Os Dons Do Espírito Santo (Papa Francisco)

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Os dons do Espírito Santo, segundo o Papa Francisco PAPA FRANCISCO AUDIÊNCIA GERAL Praça de São Pedro - Quarta-feira, 9 de Abril de 2014 O dom da Sabedoria Hoje damos início a um ciclo de catequeses sobre os dons do Espírito Santo. Vós sabeis que o Espírito Santo constitui a alma, a linfa vital da Igreja e de cada cristão: é o Amor de Deus que faz do nosso coração a sua morada e entra em comunhão com cada um de nós. O Espírito Santo está sempre connosco, em nós, no nosso coração. O próprio Espírito é «o dom de Deus» por excelência (cf. Jo 4, 10), um presente de Deus e, por sua vez, transmite vários dons a quantos o acolhem. A Igreja identifica sete, número que simbolicamente significa plenitude, totalidade; são aqueles que aprendemos quando nos preparamos para receber o sacramento da Confirmação e que invocamos na antiga prece da chamada «Sequência ao Espírito Santo». Os dons do Espírito Santo são os seguintes: sabedoria, entendimento, conselho, fortaleza, ciência, piedade e temor de Deus. Portanto o primeiro dom do Espírito Santo, de acordo com este elenco, é a sabedoria. Mas não se trata simplesmente da sabedoria humana, que é fruto do conhecimento e da experiência. Na Bíblia narra-se que, no momento da sua coroação como rei de Israel, Salomão tinha pedido o dom da sapiência (cf. 1 Rs 3, 9). E a sapiência consiste precisamente nisto: é a graça de poder ver tudo com os olhos de Deus. É simplesmente isto: ver o mundo, as situações, as conjunturas e os problemas, tudo, com os olhos de Deus. Nisto consiste a sabedoria. Às vezes nós vemos a realidade segundo o nosso prazer, ou em conformidade com a situação do nosso coração, com amor ou com ódio, com inveja... Não, este não é o olhar de

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Os dons do Esprito Santo, segundo o Papa Francisco

Os dons do Esprito Santo, segundo o Papa Francisco

PAPA FRANCISCOAUDINCIA GERALPraa de So Pedro - Quarta-feira, 9 de Abril de 2014O dom da SabedoriaHoje damos incio a um ciclo de catequeses sobre osdons do Esprito Santo. Vs sabeis que o Esprito Santo constitui a alma, a linfa vital da Igreja e de cada cristo: o Amor de Deus que faz do nosso corao a sua morada e entra em comunho com cada um de ns. O Esprito Santo est sempre connosco, em ns, no nosso corao.

O prprio Esprito o dom de Deus por excelncia (cf.Jo4, 10), um presente de Deus e, por sua vez, transmite vrios dons a quantos o acolhem. A Igreja identificasete, nmero que simbolicamente significaplenitude, totalidade; so aqueles que aprendemos quando nos preparamos para receber o sacramento da Confirmao e que invocamos na antiga prece da chamada Sequncia ao Esprito Santo. Os dons do Esprito Santo so os seguintes:sabedoria, entendimento, conselho, fortaleza, cincia, piedadeetemor de Deus.

Portanto o primeiro dom do Esprito Santo, de acordo com este elenco, asabedoria. Mas no se trata simplesmente da sabedoria humana, que fruto do conhecimento e da experincia. Na Bblia narra-se que, no momento da sua coroao como rei de Israel, Salomo tinha pedido o dom da sapincia (cf.1 Rs3, 9). E a sapincia consiste precisamente nisto: a graa de poderver tudo com os olhos de Deus. simplesmente isto: ver o mundo, as situaes, as conjunturas e os problemas, tudo, com os olhos de Deus. Nisto consiste a sabedoria. s vezes ns vemos a realidade segundo o nosso prazer, ou em conformidade com a situao do nosso corao, com amor ou com dio, com inveja... No, este no o olhar de Deus. A sabedoria aquilo que o Esprito Santo realiza em ns, a fim de vermos todas as realidades com os olhos de Deus. Este o dom da sabedoria.

E obviamente ele deriva daintimidade com Deus, da relao ntima que temos com Deus, da nossa relao de filhos com o Pai. E quando mantemos esta relao, o Esprito Santo concede-nos o dom da sabedoria. Quando estamos em comunho com o Senhor, como se o Esprito Santo transfigurasse o nosso corao, levando-o a sentir toda a sua veemncia e predileo.

