Parnaso Maranhense

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    vr.M), :

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    T;p.

    doPROGRESSOr.

    de Sanei nua, i9 |

    Impresso por

    B .

    de Mattos,

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    P R L O G O .

    S endo de ha muito sentida a necessidade de

    colleccionar-se em um volume as poesias escri-

    plas por filhos d'esta Provncia, resolveram en

    tre si alguns amigos, em meiados do anno pr

    ximo findo, levar a effeito to bella quanto til

    idia; e, constitudos em uma commisso dire-

    ctora, comearam desde logo a pr por obra a

    resoluo tomada, j dirigindo communicaes

    e convites aos que os quizessem auxiliar em

    to ba empresa e j procurando com empe

    nho a acquisio de autographos inedictos e de

    publicaes anteriormente feitas.

    A commisso, que pom o trabalho , que o ra

    offerece considerao dos leito res, menos teve

    em vista

    dar a

    lume

    tuna

    colleco de superio-

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    res produces a modo das que compem o

    Parnazo Lusitano, do que reunir em um livra

    a maio r copia de versos escrlpto s po r filho s

    d 'esta P rovncia,, no s para salvar a muitos

    do o lvid o , seno tambm para que po r esse

    meio se to rnasse bem patente a tendncia e par-

    ticular aptido, que existe entre ns para esse

    ramo litterario

    >

    fico u muito satisfeita e animada

    com o bom e geral acolhimento, que a idia

    recebeu, j n'esta e j em outras Provncias.

    A commisso eutendeu que o volume devia

    ser intitulado P arnaso Maranhense visto co

    mo nenhuma designao melhor convinha na-

    turesa e fim da o bra; e assim tambm julgou

    muito acertado applicar as lucros, que por ven

    tura possam provir da publicao emprehendi-

    da, em favor da eschola agrcola do Cutim, at-

    tendendo a que esse estabelecimento de sum-

    mo interesse para a nossa terr a e carece d e

    todo o auxilio.

    Na ordem da publicao das poesias pareceu

    melhor commisso seguir a alphabetica, afim

    de que nenhuma Susceptibilidade ficasse ofen

    dida com a precedncia na collocao.

    Bem longe est a Commisso de suppor que

    o seu trabalho em tudo perfeito e completo;

    mas resta-lhe a convico,

    de

    se no ter poupa

    do a esforos e fadigas para conseguir do me

    lhor modo o seu desderrttim.

    A

    Sabe a commisso qu. alem das poesias

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    agora colleccionadas, muitas existem que po

    d iam fazer parte d o vo lume; mas no pde hav-

    los ou po r excesso d e acanhamento d e seus

    auetores ou por falta das pessoas, que as co

    nheciam e podiam olferec-las, e menos espe

    ra-las porque esta publicao j tem sido muito

    demorada.

    To d avia, a Co mmisso, na esperana d e ad

    qu iri-las, esl resolvid a a reser va-las para um

    segundo volume, que deseja publicar e para o

    qual ped e d esde j a pr o teco , o apo io, que

    l o benevo lamente foi prestad o ao prim eiro .

    Maranho , 1 d e Julho d e 1801.

    A COMMI S S O

    Centil Homem

    de

    Almeida Bvaija.

    Antnio Marques fodritjue*.

    Itmjmundo de Brito Com esdeSaum,

    .Liti:- Antnio Vieira da Silra.

    Joaquim Sena.

    Joaquim du Costa Barradas,

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    tt "SlIyLffiw tf.ttiw

    S O D O L O S

    R I O S .

    ^TriuV.

    Ao

    Ks\)a\\\voV

    \i

    Lot

    An

    V''".")

    Junto i.s margens dos rios

    De R ubiluiiia a d escanlar sentado s

    P assado s d esvario s,

    Escravos, affligidos c cansados

    Choramos ternamente

    Com a memria de Sio ausente.

    Os doces inslrufqcntos

    Que o senhor das batalhas j louvaro

    Em tempos mais contentes

    E que nossas viclorias celebraro;

    Quando presos ficamos,

    Aos salgueiros cxlrauhos penduramos.

    1

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    Nossos donos por tlila,

    Ou | or curiosidade ou por vingana

    Ou porque em lal desdita

    Tambm piedade ao vencedor alcana,

    Cantai, cantai dissero;

    Com que mais nossas lagrimas crescero.

    E os que condusio

    Caplivos nossos filhos c m ulhere s,

    Os hymnos nos pedo,

    Que augmenlavo por l nossos praseres;

    E em casos to adverso?,

    Os canto s de Sio, o s tristes versos1

    Mas, cm nesposta, ns

    A seos ro gos, chorand o , respond emos:

    Como pretendeis vs

    Que, a rojar ferros, mseros cantemos

    IN esta infeliz cad eia

    Versos da ptria amada em terra alheia ?

    Se de ti me olvidar,

    Doce Jerusalm, agora ou logo

    E longe de li cantar,

    tlyrre-se, pois cedeo fora ou rogo

    A mo que as co rd as to ca,

    Quando lal sorle lagrimas provoca.

    E se, cantando, der

    Signal de que perdi toda a tiiemoriu;

    Em quanto assim viver

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    Cidade saneia, ausente dessa gloria

    A lngua se me apegue

    Na garganta, e respirar me negue.

    Nem justo que se diga

    Que eu possa haver jamais contentamento

    Entre gente inimiga;

    Antes prefiro a lodo o sentimento

    E at vida cara,

    Ver-te feliz, Jerusalm prcclaia

    Tu no entanto, rei divino,

    O castigo prepara ao ldumeo,

    Que sond o -no s visinho,

    No acud io-no s, antes ao chaldeo

    Auxiliou no dia

    Em que a liisle cidade nos rendia.

    E com voz arrogante,

    Mostrando cm nosso mal sco dio injusto,

    Ia a bradar diaule:

    Arrasai, d estrui, sem d , sem susto :

    Nem deixe vossa espada

    P ed ra, que tor ne a ser edificada

    Tu, Babilnia, agora

    Tiinnipha Ueos marcar leo dia

    Abenoada a hora

    Em que pagues to barbara ousadia

    Ditoso quem viver

    E

    o

    capito que tal vingana houver

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    A

    ts-E qual j nos fizestes,

    Das mes o s temo s filho s arrancand o ,

    Ho de fazer a estes,

    Que tendes caros; ho-de, os pacs olham

    Travar das louras trancas

    Para arrojai-os contra agudas lanas.

    E S T N C I A S .

    Tu no queres ligar-te commigo,

    Que me fosses mulher finfamara .

    E' tua casa lio sangue to clara,

    Qus eu me honrasse de unir-me co mligo? . .

    s acaso o pura lindeza,

    Que eu no possa tua mo apertar?.

    Mas teos olhos com menos pureza

    Outros olhos j vi afagar

    E esses lbios que a jura de esposa

    Para mim no dario no altar,

    Nesses lbio s algum j no ousa

    Algum beijo de amor estampar ?

    Pobre louca, que o orgulho atormenta.

    Despe a bronca vaidade que tens;

    Nem a mim teo amor me eontenla,

    Nem me lerem teos falsos desdeiiSi

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    Sei amar ; mas a l i . . . no so ube ia;

    Sei soTrcr; mas por l i . . . . tobem no;

    De te ama r nenhum go sto t ivera,

    De perd e r - lc nenhum a afflio .

    O mco no mo , que engeilas vaid o sa,

    Que de i l lusl res avs no herdei ;

    Cobre ao menos pobreza o rgulhosa ,

    Qnc eu comligo jamais par t i re i

    No te assnste esse fado Ir islonho,

    No Ic deixes vencer d.i afflio, -

    Vive cm paz . . . que eu no que r o , no so nh o ,

    Ter a posse do leo co rao .

    Mas se acaso uma sorte medonha,

    Vio len tar -me por U a d a r a is ,

    Possa ao menos mocre r de ve rgonha ,

    Quem de amor no mo r r e r a j ama is

    B ahia Maio d e

    C A N O

    fTviuX. ilo &\\tm&6

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    Tens os mais bellos dos olhos.

    Amor, que desejas mais?

    E sobre esses olhos bello s

    J de carmes immortaes

    Tenho composto volumes. . . .

    Amor, que desejas mais?

    E com esses olhos bellos,

    At no quereres mais,

    Tens-me posto d epe nd ur a.. .

    Amor, que desejas mais?

    S O N E T O .

    B aixei veloz, queao tumido elemento

    A voz do naula experto, afoito entrega,

    Demora o curso teo, perto navega

    Da ter r a, o nde me fica o pensamento .

    Em quanto vais eortando o salso argento

    Desta praia feliz no se despega,

    Meos olhos, no, que amargo pranto os rega,

    Minha alma, sim, e o amor que meo tormento.

    Daixel, que vaes fugindo despjcdado,

    Sem temor dos contrastes da procella,

    Volta ao menos, qual vaes, to apressado;

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    Enconlre-a eu gentil, mimosa e bella,

    E o pranto que ora verto amargurado,

    Possa eu verter feliz no seio delia.

    1 8 1 8 .

    ESTNCIAS.

    1.

    O nosso ndio errante vaga;

    Mas por onde quer que v,

    Os ossos dos seus carrega;

    Por isso, onde quer que chego,.

    Da vida n'amplo deserto,

    Como que a ptria lom perto,

    Nunca dos seus longe est

    II.

    Tem para si quo a poeira

    *aquelle que choram morto,

    Quando a alma j descana

    Da eternid ade no po ito ;

    Nenhures est melhor

    Do que na urna grosseira,

    Que a cada momeulo enchergam,

    Que de instante a instante regam

    Com seu prantear d amor

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    *8

    III.

    Ando, como elle, incessante,

    Forasteiro, vago, errante,

    Sem prprio abrigo, sem lar,

    Sem ler uma voz amiga,

    Que em minha afflio me diga

    Dessas palavras que fazem

    Adr no pei to abrandar

    E sei que mo rr este filha

    Sei que a dr de te perder

    Em quanto eu for vivo, nunca,

    Nunca se hade esvaccer

    Mas qual leu jasigo, e onde

    Jasem teus restos mortacs

    E sse logar que le esco nd e,

    No vi, no verei j mais .

    IV.

    No sei se abi nasce a rclva,

    Se algum arbusto s*inflora,

    A cada nova estao;

    Seacada nascer da aur o ra,

    O orvalho lagrimas chora

    Sobre esse humilde torro ?

    Se abi nasce o triste gojvo,

    Ou s espinhoseabrolho s;

    Ou se tambm de alguns olhos

    Recebes pia oblao

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    V.

    Sei que o pranto que se verte

    Longe do morto, no basta

    E' pranto que a dr no gasta,

    Que nenhum alivio traz

    Sfi que ao partir me d vida,

    Minha alma andar perdida

    Pura saber onde ests

    VI.

    Irei sobre o leu scpulchro

    Chorar o meu ultimo adeos,

    Depois, remontando aos ecos,

    Direi a Deos: Aqui estou

    Tu, d'entrc o coro dos anjos

    Dos serafins rcsplendenles,

    Ento as azas candentes,

    Que a vida no maculou,

    Dcsprcga c meiga e humilhada

    Ao llirono do Eterno vae,

    E na linguagem dos anjos,

    Dize a Jesus: E' meu pae

    VII.

