Patrícia Leme Goto DESENVOLVIMENTO DE NANOPARTÍCULAS ...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO ESCOLA DE FARMÁCIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIENCIAS FARMACÊUTICAS Patrícia Leme Goto DESENVOLVIMENTO DE NANOPARTÍCULAS POLIMÉRICAS POR POLIMERIZAÇÃO IN SITU A PARTIR DE NANOEMULSÕES PRODUZIDAS POR INVERSÃO DE FASES OURO PRETO/MG 2011

Transcript of Patrícia Leme Goto DESENVOLVIMENTO DE NANOPARTÍCULAS ...

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

    ESCOLA DE FARMCIA

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CIENCIAS FARMACUTICAS

    Patrcia Leme Goto

    DESENVOLVIMENTO DE NANOPARTCULAS

    POLIMRICAS POR POLIMERIZAO IN SITU A

    PARTIR DE NANOEMULSES PRODUZIDAS POR

    INVERSO DE FASES

    OURO PRETO/MG

    2011

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

    ESCOLA DE FARMCIA

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CIENCIAS FARMACUTICAS

    PATRICIA LEME GOTO

    DESENVOLVIMENTO DE NANOPARTCULAS

    POLIMRICAS POR POLIMERIZAO IN SITU A PARTIR

    DE NANOEMULSES PRODUZIDAS POR INVERSO DE

    FASES

    Dissertao apresentada ao programa de Ps-

    graduao em Cincias Farmacuticas da

    Universidade Federal de Ouro Preto, para

    obteno do ttulo de Mestre em Cincias

    Farmacuticas.

    Orientador: Prof. Dr. Orlando David Henrique dos Santos

    OURO PRETO/MG

    2011

  • Catalogao: [email protected]

    G684d Goto, Patrcia Leme.

    Desenvolvimento de nanopartculas polimricas por polimerizao in situ a

    partir de nanoemulses produzidas por inverso de fases [manuscrito] / Patrcia

    Leme Goto 2011.

    xi, 108 f.: il. color., grafs., tabs.

    Orientador: Prof. Dr. Orlando David Henrique dos Santos.

    Dissertao (Mestrado) - Universidade Federal de Ouro Preto. Escola de

    Farmcia. Programa de Ps-Graduao em Cincias Farmacuticas.

    rea de concentrao: Estudos e Desenvolvimento de Medicamentos.

    1. Nanotecnologia - Teses. 2. Nanocpsulas - Teses. 3. Polimerizao - Teses. 4. Inverso de fases - Teses. I. Universidade Federal de Ouro Preto. II.Ttulo.

    CDU: 615.451.3:65.095.26

    mailto:[email protected]

  • COLABORAO

    Este trabalho contou com a colaborao de:

    Prof. Dra. Maria Irene Yoshida e de seus alunos do laboratrio de Anlise Trmica

    do Departamento de Qumica da Universidade Federal de Minas Gerais nas

    realizaes das anlises trmicas de DSC.

    Pesquisador Dr. Jos Mario Carneiro Vilela do Setor de Tecnologia Metalrgica da

    Fundao Centro Tecnolgico de Minas Gerais na realizao das anlises de

    microscopia por fora atmica.

    Prof. Dr Sidney Augusto Vieira Filho, ou melhor, Bibo, do Departamento de

    Farmcia da Universidade Federal de Ouro Preto nas anlises e discusses de FTIR e

    RMN.

    Prof. Me. Lliam Teixeira Oliveira do Laboratrio Multiusurio da Universidade

    Federal de Ouro Preto nas anlises e discusses dos testes de CLAE

  • AGRADECIMENTOS

    Deus pela proteo e por iluminar meu caminho.

    Ao meu orientador Prof. Dr. Orlando David Henrique dos Santos, pela oportunidade

    de desenvolver este trabalho. Obrigada pela orientao, confiana, pacincia, otimismo e

    respeito, que tornaram possvel esta realizao. Levarei para sempre seu exemplo de

    profissional, serenidade, sucesso.

    Aos meus pais Carlos e Rosngela e minha irm Renata por participarem de mais

    esta conquista em minha vida, com apoio, incentivo e amor incondicionais. Obrigada pela

    compreenso nos momentos que tive que me ausentar do nosso convvio familiar para dedicar

    este tempo ao mestrado e pela confiana que sempre depositam em mim. Amo vocs!

    Ao Juber, pessoa batalhadora e exemplar, meu amigo e meu amor. Agradeo o

    carinho, o incentivo, por me alegrar em momentos ruins, por acreditar em mim e

    principalmente, por estar sempre ao meu lado. Obrigada por participar da minha vida

    tornando-a mais bela.

    Prof. Dra. Maria Irene Yoshida pela realizao das anlises e pela pronta ajuda

    sempre que precisei.

    Ao Vilela, sou muito grata no s por me ajudar a fazer as anlises de MFA, mas pela

    pacincia de ensin-las e discuti-las. Sei que foram vrios dias dedicados ao meu trabalho e

    mesmo assim voc sempre me incentivou e demonstrou bastante interesse. Obrigada pelo

    otimismo, confiana e timas idias. Agradeo tambm pesquisadora Dra. Margareth

    Spangler Andrade por ter disponibilizado os microscpios para as anlises e Ivone pela

    alegria que aquecia os dias frios no laboratrio

    Ao Bibo, muito obrigada pela ajuda nas discusses tcnicas e pela pacincia. Suas

    sugestes foram de grande valia.

    s famlias Leme, Goto e Ferrari, pelo apoio e preocupao, em especial tia Marina

    que me ajudou bastante no final desse trajeto. Vov Cidinha, sei que est sempre comigo!

    Republica Pecado original, ex-alunas, homenageados, moradoras, agregadas, e

    Isabela, meus agradecimentos por todos os momentos que passamos juntas, pelo apoio,

  • amizade e experincia de vida que vocs me proporcionam. Obrigada por serem minha

    famlia, principalmente enquanto estou longe de casa. Carrego todas em meu corao!

    Aos amigos da graduao, que at hoje me acompanham e torcem por mim. Lister e

    4 Po, obrigada pelos conselhos e amizade. Aos colegas do CiPharma, pelo convvio. Ao

    Sumydu e Renata, pela ajuda e conselhos. Gi e Liliam agradeo as discusses

    cientficas e contribuies, mas principalmente a amizade, preocupao, confiana, conversas

    e risadas: unforgetable!

    Rodrigo e Hlcio, a vocs um agradecimento especial pelos momentos de ateno e

    de descontrao, pelas conversas e desabafos e pelo apoio, incentivo e companhia durante

    esses ltimos dois anos.

    Aos amigos de Ilha Solteira e aos de Ouro Preto. Agradeo pela amizade e pela

    companhia!

    Simone e ao Steafan, por disponibilizarem tempo para me ajudar na realizao dos

    experimentos.

    Aos amigos em BH que sempre estiveram comigo. Em especial, ao Fernando, pela

    presena em momentos to importantes, pela preocupao, incentivo e pelo cantinho

    cedido. A En e Ivete, minhas irms mineiras: o amor e apoio de vocs fazem de mim uma

    pessoa mais forte!

    Aos funcionrios da UFOP, em especial aos secretrios que passaram pelo CiPharma

    e aos tcnicos: Dlio, por sempre me atender e ajudar desde quando ingressei no mestrado; e

    Leonardo, pelo enorme apoio nessa reta final do trabalho.

    Ao Eduardo, tcnico do Laboratrio de Tecnologia Farmacutica e Farmacotcnica,

    da Faculdade de Farmcia UFMG, pela ateno.

    Capes, pela bolsa de estudo que viabilizou minha dedicao ao mestrado e CNPq

    e Fapemig pelo suporte financeiro ao projeto.

    A todas as pessoas que de alguma forma contriburam nesta etapa.

    ...meus sinceros agradecimentos!

  • SUMRIO

    1 INTRODUO ....................................................................................................................... 2

    2 REVISO BIBLIOGRFICA ................................................................................................ 5

    2.1 PELE ................................................................................................................................. 5

    2.1.1 Estrutura .................................................................................................................... 5

    2.1.2 Permeao cutnea das nanoestruturas ...................................................................... 7

    2.2 NANOTECNOLOGIA E A REA FARMACUTICA ................................................. 8

    2.3 NANOPARTCULAS POLIMRICAS ........................................................................ 11

    2.3.1 Aplicaes ............................................................................................................... 12

    2.3.2 Mtodos de obteno de nanopartculas polimricas .............................................. 13

    2.3.2.1 Obteno a partir de Polmeros pr-formados .................................................. 14

    2.3.2.2 Obteno a partir de Monmeros dispersos ..................................................... 16

    2.4 MANTEIGA DE MURUMURU ................................................................................... 23

    2.4.1 Composio e dados fsico-qumicos da manteiga de murumuru ........................... 24

    3 OBJETIVOS .......................................................................................................................... 26

    3.1 OBJETIVO GERAL ....................................................................................................... 26

    3.2 OBJETIVOS ESPECFICOS ......................................................................................... 26

    4 MATERIAIS E MTODOS .................................................................................................. 28

    4.1 MATERIAIS .................................................................................................................. 28

    4.2 MTODOS ..................................................................................................................... 30

    4.2.1 Desenvolvimento da nanoemulso O/A com manteiga de murumuru .................... 30

    4.2.1.1 Tcnica de preparao das emulses ................................................................ 30

    4.2.1.2 Estudo de determinao do valor EHL requerido da manteiga de murumuru . 30

    4.2.1.3 Preparao da nanoemulso.............................................................................. 31

    4.2.2 Avaliao da estabilidade das disperses ................................................................ 33

    4.2.2.1 Anlise macroscpica ....................................................................................... 33

    4.2.2.2 Anlise microscpica ........................................................................................ 33

  • 4.2.2.3 Anlise da estabilidade das formulaes sob centrifugao ............................. 33

    4.2.2.4 Determinao do tipo de emulso .................................................................... 34

    4.2.3 Determinao da temperatura correspondente ao ponto de inverso de fases atravs

    da medida da condutividade ............................................................................................. 34

    4.2.4 Preparao das nanocpsulas polimricas ............................................................... 34

    4.2.5 Caracterizao fsico-qumica das nanopartculas ................................................... 35

    4.2.5.1 Determinao do dimetro das partculas ......................................................... 35

    4.2.5.2 Determinao do potencial zeta ........................................................................ 35

    4.2.5.3 Anlise morfolgica por microscopia de fora atmica (MFA)....................... 35

    4.2.5.4 Determinao do comportamento reolgico..................................................... 36

    4.2.6 Caracterizao do polmero ..................................................................................... 37

    4.2.6.1 Extrao do polmero das nanocpsulas polimricas ....................................... 37

    4.2.6.2 Anlise trmica por calorimetria diferencial exploratria ................................ 37

    4.2.6.3 Anlise espectroscpica na regio do infravermelho ....................................... 37

    4.2.6.4 Anlise por espectroscopia de ressonncia magntica nuclear (RMN) ............ 38

    4.2.7 Determinao do fator de proteo solar (FPS) in vitro .......................................... 38

    4.2.8 Validao da metodologia analtica para determinao da concentrao do

    metoxicinamato de octila atravs da CLAE-DAD ........................................................... 39

