Pedagogia dos pormenores

99

description

 

Transcript of Pedagogia dos pormenores

  • 1. Pedagogia dos Pormenores: Rendi[o]lhando fo[car]tografias de formaoElisandro Rodrigues Fotografia do murro do Ponto de Cultura Quilombo do Sopapo 24.09.11

2. Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGSFaculdade de Educao Programa de Ps-Graduao em Educao - PPGEDUNcleo de Educao, Avaliao e Produo Pedaggica em Sade - EDUCASADE Residncia Integrada Multiprofissional em Sade Mental Coletiva - RISSMPEDAGOGIA DOS PORMENORES: RENDI[O]LHANDO FO[CAR]TOGRAFIAS DE FORMAOElisandro RodriguesOrientadora: Krol V. CabralCo-Orientadora: Mayra M. Redin Trabalho de concluso de curso apresentado ao Programa de Ps Graduao em Educao, Ncleo de Educao, Avaliao e Produo Pedaggica em Sade (EducaSade), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, como requisito para obteno do ttulo de Especialista em Educao em Sade Mental Coletiva, sob orientao de Krol V. Cabral e co-orientao de Mayra M. Redin.Porto Alegre, 2012 3. 30/10/11 Nota de Agradecimento: Dentro de um envelope impresso em papel vegetal. 4. A Pa que nos fragmentos cotidianos rendilhou poesias, silncios e a cumplicidade do olhar. Pela delicadeza dos abraos, dos sonhos e do voar. Pela poesia inacabada.Iago, Diego, Leo, Graci, Henrique, Cris por estarem abertos ao fo[car]tografar suas imagens epensamentos.Chico, Chuck/Ado pelas conversas e os jogos. Amlie e Abib pelo caminhar. Mayra, pelo desafio de compartilhar pormenores. Pelas horas conversadas numa Palavraria entre livros, imagens e arte.Krol, pelas palavras, livros e os restos. Patricia Dorneles, pela presena nesses anos de formao. Mrcio Amaral , por disponibilizar a fo[car]tografar pormenores.EducaSade, Preceptores e Tutores pela possibilidade e pela abertura de pensar outros processos de formao. 5. A Helena [In memoriam] por ter disponibilizado a cola inicial para juntar os fragmentos e os mosaicos deum pouco de possvel seno eu sufoco [Deleuze]. Saudades do caf de segunda. 6. RESUMONos fragmentos do cotidiano dos Residentes, da Residncia Integrada Multiprofissional emSade Mental Coletiva [RIS/UFRGS], uma parada. Um olhar. Uma imagem. Uma fotografia.Uma vivncia do silncio. Uma experimentao do novo. Uma Fo[car]tografia de umaformao em mo[v]im[ento]. No rendi[o]lhar processos, um pormenor. Na costura das linhascoloridas, uma pedagogia. Na brincadeira de colar mosaicos e palavras, a Pedagogia dosPormenores. Esse texto convida a abrir janelas e olhares, a pensar num olhar frgil, tctil,silencioso, delicado. Convida a misturar pensam[v]entos e imagens, a partilhar as linhas etecer sendas. Fazer ponto, marca, renda. Encontrar e se perder nos pormenores de umafo[car]tografia de formao.Palavras-chave: Pedagogia, Pormenores, Fotografia, Cartografia, Formao.ABSTRACTIn the fragments of daily life for residents of the Residence Multiprofessional Integrated inMental Health [RIS /UFRGS], a stop. A look. A picture. A photograph. A experiencie ofsilence. A new trial. A pho[car]tograph for a training in movement[wind]. In the process, adetail. In the sewing of colored lines, a pedagogy. In the game tiles and pastin words, aPedagogy of the details. This text invites you to open windows and looks, to think of afragile look, touch, silent, gentle.Calls to mix thinks, winds and images, to share lines andweave paths. Make point, mark, income. To Find and get lost in the details of apho[car]tograph for a training in Residence Multiprofessional Integrated in Mental Health.Keywords: Education, Details, Photography, Cartography, Training. 7. SUMRIO I PARTE Da costura inicial8#Pensam[v]entos9Primeiras imagens: um convite ao rendi[o]lhar os Mo[v]im[entos]11 [In]ventando outro lugar12 # Pensam[v]entos e Pausa13 Para um futuro dicionrio de palavras brincadas: um breve glossrio13#Do Sustenido13#Do Movimento15#Do Filosofo[tografo]17Experimentaes Fo[car]togrficas18#Do Rendilhar19#Da Cartografia20#Da Fo[car]tografia Car[ fo]tografia: descobertas e encontros22#Do Fragmento23#Do Pormenor II PARTE Dos olhares27 Dos Pormenores Fo[car]tografados28 Rendi[o]lhando Pormenores Fo[car]tografados30 #Nota de entrada e # Dos fragmentos iniciais31 Mapa I32 #Dos versos no caminho 1 e 233 #[i]m[a][g]em[o] das fotos que contam34#Das Janelas I36#Dos momentos a registrar38#Do corpo 8. 39 #Um Quadro40 #Linhas de uma Pedagogia dos Pormenores I41Mapa 242#Das cores de [Gr]Amel[c]ie[la] das marcas no papel e na vida44 #De ns45 #De outros ns e Pensam[v]entos46 #De um lugar de sossego: Redena47 #De um lugar ao Sol48 #Linhas de uma Pedagogia dos Pormenores II49#Artes50Mapa 351#C[otidiano]ristiane[ncontro]52 #Das Janelas II54 #Das Experimentaes55 #Das correntezas56 #Do Tempo e do Sr. Palomar57 #Linhas de uma Pedagogia dos Pormenores III58/59 Mapa 460#[D]as l[i]nhas do invisiv[e]l[go]61 #Ainda sobre o invisvel62 #Do olhar e da delicadeza63 #Da afeco e da escuta64 #Pensam[v]entos65 #Das bandeiras66 #Linhas de uma Pedagogia dos Pormenores IV67#Um re[SU]Spiro68#De uma nota perdida II69Mapa 5 9. 70 #Dos Movimentos i[He]n[ri]qui[e]tos71#Do acumulo73#Das rachaduras na janela74#Linhas de uma Pedagogia dos Pormenores V75 Mapa 676 #Caminhando contra o v[L][e]nt[o]:Uma Narrativa de So(N[H])o{s} Sono; Sonhos; SOS; Em NH.76#Nas grandes cidades de um pas to surreal...: narrativas hamburguenses81#De fragmentos escritos em tempos outros82#Das portas abertas84#Das sendas85#Pensam[v]entos86#Das Janelas III87#Linhas de uma Pedagogia dos Pormenores VI88 As linhas de uma Pedagogia dos Pormenores90 #Das ltimas anotaes91 Referncias [Dos pormenores [in]ventados] 10. I PARTEDas costuras iniciais 11. 8# Pensam[v]entos I 1 22/06/10 Criar resistir [Deleuze]Por que a gente desse jeitoCriando conceito pra tudo que restou?[Fernando Anitelli]1Pensamentos anotados cartografados, no celular e em pginas brancas dos blocos de anotao. Usarei dessasanotaes para referir-me as linhas que se costuraram no percurso dessa escrita, e para dar alguns intervalos entreo pensamento, a palavra e a imagem. Essas anotaes so Incidentes [Barthes, 2004], so impresses, anotaese distraes [Redin, 2007,2009], so fragmentos vividos e experienciados, so pormenores [Barthes, 2009] dasminhas partituras do caminho. 12. 9Primeiras imagens: um convite ao rendi[o]lhar os Mo[v]im[entos]No sei como iniciar esse texto j iniciado. Poderia comear usando as palavras deBarthes que diz que a partir da leitura que o texto existe. Se tomar isso como ponto departida, esse texto est existindo nesse momento em que voc l essas primeiras linhas.Nesse existir texto a partir da leitura, o leitor, entra em comunho com o autor nomomento em que se entrega a seu prazer. [Barthes, 1987, p.7]. E esse autor explica que Texto quer dizer Tecido; mas enquanto at aqui esse tecido foi sempre tomado por um produto, por um vu todo acabado, por trs do qual se mantm, mais ou menos oculto, o sentido (a verdade), ns acentuamos agora, no tecido, a ideia gerativa de que o texto se faz, se trabalha atravs de um entrelaamento perptuo; perdido neste tecido nessa textura o sujeito se desfaz nele, qual uma aranha que se dissolvesse ela mesma nas secrees construtivas de sua teia. Se gostssemos dos neologismos, poderamos definir a teoria do texto como uma hifologia (hyphos o tecido e a teia da aranha). [Barthes, 1987, p.81-82]Um primeiro convite: entregar-se ao prazer do texto.Um segundo convite: deixar-se tecer e tecer junto dialogando com as imagens epalavras.....2Nos processos de ventar pensamentos para dentro do meu corpo, Barthes e Bavcar meacompanharam muito, nos pequenos interstcios desses Mo[v]im[entos], algumas ideiascapturadas pelo olho [lente da maquina que dispa[amar]ra os pontos]compe ae[in]scrita do meu texto.Barthes comentava que as fotos apareciam para ele em todos os espaos, assim omeu pensamento que olha o mundo atravs da imagem fotografada [ou se apresenta comofotografia aos meus olhos]. Vejo atravs de imagens. Penso atravs de imagens.2 O Braille composto por 6 pontos, que so agrupados em duas filas verticais com trs pontos em cada fila(cela Braille). A combinao desses pontos forma 63 caracteres que simbolizam as letras do alfabetoconvencional e suas variaes como os acentos, a pontuao, os nmeros, os smbolos matemticos e qumicos eat as notas musicais. Essa combinao a letra P, de [Pedagogia dos] Pormenores, e ela ser a separao dospensamentos ao longo desse escrito. 13. 10Fotos, vejo-as por todo o lado, como cada um de ns hoje em dia; elas vm domundo para mim, sem que eu as pea; so apenas , o seu modo deaparecimento a das mil e uma provenincias (ou dos mil e um destinos).[Barthes, 2009, p. 24] Nesse emaranhado cartogrfico fiquei pensando por que janelas olhar, comosistematizar esses fragmentos do vivido e do experienciado, como falar das [atravs de] fotos[cartografia fotogrfica], fico me perguntando: o que so esses fragmentos que vivemos[vividos]?D[o] que eles dizem, de que subjetividade estamos falando, de que processos, o que[no] capturado pelo olho? O que [no] olhamos? No sou um fotografo. Tampouco um conhecedor das tcnicas de luz e escurido [nema cmera escura das revelaes conheo]. Mas fui ferido [um punctum] pela fotografia. Souinteressado pelas formas como compomos as imagens, de como a pensamos, de como abuscamos e como a criamos. Sendo assim, esse texto uma investigao [uma revelao porprocessos qumicos subjetivos] do desejo de me aproximar mais das imagens [pensadas,faladas, disparadas, clicadas, ]. Por isso [cara, caro leitor] no leia as linhas desse texto comimagens pr [disparadas] concebidas sobre arte e a linguagem da fotografia da luz eescurido. Convido-o a fechar os olhos e experienciar outras imagens. Convido-o/a para nodesistir dessa leitura, e a usar essas linhas [que se fazem encontro nesse existir] pararendi[o]lhar os pontos que ficam soltos nesses frag[por]men[ores]tos. 14. 11... Vento que vem,/pode passar/inventa fora de mim/outro lugar [Vitor Ramil][In]ventando outro lugar Para se abrir a experimentao proposta e comigo tecer o movimento desse texto necessrio inventarmos um outro lugar. Khoury [2009], citando Pina Bausch, diz que necessrio encontrar uma linguagem para aquilo que no pode expressar de outra forma[p. 14], encontrei essa outra linguagem no jogo, na verdade no encontro, que as palavras econceitos fizeram. Esse encontro das palavras criou um outro lugar, uma inven[to]o. Uma brincadeira.Nessa brincadeira os conceitos se apresentaro e se misturaram. O Rendilhar, transformou-seem rendi[o]lhar, o movimento em mo[v]im[ento], a Cartografia em Car[fo]tografia, afotografia em fo[car]tografia, os fragmentos que buscamos em pormenores e os pormenoresem fragmentos frag[por]men[ores]tos. As palavras comearam a danar juntas, coladas, tecidas, costuradas uma na outra.Elas abrem novas janelas, novos colchetes. Elas voam ventadas. Elas restam. 15. 12# Pensam[v]entos II20/12/10 [an]danas # Pensam[v]entos III 04/04/11 No porvir do silncio danamos na cartografia do invisvel,para a qual preciso fabricar-se# Pensam[v]entos IV26/06/11 dana da chuva# Pausa09/07/11 Fumaa que danaento comecei a fazer desenhos verbais de imagens [Manoel de Barros, 2010] 16. 