AS FOR ç AS QUE MUDAM A HISTÓRIA SÃO AS MESMAS QUE MUDAM O CORAÇÃO DO HOMEM.
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4º COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
PAISAGENS EFÊMERAS: o patrimônio sob diferentes regimes de visibilidade
GÓIS, Marcos Paulo Ferreira de
Universidade Federal Fluminense. Departamento de Geografia e Políticas Públicas do Instituto de
Educação de Angra dos Reis Av. do Trabalhador, 179 - Jacuecanga, Angra dos Reis - CEP: 23914-360
RESUMO
Neste texto gostaríamos de discutir a visibilidade da paisagem e sua efemeridade ao longo do dia a partir de alguns exemplos da cidade do Rio de Janeiro. A efemeridade é uma qualidade das paisagens quando se tem em razão a questão da visibilidade ao longo do dia e sua transformação entre o diurno e o noturno. Este jogo de visibilidade expõe valores e significações que falam sobre a sociedade e sobre aquilo que ela considera como sendo relevante exibir como parte de seu conjunto patrimonial. Se durante o dia o esquema visual pode ser pouco alterado, durante a noite o ato de iluminar se manifesta como uma arte sobre a forma, realçando algumas marcas simbólicas presentes nas paisagens e obscurecendo outras. Veremos como as técnicas de iluminar também possuem um compromisso político, cultural e econômico, o que implica em diferentes formas de organizar a cidade e a sua imagem. Por fim, observaremos como as escolhas ligadas ao ato de iluminar compõem cenários urbanos e podem ser compreendidas em sua relação com as práticas sociais.
Palavras-chave: paisagem; visibilidade; patrimônio; arquitetura; luminosidade.
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
Introdução
A paisagem é um conceito polissêmico, aparentemente banal, mas complexo quanto a sua
definição (MEINIG, 1979). Na verdade, não há consensos e podemos observar pelo menos
duas propostas de definição, comuns a intelectuais, técnicos e especialistas. Em primeiro
lugar, a paisagem pode ser compreendida como um dado material, algo que possui extensão
física, uma morfologia modelada pelo trabalho humano sobre a natureza ao longo do tempo.
Esta versão teve grande centralidade para os primeiros naturalistas e geógrafos culturais até
meados da década de 1940. Em segundo lugar, a paisagem seria uma forma de ver, uma
estética criada pela inteligência humana, uma composição visual, como uma tela que
representaria um ponto de vista sobre uma região. Esta visão parece ter grande proximidade
com a história da arte e um vínculo forte com as definições do senso comum, bem próxima da
ideia de panorama, por exemplo.
Em todas as definições permanecem dois atributos fundamentais do conceito de paisagem. O
primeiro é a ideia de composição, no sentido de ordenamento de posições (GOMES, 2013). O
conceito de paisagem é o meio teórico-conceitual com o qual os especialistas tentam
compreender a organização desses objetos por meio da análise morfológica, estética ou
contextual. As definições de patrimônio normalmente associam a forma e a estética de um
objeto ao seu contexto espaço-temporal para a definição dos conjuntos paisagísticos ou
unidades de paisagem (RIBEIRO, 2007). Este parece ser, inclusive, um artifício no qual se
busca dar uma imagem coerente para se pleitear uma posição no hall de lugares celebrados
como patrimônios históricos e culturais da humanidade.
O segundo atributo é a visibilidade. A visão ainda é um imperativo para a definição do conceito
de paisagem. A composição dos objetos em termos artísticos, arquitetônicos ou paisagísticos
obedece a este imperativo. Os objetos são expostos para serem vistos, o que exige um
cuidado especial na sua apresentação. Seja como objeto no mundo ou como representação, a
paisagem existe para ser vista (ROGER, 1997). A exposição dos objetos paisagísticos
costuma fazer parte dos grandes projetos de valorização do patrimônio arquitetônico e
cultural, constituindo-se em expediente obrigatório para a apresentação das características de
estilo em seus contextos espaço-temporais.
Composição e visibilidade são duas características dos objetos presentes nas paisagens. A
perspectiva patrimonial tende a acentuar estas duas qualidades para expor os elementos que
fazem de determinada paisagem um documento de um período. Além de valorizar a
composição, os projetos de patrimonialização tendem a se preocupar com a sua visibilidade.
