OS REVOLUCIONÁRIOS QUANDO NÃO FAZIAM A REVOLUÇÃO (1)

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    1 ?TEXTO 1n F i l i a s ten

    >> * M f i f l f e

    DIA-A-DIA

    OS/ 2 .

    REVOLUCIONRIOS,QUANDO NOFAZIAMA REVOLUOHbitos e costumes-dos c i t o y e n s na ltimadcada do sado XVIIISA \'S- cll o itesREFLEXESDE MONSIEURMENETRA

    D N IEL RO C HEOs parisienses (600 mii em 17S9) vi-

    veram a Revoiuo mais como atores quecomo espectadores. Eles tiveram de aceitarou recusar as mudanas mais profundas nosocial, e na intimidade mesma cias psicolo-gias. A sua vida se organizou nos parme-tros "de uma f on e tenso entre o com pro-misso poltico s a continuidade da vida coti-diana. Nisto os jovens foram mais hbeisque os velhos, os homens maii prontos queas mulheres, mas estas nunca permanece-ram indiferentes.Jacques-Louis Menetra, 50 anos, mestrearteso considerado at rico, homem livre

    nosst-i tumes e no espiri to, colocara por es-crito a complexidade -da vida durante a Re-voluo (cf. Journal de ma Vis. parJacques-Louis Menetra, compagnon viirierau XVIII sicle). Possive lmente o nicosns-cv.lotte a ter falado e retlecido numaforma total e livre, excluindo-se as confis-ses coagidas em _sede judiciria, ou memrias sucessivamente reescritas. Que dizMenetra? Primeiramente, fala da importn-cia da Liberdade. Para ele e para tantos ou-tros, o que interessa e a esperanai a ale-gria na vspera de uma mudana que, ini-cialmente, se espera benevolente e sem vio-lncia. Este sentimento de exaltao mobi-liza homens e mulheres nos dias revolucio-nrios. Com o passar do tempo e a acelera-o do processo revolucionrio, as novasformas de vida poltica tornam-se cada vezmais marcantes. A Revoluo se desen-volve nas assemblias de distrito ou de se-o, e confere novas responsabil idades aoscidados, sejam eles juizes de paz, assesso-res, presidentes ou guardas nacionais. Euma vida que desgasta, porque exige muitode cada um, impe a vigilncia poltica, in-

    V Revoluo Francesa, 1789-1989. So Paulo: Isto-Seihor, 1989.

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    Mi ', V

    * t)rJi& su as particularidades, sua reputao cseu grau de vivncia. No perodo crucial do, Terror, os crceres eram aproximadamente50. Entre os mais terrveis, Bictre e Force.' O primeiro, analogamente . Salptrre,famosa em. seguida, pelas-expcrincias de, Chrcot, e um misto de hospitaf* de priso.Nele so presos, segundo-uma antiga confu-|s o , libertinos, emb rulhes, ladre s, pede-v ^rastas, epilticos, loucos, velhos invlidos,V ^pobres, sifUticps, assassinos e vagabundos(aproximadamente 4.500 na vspera da Re-voluo). Entre os menos duros, Port-Libre(ex-Port-Royal) e a Maison des Ciseux.Neste , os pris ioneiros gozam de uma certaliberdade. Renem-se , can tam, jogam, po-dem ler, comentam as notcias dos jornaise fazem juntos as refeies. As mulherest rocam de roupa conforme as horas , reser-vando o traje mais elegante para o dia daexecuo . Na Force , pagando uma espciede penso, podia-se manter junto de si Fi-lhos e servos, e receber comida de fora.

    A comida tem um papei central na vidados pris ioneiros. As refeies mais fartaseram dest inadas s ocasies "excepcio-nais". Ostras e vinho branco, foi o que con-sumiu, na vspera da execuo, o duquede Orieans . Mas normalmente p rocurava-sesat isfazer gostos mais sbrios. O cidadoDoilleau escreve para a mulher da priso deS a i n t -L aza re t pede um a salada, recomen -dando que seja bem fresca, e de no esque-cer azei te, vinagre e pimenta. Mme. Rolandd 'Abbaye, para adap tar -se dureza dostempos, s implifica.o~prprio regime al imen-tar sub st i tuindo o chocolate e o caf porpo e gua . com endo carne e iegumes serr.o dessert, e substituin do o vinho pela cer-veja.Com dinheiro compra-se tudo: at osservios de relojoeircs , alfaiates , sapateiros,cabeleireiros e barbeiros, que eram tambmprisioneiros, como tambm de miniaturis-t a s , m u i t o s o l i c i t a d o s . M a n e - A n n e -Chariot te Corday, assassina de Marat ,"umavez chegada priso de Abbave ;.escreve aoServio de Segurana Geral pedindo per-misso para dormir sozinha e mandar fazerseu retrato.Mais duros eram os primeiros dias depriso. Jogados em soli trias sujas e escu-ras, na espera que vagasse um leito, os cati-vos viviam amontoados sobre colches p-tridos. Alguns ai permaneciam para sempre. So os prisioneiros la paille, sobre apalha, os paiieux. Mais afortun ados, ospris ioneiros la pistole (do nome damoeda) conseguiam obter uma cela a paga-mento, que podia ser de solteiro ou de casal.