Assim, o Esprito Santo torna o cristo sbio. Mas isto no no sentido que ele tem uma resposta para cada coisa, que sabe tudo, mas no sentido quesabe de Deus, sabe como Deus age, distingue quando algo de Deus e quando no o ; tem aquela sabedoria que Deus infunde nos nossos coraes. O corao do homem sbio, neste sentido, temo gostoeo sabor de Deus. E como importante que nas nossas comunidades haja cristos assim! Neles tudo fala de Deus, tornando-se um sinal bonito e vivo da Sua presena e do Seu amor. algo que no podemos improvisar, que no conseguimos alcanar sozinhos: um dom que Deus concede queles que se tornam dceis ao Esprito Santo. O Esprito Santo est dentro de ns, no nosso corao; podemos ouvi-lo, podemos escut-lo. Se prestarmos ouvidos ao Esprito, Ele ensinar-nos- o caminho da sabedoria, incutir-nos- a sabedoria, que consiste em ver com os olhos de Deus, ouvir com os ouvidos de Deus, amar com o Corao de Deus, julgar com o juzo de Deus. Esta a sabedoria que nos confere o Esprito Santo, e todos ns podemos t-la. S devemos pedi-la ao Esprito Santo.

Pensai numa me, em casa com os seus filhos; quando um deles faz algo, o segundo pensa noutra travessura e a pobre me vai de um lado para o outro, com os problemas das crianas. E quando as mes se cansam e repreendem os filhos, qual a sabedoria? Ralhar com os filhos pergunto-vos sabedoria? O que dizeis: sabedoria ou no? No! Ao contrrio, quando a me pega no seu filho e o repreende docilmente, dizendo-lhe: No faas isto, por este motivo..., explicando-lhe com muita pacincia, isto sabedoria de Deus? Sim! quanto nos d o Esprito Santo na vida! Alm disso, por exemplo no matrimnio, os dois cnjuges o esposo e a esposa brigam e depois no se olham no rosto, ou quando se olham fazem-no de cara torta: isto sabedoria de Deus? No! Ao contrrio, quando dizem: Bem, passou a tempestade, faamos as pazes, e retomam o caminho em frente, em paz: isto sabedoria? [o povo: sim!]. Eis no que consiste o dom da sabedoria! Que haja em casa, com as crianas e com todos ns!

E isto no se aprende: trata-se de um dom do Esprito Santo.

Prece: Por isso, devemos pedir ao Senhor que nos conceda o Esprito Santo e nos confira a ddiva dasabedoria, daquelasapincia de Deusque nos ensina a ver com os olhos de Deus, a sentir com o Corao de Deus e a falar com as palavras de Deus. E assim, com esta sabedoria, vamos em frente, construamos a famlia, edifiquemos a Igreja santificando-nos a todos. Hoje peamos a graa da sabedoria. E peamo-la a Nossa Senhora, que a Sede da sabedoria, deste dom: que Ela nos conceda esta graa!PAPA FRANCISCOAUDINCIA GERALPraa de So Pedro - Quarta-feira, 30 de Abril de 2014O dom do Entendimento [Inteligncia]

Depois de ter meditado sobre a sabedoria, como primeiro dos sete dons do Esprito Santo, gostaria hoje de chamar a ateno para o segundo dom, ou seja, oentendimento. Aqui, no se trata da inteligncia humana, da capacidade intelectual de que podemos ser mais ou menos dotados. Ao contrrio, uma graa que s o Esprito Santo pode infundir e que suscita no cristo a capacidade de ir alm do aspeto externo da realidade eperscrutar as profundidades do pensamento de Deus e do seu desgnio de salvao.

Dirigindo-se comunidade de Corinto, o apstolo Paulo descreve bem os efeitos deste dom ou seja, como age em ns o dom do entendimento e Paulo diz o seguinte: Coisas que os olhos no viram, nem os ouvidos ouviram, nem o corao humano imaginou, tais so os bens que Deus preparou para aqueles que o amam. Todavia, Deus no-los revelou pelo seu Esprito (1 Cor2, 9-10).