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Porém, a visibilidade da composição morfológica é variável segundo alguns fatores como a
disposição socioespacial, a escala do objeto e a disponibilidade de luz para realçar seus
aspectos centrais. Durante o dia, com a luz natural, a visibilidade é adquirida por um “jogo de
luzes e sombras”, ou seja, pelo aproveitamento dos contrastes entre objetos de diferentes
formas e pela projeção das sombras sobre a arquitetura. Este controle raramente permite o
realce da morfologia em sua composição simbólica, visto que a fonte luminosa é projetada a
partir de uma única posição (zenital). De modo diferente, durante a noite, a luminosidade é
controlada pelo intelecto humano que constrói técnicas e equipamentos para dirigir a luz sobre
áreas a serem destacadas. Assim, a iluminação artificial é necessariamente seletiva e a
exposição das características de um objeto passa a fazer parte de um projeto luminotécnico.
Após uma rápida reflexão sobre os atributos do conceito de paisagem em sua relação com o
patrimônio, gostaríamos de discutir a visibilidade da paisagem e sua efemeridade ao longo do
dia a partir de alguns exemplos da cidade do Rio de Janeiro. O que chamamos de paisagens
efêmeras decorre da observação de que as paisagens mudam conforme os jogos de
visibilidade ao longo do dia e que há entre o diurno e o noturno uma diferenciada significação
da paisagem em virtude de sua diferenciada visibilidade. Se durante o dia o esquema visual
pode ser pouco alterado, durante a noite o ato de iluminar se manifesta como uma arte sobre
a forma, realçando as marcas simbólicas presentes nas paisagens. Em um primeiro momento
trataremos da ideia de efemeridade comum as paisagens noturnas para que, em um segundo
momento, possamos apresentar algumas formas de se iluminar as paisagens urbanas que
tem tido repercussão na cidade do Rio de Janeiro em suas áreas patrimoniais.
Paisagens, formas e visibilidade noturna
É comum que na arquitetura se dê considerável atenção ao problema da visibilidade. Afinal, o
realce da forma, a exaltação de seus conteúdos e a exibição de seus referentes simbólicos
são alguns dos elementos importantes na identificação de estruturas arquitetônicas. O
reconhecimento da forma é parte crucial e a percepção visual deve ser convocada para isso
(LIMA, 2010). A iluminação do espaço se torna, assim, um dos componentes centrais de um
projeto arquitetônico, seja sob a luz do sol ou de lâmpadas. A criação de um projeto
luminotécnico geralmente tem como objetivo a organização entre a forma construída e as
fontes luminosas, buscando reconstituir visualmente a paisagem, produzindo um jogo de
visibilidade entre os objetos no espaço durante a noite. Esta organização também teria a
qualidade de organizar as relações entre as formas espaciais e as interações sociais.
Jean-Paul Thibaud (2001) chamou esta organização de quadros de visibilidade e definiu cinco
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quadros que se apresentam comumente nos espaços públicos: a superexposição que ocorre
pelo contraste entre lugares de extrema visibilidade e lugares obscuros, podendo ser
comparado a estrutura de um teatro moderno; o encapsulamento, comum a estruturas que
exibem partes enquanto escondem outras, como as janelas, vãos e portas que exibem
apenas parte de uma cena; a filtragem como o efeito proporcionado pela passagem de luz por
superfícies transparentes como vidros; a obscuridade criada por luzes que ofuscam a forma
dos objetos; e a marcação de silhuetas, ou seja, luzes que tendem a marcar os contornos da
forma e não as suas características individuais.
Os quadros de visibilidade nos mostram que a relação entre arquitetura e iluminação pode ser
muito mais complexa se tivermos em conta as práticas sociais, as quais dialogam com as
formas e as fontes de luz na interpretação da paisagem. Tradicionalmente, a arquitetura da
paisagem não tem em conta esta relação, atribuindo o papel da iluminação a aspectos bem
mais objetivos como a segurança e o deslocamento, usualmente atribuindo as melhores
condições de vida social aos lugares que têm bons projetos de iluminação. Em alguns casos,
a localização dos dispositivos luminosos torna-se um fator de determinação das ações sobre o
espaço, o que já demonstra que há mudanças na forma em que se entende o papel da
iluminação do espaço urbano (MASCARÓ, 2006).