    4.2.8.1 Curva analtica do OMC ................................................................................... 40

    4.2.8.2 Linearidade da curva analtica .......................................................................... 40

    4.2.9 Avaliao da liberao in vitro do metoxicinamato de octila ................................. 40

    5 RESULTADOS E DISCUSSO .......................................................................................... 43

    5.1 DETERMINAO DO EHL REQUERIDO PARA A MANTEIGA DE MURUMURU

    .............................................................................................................................................. 43

    5.2 PREPARAO DAS NANOEMULSES ................................................................... 44

    5.2 AVALIAO DA ESTABILIDADE ............................................................................ 44

    5.3 DETERMINAO DA TEMPERATURA CORRESPONDENTE AO PONTO DE

    INVERSO DE FASES ATRAVS DA MEDIDA DA CONDUTIVIDADE .................. 45

  • 5.4 PREPARAO DAS NANOCPSULAS POLIMRICAS ........................................ 46

    5.5 CARACTERIZAO FSICO-QUMICA DAS NANOPARTCULAS ..................... 47

    5.5.1 Anlise da distribuio do tamanho mdio e do potencial zeta ............................... 47

    5.5.2 Anlise morfolgica por microscopia de fora atmica (MFA).............................. 49

    5.5.3 Determinao do comportamento reolgico das formulaes ................................ 51

    5.6 CARACTERIZAO DO POLMERO ....................................................................... 53

    5.6.1 Anlise trmica por calorimetria diferencial exploratria ....................................... 54

    5.6.2 Anlise por espectroscopia na regio do infravermelho .......................................... 56

    5.6.3 Anlise por espectroscopia de ressonncia magntica nuclear (RMN) ................... 58

    5.7 DETERMINAO DO FATOR DE PROTEO SOLAR (FPS) IN VITRO DAS

    NANOCPSULAS POLIMRICAS DE OMC .................................................................. 62

    5.8 VALIDAO DA METODOLOGIA ANALTICA PARA DETERMINAO DA

    CONCENTRAO DO METOXICINAMATO DE OCTILA ATRAVS DA CLAE-

    DAD ..................................................................................................................................... 63

    5.9 AVALIAO DA LIBERAO IN VITRO DO METOXICINAMATO DE OCTILA

    .............................................................................................................................................. 65

    6 CONCLUSO ....................................................................................................................... 70

    7 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .................................................................................. 72

    8 ANEXO ................................................................................................................................. 86

    8.1 PATENTE ...................................................................................................................... 86

    8.1.1 Resumo da Patente .................................................................................................. 86

    8.1.2 Depsito de Patente ................................................................................................. 87

  • i

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1. Estrutura da pele......................................................................................................... 5

    Figura 2. Tamanhos comparativos do mundo nano. ................................................................. 8

    Figura 3. Representao de nanopartculas polimricas do frmaco: a) dissolvido no ncleo

    da nanocpsula; b) adsorvido na parede polimrica da nanocpsula; c) retido na matriz

    polimrica da nanoesfra e adsorvido ou disperso na matriz das nanoesfras; d) adsorvido ou

    disperso molecularmente na matriz polimrica das nanoesfras). ........................................... 11

    Figura 4. Representao da diferena estrutural entre nanoesfra e nanocpsula. .................. 11

    Figura 5. Perfis de liberao de frmacos em funo do tempo: convencional x controlada. 13

    Figura 6. Imagem ilustrativa do mtodo de emulsificao e evaporao do solvente. ........... 14

    Figura 7. Representao esquemtica do mtodo de emulsificao e difuso de solvente. .... 15

    Figura 8. Representao esquemtica do mtodo de nanoprecipitao. ................................. 15

    Figura 9. Representao esquemtica do mtodo salting-out. ................................................ 16

    Figura 10. Representao do mtodo de copolimerizao interfacial para formao de

    nanocpsulas. ............................................................................................................................ 17

    Figura 11. Representao esquemtica de (a.) tensoativo, (b.) nanoemulso O/A e (c.)

    nanoemulso A/O. .................................................................................................................... 18

    Figura 12. Ilustrao esquemtica dos dois tipos de inverso de fases para a preparao de

    nanoemulses O/A finamente dispersas. A linha preta slida marca o local de inverso e as

    linhas pontilhadas a zona de histerese. ..................................................................................... 21

    Figura 13. Representao esquemtica do mtodo de inverso de fases pela temperatura. .... 21

    Figura 14. Representao esquemtica do mtodo de inverso de fases pela alterao

    volumtrica, onde O corresponde fase oleosa e A corresponde fase aquosa. ..................... 22

    Figura 15. Foto das amndoas da planta Astrocaryum murumuru. ......................................... 23

    Figura 16. Frmula qumica do isoestearato de sorbitano. ...................................................... 28

    Figura 17. Frmula qumica do monooleato de sorbitano etoxilado 20 EO. .......................... 29

    Figura 18. Frmula qumica do monmero acrilato de 2-etil hexila. ...................................... 29

    Figura 19. Frmula qumica do metoxicinamato de octila. ..................................................... 30

    Figura 20. Desenho esquemtico da clula difusional vertical do tipo Franz. ........................ 40

    Figura 21. Grfico da condutividade eltrica (uS.cm-1

    a 25C) da nanoemulso em funo da

    temperatura (C), no qual se observa o ponto em que ocorre a inverso de fases. ................... 46

  • ii

    Figura 22. Representao esquemtica do funcionamento do Nanosizer N5 Submicron

    Particle Size Analyzer, utilizando tcnica de espectroscopia por correlao de ftons. .......... 47

    Figura 23. Grfico do tamanho mdio das partculas (nm) em barras e do ndice de

    polidisperso (IP) em pontos, em amostras de nanoemulso e suspenso de nanocpsulas

    polimricas contendo ou no metoxicinamato de octila. .......................................................... 48

    Figura 24. Fotomicrografia tridimensional de nanocpsulas obtida por microscopia de fora

    atmica. .................................................................................................................................... 49

    Figura 25. (a) Fotomicrografia bidimensional obtida por microscopia de fora atmica da

    formulao e (b) perfil do dimetro de algumas nanopartculas. ............................................. 50

    Figura 26. (a) Fotomicrografia bidimensional obtida por microscopia de fora atmica da

    formulao e (b) perfil da altura de algumas nanopartculas.................................................... 50

    Figura 27. (a) Fotomicrografia tridimensional e (b) fotomicrografia bidimensional de

    nanocpsulas com o marcador, ambas obtidas por microscopia de fora atmica................... 51

    Figura 28. Reograma das formulaes de nanoemulso e nanocpsulas contendo ou no

    metoxicinamato de octila (OMC). ............................................................................................ 53

    Figura 29. Termograma do polmero acrilato de 2-etilhexila. ................................................. 55

    Figura 30. Termograma com a ampliao da curva de DSC do polmero acrilato de 2-

    etilhexila no intervalo de temperatura no qual ocorre a transio vtrea (destacado em azul). 55

    Figura 31. Espectro infravermelho com transformada de Fourier (FT-IR) padro,

    disponibilizado pela empresa SIGMA-ALDRICH, correspondente ao polmero acrilato de 2-

    etilhexila com os picos mais caractersticos marcados em vermelho. ...................................... 57

    Figura 32. Espectro infravermelho com transformada de Fourier (FT-IR) do polmero acrilato

    de 2-etilhexila extrado das nanocpsulas com os picos mais caractersticos marcados em

    vermelho. .................................................................................................................................. 58

    Figura 33. Espectro de RMN de 1H do EHA (CDCl3, 200 MHz). .......................................... 59

    Figura 34. Espectro de RMN de 13

    C polmero extrado da (CDCl3, 50 MHz). ....................... 59

    Figura 35. Espectro DEPT-135 do EHA (CDCl3, 50 MHz). .................................................. 60

    Figura 36. Estrutura qumica do poli(2-EHA). ........................................................................ 60

    Figura 37. Espectro de RMN de 13

    C do poli(2-EHA). ............................................................ 61

    Figura 38. Ampliaes do espectro de RMN de 1H do poli(2-EHA). ..................................... 62

    Figura 39. Valores dos fatores de proteo solar da amostra de suspenso de nanocpsulas

    (NC) e da nanoemulso (NE) com 7,5% do marcador (OMC). ............................................... 63

  • iii

    Figura 40. Espectro de varredura na faixa de comprimento de onda de 210 a 600 nm para o

    pico cromatogrfico no tempo de reteno de aproximadamente 3,0 minutos. ....................... 64

    Figura 41. Curva analtica para avaliao da linearidade do mtodo analtico de quantificao

    do OMC por Cromatografia Lquida de Alta Eficincia (CLAE). ........................................... 65

    Figura 42. Cromatograma obtido a partir da injeo das solues 10,0 g.ml-1

    (em azul) e

    100,0 g.ml-1

    (em preto) do padro. ......................................................................................... 65

    Figura 43. Grfico da porcentagem liberada do marcador em funo do tempo (minutos),

    comparando o perfil de liberao da nanoemulso com o da suspenso de nanocpsula

    polimrica. ................................................................................................................................ 66

    Figura 44. Cromatograma correspondente liberao do metoxicinamato de octila (OMC) a

    partir da nanoemulso com 7,5% OMC, nos diferentes tempos do estudo in vitro. ................ 67

    Figura 45. Ampliao do pico correspondente ao OMC na nanoemulso nos diferentes

    tempos do estudo de liberao. ................................................................................................. 68

    Figura 46. Cromatograma correspondente liberao do metoxicinamato de octila (OMC) a

    partir da suspenso de nanocpsulas com 7,5% OMC, nos diferentes tempos do estudo in

    vitro. .......................................................................................................................................... 68

    Figura 47. Ampliao do pico correspondente ao metoxicinamato de octila na suspenso de

    nanocpsulas nos diferentes tempos do estudo de liberao. ................................................... 68

  • iv

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1. Propriedades no ideais de frmacos e de suas implicaes teraputicas ................. 9

    Tabela 2. Especificaes da manteiga de murumuru............................................................... 28

    Tabela 3. Porcentagem de proporo dos tensoativos na mistura em funo do EHLFinal ...... 31

    Tabela 4. Composio das formulaes em porcentagem (p/p) .............................................. 32

    Tabela 5. Constantes EE e I para o clculo de FPS in vitro .................................................... 39

    Tabela 6. Valores de potencial zeta (P. Zeta) em amostras de nanoemulso e suspenso de

    nanocpsulas polimricas contendo ou no metoxicinamato de octila (OMC)........................ 49

    Tabela 7. Valores do ndice de consistncia e ndice de fluxo, obtidos a partir do teste com

    viscosmetro, para as formulaes ............................................................................................ 52

    Tabela 8. Dados de RMN de 13

    C obtidos com a amostra e publicados por NEWMARK

    (1985) para o poli(2-EHA) ....................................................................................................... 61

