Pais completos

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Vinícius Ferreira Estagiário Neste segundo domingo de agosto, o Brasil comemora, tradicionalmente, o dia dos pais. Filhos prestam suas home- nagens das formas mais varia- das, reúnem as famílias, dão presentes para os patriarcas e exaltam as qualidades e o amor que o pai tem desempenhado durante todos estes anos. O jornal VALE DO AÇO também presta as suas homenagens para todos os pais da região, contando a história de dois homens que tiveram que tomar toda a responsabilidade pela criação dos filhos. H ilton Lopes Faria tem 53 anos, reside no bair- ro Bela Vista, em Ipa- tinga, e hoje vive uma vida tran- qüila. Aposentado, mora sozi- nho na casa que já ficou por um bom tempo cheia de crianças, em uma rua onde considerava ter "amigos", e não somente vizinhos. Até o começo do ano de 1993, a vida de Hilton seguia como a de muitas outras pes- soas. Casado com Marilene Fer- reira de Souza Lopes, tinham quatro filhos, Raquel com 9 anos, Ricardo ia completar 13, Renata tinha 12 e o mais velho, Rogério, 14. No começo de 1993 a história desta família, e o papel deste pai no lar, foi tra- gicamente alterado. Em um aci- dente automobilístico, no dia 2 de janeiro, Marilene faleceu. Passado o luto de sua esposa, Hilton se viu responsável pela criação de quatro adolescentes. Ele trabalhava na Usiminas, era líder de grupo do setor de Lami- nação de Tiras à Quente, traba- lhava sempre das 23h às 6h da manhã, e não sabia nada sobre o funcionamento do lar. Então, contando com a ajuda de Deus e dos amigos, como ele relata, decidiu aprender o que era neces- sário para educar seus filhos e continuar o trabalho que a espo- sa havia começado. Segundo Hilton, o período após a tragédia foi o mais difícil. "Eu não tenho nada, nunca tive muito dinheiro, nem muito conhe- cimento, mas eu perderia tudo e iria morar debaixo da ponte se isto a trouxesse de volta. Mesmo com a dor, tinha que continuar, tinha que cuidar dos meus quatro filhos. O começo foi muito difí- cil, mas com a ajuda dos vizi- nhos, dos amigos, fomos cami- nhando. A minha grande preo- cupação era como eu iria criar estes meninos neste mundo, cheio de drogas, de maus caminhos. Pedi forças a Deus e fui em fren- te. Dei muita sorte, eles foram ótimos filhos", diz Hilton. COMO CUIDAR DA CASA? Uma das coisas que mais deu trabalho foi aprender as respon- sabilidades do lar. "Eu não sabia fazer nada na cozinha, nada de casa. Não sabia como limpar, como fazer almoço, então fui aprender. Hoje eu sei tudo, mas na época, até aprender foi com- plicado. A TV me ajudou bas- tante. Fiquei muito tempo vendo estes programas de receitas pela manhã e tentava colocar em prá- tica. No meu caso deu certo", contou. A rotina de Hilton, por ter que cuidar dos filhos e traba- lhar à noite era bem complica- da, mas a compreensão dos che- fes e o auxílio dos amigos ajuda- ram bastante. "Todo dia eu tinha que sair às 22h para trabalhar. Não podia deixar os meninos sozinhos em casa a noite inteira. Eles eram adolescentes, estavam crescendo já, mas mesmo assim ficava preocupado. Então, eu conversei com o meu superior e consegui um cartão que autori- zava a minha saída da Usina durante a madrugada, para vir em casa e ver como as coisas estavam. Fazia isto em três horá- rios, todos os dias. Subia as 00h para ver se eles já estavam dor- mindo, depois voltava as 03h para ver se tudo continuava em ordem, e vinha novamente as 05h para deixar o café da manhã pronto para eles. Eles só tinham que levantar, tomar o café e ir para aula", relembrou. COMO EDUCAR OS FILHOS? A situação em que Hilton se encontrava era complicada, teve uma educação do modo antigo, e não sabia como era o jeito certo de educar seus filhos. Procurou fazer da forma que ele achava melhor, usando a força do diálogo. "Repito isto muitas vezes, mas é a verda- de. Deus me ajudou demais a lidar com tudo o que aconte- ceu. Não sabia qual era a forma certa ou a errada de cuidar de um filho. Até hoje não sei com certeza, mas procurei fazer do jeito que eu achava melhor. Conversei demais com eles. O diálogo me ajudou a entendê- los. Até mesmo com as meni- nas, que tinham assuntos dife- rentes que na época eu ainda não tinha coragem de conver- sar, eu tive amigas que con- versaram com elas e me ajuda- ram a educá-las. Se eu pudesse dar um conselho para os pais hoje é este: converse com seu filho. Mesmo antes desta lei do Lula, sobre as palmadas, eu entendi isto. Se palmada resolve-se eu seria uma jóia do tanto que eu apanhei quando criança", brincou Hilton. Uma das prioridades foi que os filhos estudassem o máximo que conseguissem. Dos seus esforços resultam as duas facul- dades que as filhas já comple- taram. Os dois filhos também ingressaram no ensino supe- rior, o mais velho somente começou, mas não quis termi- nar, enquanto o outro está a um ano de conseguir o diplo- ma. "Deixei de fazer muita coisa para que todos eles estu- dassem, e isto é uma das coisas que me orgulho. Fiz o possível para pagar escola para eles". Hilton gosta de lembrar