Obviamente, isto no significa que o cristo pode compreender tudo e ter um conhecimento completo dos desgnios de Deus: tudo isto permanece espera de se manifestar em toda a sua limpidez, quando nos encontrarmos na presena de Deus e formos verdadeiramente um s com Ele. No entanto, como sugere a prpria palavra, a inteligncia permite intus legere, ou seja, ler dentro: esta ddiva faz-nos compreender a realidade como o prprio Deus a entende, isto , com a inteligncia de Deus. Porque podemos compreender uma situao com a inteligncia humana, com prudncia, e isto um bem. Contudo, compreender uma situao em profundidade, como Deus a entende, o efeito deste dom. E Jesus quis enviar-nos o Esprito Santo para que tambm ns tenhamos este dom, para que todos ns consigamos entender a realidade como Deus a compreende, com a inteligncia de Deus. Trata-se de um bonito presente que o Senhor concedeu a todos ns. o dom com que o Esprito Santo nos introduz na intimidade com Deus, tornando-nos partcipes do desgnio de amor que Ele tem em relao a ns.

Ento, claro que o dom do entendimento estintimamente ligado f. Quandoo Esprito Santohabita o nosso corao e ilumina a nossa mente, faz-nos crescer dia aps dia nacompreenso daquilo que o Senhor disse e levou a cabo. O prprio Jesus disse aos seus discpulos: enviar-vos-ei o Esprito Santo e Ele far-vos- entender tudo o que vos ensinei. Compreender os ensinamentos de Jesus, entender a sua Palavra, compreender o Evangelho, entender a Palavra de Deus. Podemos ler o Evangelho e entender algo, mas se lermos o Evangelho com este dom do Esprito Santo conseguiremos compreender a profundidade das palavras de Deus. Este um grande dom, uma ddiva enorme que todos ns devemos pedir, e pedir juntos: concedei-nos, Senhor, o dom do entendimento!

H um episdio do Evangelho de Lucas que explica muito bem a profundidade e a fora deste dom. Depois de ter assistido morte na Cruz e sepultura de Jesus, dois dos seus discpulos, desiludidos e amargurados, deixam Jerusalm e voltam para o seu povoado chamado Emas. Enquanto caminham, Jesus ressuscitado aproxima-se deles e comea a falar-lhes mas os seus olhos, velados pela tristeza e at pelo desespero, no so capazes de o reconhecer. Jesus caminha ao seu lado, mas eles sentem-se to tristes, to desesperados, que no o reconhecem. Contudo, quando o Senhor lhes explica as Escrituras para que compreendam que Ele devia ter sofrido e morrido para depois ressuscitar,as suas mentes abriram-se e nos seus coraes voltou a acender-sea esperana (cf.Lc24, 13-27). E isto que nos faz o Esprito Santo: abre-nos a mente, abre-nos para nos fazer entender melhor, para nos levar a compreender melhor as disposies de Deus, as realidades humanas, as situaes, tudo. O dom do entendimento importante para a nossa vida crist.

Prece: Peamos ao Senhor que nos conceda a todos este dom, a fim de nos fazer compreender, como Ele mesmo entende, as situaes que acontecem e para que compreendamos, sobretudo, a Palavra de Deus no Evangelho!PAPA FRANCISCOAUDINCIA GERALPraa de So Pedro - Quarta-feira, 7 de Maio de 2014O dom do ConselhoOuvimos na leitura o trecho do livro dos Salmos que diz: Bendito o Senhor que me aconselha; durante a noite a minha conscincia me adverte (Sl16, 7).

Este outro dom do Esprito Santo: o dom do conselho. Sabemos como importante nos momentos mais delicados, poder contar com sugestes de pessoas sbias e que nos amam. Atravs do conselho o prprio Deus, com o seu Esprito, que ilumina o nosso corao, fazendo com que compreendamos o modo justo de falar e de nos comportarmos, e o caminho que devemos seguir. Mas como age este dom em ns?

No momento em que o recebemos e o hospedamos no nosso corao, o Esprito Santo comea imediatamente a tornar-nos sensveis sua voz e a orientar os nossos pensamentos, sentimentos e intenes segundo o corao de Deus. Ao mesmo tempo, leva-nos cada vez mais a dirigir o olhar interior para Jesus, como modelo do nosso modo de agir e de nos relacionar com Deus Pai e com os irmos. Portanto, o conselho o dom com o qual o Esprito Santo torna a nossa conscincia capaz de fazer uma escolha concreta em comunho com Deus, segundo a lgica de Jesus e do seu Evangelho. Desta maneira, o Esprito faz-nos crescer interior e positivamente, faz-nos crescer na comunidade e ajuda-nos a no cair na armadilha do egosmo e do prprio modo de ver as coisas. O Esprito ajuda-nos a crescer e a viver em comunidade. A condio essencial para conservar este dom a orao. Voltamos sempre ao mesmo tema: a orao! Mas o tipo de orao no to importante. Podemos rezar com as preces que todos sabemos desde crianas, mas tambm com as nossas palavras. Pedir ao Senhor: Senhor, ajudai-me, aconselhai-me, o que devo fazer agora?. E com a orao damos espao para que o Esprito venha e nos ajude naquele momento, nos aconselhe sobre o que devemos fazer. A orao! Nunca esquecer a orao. Nunca! Ningum nota quando rezamos no autocarro, pelas ruas: rezamos em silncio com o corao. Aproveitemos estes momentos para rezar a fim de que o Esprito nos conceda o dom do conselho.

