OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Massaud Moisés (1967, p. 40), em A Criação...
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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
DO FOLHETIM ÀS REDES SOCIAIS: CRIAÇÃO DE CONTOS LITERÁRIOS NO FACEBOOK
Nadir Alves
Prof. Dra. Marcele Aires (Orientadora/UEM)
RESUMO: O artigo refere-se ao projeto Do Folhetim às Redes Sociais: a criação de contos literários no Facebook, desenvolvido no Colégio Estadual Paiçandu, em uma turma do terceiro ano do Ensino Médio. O estudo pauta-se na linha “Literatura e escola – o uso das tecnologias no fomento à leitura e a produção literária”, apresentando uma nova metodologia para o ensino-aprendizagem de Literatura: nela o educando se impõe como sujeito ao estabelecer contato com outros indivíduos, com o uso das tecnologias, por meio da linguagem literária, teorizando, sentindo e refletindo o trabalho artístico. O estudante foi incitado a criar um pseudônimo e uma narrativa literária, permanecendo no anonimato, por um tempo, para posteriormente, postá-la na rede social Facebook, numa página criada para esta finalidade. Durante o processo, a suposta obscuridade colaborou, pois abriu precedente a discussões sobre o ser humano, as obras de Arte, a Literatura, notícias cotidianas e até mesmo histórias reais dos próprios alunos. O texto escrito virou curta-metragem: o êxito culminou com o primeiro Festival de Curtas de Paiçandu, com a escolha de cinco narrativas, transpostas para a linguagem cinematográfica. Priorizou-se a discussão de que forma professores – a maioria imigrante digital – e educandos – nativos digitais – poderiam encontrar um caminho para a convivência pacífica e, ao mesmo tempo, tornariam os aparatos em bônus à aprendizagem. Palavras: Mídias tecnológicas; Literatura; Arte; Jo rnalismo; Conto; Folhetim Digital
INTRODUÇÃO
Atualmente, a revolução tecnológica está posta como um progresso que
fugiu a profecias e se coloca como indispensável na vida pós-moderna. E, a
cada dia ficamos à mercê e mais dependentes das tecnologias, como se
fossem uma extensão de nosso corpo, mente e cérebro. Como afirmam alguns
teóricos, a exemplo de Mercado (2008), Marconi e Pulga (2010) e Levy (1998),
vivemos e existimos no “ciberespaço”.
Um estudo da história nos levará a compreender que o ser humano
sempre buscou, criou e se utilizou da técnica, em todos os momentos. Nesse
contexto, registram-se, a partir de 1985, os chamados “Nativos Digitais” – tipos
que, segundo o escritor norte-americano Marc Prensky (2010), tão logo
nasceram encontraram o mundo conectados a uma nova tecnologia, a cada
segundo, inserida no mercado com concomitante rapidez e já caracterizada
como obsoleta. São computadores, câmeras digitais, chips de identificação,
smartphones, incluindo-se os mais variados eletrodomésticos.
Desta forma, aparentemente, neste século, a falta do virtual surge como
demonstração de retardo frente àquilo que a história da humanidade tem
mostrado pontual e concretamente: o progresso ocorre, em qualquer área,
desde o início da evolução de nossa espécie, com ou sem a nossa participação
particular, individual, com ou sem a nossa permissão ou aval. E, se o lápis já se
apresentou como uma ciência de ponta, hoje, o imperativo pós-moderno é que
se nos distanciarmos do aparato tecnológico, criamos uma nova forma de
analfabetismo.
Assim, diante dessas inovações, à escola formal cabe, a empreitada de
ser a mola propulsora no fomento ao uso das ferramentas tecnológicas, com
compromisso, habilidade e competência para que ninguém se torne um
escravo do mundo virtual, como marionete, ou dele seja totalmente alijado.
Pois, percebe-se que o homem se apropria da tecnologia e, neste ato, que
deveria ser de completude e emancipação, ele se esquece de si e se torna
pobre em pensamento, perdendo suas raízes, sem se dar conta. O nosso
tempo, segundo Heidegger, “representa o fim do paradigma que, se por um
aspecto, é positivo no que se refere aos benefícios tecnológicos, por outro é
pobre em relação ao valor das coisas” (apud REVISTA Filosofia, Ciência e
Vida, abril de 2013).
Seguindo tal viés, o artigo refere-se ao projeto Do Folhetim às Redes
Sociais: a criação de contos literários no Facebook, desenvolvido no Colégio
Estadual Paiçandu, Paiçandu-Paraná, em uma turma do terceiro ano do Ensino
Médio, por blocos, no primeiro semestre de 2014. O estudo faz parte do
Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), turma 2013, da Secretaria
Estadual de Educação do Paraná, dentro da linha de estudo “Literatura e
escola – o uso das tecnologias no fomento à leitura e a produção literária”,
apresentando uma nova metodologia para o ensino-aprendizagem de Literatura
e da própria Arte, em virtude da interdisciplinaridade. Nela, o educando se
impõe como sujeito ao estabelecer contato com outros indivíduos, com o uso
das tecnologias, por meio da linguagem literária, teorizando, sentindo e
refletindo o trabalho artístico – com ênfase para o “sentir” do homem universal
que há em cada um de nós.
O trabalho se pautou pela ótica do romance, originado na forma de
folhetim, tanto na Europa como no Brasil. O estudante criou um pseudônimo e
uma narrativa literária, permanecendo no anonimato, por um tempo, para
posteriormente, postá-la na rede social Facebook, numa página criada para
esta finalidade. Durante o processo, a suposta obscuridade colaborou, pois
discutiram-se as mais diversas e variadas questões, levantadas, em sala de
aula, essencialmente, a respeito do ser humano, das obras de Arte, da
Literatura, das notícias cotidianas, das histórias reais dos próprios alunos.
Assim, com tais procedimentos, sugiram as indagações: seria possível
sensibilizar estudantes para a literatura e fazer com que a criação de histórias,
de contos, de lendas urbanas ocorresse no mundo virtual, utilizando-se o
professor como canal de comunicação as redes sociais, a exemplo do
Facebook? Este aplicativo contribuiria para o aprendizado do aluno? Como no
nascimento do romance, em folhetins, os estudantes conseguiriam manter o
foco, na atividade, e perceber o outro, nesta interação? Como perceber ainda
que o mundo virtual oferece possibilidades de trocas, de crescimento
intelectual, com solidez, e não apenas a conexão de forma aligeirada?
Para estes questionamentos, na elaboração do projeto, estudantes
sintetizaram o sentimento do grupo, como Wesley Wisenfath:
Quando começamos a montar os curtas, acreditei que não iria dar certo. Houve brigas, discussões, mas isso faz arte do script da vida, e foi uma experiência única, com pessoas únicas. No dia do encerramento do projeto pude ver o quanto me fez bem, o quanto é gratificante saber que diversão e aprendizado caminham muito bem juntos, formam um laço muito forte de amizade entre aluno e professor, uma cumplicidade que impede que as coisas saiam mal planejadas, mal feitas.
Logo, o intento é revelar os resultados desse procedimento no ensino da
Literatura, envolvendo a Língua Portuguesa, mais pontualmente, a Literatura e
outras áreas do conhecimento, como a Arte, a Filosofia, o Jornalismo,
incluindo-se às novas mídias, com a publicação diária de histórias reais e de
outras que dão margem às narrativas fictícias, como lendas urbanas, aliadas
ao dia a dia do homem do século 21, cravado à tecnologia, em qualquer lugar
do planeta.