O uso da luz para a construção de cenários e meios de interação social é bem menos comum,
mas já se constitui como um dos objetos centrais da revitalização de centros históricos e
conjuntos patrimoniais. As pesquisas mais recentes em arquitetura e urbanismo têm
promovido através dos estudos da arquitetura da paisagem ou do meio ambiente uma nova
reflexão sobre os papéis da iluminação na recuperação dos valores arquitetônicos e sociais
de tais conjuntos. Ainda que as associações entre iluminação eficiente e melhor segurança
ainda estejam presentes, elas não parecem ser agora tão centrais. As novas propostas de
arquitetura luminosa parecem localizar seus interesses sobre as formas de percepção e uso,
as características do lugar, a geração de diversidade, a incitação à interação e o seu papel no
reconhecimento da forma (FIORI, 2008). Estas ações se aproximam das novas propostas de
definição de conjuntos patrimoniais, nas quais a relação entre morfologia e práticas sociais
tem recebido grande atenção.
A criação de um projeto de iluminação urbana incorpora diversos subtemas e problemas
ligados à visibilidade: segurança, orientação, propaganda, sinalética, destaque arquitetônico,
destaque paisagístico etc. A concentração da diversidade de formas e de objetivos de se
iluminar daria, de certa maneira, um quadro da distribuição espacial do interesse noturno e
exibiria, ao mesmo tempo, as implicações em termos das velocidades e ritmos dos lugares
(GÓIS, 2011). Neste sentido, o planejamento das cidades tem nos últimos anos apresentado
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propostas exclusivamente para a cidade noturna, unindo o reconhecido interesse pelo
embelezamento de fachadas aos novos modelos de gestão energética e de valorização dos
espaços públicos urbanos.
O avanço do pensamento crítico sobre o uso da tecnologia na criação de ambiências noturnas
permitiu que a paisagem urbana noturna fosse incorporada ao planejamento da cidade,
reservada agora a um papel diferenciado. Nos primeiros anos de instalação da iluminação
elétrica nas ruas das cidades brasileiras, por exemplo, havia uma indústria pulsante de
produção de postes ornamentais (DUNLOP, 2008). A função de tais postes era ao mesmo
tempo a de sustentar os equipamentos de iluminação e de garantir os efeitos de
ornamentação para sua adequação à arquitetura vista durante o dia. A partir da década de
1950, no entanto, foram adotadas normas de iluminação externa e padrões de lâmpadas,
luminárias e postes (Ferreira, 2009). Desde então, a cidade do Rio de Janeiro passou a gozar
de um período de pouca criatividade nas ações de iluminação pública, limitando-se à
instalação de braços e luminárias nos postes da rede de distribuição de energia elétrica
(MIGUEZ, 2001), reproduzindo o funcionalismo na iluminação do período posterior a II Guerra
Mundial (NARBONI, 2004). Isto se deu em razão da necessária padronização dos serviços
dentro de um quadro de objetivos de se iluminar os logradouros de toda a cidade. Os custos
elevados de postes ornamentais e a necessidade de tecnologia mais moderna na criação e
manutenção das luminárias obrigaram o governo local a realizar esta modificação (Mendonça,
2004). Esta visão sobre a iluminação urbana, que ainda se encontra presente na atuação do
poder público, começou a ser revista a partir do fim da década de 1980 em diversos países.
Ainda que a adoção de padrões e normas de instalação de iluminação artificial tivesse que ser
respeitada, os novos especialistas em luminotécnica acreditavam que poderiam construir
cenários noturnos mais criativos, funcionais e esteticamente agradáveis (FIORI, 2000). Os
departamentos de planejamento urbano também passaram a adotar novas formas de lidar
com a noite na cidade, tendo a iluminação como um dos vetores de renovação urbana (Brandi
e GEISSMAR-BRANDI, 2007).
Mudanças na forma de pensar a noite urbana foram colocadas em prática por diversos
motivos ao longo dos anos 1980. Em primeiro lugar, o retorno da economia urbana aos
centros metropolitanos teve um papel importante na relação entre iluminação e patrimônio. A
reconstituição do acervo arquitetônico e da história social das cidades do passado previa não
só a refuncionalização da forma, mas a sua reabilitação no quadro de apresentação das
cidades. À imagem diurna se adiciona uma outra, a noturna, que procurava dar ainda mais
destaque às áreas patrimonializadas em relação ao seu entorno. Estas novas luzes atuariam
como um elemento cênico nas áreas reurbanizadas. Em segundo lugar, as atividades de lazer
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começaram a ganhar maior visibilidade nas políticas de governo e no interesse social,
absorvendo, por exemplo, as demandas turísticas, o que levou a aplicação de medidas que
visassem a segurança e a orientação dos usuários. Em boa parte dos casos, as quadras dos
conjuntos patrimoniais se tornaram centros de entretenimento cultural, com estabelecimentos
comerciais e de serviços voltados quase que integralmente ao período noturno. Com isso, as
luzes das fachadas seriam integradas às luzes das calçadas, uma medida que tentou dar
continuidade visual para as áreas recém-preservadas. Os projetos de renovação urbanística
começam, então, a reorganizar também as próprias funções urbanas, pensando no
desenvolvimento de ações ligadas ao zoneamento noturno das cidades.