que o sucesso na criação se deve a Deus, e também aos seus filhos. "Eu tentei ser um bom pai, mesmo sem saber como deve- ria ser feito. Mas os meus filhos foram muito bons também, não me deram trabalho nenhum. Hoje moro sozinho aqui nesta casa, mas sempre que eles podem eles vem me visitar, e eu vou à casa deles. Três estão casados, moram em outras cidades, a outra mais nova mora na Capi- tal, mas todos são homens e mulheres de caráter, que sabem trabalhar, se esforçar, que apren- deram a viver. Agora estou no momento de cuidar dos meus netinhos", lembra Hilton, que tem uma foto da neta mais nova, Thais, na área de trabalho de seu computador. A casa que antes era cheia de gente hoje é silenciosa, rece- bendo a visita de amigos, dos filhos, e dos dois netos, Antô- nio Junior e Taís Lopes Fran- co. Aliás, no nascimento da neta, Hilton foi o primeiro a pegá-la no colo. "Foi um fato engraçado, fui cuidar da minha filha até a Taís nascer. Os meus filhos eu vi pelo vidro do ber- çário, peguei eles um tempo depois. Desta vez foi diferente, a médica veio e entregou a Taís no meu colo, quase tive um treco. Fui o primeiro a pegá-la nos braços, minha netinha. Ali eu vi que fiz um bom trabalho como pai, mesmo com todas as dificuldades, com todos os problemas. Minha netinha linda estava nos meus braços", relem- brou emocionado. UM PAI APRENDENDO A história de Wallace Godói é um pouco diferente da de Hil- ton. Wallace é músico, tem 26 anos, solteiro e mora no distrito de Melo Viana, em Coronel Fabriciano.Elenãosofreunenhu- ma tragédia, nem a mãe de sua filha. Wallace é conhecido por seus amigos como Gugu, e tem uma filha de 5 anos, chamada Dávila Mariana. Em 2009, em virtude do trabalho da mãe da garota, que mora em Conta- gem, região Metropolitana de Belo Horizonte, ele se viu em uma nova situação: cuidar da filha em tempo integral. Isto iria mudar a sua rotina, a sua forma de viver e sua responsabilidade. Ele aceitou o desafio. Wallace sempre teve contato com a filha, mas cuidar dela em tempo integral era uma situação inédita: só ele e ela. Mas, nas palavras dele, foram anos dos quais ele não se arrependerá jamais. "Este ano em que vivi com a minha filha aqui, cuidan- do dela em tempo integral, foi muito bom. A presença dela aqui, as mudanças que eu tive que fazer na minha rotina para ficar com ela, repetiria tudo. Aliás, espero que a partir do próximo ano ela já passe a morar definitivamente aqui comigo, é o que eu mais quero", diz Wal- lace, que se prepara para tentar a guarda de Dávila. A pequena mocinha estava um pouco tímida durante a entrevista, mas mesmo assim mostrava um lindo sorriso quan- do estava junto de seu pai. Em meio aos gracejos e algumas outras brincadeirinhas de pai e filha, disse que gosta de ficar junto de Gugu. Wallace conta que o relacionamento deles é muito bom. "Até na questão da música a gente está se enten- dendo muito bem. Pego o vio- lão e fico cantando para ela. Tanto MPB quanto músicas que ela me ajuda a inventar na hora", conta o pai, orgulhoso. READEQUAR O TEMPO O músico afirma que uma das maiores dificuldades que teve estava relacionada ao tempo que ele tinha disponível e aos cuida- dos que uma criança necessita. "Eu já moro sozinho há um bom tempo, e não tinha muitos pro- blemas. Cuidar de mim mesmo é simples, fácil. Mas com a Dávila aqui a situação muda, ela é uma criança, é dependente de mim, foi isto que eu tive que aprender, a ser o pai que ela precisa, cen- trar bastante nas necessidades dela, dos cuidados que a presen- ça dela aqui demanda. Adminis- trar o tempo, levar para a escola, dar comida, todas estas coisas que fazem parte da rotina de uma casa. Tinha também um outro problema, relacionado ao meu trabalho. Como músico, me apre- sento na noite, e era necessário encontrar alguém para ficar com ela, mas hoje tudo já está organi- zado. Com ela aqui novamente, focarei mais nas aulas durante o dia, para poder cuidar mais ainda da minha filha", deseja Gugu. Segundo ele, não é tão com- plicado cuidar de uma criança. Exige uma disciplina nova, uma rotina diferente, mas é possível sim, e muito prazeroso. "Tenho certeza de que, em um lar com mãe e pai, é bem mais fácil cui- dar de uma criança. Os dois jun- tos podem ser um suporte maior para ela, e como casal, podem ajudar ainda mais um ao outro. Mas acho que a dificuldade, tanto para o homem criar um filho sozinho quanto para a mulher é a mesma. E cada um sozinho também consegue dar uma boa educação ao filho. O mais importante de tudo é o cari- nho", finalizou o músico. VITRINE C U L T U R A & V A R I E D A D E S 1-A VALE DO A ÇO DOMINGO, 8/AGOSTO/2010 E-mail: [email protected] Telefone: (31) 2109.3550 Pais completos HISTÓRIAS DE HOMENS QUE SE DEPARARAM COM A RESPONSABILIDADE DE SER PAI E MÃE DE SEUS FILHOS MESMO COM TODAS AS DIFICULDADES, Sr. Hilton conseguiu criar seus quatro filhos, que hoje estão adultos, quase todos casados, e já gerando netos para ele WALLACE VIVEU A EXPERIÊNCIA de cuidar da filha por um ano e agora pretende conseguir a guarda de Dávila ARQUIVO DE FAMÍLIA ANDRESSA MOREIRA