Deste modo, após as proposições didáticas necessárias, visitas a
veículos de comunicação de Maringá (PR), entrevista com jornalistas e
fotógrafos, estudo de obras literárias nacionais, obras universais da arte
dramática e das artes plásticas e visuais, vídeos, filmes, letras de músicas,
textos filosóficos, os educandos usaram uma rede social para desenvolver o
trabalho, tendo como foco o processo criativo e o uso das tecnologias. Eles
produziram contos e tiveram como meio o ciberespaço – “local” de presença
constante de “nossos” adolescentes, para divulgá-los e ter contato,
anonimamente, com os demais estudantes da turma. Assim, outro intento
acabou se efetivando: o de aguçar o pensamento do educando de que há
diversas outras possibilidades, mesmo nas redes sociais, envolvendo
conhecimento, troca, aprendizagem e leituras.
A escolha de se optar pelo gênero conto se justifica pelo que nos explica
Massaud Moisés (1967, p. 40), em A Criação Literária – Prosa, após um estudo
minucioso da etimologia da palavra e sua história: trata-se de “um só drama,
uma só ação (...) por conter uma unidade de ação, tomada esta como
consequência de atos praticados pelos protagonistas, ou de acontecimentos de
que participam".
O êxito culminou com o primeiro Festival de Curtas, do estabelecimento
e do município, com a escolha de cinco narrativas, transpostas para a
linguagem cinematográfica, com cobertura jornalística de duas redes de
televisão da região de Maringá, RPC – TV Cultura
(http://g1.globo.com/pr/parana/paranatv-1edicao/videos/t/maringa/v/estudantes-
de-paicandu-fazem-um-festival-decinema/3513747/) e Rede Record de
Televisão (http://pr.ricmais.com.br/parana-no-ar/videos/professora-incentiva-
alunos-depaicandu-a-produzirem-de-curta-_-metragens/), pela relevância do
fato, conforme explicaram:
Revelador, emocionante, impactante, transformador... Assim eu defino o projeto "DO FOLHETIM AS REDES SOCIAIS". No começo causador de conflitos: Redes sociais e educação? Como conciliar? Possível conciliar e manter o foco no principal? A resposta para essa pergunta é Sim! Prova disso é o enorme sucesso do projeto. A ideia da professora Nadir
Alves, em usar aquilo que os alunos gostam, para chamar atenção, e aplicar o necessário. Foi sensacional! Procuro em dicionários palavras que possam expressar meu carinho, satisfação e felicidade por ter participado do trabalho, em vão. Não existem palavras [...]. Primeiro, as contradições – usar as redes sociais, para atrair atenção e despertar o desejo dos alunos; alguns dias depois uma reunião com fogueira, céu estrelado, música, risadas em um lugar completamente desconectados do meio social... E são esses e muitos outros detalhes que deram a esse projeto um toque todo especial. (Raquel Ferreira, 16 anos). Desde o dia em que a Professora Nadir veio com o plano desse projeto, eu me entusiasmei para realizá-lo. Ela sempre mostrou a Arte e a Literatura de forma diferenciada, além dos livros didáticos. De forma dinâmica é bem mais fácil e divertido aprender. Começamos com a criação de um Facebook falso. Isso, rede social, nas aulas. Algo que simplesmente mais gostamos. E, para lá levamos nossas ideias e opiniões. Questionamos fatos sérios, de forma madura – não parecia o pessoal do 3º B (Mayara Arai, 16 anos). Uma experiência extraordinária. Desde a primeira aula até o dia da apresentação de nosso festival, tudo foi essencial: o método de trabalho, os laços que se construíram para que tudo desse certo. O fundamental é que, sem pressão, todos os alunos concluíram o trabalho solicitado pela professora. Tivemos histórias de romance, terror, tragédia, suspense, drama e comédia. Isso possibilitou que a professora conhecesse um pouco de cada aluno por sua história. Afinal, a maneira de se expressar é uma das coisas inevitáveis da arte. No processo de gravação dos curtas, toda a sala participou para que o projeto fosse finalizado com sucesso (Nayara Santos, 16 anos). Assistimos às matérias de Arte e Literatura, de uma forma diferente. Saímos um pouco da teoria e fomos para a prática. Uma coisa única, amigos únicos. E destaco o carinho diferenciado que a professora teve com a gente, e com isso aprendemos mais e melhor os conteúdos. Estamos, mesmo, é gratificados. Parabéns! (Lucas Rodrigues Gonçalves, 16 anos).
Uma prova de que a tecnologia se perpetra, de fato, como possibilidade
apontada pelo pesquisador Luis Paulo Leopoldo Mercado:
Com as Novas Tecnologias da Informação abrem-se novas possibilidades à educação, exigindo uma nova postura do educador. (...). A escola é um espaço privilegiado de interação social, mas este deve interligar e integrar-se aos demais espaços de conhecimento hoje existentes e incorporar os recursos tecnológicos e a comunicação via internet, permitindo fazer as pontes entre conhecimento s e tornando um novo elemento de cooperação e transformação (2008, p. 13).
Considerações Gerais
1. Explanação do Projeto e relatos dos estudantes
Assim que ingressamos no Programa de Desenvolvimento Educacional
(PDE), o desafio era apresentar uma possibilidade, uma nova metodologia para
o ensino-aprendizagem de literatura, por meio da tecnologia. O quebra-cabeça
inicial, aos poucos, cedeu espaço aos conhecimentos propostos, nos cursos da
Instituição de Ensino Superior (IES), durante toda a elaboração do projeto e da
produção didático-pedagógica, levando-nos a investigar e a compreender as
bases filosóficas, o ser humano, neste momento histórico, bem como a
indisciplina intelectual, as evoluções da leitura, ao longo da história, e o desafio
de como reorganizar, essa leitura, nos novos espaços tecnológicos, e,
consequentemente, a produção textual.
A ideia de que a tecnologia deve ser uma das ferramentas, na educação,
ganhou corpo, com apontamentos desafiadores. Pois, como a roda, ela pode
facilitar o caminho, mas, necessariamente não aponta o destino. Devemos
levar em conta que boa parte de nossos nativos digitais não usa a internet para
a busca do conhecimento clássico. Em outras palavras, seu uso não
potencializa o interesse pelo conhecimento, sem contar que o assunto
extrapola a questão educacional, passando por inúmeros fatores, a exemplos
dos políticos e econômicos.
Salienta-se que se a intenção do programa é contribuir para uma
educação de qualidade, possibilitando o acesso de formação aos professores,
é preciso dizer que o caminho passa, necessariamente, por esse viés. Pois,
diante do resultado alcançado, com um grupo de quase quarenta adolescentes,
que participaram e se empenharam, desde o início, chegando a duvidar,
inicialmente, que daria certo, seremos defensores de tal iniciativa. Apenas
registra-se uma ressalva. Professores e estudantes têm um semestre para o
desenvolvimento do projeto de implementação, no entanto, a aplicação acaba
ocupando quatro meses. Tempo esse que deveria ser revisto, de acordo com
cada proposta pedagógica apresentada.
