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     (P-009)

    SOCORRO PARA A TERRAautor  

    W. W. SHOLS

    Tradução deRICHARD PAUL NETO

     Digitalização VITÓRIO 

     Revisão ARLINDO_SAN

    EDIÇÕES DE OURO

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     Perry  Rhodan foi a Vênus na Good Hope, uma das navesauxiliares do cruzador dos arcônidas destruído na Lua, a fim deinstalar uma base e um centro de treinamento da Terceira

     Potência. Naquele planeta descobriu um segredo mais velho que a

    história da humanidade  —  tão velho que nem os arcônidas Crest eThora sabiam dele.Tratava-se de uma gigantesca central arconídica, dirigida

     por robôs, que atravessou os milênios e continua a funcionar tãobem como no dia em que foi construída.

     É claro que essa descoberta representa um aumento enormedo poderio da Terceira Potência, que bem precisa disso, pois numamensagem radiofônica que Perry Rhodan recebe em Vênus pede-secom urgência Socorro Para a Terra.

    = = = = = = = = Personagens Principais: = = = = = = = =

    Perry Rhodan  —  Chefe da Terceira Potência.

    Reginald Bell  —  Melhor amigo e principal colaborador de Perry Rhodan.

    Crest e Thora  —  Únicos sobreviventes da expedição espacial dos arcônidas.

    Freyt, Nyssen e Deringhouse  —  Ex-pilotos da Força Espacial dos EstadosUnidos.

    Homer G. Adams  —  Cuja tarefa consiste em obter dinheiro para a TerceiraPotência.

    Clive Cannon  —  Chefe de um grupo de gangsteres. Pelo que dizem, os DI

    apossaram-se dele.

    John Marshall  —  Telepata pertencente ao exército dos mutantes.

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    I

    Perry Rhodan comprimiu o botão vermelho com a estranha gravura branca. O sinallembrava a letra F do alfabeto rúnico. Mas a essa hora pouco importava sua origem.Bastava saber que designava o botão que cortava o suprimento de energia dosupercérebro positrônico.

    A vibração monótona, só perceptível ao subconsciente, cessou. A série de luzes decontrole com seu brilho mágico apagou-se. As membranas sonoras imobilizaram-se. Omaior e mais potente dos cérebros positrônicos jamais instalados no sistema solar corriaem ponto morto.

    Perry Rhodan reclinou-se exausto. O diálogo com aquela máquina quase oniscientechegara ao fim. O silêncio que se espalhou pela caverna do subsolo de Vênus foiinterrompido por outro zumbido. Rhodan acionou o aparelho de intercomunicação.

     —  Quem é? —  Sou eu.A voz rouca de Reginald Bell não permitia a menor dúvida sobre a identidade da

     pessoa que se ocultava detrás da palavra “eu”. Sem levantar-se, Rhodan destravou a porta.

     —  Entre, Bell! —  Que diabo, Perry! Você me mete medo. Faz mais de vinte e quatro horas que se

    trancou nesta caverna misteriosa. Até parece que está no encalço do mistério fundamentaldo universo.

     —  Nunca deixamos de andar no encalço dele. Se não conseguimos aproximar-nos é porque o mistério está muito distante.

     — 

     Aposto que não comeu nada. —  Pois está enganado! Tinha comigo uma ração diária de alimentos desidratados.Já não posso me dar ao luxo de cometer os pequenos enganos do dia-a-dia.

     —  Mas acho que você está nutrindo uma falsa ambição ao... —  Também não me posso dar ao luxo das falsas ambições. Nenhum de nós pode. —  Toquei a campainha ontem de noite. Hoje de manhã toquei três vezes, e agora

    estava diante da porta há mais de duas horas, sem conseguir entrar. Por que não abriu? —  Porque não sabia que você estava lá fora. Não queria ser perturbado. O cérebro

    está regulado de tal forma que as reações vindas de fora penetram nele, enquanto estáativado.

     — 

      Dizem que nestes últimos dias você andou fazendo um bom número deregulagens neste cérebro. É verdade? —  Não sei a que está se referindo. Exprima-se com mais clareza. —  Crest falou no modelo das suas ondas cerebrais. Afirma que é bem possível que

    você conheça suas freqüências pessoais... —   E daí? Por enquanto suas insinuações continuam bastante confusas. Acho que

    não estarei errado ao supor que logo ouvirei uma recriminação. —  Acho que por aqui ninguém se julga com direito de dirigir recriminações a você. —  É por medo, não é? Mas sempre existe um pouco de inveja.Bell não conseguiu enfrentar o olhar penetrante de Rhodan. Pegou um cigarro, que

    o fez recuperar um pouco da sua autoconfiança. —  Sempre há um pouco de inveja. —  Acontece que o pessoal confia em você. Sabem que é o mais forte entre nós.

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    Sentem-se satisfeitos porque ainda existe uma pessoa à qual podem recorrer quando nãosabem mais como agir diante dos problemas.

     —   O.K.!  —   confirmou Perry Rhodan.  —   Conheço minhas freqüências, e estecérebro robotizado foi regulado para elas. Nunca me deparei com tamanho volume desaber prestes a revelar-se a mim. Apesar disso ainda não consegui solucionar o problema.Penso em termos arconídicos, na medida em que isso é possível a alguém que carrega a

    condição humana desde o nascimento. Procuro raciocinar com o espírito de quemconstruiu esta máquina, mas defronto-me com problemas de semântica. Afinal, não podemos alcançar a interpretação do saber arconídico de um dia para outro. Não possuímos a consciência do passado dos arcônidas. Bell, você não tem nenhum motivo para invejar-me. Um diálogo de vinte e quatro horas com este cérebro representa ummassacre físico e intelectual.

     —  Valeu a pena? —  a pergunta de Bell exprimia curiosidade e esperança.Perry Rhodan fez que sim.

     —   Nesta montanha existem hangares ocultos. O cérebro aludiu a seis navesespaciais.

     —  Isso seria mais do que os arcônidas desejam. Thora e Crest só precisam de umanave para voltar para casa. Você não se entusiasma com essa perspectiva, não é? —  Preciso encontrar as naves. —  Mas não lhe faria nenhuma diferença se não as encontrasse. Sei perfeitamente o

    que está pensando, Perry. Precisamos de Thora e de Crest. Precisamos deles no planetaTerra e no nosso sistema solar, não a uma distância de trinta e quatro mil anos-luz. Se eufosse você, não diria nada sobre a existência dessas naves.

     —  Acha que devo começar um jogo de intrigas? Acha que devo enganar e lograr osarcônidas, aos quais a Terra deve sua união política? Devo retribuir sua amizade por meiode uma prisão indireta? Não acredito que esse tipo de comportamento concorreria para

     promover o entendimento entre as duas raças. —  Para você seria uma traição; para mim, um ato de diplomacia.Perry Rhodan fez um movimento violento com a mão, para espantar qualquer

    ambigüidade sobre seu ponto de vista. —  Localizaremos o que puder ser localizado, Bell. Não há dúvida de que devemos

    conservar Thora e Crest ao nosso lado para fortalecer a posição da humanidade e do planeta Terra. Mas nem por isso podemos cometer uma traição contra nossos amigos. Oshangares devem ficar ao norte. Vamos procurá-los; você virá comigo.

     —  Seis naves! —  exclamou Bell espantado. —  Nelas poderíamos transportar todo o pessoal da Terceira Potência. Conforme as circunstâncias seis naves arconídicas dariam

     para percorrer toda a galáxia. —   Então você estaria disposto a bater em retirada? Sabe o que aconteceria se

    eliminássemos a Terceira Potência? —  Aconteceria mais ou menos a mesma coisa que tem acontecido nos milênios da

    história da humanidade. Seria uma sucessão de inveja, malquerença, sede de mando,guerras. Talvez só houvesse mais uma guerra. A guerra definitiva.

     —  Então você sabe muito bem. Acontece que também somos homens, e por issovamos desistir do cruzeiro pela galáxia, mesmo que as seis naves arconídicas estejam emcondições de decolar.

    Saíram. Perry Rhodan trancou a sala em que estava abrigado o cérebro positrônico,

    usando um novo código. Só ele o conhecia.Diante deles abriu-se um labirinto cavernoso. Fazia mais de um mês que estavam no

    interior daquela montanha situada no hemisfério norte de Vênus. E fazia mais de um mês

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    que se encontravam na pista dessa última testemunha de uma colônia arconídica de hámuito caída no esquecimento.

    Para termos uma .idéia dos acontecimentos, devemos recuar mais de dez mil anosna história da humanidade.

    Quando Árcon se encontrava no auge, numa época em que seus habitantes aindanão apresentavam o menor sinal de degenerescência, uma nave expedicionária tripulada

    com mais de cem arcônidas pousara em Vênus e instalara aquela fortaleza de retaguarda.O raio de fusão atômica abrira um labirinto de corredores na rocha da montanha, fazendosurgir uma verdadeira cidade, que não podia ser vista do lado de fora. As instalaçõescorrespondiam em toda linha ao elevado nível da civilização e da tecnologia dosarcônidas. Para o homem do vigésimo século terreno eram algo de fabuloso einacreditável, como o quadro vago do futuro distante da própria humanidade.

    Ainda por outro motivo eram fabulosas.Ao se depararem com elas, parecia que penetravam no castelo da bela adormecida.

    Os arcônidas daquela época já não existiam. Haviam descoberto a Terra e verificaramque era um mundo ideal para a colonização. A nova colônia dos emigrantes arconídicos

    surgira na Atlântida. Proporcionara uma época de elevado desenvolvimento tecnológico àTerra, mas submergira com o continente situado entre a África e a América.Embora nessas quatro semanas os homens já tivessem tido tempo de acostumar-se

    ao novo ambiente, não podiam deixar de evocar constantemente essas ligações históricas. —   Não posso compreender que possam estar mortos  —   disse Reginald Bell

    enquanto subiam numa vagoneta que trafegava numa das vias principais da cidadesubvenusiana. —  Será que todos viviam na Terra quando a catástrofe diluviana irrompeusobre a Atlântida?

     —  É de supor que sim  —   respondeu Rhodan.  —  Mas tenho minhas dúvidas. EmÁrcon não sabiam nada sobre a base de Vênus e sobre a colônia terrena. É bem possível

    que o cérebro montado na base venusiana nunca tenha tomado conhecimento de certosfatos importantes. Dependia das informações orais que lhe fossem transmitidas  —  esboçou um sorriso misterioso.  —   Os centros de memória falaram em ocorrênciasinexplicáveis que tiveram lugar em Vênus, em seres invisíveis que andaram pelas

     proximidades. É possível que a informação tenha sido ministrada por algum elemento perturbado que tenha permanecido aqui, nunca devemos esquecê-la, embora para nós só possa ter uma importância histórica.