  • v

    LISTA DE ABREVIATURAS E SMBOLOS

    13C Carbono

    1H Hidrogenio

    2-EHA Acrilato de 2-etilhexila

    A/O gua em leo

    AU Unidade de Absorbncia

    abs() Leitura espectrofotomtrica da absorbncia da soluo do filtro solar no

    comprimento de onda ()

    CDCl3 Triclorometano deuterado

    CLAE Cromatografia Liquida de Alta Eficincia

    CV% Coeficiente de variao

    D Taxa de Cisalhamento

    DEPT Distortionless by Enhancement Polarization Transfer

    DSC Calorimetria Diferencial Exploratria

    EHL Equilbrio Hidrfilo-Lipfilo

    EO xido de etileno

    EPI Inverso de fases pela alterao da frao volumtrica

    et al. E colaboradores

    FC Fator de correo

    FPS Fator de Proteo Solar

    FT-IR Espectroscopia por Infravermelho com Transformada de Fourier

    h Horas

    Hz Hertz

    I() Intensidade do sol no comprimento de onda ()

    IP ndice de polidisperso

    K ndice de Consistncia

    KBr Brometo de potssio

    MeHQ ter monometlico da hidroquinona

    MFA Microscopia de Fora Atmica

    min Minutos

    NaCl Cloreto de sdio

    NC Nanocpsulas

    NE Nanoemulses

  • vi

    O/A leo em gua

    OMC Metoxicinamato de Octila

    P.A Para anlise

    p/p Peso/peso

    PCS Espectroscopia por Correlao de Ftons

    PEG Polietilenoglicol

    PIT Inverso de fases pela temperatura

    poli(2-EHA) Polmero de Acrilato de 2-etilhexila

    p-value Nvel de significncia descritivo do teste

    r2 Coeficiente de correlao linear

    RMN Ressonncia Magntica Nuclear

    rpm Rotaes por minuto

    SFLC Sistemas Farmacuticos de Liberao Controlada

    tg Temperatura de transio vtrea

    TH Tensoativo hidroflico

    TL Tensoativo lipoflico

    UV Ultravioleta

    UVB Ultravioleta de onda mdia

    Deslocamento qumico

    ndice de Fluxo

    Comprimento de onda

    Tenso de Cisalhamento

  • Resumo

  • Resumo

    viii

    RESUMO

    GOTO, P. L. Desenvolvimento de nanopartculas polimricas por polimerizao in situ a

    partir de nanoemulses produzidas por inverso de fases. 2011. 108p. Dissertao

    (mestrado) Escola de Farmcia, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, 2011.

    A produo de nanopartculas polimricas (nanoesfras e nanocpsulas) no novidade no

    mercado farmacutico, mas os mtodos de fabricao das mesmas variam muito,

    encontrando-se diferentes tcnicas de obteno. Dada a importncia das nanopartculas na

    otimizao da velocidade de cedncia e na vetorizao de frmacos, neste trabalho foi

    proposto o desenvolvimento de um processo para produo de nanocpsulas polimricas,

    conjugando a tcnica de polimerizao interfacial in situ com a produo de nanoemulso

    pelo mtodo de emulsificao por inverso de fases, utilizando monmeros derivados de

    cido acrlico, ativadores e iniciadores, e leo de origem vegetal (manteiga de murumuru). A

    nanoemulso e a suspenso de nanocpsulas foram caracterizadas quanto ao tamanho mdio

    de partcula e o potencial zeta, obtendo partculas dentro do intervalo de 100 a 200 nm. Testes

    de estabilidade tambm foram realizados para as duas formulaes. A anlise morfolgica foi

    realizada atravs de microscopia de fora atmica, pela qual se comprovou a formao das

    nanocpsulas de formato esfrico. O polmero formado ao redor da nanocpsula foi

    caracterizado atravs de anlises de espectroscopia por Infravermelho com Transformada de

    Fourier (FT-IR), apresentando um espectro caracterstico ao do poli(acrilato de 2-etilhexila); e

    calorimetria diferencial exploratria (DSC), que apresentou a transio vtrea correspondente

    ao mesmo. Foram realizados testes in vitro para comparao das caractersticas da

    nanoemulso e da suspenso de nanocpsulas produzidas a partir das primeiras, tendo como

    marcador o Metoxicinamato de Octila. Analisando os perfis de liberao das amostras,

    utilizando clulas de difuso do tipo Franz, observou-se que a nanoemulso apresentou uma

    liberao maior do ativo que a suspenso das nanocpsulas. No teste de determinao in vitro

    do Fator de Proteo Solar (FPS), a nanoemulso obteve valor de FPS cerca de 50% superior

    que o da suspenso de nanocpsulas. Nos testes in vitro, observou-se que o marcador

    apresentou-se menos disponvel na amostra de nanocpsulas, pois se encontrava em sua maior

    parte, no interior das mesmas. Concluiu-se que a associao dos dois processos: obteno de

    nanoemulso com emulsificao por inverso de fases (com uso de baixa energia) seguida de

    polimerizao in situ proporcionou a formao de nanocpsulas polimricas, com o polmero

  • Resumo

    ix

    situado ao redor das mesmas, vivel para a veiculao de frmacos e princpios ativos

    cosmticos, principalmente com caractersticas hidrofbicas.

    Palavras Chaves: nanocpsulas, inverso de fases, polimerizao in situ, manteiga de

    murumuru, poli(acrilato de 2-etilhexila).

  • Abstract

  • Abstract

    xi

    ABSTRACT

    The development of polymeric nanoparticles (nanoespheres and nanocapsules) is not

    new in the pharmaceutical industry, however different methods has been described in order to

    produce them. Due to the importance of nanoparticles as drug delivery systems to modify the

    release rate, in this study we described a new protocol for producing polymeric particles

    combining the in situ polymerization technique with nanoemulsion produced by phase

    inversion emulsification, using 2-ethylhexyl acrylate monomer, solutions of initiator and

    activator and vegetable oil (Murumuru Oil). The nanoemulsion and nanocapsules obtained

    were characterized as particle size and zeta potential. The mean size of the nanoparticles was

    in a range of 100-200 nm. Stability tests were also performed for both formulations. Atomic

    force microscopy analysis proved the spherical shape of nanocapsules. The polymer formed

    surrounding the nanocapsules was characterized by Fourier transform infrared spectroscopy

    (FT-IR) and the resulting spectrum matched with that described in the literature for the

    poly(2-ethylhexyl acrylate). In the Differential Scanning Calorimetry (DSC), was observed

    the reported glass transition. In vitro tests were performed to compare the nanoemulsion and

    the nanocapsules produced, using octyl methoxycinnamate as a marker. The analysis of the

    release profile of the samples, with Franz diffusion cells, showed that the nanoemulsion had a

    greater release of the active than the nanocapsules. In vitro test for determining the Sun

    Protection Factor (SPF), the nanoemulsion SPF value was about 50% higher than the

    nanocapsules. In in vitro tests were observed that the marker had become less available in the

    nanocapsules sample, since the most part was encapsulated inside them. It was concluded that

    the association of both process: nanoemulsion production by phase inversion (low energy

    method) followed by in situ polymerization generated the formation of polymeric

    nanocpsulas, feasible for administration of pharmaceutical and cosmetic active ingredients,

    especially with hydrophobic character.

    Keywords: nanocapsules, phase inversion, in situ polymerization, murumuru oil, poly

    (2-ethylhexyl acrylate)

  • 1. Introduo

  • Introduo

    2

    1 INTRODUO

    As nanopartculas polimricas so sistemas carreadores de substncias ativas que

    podem proporcionar o direcionamento de sua distribuio e apresentam dimetro inferior a

    1,0 m. Vrios destes sistemas so empregados para a estabilizao de frmacos sensveis a

    condies externas como: luz, potencial oxido-redutor, suco gstrico (quando administrados

    por via oral), etc. Existem vrios mtodos de produo de nanopartculas polimricas, dentre

    eles a polimerizao in situ se apresenta como uma alternativa, porm, nesta tcnica

    necessrio partir de uma nanoemulso. O processo de polimerizao pode ocorrer de forma

    simultnea ou posteriormente formao da nanoemulso suporte.

    Apesar de j conhecidas as nanoemulses (NE) s recentemente atraram a ateno

    da Indstria Farmacutica e de Cosmticos. Esse desinteresse pode ter ocorrido devido ao fato

    de que o preparo das NE, em muitos casos, exige a aplicao de tcnicas especiais, com o uso

    de equipamentos como homogeneizadores de alta presso, microfluidizadores e ultrassom.

    (FORTUNATO, 2005; KOTHEKAR et al. 2006; STEINBERG, 2007, LEIRIA, 2006).

    Porm, o uso de mtodos de alta energia, quando a proposta encapsular molculas frgeis

    como peptdeos, protenas e cidos nuclicos, pode levar ao aquecimento excessivo dos

    produtos, aumentando a degradao/desnaturao do frmaco ou a perda de atividade durante

    o processo, propiciando a degradao de substncias sensveis.

    Alm dos equipamentos especficos para a fabricao de nanoemulses serem de custo

    elevado, havia o receio de enveredar-se por novos sistemas sem plena avaliao de

    custo/benefcio, o que inibiu o uso desses sistemas em aplicaes de cuidado pessoal e

    medicamentos. Apesar dessas dificuldades, vrias empresas lanaram NE no mercado e, nos

    prximos anos, os benefcios podero ser avaliados. Com o maior estudo de novas tcnicas,

    onde no se faz necessrio o uso de instrumentos sofisticados e com o aumento da

    concorrncia no mercado farmacutico e cosmtico, o custo de produo das NE dever cair,

    aproximando-se do custo das tradicionais macroemulses (FORTUNATO, 2005;

    KOTHEKAR et al., 2006; STEINBERG, 2007; LEIRIA, 2006).

    A distribuio de tamanho, a estrutura e a estabilidade dos sistemas nanomtricos no

    dependem apenas das condies empregadas em sua produo, mas tambm das variveis da

    formulao. Entre os fatores que tem sido primordialmente avaliados esto o tipo, as

    caractersticas qumicas e as quantidades da fase oleosa e dos agentes emulsionantes

  • Introduo

    3

    utilizados; a influncia da razo entre os volumes da fase oleosa e aquosa na produo e

    estabilidade; a proporo mais adequada entre os tensoativos lipoflico e hidroflico na

    nanoemulso e a natureza e toxicidade do monmero e de seus ativadores e iniciadores.

    O uso de solvente orgnico presente tanto em alguns mtodos de emulsificao e de

    polimerizao apresentam desvantagens em suas etapas ou no custo de produo. Solventes

    orgnicos so em geral produtos caros e significa outro ingrediente presente na formulao, o

    que aumenta o custo total das matrias-primas. A insero de solvente orgnico, matria-

    prima potencialmente txica para o ambiente e para o sistema fisiolgico, requer pelo menos

    uma etapa extra de processamento para a retirada do produto para tornar possvel

    administrao da suspenso de nanocpsulas em organismos vivos, aumentando o custo e

    tempo de fabricao. Esse tipo de matria-prima, sendo voltil, por razes de segurana,

    requer manipulao e condies de processamento restritas.