Os questionamentos e o entendimento de que a importância não está na
ferramenta, porém, no desígnio com que ela é usada, motivaram-nos à clareza
dos trabalhos, definindo melhor os critérios de quando e de que forma utilizar a
tecnologia. A compreensão, assim, é que, em tempos de internet, de redes
sociais, de novas formas de ensino e de aprendizagem, de relacionamentos, de
se pesquisar, de se estudar, de se buscar informações, à escola caberá estar
na dianteira, nesse “tempo presente”, buscando estratégias para trabalhar com
crianças e os jovens da "Geração Y", que estão não apenas inseridos, mas são
frutos da era cibernética, como bem pontua Meirelles (2013):
São jovens que pouco se atêm a um livro físico, mas que, na frente do computador ou de seu tablet, passam horas e não veem o tempo passar (...). É com essa realidade que os professores de hoje têm que lidar. E explorar formas de usar a boa relação que esses jovens possuem com esse suporte é o desafio que, na atualidade, se descortina aos professores de nossas escolas.
Um compromisso que se impõe à educação é que seus envolvidos
precisam estar prontos para compreender as novas maneiras de trabalho e de
formação, ainda que a novidade possa estar fora das instituições de ensino
tradicionais. Acreditamos que exista uma necessidade de se adotar novas
metodologias de ensino, com profissionais, se possível, à frente dos modernos
suportes pedagógicos, verdadeiros aliados para a aprendizagem. Como aponta
Pierre Lévy, “cabe aos sistemas de educação implantar procedimentos de
reconhecimento dos saberes e savoir-faire adquiridos na vida social e
profissional” (2009, p.175).
A pós-modernidade, ou a “modernidade liquida” pensada por Zygmunt
Bauman (2006), apresenta como particularidade a inovação tecnológica se
instaurando nos quatro cantos do universo – ainda que existam populações e
lugares salvaguardados da mesma, em seu sentido mais restrito. De tempos
em tempos aparecem notícias de tribos e comunidades que vivem sem os
fastos da era moderna. Chegamos àquela aldeia global, pensada pelo autor
canadense Marshall McLuhan, de forma mais efetiva e contundente. E,
ousaríamos em dizer que aquele “tato ativo” que este teórico refletiu sobre a
televisão, ocorre na mesma proporção, no espaço virtual, por isso, o “meio” é
mais importante que a “mensagem”. E, como o próprio estudioso sinalizou,
“quando um novo veículo entra em cena é que nos tornamos conscientes das
características básicas dos veículos mais antigos, de um modo que não víamos
quando as coisas estavam acontecendo” (2007, p. 37).
Com o processo ensino-aprendizagem e a utilização das novas
tecnologias postos, o que permeia a discussão entre teóricos da educação,
especialistas em recursos tecnológicos e dos envolvidos diretamente na ação
educacional (seja na esfera escolar e na direção governamental) é de que
forma fazer com que, principalmente, professores – a maioria imigrante digital –
e educandos – nativos digitais – efetivamente encontrem um caminho para a
convivência pacífica e, ao mesmo tempo, os aparatos sejam revertidos em
bônus à aprendizagem.
Neste contexto, não se pode negar que a maior parte dos jovens e
adolescentes conhece e domina a linguagem tecnológica, bem como domina
com facilidade seu aspecto operacional. Porém, não utiliza o espaço virtual
como ferramenta na obtenção do conhecimento clássico, do saber acumulado,
emancipando-se, por exemplo, do domínio e controle tecnológico. A internet
pode potencializar a investigação pelo saber, sobretudo se o professor levar
em conta de que os jovens e adolescentes largamente uso de seu tempo no
ciberespaço. Desta forma, é por meio destes aparatos que a escola deve estar
inserida e fazer com que os bens culturais, que privilegiam o desenvolvimento
humano integral – cognitivo, da ciência e da arte – cheguem até aos
estudantes, de maneira formal, como ferramenta para o ensino dos conteúdos.
Afinal, a escola poderá emancipar, como aludiram Michele Correa Castro e
Valdir Lemos Rios, no artigo “Escola e educação em Gramsci e a educação”:
[...] a educação para ser efetiva deve ter como norte a emancipação como elemento central, bem como considerar as contradições históricas objetivas. Uma formação concreta deve ser aquela que em seu dinamismo exponha as contradições que estão presentes na sociedade (...) A construção de um sujeito crítico e emancipado, por sua vez, passa pelo estranhamento frente ao que está colocado, na compreensão de educação enquanto protesto do particular frente às generalizações, ou seja, um protesto contra a adaptação e contra o conformismo. A educação não deve ser uma modelagem de pessoas e nem a mera transmissão de conhecimentos, mas sim a produção de uma consciência verdadeira, crítica e autônoma (2007, p. 227).
A estudante Mayara Arai nos mostra como isso ocorreu durante o
desenvolvimento do projeto:
Na produção do filme, me senti importante, me senti atriz ao atuar. Algo que nunca imaginei que faria um dia [...]. Vivenciamos o mundo do cinema, desde a criação da história até a gravação do filme. Após a realização do projeto, adquiri outro olhar ao ver uma produção. Não é mais aquele olhar de simplesmente apreciar um bom filme, mas sim um olhar “crítico”, não para julgar o filme. Pelo contrário: avaliar detalhadamente cada cena, cada fotografia, o enquadramento, a forma de gravar, os sacrifícios que tiveram, para no fim ter chegado ao resultado. Tivemos vários aprendizados em um só projeto.
Apesar de inúmeros artigos exporem os relatos dos alunos em anexo,
achamos de extrema necessidade transcrevê-los no corpo do texto, pois não
apenas corroboram ao sucesso do projeto como trilham a sequência didática
apresentada e o envolvimento dos alunos. Além disso, respeitamos a NBR
6028, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, 2003), que prevê
tal esquema textual. Assim, abordemos a colocação de uma das participantes
do projeto de implementação, traduzindo os sentimentos dos demais. Na
manhã de 22 de julho de 2014 os estudantes do 3° B mal permitiram que
houvesse aula, tamanha a euforia manifestada após uma “experiência
inovadora”, como eles classificaram. Seus protagonistas queriam registrar e
contar sobre os momentos vividos, na noite anterior, com a realização do
primeiro Festival de Vídeo Literário da escola e da cidade. Como pontuou o
educando Gabriel de Jesus, autor do conto Assim é o Amor, vencedor de
Melhor Roteiro Adaptado: “Foi um dia inesquecível, que sempre ficará marcado
em minha vida. Resumindo tudo isso, o projeto foi maravilhoso. Sinceramente o
melhor projeto que participei em minha vida. Eu só posso dizer à professora
Nadir um muito obrigado, por tudo”.
De acordo com os docentes, os estudantes discorreram sobre a noite do
festival, das histórias, das atuações, da presença do público, da presença da
imprensa, e do processo que os levou até ali e, a cada lembrança, novos
detalhes eram acrescentados. “No início, não acreditei que chegaríamos tão
longe, ainda mais em uma escola pública, que nos deixa à margem de
realizações. Quer dizer, antes, eu pensava assim. Depois, do trabalho, percebo
que tudo pode ser possível, quando alguém acredita, se empenha e propõe”,
enfatizou Wesley Wisenfath, que também levou sua história, O DNA do Amor,
para o festival, premiado como Melhor Trilha Sonora.
Uma semana após a exibição dos curtas-metragens, o grupo ainda
declarava a importância do projeto. E, nem mesmo a aparição da turma, em
duas redes de televisão, em virtude do trabalho, desviou o foco, como relata
novamente o estudante:
Então quando penso em falar do projeto, fico sem saber por onde começar. Creio que um lado do ser humano é querer mostrar primeiro tudo aquilo que ele mais gostou. E por onde começar quando você gostou de tudo? Foi uma das melhores experiências que tive. Um projeto bem planejado, em que além da diversão consegui levar muitas mensagens para toda vida, mensagens que em uma aula qualquer jamais iria compreender (id.).