Na intimidade com Deus e na escuta da sua Palavra, comeamos gradualmente a abandonar a nossa lgica pessoal, ditada muitas vezes pelos nossos fechamentos, preconceitos e ambies, e aprendemos a perguntar ao Senhor: qual o teu desejo? Qual a tua vontade? O que te agrada? Deste modo, amadurece em ns uma sintonia profunda, quase conatural no Esprito e podemos experimentar como so verdadeiras as palavras de Jesus apresentadas no Evangelho de Mateus: No vos preocupeis com o que haveis de falar nem com o que haveis de dizer; ser-vos- inspirado o que tiverdes de dizer. No sereis vs a falar, o Esprito do vosso Pai que falar por vs (10, 19-20). o Esprito que vos aconselha, mas devemos dar espao ao Esprito, para que possa aconselhar. E dar espao rezar para que Ele venha e nos ajude sempre.

Como todos os outros dons do Esprito tambm o conselho constitui um tesouro para toda a comunidade crist. O Senhor no nos fala s na intimidade do corao, fala-nos sim mas no s ali, fala-nos tambm atravs da voz e do testemunho dos irmos. deveras um dom importante poder encontrar homens e mulheres de f que, sobretudo nos momentos mais complicados e importantes da nossa vida, nos ajudam a iluminar o nosso corao e a reconhecer a vontade do Senhor!

Recordo-me que uma vez no santurio de Lujn, estava no confessionrio, diante do qual havia uma fila longa. Tinha tambm um jovem muito moderno, com brincos, tatuagens, todas estas coisas... Veio para me dizer o que lhe acontecia. Era um problema grave, difcil. E disse-me: contei tudo minha me e ela disse-me: conta isto a Nossa Senhora e Ela dir-te- o que deves fazer. Eis uma mulher que tinha o dom do conselho. No sabia como resolver o problema do filho, mas indicou a estrada justa: vai ter com Nossa Senhora e Ela dir. Este o dom do conselho. Aquela mulher humilde, simples, deu ao filho o conselho mais verdadeiro. De facto, o jovem disse-me: olhei para Nossa Senhora e sinto que devo fazer isto, isto e isto... Nem precisei de falar, j tinham falado tudo a sua me e o prprio jovem. Este o dom do conselho. Vs mes tendes este dom, pedi-o para os vossos filhos, o dom de aconselhar os filhos um dom de Deus.

Queridos amigos, o Salmo 16, que acabmos de ouvir, convida-nos a rezar com estas palavras: Bendito o Senhor que me aconselha; durante a noite a minha conscincia me adverte. Tenho sempre o Senhor diante dos meus olhos, est minha direita e jamais vacilarei (vv. 7-8).

Prece: Que o Esprito possa infundir sempre no nosso corao esta certeza e encher-nos da sua consolao e paz! Pedi sempre o dom do conselho.

PAPA FRANCISCOAUDINCIA GERALPraa de So Pedro - Quarta-feira, 14 de Maio de 2014O dom da fortalezaNas passadas catequeses refletimos sobre os primeiros dons do Esprito Santo: a sabedoria, o intelecto e o conselho. Hoje pensemos naquilo que o Senhor faz: Ele vem sempre para nos apoiar nas nossas debilidades e f-lo com um dom especial: o dom dafortaleza.