    A natureza da fase oleosa pode ter grande influncia na estabilidade do sistema.

    Apesar de leos minerais produzirem sistemas mais estveis do que leos vegetais, devido

    maior possibilidade de haver interao entre os tensoativos e os leos vegetais, pelo fato

    desses apresentarem composio mais complexa, o uso de leos vegetais encontrados na flora

    brasileira, quando viveis, possibilitam o emprego de material de origem nacional,

    potencializando a preservao das espcies e gerao de renda para populaes nativas, na

    maioria das vezes, extrativistas.

    Neste contexto, a proposta deste trabalho de desenvolver sistemas nanoparticulados

    empregando-se mtodos de polimerizao in situ a partir de nanoemulses produzidas por

    mtodos de baixa energia de emulsificao torna-se interessante. Este processo possui

    diversas vantagens, dentre elas: emprego de matrias-primas mais baratas (monmeros no

    lugar de polmeros; tensoativos simples derivados de sorbitano e leos etoxilados),

    necessidade de equipamentos de produo mais simples e j disponveis na maioria das

    indstrias farmacuticas e cosmticas, facilidade de transposio da escala produtiva, da

    bancada para a industrial e ausncia de solventes orgnicos nas etapas de produo, que

    encarece o produto.

    Desta forma, neste trabalho foi proposto o desenvolvimento de nanocpsulas

    polimricas a partir da polimerizao in situ de nanoemulses obtidas por inverso de fases,

    com uso de manteiga de murumuru.

  • 2. Reviso Bibliogrfica

  • Reviso Bibliogrfica

    5

    2 REVISO BIBLIOGRFICA

    2.1 PELE

    Alm de ser um envoltrio que recobre toda a superfcie do corpo, a pele

    considerada o maior rgo humano, uma vez que sua extenso corresponde a cerca de 2,0 m2

    e seu peso representa cerca de 16% do peso corporal (JUNQUEIRA e CARNEIRO, 2004;

    KEDE e SABATOVICH, 2003).

    Constitui a primeira linha de defesa contra injrias do meio ambiente, sendo barreira

    protetora contra agresses externas, de natureza qumica ou biolgica, alm de impedir perda

    de gua ou protenas do organismo para o exterior (BOUWSTRA et al., 2003; GONALVES,

    2000; RANGEL, 1998). Possui ainda outras funes como rgo sensorial, participante do

    sistema imunolgico, regulao da temperatura corprea, excreo de eletrlitos e produo

    de vitamina D3, alm de outras substncias, (KEDE e SABATOVICH, 2003).

    2.1.1 Estrutura

    A pele composta por trs camadas sendo a mais superficial chamada de epiderme, a

    camada intermediria a derme e a hipoderme ou tecido subcutneo a camada mais

    profunda (Figura 1).

    Figura 1. Estrutura da pele.

    (Fonte:http://www.cosmeticaemfoco.com.br/2010/01/especial-verao-parte-1.html, acessada em agosto de 2010)

  • Reviso Bibliogrfica

    6

    A epiderme possui origem ectodrmica, estratificada e pavimentosa, composta por

    clulas justapostas, bastante coesas, formando camadas celulares contnuas que se dividem em

    subcamadas: basal, espinhosa, granulosa, lcida e crnea.

    A camada germinativa ou basal a mais profunda da epiderme, onde so encontrados

    dois tipos principais de clulas: os melancitos, responsveis pela colorao da pele, e os

    queratincitos, que so diariamente renovados, formando uma barreira natural. A nutrio

    dessas clulas ocorre por vasos sanguneos localizados na derme (KIM et al., 2007).

    Devido contnua atividade mittica dessa camada, as clulas resultantes da diviso

    celular so empurradas para as camadas superiores e os queratincitos gradualmente sofrem

    modificaes em sua forma e composio qumica, tornando-se achatados e anucleados, at

    atingirem a superfcie e se desprenderem em um ciclo que dura em torno de quatro semanas.

    Nesse processo de transformao dos queratincitos em clulas crneas mortas, os primeiros

    sintetizam grande quantidade de protenas e lipdeos, e a queratina, protena insolvel, recobre

    a clula no ciclo de queratinizao (JUNQUEIRA e CARNEIRO, 2004; KEDE e

    SABATOVICH, 2003).

    A camada mais superficial da pele a estrato crneo: menos permevel, com maior

    teor de lipdios e formado por clulas desprovidas de ncleo e organelas. A permeabilidade

    seletiva dessa estrutura muito importante na absoro cutnea de substncias ativas de uso

    tpico e, apesar de ser uma membrana muito fina, uma excelente barreira qumica e fsica

    que protege o organismo contra a perda de gua, mantendo a pele macia e saudvel, e

    impedindo a entrada de agentes infecciosos e txicos (BENNY, 2000).

    As clulas presentes na epiderme, alm dos queratincitos, so: clulas de Langerhans

    (funo imunolgica), clulas de Merkel (funo sensorial) e os melancitos (produz

    melanina que colore a pele e protege contra radiao solar) (JUNQUEIRA e CARNEIRO,

    2004).

    Situada logo abaixo da epiderme, encontramos a derme, de origem mesodrmica.

    um tecido conjuntivo denso, tambm denominado tecido de sustentao, onde so encontradas

    fibras colgenas, elsticas e substncia amorfa, tudo produzido pelos fibroblastos.

    atravessado por vasos e nervos e abriga os seguintes anexos cutneos: glndulas sudorparas e

    sebceas, folculos pilosos, msculos eretores dos plos, estruturas sensoriais e unhas. um

  • Reviso Bibliogrfica

    7

    grande reservatrio de gua, fornecendo-a para os tecidos vizinhos. Pode ser dividida em

    derme superficial ou papilar e reticular ou crion (JUNQUEIRA e CARNEIRO, 2004).

    A camada mais profunda da pele a hipoderme, formada pelo tecido adiposo, que

    apresenta funes como armazenamento de nutrientes e energia para o organismo e modela a

    silhueta corporal. Apresenta-se ainda como uma proteo mecnica, por ser um verdadeiro

    amortecedor, suavizando traumas, e isolante trmico, conservando a temperatura corporal

    (RANGEL, 1998; VIGLIOGLIA e RUBIN, 1989). Formada por tecido conjuntivo frouxo,

    une de maneira pouco firme a derme aos rgos subadjacentes (JUNQUEIRA e CARNEIRO,

    2004).

    2.1.2 Permeao cutnea das nanoestruturas

    A aplicao de uma preparao tpica pode ter dois objetivos: (a) liberar o frmaco na

    pele para tratar de alteraes drmicas, onde a pele funciona como rgo-alvo; (b) liberar o

    frmaco atravs da pele (absoro percutnea) para a circulao geral com o intuito de atingir

    a circulao sistmica, neste caso, a pele no o rgo-alvo (ALLEN et al., 2007).

    Entretanto, o estrato crneo funciona como barreira para a passagem de muitas

    molculas, podendo ser considerado uma membrana semipermevel pela qual as molculas

    atravessam por difuso passiva. Sendo assim, a penetrao do frmaco por meio desta

    dependente de sua concentrao no veculo, de sua solubilidade aquosa e do coeficiente de

    partio leo/gua entre o estrato crneo e o veculo (ALLEN et al., 2007). Devido

    complexidade do transporte de substncias ativas atravs da pele, para otimizar essa

    transferncia deve-se avaliar propriedades fsico-qumicas das molculas, sua interao com a

    membrana, o veculo utilizado e o estado fisiolgico da pele, fatores que influenciam a

    penetrao e absoro do ativo (KALIA e GUY, 2001; BENSON, 2005, ALLEN et al., 2007).

    O desenvolvimento de novas formas farmacuticas para aumentar e controlar a

    permeao cutnea tem sido bastante abordado (LBOUTOUNNE et al., 2002; MLLER et

    al., 2002; ALVAREZ-ROMN et al., 2004a; ALVAREZ-ROMN et al., 2004b).

    Pelo fato de possurem uma grande rea de superfcie, sistemas nanoestruturados

    promovem uma liberao homognea de substncias lipoflicas (BOUCHEMAL et al., 2004).

    Aplicado sobre a pele, esses sistemas so capazes de modular a passagem transdrmica,

    modificando a atividade da molcula e seus coeficientes de partio e difuso,

    conseqentemente possibilitando a alterao da farmacocintica e biodisponibilidade do

  • Reviso Bibliogrfica

    8

    frmaco atravs da pele (CEVC, 2004). Alm disso, o uso de sistemas polmricos para

    encapsular substncias ativas importante para alterar as propriedades intrnsecas das

    mesmas, facilitando sua penetrao na pele (ALVAREZ-ROMN et al., 2004a).

    2.2 NANOTECNOLOGIA E A REA FARMACUTICA

    Nano um prefixo que vem do grego antigo e significa "ano". um termo tcnico

    utilizado em notao cientifica. Um nanometro (nm) equivale a um bilionsimo de metro, ou

    seja, 10-9

    m (Figura 2). Nessa escala de tamanho, um minsculo vrus se apresenta como uma

    incrvel entidade com cerca de 200 nm que camufla uma mquina molecular, proporcionando

    um exemplo de tecnologia nanomtrica da natureza. (TOMA e ARAKI, 2005).

    Figura 2. Tamanhos comparativos do mundo nano.

    Quando se reduz materiais at perto da escala molecular, no se est simplesmente

    expandindo as fronteiras da miniaturizao, pois objetos destas dimenses podem ter

    propriedades fsicas completamente diferentes de seus anlogos macroscpicos, permitindo,

    assim, novas aplicaes. Nessa escala, com freqncia recorre-se a mecnica quntica para

    prever ou explicar propriedades dos materiais (GONALO, 2008).

    Mais direcionado s propriedades e fenmenos do que propriamente no tamanho, a

    riqueza de novidades dos produtos em escala nano extraordinria. Rapidamente, foi

    vislumbrado seu potencial para criar uma base para uma nova tecnologia revolucionria em

    termos de produtos e conceitos. Sabendo que as propriedades dos materiais em escala

    nanomtrica dependem do seu tamanho e forma, os cientistas conseguem um grau de controle

    das suas propriedades fsicas e qumicas to alto, como nunca se tinha feito antes (SOUZA

    FILHO, 2007).