Na era digital percebe-se que os nativos digitais conseguem ser ouvidos,
vistos e dialogam se estiverem conectados no ciberespaço. Porém, há como
chamar a atenção deles, em um trabalho de mão dupla, promovendo diálogos
entre a realidade concreta e o virtual, como ocorreu com o projeto em questão.
Dentro dessa tônica, mesclando o saber clássico com o uso de algumas
ferramentas tecnológicas, a rede social Facebook, como metodologia,
adequou-se a esta realidade imperativa e, ao mesmo tempo, contribui para a
disseminação do saber. A proposta pedagógica era fazer com que o estudante
criasse contos literários, buscando o mesmo caminho percorrido pelo romance,
quando surgiu na forma de folhetim. No entanto, usando o ciberespaço como
plataforma de escrita.
Após as proposições didáticas e uso da rede social Facebook, tendo
como foco o processo criativo e o uso das tecnologias, nasceram as narrativas
sugeridas e verificou-se, in loco, a necessidade de uma ação voltada ao
desenvolvimento do pensamento, da percepção e da emoção, por meio das
manifestações artísticas. Afinal, como expõe Roland Barthes, “a literatura não
permite caminhar, mas permite respirar” (1987, p. 72).
Pontualmente, esta proposta de estudo tem a intenção de desenvolver o
gênero textual “Conto” aliado às novas tecnologias, mesmo que a escrita seja
uma das barreiras enfrentadas pelos professores de Língua Portuguesa. A
centralidade é a de mostrar que o material para estas criações precede da vida
em sociedade. Como destaca Bezerra (2002), a realização de trabalhos com
gêneros textuais, na sala de aula, contribui com a aprendizagem da oralidade,
da leitura e da escrita de textos diversos. O desafio era exatamente este: fazer
com que eles pudessem criar, a partir da visão de mundo, de sua realidade, de
suas experiências e bagagem cultural, e transpor esse universo,
compreendendo a arte literária com mais propriedade.
A motivação para este estudo se ampara quando destacamos o que
representa a arte escrita, a arte da palavra, a literatura. Nossa intenção era
fazermos dela nosso objeto de estudo e levar, ainda que fosse a apenas uma
turma de alunos, sua significação no campo das manifestações artísticas. Pois,
como pontuou Afrânio Coutinho, em Notas de teoria literária (1978), citado por
José de Nicola, em Língua, Literatura e Redação, “como toda arte, é uma
transfiguração do real, é a realidade recriada através do espírito do artista e
retransmitida através da língua para as formas, que são os gêneros, e com os
quais ela toma corpo e nova realidade” (1998, p. 15).
Abrindo-se, também para o debate e a percepção de se questionar a
validade dessa manifestação artística, o escritor e jornalista Eduardo Galeano
(APUD NICOLA, id., p. 43) aponta pistas:
Será que as palavras sobreviverão em meio aos adeuses e aos crimes? Tem sentido este ofício [...]. As pessoas escrevem a partir de uma necessidade de comunicação e de comunhão com os outros, para denunciar aquilo que machuca e compartilhar o que traz alegria. As pessoas escrevem contra sua própria solidão dos demais porque supõem que a literatura transmite conhecimentos, age sobre a linguagem e a conduta de quem a recebe, e nos ajuda a nos conhecermos melhor, para nos salvarmos juntos. Em realidade, a gente escreve para as pessoas com cuja sorte ou má sorte se sente identificado: os que comem mal, os que dormem pouco, os rebeldes e humilhados desta terra.
Vale informar que em razão de sermos detentora de apenas um padrão
no Estado, de Língua Portuguesa (que na época estava sob a direção do
CEEBJA Paulo Sérgio Antoniassi, em Paiçandu), o projeto de intervenção não
pode ser aplicado nesta instituição por particularidades da educação de jovens
e adultos. A sugestão da coordenação do Núcleo Regional de Educação foi
que o mesmo ocorresse em contraturno ou nas aulas extraordinárias. Além
disso, além de o fato de poder ser aplicada não apenas na disciplina de Língua
Portuguesa, a intervenção se deu em Arte, pois os conteúdos, materiais e as
ações pedagógicas não teriam nenhuma modificação.
Desta forma, o trabalho efetivamente teve início no dia 10 de fevereiro
de 2014, às 7h30, com a explanação Do Folhetim às Redes Sociais: a criação
de contos literários no Facebook à turma do terceiro ano. Inicialmente, um
espanto natural, curiosidade, aliados à preguiça pedagógica e,
paradoxalmente, ao entusiasmo.
De acordo com a produção-didática, o projeto contemplaria quatro
módulos, com as mais diversas ações, com leitura de contos de autores
nacionais, filósofos, letras de músicas, notícias de jornais e peças de teatro
adaptadas para a linguagem cinematográfica, com o intuito de sensibilizar o
estudante a perceber o homem universal, que está dentro de cada um de nós,
que tem sentimentos, emoções, desejos; seu maniqueísmo, sua brandura, seu
racional, seu irracional, na pós-modernidade ou em qualquer outra época.
Na exposição do projeto o que mais chamou a atenção de um grupo,
inicialmente, de 36 educandos – terminando com 33, com a transferência de
três deles – seria o uso do Facebook, com perfis falsos e no anonimato,
inclusive para mim. Aqui, houve a explicação sobre os pseudônimos que
muitos escritores e outros artistas fazem uso, com destaque para o surgimento
do romance. Um dos estudantes, Douglas Bernardino, 16 anos, novo na turma,
recém chegado de outra cidade, espantou-se e indagou: “Vamos poder usar o
Facebook? Na outra escola, nem podíamos usar o celular. É isso mesmo?”
Após as orientações gerais, com a apresentação do vídeo O herói de
Dolores (2010), um curta produzido por estudantes de Paiçandu, eles iniciaram
o processo de escolha dos pseudônimos para a criação do perfil, na rede
social, e souberam da página relacionada ao projeto, intitulada Do Folhetim às
Redes Sociais – notadamente a plataforma de apoio ao trabalho. A solicitação
era que os autores usassem um nome brasileiro, para marcar nossa identidade
e cultura. No entanto, movidos por inúmeros argumentos, sobretudo o que “o
uso de pseudônimo pressupõe particularidade e identidade pessoal”, os alunos
pediram que na escolha “não houvesse censuras”, como ressaltou a estudante
Lais Machado Martins.
Tal resolução aparentou eficiente, evocando ganho extra ao trabalho.
Nas duas primeiras semanas adicionamos os perfis fakes aos nossos perfis
públicos. Nomes de personagens de cinema, da literatura, como Capitu; das
histórias reais, como Jack Estripador; pintores, como Frida Kahlo, Picasso,
Micheangelo, Leonardo da Vinci; e personagens de desenhos animados, como
Bob Sponja foram alguns dos pseudônimos escolhidos. Lembrando-se que
grandes escritores da literatura mundial sempre se utilizaram de pseudônimos,
a exemplo do Nobel de Literatura de 1971, o chileno Pablo Neruda (cujo nome
factual era Ricardo Reyes Basoalto) e do cronista brasileiro Stanislaw Ponte
Preta (Sérgio Porto).
