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PAULO EDUARDO KREISNER
ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO RETROSPECTIVO DO TRAUMA
BUCOMAXILOFACIAL INFANTIL NO
HOSPITAL MUNICIPAL DE PRONTO SOCORRO DE
PORTO ALEGRE
PORTO ALEGRE 2005
PAULO EDUARDO KREISNER
ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO RETROSPECTIVO DO
TRAUMA BUCOMAXILOFACIAL INFANTIL NO
HOSPITAL MUNICIPAL DE PRONTO SOCORRO DE
PORTO ALEGRE
Dissertação apresentada como parte dos requisitos obrigatórios para a obtenção do título de Mestre em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial, pela Faculdade de Odontologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
Orientador: Prof. Dr. Ruben Weismann
PORTO ALEGRE
2005
AGRADECIMENTOS ESPECIAIS
Aos meus pais, Edmundo Kreisner e Rejane Maltz Kreisner, pelo amor, carinho,
confiança e incentivo, e ao irmão Marcelo Kreisner, pela amizade, convívio, apoio e
compreensão.
À minha namorada, Natasche Ballei, por passar ao meu lado durante estes
momento difíceis, por acreditar em mim e me apoiar sem medir esforços para que eu pudesse
concluir o curso.
AGRADECIMENTOS
À Faculdade de Odontologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do
Sul – PUCRS, pela minha formação como Cirurgião-Dentista e Especialista em Cirurgia e
Traumatologia Bucomaxilofacial, e pela oportunidade de realização do Curso Mestrado em
Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial.
A CAPES por ter viabilizado, financeiramente, a realização do Curso de Mestrado.
Ao Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre – H.P.S., por proporcionar minha
formação em caráter de urgência relacionada ao trauma, e por possibilitar a realização
deste trabalho, e ao Hospital Cristo Redentor – H.C.R, pela oportunidade de aprimoramento
científico no atendimento de urgência e cirurgia do trauma, e pelo convívio com médicos,
residentes e funcionários.
Aos professores do curso de pós-graduação em Cirurgia e Traumatologia
Bucomaxilofacial da PUCRS, pelo esforço e empenho em transmitir seus conhecimentos e
experiências técnicas, científicas e pessoais.
Ao Professor Dr. Ruben Weismann, pela orientação deste trabalho, com quem
muito aprendi sobre a especialidade, além de muitos ensinamentos de vida.
Ao Professor Dr. Gilson Correia Beltrão, pela orientação inicial deste trabalho
durante o curso de especialização.
Ao Professor Dr. Jorge Omar Lopes da Silveira, professor e amigo que me inspirou a
realizar Cirurgia, a quem devo grande parte de meus conhecimentos na área, sempre me
incentivando, apoiando, orientando, e sem o qual seria impossível a realização deste
trabalho.
Ao Professor Dr. Rogério Belle de Oliveira, com quem tive uma aproximação recente,
mas que me proporcionou muitas contribuições científicas e pessoais, além de participar
diretamente na elaboração e correção desse trabalho.
Ao Professor Dr. Rogério Miranda Pagnoncelli, que não mede esforços para
aprimorar nosso conhecimento técnico e científico, mostrando-se também uma excelente
pessoa, sempre abrindo as portas para os alunos.
Ao Professor Dr. Cláiton Heitz, professor e amigo, que não mediu esforços para
transmitir seus conhecimentos, principalmente relacionados ao trauma, tornando a
convivência muito agradável.
À Professora Drª. Marília Gerhardt Oliveira, pela coordenação da Pós-Graduação
em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial, sendo um exemplo de dedicação
profissional.
Ao Dr. Paulo Cauy Petry, por abrir as portas de seu consultório, sempre empenhado
em me ajudar a crescer profissionalmente, proporcionando várias oportunidades, além de ser
uma excelente pessoa.
Ao colega e amigo Carlos Alberto Medeiros Martins, ótimo amigo, a quem devo parte
da realização desse trabalho.
Ao amigo e colega Alexey Gaspar Martins Ferreira, que tornou-se um de meus
melhores amigos, sendo que sempre operamos e realizamos trabalhos científicos juntos,
crescendo como pessoa e como profissional.
Aos colegas de pós-graduação pelo convívio, amizade, aproximação e alegrias, que
proporcionaram momentos agradáveis e amizades que perdurarão durante toda a vida.
Ao amigo Frederico Saueressig, colega da Especialização e do Mestrado, com quem
me aproximei ainda mais, tornando a convivência durante o curso ainda mais agradável.
Ao amigo e colega Vinícius Nery Viegas, uma das excelentes amizades que o curso
me proporcionou.
Ao corpo de funcionários da FO-PUCRS, por estarem sempre empenhados em fazer
o melhor de si pela faculdade e para o bem-estar do aluno, sem os quais não seria possível a
realização do curso, em especial à Luiza Braga Kurowski, que além de ser uma ótima
auxiliar é uma grande amiga, tornando o Ambulatório de Cirurgia mais alegre, de forma que
sempre podíamos contar com ela quando precisávamos.
*Bireme: Descritores em Ciências da Saúde. http://decs.bvs.br/
RESUMO
Realizou-se um estudo epidemiológico no Hospital Municipal de Pronto Socorro de
Porto Alegre, procurando estabelecer a prevalência de lesões maxilofaciais em crianças, bem
como as diferentes características a elas relacionadas. Os dados relacionados à data da
ocorrência, gênero, idade e tipo de lesão foram coletados dos Livros de Registro de
atendimentos ambulatoriais de 1993 a 2001. Do total de 50.536 atendimentos realizados no
período em estudo, 14.468 (29%) ocorreram na faixa etária de 0 a 12 anos de idade, com
predomínio entre 1 a 3 anos. Observou-se uma maior prevalência de eventos no gênero
masculino (61%), um número maior de atendimentos durante os turnos da tarde e da noite
(p<0,001), e com maior ocorrência nos finais de semana (p<0,001). Verificou-se uma
variação sazonal, com predomínio nos meses quentes do ano (p<0,001). As lesões mais
freqüentes incluíram ferimentos corto-contusos em tecidos moles, envolvendo especialmente
lesões em lábio superior (38%). Trauma dentoalveolar também foi prevalente e, nesse caso,
com predomínio da arcada superior (88%). Fraturas faciais constituíram-se em eventos pouco
freqüentes, sendo a fratura de mandíbula a mais usual (57%). Essas informações merecem
atenção especial por parte dos gestores de saúde, especialmente na área de urgência, de modo
a proporcionar a esta faixa etária da população instalações físicas e treinamento pessoal
adequado para atender suas necessidades. Impõe-se, ainda, a identificação de fatores de risco
objetivando possíveis medidas preventivas.
Descritores: Ferimentos e Lesões. Boca. Face. Criança. Epidemiologia.*
*Mesh: Medical Subject Headings. http://www.nlm.nih.gov/mesh/meshhome.html
ABSTRACT
The purpose of this study, conducted in a public urgency and emergency hospital, was
to establish the prevalence of maxillofacial injuries in children and to determine the different
variables associated with these injuries. Data for this retrospective study were collected from
emergency visit records from 1993 to 2001. Of 50,536 patients in the period studied, 14,468
(29%) were children 0 to 12 years of age, most of whom were 1 to 3 years. Most patients were
boys (61%) seen in the afternoon or evening shift (p<0.001) and on weekends (p<0.001).
Number of visits varied seasonally, with most events occurring in hot months of the year
(p<0.001). The most frequent injuries were soft tissue wounds, predominantly in the upper lip
(38%). Dentoalveolar injuries were also frequent and affected the upper jaw in most cases
(88%). Most facial fractures, an infrequent finding, affected the mandible (57%). These
results deserve special attention from health care managers, particularly those in emergency
care, so that adequate facilities and qualified personnel are made available to treat children.
Also, an analysis of risk factors should be conducted so that preventive measures can be
implemented.
Key words: Wounds and Injuries. Mouth. Face. Child. Epidemiology.*
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Freqüência da amostra de pacientes atendidos, Setor de CTBMF-HPS, Porto
Alegre, 1993-2001 ..........................................................................................................................57
Gráfico 2 - Distribuição da amostra segundo o ano de atendimento, Setor de CTBMF-
HPS, Porto Alegre, 1993-2001 ................................................................................................ 58
Gráfico 3 - Distribuição da amostra segundo o mês de atendimento, Setor de CTBMF-
HPS, Porto Alegre, 1993-2001 ................................................................................................ 59
Gráfico 4 - Distribuição dos atendimentos segundo as estações do ano, Setor de
CTBMF-HPS, Porto Alegre, 1993-2001 ........................................................................................59
Gráfico 5 - Distribuição da amostra segundo o dia da semana, Setor de CTBMF-HPS,
Porto Alegre, 1993-2001 ................................................................................................................60
Gráfico 6 - Distribuição e freqüência da amostra segundo o turno, Setor de CTBMF-
HPS, Porto Alegre, 1993-2001 ................................................................................................ 61
Gráfico 7 - Distribuição e freqüência da amostra com relação ao gênero, Setor de
CTBMF-HPS, Porto Alegre, 1993-2001 ........................................................................................61
Gráfico 8 - Distribuição da amostra segundo a idade, Setor de CTBMF-HPS, Porto
Alegre, 1993-2001 ...........................................................................................................................62
Gráfico 9 - Distribuição da amostra segundo o gênero e a faixa etária, Setor de CTBMF-
HPS, Porto Alegre, 1993-2001................................................................................................ 62
Gráfico 10 - Distribuição e freqüência da amostra por lesões, Setor de CTBMF-HPS,
Porto Alegre, 1993-2001 ................................................................................................................63
Gráfico 11 - Freqüência da amostra em relação aos ferimentos em tecidos moles, Setor
de CTBMF-HPS, Porto Alegre, 1993-2001 ...................................................................................64
Gráfico 12 - Distribuição e freqüência das lesões em tecidos moles por gênero, Setor de
CTBMF-HPS, Porto Alegre, 1993-2001 ........................................................................................64
Gráfico 13 - Distribuição das lesões em tecidos moles por idade, Setor de CTBMF-HPS,
Porto Alegre, 1993-2001 ................................................................................................................65
Gráfico 14 - Distribuição das lesões em tecidos moles por grupo etário, Setor de
CTBMF-HPS, Porto Alegre, 1993-2001 ........................................................................................65
Gráfico 15 - Freqüência da amostra em relação ao trauma dentoalveolar, Setor de
CTBMF-HPS, Porto Alegre, 1993-2001 ........................................................................................66
Gráfico 16 - Distribuição e freqüência do trauma dentoalveolar por gênero, Setor de
CTBMF-HPS, Porto Alegre, 1993-2001 ........................................................................................66
Gráfico 17 - Distribuição do trauma dentoalveolar por idade, Setor de CTBMF-HPS,
Porto Alegre, 1993-2001 ................................................................................................................67
Gráfico 18 - Distribuição do trauma dentoalveolar por grupos de idade, Setor de
CTBMF-HPS, Porto Alegre, 1993-2001 ........................................................................................67
Gráfico 19 - Freqüência da amostra em relação às fraturas faciais, Setor de CTBMF-
HPS, Porto Alegre, 1993-2001 ................................................................................................ 68
Gráfico 20 - Distribuição e freqüência das fraturas faciais por gênero, Setor de CTBMF-
HPS, Porto Alegre, 1993-2001 ................................................................................................ 68
Gráfico 21 - Distribuição das fraturas faciais por idade, Setor de CTBMF-HPS, Porto
Alegre, 1993-2001 ..........................................................................................................................69
Gráfico 22 - Distribuição das fraturas faciais por grupos de idade, Setor de CTBMF-
HPS, Porto Alegre, 1993-2001 ................................................................................................ 69
Gráfico 23 - Distribuição das fraturas faciais por ano, Setor de CTBMF-HPS, Porto
Alegre, 1993-2001 ..........................................................................................................................70
Gráfico 24 - Distribuição das fraturas faciais por sazonalidade, Setor de CTBMF-HPS,
Porto Alegre, 1993-2001 ................................................................................................................70
Gráfico 25 - Freqüência da amostra em relação às urgências odontológicas, Setor de
CTBMF-HPS, Porto Alegre, 1993-2001 ........................................................................................71
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Porcentagem de crianças que sofrem trauma bucomaxilofacial com base em
estudos epidemiológicos .................................................................................................................24
Tabela 2 - Distribuição do gênero das crianças vítimas de trauma bucomaxilofacial, com
base em estudos epidemiológicos ................................................................................................32
Tabela 3 - População total e taxa média de crescimento ao ano do Brasil, do Rio Grande
do Sul e de Porto Alegre - 1991 e 2000 ..........................................................................................74
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas
CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CONCEPA - Concessionária da Rodovia Osório-Porto Alegre
CTBMF - Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial
Dr. - Doutor
HCR - Hospital Cristo Redentor
HPS - Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre
IC - Intervalo de Confiança
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
PUCRS - Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
RS - Estado do Rio Grande do Sul
RTA - Road Traffic Accident
TCE - Trauma Crânio Encefálico
UNICEF - Fundo das Nações Unidas para a Infância
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................15
1.1 OBJETIVOS ................................................................................................................................18
1.1.1 Objetivos gerais ............................................................................................................................18
1.1.2 Objetivos específicos ................................................................................................ 18
2 REVISTA DE LITERATURA ................................................................................................19
2.1 PREVALÊNCIA ............................................................................................................................19
2.2 PERÍODO DE INVESTIGAÇÃO DO ANO ................................................................25
2.3 GÊNERO ................................................................................................................................28
2.4 IDADE ................................................................................................................................32
2.5 LESÕES ................................................................................................................................38
2.5.1 Lesões de Tecidos Moles ................................................................................................39
2.5.2 Trauma Dentoalveolar ................................................................................................42
2.5.3 Fraturas ................................................................................................................................47
3 METODOLOGIA ........................................................................................................................52
3.1 PARADIGMA ................................................................................................................................52
3.2 MODELO DE PESQUISA ................................................................................................52
3.3 POPULAÇÃO ESTUDADA ................................................................................................52
3.4 PERÍODO DE INVESTIGAÇÃO................................................................................................53
3.5 SELEÇÃO DA AMOSTRA ................................................................................................53
3.6 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO ................................................................53
3.7 COLETA DE DADOS ................................................................................................54
3.8 TRATAMENTO ESTATÍSTICO ................................................................................................55
4 RESULTADOS .............................................................................................................................57
5 DISCUSSÃO ................................................................................................................................72
6 CONCLUSÕES ............................................................................................................................86
REFERÊNCIAS ...........................................................................................................................88
APÊNDICE A - PLANILHA PARA COLETA DE DADOS ................................94
ANEXO A – CARTA DE APROVAÇÃO DO PROJETO DE
MONOGRAFIA ...........................................................................................................................95
ANEXO B – CARTA DE APROVAÇÃO DO PROJETO DE
DISSERTAÇÃO ...........................................................................................................................96
ANEXO C – AUTORIZAÇÃO DO CHEFE DO SETOR DE CIRURGIA
E TRAUMATOLOGIA BUCOMAXILOFACIAL DO HPS, PARA A
COLETA DE DADOS ................................................................................................97
15
1 INTRODUÇÃO
De acordo com Fletcher, Fletcher e Wagner (1996) e Jekel, Elmore e Katz (2002),
Epidemiologia Clínica é a Ciência que faz predições sobre pacientes individuais contando
eventos clínicos em pacientes similares, utilizando métodos científicos sólidos, em estudos de
grupos de pacientes, de modo a assegurar que essas predições sejam corretas. O objetivo da
Epidemiologia Clínica é, portanto, desenvolver e aplicar métodos de observação clínica que
levem a conclusões válidas, evitando enganos por erro sistemático e aleatório. É uma
abordagem importante para se obter o tipo de informação que os clínicos precisam para a
tomada de decisões acertadas no cuidado de seus pacientes.