A consideração pelos fatores de planejamento e de distribuição espacial da iluminação
urbana, nos mostra que o pensamento pragmático e voltado unicamente para a técnica de
iluminar vem sendo parcialmente contestado por novas formas de compreensão do papel da
luz na vida social. Neste sentido, encontramos dois polos de reflexão contemporâneos sobre a
iluminação de cidades no urbanismo: o modelo City Beautification e o modelo de Urbanisme
Lumière. Ambos surgiram no fim dos anos 1980 e propunham uma nova perspectiva sobre o
urbanismo noturno, ainda que segundo pressupostos diferentes, os quais receberam críticas
em relação aos seus papéis no processo de gentrificação urbana, como veremos no caso da
cidade do Rio de Janeiro.
Formas de iluminar, formas de ver o patrimônio
Já parece estar claro que o ato de iluminar possui uma intencionalidade e que como tal possui
também a característica de ser uma forma criativa de repensar as paisagens no período
noturno. As decisões sobre o que se deve dar visibilidade e como se iluminar dependem, no
entanto, de um entendimento sobre a forma de se pensar a própria vida social urbana,
integrando aos projetos luminotécnicos os usos que se pretende motivar. Neste sentido, o
entendimento sobre tais fatores não é unívoco, o que produz importantes diferenças, tanto em
termos técnicos e de engenharia, quanto em termos simbólicos e de atribuição de valores
sociais. Ainda que as formas de se iluminar e de se ver a paisagem noturna tenham se
modificado substancialmente nos dois últimos séculos, desde uma perspectiva que buscava
imitar a luz solar até as alternativas econômicas e ecológicas do mundo contemporâneo,
vestígios de modelos anteriores permanecem e podem ser observados na paisagem urbana
hodierna. Dentro do variado número de casos que se apresentam hoje para o debate sobre a
iluminação do espaço urbano há alguns modelos que parecem ser paradigmáticos no atual
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momento de valorização da noite como tempo de ativação da vida social. Os dois modelos
receberam os nomes de City Beautification e Urbanisme Lumière.
O termo City Beautification tem como referência o movimento do início do século XX,
chamado City Beautiful, o qual pretendia criar obras monumentais para valorizar a paisagem
das cidades norte-americanas, dentro do que Jacobs (2006) denominou como culto ao
desenho arquitetônico. A versão contemporânea ainda mantém um pouco do debate sobre as
escalas das obras urbanas, mas busca, ao contrário, valorizar a história urbana pelo uso de
outros elementos, como as artes plásticas, a criação de cenários, vistas e belvederes, além
dos shows de luzes e eventos culturais de grande escala. Assim parece que o conteúdo do
City Beautification não se apropriou dos princípios morais e cívicos propostos pelo movimento
anterior, mantendo somente os aspectos elementares ligadas a uma estética urbana
altamente concentrada sobre a ideia de uma ordem, seja ela civil, morfológica ou visual.
O City Beautification pode ser resumido em algumas ações de iluminar cidades através de
intervenções pontuais em locais de grande atratividade, identificação ou visibilidade. Em
termos bem gerais o urbanismo noturno proposto pelo movimento City Beautification procura
criar cenários ou ambiências para grandes eventos, festividades e valorização patrimonial.
Visibilidade, identidade e produção cultural são qualidades apreciadas em projetos de
iluminação especial que procuram embelezar as cidades à noite (GODOY, 2003). O intuito de
iluminar está submetido, neste caso, ao interesse turístico e ao valor estético da cena noturna,
o que contribui para a valorização da imagem da cidade. São comuns as imagens atuais de
grandes monumentos, iluminados por feixes de luz e projeções, flutuando sobre um fundo
quase negro, imperceptível devido ao contraste entre luzes e sombras. Este parece ser o caso
de monumentos como o Cristo Redentor que parece flutuar sobre a urbe carioca em seu
variado colorido produzido pela projeção de cores sobre a forma (figura 1).
O City Beautification procura adaptar o zoneamento diurno das cidades às necessidades
noturnas, evidenciando a forma física dos elementos urbanos e os significados das obras
humanas, reforçando a valorização do processo de patrimonialização, criando uma estética
de apresentação desse patrimônio e viabilizando a sua apreciação por meio de eventos.