2. Metodologia de trabalho
Seguindo-se a explanação da metodologia de trabalho, concomitante às
ações do projeto e à produção, os estudantes deveriam ainda participar de
conversas, na rede social, com a docente e os demais integrantes. Registra-se
que esta atividade motivou e deu vida ao trabalho de intervenção. Nas aulas, o
assunto era o ser humano, revelado pela literatura, pelas artes visuais, pelas
notícias cotidianas; e no “bate-papo” os temas eram retomados, com
abordagens a partir das discussões de sala e a inclusão de novos elementos.
Um dos desafios era que ninguém fosse revelado, principalmente, à
professora:
O cuidado era dissimular para que a professora não desconfiasse quem nós éramos. E, às vezes, isso se tornou difícil, principalmente quando ela questionava algumas coisas ou quando tentava nos enganar, perguntando é você, colocando o nome de outros estudantes da sala, no momento do bate-papo. Ou chegando, na sala, e perguntando fulano de tal está presente? Tínhamos medo de nos trairmos. Muito bom! (Thalya Costa, 16 anos). Ao criar o pseudônimo do Facebook, não só eu, mas creio que toda turma veio a se aproximar – uma maneira muito boa de conhecer quem está ao nosso lado (Wesley Wisenfath, 16 anos). A primeira parte proposta, pela professora Nadir, foi a criação de um pseudônimo – uma proposta muito interessante. Logo após, pediu que criássemos um Facebook falso, com o nome do pseudônimo. E, o melhor, tínhamos que evitar que ela (a professora) descobrisse. Tivemos que mudar a personalidade, para não sermos descobertos (Herick Fernando Borgo, 16 anos). Minha mãe até chegou a questionar: que professora é essa que ensina vocês a mentir? Depois, compreendeu o propósito. E não é que nem mesmo ela descobriu quem eu era? Dei um jeito de fazer com que acreditasse ser a Nayara e acabei
enganando-a, embora esse fosse um dos objetivos do trabalho (Allan Bruno, 19 anos). No meu caso, foi mais difícil ainda. Ela (a professora) dizia que quem havia escrito Experiência 1054 era um homem. Que homens falam pouco. Tive que me conter para ela acreditar. Fez perguntas sobre algo que escrevi, pois queria a comprovação científica sobre uma propriedade da banana. (Nayara Santos, 16 anos). Ela (a professora) me descobriu na primeira vez em que nos falamos, via Face. Segundo ela, embora tenha tentado me desvencilhar, era devido ao que postava em meu perfil. Mas ela não abriu para ninguém e tratou o fato como se não tivesse descoberto (Murilo Neth Souza, 16 anos). Uma noite na fogueira, uma aventura. Fomos observar as estrelas, divertimo-nos muito, fizemos uma roda ao redor dela. Cantamos músicas, conversamos. Não é qualquer professor que pega todos os alunos e leva para um passeio à noite, em um sítio, e fica responsável. Algo muito diferente mesmo. E, além de tudo, contamos as histórias que inventamos como pessoas fakes (Cleverson Rodrigues, 17 anos). [...] em um processo diferente, fizemos os pseudônimos e ninguém sabia quem era quem. Isso fez com que o projeto se tornasse mais divertido (Renan Alves Chavier, 17 anos). Adorei muito esse projeto, pois não foi “qualquer coisa” que nos foi passada, sem objetivos. Percebi que tudo foi pensado, nos seus mínimos detalhes, desde a criação dos pseudônimos até chegarmos ao festival. Isso é de enorme importância, pois sei que tudo aconteceu depois que a professora Nadir passou noite e noites pensando em nossas aulas práticas. Admiro esse empenho, pois ela saiu da mesmice e resolveu inovar, criar algo diferente. Fomos muito felizes com essa inovação, tão diferente que acabou sendo o primeiro festival em nossa cidade (Wesley Henrique, 17 anos). Particularmente, não gostei da ideia proposta pela professora Nadir, em criar histórias, para depois virar curtas para o festival. Achava que seria tudo muito cansativo e daria muito trabalho. Mas esse pré-conceito mudou, pois comecei a pensar um pouco mais na ideia e a achei maravilhosa, porque já estava cansado de trabalhos comuns, sempre com as mesmas formas. Gostei muito das partes das gravações porque foram engraçadas e ao mesmo tempo todos do grupo se mostraram responsáveis, apesar de algumas intrigas. No final, o resultado foi ótimo. A noite do festival inesquecível e, ganhar o prêmio de Melhor Diretor, com tantos concorrentes ótimos, foi algo que não me esquecerei (Murilo Neth). Foi uma experiência inesquecível, que nunca pensei um dia vivenciar. Seria ótimo se esse projeto fosse implantado nas escolas, pois, eu como Jorge, da história Experiência 1054,
pude explorar um lado meu que até então estava escondido. [...]. Sou muito grato, por tudo que aprendi e vivenciei [...]. Mas, talvez a melhor noite foi a da premiação: ver que todo o projeto tinha dado certo e todos estavam felizes. E, creio que muito mais está por vir [...], pois da mão e mente de Nadir Alves vêm coisas maravilhosas (Jhatniel Figueiredo).
Desta forma, seguiu o trabalho de criação de perfis falsos, criação das
narrativas – ação que tomou os três módulos iniciais, postagens para a
professora, para que houvesse a reescrita da produção textual, assim como as
prosas e ações pedagógicas (em sala e fora dela). Destaca-se que a maioria
da turma cumpriu os prazos estabelecidos e apenas uma estudante não
participou das atividades na rede social, por questões pessoais, como religião e
problemas emocionais. Deve-se informar que esta exceção foi previamente
acordada com a aluna e sua família. Porém, ele não ficou completamente de
fora, desempenhando a tarefa de criar a narrativa e de tomar parte na maioria
das ações.
Orientados pelas proposições, os alunos compreenderam que o artista
literário cria ou recria um mundo de verdades não mensuráveis pelos mesmos
padrões das verdades fatuais. Os fatos que manipulam não têm comparação
com os da realidade concreta. São as verdades humanas gerais que traduzem
antes um sentimento de experiência, uma compreensão e um julgamento das
coisas humanas, um sentido da vida, e que fornecem um retrato vivo e
insinuante da vida: “A Literatura é, assim, vida, parte da vida, não se admitindo
que possa haver conflito entre uma e outra. Através das obras literárias,
tomamos contato com a vida, nas suas verdades eternas, comuns a todos os
homens e lugares, porque são as verdades da mesma condição humana”
(NICOLA, 1998, p. 52).
Motivados pelos enredos da própria literatura, cinema, lendas urbanas e
reportagens jornalísticas, com o real e o fictício, os estudantes tiveram a
oportunidade de desenvolver narrativas, de cunho literário, usando os
pseudônimos, como fizeram nossos representantes arcadistas, bem como
revivendo a época dos folhetins, na França e no Brasil. Pela nossa época,
acabamos intitulando as narrativas como os "Folhetins digitais".
No primeiro módulo, ganharam destaque a peça Romeu e Julieta, de
William Shakespeare; o caso Eloá Pimentel e Lindemberg Alves, por meio da
notícia impressa e fotos do caso; bem como a lenda Aiaxoga, Surucuá – Uma
Narrativa Suruí – “notícias reais” por eles conhecidas. Um trabalho permeado
pela participação acalorada, recheada de debates e discussões acerca de
quem é o homem, de onde viemos e para onde vamos, se somos bons ou
maus. E, para estimular ainda mais a discussão, a abordagem incidiu com uma
“contação” de lendas urbanas, iniciando com a distribuição da história de Jack,
o Estripador. Eis uma das atividades que mais aguçou a participação do grupo,
pois os alunos trouxeram as mais diversas lendas, causos e momentos reais,
nesse campo, evocando a infância, filmes, histórias próximas da cidade e os
mais diversos “causos” (trazendo parte de conversas com pais e avós e dos
amigos imaginários).