Dentro deste contexto, Cardoso (1998) refere que os estudos epidemiológicos têm por
objetivo fornecer, aos profissionais da área de Saúde, informações sobre determinada entidade
mórbida, para que esta possa ser melhor compreendida, estudada, tratada e combatida,
principalmente, por medidas preventivas.
A maioria dos estudos epidemiológicos sobre o trauma bucomaxilofacial faz apenas
pequenas menções em relação a crianças. Os dados levantados nos diferentes estudos podem
apresentar importantes diferenças, influenciadas, segundo Bailey et al. (1988) e Lalloo,
Sheiham e Nazroo (2003), por fatores culturais, econômicos, sociais e, conseqüentemente,
psicológicos. James (1994) alerta, ainda, para a dificuldade na comparação entre estudos
16
epidemiológicos em crianças, decorrente da grande diversidade entre os limites superiores de
idade, adotados pelos diferentes autores.
A importância de estudos epidemiológicos acerca de traumatismos bucomaxilofaciais
em crianças decorre do fato destas mesmas se constituírem em uma entidade clínica
significativa no mundo inteiro, tanto no que concerne à sua prevalência quanto às suas
conseqüências (OGINNI et al., 2002). Neste mesmo contexto, Haug e Foss (2000) citam que
milhões de crianças sofrem traumatismo anualmente nos Estados Unidos da América, muitos
desses acometendo a face.
James (1994), Haug e Foss (2000) e Gassner et al. (2004) observam que devido a
diferenças na anatomia, fisiologia e desenvolvimento psicológico, as conseqüências do trauma
em crianças diferem em relação ao paciente adulto, recomendando que as técnicas de manejo
e tratamento devam ser modificadas e adequadas a esse grupo populacional.
Diversos fatores etiológicos podem estar relacionados ao trauma infantil. Entre eles,
Bamjee et al. (1996) destacam os acidentes de automóveis, motocicletas, bicicletas,
atropelamentos, quedas, esportes, brincadeiras, brigas, assalto e abuso infantil.
De acordo com Lalloo, Sheiham e Nazroo (2003), a hiperatividade em crianças é o
fator mais comumente associado à ocorrência de lesões que afetam face e/ou dentes. A alta
prevalência do trauma ocorre devido a menor capacidade de análise e discernimento dos
perigos que as rodeiam, segundo McGraw e Cole (1990). Gassner et al. (1999) lembram que o
trauma dentário ocorre de forma isolada, ou em associação com o trauma facial, ou mesmo
em pacientes politraumatizados.
17
Um correto diagnóstico e tratamento das lesões bucomaxilofaciais em crianças se
mostra necessário, sendo essencial a atuação de profissionais qualificados para atender a esta
faixa etária da população, evitando-se seqüelas graves que possam ocorrer como decorrência
do tratamento inadequado neste grupo de pacientes (COSTA; CRUZ, 1987).
O Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre (HPS) é uma instituição pública
municipal que visa o atendimento em caráter de urgência e emergência relacionado ao trauma,
especialmente da população da cidade de Porto Alegre, da região metropolitana e do interior
do estado do Rio Grande do Sul. Apresenta, em seu quadro de profissionais, vinte e uma
especialidades médicas. Na área odontológica, existe o setor de Cirurgia e Traumatologia
Bucomaxilofacial (CTBMF).
Observando-se uma alta prevalência de atendimentos de crianças, no setor de CTBMF,
um estudo epidemiológico retrospectivo preliminar foi realizado, com o objetivo de obter-se
uma análise estatística descritiva do trauma bucomaxilofacial, de abril de 1993 a março de
2001, com referência à data de ocorrência, horário, idade, gênero e tipo de lesão. Tal pesquisa
foi apresentada como parte dos requisitos obrigatórios para a obtenção do título de
Especialista em CTBMF pela FO-PUCRS (Anexo A).
Devido à obtenção de uma amostra significativa de 14437 crianças atendidas neste
período, com uma riqueza de dados maior do que os encontrados na literatura nacional e
internacional, foi decidido continuar esta pesquisa e analisar os diferentes dados
epidemiológicos obtidos para melhor compreender os fatores relacionados ao trauma
bucomaxilofacial em crianças.
18
1.1 OBJETIVOS
1.1.1 Objetivos gerais
• Avaliar a freqüência de atendimentos de urgência no setor de Cirurgia e Traumatologia
Bucomaxilofacial do Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre, no período de abril de
1993 a março de 2001.
1.1.2 Objetivos específicos
• Avaliar a prevalência de atendimentos em crianças de 0-12 anos de idade por ano,
sazonalidade, mês, dia da semana, turno de atendimento, faixas etárias e gênero.
• Determinar a prevalência de lesões bucomaxilofaciais ocorridas em crianças de 0-12
anos atendidas no setor de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial do Hospital de
Pronto Socorro de Porto Alegre, caracterizando-as nas seguintes categorias: contusões
de face, ferimentos em tecidos moles, trauma dentoalveolar, fraturas, urgências
odontológicas e outras.
• Verificar a existência de associações entre as variáveis consideradas.
19
2 REVISTA DE LITERATURA
2.1 PREVALÊNCIA
De acordo com Haug e Foss (2000) Injúrias dentoalveolares e lesões em tecidos moles
são as formas mais freqüentes do trauma bucomaxilofacial em crianças. No entanto, são
subestimadas em grande parte dos estudos sobre o trauma pediátrico, pois esse tipo de
traumatismo é inconseqüente quando comparado com outros tipos de lesões. Além disso,
dados epidemiológicos são considerados somente quando o tratamento requer internação
hospitalar (HAUG; FOSS, 2000).
Ainda segundo Haug e Foss (2000), aproximadamente 22 milhões de crianças sofrem
trauma nos Estados Unidos, sendo que muitas delas apresentam trauma facial isolado ou
associados a trauma em outras regiões do corpo. Estima-se que a cada três indivíduos
traumatizados, um seja criança.
Montandon, Alves e Menezes (1998) realizaram um levantamento epidemiológico em
crianças de até 30 meses de idade, as quais eram atendidas num centro de pediatria, em
Pernambuco – Brasil. De uma amostra de 250 pacientes, 14,8% buscavam atendimento
devido a traumatismos dentários.
20
Prata et al. (2000) constataram que de 151 pacientes com trauma dentoalveolar a
maioria dos traumatismos (64,25%) ocorreram entre os 7 e 11 anos de idade.
Caldas Jr. e Burgos (2001) avaliaram 250 pacientes entre 1 e 59 anos com trauma
dentoalveolar no Brasil. Desses, 204 (81,6%) tinham até 15 anos de idade.
Silva et al. (2004) correlacionaram a prevalência do trauma dentário em associação
com o trauma facial. Durante 1 ano de investigação, 340 pacientes com trauma facial foram
incluídos na amostra, sendo que 43 (12,65%) encontravam-se na faixa etária de até 10 anos de
idade. Dos 52 casos de trauma dentoalveolar associados, 15 (28,85%) pacientes encontravam-
se nessa mesma faixa etária. Com esses resultados, os autores chamam a atenção para a alta
incidência de trauma facial e dentário na população jovem.
Ao contrário das lesões dentoalveolares e de tecidos moles, fraturas faciais são pouco
freqüentes em crianças, além de serem incomuns quando comparadas ao número de fraturas
em outros ossos do corpo. Essa menor prevalência de fraturas faciais deve-se a um tamanho
relativamente menor da face, aliado à elasticidade óssea (ANDERSON, 1995; JAMES, 1994).
Segundo fontes do Instituto Brasileiro de Estatística e Geografia (IBGE) (1993, 2001),
verifica-se um aumento do transporte rodoviário, juntamente com o aumento da atividade
sócio-econômica da população. O aumento da atividade sócio-econômica, com o conseqüente
aumento populacional, e o aumento do número de automóveis, afetam diretamente a
quantidade de fraturas faciais. Acresce-se a isso, fatores como o êxodo rural, analfabetismo,
falta de infraestrutura, estradas em mau estado de conservação, motoristas sob efeito de
álcool, não cumprimento de leis de trânsito e violência que, entre outros, contribuem para o
21
aumento do trauma maxilofacial (ADEBAYO; AJIKE; ADEKEYE, 2003; ADEKEYE,
1980).
Em um estudo realizado por Rowe (1968), das 1500 fraturas faciais, somente 13
(0,87%) ocorreram em pacientes com até 5 anos de idade, e 64 (4%) ocorreram em pacientes
de 6 a 11 anos de idade.
Adekeye (1980) verificou que dos 1.447 casos de fraturas faciais, 85 (5,9%) ocorreram
em crianças com menos de 13 anos de idade.
Dos 818 pacientes com fraturas faciais, Amaratunga (1988) verificou que 37 pacientes
(4,5%) com até 11 anos de idade tinham fraturas mandibulares.
Zachariades, Papavassiliou e Koumoura (1990), verificaram que durante um período
de 25 anos, 12.100 pacientes foram hospitalizados, sendo que 3.908 tinham fraturas faciais.
Desses, 202 (5,16%) pacientes tinham até 14 anos de idade.
Jaber e Porter (1997) realizaram um estudo retrospectivo de injúrias maxilofacias no
Líbano. Durante o período de 1977 a 1990, 1378 pacientes foram atendidos, sendo que 209
pacientes (15,2%) encontravam-se na faixa etária até 13 anos de idade.
De acordo com Bataineh (1998), durante um período de 5 anos, 563 pacientes com
756 fraturas maxilofaciais foram incluídos em sua amostra. Destes, somente 26 (4,61%)
tinham até 9 anos de idade. A segunda década de vida foi mais prevalente, com 160 casos
(28,4%). Somente 12,3% dos pacientes tinham menos de 15 anos de idade.
22
Cardoso (1998) realizou um estudo epidemiológico relacionado a fraturas de face em
crianças de até 12 anos de idade no Hospital Cristo Redentor de Porto Alegre. Do total de
1273 pacientes internados para tratamento de fraturas de face, 33 (2,59%) encontravam-se
neste grupo populacional.
Em um estudo sobre fraturas faciais, Oji (1998) verificou que de um total de 1090
pacientes, 40 (3,7%) tinham até 11 anos de idade.
Em um estudo realizado na Nigéria, Adebayo, Ajike e Adekeye (2003) relataram que
somente 1% das fraturas faciais ocorrem em crianças na primeira década de vida, e que
aproximadamente 10% das fraturas correm na segunda década de vida.
Bertoja (2003) relatou que a prevalência de indivíduos com fraturas de face com até 18
anos de idade (50 pacientes) em relação ao total de pacientes (1.589) foi de 3,17%.
Segundo Motamedi (2003), durante um período de 5 anos, 237 pacientes com fraturas
faciais foram tratados no centro de trauma em questão, localizado no Ira. A idade dos
pacientes variou entre 3 a 73 anos, sendo que 5 (2,1%) encontravam-se no grupo entre 0 e 9
anos.
Ao realizar um estudo sobre fraturas maxilofaciais nos Emirados Árabes, Ahmed et al.
(2004) verificaram que dos 230 pacientes, 28 (12,1%) eram crianças menores do que 13 anos
de idade.
23
Da mesma, forma, Ansari (2004) analisou as fraturas faciais no Irã. Dos 2.268
pacientes com 3.107 fraturas faciais, 423 (18,65%) tinham até 10 anos de idade. Na segunda
década de vida, 512 (22,57%) foram afetados.
Kontio et al. (2005) compararam as fraturas faciais ocorridas no ano de 1981 e 1997
na Finlândia, afim de verificar alterações relacionadas a sua prevalência. Durante 1981, dos
318 pacientes incluídos na amostra, somente 4 tinham entre até 10 anos de idade (1,25%).
Durante o ano de 1997, 407 pacientes foram avaliados, sendo que 13 tinham até 10 anos
(3,19%). Os autores ainda constataram um aumento de 27,9% quanto ao número de fraturas,
em um período de 16 anos. Os autores atribuíram este aumento ao maior número de acidentes
automobilísticos e aumento da violência.
Qudah et al. (2005) realizaram um estudo comparativo entre fraturas mandibulares em
pacientes jovens e adultos. Durante um período de 10 anos, 703 pacientes com 892 fraturas
foram incluídos na amostra. A idade variou entre 1 e 73 anos. O grupo de pacientes jovens,
com até 18 anos de idade, foi composta por 206 (29%) dos pacientes. Dentro desse grupo, a
média foi aos 13 anos. Desses 206 pacientes, 158 (77%) tinham até 12 anos de idade, e 48
(23%) tinham entre 12 e 18 anos. A maioria, com 129 (63%) pacientes tinham entre 6 e 12
anos. Somente 29 (14%) tinham menos de 6 anos.
Vasconcelos et al. (2005), ao analisarem o perfil de paciente com fraturas
mandibulares em Recife (Brasil), constatou 47 pacientes, sendo que 4 (8,5%) tinham entre 0 e
9 anos de idade.
24
O estudo epidemiológico de Gassner et al. (2003) resume esses achados. Dos 9.543
pacientes com 21.067 lesões maxilofaciais, 4016 (19,1%) das lesões ocorreram na primeira
década de vida, e 4.020 (19,1%) ocorreram na segunda década de vida. Quanto maior a idade
do indivíduo, maior a susceptibilidade a fraturas faciais (4,4%/ano) e lesões em tecidos moles
(2%/ano), enquanto que quanto mais jovem o indivíduo, mais susceptível ao trauma
dentolveolar (4,5%/ano). A distribuição de indivíduos de acordo com a idade demonstrou que
houve diminuição de acidentes a cada década de vida.
A Tabela 1 apresenta a prevalência dos traumatismos bucomaxilofaciais em crianças.