    E lle humanou-se quiz ser

    Filho lambem da muHier,

    Mas d*lioinem, "no: porque os ceos

    No tinham bastante espao

    Para um homem pae de Deos

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    Bem sabe elle quanta gloria

    Sente o pae que um anjo tem

    Julgar que, pois perdida

    Teve uma filha na vida,

    No a perca l tambm.

    H de Maio 1861.

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    A .

    u .

    R O D R I G U E S .

    A R E V I S T A N O C T U R N A .

    l^i.lo.vo tU leAYiH.**}

    A meia no i te , q innd o to d o s d o rm em,

    E ladra lua o sol i t r io co,

    Onveni-se rufos: um tambor est ranho

    Acorda os mor tos que en te r rados so

    Das negras campas apressadas snrg.mi

    Hostes guerreiras, que t iveram fim:

    A caix.i rufa r epetid o s ru fo s,

    Helumbaao longe o marcial clar im.

    Da Itlia bella no.s fecundos campos,

    Da Rssia fr ia no terreno atroz,

    No Egypto ardente, na br iosa Hespanh>,

    Repetem chos do inst rumento a voz.

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    Mais extremosas, delicadas virgens,

    Trazei as palmas, as cheirosas flores:

    Croai a Ptria que sorri alegre,

    Que dia CS-J'rana,que nos diz amores.

    Deus,,

    e Ptria, e virtude,, e grandes feitos,.

    Honraram nossos-pais,, os nossos bravos:

    Soeegados-

    na-,

    pa*, fotH&s iw guerra,

    Viveram livres, e jamais escravos.

    E assim o Filho do immortal Dom Pedro

    Nos leva ao templo da severa Historia:.

    Mancebo, como ns, conversa os livros,.

    Ama o valor, as traoUces de gloria.

    Mais extremosas, delicadas virgens.

    Trazei as palmas, as cheirosas flores:

    Croai a Ptria que surri alegre,

    Que diz esp rana, que nos diz amores.

    A V E R D A D E , A J U S T I A , E B E L L O

    (Jecjntr.*)

    Modelam facilmente os homens fortes

    O mundo sua tspada,

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    E podeaFama so ltar ingente vo ,

    Qual guia desmedida.

    Mas no prelio nem sempre a espada fiivt

    Em sangue se embriaga,

    E no rijo tinir salta em pedaos:

    Das aves a rainha

    As densas nuvens rasga, e quantas vezes

    Do sol aparla os olhos,

    Esmorece, fraquea, cabe por terra

    Dos lyrannos o fruclo

    No vinga um s instante, c morre e passa

    Qual veulo do deserto.

    A verdad e quem reina. S empre eterna

    Os combates arrostra:

    Dos lyrannos no leme as negras iras

    O algoz, o ferro, o fogo:

    No descora, no treme, o cu procura,

    E no cu, e no mundo,

    E

    no

    tempo veloz corre o seu verbo.

    Tambm reina a justia,

    Immo rlal e sagrada. E mbora as flo res

    O mu no cho as pze,

    A verde folha dispa, o Ironco abala,

    Ningum arrancar pode

    A profunda raiz, rica de seiva.

    O mal ado rem Iodos

    Quo podemos guardar do bem a imagem.

    E' lenae a vontade

    Que do homem destemido o peito busca:

    Armas vesle a justia,

    Perseguida a verdade a voz levanta,

    Os povos se transformam,

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    A do r fica esquecid a, as palmas su rgem :

    E tu, anjo querido,

    Sacro-sancta Poesia, que traduzes

    A belleza d ivina,

    Tambm s immo rlal. No te assemelhas

    Das flo res ao perfume:

    Se concebes o bello, eterno vive,

    Cada vez mais pomposo,

    E nas azas do tempo a chuva d'oiro,

    Scinlillante sacodes.

    A' verdade sublime o homem prenda-se,

    Sustente-se a justia,

    Festejemo s o bello. E ntre os humano s,

    Essas prendas celestes

    Ho de sempre existir, sempre formosas:

    Aquillo que da terra

    A' terra voltar, e nunca morrem

    Os princpios eternos.

    0 B R A S I L .

    Os templos soberbos da Grcia formosa,

    E os arcos de Roma, de Roma orgulhosa,

    No cobrem, no ornam meu ptrio Brasil:

    Estatuas no temos, primores das artes,

    Mas lemos os bosques por todas as partes

    E as verdes palmeiras viosas a mil.

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    n

    > r ios gigantes, as

    I H I I

    i Ias fonjes,

    As f lores, os fructos, os prados, os montes,

    Esmaltam, protegem meu ptr io Brasi l ,

    E o canto das aves na selva escutamos,

    E o sol no tememos, e a sombra bu-c.imns

    N is verdes palmeiras viosas a mil.

    As Venus, as Graas, os loucos Amores,

    Celestes no marinor, na furma, nas cores

    No lemos, no lemos no ptrio Brasi l ;

    Rias temos as virgens d'olhar expressivo,

    lie. rosto moreno, caracter a l t ivo,

    E as verdes palmeiras viosas a mil.

    E viigens c homens c bosques e mares

    E tudo que vive na terra, nos ares,

    E' bel lo, subl ime no ptr io Brazi l :

    A/.11I o cu, as florestas frondosas,

    \ alentes os homens, as virgens mimosas,

    E a< verdes palmeiras viosas a mil.

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    A .

    J . F R J . B 3 3 D S S -

    O

    S O L ,

    E A P R I N C E Z A .

    (J)oiitt VaVat^uva.**

    Quando a aurora no ceo raia,

    ma princcza gentil

    Vai banhar-se em lisa praia,

    Nas ondas de prata e anil.

    Dos lindo s membros a alvura

    Lhe reluz por entre um vu,

    E rutilla n'agoa pura,

    Qual uma estrella no ceo.

    E da vaga adamantina

    Mergulhada no cryslal,

    Se veste da luz divina,-

    Que vem do sol matinal.

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    Elle pra em seu caminho

    Enamorado de a ver,

    Cobre-a de luz, e carinho,

    Esquecendo o seu dever.

    Trs vezes tenta no mundo

    Pr a noite o seu lenol,

    E n'cssc enlevo profundo

    Trez vezes encontra o sol.

    E o sol bella princeza

    Que de amores o rendeu,

    Conscrvando-lhe a belhza,

    N'uma rosa a converteu.

    E' por isso que hoje a rosa

    De seus olhos ao fulgr,

    Inclina a fronte mimosa,

    E se tinge d e rubo r.

    R ecife 1855.

    A R R E P E N D I M E N T O .

    Oh, se depois da procella,

    E>sa estrella, que perdi,

    De novo a mim se revela,

    Amigo, s deve; a li.

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    Deixava o ceo pela ter ra

    Como perdida Eloah:

    Mas tua voz, que me eleva,

    Faz com que ainda me atreva

    A cantar hymnos de l.

    Se esqueci o.canto puro

    Por um momento veloz,

    De novo agora o procuro,

    E arrependido murmuro:

    Perdo -com tremula vo z

    Esse delyrio se acalma,

    E rompendo o espesso veo,

    Ferve de novo minh'alma,

    Que s floresce no ceo

    Meu Deus, meu Deus nocondemna

    De minh'alma a embriaguez

    V que j brilha serena,

    E chora qual Magdalena,

    Vertend o aroma a teus ps.

    De tua gloria aos fulgores

    Eu bato as azas azues.

    Vou onde vicejam flores,

    Onde se vive de amores,

    Onde se vive de luz.

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    2 1

    A M O R

    E N A M O R O .

    Amor vinho for te em que-se apanha

    D essas brugas de cahir no cho;

    O namo ro um calix de champanha,

    Que nos torna alegrete o corao.

    Amor, amigos, claro, que offusc,.,

    Fognoira alimentada com resina;

    Namoro luz suave, que se busca,

    Como aquella, que expande a lamparina.

    Amor duro tronco, que se afferra,

    E nlranhando no cho forte raiz;

    Namoro linda rosa lr da terra,

    Que se abandona, se perdeu o matiz.

    Um, trazendo no olhar o dcsvario,

    Apparcce com ar de mata-monro;

    Outra vista do po tem calafrio,

    Faz uzo da canella, cslima o couro.

    Pm pula muros e barrancos salta,

    Levando quedas, que lhe so fataes;

    Outro anda com caulella, um peralla,

    Que em ratoeiras no cahiu jamais.

    t

    T

    m As vezes co rd eiro , s vezes b ruto ,

    Ora vive a bramir, ora prostrado;

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    Outro toma caf, fuma charuto,

    Cala luva, rapaz civilisado.

    Um soberbo e feroz,

    -lhe

    preciso

    Prantos que ver e flores que esfolhar;

    Para o outro, porem, basta um sorriso,

    Um aperlo de mo, um breve olhar.

    Agora, mea leitor, ouvir-vos quero:

    Deste meu parallelo que dizeis?

    Preferindo a qualquer, sede sincero,

    Confessai que o namoro que d leis

    Eu sou franco, namoro, eu te prefiro

    Ds que fazer do prximo rabe.ca;

    Masno jogas cacete, no ds tiro,

    Nem fizeste ningum levar breca.

    Illuminas a vida*#m breve instante,

    Sem conseqncias nos trazer por fim.

    s perfume da vida do estudante,

    E remdio especifico do spleen.

    Fazes que a

    feia

    po r

    sofrvel

    passe,

    E que passe asoffrivel por um anjo;

    Fazes de uma criana um Lovelace,

    Fazes criana tola de um marmanjo.

    Por isso quem domina s tu, namoro,

    Tanto no homem como na mulher;

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    Embora grilem pais desaforo

    Embora ralhem mes quanto quizer

    Hoje mais do que nunci ests na moda;

    No ha cabea ahi de gente limpa,

    Que no lenhas j feito andar roda

    Como ao sopro do vento a leve griuipa.

    E ao passo que amor j no alaca

    NVsle tempo ao dinheiro s fiel

    Os peitos escondidos na casaca

    Como oulr'ora os cobertos de burcl;

    Tudo, ludo trabalha em tua vinha,

    O sculo comligo sym palhisa;

    Todo o velho, rapaz, brucha ou mocinha

    Tem tomado o namoro por divisa.

    S E T E

    D E S E T E M B R O .

    Ao sopro dos venlos, ao som das cascatas,

    Em leito pomposo form ado por Deus,

    Um indio gigante nascido nas maltas

    Dormia cercado de mil pigmeus.

    De zonas ardenles e frigidas zonas

    O vaslo colosso se extende a travez;

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    Repousa-lhe a fronte no immenso Amasonas,

    E as agoas do Prata murmuram-lhe aos ps.

    Soflria, ha trs se.c'los, cruel pesadelo,

    E a turba de iusectos parada ao redor,

    Lanara-lhe ferros, sorrindo-se ao v-lo

    Cum os olhos fechados e o corpo em suor.

    E as aves que gemem e as feras que rugem,

    Os ventos que zunetri, os prprios fuzis,

    No quebram-lhe o so mno crearam ferrugem

    Em pulsos to nobres cadeias to vis

    Sorriam-se elles, sem verem que o somno

    Somente o relinha no mesmo logar,

    Bem como o menino reputa-se dono

    Da ona dormida, que o ha de tragar.

    Sorriam-se elles, sem verem que aos poucos

    Nas veiasosangue fervia afinal.

