordenação e eles disseram: - Ela é leiga! Para abafar o caso. (...) a gente passou para coordenação de repente pudesse ter alguma coisa eles chegaram a conversar com a cuidadora, mas aí ela deu uma choradinha e tentou se explicar para a coordenação, mas enfim ela continuou.

E10

Analisando os dizeres de E10 que descrevem uma experiencia de violência

em um hospital particular e, mesmo tendo sofrido uma injuria racial, ele se preocupa

em comunicar à coordenação para se defender, pois a perseguição pode continuar

caso ele não denuncie a seu superior, e se modificar em gravidade, pois a

acompanhante pode fazer uma reclamação dele e, consequentemente, ele perderia

sua razão invertendo a ordem transformando agressor em agredido, revertendo a

queixa contra a funcionário.

Ainda mais marcante como situação de injuria racial, o relato de E8 descreve

a relação enfermeiro e paciente em que ele é hostilizado por ser preto com a frase

“Todo preto ou é veado ou é corno!” e depois externa sua emoção com relação a

todo a acontecimento, “Mas foi isso eu fiquei chateado.”

Neste caso o clientelismo se demostra claro nas relações de serviços

prestados por hospitais privados, onde o paciente é cliente e o acompanhante

também e o enfermeiro é o empregado que deve ser subordinado e submisso

sempre para evitar constrangimentos e retaliações por parte da instituição que

compra seus serviços. Demostra uma subordinação na qual não se dá ouvidos ao

funcionário e sim ao cliente sendo justificada também pelo lucro da instituição.

Mesmo assim o termo resiliência vem sendo empregado como forma de

resistência pacífica a agressões sofridas pela pessoa como finalidade talvez de

facilitar ou suavizar o convívio constante com essas situações que não deveriam

existir em nossa sociedade. Mesmo assim o sujeito aponta como situações

cotidianas. (Arendt, 1999)

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São situações que a gente passa. Além dessa questão do cabelo tem sim situações, um exemplo: Quem é o enfermeiro? Por mais que a gente fale, temos que sempre estar para mais! Tem que estar vestido adequadamente! Saber como se expressar! Saber como se portar! Isso é padrão! Isso é de todo mundo! Mas nós negros temos mais ainda! Né! Por quê? As pessoas as vezes desacreditam. Então entram no setor e perguntam: Quem é o enfermeiro? Quem? É uma situação que existe! É velado, mas existe!

E2

A frase “Quem é o enfermeiro?” vem carregada de descrédito sofrido por

profissionais que não correspondem ao estereótipo compatível da “lady nurse”, seja

por ser negra ou participar de qualquer minoria estigmatizada pela sociedade. Como

é o caso da cultura indígena do nosso próprio país como relata o sujeito:

(...) teve uma colega (...) essa pessoa chegou e a única experiencia que ela tinha era com os índios, então é uma dinâmica de trabalho completamente diferente, é outro protocolo que as ações vão muito em conjunto com a cultura deles então foge da nossa, do nosso protocolo! Então ela veio para uma bucha, que era a sala de curativos para ela cuidar e organizar, só que ela não entendia muita coisa do protocolo, entendia até de coisas naturais por causa dos índios, mas ai toda a proposta que ela tinha para melhoria as colegas da Estratégia não concordavam, questionavam, expunham ela na frente das outras pessoas, então ela não tinha o apoio das próprias colegas do modelo de assistência que ela trabalhava (...) ela era boicotada, nada do que ela propunha era aceito pelas colegas (...) nada era aceito, sempre ela era criticada por qualquer atitude dela (...) essas atitudes muito me entristeciam, (...) pois ao invés das colegas apoiarem, impunham a sua cultura sobre ela e “nada de parceria”.

E7

Esta situação perdurou até que a enfermeira de saúde indígena se adequou

aos moldes institucionais impostos pelas colegas. Corroborando o dado fornecido

por E7, de que o profissional deve se moldar a instituição e não ao contrário:

Então o que eu vi? Esse tipo de violência contra os funcionários! Eu nunca vi mudar estrutura! Né de novo, quem está no andar de cima, apesar de estar em cima, não conseguia olhar de forma ampla! Não vi! Esse tipo de mudança! Nem a gente teve lá no ambulatório! Tinha aquele menino que era descendente de índio lá! Que o pessoal também não gostava do jeito dele de trabalhar, de falar! Quer queira quer não era uma violência que existia um certo preconceito! (...) Ele acabou sendo substituído por uma questão técnica! Mas não por uma questão de aparência ou do jeito de falar da pessoa. E não tínhamos uma mudança de postura da empresa! Não! Não vamos mudar! Normalmente a mudança de estrutura que tem. Normalmente é, tira o funcionário mandar ele embora, ponto, e você se vira com o que tem, não vamos mudar, não vamos melhorar! Eu nunca vi mudar! (...) Acaba muito mais o funcionário tendo que mudar, fazer uma autocritica, uma resiliência e ele ter que mudar para se enquadrar, do que

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propriamente uma estrutura física ou organizacional nunca encontrei isso não!

E9

E quando o enfermeiro não consegue se moldar a instituição por qualquer

motivo a ideia dos sujeitos é que ele normalmente é substituído pela empresa,

porém essas demissões não têm causas justas. Por vezes, então, esses enfermeiros

são moldados pela violência através de imposições e ameaças de pessoas que

disfrutam de maior força.

4.2.4 Desigualdades de Gênero na Enfermagem

Depois de ter vivenciado o feminicídio de uma colega de trabalho, também

enfermeira, E7 comenta o que sentiu após o episódio:

É uma sensação de insegurança e de “desprotegimento”, porque eu não consegui ajudá-la e me senti a mercê, porque aconteceu com ela, mas poderia ter acontecido comigo, poderia ter acontecido com minha irmã, com as minhas colegas, talvez com a minha mãe!

E7

E refina seu conceito de liberdade enquanto dialoga da seguinte maneira:

Mas ela [vítima] por ele [feminicída] foi privada da liberdade praticamente mesmo teoricamente “estando livre!” (...) E foi uma sensação de muita impotência de “desprotegimento” mesmo que eu E7 senti sabe?

E7

Na tentativa de descrever um sentimento o sujeito se utiliza de um

neologismo que, nos chama atenção, o qual o sujeito intitula como

“desprotegimento” se referindo a uma sensação que tem ou teve com relação ao

acontecimento. O feminicídio vem aumentando consideravelmente em nossa

sociedade conforme aponta o Atlas da Violência (2017) e seus reflexos são sentidos

no cotidiano profissional da enfermagem.

Explorando mais ainda a questão do gênero e da profissão notamos no relato

do sujeito E6 uma relação de subordinação da mulher dentro do ambiente de

trabalho (Pedro et al, 2017). Essa enfermeira trabalhou durante dezenove anos em

uma das maiores empresas de home-care do Brasil e relata:

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Esse episódio foi com um diretor e uns gerentes cargos acima (....) mas sempre cargos superiores e normalmente homem se eu for olhar sabia? Gozado né! (....) nessa empresa as chefias, a gerencia e as diretorias tinha apenas uma mulher, então provavelmente a chance de ser subordinada a homem era de noventa por cento, então sempre fui subordinada a homens e eram eles que davam os petis, as crises ou não cumpriam com as suas funções, engraçado né agora analisando! (...) eu até tinha de função muita coisa gerencial, mas só que de cargo tinha a nomenclatura abaixo e até de salário também porque se eu colocasse esses gerentes eu não ganhava nem cinquenta porcento que eles e sempre foram homens.

E6

O sujeito revela que a violência institucional que sofreu está ancorada na

violência de gênero uma vez que tem de ser subordinada a homens, que remete e é

justificada por relações machistas da sociedade patriarcal e do meio corporativo e

atribui o seu afastamento da empresa a violência (Molinos et al, 2012).

E você tem conhecimento daquilo sabe fazer, mas ele ganha né ele ganha cinco vezes mais que você era coisa assim absurda e o que acabou culminando na minha saída (...) Eu tive que ir embora porque assim não conseguia mais ficar, estava atrapalhando a minha vida pessoal, tinha um nenezinho novo (...) quando eu viajava por exemplo para o Rio de Janeiro e eu amamentava na época para mim isso não amamentar um nenezinho o dia inteiro, você sair seis horas da manhã e voltar no mesmo dia, fora o desconforto físico de estar cheia de leite o meu filho teve que introduzir outras coisas, então eu ficava pensando será que vale a pena?

E6

A relação acima descrita demonstra a inadequação do trabalho ao corpo e

suas necessidades fisiológicas (Dejours, 1992). Sendo essa situação de opressão

legitimada pela violência institucional, o enfermeiro é obrigado a se submeter aos

desmandos de chefes que não valorizam seu trabalho e a se ausentar da sua família

e do direito de amamentar seu filho para manter seu emprego e renda. Sucateiam,

assim as relações de trabalho e direitos trabalhistas, como demostrados por Oliveira

e Nunes, 2008.

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4.2.5 Representações Sociais da Violência na Enfermagem

Por vezes a violência passa por métodos de coação do enfermeiro, que são

muitos e diversos, tentando fazer com que o corpo do funcionário se discipline17 e

obedeça a ordem de seu “superior”, sem que haja persuasão política para o

exercício do poder (Arendt, 2013; Azeredo, Schraiber, 2017). A intimidação e

ameaça vêm para que a obediência do corpo aconteça, mas por vezes o funcionário

não aceita imposições violentas por longos períodos, pois necessita ter seus desejos

e valores respeitados e anseia ser inserido no processo político.

E quando os desejos do funcionário são diferentes dos de seus “superiores”,

este que deveria ser um momento de exercício do poder com diálogo e persuasão

torna-se um embate violento onde o “superior” utiliza a seu favor todo o arcabouço

institucional contra o funcionário com a finalidade de submetê-lo, à força, a seus

mandos.

Fizeram um monte de coisa que não informaram (...), a gente não participou, não, coisa nenhuma! Aí veio uma ata pronta para (...) assinar! Eu fazia parte do NDE [núcleo de ensino] junto com outras colegas! Ai o que eu fiz? Eu falei: - Só assino se mudar esse negócio assim, assim e assim! A coordenadora coitada levou para diretoria, e nosso nome foi para lata do lixo, meu nome principalmente foi para lata do lixo! Porque eu não cooperava! Porque eu jogava contra! Eu falei olha: O NDE é para participar das coisas! Então, no momento vocês perguntaram o que eu achava? Não! Fizeram tudo na surdina! Trouxeram uma ata pronta, para eu assinar! Então eu não assino! Não valeu de nada! Entendeu? Mas causou uma má impressão horrorosa minha e da R! Ai no final daquele semestre todas nós fomos demitidas!”

E1 Eu sentia que ela [a gerente] queria que eu tivesse postura de estar na frente resolvendo as coisas junto com a população, o que seria papel dela! E (...) não tinha estrutura (...). Eu tenho insatisfação da população! E eu comecei a ver que a gerente que estava lá ela queria que eu resolvesse! Que eu estivesse ali para poder diminuir aquilo ali! Eu falei não! Eu consigo fazer aquilo que foi determinado! O que foi determinado? Fazer exame! É por ondem de chegada? Gerente - “É! Mas você tem que flexibilizar!”. Mas se eu flexibilizo para um tem mais cinquenta, sessenta na fila, todo mundo tem pressa! Eu me lembro de uma situação que ela veio querer penalizar

17 A “disciplina aumenta as forças do corpo (em termos econômicos de utilidade) e diminui essas

mesmas forças (em termos políticos de obediência)” (Foucault, 1999).

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uma funcionária (...). Não sei se o problema era comigo ou se era com ela! Né. Era uma negra [funcionária], mas assim não tinha motivo (...) então, a gente tentava se desdobrar e aí veio uma reclamação enorme! E ao invés de eu ir pra cima da funcionária, eu fiz um relatório com o que cada um estava fazendo! Simplesmente ela não gostou! Então o que eu vi? Esse tipo de violência contra os funcionários!

