Pequenos Picadores: A relação entre set

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Pequenos picadores: a relação entre sertanejos (as) e mosquitos Túllio Dias da Silva Maia Resumo A relação humanos-mosquitos apresenta poucos registros e, caso sejam encontrados, raramente o são na perspectiva antropológica. O sertão sergipano é caracterizado por sua riqueza ecológico-cultural e as pessoas que lá habitam, de maneira geral, desenvolvem atividades de pesca artesanal e/ou pequena agricultura, utilizando como recurso as águas do Rio São Francisco. O tema central deste trabalho é investigar o entrelaçamento de relações entre mosquitos e sertanejos (as) de municípios do entorno do Monumento Natural Grota do Angico (Poço Redondo – SE). O incômodo causado pelas picadas dos mosquitos os colocam na condição de agenciadores de ações (cotidianas ou não) de comunidades humanas. A “demonização” desses insetos, seja pelo senso comum ou pela ciência, tende a simplificar as relações humanos-mosquitos, fortalecendo a ideia de que a solução está na eliminação dos animais, desconsiderando as estratégias de convivência adotadas pelas comunidades. Para

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Pequenos picadores: a relao entre sertanejos (as) e mosquitosTllio Dias da Silva MaiaResumoA relao humanos-mosquitos apresenta poucos registros e, caso sejam encontrados, raramente o so na perspectiva antropolgica. O serto sergipano caracterizado por sua riqueza ecolgico-cultural e as pessoas que l habitam, de maneira geral, desenvolvem atividades de pesca artesanal e/ou pequena agricultura, utilizando como recurso as guas do Rio So Francisco. O tema central deste trabalho investigar o entrelaamento de relaes entre mosquitos e sertanejos (as) de municpios do entorno do Monumento Natural Grota do Angico (Poo Redondo SE). O incmodo causado pelas picadas dos mosquitos os colocam na condio de agenciadores de aes (cotidianas ou no) de comunidades humanas. A demonizao desses insetos, seja pelo senso comum ou pela cincia, tende a simplificar as relaes humanos-mosquitos, fortalecendo a ideia de que a soluo est na eliminao dos animais, desconsiderando as estratgias de convivncia adotadas pelas comunidades. Para o desenvolvimento da pesquisa, realizarei uma incurso em campo de aproximadamente trinta dias ininterruptos para uma descrio etnogrfica multiespcie. Palavras- Chave: relaes humano-animal mosquitos serto

Tema e ObjetoVoc o inseto mais indiscreto da criao, tocando fino seu violino na escurido.Vincius de Moraes O mosquito (fragmento)

A relao entre seres humanos e outros seres vivos, sobretudo animais, um campo emergente a ser estudado e aprofundado pela antropologia contempornea. Claude Lvi-Strauss em seu livro clssico O pensamento selvagem (2010[1962]), ao criticar a maneira utilitarista pelas quais a relao das sociedades at ento consideradas primitivas com o ambiente era analisada, citou alguns registros que contradizem essa lgica, como os fang do Gabo (HANDY; PUKUI, 1958 apud LVI-STRAUSS, 2010 [1962]) e uma populao das ilhas de Ry ky (SMITH, 1960 apud LVI-STRAUSS, 2010 [1962]). A influncia da viso utilitarista nas relaes humano-animal, favoreceu que a abordagem das investigaes se desse sobre animais domsticos ou de interesse econmico (VANDER VELDEN, 2010). Alm disso, a frequente empatia que se tem sobre os animais resultado de um antropocentrismo que privilegia as espcies mais prximas aos seres humanos em termos de comportamento, fisiologia, cognio ou de uma provvel capacidade de sentir emoes (DESCOLA, 1998).O olhar sobre a relao com pequenos animais como os insetos[footnoteRef:1] foi, ento, historicamente secundarizado. A influncia do pensamento lvi-straussiano no estudo das relaes entre insetos e humanos, sobretudo no ocidente, se deu e tem se dado na perspectiva da etnoentomologia (POSEY, 1987; COSTA NETO, 2002), a saber, nos estudos de insetos teis, como as abelhas (COSTA NETO, 1998; OLIVEIRA, 2002; BALLIVIN, 2008) ou daqueles comestveis (COSTA NETO; RAMOS ELORDUY, 2006; COSTA NETO, 2011). A conduo destas pesquisas sugere determinado critrio utilitarista, mesmo sobre animais frequentemente associados a fatores negativos, como os insetos[footnoteRef:2] (COSTA NETO, 2002). Um relato etnogrfico a respeito dos Hanunoo, nas Filipinas, em que foi descrito que eles agrupavam diversas formas de insetos (CONKLIN, 1958 apud LVI-STRAUSS, 2010[1962]), que, de maneira geral, no podem ser considerados necessariamente teis, refora a ideia de que a observao do ambiente natural e a elaborao de inventrios com certo grau de sofisticao fazem parte de um imperativo da razo, na busca de uma ordenao do mundo natural, inerente aos seres humanos. [1: Artrpodes com corpo dividido em cabea, trax e abdome, dois pares de antenas e trs de patas.] [2: importante destacar que o domnio semntico inseto, frequentemente associado a fatores negativos, engloba grupos taxonmicos distintos como rpteis e anfbios (COSTA NETO, 2002).]