     —   É claro que já compreendi a teoria concebida por você. Mas tenho lá minhasdesconfianças. É bem possível que tudo se tenha passado de forma bem diferente.

     —  Queira explicar o motivo das suas desconfianças.

     —  Ora, é simples. Crest e Thora conseguiram convencer-nos de que esta base foiinstalada por emigrantes que aqui aportaram numa nave arconídica. E agora você me falaem seis naves que estariam escondidas por aqui. Seis naves são uma frota. Se neste

     planeta chegaram a pousar seis naves arconídicas completas, não resta a menor dúvidaque a base mantinha contato permanente com seu mundo natal. Dali se conclui que Thorae Crest mentiram.

     —  Você não devia ter proferido esta última frase. Só teremos uma conclusão dessetipo quando tivermos certeza de que os dados que induzem suspeitas são corretos.

    Bell percebeu que Rhodan não estava disposto a prosseguir num debate apoiadoapenas em probabilidades. Por isso ficou calado, reclinando-se na poltrona do pequeno

    veículo que os conduzia. Seguiu por um corredor secundário longo e retilíneo que, partindo do centro da fortaleza, penetrava na montanha cerca de dois quilômetros. Aextensão total das instalações pareceria um exagero a qualquer homem terreno. Bell

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    exprimiu esse sentimento em palavras e sacudiu a cabeça. —   Sem dúvida devemos admirar as realizações dos arcônidas. Mas acho um

    absurdo que uma simples fortaleza tenha estas dimensões. Deve ter sido montada porgente estúpida. Até se parece com alguém que queira matar pardais a tiro de canhão.

     —   Também parece que alguém que não aplica os padrões corretos sofre de umafalta grave de substância cerebral —  respondeu Rhodan em tom áspero.

     —  E qual é o padrão correto?

     —  O dos arcônidas. Ao ver este labirinto, você logo pensa em termos de dispêndiode tecnologia terrena. Acontece que com os recursos dos arcônidas não há nada deextraordinário em perfurar corredores e cavernas de dez ou vinte quilômetros na rocha deuma montanha.

    Rhodan interrompeu sua exposição didática e parou a vagoneta. —  Vamos!  —   disse em tom lacônico, e caminhou em direção a um dos grandes

     portões que a intervalos regulares ladeavam a estrada subvenusiana.Um toque de dedo sobre o mecanismo da fechadura bastou para que dez toneladas

    de aço arconídico deslizassem para o lado.

    Quando viu diante de si o enorme pavilhão, Reginald Bell deixou cair o queixo. Não é que se sentisse impressionado com as instalações e o tamanho, que na sua opiniãoera exagerado. Depois que tinham descoberto a fortaleza, já tivera oportunidade deadmirar essas coisas. Tentara acostumar-se aos padrões que prevaleciam ali. Aconteceque até então tudo parecia morto naquele pavilhão. E hoje a vida reinava por ali. Ruídosabafados em toda a gama de escala sonora atingiram seu ouvido. Os medidores, asagulhas dançantes, as células eletrônicas e positrônicas cintilavam em tons coloridos.Robôs dos mais variados formatos e tamanhos corriam por entre as máquinas.

     —  Feche a boca! —  disse Perry Rhodan, permitindo-se um sorriso condescendente. —  Você já conhece a fábrica.

     —  Mas nunca a vi trabalhando. Foi você que a pôs em funcionamento? —  Já estava na hora de uma instalação tão bem montada reiniciar a produção. Não

    estamos em condições de deixar ociosa essa capacidade produtiva que se encontra paralisada há dez mil anos.

     —   Hum!  —   fez Bell, esticando o som para que o amigo percebesse que nãoacreditava muito naquilo.  —   Há pouco você me disse que devia aplicar os padrõescorretos. Você também devia fazer o que pede aos outros.

     —  O que quer dizer com isso? —  Acho que esta fortaleza foi instalada pelos arcônidas e para os arcônidas. O que

    for produzido aqui só pode ter uma utilidade para esses seres.

    O rosto de Rhodan assumiu uma expressão séria. Bell sentiu a mão pesada do amigosobre o ombro.

     —  Ouça, Bell! Não temos muito tempo, pois ando com esse assunto das seis navesespaciais atravessado na garganta. O que está sendo feito aqui corresponde a umafinalidade terrena, não arconídica. Seria difícil aplicar nosso conhecimento hipnóticosobre a ciência e a tecnologia arconídica às necessidades humanas. Ando meditandosobre isso há várias semanas. Examinei todos os recantos do saber arconídico a que tenhoacesso e elaborei um minucioso plano esquemático. O que está sendo feito aqui teráutilidade única e exclusivamente para a humanidade terrena. Esta fábrica robotizada está

     produzindo robôs, mais exatamente autômatos de construção e armamento. Olhe a esteira

    automática ali à sua direita. Jamais um olho arconídico viu essas formas modificadas demáquinas inteiramente positronizadas.

     —  Você faz isso sem que Crest e Thora saibam?

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     —  Faço porque acho melhor assim. Thora e Crest são arcônidas muito inteligentes,mas como homem acho que sei avaliar melhor o que poderá ser útil à Terra. Nem pensoem enganá-los, se é isso que você quer dizer.

     —   Acontece que podem interpretar a coisa assim. A desconfiança reinante entreeles e nós ainda não foi eliminada. Até você não está muito seguro na sua concepção,Perry. Ao menos acredito que não esteja. Pense naquelas seis naves espaciais. Recorde a

    reconstituição do período histórico em que aqueles arcônidas emigraram. Sua colônia naAtlântida desapareceu. Se naquela época ainda havia arcônidas em Vênus, os mesmosmorreram por não terem possibilidade de voltar para Árcon. As seis naves espaciais a queesse cérebro se referiu não combinam com o quadro. Talvez você pudesse ter a gentilezade informar o que conseguiu descobrir.

     —  Não é muita coisa. Com a palavra-chave “nave espacial”  não consegui extrairmaiores detalhes do cérebro. Só sei que as naves devem estar estacionadas numa cavernadistinta junto à encosta norte. Vamos procurá-las.

    Perry Rhodan montou um conjunto de aparelhos de medição de ondas sonoras esondas de matéria que funcionavam com base no processo químico-analítico. Ativou um

    robô que se encontrava nas proximidades e ordenou-lhe que colocasse o equipamentosobre a vagoneta e tomasse lugar nela. Avançaram mais setecentos metros na direçãonorte, até chegarem ao fim do corredor. Uma parede lisa de concreto fechou-o contra arocha da montanha.

     —   Você acha que o corredor continua depois dessa parede?  —   perguntou Bellenquanto saltava da vagoneta.

     —   O cérebro falou numa caverna distinta. Disso se conclui que daqui não existequalquer acesso. Mas antes de mais nada devemos demarcar a situação da caverna. Robô,coloque o aparelho azul junto à vagoneta. Os outros instrumentos podem continuar ondeestão.

    Reginald Bell pediu a Rhodan que lhe explicasse o funcionamento dos aparelhos.Como seu cérebro também tivesse sido ativado pelo treinamento hipnótico, aprendeu em

     poucos minutos o suficiente para prestar assistência a Rhodan. Cada medição erasubmetida à dupla conferência; uma era realizada pelo processo da ecossonda, outra porvia químico-analítica. Dessa forma conseguiram estabelecer em pouco tempo um quadro

     preciso da composição da montanha, ate a encosta norte.A uma distância de oito quilômetros as escalas de medida indicaram uma perda total

    de pressão. —  É a caverna! —  gritou Bell mais alto do que seria necessário. —  O.K.! —  confirmou Rhodan com um aceno de cabeça. —  Anote as coordenadas.

    Vamos prosseguir em sentido radial, para determinar o diâmetro da caverna. Depoisampliaremos as observações para os lados.

    Em menos de meia hora completaram o diagrama sobre a lâmina eletrônica dedesenho. Logo se viam dois queixos caídos.

     —  Você entende isso? —  perguntou Bell. —  Ainda não consegui. De qualquer maneira realizamos duas medições, e sabemos

    que a caverna não tem mais de noventa e cinco metros de diâmetro. A hipótese de umengano está completamente excluída.

     —   Num buraco de ratos como esse não podem caber seis naves arconídicascompletas. Talvez os hangares sejam separados.

     —  Mesmo uma única nave teria de ser muito pequena para caber ali. Nossa GoodHope mede seus bons sessenta metros, e não passa de uma nave auxiliar cujo raio de açãomal chega aos quinhentos anos-luz.

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     —   Então deve tratar-se de veículos menores  —   concluiu Bell.  —   Talvez sejamnaves de socorro ou de patrulha. Acho que nossa preocupação com Thora e Crest nãotinha o menor fundamento. Os dois terão de ficar conosco.

     —   O acesso fica aqui  —   disse Rhodan, apontando para o mapa cujos contornosacabavam de formar-se. Não deu atenção às palavras de Bell. Mas de si para si faziavotos de que ele tivesse razão.

    * * *

    Decolaram com a Good Hope e voaram alguns quilômetros para o norte. Depois devencerem os cumes mais elevados, deixaram que a nave descesse junto às encostasíngremes. Ao atingirem a altitude determinada através das medições, Perry Rhodan paroue ajustou o regulador gravitacional, até que a nave aparentemente sem peso, encontrouuma posição de equilíbrio a uns quinhentos metros do fundo do vale.

    Logo encontraram o acesso para o misterioso hangar. Embora a encosta nortetivesse sido polida pela erosão provocada pela chuva venusiana, logo notaram a área

    alterada em que se encontravam as duas escotilhas.Envergando seus trajes arconídicos, que também dispunham de um reguladorgravitacional, Rhodan e Bell saíram da nave e aproximaram-se da encosta rochosa. Alocalização do mecanismo de travamento da escotilha e sua combinação nãorepresentavam qualquer problema. O treinamento hipnótico habilitara-os a pensar emtermos arconídicos.

    A área da encosta artificialmente criada deslizou para o lado, pondo a descobertouma abertura de menos de vinte metros.

     —   É grande para um homem, mas pequena demais para uma nave espacial  —  constatou Reginald Bell.

    Viram-se diante de uma galeria escura, que descia na vertical. A camada profundade nuvens venusianas só deixou penetrar uma luz mortiça, que mal dava para iluminar os

     primeiros metros da galeria. Um ligeiro impulso propulsor dos seus trajes bastou parafazer os homens penetrarem na montanha. Regularam o antígravo para a posição zero evoltaram a sentir chão firme sob os pés.

    Com o auxílio de lanternas descobriram um amplo painel de instrumentos. Rhodanacionou uma chave. No mesmo instante uma luz branco-azulada encheu a caverna.

