OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · ... visto que tais teorias buscam formar um...
Transcript of OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · ... visto que tais teorias buscam formar um...
Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Produções Didático-Pedagógicas
Ficha para identificação da Produção Didático-pedagógica – Turma 2013
Título: DA LEITURA DE FÁBULAS À LEITURA DE MUNDO
Autor: NEUSA SCHMIDT DE OLIVEIRA
Disciplina/Área: LÍNGUA PORTUGUESA
Escola de Implementação do
Projeto e sua localização:
COLÉGIO ESTADUAL GENERAL CARNEIRO -
E.F.M.P
Município da escola: RONCADOR
Núcleo Regional de
Educação:
CAMPO MOURÃO
Professor Orientador: PROF.ª MESTRE WILMA DOS SANTOS COQUEIRO
Instituição de Ensino
Superior:
UNESPAR/FECILCAM
Relação Interdisciplinar: ARTES
Resumo:
A produção dessa sequência didática propõe um
trabalho com a finalidade de contribuirmos com
aspectos relacionados à leitura de fábula, ou seja, de
criar condições para que a prática de leitura se
concretize na escola. Além disso, estaremos
contemplando os demais eixos norteadores de Língua
Portuguesa: produção escrita, linguagem oral e reflexão
sobre a língua e a linguagem. Esse trabalho terá como
base os aportes teóricos do método recepcional,
elaborado pelas professoras Maria da Glória Bordini e
Vera Teixeira Aguiar, com base nos estudos de Jauss, e
apresenta como objetivos a ruptura e a transformação
dos horizontes de expectativas dos educandos.
Palavras-chave:
LEITURA, FÁBULAS, ESTÉTICA DA RECEPÇÃO,
FORMAÇÃO DO LEITOR, REFLEXÃO.
Formato do Material
Didático:
CADERNO DIDÁTICO
Público: ALUNOS DO 6º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL
APRESENTAÇÃO
Neste Caderno Didático, propomos um trabalho com fábulas para o 6º ano do
Ensino Fundamental, baseado na metodologia elaborada pelas professoras Maria da
Glória Bordini e Vera Teixeira Aguiar, com base nos aportes teóricos da Estética da
Recepção, de 1994, e em consonância com as Diretrizes Curriculares do Estado do
Paraná. Nessa perspectiva, temos como objetivo propiciar uma maior autonomia ao
aluno em relação à leitura literária, tornando-o capaz de traçar seus próprios caminhos
em relação à leitura e enriquecer sua visão da realidade, tendo assim um olhar crítico das
condições e possibilidades humanas.
Nessa perspectiva, propomos o trabalho com gênero fábula, pois esse é capaz de
despertar o imaginário de nossos alunos do sexto ano e, em consequência, o gosto pela
leitura espontânea, capaz de conduzi – los a uma viagem por caminhos antes não
desvendados, ir do real ao imaginário, pois, por meio das fábulas, é possível participar
do mundo de conflitos e de soluções vividos pelos personagens. No entanto, é necessário
estarmos atentos para os valores ideológicos presentes nas fábulas, sejam elas clássicas
ou contemporâneas, pois inúmeras vezes trazem modelos em que o ―certo‖ deve
prevalecer, enquanto o ―errado‖ é excluído. Outro aspecto que deve ser observado é em
relação à moral, discutindo se essa corresponde aos valores dos dias atuais. Acreditamos
que, dessa forma, o trabalho estará contribuindo, de forma significativa, tanto em relação
à leitura, quanto à escrita e oralidade.
Portanto, o trabalho com esse gênero é relevante, e ainda mais por fundamentar-
se no método recepcional de ensino, que tem como princípio a participação do aluno em
contato com diversos textos, partindo sempre de seus horizonte de expectativas em
relação às leituras propostas, determinadas pelas vivências anteriores e provocando
depois o questionamento dos horizontes de expectativas e, em contrapartida, à ruptura
desses horizontes, tornando assim as aulas interessantes e inovadoras, Busca-se, assim,
superar o abismo existente entre leitor e obra literária.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO............................................................................................ 04
2. OBJETIVOS.................................................................................................. 05
3. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS..................................................................... 05
4. ESTRATÉGIAS DE AÇÕES........................................................................ 08
5. CONTEXTO HISTÓRICO, ORIGEM E CRIAÇÃO DO GÊNERO
FÁBULA.............................................................................................................
09
6. IDENTITIFICANDOO GÊNERO FÁBULA............................................... 12
6.1- TEXTO 1 - A RAPOSA E A CEGONHA................................................. 13
6.2 - TEXTO 2 - O LEÃO E O RATO.............................................................. 15
6.3 - TEXTO 3 - A LEBRE E A TARTARUGA............................................... 17
7. DA LEITURA DE FÁBULAS PARA COMPREENSÃO E
INTERPRETAÇÃO.............................................................................................
20
7.1 - TEXTO 1 - A ASSEMBLÉIA DOS RATOS............................................. 20
7.2 - TEXTO 2 - O REFORMADOR DO MUNDO..........................................
7.3- DIÁLOGOS POSSÍVEIS ENTRE FÁBULA, PINTURA E POESIA......
7.4 - PRODUÇÃO TEXTUAL............................................................................
24
26
27
8. TRABALHANDO DIFERENTES VERSÕES DE FÁBULAS................... 27
8.1 - TEXTO 1 - A CIGARRA E A FORMIGA...............................................
8.2 TEXTO 2 - SEM BARRA............................................................................
8.3 TEXTO 3 - A CIGARRA E A FORMIGA (A FORMIGA BOA)............
8.4 - DIÁLOGOS ENTRE O APÓLOGO E A FÁBULA..............................
28
30
30
33
9. RECONTANDO FÁBULAS....................................................................... 36
9.1 – TEXTO 1– O LOBO E O CORDEIRO.................................................. 36
9.2 – TEXTOS 2 - A RAPOSA E AS UVAS.................................................... 39
10. PRODUÇÃO E REESTRUTURAÇÃO DE FÁBULAS........................... 40
11. RODA DE CONTAÇÃO DAS FÁBULAS PRODUZIDAS.................... 41
12. CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................... 51
13. REFERÊNCIAS.......................................................................................... 52
1. INTRODUÇÃO
Ao produzirmos este Caderno Didático, oportunizaremos, aos professores de
Língua Portuguesa do sexto ano, a reflexão referente sua prática pedagógica em relação
à prática da leitura nas escolas. Esse material também poderá ser utilizado nas aulas, que
é a proposta do projeto de Intervenção na Escola. Assim sendo, este Caderno tem como
ponto principal o trabalho com o gênero ―fábula‖, por meio do qual trabalharemos os
três eixos norteadores de Língua Portuguesa: a leitura, escrita e a oralidade.
Portanto, este trabalho é fundamental, pois nas Diretrizes Curriculares propõe-se
que o ensino de literatura seja realizado a partir da Estética da Recepção e da Teoria do
Efeito, visto que tais teorias buscam formar um leitor capaz de sentir e de expressar o
que sentiu, com condições de reconhecer, nas aulas de literatura, um envolvimento de
subjetividade que se dão pela tríade obra/autor/leitor, por meio de uma interação que está
presente na prática da leitura.
Além da leitura de fábulas, os alunos terão conhecimento do contexto histórico,
origem e criação do gênero, também serão capazes de identificar a sua estrutura. O
trabalho de compreensão e interpretação será relevante e acontecerá por meio da ruptura
dos horizontes de expectativas. Outro ponto primordial é a diálogo do gênero fábula com
outros gêneros como: poesia, obras de artes e apólogo.
Dessa maneira, o trabalho com leitura torna-se algo prazeroso e interessante.
Então, a produção escrita e a oralidade faz conexão com a leitura a todo o momento,
principalmente no trabalho com diferentes versões das fábulas. Desse modo, eles
poderão criar a sua versão também e, para completar, produzirão a sua fábula que será
apresentada para os demais alunos.
2. OBJETIVO GERAL
Promover a leitura de fábulas, por meio do processo de recepção e da ruptura dos
horizontes de expectativas, contribuindo, assim, no ensino aprendizagem e na formação
dos leitores.
2.1 - OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Partindo, dos fundamentos teóricos encontrados nas Diretrizes Curriculares da
Educação Básica da Secretaria de Educação do Paraná, que apresenta a Estética da
Recepção como metodologia de Ensino de Literatura, este trabalho propõe:
Compreender a estrutura do gênero textual fábula;
Promover, após a leitura de diversos livros, uma reflexão acerca das fábulas lidas;
Oportunizar uma roda de contação de histórias, das fábulas produzidas pelos alunos;
Incentivar a produção de ideias a partir da reescrita das histórias e a mudança da
moral, após análise da mesma;
Direcionar os alunos a conhecer diferentes versões de uma mesma fábula;
Favorecer o desenvolvimento criativo dos alunos através de diferentes expressões
tais como: desenhos e dramatizações.
3. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
A maneira como lemos hoje, quando o fazemos sozinhos, manifesta uma relação
contínua com o passado a despeito da leitura. Isso, sem dúvida, é algo individual e único
que permite ao leitor esse contato, ou seja, a relação entre o leitor com a leitura, que a
partir do desenvolvimento desse hábito perceberá a influência da mesma em sua vida.
De acordo com Freire, a leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra. ―O
ato de ler se veio dando na minha experiência existencial. Primeiro, a ―leitura‖ do
mundo, do pequeno mundo que movia depois a leitura da palavra que nem sempre, ao
longo de sua escolarização foi à leitura da palavra mundo‖ (1988, p.12). Na verdade,
aquele mundo especial se dava a ele como mundo de sua atividade perspectiva, por isso
mesmo como o mundo de suas primeiras leituras.
Diante disso, percebemos que a leitura do mundo sempre foi primordial para a
construção do ato de ler, de escrever ou reescrevê-lo, e transformá-lo através de uma
atuação consciente. Durante o processo do trabalho com a leitura, é relevante que o
professor observe que, quando o aluno não lê com interação, mas só faz receber
informação no ato da leitura, não vai ocorrer inferências nem integração com o autor do
texto. Existe apenas a identificação do que é óbvio e o estabelecimento de
correspondências formais.
Kleiman (2008), ressalta que esse tipo de leitura provoca um comportamento
passivo no aluno por ser uma atividade operacional. Ele não consegue desvendar o
implícito. Só apresenta o que está evidente. Dessa forma, o papel do educador é ensinar
o aluno a ler, a desvendar o implícito, a fazer questionamentos sobre o texto, a interagir
com o autor.