A antiga relao entre comunidades humanas e mosquitos apresenta poucos registros e, caso sejam encontrados, raramente o so na perspectiva antropolgica. Esta convivncia, resumida por Beisel (2010 p. 46) como zzzz-swat-zzzz-swat-zzzz analisada de diversas maneiras na cincia. A perspectiva antropolgica no estudo de mosquitos em princpio foi associada ao fato de esses animais serem um problema de sade pblica (SANJAD, 2003; LWY, 2006). Essas abordagens, no entanto, no aprofundaram na construo do conhecimento das comunidades a respeito dos pequenos picadores que, alm de ser uma ferramenta importante na investigao da relao dessas pessoas com outros seres e o ambiente, reflete qualitativamente numa importncia epidemiolgica, no sentido de nortear a elaborao campanhas mais eficazes de controle de vetores (SUMABILA; LUGO, 2007; MAIA, 2013), ou de encarar esses animais como elemento ou parte integrante da cultura e como so elaboradas estratgias de convivncia (VANDER VELDEN, 2014).O serto sergipano caracterizado por sua riqueza ecolgico-cultural. Situado no bioma caatinga, apresenta uma longa fase de estio (8 meses) e uma curta fase mida (4 meses). Neste territrio, aparentemente hostil para o estabelecimento de populaes humanas ou no, coabitam pequenos agricultores (as) e pescadores (as) artesanais com plantas como juremas, paus-ferro e macambiras; animais como mocs, teis e cascavis; alm dos pequenos picadores: os mosquitos[footnoteRef:3]. A perspectiva de terra ignota, como descreveu Euclides da Cunha (1901 p. 6), historicamente adotada pela academia, vem perdendo espao para a curiosidade pelo serto e seus habitantes. A riqueza e abundncia de animais que, por exemplo, dependem diretamente da gua para o seu desenvolvimento (fator limitante na perspectiva ecolgica), tais como anfbios (GOUVEIA, 2009) e mosquitos (CRUZ, 2013) reforam essa ideia. Os seres humanos que l tambm resistem e residem cultuam fortemente a imagem de Lampio (O Rei do Cangao), que culmina anualmente num evento chamado Missa do Cangao. O tema central deste trabalho , portanto, investigar o entrelaamento de relaes entre mosquitos e sertanejos (as). [3: A considerao do termo mosquito se d em seu campo semntico, em que podem ser includos os ceratopogondeos, flebotomneos ou at mesmo os tabandeos, no s os culicdeos, como proposto pela taxonomia padro.]