E9 Poder, o cara é enfermeiro passa a ser supervisor, ele não sabe que a função de supervisor é orientar os outros, ele acha que é punir! (...) só acho que o único direito que não tinham é de chegar lá e acuar, espirrar alguém que já estava lá e colocar outro! Ou nem acuar, não deu nem satisfação, chegou lá e colocou outra pessoa no lugar, é o mesmo que falar assim “você e uma folha seca é a mesma coisa!” Entendeu como a coisa institucional é complicada.

E8 “(...) e ela se tornou a chefe das chefes e quis me expor e eu não estava preparada para aquilo! E da forma que ela falou eu me senti muito agredida! (...) Havia enfermeiras que passaram humilhações piores que a minha! (...) Para outro enfermeiro falava assim: - “Ô você não presta para ser enfermeiro! O que está fazendo aqui?” Na frente de todo mundo eu vi colegas meus passarem assim apuros que você não sabe nem o que falar para eles! (...) e ela começou a me perseguir muito depois disso! E por mais que eu falasse alguma coisa parecia que eu sempre estava errada, nunca estava certa! (...)

E3 Coisas verbais, [violências] enfim você exercer funções que não são inerentes ao teu cargo e de repente a tua chefia, fica meio velado isso, se você reclama que o seu gerente não faz e é você quem faz as coisas como planilhas dele, eu coloco isso como uma questão de violência, porque você se sente muito oprimido quando faz isso, trabalha o que o outro deveria fazer aquela função e não faz!

E6

É exemplificado, abaixo, outro método de coação do enfermeiro pela chefia

com o uso de violência institucional em uma situação que culmina em sua

transferência de setor. A transferência, ao invés da demissão, para obtenção da

disciplina e obediência do corpo do funcionário como exercício de violência

institucional sem a utilização de diálogo ou política. Passando o funcionário, após a

transferência, a ser desprezado e marginalizado dentro da estrutura institucional,

assumindo tarefas que são desvalorizadas pelo grupo profissional. Utilizando a

transferência como penalidade aplicada ao enfermeiro.

“Você está de plantão hoje à noite, mas amanhã de manhã você não precisa mais voltar aqui, porque a partir de amanhã, você será transferida para o pior setor!” Isso é uma violência!

E5

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101

A transferência de setor pode ser ainda pior que a demissão, embora os dois

métodos de coação tenham em comum as ameaças e intimidações. A demissão

pode assegurar o distanciamento da fonte agressora e o pagamento de direitos

trabalhistas, caso haja contrato de trabalho, e na coação sem demissão o

funcionário é obrigado a demitir-se para se afastar da fonte agressora ou continuar

aceitando as agressões até que a demissão aconteça. E nos dois casos o

funcionário é prejudicado economicamente, porém mais prejudicado no caso de

demitir-se, pois não receberá verbas indenizatórias.

Outros atores podem também querer impor seus desejos aos enfermeiros,

além dos chefes, como acompanhantes e familiares exercendo suas vontades e

desejos através da subordinação do enfermeiro como vemos nos trechos a seguir:

Muitas violências, agressões são por parte dos acompanhantes, eles acham que tem o rei na barriga, porque está pagando o convenio (...) [o acompanhante] quer ser atendido, não quer saber se tem espera se não tem (...)

E4 Tinha família que te tratava como um lixo e eu nunca tinha passado por isso em nenhum hospital! Ser tratada como uma inútil (...) dentro de um hospital particular, porque eles promovem a satisfação da família e do paciente sempre (...). Eu não dormi em cima de livro para isso daqui!

E3 Sofri uma violência física de um idoso na campanha da gripe (...) o senhor fez: Vai! Vai! Vai! E me deu um empurrão (...) e esse senhor estava causando, porque queria ser prioridade (...) aí quando ele entrou [na sala de vacina] eu falei: O senhor percebeu que me empurrou? – É, eu empurrei mesmo!” (...) Recentemente tivemos um caso que foi uma senhora que agrediu verbalmente uma enfermeira que ficou mal o final de semana inteiro, foi muito forte, a ponto dela estar fazendo acompanhamento na clínica de psicologia da empresa por causa disso.

E7 Tem violência comigo! De eu tentar ser agredido por paciente! (...) a mulher me deu três socos na cara! Aí eu segurei, falei senhora calma, não precisa disso! Era eu afivelando o sinto [da maca] e ela cuspindo na minha cara! Tomei umas, para não contar errado, pra mais de dez cusparadas na cara! E ela cuspia, cuspia mesmo!

E9 Se eu não tivesse com o crachá eu tinha chegado com minha cara quebrada! Ele [paciente] falou: - Só não vou quebrar a sua cara aqui na frente de todo mundo, porque você está usando um crachá! Eu sei que isso é uma lei tem que respeitar o funcionário!

E8

A coação por parte dos pacientes e familiares pode ocorrer na forma de

reclamações e atitudes que facilitam seu atendimento como a ouvidorias e

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corregedorias que, por vezes, são utilizadas como instâncias que punem os

funcionários ao invés de solucionarem os problemas, como vemos neste trecho:

Tudo tinha que explicar! Porque tudo é motivo de ouvidoria né! Então se eu saísse de lá como quem não quer nada e voltasse como quem não quer nada, eu já não estaria fazendo nada!

E7

Alguns autores apontam possíveis motivos pelos quais os pacientes se

transformam em agressores, como dificuldades e obstáculos a serem transpostos

pelos usuários do sistema de saúde: rotinas rígidas de atendimento; atenção

primária insuficiente; filas e demora até receber o atendimento que necessita e

quando é atendido em um local já sobrecarregado pela demanda, acaba

descarregando sua frustação na enfermagem por estarem mais próximos a esses

profissionais, neste momento (Contreira-Moreno, Contreira-Moreno, 2004;

Vasconcellos et al, 2012; Santos, et al, 2011; Pedro et al, 2017). Situação que pode

colocar os usuários na situação de vítimas do sistema e agressores dos enfermeiros.

Sendo os profissionais da enfermagem também vítimas do sistema de saúde

que, muitas vezes, os coloca frente ao paciente sem condições de trabalho ou

insumos suficientes para atendê-lo, torna-o duplamente vulnerável por parte do

paciente insatisfeito e do sistema ineficiente, uma vez que o enfermeiro pode ser

visto como responsável pelas faltas de materiais e insumos. Como vemos sendo

afirmado pelos sujeitos da pesquisa:

Para resolver teria que dar melhores condições de trabalho, melhores condições do próprio setor, ai acho que já vem de governo de Estado, de repente assim você trabalha em uma UBS, em que as condições são poucas ou trabalha em um pronto atendimento na favela X, chega lá não tem remédio, não tem seringa, não tem agulha, não tem soro, não tem material para trabalho, mas o funcionário está lá! Tem funcionário! Aí chega o pessoal para ser atendido e briga e xinga (...). Vem a violência! Então eu acho que primeiramente tem que haver as condições para se trabalhar, o respaldo para se trabalhar e ter essa proteção, vamos dizer assim você está lá vulnerável, exposto, chega qualquer um lá e dando tiro, agredindo ou xingando! Ele [o paciente] está lá na fila demora e ele começa a gritar, xingar e espernear quem estiver na frente dele vai levar! (...) e chama o outro [acompanhante ou familiar] para vir brigar no lugar dela!”

E4

Outros integrantes da equipe também podem atribuir ao enfermeiro as faltas

dos recursos necessários para uma boa assistência, subordinando estes

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profissionais em uma situação que pode resultar em enorme pesar e

responsabilidade maior do lhes competem, como:

Eu trabalhava em um hospital referência de trauma, aquele plantão (...) lotado. (...) você olha e não sabe nem por onde começar! Todos os respiradores ocupados, não tinha vaga na UTI, (...) duas e pouco da manhã o SAMU encosta lá e levou um paciente grave! Aí o médico surtou: - E aí enfermeira? Não tem respirador! Não tem vaga na UTI! Não tem nada! Agora vamos lá! Você decide quem vai viver? Eu olhei assim e disse: Eu é que tenho que decidir? Nossa! Já foi comunicado ao plantão controlador. O médico começou a xingar e foi para o conforto! E foi assim das duas até as seis horas da manhã, que era a passagem do plantão, nós passamos revezando, ambuzando e passamos o paciente ainda vivo!

E2

O paciente ia cair da maca e o médico não segurou (...): Doutor fulano o paciente está caindo. – “Eu sou médico, quem tem que segurar é a enfermagem!” Eu achei isso um absurdo! Porque o paciente pode ser até dele! Como eles dizem: - o paciente é meu! – “Não, esse paciente caiu e eu não protegi, porque a grade não estava levantada, a pessoa só fez a contenção, mas não levantou a grade!” (...) pode ser o diretor do hospital! Se você vê uma maca tombando e vai cair tem que proteger a cabeça (...) pode ser o pior indigente, que é um ser humano também (...) O paciente fez um TCE (Trauma Crânio Encefálico) e foi a óbito! (...) Envolveu a enfermeira, ela foi para o COREN responder pelo caso, foi uma briga assim feia (...) O cara é um médico, um diretor e você tem que pegar um paciente obeso sozinha e colocar em uma maca e ele não pode te dar pelo menos uma forca? -“Porque eu sou médico!” (...) mesmo se eu tivesse problema de coluna (...) eu iria amparar com o pé (...) E quase sobrou para enfermeira (...) teve que contratar advogado, porque era ela a enfermeira responsável pelo paciente, trabalhava lá no hospital e também trabalhava no Hospital M.”

E8 (...) eu trabalhava com ambulância e estava fazendo um evento, era um jantar de final de ano (...) eram consultoras eu acho, 98% eram mulheres! E eu estava lá e uma mulher começou a gritar, gritar e os seguranças conduziram ela para uma área do próprio buffet, (...) E eles acham que o enfermeiro é aquela pessoa que resolve tudo (...) me chamaram e eu fui lá atender. – Eu disse calma senhora, fica tranquila. E ela – Calma nada! E começou a contar a história, o problema todo, e começou a chorar! - Eu falei senhora, calma fica tranquila, acho que a coisa não é por ai! E ela veio, veio na minha direção, meio que debruçou a cabeça, falei - calma fica tranquila! Chora, desabafa! (...) E a mulher simplesmente deu uma fungada no nariz e parou de chorar! Olhou pra minha cara e falou - Eu te conheço? Eu disse – Não, meu nome é E9, eu sou enfermeiro, estou te atendendo! (...) a mulher me deu três socos na cara! Aí eu segurei, falei senhora calma, não precisa disso! (...) desabou a chorar de novo! (...) outro soco na cara! Eu disse: - ela está sob efeito de álcool, vamos levar para o hospital! (...) A gente teve que segurar, manteve a calma, não que não desse vontade de revidar de alguma forma, não me faltaria motivos, mas não foi o caso por conta da circunstância.

E9

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104

Chama atenção nos relatos acima, além da violência contida neles, a

responsabilização do enfermeiro frente às situações e a ideia que diferentes

profissionais fazem da profissão. Porém, é preciso se dar conta de que todos são

responsáveis pelos acontecimentos como profissionais da saúde.

E o enfermeiro, dependente econômico e social do trabalho, se vê obrigado a

aceitar as violências perpetuadas por diferentes atores em nome do trabalho que

representa muitas vezes sua subsistência e ao mesmo tempo precisa desenvolver

mecanismos para conviver com esses maus encontros por isso se utiliza das

ideologias defensivas, para tornar mais tolerável a convivência com as fontes de

agressão. (Dejours, 1992; Seligman-Silva, 2011)

4.2.6 Ideologias Defensivas na Enfermagem

Dejours (1992) descrever a teoria das ideologias defensivas observando um

fenômeno que se estabelece por um padrão comportamental que se reproduz

socialmente, em um extrato social específico ao qual nomeia de subproletariado

composto por indivíduos dos subúrbios de Paris. Porém o autor afirma que esses

padrões comportamentais chamados de ideologias defensivas, podem se repetir em

outros grupos sociais, mas que se estabelece justamente pela reprodução social, ou

seja, o fenômeno pode ser observado pela repetição dos padrões comportamentais

de indivíduos de um mesmo grupo social ou até de uma categoria profissional

especifica, como foi o caso da enfermagem e demonstramos a seguir.