    No orgulho embuados no viam, que loucos

    Que a hora batia solemne e fatal.

    Mas eis de repente surgiu no horisonte

    Qual surge nas trevas brilhante pharo l

    Lm dia de glor ias, o s vallese os mo ntes

    Enchendo de vida, banhando de sol.

    Romperam mil cantos, cessaram queixiimes

    Do trino das aves encheu-se o versei

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    E o prado de flores, e a flor de perfumes,

    E o ramo de f ructos, c os f ruclos de mel .

    Do lago e do r io , do t igre e da pomba,

    Dos ventos nos t ro nco s, da brisa na flo r ,

    l ia terra, das aves, do mar, que r ibomba,

    Um hynino de beriam se eleva ao Senhor.

    Aos fervidos raios do sol fulgurante,

    Do hvinno inefvel ao mgico som,

    Do longo lelhargo desper ta o gigante,

    Que excelso destino t ivera por dom.

    Desper ta e dos membros sacode as cadeias,

    Qual rija borrasca das nuvens o veo,

    Qual guia das azas sacode as areias,

    Ahrindo-as velozes nos campos do ceo.

    E turba insensata, que ao v-lo se assombra,

    Ati ra dos lbios sor r iso de d

    Em vez de vingana prestando- lhe sombra,

    Que o sol d 'esse dia tornara-os em p.

    Desde esse momento sahindo da selva

    As terras demanda, que um dia ver,

    Se acaso o caminho nem sempre de rr-lv.i,

    Que importa, dizelle, se avano p"ra l ?

    Se s vezes duvida, se t reme, se cansa,

    Ao sol de Setembro renasce outra vez

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    Nos membros a fora, no peito a esperana,

    E marcha e prosegue com mais rapidez.

    E vendo esle dia, que tanto memora,

    Por sobre o horisonle de novo a surgir,

    Co'um brado espontneo saudemo s-Iheaauror a,

    Honrando o passado com f no porvir.

    Oh, hoje que raia to limpida e calma

    Ns filhos do ndio saudemo-la ns,

    Com rosas na fronte,com jbilo n'alma,

    E o riso nos lbios e o canto na voz

    S audemo-la to d o s Taes dias so arcos

    Na senda, que ao templo da gloria conduz;

    Nas eras passadas so fulgidos marcos,

    Que as trevas separam da enchente de luz.

    Por ella animados com fora dobrada

    A' lia da Ptria voemos tambm;

    Se espinho e poeira tivermos na estrada,

    Mais de uma coroa leremos alem.

    Corramos, luctemos, cingindo do louros

    A fro nte, que bale de ard o r juvenil;

    Um nome leguemos aos nossos vindouros,

    Cubramos de glorias o nosso Brasil.

    Unidos reguemos de nossos suores

    As plantas, legado de avs e de pes;

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    Seus pomos dou rados , no gos t o mc l ln res ,

    Os ramos vergados car reguem inda mais.

    E como o guer re i ro depois da v ic to r ia

    No ganho estandarte repousa por fim,

    Depois das fadigas, invollos na gloria,

    Soldados da Ptr ia, durmamos as.^irn

    Viro nossos filhos, colhendo esses pomo--;,

    Que tornem maduros benficos soes,

    Depor -nos co roas , bem como as depomos

    Na imagem querida de nossos heroes.

    E aps venha a historia, que os feitos estampa,

    Os nossos nar rando com t raos l ie is ,

    E honroso epilaphio nos grave na campa,

    Cercando-a de f lores c novos lauieis .

    S O N E T O .

    Apto no po sso m ais; que so bbalina

    Nas mos a Ordenao , compndio aber to ,

    P rocuro ob jeces , mas no ace r to ,

    E debaldc a cachola se amotina.

    Quando s vozes parece que se atina,

    E o f inal da massada \-se per to ,

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    Ligeira reflexo nos mostra ao certo

    Ser asneira o quepon/ase imagina.

    E tudo para que? Para ser dono

    De uma carta de borra ou de um capcllo

    Mas, por hoje os Praxistas abandono.

    Fecho Rocha, Lobo, Carneiro e Mello;

    Apago minha luz, pego no somno,

    E

    espicho me

    amanhan como um cainello.

    S O N E T O ,

    N'esta casa do Alterromil visinhas

    No querem que um rapaz 3. annista

    Estude o criminal, passe uma vista

    D'anliga Ordenao por sobre as linhas.

    Ha duas so bretudo (so as minhas);

    Oh, no ha estudante que resista

    Quer queira, quer no queira vai p'ra lista

    Dos preslaveisperus das bonilinhas.

    C o m ba t i . . . . fiz o esfo ro d er radei ro

    Longe dos litigantes, entre flores,

    No hei de ser Doutor, sou jardineiro.

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    Que vida levar ei vida d e amo res,

    Que por fim ha de ter por paradeiro

    Trez II . R. dos satnicos Doutores.

    M E U S N A M O R O S DE O L I N D A .

    \\\iy>YoiUo

    A o. UIIV

    IU uvt\ "louvo.

    *)

    Meus namoros de Olinda so flores,

    Que desmaiam, cahindo no cho,

    Sem gosa rem do so l os a rdo res ,

    Desfolhadas ainda em boto.

    So quaes nuvens, que o espao percor rem,

    Desenhando l igeiras imagens,

    Esperanas,

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    Ondesylpbide area se exila

    Para viver de perfume e de gozo;

    Mas em breve se perd e nos ar e s

    Meus namo ros so to d o s assim . . .

    No passaram de meigos olhares

    Meus namoros de Olinda por fim.

    Mas,

    se todos morreram mui cedo

    No tiveram idntica mo rte

    Dous se foram de spleen, um de medo,

    E o melhor e final d'esta sorte:

    Faz um anno: tive uma visinha,

    Linda cousa, um anjinho do ceo

    Se eu de casa sahia, se vinha,

    Lhe tirava, so rr indo , o chapeo .

    Ao principio ficava arrufad a

    E fugia, a corar, da janella;

    E u, por em, quando a via zangada

    Inda achava a menina mais bella.

    Pouco a pouco se fez menos brava,

    Que fereza no peito no tem,

    Se eu sorrindo por ella passava,

    J, corando, sorria tambm.

    Venturoso . de mim fiz depressa

    Em seu peito progresso tamanho,

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    o i

    Que j lia mais de uma promessa

    >o langor de seus olhos castanhos.

    Que castellos, meu Deus, to risonhos

    N'essa quadra de amores no fiz

    E sonhava de amor . . . que de sonhos

    De uni futuro brilhante e feliz

    Oh sonhava

    o

    que em braos de Alcina

    No gozara, de certo, Roggeiro

    Puz de parle lico, sabbalina

    E dei ferias ao meu candiciro.

    E u mo rria de amor e esta bola

    De tal modo a menina v i r o u .. . .

    (E me dizem que sou crianolla

    Isto prova do mais que no sou )

    No

    juizo fez lal desarranjo,

    Que eu sonhava.... que sonho divino

    Em meus braos beijar esse anjo,

    Que cm seus btaos beijava um menino.

    Mas um dia e o venlo era rijo ,

    Triste o sol n'esse dia fatal,

    Eu p'ra as aulas meus passos dirijo

    Sun, no entanto, prever nenhum mal.

    A' dez passos da casa da bella,

    Inda menos -j quasi d efro nte,

  • 7/25/2019 Parnaso Maranhense

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    Eu sorria, e sorria a donzella

    Quando sinto nem sei como conte .

    S into gr i tos . . . . por cer to no l inha

    Quem os dava a menor polidez;

    E ra um d 'elles ladro de gullinha

    E os mais todos do mesmo jaez.

    Que vergonha, meu Deus, e que apuros

    As o relhas fizeram -se brasas,

    Os meus olhos tornaram-se escuros,

    E confusas dansaram-me as casas

    Assim mesmo pensei que o perigo,

    Oh

    meu Deus, no passasse d'alli,

    Fiz que a historia no era comigo

    Mas em vo desgraado nasci.

    E romperam que horrvel bar ulho

    Que tremendo e incanavel estouro

    Um berrava d 'alli cascabulho

    D'aqui o utro s calo uro, calouro

    Do calouro no fiz muita co nta,

    P ois dizia calouro sou eu,

    Cascabulho , po rem, oh que affronta .

    Foi , (confesso) o que mais me docu.

    O suo r gotlejava da lesta,

    As topad as no tinham mais cabo ,

  • 7/25/2019 Parnaso Maranhense

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    Isto ao som da terrvel orchestra,

    Que os ouvidos quebrava ao diabo

    Latas,

    busios, tambor, pratos velhos. . .

    S se ouvindo uma idia se faz;

    Eu sentia tremer os joelhos,

    Sou, comi mio, um.valente rapaz.

    Jamais nauta almejou estar cm socco

    Se naufraga inda longe do porto,

    Como ento suspirei pelo bco

    Que, afinal, consegui, quasi morto.

    Como fora do busio j fosse,

    Murmurei, alimpando o suor:

    Meu namoro, de certo, acabou-se,

    E que p e n a . . . no ponto milhor.

    N'este gnero pura fumaa,

    Tudo quanto um calouro projecta,

    E assim foi, que, por minha desgraa,

    IPesta vez fui terrvel prophela.

    Desde essa hora de triste lembrana

    No fez cila mais caso de mim,

    E um namoro de tanta esperana

    To sern-graa finou-se-mc assim.

    Oh ingrata que amante perdesk

    Pra castigo isto mesmo te basta,

  • 7/25/2019 Parnaso Maranhense

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    No sabias que peito era este

    Que, de louca sorr ind o quebraste.

    Toa imagem continha to fixa

    To co nstante, ah donzella e fiel,

    Que arrisquei-me a dar mais de um

    espicha;

    Porem nada moveu-te, cruel.

    Em passando por l se acontece,

    Que os meus olhos nos seus inda ponha,

    Faz um momo, e dizer-me parece:

    Cascabulho oh

    meu Deus., que vergonha

    Nunca mais ao depois d'essa esfrega

    (Juiz saber de namoro nenhum;

    E o calouro que n'isso se emprega

    Vou jurar^no tem senso commum.

    De que servem mil sonhos to bellos,

    Ein que fado invisvel procura

    lludir-nos formando castellos,

    Povoados de lanta ventura;

    Se do bnsio o troar leva o sonho,

    Derribando o caslello no p,

    Corno outr'ora estampido medonho

    Fez por terra cahir Jerich.

    Quando agora por mero pagode

    Prego estouros, pois sou simi., .

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    Este aper lo memria me aode;

    E eu repito fumando um charuto.

    Meus namoros de Olinda so flores,

    Que desmaiam cahindo no cho,

    Sem gozarem do so l os a rdo res ,

    Dusfolhadas ainda em boto.

    N E N I A .

    N"eslc momento ul t imo, supremo,

    Dizendo ao nosso amigo o adeus ext remo,

    Amigos , no chora i

    Elle passou da vida nos caminhos

    Os ps di lacerando nos espinhos,

    De mais no leve pa i

    O h, sim na infncia, d o viverwi au r o r a,

    Na juve ntud e no t iveste uma h o r a,

    Que no fosse de do r

    Uma esperana, que no fosse rola,

    E na taa da vida uma s gotta,

    Que no fosse amargor

    Se um dia no hor isonte escuro e t r is te

    Uma eslrella de luz brilhando viste,

    E ado rando-a , t a lvez ,

  • 7/25/2019 Parnaso Maranhense

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    Filaste nella leu olharaWfcule,

    O fugaz meteoro de repente

    Nas sombras se desfez.