Em experincias anteriores, no litoral sergipano, numa rea periurbana com remanescentes de manguezal, pude investigar, luz da etnoentomologia, a relao entre pescadores (as) artesanais e dpteros hematfagos, a saber: culicdeos, flebotomneos, ceratopogondeos e tabandeos (MAIA, 2013). Foi possvel perceber o quanto aqueles animais influenciavam nas atividades cotidianas de pesca ou no. Alm disso, eles (as) foram capazes de diferenciar diversos morfotipos e apresentaram classificaes prprias para os diferentes insetos. Em algumas viagens de campo ao serto, atravs o Projeto Mosquitos da Caatinga[footnoteRef:4], no obtive contato direto com muitos habitantes, no entanto, um dos colaboradores de uma pesquisa sobre ecologia de mosquitos, que mora na regio e tem contato com pescadores (as) de l, mencionou: eles tm um nome prprio pra esse azulzinho, sabia?. O azulzinho em questo tratava-se do Haemagogus sp., que apresenta colorao metlica e bastante abundante na regio, sobretudo do fim do estio ao fim das chuvas. Embora os estudos de classificao, biologia e ecologia desses insetos na rea sejam iniciais, eles existem e so incentivados. Ainda carecem, no entanto, estudos que abordem as relaes entre humanos e mosquitos. [4: Projeto da Universidade Federal de Sergipe (UFS) que conta com a colaborao da Universidade Federal do Rio grande do Norte (UFRN) e Universidade de So Paulo (USP). Com o objetivo de fazer o levantamento da biodiversidade de mosquitos na caatinga, o projeto conta com bolsistas a nvel de graduao e ps-graduao. Participei como apoiador tcnico no projeto de uma doutoranda da USP.]

Para analisar tais relaes, optei pela abordagem luz de Descola e Plson (1996 p. 1-4), que propem a dissoluo da oposio entre os domnios cultura e natureza. Para tal, adotarei a perspectiva ontolgica local, em que os mosquitos e a prpria caatinga (cenrio) sairo da condio passiva a que foram historicamente acondicionados e sero, eles prprios, junto aos humanos, sujeitos da pesquisa. Se a perspectiva de terra ignota se fez/faz verdadeira para a caatinga (cenrio), assim tem sido para seus/suas habitantes. Sobre esta perspectiva, Vander Velden e Badie (2011 p.19) colocam:Se o mundo habitado pelas sociedades ocidentais coalhado de hbridos natural-culturais, assim tambm funcionam outros mundos o que implica na necessidade de deixarmos de lado todo e qualquer pressuposto - importado das divises disciplinares das cincias modernas e mesmo do senso comum ou, dito de outra forma, da ontologia nativa do ocidente - a respeito de onde ocorre a separao entre seres humanos e suas produes, isto , a "cultura" - e no humanos - ou seja, a "natureza". Desta forma, oposies como humano e animal, ser vivo e artefato ou mquina, e povo e paisagem perdem muito de seus sentidos originais devendo ser reconstitudas a partir das ontologias locais por meio de investigao etnogrfica.Tendo em vista que este projeto investigar a relao entre sertanejos (as) e mosquitos, os pontos a serem abordados sero: o que so mosquitos para essas pessoas, como se d a sua convivncia com eles; o significado ou simbologia dos mosquitos para elas, alm de investigar de que maneira o mosquito um ator/agente no conjunto das relaes que se desenvolvem na regio; por fim, como os mosquitos agenciam conjuntos de prticas e experincias (cotidianas ou no) dessas pessoas: doena, religio, prticas econmicas, relaes com o estado, dentre outros fatores que possam surgir no decorrer da pesquisa. Campo do debateA conotao usualmente negativa relacionada aos insetos, sobretudo mosquitos, devido ao incmodo das picadas ou transmisso de patgenos, lhes remete a domnios semnticos como pragas, pestes ou parasitas. Serres (1980) define a relao de parasitismo como unidirecional, em que um sujeito, ou elemento, ser necessariamente o parasita e o outro, o hospedeiro. Tal ideia coloca o ser humano como parasita potencial de sua prpria espcie ou de outras, como evidenciado: What does man give to the cow, to the tree, to the steer, who give him milk, warmth, shelter, work, and food? What does he give? Death (SERRES, 1980 p. 5). Em sua relao com mosquitos, por sua vez, so os seres humanos que desempenham o papel de hospedeiro, no s em seu sentido ecolgico[footnoteRef:5], mas tambm no caminho unidirecional apontado por Serres. [5: Parasitismo: relao ecolgica em que organismos consomem partes do tecido de outro, como o fazem herbvoros e hematfagos (RICKLEFFS, 2011).]