1. Existe umaparbola, narrada por Jesus, que nos ajuda a compreender a importncia deste dom. Umsemeadorfoi semear; porm, nem toda a semente que lanava dava fruto. A parte que caiu beira do caminho foi comida pelas aves; a que caiu em terreno pedregoso ou no meio da sara brotou, mas foi imediatamente secada pelo sol ou sufocada pelos espinhos. S a que cai em boa terra germinou e deu fruto (cf.Mc4, 3-9;Mt13, 3-9;Lc8, 4-8). Como o prprio Jesus explica aos discpulos, este semeador representa o Pai, que lana abundantemente a semente da sua Palavra. A semente, contudo, depara-se com a aridez do nosso corao e, mesmo quando acolhida, corre o risco de permanecer estril. Ao contrrio, com o dom da fortaleza, o Esprito Santoliberta o terreno do nosso corao, liberta-o do torpor, das incertezas e de todos os temores que podem det-lo, de modo que a Palavra do Senhor seja posta em prtica, de forma autntica e jubilosa. Este dom da fortaleza uma verdadeira ajuda, d-nos fora, liberta-nos tambm de tantos impedimentos.

2. H inclusive algunsmomentos difceisesituaes extremasem que o dom da fortaleza se manifesta de forma extraordinria, exemplar. o caso daqueles que devem enfrentar experincias particularmente difceis e dolorosas, que transtornam a sua vida e a dos seus entes queridos. A Igreja resplandece com o testemunho de muitosirmos e irms que no hesitaram em oferecer a prpria vida, para permanecer fiis ao Senhor e ao Evangelho.

Tambm hoje no faltam cristos que em vrias partes do mundo continuam a celebrar e a testemunhar a sua f, com profunda convico e serenidade, e resistem mesmo quando sabem que isso pode implicar um preo mais alto. Tambm ns, todos ns, conhecemos pessoas que viveram situaes difceis, muitas dores. Mas, pensemos naqueles homens, naquelas mulheres, que enfrentam um vida difcil, lutam para sustentar a famlia, educar os filhos: fazem tudo isto porque h o esprito de fortaleza que os ajuda.

Quantos homens e mulheres ns no conhecemos os seus nomes honram o nosso povo, honram a nossa Igreja, porque so fortes: fortes ao levar em frente a prpria vida, a prpria famlia, o seu trabalho, a sua f. Estes nossos irmos e irms so santos, santos no dia-a-dia, santos escondidos no meio de ns: tm precisamente o dom da fortaleza para cumprir o seu dever de pessoas, pais, mes, irmos, irms, cidados. Temos muitos! Agradecemos ao Senhor por estes cristos que tm uma santidade escondida: o Esprito Santo que tm dentro que os leva em frente! E far-nos- bem pensar nestas pessoas: se eles tm tudo isto, se eles o podem fazer, por que ns no? E far-nos- bem tambm pedir ao Senhor que nos d o dom da fortaleza.

No devemos pensar que o dom da fortaleza seja necessrio s em determinadas ocasies e situaes particulares. Este dom deve constituir o fundamento do nosso ser cristos, naordinariedade da nossa vida quotidiana. Como disse, em todos os dias da vida quotidiana devemos ser fortes, precisamos desta fortaleza, para fazer avanar a nossa vida, a nossa famlia, a nossa f. O apstolo Paulo pronunciou uma frase que nos far bem ouvir: Tudo posso naquele que me fortalece (Fl4, 13). Quando enfrentamos a vida comum, quando chegam as dificuldades, recordemos isto: Tudo posso naquele que me fortalece. O Senhor d a fora, sempre, no a faz faltar. O Senhor no nos d prova maior da que pudemos suportar. Ele est sempre connosco. Tudo posso naquele que me fortalece.

Prece: Queridos amigos, por vezes, podemos ser tentados a deixar-nos levar pela inrcia ou pior pelo desconforto, sobretudo diante das dificuldades e das provaes da vida. Nestes casos, no desanimemos, invoquemos o Esprito Santo, para que com o dom da fortaleza possa aliviar o nosso corao e comunicar nova fora e entusiasmo nossa vida e nossa sequela de Jesus.PAPA FRANCISCOAUDINCIA GERALPraa de So Pedro - Quarta-feira, 21 de Maio de 2014O dom da Cincia [Conhecimento]Hoje, gostaria de elucidar mais um dom do Esprito Santo, a ddiva dacincia. Quando se fala de cincia, o pensamento dirige-se imediatamente para a capacidade que o homem tem de conhecer cada vez melhor a realidade que o circunda e de descobrir as leis que regulam a natureza e o universo. Contudo, a cincia que deriva do Esprito Santo no se limita ao conhecimento humano: trata-se de um dom especial, que nos leva a entender, atravs da criao, a grandeza e o amor de Deus e a sua profunda relao com cada criatura.