Partindo do pressuposto de que a leitura deve provocar no leitor, possibilitando-o
a desvendar o implícito, é que propomos o trabalho com fábulas, principalmente nas
séries iniciais do Ensino Fundamental. As fábulas constituem como leitura fundamental
do mundo na medida em que permitem aos alunos observar situações de conflito e,
diante disso, a revelar preocupação com as relações humanas, desafiam-no a fazer
exames críticos de comportamentos e reverem os modos dos próprios comportamentos.
Diante disso, a leitura de fábulas proporciona ainda uma reflexão crítica, propiciando
aos educandos a oportunidade de interagir no e com o mundo.
Jauss (1994), em sua teoria conhecida como Estética da Recepção, aborda a
relação entre leitor e texto, afirmando que o leitor dialoga com a obra, atualizando-a no
ato da leitura. Destaca também o saber prévio do leitor, o qual reage de forma individual
diante da leitura, influenciado, porém, por um contexto social. Ele discute também o
enfoque diacrônico, que reflete sobre o contexto em que a obra foi produzida e a
maneira como ela foi recebida e (re) produzida em diferentes momentos históricos.
Refere-se ao corte sincrônico, no qual o caráter histórico da obra literária é visto no viés
atual. Finalmente, relaciona a experiência estética com a atuação do homem em
sociedade, permitindo a este, por meio de sua emancipação, desempenhar um papel
atuante no contexto social.
A Estética da Recepção apresenta-se como uma teoria em que a investigação
muda de foco: do texto enquanto estrutura imutável, ele passa para o leitor, o ―Terceiro
Estado‖, conforme Jauss o designa seguidamente marginalizado, porém não menos
importante, já que é condição da vitalidade da literatura enquanto instituição social.
(ZILBERMAN, 1989, p. 10-11).
Sempre é possível verificar nas obras a ocorrência de objetivação do horizonte
de expectativas, que acontece devido a três fatores: Em primeiro lugar, a partir de
normas conhecidas ou da poética imanente do gênero; em segundo, da relação implícita
com obras conhecidas do contexto histórico-literário; e, em terceiro lugar, da oposição
entre ficção e realidade, entre função poética e a função prática da linguagem, oposição
esta que, para o leitor que reflete, faz-se sempre presente durante a leitura, como
possibilidade de comparação. Esse terceiro fator inclui ainda a possibilidade de o leitor
perceber uma nova obra tanto a partir do horizonte mais restrito de sua expectativa
literária, quanto do horizonte mais amplo de sua experiência de vida (JAUSS, 1994, p.
29-30).
Segundo Bordini e Aguiar (1993), os teóricos da teoria da recepção
―desenvolveram seus estudos a partir da reflexão sobre as relações entre narrador-texto-
leitor‖. As autoras organizaram uma proposta de leitura com base nessa teoria – o
método recepcional – que se tem revelado eficaz na formação do leitor. Com esse
método, os alunos partem de leituras de obras próximas de seus horizontes de
expectativas para, gradativamente, ampliarem esses horizontes de expectativas por meio
de diferentes tipos de textos literários com níveis estéticos diferenciados.
Partindo das preferências do leitor, o trabalho deve orientar-se, de maneira
dinâmica, do próximo para o distante no tempo e no espaço. Isto significa
optar, primeiramente, por textos conhecidos de autores atuais, familiares pela temática apresentada, pelos personagens delineados, pelos problemas
levantados pelas soluções propostas, pela forma como se estruturam, pela
linguagem de que se valem. A seguir, gradativamente, vão-se propondo
novas obras, menos conhecidas, de autores contemporâneos e/ou do passado,
que introduzam inovações em alguns dos aspectos citados. Estes
procedimentos, inusitados para o leitor, rompem sua acomodação e exigem
uma postura de aceitação ou descrédito, fundada na reflexão crítica, o que
promove a expansão de suas vivências culturais e existenciais. (BORDINI &
AGUIAR, 1993, p.25).
Atendendo a estas reflexões, percebemos a fábula como elemento importante para
propiciar a curiosidade e o gosto pela leitura, pois este gênero atende a uma das
características infantis: o encantamento pelo fantástico e inusitado mundo das histórias.
Além disso, proporciona a relação entre o leitor e a obra, e nela a representação de
mundo do autor que se confronta com a representação de mundo do leitor, no ato, ao
mesmo tempo, solitário e dialógico da leitura. Pela peculiaridade da fábula, a leitura
amplia o universo do leitor ampliando também o universo da obra a partir da sua
experiência cultural.
As fábulas são narrativas – em prosa ou em verso – que geralmente
apresentam animais como personagens. Animais que pensam, sentem, agem e falam como se fossem pessoas. Mas as fábulas não apresentam só animais
como personagens. Há fábulas sobre objetos, sobre plantas, sobre estações do
ano, sobre a morte, sobre pessoas. As fábulas mostram pontos de vista sobre
comportamentos humanos. Ou seja, recomendam certos comportamentos e
censuram outros, que devem ser evitados. Esse ponto de vista – ou opinião –
costuma ser explicitado (a) no início ou no fim das fábulas e é chamado lição
ou moral. (LAJOLO, 2005, p.7).
No entanto, não é comprovado qual o país que deu originou ao gênero fábula.
Nas obras literárias é citada com frequência a Índia, a Grécia, o Egito e a Babilônia.
Porém, estudos sobre a ―gênese da fábula‖ conduzem à aceitação de que ela tenha
surgido como forma natural de manifestação intelectual em diversos lugares do mundo e
sendo independentes entre si.
4. ESTRATÉGIAS DE AÇÕES
Com o objetivo de contribuir com leituras mais profundas do texto literário,
apresentamos a proposta do gênero discursivo fábulas, tendo como estratégia de ação a
observação das etapas do método recepcional, que permite ao educando praticar a leitura
para aprender, inicialmente, a gostar de ler, posteriormente, entender o implícito e o
explícito, inferir, comentar, debater conscientemente, avaliar, apreciar a escrita e
defender seus pontos de vista.
As estratégias de leitura de fábulas preveem interação entre o leitor e o autor por
meio do texto. É importante que o professor facilite essa interação e promova a
autonomia no aprendiz para que ele possa traçar seus próprios caminhos de leitura
quando o educador não estiver presente.
Atendendo a estes direcionamentos, para implementação do projeto no Colégio,
serão propostas as estratégias de ação em consonância com método recepcional,
elaborado pelas professoras Maria da Glória Bordini e Vera Teixeira Aguiar, com base
nos postulados teóricos da Estética da Recepção, de (1994), o qual pressupõe as
seguintes etapas: Na primeira etapa, denominada determinação do horizonte de
expectativas, sondaremos os interesses dos alunos, com o objetivo de prever estratégias
de ruptura e transformação do mesmo. O atendimento do horizonte de expectativas
consiste no fato de proporcionarmos a turma o contato com fábulas que satisfaçam suas
necessidades quanto ao objeto escolhido e às estratégias de ensino. Quanto à ruptura do
horizonte de expectativas ocorrerá quando levarmos textos e atividades de leitura que
abalem as certezas e os costumes dos alunos, pois ao selecionarmos fábulas como, entre
outras, ―A raposa e a cegonha‖, ―A formiga e a cigarra‖, ―A assembleia dos ratos‖, de
Esopo, e ―O reformador do mundo‖, ―O lobo e o cordeiro‖, ―O leão e o ratinho‖, de
Monteiro Lobato, com a mediação do professor, os alunos poderão relacionar os sentidos
que o texto pode apresentar em relação ao seu contexto histórico. Dessa forma, o
questionamento do horizonte de expectativas será possível, pois o gênero fábula
apresenta uma estrutura, na qual personagens quase sempre estão em situação de
conflito, mas ao longo da narrativa, essas situações têm o seu desenrolar, culminando
com a vitória, o favorecimento ou o contrário de um personagem em relação ao outro,
possibilitando o questionamento coletivo sobre aspectos relevantes abordados nas
fábulas. Por fim, certamente ocorrerá uma ampliação do horizonte de expectativas, uma
vez que o aluno terá oportunidade de trazer uma fábula, a sua escolha, apresentando-a
para turma, demostrando, nesse momento, a compreensão das etapas anteriores.
Em consonância com as etapas do método recepcional, apresentamos as atividades
a seguir:
4. CONTEXTO HISTÓRICO, ORIGEM E CRIAÇÃO DO GÊNERO FÁBULA
De acordo com Nelly Novaes Coelho fábula ―é a narrativa (de natureza simbólica)
de uma situação vivida por animais que alude a uma situação humana e tem por objetivo
transmitir certa moralidade‖.
Fábulas são histórias curtas que relatam situações do cotidiano
frequentemente através de animais com características humanas e transmitem,
em linguagem simples, mensagens com conselhos, apresentando sempre no
final uma ―moral da história‖. Inicialmente as fábulas eram produzidas para
adultos com o objetivo de aconselhá-los e distraí-los. Era também utilizada
para alertar sobre algo que pode acontecer na vida real, para transmitir um ensinamento, para fazer uma crítica, uma ironia etc. Nascida no Oriente, a
fábula vai ter uma nova roupagem no Ocidente pelo grego Esopo (séc., VI
A.C.) e somente um séc. mais tarde pelo escravo Fedro que é aperfeiçoada
estilisticamente. Já no séc. XVI foi descoberta e reinventada por Leonardo da
Vinci (mas sem grande repercussão fora da Itália e ignorada até em pouco
tempo). (COELHO, 2000, p. 165).
Segundo Coelho (2000), foi no séc. XVII que La Fontaine reinventou a fábula (a
partir do modelo latino e do oriental oferecido pelos textos do indiano Pilpay),
introduzindo-a definitivamente na literatura ocidental. Em suas duas coletâneas de
Fábulas, encontramos também certa indefinição de matéria sob o mesmo rótulo geral.
Mas já aparece uma preocupação de análise, ou melhor, de definir a matéria reinventada.
Tanto é assim, que ele diz no prefácio da coletânea de 1668: ―apólogo‖ é composto e
duas partes... o corpo é fábula, a alma é moralidade‖. Por aí se vê que La Fontaine dava
o nome de ―apólogo‖ à espécie de sua matéria literária; de ―fábula‖ à história ali narrada
(tal como o fazem hoje os formalistas russos) e de ―moralidade‖ ao significado
simbólico da estória. Mas por tradição rotula tudo como fábulas.