    Toda a instalação continuava a funcionar tal qual funcionara há dez mil anos.Era outro fato que mereceria a admiração dos homens. Mas nos últimos anos estes

    tiveram de habituar-se a muitas maravilhas arconídicas. O choque do não querer acreditar

     já não tinha a mesma intensidade dos primeiros encontros com a nova tecnologia. E, maisinteressante que a luz alimentada por fontes de energia instaladas a milênios era o própriohangar.

     —   São seis!  —   exclamou Reginald Bell espantado.  —   Mas até parecem uns brinquedinhos. Faço votos de que não esteja decepcionado.

    A atitude de Rhodan provou que não estava. Sentiu-se entusiasmado. Percebeuintuitivamente o que tinha diante de si. Tirou o traje desajeitado dos arcônidas e saltousobre o aparelho mais próximo.

     —   Você acha que são brinquedos? Acontece que são uns brinquedos muito perigosos. Veja aqui! Nesta máquina cabe um único homem. Quem sabe se você não

    quer pensar um pouco e dizer o que vem a ser isto?Reginald Bell segurou-se na borda de uma das asas em delta e subiu.

     —  Até parece um avião de caça. A fuselagem tem aspecto intergaláctico. Até me

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    sinto tentado a estabelecer comparação com as naves dos habitantes de Fantan. Mas odispositivo direcional aerodinâmico e as asas em forma de delta poderiam ter sidoconcebidas numa prancha de desenho terrena.

     —  Em qualquer assunto a razão e a lógica sempre conduzirão ao mesmo resultado.Aqui está a prova. Você ainda tem alguma dúvida de que estes caças espaciais são deorigem arconídica?

     —   Nenhuma. A semelhança na disposição dos instrumentos prova que são. Éverdade que tudo é menos complicado que na Good Hope, mas o princípio é o mesmo. O

    assento fica numa cabina pressurizada. Existe um painel de comando do mecanismo propulsor. Com isso fica garantida a saída das partículas à velocidade da luz. Aqui está achave reguladora da alteração volumétrica da câmara de combustão, e este olho só podeservir para a observação do regulador do campo de saída dos jatos. Perry, como vejo,você não está nem um pouco decepcionado. Até acredito que aprecie mais estaesquadrilha que seis supernaves espaciais.

     —  Um belo dia nós também construiremos naves deste tipo, Bell. Acho que ainda precisam de nós no planeta Terra, e este caça à velocidade da luz é o melhor presente

     para nós. Que tal um vôo de experiência? Nos olhos de Bell lia-se o entusiasmo. —  Você acha que sou capaz de pegar um aparelho destes e sair voando por aí sem

    mais aquela? —  Se não for, peça a Thora que lhe devolva a taxa de matrícula. Vamos embora!

    Pegue aquele ali. Eu vou neste.

    * * *

     No momento a guarnição da fortaleza de Vênus era muito reduzida.

    Além dos dois arcônidas, Crest e Thora, nesse amplo labirinto de cavernas sóresidiam o Dr. Eric Manoli, a telecineta Anne Sloane e o teleportador Tako Kakuta, que

     pertenciam ao exército dos mutantes, bem como o tenente Michael Freyt, o capitão Rod Nyssen e o tenente Conrad Deringhouse, ex-oficiais da Força Espacial dos EstadosUnidos.

     Nas últimas semanas todos eles tinham desenvolvido uma atividade útil,contribuindo para o conhecimento daquela fortaleza esquecida em Vênus. Só os trêsoficiais sentiam-se um tanto inúteis quando os outros conversavam sobre assuntos queeles não entendiam. Não conheciam as concepções arconídicas, nem dispunham dasvantagens de um mutante positivo. Eram apenas pessoas sadias, com uma mente sã num

    corpo são, e essas qualidades habilitaram-nos a atingir a Lua numa primitiva naveterrena.

     No dia do aniversário do tenente Freyt surgiu uma modificação. —   O que você gostaria de receber, Freyt?  —   perguntou Rhodan com a voz

     bonachona. —  Gostaria de tornar-me um membro ativo da Terceira Potência  —  foi a resposta.

     —  E meus camaradas desejam a mesma coisa. Sentimo-nos um tanto inúteis. —  De que se julgam capazes? —   Se possível gostaríamos de voar. É verdade que só conhecemos as máquinas

    convencionais produzidas pela nossa técnica.

     —  Estas eu não tenho, tenente. Mas gostaria de dar uma olhada na Good Hope?Foi este o presente de aniversário de Freyt. Crest e Bell levaram o dia inteiro

    mostrando a nave aos três oficiais. Depois Rhodan submeteu-os a um treinamento

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    hipnótico intensivo.Aprenderam literalmente, dormindo, a pilotar as naves arconídicas. Depois de deitá-

    los em pequenas macas, ligaram seus braços, pernas e cérebros com o instrumento deensino psicossensorial. Após isso ficaram entregues a uma série intensa de sonhosdirigidos, nos quais pilotaram naves arconídicas de todos os tipos de um grupo de estrelasa outro. Sem correr o menor perigo, aprenderam a realizar as manobras mais difíceis e a

    reparar defeitos em pleno vôo. Um aparelho positrônico de testes registrouautomaticamente os resultados dos exames a que eram submetidos ininterruptamente. Asfalhas tornaram-se cada vez mais raras, e em menos de três dias os três oficiaisanunciaram a Perry Rhodan que já eram capazes de pilotar sozinhos a Good Hope.

    Um vôo experimental confirmou a informação. Logo após isso, Freyt, Nyssen eDeringhouse obtiveram uma licença bem merecida.

    Aproveitaram-na em pequenas expedições pela selva de Vênus.Pelo meio-dia de sete de julho  —   em Vênus ainda contavam o tempo segundo o

    calendário terreno  —   apressaram sua volta de um passeio, pois surpreenderam-se aoverem a Good Hope decolar. Foi Deringhouse quem primeiro viu a nave esférica.

     —  Será que pretendem voltar para casa sem nós? —  Não me consta que Rhodan queira retornar à Terra. Faz tempo que está metido

    com aquele cérebro, realizando conversas intelectualizadas. —   Gostaria de saber o que significa isso. Tomara que os arcônidas não estejam

    fazendo alguma tolice! —  Acha que Thora e Crest estão fugindo?  —  perguntou Freyt com um sorriso.  —  

    Você é muito esquentado, Deringhouse. Os arcônidas conhecem perfeitamente as suaslimitações. Não pinte logo o diabo! Podemos nos apressar um pouco, se é que isso otranqüiliza.

    Dali a meia hora chegaram à posição de combate da fortaleza. Na cúpula gigantesca

    concentravam-se todas as armas ofensivas com os respectivos dispositivos de comando.Um olhar bastou para que Freyt se convencesse de que nenhum veículo havia

     penetrado na atmosfera de Vênus. A capacidade de observação estendia-se até o pólo sul.A suspeita de Deringhouse já não parecia tão absurda. Mas quando o tenente se dispôs afalar, dois pontinhos surgiram na tela.

     —  Que diabo! O que será isso? —  Capitão! Localize os objetos e mantenha-os sob observação constante!  —  gritou

    Freyt. Nyssen obedeceu instantaneamente. Pouco depois o goniômetro localizou os doiscaças espaciais e não deixou mais que escapassem, por mais complicadas que fossem asmanobras que realizavam.

     —   São naves muito pequenas  —   constatou Deringhouse.  —   E não são da GoodHope. Vamos chamar Crest!

    Freyt já cuidara disso. Dali a alguns segundos o arcônida respondeu pelo vídeo-fone.

     —  O que deseja, tenente? —  Estamos na cúpula de observação. Será que podia dar um pulo até aqui agora? —  É muito urgente? Tenho uma coisa mais importante a fazer. —   Descobri dois objetos voadores, que aparentemente não deviam estar aqui.

    Passaram bem perto, por cima da montanha e depois subiram quase na vertical. Nomomento encontram-se a uma altitude de 14.000 quilômetros.

     —   Você está vendo fantasmas, Freyt. Nossos dispositivos de alarma captariam ereportariam qualquer nave estranha. Não há nada que possa penetrar até esta montanhasem ser reconhecido.

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     —  Por favor, olhe!Freyt afastou-se, para que Crest pudesse ver a tela através do videofone. Os três

    notaram um ligeiro tremor em seu rosto. —  Irei imediatamente —  disse o arcônida.Subiu no elevador expresso e precipitou-se para o painel das telas de defesa.

     —  Tudo pronto para abrir fogo, tenente. A cúpula foi reforçada. Entre em contato

    com aqueles desconhecidos e avise-os de que serão destruídos imediatamente se nãoseguirem nossas instruções.Freyt mexeu apressadamente no telecomunicador. Antes que tivesse tempo de falar,

    o alto-falante transmitiu um diálogo exaltado, que os apanhou de surpresa. Rhodan e Bellcomunicavam-se pela mesma forma, porque isso correspondia ao que os arcônidasfalecidos há dez mil anos haviam feito.

     —   ...voltarei imediatamente, meu caro. Não estou com vontade de ser abatido porCrest.

     —  Para voltar é tarde. Você já foi localizado. Sugiro que entre em contato com a base. Talvez seja possível conversar com essa gente.

     No início parecia que não era possível. Freyt, Nyssen e Deringhouse tinham perdidoa fala. Até Crest teve de vencer a surpresa antes que conseguisse proferir uma palavra. —   O que é isso, Rhodan? Como conseguiu pôr as mãos nesses modelos dos

    fantanitas? —  Está vendo?  —   interveio Bell.  —  Ele diz que são modelos fantanitas. Eu disse

    logo quando vi o formato em fuso. —   Deixe de tolices! O que você está vendo, Crest, são verdadeiros caças

    arconídicos. Revire sua memória e descobrirá que há dez mil anos seus antepassadosconstruíram estes modelos.

    Crest logo compreendeu.

     —   Você descobriu os caças estacionados na fortaleza! É isso mesmo! Assim osfatos combinam. Só faz dois mil anos que os habitantes de Fantan imitaram nossas naves-fuso. Onde encontrou esses aparelhos?

     —   No interior da montanha. E há mais quatro. Todos eles estão equipados comcanhões de impulso superpotentes —  Perry Rhodan riu. —  Você cancelou o alarma, nãofoi, Crest? Do contrário não vejo outra alternativa senão arriscar uma catástrofe.

     —  Não brinque, Rhodan! Com o armamento de um caça espacial você pode destruirum planeta. Logo após a explosão espontânea, as bombas-foguetes arconídicasocasionam um incêndio atômico que atinge todos os elementos pesados acima do graudez. Os núcleos podem ser regulados para desencadear uma reação nuclear em cadeia.

     —  É possível —  respondeu Rhodan. —  Mas posso tranqüilizá-los. As bombas nãose encontram a bordo. Mas poderemos carregá-las no próximo vôo. É que acabo de teruma idéia.