13Para um futuro dicionrio de palavras brincadas: um breve glossrioPara entendermos essa dana e continuar a tecer esse outro lugar seguimos nabrincadeira com as palavras, e antes de [rendi]olhar as imagens fo[car]tografadas, podemospuxar uma linha mais colorida dando mais cor a essa costura. Tecidos coloridos que soconceitos, noes, restos. .. . .#Do SustenidoComo j vens percebendo estou usando o smbolo #, o nome desse smbolo sustenido. muito usado na msica e nos teclados [computador, celular, .]. Segundo aWikipdia3, Em msica, o sustenido um acidente que, tendo seu sinal de notao (#)colocado esquerda da nota, indica que a altura desta nota deve ser elevada em umsemitom. A Presena do smbolo sustenido produz modificaes nas notas.... O sustenido [#]eleva o tom, usamos ele aqui para dar um outro tom, um meio tom, uma diferenciao para aspalavras conceitos utilizadas e para as entradas dos textos. O # a entrada de um pormenor,daquilo que chama a ateno, que marca, que possibilita um outro[meio] tom.# Do MovimentoA forma como venho pensando, o[rendi]lhando a Residncia4, em mo[v]im[entos].As imagens mudam, se formam e transformam em outras, movimentando-se. A cadainterstcio do olhar uma nova imagem. A cada disparada, piscada, dos nossos olhos imagensentram na gente por todos os lados. Nesse movimento de disparar, de piscar muitas imagensainda se perdem, das coisas que no conseguimos ver. O vento sempre esteve presente atravs3 http://pt.wikipedia.org/wiki/Sustenido4 A Residncia Integrada Multiprofissional em Sade Mental Coletiva (RIS) pertence s atividades de ensinocoordenadas pela Faculdade de Educao, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, estando sob acoordenao tcnico-cientfica do EducaSade Ncleo de Educao, Avaliao e Produo Pedaggica emSade que apresenta insero junto rea de Educao em Sade, no Departamento de Ensino e Currculo, e Linha de Pesquisa Psicopedagogia, Sistemas de Ensino/Aprendizagem e Educao em Sade, no Programa dePs-Graduao em Educao, alm de aes interunidades de ensino na Universidade, como aquelas com oInstituto de Psicologia e Escola de Enfermagem. A RIS foi meu espao de pesquisa, e meus colegas residentes oscolaboradores que se aventuram a experimentar essa pesquisa de afeco chamada fotografia cartogrfica. 17. 14desse movimento de disparar [olhar].Brissac [2000], em um texto5 falando sobre o Filosofo[tografo] Bavcar, diz que Evgen Bavcar no pode ver e, portanto, se utiliza de outras maneiras de perceber.Apela para outros sentidos. Existe uma discrio lindssima que ele faz do seutrabalho, dizendo o seguinte: Eu fotografo contra o vento. Fotografar contra ovento significa fazer com que o vento recorte a posio das coisas. Indique para eleonde as coisas esto e qual o perfil que elas tm. O vento traz o cheiro que as coisastm, o rudo ambiente que emitem. O vento faz ver.Para mim o vento tambm faz ver, e esse vento movimento mo[v]im[ento]. Essever com outros sentidos nos desloca para outras janelas a todo tempo, possibilita a costuracom linhas diferentes, multicolores.Ao pensar nesse termo composto de movimento e vento surgiram outras partituras 6 vento mim momento invento vi vim move movi [de filme, de andar] t [implicao, presena] vm [implicar outros] deixar-se levar pelo que se passa e pelo que passou.Apenas algumas das possveis leituras que podemos fazer nesse deslocamento domo[v]im[ento]. .. . .5 Fotografando contra o vento, pgina 41, in BAVCAR, Evgen. O Ponto Zero da Fotografia. Rio de Janeiro,2000.6 Na Livraria Palavraria numa co-orientao com Mayra Redin 17.08.11 18. 15# Do Filosofo[tografo]J que falamos desse Filosofo[tografo] Evgen Bavcar e importante dizer quem ele .E por que apenas ele? Acredito que os outros autores, interlocutores, tericos queacompanham a costura dessas linhas no tem a peculiaridade do olhar que esseFilosofo[tografo] tm.Bavcar um fotgrafo-artista-filsofo-poeta7 cego. Ele no nasceu cego, foi perdendoa viso aps dois acidentes consecutivos. Ele pode enxergar at a idade de 11 anos. Belloc,nos conta esses dois acontecimentos em sua dissertao 8 de mestrado,Como j afirmamos anteriormente, foi a partir de dois acidentes subseqentes queele tornou-se privado da viso fsica: aos dez anos perde a viso do olho esquerdo,acidentalmente, num choque com um galho de rvore enquanto brincava; aos onzeanos sofre o segundo acidente, com a exploso de um detonador de uma minaterrestre, quando fere o olho direito, cuja vista vai gradativamente enfraquecendo,at perd-la por completo com doze anos. (p. 61)Elida Tessler [1998] complementa essa fala de Belloc [2005] dizendo que Durante ointervalo entre os dois acontecimentos, Bavcar diz ter observado o mundo apenas com umolho s. Experincia monocular, aprendizado de miradas certeiras, talvez. e continuacontando queem seus escritos, ele nos conta: "Eu no fiquei bruscamente cego, mas pouco apouco, com a passagem dos meses, como se se tratasse de um longo adeus luz.Desta forma, tive eu todo o meu tempo para dar conta do vo dos objetos maispreciosos, as imagens dos livros, as cores e os fenmenos do cu, e lhes carregarcomigo em uma viagem sem retorno. Talvez tenha sido uma sorte que isto tenha sepassado lentamente. Talvez tenha sido somente o cinismo do destino que tratavadeste retardamento. Espero no ser nunca obrigado a responder estas questes demodo preciso. [in BAVCAR, Evgen. Le voyeur absolu. Paris, Seuil, 1992. P.8]9 "A aproximao com esse filosofo[tografo] se deu nas conversas com Krol e Mayra, eaps aprofundar-me em suas leituras [sem esgotar ainda a arqueologia da luz desse autor], epela construo desse texto, fui convidado a ajudar em um curso de extenso na UFRGSchamado Experimentaes Fo[car]togrficas e Deficincia Visual: um cOntra-sensO? 10.7 TESSLER, Elida. Evgen Bavcar: silncios, cegueiras e alguns paradoxos quase invisveis. Porto Alegre:Revista Porto Arte, vol.9, 1998.8 BELLOC, Mrcio M. Ato Criativo e Cumplicidade. Dissertao (Mestrado) Programa de Ps-Graduao emArtes Visuais, Instituto de Artes, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre. UFRGS, 2005.9 TESSLER, Elida. Evgen Bavcar: silncios, cegueiras e alguns paradoxos quase invisveis. Porto Alegre:Revista Porto Arte, vol.9, 1998.10 Os textos so do blog http://experimentacoesfotograficas.blogspot.com/view/classic 19. 16 Nesse espao rico na produo de imagens e pensam[v]entos fui costurando outrasperguntas que se incorporaram ao meu texto. Algumas das questes pensadas partiram daleitura desse filosofo[tografo]: Como se forma a imagem? Como construmos as imagens?Como compomos imagens com os outros sentidos, como nosso corpo? Daniele Noal Gai, apresenta esse curso dizendo que ele::Objetiva-se experimentar as maneiras culturais de olhar e seus efeitos sobresujeitos. Prope-se a produo de um espao em que a fotografia possa ser compostapor imagens do cotidiano e feitas por pessoas com deficincia visual, e que nonecessariamente tenha fim de representao, de catalogao, de legenda ouilustrao, mas, sim, de impresses de vida, de fluxos narrativos...::Quer-se: tornar pensvel o que vemos e o que nos olha. Quer-se: tornar visvel ocomo somos vistos por aquilo que vemos. Intenta-se: uma aproximao com umgrupo de pessoas que interessam-se por [i]visualidades e/ou [in]visibilidades e/ou[i]foco. Tensiona-se: a explorao e materializao de sentidos atravs da fotografia.Dispara-se: a produo de artefatos visuais e experimentao da cultura visual.Busca-se e perde-se: sentidos possveis entre a viso, a cegueira e a [in]visibilidade. E Felipe Leo Mianes fala da sua experincia [como fotografo com baixa viso]Mas, a bem pouco tempo e atravs dos textos de Evgen Bavcar, um grande fotografocuja cegueira lhe confere uma percepo esttica diferente, percebi que a imagemno uma questo do que se enxerga, mas sim, de como se produziu aquilo queconstrumos como imagem. Em um primeiro momento, o que sinto quando medescrevem uma imagem o que ter deixado de ser dito, ser que do jeito comome foi dito? Pois , a fotografia tem o poder de demonstrar como uma mesma coisapode ser to diferente, quando sua imagem construda por indivduos diferentes. Esse espao de pensar, de fo[car]tografar contribui para conhecer novos olhares sobrea questo da imagem e da produo dela. Foi um curso de extenso curto, com trs encontros,mas que conseguiu mexer com os sentidos, proporcionando esse Contra-Senso, esse lugardentro [ou afora como nos diz Letcia Boari Gomes]Pensei-senti algo assim :Olhar cartogrfico que buscaos sentires produtores de sentido trans-figuradas em imagens-sensaono (des)enfoque criador de cartografias de silugar-comum-afora 20. 17 21. 18# Do RendilharO Rendilhar floresceu na nuvem digital [em um e-mail recebido e perdido pelotempo] onde a palavra pontuava o texto de uma forma delicada e sutil. Fo[car]tografadapermaneceu como imagem guardada no ba de recordaes. Ao deparar com a escrita dessetexto ela surgiu como Ponto, como uma linha necessria a costura desse e[in]scrito, e esseponto se fez renda.Segundo o dicionrio11 #Rendilhar:ren.di.lhar[rendilha+ar] vtd1. Adornar com rendilhas.2.Adornar em forma de renda.3. Embelezar, florear: Rendilhar a linguagem, o estilo.4. Recortar: Rendilhar papis para a prateleira (Morais).5. s.f Diminuitivo de renda. Certo tipo de renda muito delicada;Renda:2ren.da1. sf . Obra de malha feita com fio de linha, seda, ouro ou prata, apresentando desenhos maisou menos caprichosos, que serve para guarnecer peas de vesturio, roupas de cama etc.2.v.t. Ornar com rendilhas ou com lavores delicados;3. s.f. Tecido leve e transparente feito com fio de linho, seda, algodo, etc., que serve deguarnio a vestidos, toalhas e outras utilidades.Car[fo]tografando pensam[v]ento com o texto em que estamos e numa metfora com aResidncia que estou inserido, penso que nossa formao se pontua no agenciar processos11 Dicionrio Online Michaelis UOL - http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=rendilhar 22. 19subjetivos com delicadeza produzindo sentido com quem trabalhamos e convivemos, ou seja,Rendilhamos processos de formao e de aprendizagem, estamos em permanente processode formao e de aprendizagem [e os que nos acompanham - sejam eles usurios, moradores,trabalhadores, tutores, tambm o esto] costuramos com delicadeza, recortamos com leveza ejuntamos esse pequenos pedaos [pormenores] da nossa formao, do que somos, dos comque trabalhamos, em uma colcha multicolorida de Mo[v]im[entos] subjetivos. .. . .#Da Cartografia#Pensam[v]entos V11/04/11 - Cartografia (qualitativa) Suely Rolnik a cartografia um desenho que acompanha e se faz ao mesmo tempo que os movimentos de transformao da paisagem. A cartografia toma como procedimentos a interao e o nomadismo, a implicao ecapacidade de afetar e de se deixar afetar (afetivao). Para fazer toda a costura, toda a juno dessas linhas coloridas, precisava de ummtodo, de uma ferramenta, da agulha certa a essa tecitura. A cartografia mostrou-se comoessa agulha. A Cartografia um mtodo proposto por Gilles Deleuze e Felix Guattari e vem sendoutilizado em pesquisas de campo voltadas para o estudo da subjetividade. Visa acompanharum processo, e no representar um objeto. Trata-se sempre de costurar e de investigar umprocesso de produo. O pesquisador na Cartografia um Cartgrafo que se faz na pesquisa,constri seu cartografar a partir dos passos dados no cotidiano, dando vazes a outraslinguagens estticas, capturando as sensaes atravs do corpo e do olhar. o cartgrafo um verdadeiro antropfago: vive de expropriar, se apropriar, devorar e desovar, transvalorado...tudo o que ele quer dar lngua para os movimentos do desejo...E o que ele quer mergulhar na geografia dos afetos e, ao mesmo tempo,inventar pontes para fazer sua travessia: pontes de linguagem...dele se espera basicamente que esteja mergulhado nas intensidades de seu tempo e que, atento as linguagens que encontra, devore as que lhe parecerem elementos possveis para a composio das cartografias que se fazem necessrias. (ROLNIK, 2006, p. 23). Numa cartografia, o cartografo acompanha e transforma o que se conhece. Cartografar sempre um ato de criao, de produo de novos sentidos. A Cartografia mais um modo de 23. 