Talvez em razão disso o movimento venha recebendo muitas críticas ao seu desempenho na
reconfiguração de cidades e seu potencial para a recuperação social do período noturno. Em
primeiro lugar, por não ter uma visão ampla do urbano, reforçando as disparidades diurnas e
sendo mais algo que realça a desigualdade sócio-espacial e que articula ações que, no limite,
podem levar a gentrificação de algumas áreas da cidade, especialmente nos antigos centros
comerciais. Em segundo lugar, pelo papel ativo que transfere para a tecnologia de iluminar na
caracterização dos lugares e em decorrência o papel secundário oferecido às práticas sociais,
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ou seja, as práticas estão voltadas ao consumo e a iluminação deveria servir a este princípio.
Outras funções urbanas parecem não cumprir um papel significativo nas ações do City
Beautification, havendo poucas referências sobre o tratamento das questões de trabalho,
moradia e mobilidade em seus planos. Por fim, a ênfase exagerada sobre as áreas turísticas
subtrai os interesses dos habitantes das cidades, relegando áreas ao desaparecimento
noturno e o surgimento de manobras visuais para o destaque e a inibição de comportamentos
transgressores. Em maior escala, trata-se de um projeto aplicado ao processo de “retorno ao
centro urbano”, do modelo norte-americano de criação de mercados e de festivais na área
central que se fortaleceu a partir da década de 1980 (HANNIGAN, 1998).
FIGURA 1 - Cristo Redentor, cidade do Rio. Fonte: http://www.cidadedorio.com. Acesso em: 20 ago. 2016.
O modelo de embelezamento das cidades parece se apropriar da demanda dos governos
locais, que buscam atrair grandes eventos, produzir centros de lazer e entretenimento para
atrair visitantes e aumentar a arrecadação de impostos com a introdução do noturno na
economia urbana. Sem dúvida, o embelezamento possui uma lógica ligação entre o modelo
de Estado empreendedor e o avanço do capital internacional por meio de patrocínios,
propagandas e direitos de exclusividade em torno de eventos esportivos, culturais e de
entretenimento (HARVEY, 2005). A forma pontual de atuação do modelo City Beautification
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possui, assim, um conjunto de estratégias espaciais, tecnológicas e temporais que se
beneficiam fortemente de tal relação.
A outra proposta, a qual parece ter objetivos diferentes daquelas do modelo City
Beautification, foi desenvolvida na França, no contexto em que novas intervenções artísticas e
culturais começaram a fazer parte do calendário anual de cidades como Paris e Lyon. O
movimento chamado Urbanisme Lumière, criado no fim da década de 1980, trata de um
conjunto mais coeso de arquitetos, urbanistas, planejadores e designers, os quais têm
promovido soluções para o urbanismo noturno de cidades europeias. Nos últimos vinte anos a
ideia de um planejamento noturno para as cidades ganhou a atenção de alguns gestores
urbanos em metrópoles asiáticas e americanas, incluindo algumas capitais de estados
brasileiros.
A proposta fundamental do modelo francês é a criação de um planejamento luminoso para as
cidades, com políticas de zoneamento urbano e organização territorial. Esta proposta surge
da premissa do Urbanisme Lumière como uma forma de urbanismo no qual a cidade à noite é
vista como sendo qualitativamente diferente da cidade diurna (NARBONI, 2008). Neste
sentido, os elementos que pertencem ao conjunto de cada cidade são repensados e
reorganizados durante a noite, o que é promovido especialmente através de inovações e de
projetos locais de iluminação artificial. Dessa maneira, a proposta francesa sugere uma nova
forma de gestão da iluminação urbana, estabelecida na criação de ambientes noturnos e na
integração da cidade através da luz. Não se trata, portanto, de uma tentativa de adaptação
aos ditames da dinâmica diurna, mas de uma reflexão sobre outra cidade, formada por um
novo zoneamento em virtude de suas diferenças em termos de ritmos e de funções.
O Urbanisme Lumiére parece envolver propostas de valorização das identidades dos lugares,
promovendo mudanças que envolvem o poder público como seu principal desenvolvedor,
incitando a participação popular no desenvolvimento de um projeto para a cidade. Ao contrário
do City Beautification, no qual os projetos tendem a ser desenvolvidos essencialmente pelo
setor privado e retido às áreas renovadas; a intenção do modelo francês parece ser a de se
produzir uma forma de administrar a cidade segundo dois diferentes momentos, ou seja, um
planejamento diurno e outro planejamento noturno (NARBONI, 2004). Com isso a função do
Estado é menos aquela de um ator empreendedor e mais próxima de sua função mais comum
de gestor da ordem urbana.