    Perry Rhodan não expôs a idéia antes do pouso. Bell teve de recolocar o caça nohangar e levar a Good Hope à fortaleza. Rhodan veio na sua pequena maravilha. Pousou

     junto à entrada da fortaleza. Enquanto explicava a Crest como havia descoberto os seiscaças espaciais, os três oficiais dispensaram suas atenções à máquina. Finalmente haviamencontrado em Vênus algo que correspondia à sua paixão.

     —  Estão gostando? —  perguntou Rhodan. —  Um astronauta só pode sonhar com uma coisa destas.

     —  Que pena que seu aniversário já passou, Freyt. —  Até parece que estes caças espaciais serão dados de presente. —   Não é isso. Proponho um acordo, tenente. Você, Nyssen e Deringhouse

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    submetem-se a um novo ciclo de treinamento hipnótico, concebido especialmente paraestas coisinhas. Depois disso as receberão em custódia, como representantes da TerceiraPotência.

    Os olhos de Freyt brilhavam. —  Não sei como agradecer! Pode confiar em mim em quaisquer circunstâncias. —   Isto é uma das condições do acordo  —   confirmou Rhodan em tom sério.  —  

    Preciso de uma frota bem combativa. Pode ser pequena, mas tem de ser veloz einvencível.Como sabem, os acontecimentos que se desenrolaram nos últimos meses em nosso

    sistema solar despertaram a atenção de muitas inteligências. Conseguimos repelir os primeiros ataques. Os que se seguirem serão mais intensos. Se quisermos sobreviver,teremos que nos prevenir. A potência de que dispúnhamos ontem poderá ser insuficiente

     para as lutas de amanhã. Aí vem Bell com a Good Hope. Ele levará vocês à encosta nortee lhes mostrará o local exato. Observem tudo. Hoje de noite falaremos sobre o novo ciclode treinamento. Acho que começaremos nas próximas vinte e quatro horas.

    Reginald Bell esperou que os três oficiais subissem a bordo e voltou a decolar em

    direção ao norte. Crest e Rhodan dirigiram-se à entrada do forte. Quando abriram o portão, Thora veio ao seu encontro. Rhodan teve a impressão de que estava esperando.Seu olhar era rígido e sombrio; passando pelos dois homens, dirigiu-se ao caça espacial.

     —  Este aparelho pertencia a um dos nossos antigos cruzadores espaciais, não é?Crest fez que sim.

     —  Foi Rhodan que os encontrou. São seis. —  Para vocês homens trata-se de um achado, não é? —  E para vocês, o que é? —  perguntouRhodan. Sentiu a recriminação na pergunta de Thora.

     —  Para nós é roubo  —  respondeu Thora com a voz áspera.  —  Isso mesmo, Perry

    Rhodan: para nós é roubo. E depois que conheci a humanidade fiquei sabendo que elatem uma ética semelhante. Sabemos perfeitamente que você é um ladrão, tanto aos olhosdos homens como dos arcônidas. Aliás, onde foi buscar todo esse orgulho?

     —   Só me resta muito pouco. Você me tirou quase todo. Mas ficarei com umrestinho de orgulho. Preciso dele para salvar a humanidade.

     —  Você fala na salvação da humanidade, mas esquece a galáxia. —   A galáxia terá de esperar até que consigamos estabelecer a ordem no sistema

    solar. Para construirmos uma obra gigantesca, temos de começar de baixo. A mais beladas torres desabará se não tiver um alicerce sólido.

     —  E este alicerce são os homens, não são? Alguns bilhões de seres estúpidos. Acha

    que são bastante fortes e amadurecidos para suportar todo um grupo de mundos? —  Acho que são bastante jovens, Thora. Tudo depende da juventude. Das reservas

    de vitalidade. O amadurecimento é um processo lento. Por que insiste em voltarconstantemente a este tema?

     —   Porque fico perguntando de mim para mim se ainda sou comandante. A estaaltura minha nave é a Good Hope. É um nome terreno.

     —  Também é um nome belo e esperançoso. Não gosta? —  Gostaria de saber se ainda sou comandante —  obstinou-se Thora. —  Voltará a ser quando tiver dado provas de sua boa vontade e confiabilidade. —  Quer dizer que sou uma prisioneira. E o nome Good Hope continua a ser um

    nome terreno, por mais belo que seja. —   A imagem dos arcônidas está modificada. Vocês se tornaram sentimentais

    demais para o orgulho que andam ostentando. E, mais que tudo, tornaram-se mais fracos.

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    O Grande Império de vocês está caindo aos pedaços. Qual é a esperança que lhes resta,Thora?

    Thora não respondeu. —   Fale, Crest!  —   ordenou Rhodan.  —   Diga uma palavra definitiva de

    esclarecimento. Não se esqueça do seu orgulho de arcônida. Mas deixe que a razãodecida.

     —  A galáxia é um mundo de caos

     —  explicou Crest.

     —  Nosso império chegou aofim. Seres insensíveis destroçam as culturas criadas por nós e a cada ano vão se

    aproximando do centro do Império. A Via Láctea precisa de uma mão forte. Até aquitemos plena consciência do curso ameaçador que os acontecimentos estão tomando.

    Também tenho consciência do papel que você, Rhodan, poderia desempenhar. Masnão sei se está disposto a desempenhá-lo.

     —  Que papel seria este? —  Você está entusiasmado pela humanidade do planeta Terra. Ama esses poucos

     bilhões de seres e faz tudo por eles. Daria a eles de bom grado o domínio de toda agaláxia. Mas há um detalhe: o caminho do domínio para a opressão é muito curto.

     —  A desconfiança é uma reação sadia, Crest, mas não o liberta do dever de decidir.E você não pode passar sem um pinguinho de confiança. Ninguém aqui é profeta. Bastaque estejamos dispostos a dar o melhor de nós.

     —   Você está disposto, Rhodan? Está disposto a permitir que também os outrostenham o seu, desde que isso lhes caiba pelo direito da liberdade? Falarei claro e semrebuços, e também direi uma palavra definitiva, conforme pediu. Os homens e osarcônidas são parecidos. Seria totalmente contrário aos nossos interesses comuns se um

     belo dia uma inteligência totalmente desumana assumisse o poder nas estrelas do nossosistema. Quis o destino que os homens e os arcônidas se encontrassem. Caso estejadisposto a lutar por nós todos e empenhar as forças da humanidade a bem de toda a

    galáxia, você pode contar com a nossa confiança, Rhodan. —  Estou disposto.

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    II Dali a dois dias.Tempestades furiosas açoitam o hemisfério norte de Vênus, tangem a água e as

    massas de nuvens para dentro dos vales cercados de montanhas e fazem com que os lagose os rios cubram grandes extensões de terra junto às margens.

    Por entre o relampejar ininterrupto das trovoadas rivais surgem sinais de umdesempenho matemático retilíneo: cinco caças espaciais decolaram.

    Concluído o treinamento hipnótico especializado dos pilotos de caça Freyt, Nyssene Deringhouse, Perry Rhodan ordenou a realização das manobras finais.

    A comunicação entre os cinco pilotos foi um verdadeiro festival de satisfação. —   O desempenho destes aparelhos é inacreditável  —   disse Nyssen.  —   Se

     pensarmos que foram construídos há mais de dez mil anos, só nos resta pedir aosengenheiros terrenos que peçam de volta o dinheiro gasto em estudos.

     —  Nada de ofensas contra qualquer grupo profissional  —   advertiu Bell com umaseriedade fingida.  —   Se não fosse o treinamento hipnótico, este seu vôo exibicionista

    também teria caído à água, capitão. —  Basta!  —  soou a voz de comando de Rhodan.  —  Estamos saindo da atmosfera

    de Vênus e passamos por cima do pólo norte a uma altitude de cento e vinte milquilômetros. Entrar em forma para o vôo em fila e aguardar comandos de frenagem emudança de rumo!

    Dentro de trinta segundos as cinco máquinas deixaram para trás a furiosa trovoadade Vênus. Diante deles estendia-se o preto aveludado do espaço, onde a brancura do solformava o centro aparente. As comunicações radiofônicas voltaram a funcionarnormalmente, permitindo a captação de um emissor menos potente.

    O pedido de socorro da Terra foi captado com igual intensidade nas cinco naves.

    E nas cinco naves os pilotos souberam que o último comando de Rhodan perderasua finalidade.

     —   ...solicitamos retorno imediato. A Terceira Potência. A pedido de JohnMarshall... Aqui fala a Terceira Potência. Estamos chamando Perry Rhodan. Certonúmero de naves ovais, ao que tudo indica tripuladas por Deformadores Individuais,

     pousaram na Lua, segundo relata a estação espacial Freedom I, e logo depois voltaram adecolar e desapareceram no espaço. Devemos contar com nova manobra de aproximação.Ao mesmo tempo o exército de mutantes reporta fenômenos de deformação suspeita em

     personalidades expostas. Estamos fornecendo maiores detalhes pela faixa secreta AK III.Rhodan, solicitamos retorno imediato. A Terceira Potência, a pedido de John Marshall.

    Terceira potência chamando Perry Rhodan. Naves ovais...Perry Rhodan ordenou o retorno imediato ao forte de Vênus. Descrevendo uma

    curva fechada, que homens e máquinas só suportavam graças ao compensadorautomático de força centrífuga, os caças espaciais desceram e penetraram no furacão.Mas as cúpulas energéticas protetoras eliminavam os efeitos atmosféricos em torno dasnaves e permitiram que descessem sem sofrer dano.

     Na fortaleza o ambiente também estava tenso. Crest também captara a mensagemradiofônica do deserto de Gobi e recomendou aos homens que se preparassem para umadecolagem de emergência.

     —  Tudo em ordem!  —   confirmou Rhodan com um aceno de cabeça.  —   Faça os

    homens subirem, Bell. Não é necessário que ninguém fique para trás. Não se esqueça decolocar a bordo três dos caças espaciais. Venha, Crest! Quero ouvir o que eles têm a nosdizer pela faixa AK III.

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    Rhodan e Crest tomaram o elevador e subiram para a cabina de comando. O grandereceptor arconídico já expelira uma fita escrita. Depois de ler apressadamente algunsnomes desconhecidos, Rhodan não prosseguiu. Ligou seu próprio receptor que, acionado

     pelos impulsos pentadimensionais, funcionava a velocidade superior à da luz, isto é, semqualquer perda de tempo determinada pela distância. Ao contrário do intercâmbioradiofônico normal, onde na posição atual da Terra e de Vênus a transmissão de uma

    mensagem levava mais de doze minutos, a faixa pentadimensional AK III permitia umintercâmbio instantâneo. —   Aqui fala Perry Rhodan. Estou chamando a base de Gobi. O que houve,

    Marshall? —  Alô, Rhodan. Graças a Deus que está chamando. Recebeu nossa mensagem? —  Naturalmente! A Good Hope está pronta para decolar. Faça o favor de me dizer

    quais foram as mensagens transmitidas pela faixa AK III. —  Vou colocá-lo em contato com Mercant. Ele está aqui. —  Alô, Rhodan. Aqui é Mercant. —  Bom dia. O que houve?