20sistematizao de conhecimento, onde a produo est sempre associada a arte e a implicaodo autor/cartgrafo/pesquisador se faz presente do inicio ao fim da viagem rabiscandoanotaes soltas em seu caderno, no como simples observador da janela de um nibus, aocontrrio, vivenciando cada trajeto. Para BAREMBLITT [1998] A cartografia um mapa-relato, objetivo e subjetivo, que expressa a singularidade desta viagem, embora sirva a outrospara construir sua prpria trajetria, sempre experimental, sempre aventureira.O conceito de Cartografia aproxima-se muito ao de Rizoma. Segundo Passos eBenevides [2009] a Cartografia um mtodo de pesquisa-interveno, que no se faz porregras j prontas nem com objetivos j estabelecidos, mas nem por isso, uma ao semdireo, ela reverte o sentido tradicional da pesquisa mas no abre mo dos processos deorientao e do percurso de uma pesquisa. Dizem eles ainda, que toda pesquisa umainterveno, e nisso a cartografia como mtodo de pesquisa o traado desse plano daexperincia, acompanhando os efeitos (sobre o objeto, o pesquisador e a produo doconhecimento) do prprio percurso da investigao (p. 17-18).Essa agulha possibilitou costurar novas linhas, produzindo subjetividades, se afetandono anda[na]r que essa abertura metodolgica permite. Abertura que possvel juntar termosCartografia e Fotografia Fo[car]tografia/ Car[fo]tografia. .. . .# Da Fo[car]tografia Car[ fo]tografia: descobertas e encontrosNessa brincadeira de tecer essas linhas diferentes fui procurar na nuvem [internet] oencontro desses dois termos, para ver se algum j tinha pensado em uma CartografiaFotogrfica. Poucos foram os textos e artigos que traziam a aproximao desses conceitos.A brincadeira com os dois termos, mesclando-os fo[car]tografia e car[fo]tografia, trouxeuma descoberta interessante. Do encontro de um artigo e o [c]li[n]k na nuvem [internet] deoutros encontrou-me o texto: Para a sua execuo foi utilizado o mtodo carto(foto)grfico, que a juno dos dispositivos cartografia e fotografia, apresentado por Orsolin (2008), em uma pesquisa realizada. Para a autora, a carto(foto)grafia pode ser utilizada como dispositivo de encontro, onde coloca-se o sujeito da pesquisa a problematizar suas vivncias e dar significados elas. (RIBEIRO; SOUZA) 1212 RIBEIRO, Daniela de Figueiredo; SOUZA, Elaine Cristina de. Disponvel em:http://unifacef.com.br/novo/xi_encontro_de_pesquisadores/Trabalhos/Encontro/Elaine%20Cristina%20de%20Souza.pdf . Acesso em 03 de Out de 2011. 24. 21Para minha surpresa algum j havia brincado com os termos. Fui a procura de Orsolin[2008] e descobri, atravs das redes sociais, que a autora mora na mesma cidade que circulotoda a semana, cidade essa que foi campo de trabalho na Residncia, e onde muitas imagensforam pensadas, clicadas, experienciadas e vivenciadas [Novo Hamburgo]. Surpresa.Descoberta. Encontros. A nuvem [internet] havia me aproximado do conceito que estava atrabalhar.Ao ler [Luciana Trombini] Orsolin13 [2008] descobri que para elaA imagem cria uma serie de mensagens as quais o texto por vezes no consegueproduzir, do mesmo modo em que a fotografia coloca o fotgrafo no encontro com ocenrio a ser capturado. Assim conectamos a cartografia e a fotografia umapermeando a outra, pelos encontros que estas promovem e pela multiplicidade deuniversos mutantes a serem capturados. A essa conexo da cartografia com afotografia, nomeamos de carto(foto)grafia. (p. 20-21)Diz ela ainda que a Fotografia assim possibilita que a leitura do cartgrafo,permeada pelo prprio fazer cartogrfico bem como pelo olhar daquele que produziu afotografia, possa desenhar em certa medida os processos que esto em produo nestesencontros (pg. 23) .Nos encontros a brincadeira de criar o novo vai se rendilhando. Fico pensando nessesencontros que acontecem, nas possibilidades existentes entre [] - dois colchetes. Muitos soos possveis, acredito eu. Nossas vidas, nossos processos de formao so feitos deexperincias, de experimentaes, de pequenos fragmentos e pormenores.Somos atravessados por muitos encontros [fsicos, virtuais, fotogrficos, textuais, ..], eso esses encontros que possibilitam os Mo[v]im[ento]s e as Car[fo]tografias de nossaescrita de vida, da boniteza de nossas tecituras e escrituras.....13 ORSOLIN, Luciana Trombini e TOROSSIAN, Sandra Djambolakdjian. Carto(foto)grafando o encontro demigrantes brasileiros com a China. Dissertao apresentada ao programa de ps-graduao em Psicologia daUniversidade do Vale do Rio dos Sinos. So Leopoldo, Jan/ 2008. 25. 22#Do FragmentoSob a forma de pensamento-frase, o germe do fragmento nos vem em qualquer lugar: no caf, no trem, falandocom um amigo (surge naturalmente daquilo que l diz ou daquilo que digo); a gente tira ento o caderninho deapontamentos, no para anotar um pensamento, mas algo como o cunho, o que se chamaria outrora umverso. [...] o fragmento (o hai-kai, a mxima,o pensamento, o pedao de dirio) finalmente um gneroretrico, e como a retrica aquela camada da linguagem que melhor se oferece interpretao, acreditandodispersar-me, no fao mais do que voltar comportadamente ao leito do imaginrio. (Barthes, 1977, p. 102-103)No processo de olhar os pormenores que se apresentavam no cotidiano dos dias, e como pensamento voltado para a escrita desse texto, encontrei um livro chamado De umfragmento ao outro de Jean Baudrillard [2003]. No o conhecia, mas resolvi comprar e leros fragmentos que ali estavam. O livro uma entrevista. Mais tarde pesquisando sobre oautor, descobri que o mesmo gostava de fotografar e pensava sobre o uso da imagem na[ps]modernidade. Alm dessas aproximaes outro encontro se deu no uso do Barthes[1977] para pensar a imagem e a fotografia, mas tambm cita-o para falar dos fragmentosO fragmento tem seu ideal: uma elevada condensao, no de pensamento nem desabedoria ou de verdade (como ocorre com a mxima), mas de msica: aodesenvolvimento se oporia a tonalidade, alguma coisa de articulado e decantado, uma dico: a deveria reinar o timbre. [p. 33]Lembrei-me de Preciosa (2010) a ideia de fragmento arrasta consigo o incmodo da incompletude. Alm dessa sensao de incmodo, pode tambm gerar um grande desconforto: pensamentos fragmentrios no asseguram quele que l a exposio clara de um percurso terico, de um stio de onde se parte. Que espcie de segurana pode oferecer um texto fracionado, aos pedaos, que insiste em ir ao encontro do que episdico, descontnuo, dissipatrio, efervescente, quase informe? Para alguns, talvez seja frustrante enredar-se numa viagem desse tipo. Entretanto, se acolhido, o fragmento pode nos surpreender. (p. 23)Essa autora ainda nos diz que temos que comear pelo meio e incorpora sem culpa adoida poligrafia14 de uma caderneta de apontamentos solta em campo (p. 24). Sofragmentos que nos constituem enquanto sujeitos de uma [e](in)scrita de vida. Preciosa aindafala, citando Denlson Lopes [Ns os Mortos], que o fragmento para o pesquisador o que o sample para o msico: um exerccio de liberdade, mais um elemento desmantelador da noo de autoria, ao representar a criao como um jogo de pirataria, uma colagem feita por Djs.14 A autora utiliza-se de um conceito de Roland Barthes. 26. 23 Aventurar-se a pensar em uma escrita atravs dos fragmentos, ou dos pormenores,pode ter sido arriscado, no seria mais pelo fato de ter encontrado interloc[a]utores quedialogavam comigo, como o caso desses dois citados acima. Continuando com Baudrillard ele diz que os objetos se transformam, quando sovistos no detalhe (p. 34) e prossegue o fragmentrio resulta da vontade no s de destruir um conjunto, mas tambm de enfrentar o vazio e o desaparecimento [] Deveria ser efetuado tambm um paralelo com a fotografia: a imagem como espao por excelncia do fragmento, de um mundo des-finalizado. A imagem pode voltar a ser o espao de uma moral, de uma ideologia, mas a fotografia [...]parece ter um privilgio semelhante ao do fragmento, no s pelo corte, mas tambm pelo silncio, pela imobilidade e por estar, semelhana do fragmento, ligada a um suspense, algo que no est elucidado e no se encontra a por acaso. (p. 42-43) Vilela [2010] fala que essa fragmentao passa pela compreenso da singularidade(p.322), e diz que a fotografia um gesto de fazer visvel a ausncia atravs de fragmentosque constituem uma experincia (p. 327). Viver essa fragmentao viver as subjetividadessingulares das experincias cotidianas [fragmentos de cotidianidade 15]. Incompletude [para Preciosa] vazio, suspense [para Baudrillard], ausncia [paraVilela], pormenor, acaso [para o Barthes]. Creio que o fragmento frag[por]men[ores]tos,nos abre muitas janelas para pensar, nos proporciona uma parada para ver [para fechar osolhos e ver melhor]. .. . .#Do Pormenor Chegamos ao final dessa costura, depois dela podemos dar um tempo, respirar olhar,esticar os dedos. Para mim toda essa brincadeira de pensar palavras, ideias, conceitos me levou ademorar-me mais na palavra pormenor. No dicionrio16 por.me.nor15 CORAZZA, Sandra M. Introduo ao mtodo biografemtico. In FONSECA, Tnia M. G; COSTA, Luciano Bedin (org). Vidas do Fora habitantes do silncio. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2010.16 Dicionrio Online Michaelis UOL - http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php? lingua=portugues-portugues&palavra=pormenor 27. 