Sabemos que não tratamos exclusiva ou prioritariamente de pessoas com os

estereótipos do subproletariado e sim com profissionais de qualificação universitária,

as ideologias defensivas acontecem nas análises dos discursos apresentados dos

sujeitos desta pesquisa no momento em que transformam sofrimentos em

aprendizado, justificando para si mesmos e para os outros que ouvem seus relatos,

as violências sofridas juntamente com as emoções vividas, conforme Seligman-Silva

(2011), trata como a transformação de experiencias negativas em experiencias

significativas.

Chamaram atenção os relatos em que a percepção de violência contradiz o

conhecimento científico, que afirma que a violência é estritamente negativa,

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105

prejudicial e nada deveria trazer de produtivo (Minayo, 2005). Mas durante as

entrevistas, da forma com que são construídas as ideias, os relatos dão impressão

oposta; os sujeitos encontram dentro dos episódios de violência pontos positivos,

como exemplo, quando provocados pela pergunta: Você notou alguma modificação

no ambiente de trabalho após o evento de violência?

No geral, as respostas são de que aquele episódio causou sensações e

sentimento desagradáveis, mas que posteriormente provocou alguma alteração

positiva nos sujeitos, como por exemplo:

E é uma coisa que assim eu sempre procurei incentivar todos que estão ao meu redor a crescer! Eu falo assim meu deus, porque isso é um absurdo! Como eu já passei por isso na pele! Eu também não quero que ninguém passe! É incentivar para mais! Não quero matar o sonho de ninguém!

E2

No parágrafo acima, uma das entrevistadas comenta que mesmo tendo

sofrido violência institucional, por ser oprimida pela chefe a não estudar e se

sentindo coagida, ela persistiu no seu ideal e desde então compreendeu que isto é

importante para as outras pessoas e tenta colaborar com o desenvolvimento de seus

colegas, mas demostra que essa atitude aconteceu as custas da violência que

sofreu, muito parecido com outros sujeitos conforme o relato a seguir:

(...) sempre tenho receio da equipe médica até sentir segurança! Então por quê? Por terem posturas que me marcaram no passado! (...) Mas eu consigo encarar e consigo me conter! Agora! Antes eu não conseguia encarar a pessoa me diminuía como se fosse um lixinho mesmo! Hoje eu consigo lidar melhor!

E3

O sujeito comenta acima sobre uma violência institucional que sofreu de uma

médica chefe que o humilhava em público e que esta violência fortaleceu seu

comportamento ensinando-o como lidar com situações desse tipo.

Eu com aluno, com colegas de trabalho que não sabem, eu procuro ser o oposto, tento né! Ser o oposto!

E7. Acho que serviu para isso, para ver como é importante acolher o aluno, principalmente aqueles que começam na enfermagem, e vão se deparar com coisas que eles nunca imaginaram, com o sofrimento humano! Que às vezes nunca viveram! ... Eu acho que é muito importante acolher todas essas demandas, todos esses sentimentos do profissional e do aluno. (...)

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Eu acho que tudo isso é fruto de eu ter sofrido bastante, na faculdade de sair chorando das avaliações, que eu saia chorando das avaliações! E eu não me conformava! Eu falava quero ser enfermeira! Eu gosto de ser enfermeira! Por que elas acham que eu não sirvo para ser enfermeira?

E1

Estas situações podem ocorrer porque, na maioria das vezes, o enfermeiro

não encontra estratégias organizacionais estabelecidas ou um sistema de proteção

social no trabalho suficientemente eficaz para auxiliá-lo a enfrentar as agressões,

insultos e humilhações sofridos, passando a utilizar-se das ideologias defensivas

para tratar suas próprias questões (Banco de Danos COREN/SP, 2018).

As ideologias defensivas podem auxiliar a convivência com situações de

violências. Mas ainda assim, mesmo latente, o incômodo com a violência pode não

deixar de existir, como uma espécie de resíduo, gerado pela intolerância sua

precursora. (Barreto, Heloani, 2015).

O pensamento do enfermeiro funciona de forma a transformar aquela dor,

sofrimento da experiencia violenta imposta pela fonte da agressão, sentida no

momento do embate, a que chamamos aqui de maus encontros, em algum

conhecimento significativo fazendo com que valorize as situações como forma de

aprendizado (Seligman-Silva, 2011). Mesmo que associe o episódio de violência

com sofrimento e agonia, o indivíduo precisa conviver com aqueles acontecimentos

desagradáveis [violências] até que consiga a seu modo enfrentá-lo.

Geralmente os enfrentamentos nestes casos acontecem em duas arenas: a

pública e a privada como a produção da maioria das representações sociais

(Moscovici, 2012). Os enfrentamentos públicos acontecem nos momentos de

conversa com seus pares, familiares ou amigos no seu convívio pessoal ou

profissional. Os episódios são contados repetidamente até que se leve a uma

situação de aceitação e possa justificar suas próprias decisões futuras podendo

levar até a reprodução social de atitudes semelhantes para “ensinar” a outras

pessoas, geralmente, mais jovens ou menos experientes (Guareschi, 1994).

E o enfrentamento privado acontece durante a racionalização do

acontecimento e leva em consideração os valores que aquele individuou possui

como a moral e a ética e pode se utilizar também de representações sociais já

conhecidas pelo individuo, que já foram apreendidas (Moscovici, 2012).

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Poderíamos chamar esse movimento de assimilação das ideologias

defensivas, como o de uma construção de imagem, método para constituição de

uma representação social ou também um modo de manutenção de uma

representação social utilizada para o enfermeiro conseguir manter o convívio

profissional em muitas instituições (Moscovici, 2012; Dejours, 1992). O enfermeiro

precisa tornar os maus encontros do trabalho como a violência e a intolerância em

toleráveis, menos insuportáveis.

O movimento da assimilação das ideologias defensivas se ancora no senso

comum que diz que tudo que acontece na vida é para o bem ou para melhor.

Eu sabia que eu ia ser demitida! Só não sabia que eu ia ser demitida da [universidade privada] também! Mas tudo bem, a mudança foi para melhor! A mudança foi boa!

E1 Fui superando isso e depois coisas muito melhores surgiram profissionalmente falando.

E6 Eu acho que nós vamos amadurecendo com as nossas vivencias, aprendemos mais com o que erramos do que irmos atrás de ser melhor! Eu acho que é mais fácil a gente ficar diferente errando, mas é muito pesado precisar errar, ter que passar por situações ruins para aprender! (...) É que às vezes você sofre a violência, mas utiliza aquilo como um degrau para sua vida!

E3 Mas são coisas [violências] que ajudam também a você crescer também e ficar mais esperto, ter um olhar universal.

E5 Na verdade, você aprende com essas situações adversas [violências] e se polícia mais.

E10 Mas a vida continua (...) eu acho que você tem que dar o melhor de si e fazer o melhor para as pessoas.

E4

Através da reprodução do evento e reconstituição do acontecido diversas

vezes, ao longo de anos, o indivíduo acaba por aceitar esses acontecimentos e

posteriormente transformá-los em acontecimentos significativamente positivo e

consequentemente para isso precisa utilizar a construção da imagem da ideologia

defensiva.

Para que seja considerada uma ideologia defensiva é preciso que haja

reprodução social (Dejours, 1992). E nos trechos extraídos abaixo podemos

demostrar a reprodução social através do diálogo.

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O que serviu a postura da doutora que estava me afligindo de trabalhar (...) mas eu não deprimia, sentia que ela ia chegar e me incomodava. (...) Se ela tem a personalidade com um jeito de exposição acho que você tem que encarar ela de verdade, porque ela gosta de ver o temor nas outras pessoas! Eu sinto que algumas pessoas gostam de ver esse sentimento de temor, se você não sabe lidar, acaba tendo com frequência e as pessoas se aproveitam! Então você aprender a lidar e ter o resultado diferente de acordo com a forma com que você se posicionou! Para você é muito bom.

E3 Então é isso pra mim, eu procuro sempre tratar bem as pessoas para ser bem tratada!

E4 Quando você for falar com algum funcionário seu, você como coordenador ou como chefe daquela equipe, é muito importante chamar ele de um lado e se tiver que transferir esse funcionário ser transparente com ele! Falar assim para ele: Olha você é um ótimo funcionário, trabalha super bem, mas agora a empresa precisa de você em outro lugar, em outro departamento, outro setor, você será muito útil lá! E nunca deixar o funcionário com cara de ué! Sabe? De repente o funcionário chega ali em um setor e você fala para ele: - Ô você está de plantão hoje à noite, mas amanhã de manhã você não precisa mais voltar aqui, porque a partir de amanhã você será transferida para o pior setor! Isso é uma violência! Isso é uma violência! (...) E não você já chegar lá e gritar com o funcionário e expõe ele, isso doe muito! Isso é falta de respeito! Hoje os hospitais falam muito sobre humanização né! E de repente você que tem que ser tão humano que desumaniza! Grita!

E5

No início do diálogo o sujeito E5 já demonstra que aqueles acontecimentos

violentos que vivenciou podem servir de exemplos de como não se deve agir,

ensinando uma lição para os enfermeiros mais novos ou outras pessoas do que

aquelas atitudes podem causar a quem as sofre. E notamos também que os

sujeitos, durante o diálogo, tentam imprimir seus aprendizados em outros

enfermeiros, reproduzindo as situações no seu grupo social.

E os bons e maus encontros vão se alternando nos relatos dos enfermeiros

como modo de construção das ideologias defensivas, mas também construção de

um conhecimento comum que é repassado para que seja aprendido e transmitido a

outros colegas, com a finalidade, de repetirem-se nos casos dos aprendizados, ou

de não se repetirem nos casos dos maus encontros. Demonstrando que as

ideologias defensivas podem surgir através do enfrentamento da violência.

Tanto que assim, recebi muitas colegas novas, jovens chegando, fiz amizade com todo mundo, vários, os alunos eu tento acolher! Acho isso que serviu para isso, pra ver como é importante acolher o aluno, principalmente aqueles que começam na enfermagem, e vão se deparar com coisas que eles nunca imaginaram, com o sofrimento humano! Que às vezes eles nunca viveram! E até com técnicos de enfermagem, desacreditados da enfermagem, (...) que chamam a enfermeira de enfermesa! (...) Eu acho

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muito importante acolher todas essas demandas, todos esses sentimentos do profissional e do aluno. E eu acho que isso é fruto deu ter sofrido bastante na faculdade, de sair chorando das avaliações (...). Eu falava eu quero ser enfermeira! Eu gosto de ser enfermeira! Por que elas acham que eu não sirvo para ser enfermeira? (...). Eu valorizo muito esses sentimentos do aluno, muito em função do que eu passei, do que eu vivi na faculdade. Eu estou lembrando do que eu não quero que aconteça!

E1 Aquilo é uma violência institucional! Você ter que se esconder! [risos de constrangimento] E um absurdo isso! Você ter que se esconder de uma situação onde não pode nem estudar, mostrar que está ali querendo um crescimento profissional, porque senão a chefia vai te perseguir! Por conta que ela não estudou e não quer que ninguém estude! Ou então por insegurança de que alguém vai pegar o lugar dela! É um absurdo isso! E é uma coisa que eu sempre procurei incentivar todos que estão ao meu redor a crescer! (...) Como eu já passei isso na pele eu também não quero que ninguém passe! É incentivar para mais! Eu evito dizer alguma coisa que deixe a pessoa para baixo! O máximo que eu puder ser positiva serei! Não quero matar o sonho de ninguém! As palavras não voltam uma vez que foram lançadas.