    (Angela Groppi. jornalista e escritora, pesquisadora da Fundao Lelio Basso)

    PRosmrn^c^T Jt X\,TERS TUA CASA

    ARLETTE FRAGEEm Paris, no sculo XVIII, as prostitu-tas chegam a 25 mil Representam 13 porcento das parisienses em idade am o ro s a" .Numerosas e tambm muito visveis: emParis , naquela poca, vive-se normalmen-te na rua, e as moradias superlotadas, semservios, n o permitem qualquer int imidade.Tudo acontece luz do sol: as festas, oscastigos, os desfiles reais, o trabalho e tam-bm a violncia. A prostituio faz parte dapaisagem. Naturalmente, as mulheres que a

    praticam so muito diferentes uma das ou-tras . A "moa para soldados", dos bairrospopulares , nada tem a ver com as grandescortess proprietrias de manses e carrua-gens douradas e tampouco com as pensio-nistas de pequenas casas, dominadas pelaspera autoridade das proprietrias , que pa-gam pela proteo da polcia.A represso existe, sobretudo, comoform a de controle dos hbitos citadinos -como servio de informao, digamos as-sim. Os inspetores de polcia so encarrega-dos de infiltrar-se nos ambientes do vciopara conhecer melhor aqueles que por acirculam, mesmo que se trate de grandes prn-cipes ou bispos ou magistrados. A opiniopblica comove-se com essa excessiva se-veridade; os parisienses sentem ternura epiedade para com suas filies de joie, aquelasda misria e da calada e sentem tambmmuita averso por estes homens da polciamuitas vezes corruptos e injustos. E eis1789. Cmo muitas outras questes, a

    Virile e cinco milprostitutasrepresentaram 13%da populaofeminina de Parisno p.m de 1700.,- prostituio foiassunto de muitosdebates, alimentadospela uiopia de"muitas iihas deamor e deigualdcde"

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    A Cf In conta ahistria deunia parquiaa 70 quilmetrosde Paris,submetida:? ordens ecnnfra-ordensrir. das do OGda Revoluo

    fuso dos projetos que vo e vero,, nascemsobre esse tema inmeras utopias. Cogita-se de casas de prazer, onde cada um goza-ria segundo as suas possibilidades financei-ras. A igualdade valeria apenaspara oquanto se relaciona com higiene e a preven-o das doenas venreas, Sobre o assunto,o escritor Restrif de la Bretonne forja incr-veis teorias, enquanto o grande arquitetoClaude - Nioolas Lcdoux esboa projetosfantsticos dessas doces moradias.A prostituio liberada: recusa-se qual-quer idia de fechamento ou de seqestro..Nesta atmosfera de pseudolibertaodesenvolve-se um tipo singular de publici-dade da prostituio. Publicam-se longaslistas de jovens com end ereos e tarifas. As-sim deveriam ser garantidas a liberdade eigualdade. Trata-se de um a verdadeira re-voluo? O sculo XIX continuar a ver asociedade burguesa girar em vuita das cor-tess, das casas fechadas, dos grisettes, en-quanto a "jovem da calada"; com os olhosarregalados pela fome, esperar o clientenas proximidades das fbricas.(Arlette Frege, do Centre National de LaReckerchs Scientifique de Paris, escreveucom o filsofo Michel Foucault o livro Lasordre de ta Famile, em 1982)

    A IGREJADECLINAO PRESTGIODO CURAPHIUPPE BO UTRY

    Em Galiardun (>.200 habitantes, a 18quilmetros de Chames e 70 quilmetrosde Paris), a Revoluo se anuncia, em 13 dejulho de 1789, cum uma chuva de pedra:"Em trs minutos, perdeu-se tudo, trigo, vi-nhedos, f rutos." Em outros tempos, nessaterrvel tempestade poderia enxergar-seuma manifestao da clera divina. Naque-les anos. a misria muda de significado: aspessoas indignam-se pelo peso dos impos-tos e denunciam os privilgios fiscais do se-nhor , o duque dc Montmorency Lavai, edos eclesisticos. O conjunto da populao(pequenos proprietrios, viticultores, arte-sos, comerciantes, homens de lei) recebe aRevoluo par isiense como a revanche daJustia e do Direito.No outono de 1789, o cura-pr ior Casse-grain deve renunciar s mil libras de gros