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Matéria publicada no dia dos pais. Veiculada no Jornal Vale do Aço no dia 08 de agosto de 2010.

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Vinícius Ferreira

Estagiário

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Hilton Lopes Faria tem53 anos, reside no bair-ro Bela Vista, em Ipa-

tinga, e hoje vive uma vida tran-qüila. Aposentado, mora sozi-nho na casa que já ficou por umbom tempo cheia de crianças,em uma rua onde consideravater "amigos", e não somentevizinhos. Até o começo do anode 1993, a vida de Hilton seguiacomo a de muitas outras pes-soas. Casado com Marilene Fer-reira de Souza Lopes, tinhamquatro filhos, Raquel com 9anos, Ricardo ia completar 13,Renata tinha 12 e o mais velho,Rogério, 14. No começo de1993 a história desta família, eo papel deste pai no lar, foi tra-gicamente alterado. Em um aci-dente automobilístico, no dia 2de janeiro, Marilene faleceu.Passado o luto de sua esposa,Hilton se viu responsável pelacriação de quatro adolescentes.Ele trabalhava na Usiminas, eralíder de grupo do setor de Lami-nação de Tiras à Quente, traba-lhava sempre das 23h às 6h damanhã, e não sabia nada sobreo funcionamento do lar. Então,contando com a ajuda de Deuse dos amigos, como ele relata,decidiu aprender o que era neces-sário para educar seus filhos e

continuar o trabalho que a espo-sa havia começado.

Segundo Hilton, o períodoapós a tragédia foi o mais difícil."Eu não tenho nada, nunca tivemuito dinheiro, nem muito conhe-cimento, mas eu perderia tudo eiria morar debaixo da ponte seisto a trouxesse de volta. Mesmocom a dor, tinha que continuar,tinha que cuidar dos meus quatrofilhos. O começo foi muito difí-cil, mas com a ajuda dos vizi-nhos, dos amigos, fomos cami-nhando. A minha grande preo-cupação era como eu iria criarestes meninos neste mundo, cheiode drogas, de maus caminhos.