Tabela 1 - Porcentagem de crianças que sofrem trauma bucomaxilofacial com base em estudos epidemiológicos
Autor (Ano) País Período do
Estudo
Lesão Limite Superior da Idade
das crianças
Amostra Número de
Crianças (%)
Adekeye (1980)
Nigéria 1973-1978
Fraturas Faciais
13 1447 85 (5,9%)
Amaratunga (1988)
Sri Lanka 1973-1984
Fraturas Mandibulares
11 818 37 (4,5%)
Zachariades, Papavassiliou e Koumoura (1990)
Grécia 1960-1984
Fraturas Faciais
14 3908 202 (5,16%)
Jaber e Porter (1997)
Líbano 1977-1990
Fraturas Faciais
13 1378 209 (15,2%)
Bataineh (1998)
Jordânia 1992-1997
Fraturas Faciais
9 563 26 (4,61%)
Cardoso (1998)
Brasil 1992-1997
Fraturas Faciais
12 1273 33 (2,59%)
Oji (1998) Nigéria 1985-1996
Fraturas Faciais
11 1090 40 (3,7%)
Caldas Jr. e Burgos (2001)
Brasil 1997-1999
Trauma dentoalveolar
15 250 204 (81,6%)
Adebayo, Ajike e Adekeye (2003)
Nigéria 1991-2000
Fraturas Faciais
9 443 1%
Bertoja (2003) Brasil 1998-2002
Fraturas Faciais
18 1589 50 (3,17%)
Motamedi (2003)
Ira 1996-2001
Fraturas Faciais
9 237 5 (2,1%)
Ahmed et al. (2004)
Emirados Árabes
1999-2002
Fraturas Faciais
13 230 28 (12,1%)
25
Autor (Ano) País Período do
Estudo
Lesão Limite Superior da Idade
das crianças
Amostra Número de
Crianças (%)
Ansari (2004) Ira 1987-2001
Fraturas Faciais
10 2.268 423 (18,65%)
Qudah et al. (2005)
Jordânia 1993-2002
Fraturas Mandibulares
18 703 206 (29%)
Vasconcelos et al. (2005)
Brasil 2002 Frauras Mandibulares
9 47 4 (8,5%)
2.2 PERÍODO DE INVESTIGAÇÃO DO ANO
Anderson (1995), ao estudar fraturas faciais em 139 crianças de até 13 anos de idade
na Escócia, entre 1983 e 1992, não encontrou diferenças estatisticamente significativas
relacionada ao ano ou a sazonalidade.
Keniry (1971), por outro lado, realizando um levantamento de crianças com fraturas
nos maxilares em Liverpool-Londres, identificou o mês de junho como o de maior
prevalência desses eventos. O período de maior ocorrência de fraturas envolveu os meses
entre junho e agosto, correspondentes ao verão, quando foram registrados mais da metade dos
casos. O autor atribui este achado ao fato das crianças, nessa estação do ano, terem mais
tempo livre para realizarem atividades ao ar livre, às noites serem mais claras e as férias mais
longas. Além disso, o uso mais freqüente dos veículos automotores para passeios familiares e
viagens parece aumentar a exposição a acidentes.
A maior utilização dos automóveis para viagens, durante o verão, parece ocorrer
também no Rio Grande do Sul. Segundo fontes da Concepa (Concessionária da Rodovia
26
Osório-Porto Alegre) (2005), o aumento do fluxo de carros nas estradas que levam ao litoral
aumenta durante os meses quentes do ano.
Carroll, Hill e Mason (1987) estudaram 241 pacientes de até 16 anos de idade, vítimas
de fraturas faciais em Bradford (Inglaterra). Observou-se, nesse estudo, à semelhança dos
achados de Keniry (1971), uma diferença sazonal marcante, com o pico em Julho,
correspondente ao verão no país em questão.
Thoren et al. (1992) avaliaram os registros de pacientes pediátricos portadores de
fraturas mandibulares na Finlândia. A prevalência de acidentes foi significativamente
correlacionada com o período do ano. Mais de metade (66,9%) dos acidentes ocorreram
durante o período de maio a setembro, correspondente ao verão.
Iizuka et al. (1995), neste mesmo país, observaram, igualmente, diferença sazonal de
fraturas do terço fixo da face em crianças de até 16 anos de idade. Durante os meses de verão
deste país (Maio à Agosto) verificou-se o maior número de fraturas (59,3%).
Posnick, Wells e Pron (1993), ao estudarem o perfil das fraturas faciais em pacientes
pediátricos no Canadá, registraram uma tendência de aumento das ocorrências no verão, de
modo que 45% de todas as fraturas ocorreram entre Maio e Agosto.
Cardoso (1998), em seu estudo desenvolvido entre 1992 e 1997, envolvendo 33
pacientes de 0 a 12 anos de idade internados para tratamento de fraturas de face no Brasil,
avaliou a ocorrência por mês e por trimestre. Os meses mais prevalentes foram Janeiro (11
fraturas) e Novembro (10 fraturas). O mês de menor prevalência foi Abril, com nenhum caso
27
observado. Quando avaliado a época do ano, através de trimestres, observou-se que a maioria
dos pacientes (39,39%) foi internada no trimestre de setembro a novembro, seguido pele
semestre de dezembro a fevereiro (36,36%). O autor constatou que os anos mais prevalentes
foram 1996 (36,4%), e 1995 (24,2%). O ano menos prevalente foi 1997 (6%).
Bertoja (2003), em estudo semelhante ao de Cardoso (1998), analisou os meses de
maior ocorrência de fraturas de face no Brasil, concluindo que o mês de maior acometimento
foi Outubro (16,7%), seguido dos meses de Novembro e Fevereiro, com 13,6% cada. A
seguir, vieram março (12,1%), Julho (10,6%), Abril (7,6%), Junho e Janeiro (6,1% cada),
agosto e setembro (4,5% cada), dezembro (3%) e maio (1,5%). Ao verificar os meses em
períodos de primavera/verão e outono/inverno, o primeiro foi responsável por 43 fraturas e o
segundo por 23.
Ferreira et al. (2004), ao verificarem o perfil de crianças com fratura de terço fixo da
face em Portugal, observaram um aumento do número de pacientes fraturados na primavera
(abril, maio e junho, 35%), e um declínio no inverno (janeiro, fevereiro e março, 20%). Por
outro lado, não houve diferença relacionada aos atendimentos por ano.
No Japão, Iida e Matsuya (2002) constataram que dos 174 pacientes pediátricos com
fraturas faciais, 69 foram atendidos entre 1982 e 1986, 62 foram atendidos entre 1987 e 1991,
enquanto que 43 foram atendidos entre 1992 e 1996.
Gassner et al. (2004) estudaram a característica do trauma facial em 3.385 crianças de
até 15 anos de idade, na Áustria, entre 1991 e 2000. A distribuição de acidentes demonstrou
um aumento do número de atendimento nos primeiros 5 anos. O pico de atendimentos
28
verificou-se dentro da estação do verão, em Agosto (10%) e na primavera, em Maio (9,2%). A
menor ocorrência foi observada no outono, em Novembro (5,9%).
Portanto, parece ser importante analisar a sazonalidade como fator de risco para a
ocorrência de traumatismos faciais, ampliando-se esses estudos de modo a avaliar também a
influência dos dias da semana e horário de maior ocorrência, variáveis essas virtualmente
desconsideradas nos estudos epidemiológicos citados.
2.3 GÊNERO
Haug e Foss (2000), em uma revista de literatura sobre o trauma bucofacial em
crianças, relataram que a maioria dos estudos epidemiológicos demonstra que os meninos
constituem as vítimas mais freqüentes de acidentes, com uma porcentagem que varia de
53,7% a 80% (ADEKEYE, 1980; IIZUKA et al., 1995; KOLTAI et al., 1995; THOREN et al.,
1997; ZACHARIADES; PAPAVASSILIOU; KOUMOURA, 1990).
Hall (1972) realizou uma pesquisa relacionada a fraturas faciais, em crianças da
Austrália, com uma amostra de 495 pacientes, comprovando uma maior prevalência de
atendimentos no gênero masculino (2,3:1).
Avaliando fraturas faciais, Adekeye (1980) encontrou, em 85 crianças, uma maior
prevalência em meninos (68,2%) quando comparado às meninas (31,8%). Em seu estudo,
29
realizado na Nigéria, quedas de árvore e brigas constituíram a causa em 27,1% das fraturas,
nas quais as meninas raramente se viam envolvidas.
No Sri Lanka, Amaratunga (1988) verificou maior prevalência de meninos com
fraturas mandibulares numa relação de 2,4:1. Das 37 crianças, 26 eram do gênero masculino e
11, do gênero feminino.
Zachariades, Papavassiliou e Koumoura (1990) estudaram fraturas faciais em crianças
da Grécia. Das 202 fraturas, 139 (69%) ocorreram em pacientes do gênero masculino, ao
passo que as 63 (31%) restantes acometeram pacientes do gênero feminino. Os autores
atribuem a prevalência de meninos ao fator etiológico. Segundo eles, meninos são mais ativos
e se envolvem em atividades mais perigosas do que meninas.
Thoren et al. (1992), avaliando 157 pacientes de até 16 anos de idade com fraturas
mandibulares, na Finlândia, verificaram 107 ocorrências em meninos, contra 50 em meninas
(2:1).
Anderson (1995), ao estudar 139 crianças com fraturas faciais, em Edinburgh,
verificou que 74% ocorreram no gênero masculino (3:1).
Cardoso (1998) observou que dos 33 pacientes de 0 a 12 anos internados para
tratamento de fraturas de face no Hospital Cristo Redentor de Porto Alegre, 24 (72,7%) eram
meninos, resultando numa relação de 2,67:1.
30
Ao realizar um estudo envolvendo 40 pacientes de até 11 anos de idade com fratura
nos ossos da face, na Nigéria, Oji (1998) registrou uma prevalência de pacientes do gênero
masculino, com 29 meninos (72,5%) e 11 meninas (27,5%).
Caldas Jr. e Burgos (2001) verificaram a prevalência do trauma dentoalveolar em 204
pacientes com até 15 anos de idade, no Brasil. O número de pacientes do gênero masculino
envolvido foi de 131, ao passo que 73 meninas foram vítimas de traumatismos.
Em estudo realizado com 174 pacientes de até 16 anos de idade com fraturas faciais no
Japão, Iida e Matsuya (2002) identificaram 118 pacientes do gênero masculino e 56 do gênero
feminino (2:1).
Qudah e Bataineh (2002) realizaram um estudo retrospectivo relacionado a fraturas
faciais em crianças da Jordânia, numa amostra de 227 pacientes. Os autores verificaram uma
prevalência de atendimentos no gênero masculino, com 159 casos (70%), resultando numa
proporção de 3:1
Bertoja (2003) realizou um estudo epidemiológico das fraturas de face em pacientes
com até 18 anos de idade, em Porto Alegre. A autora observou uma prevalência do gênero
masculino, com 45 fraturas (68,2%), em relação ao gênero feminino, numa relação de 2,14:1.
Gassner et al. (2004) revisaram os dados relativos a 3385 pacientes de até 15 anos de
idade, na Áustria, vítimas de trauma facial. Meninos foram afetados com maior freqüência,
com 2116 casos.
31
Apesar destas evidências, a literatura tem mostrado, ocasionalmente, resultados
diferentes dos anteriormente citados. Assim, Costa e Cruz (1987), estudando fraturas de
mandíbula, não constataram predileção por gênero.
Da mesma forma, Iizuka et al. (1995), estudando fraturas de terço fixo facial de
crianças, na Finlândia, também não encontraram diferença significativa em relação ao gênero.
Dos 54 pacientes em questão, 29 (53,7%) eram meninos e 25 (46,3%), meninas.
Koltai et al. (1995), realizando um estudo retrospectivo de fraturas orbitárias, em
crianças da Albânia, também observaram pouca diferença quanto ao gênero. Das 40 crianças
com fraturas, 23 (58%) foram meninos e 17 (42%), meninas, numa proporção de 1:35:1.
Thoren et al. (1997), ao estudarem o perfil das fraturas condilares, em pacientes
pediátricos da Finlândia, observaram que dos 101 pacientes de até 16 anos de idade incluídos
na amostra, 58 (57%) eram do gênero masculino, enquanto que 43 (43%) pertenciam ao
gênero feminino, numa proporção de 1:0,7.
Jaber e Porter (1997), em estudo retrospectivo do trauma facial em crianças de até 13
anos de idade, no Líbano, não encontraram diferenças significativas relacionadas ao gênero.
Dos 209 pacientes pediátricos atendidos, 111 eram meninos e 98 meninas.
Os estudos de Fonseca, Feigal e Bensel (1992), em Minnesota, mostraram resultados
ainda mais distintos dos anteriormente descritos. Dos 1248 pacientes examinados, 37,5%
apresentavam lesões na cabeça, face, boca ou pescoço. Desses, 485 (38,8%) eram meninos e
32
763 (61,2%), meninas. Importante ressaltar que tratava-se, no entanto, de um estudo que
envolvia especificamente crianças vítimas de maus tratos.
A Tabela 2 apresenta os resultados obtidos pelos autores com relação ao gênero.
Tabela 2 - Distribuição do gênero das crianças vítimas de trauma bucomaxilofacial, com base em estudos epidemiológicos
Autor (Ano) Local Período do Estudo
Faixa Etária
Amostra Masculino Feminino
Hall (1972) Austrália 1959-1969 0-14 495 333 162 Adekeye (1980) Nigéria 1973-1978 0-13 85 58 27 Amaratunga (1988) Sri Lanka 1973-1984 0-11 37 26 11 Zachariades, Papavassiliou e Koumoura (1990)
Grécia 1960-1984 0-14 202 139 63
Fonseca, Feigal e Bensel (1992)
EUA 1985-1989 0-17 1248 485 763
Thoren et al. (1992)
Finlândia 1980-1989 0-16 157 107 50
Anderson (1995) Inglaterra 1983-1992 0-13 139 102 37 Iizuka et al. (1995) Finlândia 1980-1992 0-16 54 29 25 Koltai et al. (1995) Albânia 1986-1992 0-16 40 23 17 Jaber e Porter (1997)
Líbano 1977-1990 0-13 209 111 98
Thoren et al. (1997)
Finlândia 1980-1991 0-16 101 58 43
Cardoso (1998) Brasil 1992-1997 0-12 33 24 9 Oji (1998) Nigéria 1985-1996 0-11 40 29 11 Caldas Jr. e Burgos (2001)
Brasil 1997-1999 0-15 204 131 73
Iida e Matsuya (2002)
Japão 1982-1996 0-16 174 118 56
Qudah e Bataineh (2002)
Jordânia 1996-2001 0-15 227 159 68
Bertoja (2003) Brasil 1998-2002 0-18 66 45 21 Gassner et al. (2004)
Áustria 1991-2000 0-15 3.385 2.116 1.269
2.4 IDADE
33
Segundo Haug e Foss (2000), há uma inconsistência da literatura em conceituar os
termos “pediatria” e “criança”. Apesar do pediatra poder tratar pacientes com mais de 20
anos, a pediatria é o ramo da medicina que cuida da criança, seu desenvolvimento, suas
doenças e seus tratamentos.
De acordo com esses mesmos autores, de forma simplificada, a referência a pacientes
pediátricos diz respeito a indivíduos com até 19 anos de idade, enquanto que o termo criança
refere-se a indivíduos com até 13 anos de idade.
A UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância), através do Estatuto da Criança
e do Adolescente (1990), considera criança, para os efeitos legais, a pessoa até doze anos de
idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade.
Ainda que com a utilização de diferentes metodologias na classificação das faixas
etárias, vários estudos têm apontado para uma diferente prevalência do trauma facial nas
diferentes idades.