    fruto das dzimas. Agora re-cebe seu salrio do Estado, que nacionalizaos bens da Igreja: 150 hectares de terra per-tencente ao cura, fbrica e s confraterni-dades da parquia, ao Hotel Dieu, aoCapi-.tio e ao Grande Seminrio de Chantres^No di 14 d julho de 1790, primeiro ani-versrio da Tomada da Bastilha, aFesta daFederao celebrada era Gallardon comu m a missa solene: o novo prefeito eleito(um tabelio) abeno a a invisvel mo queopera com tanta harmonia e tranqilidadetodas as mudanas que impressionam anossa imaginao e nossos olhos .M as ; ta invisvel mo" no garante pormuito tempo a unio entre a Igreja e a Re-voluo. Na regio de Paris quase no seencontra clero fiel a Roma: no dia 18 de ja-neiro de 1791, o cura Cassegrain e seusdois vigr ios, "depois de um discurso pa-tr itico e pastoral", prestam juramento 54Nao, Lei e ao Rei". Eles juram nt>v-mente em 30 de novembro de 1792, na Pro-clamao da Repblica, "ser Fiis Naoe sustentar a Liberdade e a Igualdade oumorrer".Mas a Repblica tem ainda necessidadede Deus? Em setembro de 1793 . a bandeiratr icolor desfraldada no campanrio. Emoutubro, sinos, cibrios, vasos sacros par-

    Cuidado com o Terceiro Estado

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    tem para serem fu ndido s em Ch am es, amunicipal idade sans-culottes denun cia "al-guns minist ros que sempre, ama rraram acorrente da escravido dos povos ao tronoe tiara'". A 10 de dezembro o povo con-vidado a reunir-se em frente da igreja paraqueimar 05 titulos feudais. Depois, no inte-rior da igreja, constitui-se em sociedade popular, mas a maioria da assemblia, princi-palmente as mulheres, protesta querendopelo menos "conservar a missa" e os Jaco-binos do burgo so vaiados e ameaados.Nu dia 5 de janeiro de 1794, o abade Cas-segrain reza uma ltima missa em ao deg r a a s pe l a s v i t r i a s da N a o : aMarselhesa ecoa so b os arcos da igreja g-tica. Dois dias mais tarde, por ordem daadminis t rao de Chartres . o cura apris io-nado como t:suspeito", a igreja transfor-mada em Templo da Razo, posteriormentedo Ser Supremo.As festas cvicas substituem o sacrifcioda Euca ristia. A igreja de Gallard on per-manecer fechada por 18 meses. Ser de-volvida ao culto catlico em junho de 1795.graas a presses populares : o abade Cas-segrain, libertado, jura novamente "submis-so e obedincia s leis da Repblica" parapoder celebrar missa. A Concordata de1801 restabelecer, aqui como em toda aFrana, a autoridade do cura. Uma rupturarelevante, todavia, aconteceu: no sculoX IX , em G allardo n, a grande- maioria doshomens j no comunga .(Philippe Bouiry, historiador, leciona naEcole Franaise de Roma)

    A IMPRENSAA LIBERDADEJ ERAUM SONHORO G ER C H RTIER

    A Declara o d os Direitos do -Homem edo Cidado, decretada pela Assemblia Na-cional em agosto de 1789, reta no artigoXI: "A l ivre comunicao dos pensamentose das opinies um dos direitos mais pre-ciosos do homem; cada cidado pode porisso falar, escrever, imprimir livremente,salvo para responder pelos abusos dessa li-berdade nos casos determinados pela lei."Ao afirmar como direito natural, sagrado einalienvel, a liberdade de imprensa, a de-clarao sanciona de fato uma liberdade jconquistada. J a partir de maio- de 1789.os novo s jornais tinh am-se multiplicado,ignorando as regras da censura real. No de-correr de 1789, nascem assim mais de 130peridicos e at setembro de1791essa ten-dncia no apresenta sinais de arrefeci-mento. Pelo contrrio, em menos de doisanos surgem aproximadamente 600 t tulos .