    A arvo re fatal d 'ond e bro taste

    Nos ramos afogou-te a frgil haste,

    Privando-a do sol.

    Mas, ao sopro cruel da desventura

    Elevou-se lua alma inda mais pura

    Das magoas no chrisol

    Pensando em Deus, passaste pelo mundo,

    Sem as azas manchar no lodo immundo

    De ftido paul;

    Como por sobre lodaal impuro

    Va a gara, esquecendo o charco escuro,

    Olhando o ceo azul.

    E canasle por fim nlo voando

    Foste dos justos reunir-le ao bando

    Juncto ao throno de Deus;

    Eao mundo, que s dera-te veneno.

    Sem pezares, com animo sereno

    Dissesle o ultimo adeus1

    Nada esperavas d

    y

    elle Se uma trana

    De cabellos le dava inda esperana

    De um amor do mulher,

    Guardaste no teu peito este segredo,

    Ningum ouviu-te murmurara medo

    O seu nome sequer

  • 7/25/2019 Parnaso Maranhense

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    Yessa agonia, que o viver consome,

    Na hora de morrer somenlc um nome

    Em teus lbios soou.

    Era de tua me o nome saneto,

    Que lua alma de filho amava tanto,

    Que,

    chamandora, voou

    Foi longo teu soffrer; descansa agora

    'Onde ludo sorri e ningum chora,

    Onde tudo fiel.

    Ters por cada dor mil alegrias,

    Por cada golla amarga, que bebias,

    Mil amphoras de mel.

    Como o captivo na extrangeira praia

    As cadeias depe, se o dia raia

    Que paliia o reconduz,

    Depozeste no exilio um corpo frio,

    Ninho sem rouxinol, templo vazio,

    Alampada sem luz

    S o bre elle o ad eus e\lremo te d irijo;

    Se o mar foi tormentoso e o vento rijo,

    Bonana l ters.

    Da viitude seguisle o duro trilho-

    Foslc amigo fiel, foste bom filho;

    Adeus, repousa em paa

    Mu Deus, se em minha vida agora calma

    Lanares provaes, da que minluilma

    Saia d'elks assim

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    E que um amigo sobre a minha lousa,

    Invocando leu nome, a mesma cousa

    Dizer possa de mim

    IMPROVISO.

    O

    Se tu vieres, bella^pnnti,

    Como dos troncos velhos o renovo,

    Minha alma ao morrer talvez reviva

    P ara te amar e le ad o rar d e no vo.

    Ah, vem, corre p'ra qui n'este momento;

    Esquece-A tt teu pai, do teu Eugnio.

    Eu j colhi as palmas do talento,

    Comtigo colherei coroas do gnio.

    (*) Recitada poucas horas anles da morte do auctor.

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    At ttk

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    Gosto de vr-te agitada,

    Como s bella assim corada t

    E sts qual nuvem d o urada

    Do sol batendo no mar

    Nas veias azues ard ente

    Teu sangue pula fervente,

    Mas fugindo de r epente,

    Rele-se no corao;

    Tremem teus lbios de rosa,

    s toda voluptuosa,

    Da (lamina vertiginosa,

    Bem sinto Iremer-le a mo

    Quem me dera nesses braos

    Sentir delrios, abraos,

    Quaes quentes, vivido s Irao s

    De luz, que fulge no ceo;

    Assim preso na vertigem

    Do teu amor, na origem,

    O' minha pallida virgem,

    Quizera vr-te sem veo l

    Tornra-te vacillante,

    Se te desse nesse instante

    Fervido beijo de amante,

    Que le augmenland o o r ubo r,

    Com frenesi me apertras,

    E to meiga suspirras,

    Que em devaneio mandras

    Soluar , morrer de amor

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    Nos leus seios enlonados

    Palpi tam ar rebatados

    Mil desejos snfreados

    No fundo do peito t

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    Assim outr 'ora se ouvia,

    Se a tempestade rugia,

    Que o alade gemia,

    Gemia sem t rovador .

    N o a r v o r e do c op a do ,

    Nos r amos abandonado ,

    Ao sop r o do ven to i r ad o ,

    L ficava a soluar;

    Se a roxa aurora chorava

    Na fonte que alli manava,

    Nas frouxas cordas soava,

    Soava arpejo no ar .

    No viste, porem, brilhantes,

    Nos teus sonhos del i rantes,

    Dons olhos mui fascinantes,

    Que certa belleza tem;

    No viste a virginca palma

    De suas paixes na calma,

    Crepilar- lhe o fogo falma,

    Se falma amores lhe vem

    Mais do que a flor orgulhosa

    E a palmeira buliosa,

    Mais do que a rola amorosa,

    E bella, tem mais paixo

    Bem sei que infunde alegiia

    Essa vaga melodia,

    Que o alade t ransvia,

    Transvia pela uido.

  • 7/25/2019 Parnaso Maranhense

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    Mas aquella virgem pura

    Respira com mais brandura

    Nos accenlos de te rnura ,

    Que o ai

    eterno

    lhe deu;

    Nos olhos lhe bruxola

    A luz de amor, que ii icendea

    O rub ro sangue , que ondea ,

    Que ondea no elio seu.

    Quando o peito lhe palpita,

    Na graa, nacr imita

    A formosa Salumilha

    Do sbio re i Salomo;

    Se a lua no cu lampeja,

    Sc ismando amores doudeja

    T m ida , pai lida arqueja,

    Arqueja no co rao

    Sonhei-a terna, saudosa

    Como eslrella nebulosa,

    Ou qual viso vaporosa

    N'u iu rochedo be i ra -mar ;

    Depois aos braos me veio,

    Em ondas a r fa- lhe o se io ,

    Suspira no doce enteio,

    Ei i le io de muito amar .

    Como o sol aiTiigueado

    Em rosea nuvem velado,

    O ro s to linha ab ruzad o ,

    E os iubios cr de rubim;

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    Trouxe na mo linda rosa,

    Como essa, assim, to viosa,

    To viva, to odorosa,

    No mundo procuro em vo ;

    Ligeira qual dbil fada,

    Me entrega a flor, e corada

    Me d iz: recebe, que d ad a,

    E ' dada de co rao

    Ds de ento, meu pobre peito

    Vive gemendo e desfeito

    Por sua graa, e de feito,

    Minha alma muito lhe quer ...

    Para gozal-a soffrera,

    T na Gehena morrera,

    Mas saciar-me devera

    Com seu amor de mulher l

    D , l i d e m a r o 1 85 ..

    Em marco o bosi |uc si lvest re

    De folhas novas se veste,

    l i e novo \MI.I s o r r i

    C O R D E I R O .

    No vs tu, virgem bella,

    De Venus a branca estrella,

    Que luz dardeja no cu?

    http://mi.i/http://mi.i/http://mi.i/
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    .47

    Assim teus olhos scintillam,

    Como o sol lambem rutilam

    No rosto formoso leu

    A face argentea da lua

    No mais meiga que a tua,

    Nem mais pura, mais gentil;

    Na fronte lisa e mimosa,

    Elevada e luminosa

    Ostentas graa infantil.

    Que vivo fulgor assunie,

    Quantas bellezas resume

    De teu corpo a rosea cr

    E' tinta do norte ardente,

    Ou do s jard ins do O riente,

    Vaidosa, punicia flor

    Quizeraa lyra de Apollo

    P'ra cantar-te o niveo collo,

    No teu festivo natal;

    s a briza revoando ,

    Alvo cysne gorgeando

    L nas fontes de crystal

    Mas eu, sem est ro , sem lyra,

    Sem arroubo, que desfira

    Na grinalda de leus anno s,

    No posso dar-te alegria

    Em to rr entes d e harmo nia,

    Nem sondar os teus arcanos

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    Se fosse vale arrojado,

    Divinamente inspirado

    No seio da solido;

    Seguro destes eventos,

    Ia lr os pensamentos

    Que escond es no corao

    E M V I A G E M .

    No viste buscando os mo ntes

    E longnquos horisontes,

    Beijando os prados e fontes,

    A lua rosa de amo r?

    No viste-a frouxa, dormente,

    Fulgindo no occidente,

    Como a sullana indolente

    Nos paos do gro S enhor ?

    Entre nuvens ftuctuava,

    Cndida luz derramava

    A mimosa estrella d'alva,

    Na terra fo rmo sa assim;

    Pelas campinas relvosas,

    Com as azas vaporosas,

    Sopravam brizas saudosas

    Como um suspiro sem fim l

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    m

    Um mqnlo de vivas cores

    Se desfazia em fulgores

    No ceo , que lodo primo res,

    Brilhava argenteo claro;

    O campo verde, enllo rado ,

    Do ar puro, embalsamado,

    Que respirava leu lado,

    Sentia louca paixo

    S urgindo o sol r utilante,

    A pomba no mesmo instante,

    Na collina verdejante,

    Um hymno doce gemeu:

    No mais linda querida

    A nossa leiva flo rid a,

    Que o bello jardim (1'Hermida

    De Julitta e Romeu

    7

    Ao lado d o meu marchando

    B ranco cor sel relinchand o ,

    Orgulhoso ia levando

    Um cherubim ou mulher?

    Nossos olhos se fallavam,

    Que mutuamente se amavam,

    Mas,

    cuidadosos guardavam

    Sigillo como se quer

    O frescor da madrugada,

    Tua fronte perfumada,

    De rubro pejo corada,

    No posso nunca olvidar

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    5&

    A' li, que bem vi chorando,

    De ternura soluando,

    Teu corao sempre amando,

    Hei de amor eterno dar

    Agosto de 18 . . .

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    :.

    D O S

    ?..

    R A I O L .

    R E C O R D A E S DA I N F N C I A .

    E ssas lembranas, que o passod o inspira,

    C;uiso do ce emoo, mas laml-eiti ~;.t*ao-

    Saudosas, tristes lagrimas.

    Onde vaes, que assim cor res to l igei ro ,

    Que lraz no o lhas, e que nada atl en d es '?

    E spe ra , espera , Tempo

    No te volvas to rpido e veloce,

    Qual do arco fugitiva

    A emplumada sei ta,

    Por mo robusta arremessada aos ares

    Espera , - - -espera , Tempo

    Que da viosa flor, a flor da vida,

    Que aura suave, que a innocunca ospira,

    Fagueira bafejava?

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    To cndida e mimosa,

    Como o fulgor da estrella, que percorre

    Ao accordar da aurora;

    To amena, to pura,

    Como o favonio, que no prado brinca,

    Antes que o astro magesloso e ardente

    A face mostre de sublime aspecto?

    Que dessa flor, que eu tinha,

    Quando em jogo infantil, ern brinco eu via

    Fugir as horas, deslisar-se o dia,

    Dias to doces, horas deleilosas,

    Que apreciar no soube?

    Quando no bero os mimos e os afagos

    Do seio malernal se me corrio

    Em d oces expresses, que aos lbio s vinho ,

    Gom risos de ternura,

    Como aos implumes inno centes filhos

    Correm da rola cuid ado sa e terna,

    No mimoso arruinar, que envida extremos ?

    Sem que um s pensamento

    De meu peito innocente a paz turvasse ?