Quando so iluminados pelo Esprito, os nossos olhos abrem-se contemplao de Deus, na beleza da natureza e na grandiosidade do cosmos, levando-nos adescobrir como tudo nos fala dEle e do seu amor. Tudo isto suscita em ns um grandioso enlevo e um profundo sentido de gratido! a sensao que sentimos tambm quando admiramos uma obra de arte, ou qualquer maravilha que seja fruto do engenho e da criatividade do homem: diante de tudo isto, o Esprito leva-nos a louvar o Senhor do profundo do nosso corao e a reconhecer, em tudo aquilo que temos e somos, um dom inestimvel de Deus e um sinal do seu amor infinito por ns.

No primeiro captulo do Gnesis, precisamente no incio da Bblia inteira, pe-se em evidncia que Deus se compraz com a sua criao, sublinhando reiteradamente a beleza e a bondade de tudo. No final de cada dia est escrito: Deus viu que isso era bom (1, 12.18.21.25): se Deus v que a criao boa, bela, tambm ns devemos assumir esta atitude e ver que a criao boa e bela. Eis o dom da cincia, que nos faz ver esta beleza; portanto, louvemos a Deus, dando-lhe graas por nos ter concedido tanta beleza! E quando Deus terminou de criar o homem, no disse viu que isso era bom, mas disse que era muito bom (v. 31). Aos olhos de Deus, ns somos a realidade mais bela, maior, mais boa da criao: at os anjos esto abaixo de ns, ns somos mais do que os anjos, como ouvimos no livro dos Salmos. O Senhor ama-nos! Devemos dar-lhe graas por isto. O dom da cincia pe-nos em profundasintonia com o Criador,levando-nos a participar na limpidez do seu olhar e do seu juzo. E nesta perspetiva que ns conseguimos encontrar no homem e na mulher o pice da criao, como cumprimento de um desgnio de amor que est gravado em cada um de ns e que nos faz reconhecer como irmos e irms.

Tudo isto motivo de serenidade e de paz, e faz do cristo uma testemunha jubilosa de Deus, no sulco de so Francisco de Assis e de muitos santos que souberam louvar e cantar o seu amor atravs da contemplao da criao.

Mas ao mesmo tempo, o dom da cincia ajuda-nos a no cair nalgumas atitudes excessivas ou erradas. A primeira constituda pelo risco de nos considerarmos senhores da criao. A criao no uma propriedade, que podemos manipular a nosso bel-prazer; nem muito menos uma propriedade que pertence s a alguns, a poucos: a criao um dom, uma ddiva maravilhosa que Deus nos concedeu, para a cuidarmos e utilizarmos em benefcio de todos, sempre com grande respeito e gratido. A segunda atitude errada representada pela tentao de nos limitarmos s criaturas, como se elas pudessem oferecer a resposta a todas as nossas expectativas. Com o dom da cincia, o Esprito ajuda-nos a no cair neste erro.

Mas gostaria de voltar a meditar sobre o primeiro caminho errado: manipular a criao, em vez de a preservar. Devemos conservar a criao, porque uma ddiva que o Senhor nos concedeu, um dom que Deus nos ofereceu; ns somos guardas da criao. Quando exploramos a criao, destrumos o sinal do amor de Deus. Destruir a criao significa dizer ao Senhor: No me agrada. E isto no bom: eis o pecado!

A preservao da criao precisamente a conservao do dom de Deus; e significa dizer a Deus: Obrigado, eu sou o guardio da criao, mas para a fazer prosperar, e no para destruir a tua ddiva!. Esta deve ser a nossa atitude em relao criao: preserv-la, pois se aniquilarmos a criao, ser ela que nos destruir! No esqueais isto! Certa vez eu estava no campo e ouvi o dito de uma pessoa simples, que gostava muitos de flores e que as preservava. Ela disse-me: Devemos conservar estas belezas que Deus nos concedeu; a criao para ns, a fim de beneficiarmos dela; no a devemos explorar, mas conservar, porqueDeus perdoa sempre; ns, homens, perdoamos algumas vezes, mas a criao nunca perdoa, e se tu no a preservares, ela destruir-te-!.Prece: Isto nos leve a pensar e a pedir ao Esprito Santo a ddiva da cincia, para compreender bem que a criao o dom mais bonito de Deus. Ele fez muitas coisas boas para a melhor coisa, que a pessoa humana.PAPA FRANCISCO

AUDINCIA GERALPraa de So Pedro - Quarta-feira, 4 de Junho de 2014

O dom da Piedade

Hoje desejamos meditar sobre um dom do Esprito Santo que muitas vezes mal entendido ou considerado de modo superficial mas, ao contrrio, refere-se ao cerne da nossa identidade e da nossa vida crist: trata-se do dom dapiedade.

necessrio esclarecer imediatamente que este dom no se identifica com a compaixo por algum, a piedade pelo prximo, mas indica a nossa pertena a Deus e o nosso vnculo profundo com Ele, um elo que d sentido a toda a nossa vida e que nos mantm firmes, em comunho com Ele, at nos momentos mais difceis e atormentados.