    (Fo

    nte

    : ad

    apta

    do

    de

    DU

    RA

    N e

    t al

    ., 2

    002

    )

    tomo DNA Protena Vrus Clula

  • Reviso Bibliogrfica

    9

    Segundo POLETTO et al., 2008, nanocincia o estudo das propriedades dos

    materiais na escala do nanmetro e nanotecnologia o emprego desse conhecimento para

    obteno e controle de nanomateriais com objetivos prticos e comerciais. Quando aplicada

    s cincias da vida conhecida como nanobiotecnologia

    O interesse nesse ramo vem crescendo tanto que, segundo dados do Ministrio de

    Cincia e Tecnologia, o Brasil tem pelo menos 310 cientistas com doutorado e ps-doutorado

    e ainda, cerca de 500 mestrandos e doutorandos que desenvolvem pesquisas nessa rea. Em

    2004, foram publicados 1.100 artigos em revistas cientficas internacionais (RAMOS e

    PASA, 2008). Ainda segundo a Nanobiotec, organizao nacional voltada para a rea de

    nanobiotecnologia, no perodo de 1990 a 2005 houve mais de 500 publicaes sobre o uso de

    nanotecnologia para o desenvolvimento de produtos dermocosmticos; e entre 1996 e 2005

    foram registradas 312 patentes no mundo relativas a produtos cosmticos ou dermatolgicos

    (GUTERRES et al., 2006).

    H uma srie de problemas no desenvolvimento de novos medicamentos na indstria

    farmacutica, onde devem ser considerados vrios aspectos como: solubilidade baixa, danos

    aos tecidos no alvo, liberao de frmaco fora das regies correspondentes, quando

    administrados livremente na corrente sangunea, dentre outros. A nanobiotecnologia pode ser

    utilizada para encapsular e com isto modificar algumas caractersticas de frmacos, obtendo-

    se assim Sistemas Farmacuticos de Liberao Controlada (SFLC) (DURN, 2007). Alguns

    destes parmetros esto listados na Tabela 1.

    Tabela 1. Propriedades no ideais de frmacos e de suas implicaes teraputicas

    Problemas Implicao Efeitos do SFLC*

    Solubilidade Baixa

    difcil de obter formulao adequada

    utilizando molculas hidrofbicas, pois estas

    precipitam em gua

    Permite uso de molcula hidrofbica ou

    hidroflica, pois melhora a solubilidade das

    mesmas

    Danos no tecido Derramamento inadvertido de frmacos

    citotxicos

    Liberao regulada por SFLC no permite

    esse problema

    Rpida inativao

    de frmaco in vivo Perda de atividade

    Protege o frmaco de degradao

    prematura, portanto, podem-se utilizar

    baixas concentraes do frmaco

    Farmacocintica

    desfavorvel

    Frmaco eliminado rapidamente pelos rins,

    por isso necessita ser adicionado em altas

    concentraes

    Pode modificar substancialmente a

    farmacocintica do frmaco

    Biodistribuio Distribuio sistmica, podendo afetar tecidos

    normais

    Altera os volumes de distribuio

    diminuindo efeitos secundrios.

    Falta de seletividade

    por tecidos alvos

    normais

    Distribuio de frmacos em tecidos

    saudveis acarreta em efeitos secundrios,

    restringindo altas dosagens

    Podem aumentar a concentrao do

    frmaco em tecidos tumorais pelo efeito

    permeabilidade e reteno aumentadas *SFLC - Sistemas Farmacuticos de Liberao Controlada (Fonte: Adaptado de DURN, 2007)

  • Reviso Bibliogrfica

    10

    As principais nanoestruturas empregadas como sistemas de liberao de frmacos so:

    nanoemulses, lipossomas, nanopartculas lipdicas slidas, nanopartculas polimricas,

    nanopartculas metlicas, nanocristais, ciclodextrinas, dendrmeros, nanotubos de carbono,

    micelas polimricas (POLETTO et al., 2008; MARCATO e DURAN, 2008).

    No setor de cosmticos a nanobiotecnologia tem encontrado inmeras aplicaes,

    representando um grande potencial de desenvolvimento tecnolgico para o Brasil. O grande

    crescimento desse setor no cenrio nacional o torna mais permevel concorrncia que a

    indstria farmacutica. Em 2008, esse setor vendeu R$ 21,6 bilhes e, entre 2004 e 2008,

    apresentou um crescimento de 8%, numero consideravelmente maior que o crescimento

    nacional. Em 2006, o Ministrio da Sade gastou R$ 23,6 bilhes (Real a preo de dezembro

    de 2001), segundo a Associao Brasileira das Indstrias de Higiene Pessoal, Cosmticos e

    Perfumaria e o Ministrio da Sade (FERREIRA, 2009). Do ponto de vista cientifico, tm-se

    como vantagens do uso de nanocosmticos a proteo de ingredientes quanto degradao

    qumica ou enzimtica, controle de sua liberao, prolongamento do tempo de residncia dos

    ativos cosmticos nos locais de aplicao, etc. (FRONZA et al., 2007)

    Por apresentar possibilidade de transposio para escala industrial e ser efetiva como

    dispositivo guiado, a nanotecnologia na rea da sade tem se mostrado uma das mais

    acessveis economicamente.

    Em 2007, o Scientific Committee on Consumer Products da Comisso Europia

    publicou o relatrio Opinio preliminar sobre a segurana de nanomateriais em produtos

    cosmticos", onde as nanopartculas so classificadas em dois grandes grupos: nanopartculas

    lbeis (que se desintegram totalmente aps o contato com a pele, como lipossomas,

    nanoemulses e nanopartculas polimricas), que exigem como medida de segurana a

    avaliao da toxicidade do material usado na preparao; e nanopartculas insolveis, que no

    se desintegram (fulerenos, nanopartculas metlicas, nanotubos de carbono) que, alm do

    estudo de suas toxicidades, requer um estudo detalhado do todo o ciclo de vida das

    nanopartculas no ambiente.

    Em paralelo, foi lanado no Brasil o livro Nanocosmticos: em direo ao

    estabelecimento de marcos regulatrios, de Tassiana Frona, Silvia Guterres, Adriana

    Pohlmann e Helder Teixeira, em 2007. Este prope a classificao de nanocosmticos, usando

    as mesmas bases do relatrio: lbeis ou insolveis. (POLETTO et al., 2008).

  • Reviso Bibliogrfica

    11

    2.3 NANOPARTCULAS POLIMRICAS

    As nanopartculas polimricas so sistemas utilizados para o encapsulamento de

    frmacos e liberao controlada, que podem se apresentar como dois tipos de estruturas

    diferentes: nanocpsulas e nanoesfras, ambas com tamanho menor que 1,0 m. Estas diferem

    entre si segundo a composio e organizao estrutural (Figuras 3 e 4). Nanocpsulas

    constituem-se de sistemas vesiculares envoltos por um invlucro polimrico de tamanho

    varivel, onde o frmaco pode estar dissolvido na cavidade interna e/ou adsorvido parede

    polimrica. J as nanoesfras so formadas unicamente por uma matriz polimrica, no

    apresentam ncleo em sua estrutura, e o frmaco pode ficar retido no interior da matriz ou

    adsorvido sua superfcie. Apesar da diferena estrutural e de composio, podem ser obtidas

    por tcnicas semelhantes, com ligeiras adaptaes (DURN, 2007; SCHAFFAZICK et al.,

    2003; RAFFIN et al., 2003).

    Figura 3. Representao de nanopartculas polimricas do frmaco: a) dissolvido no ncleo

    da nanocpsula; b) adsorvido na parede polimrica da nanocpsula; c) retido na matriz

    polimrica da nanoesfra e adsorvido ou disperso na matriz das nanoesfras; d) adsorvido ou

    disperso molecularmente na matriz polimrica das nanoesfras).

    Figura 4. Representao da diferena estrutural entre nanoesfra e nanocpsula.

    (Fonte: SCHAFFAZICK et al., 2003).

    (Fo

    nte

    : S

    CH

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    FA

    ZIC

    K e

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    ., 2

    003

    ).

  • Reviso Bibliogrfica

    12

    Trabalhos recentes com estudos sobre SFLC tm fornecido evidncias significativas

    das vantagens do uso de sistemas nanoparticulados. As principais so (DURN e DE

    AZEVEDO, 2002):

    Aumento na eficcia teraputica, com liberao progressiva e controlada do

    frmaco, a partir da degradao da matriz e maior tempo de permanncia na

    circulao sangunea;

    Diminuio significativa da toxicidade;

    A natureza e composio dos veculos muito variada que fornece proteo

    contra mecanismos de instabilidade e decomposio do frmaco (inativao

    prematura),

    Diminuio do numero de doses administradas devido liberao progressiva

    do frmaco;

    Possibilidade de direcionamento a alvos especficos;

    Sistemas teis para a veiculao de frmacos hidroflicos e lipoflicos.

    Essas nanoestruturas so constitudas de polmeros naturais ou sintticos. Uma das

    vantagens deste sistema a variabilidade de polmeros biodegradveis que podem ser

    utilizados como material de cobertura das partculas. Alm disto, possvel modificar

    quimicamente a estrutura do polmero, incluindo a sntese de copolmeros ou polmeros

    naturais modificados. Estas alteraes podem diminuir a toxicidade dos mesmos e tambm

    direcionar as partculas formadas para alvos especficos no organismo (MARCATO et al.,

    2008).

    2.3.1 Aplicaes

    As propriedades das nanopartculas polimricas agregam vantagens s diferentes

    aplicaes destes sistemas, de acordo com cada via de administrao.

    No caso da administrao de injetveis pela via parenteral a funcionalizao qumica

    da superfcie de nanopartculas bastante importante pelo fato de possibilitar mudana da

    hidrofobicidade do polmero e conseqente vetorizao do frmaco, que dependendo das

    modificaes realizadas, podem chegar a atravessar a barreira hematoenceflica, atingindo o

    sistema nervoso central (DUMITRIU, 2002).

    Com relao administrao pela via oral de nanopartculas polimricas, as pesquisas

    tm sido direcionadas principalmente reduo dos efeitos colaterais de certos frmacos,

  • Reviso Bibliogrfica

    13

    destacando-se os antiinflamatrios no-esteroidais, os quais apresentam alta capacidade

    irritante mucosa gstrica, ou proteo de frmacos degradveis no trato gastrintestinal como

    peptdeos, protenas e hormnios, aumentando a biodisponibilidade em ambas as situaes.

    O uso desses nanosistemas por via tpica visa aumentar a estabilidade dos princpios

    ativos, sobretudo para contra fotodegradao e oxidao, alm de a prpria fluidez

    caracterstica dessas suspenses de nanopartculas polimricas contribuir para melhor

    espalhabilidade sobre a pele.

    Esses sistemas polimricos de liberao so amplamente utilizados tambm por

    permitirem uma liberao lenta e gradual do frmaco. No caso dos medicamentos

    convencionais, a concentrao do frmaco comea a aumentar na corrente sangunea at

    atingir um pico mximo que pode algumas vezes ultrapassar os nveis txicos no plasma, para

    ento comear a declinar. J os nanosistemas de liberao controlada mantm a dose

    teraputica em nveis constantes, diminuindo os picos e vales de concentrao plasmtica

    elevando a segurana e economia do frmaco (Figura 5) (DE AZEVEDO, 2005).

    Figura 5. Perfis de liberao de frmacos em funo do tempo: convencional x controlada.

    2.3.2 Mtodos de obteno de nanopartculas polimricas

    Existem duas formas possveis de se obter materiais de tamanho nanomtrico: partido

    de unidades com tamanho menor, que por processo de agregao se unem formando

    partculas maiores, dentro da escala nanomtrica; ou pela reduo do tamanho de partculas

    grandes, at atingir o dimetro desejado e/ou requerido.