24 sm (por+menor) Mincia, minudncia, particularidade. Capturado de uma palavraimagemfotografada de Barthes [da Cmara Clara, 2009], opormenor levantou-se do escrito textual e caminhou na dana das linhas. Barthes sempre aotratar do punctum [que para ele so pontos, feridas, marcas, picada], falava antes dospormenores. Para Redin [2007] Barthes refere-se ao punctum como um acaso que salta de umaimagem - no caso de seu estudo, da imagem fotogrfica - algo que fere, que punge, umdetalhe no-organizado por uma lgica. nesse detalhe que se v o pormenor, a partirdele que o olhar atravessa as fotos, dando existncia ao punctum. Esse pormenor [fragmento] que pontua, fere, atrai, marca, que atravessa os processoscotidianos de nossas vidas, rendilha Mo[v]im[ento]s e car[fo]tografias nos processos deformao. Esses processos, essas imagens em fragmentos, essa experimentao cotidiana quenos cansa, que nos afeta, que se faz marca em nossos corpos e em nosso existir um#pormenor. Esse conceito molhou meu corpo, me coloriu, me afetou [o #punctumBarthiano].Nesse espao habitualmente unrio, por vezes (mas, infelizmente, raras vezes) um chama-me a ateno. Sinto que a sua presena por si s modifica aminha leitura, que uma nova foto que contemplo, marcada, aos meus olhos, por umvalor superior. Este o punctum (aquilo que me fere)....Do ponto devista da realidade () toda uma causalidade explica a presena do () o pormenor dado por acaso e mais nada... [Barthes, 2009, p. 51] Esses #pormenor[es] dados por acaso, que ferem nossa ateno, machucam nossosolhos, nossos corpos o que nos impulsiona a clicar [disparar] fotos apenas pensadas [apenasimaginadas]. Ficamos com essas imagens em nossas mentes [in]visvel, nos mo[v]im[enta]para o cotidiano de nossas vidas. Nos da fora para caminh[dan]ar. As imagens se comunicam com nossos corpos tudo o que podemos dizer que oobjecto fala, induz, vagamente, a pensar [ibden. p. 47] nos atinge com seu #pormenor, nosfere. Grita em silncio dentro de nossos olhos [na invisibilidade das cores], provocaestreme[nas]cimentos, o que eu vejo o pormenor descentrado [ibden. p. 60]. Nascorrerias do cotidiano olhamos sem ver. No deixamos as imagens entrar, no deixamos asimagens pensadas sarem. Barthes fala que devemos nada fazer, fechar os olhos, deixar que o pormenor subasozinho conscincia afectiva[ibden. p. 64], dar tempo a essa #pormenor deixar o olhar 28. 25ttil de Bavcar [Memria do Brasil, 2003] nos guiar, ser tambm uma cmara escura, fazeras imagens pensadas palavras, olhar com nossos prprios olhos, por mais frgeis quesejam[Bavcar, p. 140].Abrindo-me para meus prprios olhos [tentando enxergar com o corpo, fechando osolhos] um #pormenor entrepalavras [Bavcar, pg 120] emergiu de um poeta [Manoel deBarros, 2010] e fo[car]tografou que Imagens so palavras que nos faltaram./Poesia aocupao da palavra pela Imagem./Poesia a ocupao da Imagem pelo Ser./Acho que onome empobreceu a imagem [do poema Uma didtica da inveno, e, O guardador deguas].Nesses mo[v]im[ento]s de pensar o que [no] olhamos, e de que forma [no] olhamos,esse poeta brincou com a palavra e a imagem. Bavcar fala que as vozes fazem ressuscitar asimagens, e que as vezes as palavras se vo como os instantes que elas enfeitaram. [p.130], creio que as imagens enfeitadas, suadas, sofridas, alegres, aquelas que disparam nossosdias para outros possveis, outras janelas, permanecem guardadas e saltam ao nosso corpo[num olhar ttil] com os #pormenores nos encontros cotidianos.Abrir. Fechar. Capturar. Disparar. Palavra. Imagem.Estar aberto ao #pormenor, dar ateno a ele, olha-lo com mais delicadeza, o queconvoca a essas experimentaes fo[car]togrficas. Vivenciar esses #pormenores no nossocotidiano dando existncia significar os pequenos processos que vivenciamos eexperienciamos.E esse processo, essa costura de pormenores eu chamo de Pedagogia dosPormenores17.17 A primeira vez que olhei/li esse conceito foi na dissertao de mestrado de uma amiga, Patricia Dalarosa Pedagogia da Traduo: entre bio-oficinas de filosofia [2011]. Ela apontou esse conceito, fui atrs, mas nada achei, algo sistematizado, de dito, de escrito. Quem sabe seja por que esses pormenores sempre esto inacabados, sempre esto caminhando pelo meio. E assim continuo com uma Pedagogia dos Pormenores, escrita pelo meio. 29. 26 II PARTEDos Olhares 30. 27 Dos Pormenores Fo[car]tografadosFo[car]tografia de Elisandro Rodrigues [2011] 31. 28Rendi[o]lhando Pormenores Fo[car]tografadosAs capturas fotogrficas constituem a cartografia dessa pesquisa-interveno.Cartografar cenas/imagens e narr-las/cont-las sistematizar os percursos daformao no/do cotidiano, construindo e revisitando uma nova linguagem de comunicao,novos possveis de pensar e escrever, de falar de Educao e Sade. optarmos por parar eolhar os pormenores que caminham conosco.Cada um dos sujeitos que participou desse processo de pesquisa-interveno, e meincluo nesses sujeitos como cartografo, assim comoBavcar tira fotos do meio, de dentro,no de fora. Ele no se afasta para ver as coisas, ao contrrio, ele est mergulhado nascoisas. (Brissac, 2000, p.40), esses sujeitos esto dentro, e como pesquisador cartografo melano a esse mergulhar dentro das imagens, dos pormenores fo[car]tografados.Cada um desses seis sujeitos que aceitaram se experimentar [Iago, Graciela, Cristiane,Diego, Henrique e Leonardo] fazem recortes, enquadramentos de seus dias, do seuscotidianos, nos mostrando atravs de imagens e palavras os pormenores da formao daResidncia Integrada Multiprofissional em Sade Mental Coletiva. E junto com esse contardeles vou lembrando de histrias vividas, mergulho nessas reminiscncias e [com]partilhoesses pormenores de formao.Cada um dos seis que se experimentaro tiraram oito fotografias com uma MquinaFotogrfica Analgica [MFA], em tempos diferentes. Alguns demoraram mais que outros,alguns demoraram-se mais no pensar,no fundo, a Fotografia subversiva no quandoassusta, perturba ou at estigmatiza, mas quando pensativa [Barthes, 2009, p. 47]. Paraalguns esse tempo de pensar foi difcil, o clicar apenas oito fotos, o que enquadrar, o quecontar, quais pormenores focar. Nesse tempo de espera rendilhei mapas 18 que contam dosmeus pormenores de formao. Costurei recordaes e histrias, colei mosaicos de vida.Essa espera foi uma das intervenes. O no ver a imagem clicada, focada, no ter ovisor digital, no poder apagar. Esperar para os sais de prata agirem e mostrarem a luz eescurido das imagens. Em tempos onde no paramos, o parar para pensar a imagem, o pararpara esperar a imagem mostra-se [mostrou-se] difcil. O parar para ver, parar para escolherdas oito fotos apenas trs [alguns escolheram quatro]. O parar para escrever o que no est18 Os mapas no tero legendas, as legendas esto nos fragmentos pincelados e colados. Os mapas contamhistrias minhas, histrias desses quase dois anos de Residncia, e vo de encontro s imagens clicadas. Essasimagens, fo[car]tografadas tero legenda dadas pelos olhos e mos que a tiraram. 32. 29escrito nessas imagens19. Parada est que proporcionou escrever muito mais do que o pedido.As imagens abriram o ba das memrias e outros pormenores foram contados. Vilela [2010]nos fala que A importncia da imagem fotogrfica no reside na afirmao representativa ou na expresso narrativa de um facto, mas na ruptura de uma ordem discursiva: numa imagem onde os corpos que resistem irrompem como um gesto que rasga o olhar. Em Sobre a fotografia, Susan Sontag assinalou que fotografar , em si mesmo, um acontecimento. A fotografia parece permanecer para alm do acontecimento fotografado, conferindo-lhe uma certa imortalidade e importncia () Uma vez que vemos, queremos ver mais. Queremos ver o que se mostra, o visvel, mas tambm o que se oculta, pois o escondido fascina. (p. 322)Ela continua dizendo que o olhar demora-se na imagem de um olhar que seabandona () as imagens solicitam-nos o olhar e a profundidade do ver (p. 319). Foi esse odesafio apresentando a essa pesquisa-interveno: disparar o olhar para o sensvel e o delicadodas experincias de trabalho dos Residentes e seus processos de formao. A autora citandoBlanchot nos convoca a fazer visvel a ausncia. Dentro de um processo de formao quebusca desinstitucionalizar saberes a visualizao dessas imagens e prticas a afirmao demosaicos e fragmentos vivos, vibrteis. Ao parar para pensarmos as imagens/cenas de prticase de experimentaes de mundo tornar visvel a ausncia.Com os textos, mapas, fo[car]tografias queremos mostrar o [in]visvel, mostrar ospormenores de nossa formao e pensarmos nessa Pedagogia dos Pormenores, convido-o[a]para fecharmos os olhos e rendi[o]lhar esses pormenores que se fazem [in]visvel.19 Segunda questo geradora, depois de verem suas fotos contar o que [no] est e[in]scrito na imagem que voc gostaria de contar [sobre o processo de formao]? 33. 30#Nota de entradaAs falas das imagens sero em ordem:primeiro sempre a imagem pensada e escrita,segundo a escrita disparada da imagem.Em itlico o pensam[v]ento desses interlocutores [os que me ajudam a intervir e os tericos],o texto normal se apresenta como meus pensam[v]entos.As datas entre [ ] so datas dos pensam[v]entos anotados, cartografados em papel ou nodisplay do celular. .. . .# Dos fragmentos iniciais27/04/11 Nas falas dos residentes as prticas pedaggicas e as bandeiras da reforma.Uma imagem e uma histria.Se voc pudesse pegar uma imagem da Residncia e congelar 20, qual seria?Contar um pouco das prticas durante esse perodo da Residncia.20 Primeiro termo usado para a Primeira pergunta geradora, depois o termo foi substitudo por fotografar. 34. 31 35. 32# Dos versos no caminho 119/01/11 O verso [Mario Quintana]o verso um doido cantando sozinhoseu assunto o caminho.E nada mais!Fo[car]tografia de Elisandro Rodrigues [2011] Dos versos no caminho 12/08/11 Demorei-me um pouco mais em cada percurso ao acordar: perdi o nibus!#Dos versos no caminho 2O caminho, a estrada, a rua [o fora]Paisagens fo[car]tografado [por todos]Das entradas e sadas nos nibus [nos trens]Se faz mapa, marcando datas, dias [dois anos] 36. 33#[i]m[a][g]em[o] das fotos que contamUma foto do lugar, mas com as histrias e estrias daquelas pessoas que nos receberam. Talfoto, se revelada, deveria possuir muita luz, de sol a pino, cu azul com poucas, mas densasnuvens; ao fundo um morro, alto e seco, com muitas plantas e uma aquarela de tons pastis,seco. A frente desse morro, um casebre branco, descascado, de material, a escola. Umarvore ao lado, oferecendo sombra e alvio. Cho de terra clara, mais parecido com areia. 21....[Iago pensa a imagem, e junto com a imagem lembra dos momentos que se passaram antes,durante e depois de fo[car]tografar em seu memria - uma senhora chamava ateno: acurandeira do local - conta das prticas diferenciadas de sade, das contradies do serto -uma menina do acampamento nos acompanhou at a barragem de Sobradinho, umcontraste gritante entre seca e o mar dgua do Rio So Francisco - "O sabi no sertoQuando canta me comove, Passa trs meses cantando, E sem cantar passa nove, Porque tema obrigao, De s cantar quando chove22.Iago questiona no h como dizer o que no h na foto sem dizer aquilo que mais se fazpresente nela [] Escrever sobre as imagens uma outra foto e, por mais esforo que secoloque, minha escrita s consegue se aproximar em apontamentos. Nossas escritas eimagens so apontamentos, so fragmentos do inacabado, do que est sempre em processo,dos devires.]....[Somente o tempo pode gerar uma imagem perfeita. Mas ao criar uma imagem, que tipo deperfeio buscamos? Como estabelecer o que confere o imperfeito e o perfeito de umaimagem? Deixar cair um pingo de tinta no cho j construir uma imagem. Movimentar osbraos levando o pincel a tela faz parte da coreografia desta construo. Todo gesto produzimagens, umas mais visveis que outras, mas todas em movimento. Elas no param de sedeslocar, mesmo quando tentamos fix-las com o nosso olhar. - TESSLER, 2010, p. 293]....21 Imagem recordada durante a XI Reunio do Frum Nacional de Residentes [FNRS]: Ressignificando nosso papel e nossa luta no serto do Velho Chico em Juazeiro/BA.22 Chover (ou a invocao para um dia lquido) Cordel de Fogo Encantado. 37. 