PANORAMA DA GEODIVERSIDADE E DO ATUAL USO E OCUPAÇÃO DAS … · No mapeamento do atual uso e...
Transcript of PANORAMA DA GEODIVERSIDADE E DO ATUAL USO E OCUPAÇÃO DAS … · No mapeamento do atual uso e...
1. Acadêmica do programa de pós-graduação em Geografia da Universidade Federal de Sergipe. E-mail de contato: [email protected] 2. Docente do Departamento de Geografia da Universidade Federal de Sergipe. E-mail de contato: [email protected] 3. Docente do Departamento de Geografia da Universidade Federal de Sergipe. E-mail de contato: [email protected]
PANORAMA DA GEODIVERSIDADE E DO ATUAL USO E
OCUPAÇÃO DAS TERRAS DO SISTEMA HIDROGRÁFICO DO RIO
ARAUÁ/SERGIPE
BRUNA LEIDIANE PEREIRA SANTANA¹ HÉLIO MÁRIO DE ARAÚJO²
TAIS KALIL RODRIGUES³
RESUMO: A relevância dos estudos que envolvem a Geodiversidade possibilitou a construção de uma nova abordagem que enaltece os componentes abióticos que estruturam os ecossistemas e compõem as diferentes paisagens terrestres, alçando a discussão e propostas para geoconservação. A expansão desordenada das atividades produtivas em determinado território representa uma possível instabilidade nos processos que atuam na configuração da paisagem afetando tanto a biodiversidade, quanto a geodiversidade. Nesta perspectiva, o trabalho objetiva caracterizar a geodiversidade no sistema hidrográfico do rio Arauá/se relacionando-a às atividades produtivas que dinamizam o atual uso e ocupação das terras. A base teórico-metodológica se estabeleceu nos preceitos sistêmicos e os procedimentos metodológicos adotados referem-se a levantamento bibliográfico, trabalhos de campo e mapeamento. O sistema hidrográfico do rio Arauá situa-se no território sul e centro-sul sergipano, drena um total de 680 km², seu principal canal fluvial, o rio Arauá, possui aproximadamente 60 km de extensão. A complexidade geológica representada por dois Setores Geológicos Estruturais – Embasamento Gnáissico, a Faixa de Dobramento Sergipana, além das Formações Superficiais, agrega litologias que foram expostas a processos morfogenéticos de aplanamento e dissecação, culminando em um conjunto morfoescultural que favoreceu a evolução de distintos ambientes com características variadas quanto a cobertura pedológica, vegetacional e o desenvolvimento de atividades produtivas, influenciados, sobretudo pelas peculiaridades climática estabelecida na área. O potencial para a geodiversidade se materializa em afloramentos rochosos e o modelado de serras que constitui um dos principais elementos de relevância econômica (turismo) e cultural (peregrinação religiosa) para moradores e visitantes de municípios como Itabaianinha. Os aspectos geológicos e geomorfológicos repercutem na organização espacial. A agricultura permanente e temporária, a extração mineral e a pecuária extensiva são os principais tipos de uso e ocupação das terras, contudo a mineração revela maior propensão a degradação da geodiversidade, verificando-se pontualmente a descaracterização paisagística. Em contraponto a mineração, a pecuária extensiva apresenta uma relação com elementos da geodiversidade com baixa tendência a degradação. O uso identificado apenas no alto curso do sistema hidrográfico refere-se as cercas de pedras, extensos muros construídos para delimitar as propriedades agropecuárias com fragmentos rochosos dispostos em grande quantidade nos terrenos. As cercas de pedras agregam valor a paisagem como produtos que advém da apropriação e uso racional dos recursos naturais disponíveis, e sobretudo representam a complexa relação entre homem e geodiversidade, tanto no aspecto econômico como cultural. O processo de reconhecimento da suscetibilidade da geodiversidade quanto a exploração pelas atividades produtivas torna-se o princípio que deve nortear a possibilidade de criar instrumentos que viabilizem a sua preservação e/ou a
conservação.