Assim, Rowe (1968), analisando 77 pacientes com até 12 anos de idade, vítimas de
fraturas faciais, verificou que 13 encontravam-se na faixa etária entre 0 a 5 anos de idade,
contra 64 crianças entre 6 e 11 anos.
Por outro lado, Keniry (1971), estudando essa mesma prevalência de fraturas faciais
em crianças, constatou que o grupo de até 5 anos de idade foi mais acometido, quando
comparado com o grupo envolvendo pacientes de 6 a 10 anos. A idade mais prevalente foi aos
3 anos.
34
Hall (1972) admitiu, em seu estudo epidemiológico sobre fraturas dos ossos da face,
crianças com até 14 anos de idade. A maior prevalência foi verificada entre 6 e 13 anos de
idade, sendo que o pico da prevalência ocorreu nos 12 e 13 anos.
Adekeye (1980), estudando fraturas faciais em crianças, verificou que a menor
prevalência (3,5%) ocorreu no grupo de até 3 anos de idade, ao passo que a faixa etária entre
12 e 13 anos foi a mais acometida (32,9%), ocorrendo um aumento gradual de ocorrências
com o aumento da idade.
No estudo de Amaratunga (1988), de um total de 37 crianças com até 11 anos de idade
com fraturas mandibulares, 9 tinham menos de 5 anos de idade, enquanto que 28 tinham entre
6 e 11 anos.
Ao analisar o perfil de pacientes de até 16 anos de idade, vítimas de trauma facial,
McGraw e Cole (1990) encontraram uma média de idade aos 9,9 anos. Ele dividiu os
pacientes de acordo com a idade, observando que 24% dos pacientes tinham até 5 anos, 36%
tinham entre 6 e 11 anos, e 40% tinha entre 12 e 16 anos.
Zachariades, Papavassiliou e Koumoura (1990) realizaram um estudo a partir de
prontuários de crianças de até 14 anos de idade, vítimas de fraturas faciais. A idade mais
prevalente foi a de 14 anos (16,3%), seguido pelos 9 e 10 anos de idade, com 12% dos casos
cada uma.
35
Thoren et al. (1992) dividiram as crianças vítimas de fraturas mandibulares em 4
grupos, de acordo com o desenvolvimento da dentição: grupo A (0 a 5 anos); grupo B (6 a 9
anos); grupo C (10 a 12 anos) e grupo D (13 a 15 anos). A média de idade foi de 8,4 anos.
Somente 12,1% encontravam-se no grupo A. Os grupos B e C tiveram resultados similares,
com 24,2% e 26,1% respectivamente. A maioria dos pacientes (37,6%) enquadrava-se no
grupo D.
Posnick, Wells e Pron (1993), ao estudarem fraturas faciais pediátricas em pacientes
de até 18 anos de idade, verificou que a maioria (42%) tinha entre 6 e 12 anos, com média de
10,2 anos. Fraturas em pacientes de até 2 anos de idade foram raras.
Kaban (1993) e James (1994) relatam que poucos recém nascidos sofrem
traumatismos devido ao fato de serem melhor supervisionados pelas mães ou serviçais.
Da mesma forma, Anderson (1995), ao verificar a idade de maior ocorrência de
fraturas faciais em crianças, concluiu que poucos casos ocorreram em idades precoces. Dos
139 pacientes envolvidos nos estudo, somente 17% dos casos ocorreram na faixa etária até os
5 anos de idade. O pico da incidência ocorreu aos 10 anos de idade.
Também Iizuka et al. (1995), estudando fraturas de terço médio em 54 pacientes com
até 16 anos, com uma média de idade de 10,3 anos, observaram apenas 6 pacientes (11,1%)
com até 6 anos de idade, enquanto 22 (40,7%) enquadravam-se na faixa etária entre 13 e 15
anos.
36
Bamjee et al. (1996), com base em estudo relacionado ao trauma facial, observaram
que somente 7% das crianças atendidas encontravam-se na faixa etária de até 6 anos de idade,
e que a maioria delas (70%) tinham entre 12 e 18 anos.
Jaber e Porter (1997), ao estudarem 209 crianças até 13 anos de idade com trauma
maxilofacial no Líbano, verificaram que a idade média mais afetada encontrava-se entre os 6
e 7 anos de idade, enquanto que a prevalência mais baixa de fraturas encontrava-se na faixa
etária entre 0 a 3 anos de idade.
Thoren et al. (1997) avaliaram as características das fraturas condilares em crianças de
até 16 anos de idade obtendo uma média de idade aos 10 anos. Poucas crianças até 5 anos de
idade foram acometidas.
Cardoso (1998), em um estudo retrospectivo, dividiu 33 crianças com fraturas de face
em dois grupos etários, de 0 a 5 anos e 6 a 12 anos. O primeiro grupo foi constituído por 13
pacientes (39,39%) com 18 fraturas (38,30%), enquanto que o segundo grupo foi mais
acometido, com 20 pacientes (60,61%) e 29 fraturas (61,70%). Analisando-se
individualmente cada ano, a idade mais prevalente foi os 9 anos de idade, com 7 pacientes
(21,21%) e 11 fraturas (23,40%).
Oji (1998) verificou um aumento do número de crianças com fraturas de face com o
aumento da idade. Tais fraturas foram raras em pacientes com até 5 anos de idade.
Qudah e Bataineh (2002) verificaram o perfil de crianças de até 15 anos de idade com
fraturas faciais. Dos 227 pacientes, 145 (63,9%) tinham entre 10 e 15 anos, com o pico de
37
incidência entre 10 e 12 anos, com 85 casos (37,4%). Somente 19,8 % dos pacientes
encontravam-se na faixa etária entre 6 e 9 anos, ao passo que 15,8% tinham menos do que 5
anos de idade.
Shaikh e Worrall (2002), em estudo epidemiológico do trauma facial em 276 pacientes
de até 18 anos de idade, verificaram que 185 (65,5%) tinham até 10 anos. Contudo,
diferentemente da maioria dos estudos, registraram que 116 pacientes (42% do total da
amostra) tinham entre 1 e 5 anos.
Bertoja (2003) dividiu pacientes vítimas de fraturas faciais em três grupos: até 5 anos
de idade, de 6 a 12 anos e de 13 a 18 anos. Das 66 fraturas, 8 (12,1%) acometeram o grupo até
5 anos de idade, 30 (45.5%) o grupo entre 6 e 12 anos, e 28 (42,4%) o grupo entre 13 e 18
anos.
Gassner et al. (2004) obtiveram, numa amostra de 3.385 pacientes de até 15 anos de
idade com trauma facial, uma média de 7 +- 4,4 anos. Poucos pacientes (10%) encontravam-
se abaixo dos 2 anos de idade, 50% tinham entre 3 e 11 anos e 10 % tinham mais de 14 anos.
Somente 1,7% de todas as crianças tinham menos de 1 ano. Crianças entre 1 e 4 anos tiveram
a maior percentagem de acidentes (26,3%), decrescendo até os 6 anos de idade (5,8%),
seguido por um segundo pico até os 8 anos (7,5%).
Qudah et al. (2005) estudaram fraturas de mandíbula em crianças de até 18 anos de
idade, obtendo a média aos 13 anos. Dos 206 pacientes, 158 (77%) tinham até 12 anos,
enquanto que 48 (23%) tinha entre 13 e 18 anos. A maioria dos pacientes (129) tinha entre 6 e
12 anos (63%). Somente 29 (12%) pacientes tinham menos de 6 anos.
38
Com relação ao trauma dentoalveolar, Caldas Jr. e Burgos (2001) dividiram 204
crianças, em dois grupos. O primeiro, envolveu 77 crianças de 1 a 5 anos, enquanto que o
segundo grupo, de 6 a 15 anos foi mais prevalente, com 127 crianças envolvidas.
Na cidade de Bauru, em São Paulo, Capelozza, Veltrini e Freitas (1999)
desenvolveram um estudo específico sobre trauma dentoalveolar em pacientes com idade
entre 1 e 19 anos. A faixa etária mais atingida foi entre 7 e 10 anos de idade. O maior número
de traumas em dentes decíduos ocorreu entre 1 e 4 anos.
Em outro estudo sobre trauma dentoalveolar, envolvendo 151 pacientes atendidos na
cidade de São José dos Campos, em São Paulo, Prata et al. (2000) verificaram que a maioria
das ocorrências (64,25%) foi em crianças entre os 7 e 11 anos de idade, havendo uma maior
incidência aos 9 anos, no gênero masculino (16,84%), e aos 10 anos no gênero feminino
(16,07%).
Os resultados desses diferentes estudos em pacientes pediátricos sugerem que traumas
de maior intensidade, envolvendo fraturas faciais, são mais prevalentes com o aumento da
idade. Por outro lado, estudos envolvendo crianças vítimas de maus tratos apontam para uma
maior prevalência de lesões em pacientes entre 1 e 4 anos de idade.
2.5 LESÕES
39
2.5.1 Lesões de Tecidos Moles
Nos seres humanos, a face do indivíduo constitui-se no primeiro ponto de contato das
mais diversas interações. Não surpreende, portanto, que lesões e mutilações nessa região
possam trazer influências significativamente graves ao indivíduo afetado. Os tecidos moles da
face são mais afetados do que os tecidos moles da boca devido a sua maior exposição aos
agentes vulnerantes (OGINNI et al., 2002).
Alguns estudos epidemiológicos excluem de suas amostras pacientes com ferimentos
limitados aos tecidos moles (CARROLL; HILL; MASON, 1987; JABER; PORTER, 1997;
McGRAW; COLE, 1990).
Andreasen e Andreasen (2001) classificam os traumatismos em gengiva ou mucosa
bucal como lacerações, contusões ou abrasões. Nas lacerações, uma lesão rasa ou profunda é
observada, resultante de um corte produzido, geralmente, por um objeto pontudo. Contusões
são causadas, normalmente, pelo impacto de um objeto rombo, não sendo acompanhadas de
rompimento da mucosa. Abrasões são lesões superficiais provocadas por atrito da mucosa,
deixando uma superfície exposta e com sangramento.
Em um estudo de fraturas do esqueleto facial em crianças, Adekeye (1980) verificou
que dos 70 casos de fraturas mandibulares, 10 pacientes tinham lacerações em tecidos moles
da face. Dos 6 casos de fraturas do complexo zigomático, 2 pacientes apresentavam tais
lesões em tecidos moles.
40
Fonseca, Feigal e Bensel (1992), em uma amostra composta por 1248 pacientes com
até 17 anos, vítimas de maus tratos, observaram 2015 lesões, sendo que 339 (17%) atingiram
a face e 42 (2%) a boca. Das lesões em face, as regiões mais injuriadas foram bochechas
(143), orelhas (77), olhos (70), periórbitas (50), nariz (49) e lábios (37). Das lesões
intrabucais, verificou-se 5 traumas dentários, 2 fraturas, 3 ferimentos de língua, 11 ferimentos
em mucosa bucal e 8 lesões no palato. Parestesias e perdas dentárias também foram
observadas.
Posnick, Wells e Pron (1993) registraram que das 137 crianças com fraturas de face
envolvidas em seu estudo, 77 (56%) apresentavam lesões associadas a tecidos moles, aí
incluídas laceração do couro cabeludo (31%), das orelhas (20%), do queixo (13%), da língua
(8%), da fronte (6%) e da pálpebra (6%).
Zerfowski e Bremerich (1998), ao realizarem um estudo sobre o trauma facial em
pacientes de até 18 anos de idade, constataram que dos 1385 pacientes, 943 (68%) tinham
lesões em tecidos moles. Todos os pacientes com fraturas faciais tiveram algum tipo de lesão
em tecidos moles. A distribuição, em ordem decrescente de freqüência, ocorreu da seguinte
forma: lacerações extrabucais (60,1%), contusões (17,7%), lacerações intrabucais (9,2%),
escoriações (7,1%), mordeduras em língua (2,5%), perfurações do palato (1,8%), outros
(1,6%).
Oginni et al. (2002) desenvolveram um estudo prospectivo envolvendo 174 pacientes
até 15 anos de idade, com lesões em tecidos moles na região bucofacial. A causa mais
freqüente foi a queda (37,9%). A maioria das lesões (82,2%) localizou-se na face. As regiões
mais atingidas, em ordem decrescente de freqüência, foram fronte, bochechas, queixo, língua,
41
lábio superior, lábio inferior, pálpebras, couro cabeludo, gengiva, nariz e palato. Lacerações
constituíram-se na forma mais freqüente de injúria, seguidas por abrasões.
Dos 276 paciente de até 18 anos de idade, vítimas de trauma facial, Shaikh e Worrall
(2002) verificaram 270 lesões em tecidos moles. De todas as lesões em tecidos moles, 44,6%
acometeram lábios. A segunda região mais prevalente foi a bochecha, com 13,7% do total.
Com relação a lesões em tecidos moles intrabucais, verificou-se 28 ocorrências. Dessas, 13
(46,4%) acometeram a língua.
De acordo com o estudo de Gassner et al. (2004), envolvendo 3385 crianças, de até 15
anos de idade, vítimas de traumatismos faciais, 1697 pacientes (50,1%) tiveram 2061 lesões
em tecidos moles. Desses, 51,9% foram lacerações, 22,6% abrasões, 13,8% contusões e
11,7% hematomas. Segundo os autores, crianças de 1 a 4 anos de idade tiveram a maior
porcentagem de acidentes (26,3%), sendo que as lesões mais freqüentes foram trauma
dentoalveolar e lesões em tecidos moles. Idade e gênero não revelaram diferenças
estatisticamente significativas com relação a lesões em tecidos moles.
Segundo Oginni et al. (2002), o diagnóstico de lesões de partes moles é realizado
através do simples exame físico, com eventual utilização de diagnóstico complementar por
imagem em casos específicos. Portanto, em face da elevada prevalência deste tipo de
ocorrência, todo o paciente com trauma facial deve ser cuidadosamente examinado,
especialmente na região de lábios, língua, mucosa bucal, vestíbulo, assoalho bucal, freios
labiais e linguais, palato e região retromolar.
42
De acordo com Rowe (1968), James (1994), Haug e Foss (2000) e Gassner et al. (2004), o
manejo dessas situações em crianças é muito semelhante ao tratamento instituído em adultos.
Entretanto, em jovens, esse tratamento deve ser instituído em poucas horas após o acidente,
devido ao processo de cicatrização mais rápido que ocorre nesta faixa etária. Apesar do colágeno
imaturo dos tecidos moles proporcionar, na maioria das crianças, resultados estéticos satisfatórios,
cicatrizes hipertróficas e queloides podem ocorrer. Pode ser necessário reparo microvascular se
estruturas especializadas, como o nervo facial e ductos salivares, forem laceradas.
2.5.2 Trauma Dentoalveolar
Costa e Cruz (1987) e Caldas Jr. e Burgos (2001) fazem referência à preocupação com
o trauma dentário, devido a uma prevalência significativa deste tipo de lesão em pacientes
jovens.