O nascimento da fábula coincide com o aparecimento da linguagem. Antes de ser
considerado um gênero, a fábula passou de uma geração para a outra. Segundo Ramal,
―Nas culturas que não conheciam a escrita, a transmissão da história se dava através das
narrativas orais: o narrador relatava as experiências passadas a ouvintes que
participavam do mesmo contexto comunicacional.‖ (RAMAL, 2000, p.21).
No Brasil, tivemos as contribuições de Monteiro Lobato e de Millôr Fernandes na
(re) produção desse gênero. Monteiro Lobato reconta em prosa as fábulas de La
Fontaine, Esopo e Fedro. Posteriormente, o escritor, por meio dos personagens do Sítio
do Pica-Pau Amarelo, suscita discussões acerca dos temas abordados na fábula. Já
Millôr (2003), recria fábulas de maneira irônica, por meio de situações do cotidiano
moderno. Isso fica evidente já na capa de um de seus livros, 100 Fábulas Fabulosas,
Muitos e muitos séculos antes de Esopo, já havia lobos vestidos na pele de
cordeiros, estuprando inocentes. Muito tempo antes do homem se organizar em Estados, já existiam lobos ferozes proibindo carneiros de beber água. O
homem ainda não tinha pensado em construir cidades quando raposas finórias
e sem escrúpulos arrancavam queijos do bico de corvos ingênuos. E quando o
último homem apertar o último botão nuclear ainda haverá sapos coaxando
nos pântanos, cantando as glórias e a sedução do lobo. (MILLÔR, 2003, p. 1).
Diante disso, evidencia-se outra forma de escrever, na qual as críticas às situações
sociais estão presentes, o que as diferem das fábulas clássicas.
Portanto, o gênero fábulas agrada não só as crianças, pois são histórias que
entretém e, ao mesmo tempo, fazem pensar sobre questões referentes à nossa vida. Foi
isso que levou Monteiro Lobato a escrever um livro de fábulas para crianças, mas que
com certeza encantou e encanta muitos adultos, pois é considerado, entre nós, o maior
escritor da literatura infanto-juvenil. Em 8 de setembro de 1916, escreveu a seguinte
carta a Godofredo Rangel:
Ando com várias ideias. Uma: vestir a nacional as velhas fábulas de Esopo e
La Fontaine, tudo em prosa e mexendo nas moralidades. Coisa para crianças.
Veio-me diante da atenção curiosa com que meus pequenos ouvem as fábulas
que Purezinha lhes conta... Guardam-nas de memória e vão recontá-las aos
amigos — sem, entretanto, prestarem nenhuma atenção à moralidade, como é
natural. A moralidade nos fica no subconsciente para ir se revelando mais
tarde, à medida que progredimos em compreensão. Ora um fabulário nosso,
com bichos daqui em vez de exóticos, se for feito com arte e talento dará coisa
preciosa. As fábulas em português que conheço em geral traduções de La
Fontaine são pequenas moitas de amora do mato — espinhentas e
impenetráveis. Que é que nossas crianças podem ler? Não vejo nada. Fábulas
assim seria um começo da literatura que nos falta. Como tenho certo jeito para
impingir gato por lebre, isto é, habilidade por talento anda com ideia de iniciar a coisa. É de tal pobreza e tão besta a nossa literatura infantil, que nada acho
para a iniciação de meus filhos. (LOBATO, 1972, p. 245-6).
Porém, o trabalho com gênero fábula é fundamental, de acordo com Maia, pode
contribuir para o desenvolvimento intelectual das crianças, permite desenvolver aspectos
relevantes como: a simplicidade, clareza, fantasia, entre outros que esse gênero dá
abertura, tornando o trabalho motivador e ao mesmo tempo inovador.
Acredita-se que com as fábulas é possível trabalhar os valores humanos com
os alunos, conduzir as crianças não só à aprendizagem, mas permitir que o
aluno/leitor compreenda os aspectos positivos e negativos que elas podem conter. As fábulas são importantes para o desenvolvimento da criança, no
contexto educacional. Este gênero é considerado uma ferramenta poderosa
para o aprendizado de valores e comportamentos socialmente valorizados.
Sugere e conduz a criança a diferenciar valores atualmente perdidos pela
atual sociedade. A criança une o real ao imaginário, constrói seu pensamento
e adquire suas conquistas no campo cognitivo, através do lúdico. É de suma
importância que o aluno/leitor a convivência com o mundo das fábulas, pois
cada uma revelará ao leitor uma faceta de transformar ou enriquecer sua
própria experiência de vida. Dentro dessa perspectiva, a fábula assume um
papel relevante, a medida que, pode se tornar a principal mediadora em
auxiliar a abordar os problemas universais e do cotidiano do aluno/leitor, conscientizando-os que os valores não estão ultrapassados, mas continuam
sendo fundamentais no comprometimento com uma sociedade justa e
humana. (MAIA; OLIVEIRA, 2009, p.3).
O gênero fábula é composto por histórias curtas, contendo ações, onde o
simbolismo se faz presente, ocorre sempre criticidade em relação às atitudes humanas ou
aconselhamento, que se tornam a marca preponderante ao gênero. As fábulas podem ser
escritas em verso ou prosa. Os personagens, usualmente, são animais ou objetos, são
típicas, mas apresentam alguma atitude ou característica humana. Os textos deste gênero
exibem, quase sempre, após a conclusão ou desfecho, uma moral da história. Contendo
geralmente uma moral, forma de síntese, na qual evidenciam as intenções do autor em
relação ao mundo e tudo que dele faz parte. Em relação à produção, o gênero em estudo,
o produtor em si é o sujeito-enunciador que desempenha o de papel fabulista, ou seja, o
de criar uma história curta/ irreal que demonstra como são os comportamentos e as ações
humanas, com a finalidade de transmitir uma lição de moral. Já o destinatário da fábula é
geralmente o público infanto-juvenil; o meio de propagação são livros paradidáticos,
livros, revistas, jornais e a internet.
Em relação ao conteúdo temático do gênero fábulas, é bastante diversificado,
porém objetiva-se na transmissão dos valores morais. No que se refere à produção
composicional, o gênero é composto por elementos essenciais da narrativa (personagens,
fatos, tempo e lugar), estruturados no seguinte aspecto: apresentação do contexto da
situação (a exibição da personagem, e, raramente, do espaço e do tempo); a ação (surge
um conflito para desequilibrar a situação inicial; um momento máximo de tensão -
clímax – e, por fim, a resolução do conflito). Pode ser concluída com a apresentação
clara da moral, ou também poderá aparecer implícita no texto. Suas marcas linguístico-
declarativas costumam ser a indefinição do espaço/tempo, porque a fábula, por vezes,
não situa o tempo e o lugar da história. Isso ocorre devido o gênero querer apresentar
uma situação - abrangendo poucas personagens, com frequência duas, e uma moral da
história: um conselho; uma sátira; uma crítica, que serve para qualquer lugar e/ou tempo.
Por isso, aparecem, nas fábulas, expressões temporais como ―certo dia‖, ―um dia‖,
―depois‖, ―era uma vez‖, ―no dia/manhã seguinte‖. O tempo verbal costumeiro é o da
narrativa: pretérito perfeito. No que se refere aos tipos de discurso, na fábula é
empregado, basicamente, o discurso direto ou indireto.
6. IDENTIFICANDO O GÊNERO FÁBULA
A princípio, por meio de um questionário será realizado um levantamento na
turma que possibilitará a verificação da relação que os alunos já tiveram com a leitura
durante sua vida. Assim, teremos uma sondagem que nos ajudará no processo a ser
realizado. Por meio de uma sequência de perguntas feitas aos alunos no questionário a
seguir, daremos início ao trabalho:
1- Você gosta de ler? Por quê?
2- Você leu somente livros por que o professor lhe pediu? Liam durante as aulas?
3- Quantos livros você lê no decorrer de ano?
4- Que tipo de leitura é a sua preferida?
5- Você encontra sua leitura preferida na biblioteca?
6- Com que frequência sua professora levava a sua turma à biblioteca?
7- Você gosta de ir à biblioteca?
8- Seus pais compram livros para você?
9- Você ouvia história na sua família quando não sabia ler?
10- O que você sabe sobre ―fábulas‖? Já leu antes?
É importante nesse momento realizar a determinação do horizonte de
expectativa dos alunos, valorizando suas preferências, mas é necessário observar as suas
reações diante das leituras realizadas.
6.1 TEXTO 1
Agora vamos ler uma fábula que nos permite refletir sobre as relações entre os
seres humanos.
A RAPOSA E A CEGONHA
Um dia a raposa convidou a cegonha para jantar. Querendo pregar uma peça na
outra, serviu sopa num prato raso. Claro que a raposa tomou toda a sua sopa sem o
menor problema, mas a pobre da cegonha com seu bico comprido, mal pode tomar uma
gota. O resultado foi que a cegonha voltou para casa morrendo de fome. A raposa fingiu
que estava preocupada, perguntou se a sopa não estava do gosto da cegonha, mas a
cegonha não disse nada. Quando foi embora, agradeceu muito a gentileza da raposa e
disse que fazia questão de retribuir o jantar no dia seguinte. Assim que chegou, a raposa
se sentou lambendo os beiços de fome, curiosa para ver as delícias que a outra ia servir.
O jantar veio para a mesa numa jarra alta, de gargalo estreito, onde a cegonha podia
beber sem o menor problema. A raposa, amoladíssima, só teve uma saída: lamber as
gotinhas de sopa que escorriam pelo lado de fora da jarra. Ela aprendeu muito bem a
lição. Enquanto ia andando para casa, faminta pensava: "Não posso reclamar da
cegonha. Ela me tratou mal, mas fui grosseira com ela primeiro‖.
Moral: Trate os outros assim como deseja ser tratado.
ESOPO. Fábulas de Esopo. São Paulo: Loyola, 1995.
TRABALHANDO A FÁBULA
1. Verifique juntamente com os alunos as características que a fábula acima apresenta,
depois apresente na tevê pendrive, um pequeno vídeo (Fábula como é, e como se faz),
para que os alunos assimilem bem e consigam identificar pontos fundamentais
relacionados à estrutura do gênero fábula, tais como:
Narrativas imaginárias que envolvem animais, pessoas ou objetos;
Os animais adquirem características humanas e transmitem mensagens;
Cada fábula apresenta uma mensagem ou ensinamento moral, como desfecho que tem
como foco o resgate de valores;
Narração curta, mas apresenta os elementos essenciais da narrativa:
Ação (sequência de acontecimentos);
Personagens (seres que participam dos acontecimentos);
Narrador (que conta a história);
Tempo e espaço imprecisos;
Espaço (lugar dos acontecimentos).