ABSTRACT: The relevance of the studies involving Geodiversity allowed the construction of a new
approach that praises the abiotic components that structure the ecosystems and compose the different terrestrial landscapes, raising the discussion and proposals for geoconservation. The disorderly expansion of productive activities in a given territory represents a possible instability in the processes that affect the configuration of the landscape affecting both biodiversity and geodiversity. In this perspective, the objective of this work is to characterize the geodiversity in the hydrographic system of the river Arauá / related to the productive activities that dynamize the current use and occupation of the lands. The theoretical-methodological basis was established in the systemic precepts and the adopted methodological procedures refer to bibliographic survey, fieldwork and mapping. The hydrographical system of the river Arauá is located in the south and center-south sergipano, drains a total of 680 km ², its main fluvial channel, the river Arauá, has approximately 60 km of extension. The geological complexity represented by two Structural Geological Sectors - Gnassic Basement, the Sergipana Bend Range, as well as the Surface Formations, aggregates lithologies that were exposed to morphogenetic processes of flattening and dissection, culminating in a morphoscultural set that favored the evolution of different environments with characteristics such as the pedological, vegetative cover and the development of productive activities, influenced mainly by the climatic peculiarities established in the area.The potential for geodiversity is materialized in rock outcrops and the modeling of mountains that constitutes one of the main elements of economic (tourism) and cultural relevance (religious pilgrimage) for residents and visitors from municipalities such as Itabaianinha. Geological and geomorphological aspects have repercussions on spatial organization. Permanent and temporary agriculture, mineral extraction and extensive livestock are the main types of land use and occupation. However, mining reveals a greater propensity to the degradation of geodiversity. In contrast to mining, extensive livestock farming has a relationship with elements of geodiversity with low tendency to degradation. The use identified only in the upper reaches of the hydrographic system refers to stone fences, extensive walls built to delimit the agricultural properties with rocky fragments arranged in great quantity in the grounds. The stone fences add value to the landscape as products that come from the appropriation and rational use of available natural resources, and above all represent the complex relationship between man and geodiversity, both in economic and cultural aspects. The process of recognizing the susceptibility of geodiversity to exploitation by productive activities becomes the principle that should guide the possibility of creating instruments that enable its preservation and / or conservation.
1 Introdução
Nas últimas décadas a Geografia incorporou aos seus estudos ambientais, a
temática Geodiversidade, possibilitando a construção de uma nova abordagem, que
permite a análise da paisagem integrando os aspectos naturais, sociais e culturais
com foco nos componentes biofísicos priorizando a sua conservação, assim como
ocorre para a biodiversidade. De modo geral, a geodiversidade contempla os
componentes abióticos que constituem a superfície terrestre, trata-se de uma vertente
que ressalta a importância da geologia, geomorfologia, solos e recursos hídricos
através dos seus valores intrínsecos, econômico, cultural, educacional/científico e
funcional.
Para Brilha (2005), a geodiversidade envolve apenas os aspectos não vivos da
paisagem, que são testemunhos resultantes do passado geológico (minerais, rochas,
fósseis), como também representa processos naturais que originam novos
testemunhos. E que a biodiversidade é condicionada pela geodiversidade, pois as
condições de subsistência dos diferentes organismos dependem da organização dos
elementos abióticos.
As relações estabelecidas entre os fatores abióticos e bióticos da paisagem são
afetadas pela expansão desordenada das atividades produtivas, responsáveis por
processos desencadeadores do rompimento da instabilidade dinâmica. Quando
refere-se à produção no espaço rural tem-se de imediato efeitos negativos a
vegetação original, substituída por grandes plantações ou áreas de mineração.
Numa sequência variável, as implicações da ação antrópica no contexto
produtivo, poderá se manifestar nos recursos hídricos através da contaminação das
águas fluviais e subterrâneas, nos solos pelos processos erosivos e no modelado e
composição litológica pela descaracterização paisagística. A tendência é que o
encadeamento deste processo alcance os demais componentes da paisagem
alterando e modificando seus fluxos de energia e matéria.
Nesta perspectiva, o trabalho objetiva caracterizar a geodiversidade no sistema
hidrográfico do rio Arauá/se relacionando-a às atividades produtivas que dinamizam o
atual uso e ocupação das terras. O reconhecimento do potencial da geodiversidade
favorece a possibilidade de implementar ações destinadas a geoconservação.
2 Metodologia
O desdobramento do trabalho está alicerçado na análise sistêmica em função
da complexidade inerente a geodiversidade da área de estudo e a necessidade de
integrar os componentes bióticos e abióticos que compõem sua paisagem na bacia
hidrográfica do rio Arauá.
Nesta perspectiva, se efetivou a partir dos seguintes procedimentos técnicos -
levantamento e análise do acervo bibliográfico, cartográfico, elaboração de mapas
temáticos e trabalhos de campo.