De acordo com Andreasen e Andreasen (2001), os traumas aos tecidos duros dentários
podem ser classificados como: fratura incompleta de esmalte (trinca), fratura de esmalte,
fratura esmalte-dentina (fratura coronária não-complicada), fratura coronária complicada,
fratura corono-radicular não-complicada, fratura corono-radicular complicada e fratura
radicular. Quando os traumas envolvem os tecidos periodontais, podem provocar concussão,
subluxação, luxações extrusivas, intrusivas ou laterais, e avulsão.
A ocorrência de trauma dentário, quando do trauma facial, depende, principalmente,
da energia do impacto, da direção do agente causal e da resistência dos tecidos que protegem
43
o dente. Na arcada dentária, os dentes anteriores e superiores são particularmente mais
susceptíveis. A maior projeção desses dentes, aliada a uma inadequada competência labial,
concorrem para essa maior predisposição (ROWE, 1968; SILVA et al., 2004).
Segundo Góes et al. (2005), quando o profissional se depara com traumatismos
dentoalveolares, é importante a realização de uma boa anamnese, associada a exames
radiográficos e de mobilidade, percussão e sensibilidade. Isso possibilita o diagnóstico correto
e a correta avaliação do comprometimento das estruturas de suporte do elemento
traumatizado.
Nos serviços de atendimento odontológico de urgência, é comum o atendimento de
crianças e adolescentes com traumatismo dos dentes incisivos. A gravidade e a extensão do
dano são bastante variáveis, fazendo com que o manejo também varie muito conforme o caso
(CAPELOZZA; VELTRINI; FREITAS, 1999). De acordo com esses mesmos autores, ainda
que o trauma dentário represente um sério problema, afetando diversos aspectos da vida
desses pacientes, o conhecimento relacionado à epidemiologia dessa injuria é ainda reduzido
no Brasil.
Num levantamento epidemiológico em crianças de até 30 meses de idade, atendidas
em um centro de Odontologia Pediátrica, em Pernambuco, Montandon, Alves e Menezes
(1998) encontraram, como patologias mais prevalentes, lesões de cárie (24%) seguidas por
traumatismos dentários (14,8%).
Zerfowski e Bremerich (1998), ao realizarem um estudo sobre o trauma facial,
constataram, nos 1385 pacientes com até 18 anos de idade incluídos no estudo, 335 (24,2%)
44
casos de trauma dentoalveolar. Aproximadamente 1/3 dos pacientes com fraturas faciais
tinham, também, trauma dentoalveolar. Além disso, 22,1% dos pacientes com trauma dentário
tinham lesões em tecidos moles. Pacientes do gênero masculino foram mais prevalentes
(1,9:1), sendo que a idade mais afetada foi entre 4 e 6 anos. 95% dos traumatismos em dentes
decíduos e 85% das lesões em dentes permanentes ocorreram em dentes anteriores superiores.
De acordo com o estudo de Gassner et al. (2004), envolvendo crianças de até 15 anos
com trauma facial, das 3.385 crianças vítimas de traumatismos, 2.582 (76,3%) pacientes
tiveram 3.384 traumas dentoalveolares. Segundo os autores, crianças de 1 a 4 anos de idade
tiveram a maior porcentagem de acidentes (26,3%). Um segundo pico de acidentes ocorreu
aos 8 anos de idade (7,5%), afetando os incisivos centrais superiores recém erupcionados.
Crianças jovens foram mais susceptíveis a traumas dentoalveolares (6,8 +- 4,2 anos). Não foi
encontrada diferença significativa relacionando gênero a este tipo de lesão.
Silva et al. (2004) avaliaram, durante o período de um ano, 340 pacientes com trauma
facial. Desses, 15,29% apresentavam lesões dentoalveolares. A queda foi o fator etiológico
mais freqüente (37,06%). O pico de incidência ocorreu na segunda década de vida (44,23%),
seguido pela primeira década (28,85%).
Na cidade de Bauru, em São Paulo, Capelozza, Veltrini e Freitas (1999)
desenvolveram um estudo específico sobre trauma dentoalveolar. Nesse trabalho, 100% dos
incidentes traumáticos atingiram o incisivo central superior e ocorreram em indivíduos do
gênero masculino, com idade entre 1 e 19 anos. A faixa etária mais atingida foi entre 7 e 10
anos de idade. O maior número de traumas em dentes decíduos ocorreram entre 1 e 4 anos.
45
Em outro estudo sobre trauma dentoalveolar, envolvendo 151 pacientes atendidos na
cidade de São José dos Campos, em São Paulo, Prata et al. (2000) verificaram que a maioria
das ocorrências (64,25%) foi em crianças entre os 7 e 11 anos de idade, havendo uma maior
incidência aos 9 anos, no gênero masculino (16,84%), e aos 10 anos no gênero feminino
(16,07%). A causa mais comum foi queda (48,34%).
Caldas Jr. e Burgos (2001) também realizaram um estudo retrospectivo do trauma
dentoalveolar, entre 1997 e 1999, na cidade de Recife, em Pernambuco. Dos 250 pacientes
entre 1 e 59 anos de idade, 158 (63,2%) eram homens e 92 (36,8%) mulheres. Um grande
número de traumas dentários ocorreru em pacientes com idade entre 6 e 15 anos (50,8%),
seguido pelo grupo entre 1 e 5 anos (30,8%). A maioria dos traumas (62%) envolveu somente
um dente.
De acordo com Zachariades, Papavassiliou e Koumoura (1990), dos 202 pacientes
com até 14 anos de idade com fraturas faciais, 74 crianças (32%) tinham fratura do processo
alveolar, sendo este tipo de fratura a mais prevalente. Em relação às arcadas, o osso maxilar
foi o mais atingido.
Bamjee et al. (1996) constataram em um total de 493 pacientes com até 18 anos de
idade com fratura dos ossos da face, 108 casos (21,9%) com fratura dentoalveolar. Desses, 73
eventos ocorreram na maxila e 35 na mandíbula. Os autores registraram diferença na
freqüência desses eventos em diferentes faixas etárias, com 16 casos de fraturas alveolares no
grupo de até 6 anos de idade; 51 casos entre 7 e 12 anos; e 41 casos entre 13 e 18 anos.
46
Ao avaliar e tratar 40 pacientes de até 11 anos de idade com fratura dos ossos da face,
Oji (1998) constatou que das 42 fraturas mandibulares, 5 (11,90%) envolveram fraturas do
processo alveolar.
Iida e Matsuya (2002) excluíram de sua amostra pacientes com trauma dentoalveolar
isolado. Analisando os 174 pacientes de até 16 anos de idade com fraturas faciais,
constataram que 54 (32%) tinham fraturas alveolares. Mais de 60% dos pacientes entre 0 e 5
anos de idade sofreram fraturas alveolares, sendo que esta proporção diminuiu com o aumento
da idade, ao passo que aumentaram as fraturas mandibulares e de terço fixo da face. As causas
mais comuns foram quedas (39%) e acidentes de bicicleta (22%).
No que se refere à associação de fraturas dentoalveolares com fraturas de mandíbula,
Costa e Cruz (1987) observaram que de 54 crianças com fraturas mandibulares, apenas 2
(3,7%) apresentaram fratura na borda alveolar. Segundo os autores, fraturas alveolares da
mandíbula seriam pouco freqüentes na criança devido à arquitetura das criptas alveolares, que
conferem grande resistência local ao trauma. É importante ressaltar que a parede posterior do
alvéolo dentário é mais susceptível às fraturas e acompanhada, com freqüência, de distopia
lingual dos elementos dentários.
Na mesma linha de investigação, sobre a associação de fraturas dentoalveolares com
fraturas mandibulares, Amaratunga (1988) verificou que dos 37 pacientes incluídos na
amostra, 3 (8,1%) tinham fratura do processo alveolar.
Dos 209 casos de fraturas mandibulares, em pacientes de até 13 anos de idade, Jaber e
Porter (1997) constataram que 29 (13,9%) envolviam o processo alveolar.
47
Em um estudo envolvendo 54 pacientes pediátricos, com 70 fraturas de terço fixo da
face, Iizuka et al. (1995) constataram que a região mais freqüentemente fraturada foi o osso
alveolar (34,3%). Lesões como fraturas dentárias, subluxações e luxações, acompanharam as
fraturas faciais em 49,2% dos casos. Na maioria dos casos (87,1%), somente o incisivo
superior estava envolvido. Trauma dentário ocorreu em, aproximadamente, metade dos
pacientes que tinham fraturas de zigoma ou Le Fort e em quase todos os paciente com fraturas
alveolares.
Todos as informações aqui levantadas apontam para a relevância do traumatismo
dentoalveolar, seja pelas repercussões estéticas e funcionais de quem sofre a injúria (GÓES et
al. 2005), seja pela expectativa de que a incidência deste tipo de traumatismo venha a superar
a incidência de cáries e doença periodontal neste grupo populacional (CALDAS Jr.;
BURGOS, 2001).
2.5.3 Fraturas
De acordo com Adekeye (1980), Amaratunga (1988), Anderson (1995), Cardoso
(1998), Adebayo, Ajike e Adekeye (2003), Bertoja (2003), Motamedi (2003), Ahmed et al.
(2004), Ansari (2004), Kontio et al. (2005), Qudah et al. (2005) e Vasconcelos et al. (2005),
parece haver um consenso de que fraturas faciais em crianças são relativamente incomuns
quando comparado com a sua prevalência em adultos. Por causa disto, é difícil obter dados
relacionados a esta ocorrência.
48
Essa baixa prevalência em crianças tem sido associada a alguns fatores. Segundo
Rowe (1968), Costa e Cruz (1987), James (1994) Anderson (1995) e Haug e Foss (2000) tais
pacientes estão menos expostos a lesões traumáticas da alta intensidade, responsáveis pelas
fraturas. Uma maior supervisão familiar e uma reduzida atividade fora de casa diminui os
riscos de lesões graves. As quedas da própria altura caracterizam-se por ser de uma altura
reduzida, diminuindo a velocidade do impacto. Suas massas corporais são inferiores, de forma
que durante um episódio de trauma, a força por unidade de área é reduzida. Apresentam,
ainda, uma relativa elasticidade do esqueleto infantil. Além disso, verifica-se um menor
tamanho da face em relação ao crânio. O esqueleto facial pequeno, ainda não enfraquecido
pela pneumatização do seio maxilar e protegido por uma espessa camada de tecido mole
adiposo, é menos susceptível a fraturas. Com o desenvolvimento da dentição, com o
crescimento da face e com a pneumatização do seio maxilar, os índices de fratura passam a
ser semelhantes ao dos pacientes adultos.
Costa e Cruz (1987) ressaltam a dificuldade do diagnóstico do trauma facial em
crianças, pois com dor e amedrontada pelo ambiente hospitalar, elas podem impedir a
aproximação do médico. O relato de testemunhas do acidente, a inspeção da face e da boca,
aliados a exames por imagem, constituem-se em elementos essenciais para que o diagnóstico
de fratura seja obtido. Fraturas de face, especialmente da mandíbula, devem exigir especial
atenção por parte dos profissionais de saúde, face à alta incidência de seqüelas graves que
podem se instalar como decorrência do tratamento inadequado..
Adekeye (1980) enfatiza a importância do diagnóstico precoce, pela necessidade
imediata de antibioticoterapia, redução e imobilização. Caso o diagnóstico e o tratamento não
sejam conduzidos de forma adequada, uma série de complicações e seqüelas pode ocorrer, tais
49
como anquilose da articulação temporomandibular, dano ao crescimento ósseo, não
consolidação dos traços de fratura, cicatrizes faciais, lesões nervosas, diplopia, cegueira, dor,
edema, hematoma, trismo, infecção, septicemia, óbito, entre outros (ADEKEYE, 1980;
AMARATUNGA, 1988; ANDERSON, 1995; ROWE, 1968).
Segundo McGraw e Cole (1990), 88% dos pacientes com fraturas faciais possuem
lesões associadas. Tais lesões caracterizam-se por TCE, ferimentos no tecidos moles da face,
fratura de membros inferiores, superiores ou de outros ossos, injúrias abdominais ou torácicas
e lesões da coluna vertebral. Essas lesões parecem estar mais associadas com fraturas
mandibulares.
Parece haver uma concordância de que o osso facial que sofre mais fraturas é a
mandíbula (15 a 87,6%), especialmente quando os ossos nasais são excluídos da amostra.
Fraturas de terço médio (8-54%) e terço superior da face (12-45%) ocorrem de forma menos
prevalente. (ADEKEYE, 1980; AMARATUNGA, 1988; ANDERSON, 1995;
FORTUNATO; FIELDING; GURENSEY, 1982; HAUG; FOSS, 2000; ROWE, 1968).
De acordo com Keniry (1971), analisando fraturas faciais em 53 crianças com até 15
anos, a mandíbula foi o osso mais acometido, enquanto que fraturas do arco zigomático foram
raras (1,2%).
Em um estudo realizado na Nigéria, Adekeye (1980) analisou 85 casos de fraturas
faciais, sendo que a fratura de mandíbula foi a mais comum (86,7%). O grupo mais
susceptível a ocorrência de fratura foi entre 12 e 13 anos de idade.
50
Fortunato, Fielding e Gurensey (1982), avaliando fraturas faciais em pacientes com até
15 anos de idade, também identificou a mandíbula como o osso mais fraturado (55%).
Zachariades, Papavassiliou e Koumoura (1990) registraram, em pacientes pediátricos,
fraturas de mandíbula em 74% dos casos, seguidas de fraturas do complexo
zigomaticomaxilar em 16%, da maxila em 8% e nasal em 2%.
Anderson (1995) realizou um estudo sobre fraturas faciais em crianças. Sua amostra
foi composta por 139 pacientes com até 13 anos de idade. Somente 17% das fraturas
ocorreram em pacientes com menos de 5 anos de idade. As fraturas mais freqüentes foram
nasais (54%), mandibulares (30%) e terço médio (16%).
Cardoso (1998), em um estudo epidemiológico retrospectivo em paciente de até 12
anos de idade com fraturas de face, observou que osso mais acometido foi a mandíbula
(69,70%).
Em pacientes com até 11 anos de idade, vítimas de fraturas faciais, Oji (1998)
constatou fraturas mandibulares em 89,4% dos casos. Somente 10,6% das fraturas
localizaram-se no terço médio.
De acordo com Qudah e Bataineh (2002), fraturas faciais em pacientes de até 15 anos
de idade localizam-se mais na mandíbula (74,5%), seguido pelo processo alveolar (12,3%) e
maxila (11,9%) e complexo zigomático (1,3%).
51
Bertoja (2003) verificou que em pacientes pediátricos fraturas faciais ocorreram
predominantemente na mandíbula (71,2%) e no zigoma (28,8), não constatando nenhuma
fratura de maxila.
Com relação a fraturas de terço médio em crianças e adolescentes, Ferreira et al.
(2004) verificaram que o zigoma foi o osso mais fraturado (52%), seguido por fratura alveolar
(31%) e Le Fort (11%). Outras fraturas ocorreram de forma mais rara, como assoalho de
órbita e palato duro. Fraturas alveolares foram mais freqüentes em crianças, enquanto que as
de zigoma acometeram mais adolescentes. Fraturas Le Fort ocorreram em pacientes com mais
de 10 anos, sendo 85% em pacientes com mais de 16 anos, enquanto que 56% das fraturas do
assoalho de órbita ocorreram em pacientes com mais de 13 anos.