6.2 TEXTO 2
Vamos ler outra Fábula! Afinal, quem somos, o Rato ou o Leão? Ora um, ora outro?
Ou aquele que nos convêm? Veremos...
O LEÃO E O RATO
O leão era orgulhoso e forte, o rei da selva. Um dia, enquanto dormia, um
minúsculo rato correu pelo seu rosto. O grande leão despertou com um rugido. Pegou o
ratinho por uma de suas fortes patas e levantou a outra para esmagar a débil criatura que
o incomodara.
- Ó, por favor, poderoso leão – pediu o rato. Não me mate, por favor. Peço-lhe
que me deixe ir. Se o fizer, um dia eu poderei ajudá-lo de alguma maneira.
Isso foi para o felino uma grande diversão. A ideia de que uma criatura tão pequena e
assustada como um rato pudesse ser capaz de ajudar o rei da selva era tão engraçada que
ele não teve coragem de matar o rato.
-Vá-se embora – grunhiu ele – antes que eu mude de ideia.
Dias depois, um grupo de caçadores entrou na selva. Decidiram tentar capturar o leão.
Os homens subiram em suas duas árvores, uma de cada lado do caminho, e seguraram
uma rede lá encima.
Mais tarde, o leão passou despreocupadamente pelo lugar. Ato contínuo, os
homens jogaram a rede sobre o grande animal. O leão rugiu e lutou muito, mas não
conseguiu escapar.
Os caçadores foram comer e deixou o leão preso à rede, incapaz de se mover. O
leão rugiu por ajuda, mas a única criatura na selva que se atreveu a aproximar-se dele foi
o ratinho.
- Oh, é você? – disse o leão. Não há nada que possa fazer para me ajudar. Você é
tão pequeno!
- Posso ser pequeno – disse o rato, mas tenho os dentes afiados e estou em dívida
com você.
E o ratinho começou a roer a rede. Dentro de pouco tempo, ele fizera um furo
grande o bastante para que o leão saísse da rede e fosse se refugiar no meio da selva.
Às vezes o fraco pode ser de ajuda ao forte.
ESOPO. Fábulas de Esopo. São Paulo: Loyola, 1995.
TRABALHANDO A FÁBULA
É interessante, nesse momento, evidenciar aos alunos aspectos referentes à estrutura
do gênero fábula, para prosseguirmos nas demais atividades, pois apresentaremos duas
fábulas, a seguir. Os alunos deverão verificar os pontos antes abordados. Também é
importante estimular os alunos a se posicionarem criticamente diante do texto,
identificando as ações dos personagens e que consigam analisar aspectos relevantes
antes mencionados.
Nesse momento, já é possível identificar a familiaridade que os alunos têm quanto à
literatura e, em especial, ao gênero fábula. Diante disso, o professor é capaz de fazer
uma conexão entre o conteúdo com aquilo que os alunos esperam, atendendo os seus
horizontes de expectativas.
6.3 TEXTO 3
Agora, vamos ler outra Fábula, o primeiro será o último? Ou nem tudo é o que
parece ser?
A LEBRE E A TARTARUGA
Certo dia uma lebre topou com uma tartaruga e, ao ver como ela andava devagar,
caiu na risada e fez muita troça.
Como você é lenta e desajeitada ― disse a lebre. ― É tão desengonçada,
andando com essa sua concha pesada, que até admira que consiga chegar a algum lugar.
A tartaruga deteve-se na estrada poeirenta, levantou a cabeça, virou-se para a lebre e
sorriu.
- Então vamos apostar uma corrida ― disse ela.
- Na hora que você escolher. Aposto dez moedas por dez quilômetros.
A lebre se pôs a dar pulos toda animada.
- O quê! Dez moedas? Podemos começar agora mesmo? Só dez quilômetros?
E sem esperar pela resposta da tartaruga, disparou pela estrada.
A tartaruga saiu atrás, com toda a lentidão. Sem olhar para trás nem pra os lados, foi
seguindo passo firme e regular pela estrada.
Num instante, a grande velocidade da lebre deu-lhe uma grande dianteira, e ela,
rindo consigo, virou-se para ver a que distância se encontrava a tartaruga. Não conseguiu
avistá-la, e, como estava um pouco cansada e achou que um descanso
seria muito agradável, acomodou-se ao lado de uma placa da estrada, para tirar uma
soneca.
- Vou dormir um pouco ― disse ela. ― Tenho muito tempo, e se a minha
vagarosa amiga passar por aqui enquanto eu estiver dormindo, eu acordo, alcanço-a, e
ainda assim venço a corrida com facilidade.
A tartaruga, enquanto isso ia avançando, e depois de muito, mas muito tempo,
chegou à placa da estrada, embaixo da qual a lebre roncava sonoramente. A tartaruga
não parou. Sem hesitar, foi em frente, levando às costas o seu grande casco, rumo ao
distante marco de chegada.
A lebre, muito confiante na própria vitória, dormiu a sono solto ao sol. Quando
finalmente acordou, já era quase noite: ela tinha dormido demais! Piscou, pôs-se de pé
com um pulo, olhou de um lado e de outro e saiu em disparada. Embora corresse mais
rápido do que o vento, não conseguiu alcançar a tartaruga. Quando atingiu o marco de
chegada, a tartaruga já estava lá, sorrindo calmamente consigo mesma.
Moral: Devagar se vai ao longe.
MATHIAS, R. Fábulas de Esopo. São Paulo: Ed. Círculo do Livro, 1983.
TRABALHANDO A FÁBULA
Depois de ter feito a leitura e análise oral das fábulas acima, os alunos serão
capazes de reconhecer individualmente, aspectos significativos que compõem a estrutura
do gênero trabalhado. E poderão responder as questões a seguir.
1) Após ler as fábulas, descreva:
Personagens;
Narrador;
Tempo/espaço;
Situação-problema;
2) Sobre a estrutura e características do gênero fábula, responda:
a) Onde a história acontece? Justifique sua resposta.
b) No texto lido, o narrador participa da história ou somente conta a história?
c) Qual o sinal usado para marcar as falas das personagens nesse texto?
d) Um acontecimento desencadeia o conflito/ a complicação da história. Qual é ele?
e) Como o conflito foi resolvido?
f) O autor utiliza expressões que indicam tempo, além dos verbos. Indique quais são
essas expressões:
g) No texto, é usado o discurso direto, por meio do qual as falas são utilizadas para
aproximar o leitor da personagem e vice-versa. Indique as passagens que contém
diálogos.
h) Indique os verbos empregados pelo narrador para apresentar a fala de alguma
personagem. Identifique qual é a personagem que fala.
i) Da relação abaixo, assinale os verbos que indicam a introdução da fala de uma
personagem:
Dizer, fazer, falar, andar, responder, correr, perguntar, afirmar, gritar, contar, anunciar,
chorar.
j) No primeiro parágrafo, o verbo ―andava‖ indica:
( ) ações frequentes
( ) uma condição ou uma coisa incerta.
( ) um ordem
k) Na passagem: ―Certo dia uma lebre topou com uma tartaruga e, ao ver como ela
andava devagar, caiu na risada e fez muita troça.‖, em que tempo verbal estão
conjugados os verbos destacados?
l) Esse tempo verbal é usado para assinalar:
( ) uma ordem
( ) uma certeza, um fato dado como certo
( ) uma dúvida
3) Sua opinião em relação à:
a) As morais presentes nas fábulas condizem com o texto escrito (conflito e resolução
dos problemas) e a intenção do mesmo?
b) O comportamento dos personagens pode ser comparado com o dos seres humanos?
c) Você concorda com a moral? É adequada?
4) Os animais nas fábulas tornam-se exemplos para os seres humanos. Cada bicho
simboliza algum aspecto ou qualidade do homem. Complete com o nome desses
animais.
a) Representa a força é o...........................................................
b) Qual representa a astúcia? ....................................................
c) O trabalho? ...........................................................................
d) A lentidão?............................................................................
e) A sabedoria?...........................................................................
f) A humildade?........................................................................
g) A avareza?.............................................................................
7. DA LEITURA DE FÁBULAS PARA COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO
De acordo com Lajolo (1986), qualquer texto precisa ser lido como sendo o lugar
de encontro entre quem escreveu e quem lê. É nessa perspectiva que a leitura dos textos
deve ser feita a seguir.
7.1 TEXTO 1
A ASSEMBLÉIA DOS RATOS
Um gato de nome Faro-Fino deu de fazer tal destroço na rataria duma casa velha
que os sobreviventes, sem ânimo de sair das tocas, estavam aponto de morrer de fome.
Tornando-se muito sério o caso, resolveram reunir-se em assembleia para o
estudo da questão. Aguardaram para isso certa noite em que Faro-Fino andava aos
miados pelo telhado, fazendo sonetos à lua.
- Acho - disse um deles - que o meio de nos defendermos de Faro-Fino é lhe
atarmos um guizo ao pescoço. Assim que ele se aproxime, o guizo o denuncia e pomo-
nos ao fresco a tempo.
Palmas e bravos saudaram a luminosa ideia. O projeto foi aprovado com delírio.
Só votou contra um rato casmurro, que pedindo a palavra disse:
- Está tudo muito direito. Mas quem vai amarrar o guizo no pescoço de Faro-Fino?
Silêncio geral. Um desculpou-se por não saber dar nó. Outro, porque não era
tolo. Todos, porque não tinham coragem. E a assembleia dissolveu-se no meio de geral
consternação.
Moral: Dizer é fácil. Fazer é que são elas.
LOBATO, M. Fábulas. 50. ed. São Paulo: Brasiliense, 2005.
TRABALHANDO A FÁBULA
Antes de passarmos para a leitura da fábula acima é interessante trazer atividades
que abalem as certezas e costumes, pois ao apresentar textos e questionamentos um tanto
mais complexos acontecerá a ruptura dos horizontes de expectativas dos alunos.
Também poderão levantar hipóteses, juntamente com a turma, questões orais que com
certeza instigam os alunos para concentração e interesse para a leitura.
Sugestões de atividades de leitura e análise linguística
1 - Conteúdo temático
a) Vocês sabem o que é uma assembleia? Como você imagina que é?
b) Como e por que é realizada?
c) Por que os ratos fizeram uma assembleia?
d) Será que todos cumpriram o acordo feito?
e) É importante realizar uma assembleia? Os acordos realizados nas assembleias em
nossa cidade vêm ao encontro com os interesses da população e são cumpridos?