     —  Há dois dias recebi um chamado do coronel Kaats, da Polícia Federal. Há maisde um ano está atrás do sindicato de bandidos Blue Bird , mas a única coisa que conseguiudescobrir foi esse nome misterioso. Finalmente conseguiu uma pista. Pelo que afirma, umdos três cabeças é um sujeito chamado de Clive Cannon, que possui uma residênciaconfortável na Michigan Avenue, em Chicago.

     —   Isso é muito interessante. Todavia, peço licença para salientar que a TerceiraPotência não pretende intrometer-se nos assuntos internos de outros países.

     —  Será que você acha que não tenho um bom motivo para contar-lhe isso, Rhodan?Um homem do FBI descobriu Cannon por acaso. E esse acaso por certo não deixará deser interessante para você. Cannon tem um pastor-alemão bem treinado. Desde o início

    da semana o animal não o reconhece mais como dono. Daí não se pode Concluir muitacoisa. Há longo tempo o homem é conhecido na sociedade como comerciante idôneo;além disso, sabia-se alguma coisa sobre seus hábitos e relacionamentos. Pelo que diz ocoronel Kaats, Cannon já não é o mesmo.

     —  Quer dizer que na sua opinião os DI apossaram-se dele? —  Tenho certeza quase absoluta. Continuaremos a manter o sindicato sob controle.

    Se é que os DI apoderaram-se dele, deverá ocorrer um deslocamento de interesses políticos e econômicos. Os invasores extraterrenos não se limitarão a desenvolver umaatividade puramente criminal.

     —  O que significam os outros nomes incluídos em sua mensagem?

     —   Trata-se de suspeitos, que serão vigiados. Tenho certeza de que os DI serão bastante inteligentes para apoderar-se em primeiro lugar das pessoas mais influentes. E ocomeço é o presidente dos Estados Unidos.

     —  Já avisou as potências mundiais? —  Ainda não. Não quis tomar uma decisão dessas por minha conta. —   Pois eu lhe ordeno que faça. O Conselho Internacional de Defesa dispõe das

    melhores ligações possíveis com o comando das forças armadas do Bloco Oriental e daFederação Asiática. Entre imediatamente em contato com Kosselov e Mao Tsen. Aviseos terráqueos de que cada um deve cuidar de seu próximo, pois o melhor amigo poderátransformar-se no pior inimigo. Mas antes de mais nada, ponha em ação o exército de

    mutantes, na medida em que está treinado. Por enquanto você assume o comando. —   Obrigado! Já formulei algumas sugestões e elaborei alguns detalhes sobre a

    atuação de nossos homens. Mas quero ponderar que, embora sejamos dotados de

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    capacidades sobre-humanas, nosso número é muito reduzido. Só poderemos lançar mãode seis ou sete pessoas. Enquanto isso a frente de ataque do inimigo abrange todo o

     planeta e a humanidade inteira. Além disso, só nossos telepatas estão em condições dereconhecer ao primeiro contato uma pessoa que se encontra sob o poder de um DI.Precisamos de um instrumento, Rhodan.

     —   Sei disso  —   respondeu Rhodan em tom pensativo.  —   Os arcônidas nos

     presentearam com uma porção de instrumentos. Mas nenhum deles serve para o queestamos precisando no momento. —  Você não tem um rastreador de ondas cerebrais? Estou me referindo ao aparelho

    que Bell e Kakuta usaram no Japão para procurar mutantes. —  O rastreador só pode localizar cérebros que se afastam do modelo normal. Não

    serviu sequer para determinar o tipo de capacidade parapsicológica de que era dotado ummutante. Esse aparelho não nos servirá de nada.

     —  Deve ser aperfeiçoado. —  Sinto-me honrado pela confiança que deposita em mim —  disse Rhodan em tom

    sarcástico. —  Mas não pense que sou Deus. Verei o que posso fazer.

     —  Tem alguma idéia? —  Apenas uma esperança. Exploraremos todas as possibilidades. Não deixaremos

    de tentar, seja lá o que for. Para isso preciso do seu auxílio. —  O que devo fazer? —  Fale com Kaats e peça-lhe que deixe Clive Cannon em paz. Deve limitar-se a um

    tipo de vigilância que não dê na vista. —   Procurarei transmitir-lhe a mensagem de forma diplomática. Não acredito que

    aceite ordens suas. —  Isso é problema seu, Mercant.Reginald Bell anunciou que a Good Hope estava pronta para decolar. Rhodan

    mandou que esperasse. O chefe da Terceira Potência tinha um traço típico: quando surgiauma situação de alarma, costumava desenvolver uma atividade enervante em coisasaparentemente secundárias.

     —  Gostaria de ter os nervos desse homem!  —  gemeu o Dr. Manoli, exprimindo osentimento de todos.

    Dali a duas horas Rhodan finalmente subiu a bordo. Carregava uma pasta com pilhas de cartões perfurados, positrogramas e fórmulas. Guardou-a sem dizer uma palavra. Não fez a menor referência ao trabalho que desenvolvera junto ao cérebro.

     —  Os caças espaciais estão a bordo? —  Sim! —  confirmou Freyt.

     —   Muito bem. Vamos embora, Bell. Faço votos de que não gaste mais de trêshoras.

    Reginald Bell liberou a potência dos reatores HHE. A Good Hope aceleroulentamente para uma velocidade de 18,2 km/seg e, uma vez fora da influência dagravitação de Vênus, disparou para o espaço com uma força de empuxo cujo valorabsoluto era de 800.000 toneladas. A aceleração atingiu o valor máximo de 500 km/seg.

     Nem por isso seria possível atingir, numa viagem curta como a de Vênus à Terra, umavelocidade próxima à da luz. Todavia, talvez Reginald Bell conseguisse cumprir o desejode Rhodan, que pedira uma viagem-relâmpago.

    Depois de uma hora de viagem foram ligados os instrumentos de localização de

    velocidade superior à da luz que, graças ao impulso pentadimensional de que eramdotados, não poderiam ser reconhecidos por um eventual atacante localizado no universonormal. A desvantagem desse tipo de observação consistia no fato de só permitir a

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    exploração de setores limitados do espaço. Havia amplas regiões do espaçoquadridimensional, situadas sobre a linha direta da luz, que ficavam fora do alcance daobservação. Por isso realizava-se uma observação paralela pelo radar, que na distânciaatual trabalhava com alguns minutos de atraso.

    Logo se verificou que as providências adotadas por Rhodan eram acertadas. Sempreque os DI aparecem e voltam a desaparecer espontaneamente, deve-se contar a qualquer

    momento com um novo ataque.Quando haviam atingido a velocidade máxima e Bell já se preparava para inverter aaceleração, iniciando a frenagem, a tela de radar mostrou duas naves ovais.

     —  São os DI! —  foi o grito saído de muitas bocas. —  Dirigem-se à Lua. —  Pode ser coincidência. É possível que estejam voando diretamente para a Terra.

    Ligue a mira automática, Bell.Os raios tateadores atravessaram o hiperespaço a velocidade superior à da luz e

    alcançaram o alvo cuja posição aproximada já era conhecida. Dentro de poucos segundosajustaram-se ao inimigo. As células de reação de contato garantiam que o raio direcionalnão mais largaria as naves dos DI, fossem quais fossem as manobras diversionistas que

    realizassem. —   Distância: vinte e cinco milhões de quilômetros da Terra, quarenta e quatro

    milhões de quilômetros das naves dos DI. —  Qual é a distância entre os DI e a Terra? —  Menos de dezoito milhões de quilômetros. —  Só isso? O cartograma, por favor! —  ordenou Rhodan.A luz fosca de uma lâmina vermelha iluminou-se no painel de comando.

     —  Ângulo entre os DI e a Terra exatamente oito graus, quarenta e cinco minutos etrinta segundos —  disse Bell —  Os DI voam em direção quase oposta à nossa, pois vêm

     praticamente do outro lado. A velocidade deles é ligeiramente inferior à nossa. Também

     já iniciaram a manobra de frenagem. —  Uma simples estimativa não nos serve de nada. —  Nunca se pode saber antes o que o inimigo vai fazer. No momento prosseguem

    normalmente; ao que parece ainda não sabem que foram descobertos. Assim que noslocalizarem, deverão acelerar de novo. Você já viu com que empuxo essa gente trabalha.

     —  Não assumiremos o menor risco. Mantenha a aceleração positiva por mais dezminutos. Se necessário passaremos ao lado da Terra. Freyt!

     —  Sim. —   Prepare-se para decolar juntamente com Nyssen e Deringhouse. Os três

    aparelhos conduzirão o armamento completo.

     —  Cada caça já traz a bordo uma bomba-foguete com carga nuclear. Os canhões deradiação estão em condições de funcionar.

     —   Muito bem. Já conhecem a situação. Pretendo pegar as duas naves antes queatinjam a Terra. Enquanto for possível, a Good Hope prosseguirá sem aceleraçãonegativa de frenagem. Assim que invertermos a aceleração, vocês deixam a nave nos seuscaças e prosseguem, voltando a acelerar. Prendam-se bem entre os colchões pneumáticos,

     pois é bem provável que no momento da pontaria tenham de desacelerar em 500 km/seg.Os projetores antigravitacionais não poderão compensar isso.

     —  Fui treinado em 20g e até mais. —  Isso é bom, mas é pouco para os valores de aceleração usados pelos arcônidas.

    Só lhes posso recomendar que se cuidem e não exagerem. Assim que perceberem que osantígravos não dão mais conta do recado, reduzam a força dos reatores. Quero que oinimigo seja destruído, mas o mais importante é que vocês e os três caças voltem sãos e

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    salvos. São muito valiosos para mim. —  Sim! —  responderam os três oficiais.Fizeram continência e retiraram-se.

    * * *

    Tudo decorreu com extrema precisão. Pelo menos no início. Segundo as

    informações de Crest, o sistema de alarma dos DI era menos aperfeiçoado, e seusinstrumentos de localização tinham um alcance de menos de dez milhões de quilômetros.Dali a pouco a Good Hope teria que desacelerar, para dar a precedência aos caçasespaciais que, graças às superfícies refletoras, tinham boa chance de se aproximar maisum pedaço do inimigo sem serem detectados.