52
3 METODOLOGIA
3.1 PARADIGMA
Este trabalho foi desenvolvido dentro do paradigma tradicional, quantitativo.
3.2 MODELO DE PESQUISA
É um estudo epidemiológico, descritivo, retrospectivo e associativo, com a amostra
selecionada estudada na sua totalidade.
3.3 POPULAÇÃO ESTUDADA
Foram estudados os dados de pacientes com até 12 anos de idade, atendidos em caráter
de urgência no Serviço de CTBMF do Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre.
53
3.4 PERÍODO DE INVESTIGAÇÃO
O período estudado foi entre 1º abril de 1993 e 31 de março de 2001, constituindo-se
de 8 anos de investigação. Não há informações sobre atendimentos anteriores a 1993 devido à
ausência de registros desta época.
3.5 SELEÇÃO DA AMOSTRA
No Brasil, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (título 1, art. 2º),
considera-se criança, para efeitos legais, o indivíduo com até 12 anos de idade incompletos.
Portanto, foram selecionados registros de pacientes com até 12 anos de idade,
atendidos no Serviço de CTBMF do Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre. A amostra
final de crianças foi constituída de 14.437 casos, correspondente à totalidade de sujeitos
incluídos na faixa etária analisada, representando 29 % de todos os pacientes (50.536) que o
setor de CTBMF atendeu durante este período.
3.6 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO
A amostra foi obtida a partir do Livro de Registro de Atendimentos Ambulatoriais do
Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre, tendo como elemento de restrição apenas a faixa etária.
54
Não se inclui neste levantamento a análise de traumas nasais e ferimentos
exclusivamente em tecidos moles cutâneos, pois tais lesões são tratadas, respectivamente,
pelo otorrinolaringologista e pelo cirurgião plástico.
Além disso, foram excluídos registros incompletos ou com impossibilidade de
interpretação.
3.7 COLETA DE DADOS
Esta pesquisa foi realizada após a aprovação pela Comissão Científica e de Ética da
Faculdade de Odontologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul,
conforme protocolo 0020/04 (Anexo B).
A coleta dos dados foi permitida conforme autorização do Chefe do Serviço de
Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial do Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre,
conforme Anexo C.
Selecionada a amostra, elaborou-se uma planilha para realizar a coleta dos dados,
conforme Apêndice A. Os dados coletados foram organizados em um banco de dados no
Excel e, posteriormente, importados para o SPSS 11.5.
Foram analisadas as seguintes variáveis:
*As lesões não especificadas são devido à ausência de informações nos livros de registros.
55
Data do atendimento (ano, estação do ano, mês, dia da semana e turno de
atendimento), gênero, faixa etária e tipo de lesão.
A idade foi avaliada individualmente e por faixas etárias, de 0 a 5 anos de idade, e de 6
a 12 anos de idade.
As lesões foram divididas da seguinte maneira:
- contusões de face;
- ferimento de tecidos moles (lábio superior, lábio inferior, lábio não especificado*,
palato, gengiva, mucosa jugal e língua);
- trauma dentoalveolar (superior, inferior, não especificado*);
- fraturas (mandíbula, zigomático, maxila, outras);
- urgências odontológicas (hemorragia alveolar, abscesso dentário, lesões patológicas);
- outros.
3.8 TRATAMENTO ESTATÍSTICO
Os dados serão apresentados sob a forma tabular e gráfica de acordo com as normas da
Estatística Brasileira segundo a ABNT.
56
As variáveis qualitativas foram avaliadas segundo os testes de aderência e de
associação baseados na estatística qui-quadrado de Pearson. A igualdade entre proporções foi
avaliada mediante o teste Binomial, baseado na aproximação pela distribuição normal padrão.
Para avaliar tendência linear da prevalência de atendimentos ao longo dos anos
estudados, foi usado o modelo de regressão linear simples, considerando apenas o período de
1994 a 2000.
A idade dos indivíduos foi descrita através das medidas de tendência central e de
variabilidade, considerando também o intervalo com 95% de confiança para a média
populacional (IC 95%).
Em todos os casos foram considerados significativos os valores que apresentam
p≤0,05.
Os cálculos foram realizados com base em Zar (1996).
57
4 RESULTADOS
Realizando-se um estudo epidemiológico retrospectivo, no Serviço de Cirurgia e
Traumatologia Bucomaxilofacial do Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre, Brasil,
o período de 1o de abril de 1993 a 31 de março de 2001, verificou-se que dos 50.536
atendimentos realizados, 14.468 eram crianças, correspondendo a 29% do total,
conforme é exposto no Gráfico 1.
Da amostra de crianças, 31 casos foram excluídos da análise pelo fato de
prontuário deixar dúvidas relativas à adequada coleta das variáveis. Portanto, foi
analisado o registro de 14.437 pacientes.
Freqüência da amostra de pacientes
atendidos no HPS
71%
29%
maiores de 12 anos
crianças (0-12anos)
Gráfico 1 - Freqüência da amostra de pacientes atendidos, Setor de CTBMF-HPS, Porto Alegre, 1993-2001 Fonte: dados da pesquisa (PUCRS; 2005)
No grupo de crianças objeto do estudo observou-se uma distribuição uniforme de
atendimentos em períodos anuais, embora com uma leve tendência não significativa de
58
aumento do número de pacientes no decorrer do tempo (p=0,1049). Nos anos de 1993 e
2001 registrou-se um número menor de atendimentos, por terem sido analisado somente
alguns meses destes anos (Gráfico 2).
Distribuição da amostra de acordo com o ano
1319
1732
1769
1813
1689 1894
1809
1908
504
0
500
1000
1500
2000
2500
1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Gráfico 2 - Distribuição da amostra segundo o ano de atendimento, Setor de CTBMF-HPS, Porto Alegre, 1993-2001 Fonte: dados da pesquisa (PUCRS; 2005)
Em relação à época do ano, os pacientes foram agrupados mês a mês,
individualmente, e por trimestres.
No que concerne ao mês, verificou-se que o número de atendimentos não se
distribuiu igualmente durante todos os meses do ano (p<0,001), conforme exposto no
Gráfico 3. O mês mais prevalente foi o de novembro (11%), seguido por março, outubro
e dezembro (9% cada). Observou-se um menor número de atendimentos em junho e
julho (7% cada). No período de Outubro a Março, correspondente aos meses quentes do
ano, verificou-se uma maior prevalência de atendimentos (p<0,001).
59
Distribuição da amostra de acordo
com o mês de atendimento
1175
1098
1299
1171
1208
1051
1017
1223
1186
1300
1380
1329
0
500
1000
1500
Janeiro
Fevereiro
Março
Abril
Maio
Junho
Julho
Agosto
Setembro
Outubro
Novembro
Dezembro
Gráfico 3 - Distribuição da amostra segundo o mês de atendimento, Setor de CTBMF-HPS, Porto Alegre, 1993-2001 Fonte: dados da pesquisa (PUCRS; 2005)
O Gráfico 4 mostra que houve diferença na distribuição de atendimentos de
acordo com a época do ano, por trimestres (p<0,001). Houve maior número de
atendimentos na primavera (27%), seguido pelo verão e outono (25%). A menor
prevalência de atendimentos foi observada no inverno (23%).
Distribuição da amostra de acordo
com a estação do ano
3602 3678 3291 3866
0
1000
2000
3000
4000
5000
Verão Outono Inverno Primavera
Gráfico 4 - Distribuição dos atendimentos segundo as estações do ano, Setor de CTBMF-HPS, Porto Alegre, 1993-2001 Fonte: dados da pesquisa (PUCRS; 2005)
60
Analisando os atendimentos conforme os dias da semana (Gráfico 5), observou-
se que eles não se distribuem da maneira homogênea. Quando considerados sábados e
domingos conjuntamente, a prevalência é maior do que nos outros dias da semana,
também tomados em conjunto (p<0,001). Analisando apenas os dias da semana de
segunda feira até sexta feira, não houve diferença estatisticamente significativa quanto
ao número de atendimentos nesse período (p=0,152).
Distribuição da amostra de acordo com os
dias da semana
2175
1975
1968
2109
1993
1989
2228
1800
1900
2000
2100
2200
2300Domingo
Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Sábado
Gráfico 5 - Distribuição da amostra segundo o dia da semana, Setor de CTBMF-HPS, Porto Alegre, 1993-2001 Fonte: dados da pesquisa (PUCRS; 2005)
No Gráfico 6, verifica-se que os turnos com maior número de atendimentos
foram o da tarde (39%) e o da noite (46%) (p<0,001).
61
Distribuição e freqüência da amostra
de acordo com o turno
586 1592
5628
6631
0
2000
4000
6000
8000
4% 11% 39% 46%
Madrugada
Manhã
Tarde
Noite
Gráfico 6 - Distribuição e freqüência da amostra segundo o turno, Setor de CTBMF-HPS, Porto Alegre, 1993-2001 Fonte: dados da pesquisa (PUCRS; 2005)
Em relação ao gênero das crianças, a maior prevalência ocorreu no masculino
(61%), representando um índice superior ao do feminino (39%), conforme é observado
no Gráfico 7 (p<0,001).
Distribuição e Freqüência da Amostra
com Relação ao Gênero
5693
39%
8744
61%
Masculino
Feminino
Gráfico 7 - Distribuição e freqüência da amostra com relação ao gênero, Setor de CTBMF-HPS, Porto Alegre, 1993-2001 Fonte: dados da pesquisa (PUCRS; 2005)
No Gráfico 8, analisou-se a distribuição dos pacientes quanto à idade. Foram
realizados poucos atendimentos em recém nascidos. A idade com maior ocorrência foi
entre 1 e 3 anos, diminuindo gradualmente o número de pacientes traumatizados a partir
desta até os 12 anos.
62
A idade média (IC 95%) foi de 4,95 (4,90 – 5,01) anos, enquanto que a mediana
(distância interquartílica) foi de 4 anos (2 – 7).
Distribuição da amostra de
acordo com a idade
343
2168
1899
1805
1399
1133
1135 973
865
728
742
625
622
0
500
1000
1500
2000
2500
menos de 1 ano
1 ano
2 anos
3 anos
4 anos
5 anos
6 anos
7 anos
8 anos
9 anos
10 anos
11 anos
12 anos
Gráfico 8 - Distribuição da amostra segundo a idade, Setor de CTBMF-HPS, Porto Alegre, 1993-2001 Fonte: dados da pesquisa (PUCRS; 2005)
A faixa etária analisada, de 0 a 12 anos de idade, foi subdividida em dois grupos,
de 0 a 5 anos e de 6 a 12 anos. O primeiro grupo foi mais prevalente (61%), conforme
observado no Gráfico 9, sendo que o gênero masculino foi mais prevalente em ambos os
grupos (p<0,001).
5155
3592 3589
2101
0
2000
4000
6000
0-5 anos 6-12 anos
Distribuição da amostra por
gênero e faixa etária
Masculino
Feminino
Gráfico 9 - Distribuição da amostra segundo o gênero e a faixa etária, Setor de CTBMF-HPS, Porto Alegre, 1993-2001 Fonte: dados da pesquisa (PUCRS; 2005)
63
No que diz respeito aos tipos de lesões, foram observados 15.080 eventos, sendo
os ferimentos de tecidos moles os mais prevalentes. Contusões de face e traumas
dentoalveolares também foram freqüentes. Fraturas constituíram-se no tipo de trauma
menos prevalente, conforme o Gráfico 10.
Distribuição e freqüência
de acordo com as lesões
6694
4055
3242
131
338
620
0
2000
4000
6000
8000
44,4% 26,9% 21,5% 0,9% 2,2% 4,1%
Ferimento de
Tecido Mole
Contusão de
Face
Trauma
dentoalveolar
Fraturas faciais
Urgências
Odontológicas
Outros
Gráfico 10 - Distribuição e freqüência da amostra por lesões, Setor de CTBMF-HPS, Porto Alegre, 1993-2001 Fonte: dados da pesquisa (PUCRS; 2005)
Dentre os ferimentos em tecidos moles, os que envolveram os lábios foram os
mais freqüentes. Observou-se um número maior de lesões no lábio superior (38%) do
que no lábio inferior (28%). A língua também foi uma região freqüentemente acometida
(14%). A região menos prevalente foi a mucosa jugal (2%), conforme ilustrado no
Gráfico 11.
64
Freqüência dos ferimentos
em tecidos moles
4% 8%
38%28%
2%
14% 6%
Gengiva
Lábio (desconhecido*)
Lábio Superior
Lábio Inferior
Mucosa Jugal
Língua
Palato
*Ausência de informações nos livros de registro.
Gráfico 11 - Freqüência da amostra em relação aos ferimentos em tecidos moles, Setor de CTBMF-HPS, Porto Alegre, 1993-2001 Fonte: dados da pesquisa (PUCRS; 2005)
Quando analisada a prevalência de lesões em tecidos moles de acordo com o
gênero, houve um predomínio do gênero masculino, com 63% dos casos (p<0,001),
como observado no Gráfico 12.
Distribuição e freqüência das lesões
em tecidos moles por gênero
4213
63%
2481
37% Masculino
Feminino
Gráfico 12 - Distribuição e freqüência das lesões em tecidos moles por gênero, Setor de CTBMF-HPS, Porto Alegre, 1993-2001 Fonte: dados da pesquisa (PUCRS; 2005)
65
Quando avaliada as lesões de tecidos moles por idade (Gráfico 13), observa-se
que poucos recém nascidos sofrem lesões. A idade mais prevalente foi a de 1 ano, com
diminuição de ocorrência a partir desta idade até os 12 anos (p<0,001).
Distribuição das lesões em tecidos moles de
acordo com a idade
188
1289
947
871
694
523
469
396
349
288
266
205
209
0
500
1000
1500
menos de 1 ano
1 ano
2 anos
3 anos4 anos
5 anos
6 anos
7 anos
8 anos
9 anos10 anos
11 anos
12 anos
Gráfico 13 - Distribuição das lesões em tecidos moles por idade, Setor de CTBMF-HPS, Porto Alegre, 1993-2001 Fonte: dados da pesquisa (PUCRS; 2005)
O grupo etário que mais sofreu lesões em tecidos moles foi entre 0 e 5 anos de
idade (p<0,001), conforme o Gráfico 14.
Distribuição das lesões em tecidos
moles por grupos de idade
4512
2182
0
1000
2000
3000
4000
5000
0-5 anos
6-12 anos
Gráfico 14 - Distribuição das lesões em tecidos moles por grupo etário, Setor de CTBMF-HPS, Porto Alegre, 1993-2001 Fonte: dados da pesquisa (PUCRS; 2005)
66
Com relação ao trauma dentoalveolar, observa-se, no Gráfico 15, uma maior
prevalência no arco superior, com 88% de casos desse tipo de evento (p<0,001).
Freqüência da amostra em relação ao
trauma dentoalveolar
88%
4% 8%
Superior
Inferior
Desconhecido*
*Ausência de informações nos livros de registro.