2 - Contexto de produção a relação autor/leitor/texto
a) Onde o texto foi veiculado?
b) Quem provavelmente lê esse tipo de livro?
c) Onde podemos encontrar textos desse tipo?
d) Quem produz essas histórias?
e) Há quanto tempo essas histórias são contadas e recontadas?
Depois da atividade oral, que foi registrada no quadro, os alunos irão registrar
aspectos relevantes quanto à compreensão e interpretação da fábula. Importante nesse
momento verificar se alunos fizeram uma leitura nas entrelinhas, isto é, são capazes de
perceber informações que não estão ditas explicitamente.
3 - Construção composicional/arranjo textual
a) Onde a história acontece? Justifique a sua resposta.
b) No texto acima o autor participa da história ou somente conta a história?
c) Quais os sinais utilizados para marcar as falas das personagens?
d) Identifique na fábula acima:
- Situação inicial;
- Conflito;
- Possível solução;
- Desfecho;
e) O que você achou do desfecho da história? Finalizaria de outra forma? Por quê?
4- Marcas linguísticas e enunciativas _ marcas do gênero mobilizadas pelo autor.
a) Quais as marcas que demonstram a imprecisão em relação ao tempo, presente no
gênero fábula?
b) Qual discurso que é utilizado no texto acima? Cite o trecho que justifica sua resposta.
c) Identifique os verbos que introduzem as falas das personagens:
d) Na passagem: ―Aguardaram para isso certa noite em que Faro-Fino andava aos
miados pelo telhado, fazendo sonetos à lua.‖
- Em que tempo verbal estão conjugados os verbos?
- O pronome demonstrativo ―isso‖, se refere a quê?
5) Refletindo:
a) A pergunta a seguir, deixa o que evidente? ―Mas quem vai amarrar o guizo no
pescoço de Faro-Fino?‖;
b) Você concorda com a moral? ―Dizer é fácil. Fazer é que são elas.‖
c) O que você achou da decisão dos ratos para resolver o problema? Tomaria a mesma?
Por quê?
d) O que foi possível aprender com a fábula? Relacione-a com sua vida, será que agimos
assim? E que leva as pessoas agir assim?
7.2TEXTO 2
O REFORMADOR DO MUNDO
Américo Pisca-Pisca tinha o hábito de pôr defeito em todas as coisas. O mundo
para ele estava errado e a natureza só fazia asneiras.
- Asneiras, Américo?
Pois então?!... Aqui mesmo, neste pomar, você tem a prova disso. Ali está uma
jabuticabeira enorme sustentando frutas pequeninas, e lá adiante vejo uma colossal
abóbora presa ao caule duma planta rasteira. Não era lógico que fosse justamente o
contrário? Se as coisas tivessem que ser reorganizadas por mim, eu trocaria as bolas,
passando as jabuticabas para a aboboreira e as abóboras para a jabuticabeira.
Não tenho razão.
Assim discorrendo, Américo provou que tudo estava errado e só ele era capaz de
dispor com inteligência o mundo.
- Mas o melhor – concluiu – não é pensar nisto e tirar uma soneca à sombra
destas árvores, não acha?
E Pisca-Pisca, pisca-piscando que não acabava mais, estirou-se de papo para
cima à sombra da jabuticabeira.
Dormiu. Dormiu e sonhou. Sonhou com o mundo novo, reformado inteirinho pelas suas
mãos. Uma beleza!
De repente, no melhor da festa, plaf! Uma jabuticaba cai do galho e lhe acerta
em cheio no nariz.
Américo desperta de um pulo; pisca, pisca; medita sobre o caso e reconhece,
afinal, que o mundo não era tão mal feito assim. E segue para casa refletindo:
- Que espiga!... Pois não é que se o mundo fosse arrumado por mim a primeira
vítima teria sido eu? Eu, Américo Pisca-Pisca, morto pela abóbora por mim posta no
lugar da jabuticaba? Hum! Deixemo-nos de reformas. Fique tudo como está, que está
tudo muito bem. E Pisca-Pisca continuou a piscar pela vida em fora, mas já sem cisma
de corrigir a natureza.
LOBATO, M. Fábulas. 50. ed. São Paulo: Brasiliense, 2005.
TRABALHANDO A FÁBULA
Após a leitura da fábula é necessário refletirmos que na realidade esse desejo de
mudança está sempre presente em nossa vida, assim questionaremos os alunos sobre o
que eles gostariam de mudar:
1) Em sua casa ?
2) No seu Colégio?
3) Na sua cidade?
4) No mundo?
5) Em você?
6) Tais mudanças são possíveis, ou no caso seria idêntico ao personagem da fábula?
7) Com que argumento Américo Pisca-Pisca acredita que pode mudar o mundo?
8) A reforma do mundo se torna uma obsessão .Onde isso fica evidente? O que você
acha dessa atitude do personagem?
9) Que conclusão você chegou a respeito do texto acima?
10) Na frase ―Sonhou com o mundo novo, reformado inteirinho pelas suas mãos‖.‖
Uma beleza!‖ O termo em destaque refere-se às mãos:
( ) Do Pisca-pisca;
( ) Do mundo;
( ) Da jabuticabeiras;
11) No trecho ―...Aqui mesmo neste pomar, tens prova disso.” A palavra em destaque
refere-se:
( ) A Américo Pisca-pisca;
( ) Ao mundo que estava errado, segundo Pisca-pisca;
( ) Ao pomar;
7. 3 DIÁLOGOS POSSÍVEIS ENTRE FÁBULA, PINTURA E POESIA
O Grito é uma série de quatro pinturas do norueguês Edvard Munch, a mais
célebre delas é datada de 1893. A obra representa uma figura andrógina num momento
de profunda angústia e desespero existencial.
O GRITO (Edvard Munch – 1893, Galeria Nacional, Oslo)
10) Na tela ―O Grito‖, há um expressionismo muito grande. Que relação pode
estabelecer com a fábula e a poesia abaixo?
Agora leia o poema ―Humildade‖, de Cora Coralina, uma poetisa de Goiás, que
viveu entre 1889 a 1985, que traz nas suas poesias as seguintes temáticas: parte do
folclore goiano e o dia a dia das pessoas do campo de centro-oeste brasileiro.
HUMILDADE
(Cora Coralina)
Senhor, fazei com que eu aceite
minha pobreza tal como sempre foi.
Que não sinta o que não tenho.
Não lamente o que podia ter
e se perdeu por caminhos errados
e nunca mais voltou. (...)
11) Qual a temática presente no poema acima?
12) O que o título do poema lhe sugere?
13) O poema expressa um sentimento de religiosidade do eu-lírico. Quais versos
comprovam essa afirmação?
14) O que o poema despertou em você?
15) Você concorda com a forma como o eu-lírico da poesia vê a vida?
7.4 PRODUÇÃO TEXTUAL
Após as atividades acima, os alunos terão realizado diversas reflexões sobre o
desejo de mudanças, baseado na Fábula ―O Reformador do Mundo‖, de Monteiro
Lobato. Dessa forma, já poderão produzir um texto. Para próxima aula, os alunos irão
trazer uma imagem, na qual a necessidade de mudança esteja evidente. A imagem pode
ser de revistas, jornais ou até mesmo: fotos e desenhos realizados pelos alunos.
A imagem será colada em uma folha de sulfite e o aluno fará seu texto baseado
nessa imagem em folha rascunho. Após a reestruturação do texto, com a ajuda do
professor, o aluno fará a versão definitiva do texto na folha sulfite com a imagem colada.
Os alunos serão orientados a descreverem aquilo que eles percebem na imagem que
necessita de mudança, e se realmente há condições para que essa mudança ocorra. Os
leitores, ao visualizarem o texto e a imagem, poderão refletir sobre a relação dialógica
entre o texto e a figura.
8. TRABALHANDO DIFERENTES VERSÕES DE FÁBULAS
8.1 TEXTO 1
Os textos dialogam entre si, uma vez que a língua permite uma constante
interação entre sujeitos, até mesmo de épocas e lugares diferentes. Você vai ler agora
diferentes versões de uma das fábulas mais conhecidas ―A Formiga e a Cigarra‖, que
tematizam as diferentes concepções que o trabalho humano adquiriu ao longo do
tempo. Isso mostra o valor universal da literatura, que aborda e discute temas que são
comuns aos seres humanos de diferentes contextos sociais e, que segundo a estética da
recepção, se atualiza a cada nova leitura e a cada novo leitor.
A FORMIGA E A CIGARRA
Tendo a cigarra, em cantigas, Folgado todo o verão. Achou-se em penúria
extrema, na tormentosa estação.
Não lhe restando migalha. Que trincasse, a tagarela foi valer-se da formiga,
Que morava perto dela.
- Amiga – diz a cigarra.
- Prometo, à fé de animal, pagar-vos, antes de Agosto, Os juros e o principal. A
formiga nunca empresta, Nunca dá; por isso, junta.
- No verão, em que lidavas?
- À pedinte, ela pergunta.
Responde a outra:
– Eu cantava Noite e dia, a toda a hora.
- Oh! Bravo! – torna a formiga
- Cantavas? Pois dança agora!
LA FONTAINE, J. Fábulas de La Fontaine, Belo Horizonte: Ed. Itatiaia, 1992.
FORMIGA E A CIGARRA (FÁBULA CONTEMPORÂNEA)
Era uma vez, uma formiguinha e uma cigarra muito amigas. Durante todo o
outono, a formiguinha trabalhou sem parar, armazenando comida para o período de
inverno. Não aproveitou nada do sol, da brisa suave do fim da tarde e nem do bate papo
com os amigos ao final do trabalho tomando uma cervejinha. Seu nome era ―trabalho‖ e
seu sobrenome ―sempre‖.
Enquanto isso, a cigarra só queria saber de cantar nas rodas de amigos e nos
bares da cidade; não desperdiçou um minuto sequer, cantou durante todo o outono,
dançou, aproveitou o sol, curtiu para valer sem se preocupar com o inverno que estava
por vir.
Então, passados alguns dias, começou a esfriar. Era o inverno que estava
começando. A formiguinha, exausta de tanto trabalhar, entrou para a sua singela e
aconchegante toca repleta de comida.
Mas alguém chamava por seu nome do lado de fora da toca. Quando abriu a porta
para ver quem era, ficou surpresa com o que viu: sua amiga cigarra estava dentro de uma
Ferrari com um aconchegante casaco de vison.
E a cigarra disse para a formiguinha:
- Olá, amiga, vou passar o inverno em Paris. Será que você poderia cuidar da
minha toca?