34 Da janela do nibus o Hospital Psiquitrico So PedroFo[car]tografia de Iago G. Cunha [2011]#Das Janelas IO que no est o mais presente: a histria do So Pedro[Fico pensando em [18/12/10] Como poderia chover flores onde pouco chove gua? [AndrNeves] nas [09/07/11] rachaduras cabeadas na parede?Percurso. Deslocamento. Partitura.Morada So Pedro caleidoscpio ou [01/12/11] Se necessrio?]materializao gritantede uma das faces do processo de excluso insupervel nesse modo de produo; trabalho eformao durante dois dias da semana ao longo de um ano.a janela some na paredea palavra de gua se dissolvena palavra sede, a boca cedeantes de falar, e no se ouve23....[Nas convivncias na Residncia muitas falas se perdem, muitas imagens se soltam ao vento.23 Os Buracos do Espelho Arnaldo Antunes 38. 35Uma delas, recente, ainda guardada nas imagens mentais uma conversa em So Loureno doSul. Iago diz que quer mostrar uma msica para eu e Diego, a msica o sol que ilumina deWander Wildner. Ao final da msica olhei para o Iago e disse vou usar ela para mostraroutra imagem da sua foto do So Pedro ... Juliana me conte como foi o seu dia no So PedroE se as crianas j esto aprendendoJuliana me conte como foi o seu estgio na Restinga E se os funcionrios esto com tudo em cima ] .. . . Da foto do fotgrafo No EducaSade Fo[car]tografia de Iago G. Cunha [2011] 39. 36#Dos momentos a registrar...quase diariamente caminho com a pretenso de encontrar momentos a registrar. Osmomentos at existiram, mas eram mais rpidos que o abrir a mochila [] Elegi algunslugares [] quando estava com a cmera para pensar meu registro, Henrique, residente epsiclogo, elegeu a sala do Educa Sade que eu no registraria e, como estava com acmera na mo, gostei da ideia de registrar o momento de registro de outro residenteinserido na proposta quase uma metafoto.....Na fotografia nunca posso negar que a coisa esteve l [] aquilo que intencionalizo umafoto [] no Arte, nem comunicao, a Referncia... [Barthes, 2009, p.87]....[22/11/11] O que perdemos quando vemos? Quais os pormenores que nos escapam nocotidiano? 40. 37CANSAO TEMPO E S T R A N H A M E N T ODa roupa sem corpoFo[car]tografia de Iago G. Cunha [2011]Sentimento de esvaziamento 41. 38#Do corporelgio preso ao peito. Deslocamento. Conversa. Sono. Estranhamento enquantotrabalhador/residente.......feitos que somos de superfcie de impresso e diluio [] afinal o que a impressoseno um quase rastro resto do que se foi, e que por ser resto ainda , de uma experinciaquase sem sentido que faz parte da vida? [ Redin, 2010, p.357-358]....[nota perdida] o que mesmo se faz com o que ningum mais quer?....O olhar para o vazio e estranhar. Estranhar os corpos que no andam. Que apenas silenciam.Que batem a cabea nas janelas das lotaes. Que dormem o sono dos trabalhadores [ouresidentes?]. Nas conversas o que resta o rastro da experincia.].... 42. 39 Do relexo-do-autoretrato Fo[car]tografia de Iago G. Cunha [2011]Cada visvel guarda uma dobrainvisvel que preciso desvendar acada instante e a cada movimento.[Novaes, 2000, p. 27]#Um QuadroH um quadro [] de algum modo a loucura [] o que (no) est o meu processo []da experincia [][quem sabe alguns pormenores do cotidiano] eu-mesmo, projeto devida, angstias, desassossegos, inseguranas, esperanas, novidades, saudades...e........[ quem sabe impor nosso olhar, por mais frgil que seja [Bavcar, 2003, p. 98] e mostraras imanncias do [in]visvel e do possvel num quadro, num espelho, nos reflexos que cegam,nos processos que iluminamos e apagamos.].... 43. 40....[#Linhas de uma Pedagogia dos Pormenores IO visvel e o invisvel caminham juntos sempre em movimentos e deslocamentos de escritase de imagens podemos separar uma da outra? Como proporcionar cuidado na invisibilidade?Quais os momentos a registrar? Quais os pormenores a serem [r]achados?No deslocamento dos corpos sem relgio [ou com relgios presos ao peito] o estranhamento ea dvida: trabalhador ou residente?Nos nossos olhares frgeis fragmentos que restam, pintados e colados: pequenos foras[dentro] onde comeamos pelo meio e pequenas linhas [de fuga, de amizade, de saudade, devazio, de esperana, de embarque e desembarque] quem sabe...]....A natureza fsica do cosmo est em permanente transformao. E a crosta terrestre se agita,revolvendo-se. A superfcie da Terra est sempre mudando. E ns no somos essa identidadeestvel, inquebrantvel, imperturbvel, que fica assistindo de fora a festa da vida esbanjandosua potncia de variao. Estamos includos nessa viagem radicalmente transformadora.Somos passageiros de um nibus circular, cujo ponto de embarque e desembarque ignoramos.Nele, estamos sempre ingressando pelo meio do trajeto. Essa nossa sinuca de bico vital.Vamos, voltamos, vamos, voltamos, indefinidamente. E a terra que do nibus avistamos, oporto seguro em que desejamos atracar, no passa de uma placa de terra mvel, que noavana para lugar nenhum estabelecido, vai a deriva. E ainda que nos assuste muito existirassim sem um ponto de apoio, vivenciando a alternncia dos prumos e desaprumos de nsmesmos, nossa enigmtica viagem est confirmada e intransfervel. [Preciosa, 2010, p.91-92] 44. 41 45. 42#Das cores de [Gr]Amel[c]ie[la] das marcas no papel e na vidatarefa muito difcil. Primeiro veio vrias imagens... depois a escolha destas imagens []fiquei com sentimento de ter esquecido a imagem e de no ter sido justa com tantas outras.Afinal aconteceram tantas coisas e dentro de uma intensidade to, to grande........[Graciela acha difcil escolher a imensido de imagens que vivenciamos no nosso cotidiano,destas tantas nomeia cinco. No piscar dos olhos acha que muitas imagens se perderam. Pensopara onde vo elas? Graciela escolhe uma imagem que fala dos desejos e das lutas, pensa elanas asas do desejo [Pelbart, 1993] deixa outras guardadas na memria afetiva. Quem sabepara partilhar em outros momentos, em outros disparos.] .. . .Escolho a imagem da usuria Teresinha sendo gravada dentro da sua casa, com sua me,no bairro Santo Afonso, para seu to esperado documentrio. Por qu? Acho que essasituao eternizada pela imagem representaria o meu percurso na Residncia por carregarem si tantos significados... smbolos de luta, da Reforma, de apostas, desejos.....[A menina Amlie traz o desejo de devir anjo, de devir asas dessa usuria. Ela deixa que ascores conduzam sua escrita e fala desse desejo de se ver. Desejo de mudar. Um devir de asasque acompanhei, que compartilhei e que marcou. Diz Graciela que Teresinha anos antes, emum passeio do CAPS Santo Afonso, conheceu estdio, cmera, imagem e gostou. A partirdaquele momento nascia a ideia do desejo: Fazer um filme para contar a sua vida. Essefilme foi feito, um documentrio. Histria que ficou gravada em Dvds, que emociona[ou]com os desejos de ver.]Comeamos pela casa, caminhamos muito at chegar l. no meio da vila... feita de tbua.Sala, cozinha, um quarto. Tudo no capricho. Vizinhos, cachorro, criana, famlia, flor e mate.A me de Teresinha rouba a cena. Os meus olhos brilham... No todo dia que se conhecealgum to especial, uma herona. Me lembro do abrao que dei nela... Estava emocionada,encantada com aquela mulher com sua histria... Que fora era aquela que fazia sorrirdepois de tanto sofrimento?O que isso tem a ver com a minha prtica? O trabalho coletivo para realizao de um sonhoe o resultado deste esforo coletivo, apostas em experincias fora das usuais para promoode sade, autonomia. Que geram vida! O contato de um cotidiano de trabalho com histriasde vida repletas de luta, sofrimento, coragem... Com pessoas vtimas de uma sociedadecapitalista perversa. A sobrevivncia minha, nossa, delas... O acreditar, no desistir...Sempre. O sentido do nosso trabalho, da nossa prtica nessa imagem capturada pelo meupensar... 46. 43[Graciela, assim como Iago e a senhora que o chamava a ateno, trazem pormenores dotrabalho, do servio, das prticas diferenciadas de cuidado, me lembro do abrao [...]apostas em experincias fora das usuais para promoo de sade, autonomia, marcas quelevamos e que do sentido para o trabalho.] Maria, Maria24Uma fora que nos alertaUma mulher que mereceViver e amarComo outra qualquer a dose mais forte e lentaDe uma gente que riQuando deve chorarE no vive, apenas agenta Mas preciso ter fora preciso ter raa preciso ter gana sempreQuem traz no corpo a marca preciso ter sonho sempre Quem traz na pele essa marcaPossui a estranha mania De ter f na vida.... Ns o coletivo Fo[car]tografia de Graciela C. Daudt24 Maria, Maria Milton Nascimento 47. 44#De nsVou comear pelo comeo... ns! O que, quem mais poderia representar o inicio dopercurso Residncia do que ns cinco... Eu, Elisandro, Eliane, Henrique e Leonardo?! UmGrupo formado por pessoas escolhidas aleatrias unidas por desejos prprios para dividirema partir daquele momento um cotidiano... A nossa aventura de compartilhar no s otrabalho, mas o que acontecia antes, durante e depois... A extenso de ns invadiu casa,famlia, amores... o mundo individual de cada um agora tambm era coletivo.O que a foto no mostra? O amor, a parceria... A unio construda todos os dias durante umano e vrios meses. Os laos de afeto invisveis to ntidos na imagem... Histrias inscritasna memria, no meu corpo .. . .[Pormenores fo[car]tografados: dividir o cotidiano, compartilhar a vida, criar laos. So[23/06/10] Mares que se molham e espalham as securas dos dias que morrem. So [17/12/10] Textura de cores dar a cor deixar as cores escorrerem nas cores que se estendem para alm de mim] .. . . Compartilhando CotidianosFo[car]tografia de Graciela G. Daudt [2011] 48. 45#De outros ns...duas moradoras de l. Na esquerda a Regina e a direita Marli. A sombra que no tempar... a minha... estamos ao lado da casa delas. Estou l[...] acompanhando suas vidas...compartilhando cotidiano.O que a foto no mostra? Essas duas mulheres so smbolos da Reforma, de luta...Resilincia. Viveram, vivem na pele o que lemos nos livros... O que podemos imaginar, masnunca saberemos de fato como foi e ter sido institucionalizada. Elas so irms... eram trs!Tinha um menino tambm. Foram achados quando muito pequenos dentro de um nibussozinhos e levados para instituies separadas [] puderam se reencontrar. Conseguiramretomar um pedao de vida... de famlia. Elas trabalham, cozinham, namoram... E j ateensaiaram morar longe do Residencial. .. . .o trabalho dirio e a mo na massa so sempre mais maantes do que as belas palavras,mas no se deve por hiptese alguma abdicar das belas palavras, assim como no se deveabdicar das belas histrias, nem dos belos gestos, muito menos das belas intervenes oque no dizer das belas e desvairadas viagens. Sobretudo delas, que num trabalho desse tipos se consegue fazer quando se est devidamente acompanhado, isto , ladeado por umaequipe audaciosa e tresloucada, que apesar da tentao crescente no aceita o papelexclusivo e perigoso de operrios da sade, assumindo o risco de alar vos inusitados.[Pelbart, 1993, p.26]....[Graciela iniciou falando do coletivo, do grupo, dos laos que se fazem na caminhada. Laosesses que se tecem e rendilham no fazer cotidiano dos servios, na mo na massa. Se ashistrias tem sentido, lugar quando compartilhadas com os que acompanham nossa formao,esse lugar de existncia e de visibilidade aumenta, se costura com outras experincias, nos fazrefletir sobre as vidas que acompanhamos, sobre as subjetividades que resistem. Aprendemosna partilha, na vivncia, na experimentao com o outro, com a outra. Com esse usurio que sujeito, que vida, que tem devires, que tem desejos de vos. Ao costurar essas duasexperincias: dos colegas que vivem na alegria, na tristeza, na sade e na doena, comodiz Graciela, com as linhas coloridas de quem resiste aos cortes de asas, e esto sempredesejando e forjando asas novas, essa costura outro pormenor que se faz marca nasfo[car]tografias de nossa formao.]L o corpo existe [...] o corpo todo (os olhos, o sorriso, a mecha, o gesto, a roupa) quemantm conosco uma especie de balbucio... O Dentro no comanda mais o Fora [Barthes,2007, p.18; 82] #Pensam[v]entos 6 25/11/11 O que se costura nesse entre? 