Gráfico 15 - Freqüência da amostra em relação ao trauma dentoalveolar, Setor de CTBMF-HPS, Porto Alegre, 1993-2001 Fonte: dados da pesquisa (PUCRS; 2005)
Quando analisado o trauma dentoalveolar por gênero (Gráfico 16), houve um
predomínio do gênero masculino, com 59% dos casos (p<0,001).
Distribuição e freqüência do trauma
dentoalveolar de acordo com o gênero
1918
59%
1324
41%Masculino
Feminino
Gráfico 16 - Distribuição e freqüência do trauma dentoalveolar por gênero, Setor de CTBMF-HPS, Porto Alegre, 1993-2001 Fonte: dados da pesquisa (PUCRS; 2005)
Quando analisado o trauma dentoalveolar com relação à idade, verifica-se,
conforme ilustrado no Gráfico 17, que poucos recém-nascidos sofrem este tipo de lesão.
67
As idades mais freqüentes foram entre 1 e 3 anos, com uma redução gradual do número
de pacientes até os 12 anos. (p<0,001).
Distribuição do trauma dentoalveolar
de acordo com a idade
35 443
521
478
343
274
244
221
164
146
145
121
107
0
100
200
300
400
500
600
menos de 1 ano
1 ano
2 anos
3 anos
4 anos
5 anos
6 anos
7 anos
8 anos
9 anos
10 anos
11 anos
12 anos
Gráfico 17 - Distribuição do trauma dentoalveolar por idade, Setor de CTBMF-HPS, Porto Alegre, 1993-2001 Fonte: dados da pesquisa (PUCRS; 2005)
Ainda sobre o trauma dentoalveolar, quando verificada a ocorrência deste tipo de
lesão por grupos de idade, observa-se, conforme o Gráfico 18, que o grupo de pacientes
mais jovens e, portanto, com dentição decídua, é o mais afetado. (p<0,001).
1862
84
997
66
0
500
1000
1500
2000
0-5 anos 6-12 anos
Distribuição do trauma dentoalveolar
por grupos de idade
Superior
Inferior
Gráfico 18 - Distribuição do trauma dentoalveolar por grupos de idade, Setor de CTBMF-HPS, Porto Alegre, 1993-2001 Fonte: dados da pesquisa (PUCRS; 2005)
68
No que se refere às fraturas faciais, apresentadas no Gráfico 19, as de mandíbula
(57%) e as de zigomático (31%) foram as mais freqüentes, com fraturas de maxila (2%)
ocorrendo mais raramente (p<0,001).
Freqüência da amostra em relação às
fraturas faciais
57%31%
2%
10%
mandíbula
zigomático
maxila
outras
Gráfico 19 - Freqüência da amostra em relação às fraturas faciais, Setor de CTBMF-HPS, Porto Alegre, 1993-2001 Fonte: dados da pesquisa (PUCRS; 2005)
Conforme o Gráfico 20, quando as fraturas foram avaliadas por gênero,
observou-se maior prevalência em meninos (69%) (p<0,001).
Distribuição e freqüência das fraturas
de acordo com o gênero
90
69%
41
31%
Masculino
Feminino
Gráfico 20 - Distribuição e freqüência das fraturas faciais por gênero, Setor de CTBMF-HPS, Porto Alegre, 1993-2001 Fonte: dados da pesquisa (PUCRS; 2005)
69
Em relação à idade, as fraturas não se distribuíram de forma homogênea
(p<0,001). As idades mais atingidas foram 5 e 8 anos. Fraturas em bebês foram raras
(Gráfico 21).
Distribuição das fraturas
por idade
3 6 7 12 7 15 8 14 15 8 1411 110
5
10
15
20
menos de 1 ano
1 ano
2 anos
3 anos
4 anos
5 anos
6 anos
7 anos
8 anos
9 anos
10 anos
11 anos
12 anos
Gráfico 21 - Distribuição das fraturas faciais por idade, Setor de CTBMF-HPS, Porto Alegre, 1993-2001 Fonte: dados da pesquisa (PUCRS; 2005)
A faixa etária que mais sofreu fraturas faciais foi entre 6 e 12 anos, com 81
(62%) casos registrados (p<0,001), conforme observado no Gráfico 22.
Dsitribuição das fraturas por grupos
de idade
50
81
0
20
40
60
80
100
0-5 anos
6-12 anos
Gráfico 22 - Distribuição das fraturas faciais por grupos de idade, Setor de CTBMF-HPS, Porto Alegre, 1993-2001 Fonte: dados da pesquisa (PUCRS; 2005)
70
Não houve diferença estatística quando verificada a quantidade de fraturas com
relação ao ano (p=0,390), conforme verificado no Gráfico 23.
Distribuição das fraturas faciais por ano
10
1412
2320
16
11
21
4
0
5
10
15
20
25
1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Gráfico 23 - Distribuição das fraturas faciais por ano, Setor de CTBMF-HPS, Porto Alegre, 1993-2001 Fonte: dados da pesquisa (PUCRS; 2005)
Observou-se, ainda, uma maior ocorrência de fraturas no verão (p<0,001), como
observado no Gráfico 24.
Distribuição das Fraturas em relação a
Sazonalidade
46
2127
37
0
10
20
30
40
50
Fraturas
Verão
Outono
Inverno
Primavera
Gráfico 24 - Distribuição das fraturas faciais por sazonalidade, Setor de CTBMF-HPS, Porto Alegre, 1993-2001 Fonte: dados da pesquisa (PUCRS; 2005)
71
Quanto às urgências odontológicas, a maior causa de consulta foi o abscesso
dentário (54%), como se observa no Gráfico 25.
Freqüência da amostra em relação às
urgências odontológicas
54%27%
19%Abscesso
Dentário
Hemorragia
Alveolar
Lesões
Patológicas
Gráfico 25 - Freqüência da amostra em relação às urgências odontológicas, Setor de CTBMF-HPS, Porto Alegre, 1993-2001 Fonte: dados da pesquisa (PUCRS; 2005)
72
5 DISCUSSÃO
A quantidade de informações disponíveis relacionadas a lesões maxilofaciais em
crianças é relativamente pequena quando comparada com os dados existentes
relacionados com adultos (HALL, 1972; HAUG; FOSS, 2000). Segundo Bamjee et al.
(1996), a maioria das pesquisas relacionadas a injúrias faciais tem feito somente breves
menções relacionadas a este grupo populacional. Além disso, os dados variam de acordo
com o local em questão.
Neste estudo, conforme o gráfico 1, o número de atendimentos de crianças de 0 a
12 anos no setor de CTBMF do HPS foi muito significativo, representando uma
prevalência de 29% do total de atendimentos realizados. Esse dado demonstra a
necessidade de instalações adequadas e de profissionais capacitados para suprir as
necessidades dessa faixa etária da população.
Esta alta prevalência de traumas nessa faixa etária está, possivelmente,
relacionada à menor capacidade de análise e de discernimento dos perigos que as
rodeiam (McGRAW; COLE, 1990), aliada a uma índole inquieta e aventureira (JAMES,
1994; LALLOO; SHEIHAM; NAZROO, 2003).
Existem fatores que predispõem crianças ao trauma, tais como atividade intensa e
deficiência de um controle físico (HALL, 1972).
73
Sendo assim, Haug e Foss (2000), em uma revista de literatura relatam que as
causas mais freqüentes do trauma bucofacial pediátrico são acidentes automobilísticos
(5-80,2%), violência (3,7-61%), quedas (7,8-48%), bicicleta (7,4-48%), brincadeiras
(10-42%), esportes (1,2-33%) e outras.
Apesar da identificação dos fatores etiológicos ser fundamental para se atingir
um dos preceitos fundamentais da Epidemiologia Clínica Moderna, que é o emprego de
medidas preventivas (FLETCHER; FLETCHER; WAGNER, 1996; JEKEL; ELMORE;
KATZ, 2002), tal variável não foi considerada, nesta pesquisa, devido à ausência dessas
informações nos livros de registro.
Esse fato deve ser reconhecido como uma falha na sistemática de coleta de
informações quando do atendimento desses pacientes nesse serviço de urgência. Em
países em estágio de desenvolvimento mais avançado, utilizam-se sistemas
informatizados de coleta de dados e registro de pacientes, fornecendo um banco de
dados epidemiológicos mais completo.
Observou-se, no gráfico 2, uma tendência de aumento no número de pacientes
atendidos no Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre, embora sem significado
estatístico. Tal aumento poderia ser explicado pelo aumento da população em Porto
Alegre e no Rio Grande do Sul, segundo dados do IBGE, apresentado na Tabela 3.
74
Tabela 3 - População total e taxa média de crescimento ao ano do Brasil, do Rio Grande do Sul e de Porto Alegre - 1991 e 2000
POPULAÇÃO TOTAL TAXA MÉDIA DE CRESCIMENTO UNIDADES
GEOGRÁFICAS 1991 2000 1991/00 (%)
Brasil 146 825 475 169 799 170 1,6
Rio Grande do Sul 9 138 670 10 187 798 1,2
Porto Alegre 1 263 403 1 360 590 0,8 FONTE DOS DADOS BRUTOS: Instituto Brasileiro de Estatística e Geografia (1993, 2001)
Embora muitos autores não façam referência com relação ao fator sazonalidade,
parece pertinente o estudo de sua possível correlação com ocorrência de traumatismos
faciais.
Com relação ao período do ano, verificou-se no gráfico 3 uma maior prevalência
de atendimento nos meses quentes, com um declínio no inverno, concordando com os
resultados obtidos por Keniry (1971), Carroll, Hill e Mason (1987), Thoren et al. (1992),
Posnick, Wells e Pron (1993), Iizuka et al. (1995), Cardoso (1998), Bertoja (2003),
Ferreira et al. (2004), Gassner et al. (2004), e discordando dos resultados obtidos por
Anderson (1995), que não registrou diferenças relacionadas à sazonalidade. De acordo
com Keniry (1971), o maior número de atendimentos nos meses quentes poderia ser
explicado pelo fato das crianças ter mais tempo livre para realizar atividades ao ar livre,
com noites mais claras e férias mais longas, bem como pelo uso mais freqüente dos
veículos automotores para passeios familiares e viagens, aumentando a exposição a
acidentes. Cardoso (1998) acrescenta, como fator de contribuição, o aumento na
atividade física e na prática de esportes que costumam ocorrer nesse período.
75
Neste estudo, ao se analisar a relação entre trauma facial e as estações do ano,
verificou-se um maior número de traumatismos durante a primavera, de acordo com o
gráfico 4. No entanto, analisando especificamente fraturas faciais, ocorreu maior número
de casos no verão. Embora pudesse se esperar um maior número de traumatismos no
verão, de acordo com dados da Concepa (2005) grande parte da população de Porto
Alegre, aí incluídas crianças, entram de férias e viajam para o litoral ou outras
localidades, esvaziando consideravelmente a população metropolitana e reduzindo,
conseqüentemente, a população alvo do hospital.
Embora pacientes que viajam continuem sofrendo traumatismos, esses, na
maioria das vezes, são de pouca gravidade, podendo ser resolvidos em clínicas ou
hospitais locais. Porém, quando ocorrem traumatismos graves, as crianças devem
receber tratamento em um hospital de referência do trauma, como o HPS, justificando a
maior prevalência de fraturas neste período.
Embora não exista, na literatura, referência aos dias da semana com maior
ocorrência de traumatismos em crianças, no presente estudo verificou-se no gráfico 5 um
número maior de atendimentos nos finais de semana. Isto ocorreu, provavelmente,
devido ao fato de que as crianças buscam, nesses dias, atividades esportivas ou motoras,
permanecendo mais tempo fora de casa e ficando, por isso mesmo, mais susceptíveis ao
trauma.
De forma semelhante, não existe referência na literatura quanto ao turno de
atendimento do trauma bucofacial pediátrico. No presente estudo, os turnos em que
ocorreram mais traumatismos foram a tarde e a noite, conforme o gráfico 6.
76
Atendimentos na madrugada foram raros, uma vez que as crianças estão, normalmente,
dormindo nesse período, estando livres dos fatores etiológicos usuais do trauma.
Verificou-se, no gráfico 7, uma maior prevalência de traumas em crianças do
gênero masculino, concordando com os resultados obtidos por Hall (1972), Adekeye
(1980), Amaratunga (1988), Zachariades, Papavassiliou e Koumoura (1990), Thoren et
al. (1992), Anderson (1995), Thoren et al. (1997), Cardoso (1998), Oji (1998), Gassner
et al. (1999), Caldas Jr. e Burgos (2001), Iida e Matsuya (2002), Qudah e Bataineh
(2002), Bertoja (2003) e Gassner et al. (2004).
Esses autores atribuem essa predominância de traumas em meninos a diversos
fatores. Assim, meninos são mais ativos, envolvem-se em atividades mais perigosas do
que meninas, praticam esportes de impacto, possuem uma índole mais aventureira e são
mais agressivos, participando de brigas e sofrendo agressões.
Costa e Cruz (1987) discordam dessas observações, acreditando não existir
predominância importante entre os gêneros. Alguns outros estudos epidemiológicos
também não encontraram predominância importante entre os gêneros, tais como os de
Iizuka et al. (1995), Koltai et al. (1995), Thoren et al. (1997) e Jaber e Porter (1997),
embora seus resultados sigam uma tendência de predominância do gênero masculino.
Iizuka et al. (1995) incluíram, em sua pesquisa, somente pacientes com fratura do
terço fixo da face, que necessita de um impacto de alta intensidade para sua ocorrência.
Como 37% de seus pacientes foram vítimas de acidentes automobilísticos, onde meninas
77
e meninos estavam igualmente expostos, justifica-se a referida ausência de diferença
entre gêneros.
Fonseca, Feigal e Bensel (1992), por outro lado, verificaram uma maior
prevalência no gênero feminino. Isto ocorreu pelo fato de tratarem-se, exclusivamente,
de pacientes vítimas de maus tratos. Segundo os autores, meninas são mais susceptíveis
a abusos, uma vez que são mais indefesas, possuem maior fragilidade física, maior
inabilidade de escapar de um parente irritado, menor autoridade e menos respostas
violentas.
A idade limite, nesta pesquisa, foi adotada uma vez que a UNICEF (1990)
considera crianças, para efeitos legais, indivíduos com até 12 anos de idade.
James (1994) e Haug e Foss (2000) referem que há uma inconsistência na
literatura em determinar os limites superiores de idade, e mesmo os subgrupos de faixas
etárias, dificultando, por isso, a comparação entre os diferentes estudos epidemiológicos
em crianças. Na revista de literatura do presente estudo, verificou-se que a idade máxima
dos pacientes pediátricos, nos diferentes estudos epidemiológicos, variou dos 11 aos 18
anos.
No estudo em questão, contatou-se que poucos recém-nascidos sofreram traumas,
conforme o gráfico 8. Esses achados estão em acordo com os resultados obtidos por
Gassner et al. (2004), que verificaram que somente 1,7% de todos os seus pacientes
tinham menos de 1 ano de idade. Isto ocorre, provavelmente, pelo fato de bebês serem
mais supervisionados pelas mães ou serviçais (JAMES, 1994; KABAN, 1993).