E a formiguinha respondeu:
- Claro, sem problemas! Mas o que lhe aconteceu? Como você conseguiu
dinheiro para ir a Paris e comprar esta Ferrari?
E a cigarra respondeu:
- Imagine você que eu estava cantando em um bar na semana passada e um
produtor gostou da minha voz. Fechei um contrato de seis meses para fazer shows em
Paris… A propósito, a amiga deseja algo de lá?
- Desejo sim. Se você encontrar um tal de La Fontaine por lá, manda ele ir para a
p#@$ que p*&%u!!!
Moral: ―Trabalhe duro, mas aprenda a curtir a sua vida. O equilíbrio é o melhor
método para viver!‖
Autor: Desconhecido.
TRABALHANDO A FÁBULA
a. Nesta última versão o que aconteceu de diferente entre a cigarra e a formiga?
b. O que há de inusitado? O que mais chamou sua atenção?
c. O que você achou da moral desta fábula? Concorda? Por quê?
d. Quais as principais diferenças entre a fábula de La Fontaine e essa contemporânea?
SEM BARRA
José Paulo Paes
Enquanto a formiga Carrega a comida Para o formigueiro,
A cigarra canta, Canta o dia inteiro.
A formiga é só trabalho.
A cigarra é só cantiga.
Mas sem a cantiga
da cigarra
que distrai da fadiga,
seria uma barra
o trabalho da formiga!
TRABALHANDO A FÁBULA:
1) Você observou que o autor reescreveu a fábula de outra forma, isto é, através de outro
gênero, com uma nova roupagem . Que gênero ele produziu? Que características são
observadas para que você chegue a essa conclusão? .
2) Com essa mudança que ocorreu, o autor alterou o conteúdo da fábula?
3) O autor concorda com a fábula ―A cigarra e a formiga‖ de La Fontaine? Explique.
4) A partir da comparação, como José Paulo Paes vê o trabalho da cigarra em relação ao
da formiga?
5) Qual a visão em relação ao trabalho apresentada pelos escritores tradicionais?
6) Você concorda com os escritores tradicionais ou com os contemporâneos?
7) Na antiguidade, o trabalho artístico como o da Cigarra era visto como
―vagabundagem‖ e só o trabalho de amealhar bens como o da Formiga era valorizado. O
que você acha que mudou na sociedade contemporânea em relação ao modo como se vê
os artistas, e que é abordado no texto ―Sem Barra‖, de autoria de José Paulo Paes?
A CIGARRA E A FORMIGA (A FORMIGA BOA)
Houve uma jovem cigarra que tinha o costume de chiar ao pé do formigueiro. Só
parava quando cansadinha; e seu divertimento era observar as formigas na eterna faina
de abastecer as tulhas.
Mas o bom tempo afinal passou e vieram as chuvas, Os animais todos,
arrepiados, passavam o dia cochilando nas tocas.
A pobre cigarra, sem abrigo em seu galhinho seco e metida em grandes apuros,
deliberou socorrer-se de alguém.
Manquitolando, com uma asa a arrastar, lá se dirigiu para o formigueiro. Bateu – tique,
tique, tique...
Aparece uma formiga friorenta, embrulhada num xalinho de paina.
- Que quer? – perguntou, examinando a triste mendiga suja de lama e a tossir.
- Venho em busca de agasalho. O mau tempo não cessa e eu...
A formiga olhou-a de alto a baixo.
- E que fez durante o bom tempo que não construí a sua casa?
A pobre cigarra, toda tremendo, respondeu depois dum acesso de tosse.
- Eu cantava, bem sabe...
- Ah!... Exclamou a formiga recordando-se. Era você então que cantava nessa
árvore enquanto nós labutávamos para encher as tulhas?
- Isso mesmo, era eu...
Pois entre, amiguinha! Nunca poderemos esquecer as boas horas que sua cantoria
nos felicidade ter como vizinha tão gentil cantora! Entre, amiga, que aqui terá cama e
mesa durante todo o mau tempo.
A cigarra entrou, sarou da tosse e voltou a ser a alegre cantora dos dias de sol.
LOBATO, M. Fábulas. São Paulo: Brasiliense, 1994.
TRABALHANDO A FÁBULA
1) Relacionando os textos lidos anteriormente, o que podemos destacar quanto:
a) O conteúdo das histórias narradas pelos diferentes autores é o mesmo?
b) Quais são as principais semelhanças e as diferenças que você percebeu nas diferentes
versões da fábula ―A cigarra e a Formiga‖?
c) A disposição de cada texto é diferente, mesmo que tenham o mesmo tema?
d) Compare as fábulas que tenham como protagonistas ―a cigarra e a formiga‖ e
destaque qual o desfecho que mais lhe agradou. Explique porque gostou do desfecho.
PRODUÇÃO TEXTUAL
Agora é sua vez: Você seria capaz de escrever uma nova versão para essa fábula,
contextualizando e discutindo questões da época atual?
2) Observe a obra de arte abaixo, pois além da fábula é possível estabelecer relações
com músicas e poemas, permitindo assim fazer uma leitura de diferentes contextos dos
momentos históricos pelos quais nossa sociedade passou.
Café –1935 –Pintura a óleo/tela-130 X 195 cm
Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro, RJ.
1) Qual a relação que a obra de arte ―Café‖, de Cândido Portinari, pode estabelecer com
a fábula ―A Cigarra e a Formiga‖?
2) Quais as diferenças podem ser observar entre a obra de arte e a fábula?
DIÁLOGOS ENTRE O APÓLOGO E A FÁBULA
O texto machadiano, escrito no século XIX, é muito relevante nesse momento do
trabalho, pois será capaz de romper os horizontes de expectativas, por apresentar
―pequenos‖ e ―grandes‖ personagens principais: os objetos inanimados (agulha e a
linha) que podem ser considerados anti-heróis. Percebe-se que o orgulho, a vaidade,
individualismo e o autoritarismo (quem deve ter reconhecimento pelo trabalho)
permanecem e dão sustentação à trama, e o dono da verdade representado pelo alfinete,
conclui a discussão. O texto termina com acontecimento real, a fala do professor que
transmite uma moral. Podemos observar que, apesar do tempo, tais características estão
presentes ainda hoje na alma humana.
É necessário trabalhar aspectos do texto em relação ao contexto: espaço, tempo,
personagens, narrador. É importante, ainda, elaborar questões referentes à ética,
relacionando-as com a realidade. Como por exemplo: Se eles se lembram de alguma
situação que se assemelham com a do texto? O autor faz uma crítica às pessoas que não
realizam trabalho algum, mas que ganham fama pelo trabalho do outro, tem algum
personagem de novelas ou fábulas que agem da mesma maneira?
Além disso, o apólogo é um gênero textual muito próximo da fábula. Sem falar
da importância de já inserir a obra de Machado de Assis para os alunos, sendo essa uma
narrativa curta e de fácil compreensão. Também é importante que os alunos possam
diferenciar fábulas, parábolas e apólogos. Assim sendo, podemos fazer um diálogo entre
a fábula ―A Cigarra e a Formiga‖ e o ―Apólogo‖.
UM APÓLOGO
Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:
— Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que
vale alguma coisa neste mundo?
— Deixe-me, senhora.
— Que a deixe? Que na atualidade devido o fácil acesso a internet, o plágio
infelizmente se tornou comum, não só por parte dos alunos. Acredito que tal prática esta
associada ao imediatismo pelo qual passamos, pois é só copiar e colar, e assim vai... Outra
questão é a inversão de valores que paira em todos os lugares, em que fazer o correto parece
que é o errado. Dessa forma, os valores de cidadania que deveria começar na família e dar
continuidade na escola, na maioria das vezes não ocorrem. Isso tudo, só faz confirmar que
enquanto tivermos copiando e colando, ou aceitando algo assim, estaremos contribuindo para
a formação de profissionais sem preparo algum!
Enquanto professor-tutor terei que estar atenta e quando verificar que ocorreu plágio,
orientar o cursista a refazer a atividade, pois dessa forma estarei conscientizando-o que tal
prática não lhe acrescenta em nada sua na formação e ainda o mesmo está cometendo um
crime.
a deixe, por quê? Porque lhe digo que está com um ar insuportável? Repito que sim, e
falarei sempre que me der na cabeça.
— Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. Agulha não tem
cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se
com a sua vida e deixe a dos outros.
— Mas você é orgulhosa.
— Decerto que sou.
— Mas por quê?
— É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa ama, quem é que os
cose, senão eu?
— Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora que quem os
cose sou eu, e muito eu?
— Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço ao outro, dou
feição aos babados...
— Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, puxando por você,
que vem atrás, obedecendo ao que eu faço e mando...
— Também os batedores vão adiante do imperador.
— Você é imperador?
— Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel subalterno, indo
adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que
prendo, ligo, ajunto...
Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa. Não sei se disse
que isto se passava em casa de uma baronesa, que tinha a modista ao pé de si, para não
andar atrás dela. Chegou a costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha,
enfiou a linha na agulha, e entrou a coser. Uma e outra iam andando orgulhosas, pelo
pano adiante, que era a melhor das sedas, entre os dedos da costureira, ágeis como os
galgos de Diana — para dar a isto uma cor poética. E dizia a agulha:
— Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco? Não repara que esta
distinta costureira só se importa comigo; eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha
a eles, furando abaixo e acima...
A linha não respondia nada; ia andando. Buraco aberto pela agulha era logo
enchido por ela, silenciosa e ativa, como quem sabe o que faz, e não está para ouvir
palavras loucas. A agulha vendo que ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi
andando. E era tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-plic-plic-
plic da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a costura, para o dia seguinte;
continuou ainda nesse e no outro, até que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o
baile.
Veio à noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que a ajudou a vestir-
se, levava a agulha espetada no corpinho, para dar algum ponto necessário. E enquanto
compunha o vestido da bela dama, e puxava a um lado ou outro, arregaçava daqui ou
dali, alisando, abotoando, acolchetando, a linha, para mofar da agulha, perguntou-lhe:
— Ora agora, diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da baronesa, fazendo
parte do vestido e da elegância? Quem é que vai dançar com ministros e diplomatas,
enquanto você volta para a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das
mucamas? Vamos, diga lá.
Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de cabeça grande e não
menor experiência, murmurou à pobre agulha:
— Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é que vai gozar
da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu, que não abro caminho
para ninguém. Onde me espetam, fico.
Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a
cabeça:
— Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária!
ASSIS, M. Para Gostar de Ler - Volume 9 –Contos. Editora Ática: São Paulo, 1984, p. 59.