    (Fonte: DE AZEVEDO, 2005)

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    14

    As nanopartculas polimricas possuem vrios mtodos de preparo que podem ser

    divididos, mais amplamente, em duas categorias: disperso de polmeros pr-formados e

    polimerizao in situ de monmeros dispersos (SOPPIMATH et al., 2001; SCHAFFAZICK

    et al., 2003).

    2.3.2.1 Obteno a partir de Polmeros pr-formados

    A tcnica de obteno de nanopartculas polimricas a partir de polmeros pr-

    formados baseia-se na disperso de um polmero, natural ou sinttico, de forma que o produto

    obtido adquira tamanho de partcula menor que 1um e forma fsica adequada. Esto descritos

    na literatura os seguintes mtodos (SOPPIMATH et al., 2001, DE AZEVEDO, 2005; REIS et

    al., 2006):

    a) Emulsificao e evaporao de solvente: a fase lipoflica, composta por um

    solvente orgnico voltil (imiscvel com a gua) contendo o polmero e o frmaco

    dissolvidos, emulsificada com a fase aquosa na presena de um tensoativo que

    ser adicionado a uma das fases, dependendo da sua solubilidade. A reduo do

    tamanho das partculas atingida com o uso de um homogeneizador de alta

    presso, o qual promove grande cisalhamento dos glbulos. Aps a formao da

    emulso, o solvente orgnico removido por evaporao, com aumento da

    temperatura e sob presso elevada, quando ocorre a precipitao do polmero e

    formao da nanopartcula polimrica (Figura 6). Para encapsular ativos

    hidroflicos, necessrio adio de leo na fase orgnica e formao de emulso

    mltipla. Faz uso de solvente orgnico e equipamento especializado com custo

    elevado.

    Figura 6. Imagem ilustrativa do mtodo de emulsificao e evaporao do solvente.

    (Fonte: adaptado de REIS et al., 2006)

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    15

    b) Emulsificao espontnea e difuso do solvente: nesta tcnica a fase orgnica

    formada por uma mistura de dois solventes orgnicos, sendo um deles imiscvel e

    outro miscvel em gua. Quando ocorre mistura dessa fase com a gua, o solvente

    miscvel em gua sofre difuso espontnea de uma fase para a outra, conduzindo a

    uma turbulncia interfacial entre ambas e ao colapso das cadeias polimricas,

    reduzindo o tamanho das partculas. Neste momento ocorre a emulsificao na

    presena de um estabilizante e formao das nanopartculas polimricas.

    Finalmente, os solventes orgnicos so eliminados por evaporao (Figura 7). No

    necessita de equipamento de alta energia para a reduo mecnica das partculas,

    porm faz uso de solvente orgnico e de grande quantidade de gua.

    Figura 7. Representao esquemtica do mtodo de emulsificao e difuso de solvente.

    c) Nanoprecipitao ou deslocamento de solvente com deposio interfacial: o

    polmero e o ativo so dissolvidos em um solvente miscvel em gua e a fase

    orgnica vertida sobre a fase aquosa contendo o tensoativo. As nanopartculas

    polimricas se formam por difuso do solvente (separao de fases liquido-liquido:

    uma fase com o solvente e a gua e a outra formada pelo colide) e deposio do

    polmero nas gotculas, com posterior eliminao do solvente sob presso reduzida

    (Figura 8).

    Figura 8. Representao esquemtica do mtodo de nanoprecipitao.

    (Fonte: adaptado de REIS et al., 2006)

    (Fonte: adaptado de REIS et al., 2006)

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    16

    d) Secagem por asperso (Spray-drying): o polmero e o ativo so solubilizados ou

    dispersos em solvente voltil. Em seguida, a mistura aspergido no aparelho

    (spray-dryer), onde uma corrente de ar aquecido evapora o solvente, resultando em

    partculas secas de tamanho reduzido. Como desvantagens observa-se a agregao

    das partculas ou adeso das mesmas ao equipamento e at mesmo modificao da

    estrutura cristalina das substancias devido rpida evaporao do solvente.

    e) Separao de fase: Prepara-se uma soluo de polmero onde o ativo

    solubilizado ou disperso, na qual adicionado um no solvente (normalmente um

    leo). Ocorre ento uma separao de fases lquido-lquido, onde o polmero

    separado para uma das fases. Estes processos de conservao podem ser simples

    (por mudana de pH, forca inica, temperatura) ou complexos (complexao entre

    polieletrlitos de carga oposta). Porm, ocorre muita formao de agregados.

    f) Salting-out: esta tcnica uma modificao do mtodo de emulsificao com

    difuso de solvente, no qual a fase orgnica emulsificada em um gel aquoso

    contendo um agente de salting-out (Figura 9). Excesso de gua ento adicionado

    emulso para que ocorra a difuso do solvente, induzindo a deposio do

    polmero e formao das nanopartculas. Tanto o solvente quanto o agente salting-

    out so eliminados por filtrao.

    Figura 9. Representao esquemtica do mtodo salting-out.

    2.3.2.2 Obteno a partir de Monmeros dispersos

    A produo de nanopartculas polimricas a partir de monmeros dispersos ocorre por

    polimerizao in situ, na qual as reaes qumicas envolvidas so descritas como sendo

    principalmente a polimerizao radical dos glbulos, onde os monmeros so geralmente

    hidrofbicos. Como a via predominante de iniciao da polimerizao pela introduo de

    molculas iniciadoras, o mecanismo aceito para uma obteno bem sucedida de

    (Fonte: adaptado de REIS et al., 2006)

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    17

    nanopartculas por este mtodo pela nucleao dos glbulos. Nesta tcnica o que determina

    a formao das nanopartculas a obteno de uma nanoemulso contendo o monmero, a

    qual servir de suporte para a reao de polimerizao, garantido a manuteno de tamanhos

    submicromtricos.

    Para a produo de nanoesfras, s h descrio na literatura de sua produo a partir

    de nanoemulses formadas por mtodos de alta energia de emulsificao, os quais fazem uso

    principalmente de sistemas de ultrassom e homogeneizadores de alta presso.

    No caso da produo de nanocpsulas, a polimerizao in situ pode ser considerada

    um processo independente do escolhido para gerar a nanoemulso e existem trs caminhos a

    serem seguidos (ANTON et al., 2008):

    a) incluso dos monmeros na fase contnua e do ativador na fase dispersa. Este

    mtodo faz com que o polmero seja sintetizado a partir da fase externa em direo a fase

    interna, formando uma interface polimrica ao redor desta;

    b) monmeros introduzidos na fase dispersa e os ativadores na fase dispersante. A

    reao semelhante, porm em sentido inverso;

    c) adio de monmeros e ativadores em ambas as fases. Ambos iro reagir em

    conjunto induzindo uma policondensao interfacial, a qual deve ter afinidade suficiente com

    a superfcie do glbulo para gerar uma nanocpsula.

    Quando apenas um tipo de monmero utilizado forma-se um homopolmero e, se

    houver mais de um tipo de monmero, formar-se- um copolmero, como mostra a Figura 10

    (ANTON et al., 2008; DE AZEVEDO, 2005).

    Figura 10. Representao do mtodo de copolimerizao interfacial para formao de

    nanocpsulas.

    (Fonte: DE AZEVEDO, 2005)

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    18

    Como as tcnicas de obteno de nanopartculas polimricas a partir de polimerizao

    in situ sempre requerem a produo de uma nanoemulso para servir de suporte reao,

    diversos mtodos podem ser desenvolvidos com a associao de diferentes monmeros e

    processos de emulsificao variados. Sendo assim, a forma como as nanoemulses so

    produzidas influenciam sobremaneira os produtos obtidos.

    Basicamente, nanoemulses so emulses que possuem gotculas com dimetro entre

    20 e 500 nm (FORGIARINI et al., 2001; FERNANDEZ et al., 2004) e so considerados

    sistemas metaestveis, cuja estrutura dependente do processo utilizado em sua preparao.

    So passveis de sofrerem diluio, mantendo a sua estrutura inicial, principalmente em

    relao ao tamanho dos glbulos (MORALES et al., 2003). Alm disso, no requerem altas

    concentraes de tensoativos (entre 3,0 a 10%) comparado s microemulses na qual a

    concentrao destes pode chegar a 20% (BOUCHEMAL et al., 2004; IZQUIERDO et al.,

    2004).

    A estrutura das nanoemulses consiste em gotculas da fase dispersa (ou interna)

    rodeada pela fase contnua (dispersante ou externa). Pode ser classificada de acordo com a

    composio dessas fases em gua em leo (A/O), na qual gotculas da fase aquosa esto

    dispersas na fase dispersante oleosa; ou leo em gua (O/A), quando a fase contnua

    composta por gua e as gotculas da fase dispersa so oleosas, conforme na Figura 11

    (FORGIANINI et al., 2001; TADROS e VINCENT, 1983)

    Figura 11. Representao esquemtica de (a.) tensoativo, (b.) nanoemulso O/A e (c.)

    nanoemulso A/O.

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    19

    Possuem trs fases em sua composio: aquosa, oleosa e a de tensoativos. As duas

    primeiras fases so estabilizadas cineticamente pelos agentes tensoativos, capazes de diminuir

    tenso interfacial do sistema e formam um filme interfacial com propriedades estricas e

    eletrostticas em torno dos glbulos da fase interna (CAPEK, 2004)

    A granulometria do sistema tambm previne o fenmeno da coalescncia, pois esses

    glbulos no so facilmente deformveis. Alm disto, a espessura do filme interfacial

    (relativo ao tamanho do glbulo) previne que a diminuio natural do mesmo no seja

    significativa, o que levaria ao rompimento do glbulo (BOUCHEMAL et al., 2004;

    FERNANDEZ et al., 2004; TADROS et al., 2004; SONNEVILLE-AUBRUN et al., 2004;

    IZQUIERDO et al., 2004).

    Existem basicamente dois mtodos de emulsificao que esto relacionados com a

    energia consumida para a reduo das gotculas at a escala nanomtrica.

    a) Mtodos que empregam alta energia de emulsificao

    Esses mtodos utilizam alta energia mecnica imposta ao sistema para gerar foras

    capazes de deformar e quebrar as gotculas da fase interna em glbulos menores pela

    superao da presso de Laplace (FERNANDEZ et al., 2004).

    A preparao das nanoemulses por esse mtodo acontece em duas etapas: primeiro as

    fases aquosa e oleosa so aquecidas separadamente e emulsionadas com um homogeneizador

    de alta rotao, originando uma emulso primria com gotculas entre 500 a 1000 nm. O

    dimetro da gotcula reduzido progressivamente na segunda etapa atravs de

    homogeneizadores de alta presso at valores entre 100 e 300 nm (BIVAS-BENITA et al.,

    2004).