    Essa exploso acomp anha a si tuao pol -tica. Em 1791, os jornais mais lidos tinhamassumido uma posio bem definida. es-querda encont ramos L'Ami du Peuple, deM a r a t ; Les Rvolutions de France et de

    Err: i 789 surgirammais de /3jnmaife- \o esnacnde dois anos.viraram 600 Aimprensa a vozda rebelio. Masser tambma prova dafragilidade daidia da liberdade

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    m * . . Brabnt, de Camille Desn\ilins;~.Per :.e cfc^dia uma grande procura de leituraDuchne, de Hbert; CirclSocial, mais quej esconde atr s de uma sede de infor-tarde,ouche de Fr, de j&ots Bonnevle. m ao s;e do interesse pela coi sa pblica.Patriotas, mas moderados, so Patriote N a grande cidade, a leitura do jornal no Franaise, de Brissot, e os jornais publica- apenas um gesto isoldo esolitrio; nela sedo s plo Clube jcips ^ e r de s juntaniasm ult ides das praas-edas pon- j ^ ir ^ e b ^ ^ ^ d a ^ ^ ^ i ^ i i e d t es , d os j ar dins e d as r uas. A imp re nsa d e-ParSyde D u Rzoi, so francam ente realis- sempnha um papei central na constituiotas. de uma nova cultura poltica, polmica eA imprensa revolucionria enfrenta sua criativa, que v o conflito de opinies con-primeira contradi o: dev e assumir uma trastantes. N o caus a surpresa o fato def u n o poltica indita, enquanto as condi- qU e a carreirajorna lstica parecesse desej-es de produo e de venda so aquelas Vel e necessria- Aos jornalistas que escre-que j existiam antes da nova s i tuao. Ne- viam antes de 1789 (Mallet du Pan, Suard,nhuma inovao tecnolgica corresponde Rivarole Du Rozoi) , junta-se uma mult idode fato ao extraordinrio florescer detantos de recm-che gados: depu tados como Mira-jornas , impressos com prensasque no po- beau, padres const i tucionais c omo Fau-dem tirar mais de 300 cpias por hora e em che t, advogados com o Desmoulins eescrito -pequenas t ipografias . De outro lado, a di- r e s c q ^ Lou i s -Sebast i en Merc ier encon-vulgaao e a venda so ainda aquelas do t ram na imprensa um a t r ibuna - sem con-Ancien Regime* baseadas no envio de prs- t a r cs escri torzinhos frust rados, que encon-. pectos , na apresentao de cartaze s que di- t r a m a desforra,fundem as novas publ icaes , na venda pe- Sem recor rer jam ais censura prvia, osIas ruas da cidade e, acim a de tudo , nas as- poderes re volucion rios recorre ro varia-sina tura s. Os assinan tes recebe m o jorn al das vezes a inspees, proibies, detenes,pelo correio ou por empres as de entrega par a am orda ar os jorn ais rebeldes. Jorna issubordinadas ao prprio jornal . Desse e jornalistas realistas, e posteriormente Gi-Ws conversas dos r T K , d ; 5 ActeS deS AP tres C O n t a ' e m rondinos, sero vtimas do Ter ror. Em se-'jardins teatros 1 7 9 0 c o m 4 " 5 0 0 a s s i n a n t e s e L'Ami du guida, em 1797, o Diretrio estabelece uma6>cafs, forma-se Peuple. com quatro mil em janeir o de 1791. srie de medidas restrit ivas que subm etem aa conscincia Pode -se cheg ar mais longe o Feuille impren sa poltica a um controle rigorosorevolucionria. Na VHlageoise, destinado ao mund o rural, em por parte dos rg o s estatais. O que indicagravura, o Caf dos 1 7 9 0 possui 15 mil assinantes. Les Annaes 0 quanto era frgi l a l iberdade proclamadaPatriotas. A Patriotiques , um peridico girondino, tem to solenemente em 1789.terceira personagem 12 mil na prim ave ra de, 1793 e L'0rateura partir da du Peuple, an tjacobm o ^. antiterrorista, na (Roger Chartier, historiador, professor da

    esquerdar de preto. pri m av era de 1795 ,.rerix>5;mil. Ecole de Hautes tudes en Sciences Socia- o abade Sieys O sucesso do.s^ rid^ ft revolucionrios les de Paris)i->v>i BARES E CAFSO PAPONO FOIINTIL

    M SSIM O TERNINos ltimos anos d^ Ancieti Rgi/m. Pa -ris j era a grande metrpole europia. Nosjardins, nos cafs, nos teatros e nos salestrocavam-se opinies e as idias tomavamforma. Desta intensa, ruidosa e muitas ve-zes desordenada sociablidade, que rompiaas usuais barreiras de casta, o centro focai ea realidade mais importante eram constitu-dos pelo Palais Royal e pelos seus cafs.Com toda certeza o duque de Orleans,no cogitava de dar uma contribuio todireta para a Revoluo, quando, aproxi-madamente seis anos antes , t inha mandado