TRABALHANDO COM A FÁBULA “A CIGARRA E FORMIGA” E O
“APÓLOGO”
1) Qual a relação que podemos estabelecer entre os gêneros: apólogo e fábula?
2) Quanto ao tema trabalho, tanto na ―Cigarra e Formiga‖ (Formiga Boa) e no
―Apólogo‖, de Machado de Assis, ambos apresentam a mesma visão?
3) Quanto às personagens da fábula ―A Cigarra e a Formiga‖ e as do apólogo, no que
elas se assemelham e diferem?
4) Que crítica está presente no trecho abaixo, no qual o narrador conversa com uma
pessoa sobre o apólogo: ―Contei esta história a um professor de melancolia, que me
disse, abanando a cabeça: — Também eu tenho servido de agulha a muita linha
ordinária!‖?
5) O que o narrador quer dizer com: ―professor de melancolia‖?
6) Identifique a onomatopeia presente no apólogo?
9. RECONTANDO FÁBULAS
Nessa atividade, o aluno estará contando as fábulas abaixo com suas próprias
palavras. É importante que eles percebam que recontar não é mudar o sentido da fábula,
mas sim escrever com outras palavras. Os alunos também poderão ilustrar as fábulas,
favorecendo assim o seu desenvolvimento artístico. Depois, a produção fará parte do
mural da sala, possibilitando aos demais alunos a leitura e a interação com o universo
mágico da criação literária Esse trabalho é importante, pois permite ao aluno a escrever
para um destinatário, promovendo a comunicação entre todos. É hora, portanto, de
compartilhar!
9.1 TEXTO 1
O LOBO E O CORDEIRO
Um cordeiro estava bebendo água num riacho. O terreno era inclinado e por isso
havia uma correnteza forte. Quando ele levantou a cabeça, avistou um lobo, também
bebendo da água.
- Como é que você tem a coragem de sujar a água que eu bebo - disse o lobo, que
estava alguns dias sem comer e procurava algum animal apetitoso para matar a fome.
- Senhor - respondeu o cordeiro - não precisa ficar com raiva porque eu não estou
sujando nada. Bebo aqui, uns vinte passos mais abaixo, é impossível acontecer o que o
senhor está falando.
- Você agita a água - continuou o lobo ameaçador - e sei que você andou falando mal
de mim no ano passado.
- Não pode - respondeu o cordeiro - no ano passado eu ainda não tinha nascido.
O lobo pensou um pouco e disse:
- Se não foi você foi seu irmão, o que dá no mesmo.
- Eu não tenho irmão - disse o cordeiro - sou filho único.
- Alguém que você conhece, algum outro cordeiro, um pastor ou um dos cães que
cuidam do rebanho, e é preciso que eu me vingue. Então ali, dentro do riacho, no fundo
da floresta, o lobo saltou sobre o cordeiro, a agarrou-o com os dentes e o levou para
comer num lugar mais sossegado.
MORAL: A razão do mais forte é sempre a melhor.
LA FONTAINE, J. Fábulas de La Fontaine. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia. 199
IMPORTANTE!
É relevante nessa atividade que aluno observe que é importante na reprodução de
um bom texto, a não repetição de termos, para isso é necessário a substituição do nome
pelo pronome.
Outra questão preponderante é que o aluno também consiga diferenciar o
discurso direto do indireto, e que na reescrita possa utilizá-lo corretamente. Também
verificar a voz do texto, ou seja, se o narrador é personagem (ele participa da narrativa),
ou, observador (aquele que somente observa, e que através de sua fala podemos
conhecer os fatos acontecidos).
9.2 TEXTO 2
A RAPOSA E AS UVAS
Morta de fome, uma raposa foi até um vinhedo sabendo que ia encontrar muita
uva. A safra tinha sido excelente. Ao ver a parreira carregada de cachos enormes, a
raposa lambeu os beiços. Só que sua alegria durou pouco: por mais que tentasse, não
conseguia alcançar as uvas. Por fim, cansada de tantos esforços inúteis, resolveu ir
embora, dizendo:
- Por mim, quem quiser essas uvas pode levar. Estão verdes, estão azedas, não
me servem. Se alguém me dessas essas uvas eu não comeria.
Moral da história: Desprezar o que não se consegue conquistar é fácil.
MATHIAS, R. Fábulas de Esopo. São Paulo: Ed. Círculo do Livro, 1983.
TRABALHANDO COM AS FÁBULAS
Durante essa atividade os alunos farão a escolha de uma fábula para
dramatização, porém antes irão ao laboratório de informática para escolherem os textos
que serão trabalhados. Assim, farão análise do material estudado, exigindo maior
reflexão, acontecendo assim o questionamento dos horizontes de expectativas e, em
contrapartida, a satisfação na concretização do trabalho.
Os alunos serão orientados para que as falas fiquem bem caracterizadas, de
acordo com o que as personagens representam , sendo capazes de perceberem aspectos
relevantes da leitura para a transposição do texto a ser apresentado, pois na dramatização
de um texto, é possível explorar elementos da representação cênica (como entonação,
expressão facial e corporal, pausas). Ao narrar um fato (real ou fictício), o professor
poderá abordar a estrutura da narrativa, refletir sobre o uso de gírias e repetições,
explorar os conectivos usados na narração, que apesar de serem marcadores orais,
precisam estar adequados ao grau de formalidade/informalidade dos textos, entre outros
pontos.
10. PRODUÇÃO E REESTRUTURAÇÃO DE FÁBULAS
Nesse momento do trabalho, é possível que os alunos tenham consciência das
aquisições que obtiveram através das leituras de fábulas. Além disso, é fundamental
propiciar aos alunos condições para reconhecerem que suas percepções são maiores,
assim como sua capacidade de refletir/ interpretar , possibilitando a eles a busca por
textos mais complexos, favorecendo, com isso, a aprimoramento das práticas discursivas
de leitura, escrita e oralidade, ocorrendo assim ampliação dos horizontes de
expectativas.
Como você aprendeu, a fábula é uma pequena narrativa, cujas personagens são
geralmente animais que pensam, falam e agem como se fossem seres humanos. A fábula
encerra uma lição de moral, ensinamentos que chamam a atenção para o nosso modo de
agir e de pensar.
Além disso, apresenta forma concisa, personagens simples, diálogos curtos,
quase ausência de descrições. O narrador é sempre um observador que não participa da
história. As personagens caracterizam-se por um único traço: o cordeiro é ingênuo; a
raposa esperta; o pavão vaidoso. Isso torna mais fácil identificá-los com o ser humano.
Lembre-se de que o narrador somente conta os fatos sem participar diretamente deles
(narrador observador);
Procure usar personagens que representem atitudes e comportamentos que melhor
condizem com as pessoas que serão retratadas na fábula;
Seja conciso, não abuse das descrições, reúna informações em um texto breve.
Evite repetições de palavras, use bem o recurso da pontuação;
Faça diálogos, marcando as falas das personagens com aspas ou com travessão;
Escreva a moral da história de modo explicativo ou utilizando um provérbio;
Dê um título.
11. RODA DE CONTAÇÃO DAS FÁBULAS PRODUZIDAS.
A arte de contar histórias é uma tradição antiga. Quem não recorda de seus avós
ou pais contando belíssimas histórias e fazendo-nos viajar pela imaginação?
Infelizmente, este costume se perdeu no tempo. No entanto, a escola pode contribuir de
forma significativa para resgatar esses valores, tão importantes para valorização da
produção escrita do aluno, já que as histórias apresentadas pelos alunos serão aquelas
que produziram anteriormente, que nesse momento possibilitarão o desenvolvimento da
oralidade, bem como da desenvoltura, permitindo ao mesmo a demonstração de seus
talentos até então desconhecidos, além disso, proporcionar um momento de
descontração, contagiando-os com aquilo que eles próprios produziram.
Sabemos que inúmeras vezes o trabalho do professor em sala de aula faz a
diferença, e com essa intenção apresento a minha produção, deixando, dessa forma,
minha contribuição em relação aos valores primordiais pelos quais nossa sociedade deve
preconizar. As fábulas ―Amigos Inseparáveis‖ e ―Poderia ser você‖ possibilitarão a
ampliação dos horizontes de expectativas por apresentar não só uma leitura de fábulas
contemporâneas, mas também incentivar nossos alunos a fazer suas produções de
maneira espontânea e, consequentemente, apresentarem avanços em relação à produção
escrita e em contrapartida à oralidade.
Dessa forma, a contação de histórias é recurso pedagógico de suma importância
por promover frestas no espaço escolar ao trazer-lhe a alegria e a criatividade, para que
realmente ocorra o prazer de ler, escrever e contar aquilo que se produziu. Além disso, é
importante compreender, interpretar a si próprio e a sua realidade.
AMIGOS
INSEPARÁVEIS
Autora: Neusa Schmidt de Oliveira
Desenho: Deniffer Novak de Oliveira
Todos viviam tranquilamente naquela floresta, a alegria contagiava-os, a paz
era tamanha que às vezes os três amigos inseparáveis: Senhor Pirilampo, Dona
Joaninha e a extrovertida Abelhinha, ou melhor, a Belinha como gostava que
todos a chamassem, diziam que estavam em outro mundo. Os dias eram de
muita vida, tudo que realizavam era de extrema felicidade, os pequenos
problemas que apareciam eram insignificantes, pois conseguiam resolvê-los
sempre unidos, enfim, nada nem ninguém interferiam na paz que reinava naquela
floresta.
Até que um dia, o Senhor Grilo começou a ficar literalmente “grilado”.
“Grilou” tanto, que até mudou de cor, pois queria achar a explicação, do porquê
dos três amigos serem inseparáveis. Tinha que ter um segredo, afinal a amizade
era tão forte que todos os animais se admiravam. Daquele dia em diante não
descansaria enquanto não conseguisse desvendar esse enigma. Inicialmente
começou a observar cada detalhe em cada um deles, tudo que faziam, aonde iam,
até ouvia suas conversas escondido, mas nada... Depois de vários dias, tudo em
vão resolveu interferir na vida dos três.
Pensou bastante e elaborou um plano que colaria a amizade deles à prova e
também conseguiria desvendar o segredo. Convidou os três para um passeio na
lagoa. Era um lugar maravilhoso, onde a natureza parece que permaneceu
intocável. Tudo corria normalmente, pois os três brincavam alegres, até que o
Senhor Grilo propôs que Dona Belinha fosse sozinha incomodar o sono do
Senhor Sapo que parecia estar em um sono profundo. Os dois não acharam nada
certo ela ir só, no entanto, resolveu que iria, e assim mostraria para o Senhor
Grilo que era muito corajosa e que a fama de medrosa não lhe caía bem. O
Senhor Grilo observou que os dois respeitaram a decisão da amiga.