Um dos maiores interesses do Urbanisme Lumière é valorizar o conjunto patrimonial em
acordo com o zoneamento urbano, destacando a obra humana, a arquitetura e os valores
sociais atribuídos a história da cidade sem que isso se desconecte das relações e das práticas
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sociais contemporâneas. Neste sentido, a ideia de se manter uma unidade visual a partir da
diversidade de funções urbanas é central e isto pode aparecer em eventos extraordinários
como a Fête des Lumières, que ocorre anualmente na cidade de Lyon, na França, mas que
idealmente deverá ter visibilidade e acompanhamento contínuo dos projetos (figura 2).
Figura 2 - Lyon, França. Projeções sobre fachadas da área central destacam o evento e divulgam as ações do urbanismo luminoso francês. Fonte: http://www.fetedeslumieres.lyon.fr/. Acesso em 20/08/2016.
Cada modelo tem assumido uma perspectiva diferente sobre as cidades, sendo pontual no
caso do City Beautification; ou zonal, na escala urbana e interurbana, no caso do Urbanisme
Lumière. Estes modelos têm, juntamente com as necessidades de economia de energia
elétrica e de contenção da poluição luminosa, orientado os projetos e as ações de iluminar as
cidades. Os modelos se assemelham, no entanto, em relação às suas ontologias
classificatórias das atividades noturnas, ignorando algumas continuidades e
complementaridades entre a noite e o dia, algo mais comumente relatado no trabalho dos
historiadores e sociólogos da noite urbana. Além disso, em ambos os casos há críticas sobre
o potencial risco de que suas ações ajudem a promover o processo de gentrificação ou
acelerar situações de disparidades sociais, obscurecendo identidades e reafirmando valores
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culturais hegemônicos, além de problemas relacionados à poluição luminosa e seus efeitos
sobre espécies animais (MALLET, 2011).
Apesar dos problemas, os dois modelos têm proposto uma nova forma de composição da
paisagem da cidade, acrescentando novos aspectos às imagens urbanas. No caso brasileiro,
por exemplo, ao longo dos últimos vinte anos, tem se criado uma política mista que, ora se
utiliza das tradicionais preocupações técnicas, ora absorve algumas questões de City
Beautification e de Urbanisme Lumière. Assim, as combinações entre luz e objetos espaciais
são orientadas na atualidade através de objetivos construídos a partir de projetos ou de
reflexões sobre o espaço urbano durante a noite. No caso do Rio de Janeiro há um grande
interesse pelo patrimônio arquitetônico concentrado no centro da cidade e as formas de
iluminar esta área comporão a última parte do texto.
Paisagens Luminosas Cariocas
As intervenções luminosas na noite carioca fazem parte de um processo de acolhimento de
propostas para um maior ordenamento urbano e valorização estética do seu conjunto
patrimonial. Se trata de um processo não-linear, com a participação de diferentes agentes
públicos e privados, os quais guardam suas respectivas particularidades, interesses e formas
de uso dos modelos de intervenção na paisagem noturna da cidade. Assim, o projeto de
iluminar nem sempre aguardou o tombamento de um imóvel ou a renovação física de um
logradouro, se antecipando, assim, às mudanças na própria forma arquitetônica. Em outros
casos, o projeto de revigoramento físico já venho acompanhado de um projeto luminotécnico.
E na maioria das vezes este projeto foi posterior, sendo repensado conforme o passar do
tempo e as necessidades dos proprietários dos imóveis.
Dentro do conjunto de transformações ocorridas na área do programa Corredor Cultural
Carioca houve um significativo incremento da preocupação com a readequação da iluminação
artificial, tanto nos espaços públicos, quanto nas fachadas dos prédios. Neste caso, a
participação do Estado foi apoiada pelo Plano Diretor de Iluminação Pública, lançado em
1993, o qual serviu como instrumento de melhoria da qualidade geral da iluminação pública na
área central. Esta medida viabilizou ainda a participação dos agentes públicos e privados na
melhoria da estética e da visibilidade dos prédios conservados no conjunto de medidas do
Corredor Cultural Carioca, incluindo, então, a área da Praça XV de Novembro e as principais
ruas do atual bairro da Lapa (figura 3). A organização visual da paisagem noturna carioca é,
em parte, o resultado não acabado destas intervenções, mesclando a funcionalidade das
ações dos agentes públicos e a especificidade das ações de agentes privados. A visibilidade
da cidade se exibe, assim, segundo a intervenção provisória desses agentes.