A demonizao, tanto pela cincia quanto pelo senso comum, dos insetos vetores compreensvel, uma vez que so responsveis pela transmisso de patgenos responsveis pela morte de milhes de pessoas anualmente como os vrus da dengue e febre amarela; e plasmdios, responsveis pela malria; alm do incmodo de suas picadas. A relao humano-mosquito pode ser, no entanto, observada luz de (um) mundo (s) compartilhado (s) entre humanos e other than humans, em que cada ser vivo, por mais insignificante que possa parecer, cumpre seu papel como sujeito ecolgico-cultural. Sob a tica dos Becomings, que analisa as relaes entre os seres vivos como no hierrquicas, dentre as quais est a simbiose (DELEUZE; GUATTARI, 1987), a relao de parasitismo pode ser interpretada como um pressuposto evolutivo, sobretudo na perspectiva da endossimbiose (MARGULIS; SAGAN, 2002).Seja na onomatopeia de Beisel (2010) ou na metfora de Vincius de Moraes, a ideia de mosquitos como seres barulhentos na escurido reflete no apenas o comportamento ecolgico de boa parte destes insetos, mas tambm a falta de clareza na elaborao de uma metodologia satisfatria que descreva a sua relao com seres humanos. Tanto para os Cuiva, na divisa entre a Colmbia e a Venezuela (SUMABILA; LUGO, 2007), quanto para pescadores (as) do litoral sergipano (MAIA, 2013), a associao dos mosquitos ao incmodo e dor, em geral, se fez muito mais frequente nos discursos que uma possvel associao sua capacidade vetorial. o incmodo causado pelas picadas que diretamente sentido e facilmente percebido pelos humanos e, sendo assim, este o fator que coloca os mosquitos em seu papel de agenciador de aes e prticas de comunidades humanas. A abordagem destas relaes entre os Karitiana em Rondnia demonstrou o quanto os mosquitos influenciavam em atividades como as de caa, alm de agenciarem um rico universo mtico que bem ilustrava a relao daqueles indgenas com os brancos (VANDER VELDEN, 2014). A perspectiva levi-straussiana de que os animais, alm de serem bons para comer, so bons para pensar (LEVI-STRAUSS, 2010 [1962]) nega a viso utilitarista que os no-humanos foram encarados historicamente pela antropologia. Haraway (2008 pp. 27-35) extrapola a anlise para a perspectiva de animais como entidades e agentes to live with; relaes estas que admitem diversas formas. Ao se definir o mosquito como um parasita matvel (killable), nega-se o seu papel como sujeito e at mesmo etngrafo, na medida em que necessria uma observao atenta e perspicaz por parte dos mosquitos de hbitos e costumes de comunidades humanas para o ato da hematofagia. Esta perspectiva contradiz o apontamento de Haraway (2008) luz da response-ability, em que deve-se aprender e reaprender maneiras de convivncia em um mundo habitado por humanos e other-than-humans. Um dos desafios apontados por Beisel et al (2013), no entanto, como aplicar o conceito de response-ability em animais cuja convivncia conosco traz consequncias to desastrosas. Anaya (2012 p.10 ), ao considerar o Anopheles gambiae como atuante inseparvel do contexto social em sua abordagem histrica transnacional entre Brasil e Senegal afirma:Tal suporte conceitual importante para entender os processos que definem o A. gambiae em um novo arranjo que produz novos espaos, importantes balizas histricas na histria das cincias biolgicas e da epidemiologia. Essa perspectiva de grande valia, pois estimula uma abordagem sensvel a novas questes histricas no centralizadas na simbiose entre histria e estado-nao (BALLANTYNE, 2005), podendo proporcionar, o entendimento do Anopheles gambiae como co-protagonista de uma trama que transborda as fronteiras nacionais, produz novos sentidos, pertencimentos e temporalidades.Insetos, parasitas e pragas ocupam seu lugar de destaque como killable, lgica legitimada por uma cincia cartesiana, sobretudo nos grandes centros urbanos e em reas endmicas. O lanamento de um olhar demonizador sobre os mosquitos tende a influenciar uma interpretao simplificadora da relao co-evolutiva entre parasita e hospedeiro, sugerindo que a soluo dos problemas epidemiolgicos causados por vetores a eliminao ou controle de suas populaes. Alm de difcil aplicabilidade, essa lgica desconsidera que so os ataques dos mosquitos que ainda impulsionam a elaborao de estratgias de convivncia com eles. Deste modo, a relao cotidiana com os pequenos picadores e as medidas para evit-los, de to frequentes e enraizadas em diversas culturas, j so medidas tradicionais, sobretudo no serto; logo, a abordagem sobre essa inconveniente relao torna-se curiosamente necessria.Campo da pesquisaOs sujeitos humanos da pesquisa sero moradores (as) de municpios no entorno do Monumento Natural Grota do Angico (Poo Redondo SE), no alto serto sergipano. De maneira geral, estas pessoas desenvolvem atividades de pesca artesanal e/ou pequena agricultura[footnoteRef:6], utilizando como recurso as guas do Rio So Francisco[footnoteRef:7]. Com frequncia, elas apresentam um forte sentimento de pertena caatinga e ao serto. [6: O serto sergipano apresenta o maior nmero de assentamentos rurais do estado e seus municpios, sobretudo Poo Redondo, expressiva populao rural.] [7: Os vrios projetos de irrigao no serto sergipano tm possibilitado a utilizao das guas do Rio So Francisco como recurso mesmo para pequenos agricultores de assentamentos mais afastados do rio.]