    Espera, espera, Tempo

    Mas ah que no me escutas, nem me voltas

    A enrugada face

    Caminhas , co rr es , e com ligo levas

    Ao nada, que era, da existncia tudo

    Se o grosso tro nco , que l fende os ares

    Co'o estender das ramas;

    Se a rocha altiva e dura, onde se quebro

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    Saudavo mil formosos passarinhos,

    Nos seus delgados ninhos,

    0 Creador do Mundo

    E nto nos bosqires . nas frond osas maltas,

    A pequap ca no ra ,

    Na ausncia dessa luz, que ba e triste

    De longe rellectia,

    Chorova em cantos, que saudosa erguia

    Oh que saudade o corao me rala

    Mas,

    se geme e suspira, e affliclo arqueja,

    Um ai mandando l do imo aos lbios,

    E uma lagrima aos olhos,

    Que me a face humedece,

    Ao recordar sereno,

    Desses bello s instantes , m elind ro so s,

    Que amenos se movio,

    Como a torrente em lmpido regato,

    Que no tropea no mais dbil seixo,

    Que no se enruga ao suspirar da brisa;

    Tambm, lambem no suspirado aperto

    Sinto bunhar-me o peito,

    Doce prazer, que mixlo se confunde

    Nesses ais que suspiro

    Dias da infncia, d ias for tunoso s ,

    Quando moo e lona eu ueseio ciia

    O cncanecid o Tempo,

    Bcctbei de meu peito o doce cffiuvio,

    Deste prazer, que eu sinto,

    Dias tia infncia, recebei meu pranto

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    oo

    Hoje que, em balde, o corao resiste

    Ao choque, lucta das paixes do miindo,

    Q u e , ard endo n'alma, o corao trucid o ,

    S vejo um aps oulro,

    Dias so mbr io s,-que a existncia pungem,

    To trislonhos, to pallidos,

    Como a flor pela ssta emurchecida,

    Que pouco pouco desfolhada expira

    Tibio reflexo fnebre da lua,

    A meia face desponlando apenas

    Sobre o mar Iranquillo,

    No mais Iriste em socegada uoile.

    E cada passo, que.voJ.leja o Tempo,.

    Mais perto enxergo a negra sepultura;

    De meus males lambem mais perto enxergo

    O infallivel term o .

    1 8 4 6 .

    A M E L A N C O L I A .

    O h que vo se condensa ante meus o lhos,

    To funereo, to pallido,

    Como de gruta opaca a luz sombria

    E o mundo de venturas,

    Onde cm chusma flucluo

    http://que.voj.leja/http://que.voj.leja/
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    Da vida encanlos mil, que vida aprazem,

    S esse vo me esconde;

    Qual nuvem, que abafando o sol ardente,

    Seu brilho enlenebrece,

    Ou qual do dia a luz cndida e pura

    Encobre a noile escura

    Que mo occulta ento me opprime o peito,

    E os suspiros me abafa

    Que tdio e nojo, que me causa tudo,

    Que se me offerece por ventura aos o lho s

    Mas to languida a oppresso, que eu sinto,'

    Dessa dr, de que affliclo o peito anceia ?

    O h meu Deus que viver este ? . . . vida

    N o . . . , no posso chamar, nem lambem morte;

    r i s entre a vida e a mo rte s parece

    Haver um passo apenas

    Nos embates, porem, da dor pungente,

    Mas frouxa, qual de luz, que se amortece,

    Bao e tibio claro, ou qual no tronco,

    J d bil vai perdend o a flor o vio,

    Com s da ssla calidos ardores;

    Nesse tragar do calix de amargores

    Uns longes de doura

    Entre meus lbios dissolver-se eu sinto 1

    Como um pharol se antolha-me o passad o ,

    Que do futuro sobre o m ar me acena

    Um rumo liso ngeiro

    Ao pensamento er r an te

    E nto, ento carpido e doloroso

    L do imo peito foge-me um suspiro,

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    A .

    0 . 5 . DS

    C A S T R O .

    D E S A L E N T O .

    (Ao mtu tvmvtjo S. 3. Tumvts Be\"\ov\.)

    Pavido echo, que se perde ao longe,

    Que foge triste de chorosa Voz;

    Lngubre canto nas regies.da morte,

    Que a o rphan entoa solitria a ss;

    Basteira hervinha, que alimenta o ermo,

    Que o sol requeima, que no brota flor;

    Ave sem ninho, que se gela noite,

    Que carpe a falta do seu doce amor;

    Noite sem lua, que lhe ameigue as trevas,

    Que a luz espalhe sobre o liso mar;

    Adusto campo, que o k-il despresa,

    Que doce lympha no lhe pode dar;

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    Pallida rosa, que o calor da ssla

    Deixou pendida sem perfume e cr;

    Cirio de morte, que a saudade accenda,

    Que o pranto alembra de pungenle dor;

    E is minha vida como a voz cho rosa

    De triste virgem, que perdeu seu pai

    Ave sem ninho no vos pede um riso,

    S pede pranto s, s vos d iz chor ai

    Noite sem lua, que namore as ondas,

    Sem astro amigo, que vos d iga amai

    S'envolve em lucto, no mendiga affeclos,

    S pede prantos, s vos d iz cho rai

    Deixai que a rosa se desseque e morra

    P end id a e murcha pelo sol d eixai

    No pede beijos de fagueira brisa,

    S pede pranto s, s vos diz cho rai

    C O N F I D E N C I A .

    Debalde lucto no se extingue a chamma,

    A meu despeito o corao palpita

    Ao som d'um riso teu.

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    Inda mesmo trahldo, elle te ama,

    Sabe que s d'outro mais em ti cogita,

    Nos gosos que p e r d e u . . . .

    Se te ouve os cantos no correr da brisa

    E o doce aroma angelical, celeste

    Contente respirou;

    Uma phrase de amor, breve, concisa,

    Como os ardentes beijos que lhe deste

    Dos lbios se escapou.

    E quando no correr de leve dansa

    Tua figur a pallida d iviso

    Alegre perpassar,

    Sinto n'alma um desejo que me lana

    A curvar-me a teus ps, e um leu sorriso

    Humilde supplicar.

    Se noile, nos meus sonhos mais fagueiros

    Eu te descubro em nuvem vaporosa

    Que a mente me seduz

    Presinlo o desusar dos ps ligeiros,

    O mimoso pousar da mo sedosa,

    Que vida me conduz

    E u vejo os lbio s teus na co r da r o sa,

    Nos petalos do lyrio recendente

    Da face a pallidez;

    E

    s

    po rem, menos do ce e perfumosa

    A pudibunda flor, menos nilcnte

    Do lyrio a candidez

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    No queiras pois que o peito desfallea

    A' mingoas d'um sorriso de esperana

    Dos doces lbios teus;

    Aquelle que le amou jamais esquea,

    Ao menos uma limida lembrana

    Mitigue os males seus.

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    03

    Trajando roupas brancas e mimosas

    Cujas franjas tremulas flucluo

    Como as o ndas do mar

    Quando, dormido o venddv.il, das brisas

    Manso tangidas vm cheias d'escumas

    Nas praias se quebrar;

    Tendo no roslo anglica poesia,

    Nos lbios risos, e nos meigos olhos

    No sei que l d os ceo s

    L-se nos puros olhos deslumbrantes

    A innocencia e a virtude de lua alma,

    Casto archanjo de Deus

    E a lua imagem me alimenta a vida,

    E o doce aroma, que tuas fallas solto,

    Me embriaga de amo r,

    E me inspira poesia, e fora, e vida,

    Bem como aos tenros filhos,branca pomba

    D vida e d calor.

    E lens altares d entro de meo peito ,

    Eeu le consagro um culto puro e santo,

    E santa ado rao . . . .

    Virgem, virgem de amor, minha alma e vida,

    Meo

    anjo , e minha irm, meo Deus, meo tud o ,

    E' teo meo corao

    http://venddv.il/http://venddv.il/
  • 7/25/2019 Parnaso Maranhense

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    E o que seriaovale, anjo for mo so ,

    Se a mo do tempo impia lhe roubasse

    Teo puro e santo amor?

    Pavida sombra que surgio da campa,

    Presbylerio sem cruz, tapera noute

    Povoada de horror

    Cruz isolada na soido das mattas

    Cheia de lodo impuro e desherdada

    Do culto do S enho r;

    Lyra sem cordas, tronco desfolhado,

    Errante nauta descrio das vagas,

    Perdido viajor.

    Mas no o meo amor sincero e fundo

    Achou echo em teo peito almo e virgineo,

    Mimoso seraphim;

    E os nossos coraes teem sympathias,

    Perfeita identidade, as nossas almas

    Ah so gmeas emfim 1

    E o nosso amor me alenta e viviica.

    Bem como o sol as arvores rachiticas

    Do impuro tremedal;

    Ou como a neve que de noute a bri sa

    Nas frescas azas traz em flocos ntidos

    A' murcha flor do vai.

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    A .

    3 .

    S E & F . E E O .

    A INFNCIA.

    Dorme o somno da paz, doce e profundo,

    Lindo anjinho do ceo, cndido lyrio,

    Meigo como o sorrir d'aurora bella

    Entre cheirosas flores variadas,

    Que em jardim deieiloso

    Plantou virgem loua, pensando amores.

    E' sagrado o repouso da iunocencia,

    E eu amo conlemplar-le no repo uso

    Por sobre o vo do somno transparente,

    Quando leu seio, como em leve harpejo,

    Se exhala em perfumados sons, macios.

    Assim solta do barro, que te opprime,

    Alma singela, que sorrir s sabes,

    Pomba innocenlc que entre rosas brincas,

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    O co das iluses sem justo no me,

    Pode agora criar-te a mente livre,

    Digno, digno de li, por li formado

    A' prpria imagem lua sacro-sanla;

    Em quanto, de remorsos lacerado

    O mo no leito d'onro se revolve,

    Qual, se d'espinhos de tocum nocivos,

    Mo invisvel lhe alastrara os linhos,

    E a superfcie do colxo de plumas.

    O h nessas ho ras, ao d cscano d adas,

    Elle no dorme, no horrendo espectro,

    Estorcendo-se em dr volteia em torno,

    Como-um agouro pela idia em febres;

    E sua cabeceira vem sentar-se

    Em glido silencio, agonisante

    Tu, entretanto socegada e leda,

    Bindo, em fagueiro exlasis te elevas,

    Como um sublil vapor, nas brancas azas

    Do Chcrubim dos sonhos innocentes.

    Mas l nas regies do amo r, do arr o ubo ,

    Onde chegas talvez, transpondo o mundo,

    O que que assim te ar raia as faces lind as.

    Porque, oh

    sim, porque

    Na placidez de teu jiicnntlo roslo,

    To bello, to sereno, to mimoso,

    Brilho divinos raios sobre encantos,

    Que nunca, mareou paixo impura

    Com p hlito de serpe?

    Ah quem sabe? S Deus; mas no revela

    Se douradas vises, mysteriosas

    Ao templo da ventura te arrebalo.

    Eu vi pintada alegre borboleta,

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    68

    Sem d de ouvir gemer triste a saudade?

    Porque le auzentas na estao das flores,

    Que inda em boto surgindo vem do calix,

    To lind as, mas lojo vens, mas to tenr as? . . .