E2 Bom, violência! Violência? Como que pode uma pessoa dar o seu melhor, fazer o seu melhor e a pessoa por vaidade vim querer te dar uma advertência? Eu não sou perfeita, se eu errei eu tenho que ser advertida mesmo! A pessoa tem direito! Você tem direito de defesa! Então esses trinta anos no hospital W para mim foi muito bom, porque eu aprendi! Aprendi ser melhor! Nós temos que ser melhor! Não desistir se a pessoa faz o mal para você, então eu vou ferrar o outro também? Não, isso não pode! Você tem que aprender ser justo porque o que te faz sofrer não pode fazer o outro sofrer também! (...) Não é que eu falo isso agora com mágoa, com raiva não, foi um grande aprendizado para mim! Eu nunca faria isso com ninguém! (...) Mas são coisas que ajudam também a você crescer também e ficar mais esperto.

E5 Mas a vida continua. Eu acho que você tem que dar o melhor de si e fazer o melhor para as pessoas! Né? Se ela não estava em um bom dia e bater na minha cara fez bem para ela, que bom né? Eu fiquei completamente desapontada, me questionando ainda! Será que eu estou certa? Minha postura está certa? (...) o importante é não perder a cabeça, porque isso você vai ter sempre! Você sempre vai encontrar algum que vai te xingar, um que vai te ofender, um que vai te bater, uma que vai pisar no seu pé só um pouquinho pra dar uma doidinha e você vai se questionar sempre. Mas faça o seu melhor! Sempre dê o melhor de você!

E4 E, enfim, hoje em dia eu penso muito no que vou falar, esfrio a cabeça. Não ajo na emoção, sempre na razão, se acaso vier a acontecer alguma situação parecida com essa, pelo menos já tenho uma experiência e me preparar para não cometer alguns equívocos (...)”

E10 Mesmo porque eu não fui o provocador. Então eu não tive uma autocrítica, uma avaliação da minha consciência, do tipo há você provocou tal fato? Ou você instigou tal fato? Não! Pelo contrário eu utilizei isso em favor, para montar um treinamento com o rapaz que estava comigo! Eu falei não! É uma questão! Você não pode confiar na pessoa! Entendeu? Por mais que você queira ser solidário.

E9

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110

O que eu sempre falo para meus colegas! Ensino todos a fazer de tudo! (...) Agora tem colega na enfermagem que quer ser o bom em tudo.

E8

Por mais que os sujeitos estejam convictos de terem sofrido violências, eles

justificam os acontecimentos se culpabilizando em algum grau pelo acontecimento

ou mesmo tentando transformar aquela experiencia em algo significativo, positivo

para sua vida como um aprendizado, por exemplo.

Talvez este seja outro método de entender e explicar os acontecimentos

violentos, por vezes, o enfermeiro se culpabilizando e assumindo o erro por ações

que não provocou, como agressões, por exemplo, faz disso um mecanismo que

facilita a compreensão de um fenômeno violento.

Assumindo a responsabilidade pelo acontecimento o sujeito poderia

finalmente iniciar o processo de compressão da violência, justificando assim o

ocorrido por sua própria conta, mesmo que não sendo o responsável. Esse processo

de racionalização pode trazer alguma segurança e estabilidade para vítima. Talvez o

desfecho fosse diferente se o sujeito tivesse apoio especializado para resolver os

problemas gerados pela violência, mas com pouca ou nenhuma ajuda ele depende

de mecanismos próprios para lidar com essas situações.

Sofri uma violência física de um idoso na campanha da gripe de dois mil e dezessete, a única vez e pensando no que de fato foi uma violência física, coitado [risos] fiquei com tanta dó que na hora [risos] só conversei com ele (...) O lugar estava muito cheio (...) Ai o senhor me deu um empurrão (risos) eu não sei se ele queria me ajudar empurrando na multidão ou se foi uma agressão, mas como ele falou: - Vai, vai logo pra lá! Eu entendi como uma agressão mesmo né! Só que ele já era um dos próximos (...) Eu entendi por ele ser um idoso e termos conseguido conversar que foi uma agressão física sim, porque ele me empurrou, não cai nem nada e equilibrei, mas eu acho que deu para conversar, eu não sei se ele esperou que eu iria falar isso para ele, porque eu fechei a porta quando ele entrou e conversei com ele, eu quis que ele olhasse nos meus olhos, eu quis que ele explicasse porque ele fez aquilo então essa foi a única vez!

E7 Quando é coisa de paciente você releva! Isso você não pode estar levando em consideração! Depois com o tempo ele melhora! Psicótico ele não lembra do surto! Do que ele fez com você! Se ele for neurótico ele lembra e vai te pedir desculpa. O neurótico pede desculpa, o psicótico não pede, porque não lembra. Alterações mentais! Então psiquiatria é uma das melhores áreas que cuida de observar o psíquico do paciente, o uso do pensamento e respeitar ele também, não só as comorbidades que ele tem, mas a mente desorganizada! (...) Desorganizou a mente fica complicado (...). Às vezes não depende nem dele! Então é por isso que você tem que relevar algumas coisas que eles falam!

E8

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111

(...) a gente sempre tem a maior paciência, atenção, um jogo de cintura, é porque você está lidando com vida, paciente então você tem que ver que o emocional deles está em primeiro lugar abalado e a partir do momento que você está doente com uma dorzinha chata já chega com o emocional abalado!

E4 Então quando começa a me agoniar, essa situação, então eu começo a voltar para o passado porque essa mesma pessoa me ajudou muito (...)

E3

Na tentativa de não reproduzir as violências que sofreram na enfermagem os

sujeitos se utilizam de empatia para lidarem, resolverem ou aceitarem as situações

de violência cotidiana, transformando sua experiencias negativas de dor, sofrimento

e perseguição, em experiências significativas, a qual utilizam como aprendizado,

lição ou experiencia de vida, tratando assim seus conflitos na arena interna e

externa em um movimento constante de reflexos (Seligman-Silva, 2011).

Construindo assim uma verdadeira ideologia defensiva característica da

enfermagem, pois trata-se de um método aprendido e reproduzido dentro de um

determinado grupo social para lidar com situações de exclusão e opressão (Dejours,

1992).

4.2.7 “Abafar o Caso”

Existe a possibilidade do enfermeiro não conhecer ou reconhecer a violência

mesmo diante dela ou sofrendo-a, quando envolvidos nos seus afazeres e rotinas

diárias de trabalho. Absorvidos pela rotina cotidiana, violências, podem passar

despercebidas e até serem naturalizadas ou incorporadas na rotina de trabalho

como forma de defesa para facilitar o convívio no trabalho, como dito anteriormente.

Quando vemos dados como os da pesquisa do COREN/SP (2018), em que

mais de 85% dos enfermeiros do estado de São Paulo sofreram violência nos

últimos anos, e forma assinalam o que é violência, notamos que existe a

possibilidade dos enfermeiros não estarem reconhecendo as violências cotidianas,

sobretudo as mais sutis e comuns. Como nos trazem os sujeitos nos relatos abaixo:

Diversas vezes, desrespeito, pressão de quem está comandando, cuidador (...) fora outros que a gente sofre ai! E as vezes nem percebe! (...) E nem acha que é! É normal! Aquele médico folgado! Não é normal. Tem umas pessoas que aceitam! Tem outras que não! Eu particularmente não aceito!

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Querer fazer pressão tipo xingar, chega um ponto que a gente nem quer ser igual, mas tenta não se deixar intimidar! (...) Mas tem vários tipos [de violência] que a gente sofre e nem percebe e às vezes as outras pessoas percebem ou a gente percebe determinado tipo de violência com outras pessoas e as pessoas não estão nem aí.

E10 Olha nunca me esqueci de uma situação, uma das que eu vivi e que assim marcou muito!

E2 Tem violência comigo! De eu tentar ser agredido por paciente!

E9

Entre as violências que a maioria dos enfermeiros não percebe, segundo

análise do banco de dados da pesquisa do COREN/SP (2018), estão as mais sutis e

frequentes, como a exposição a riscos à saúde e desqualificação (Pedro et al, 2017).

Nota-se também que na visão de alguns sujeitos a instituição tenta preservar a sua

imagem evitando tratar de assuntos como a violência.

Mas depois eu fiquei pensando e falei para a coordenação e falaram: - “Não que ela é uma pessoa [agressora] que não entende!” Para abafar o caso sabe!

E10

Com o intuito de preservar a imagem da instituição a chefia deixa que casos

como esses sejam “abafados”, não se preocupando com o enfermeiro, mas sim

defendendo seus próprios interesses, acreditando que é mais fácil negligenciar do

que resolver problemas.

Os sujeitos demonstram nos relatos a forma com a qual as instituições

abafam, omitem ou escondem fatos para preservar sua reputação:

(...) com certeza deve ter abafado o caso, porque se é em uma rede particular é caso de prisão! Mas abafaram o caso (...).

E10

Trabalhei com várias pessoas, mulheres, que denunciaram seus chefes por assédio (...). Por que o que uma empresa faz? Ela esconde isso!

E6

E 10 se refere a um hospital público onde houve um homicídio e não notou

prisão ou penalização compatível com o ocorrido e acredita que essa falta de

penalização aconteceu por terem abafado o caso e também por se tratar de um

paciente da rede pública de saúde, acrescentado que “se é em uma rede particular é

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113

caso de prisão”, mesmo porque na sua visão, nesse caso houve uma facilitação da

ocultação do crime por parte das instituições envolvidas na análise do caso.

Tanto a ocultação por parte das instituições como o descaso social com

pobres podem ser alguns dos motivos pelos quais a subnotificação da violência18

aconteça, tratando-se de verdadeira violência estrutural, pois reside em um sistema

já conformado e determinado que defende interesses sinistros (Minayo, 2009).

E 10 fala de uma instituição pública enquanto E6 fala de uma instituição

privada com fins lucrativos. Mesmo ao tratando-se de modos distintos de violência e

de empresas diferentes E6 também comenta da ocultação por parte da empresa,

agravando mais o panorama, pois não se trata de única instituição que utiliza esta

prática e sim prática comum a diferentes instituições e utilizada em diversas

situações. Como o objetivo de proteger a imagem da instituição a direção facilita a

existência da violência estrutural, não trazendo respostas as queixas dos

funcionários ou não demonstrando repressão aos casos de violência:

Alguns processos rolaram, mas eu não sei o que deu quem ganhou quem perdeu algumas pessoas foram afastadas sim!

E6 (...) algumas pessoas respondem no conselho, vão periodicamente ao conselho, não sei se ainda vão, mas teve um período que eles iam.

E10

Os sujeitos referem não ter sentido que as chefias agiram de acordo com a

gravidade das violências sofridas, subestimando a queixa de violência apresentada

pelo enfermeiro, deixando-o insatisfeito com relação ao resultado de sua denúncia,

corroborando com os dados quantitativos desta pesquisa onde mais de três quartos

dos entrevistados referem não estar satisfeitos com o resultado de suas denúncias

(Banco de dados COREN/SP, 2018). O sujeito acreditava que deveria ter havido

uma ação de maior repressão a violência para que não acontecesse novamente.

Na verdade eu não tive nenhum respaldo da chefia! Foi passado para a chefia imediata, muitas pessoas viram aquilo que aconteceu (...) eu acho

18 A subnotificação da violência é uma realidade demonstrada na análise quantitativa deste estudo

onde apenas pouco mais de um quarto das vítimas de violência institucional oferecem denúncia.