O Monumento Natural Grota do Angico foi estabelecido como tal em 2007 e desde ento so desenvolvidos projetos de pesquisa em diversas reas, dentre elas a ecologia, com a qual tive contato direto e frequente. O intercmbio de informaes entre pesquisadores (as) e habitantes da rea no entorno (que muitas vezes so colaboradores (as) das pesquisas) tornou-se bastante comum. Alm disso, o local tornou-se ponto turstico com visitaes frequentes, sobretudo na Trilha do Cangao, que perpassa por vrios pontos do monumento, incluindo a grota onde o bando de Lampio e Maria Bonita foi capturado.No Projeto Mosquitos da Caatinga, pude perceber que esses pequenos picadores apresentam cores, formas e comportamentos diversos. Suponho, ento, que o domnio semntico mosquito na regio se apresente de forma indita e reveladora no que se refere cultura sertaneja. A perspectiva de anlise das relaes humano/mosquitos est enquadrada em tcnicas da etnografia multiespcie, que aborda organismos cujas vidas e mortes so relacionadas aos mundos sociais de humanos (KIRSEY; HELMREICH, 2010). Sendo assim, ser realizada uma incurso em campo de durao de aproximadamente trinta dias ininterruptos, tempo que julgo suficiente para vivenciar junto s pessoas envolvidas na pesquisa a experincia com os mosquitos do serto.Para ter acesso rea contarei com o apoio do Laboratrio de Parasitologia e Entomologia Tropical da Universidade Federal de Sergipe, do qual fiz parte durante a graduao. Atravs do Projeto Mosquitos da Caatinga, ser possvel viabilizar os trmites de transporte e alojamento (disponvel na sede do monumento). Atravs de contatos pessoais, consegui tambm alguns colaboradores da regio que garantiram, caso o projeto seja aprovado, apoio logstico como transporte fluvial (canoas e pequenos barcos motorizados) para ter acesso a um dos municpios e ajuda no contato inicial com os outros sujeitos humanos da pesquisa.Se o cangao de Lampio inspira at hoje, por sua coragem e resistncia, a imaginao de sertanejos (as), que no lhes conseguem ser indiferentes, seja pelo amor ou pelo dio, a resistncia dos pequenos alados os mosquitos pode e deve ser igualmente inspiradora. Que esta inspirao seja, ento, motivadora o suficiente para tomarmos por conhecidas essas terras outrora ignotas em que os finos violinos na escurido originem um verdadeiro concerto tocado pelos picadores e regido pelos sertanejos.

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