Pedi forças a Deus e fui em fren-te. Dei muita sorte, eles foramótimos filhos", diz Hilton.

COMO CUIDAR DA CASA?Uma das coisas que mais deu

trabalho foi aprender as respon-sabilidades do lar. "Eu não sabiafazer nada na cozinha, nada decasa. Não sabia como limpar,como fazer almoço, então fuiaprender. Hoje eu sei tudo, masna época, até aprender foi com-plicado. A TV me ajudou bas-tante. Fiquei muito tempo vendoestes programas de receitas pelamanhã e tentava colocar em prá-tica. No meu caso deu certo",

contou. A rotina de Hilton, porter que cuidar dos filhos e traba-lhar à noite era bem complica-da, mas a compreensão dos che-fes e o auxílio dos amigos ajuda-ram bastante. "Todo dia eu tinhaque sair às 22h para trabalhar.Não podia deixar os meninossozinhos em casa a noite inteira.Eles eram adolescentes, estavamcrescendo já, mas mesmo assimficava preocupado. Então, euconversei com o meu superior econsegui um cartão que autori-zava a minha saída da Usinadurante a madrugada, para virem casa e ver como as coisasestavam. Fazia isto em três horá-rios, todos os dias. Subia as 00hpara ver se eles já estavam dor-mindo, depois voltava as 03hpara ver se tudo continuava emordem, e vinha novamente as05h para deixar o café da manhãpronto para eles. Eles só tinhamque levantar, tomar o café e irpara aula", relembrou.

COMO EDUCAR OS FILHOS?A situação em que Hilton se

encontrava era complicada,teve uma educação do modoantigo, e não sabia como era ojeito certo de educar seus filhos.Procurou fazer da forma queele achava melhor, usando aforça do diálogo. "Repito istomuitas vezes, mas é a verda-de. Deus me ajudou demais alidar com tudo o que aconte-

ceu. Não sabia qual era a formacerta ou a errada de cuidar deum filho. Até hoje não sei comcerteza, mas procurei fazer dojeito que eu achava melhor.Conversei demais com eles. Odiálogo me ajudou a entendê-los. Até mesmo com as meni-nas, que tinham assuntos dife-rentes que na época eu aindanão tinha coragem de conver-sar, eu tive amigas que con-versaram com elas e me ajuda-ram a educá-las. Se eu pudessedar um conselho para os paishoje é este: converse com seufilho. Mesmo antes desta leido Lula, sobre as palmadas,eu entendi isto. Se palmadaresolve-se eu seria uma jóia dotanto que eu apanhei quandocriança", brincou Hilton.

Uma das prioridades foi queos filhos estudassem o máximoque conseguissem. Dos seusesforços resultam as duas facul-dades que as filhas já comple-taram. Os dois filhos tambémingressaram no ensino supe-rior, o mais velho somentecomeçou, mas não quis termi-nar, enquanto o outro está aum ano de conseguir o diplo-ma. "Deixei de fazer muitacoisa para que todos eles estu-dassem, e isto é uma das coisasque me orgulho. Fiz o possívelpara pagar escola para eles".

Hilton gosta de lembrar queo sucesso na criação se deve aDeus, e também aos seus filhos."Eu tentei ser um bom pai,mesmo sem saber como deve-ria ser feito. Mas os meus filhosforam muito bons também, nãome deram trabalho nenhum.Hoje moro sozinho aqui nestacasa, mas sempre que eles podemeles vem me visitar, e eu vou àcasa deles. Três estão casados,moram em outras cidades, aoutra mais nova mora na Capi-tal, mas todos são homens emulheres de caráter, que sabemtrabalhar, se esforçar, que apren-deram a viver. Agora estou nomomento de cuidar dos meusnetinhos", lembra Hilton, quetem uma foto da neta mais nova,Thais, na área de trabalho deseu computador.

A casa que antes era cheiade gente hoje é silenciosa, rece-bendo a visita de amigos, dosfilhos, e dos dois netos, Antô-nio Junior e Taís Lopes Fran-co. Aliás, no nascimento daneta, Hilton foi o primeiro apegá-la no colo. "Foi um fatoengraçado, fui cuidar da minha

filha até a Taís nascer. Os meusfilhos eu vi pelo vidro do ber-çário, peguei eles um tempodepois. Desta vez foi diferente,a médica veio e entregou a Taísno meu colo, quase tive umtreco. Fui o primeiro a pegá-lanos braços, minha netinha. Alieu vi que fiz um bom trabalhocomo pai, mesmo com todasas dificuldades, com todos osproblemas. Minha netinha lindaestava nos meus braços", relem-brou emocionado.