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    * . construir as raarqmse$vquedim do Palais Royal, alugaiio pVwpuaosdisponveis: No entanto, ma cdnaat;aYeloperao comercial, financiada por um^ pr nc ipe , t inha transformado o Palais-Royal^num fayiRiantc parque de diverses, cheio: de qfes e lojas. ra lugar apin had ode pari-sienses e forasteiros hospedados nas ime-diaes, que cruzavam seus passos e olha-res com um autntico harm de prostitutas,detodosos preos e qualidade,estacionadasnas clebres Galeres do Bois, pitoresca-. mente descritas por Balzac e m IlusesPerdidas.Quando , depo is ,na p r imavera c no verode 1789 , os Es tado s Gera is so convoca-dos em Versalhesj e na capital a tempera-tura pol t ica sobe rapidamente, o PalaisRoyaJ acusa essa mudana , mesmo man-tendo as suas caracters t icas estruturais , degrande osis de transgresso e de prazer,territrio livre no qual a policia no temacesso e a cultura e a bisbi lhotice mundanaconvivem mi s t ur ando-se com com pra evenda das feiras e o ostensivo (rottoir dsmeret r izes . Tudo acon tece numa a tmos-fera alegre e ambgua ao mesmo tempo, e oPalais toma-se, quase naturalmente, opr inc ipal fo ro ja Revo luo , a agora da so-berania popular. E aqui que a 13 de julhode 1789, dia anterior Tomada da Bast i lha,Camille Desmoulins, sal tando sobre a mesade um caf, pis tolas nas mos, exclama:"Basta com as del iberaes, somos ns osmais numerosos . Seremos tambm os maisf o n e s . "

    Foi assim que cada caf, no Palais Royale em toda a cidade, se t ransformou numaespcie de clube revolucionrio. Do PalaisRoyal temos que lembrar o caf de Foy,que como escrevem os Goncour t na suaHistoire de la Socit Franaise Pendant laRvoluiion ;1m relao ao Palais Royal ,aquilo que o Palais Royal em relao aParis : uma pequena capital de agitao".Mas vale tambm o movimento do Caveau,do caf Zoppi, do caf Godet , do caf desArts , do caf Marchand, e tantos outrosdeslocados na cidade. So centros de dis-cusso e de choques, onde convergem asnoticias do dia e os relatrios dos debatesna Assemblia Nacional . Mais cedo oumajs ta rde , as p ropos tas se t rans fo rmamem iniciat ivas concretas , que sempre alcan-am a Cons t i tu in te .De todo modo, o fenmeno pol t ico doscafs no teria sido to explosivo sem a in-tensa e violenta at ividade jornals t ica que aRevoluo propicia. Ela elege o seu centronos caf s de Paris , ne stes locais de difuso ede lei tura pblica e colet iva. Os numerososjo rnais , en t re os quais Les Rvolutions deParis de Lous ta lo t , o Courier de VersaiUes

    de Gorsas , o Patriote pranais de Brissot eo Publiciste Paris ien de Marat (qpe se tor-nar pos ter io rmente L'Ami du Peuple),eram difundidos por uma turma barulhentade jornaleiros. P ar a vender, eles acentua mas cores dos titulo s sen sacio nalist as. umaverdadeira, a prpria, democracia diretade praa que se configura atravs da vidados cafs . Uma democracia viva e muitasvezes levada a uma tenso paroxistica pelosart igos incehdirios dos jornalis tas;(Massimo Terni, historiador, leciona naFaculdade de .Cincias Polticas da U niver-s idade de Milo) ' "

    Lus XVI, o reique prezavac o m id faria e

    v i n h o fone.c ric t u r d o comorevolucionriofreqentadorde um caf

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    S-REFERES

    Po e vinho, eramestes os alimentosmais popularesnos anos da Revoluo.Mas tambm naalimentaovigoravam rigorosasescolhas "de classe".Vejamos o que comeuRobespierre quandofoi convidado porMadame Julien

    A MQDAGUILLTINVERONIQUE NAHOUM-GRAPPEEm Paris , du rante a . po ca revolucio-nria , o consumo mdio por dia de po de460 grafias por pessoa. Po const i tui oprincipal d a refeio fora da. capi tal e en treos mais pobres . Paris , pelo contrrio, umfoco de. inovaes al imentares . Esto emmo da a massa e o a r roz ,b em como o ca f-com-lei te , ou o cafezinho, que de manh jsubst i tuiu o copo de vinho ou a sopa. Largouso tambm de ch, para curar ressacas e ,acima de tudo, para imitar os ingleses. Es-