No levantamento do acervo bibliográfico foram priorizadas obras pertinentes a
geodiversidade, bem como trabalhos que apresentam informações sobre as
características naturais e das atividades produtivas da área de estudo, possibilitando
compreender o contexto regional dos componentes da paisagem como geologia,
geomorfologia, clima, solos, hidrologia, além da dinâmica do uso e ocupação das
terras.
Para espacializar as informações sobre a geodiversidade confeccionou-se o
mapa geológico com as unidades geológicas e os litotipos que integram o sistema
hidrográfico do rio Aruá, a partir da base cartográfica do Mapa de Geologia e Recursos
Minerais de Sergipe na escala de 1:250.000 (SANTOS et al., 1998) que foi digitalizado
utilizando a ferramenta Fixed Scale do ArcMap 10.1.
No mapeamento do atual uso e ocupação das terras utilizou-se da imagem de
satélite do Word Imagery do Global Mapper com resolução espacial de 2m. A
identificação das classes de uso e ocupação das terras ocorreu através da
interpretação visual que permitiu a criação de polígonos salvos no formato shape.
Os trabalhos de campo auxiliaram na interpretação da imagem de satélite e na
checagem do resultado obtido. Assim, com o uso do GPS (Sistema de
Posicionamento Global) pode-se coletar pontos de referência para verificação dos
polígonos mapeados. O registro fotográfico realizado no campo favoreceu a
caracterização da paisagem considerando seus usos e o registro de imagens com
Drone possibilitaram o reconhecimento de áreas de difícil acessibilidade.
No processo de confecção do mapa adotou-se a classificação do Manual
Técnico de Uso da Terra do IBGE (2013), estabelecida em três níveis hierárquicos
que abrangem as Áreas classificadas em Antrópicas, Naturais e Água, nestas são
definidas o tipo de cobertura – Não agrícolas, Agrícolas, Florestal, Campestre e Áreas
Descobertas. O terceiro nível representa as classes de uso que possui um amplo
conjunto de unidades.
Essas informações que especificam as formas produção da mineração, dos
cultivos, do extrativismo, da pecuária constituem o quarto nível de informação que foi
contemplado textualmente.
3 Panorama da Geodiversidade no sistema hidrográfico do rio Arauá
O sistema hidrográfico do rio Arauá está situado nos territórios sul e centro-sul
de Sergipe, drenando uma área de 680 km². O principal canal fluvial, o rio Arauá,
apresenta aproximadamente 60 km de extensão (figura 01).
Figura 01 – Mapa de localização do sistema hidrográfico do rio Aruá/SE
Neste sistema, a geodiversidade se materializa nas características complexas
do quadro geológico-geomorfológico que se insere em dois Setores Geológicos
Estruturais – Embasamento Gnáissico, a Faixa de Dobramento Sergipana, bem como
as Formações Superficiais (Figura 02), que agregam ao ambiente um complexo e
variado conjunto litológico que reflete no padrão de formas do relevo formado por
diferentes compartimentos como a Unidade morfológica dos Tabuleiros Costeiros e
Tabuleiros do Rio Real (BRASIL, 1988).
O Embasamento Gnáissico integra o Cráton do São Francisco, fragmento
continental antigo com núcleos arqueanos ligados por cinturões orogênicos
paleoproterozóicos, que representa a região preservada pela deformação orogenética
(UHLEIN, et al., 2011). Na área de estudo, este setor abrange a unidade
litoestratígrafica do Complexo Granulítico e Complexo Gnáissico-Migmatítico que
datam do Arqueano/Paleo- Proterozóico.
Figura 01 – Mapa Geológico do sistema hidrográfico do rio Arauá/SE
Rede de Drenagem
Sedes municipais
Limite da área de estudo
UNIDADES GEOLÓGICAS
EMBASAMENTO GNÁISSICOComplexo Gnáissico-migmatítico
Apg5-Augen-Gnaisses de composição granulítica
Apg3-Ortognaisses migmatiticos de composição granodiorítica
Apg4-Biotita-ortognaisses tonalíticos e granodioríticos
Apg1-Biotita-gnaisse migmatiticos com anfibolitos e lentes
Complexo GranulíticoApgl-Ortognaisses charnoenderbíticos e charnokíticos, kinzigitos, rochas calssilicáticas e metanoritos. Biotita-gnaisses migmatiticos subordinados
FORMAÇÕES SUPERFICIAS CONTINENTAIS Grupo Barreiras
Tb-Areias finas e grossas com níveis argilosos e concrecionários
Mnp-Formação Palmares - Grauvacas, grauvacas
seixosas, arenitos feldispáticos e coglomerados
FAIXA DE DOBRAMENTO SERGIPANAGrupo Estância
No Complexo Granulítico predominam ortognaisses charnoenderbíticos a
charnoquíticos, gnaisses kinzigíticos, rochas calcissilicáticas, metanoritos e biotita
gnaisses migmatizados, bem como níveis pouco espessos de quartzitos. Santos et
al., (2001) ressaltam que os ortognaisses charnoenderbíticos a charnoquíticos são as
litologias mais recorrentes na unidade.