O objetivo era fazer com que o estudante percebesse também o campo
imaginário, levando-o a compreender que histórias, reais ou fictícias, dão conta
do que é feito o universo humano: amor, dor, alegria, tristeza, tragédias,
emoções, saudade, paz, confiança, discernimento, perda, mesmo na era da
cibercultura e do ciberespaço. Era condição sine qua non, nessa exposição,
mostrar que, por mais que a humanidade tenha avançado em campos
tecnológicos, a essência humana é de alma, espírito, sentimento, emoção, a
partir daquele homem pré-histórico, que deixou nas pinturas rupestres, feitas
nas paredes das cavernas, o interior humano.
Ainda neste módulo, os estudantes puderam visitar o jornal maringaense
“O Diário do Norte do Paraná”, com monitoria e preleção do editor-chefe do
órgão. Na ação, perceberam o valor do próprio estudo, do conhecimento, da
responsabilidade de uma notícia, de nossas escolhas, a função social de um
órgão de comunicação e quem é o ser humano – tão preconizado na literatura
e nas artes. De fato, os trabalhos que permearam a semana se deu com o
Poema tirado de uma notícia de jornal, de Manuel Bandeira; das obras Alegoria
da vida humana (Ticiano), Alegria de viver (Matisse), O pensador (Rodin),
Autorretrato de Van Gogh (com a orelha decepada); e um depoimento da
docente, em sua primeira cobertura de um assassinato.
Tais atividades promoveram a discussão de que muitas histórias
poderiam ser contadas pela ótica da arte literária. A tarefa oportunizou vazão
aos educandos, mostrando que diariamente muitas histórias são contadas, nos
meios de comunicação, pelo viés jornalístico, sendo que algumas nos chocam,
outras nos causam horror, outras nos comovem, outras nos fazem rir, outras
nos fazem até mesmo chorar. É parte da essência do homem, porém, não em
sua totalidade. O recorte da realidade, das reportagens dessa natureza, não
nos leva a conhecer, de fato, realmente os fatos, as motivações, as maldades
de um ser humano, os atos, as alegrias, as tristezas de um homem ou uma
mulher, por exemplo, que se entregou aos vícios, como o personagem João
Gostoso, do Poema tirado de uma página de jornal, de Manuel Bandeira.
A partir deste trabalho, os estudantes passaram, a cada semana, a
trazer histórias reais que lhes chamavam a atenção, para que, pelo menos,
fossem comentadas. Todos começaram a se posicionar diante de alguns
acontecimentos. Mesmo não constando como parte integrante da produção-
didática, a canção Cristo de Madeira, de Ana Carolina, além das duas outras
que já estavam contempladas, fez com que alguns mudassem de opinião
quanto à punição de alguém que tenha cometido algum crime. Constatou-se
também uma maior aproximação da turma, de forma mais intensa, preparando-
a para a produção textual. O caso do garotinho Bernardo, filho de médico e
morto pela madrasta repercutiu com as opiniões díspares, permitindo um novo
olhar sobre a sociedade, como enfatiza o estudante Wesley Wisenfath:
As bases para a criação das histórias foram incríveis. Destaco poder conhecer o jornal, conhecer as pinturas e acima de tudo saber que em cada história literária, em cada página de jornal, em cada foto, em cada pintura, seja ela um risco ou uma paisagem, lá está o ser humano. E, a partir desta compreensão, o mundo se torna outro, a visão de escrita é outra. Uma bagagem que, além de ajudar a montar as histórias, pode nos mostrar como conhecer o próximo. Além de tudo, trabalhou questões que, ao realizarmos uma prova de vestibular, ficou fácil compreendê-las.
No segundo módulo da produção didática, os estudantes continuaram a
criação de seus enredos. Nesta etapa, foram estudados o vídeo Crianças que
leem clássicos, retratando Sonho de uma noite de verão, de Willian
Shakespeare; assim como contos Dois Velhinhos, de Dalton Trevisan e O
enfermeiro, de Machado de Assis, com destaque para o conhecimento e
importância desse autor brasileiro, com materiais escritos e de vídeo. A
produção investigativa e ocultação da personalidade “real” de cada um foram
instigadas por trechos de A arte de insultar, do filósofo Arthur Schopenhauer.
E, para completar, na Sessão Pipoca, os alunos assistiram aos vídeos O
contador de estrelas, de Casos e Causos, Revista RPC; É dando que se
recebe, de José Roberto Torero; o curta Eu não quero voltar sozinho, de Daniel
Ribeiro; a adaptação de A cartomante, de Machado de Assis, exibida no
Festival de Jaguatirica, em 2012; e O beijo no asfalto (1981), baseado na obra
homônima de Nelson Rodrigues, dirigido por Bruno Barreto.
Ressaltamos que todos os textos levaram os estudantes a debater, a
compreender e a falar do homem, porém, em O beijo no asfalto, o
posicionamento de Schopenhauer e de Machado de Assis – nosso ícone –
serviram como um divisor de águas. Em todos eles, ainda que trabalhados
artisticamente, tivemos que ponderar, explicar, esmiuçar, pois a abordagem
desses materiais poderia chocar um ou outro aluno, em virtude do meio em que
vivem, de suas crenças e valores. Nesta parte, devemos salientar que, mais do
que ter conquistado a turma com os pseudônimos e a rede social, os alunos
amadureceram no processo. Para a educanda Nayara Caroline de Souza
Santos, a leitura, nesse caso tornou-se essencial:
Do folhetim às Redes Sociais nos proporcionou momentos incríveis. Todo conhecimento foi enriquecedor para os indivíduos. Não podemos esquecer a importância da leitura – estudos comprovam que a criança que lê desde pequena tem muita facilidade de aprender. A leitura literalmente deixa o ser humano rico. A pessoa que tem um hábito constante de ler está mais preparada para os estudos, ao trabalho, desenvolve melhor comunicação em sociedade, é auxiliada na escrita correta das palavras, entre outros benefícios. Ficou evidente que o método da leitura é essencial para que se possa desabrochar a criatividade dos alunos. No nosso caso, desabrochamos no momento de criação das histórias, apresentadas ao decorrer das atividades curriculares do semestre.
No penúltimo módulo, as expectativas aumentaram, pois, ao final dele,
saberíamos quem eram os escritores, quem eram os românticos, os cruéis, os
que gostavam de terror, do sobrenatural, do inusitado. E, aqui, algo tomou um
brilho novo, maior. A primeira narrativa passada, pelo pseudônimo Bob Sponja,
causou um frenesi na turma, pois, a docente falou sobre a história e os
estudantes se entusiasmaram. O conto narra a história de amor entre dois
jovens, amigos de escola, que se reencontram já na época de faculdade. Ela,
romântica, amava-o desde a adolescência e descobre o amor, em uma noite
enluarada, com palavras doces e calientes. Naquele mesmo dia, intervi
mostrando que a história fazia parte da realidade do ser humano, revelando
outros autores que fizeram e fazem isso, sem constrangimento. No bate-papo,
no Facebook, e na Fan Page, parabenizamos a narrativa para o pseudônimo,
encorajando-os às demais atividades. A atitude fortaleceu o grupo e a própria
autora:
Eu sempre gostei de histórias e ter a liberdade de criar uma, foi incrível. E ao ouvi-la, sendo lida por um colega, sem que ninguém soubesse o autor, emocionou-me. Com essas histórias, a minha e de meus amigos e colegas, podemos ver o pensamento do autor. Desde o início, apesar de tudo que falaram, mas, de forma positiva, a minha chegou a ser uma das mais votadas. Depois, ficaram com medo de como seriam as gravações e ela não foi escolhida pra ser gravada, mas não fiquei triste, porque todas ficaram maravilhosas e cinco foram selecionadas. Eu me emocionei com cada uma (Mayara Arai, 16 anos).