Este vnculo com o Senhor no deve ser entendido como um dever ou imposio. uma ligao que vem de dentro. Trata-se de uma relao vivida com o corao: a nossa amizade com Deus que nos foi concedida por Jesus, uma amizade que transforma a nossa vida e nos enche de entusiasmo e alegria. Por isso, o dom da piedade suscita em ns, antes de tudo, a gratido e o louvor. Com efeito, este o motivo e osentido mais autntico do nosso culto e da nossa adorao. Quando o Esprito Santo nos faz sentir a presena do Senhor e todo o seu amor por ns, aquece o nosso corao e leva-nos quase naturalmente orao e celebrao. Portanto, piedade sinnimo de esprito religioso genuno, de confiana filial em Deus e da capacidade de lhe rezar com amor e simplicidade, que prpria das pessoas humildades de corao.

Se o dom da piedade nos faz crescer na relao e na comunho com Deus, levando-nos a viver como seus filhos, ao mesmo tempo ajuda-nos aderramar este amor tambm sobre os outros e a reconhec-los como irmos. Ento, sim, seremos impelidos por sentimentos de piedade no de pietismo! pelos que esto ao nosso lado e por quantos encontramos todos os dias. Por que razo digo no de pietismo? Porque alguns pensam que ter piedade significa fechar os olhos, fazer cara de santinho, disfarar-se de santo. Em piemonts ns dizemos: ser mugna quacia (fingido). No esta a ddiva da piedade. O dom da piedade significa ser verdadeiramente capaz de se alegrar com quantos esto alegres, de chorar com quem chora, de estar prximo daquele que est sozinho ou angustiado, de corrigir quantos erram, de consolar quem est aflito, de acolher e socorrer aquele que est em necessidade. H uma relao muito estreita entre o dom da piedade e mansido. A ddiva da piedade, que recebemos do Esprito Santo, torna-nos mansos, tranquilos, pacientes e em paz com Deus, pondo-nos ao servio do prximo com mansido.

Caros amigos, na Carta aos Romanos o apstolo Paulo afirma: Todos os que so conduzidos pelo Esprito de Deus so filhos de Deus. Porquanto, no recebestes um esprito de escravido para viverdes ainda no temor, mas recebestes o esprito de adoo pelo qual clamamos: Aba! Pai! (Rm8, 14-15).

Prece:

Peamos ao Senhor que a ddiva do seu Esprito possa vencer o nosso temor, as nossas incertezas e at o nosso esprito irrequieto, impaciente, e possa tornar-nos testemunhas jubilosas de Deus e do seu amor, adorando o Senhor na verdade e tambm no servio ao prximo com mansido e com o sorriso que o Esprito Santo sempre nos proporciona na alegria. Que o Esprito Santo nos conceda a todos este dom da piedade.

PAPA FRANCISCO

AUDINCIA GERALPraa de So Pedro- Quarta-feira, 11 de Junho de 2014

O dom do temor de Deus

O dom dotemor de Deus, do qual hoje falamos, conclui a srie dos sete dons do Esprito Santo. No significa ter medo de Deus: sabemos que Deus Pai e nos ama, quer a nossa salvao e nos perdoa sempre; por isso, no h motivo para ter medo dele! Ao contrrio, o temor de Deus o dom do Esprito que nos recorda como somos pequenos diante de Deus e do seu amor, e que o nosso bem est no nosso abandono com humildade, respeito e confiana nas suas mos. Este o temor de Deus: o abandono bondade do nosso Pai, que nos ama imensamente.