A exposição destas litologias ocorre, principalmente no leito dos canais de
drenagem e nas áreas de planície de inundação, pois uma significativa parte do
complexo é recoberto por sedimentos terrígenos do Grupo Barreiras.
A distribuição litológica concentra-se no médio e baixo curso do sistema
hidrográfico do rio Arauá. No médio curso têm-se ortognaisses, calcossilicáticas e
metanoritos evidenciados no município de Itabaianinha. Os ortognaisses, kinzigitos,
rochas calcossilicáticas, metanoritos e biotitagnaisses subordinados foram
identificadas no território de Pedrinhas. Em Boquim foram identificados gnaisses
kinzigíticos com coloração cinzenta, granulação média a grossa, que podem ser
migmatizados com estrutura bandada.
Sobre esta estrutura litológica evoluíram colinas com topo convexo, e em menor
proporção topo aguçado com encostas convexo-côncavas e espigões que
caracterizam-se pela feição alongada com topo abaulado e estreito subindo vertentes
convexizadas. Além disso, predominam superfícies irregulares que remetem a
ondulações semelhantes a pequenas colinas rebaixadas entalhadas por rede de
drenagem incipiente que constituem rios de primeira ordem.
Neste complexo, a expressividade da geodiversidade destaca-se por paredões
e afloramentos rochosos presentes em trechos de canais fluviais como do rio
Carnaíba no município de Pedrinhas. Os afloramentos que constituem os leitos
rochosos permitem a formação de pequenas quedas d’água, enquanto os paredões
situados nas margens, tornam-se ambientes favoráveis a colonização da macambira
(Bromélia sp.), planta da família das Bromeliáceas, do gênero Bromélia, registrada
como Bromélia laciniosa Mart. ex Schult (Figura 03).
Figura 03 – Aspectos da geodiversidade do Complexo Granulítico no município de Pedrinhas/SE
No Complexo Gnáissico-migmatítico a diversidade litológica se amplia e divide-
se em gnaisses migmatíticos com anfibolitos e lentes, aos ortognaisses migmatíticos
granodiorítico, Biotita-ortognaisses tonalíticos e granodioríticos e aos Augen-gnaisses
de composição granulíticos presentes no alto e médio curso do sistema hidrográfico,
nos municípios de Riachão do Dantas e Itabaianinha.
A paisagem expressa superfícies residuais representadas por blocos rochosos
com morfologias descontínuas distribuídas no território dos municípios de Tobias
Barreto, Itabaianinha e Riachão do Dantas, destacando-se pequenas serras com
desníveis variados. As serras da Pioneira e Serra da Pedra Branca representam as
áreas de maior relevância para a geodiversidade neste conjunto litológico.
A Serra da Pedra Branca conhecida pelas visitações turísticas de caráter
religioso e de contemplação da paisagem do Pediplano Sertanejo, que abrange a
região semiárida do estado de Sergipe, evidencia o potencial turístico e serviços
culturais relacionados a atividades de lazer e significado cultural-espiritual. A Serra da
Pioneira ressalta-se pela facilidade de acesso por trilhas que atrai professores e
pesquisadores para trabalhar conteúdos com estudantes do ensino básico
caracterizando potencial didático e os serviços de conhecimento relacionados a
educação.
Nas Formações Superficiais Continentais, representadas por sedimentos
terrígenos (cascalhos, conglomerados, areias finas e grossas e níveis de argila),
pouco ou não consolidados, com variadas e estratificação irregular do Grupo
Barreiras, o componente da geodiversidade de maior proeminência são os solos.