Após, a leitura e comentários da docente de outras histórias, novo
pedido do grupo: os contos não poderiam ser lidos, em sala, para depois
postarem? Uma comprovação de que o ser humano se encanta com histórias,
independente de momento histórico e do aparato tecnológico. A partir desses
momentos, com a leitura e discussão das narrativas, eles ficaram mais
próximos e demonstraram mais coragem para escrever e se expor, ainda sob o
anonimato, conforme os comentários. Na maioria das histórias, ouvia-se
apenas o respirar. De alguma forma, ficou patente que narrativas prendem a
atenção do ser humano e que a escola, talvez, não use este instrumento
pedagógico como deveria.
Na segunda ação pedagógica, dando sequência aos estudos literários e
de sensibilização do universo humano, os estudantes conheceram uma das
principais obras do ultrarromantismo brasileiro, Noite na taverna, de Álvares de
Azevedo. Tal escolha, acertada, ocorreu porque a obra e seu momento
histórico expressam os sentimentos humanos à flor da pele, com intensidade,
numa demonstração de escolhas, decisões e vivências extremas. Logo após a
leitura e o estudo dos contos, os educandos, em grupos, prepararam a
encenação das histórias. Antes, no entanto, tiveram que elaborar e montar a
arte, com fotografia P & B, de divulgação da peça. Um trabalho primoroso pela
maioria, que, inicialmente, ficou espantada com as revelações das situações
dos contos. Porém, desenvolveram trabalhos enriquecedores, com as
adaptações, para a linguagem da arte dramática. E, ressalta-se que ficaram
perplexos, inicialmente, com os enredos, assustando-se com o que podemos
vir a cometer. Isso deu margem a diversos comentários e exemplos nas
semanas seguintes.
A atividade de revelação Então é você?, a princípio, seria realizada em
uma roda de leitura, na biblioteca da escola, com imagens das obras de arte,
histórias, fotos e de outros materiais estudados e trechos dos enredos
produzidos, pelos alunos. A recepção ocorreria com Carmina Burana – O
fortuna (Carl Orff – André Rieu). Eles trariam suas produções e objetos para a
caracterização dos personagens, em uma bolsa, para o momento em que se
revelassem. No entanto, a prosa tomou outro rumo e a partir dos trabalhos a
ideia encampada entusiasticamente por todos – apenas duas alunas não
estiveram – era de que a revelação se desse em um sítio, à noite, em volta de
uma fogueira. Uma das motivações seria o vídeo de Casos e Causos e o
homem ancestral da pré-história, que nos contemplou com o fogo.
A ideia teria, primeiro, que ser aprovada pela equipe de direção e
pedagógica da escola. Em seguida, era necessário explicar a didática aos pais,
que jamais tinham ouvido na história do Colégio Estadual Paiçandu algo
semelhante. Vencidos os primeiros obstáculos, em uma reunião de pais, em
maio, os detalhes foram repassados. Nessa manhã, a universitária Ana
Carolina Costa, irmã da estudante Thalya Costa, pediu para falar com a
professora sobre o projeto. Nesse momento, houve um desconforto, pois como
já se estava explicando a atividade e se aguardava a liberação e o
consentimento dos pais, pensou-se que os comentários seriam contrários ao
trabalho. A surpresa se deu com um cumprimento pela iniciativa:
Quero parabenizá-la, professora, pelo projeto. Estudei aqui e nunca pude ver, presenciar e mesmo participar de um evento dessa natureza. Sei de cada detalhe do trabalho, pois, minha irmã me conta tudo. Não poderia sair, desta reunião, sem mencionar isso. Parabéns e continue com iniciativas como esta. Quem ganham são os alunos. Estou fascinada.
A fala de alguém de fora, jovem, estudante do estabelecimento em anos
anteriores, deu-nos um alento que, no momento, o agradecimento cedeu lugar
a algumas lágrimas: estávamos aprovados. Embora em relatos acadêmicos e
artigos certas manifestações e opiniões não sejam contempladas, importa aqui
relatarmos nossa posição psicológica, pois ela é mais um indício do que a
apropriação e eventual reprodução do projeto vieram a provocar.
3. Sequência didática: uma noite para ficar na hist ória
Após todos os cuidados necessários, a noite chegou. Para que tudo
saísse a contento e com segurança, tivemos a participação fundamental dos
pais de Gabriel de Jesus, os senhores, que prepararam a fogueira e o local.
Um dia antes, visitamos a propriedade e discutimos como se daria. Assim,
entre 20h e 2h da madrugada, vivenciamos uma experiência única – os trinta e
três estudantes, além de uma equipe de apoio e do fotógrafo Victor Knabben,
que conheceu a turma, no processo, e passou a fazer parte do projeto. Lá
conhecemos a identidade dos pseudônimos, as histórias, além de trocarmos
assuntos pessoais. Conversas paralelas, vidas pessoais, divisão de sonhos, de
expectativas. Eis alguns relatos:
Foi uma noite incrível. Nós pudemos conhecer um ao outro, nessa noite. Nós nos desligamos totalmente da cidade, onde nem celular pegava, já que este era o propósito (Wesley Wisenfath). A gente aprendeu do que o ser humano é capaz de fazer em benefício próprio e pro outro, como é que ele se sente feliz fazendo isso (Jhatniel Carrasco Figueiredo).
Com as revelações, chegava o momento de escolhermos as histórias.
Preponderaram os comentários, as defesas, as argumentações, os contra-
argumentos e inúmeras reflexões, como lemos em depoimento: “Nossas
histórias poderiam estar nestes meios, na literatura, nas telas. Descobri, aos
doze anos, que meu pai era homossexual e morava com outro homem. Até
então, não compreendia o silêncio de minha mãe. Era uma vida normal, pois,
ele morava em outra cidade e quando o via, sua condição era ocultada. Enfim,
somos humanos. E o projeto é uma mostra real do que somos”, destacou a
vencedora do prêmio de Melhor Atriz no festival, Lais Martins Machado.
Independentemente das narrativas selecionadas, para o estudante Paulo
Cesar, a inovação tornou-se um desafio:
Uma experiência produtiva e importante para a vida de cada participante. Acredito que esse tipo de atividades, como a fogueira e o festival, na grade escolar, promovem uma visão aquém do que possamos imaginar. [...] Foi o maior desafio que já tivemos no Ensino Médio: produzir um curta-metragem, com nossas próprias histórias – um desafio e tanto, mas, que surpreendeu a todos, mostrando a união e o companheirismo da turma, com um estudante colaborando com o outro, independente do grupo em que estava. É por este motivo que este projeto se tornou tão especial na vida de todos.