49. 46FO[CAR]TOGRAFIADEGRACIELAG.DAUDT[2011] #De um lugar de sossego: RedenaDos lugares que me acompanham. Deitada na grama olhando para o cu e espectadora dadana das rvores. Sair dali leve [] e mais forte para o amanh. 50. 47 #De um lugar ao SolFo[car]tografia de Graciela G. Daudt [2011]Despertar. Dia aps dia. Manhs [] junto ao sol. Inverno sair noite e do nibus/trem elechegar tmido e virar dia [] O Sol tambm foi um personagem nessa histria.Por fracas que sejam, as imagens de sonho so sempre a expresso de uma natureza outraque, banal transparncia do cotidiano, ope as frgeis vises esclarecidas do interior, ouseja, por si mesmas. Pode-se, pela lgica que fazia Plotino dizer que o olho humano nopoderia perceber o sol se ele prprio no tivesse algo de solar, afirmar que o dia que nosofusca no nos daria a menor imagem se nosso olho no fosse preparado pelos sonhosnoturnos. E, se s vezes somos obrigados a observar o mundo de olhos fechados, sobretudopara conservar o carter frgil dos sonhos que nos levam aos espelhos do invisvel [Bavcar,2003, p.142] .. . .[Quais os lugares que nos sustentam, que nos do foras? Quais os pormenores escondidosnos raios de sol, na grama verde, no abrao de um usurio. Construmos lugares. Construmosexistncias. Redeno. Grama. Sol. Exilar meu olhar nas infinitas riquezas [] para mimo refugio da liberdade [] para os olhares mais frgeis. Eu gostaria de ter ficado [] aescutar o silncio[Bavcar, 2003, p. 80-81] Procuramos lugares que nos acolham sentido a 51. 48acolhida das folhas, flores, braos que nos acompanhem. Pessoaslugares. Lugarespessoas.Um lugar com um pouco de possvel, seno eu sufoco25. Um lugar que protagonista, que territrio vivo, que atua, que cmplice. Uma cidade que no s prdios, como diz AnalicePalombini26 O territrio no pode ser reduzido casa onde se vive ou aos lugaresfreqentados pelo cidado. O territrio no apenas circunda ou circunscreve o espaoprivado, ele o espao vivo e mutante que atravessa, dinamiza e complexifica as relaesexistentes entre pblico e privado...lugares...pessoas...onde paramos...onde olhamos.] .. . .[#Linhas de uma Pedagogia dos Pormenores IIA aposta nos desejos, na escuta, na construo, no forjar asas para alar outros voos, ir paralugares que nos acolham. Buscar desejos em outras nuvens, outras Redenes. Alar voo parao sol. Para olharmos por outras janelas com prticas de cuidado que afirmem a autonomia.Para isso preciso de ns. De Coletivo. De Partilha, de convivncia. Nos formamos nasexperimentaes cotidianas. Nas conversas ao longo da estrada. Ao ver a dana das rvoresnas [12/03/11] Cartografias de saudade em folhas de rvore. Sendo Territrio Vivo.Construindo Territrio Vivo. Que as tardes na grama nos fortaleam com desejos de asasproduzindo novos pontos de partida - Barthes, 2007, p. 131]Num escrito sobre um trabalho meu, o psicanalista Gregrio Baremblitt notou, de maneiragraciosa: H infinitos modos de voar. No necessrio escolher o de caro, nem muitomenos o de Santos Dumont. Caberia acrescentar o seguinte. Talvez nossa modernidadetenha reduzido esses infinitos modos de voar a esses dois. Ora estamos de um lado, quandoenlouquecemos, ora de outro, por exemplo, quando tratamos. preciso muito senso esttico,poltico, tico, clnico, demirgico at, para desmontar essa disjuntiva infernal. Necessitamosde muito espirito aventureiro para ir forjando asas, tanto no interior de uma instituio comofora dela, que nos permitam a ns e a nossos pacientes escapar a essa violncia binria,que consiste em ter que optar sempre por um precipcio abissal, seja pelo suave parasoassptico de uma estranha sade, sade sem desejo de asas nem um devir anjo. [Pelbart,1993, p.26-27]25 DELEUZE, Gilles. Conversaes. Trad. Peter Pl Pelbart, Ed. 34, 1992,p.13126 http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/praticasclinicasanalicepalombini.pdf 52. 49 #Artes28/12/10 arte de tecer manhs 53. 50 54. 51#C[otidiano]ristiane[ncontro]MICROEQUIPE TRANSEUNTE, um grupo de residentes [...] cada qual com suasparticularidades e especificidades, desejam o trabalho integrado, em que cada um serintercessor dos outros. Nesse processo, desaparecem as fronteiras, nega-se uma existnciaindividual, solitria. Um encontro com o todo, o complexo. ReNascem sujeitos tico-esttico-polticos. .. . .[Cristiane nos seus encontros cotidianos fala do aprender com o outro, em lanar-se aexperimentao. Experimentar o intenso da vida que atravessa o corpo. Sua imagem nascepelo meio [Preciosa, 2010], contrariando Barthes [2009] que diz a foto tambm assim: elas saber dizer aquilo que d a ver (p. 111), aqui a foto, a imagem nasce por todos os lados,se experimenta em outros espaos-tempos e aprende que o espao [da pedagogia] seria oque eu criasse] .. . .Brotar pelo meio opor-se a um destino que progride em direo a algo, acariciar riscos,acumular xitos e retumbantes fracassos, se infiltrar por alguma vizinhana, fazendoconexes, povoar o cotidiano de incertezas, recolher-se numa tenda de silncios, numgesto de delicadeza diante do que est a se formar e maturar diante de si [Preciosa, 2010,p.37] .. . . 55. 52Tempo transeunte Fo[car]tografia de Cristiane I. Mena [2011]#Das Janelas IITodo Instante uma possibilidade. Uma nova experincia, um novo saber, um experimentar-se. Penso que o tempo do meu corpo muitas vezes no correspondeu ao tempoinstitudo/instituio, mas ao tempo possvel. Tempo que me ressignificou transeunte. .. . .[O tempo das sessenta horas. O tempo do encontro. Da chuva. Do abrao. Do choro. Onde seesconde o tempo quando precisamos dele? Lembro-me [10/07/11] - Anotaes em movimento[incidente 3] perto da estao que tenho que desembarcar avisto um conhecido,coordenador de um programa [poltica] do Governo Estadual, pergunto como est otrabalho, tem pouco recurso humano, e o salrio muito baixo, sem contar que agora tenhoo terceiro turno em casa [cuidar das crianas]....parada...olhar os outros tempos que noscompe.].... preciso dar tempo a essa gestao com que se confronta [...], a essas tentativas, a essa 56. 53construo e recosntruo, a esses fracassos, a esses acasos. Um tempo que no o tempodo relgio, nem do sol, nem o do campanrio, muito menos o do computador. Um tempo semmedida, amplo, generoso. [Pelbart, 1993, p.32].... [Um tempo de nascer pelo meio. Dou-me um tempo]Para mim, o barulho do Tempo no triste: gosto dos sinos, dos relgios e recordo-me deque, na sua origem, o material fotogrfico estava ligado s tecnicas do marceneiro e damecnica de preciso; no fundo, os aparelhos eram relgios de ver, e talvez em mim algumde muito antigo ouve ainda no aparelho fotogrfico o barulho vivo da madeira. [Barthes,2009, p. 23-24][escuto o tempo das imagens. Penso agora que quando contrariava Barthes [2009] acima,estava certo, pois a foto [...] assim: ela s saber dizer aquilo que d a ver (p. 111). Quemsabe o ver esteja no corpo todo, noolhar ttil [Bavcar, 2003], nos outros tempos e relgiosque usamos...] [de uma nota perdida I: Defender a ideia de um tempo diferente, escrita, desterritorializar,criar e no representar.] 57. 54 O Silenciar das Palavras Fo[car]tografia de Cristiane I. Mena [2011] #Das Experimentaes Experimentar a loucura criativa, e saber us-la para no ser tragada na norma do discurso da loucura psiquitrica; da capacidade de fazer a linguagem se quebrar nela mesma, que tambm fazer o Eu se quebrar l onde a palavra fica sem palavra. A vontade e a experincia de aprisionar e querer guardar marcas de algo inaprisionvel [] sempre levam a vontade e experincia de ver-viver a diluio das previsibilidades. [Redin, 2010, p. 353] um gesto de fazer visvel a ausncia atravs de fragmentos que consituem uma experincia [Vilela, 2010, p. 327][Silenciar a palavra. Construir linhas de fuga da palavra. Tecerexperimentaes que rompem com o velho tecido da criatividade, conseguirflagrar, clicar, disparar a multiplicidade dos novos espaos-tempos. Cadaimagem fotogrfica um fragmento de sentido, de silncio.] 58. 55 Terceira margem Fo[car]tografia de Cristiane I. Mena [2011]#Das correntezasResistir s correntezas e conseguir experimentar locais onde as guas rompem s margens dorio. Conquistar a capacidade de perceber outros horizontes do aqui e agora que comumenteno percebemos quando estamos capturados nos sentidos que os discursos nos limitam....."Pai, o senhor me leva junto, nessa sua canoa?" Ele s retornou o olhar em mim, e me botoua bno, com gesto me mandando para trs. Fiz que vim, mas ainda virei, na grota do mato,para saber. Nosso pai entrou na canoa e desamarrou, pelo remar. E a canoa saiu se indo asombra dela por igual, feito um jacar, comprida longa. Nosso pai no voltou. Ele no tinhaido a nenhuma parte. S executava a inveno de se permanecer naqueles espaos do rio, demeio a meio, sempre dentro da canoa, para dela no saltar, nunca mais. A estranheza dessaverdade deu para. estarrecer de todo a gente. Aquilo que no havia, acontecia. [...] E nuncafalou mais palavra, com pessoa alguma [...] Sou homem de tristes palavras. De que era queeu tinha tanta, tanta culpa? Se o meu pai, sempre fazendo ausncia: e o rio-rio-rio, o rio pondo perptuo [...] e, eu, rio abaixo, rio a fora, rio a dentro o rio.27 [Guimarres Rosa]27 A Terceira Margem do Rio, texto extrado do livro "Primeiras Estrias", Editora Nova Fronteira - Rio de Janeiro, 1988, pg. 32 59. 56[Sair das margens ir para o meio? Ou ficar com os ps secos? Pendurar anotaes quetransbordem o leito dos dias. Dar sentido as imagens cotidianas e pensar um outro tempo? Demeio a meio vamos remando, tecendo, costurando.] .. . .Do dia fora do tempoFo[car]tografia de Cristiane I. Mena [2011]#Do Tempo e do Sr. Palomar28Um dia fora do tempo. A manh comeou num tempo manso, de frio e chuva. Tempo deconversa inicial. Tempo pra falar de muitas coisas, sem aprofundar nenhuma. No era esse otempo. Era o tempo do olhar curioso, do passo calmo, de se deixar observar e observar. Tudoali estava acontecendo num outro tempo, dentro e fora de mim. Os cachorros estavam l. Eas crianas tambm. Muitos. Juntos. Tempo de acostumar o ouvido com uma lngua estranha.Tempo de ver com outros olhos. Tempo de sentir com o corpo todo. Vertigem. Tempo da rodaem volta do fogo. Do olhar perdido no fogo. Comea agora um novo tempo. Tempo que no. Tempo que est. O que ser?28 Personagem de talo Calvino, no livro Palomar. So Paulo: Companhia das letras, 1994. 60. 