    Sim . . . eu vejo . . eil-o alli, vem tod o co res,

    Casto , como sahio da E terna E ssncia . . .

    Formosa Eiina, d-lhe abrigo n'alma,

    O nosso amor primeiro o co o inspira

    E o corao no erra em voto amante.

    Ah talvez d esper tand o , o abalo sintas,

    Vago, indislincto, como a luz d'aurora,

    Pulsar teu peito virgem brandamente.

    5 de Julho de 1846.

  • 7/25/2019 Parnaso Maranhense

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    A .

    F .

    S C L I U .

    tLLA.

    E u a vi era um anjo ; a Deus orava

    P ro slrad a aos ps tio altar como era bclla

    Volvidos para a Virgem tinha os olhos

    Em extasis de f, d'amor ardente;

    Por entre preces cndida subia

    Ao Eterno sua alma meiga e pura,

    Como remonta aos ceos cheiroso incenso

    Do thuribulo sacro ao som de cantos

    E ra um anjo dos ceos baixado terr a,

    Contemplando saudoso a ptria estncia,

    Flor de iunocencia, q ladro de bellcza,

    Typo da crcao. obri; b esmero

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    Das mos do gro Artfice Supremo

    Animada por sopro milagroso

    Briza macia lhe brincava em torno,

    Namorando-lhe a coma espessa e negra,

    Que as pudibundas faces lhe cercavam

    E a transparente cassa que seus membros

    Mimosos torneado s encobria.

    Leve murmrio os seus rubros labfos

    Docemente agitava qual sussurr o

    De fonte que entre pedras se resvala,

    Ou qual em bosque tremulo de myrlos

    Cicia a fresca aragem bemfazeja,

    Ao declinar do sol, em dia estivo.

    E ra um anjo do s ceos baixado ter r a,

    Contemplando saudoso a ptria estnciat

    De Irancelim finssimo pend ia

    Ao colo de alabastro transparente

    urea cruz delicada; arfava o seio

    E a branda ondulao brilhar fazia-

    Das luzes c'o reflexo a cruz sagrada

    A espaos sobre o peito, denotando

    Como urn santo pharol refugio sacro,

    Manso bemdicla de chrislans virtudes.

    Co'a delicada mo traou devota

    O signal dos christos da fronte ao seio

    E cessou de resar e ergueu-se airo sa,

    Olhando inda uma vez a Virgem santa,

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    A . K. 3 . C L i T S I . A . ,

    SONETO.

    Quo bel lo o sol resurge no Oriente :

    Quo risonha se mostra a naluresa

    E esse monstro, a cruel , negra tr is lesa,

    Me aperta o corao, me enlucta a menle

    Vai um dia, outro vem alegremente,

    Ostentando aos mortaes nova belleza.

    S e u, ente infe l iz , de angustias preza,

    Chorando passo a vida amargamente.

    E que vale ch or ar ? os meus lamentos

    No movem compaixo que desventura-,.

    Find aro s co'a vida os meus torm ento s l

    Oh mo f ina ex istn cia, oh sorte dura

    V e m oh morte, acabar meus soffr imenlos,

    Vem mostrar-me o caminho da ventura

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    A 7 P . S 2 D A

    2.

    S 0 3 T 0 - U A I C S .

    S O N E T O .

    L\.' morta AtTSuiWfc MacAvaio.*)

    Lamento, egrgio hefoe, a morte lua

    E ncarando da ptr ia a negra so r te ,

    Pois o fudo cruel com negro cor te

    Do Brasil esloivou a gloria sua.

    Memorvel aco, empresa rdua

    Invid o u sus tentar teo brao foi te,

    Abysmado f icou intei ro o Nor te ,

    Ao vr a liberal espada nua

    A' testa d e teo s bravo s avana

    v a s ,

    Morreste pela pt r ia . . . e no vingasle

    Esses bravos Cales, que commandavas

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    74

    Liberal no tr ibuna te moslrasle

    Apoz a l iberdade tu voavas,

    Libertar teos patrcios almej. isle

    SONETO.

    Altura regular, roslo marcado,

    Lavada lesta, sobrancelha pouca,

    Olhos vivos, sagaz, regular bocca,

    Cabello corredio e acaslanhado;

    Moreno, porem no descorado,

    Pequeno buo os lbios seos lhe louca,

    Voz foi e, n le l l ig ivel , porem rouca,

    Empiehendedor, zeloso e desfarado;

    Corteso, lios sales amando as bellas,

    Costumado a viver entre deidades,

    Desejando morrer nos braos d'ellas',

    Eis o Ayres que diz puras verdades,

    Que tem por moas mil paixes, ao vel-as,

    Que seo retraio fez, l ivre vaidade*.

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    UM SUSPIRO.

    Vai triste, triste suspiro

    Consolar quem por mim chora,

    Benovar ternos adeuses

    Que jurei na fatal hora.

    Dizeaquem de mim se lembra,

    Que em meos braos soluou,

    Que meos adeuses receba,

    Que saudoso j me vou.

    Que vou sulcar bravas ondas,

    Vou luetar com o mar irado,

    Mas que levo no meo peito

    O soo todo retratado.

    Que trago sempre na idia

    Suas promessas d e amo r,

    Que soffrocomo ella solfre,

    Que sinto como ella a dor.

    Que meos suspiros receba,

    Soluando, entre mil ais,

    Que traga sempre no peito

    Do seo amado os signaes.

    Quejamaisdemim se esquea,

    Qutse recorde de mim,

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    Que lamente minha sorte,

    Cujos males no tm fim .

    Dize,

    dize meu suspiro,

    Meu companheiro na dor,

    Qual a triste despedida

    Que lhe envia o meo amor.

    Que chorando me despeo,

    Que te mando em meo lugar,

    Beceber os seos adeuses,

    Por mim seu pranto enxugar.

  • 7/25/2019 Parnaso Maranhense

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    C .

    3 .

    C A H T A K 3 D E .

    C A N O .

    M voas n avez r ien a me vire ,

    Pou r quo i ven i r aup rcs de

    i no i .

    V. HGO.

    Se no queres que eu te adore,

    Porque me sorris assim ?

    Porque me fallas de amores...

    Porque no foges de mimv?

    Se no queres que eu te adore,

    Porque me sorris assim

    Se no queres que eu te veja,

    Porque no sahes da janella ?

    Quando de longe me avislas

    Porque no corres, bella ?

    Se no queres que eu te veja,

    Porque no sahes da janella?

  • 7/25/2019 Parnaso Maranhense

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    Se tu no gostas de mim,

    P o rque me apertas a mo ?

    P o rque me deixas na walsa,

    Estreitar-te ao corao?

    Se tu no gostas de mim,

    P o rque me apertas a mo ?

    Se no queres vr meus olhos,

    Porque no voilas os teus?

    Ah eu s e i . . . tu queres vr

    Se te vem os olhos meus

    Se no queres vr meus olhos,

    P o rque no voltas os teus?

    Se no queres que eu te ame-,

    Porque me deste esta flor?

    E sta ro sa tua imagem,

    Expresso do teu amor?

    Se no queres que euteame,

    Porque me deste esta flor

    -

    ?

  • 7/25/2019 Parnaso Maranhense

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    ' .

    C S B . D E

    3 .

    5 A I 0 8 0 .

    S O N E T O

    Mal o bater montono dos remos

    A cruel separao trouxe a lembrana,

    Pareceu-me fugir toda a esperana,

    O fado j cumprir que todos lemos;

    E como assim no ser, quando ns vemos,

    Dos mseros huminos que a balana

    ftcplecta s de dr, e sem bonana

    Os infindo s pesares que soffrernos

    Deus oh Deus, permelt que em breve veja

    Aos mortaes que mais preton'esla vida

    E que a rever minha alma tanto almeja.

    E quando remorVr-mi l do fundo,

    Das saudades o d

  • 7/25/2019 Parnaso Maranhense

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    S A U D A D E S .

    Meos ais ar rancados do imo do pei lo ,

    Gerados na amarga , c rue l so ledade ,

    Beeebe-os , quer ida , em leo co rao ,

    Escuta-lhe os sons s dizem

    saudade\

    Aquelles dourados, celestes instantes

    E m que me juravas eterna amizad e,

    Benova em minha alma, curvada de dores,

    O doce pung i r de amaiga saudade \

    Jamais de l i longe, to doces instantes

    Me escapo da alma, singella deidade

    Mas ali, minha amada, do bem que gosamos

    S hoje me resta perenne saudade

  • 7/25/2019 Parnaso Maranhense

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    Meo anjo, eu te vejo no rubro hor isonle,

    Na planta, no dia , na aurora na tarde,

    Te escuto na brisa, no cicio d 'aragem,

    Na voz de minha alma, na voz da saudade.

    Te vejo na f lo r , no campo , na r clva,

    Mas p h a n ta s ia . . . . c rue l real id ade

    E s na minha alma que ests de continuo,

    E' s no meo peito com a t r iste

    saudade

    \

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    5. 3.

    n HU

    SMA.

    O BEIJO NO AR.

    No sei que sentia, se eslava dormiifdo

    Se era acordado, ou ledo sonhava

    iYi hora ditosa em que a teo lado

    A voz eu le ouvia que meiga faliuva

    Teo meigo semblante, to bel lo, meo anjo,

    Cobr ia uma nuvem de doce t r is lesa. . .

    Teos olhos bri lhanles, de vividos raios

    Que fallas fallavo com tanla belleza

    Descreto, eu confesso, no pude mirar- to,

    Falei- te de amor, fugisle de mim

    Busquei-te outra vez, paraste medrosa,

    No fujas te disse, disse sle-m e: sim . .

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    S . DE

    F R E I T A S .

    SONETO.

    (AXYOSVICO.' ' )

    Ditoso Vezes mil, ah se eu tivera

    O gosto de te ver sempre a meu lado

    Nos teus olhos genls o meu cuidado,

    Ah Jonia encantado ra, eu s po sra.

    Jnrar-te a cada instante s fizera

    O mais ardente amor, mais sublimado,

    A teus ps de continuo afim prostrado,

    Nenhum'oulra ventura eu mais quisera

    Ah quo pouco te cusin eu ser d ilo so

    Bem poderas, oh

    Jonia, i'im momento,

    Elevar-me a ser teu, ser venuroso

  • 7/25/2019 Parnaso Maranhense

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    8 5

    Lisongeiro, e fallaz contentamento

    Lo gr ar-ie, Jnia bella . . . O h co piedo so

    Onde me levas lu, meu pensamento

    N O M A R .

    CS'um 3a ita avwvos.*)

    Va, suspiro meu, transpe os mares,

    Chega de Lisia plaga afo rtunad a,

    De Natercia gentil chega morada,

    Interprete vae ser dos meus pesares.

    Quando nas nveas faces lu pousares.

    Beija primeiro a bocca nacarada,

    Dize depois, quo triste, amargurada

    A vida passo entregue a mil azares.

    A h no lhe escondas quanto no meu peilo

    Lavra com fora atroz melancholia,

    Da saudade cruel pungente efleilo

    Dize,

    que beijos mil Josirno envia,

    E o protesto de amor oulrora feito,

    Lhe renova em louvor d'csle almo dia

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    86'

    IMPROVISO

    Triste silencio

    Ningum respira

    Em vo minhalma

    Geme e suspi ra . . .

    No vejo Lilia...