    E tinham de aproximar-se sem serem detectados para terem alguma chance de êxito.A força dos DI eram as cúpulas energéticas, que podiam cercar a nave em poucossegundos. E um canhão de radiação dos arcônidas nada poderia contra elas. Outro fatorde vantagem dos DI era a extrema maleabilidade de suas naves. Assim que descobrissemque um dos seus ataques traiçoeiros fora descoberto e, portanto, frustrado, recorriam à

    fuga. E isso de nada adiantava aos homens. Um DI voltaria depois de ter fugido. Surgiriaa qualquer momento, em qualquer lugar. E então o fator surpresa estaria novamente deseu lado.

     —  Alô, Freyt! Avise quando estiver pronto para decolar! —  gritou Perry Rhodan. —  Os três caças estão prontos para passar pela comporta. —  Muito bem! Ligue os reatores. Acelere, conforme combinamos. Dentro de vinte

    segundos a Good Hope vai desacelerar. Aí vocês já deverão estar do lado de fora.Assim que Reginald Bell inverteu os jatos, dando início à desaceleração, três

    minúsculos pontinhos cinzentos desapareceram no espaço. Dentro de poucos segundoscessaram os efeitos luminosos produzidos pelas superfícies metálicas dos caças sobre as

    telas de observação visual. Outro super-raio localizador atingiu-os pela quinta dimensão,tornando-os visíveis aos ocupantes da nave.

    Estabeleceram contato radiofônico pela faixa AK III. Não haveria possibilidade dedetectá-lo no espaço contínuo quadridimensional.

    Perry Rhodan observaria todas as fases do confronto que se aproximava. Senecessário, anunciaria modificações estratégicas.

     —  Mudar o rumo dois graus para estibordo! —  foi a ordem que se seguiu.Bell estava surpreso, pois esperara poder conduzir a Good Hope para casa ao seu

     bel-prazer. Mas ao que parecia ela ainda tinha um papel a desempenhar nos planos deRhodan. Executou a manobra sem discutir.

    A maior parte das pessoas que se encontravam a bordo imaginaram o que Rhodan pretendia com a mudança de rumo. Mas só tiveram certeza quando chamou Freyt.

     —   Mantenho o mesmo rumo, tenente. Levamos a Good Hope dois graus paraestibordo. Com isso devemos aparecer a uma distância de seis milhões de quilômetros doseu ponto de encontro com os DI. Além disso, daqui a pouco iremos a uma velocidade

     bastante reduzida, para atrair a atenção do inimigo. Com isso serão maiores as chances devocês se aproximarem sem serem percebidos. Boa sorte!

    Dali a quarenta e oito minutos uma manobra dos DI fez concluir que a Good Hopefora descoberta.

     —   Não perca a calma, meu filho!  —   disse Rhodan. “Meu filho”  era Bell.  —  Prosseguiremos sem mudar de rumo. Também manteremos a mesma desaceleração. Oinimigo pensará que procuramos atingir um ponto situado além da Terra. Se

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    continuarmos assim, só poderá pensar que não o descobrimos.Logo se ouviram as mensagens de comando de Freyt. As pessoas que se

    encontravam a bordo da Good Hope acompanharam-nas pela superfaixa AK IH. —   Abrir um grau. Nyssen para bom-bordo. Deringhouse para estibordo. Nyssen,

    aumente a aceleração em dois km/seg. Deringhouse, reduza em dois km/seg. Você seencarregará do primeiro, isso se eu falhar. Nyssen atacará o segundo.

     —  O.K.! Entendido!A fileira de caças espaciais abriu-se em leque. Depois de modificada a aceleração,

    voavam um atrás do outro, em diagonal. O capitão Rod Nyssen ia na ponta. Teria de passar pelo primeiro inimigo para abrir fogo contra o segundo, antes que fosse prevenido pelo ataque contra a primeira nave.

    Os DI limitaram-se a uma mudança insignificante de rumo. Ao que parecia tratava-se de uma reação instintiva, provocada pelo surgimento da nave dos arcônidas. ComoRhodan prosseguisse no mesmo rumo, os DI tornaram-se mais confiantes e, mantendo amesma desaceleração, prosseguiram na direção Lua — Terra.

    Os três caças espaciais, submetidos a uma aceleração constante, haviam atingido

    uma velocidade próxima à da luz. Para estabilizar a massa que tendia para o infinito, osastronautas proporcionaram um apoio adicional ao raio de partículas, injetando umelemento de sustentação no mecanismo propulsor. Com isso se atingiam velocidades queexcediam tudo que o homem jamais vira no sistema solar.

    O mais importante era que o inimigo não contava com esse ataque súbito.A distância prevista de dois milhões de quilômetros os caças abriram fogo com seus

    canhões de radiação. Ao mesmo tempo Nyssen e Freyt lançaram os torpedos espaciaiscom carga nuclear.

    Os DI não tiveram tempo de levantar a cúpula energética. Quando viram aluminosidade dos canhões, já era tarde. A onda mortal aproximou-se com a velocidade da

    luz.As duas naves desmancharam-se em pura energia.Os três astronautas não tiveram tempo para apreciar o espetáculo infernal. Os caças

    também corriam perigo. A enorme velocidade aproximava-os a cada instante daquelafornalha de energias em fúria.

    Imediatamente após o disparo tiveram de eliminar toda a aceleração e mudar derumo. Com isso surgiu uma pressão lateral que perdurou por mais de quinze segundos.

    Os astronautas jaziam imóveis nas suas poltronas anatômicas e contaraminstintivamente até quinze. Só ao chegarem a esse número em plena consciênciasouberam que estavam salvos.

     —   Iniciar manobra de frenagem!  —   A voz de comando de Perry Rhodan soouabruptamente nas pequenas cabinas pressurizadas.  —  Foi um trabalho muito bem feito,cavalheiros. Sigam um curso comum e retornem à Terra assim que tiverem atingido umavelocidade que permita o pouso. Encontramo-nos na órbita lunar, onde voltaremos arecolhê-los a bordo da Good Hope.

    Os homens que se encontravam a bordo da Good Hope dispuseram-se a uma sonecareconfortante. Foi quando subitamente o hiperlocalizador voltou a reagir.

     —  Que inferno! O que será isso? —  suspirou Reginald Bell. —  Sem dúvida é um objeto voador —  explicou Crest. —  E procede exatamente do

    setor do espaço que os três caças acabam de abastecer com energia. Deve ser uma nave

    salva-vidas dos DI. Trata-se de veículos menores que nossos caças, e que podem abrigarno máximo dez seres.

     —  É impossível. Nosso ataque destruiu tudo que...

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     —  Não se exalte. Esse veículo praticamente não conduz nenhum armamento. Não pode fazer-nos nenhum mal.

     —   Não se trata disso, Crest. Trata-se de saber como é que alguém conseguiuescapar.

     —  Tenho certeza de que não tiveram tempo para decolar da nave  —  constatou PerryRhodan.

     —  É verdade

     —  confirmou Crest. Suponho que a nave já tenha sido tirada de bordoantes, para cumprir uma missão especial. Vamos segui-la por algum tempo. Já podemos

     permitir-nos esse luxo.A minúscula nave salva-vidas dos DI tomara o curso da Lua. Rhodan voltou a

    estabelecer contato com Michael Freyt. Os três caças voltaram, depois de descrever umacurva de 800.000 quilômetros de raio e dentro de noventa minutos atingiram, pouco antesda nave esférica dos arcônidas, a órbita previamente indicada.

     —  Freyt, pelos meus cálculos é você que se encontra mais próximo da nave. —  Sim, Rhodan. —  Peço-lhe que se ponha a persegui-la. Nada de ataque. Sempre será possível pegar

    uma mosca dessas, enquanto não se dirigir diretamente à Terra. Gostaria de receber ascoordenadas exatas do local de pouso. —  Correto! Quais são as instruções para Nyssen e Deringhouse? —  Podem se aproximar. Vamos abrir as comportas.A nave dos DI foi submetida a uma dupla vigilância. Além do tenente, também o

    raio hiperlocalizador ficou grudado nela. E as pessoas que se encontravam na nave,inclusive Thora, acompanhavam com o maior interesse todos os seus movimentos.

    Freyt acelerou e chegou bem perto do inimigo. —  Tenha cuidado, tenente! É possível que os DI disponham de uma base fixa na

    Lua. De lá você poderia ser alvejado.

     —  O.K.! Cuidarei. Está nos seguindo? —  Sim, por precaução. Mas nem por isso você deve relaxar.Freyt riu.

     —  Com o equipamento de que disponho aqui tenho pouca chance de relaxar. Queroexperimentar tudo. Tenho, por exemplo, uma câmera maravilhosa que permite tirarquinhentas fotografias por segundo. Ela alcança freqüências que vão do infravermelho aoultravioleta e é dotada de um cérebro positrônico rastreador físico-químico, além de terum revelador embutido que libera as fotografias imediatamente. Quer que eu leve umfilme?

     —  A idéia não é má. Trabalhe com a câmera.

    Realmente o tenente Freyt operou um filme aproveitável.A nave dos DI desaparecera na face oculta da Lua, na altura da linha equatorial. As

    medições realizadas por Freyt indicavam a área da cratera de Mendelejew, no 80o grau delongitude. Estranhamente naquele lugar havia vestígios de metal que, segundo o cérebro

     positrônico, não ocorriam em estado natural. —  Quer dizer que conseguimos localizá-los  —  constatou Eric Manoli.  —  Convém

    cuidar deles. —  É o que vamos fazer. Mas não quero arriscar a vida de qualquer homem. —  Usaremos robôs. Acho que com eles os DI vão quebrar os dentes.Pouco tempo depois a Good Hope desembarcou na cratera Anaxágoras um

    contingente de tropas robotizadas completamente equipado, que foi incumbido demissões de esclarecimento de âmbito restrito. Seu raio de ação era de seis milquilômetros.

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    III 

    A Good Hope pousou num verdadeiro ninho de marimbondos.O ninho de marimbondos era o território da Terceira Potência, situado no deserto de

    Gobi. É bem verdade que a designação “deserto”  já não era correta. A desolação e asolidão haviam desaparecido. Além da cúpula energética de dez quilômetros de diâmetrooutros dez mil quilômetros quadrados de terra foram incluídos no plano de cultivo.Centenas de técnicos e trabalhadores especializados ajudados por um exército de robôsestavam ocupados na montagem de um complexo industrial integrado.

    A terra florescia. Chuvas artificiais puseram fim à seca eterna. O oásis naturalcrescera, atraindo um número cada vez maior de camponeses mongóis, que montavamsuas tendas junto aos limites do território da Terceira Potência, a fim de aproveitar omilagre do paraíso que ia crescendo aos poucos.

    Visto de cima, o conjunto oferecia um quadro encantador. Por alguns minutos aesfera arconídica flutuou a pequena altura acima daquela azáfama, seguindo a sugestãode Allan D. Mercant, que se opusera decididamente a um pouso fora da cúpulaenergética.