(Banco de dados COREN/SP, 2018)

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que não teve uma punição que se deveria para uma situação como essa (...) mas enfim eu não senti que as chefias tenham feito algo que merecesse uma punição ou uma advertência (...) falta de respeito (...) talvez tenha tido uma conversa, passado uma orientação, mas para dar exemplo uma punição ou uma advertência só para dar exemplo para que aquela situação não ocorresse mais.”

E10

Como proposta para redução dos casos de violência Minayo (2003), como

uma das autoras da política nacional de redução da morbimortalidade por violências,

que certos tipos de violência como a criminal e sexual devem ser passíveis de

repressão através de políticas, para que não mais ocorram novos casos e não se

repitam (Brasil, 2003)

E em parte do discurso vemos um indício de que a violência pode acontecer

novamente com ele ou com outra pessoa, como se fosse um resíduo da violência,

ainda que tenha lidado com essa situação através de um tratamento informal,

aprendido com seus próprios sofrimentos, o resíduo da violência reside no âmago do

diálogo, latente, muito sutil mas ainda assim continua, esperando para que haja uma

situação parecida para que possa tomar atitude diferente e defende-se.

Se acaso vier a acontecer alguma situação parecida com essa pelo menos já tenho uma experiência aí e preparar para não cometer alguns equívocos.

E10 (...) mas poderia ter acontecido comigo, poderia ter acontecido com a minha irmã, com as minhas colegas, talvez com a minha mãe. Então qual a mulher

que está isenta disso? E7

E2 também demostra indícios dos resíduos da violência após o

acontecimento violento que mais marcou sua carreira, como afirma:

Aquilo me desanimou! Porque toda vez que eu entrava ali na sala de emergência, eu ficava lembrando daquele episódio! Que o médico fez, e eu ficava esperando! Eu falava meu deus! Será que vai acontecer isso?”

E2

A repetição do acontecimento atormenta o violentado, a ancoragem desta

sensação acontece, pois o sujeito sabe que se aquilo aconteceu uma vez pode

perfeitamente acontecer novamente já que nenhuma atitude concreta foi tomada

com relação ao evento para que seja evitado, deixando o enfermeiro a mercê de

novos acontecimentos.

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Essa situação que foi com uma paciente, que foi comprovado que o técnico foi culpado. Porque não houve o coito, mas o intuito de qualquer coisa já é caracterizado assédio sexual... eles tomaram algumas medidas algumas punitivas e outras corretivas (...) E depois desse episódio as irmãs ficaram todas nervosas, não sei se foi por conta disso, mas o número de internações nas UTI’s lá caiu muito (...) Eles dizem que não foi por conta disso, mas a gente acredita que seja. Porque na região tem um monte de hospital bom né então! Se você tiver a opção de não entrar nesse hospital melhor.

E10

Situações de violência dentro de instituições não são bem vistas pelos

pacientes ou usuários, que podendo escolher a instituição onde receberam seus

tratamentos, preferem evitar instituições com relatos de violência contra pacientes

ou usuários na tentativa de protegerem-se da violência. Este afastamento dos

pacientes ou usuários podem causar prejuízos monetários as empresas, quando em

uma logica de assistência privada ou de remuneração por serviços prestados como

é o caso da maioria das instituições de saúde do estado de São Paulo.

Por isto, a maioria das instituições preferem omitir episódios de violência

acontecidos, dentro de suas estruturas, na tentativa de salvaguardar sua reputação,

dificultando mais ainda o enfrentamento da violência.

4.2.8 Condições de Trabalho

O trabalho é um aspecto central da constituição do indivíduo e de suas

relações sociais, não se restringem apenas a venda da força de trabalho em troca

de remuneração. O processo de validação social pelo trabalho é um fator de

pertencimento a grupos para o acesso aos direitos sociais. Como alicerce da

constituição do sujeito e de sua rede de significados aos processos de

reconhecimento, gratificação e mobilização da inteligência. Esses processos estão

relacionados a construção da identidade e da subjetividade relacionados ao trabalho

e o sujeito. (Lacman et al, 2001)

As pessoas com sua história de vida, formação, experiências, crenças e

valores são confrontados a partir do trabalho construindo por instituições, processos,

modos e formas de organização este confronto pode produzir desenvolvimento

psicossocial e prazer, mas pode também produzir sofrimento (Lacman et al, 2001)

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O trabalho, ao longo da vida em sociedade, é fundamental na relação dos

homens com a natureza. Coloca em movimento a vida humana, seus órgãos,

aparelhos e sistemas em uso (Dejours, 1992).

Em contra ponto a o que o trabalho deveria ser conforme comentado acima,

alguns sujeitos da pesquisa apontam as más condições de trabalho como forma de

violência, como notamos no trecho:

É a violência que falamos, que a vivemos hoje acho que a forma as condições de trabalho também te levam a isso, você vê as pessoas trabalham em áreas como favelas onde o risco é maior então aí se forma a violência. E a violência não é só bater ou pisar no pé, ela também é verbal é comportamento, hoje a situação que vivemos é diferente de antigamente as pessoas abusam do poder! (...) esquece de dar condições de alimentação, condições de horário, tem funcionário que dobro, dobra e dobra vai dobrando (plantões) a hora que está um zumbi. -Tudo bem você não tem mais condições de trabalhar vamos colocar outro no lugar!

E4 É que eu não vivi isso, mas eu penso que é uma violência, sobrecarregar um funcionário colocando em risco a saúde dele e dos pacientes! Uma violência às vezes pagar tão mal, com condições de trabalho ruins! (...) mas acho que tem essa violência social contra os enfermeiros! Eles vão espremendo, espremendo e espremendo! Outra enfermeira estava comentando de um cargo de coordenador de enfermagem que paga mil e duzentos reais!

E1

Porque infelizmente pelo que tenho observado a desvalorização financeira para nossa categoria está muito grande, nossa muito grande gente!

E7

O paciente chegou aqui, muito assim ela quer ser atendida na hora sem hora marcada e “estou pagando o convenio e sou eu que pago o seu salário” estão é isso que você escuta muitas vezes!

E9

Baixos salários ou o tratamento que pode predispor a violência.

Eu não consigo digerir esse negócio de cima para baixo, essa desvalorização do curso de enfermagem, entra no pacote de negócio é um descaso! Se não dá lucro, não dá lucro, você não pode ter aquilo, você não pode ter aquilo, você não pode ter aquilo! Eu falava: - Meu Deus, mas como a gente forma enfermeiro? Para cuidar das pessoas no hospital? Como é que a gente treina? Como é que a gente capacita?

E1

O sujeito está se referindo a uma relação hierárquica que não valoriza suas

opiniões, valores e ideologias, mas a qual tem que se moldar, pois a situação está

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posta (Dejours, 1992). Mesmo no cargo de coordenação de enfermagem de uma

universidade não consegue ter autonomia suficiente para realizar as modificações

necessárias em seu trabalho, para torná-lo compatível a seus valores o que acaba

levando ela a decisões extremas como comenta a frente.

Porque sempre alegam que a enfermagem não dá lucro! Ai não deu certo, eu saí, fiquei de professora, a mesma coisa! Ai a última vez que me senti violentada e fui demitida fizeram essa avacalhação das três horas! Fizeram um monte de coisas que não informaram os docentes, a gente não participou de coisa nenhuma! Aí veio uma ata pronta para o NDE assinar! Eu fazia parte do NDE junto com outras colegas! Ai o que que fiz? Eu falei: Só assino se mudar esse negócio! A coordenadora coitada levou para diretoria e nosso nome foi para lata do lixo! Porque não cooperava, porque eu jogava contra! Fizeram tudo na surdina! Então eu não assino! Não valeu de nada! Mas causou uma má impressão horrorosa minha e da coordenadora! Ai no final daquele semestre todas nós fomos demitidas!

E1

A estrutura de trabalho se modifica tanto a ponto de se deformar (Dejours,

1992). E o sujeito não suportada e perde seu interesse pelo trabalho, chegando ao

ponto de preferir a demissão, mesmo tendo mais insegurança financeira com esta

situação. Em alguns períodos da vida as pessoas podem se permitir mudar de

emprego ou ficar sem trabalhar, mas algumas pessoas em determinados não podem

abrir mão de sua fonte de renda e têm que se sujeitar.

E mesmo, fazendo o possível para que a estrutura rígida se adapte as

necessidades do enfermeiro, ele muitas vezes não consegue e esta estrutura

repressiva se mantem justificada pelos lucros das instituições que devem

aparentemente ser soberanos as relações humanas e valores pessoais devem ser

colocados de lado causando desconforto ao indivíduo (Dejours, 1992)

E como a persistência do trabalho nessas condições leva a baixas

perspectivas de modificação nas estruturas sociais das instituições onde a

enfermagem atua, como vemos a seguir no trecho da entrevista de outro sujeito. E

novamente a questão financeira do lucro se coloca a frente das condições de

trabalho de forma explícita:

Os caras respondiam, - Não, não aqui só se mexe em sala se for para colocar computador! Porque computador é o que dá dinheiro! Saúde ocupacional SESMT não dá dinheiro é só gasto! Então eu falei tudo bem! Então a gente trabalha com o que tem! Era desse jeito! Eu nunca vi esse tipo de coisa mudar a instituição! Eu sempre coloquei isso na minha cabeça,

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diferente de hospitais, mas na área de terceirização! Quando você tem um setor desses que não é administrado por uma pessoa da saúde! Que ele tenha poder de decisão! Não muda!”

E9 (...) acolhíamos muitos moradores de rua e não tínhamos uma equipe de rua. Então assim era agressão o tempo todo, eles chegavam para querer quebrar as coisas (...) então segurar as pontas não era fácil! Não era fácil! Gerente, não parava muito lá então sempre segurávamos, mas então talvez por isso e não desistíamos acolhíamos (...)

E7

Ela simplesmente virou e me deu um tapa na cara (...) Virou as costas e foi embora (...) É incrível aí você fica olhando a recepção inteira cheia, todo mundo olhando para sua cara, você acabou de levar um tapa na cara de graça (...) Quando você menos espera tem uma coisa bem louca! E você fica se questionando né! Poxa vida, olha só atendi! Não atendi mal, tentei fazer o melhor e ainda ofereci um outro horário, mas isso que as pessoas acham que pagam o seu salário que podem fazer e acontecer infelizmente. (...) O sistema de saúde hoje não está dos melhores, você sabe as vezes está no corredor a dias esperando atendimento um leito e aí onde vem as agressões. A pessoa está sem paciência, preocupado e você tentando fazer o melhor, mas trabalha em uma instituição que você tem que seguir!

E4

Sem condições de trabalho o enfermeiro fica pessoalmente mais exposto a

violência por representar um sistema que não dá atendimento adequado ao usuário

sofre violências. E os sujeitos relatam que quanto mais fatores predisponentes a

violência mais ela se faz presente nos cotidianos.

Mas então é isso, você vê dependendo do local que você trabalha e atende, ai os riscos são maiores as ofensas são maiores, a forma de maltrato em relação ao funcionário, eles sempre acham que tem razão, você vai acatando sofrendo com isso, a maioria é verbal e isso quando chega no final, tempo pessoas que trabalham a anos ou se aposenta um pouco antes mas todas elas tem uma dificuldade, emocional abalado, ou alguma coisa e dependo do setor pior ainda(...). Sim, sim sempre tem uma sequela sempre tem!

E4

Ao analisarmos este trecho notamos que as exposições a más condições de

trabalho podem também levar ao adoecimento, e serem vistas como reflexos de

uma determinada função ou trabalho, contudo não são doenças físicas e sim

mentais, como depressão e fadiga (Pedro et al, 2017). Que também não são

facilmente detectáveis e muito menos facilmente associadas a problemas causados

pelo trabalho, mas ainda assim laborais, como afirmam Contreira-Moreno e

Contreira-Moreno (2004) que apontam a violência no trabalho como uma doença

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ocupacional. Causando um afastamento do trabalho e da violência como efetivo

mecanismo de reação (Seligman-Silva, 2011).