    to em moda tambm chocolate , sorvete etabaco.Apesar dos novos hbi tos , uma cenamentalidade diettica tende a persistir:aquela pela qual se prefere o cozido ao cru,o quente-seco ao mido-fr io. Para ser bemdigeridas , frutas e verduras devem ser cozi-das no vinho, seno tornam-se perigosas:defender a pra crua ou o melo, faz partedas audcias intelectuais . Quando Jean-Jacques Rousseau diz que lhe agrada umarefeio s imples e rs t ica, com pos ta de p o,lat icnios e frutas , efet ivamente mais "re-volucionrio" do que quanto o possam con-siderar os leitores do sculo XX.A frugal idade e a austeridade republi-cana no parecem efet ivamente ter subver-t ido s costumes al inienfares dos paris ien-ses . E claro que almoos base de os tras cc ha m pa nhe , c om uns desde a poca da Re-

    O camponfs no vive sem a sopagncia, so menos freqentes durante operodo revolucionrio. Pratos muito mar-cados peo " luxo e despot ismo" tendem adesaparecer.De-qualquer forma, necessrio comer.Eis um exemplo de refeio-revolucionrianuma rtisserie paris iense no ano de1791:14 centavos , mais dois centavos parao po, pagam duas t igelas de sopa comverniceile, uma poro abundante de ca r -neiro e "belo pi o " . E m fev ereiro de 1793,uma famlia burg uesa con vida Robespierrepara almoar. Naquele dia , na agenda dedespesas de Mme. Julien, pode-se ler: leite ecreme, 14 centavos; dois pes , 24 centavos;verdura,seis centavos; saiada, 3ez centavos;pimenta, c inco centavos; quei jo, um cen-tavo;-, sidra-, 18 c ent av os; um a galinh a deoito libras, de z c ent avo s.Por um breve perodo, em juiho de 1794

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    ' - so obrigatrias as ceias fraternais ; cadaseco dc Paris, por rodzio, oferecia umarefeio coletiva em plena rua-Gompreens-vcl a perplexidade da pobre Mme. Rataud:Se preparo um prato de feijo, os sans-.culottes ojogam nam inha cara, se cozinho,perdizes com cdV, os Jacobinos diro que um prato aristocrtico. Por fim, ela pre-parar os dois.A Revoluo alterar de forma quaseque definitiva os horrios das refeies.Nas cidades do sculo XVIII era possive)comer e beber cm cada esquina e a qual-quer momento do dia: havia uma espcie defasi food permanente. Depois os.horriosda Assemblia Nacional (que comeava s13h) imprimem um novo mod elo. O caie damanh j no basta mais. Os deputadostm tim o apetite, atrasam a primeira refei-o e a reforam com carne assada. No fim,tomam seu cafezinho. Assim nasceu o al-moo francs.(Veronique iV ahoum-G rappe professorada Ecole des Hautes tudes en SciencesSociales de Paris)

    O QUEIJOCIDADOCAMEMBERT,UM NOBREPIERSE BOiSARD

    O Carnembert um smbolo da Frana.Como a bandeira tr icolor e como ajVfarseihesa um produto da Revoluo.Primeiro queijo da idade moderna, o Ca-memben nasceu entre 1791 e 1793. As cir-cunstncias exatas de seu nascimento per-manecem, porm, incer tas e deram vida auma sr ie de var iaes interpretativas. Ve-j a m os .A ao se desenvolve em 1791, no cas-telo de Beaumortcel, em Carnembert, pe-queno municpio dc Pays-de-Auge, na Nor-mandia. L Mane Fontaine conhecera seufuturo marido, Jacques Harei . EnquantoJacques t r aba lhava na lavoura , Mane pro-duzia queijos. Ao mesmo tempo, os arren-datr ios de Beaumoncel t inham dado ref-gio a um padre foragido de Brie. Depois dovoto a favor da constituio civil do clero,em julho de 1790, muitos padres recusamjuramento Repblica e fogem. So caa-dos pelos habitantes da cidade, mas oscamponeses no hesitam em ajud-los.Agora, vendo Marie Harel fazer queijo