     —   Você me mete medo  —   disse Rhodan.  —   Estou interessado em saber o queaconteceu no território da Terceira Potência. Pelo que vejo, muita coisa boa e positiva foifeita. Será que tudo isso muda de figura quando nos aproximamos?

     —   Faça a nave pousar, Rhodan. Depois que os DI fizeram sua mais recenteaparição, não permiti que a cúpula fosse aberta.

     —  Não estão precisando de você no quartel-general da Groenlândia? — 

     Em toda a parte precisam de mim. Mas jurei ficar aqui até que você retornasse.Mandarei abrir a cúpula. Por três segundos no máximo. O risco é muito grande. —  Não haverá problema.Reginald Bell executou um pouso exemplar.

     No campo de pouso foram recebidos pelos colaboradores mais chegados.Mercant aproximou-se. Estava acompanhado de John Marshall e do Dr. Haggard.

    Rhodan apertou-lhes a mão. —  Fale logo, Mercant! O que houve? —  Se examinar os jornais de hoje, encontrará pelo menos trezentos casos de gente

    que é suspeita de ter sido apossada pelos DI. Mesmo que em noventa por cento dos casos

    isso não passe de fantasia, ainda há motivo mais que suficiente para nos alarmarmos.Para mim os casos não reportados são os mais perigosos. —  Em poucas palavras, receia um ataque em massa contra a Terceira Potência. —   Isso está na cara. O primeiro DI que se apossar de um grande político ou

    economista estará orientado sobre o significado de nossa nação. Quem quiser dominar aTerra terá que dominar a Terceira Potência. É uma conclusão perfeitamente lógica.

     —   É verdade. Foi por isso que determinou o bloqueio total entre a cúpula e osterritórios adjacentes.

     —  Não dispomos de meios para controlar todo o território e evitar uma infiltração.Por isso limitamo-nos à cúpula. Enquanto o cerne continuar intacto, disporemos de um

    núcleo sadio para revidar qualquer golpe. —  Estou satisfeito com sua atuação. O que você acha que devemos fazer daqui pordiante? Segundo deduzi do nosso contato pela faixa AK III, você já tomou algumas

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     providências. —   Falei com os colegas do Bloco Oriental e da Federação Asiática. Submeterão

    nossas propostas aos respectivos governos. —  Isso me cheira a burocracia. —   Desta vez tudo será mais rápido. A estação espacial Freedom I observou seu

    combate com as naves dos DI. A notícia dessa vitória estrondosa já se encontra em todas

    as agências de notícias do mundo. Todos reconhecem o perigo. A idéia até chegou a ser propagada excessivamente e entregue às massas. Por isso torna-se difícil reprimir asmanifestações de pânico. As potências não tiveram outra alternativa senão decretar oestado de exceção. Acontece que essa desconfiança de homem para homem não nosajudará em nada. Há meia hora a rádio de Cingapura transmitiu a notícia de que emManila um homem matou a esposa porque, segundo diz, estava possuída. Mas osvizinhos informam que o casamento não estava dando certo. Quem poderá fazer

     prevalecer o direito, se um homem mata o outro e dá a culpa aos DI? —  Precisamos de uma força policial  —  disse Rhodan. —  Quero que seja recrutada

    entre os homens de seu serviço secreto. Por enquanto teremos de nos contentar com

    quinhentos homens. —  Quinhentos? —  exclamou Mercant apavorado. —  Quinhentos —  confirmou Rhodan com um ligeiro sorriso.  —  Afinal, o que são

    quinhentos homens em comparação com o problema que estamos enfrentando e osnumerosos problemas que teremos de enfrentar no futuro? Não devemos ser otimistas a

     ponto de supor que todas as posições podem ser preenchidas com mutantes. O númerodos mutantes positivos nem chega a tanto.

     —   Arranjarei os quinhentos homens. Dentro de uma semana aproximadamente.Mas não lhe garanto que entre eles não haja nenhum elemento possuído pelos DI.

     —  Não exijo tanto. Você não deve ver as coisas tão pretas. Se apenas um dos seus

    quinhentos homens for um possuído, isso significa que os DI já se apossaram de um emcada quinhentos habitantes da Terra. Não é nada provável que a percentagem seja tãogrande.

     —  Permita que conteste esse seu cálculo de probabilidades  —  disse Mercant. —  Jáchegamos à conclusão de que os DI agem racionalmente, que não mexem na grandemassa de pessoas que não exercem qualquer influência. A meu ver, além dos políticos edos economistas, as pessoas preferidas pelos DI devem ser os agentes secretos.

     —  Você é teimoso, Mercant  —  disse Rhodan com um sorriso.  —  Faz questão deabordar um tema que só estará maduro dentro de uma semana. Vamos adiar estadiscussão por sete dias. Talvez então tenhamos uma base bem mais sólida que hoje.

     —   Na sua opinião conseguirá descobrir tão depressa uma possibilidade deidentificar as pessoas possuídas pelos DI?

     —  Ainda não dispomos de um profeta em nosso exército de mutantes. Só disponhode planos e esperanças. Fiquemos nos fatos do presente. Cada um tem sua tarefa. A suaconsiste em arranjar quinhentos policiais que mereçam toda confiança. De início

     procederá segundo o regulamento a que já está sujeito. Nenhum estranho pode penetrarna cúpula energética. Todos os elementos novos serão alojados fora dela. Na área centralsó podem penetrar homens e mulheres que já tenham provado serem elementos de

     primeira ordem, merecedores de toda confiança. Quem posso nomear como seuassistente?

     —  Gostaria que fosse um mutante. —  Que tal Marshall? —   Bem, simpatizo com ele. Acontece que eu mesmo entendo um pouco de

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    telepatia. Preciso de um teleportador. Assim nos completaríamos mutuamente. —  Está bem. Leve Tako Kakuta. Qual é seu itinerário? —  De início terei de ir à Groenlândia. Dali vou a Nova Iorque e possivelmente a

    Washington. —   Muito bem. Desejo-lhe uma boa viagem. Quando tiver alguma mensagem

    importante, procure ater-se às horas combinadas para o tráfego radiofônico, para que não

    tenhamos de abandonar o trabalho a todo instante. Mas quando se tratar de um assuntoinadiável, estarei à sua disposição a qualquer hora.Enquanto Mercant e Kakuta se preparavam para a viagem, Rhodan classificou os

    dados resultantes de sua última palestra com o cérebro robotizado estacionado em Vênus. —   Companheiros  —   disse Perry depois de algum tempo.  —   Acho que não há

    necessidade de fazer um discurso. Todos conhecem a situação. Defrontamo-nos com uminimigo mais traiçoeiro que qualquer um com que a humanidade já se viu a braços. Nãoconhecemos sua força numérica, nem sua posição. Não sabemos onde fica o  front ; aúnica coisa que sabemos é que se estende em inúmeras ramificações, e pode passar pelonosso acampamento. Um ataque contra os DI só se justifica no espaço, onde podemos

    localizar suas naves. Ainda temos de preparar a luta em terra. Antes de golpearmos aqui,temos de conhecer a situação do  front . No momento nos defrontamos com duasnecessidades de ordem estratégica. Uma é a vigilância espacial e o reconhecimento emterra. Tenente Freyt!

     —  Sim, Rhodan! —  Nos próximos dias você terá uma missão muito difícil. É imprescindível que a

    qualquer hora do dia e da noite um comando de dois caças espaciais patrulhe o espaço atéuma altitude de quinhentos mil quilômetros. Você vai se encarregar disso juntamentecom o capitão Nyssen e o tenente Deringhouse. Só um de vocês poderá ficar de folga decada vez. Combinem entre si.

     —  Correto! —  Muito obrigado! Espero que decolem dentro de cinco minutos.Os três astronautas saíram da sala.

     —  Agora você, Dr. Haggard. Quero que se recolha em si mesmo e procure pensarsobre as possibilidades, puramente teóricas, de atingir os DI segundo sua biologia. Se asinstalações de seu laboratório não forem suficientes, avise imediatamente. O dinheiro e omaterial não serão nenhum problema.

     —   Sinto-me honrado com a sua confiança. Mas não espere muito deste tipo detrabalho, que deve ser considerado de pesquisa pura. E uma pesquisa num terrenointeiramente novo pode levar anos.

     —   Não fixei prazo, doutor. Está claro? Aliás, faço questão de que os mutantescontinuem a dispor de assistência médica. Prepare essa gente para uma próximatransferência para Vênus, onde serão submetidos a um treinamento final.

     —  Me dedicarei ao trabalho teórico, sem prejuízo das tarefas que tenho de executar.Se fizer questão de uma solução rápida, peço-lhe que faça o possível para providenciar omaterial necessário.

     —  Que material é este? —  Um Deformador Individual, ou seu cadáver, e um homem possuído. —  Verei o que posso fazer.Com isso o Dr. Haggard foi dispensado. Perry Rhodan e Reginald Bell estavam a

    sós. —  Agora chegou minha vez —  disse Bell laconicamente. —  Não seria conveniente

    reforçar os vôos de patrulhamento? —  sugeriu.

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     —  Você gostaria de acompanhar Freyt? —  Não pense que é porque isso me dá prazer. A tarefa de Freyt é a mais importante.

    Temos de impedir a todo custo qualquer novo pouso dos DI, pois sem isso oscontragolpes que teremos de preparar com um trabalho extenuante chegarão tarde. Atévocê lutará em vão contra um mundo de DI.

     —  Não subestimo a tarefa de Freyt. — 

     Mas ele terá de dar conta dela juntamente com Nyssen e Deringhouse. De você precisamos para o novo comando. —  Mercant cuidará disso. —   Ele vai conseguir apenas quinhentos homens dentro de uma semana, e ainda

    teremos de verificar se os mesmos nos servem. Depois de dois ou três testes não sobrarãomuitos. Você terá de arranjar mais uns quinhentos ou mil voluntários. Também dentro deuma semana.

     —   Como poderei fazer isso? Não disponho de uma organização montada, comoMercant, onde poderia recrutar minha gente.

     —  Você precisa de voluntários. Voluntários de todo o mundo. Só os agentes não

    nos servirão de muita coisa, mesmo que sejam superdotados. Precisamos de soldados,técnicos, cientistas, juristas. —   Suas exigências aumentam de dia para dia. Já lhe disse que não disponho de

    ligações pessoais que... —  Se quiser coloque anúncios de página inteira nos jornais mais importantes. Você

     pode arranjar isso com Adams em Nova Iorque. Ele dispõe de relações. —  Quer dizer que vou a Nova Iorque? —   Entre outros lugares. Antes irá a Chicago. Mais precisamente, à Michigan

    Avenue. —  Devo procurar Clive Cannon?

     —  Isso mesmo. Cannon está sendo vigiado pela polícia secreta federal. Se o coronelKaats seguiu as minhas recomendações, nada aconteceu ao chefe dos gângsteres.