4.2.9 Apontamentos para o Debate da Redução da Violência Institucional

Cada instituição deve buscar sua alternativa para redução da violência de

acordo com seus valores, possibilidades, indicadores e características sociais e

culturais da população atendida e de seus funcionários (Santos et al, 2011; Barbosa

et al, 2011).

Embora não haja metodologia infalível ou universalmente aplicável a todas as

instituições devemos nos empenhar em atenuar os problemas gerados pela

violência institucional na enfermagem e para melhor estabelecimento dos métodos

devemos conhecer melhor os problemas de cada instituição, gerando indicadores

que possam ser analisados para que sejam desenvolvidos enfrentamentos para a

problemática.

Como espera-se que os dados relacionados à violência sejam normalmente

subestimados pela subnotificação como nos casos das violências sexual contra a

mulher (Cerqueira, 2017), que pode ocorrer também pela sensação de impunidade

demostrada pelos dados do COREN/SP (2018), em que a maioria dos enfermeiros

não se sente satisfeito com os resultados de suas denúncias de violência ou com o

acolhimento recebido durante a denúncia. Alguns destes dados ajudam a elucidar as

causas da subnotificação de casos de violência, porem acredito que devam ser

levados em consideração fatores na micropolítica das instituições para formulação

de métodos de redução dos agravos causados pela violência no ambiente

profissional.

Uma vez que a micropolítica da violência afeta macropolítica institucional a e

vice-versa e, embora não haja medida específica para a interação entre estas duas

potências (macro e micropolíticas).

São relacionados diferentes resultados [científicos] em diferentes instituições,

por que um ambiente de trabalho seguro também depende do comprometimento

organizacional da empresa, demonstrando que o investimento adequado na

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segurança psíquica e física no enfermeiro traz melhores resultados para sua

qualidade de trabalho (Bordinon, Monteiro, 2016).

Se os casos de violência fossem analisados por uma comissão composta por

pares (em igual relação de poder), chefia imediata (quando não houver conflito de

interesse) e outros integrantes da equipe multiprofissional com vivência no trato de

situações de violência, o funcionário poderia se sentir mais bem acolhido em seu

sofrimento.

Mas ainda assim isto não seria suficiente se esta medida não for

continuamente avaliada e analisada em sua eficiência, já que a violência é complexa

e se modifica de acordo com os diferentes contextos sociais, dependendo também,

em algumas circunstâncias, de uma análise de um órgão fiscalizador do exercício

profissional, como os Conselhos regionais e federais de enfermagem e da adequada

articulação entre estes e o Ministério Público e a Secretaria de Segurança. As

organizações tripartites têm dado bons resultados na experiência de agências da

OMS (OIT, 2014).

A participação dos órgãos de segurança é fundamental nos casos de

violência sexual (assédio sexual, importunação sexual e coerção sexual), física e

moral (negligências, intimidações e as ameaças de homicídio de qualquer espécie,

como o feminicidio e homofobia), uma vez que são tipologias de violência passiveis

de sanção (Minayo, 2005).

Para o melhor entendimento e tratamento do fenômeno violência no ambiente

de trabalho são sugeridos pela OIT (2014), em seu Manual de Ação HealthWISE, a

melhoria do trabalho nos serviços de saúde, que podemos adaptar em dois

momentos de intervenção para redução da violência: Primário: quando o objetivo é a

prevenção para os riscos de sofrer violência no ambiente de trabalho, exemplo:

preparar os funcionários para reconhecer as violências cotidianas do trabalho;

Secundário: quando são instituídos intentos para o tratamento e recuperação do

profissional que sofreu a violência, como por exemplo a formação de grupos de

apoios ou suporte psicológico às vítimas.

A violência na enfermagem deve ser tratada pois existe nela um potencial

nocivo que pode ocasionar adoecimentos, afastamentos do trabalho e levar até a

morte. Há necessidade de transformação dos ambientes de trabalho em saúde em

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mais salubres e seguros aos profissionais da enfermagem (Bordignon, Monteiro,

2016).

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5. CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS

A violência na enfermagem tem se apresentado como um problema

contemporâneo, apesar de suas origens remontarem ao processo de formação da

profissão e, no caso brasileiro, à nossa formação social. As análises sociológicas e

históricas consolidadas nos apoiaram nessa reflexão as representações sociais

demonstraram-se eficientes para a investigação do fenômeno da violência

institucional na enfermagem.

E com isso foi possível demostrar os principais fatores constituintes e

precursores da violência no cotidiano do trabalho da enfermagem, sendo as

intolerâncias precedentes de algumas relações profissionais hostis e violentas que

podem provocar sentimentos como frustração, desamino e tristeza levando em

casos extremos ao afastamento do trabalho e comprometimento da força de trabalho

da enfermagem.

Os discursos dos sujeitos da pesquisa apontaram como o fenômeno da

violência se reproduz socialmente, através de ideologias defensivas que estão

ancoradas nas tradições da enfermagem, no senso comum e se reproduzem

socialmente através da troca de experiências e valores proporcionadas pelos bons e

maus encontros profissionais.

E este fenômeno produz uma cadeia de ações que norteiam os episódios de

violência na enfermagem, conforme esquema a seguir:

Figura 29 - Fluxo da violencia profissional na enfermagem

Fonte: Desenvolvido pelo pesquisador a partir da analise de dados qualitativos.

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Estes achados fizeram-nos refletir em sugestões para auxiliar não somente a

interpretação dos fenômenos, mas também alternativas para ampliação das

possibilidades de reparação de danos causados pelas violências sofridas pelos

enfermeiros, pois nos aproximamos dos sentimentos gerados por estes eventos dos

quais são os principais a impotência, fadiga, indisposição, tristeza e até depressão.

Para o tratamento destes sentimentos demostrou-se eficiente, para os

sujeitos, sistemas de proteção social suficientemente capazes de fortalecer vínculos

de confiança a ponto de permitir que as vítimas exteriorizem suas emoções e

sentimentos, com relação aos episódios de violência, e passem a refletir novas

possibilidades de ação para seu reestabelecimento.

Embora estes sujeitos não tenham encontrado sistemas formais em seus

ambientes de trabalho, conseguiram encontrar entre amigos e familiares a rede de

apoio necessária para a convivência com o ambiente de trabalho que os expõem a

agressões cotidianas.

Concluísse através dos resultados que a violência contra os profissionais é

atualmente a questão que mais afeta o exercício profissional da enfermagem com

mais de 85% dos profissionais do estado de São Paulo, e tem muitas derivações

associadas como a desvalorização profissional, precarização das condições de

trabalho, preconceitos, discriminações raciais, sexuais e de gênero que merecem

maior aprofundamento.

Demonstrou-se uma tendência de elevação do número de episódios de

violência ao longo do tempo. Nos estudos relacionados nesta dissertação, muito

provavelmente pelo reconhecimento dos casos de violência, o que também

ocasionou elevação do número de produções cientificas sobre o tema ao longo dos

últimos anos. Como o reconhecimento trata-se do primeiro passo para o tratamento

acredita-se que assim que a maioria dos profissionais estejam aptos ao

reconhecimento das violências o número de episódios se mantenham para que

assim tenhamos uma noção real do número de eventos.

E esperamos que as organizações profissionais continuem fomentando a

organização de grupos destinados a fornecer proteção social as vítimas e a

formação de políticas efetivas para o enfrentamento das violências em grande

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escala como ações afirmativas para redução dos casos relacionados a intolerâncias

e preconceitos.

Mecanismos internos de regulação são necessários para o combate, controle

e regulação dos episódios de violência institucional, demonstrando a importância do

envolvimento das empresas na redução dos casos de violência dentro das suas

dependências.

O preparo e formação do profissional da enfermagem para o reconhecimento

e enfrentamento do tema parece primordial para a redução do número de casos de

violência, vez que são os principais envolvidos no processo.

Pudemos observar nestes três últimos parágrafos que não se trata de assunto

fácil a redução de casos de violência na enfermagem, mas também que não se trata

de tarefa impossível, e que para tal é necessário a articulação de uma rede de

enfrentamento de violência intersetorial. E que o enfrentamento da violência não é

trabalho solo caso contrário tratar-se-ia de tarefa intangível.

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7. ANEXOS

7.1 Anexo A

Apresentação do Estudo

É um estudo sobre as percepções da(o) enfermeira(o) sobre a violência no

cotidiano, que busca debater o tema, afim de desenvolver iniciativas que reduzam a

violência no ambiente de trabalho. Conceituação dos eventos estudados neste

trabalho.

A noção de violência é atrelada ao senso moral. À medida que a sociedade se

modifica, o senso moral se altera, haja vista coisas aceitáveis no passado que não

são socialmente permitidas atualmente. Portanto, o conceito de violência pode se

modificar na medida em que a noção de moral se altera (Zucal e Noel, 2010). Deve

ser levado em consideração que, em grupos sociais ou, até mesmo, categorias

profissionais, o senso de moral e noções do que é violência, pode ser diferente de

um grupo para outro. Como também, podem se modificar a frequência e intensidade

dos episódios de violência.

Violência Institucional é aquela que se realiza dentro das instituições,

sobretudo por meio de suas regras, normas de funcionamento e relações

burocráticas e políticas, reproduzindo as estruturas sociais injustas (Minayo, 2005).

Violência Interpessoal se dá principalmente, na relação e na comunicação.

Quando essa interação ocorre com prepotência, intimidação, discriminação, raiva,

vingança e inveja, costuma produzir danos morais, psicológicos e físicos, inclusive

morte. Devemos distinguir entre conflito e violência (Minayo, 2005).

Violência Estrutural ocorre nas formas de manutenção das desigualdades

sociais, culturais, de gênero, etárias e étnicas que, produzem as várias formas de

submissão e exploração de umas pessoas pelas outras (MINAYO, 2005).

Violência Racial, uma das mais cruéis e insidiosas formas de violência

cultural é a discriminação por raça (MINAYO, 2005).

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Violência de Gênero constitui-se em formas de opressão e de crueldade, nas

relações entre homens, mulheres e outros gêneros sociais, estruturalmente

construídas, reproduzidas na cotidianidade (Minayo, 2005; Helman, 2009).

Questionário semiestruturado / Roteiro temático de entrevista

Bloco A, Caracterização dos sujeitos da pesquisa.

1 - Fale um pouco, sobre a sua História de vida e de formação?

2 - Conte sobre a sua trajetória profissional?

Bloco B, Contextualização da Violência Institucional.

3 - Já sofreu violência no ambiente de trabalho? Já presenciou violência no

ambiente de trabalho?

4 – Qual episódio de violência mais marcou sua carreira? Por quê?

Bloco C, Caracterização do agressor.

5 - Quem praticou a violência?

6 - Em sua opinião quais foram os motivos? (Esta questão foi retirada do roteiro

após a qualificação do trabalho, pela possibilidade de justificar as violências

vivenciadas pelos sujeitos)

Bloco D, Percepção da Violência.

7 - Como você reagiu à violência?

8 - Como você se sentiu após o episódio?

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9 - Como esse episódio de violência modificou sua rotina de vida ou de trabalho?

10 - Houve mudanças no seu ambiente de trabalho após esta agressão? Como

comportamentos, modificações estruturais, realizadas para evitar estes incidentes

etc.

Bloco E, Das modificações ocorridas após o evento.

11 - Como você acredita que a (o) enfermeira (o) pode se proteger da violência?

12 - Qual conduta ou atitude você acredita ser importante para redução dos casos

de violência na enfermagem?

13 - Você considera a violência normal no exercício profissional da enfermagem e

como parte do trabalho do enfermeiro (a), lidar com essas situações?

14 - Você acredita ter tido alguma atitude violenta em sua carreira, se sim qual?