    Talvez agora

    Nem ella pense

    Em quem a adora . . .

    Zcphiros brandos,

    Levae-lhe um beijo;

    Dae-lh'o na face,

    Que o meu desejo:

    Dizei, que triste,

    E pesaroso,

    Aqui deixaste

    Um dcsditoso . . .

    Co ntae-lhc as magoas

    D'esla existncia,

    Que se definha

    Na sua ausncia:

    Mas ah se ver d es,

    Que est dormindo,

  • 7/25/2019 Parnaso Maranhense

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    87

    Pouzae-lhe em torno

    Do rosto lindo,

    E ade jando

    Suavemente,

    Deixae que durma

    Tranquillamente.

    Do molle somno

    No a aco rd eis;

    Vinde, apressac-vns,

    No mais tardeis;

    Vinde contar-me

    Onde que a vistes,

    E se o meu beijo

    N'ella imprimistes.

    Lisbo a 1844.

    S O N E T O .

    l^Ao ttavxav MIVYIVYAIO.J

    Terra da minha ptria, eu te sado

    E d eixand o -le, ah deixo a minha v i d a . . . .

    Recebe o triste adeus da despedida

    De quem ama o leu co mais do que tudo

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    No da sorte o aspecto carrancudo,

    Que nesfhora solemne me intimida;

    Deixo Lilia gentil, Lilia querida,

    L il ia . . . mr bem que a v id a .. . al i no nle illudo

    P tr ia doce penhor que amo e v en er o . . .

    E ' fora que te eu deixe (oh d r pungente )

    Mas a li ver -te uma vez eu ind a esper o .

    E se tu no pcrmttes, Deus clemente,

    Que eu gose esle favor, que imploro e quero,

    Pe termo minha vida incontinente.

  • 7/25/2019 Parnaso Maranhense

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    Os socegados ares perturbando;

    Das entranhas da terra lhe responde,

    Gemendo, voz horrisona. No peito

    O sangue se nos gela: a clina eria-se

    Aos ilentos coroeis. Do plaino equoreo

    Em lanto sobre o dorso bumida serra

    Empola em grossos borbotes; a onda

    Seavisinha e espedaa, vomitando,

    Entre rolos de espuma, a nossos olhos

    Um monstro furioso. A larga fronte

    De ameaadoras pontas se guarnece;

    Cobre-lhe o corpo amarelada eseama:

    Touro feroz, drago encruecido,

    A extensa cola em roscas sinuosas

    Se lhe curva e recurva: a praia Ioda

    Treme e relreme aos seus longos mugidos.

    O mesmo co, com v-lo, se horrorisa:

    O ar se inficiona, a terra abala-se,

    A onda que o lanou, espavorida

    Recua. Sem se armar d'esforo intil,

    Tudo fugio,.asylo procurando

    Em um visinho Templo, s Hyppolyto,

    0 digno filho de Theso no foge:

    Os cavallos sustem, o arco alsa,

    Remetteao monstro, e desfechando um dardo

    Com mo segura, lhe abre n'um dos lados.

    Larga ferida . A fera debatendo-se

    De dor, de raiva, vem pulando e aos ps

    Dos cavallos medrosos cahe bramindo,

    Rebo ca-se no cho e lhes amostra

    A gula inflamada, fumo e sangue

    Sobre elles vomitando: apoderou-se

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    Dos corceis o terror: arranco, voo,

    Surdos voz, que os doma, desbocados;

    Em baldados esforos se consume

    O teu filho , senho r ; sangnea espuma

    Lhes roxa o bocado: um Deos se via,

    (Dizem) no trance horrendo, aguilhoando

    Os ilhaes pulverosos desses brulos.

    De rocha em rocha o medo os precipita;

    O eixo range e estala: o ardido Hyppolilo

    Vio voarem pedaos o seu carro

    E nas rdeas, cahindu, se embaraa.

    Desculpa a minha dor; lo crua imagem

    De pranto me ha de ser fonte pcrenne:

    Eu vi, senhor, eu vi leu triste filho

    Arraslrado por brulos, que nutrio.

    Se elle os noma, sua voz aterro-se,

    Correm: todo o seu corpo n'um momento

    E ra uma chaga pura. A nossos gr ilo s,

    O

    campo retumbava, lamentosos.

    Nos brutos finalmente o fogo afroxa:

    Paro, no longe dos antigos tmulos,

    Que do s reis seus avs as cinzas guar d o .

    Corro chorando, a sua guarda segue-me,

    Seu generoso sangue quem nos guia:

    E lle as ro chas tingio ; e go tejando ,

    De sus cabellos inda as sarus mostro

    O sanguento d espojo. Chego, chamo -o ;

    A

    mo elle me estend e, os o lhos abre

    Nadando j na mo rte, e logo os ce na:

    Uma vida inno centeo co me arranca,

    (Mc d iz) da triste Aricia te encar rego .

    Amigo , se meu pai d csenganado

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    F .

    J .

    G C & R Z A .

    AS DUAS ILHAS.

    l^vatludo tk W d o t Hugo.*)

    I.

    Duas Ilhas existem cujos mares

    Separa um mundo,de longe dominando

    As ondas, como cabeas de gigantes.

    Ao seo aspecto inhospito e fragoso,

    Bem se v que Deos as tirou do fundo pego

    Para um grande desgnio, que nutria.

    Sua fronte, alvo dos raios, delles fuma;

    Sobre os seos flancos nus o mar referve;

    Ronco volces occullos em seo seio.

    Estas Ilhas, em cuja alpeslre base

    Em flor a onda rebenta e se tr itu ra ,

    So como dous navios de pirata,

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    Presos por ancora eterna que os segura.

    A mo que d estas bravias, negras co stas

    Dispoz os stios agrestes, hem parece

    Que to terrveis as fez e temerosas,

    Para que n'uma nascesse Bonaparte,

    E n'outra Napoleo morrer podesse

    Uma foi o seo be r o o utraoseo tmulo

    Estas palavras basto para os sec'los...

    Jamais ho de os vindouros esquece-las,

    Tenha o mundo desofrer grandes desordens.

    A' estas Ilhas, de letrica appareneia,

    Ao appllo, viro, de sua sombra,

    As geraes fuluras, altrahidas.

    Os raios que nos seos cimos descarrego,

    Eseos cachopos e suas tempestades

    So um fnebre bymno que o recordo.

    Longe das nossas praias, abaladas

    Pelos rudes furaces da sua sorte,

    Sobre estas duas Ilhas solitrias

    F-lo nascer e morrer a Providencia,

    Para que elle podesse vir ao mundo,

    Sem que um abalo profundo annunciasse

    O seo primeiro momento, e, emfim, podesse,

    Sem revolver a lerra, docemente

    Expirar sobre o seo leito de soldado

    II.

    Que de fagueiros sonhos principio

    O embalaro ao d epois que trisle aco r d o

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    E' que, farto de gozar do seo engano,

    O despertara a amarga experincia,

    Para deixa-lo com elle fronte fronte,

    Fazendo-lhe ver o nada das vaidades

    De que doura o ambicioso o seo futuro,

    A realeza, o Ihro no , a glo ria, a fama

    Na Gorsega, onde nasceo, sendo inda infante,

    Lhe revelavo vises seo sceplro ephemero

    E a guia imperial se equilibrando

    Sobre os seos estandartes vencedores;

    E nesta expectao, que o enlevava,

    Ja elle ouvia soberbo o hymno unisono,

    B abel d e linguas, que, s po rtas conco rrid o

    De sua tend a, ao d epo is, cantava em jbilo

    Oseo povo universal que o acompanhava.

    III.

    ACCLAMAO

    G loria Napoleo glo ria ao supremo

    Dominador da terra, quem Deos mesmo

    Do diadema cingio a fronle augusta.

    Obedecem-lhe as Naes que vo do Nilo

    Ao B o ryslhenes, po r elle d ebellad as.

    Os reis, estirpes de velhas dyiiaslias,

    S'inclino, ao v-lo passar; e elle, altivo,

    Em Roma, outr*ora a arbitra do mundo,

    S vio espao p'r 'o thro no de um menino .

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    :

    i

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    Vimos emfim ruir o gran'coIosso

    Envenenar possa o resto dos seos dias,

    E persegui-lo ainda alem do tmulo

    A conscincia tremend a do s seo s cr im es

    P ermitia Deos que, ao fallar-se no seo nome

    Do Manzanar, do Jordo, do Sena ao Volga,

    Troe, echoando, a maldio dos mortos,

    A' sua gloria fatal sacrificados,

    Nessas scenas de luto e mortandade,

    A que viclorias chamava o seo orgulho

    Que elle veja em tropelagglomcrar-se

    Ao derredor de si as suas victimas;

    Que esla turba, eVadida dos abysmos,

    Revelando os segredos d*alem tmulo,

    Desfigurada pelo ferro e fogo,

    A suja ossada enco ntrand o uns contraoso utro s,

    Lhe faa um Josaphal de Sahla Helena

    Seja-lhe a vida uma morte permanente

    Que elle sinta cada dia e cada hora

    E humilhado e cheio de remorsos,

    A sua soberba em lagrimas se mude

    Ignorando quasi a sua gloria,

    E escarnecendo da sua immunidade,

    Ho-lhe duros carcereiros carregado

    De.

    fria cadeia a essa mo ousada,

    Acostumada a curvar regias cabeas

    K Julgou eile que com sua fortuna,

    Em victorias fecunda, venceria

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    Seos bosques, verde manto que lhe pende

    Do bro nco d o rso , e as nuvens que a coro o,

    Amontoadas sobre a sua fronte.

    Subi e ide Ia mesmo conlempla-la

    Nessas zonas areas. P arecia-vos

    To car o co , Ia chegand o , e entre nuvens

    Vos achais perdido: tudo Iransformou-se.

    E' um abysmo medonho onde negrejo

    Seculares pinheiros, e se cruzo

    As torrentes e o fogo dos coriscos

    VIL

    Tal a gloria: principio um bello prisma,

    Ao depois um espelho expiatrio,

    Aonde a purpura em sangue se converte

    Primeiramente, dispondo, como um arbitro,

    Dos destinos do mundo, e leis dictando,

    Pelo direito da espada, tambm teve

    Ao depois de ser vencido e humilhado.

    Duas epochas oTrece a sua vida:

    N'uma elle ideiava os seos Iriumphos,

    N'oulra nos seos revezes s pensava.

    Na Corsega, em Santa Helena, ainda hoje,

    Nas invernosas noiles, o barquiiro,

    Quando alguma exlialaHo aimospherica

    V brilhar sobre a ponta de um rochedo,

    O Irislo nho capito se lhe figura,

    Immovel, braos cruzados, projeclando

    A sua clssica sombra pelas ondas;

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    101,

    E diz que, por final contentamento,

    Elle vem reinar no meio da procella,

    Como oulr'ora reinava nos combates.

    Se elle perdeo um imprio, duas ptria?