    segundo as receitas de Pays-d-uge, o pa-dre refugiado sugere o prqoodimento deBrie. Teria sido assim que, fabricando Brienum molde de Uvrx^Mafe Harel, se-guindo o conselho de um j l ^ e qu fugia da rRevoluo teria inveqto^ ^membert?Sua filha Marie e seu gct ioT hom as Paynelcomercializaram o quero, que tev e m uitosucesso.Em 1863, o neto de Mrie Harel, VictorPaynel, ofereceu um Carnembert ao impe-rador Napoleo III, na estao de Surdon,no Orne, na linha Paris-Granviile, h poucoinaugurada, O imperador apreciou muito oqueijo. Pediu que, em certa quantidade,fosse remetido regularmente para a residn-cia real, onde Victor teve depois a honra deser convidado. Graas consagrao impe-rial, o Carnembert conquistou o mercadoparisiense, e dai c mundo.Deve-se, no entanto, a um cidado ame-ricano, Joseph Knirim, a redescobrta deMarie Harel. Esse mdico de Nova Yorkestava convencido de ter curado as doenasde seu estmago com o uso assduo de Ca-rnembert normando e de cerveja de Pilsen,regime qe recomendava a seus pacientes.Seu entusiasmo era tal que atravessou oAtlntico para render homenagem a MarieHarel. Chegando a 15 de maro de 1926 cidadezinha de Vimoutiers, foi at a farm-cia e pediu ao estupefato farmacutico queo acompanhasse at o monumento em ho-menagem a Marie Harel . O farmacutico,como a maioria dos moradores do lugar,disso tudo no sabi a co3""alguma.Assim os moradores de Vimoutiers sou-beram da existncia e dc papel de MarieHarel. O monumento, que no existia, foierguido. A esttua, que representa MarieHarel em trajes tpicos normandos, foi inau-gurada a 11 de abril de 1928 pelo senadordo O r ne , A le xa nd r e M i l l e r a nd , e x -presidente da Repblica. Mas essa consa-grao levantou polmicas, principalmentepor parte dos fabricantes dos outros quei-jos. Pretendia-se que Marie Harel uma fi-gura de fico e que Carnembert j existiamuito tempo antes de 1791. Minuciosas epacientes pesquisas realizadas por morado-res da regio confirmaram, ao menos, aexistncia de Marie Harel.Qualquer que venha a ser a verdade his-trica, nasceu um mito moderno que, napoca da Revoluo, coloca em cena umamulher e um padre, criando juntos umqueijo consagrado 70 anos depois por umimperador. E um concentrado de histriafrancesa: cada ciasse social cumpre seu pa-pel e colabora para enriquecer o patrimniogastronmico da Frana.(Pierre Boisardtrabalha no Centre d'tudesde l'Emploit em Paris)

    Um dos mais notveisqueijos do mundonasceu por voltade 1792. Teria sidoinventado poruma normanda.conforme a receitade um padreanti-revolucionrio

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    A MODA .4-- -

    Nglig patriota, deshabil democrtica,toupets revolucionria, emlugar de gigantescasperucas. O vesturiomudou muito,inciusive para cscidados

    UGASE BANHOSDE LEITEDARIA G ALATERIA

    No dia 3 de fevereiro dc 1789 chegou aParis cercado pela fama de heri da Revolu-o americana e pai da Constituio, gou-verneur Morris, e foi prontamente convi-dado para o ch dos sales, cm homenagem n ascente anglo mania. D uran te suas ma-nobras para tornar-se ministro plenipoten-cirio em Paris gouverneur Morr is teve ra-zes para maravilhar-se muito. Os parisien-ses co locavam no ch , em lugar do leite,uma espcie de queijo de gosto, alis, deli-cioso. Em compensao, as senhoras, aoreceb-lo de manh , faziem-se encontrarimersas na banheira, mas tinham c cuidadode misturar na gua quente uma dose con-veniente de leite, para tornar mais picanteovisual, coroa interveno de um-pouco d efantasia. "Sois virtuoso, senhor Morris?p e r g u n t av am cu r i o s a s ; e iniciavam atoette a partir da liga inglesa.A nova moda substitua as anquinhas, asgrandes caudas e os babados para um ris-vel projeto de cauda, o pierrot- Como ex-trema concesso ao passado, um pequenoenchim ento lembrava an tigas e retricasopuindas- A saia descia fluida, pronta aacompanhar, segundo as leis da natureza,os movimentos do andar. As gigantescas

    aj/iias^qajs se escondiam vaantospara m anterrescasas flores- p r v ^ B o arran^.iTduzirm-se drastica-;- menfe' a Importncia da cabeaicavaen-trqjiie, agora (breves ondulaes das..plu-unas etUs fk>res artifidais, e ao alto chfpujockey ,preto,que tambm nos homens es-tava substituindo o t rie or r . p eepente assedas, suntuosas do Ancien Regime, cor-derosa, violeta, verde-ma, ama relo -canrio,cederam diante do tricolor nacional, quepassou a governar as combinaes dastin-tas e a dominar os listrados.Os mais atingidos pela moda inglesa fo-ram, porm, os homens. A cor burguesa, opreto, cancelou a colorida silouette dos aris-tocratas. O arco-ris de impalpveis sedas,suntuosos bordados, rendas suaves no pes-coo e nos pulsos, longos gilets e osculottes de cores contrastantes, as meiasimaculadas do habit brod comeavam aparecer. A espada insgnia da aristocracia,fora banida a tempo. O baro de Frnillyenvergonhava-se ao recordar que tinha sidoenviado, quando criana, prestar homena-gem a um decrpito Voltaire, de roupaverde-ma, um tricrnio e espadim. Agoragastava seus sapatinhos e seus trajes deseda nas cavalgadas matinais, enquanto noite se apresentava em jantares com suanova redingote de tecido negro, o giletacinturado, calas compridas e justas, en-fiadas em.botas de cano alto, mas de bordavirada em pele mais clara.Gouverneur Morris, logo imitado pelo ge-neral-La Fayette, no usava mais a peruca, com cinco .ordens de cachos, obrigatriapara a noite, e nem aquela co m trs semicir-clos de cachinhos, um tempo permitida spara o dia. Morris exibia um simples toupet