78
A idade com maior ocorrência foi entre 1 e 3 anos, diminuindo gradualmente o
número de pacientes traumatizados até os 12 anos. Estes resultados concordam com os
de Gassner et al. (2004), no qual pacientes entre 1 e 4 anos tiveram a maior percentagem
de acidentes, decrescendo até os 6 anos de idade. A maior prevalência do trauma nesses
pacientes ocorre devido a menor capacidade de análise dos perigos que os rodeiam
(McGRAW; COLE, 1990), além de uma menor coordenação psicomotora, sendo vítimas
freqüentes de queda da própria altura ou de altura ao solo (KABAN; MULLIKAN;
MURRAY, 1977).
Ao analisar o trauma bucofacial por grupos etários (0-5 anos e 6-12 anos),
verificamos, no gráfico 9, que o grupo mais jovem e do gênero masculino foi o mais
acometido, concordando com os resultados obtidos por Shaikh e Worrall (2002) e
Gassner et al. (2004).
Esta maior prevalência de fraturas no grupo etário entre 6 e 12 anos se deve a
fatores ambientais, anatômicos e físicos, que serão discutidos posteriormente.
Com relação aos tipos de lesões, traumas menores, incluindo lesões em tecidos
moles, traumas dentoalveolares e contusões faciais, são freqüentemente subestimados
nos estudos epidemiológicos, uma vez que trazem conseqüências menores e não
requerem internação hospitalar (HAUG; FOSS, 2000; SHAIKH; WORRALL, 2002).
As lesões mais freqüentemente observadas neste estudo foram os ferimentos de
tecidos moles, as contusões de face e o trauma dentoalveolar, conforme o gráfico 10.
79
Fraturas faciais, como esperado, constituíram-se em eventos pouco comuns. Estes dados
demonstram que crianças estão mais sujeitas a traumatismos de baixo impacto.
Rowe (1968) e McGraw e Cole (1990) referem que, nos casos de queda da
própria altura em crianças, a distância ao solo é menor, além do fato de que o pequeno
momento da massa corporal contribui para uma menor força de impacto. A espessura
dos tecidos moles, principalmente do adiposo, contribui para a absorção de forças
decorrentes desse impacto sobre os ossos da face.
Portanto, lesões em tecidos moles constituíram-se no tipo de lesão mais
prevalente, à semelhança dos achados de Zerfowski e Bremerich (1998), Haug e Foss
(2000), Shaikh e Worrall (2002) e Gassner et al. (2004).
De acordo com o gráfico 11, a região que acometida foi o lábio superior, fato este
esperado, uma vez que esta estrutura, participando do selamento bucal e absorvendo
forças durante o impacto, são freqüentemente penetradas pelos dentes incisivos
superiores (SILVA et al., 2004). A maior prevalência dos ferimentos em lábios concorda
com os resultados obtidos por Fonseca, Feigal e Bensel (1992) e Shaikh e Worrall
(2002). Uma outra localização prevalente foi a língua, a exemplo dos achados de
Posnick, Wells e Pron (1993) e Oginni et al. (2002), que encontraram uma prevalência
maior nessa região, provavelmente devido a mordedura dessa estrutura durante o trauma.
Como observado nos gráficos 12, 13 e 14, tais lesões ocorreram de forma mais
prevalente no gênero masculino e no grupo etário de até 5 anos, pois, como já referido,
tais crianças têm uma menor capacidade de análise dos perigos, menor coordenação
80
psicomotora e são vítimas de queda da própria altura, gerando um impacto de baixa
intensidade (KABAN; MULLIKAN; MURRAY, 1977; McGRAW; COLE, 1990).
Com relação aos traumatismos dentoalveolares, esse tipo de lesão também foi
observado com freqüência, tal qual descrito por Costa e Cruz (1987), Montandon, Alves
e Menezes (1998), Zerfowski e Bremerich (1998), Caldas Jr. e Burgos (2001), Gassner
et al. (2004) e Silva et al. (2004), que relatam uma prevalência significativa deste tipo de
lesão em pacientes jovens.
Neste estudo, devido a informações imprecisas dos livros de registro, optou-se
por não classificar os traumas dentolaveolares segundo os critérios de Andreasen e
Andreasen (2001).
A arcada dentária mais afetada foi a superior, conforme o gráfico 15, em
consonância com os resultados de Zachariades, Papavassiliou e Koumoura (1990),
Zerfowski e Bremerich (1998), Capelozza, Veltrini e Freitas (1999) e Gassner et al.
(2004). Tais dentes são, particularmente, mais susceptíveis, uma vez que a maior
projeção desses dentes, aliada a uma inadequada competência labial, concorrem para
essa maior predisposição (ROWE, 1968; SILVA et al., 2004).
Ainda com relação ao trauma dentoalveolar, pacientes do gênero masculino
foram mais acometidos conforme o gráfico 16, concordando com os resultados de
Zerfowski e Bremerich (1998), Capelozza, Veltrini e Freitas (1999), Caldas Jr. e Burgos
(2001). Por outro lado, Gassner et al. (2004) não encontrou diferença deste tipo de lesão
quanto ao gênero.
81
Com relação à idade dos pacientes vítimas de traumatismos dentoalveolares,
pouquíssimos casos ocorreram em recém nascidos conforme o gráfico 17, atribuído ao
fato de serem melhor supervisionados (JAMES, 1994; KABAN, 1993), mas
principalmente por eles ainda não terem dentes erupcionados. Novamente, a idade entre
1 a 3 anos foi a mais prevalente, também pela menor capacidade de análise dos perigos e
menor coordenação psicomotora, sendo vítimas de queda da própria altura, com um
impacto de baixa intensidade (KABAN; MULLIKAN; MURRAY, 1977; McGRAW;
COLE, 1990).
O grupo etário mais atingido por este tipo de trauma foi entre 0 e 5 anos,
acometendo, portanto, dentes decíduos de acordo com o gráfico 18, concordando com os
resultados de Zerfowski e Bremerich (1998) e Gassner et al. (2004), e discordando dos
obtidos por Capelozza, Veltrini e Freitas (1999) e Prata et al. (2000), que encontraram a
faixa etária de 7 a 11 anos como sendo a mais prevalente.
A prevalência de fratura dos ossos faciais em crianças, observada na presente
amostra, foi baixa, concordando com os resultados de Rowe (1968), Adekeye (1980),
Amaratunga (1988), Zachariades, Papavassiliou e Koumoura (1990), Jaber e Porter
(1997), Bataineh (1998), Cardoso (1998), Oji (1998), Adebayo, Ajike e Adekeye (2003),
Bertoja (2003), Motamedi (2003), Ahmed et al. (2004), Ansari (2004) e Kontio et al.
(2005).
Essa baixa prevalência de fraturas em crianças pode estar relacionada a fatores
ambientais, anatômicos e físicos. Com relação às características ambientais, há uma
82
maior supervisão familiar nos primeiros anos de vida e menor exposição a fatores de
risco para impactos de alta intensidade (JAMES, 1994; KABAN, 1993).
Anatomicamente, o crânio grande e proeminente em relação à face funciona como um
anteparo, protegendo a face contra impactos, segundo McGraw e Cole (1990), Thoren et
al. (1992), Posnick, Wells e Pron (1993) e James (1994). Além disso, existe uma
elasticidade dos ossos devido a uma mineralização incompleta das suturas do crânio, e
da maior proporção de osso medular em relação ao osso cortical (JAMES, 1994). Como
verificado anteriormente, a espessura dos tecidos moles funciona como um amortecedor,
absorvendo os impactos e dissipando as forças decorrentes de injúria a face, antes que
essas possam provocar fraturas (JAMES, 1994). As características físicas referem-se ao
pequeno momento existente na queda da própria altura, uma vez que a distância ao solo
é pequena (JAMES, 1994; ROWE, 1968).
De acordo com Kaban (1993), impactos de alta intensidade decorrentes de
acidentes automobilísticos, são os fatores etiológicos mais comuns de fraturas em
crianças.
Dentre as fraturas faciais da amostra, a de mandíbula foi a mais prevalente
conforme o gráfico 19, com uma baixa prevalência de fraturas localizadas no terço fixo
da face, estando de acordo com a maioria dos estudos epidemiológicos existentes na
literatura, como os de Rowe (1968), Keniry (1971), Adekeye (1980), Fortunato, Fielding
e Gurensey (1982), Carroll, Hill e Mason (1987), Chidzonga, (1987), Amaratunga
(1988), McGraw e Cole (1990), Zachariades, Papavassiliou e Koumoura (1990), Jaber e
Porter (1997), Cardoso (1998), Oji (1998), Qudah e Bataineh (2002) e Bertoja (2003).
83
Gassner et al. (2003) verificaram maior prevalência de fraturas localizadas no
terço fixo da face em relação ao osso mandibular. No entanto, os autores incluíram
maxila, zigoma e órbita num único grupo.
Conforme Posnick, Wells e Pron (1993), o maior acometimento da mandíbula
ocorre devido à projeção vulnerável desse osso na face, funcionando como um anteparo
aos impactos frontais. Por outro lado, a menor prevalência de fraturas do terço fixo da
face em crianças estaria justificada, de acordo com Kaban (1993) e Posnick, Wells e
Pron (1993) pelo fato destas ocorrências estarem associadas a traumatismos de grande
impacto, aos quais as crianças estão menos expostas.
De acordo com o gráfico 20, um maior número de crianças do gênero masculino
sofreram fraturas, estando de acordo com Hall (1972), Adekeye (1980), Amaratunga
(1988), Zachariades, Papavassiliou e Koumoura (1990), Thoren et al. (1992), Anderson
(1995), Thoren et al. (1997), Cardoso (1998), Oji (1998), Gassner et al. (1999), Caldas
Jr. e Burgos (2001), Iida e Matsuya (2002), Qudah e Bataineh (2002), Bertoja (2003) e
Gassner et al. (2004).
Ao avaliar especificamente fraturas faciais por grupos etários, conforme os
gráficos 21 e 22, esta relação se inverteu, demonstrando que os pacientes mais jovens
sofrem lesões menos graves, enquanto que o segundo grupo sofre lesões mais graves. A
maior prevalência de fraturas no grupo de 6 a 12 anos de idade coincide com os
resultados obtidos por Rowe (1968), Hall (1972), Amaratunga (1988), McGraw e Cole
(1990), Thoren et al. (1992), Posnick, Wells e Pron (1993), Anderson (1995), Bamjee et
al. (1996), Iizuka et al. (1995), Jaber e Porter (1997), Thoren et al. (1997), Cardoso
84
(1998), Oji (1998), Bertoja (2003) e Qudah et al. (2005), e discorda dos resultados
obtidos por Keniry (1971).
Neste estudo, não se observou diferença significativa quanto ao número de
pacientes com fraturas em relação ao ano de atendimento, conforme o gráfico 23. Esses
dados estão em acordo com os obtidos por Anderson (1995) e Ferreira et al. (2004). Por
outro lado, Cardoso (1998) encontrou diferença significativa na distribuição das fraturas
quanto ao ano. O ano mais prevalente em seu estudo foi 1996 (36,4%), coincidindo com
os resultados aqui obtidos, em que o ano com maior número de fraturas também foi 1996
(18%). Iida e Matsuya (2002) verificaram uma redução progressiva no número de
pacientes com fraturas faciais no Japão, fato não observado no HPS. Os autores atribuem
esta diminuição ao desenvolvimento de equipamentos eletrônicos, de modo que as
crianças permanecem mais tempo realizando atividades dentro de casa, tais como ver
televisão, jogar videogame ou mesmo navegar na Internet, permanecendo, portanto,
menos vulneráveis a traumatismos.
Conforme o gráfico 24, a maior prevalência de fraturas foi observada no verão.
Embora Cardoso (1998) e Ferreira et al. (2004) tenham encontrado a primavera como a
estação mais prevalente, a maioria dos estudos, aponta o verão como a estação com
maior prevalência de traumas (BERTOJA; 2003; CARROLL; HILL; MASON, 1987;
GASSNER et al., 2004; IIZUKA et al., 1995; KENIRY, 1971; POSNICK; WELLS;
PRON, 1993; THOREN et al., 1992).
Relativamente poucos casos de urgências odontológicas foram observados, sendo
o abscesso dentário a causa mais comum das consultas, de acordo com o gráfico 25. A
85
menor constatação de urgências odontológicas era esperado, pois o HPS atende
exclusivamente pacientes traumatizados, sendo que a grande maioria da população alvo
desse hospital já possui este conhecimento.
Em relação à prevenção, essa deve ser realizada por médicos e cirurgiões-
dentistas e demais profissionais da área de saúde. Gassner et al. (1999) sugerem que
arquitetos e engenheiros projetem construções seguras para todos os grupos etários.
Similarmente, considerações de ergonomia e segurança devem ser feitas pelas indústrias
automobilísticas.
Os resultados obtidos demonstram a necessidade de instalações adequadas e de
profissionais capacitados para suprir as necessidades dessa faixa etária da população,
bem como o desenvolvimento de um banco de dados mais elaborado, capaz de fornecer
informações adicionais de relevância para o aprimoramento de políticas de saúde
voltadas ao trauma bucomaxilofacial em crianças.
86
6 CONCLUSÕES
De acordo com a metodologia utilizada, na presente investigação, em uma
amostra constituída por 14.437 pacientes de 0-12 anos de idade com injúrias
bucomaxilofaciais, atendidas no Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre, no período
de abril de 1993 a março de 2001, concluiu-se que é significativo o número de crianças
no setor de CTBMF do HPS, representando a prevalência de 29% do total de
atendimentos realizados nesse Serviço.
Também pode-se considerar que:
- Houve uma distribuição uniforme de atendimentos em períodos anuais;
- O número de atendimentos aumentou nos meses quentes do ano e nos finais
de semana, sendo que os turnos da tarde e da noite foram mais prevalentes;
- A faixa etária mais prevalente encontrou-se entre 1 e 3 anos de idade;
- Crianças do gênero masculino sofreram mais traumatismos;
- As lesões mais prevalentes foram provocadas por traumatismos de menor
intensidade, provocando ferimentos, em ordem decrescente de prevalência,
de tecidos moles, contusões faciais e traumas dentoalveolares;
- Apesar da alta prevalência de atendimentos desta faixa etária, a ocorrência
de fratura dos ossos da face foi menos comum;
87
- Houve associações entre o gênero e a idade, entre os diversos tipos de
traumatismos e o gênero, entre os traumatismos e a idade, entre os
traumatismos e as faixas etárias, e entre as fraturas e a sazonalidade.
88
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94
APÊNDICE A - PLANILHA PARA COLETA DE DADOS
Amostra (1-14437)
Data (Dia, Mês, Ano)
Turno Manhã (6-12 Hs) Tarde (12-18 Hs) Noite (18-24 Hs) Madrugada (0-6 Hs)
Gênero
Idade
Diagnóstico
Descrição
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ANEXO C – AUTORIZAÇÃO DO CHEFE DO SETOR DE CIRURGIA E
TRAUMATOLOGIA BUCOMAXILOFACIAL DO HPS, PARA A COLETA DE
DADOS
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