A cobertura pedogenética caracteriza-se pela evolução de Argissolos e
Latossolos. No grupo Barreiras se desenvolveram Argissolo Amarelo Distrófico +
Argissolo Amarelo Latossólico, ambos com textura média/argilosa, situados em relevo
plano e suave ondulado. O Argissolo Amarelo Distrófico e Álico também ocorrem com
o Argissolo Amarelo Latossólico apresentando as mesmas características texturais e
de relevo, podendo ocorrer horizontes com ou sem fragipã.
Quanto ao Argissolo Vermelho-Amarelo Eutrófico, caracteriza-se como
profundo e pouco profundo, exibindo textura média/argilosa a muito argilosa com fase
não pedregosa e epipedregosa. A fase epipedregosa indica que o solo contém
calhaus e/ou matacões na parte superficial e/ou nos perfis de até 40 cm de
profundidade.
O Argissolo Vermelho-Amarelo e Argissolo Amarelo, que integram esta relação,
ambos Distróficos e Álicos não plínticos e plínticos possuem textura média/argilosa
com fase não pedregosa e epipedregosa, situados em relevo suave ondulado e
ondulado. O Argissolo Amarelo latossólico e não latossólico sem e com fragipã de
textura média/argilosa ambos distróficos e Álicos são desenvolvidos em relevo plano
e suave ondulado.
De acordo com a organização dos componentes da paisagem, o sistema
hidrográfico apresenta um complexo patrimônio natural materializado em
afloramentos rochosos, serras e solos com alto potencial ecossistêmico. A
diferenciação inerente aos ambientes que compõe esse sistema, viabiliza a inserção
de distintos tipos de uso e ocupação das terras.
4 O atual uso e ocupação das terras do sistema hidrográfico do rio Arauá
Assim como os elementos da biodiversidade, os componentes biofísicos que
integram a geodiversidade estão propensos aos processos de degradação
desencadeados pela ação antrópica. No sistema hidrográfico do rio Arauá, as
atividades produtivas desenvolvidas no espaço rural são fortemente influenciadas
pelas características da paisagem, predominando como principais tipos de uso e
ocupação das terras, a agricultura permanente e temporária, a extração mineral e a
pecuária extensiva (Figura 04).
A agricultura permanente e temporária prevalece sobre os Argissolos evoluídos
nos Tabuleiros Costeiros. Nas áreas de relevo plano constituído por superfícies sub-
horizontais destacam-se a produção de citrus, milho, abacaxi, macaxeira, feijão,
batata-doce e amendoim. Nas colinas e espigões com relevo suave ondulado, a
cobertura vegetacional de maior expressividade refere-se a gramíneas destinadas a
pastagem de rebanhos bovinos.
Quanto aos problemas relacionados a geodiversidade, estas atividades
suscitam na ocorrência de processos morfodinâmicos que culminam na perda de
solos, verificada por feições erosivas em áreas pontuais, onde a declividade é mais
acentuada e a pastagem apresenta níveis elevados de degradação, expondo os solos
ao impacto direto das águas pluviais.
Nos Tabuleiros do Rio Real, entretanto, a mineração é a atividade econômica
de maior impacto negativo sobre os aspectos geológicos e geomorfológicos. O
processo de extração de argila sobre as superfícies colinares com aspecto irregular,
promove a descaracterização paisagística das feições do modelado e o desmonte de
perfis de solos, inviabilizando a colonização de espécies vegetais.
Nas superfícies residuais e pediplanadas, que também estão inseridas na
unidade morfológica dos Tabuleiros do Rio Real, pastagens que ocupam Neossolos
Figura 04 – Mapa de uso e ocupação das terras no sistema hidrográfico do rio
Arauá/SE
ÁREAS ANTRÓPICAS
NÃO AGRÍCOLAS
Sedes municipais
Área de Mineração
AGRÍCOLAS
Solo exposto
Pastagem
Cultura permanente+temporária
CALSSES DE USO E OCUPAÇÃO DAS TERAS
Fragmentos de Floresta Estacional Sermidecidual
ÁREAS NATURAIS
FLORESTAS
Litólicos e Planossolos respectivamente, são utilizadas para o desenvolvimento da
pecuária extensiva. Esta atividade promove a continua supressão da vegetação
original e a potencialização dos processos erosivos devido a fragilidade natural
inerente os Neossolos.
Contudo, a pecuária extensiva apresenta uma relação com elementos da
geodiversidade com baixa tendência a degradação. No sistema hidrográfico do rio
Arauá, uso identificado apenas em seu alto curso, no povoado Vermelho no município
de Itabaianinha, refere-se as cercas de pedras (Figura 05), extensos muros
construídos para delimitar as propriedades agropecuárias com fragmentos rochosos
dispostos em grande quantidade nos terrenos.