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7.2 Anexo B

Termo de Consentimento livre e esclarecido

Você está sendo convidado a participar do estudo intitulado “PERCEPÇÕES

SOBRE A VIOLÊNCIA NO COTIDIANO DO TRABALHO DOS PROFISSIONAIS

DA ENFERMAGEM”, essas informações estão sendo fornecidas para sua

participação voluntária neste estudo, que visa refletir sobre os reflexos da violência

nas condições de vida e trabalho dos enfermeiros, bem como, descrever como estes

eventos violentos são percebidos pelos profissionais da enfermagem.

Para isso, será aplicado um questionário semiestruturado, contendo 14

perguntas, relacionadas a o tema, o que levará, aproximadamente, 50 minutos para

respondê-las. Trata-se de estudo experimental testando a hipótese de que as

violências sobre a equipe de enfermagem e as doenças ocupacionais, as quais

fragilizam trabalhadores, apresentando manifestações físicas e/ ou mentais.

Somente no final do estudo poderemos concluir a presença de algum benefício,

considerando que ao identificar os tipos de violências sofridos pela equipe de

enfermagem, pode-se traçar estratégias para amparar os profissionais e assim trazer

um serviço de melhor qualidade a sociedade, facilitando o trabalho destes

indivíduos. Este estudo apresenta risco mínimo, considerando que você poderá ficar

constrangido ao responder alguma das perguntas do questionário.

Em qualquer etapa do estudo, você terá acesso aos profissionais

responsáveis pela pesquisa para esclarecimento de eventuais dúvidas. O principal

investigador é o Enfermeiro William Palla, que pode ser encontrado no endereço

Rua Dona Veridiana, 311 - Higienópolis, São Paulo – SP, no Telefone (11) 97135-

3515. Se você tiver alguma consideração ou dúvida sobre a ética da pesquisa, entre

em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) – Rua: Santa Isabel, 305 – 4º

andar – Fone:(11) 2176-7689 – E-mail: [email protected].

É garantida a liberdade da retirada de consentimento a qualquer momento e

deixar de participar do estudo, sem qualquer prejuízo, além disso, você pode optar

por excluir seus dados obtidos, até o momento no estudo.

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As informações obtidas serão analisadas em conjunto com as de outros

voluntários, não sendo divulgada a identificação de nenhum participante. Você tem o

direito de ser mantido atualizado sobre os resultados parciais das pesquisas. Não

há custos pessoais para você, em qualquer fase do estudo. Também não há

compensação financeira relacionada à sua participação. O pesquisador principal e,

os demais colaboradores deste estudo, comprometem a utilizar os dados e o

material coletado somente para esta pesquisa.

Acredito ter sido suficientemente informado a respeito das informações que li

ou, que foram lidas para mim, descrevendo o estudo “PERCEPÇÕES SOBRE A

VIOLÊNCIA NO COTIDIANO DO TRABALHO DOS PROFISSIONAIS DA

ENFERMAGEM”.

Eu discuti com o Enfermeiro William Palla, sobre a minha decisão em

participar nesse estudo. Ficaram claros para mim quais são os propósitos do estudo,

os procedimentos a serem realizados, seus desconfortos e riscos, as garantias de

confidencialidade e de esclarecimentos permanentes. Ficou claro também que

minha participação é isenta de despesas.

Concordo voluntariamente em participar do estudo e poderei retirar o meu

consentimento a qualquer momento, antes ou durante o mesmo, sem penalidades

ou prejuízo.

______________________________________

Assinatura do Entrevistado

Data________/_________/________

Declaro que obtive de forma apropriada e voluntária o Consentimento Livre e

Esclarecido deste paciente ou representante legal para a participação neste estudo.

______________________________________

Assinatura do responsável pelo estudo

Data________/________/_________

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7.3 Anexo C

Questionário da Pesquisa Sobre Violencia no Ambiente de Trabalho da Enfermagem COREN/SP - 2018 1 - Com que gênero você se identifica? Masculino Feminino Não declarado 2 - Quantos anos você tem (em anos completos)? 54 anos ou mais De 44 a 53 anos De 34 a 43 anos De 24 a 33 anos 23 anos ou menos 3 - Quantos anos você tem de formação na enfermagem? (ADMITE-SE MAIS DE UMA RESPOSTA) 45 anos ou mais De 35 a 44 anos De 25 a 34 anos De 15 a 24 anos De 6 a 14 anos 5 anos ou menos 4 - Qual é o seu nível de formação? (ADMITE-SE MAIS DE UMA RESPOSTA) Atendente de Enfermagem Auxiliar de Enfermagem Enfermeiro Obstetriz Técnico de Enfermagem 5 - Sobre o comportamento dos pacientes durante a assistência de enfermagem NOS ÚLTIMOS TRÊS ANOS, você considera que eles: Não respeitavam os profissionais de enfermagem Respeitavam os profissionais Não sei informar 6 - Em relação ao comportamento dos pacientes ATUALMENTE, durante a assistência de enfermagem, você considera que eles:

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Não respeitavam os profissionais de enfermagem Respeitavam os profissionais Não sei informar 7 - Dos itens abaixo, qual/quais você considera que se enquadra ao conceito de violência no trabalho? (ADMITE-SE MAIS DE UMA RESPOSTA) Agressão física Agressão psicológica/emocional Agressão moral Agressão verbal Agressão sexual Desqualificação Riscos à segurança pessoal/coletiva Riscos à saúde Privação de direitos trabalhistas e/ou previdenciários Omissão de cuidados Agressão decorrente de relação de poder 8 - Você sofreu algum tipo de violência durante o seu trabalho como profissional de enfermagem nos últimos anos? Não Sim, uma vez. Sim, mais de uma vez. Sim, frequentemente. 9 - Qual o tipo de violência que você sofreu? (ADMITE-SE MAIS DE UMA RESPOSTA) Física Psicológica Verbal Sexual Não sei informar 10 - De quem partiu a agressão? (ADMITE-SE MAIS DE UMA RESPOSTA) Pacientes Familiares de pacientes Acompanhantes de pacientes Equipe de enfermagem Equipe médica Empregador Fisioterapeuta Farmacêutico Outros especifique: Resposta aberta

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11 - Na sua opinião, qual a principal causa da agressão sofrida? (ADMITE-SE MAIS DE UMA RESPOSTA) Atendimento da instituição (demora e fila para atendimento/consulta/exame) Estrutura da instituição (falta de medicamentos/leitos/equipamentos/ profissionais) Paciente insatisfeito com a assistência prestada Não sei informar 12 - A agressão sofrida ocorreu em que tipo de instituição? (ADMITE-SE MAIS DE UMA RESPOSTA) Filantrópica SUS/pública Particular Suplementar (Esta variável não foi analisada neste estudo) Não sei informar 13 - Selecione a cidade onde ocorreu a agressão: (Esta variável não foi analisada neste estudo) Todas do Estado de São Paulo 14 - Em qual tipo de atendimento ocorreu a agressão? (ADMITE-SE MAIS DE UMA RESPOSTA) Adulto Pediátrico Geriátrico 15 - Em qual setor/local de atendimento ocorreu a agressão? (ADMITE-SE MAIS DE UMA RESPOSTA) Pronto Atendimento e Pronto socorro Internação UBS/USF Atenção domiciliar / Home care Centro Cirúrgico/RPA Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Unidade Móvel (urgência/emergência) Ambulatório Consultório Outros especifique: Resposta aberta 16 - Você fez algum tipo de denúncia? Sim Não

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17 - Se não denunciou, justifique: (ADMITE-SE MAIS DE UMA RESPOSTA) Por falta de apoio da instituição Por receio de uma nova agressão (retaliação), Por receio de perder o emprego Pela sensação de impunidade Não sabia como fazer Outras especifique: Resposta aberta 18 - Para qual instituição você realizou a denúncia? (ADMITE-SE MAIS DE UMA RESPOSTA) Conselho profissional Comissão de Ética Chefia Polícia Sindicato Outros especifique: Resposta aberta 19 - Como você avalia o resultado da sua denúncia? (ADMITE-SE MAIS DE UMA RESPOSTA) Negativamente, porque não houve qualquer resultado. Negativamente, porque não me senti acolhido ou protegido. Positivamente, pois fui acolhido e me senti mais protegido. Positivamente, pois o agressor foi punido. Não sei informar 20 - O local onde você atua oferece apoio ou orientação aos profissionais vítimas de violência? Não Não sei informar Sim 21 - Qual ação você espera do Coren-SP para combater essa situação: (ADMITE-SE MAIS DE UMA RESPOSTA) Realização de campanhas para conscientizar a sociedade. Realização de eventos e campanhas para orientar os profissionais vítimas de violência. Cobrar das autoridades a criação de fluxos para prevenção, acolhimento e proteção das vítimas. Fiscalização das condições de trabalho e do dimensionamento de profissionais. Outras especifique: Resposta aberta.

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8. APÊNDICES

8.1 Apêndice A

SOLICITAÇÃO DE AUTORIZAÇÃO DE PESQUISA EM BANCO DE DADOS

De: William Palla

Para: Presidência do Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo.

Eu, William Palla, Enfermeiro registrado neste conselho sob número 181823,

responsável principal pelo projeto de pesquisa: PERCEPÇÕES SOBRE A

VIOLÊNCIA NO COTIDIANO DOS PROFISSIONAIS DA ENFERMAGEM, aprovado

pelo Comitê de Ética e Pesquisa com Seres Humanos da Santa Casa de

Misericórdia de São Paulo sob o parecer número: 3.081.142; CAAE:

03791818.3.0000.5479, pertencente ao Programa de Pós Graduação STRICTO

SENSU Mestrado Acadêmico em Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Medicas

da Santa Casa de São Paulo, venho muito respeitosamente solicitar, por meio desta

autorização de acesso ao banco de dados da pesquisa realizada por esta conselho

em 2018, referente a VIOLÊNCIA CONTRA OS PROFISSIONAIS DA

ENFERMAGEM EM SEU AMBIENTE DE TRABALHO.

Juntamente com esta carta de intenções envio cópia do projeto de pesquisa

para apreciação deste conselho.

Contando com a autorização deste órgão, coloco-me a disposição para

qualquer esclarecimento. E desde já agradeço a atenção dispensada.

Atenciosamente.

São Paulo, 26 de janeiro de 2019.

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8.2 Apêndice B

Termo de Liberação dos dados para pesquisa

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8.3 Apêndice C

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8.5 Apêndice D

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Apresentação

Nos últimos 30 anos, após a constituição do Sistema Único de Saúde (SUS),

a sociedade se organizou de diferentes formas para assegurar os direitos dos

pacientes e clientes atendidos nos serviços de saúde, de forma coesa e justa. Mas o

que ainda não é bem compreendido pela sociedade é a violência sofrida pelos

profissionais da enfermagem, que vem crescendo e se modificando na forma de

produção e reprodução social. Esses indivíduos, na maioria dos casos, sofrem

calados sem o amparo adequado, seja por se habituarem a estes episódios ou por

não receberem condições necessárias de trabalho das instituições de saúde pública

e privada da cidade de São Paulo.

Este trabalho tem o intuito de demonstrar à sociedade e às instituições de

saúde a necessidade de melhores condições de trabalho para profissionais e

sinalizar os reflexos da violência no cotidiano dos profissionais da enfermagem.

Somente assim, teremos uma sociedade com mais equidade e justiça, através de

estudos que comprovem a necessidade de investimentos na segurança do

trabalhador da enfermagem.

A Violência não é um problema típico é um problema social que acompanha

toda a história da humanidade, no entanto, afeta muito o profissional da saúde. E por

tratar-se de um processo dinâmico, deve ser acompanhado continuamente em suas

formas institucionais e manifestações sociais, ao se transformar em um problema de

saúde.

Já foram estudados temas como políticas de humanização no ambiente de

trabalho, porém ainda são necessários mais estudos que apontem a realidade das

condições de trabalho dos profissionais de enfermagem como fator desencadeante

de situações violentas.