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Figura 3 - Arcos da Lapa, Centro do Rio. A preservação de prédios, monumentos e obras faz parte da manutenção do conjunto patrimonial destacado durante a noite pelas luzes. Fonte: Góis, 2014.
Em espaços públicos e áreas livres como, por exemplo, praças, jardins e parques a opção da
prefeitura municipal se deu pelo uso de luminárias padronizadas, visando a melhor visibilidade
e a maior economia de energia, buscando criar efeitos luminosos sóbrios que destacassem as
principais ruas, sem que com isso se ofuscassem as formas dos prédios do entorno. Coube
aos proprietários dos prédios a elaboração dos projetos luminotécnicos, a manutenção do
material e até mesmo a organização dos horários de seu funcionamento. Em alguns casos os
projetos de iluminação foram confiados a patrocinadores, como bancos, empresas
petrolíferas e de extração mineral; em outros a organização ficou a cargo dos próprios
proprietários, como algumas ordens clericais que investiram parte das arrecadações do
templo em um projeto de destaque de fachada.
Em boa parte dos casos o estímulo à vida noturna e à utilização dos espaços públicos foram
reforçados pela criação de projetos que valorizaram as fachadas, exibindo-as como se fossem
vitrines para o passado ou um cenário no qual as práticas dos atores sociais pudessem se
instalar. A iniciativa de retorno da “vida divertida” ao centro do Rio envolveu variados agentes
sociais, em boa parte composta por uma mescla de intelectuais, funcionários da prefeitura do
Rio de Janeiro e proprietários de imóveis da área. O diagnóstico criado por este grupo foi de
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um centro moribundo e fadado ao esquecimento. Recuperar a história, a imagem e a
arquitetura do Rio do passado era parte de um projeto mais audacioso de recuperação
econômica da área central. Neste sentido, a preservação, recuperação e exibição da forma
urbana foi uma forma de enobrecer um capítulo da história da cidade, associando-o à festa, à
descontração e às instituições formadoras da nação.
As fachadas receberam um tratamento estético orientado pelos técnicos do IPHAN (Instituto
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), por engenheiros e arquitetos de escritórios
especializados, e técnicos da prefeitura e suas autarquias. A criação de tal expertise produziu
como um dos resultados a discussão sobre as possibilidades de adoção de modelos de
reorganização da cidade noturna, como o Urbanisme Lumière e o City Beautification. A
adoção de cada modelo se deu de forma descontínua, sem que a prefeitura conseguisse
orientar os proprietários na direção da construção de uma suposta harmonia visual. A
descontinuidade dos projetos luminotécnicos, a variação dos recursos disponíveis para as
ações da RioLuz (autarquia da prefeitura responsável pelos projetos) e as mudanças nos
planos estratégicos do governo local ao longo dos últimos 30 anos fizeram com que um
zoneamento noturno da cidade fosse deixado de lado por um modelo pontual e fragmentado
de ações de iluminação das fachadas e espaços públicos. Para as fachadas parece ter
prevalecido o arbítrio individual dos proprietários; para os espaços públicos restou a linha
mestra da economia energética e a obsessão pela iluminação funcional dos logradouros.
A questão da iluminação deixou de ter o modelo do urbanismo luminoso francês como mote
central e passou a se dedicar ao embelezamento como ferramenta para a criação de cenários
da economia noturna (Miguez, 2001). Nos casos da Lapa e da Praça XV de Novembro, por
exemplo, o processo de reconquista da noite foi incentivado a partir de duas estratégias
principais: a criação ou a renovação do espaço construído, incluindo reurbanização e
revitalização arquitetônica, mas tendo a iluminação uma centralidade especial, visto que os
problemas de segurança e de invisibilidade do patrimônio eram entendidos como barreiras
para a expansão das atividades sociais à noite; e, em consequência, o surgimento de
atividades de lazer, cultura e entretenimento noturno nos prédios tombados e no entorno das
praças (dos Arcos e XV de Novembro). As fachadas e as estruturas internas do casario antigo
teriam que ser renovadas para mudar o aspecto de degradação associado a eles. A ideia
contida nessas ações era que a iluminação poderia ajudar a valorizar o patrimônio histórico e
a estética dos prédios, atraindo consumidores para a uma área que possui um cenário
agradável, belo e seguro (figura 4).