Figura 04 - Cerca de pedra delimitando propriedades agropecuárias, Itabaianinha/SE
De acordo com Garner (2015) a construção de cercas de pedra é técnica antiga
caracterizada pela a construção de paredes com sobreposição vertical de fragmentos
de rocha sem a utilização de material como argamassa por um processo artesanal e
simplório. A disponibilidade de afloramentos rochosos de rochas gnáissicas do
Embasamento Gnáissico são a principal matéria prima na construção destas
estruturas.
As cercas de pedras agregam valor a paisagem como produtos que advém da
apropriação e uso racional dos recursos naturais disponíveis, e sobretudo
representam a complexa relação entre homem e geodiversidade, tanto no aspecto
econômico como cultural.
Deste modo, verifica-se que o atual uso e ocupação das terras na área de
estudo, além de repercutir nos elementos da biodiversidade, como a cobertura da
vegetal nativa, tem culminando na desestabilização dos componentes abióticos da
paisagem, que promovem serviços ecossistêmicos de caráter cultural, econômico e
natural.
5 Conclusões
A metodologia empregada no presente trabalho possibilitou o cumprimento dos
objetivos propostos, uma vez que conseguiu retratar as características da
geodiversidade destacando a geologia, geomorfologia e solos, bem como como o
atual uso e ocupação das terras do sistema hidrográfico do rio Arauá.
Por fim, o processo de reconhecimento da suscetibilidade da geodiversidade
quanto a exploração pelas atividades produtivas, torna-se o princípio que deve nortear
a possibilidade de criar instrumentos que viabilizem a sua preservação e/ou a
conservação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BENTO, L. C. M. Geodiversidade, geoconservação e geoturismo: trinômio importante para a proteção do patrimônio geológico. Sociedade & Natureza, v. 21, n. 2, p. 227-229, 2009. BRASIL. Ministério das Minas e Energia. Projeto RADAMBRASIL: folha SC.24/25 Aracaju/Recife: geologia, geomorfologia, pedologia, vegetação, uso potencial da terra. Rio de Janeiro, 1983. 851 p. (Levantamento de Recursos Naturais, 30). BRILHA, J. B. Património geológico e geoconservação: a conservação da
natureza na sua vertente geológica. Palimage, 2005.
BRILHA, J. B. Inventory and quantitative assessment of geosites and geodiversity
sites: a review. Geoheritage, v. 8, n. 2, p. 119-134, 2016.
BRITO, M. C.; FERREIRA, Cássia de Castro Martins. Paisagem e as diferentes
abordagens geográficas. Juiz de Fora, Revista Geografia, v. 2, n.1, p. 1-10, 2011.
CAÑADAS, E. S.; FLAÑO, P. R. Geodiversidad: concepto, evaluación y aplicación
territorial: el caso de Tiermes Caracena (Soria). Boletín de la asociación de
geógrafos españoles, n. 45, p. 79-98, 2007.
CENDRERO, A. Patrimonio geológico; diagnóstico, clasificación y valoración. Jornadas sobre Patrimonio geológico y Desarrollo sostenible, Madrid, Ministerio de Medio Ambiente, p. 23-37, 2000. IBGE. Manual técnico de uso da terra. IBGE, 2006. GRAY, M. Geodiversity: valuing and conserving abiotic nature. John Wiley &
Sons, 2004.
JACOMINE, P. K. T., Montenegro, J. O., Ribeiro, M. R., & Formiga, R. A.
Levantamento exploratório-reconhecimento de solos do Estado de Sergipe. Embrapa
Solos-Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento (INFOTECA-E), 1975.
SILVA, C. R. Geodiversidade do Brasil: conhecer o passado, para entender o
presente e prever o futuro. CPRM, 2008.
UHLEIN, A.;CAXITO, F.; SANGLARD, J. C. D.; UHLEIN, G. J.; SUCKAU, G. L.
Estratigrafia e tectônica das faixas neoproterozóicas da porção norte do Cráton
do São Francisco. Revista Geonomos, v. 19, n. 2, 2013.
VIEIRA, A.; CUNHA, L. Património Geomorfológico–tentativa de sistematização. In: III Seminário Latinoamericano de Geografia Física. Universidad Nacional Autónoma de México. Instituto de Geografía, 2004. p. 1-14.