Outro fator que chama a atenção para trabalhos com este tema são os

estudos que demonstraram a incidência da violência sobre profissionais que cuidam,

colocando-os entre as três profissões mais agredidas, ficando atrás, apenas, dos

agentes penitenciários e policiais. Não é simples acreditar que os profissionais da

saúde, pessoas dedicadas a minimizar o sofrimento dos outros, tenham condições

de trabalho violentas, inseguras e insalubres como sabemos.

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Atualmente, a violência sofrida por profissionais da enfermagem no ambiente

de trabalho é um fator preocupante e relevante, como demonstra a sondagem

realizada pelo conselho regional de enfermagem de São Paulo (COREN/SP) em

2018, respondida por 4.107 profissionais; desses, 3.149 participantes declararam ter

sofrido agressão, sendo 49 Atendentes de enfermagem (1,2%), 1377 Auxiliares de

enfermagem (33,5%), 2195 Técnicos de enfermagem (53,4%), 1920 Enfermeiro –

(46,7%) e 63 Obstetrizes (1,5%). Os agressores referidos foram: Pacientes (66,3%);

Familiares de pacientes (60,1%); Acompanhantes de pacientes (51%); Equipe

médica (35,2%); Equipe de enfermagem (33,2%); Empregador (28,5%);

Farmacêutico (1,7%); Fisioterapeuta (1,6%) e Outros (7,4%), o questionário permitiu

a resposta de mais de uma alternativa por entrevistado tanto no item formação

quanto fonte agressora.

Considerando a gravidade destes episódios de violência que estão atingindo

grande parcela de trabalhadores, resta-nos pensar em um meio de alívio a essas

consequências. Entretanto, não existe uma estratégia universal para a resolução

deste problema, pois os fatores podem variar de unidade para unidade, dentro de

um mesmo serviço.

Identificando os tipos de violências sofridos pela equipe de enfermagem,

poderemos propor estratégias mais adequadas para amparar estes profissionais e

assim qualificar os serviços de enfermagem e saúde, contribuir para uma maior

conscientização da sociedade e nas instituições de saúde sobre os reflexos da

violência no cotidiano desses profissionais e melhorar as condições de vida e

trabalho destes indivíduos.

Como enfermeiro e professor de enfermagem, tendo atuado durante 3 anos

de minha graduação como estagiário de enfermagem em empresas de medicina

preventiva e há mais de 10 anos como enfermeiro hospitalar, concomitantemente a

atuação docente, presencio diariamente episódios de violência e este estudo se

insere na busca de alternativas para modificar a realidade desigual das relações

violentas de trabalho dos profissionais da Enfermagem.

O despertar para o tema aconteceu ao me deparar com situações de violência

em meu cotidiano, comigo e com colegas de trabalho muito queridas, sendo assim,

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sou sujeito e objeto deste estudo, sendo exercício constante e complexo a

aproximação e distanciamento do tema para análises e reflexões.

Como a violência afeta a maioria das pessoas, em diferentes aspectos e

contextos da vida, de diversas formas, é necessário tentarmos entendê-la em suas

manifestações episódicas ou cotidianas e desenvolver um olhar crítico e reflexivo

sobre as questões geradas pela violência buscando ações que possam contribuir

para o cuidado e valorização do trabalho dos profissionais da enfermagem.

O trabalho faz com que as pessoas sejam peças chaves nos resultados das

instituições, levando-as a exigências de um desempenho eficaz, muitas vezes

descompassado com a vida privada, social e profissional. A conciliação de

interesses e expectativas entre os diferentes aspectos da vida é questão complexa;

há dificuldades na formulação de práticas de trabalho que permitam uma conciliação

satisfatória e que não levem ao sofrimento.

O olhar reflexivo sobre os enfermeiros, considerando seu expressivo

contingente no estado de São Paulo, justifica a ações que visem o aprimoramento

das relações e das condições de trabalho em serviços de saúde.

Na primeira parte deste trabalho, na Introdução, foram apresentados

contextos históricos relevantes à constituição das representações sociais da

enfermagem e da “violência institucionalizada” consoante a sua profissionalização. A

construção de uma representação social pode ocorrer a partir da reprodução de

padrões do passado associados à tradição (Villas Bôas, 2010; Sousa Campos,

Montanari, 2011). Então para compreensão deste fenômeno, foram diferenciados

conceitos pertinentes como: tradição, poder, autoridade e violência utilizando

referências consolidados no contexto da saúde coletiva.

Já os resultados foram discutidos em dois capítulos: O quantitativo onde são

comentadas caracterizadas sociodemográficas da enfermagem no estado de São

Paulo juntamente com frequências, intensidades e propostas relacionadas aos

episódios de violências do cotidiano profissional dos enfermeiros; A parte qualitativa

buscou analisar as representações sociais contidas nos discursos dos enfermeiros

entrevistados e os sentimentos e sensações vivenciados por eles, antes durante e

após os episódios de violência, este capitulo também analisou a forma com que

estes enfermeiros lidam com a violência cotidiano de trabalho.

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Ao final do trabalho foram apontadas possibilidades que merecem atenção

como alternativas para o debate da redução dos episódios de violência no ambiente

de trabalho do enfermeiro. Na conclusão comenta-se os principais achados com

relação a esta pesquisa.

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Resumo

Introdução: A violência na enfermagem é uma questão que afeta o trabalho do

enfermeiro e foram produzidas evidências da existência de sua relação com a

institucionalização da profissão. O exame dos contextos históricos revelou a

constituição das representações sociais da enfermagem e a compreensão das

tipologias mais frequentes de violência em seu cotidiano pelos conceitos: tradição,

poder, autoridade, que se mostraram necessários e eficientes na construção da

argumentação do trabalho. Objetivos: Caracterizar as formas de violência sofrida

pelos entrevistados; verificar a influência destas violências na enfermagem;

identificar os elementos empíricos constituintes das narrativas de violência. Método:

Estudo descritivo, retrospectivo, com abordagem quanti-qualitativa. A população foi

constituída por enfermeiros com mais de 21 anos e pelo menos cinco anos de

vivência profissional. O estudo foi realizado a partir do levantamento bibliográfico

disponível nas bases de dados Scielo, Medline, Dedalus e Lilacs, com uso de

descritores genéricos, como: institucionalização da enfermagem, violência

institucional na enfermagem, violência no trabalho da enfermagem e ambiente

profissional da enfermagem. Para a abordagem quantitativa, foram analisados dados

coletados pelos Conselhos: Regional de Enfermagem de São Paulo e Federal de

Enfermagem, referentes a violência nos anos de 2018 e 2013, respectivamente; e

sua análise elaborada a partir das frequências absolutas e relativas a variáveis

sociodemográficas e categóricas e medias. Para a abordagem qualitativa, foram

utilizadas entrevistas semiestruturadas com enfermeiros e observação, registrada

em diário de campo da pesquisa. Resultados: Os quantitativos traçaram o perfil da

violência na enfermagem no Estado de São Paulo; E os qualitativos analisaram as

representações sociais contidas nos discursos dos enfermeiros entrevistados e

também a formação de ideologias defensivas, sentimentos e sensações vivenciados

pelos sujeitos, antes e após os episódios de violência. Conclusão: A violência afeta

85% dos enfermeiros estudados e tem muitas derivações associadas como a

desvalorização profissional, precarização das condições de trabalho, preconceitos,

discriminações raciais, sexuais e de gênero. Os resultados desta pesquisa poderão

subsidiar análises acerca de alternativas para a redução dos episódios de violência

no ambiente de trabalho do enfermeiro, visando o desenvolvimento de políticas

institucionais que contribuam para a qualidade de vida e trabalho dos profissionais

da enfermagem e consequente melhoria dos serviços prestados à população.

Descritores: Saúde Coletiva, Recursos humanos, Enfermeiros, Ciências Sociais,

Violência.

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Abstract

Nursing violence is an issue that affects the work of nurses and strong evidences of

relations with institutionalization of the profession were produced. Historical contexts

relevant to the constitution of social representations of nursing were presented.

Understanding the most frequent typologies of violence in nursing, and concepts

such as: tradition, power, authority were necessary and efficient in the construction of

the argumentation of this text. Objectives: This study aims to characterize the forms

of violence suffered by respondents; verify the influence of these violence in nursing;

and identify the empirical elements that constitute the narratives of violence. Method:

This is a descriptive, analytical, retrospective study with a quantitative and qualitative

approach. The population consisted of nurses over 21 years old, and at least five

years of professional experience. The study was conducted from the bibliographic

survey available in the Scielo, Medline, Dedalus and Lilacs databases, using the

following keywords: nursing institutionalization; institutional violence in nursing;

violence in the nursing work; nursing professional environment. For the quantitative

approach, data collected from: Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo -

COREN/SP (2018) e Conselho Federal de Enfermagem – COFEN (2013), referring

to violence in 2018 and 2013 respectively; and its analysis elaborated from the

absolute frequencies and relative to sociodemographic and categorical and average

variables. Regarding the qualitative approach, in-depth interviews with nurses and

the research field diary were used. Results: They were discussed in two chapters:

The quantitative profile of the violence in nursing in the state of São Paulo; And the

qualitative that analyzed the social representations contained in the speeches of the

interviewed nurses, and also the formation of defensive ideologies, feelings and

sensations experienced by the subjects, before and after the episodes of violence.

Conclusion: Violence affects 85% of the nurses studied and has many associated

derivations such as professional devaluation, precarious working conditions,

discriminations, racial, sexual and gender. The results of this research may support

analyzes of alternatives for reducing episodes of violence in the work environment of

nurses, aiming at the development of institutional policies that contribute to the

quality of life and work of nursing professionals and consequent improvement of

services provided to nurses.

Keywords: Collective Health, Human Resources, Nurses, Social Sciences, Violence.

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Lista de Abreviaturas e Siglas

ABED – Associação Brasileira de Enfermeiras Diplomadas

ABEN – Associação Brasileira de Enfermeiros

CREMESP – Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo

COFEN – Conselho Federal de Enfermagem

CEPAL – Comissão Econômica Para América Latina

COREN/SP – Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo

CRF/SP – Conselho Regional de Farmácia

CVB – Cruz Vermelha Brasileira

DNSP – Departamento Nacional de Saúde Publica

EEAN – Escola de Enfermagem Anna Nery

EEAP – Escola de Enfermeiros Alfredo Pinto

EECVB-FESP - Escola de Enfermagem da Cruz Vermelha - Filial Estado de São

Paulo

EEDNSP – Escola de Enfermagem do Departamento Nacional de Saúde Pública

EESP – Escola de Enfermagem de São Paulo

EEUSP – Escola de Enfermagem as Universidade de São Paulo

EUA – Estados Unidos da América

FAVC – Fundação Arnaldo Vieira de Carvalho

FCMSCSP – Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo

FIOCRUZ – Fundação Osvaldo Cruz

IHB – International Health Board

LGBTQIAP+ - Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais, Queer/Questionando,

Intersexo, Assexuais/Arromântiques/Agênero, Pan/Poli, e mais.

MEC – Ministério da Educação

MP3 – Abreviação de Moving Picture Experts Group Layer 3

OIT – Organização Internacional do Trabalho

OMS – Organização Mundial da Saúde

PA – Pronto Atendimento

PS – Pronto Socorro

RPA – Recuperação Pós Anestésica

SAE – Sistematização da Assistência de Enfermagem

SP – São Paulo

SESP – Serviço Especial de Saúde Pública

SES-SP – Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo

SPSS - Statistical Package for the Social Sciences

SUS – Sistema Único de Saúde

SNS – Sistema Nacional de Saúde

TCLE – Termo de Consentimento Livre Esclarecido

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UBS – Unidade Básica de Saúde

UTI – Unidade de Terapia Intensiva.

V – Quinto

XI – Decimo Primeiro

XVII – Decimo Sétimo