     —  O que devo fazer quando estiver diante de Cannon? —  Você vai convidá-lo para uma temporada no deserto de Gobi. —  Acho que não vai fazer muita questão disso. —  Será que não? Como homem possuído pelos DI deve estar doido para pôr os pés

    aqui. —  Mas ficará desconfiado. Até mesmo um patife menos sagaz que ele perceberá

    logo o que significa um convite desse tipo. Acho que um golpe de violência teriamelhores possibilidades de êxito.

     —   Não lhe dito regras sobre como deve proceder. Preciso de Cannon aqui. E preciso dele vivo.

     —  Quem posso levar comigo? —  Quem gostaria de levar? —  John Marshall. —   Concedido. Arrume as malas. E avise Marshall. Ainda quero falar com vocês

    antes de partirem.

    * * *

    Perry Rhodan foi sozinho para junto do cérebro positrônico estacionado no interiorda cúpula energética. Levava consigo os dados elaborados pelo cérebro gêmeo que seencontrava em Vênus. Esses dados não haviam sido submetidos a um processamento

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    coerente. A partida precipitada de Vênus não lhe deixara tempo para ocupar-seintensamente com o problema.

    Inicialmente introduziu na máquina os cartões perfurados e positrogramas que tinhaem seu poder. Na primeira passagem formulou a pergunta em termos muito gerais. Océrebro tinha de ser conduzido ao núcleo do problema numa progressão e logicamentecoerente. Não que lhe faltasse capacidade de solucionar problemas complexos num

    tempo muito reduzido. O caso era que tudo dependia do equacionamento correto do problema por parte do homem. —  Como poderei identificar o cérebro de um homem? —  principiou Rhodan. —  Pergunte-lhe quem é. —  Neste caso não existe a possibilidade de perguntar. O cérebro que se pretende

    identificar não libera a informação. —  Cada cérebro possui uma freqüência individual, identificável através da medição

    do comprimento das ondas —  respondeu o cérebro. —  Nossa tarefa consiste em identificar certas características de determinado grupo

    de cérebros —  prosseguiu Rhodan. —  Não se trata de um indivíduo isolado.

     —  Isso não altera nada na resposta que acabo de darRhodan refletiu. Dessa forma nunca chegaria ao fim. —  O estímulo transmitido de molécula a molécula irradia um espectro mensurável.

     Nossa sonda cerebral permite a medição das freqüências. A constituição e ofuncionamento da sonda são conhecidos?

     —  São conhecidos —  respondeu prontamente o cérebro positrônico. —   Mas por essa forma só conseguimos apurar desvios em princípio. Não

    conhecemos nenhuma análise qualitativa. A mesma não pode ser realizada por meio doexame do modelo cerebral. Este fato já foi constatado. Minha pergunta é a seguinte:Quais são os dados utilizáveis, além do espectro de ondas cerebrais?

     —  Não dispomos de informações a este respeito.Mais uma vez Rhodan havia chegado a um ponto morto. O cérebro positrônico não

    fora concebido exclusivamente para o armazenamento de experiências; também possuíaáreas dedicadas ao pensamento criativo.

    Rhodan pegou um exemplar dos positrogramas e introduziu-o na máquina. —  O que resulta deste estímulo? —  Recomenda-se a utilização de telepatas. —  Neste caso não dispomos de telepatas. —  A verificação da atividade cerebral só pode ser realizada por meio do exame das

    freqüências, pois qualquer fluido tem um caráter eletromagnético. Recomenda-se o

    aperfeiçoamento do receptor. A modulação proporciona a melhor possibilidade para adeterminação do caráter individual.

     —  A modulação por meio de uma onda? —  Sim. —  Como faço para conseguir a onda? —  Ela já existe. O cérebro a ser identificado faz o papel de emissor. —   Quer dizer que todo segredo está no fato de que as sondas cerebrais dos

    arcônidas trabalham numa faixa de freqüências muito restrita. A onda portadora deve serincluída na área de ressonância.

     —  É muito provável que seja assim.

     —  Quais são as freqüências que devem ser incluídas?A resposta do cérebro positrônico foi abafada por um uivo ensurdecedor. Perry

    Rhodan endireitou o corpo. Seu espírito vivaz logo se adaptou à nova situação. Uma

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    sereia de alarma era mais importante que qualquer resposta do cérebro positrônico, pormais vital que fosse. Não se podia perder a sabedoria da máquina positrônica. Mas numalarma, cada segundo podia representar uma perda irreparável.

    Rhodan correu para o portão e olhou para fora.Os homens corriam pelas ruas arenosas ladeadas de barracos. Isso não tinha nada de

    estranhável, pois o alarma no território cercado significava que de início cada um tinha de

    deslocar-se para um ponto indicado, onde aguardaria instruções.O ponto de Rhodan ficava no escritório, que servia de quartel-general da TerceiraPotência. Só ali podia ser dado o alarma.

    Do ponto em que Rhodan se encontrava era apenas um pulo. Por isso preferiu nãousar seu rádio de bolso. Saiu correndo sem perder tempo.

     Na entrada do escritório Reginald Bell aguardava-o em traje de viagem. —  Foi você que deu o alarma? —  Entre. Ali fora, além da área bloqueada, o diabo está solto. —  São os DI? —   É o que dizem. Pelo menos é uma das coisas que dizem. Estão fazendo uma

     pequena revolução. Num caso destes é difícil conseguir uma informação precisa. —  É uma nova invasão? Será que os caças espaciais deixaram passar alguém? —  Nada disso. Se forem DI, os mesmos já estão na Terra há alguns dias. Olhe!Rhodan aproximou-se da tela.Bell modificou a regulagem. O olho energético da antena direciona foi penetrando

    no espaço e colocou-se numa perspectiva que lhe permitia abranger todo o territóriosubmetido à soberania da Terceira Potência.

     —  Onde foi que aconteceu? —  perguntou Rhodan. —   Aqui  —   respondeu Bell, trazendo para a tela um setor ampliado.  —   Bem ao

    noroeste. Perto do posto número trinta e sete.

     Não precisou dar outras explicações. A imagem dizia mais que as palavras.Verdadeiras massas humanas comprimiam-se junto à cúpula energética. Via-se

     perfeitamente que se tratava de dois grupos inimigos. —  Você disse que é uma revolução? —  É, sim. Ras pode dar maiores detalhes.Rhodan voltou-se ao africano.

     —  O que aconteceu? —   Eu estava fazendo uma inspeção de rotina. Encontrava-me no posto número

    trinta e sete, que fica na área número dois, isto é, a menos de dois quilômetros da cúpula. Naquele lugar a  Harris Corporation  está construindo dez pavilhões de montagem para

    agregados de refrigeração de plástico endurecido e outras peças padronizadas para ointerior das naves. Junto às betoneiras havia um grupo de pessoas que conversavaanimadamente. Algumas delas discutiram e passaram às vias de fato. Naturalmenteresolvi intervir, mas logo me ameaçaram de pancada. Mas nenhum dos briguentoschegou a bater em mim, pois não estavam de acordo. Alguns elementos menos agressivos

     perguntaram se era verdade que havia gente possuída no território da Terceira Potência. —  E você respondeu alguma coisa? —   Não, outros responderam no meu lugar, afirmando insistentemente que havia

     prova disso. Um dos técnicos apontou para dois homens, acusando-os abertamente deserem possuídos. Quando fizeram menção de saltar sobre ele, apontou-lhes uma arma.

    Em torno dos acusados logo se formou um grande grupo de pessoas. Todos procuraramafastar-se deles, com exceção de quatro homens que, ao que tudo indicava, pertenciam aogrupo dos seus colegas de trabalho mais chegados. Estes também foram acusados, e

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    disseram-lhes que rezassem, porque iriam morrer. Subitamente alguém me empurrou para junto dos acusados e ouvi gente gritar: “Também é um deles. Vamos liquidá-lo!” Vio fanatismo escrito nos rostos, e sabia perfeitamente que esses sujeitos que portavamarmas estariam dispostos a tudo. Ouvi um tiro atrás de mim; um dos trabalhadores caiuferido. Logo me teleportei para cá.

     —  Fez bem. Mais alguém tem alguma coisa a dizer? — 

     Ninguém — 

      disse Bell, fazendo um gesto inequívo em direção à tela. — 

     Masreceio que já tenha havido mortos. Pela imagem ótica parece que os dois grupos têmaproximadamente a mesma força. Evidentemente o partido dos acusadores está armado.Por isso tem certa superioridade que lhe permite acusar muitos dos outros de serem

     possuídos.Rhodan pegou o microfone de seu emissor particular e ligou o sistema de alto-

    falantes. —  Aqui fala Rhodan. Não foi dada nenhuma ordem para um alarma geral. Os que

    não foram convocados devem ficar de prontidão. Comando de vigilância da Good Hope, preparar para decolagem. Estou chamando o comando de terra dos astronautas. Favor

    responder. —  Aqui fala o tenente Deringhouse. —  Também se prepare para decolar. Você deixará o território bloqueado juntamente

    com a nave esférica. A contagem regressiva será iniciada no máximo dentro de cincominutos. Por motivos de segurança a cúpula só será aberta por dois segundos. É bem

     possível que toda essa revolução não passe de uma trama do inimigo, que nos quer fazersair do abrigo. Tenente, sua missão consistirá em cruzar sobre o território da TerceiraPotência, dando aviso de qualquer movimentação suspeita em terra e no ar.

     —  Sim, Rhodan.Dirigindo-se ao Dr. Manoli, Rhodan prosseguiu:

     —   Eric, você vai exercer o comando até nosso regresso. Manteremos contatoininterrupto pelo som e pela imagem. Capitão Klein, você assumirá o controle da cúpulaenergética, uma vez que já está conosco. Sempre se desempenhou muito bem desseserviço. Mas não confie na sua capacidade de reação. A contagem positrônica seráiniciada a partir do segundo menos sessenta.

     —  Entendido! —  Bell, você irá comigo. —  O.K.! Sugiro que usemos trajes arconídicos. —   Isso não é necessário. Precisamos de projetores mentais e neutralizadores

    gravitacionais.

    Reginald Bell obedeceu. Os instrumentos a que Rhodan acabara de aludir sempre seencontravam ao alcance das mãos. O mesmo acontecia com os trajes arconídicos, queRhodan e Bell só usaram para atingir sem perda de tempo a nave Good Hope, que seencontrava a mil metros de distância.

    A nave recebeu-os como uma catedral deserta. Os passos dos homens apressadosretumbavam pelos corredores e produziam eco. Thora e Crest estavam na sala decomando. Encontravam-se ali, como se fossem acessórios imprescindíveis da nave. AGood Hope era o último vestígio da pátria arconídica. Era ali que residiam os doisarcônidas, que a tudo ass