    Os principais equipamentos utilizados so:

    a) Homogeneizadores de alta presso: bomba de deslocamento positivo a qual injeta

    o lquido a ser homogeneizado sob presso elevada em uma vlvula

    homogeneizadora (LACHMAN et al., 2001);

    b) Microfluidizadores: cmara de interao onde o fluido injetado e homogeneizado

    por corte, impacto e cavitao (LIEDTKE et al., 2000);

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    20

    c) Ultrassonicadores: o fluido conduzido atravs de um orifcio de dimetro

    reduzido com presso moderada e orientado em direo de uma lmina vibratria,

    onde sofre impacto. Quando o sistema atinge uma fase estacionria, entra em

    cavitao e a vibrao das ondas ultrassnicas exercem efeito cortante, reduzindo o

    tamanho das gotculas (BOLDYREV, 1995)

    Contudo, estes equipamentos so complexos e demandam alto investimento por parte

    das empresas, o que torna a viabilidade comercial limitada. Alguns autores relataram ainda

    que o ultrassom provoca aquecimento excessivo da amostra e contaminao com resduo de

    titnio proveniente da sonda. Por outro lado, estas tcnicas permitem melhor controle da

    granulometria e ampla escolha dos constituintes da formulao (LIU e BROWN, 1996;

    FERNANDES et al., 2004, TADROS et al., 2004; FERNANDEZ et al., 2004;

    SONNEVILLE-AUBRUN et al., 2004).

    b) Mtodos que empregam baixa energia de emulsificao

    Nesses mtodos, as propriedades fsico-qumicas do sistema e a inverso espontnea

    na curvatura do tensoativo so dirigentes para obteno dos glbulos de tamanho reduzido

    (SAJJADI, 2006; SHINODA e SAITO, 1968).

    A inverso de fases resulta, principalmente, da mudana da solubilidade do tensoativo

    e, para tensoativos no inicos polietoxilados, pode ocorrer em funo da mudana da

    temperatura (transicional) ou por alterao da frao volumtrica (catastrfica), como

    mostrado na Figura 12 (FERNANDEZ et al., 2004). De acordo com CHOI e colaboradores

    (1997) esta caracterstica funo do equilbrio entre a solubilidade da cadeia hidrocarbnica,

    estabilizada por fora de van der Waals e por interaes hidrofbicas, e a solubilidade da

    regio hidroflica.

    (Fonte: adaptado de FERNANDEZ, et al., 2004)

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    21

    Figura 12. Ilustrao esquemtica dos dois tipos de inverso de fases para a preparao de

    nanoemulses O/A finamente dispersas. A linha preta slida marca o local de inverso e as

    linhas pontilhadas a zona de histerese.

    Na zona de formulao tima e nas regies de inverso a tenso interfacial mnima e

    a nanoemulso final deve manter-se longe dessas regies para aumentar sua estabilidade.

    Os dois mtodos de inverso de fases so descritos a seguir:

    a) Inverso de fases pela temperatura (do ingls: PIT Phase Inversion

    Temperature): com o aumento da temperatura, os grupos epxidos, responsveis

    pela caracterstica hidroflica do tensoativo, desidratam-se (ou seja, as pontes de

    hidrognio entre os tomos de oxignio desses grupos e os tomos de hidrognio

    da gua deixam de ocorrer), modificando sua afinidade pelas fases aquosa e

    oleosa. Com isso, tensoativos com valor de EHL de 12,0 (que origina emulso

    O/A) podem, com o aquecimento, alterar seu valor para 5,0 (caracterstico de

    emulso A/O). medida que o sistema sofre resfriamento, as pontes de hidrognio

    so reorganizadas gradualmente e o valor de EHL aumenta, invertendo a emulso

    de A/O para O/A (Figura 13). Neste momento de inverso o tensoativo passa por

    um ponto de curvatura zero e promove tenso superficial mnima, o que predispe

    a formao de emulses (MORAIS, 2006; FERNANDEZ et al., 2004; SALAGER

    et al., 2004; TADROS et al., 2004).

    Figura 13. Representao esquemtica do mtodo de inverso de fases pela temperatura.

    (Fonte: adaptado de SPERNATH e MAGDASSI, 2007)

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    22

    b) Inverso de fases pela alterao da frao volumtrica (do ingls: EPI Emulsion

    Phase Inversion): quando se adiciona sucessivamente a fase aquosa fase oleosa,

    os glbulos de gua so formados em uma fase continua (microemulso ou fase

    bicontnua A/O) devido alta razo deste no incio do processo. Com o aumento

    do volume de gua ocorre uma inverso espontnea na curvatura do tensoativo,

    invertendo a emulso de A/O para O/A (Figura 14) Este processo ocorre em

    sistemas no qual o tensoativo forma monocamadas flexveis na interface

    gua/leo, formando uma microemulso (fase bicontnua) ou fase lquido-

    cristalina no ponto de inverso (MARSZALL, 1987; FERNANDEZ et al., 2004;

    SALAGER et al., 2004; TADROS et al., 2004).

    Figura 14. Representao esquemtica do mtodo de inverso de fases pela alterao

    volumtrica, onde O corresponde fase oleosa e A corresponde fase aquosa.

    Quando a adio de gua iniciada, formam-se gotculas de gua em uma fase de leo

    continua. As estruturas invertidas se unem e do origem fase bicontnua e estruturas

    lamelares que finalmente se decompem em partculas submicromtricas.

    TADROS e colaboradores (2004) afirmam que o valor da tenso superficial depende

    da natureza do leo e do tensoativo usado, e que molculas com menor peso molecular de

    tensoativos no inicos produzem tenso superficial mais baixa que surfactantes polimricos.

    Na prtica, utiliza-se uma mistura de tensoativos para evitar os efeitos da diminuio da

    tenso superficial, sendo necessria uma menor quantidade dos tensoativos, devido atuao

    sinrgica entre eles.

    (Fonte: adaptado de FERNANDEZ et al., 2004)

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    23

    2.4 MANTEIGA DE MURUMURU

    Abundante na regio amaznica brasileira alcanando at a fronteira com Bolvia e

    Peru, a palmeira Astrocaryum murumuru, que d origem aa manteiga de murumuru, mais

    encontrada nas reas periodicamente inundadas e em formaes florestais densas ou semi-

    abertas. As comunidades amaznicas conhecem as propriedades fibrosas de suas folhas e

    estipe, seu palmito e leo comestveis (LORENZI et al., 1995; MIRANDA et al., 2001).

    Seu tronco, folhas e cachos de frutas so recobertos por espinhos de cor preta, duros e

    resistentes, e no tronco podem alcanar mais de 20 cm de comprimento. Por isso, apesar de

    seu potencial econmico, uma espcie ainda pouco explorada comercialmente pela

    dificuldade da colheita desse fruto e de seu manuseio. Ao amadurecer, o cacho de frutos cai

    inteiro no cho e muito apreciado como alimento pelos roedores. O caroo possui uma casca

    lenhosa e, ao secar, possibilita separar a casca da amndoa (Figura 15), constituda de uma

    massa branca e dura. Geralmente, 100 kg de caroo seco rendem entre 27 e 29 kg de

    amndoas. Para evitar a deteriorao no processo de armazenamento, elas so submetidas a

    um processo de secagem at alcanar valores de 5 a 6% de umidade. Das amndoas pode-se

    obter entre 40 a 42% de leo. Um p de murumuru rende at 3,8 litros de manteiga de

    murumuru atravs do processo de moagem com discos seguida da extrao hidrulica

    (PESCE, 1941).

    Figura 15. Foto das amndoas da planta Astrocaryum murumuru.

    (Fonte: http://naturaekos.c3po.visie.com.br/biodiversidade/ativos-biodiversidade/murumuru/murumuru/, acesso em fevereiro de 2011)

  • Reviso Bibliogrfica

    24

    Por ser uma planta fibrosa tambm utilizada em grande quantidade na indstria txtil

    e de papel e celulose (ROCHA et al., 2007).

    O uso farmacutico e cosmtico da manteiga est relacionado com as propriedades

    altamente nutritivas, emoliente e hidratante ao cabelo e possibilita a recuperao da umidade e

    elasticidade natural da pele, sendo utilizada em xampus, condicionadores, cremes e loes

    hidratantes, sabonetes, batons e desodorantes (AMAZON OIL INDUSTRY).

    Alm dos benefcios da prpria planta, a aquisio de produtos que so produzidos

    somente pelas comunidades da regio amaznica fortalece a economia local aumentando as

    possibilidades de ganho de renda, impedindo a deteriorao das comunidades locais e da rica

    herana cultural que eles possuem (BIRD, 2006).

    2.4.1 Composio e dados fsico-qumicos da manteiga de murumuru

    A manteiga de murumuru uma gordura rica em cidos lurico, mirstico e olico. O

    fruto contm uma gordura branca, inodora, sem sabor especial com vantagem de no ranar

    facilmente, pois rica em cidos graxos saturados de cadeia curta com cidos lurico e

    mirstico. Apresenta boa consistncia devido ao ponto de fuso ser mais elevado (32,5C) que

    o do cco e do dend, por exemplo, tendo papel importante na mistura com outras gorduras

    em produtos que necessitem de uma consistncia mais firme em locais de temperatura mais

    elevada, como no caso do chocolate.

    A gordura do murumuru possui baixa acidez, principalmente quando preparada com

    amndoas frescas, o que se torna grande vantagem, pois diminui custos de refinamento

    (AMAZON OIL INDUSTRY).

  • 3. Objetivos

  • Objetivos

    26

    3 OBJETIVOS

    3.1 OBJETIVO GERAL

    Produzir e caracterizar nanocpsulas polimricas a partir da polimerizao in situ de

    nanoemulses obtidas por inverso de fases, com uso de manteiga de murumuru e de

    monmeros derivados de acrilatos. Caracterizar as nanopartculas obtidas, assim como o

    polmero formado.

    3.2 OBJETIVOS ESPECFICOS

    Desenvolvimento da emulso com de manteiga de murumuru;

    Preparao de nanoemulso atravs do mtodo de inverso de fases contendo ou no

    um marcador;

    Desenvolvimento de nanopartculas polimricas por polimerizao in situ a partir das

    nanoemulses com ou sem o marcador;

    Caracterizao fsico-qumica dos sistemas nanoestruturados desenvolvidos;

    Caracterizao fsico-qumica do polmero formado;

    Avaliao dos perfis de liberao in vitro do marcador veiculado nos nanosistemas

    visando administrao por via tpica.

  • 4. Materiais e Mtodos

  • Materiais e Mtodos

    28

    4 MATERIAIS E MTODOS

    4.1 MATERIAIS

    Fase aquosa: gua ultrapura (Milli-Q)

    Fase oleosa: manteiga de murumuru Crodamazon Murumuru (Tabela 2) (Croda

    do Brasil Campinas/SP)

    Tabela 2. Especificaes da manteiga de murumuru

    Caractersticas Especificaes

    Aparncia (Temperatura ambiente) Slido ceroso

    Cor Branco a creme

    Odor Caracterstico

    Ponto de fuso 29,5 C

    ndice de Refrao 1,4536

    ndice de Iodo 12,73 gI2/100g

    ndice de Saponificao 238,85 mgKOH

    ndice de acidez (acido olico) 6,46 mgKOH

    ndice de Perxido 3,16 meq/1000g

    Tensoativos:

    Isoestearato de sorbitano Sorbitan Isostearate Crill 6 (Figura 16).