Quando ela foi saindo, olhou profundamente nos olhos de ambos como se
estivesse se despedindo, ou recebendo a força de que precisava. Afinal isso se
tornava evidente. Ao atravessar a lagoa, o medo enorme dificultava-lhe enxergar
o trecho, e acabou caindo no meio dos galhos junto às pedras bem próximas do
sapo que acabara de acordar de um pesadelo, e estava faminto. Dona Belinha
estava gemendo de dor, pois uma de suas patinhas estava presa, sem falar que o
medo tomara conta dela e, então começou a gritar desesperada!
Nesse instante os dois amigos não titubearam e saíram numa corrida em
direção à querida amiga que deixou o Senhor Grilo perplexo. Em nenhum
momento pensaram que o Senhor Sapo poderia devorá-los. Na beira da lagoa, o
Senhor Grilo não hesitou: gritou estridentemente, de forma que o Senhor Sapo
ficou amedrontado e começou a pular e, quanto mais pulava, mais eles gritavam.
Com isso o sapo foi pra longe. Os três continuavam ali emaranhados nos
galhos, e quanto mais se mexiam pior ficavam. Nesse momento difícil por que
passavam, os três amigos se olharam e a magia que existia entre eles, fez com
que a calma voltasse e assim o Senhor Pirilampo teve a magnífica ideia de
libertar com uma de suas patinhas as de sua amiga Joaninha que por sua vez
imediatamente libertou os três e saíram dali o mais rápido possível. Embora
estivessem com dor, estavam muito felizes: afinal estavam são e salvos.
Foi nesse momento que o Senhor Grilo disse-lhes. “Hoje entendi o porquê
dessa verdadeira amizade, pois três coisas fundamentais os unem; o respeito, a
confiança, e, acima de tudo, o amor que move a vida”. Daquele dia em diante o
Senhor Grilo nunca mais quis colocar a amizade deles em prova, afinal lhe serviu
a lição. Procurou viver melhor e, quem sabe, um dia encontraria amigos assim,
inseparáveis.
Moral: Amigos são irmãos que entram em nossas vidas e permanecem.
Afinal, cada um é responsável pelo que cativou!
Poderia ser você!
Era uma manhã como tantas outras na vida de um Leãozinho que o
mundo lhe negara a oportunidade de ter sua família, mas que não deixou
nele marcas negativas. Ele continuava acreditando na vida e tendo esperança.
O olhar com que dirigia ao seu redor era único, parecia que tinha acordado
com a inspiração indescritível, estava maravilhado, dizia:
_ Olha as gotinhas frias, transparentes! “E esse perfume delicioso das
flores, as aves exuberantes”. Ele saltitava maravilhado, as borboletas
coloridas estavam ainda mais belas, falava sozinho, mas será que estava
mesmo? Os pássaros pareciam que estavam sem cantar somente para ouvi-lo.
_ “Todos os dias venho aqui, mas hoje sinto como se fosse o primeiro”. _
Sabe por quê? À noite tive um sonho e nesse sonho esse lugar tinha se
transformado em um grande depósito de lixo. Nossa! Era tanto lixo que não
sobrou lugar para nenhuma planta, apenas existia um sobrevivente. De
repente, ouvi gritos. Era uma Joaninha, que conseguiu esconder-se no meio
das penas de uma avestruz, e justamente era ela que gritava muito,
desesperada, pedindo aos lobos que não fizessem aquilo, mas fora em vão.
Afinal, não estavam nem um pouco preocupados, só queriam se ver livre do
lixo, nem pensavam, somente agiam,... Pobre joaninha, o desespero era
enorme, não tinha mais ninguém. Começou a chorar, chorava tanto, mas tanto
que, quando acordei, as lágrimas rolavam, e pensei: _ “Nossa, no mundo
estão fazendo tudo isso”. No entanto, naquele momento eu prometi que
cuidaria ainda mais de todos vocês e também deixaria para o mundo essa
mensagem. “Que aquela Joaninha do sonho poderá ser exatamente, VOCÊ”!
Moral: Todo mal praticado à mãe NATUREZA, você não ficará de fora
Desenho e Produção: Neusa Schmidt de Oliveira
13. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao produzir esta unidade didática, pensamos em um material que pudesse
colaborar com a prática pedagógica dos professores nas aulas de Língua Portuguesa do
6º ano, do Ensino Fundamental, como também auxiliar na Leitura de Fábulas à Leitura
de Mundo, proposta do Projeto de Intervenção na Escola. Dessa forma, o presente
Caderno Didático tem como ponto principal o trabalho do gênero fábula, na tentativa de
contribuir, efetivamente, com leituras mais profundas do texto literário.
Entretanto, assim, como os alunos, em geral, necessitam de direção em seus
pensamentos, também as crianças de 6º ano, pois seu universo é diferente. Julgamos que
a dificuldade na aprendizagem fundamenta-se no fato de que o aluno aja de forma
mecânica, repetitiva, sendo, portanto, necessária outra forma de abordagem do assunto
que se quer desenvolver.
Assim, destacamos a Leitura, pois esta tem sido, ultimamente, alvo de muitas
críticas, passando a ser um assunto discutido por estudiosos, professores, enfim, pela
sociedade em geral, tendo em vista sermos um povo cujo hábito de leitura não é muito
cultivado. Sabemos da importância da leitura na vida e na formação de cada cidadão,
pois esta contribui para torná-lo crítico, autônomo, e capaz de agir e interagir melhor no
mundo. É evidente também que a formação de leitores proficientes está associada com a
escrita que tem sido considerada a vilã do fracasso escolar.
A literatura tem sido um instrumento poderoso de instrução e educação,
entrando nos currículos, sendo proposta a cada um como equipamento
intelectual e afetivo. Os valores que a sociedade preconiza, ou os que
consideram prejudiciais, estão presentes nas diversas manifestações da ficção, da poesia e da ação dramática. A literatura confirma e nega, propõe e
denuncia, apoia e combate, fornecendo a possibilidade de vivermos
dialeticamente os problemas. (CANDIDO, 1989, p. 113).
Portanto, com a finalidade de trabalhar a literatura em sua dimensão estética e
ideológica, com o foco no gênero textual fábula uma vez que é um suporte didático
capaz de promover a reflexão, o desenvolvimento intelectual e crítico do educando, pois
esse gênero dá abertura para a análise das atitudes, comportamentos, condutas e valores
dos seres humanos, e, além disso, permite, muitas vezes, fazer um diálogo com a
realidade.
REFERÊNCIAS
ASSIS, M. Para Gostar de Ler - Volume 9 –Contos. São Paulo: Ática, 1984.
BORDINI, M. G. & AGUIAR, V. T. A Formação do Leitor: Alternativas
Metodológicas. 2. ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1993.
BRASIL. Secretaria da Educação Básica. Disponível em:<http://www.tvbrasil.
org.br/fotos/salto/series/133321Anarrativa.pdf>.Acesso em:30/07/2013.
CANDIDO, A. O direito à literatura. In:Vários escritos. São Paulo/Rio de Janeiro:
Ouro Sobre Azul, 2004.
COELHO, N. N. Literatura Infantil: teoria, análise, didática. 7 ed. São Paulo:
Moderna,2000.
ESOPO. Fábulas de Esopo. São Paulo: Loyola, 1995.
JAUSS, H. R. A história da literatura como provocação a teoria literária. Trad:
Sérgio Tellaroli. São Paulo: Ática, 1994.
KLEIMAN, A. B. Oficina de Leitura. Teoria e Prática. Campinas: Pontes, 1999.
LA FONTAINE, J. Fábulas de La Fontaine. Belo Horizonte: Itatiaia, 1992.
LAJOLO, M. A narrativa na literatura para crianças e jovens. In: BRASIL. Ministério da
Educação. A narrativa na literatura para crianças e jovens. Boletim 19, outubro
2005.
LAJOLO, M. O texto não é pretexto. In: ZILBERMAN, R. Leitura em crise na escola:
Alternativas do professor. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1986.
LOBATO, M. A Barca de Gleyre. 14. ed. São Paulo: Brasiliense, 1972.
______.Fábulas. 50. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.
MAIA, C. M. M.; OLIVEIRA, L. S. A Contribuição das Fábulas de Monteiro Lobato
à Educação. São Paulo, 2009. Disponível em: <http://www.uninove.br/PDFs
/Mestrados/Educa%C3%A7%C3%A3o/eventos/PA%206. pdf>. Acesso em: 02 de
agosto 2013.
MARTHA, A. Á. P. Monteiro Lobato e as fábulas: adaptação à brasileira.
Cuatrogatos revista de literatura infantil, n.7, julho-setembro 2001. Disponível em:
<http://www.cuatrogatos.org/7monteirolobato.html>. Acesso em: 01 novembro 2010.
MATHIAS, R. Fábulas de Esopo. São Paulo: Ed. Círculo do Livro, 1983.
PAES, J. P. ―Sem barra‖. In: Olha o bicho. São Paulo: Ática, 1989.
PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência da Educação.
Departamento de Educação Básica. Diretrizes Curriculares da Educação Básica.
Português. Curitiba, 2008.
RAMAL, A. C. Ler e Escrever na Cultura Digital. Revista Pátio. Porto alegre, n.14,
2000, n.14, p. 21-24.
SANTAELLA, L. Matrizes da linguagem do pensamento: sonora, visual, verbal:
aplicações na hipermídia. 3. ed. São Paulo: Iluminuras, 2005.
SOUTO, M. A. G. Confabulando valores. Disponível em http://potrasdasletras.
com.br/pdtl2/sub.php?op=artigos/docs/confabulandovalores. Acesso em 29/05/2013.
SOUZA, L. N. Características do modernismo em Fábulas de Monteiro Lobato. In:
VIII SEMINÁRIO NACIONAL DE LITERATURA, HISTÓRIA E MEMÓRIA. 8,
2009. Cascavel, PR. Anais... Cascavel, CELLIP, 2009. Disponível em:
http://cacphp.unioeste.br/eventos/seminariolhm/anais/Arquivos/Artigos/Seminario/semin
ario>. Acesso em: 30/07/2013.
ZILBERMAN, R. A Literatura Infantil na escola. 6 ed. São Paulo: Global, 1987.
http://www.diaadiaeducaçao.pr.gov.br.Acesso em 30/07/2013.