    Lhe ficaro, que o seo nome esclarece

    E igualmente d eslustra, d uas ilhas:

    Uma nos mares de Vasco, outra d'Annibal;

    E deste sec'lo attestando a maravilha,

    Jamais ser o seo nome proferido,

    Sem que relumbe n'um e n'oulro.polo 1

    Assim, quando uma bomba assoladora,

    Inflammada, descreve a sua curva

    Em ceo negro, por cima se balana

    Dos muros assustados, -que a espreilo;

    Depois, como um abutre Carniceiro,

    De agudas garras, de cabea implume,

    Que fere, ao pousar, a terra cora as azas,

    Cabe, e com um estrondo que ensurdece,

    Varre e descala a rea das cidades-

    'Muito tempo depois da sua queda,

    V-se ainda fumegar a bocea negra,

    Sonora e larga do morteiro, d 'onde

    Snbio, para cahir, o globo frreo,

    E o lugar onde

    a

    bomba arr ebentand o ,

    S 'cxlinguio vomitando o incndio e a mo rte

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    102

    0 LACRYMARUM FONS *

    E u amo as lagrimas' porque s exprimem

    Sentimentos que vo do corao,

    Porque no mentem, como mente

    o

    r iso ,

    Que muitas vezes occulta uma traio.

    Eu amo as lagrimas porque s as verte

    Urna alma sensitiva e generosa,

    Quesoffre e chora, n'um eanto, solitria,

    E guarda comsigo a d o r , silencio sa.

    Eu amo as lagrimas porque ellas correm

    De uma fonte que o mundo no corrompe;

    Santa pia em que a alma se baptisa,

    Quando o mundo a ventura lh'interrompe.

    E u amo as lagrimas po rque ellas dizem

    Que carece de consolo o que as derrama.

    Quem, ao v-las correr, se no commove

    E* um repro bo a quem o ceo d esama.

    E u amo as lagrimas po rque ellas guio

    s regies da bemaventurana,

    Como outr'ora a contrita Magdalena,

    Que s nellas fundou sua esperana.

    Eu amo as lagrimas porque Deos amou-as,

    Quando ando u entre os homens per egrino :

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    Nunca vio um afflicto , que com elle

    No repartisse o seo amor divino.

    Eu amo as lagrimas porque no as lenho;

    A naluresa avara m'as negou

    Q u e , inspirand o -me d ellassed e ard ente,

    Por inimiga, a fonle me seccou.

    S U A V E S M I S C E T I S O D O R E S .

    Voluptuosas flores, meos enlevos,

    Inundai-me d'effluvios os sentidos;

    Remoai-me o corao, nelle avivando

    s illuses e o amo r, amo rtecid o s

    Cnd idas filhas do ceo , copias d ivinas,

    So is mais bellas que as virgens do s humano s;

    Estas deixo no fim dos seos deleites

    Saciedade e tristes desenganos.

    E vs, celestes imagens da purCsa,

    O desejo qiwnsprais no degenera:

    O veneno do goso o no corr o mpe;

    E' um fogo de veslal, que

    H o

    se altera

    Tudo vs se associa, meos amores,

    Quanto ha de mais bello e agradvel;

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    E desta doce attraco

    s.

    a causa

    Essa vossa helleza ineomparavel.

    A madrugada verte suas pro las

    Nos castos seios qu'expandis medrosas;

    Os favonios, brincando, se perfumo

    Nas delicadas ptalas cheirosas.

    No se farlo de adejar as borboletas

    Onde flores nas hastes se balano,

    Ora nesta pousando, ora naquella;

    E neste enleio suavejamais cano .

    E' do neclar das flores que se nutre-

    Ocambianle colibri mimoso;

    E ' lambem dellas que as abelhas fazem;

    O seo grato manjar delicioso.

    Dellas tecem-se c'roas e grinaldas,

    Que leva a noiva s aras do hymeneo,

    E a virgem que deixou as falsas glorias.

    Da terra, que tro co u pelas do ceo .

    No ha moa que s flores no recoitra,

    Quando quer parecer bella e louan;

    E se assim enfeitadas se apresenlo,

    So quaes rosas ao sopro da manhan.

    De que estranhas delicias nos repassa

    Oinefavel extasis divino.

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    f . ' D I A S C A R H E f C .

    P E L O I T A P I C U R U ' .

    A tard e era bella; sopravam macias

    As brisas; tard ias

    Rolavam-se as nuvens do espao no azul.

    As sombras cabiam do o uleiro visinbo;

    Ningum no caminho;

    O r io sosinho;

    A margem de areia; o cho sem paul.

    As folhas se agitam; o remo estrid-cnle

    Fere a gua d o r m en te . . . .

    Eis passa uma barca ligeira a correr.

    As vezes um surdo gemido se ouvia;

    A quilha tremia;

    A areia rangia

    E a barca cingrava sem nunca empecer.

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    O vio deste arvo red o ,

    O cuhir d estas folhagens

    E o rumor destas aragens,

    De flores toucando o cho,

    Tudo isto j sertanejo,

    Meus bar queir o s, cerra cerr a l'

    T chegar na'minha terra '

    Que eu s vivo no serto.

    0 verso e a harmonia que cantam da proa

    Se espalham, e soa

    Nos echos dos montes um cntico igual.

    E a barca ligeira que increspa a corrente..

    No canto indolenle

    Descuida-se a genle

    E.a barca se enlaa n'um cru cipoal.

    E logo revolta no leito do rio.

    Como um corropio,

    Deslisa ao declive das guas foz:

    Mas sbito estaca, que as varas se curvam,.

    As ondas se turvam,

    Inlcnsam-se, incurvam,

    E eslalam-se os nervos dos rijos cips.

    E a barca passava; ifao rea penugem-^

    De lmpida nuvem

    Praleiam-se os limbos de mgica luz;

    No frouxo ambieiile deslouca-se a lua,

    A nuvem recua

    E o espao tressua

    Dos vagos incautos que a lua conduz-..

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    E os ares condensam-se; e a noite Irescala,

    E a vida se exhala

    Nos doces effluvios do s astro s do co :

    E a barca no rio c'o a lua parece

    Aranha que esquece

    O fio que tece

    N'urgentea brancura de tremulo vo.

    E os remos batendo coacham certeiros

    Quaes passos matreiros

    Das antas nas folhas, que o sol derrubou.

    E ao fresco da noite, que espessa cahia,

    A barca corria,

    Arava, estendia

    S umind o -se ao longo do r i o . . . e chegou.

    P E R D O A E - L H E ,

    S E N H O R .

    Ella era um anjo que perdeu seu trilho,

    Esqueceu-se do co, crendo no brilho

    Que a gente faz cegar.

    Dae-lhe, Senhor, um riso por piedade

    Ao anjo, que no charco da vaidade

    Deixou-se enxafurdar.

    Antes ver dos mendigos o supplicio,

    Que puros pela do r do sacrifcio

    A misria os matou:

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    E lla mais infeliz que o vagabund o ,

    As brancas vestes no paul do mundo

    Sor r indo mareou.

    O peito da mulher como a tela,

    Toma as cores da mo que imprime nelta,

    Quer tintas, quer amor:

    Se este nobre, d

    r

    um anjo a imagem sua,

    Se o homem que ella adora a disvirtua,

    Perdoae-lhe, Senhor.

    P erd o ae-lhe, S enhor, se a tua essncia,

    E nvolvida na argilla, d a iunocencia

    Perdeu a lucidez:

    A flor do valle no bater do venlo

    Tambm cabe murcha, por faltar alento

    A' frgil candidez.

    E lla, coitada procurava amo res,

    Como a abelha procura o mJ.nas flor es

    Ao raiar da manhan:

    Se fel esta encontrou, veneno aquella,

    No lheenculpem o erro sua estreita

    E' viver neste afun.

    A gara as vezes passa sobre o lod o ,

    Mas no pode uma s norloa de tod o

    Ficar n'aza de brim:

    Nelle porem a virgem fica impura;

    Senhor, porque fizestes a brancura

    Das azas do anjo assim?

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    E ' triste ver-se o pallido vestgio

    Que recorda um anglico prestigio

    Na virgem que o perdeu:

    Pois quantas vezes sem perfume a rosa,

    Entre as cores dos petalos formosa^

    Lastima o fado seu ?

    Ella era um anjo que perdeu seu trilho,

    Esqueceu-se do ceo, crendo no brilho

    Que a gente faz cegar:

    Dae-lhe, Senhor um riso por piedado

    Ao anjo, que no charco da vaidade

    Deixou-se enxafurdar.

    UM

    R E T R A T O .

    La ho vedulta, o Lorcnzo,

    Ia divina fanciua

    U. FOSCOLO.

    A Unia do pintor por sobre a tela

    Um retraio estampou;

    O rosto bello e a formosura delia.

    E tudo que o pintor deixou na tela

    Parece que animou.

    Nelle um sorriso pula da innocencia,

    Travesso a mais no ser:

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    Oh que riso imprud ente e esta imprud ncia,

    A no ser privilegio da innocentia

    Far-me-hia cndoidecer.

    Mas no, ella ainda to creana

    Para inspirar amor

    E assim mesmo um cortejo de esperana

    Faz-me gerar na mente esta criana,

    Mau grado ao pensador.

    Procuro me entender na luz dormente,

    Que o ultimo olhar soltou,

    E nada posso ver seno que ausente

    No suspira, nem geme a alma dormente,

    Que o retrato imitou.

    E fica nisto o goso da pintura;

    E onde o corpo est ?

    A i

    bem longe de mim todo se apura

    Em ser muito mais bello que a pintura,

    Que comigo andar.

    Mas no importa; eu saberei dar vida,

    Dar-lhe corpo e expresso:

    E a pintura ser Ho parecida,

    Que cresa como a virgem tenha vida,

    E mais um corao .

    Hade gemer e suspirar de amores.

    A copia e nada mais-^

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    Ha de queimar por mim inscnso e odores,

    Que tornaro felizes meus amores

    De invejar aos mortaes.

    Teus olhos brilhantes

    Me cegam de luz:

    So vivos diamantes

    De raios cingidos,

    Da noite embutidos

    Em d ois cilio s, nus.

    Teus olhos que agitam,

    Que queimam se filam,

    Teus olhos brilhantes

    Me cegam de luz.

    - s

    u

    Mas a i no pudessem

    Teus olhos ser taes

    Que morte elles dessem,

    No fogo e martyrio

    Da mente ao delrio,

    o peito a meus ais

    Se nunca elles matam,

    Mas se alma arrebatam,

    A i

    nunca podessem

    Teus olhos ser taes

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    E Deus faz na terra

    Mulheres assim

    E quando o homem err a,

    Perdido de amores,

    S er, meus senhor es,

    Um doido porfim?

    Se o pelo suspira,

    Se a mente delira,

    Se Deus faz na terra

    Mulheres assim

    ?

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    AINDA

    A T I .

    Murmura muito embora a ss comligo

    Palavras de desdm, de maldico

    Tua sombra sou eu; teus passos sigo;

    Sou leu phantasma; no me escapas, no I

    Hei de gelar-te nos lbios o sorriso,

    Quando alegre estiveres no festim.

    O mundo no ser leu paraso,

    Tendo sido um inferno para mim

    Planlasteador no fundo de minhalma;

    Mordesle um corao, que s te amou 1

    Vingasle-te; pois bem; porem a palma,

    A palma do Iriumpho qum ganhou ?

    Oh, no, no s feliz; consulta agora

    O sincero sentir do corao*

    "Soffre, louca, essa dor que te devora;

    Soffre; eu no soffro, no

    0 PASSEIO.

    Que noite aquclla 1

    P A L M EIR IM .

    No foi nos campos, onde a vida corre

    Plcida, longe do rumor do mundo,

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