57[No tempo do cotidiano, encontro. Encontro com outros modos de ver, de sentir, de ser ... dedevires. Sr Palomar gosta de usar o tempo para observar, assim como Cristiane, de ver comos olhos, de sentir com o corpo todo, no [des]foco da foto, da imagem, esse outro tempo. Amistura: o caminhar, a terra, o asfalto, as rvores, as culturas, as crianas, os adultos...Sr.Palomar ao observar os planetas, ao olhar Jupiter pela lente dos olhos do telescopio ficasempre na expectativa de alguma transformao, mas cansa-se de olhar no tempo do olho,No consegue manter a imagem ntida: necessita fechar por um momento as plpebras,deixar que a pupila ofuscada reencontre a percepo precisa dos contornos, das cores, dassombras, mas tambm deixar que a imaginao se livre dos embaciamentos que no lhepertencem, renuncie a ostentar uma sabedoria livresca. Um outro tempo para o olhar. [des]contornar, [des]colorir. Dar um outro tempo para o olha[vive]r cotidiano. Pensar uma outracultura. Desenbaciar um olhar que no nos pertence. Construir barricadas no tempo, conseguirnesse nosso olhar frgil flagrar a multiplicidade dos novos espaos-tempos - Pelbart, 1993,p.39;45.]...."O desafio propiciar as condies para um tempo no controlavl, no programavl, quepossa trazer o acontecimento que nossas tecnologias insistem em neutralizar. Pois importa,tanto no caso do pensamento como da criao, mas tambm no da loucura, guardada asdiferenas, de poder acolher o que no estamos preparados para acolher, por que este novono pode ser previsto nem programado, pois da ordem do tempo em sua vinda, e no emsua antecipao. quase o esforo inimaginvel, no da abolio do tempo, mas de suadoao. No libertar-se do tempo, como quer a tecnocincia, mas libertar o tempo, devolver-lhe a potncia do comeo, a possibilidade do impossvel, o surgimento do insurgente..."[Pelbart, 1993, p. 36] .. . .[#Linhas de uma Pedagogia dos Pormenores IIIExperimentao. Abrir as plpebras para o espao-tempo onde se nasce pelo meio, ondeaquilo que queremos aquilo que criamos. Silenciar a palavra, dar outros sentidos ao corpo. Irpara o meio do rio e fechar as janelas do impossvel. Criar resistir. Deixar que um fio devento [Calvino, 1994, p. 10] aflore outros olhares, outros tempos.] 61. 58 62. 59 63. 60#[D]as l[i]nhas do invisiv[e]l[go]Uma imagem que lembra o processo de formao foi a atividade que elaboramos, oconjunto dos residentes, em referncia ao dia 18 de Maio, dia da luta antimanicomial, nacidade de Novo Hamburgo. Essas cenas, contam muito da minha prtica, destacando apermanente veia militante que os usurios, trabalhadores e familiares relacionados asade mental necessitam manter. .. . .[Diego lembra de um momento onde a luta, o desejo, o criar, mostra-se presente com adelicadeza do cuidado, junto com os usurios, e num momento de ebulio onde os regimesde trabalho estavam sendo mudados. Fala de uma imagem de apoderamento por parte dosusurios, e de uma ateno integral no cuidado. Lembro-me de um escrito de final deespecializao29, da Anna Letcia Ventre, diz elaA delicadeza, como apontada nas entrelinhas por Berger, situa-se arraigada sexperincias. E nesse ponto que retomamos sua relevncia para pensar as aes em sademental e tambm, na sua relao com as transmisses que se constroem nas cidades. Asprticas em sade, e particularmente, em sade mental coletiva, no produzem sentido seestiverem desarticuladas das experincias que as sustentam. Exatamente porque se constroema partir da multiplicidade (outra palavra do rouxinol-talo) de movimentos micropolticosque vo se engendrando nos fazeres. Desamarrar as experincias da sade mental seria omesmo que apagar a possibilidade de transmisso da histria. [2010, p.22]Lembro-me desse dia, desse 18 de maio. Lembro-me de duas imagens, as duas registradas emvideo, e uma delas encontra-se no Documentrio Quatro Reais, quando Teresinha, japresentada aqui antes pela Graciela, sobe ao palco e agradece o trabalho, as amizades, ascosturas que faz[ia] no Caps Santo Afonso. A Outra imagem do [tutor] Aladin cantandoGuantanamela e falando da sua decisso de no fazer a seleo para trabalhar na Fundao deSade Pblica [com direito privado] de Novo Hamburgo. essa militancia que fala Diego que garantem as costuras, as amaras da Sade Mental.Sem esses processos de sustentao do invisvel as linhas teriam se desamarado h muitotempo.Esse invisvel a loucura, o trabalho. um invisvel para quem no quer olhar. Mas para osolhares frgeis [Bavcar] ou para aqueles que fecham os olhos para ver [Barthes] o invisvel semostra visivvel. .. . .#Pensam[v]entos 7Sbado, dia 03/06, manh fria de outonoquaseinverno em um local frio [que entra no corpopela umidade e pelos olhos pela dorviolnciaopresso] vejo ps descalos pisando o chocoberto por pisadas antigas, frgeis e delicadas. Na minha frente a discusso sobre a poltica29 Essa que termino junto com a Residncia, Especializao em Educao em Sade Mental Coletiva 64. 61de desinstitucionalizao, pessoas visveis que tornam os ps invisveis. As anotaes quefao no caderninho preto so: Eles esto de ps descalos para se sustentarem no mundo? Medistraio com outra anotao: Corpos que correm dentro de si no sol frio de outonoinverno.Anoto novamente: Se est frio aqui dentro, imagine todos os dias durante todo o tempo que setorna sculos para eles. Me pergunto em meio a falas: Como tornar visvel o invisvel? Serque na invisibilidade se sente frio? Uma fala se sobressai dita pelo italiano que nos visita aspessoas precisam no estar de ps descalos. Para elas ningum vai dar sapatos ou vender.Coisas belas no podem ser dadas aos loucos pobres. Meus pensamentos fogem longe, seescondem, chovem. Passarinha me passa um poema de Mario Quintana nesse momento[pequeno inventrio]: Os cabelos encaracolados das chamasOs lisos cabelos do ventoO cabelo rente da gramaOs grandes ps ausentes dos deuses de pedraOs ps volantes do medoOs ps ridiculamente em enquadro dos assassinados.Os meus dedos em leque onde se incrustam as estrelasOs meus dedos em gradeOs meus dedos em grade Os meus dedos em grade, ah, que eu noconsigo atravessar!Volto ao tempo presente quando ouo uma das ltimas falas do encontro tempo de sonhar.Olho para os ps no cho, os ps descalos e vou em direo a eles. [texto escrito sobre o IISeminrio/Oficina Internacional Loucos pela Vida 20 anos de construo coletiva, no dia04/06/11 no Ginsio do Hospital Psiquitrico So Pedro.] .. . .#Ainda sobre o invisvel3021/12/11 [Pa:...ser invisvel e no conseguir fazer marca que no seja s pela via da sustentao naborda...][Pe:...Mas as marcas so feitas ali nas bordas, no invisvel. O que acontece que no se querver esses pormenores marcados com linhas coloridas....]30 De uma troca de mensagens no celular 65. 62 O olhar de um usurioFo[car]tografia de Diego E. Rodrigues [2011]#Do olhar e da delicadezaDestaco o olhar dele na foto, um olhar marcante, expressivo e que simboliza uma histriade vida circulando por servios de sade mental. Nas ida ao campo de prticas nesse caps,formou-se um vnculo importante, assim como fiz com todas as pessoas atuam[avam] nesseservio. Isso demonstra que a formao do vnculo se d atravs de uma relao transversal,no hierarquizada, e que em muitos momentos se d a partir da relao usurio- trabalhadore no vice-versa. Carregava em mim a impresso que era o profissional da sade oresponsvel pela formao de um vnculo, com ele [o usurio da foto] aprendi que pode serdiferente.....[Na fo[car]tografia de Diego vamos perceber um outro olhar. Um outro foco. As imagenscarregam uma nuvem de outros sentidos. Calvino [1994] conta-nos sobre os olhares do SrPalomar Palo[mar] Pal[o]m[lh]ar, esse personagem para Bavcar seria um Arqueologo doolhar, pois todas as coisas que ele faz so minunciosas e passam pelo olhar, e no s o dosolhos, mas do corpo todo. Palomar inicia o livro na Praia olhando as ondas, tentando acharum metdo de estudar elas, passa ao seio nu e depois ao sol. Sempre observando ecomentando, alimentando seus dialogos interiores. Aos poucos vamos conhecendo essesenhor que observa, vemos ele observando seu jardim [as tartarugas fazendo amor, o assobiodo passarinho melro, as raizes do grama os rizomas], depois Palomar contempla o cu [a lua 66. 63no entardecer, os planetas e as estrelas], e assim Palomar segue observando os lugares daCidade, e os seus silncios.Falo de Pal[o]m[lh]ar para falar do olhar. Quando ele olha as estrelas pensaQuando erguemos o olhar para o cu, este aparece negro, salpicado de vagos clares;somente aos poucos que as estrelas se fixam e se dispem em desenhos precisos, e quantomais olhamos mais as vemos aflorar [p. 42] esse olhar, esse que aflora que Diego fala, desse cuidado, do vinculo que construimos noscotidianos e da abertura para a escuta.].... Na piscina Fo[car]tografia de Diego E. Rodrigues [2011]#Da afeco e da escutaUma imagem muito marcante de uma relao construda nesse dia. Um dos meninos docaps, que no est na imagem, durante uma partida de sinuca, diz de forma desafiadora que: o pessoal que trabalha no caps nunca entra na gua!, aps algum perodo quando algunsdeles estavam na gua, saltei dentro da piscina. Nesse momento todos ficaram muitofelizes ... partilhando um momento com eles e experimentando os mesmos sentimentos, notinha uma relao tcnico- usurios, estava ali exercitando a capacidade de afetar e serafetado. 67. 64[Esse outro olhar de Diego segue na costura do vinculo e nos chama a ateno para asrelaes que estabelecemos, e que a afeco est nos pormenores rompidos, no desofuscar dosolhos. Entendemos afeco aqui como produo de sentido no corpo de quem quer provocarsentido. Esse um conceito que Deleuze rel de Spinoza.]O que uma afeco (affectio)? Eu vejo vocs literalmente abaixando os olhos... E noentanto tudo isto , ao contrrio, divertido. primeira vista, se nos atemos ao texto deSpinoza, ela no tem nada a ver com uma idia, mas tampouco tem a ver com um afeto.Tnhamos determinado o afeto [affectus] como a variao da potncia de agir. E umaafeco, o que ? Numa primeira determinao, a afeco isto: o estado de um corpoconsiderado como sofrendo a ao de um outro corpo. O que isso quer dizer? "Eu sinto o solsobre mim", ou ento, "um raio de sol pousa sobre voc": uma afeco do seu corpo. O que uma afeco do seu corpo? No o sol, mas a ao do sol ou o efeito do sol sobre voc. Emoutros termos, um efeito, ou a ao que um corpo produz sobre outro - note-se que Spinoza,por razes decorrentes de sua fsica, no acredita em uma ao distncia: a ao implicasempre um contato - uma mistura de corpos. A afeco [affectio] uma mistura de doiscorpos, um corpo que se diz agir sobre outro, e um corpo que recolhe o trao do primeiro.Toda mistura de corpos ser chamada de afeco. Spinoza conclui a partir disso que aafeco [affectio], sendo definida como uma mistura de corpos, indica a natureza do corpomodificado, a natureza do corpo afeccionado [affectionn] ou afetado [affect]; a afecoindica muito mais a natureza do corpo afetado do que a natureza do corpo afetante. 31....[Vilela [2010] diz que as fotografias so ecos visuais, comeo do silncio, a fotografiaconstitui uma linguagem que surge do combate entre o silncio, a palavra e o corpo, comotentativa de dar presena ao silenciado e ao indizvel [p. 329], diz ela que trata-se de umaaprendizagem do ver. Que temos que reaprender a ver, ver em profundidade, e no apenas aolhar a evidncia das formas[p. 329]. Bavcar, Barthes e Sr Palomar [Calvino] concordamcom a construo desse outro olhar, sentem-se contemplados com o que Vilela fala, diz elaque nesse territrio do invisvel o olhar surge como uma escuta...o olhar uma aberturatctil do mundo; uma forma de respirao [p.331; 335].]....