    EHL=4,7 (Croda do Brasil Campinas/SP)

    Figura 16. Frmula qumica do isoestearato de sorbitano.

    Monooleato de sorbitano etoxilado 20 EO Polysorbate 80 Tween 80

    (Figura 17). EHL=15 (Prquimios)

    (Fonte: CRODA DO BRASIL, 2010)

  • Materiais e Mtodos

    29

    Figura 17. Frmula qumica do monooleato de sorbitano etoxilado 20 EO.

    leo de mamona hidrogenado etoxilado 40 EO PEG-40 Hydrogenated

    Castor Oil Croduret

    50 Special. EHL=14,1 (Croda do Brasil

    Campinas/SP)

    Monmero: Acrilato de 2-etilhexila (2-EHA) 2-Ethylhexyl Acrylate (Figura 18)

    (BASF)

    O

    O

    Figura 18. Frmula qumica do monmero acrilato de 2-etil hexila.

    Catalisadores de polimerizao:

    Sulfato Ferroso (Prquimios)

    Persulfato de potssio (Merck Brasil)

    Solventes e outros materiais:

    Metanol P. A. grau CLAE (Tedia)

    Filtro de Membrana Milex 0,45 m (Millipore)

    Carvo ativado em p P. A. (Dinmica)

    lcool etlico absoluto P. A. (Vetec Qumica Fina)

  • Materiais e Mtodos

    30

    Marcador qumico: Metoxicinamato de octila (OMC) Ethylhexyl

    Methoxycinnamate (Figura 19)

    Amostra: Neo Heliopan AV (H&R), fornecido pela Galena, lote 4075105

    Padro: fornecido pela Sigma, lote BCBD2716

    Figura 19. Frmula qumica do metoxicinamato de octila.

    4.2 MTODOS

    4.2.1 Desenvolvimento da nanoemulso O/A com manteiga de murumuru

    4.2.1.1 Tcnica de preparao das emulses

    As formulaes foram preparadas atravs do mtodo inverso de fases descrito por

    MORAIS e colaboradores (2006). Esta tcnica consiste em aquecer separadamente as fases

    oleosa e aquosa at a temperatura de 852C e verter lentamente a fase aquosa sobre a fase

    oleosa, sob agitao constante entre 550 a 600 rpm utilizando um agitador mecnico (Fisaton

    713D), mantendo essa agitao at o resfriamento das amostras temperatura ambiente

    (253C).

    A fase aquosa foi composta por gua ultrapura e a fase oleosa por manteiga de

    murumuru e pelo sistema de tensoativos.

    4.2.1.2 Estudo de determinao do valor EHL requerido da manteiga de murumuru

    Visando obter uma emulso O/A estvel, foi utilizado o par de tensoativos monooleato

    de sorbitano etoxilado 20 EO e isoestearato de sorbitano, variando a proporo entre eles, j

    que os valores de EHL (Equilbrio Hidrfilo-Lipfilo) de cada um so bastante diferentes. As

    propores de cada tensoativo foram calculadas para obter valores de EHL dentro da faixa de

    5,0 a 14,0, segundo metodologia padronizada (ICI AMERICAS INC., 1976; EGITO et al.,

    2002), com concentrao inicial do par de tensoativo na disperso de 5,0 % (p/p) e de 10%

    (p/p) de manteiga de murumuru.

  • Materiais e Mtodos

    31

    Aps a seleo de uma formulao aparentemente mais estvel, as faixas de valores

    foram diminudas para 0,2 pontos acima e abaixo do valor de EHL correspondente a esta.

    Para o calculo foram utilizadas as equaes 1a e 1b:

    (EHLTH x %TH) + (EHLTL x %TL)]/100% = EHLFinal (1a)

    %TH + % TL = 100% (1b)

    onde: EHLTH: Valor de EHL do tensoativo hidroflico.

    EHLTL: Valor de EHL do tensoativo lipoflico.

    EHLFinal: Valor de EHL da mistura final.

    %TH: Porcentagem do tensoativo hidroflico na mistura.

    %TL: Porcentagem do tensoativo lipoflico na mistura.

    Tabela 3. Porcentagem de proporo dos tensoativos na mistura em funo do EHLFinal

    EHLFinal %TH* %TL

    **

    5 2,91 97,09

    6 12,62 87,38

    7 22,33 77,67

    8 32,04 67,96

    9 41,75 58,25

    10 51,46 48,54

    11 61,17 38,83

    12 70,87 29,13

    13 80,58 19,42

    14 90,29 9,71

    Legenda: EHLFINAL = valor de Equilbrio Hidrfilo-Lipfilo requerido pela manteiga de murumuru, %TH = porcentagem (p/p) do tensoativo

    hidroflico, %TL = porcentagem (p/p) do tensoativo lipoflico.

    *TH corresponde ao tensoativo hidroflico monooleato de sorbitano etoxilado 20 EO

    **TL corresponde ao tensoativo lipoflico isoestearato de sorbitano

    4.2.1.3 Preparao da nanoemulso

    A partir da determinao do valor de EHL requerido da manteiga de murumuru, foi

    iniciado o desenvolvimento das nanoemulses.

  • Materiais e Mtodos

    32

    Primeiramente, foi desenvolvida uma nanoemulso base com a manteiga de murumuru

    utilizando a tcnica descrita no item 4.2.1.1 de emulsificao por inverso de fases, conforme

    a seguinte composio.

    Componentes % (p/p)

    Manteiga de murumuru 10

    Sistema de tensoativos 10

    gua destilada 80

    Para o desenvolvimento da nanoemulso, foi utilizado o par de tensoativos na

    concentrao de 10% (p/p), composto por isoestearato de sorbitano e leo de mamona

    hidrogenado etoxilado 40 EO, segundo os trabalhos de MORAIS e colaboradores (2006) e

    AGUIAR (2010).

    No momento de preparao, dois aditivos foram incorporados nanoemulso base:

    metoxicinamato de octila (marcador qumico para os testes in vitro) e monmero acrilato de

    2-etilhexila (para produo das nanocpsulas). Em triplicata foram preparadas as formulaes

    com as composies descritas na Tabela 4

    Tabela 4. Composio das formulaes em porcentagem (p/p)

    Formulaes

    Fase oleosa

    gua

    ultrapura Manteiga

    de

    murumuru

    Tensoativos

    Marcador* Monmero

    **

    Nanoemulso base 10 10 - - 80,00

    Nanoemulso base com

    OMC 10 10 7,5 - 72,50

    Nanoemulso base com

    monmero 10 10 - 5 75,00

    Nanoemulso base com

    monmero e com OMC 10 10 7,5 5 67,50

    *Marcador corresponde ao metoxicinamato de octila (OMC).

    **Monmero corresponde ao acrilato de 2-etil hexila.

    Foram produzidas 30 g de cada formulao.

    Para empregar o monmero acrilato de 2-etilhexila (2-EHA), o mesmo foi

    anteriormente filtrado em uma coluna de carvo ativado para a retirada do inibidor de

    polimerizao ter monometlico da hidroquinona (MeHQ) (MCENTIRE e NIEH, 1983),

  • Materiais e Mtodos

    33

    presente no produto para evitar possvel autopolimerizao durante o perodo de

    armazenamento.

    4.2.2 Avaliao da estabilidade das disperses

    Para avaliar a estabilidade das disperses foram retiradas alquotas de 3,0 mL de cada

    formulao imediatamente aps sua manipulao, acondicionadas em tubos de ensaio,

    vedadas com parafilme e mantidas em repouso, temperatura ambiente. Apenas as amostras

    consideradas estveis prosseguiram com os testes de estabilidade.

    4.2.2.1 Anlise macroscpica

    Aps vinte e quatro horas da manipulao as formulaes foram analisadas

    (estabilidade intrnseca) segundo ROLAND e colaboradores (2003). Foram avaliadas as

    caractersticas organolpticas e a homogeneidade da formulao, pesquisando possveis sinais

    de instabilidade como cremeao, floculao e/ou separao de fases. Aspectos fsicos, como

    fluidez, reflexo azulado e translucncia tambm foram avaliados. As formulaes com valores

    de EHL que se mantiveram homogneas foram consideradas estveis.

    4.2.2.2 Anlise microscpica

    Uma gota de amostra a ser analisada foi colocada sobre lamina de vidro e coberta com

    uma lamnula. Utilizando um microscpio (Opton - mod. TNB-04T-PL), avaliou-se a

    homogeneidade das formulaes sob incidncia de luz normal e atravs de luz polarizada para

    estudo da anisotropia e investigar a presena de estruturas birrefringentes, como cristais

    lquidos (SANTOS, 2006). As anlises foram realizadas temperatura ambiente (253C).

    4.2.2.3 Anlise da estabilidade das formulaes sob centrifugao

    Foram pesadas 5 g das formulaes em um tubo de ensaio graduado para centrfuga e

    submetidas centrifugao no equipamento Excelsa BABY I 206 R (Fanem Ltda) 3000 rpm

    (805 g) por trinta minutos temperatura ambiente (253C), segundo o Guia de Estabilidade

    de Produtos Cosmticos publicado pela ANVISA (2004). Ao fim deste processo, uma nova

    anlise macroscpica foi realizada. A amostra deve permanecer estvel e, no caso do

    aparecimento de qualquer sinal de instabilidade, o produto dever ser reformulado, e quando a

    estabilidade for mantida, deve-se considerar que a formulao estvel (MORAIS et al.,

    2006).

  • Materiais e Mtodos

    34

    4.2.2.4 Determinao do tipo de emulso

    Foi realizado o teste de diluio (KNOWLTON e PEARCE, 1993; SILVA et al., 1996;

    MASSARO et al.; 2003) que consiste na determinao da solubilidade da fase externa das

    emulses em dois solventes: gua e leo mineral. Pesou-se 1,0 g das formulaes em um tubo

    de ensaio e adicionado 9,0 g do solvente. Com o auxilio de um vrtex modelo MS 1

    minishaker (Ika) a mistura foi homogeneizada e depois mantida em repouso por 5 minutos.

    A emulso considerada solvel em gua quando forma uma fase homognea e sem

    grumos, sendo classificada como emulso O/A. A emulso que formar uma fase homognea e

    sem grumos em leo ser considerada emulso A/O.

    4.2.3 Determinao da temperatura correspondente ao ponto de inverso de

    fases atravs da medida da condutividade

    A temperatura em que ocorre a inverso de fases para a produo das nanoemulses

    foi determinada com o auxlio do condutivmetro modelo CD-820 (Instrutherm). Aps a sua

    obteno, a amostra de nanoemulso foi gradualmente aquecida em chapa eltrica, sob

    agitao magntica e temperatura monitorada por um termmetro a cada intervalo de 1 grau,

    partindo da temperatura ambiente (252C).

    A