UM PAI APRENDENDO A história de Wallace Godói

é um pouco diferente da de Hil-ton. Wallace é músico, tem 26anos, solteiro e mora no distritode Melo Viana, em CoronelFabriciano. Ele não sofreu nenhu-ma tragédia, nem a mãe de suafilha. Wallace é conhecido porseus amigos como Gugu, e temuma filha de 5 anos, chamadaDávila Mariana. Em 2009, emvirtude do trabalho da mãe dagarota, que mora em Conta-gem, região Metropolitana deBelo Horizonte, ele se viu emuma nova situação: cuidar dafilha em tempo integral. Isto iriamudar a sua rotina, a sua formade viver e sua responsabilidade.Ele aceitou o desafio.

Wallace sempre teve contatocom a filha, mas cuidar dela emtempo integral era uma situaçãoinédita: só ele e ela. Mas, naspalavras dele, foram anos dosquais ele não se arrependerájamais. "Este ano em que vivicom a minha filha aqui, cuidan-do dela em tempo integral, foimuito bom. A presença delaaqui, as mudanças que eu tiveque fazer na minha rotina paraficar com ela, repetiria tudo.Aliás, espero que a partir dopróximo ano ela já passe a morardefinitivamente aqui comigo, éo que eu mais quero", diz Wal-lace, que se prepara para tentara guarda de Dávila.

A pequena mocinha estavaum pouco tímida durante aentrevista, mas mesmo assimmostrava um lindo sorriso quan-do estava junto de seu pai. Emmeio aos gracejos e algumasoutras brincadeirinhas de pai efilha, disse que gosta de ficarjunto de Gugu. Wallace contaque o relacionamento deles émuito bom. "Até na questão damúsica a gente está se enten-dendo muito bem. Pego o vio-lão e fico cantando para ela.Tanto MPB quanto músicasque ela me ajuda a inventar nahora", conta o pai, orgulhoso.

READEQUAR O TEMPOO músico afirma que uma das

maiores dificuldades que teveestava relacionada ao tempo queele tinha disponível e aos cuida-dos que uma criança necessita."Eu já moro sozinho há um bomtempo, e não tinha muitos pro-blemas. Cuidar de mim mesmo ésimples, fácil. Mas com a Dávilaaqui a situação muda, ela é umacriança, é dependente de mim,foi isto que eu tive que aprender,a ser o pai que ela precisa, cen-trar bastante nas necessidadesdela, dos cuidados que a presen-ça dela aqui demanda. Adminis-trar o tempo, levar para a escola,dar comida, todas estas coisasque fazem parte da rotina de umacasa. Tinha também um outroproblema, relacionado ao meutrabalho. Como músico, me apre-sento na noite, e era necessárioencontrar alguém para ficar comela, mas hoje tudo já está organi-zado. Com ela aqui novamente,focarei mais nas aulas durante odia, para poder cuidar mais aindada minha filha", deseja Gugu.

Segundo ele, não é tão com-plicado cuidar de uma criança.Exige uma disciplina nova, umarotina diferente, mas é possívelsim, e muito prazeroso. "Tenhocerteza de que, em um lar commãe e pai, é bem mais fácil cui-dar de uma criança. Os dois jun-tos podem ser um suporte maiorpara ela, e como casal, podemajudar ainda mais um ao outro.Mas acho que a dificuldade,tanto para o homem criar umfilho sozinho quanto para amulher é a mesma. E cada umsozinho também consegue daruma boa educação ao filho. Omais importante de tudo é o cari-nho", finalizou o músico.

VITR INEC U L T U R A & V A R I E D A D E S 1-A

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Pais completosHISTÓRIAS DE HOMENS QUE SE DEPARARAM COM A

RESPONSABILIDADE DE SER PAI E MÃE DE SEUS FILHOS

MESMO COM TODAS AS DIFICULDADES, Sr. Hilton conseguiu criar seus quatro filhos, que hoje estão adultos, quase todos casados, e já gerando netos para ele

WALLACE VIVEU A EXPERIÊNCIA de cuidar da filha por um ano e agora pretende conseguir a guarda de Dávila

ARQUIVO DE FAMÍLIA

ANDRESSA MOREIRA