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
Figura 4 - Rua do Lavradio, bairro da Lapa, Centro do Rio. A iluminação das fachadas compõe o cenário das atividades de lazer que ocorrem nos espaços públicos. Fonte: Góis, 2014.
As fachadas podem também ser entendidas nestes casos como espaços públicos. Isto
significa que elas compõem o ambiente no qual ocorrem interações sociais e fazem parte de
uma chave de leitura do espaço, sendo elementos concretos e visuais que permitem a
orientação dos indivíduos, seu reconhecimento como parte de uma coletividade e o
sentimento de estar dividindo algo que possui significados para todos que observam a mesma
paisagem. Neste caso a paisagem noturna é mais do que meramente um cenário para o
consumo, ela se transforma em um quadro de participação, onde os indivíduos se posicionam
e se apropriam espacialmente.
Finalmente gostaríamos de acrescentar que as fachadas são objetos que possuem
significados culturais. Iluminar é dar destaque a esses símbolos e tornar visível as expressões
de uma coletividade. Alguns valores podem ser universais ou de fácil identificação por parte
dessa coletividade; outros podem ser, no entanto, mais específicos, o que implica em uma
leitura mais densa para a compreensão dos seus significados. Para além da funcionalidade de
iluminar algo, as luzes artificiais possibilitam uma seleção visual, definindo o que se quer exibir
e aquilo que se quer esconder. Os valores se tornam objeto de apresentação e a efemeridade
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e a seletividade da iluminação concorrem para que esta exibição se torne arbitrária e dirigida
objetivamente ao seu público, seja para o consumo da paisagem, seja para a sua apreciação
coletiva como parte de um bem partilhado.
Comentários finais
Já parece ser de comum acordo que a noite é um momento social importante para a vida nas
cidades. Seu papel na organização social, no crescimento econômico e na difusão de
produtos culturais é reconhecido por gestores públicos e agentes privados das mais diversas
origens. Esta conclusão decorre de um processo de entendimento social sobre o valor da
noite para outras atividades que não somente aquelas destinadas ao descanso e ao ócio, o
que tornou a cidade noturna em um centro produtivo, especialmente após a segunda metade
do século XIX. O reconhecimento do papel da noite também passou a ser tomado pelas
preocupações sobre a iluminação dos espaços públicos, em busca de maiores garantias de
segurança para a população. O uso da luz artificial teve também, desde o princípio, o objetivo
de embelezar a cidade, cobrindo prédios e espaços públicos com lâmpadas que revelavam as
silhuetas e davam visibilidade à forma urbana. Este uso, comum desde as primeiras feiras
internacionais, foi sendo redescoberto mais recentemente, a partir dos anos 1970 e 80, com
inovações técnicas que buscavam se associar à conservação dos patrimônios materiais de
conjuntos arquitetônicos das cidades. Esta paisagem iluminada ajudou a dar sentido e
destaque ao patrimônio cultural dos povos, especialmente valorizando os prédios que
ajudariam a contar a história de cada cidade. Dessa forma, a luz artificial teria o papel de ser
uma marcação brilhante sobre parte do texto que a morfologia urbana exibia para contar a sua
história. Hoje temos a paisagem noturna de uma cidade como uma das principais imagens
que compõe o seu álbum.
Nas páginas anteriores notamos que os valores associados ao patrimônio estavam
associados a projetos e modelos de iluminação urbana. Vimos que há o modelo de urbanismo
luminoso francês que pretende ser uma nova forma de abordar o urbano, propondo um
zoneamento específico para a vida noturna e aplicando a iluminação das áreas como
esquema de organização funcional dos espaços. De outro modo, foi observado também o
modelo americano de embelezamento das cidades, no qual se prefere uma atuação mais
pontual, voltada para atividades específicas, especialmente o turismo e o lazer. De qualquer
forma, a cidade do Rio de Janeiro buscou adotar ambos os modelos, mas seguindo os
próprios interesses dos autores envolvidos, implicando em uma complexificação dos modelos
adotados. A característica final de organização da paisagem noturna carioca tendeu a
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valorizar o tratamento individualizado dos objetos patrimoniais, os quais acabaram se
tornando, na maioria dos casos, objetos de contemplação. A ideia de uma unidade visual
noturna, construída a partir de uma composição luminosa, conseguiu apenas se conformar
em casos nos quais os agentes sociais envolvidos estabeleceram um acordo. Nestes casos, a
iluminação das fachadas produziu um cenário para a vida social, aderindo não somente como
fundo, mas se tornando parte da frente de cena, como um elemento físico e simbólico que
constitui a publicidade de um espaço.
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