Quando o Esprito Santo faz a sua morada no nosso corao, infunde-nos consolao e paz, levando-nos a sentir-nos como somos, isto pequeninos, com aquela atitude to recomendada por Jesus no Evangelho de quem pe todas as suas preocupaes e expectativas em Deus, sentindo-se abraado e sustentado pelo seu calor e pela sua salvaguarda, precisamente como uma criana com o seu pai! isto que faz o Esprito Santo nos nossos coraes: leva-nos a sentir-nos como crianas no colo do nosso pai. Ento, neste sentido compreendemos bem que o temor de Deus assume em ns a forma da docilidade, do reconhecimento e do louvor, enchendo de esperana o nosso corao. Com efeito, muitas vezes no conseguimos entender o desgnio de Deus e damo-nos conta de que no somos capazes de assegurar sozinhos a nossa felicidade e a vida eterna. Mas precisamente na experincia dos nossos limites e da nossa pobreza que o Esprito nos conforta e nos leva a sentir que a nica coisa importante deixar-nos conduzir por Jesus para os braos do seu Pai.

Eis por que motivo temos tanta necessidade deste dom do Esprito Santo. O temor de Deus faz-nos ter conscincia de que tudo graa e que a nossa verdadeira fora consiste unicamente em seguir o Senhor Jesus e em deixar que o Pai possa derramar sobre ns a sua bondade e misericrdia. Abramos o corao, para receber a bondade e a misericrdia de Deus. isto que faz o Esprito Santo mediante o dom do temor de Deus: abre os coraes. Mantenhamos o corao aberto para deixar entrar o perdo, a misericrdia, a bondade e os afagos do Pai, porque ns somos filhos infinitamente amados.

Quando estamos cheios do temor de Deus, ento somos levados a seguir o Senhor com humildade, docilidade e obedincia. Mas isto no com atitude resignada e passiva, at lamentosa, mas com a admirao e a alegria de um filho que se reconhece servido e amado pelo Pai. Portanto, o temor de Deus no faz de ns cristos tmidos e remissivos, mas gera em ns coragem e fora! uma ddiva que faz de ns cristos convictos e entusiastas, que no permanecem submetidos ao Senhor por medo, mas porque se sentem comovidos e conquistados pelo seu amor! Ser conquistado pelo amor de Deus! Isto bom! Deixemo-nos conquistar por este amor de pai, que nos ama muito, que nos ama com todo o seu corao.

Mas estejamos atentos, pois a ddiva de Deus, o dom do temor de Deus constitui tambm um alarme diante da obstinao do pecado. Quando uma pessoa vive no mal, quando blasfema contra Deus, quando explora o prximo, quando tiraniza contra ele, quando vive s para o dinheiro, a vaidade, o poder ou o orgulho, ento o santo temor de Deus alerta-nos: ateno! Com todo este poder, com todo este dinheiro, com todo o teu orgulho, com toda a tua vaidade no sers feliz! Ningum consegue levar consigo para o alm o dinheiro, o poder, a vaidade ou o orgulho. Nada! S podemos levar o amor que Deus Pai nos concede, as carcias de Deus, aceites e recebidas por ns com amor. E podemos levar aquilo que fizermos pelo prximo. Estejamos atentos a no pr a esperana no dinheiro, no orgulho, no poder e na vaidade, pois tudo isto no nos pode prometer nada de bom! Por exemplo, penso nas pessoas que tm responsabilidades sobre os outros e se deixam corromper; pensais que uma pessoa corrupta ser feliz no alm? No, todo o fruto do seu suborno corrompeu o seu corao e ser difcil alcanar o Senhor. Penso em quantos vivem do trfico de pessoas e do trabalho escravo; pensais que quantos traficam pessoas, que exploram o prximo com o trabalho escravo tm o amor de Deus no seu corao? No, no tm temor de Deus e no so felizes. No o so! Penso naqueles que fabricam armas para fomentar as guerras; mas que profisso esta! Estou convicto de que se agora eu vos dirigir a pergunta: quantos de vs sois fabricantes de armas? Nenhum, ningum! Estes fabricantes de armas no vm para ouvir a Palavra de Deus! Eles fabricam a morte, so mercantes de morte, fazem da morte mercadoria. Que o temor de Deus os leve a compreender que um dia tudo acaba e que devero prestar contas a Deus.

Caros amigos, o Salmo 34 leva-nos a rezar assim: Quando um pobre invoca o Senhor, Ele atende-o e liberta-o de todas as suas angstias. O anjo do Senhor assenta os seus arraiais em redor dos que O temem e os salva (vv. 7-8).

Prece: Peamos ao Senhor a graa de unir a nossa voz dos pobres, para acolher o dom do temor de Deus e poder reconhecer-nos, juntamente com eles, revestidos de misericrdia e de amor a Deus, que o nosso Pai, o nosso pai. Assim seja!