#Pensam[v]entos 8[14/07/11] Da afeco: no final de uma reunio delicada [onde as linhas de cuidado estavamem discusso e dois modelos eram debatidos, prevaleceu o mais sensvel e prximo daproposta da reforma psiquitrica] a coordenadora do Caps vem e diz: deixa eu dar umabrao em vocs pois foram importantes hoje na defesa de um projeto.31 [Disponvel em http://www.webdeleuze.com/php/texte.php?cle=194&groupe=Spinoza&langue=5 Acesso em 27/07/11] 68. 65Bandeira da RIS/UFRGSFo[car]tografia de Diego E. Rodrigues [2011]# Das bandeirasFoto da bandeira que foi confeccionada por mim e mais trs Residentes, durante o encontroestadual de residentes. A imagem simboliza uma estrada em formato de X, onde sosimbolizadas em cada um dos lados as cidades onde a RISMC tem campos de prticas, asaber: Viamo e Porto Alegre, e a bandeira confeccionada com tinta e a ponta dos dedos.Essa imagem simboliza uma parte de meus percursos entre as duas cidades, uma em cadaano da RIS.....Na linha dos pensadores que me inspiram, preciso dizer tambm que no se trata dedescobrir nossa identidade atravs desse visvel que a nossa histria, j que a histria nodiz o que somos, mas aquilo de que estamos em vias de diferir. Diferir dela no paradescobrir o que se , mas para experimentar o que se pode ser (desprender-se de si, diziaFoucault). [Pelbart, 1993, p.57].... 69. 66[Vou-lhes falar de uma dificuldade que vm nas pontas dos dedos e sobe para o corpo todo. difcil escrever, analisar momentos que se vivenciou e experimentou. A maioria dasimagens clicadas at o momento dizem do meu processo de formao tambm, comopesquisadorcartografo posso me inserir nessa pesquisa interveno. Como diria Barthes[2009], eu participo das figuras [p. 35]. Sendo assim, fico pensando nos mtodos e naspesquisas: ser que possvel se ausentar para falar? Quanto de um planeta pode entrar porum olho [Calvino, 1994, p. 40]? Os percursos, as militncias, os momentos de parada, depensar um outro tempo, de se questionar sobre os trabalhos. Todos processos que estoudentro, que fao parte. Que me parto. Que Parto...Ser que fao-me pesquisa?]Parto da vida, portanto. Parto na vida. Desta que se coloca a morrer em sua invisibilidade.Porque sim, as vidas invisveis so vidas. Que partem do que se imprimi e se dilui, daquiloque passa e fica, vida feita de restos, permanncias e desaparies, das imprescindibilidadesde que so feitas. Elas, sem espetculo algum, feitas de intempries que se repetem...[Redin, 2010, p. 353]....[#Linhas de uma Pedagogia dos Pormenores IVA costura vai se colorindo com outras linhas, com uma delicadeza necessria para sustentar aslinhas do invisvel. Nos partos da vida, nas lutas cotidianas preciso militncia para seguircantando, seguir tecendo. No olhar que prolonga a escuta. No cuidado e na convivncia com ousurio. Nas pinturas a dedo do vinculo e da afeco.]Nunca ser o suficiente perguntar a respeito da constituio do olhar: o que que nos fazver? O que que vemos? Naquilo que vemos, o que nos olha? O que uma imagem? Estasperguntas frequentam inmeras investigaes relacionadas arte em geral, artecontempornea de forma particular e, especificamente, as suas relaes com a fotografia.Bavcar instaura uma arte que revive incessantemente a origem do mundo: FIAT LUX e dastrevas fez-se a luz. O fotgrafo ilumina, e no caso de Bavcar , a noite sua cmplice. Estacumplicidade um ato de amor , uma pulsao de eros como ele mesmo gosta de lembrar .Inmeras vezes se refere mxima lacaniana amar dar ao outro o que no se tem. Eleoferece a imagem cuja fonte sua imaginao. No tendo a luz, tem a iluminao. Suaslanternas mgicas avanam no infinito da noite, riscando a sensibilidade do filme fotogrficopara atingir a porosidade de nossa pele. Em uma das fotografias em que captura sua casa deinfncia noite, vemos a janela como pupila negra de olho desenhado pelo facho dalmpada que ele segura em suas mos enquanto fotografa. Como no nos sentirmos emtrnsito entre o prximo e o distante quando o que vemos na foto o prprio enigma daorigem, ponto de fuga obscuro e absoluto que nos interpela com o significado do tempo, damemria e da morte que espera?Muitos so os exemplos, em suas fotografias, das carcias que Bavcar faz, com a luz, nasuperfcie dos detalhes do corpo humano, sobretudo feminino, nas formas dos pequenosobjetos, nos mveis da casa, nas paisagens de sua e de nossas infncias. Seu foco oinvisvel no visvel, o vazio nas formas palpveis, o avesso das imagens dossonhos.[TESSLER, 2003, p.10]3232Texto Evgen Bavcar em Diagonal, in BAVCAR, Evgen. Memrias do Brasil, 2003. 70. 67#Um re[SU]SpiroSeja o que for que ela d a ver e qualquer que seja a maneira, uma foto sempre invisvel:no ela que ns vemos. [Barthes, 2009, p.14]Nota de divagao I: o que mesmo se faz com o que ningum mais quer? 71. 68#De uma nota perdida II Por que tem que se ter um inicio, um meio e um fim? Eu quero [r]ir.....O que d forma pra figura o olhar.....Pensar sobre marcas deixadas. Olhar novo sobre o cotidiano.Invisvel, onde isso atravessa? O que fica, o que vamos lembrar?Vento [deslocar]..... Aquilo que no enxergamos.Juntar os fragmentos em mapas colar o cotidiano no est separado da Residncia.Movimento permite o silncio, o desejo e a implicao do olhar. .. . . O que o olhar captura e interessa pormenores.Desfocado.Ouvir o silencio das imagens. .. . .Como a gente fala das imagens? .. . . Fazer uma imagem uma escolha. 72. 69 73. 70#Dos Movimentos i[He]n[ri]qui[e]tosUma pixao, nos muros de So Leopoldo, que vi durante viagens De Volta Pra Casa naResidncia Intermunicipal em Sade Mental Coletiva: "Quando morar um direito, ocupar um dever". Essa frase no muro me lembra de uma das principais questes que pra mim seformaram na residncia, e que ainda me complicada: como ocupar os espaos de controlesocial e construo de polticas pblicas para que acabem os desmanches no SUS?....[Henrique se inquieta. Henrique se questiona. Pensa nas possibilidades de sair dainvisibilidade, nos movimentos de resistncia [Rolnik, 2006, p. 15] dentro do SUS. Quaisso os nossos direitos? Quais nossos deveres? Tudo to confuso. Um emaranhado. Se todogesto produz imagens, umas mais visveis que outras, mas todas em movimento. Elas noparam de se deslocar, mesmo quando tentamos fix-las com o nosso olhar [TESSLER, 2010,p.293], quais as imagens possveis de resistncia? De resilincia? Como deixar de serirrevelvel? Barthes [2009] diz que atravs de qualquer coisa que a marca, a foto deixa deser qualquer...diz-se revelar uma foto, mas aquilo que a ao revela o irrevelvel, umaessncia (de ferida), aquilo que no pode transformar-se mas apenas repetir-se sob a formade insistncia (do olhar insistente). [p.58]. Ser que devemos ocupar as marcas que sefazem corpo durante nossas viagens e perdurar nosso olhar insistente? Questo que seguecomplicada, mas creio eu [caro leitor] que perdurar o olhar insistente nas marcas acreditarno possvel, na resistncia, como bem diz Pelbart [1993] citando DeleuzeAcreditar no mundo o que mais nos falta, ns perdemos completamente o mundo, nosdesapossaram dele. Acreditar no mundo significa principalmente suscitar acontecimentos,mesmo pequenos, que escapem ao controle, ou engendrar novos espaos-tempos, mesmo desuperfcie ou volume reduzidos [p. 80]Criar movimentos de resistncia com um olhar insistente,quem sabe as pequenas marcas[pormenores] ocupem as instancias, as instituies e ns que seguimos tentando revelar oirrevelvel.]....[As fo[car]tografias de Henrique ficaram presas ao escuro do negativo, das oito fotos tiradasapenas duas os sais de prata e os processos quimicos revelaram. Tessler [2003] fala que paraBavcar a "fotografia mediada por palavras" [p. 11] pelo processo de costruo das imagens,do pensar pre imagem concebida em pensamento, at torna-la vsivel. Nesse visvelmediada por palavras ficamos com as duas fo[car]tografias inquietas de Henrique.].... 74. 71 Do acumuloFo[car]tografia de Henrique T. Paz [2011]#Do acumulo...Quanto s imagens em si, elas falam da falta de condies estruturais para se efetuar umtrabalho de qualidade. Em uma delas, o Lixo Eterno que sempre se acumula em um doscampos [...] .. . .[Fiquei pensando nos execessos que vivemos com essa imagem fo[car]tografada, e nasdifculdades das escolhas, dos movimentos, das resistncias, nesse acumulo de imagens eopes. No paramos para olhar os pormenores, de criar imagens com o olhar e com opensamento. No pensamos em nossas cegueiras.]H algo de comovente na constatao de uma impossibilidade. Ao contemplarmos o quefalta ao outro, sucumbimos s lacunas que nos habitam silenciosas. De nossos olhos, podevazar a sensao mida de um entendimento sbito: olhar no eqivale a ver; ver noeqivale a saber (a verdade). [TESSLER, 1998] .. . . 75. 72 difcil proceder a uma escolha porque somos intimados a essa proliferao de imagens,ao devir-imagem do mundo atravs das telas, ao devir-imagem de nosso universo, converso de tudo em imagem. Ora, exatamente onde tudo imagem, deixa de haverimagem, deixa de haver imagem como iluso, como excesso, como cenrio, comosingularidade, como universo paralelo. [Baudrillard, 2003, p. 89] .. . .H algo que no est nas fotos que eu gostaria de contar sobre o processo de formao: seeu pudesse fotografar qualquer imagem do processo da residncia, bem, a imagem quefotografaria seria o Movimento. Como no exatamente fotografvel, explico: a Residnciame produz a sensao de estar sempre em movimento, seja movimentos geogrficamentelocalizveis, como por exemplo mas viagens para as idas a campo em dois municpiosvizinhos cidade que moro; seja os deslizes do que sou enquanto trabalhador de sade. NaResidncia ocorreu de eu produzir e constantemente mudar o que acredito que deva serminha formao e atuao como trabalhador de sade.[fala/escrita de Henrique] .. . .[Como ocupar espaos se estamos sempre em movimento? Pelbart [1993] diz que oprimeiro objetivo de uma verdadeira revoluo jamais mudar o mundo, pura esimplesmente, mas tambm, e sobretudo, de mudar o tempo [p.76], mostra-se necessriomovimentarmos com um outro tempo provocando rachaduras, pequenas marcas.] 76. 73De um intervalo no tempoFo[car]tografia de Henrique T. Paz [2011]#Das rachaduras na janela[...]a foto de um cemitrio, no qual um usurio foi enterrado, em um evento que sehouvessem mais trabalhadores no servio para efetuar um cuidado de qualidade, talvez notivesse ocorrido. .. . .[Costuramos muitas imagens na janela de nossos olhos, mas algumas delas racham-se.Descolorem-se. Ficam vazias. No de sentidos ou significados. Ficam vazias pelo silncio epela fragilidade de nossos olhares [Vilela, 2010; Bavcar, 2003].][...]fazem-nos tocar um acontecimento: o silncio de um olhar onde os nomes se declinamno corpo [] trata-se de olhar uma imagem e nela ver o momento em que se prendeu apassagem de um tempo, entre a memria e o esquecimento perdio ou resistncia.[Vilela, 2010, p. 323][Como efetuar esse olhar cuidadoso? Como costurar, recolorir essas fotos rachadas? Essemenino dos movimentos inquietos, inquietaram, ou desquietaram o pensamento,desacomodaram os olhos, fizeram com que o tempo se repensasse no no tempo queconversvamos nas fo[car]tografias de Cristiane mas no tempo das rachaduras, das mortes,do vazio, do excesso, do acumulo de tempo, de imagens.] 77. 74....[#Linhas de uma Pedagogia dos Pormenores VAcreditar no mundo, construir marcas, pequenas rachaduras, resistir ao va