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    com uma cnica ondulao sobre as ore -lhas, e levemente desarrumada, como se ovento da histr ia e as preocupaes daideologia tivessem alguma relao oom a e-legncia.Durante a lgumas es taes , a s mulheresdesf ilaram de nglig a la patriote, ou dedeshabill a la dmocratique , fazendo ba-lanar br incos de vidro "consti tucionais 1 1 emeda lhes confecc ionados com f ragmentosde pedras da Basti lha. As f ivelas dos sapatos e os botes de prata foram doados na-o e substi tudos por cadarcs de seda ebotes de ao, sobre os quais comeam aaparec er , desde 1791, os pr imeiros perf is debarretes frgios. Mas s no ano seguinteaparece ram as "ca rmanholas 1 7 .

    Eram calas largas e sem forma, longasat os tornozelos. Combinavam com paletcurto e escuro, de tecido rstico, LIH alegregilet de cor ideolgica (vermelho), ou de lis-tras de tendncia patritica, e um leno nopescoo. Ps nus, enf iados em tamancos.Assim se vestia o r iqussimo senhor Chazet,o mais fe io e arrumado ladro de Paris,para salvar sua delic iosa amante, a baro-nesa de Mackau, detida na Force nos diasdos massacres por ocasio das pr ises. Imi-tando os tons roucos dos vendedores dasHalles, defendeu a causa da baronesadiante de improvisado, a troz tr ibunal - quefoi indulgente . Eram anos em que qualquerar istocrata que quisesse fazer-se passar pjrsans-culotte teria de subm eter-se a um ritualdesagradvel: lavar os cabelos.Na Assembl ia , os deputados t r a javamas, redingotes l istradas em cores sbrias,mas Robespierre a travessou a Revoluocom uma te imosa graa Ancien Regime,sempre de peruca. J aqueles que t inhamalgo para esconder , prefer iam usar chapupor cima dos cabelos soltos. Depois dostempos for tes do Ter ror , os incroyablesexibiram uma ati tude perenemente per-

    plexa: oratr ia tempestuosa dos revolu-cionrios opuseram um calculado balbucio;no pronu nciava m o erre , e acentuav am gra-ciosos movimentos da l ngua entre-dentes.Para os trajes, inspiravam-se nurria magnifi-cncia insolente, sem cuidar de diferenciar-se dos novos ricos: golas imensas, muito de-coradas; coletes cur tos e de muitas cores;redingotes e calas justas, cheias de b otes^sapatinhos chatos, com pontas, muito leves.Na mo levavam, como se fosse uma leve'bengala de passeio, um reforado porretepara de fender - se dos Jacobinos . Asmheieus, contrar iando a vir tude republi-cana, molhavam os vestidos de musselinapara torn-los transparentes, e se inspira-ram no bom selvagem de Rousseau para oscorpetes cor de pele que ressaltavam o seio.Chegavam a soltar os cabelos, mas s de-pois de torn-los crespos t volumosos,mantendo-os por uma hora sobre uma pa-nela em ebulio.

    / I R e p b li c a e s-tava "em guerra contra a Inglaterra, mas hmuito cempo a Frana, encantada por de-mocrticas instituies alm-mar, tinha-seempenhado alacremente em perder a bata-lha da moda. Novamente cobertos de p-Ge-arroz, perfumados pelas pastilhas demusgo, os novo s elegantes se admiravam detudo. Olhavam a um centmetro de distn-cia com enormes culos, cujas lentes desfo-cavam todas as coisas e exclamavam:"C'est incroyable" ( inacreditvel). Co m asimulao da miopia tentavam inutilmenteapagar as truculentas vises do Terror. Euma s coisa podia de verdade torn-los in-crdulos: o passado.(Daria Gala teria professora na Universi-dade La Sapienza de Roma.)