Finalmente, no último módulo, as narrativas ganharam uma nova
linguagem, a cinematográfica. E, mesmo elogiando e votando em 15 delas,
com esforço chegamos a apenas cinco narrativas, conforme previsto no projeto
inicial. Para que houvesse uma disputa justa, a professora só ficou à frente na
separação das equipes, para a adaptação e produção dos roteiros. A
interferência se fez necessária para que ninguém se sentisse prejudicado nas
atuações. De maneira democrática, eles próprios se escolheram, porém, de
forma que houvesse uma mescla de talentos. Assim, revezamos os escritores,
neste momento de escolha, sendo que todos tiveram a oportunidade de
contemplar um grupo heterogêneo de trabalho:
E, essa atividade, especialmente, acabou sendo divertida porque não fomos nós quem montamos os grupos, mas, a professora. Com isso, ela proporcionou uma aproximação com toda a turma. Se antes pouco nos falávamos, acabamos nos tornando próximos. E com este projeto até conseguimos alcançar nossos 15 minutos de fama, com a apresentação no salão da igreja, para cidade toda ver. Até duas emissoras de TV vieram nos prestigiar (Renan Alves Chavier).
Em seguida houve a escolha do nome do evento: 1º. Festival de Curtas
Do Folhetim às Redes Sociais. E como o Colégio Paiçandu apresenta sua
grade curricular do Ensino Médio organizada em Blocos, o semestre se
encerrou no dia 30 de julho (porém, com o recesso coincidindo com as
finalizações das produções). Por tal motivo todos os curtas foram gravados no
período de férias, concomitante à Copa do Mundo de Futebol. Um período de
recesso que se traduziu, entretanto, em muito trabalho.
Foram horas e horas de gravações nos mais diversos lugares, como no
próprio ambiente escolar, no aeroporto de Maringá, em três propriedades rurais
de Paiçandu – noite e dia –, em um clube, em ruas, hotéis, nas residências dos
estudantes e até mesmo no cemitério. Manifestou-se o desejo de cenários e de
elementos dos mais plurais que pudessem dar vida e vazão às narrativas: a
busca por um piano, de um cavalo numa manhã fria, de uma casa de fazenda,
de um porão, de uma casa abandonada, de um telefone sem fio.
Por questões metodológicas, quando se trabalha com adolescentes, é
dever do docente acompanhar, conforme em Brookfield & Preskill (1999):
[...] a avaliação requer perspicácia daquele que a apresenta e precisa ser baseada em observações minuciosas, respeitosas. Se isso for respeitado, o nível de confiança entre os participantes tende a aumentar e tornar-se significativo para o crescimento não só do participante, mas também da comunidade que está em busca de se democratizar (apud NININ, 2009).
Eis um dos diferenciais do projeto. E como todas as equipes teriam de
gravar os curtas, respeitou-se um cronograma para que a professora estivesse
presente, não apenas fisicamente, mas proporcionando certos objetos,
estrutura e ainda atuando como “motorista”, juntamente e com a concessão
dos pais. Uma das histórias era de terror e o cenário, em um determinado
momento, teria de ser em uma plantação de milho, à noite. Como não
acompanhar?
Registra-se a colaboração dos familiares e de pessoas da comunidade
que tiveram a sensibilidade do olhar diferenciado ao projeto. A senhora Eliane
Rocha – a proprietária do piano e do vestido usado pela personagem de Assim
é o Amor, salientou: “Muito feliz ficamos ao ver as pessoas chegando, no salão
paroquial, para o evento [...]. Parecia uma noite de gala, de festa, de
casamento, em nossa cidade”.
Assim, no dia 21 de julho, numa integração entre estudantes, escola,
professores, famílias, em um espaço cultural de Paiçandu, a comunidade
escolar se viu acompanhada de inúmeros membros da sociedade e de equipes
de jornalismo relevantes no cenário das mídias locais. O presidente do
Legislativo do município, Diego Mateus Sanches, destacou que o grupo estava
com “muito prestígio”, pois, em quase dois anos a emissora que televisionou o
evento teria comparecido uma única vez na cidade quando se aventou a
possibilidade da cassação de um mandato. Ele chegou a se entusiasmar,
verbalizando que para o próximo ano o evento passasse a ser em nível
municipal.
Durante o processo, principalmente, para a apresentação do festival,
houve a necessidade de gastos com som, locação de telão e outros aparelhos
eletrônicos necessários, decoração do local, troféus e compra de medalhas.
Essa última não havia sido prevista no projeto, no entanto, no decorrer da
implementação, pelo engajamento, participação e empenho do grupo, pensou-
se em algo que os estudantes pudessem levar para a vida toda. Desta forma, a
medalha tornou-se um símbolo, constando o nome do projeto (incluindo-se
PDE-2013) e o nome da cidade. No total, houve o investimento do bolso da
própria docente.
E embora os resultados positivos apareçam no item Considerações
finais, vale destacar que cada centavo gasto no projeto foi aproveitado. Basta
continuarmos analisando os relatos, como o de Mayara Arai, vencedora do
prêmio de atriz coadjuvante. Para ela, o trabalho saltou os muros da escola.
Atribuiu a isso o envolvimento da família, que compareceu à premiação, depois
de ter contribuído com todo o suporte necessário:
Tivemos vários aprendizados em um só projeto. Vamos usar isso em nossa vida, no dia-a-dia. E acabamos colocando em prática esse aprendizado. Tudo o quê a Nadir proporcionou, da coisa mais simples à mais complexa, foi útil para todos, não só alunos, mas também aos amigos e familiares. Por isso, um projeto magnífico. Ações como esta possibilitam pessoas se unirem, tímidos se abrirem, e o mais importante: alguns descobriram seu talento. Uns continuarão escrevendo, uns fotografando, outros atuando. Isso é ótimo nas escolas, porque é forma de descobrir nosso caminho depois de sair do colegial, e já sair sabendo pra onde ir [...].
Considerações finais
O ensino da Língua Portuguesa, em especial da arte literária, tem como
uma de suas premissas levar o estudante não apenas ao ato de ler, mas a uma
vivência humana a partir das histórias, compreendendo o homem e suas
relações com o mundo. Antonio Candido enfatiza: “a literatura não corrompe
nem edifica, mas humaniza em sentido profundo, porque faz viver” (2000, p.
26). Na era digital, numa época marcada por transformações constantes, forma
de vida acelerada, com o avanço cada vez mais rápido da tecnologia, percebe-
se que os nativos digitais conseguem ser ouvidos, vistos e dialogam se
estiverem conectados no ciberespaço:
Inicialmente nem todos os alunos se simpatizaram com a ideia. Mas, no decorrer do projeto, fomos ficando empolgados, felizes. A escola pública deveria aplicar esse tipo de eventos, pois estimulam os estudantes em vários aspectos, aumentando suas capacidades de comunicação, trabalhando a timidez e diversas outras áreas. (Lais Machado).
Deste modo, a educação precisa, com os saberes clássicos e
acumulados, como é o caso da literatura, adequar-se a esta realidade
imperativa, fazendo uso das ferramentas tecnológicas existentes e contribuir
para a disseminação do saber, do conhecimento. Se antes não dispúnhamos
destes aplicativos, a atualidade aponta que a educação deva estar com seus
educandos, interagindo no ciberespaço.
O intuito era a buscarmos uma abordagem para o ensino-aprendizagem
da arte da palavra, neste tempo de homens cibernéticos, explorando a
literatura, as artes visuais, as lendas urbanas, as matérias jornalísticas e as
narrativas da vida cotidiana da sociedade, com leitura e escrita, subsidiando o
estudante para a criação de contos a partir destes enredos. É deste homem
universal, de suas angústias, fontes de prazer, alegria, desvios que se deseja
instigar no educando o prazer pela literatura, pois, por mais que a evolução
tecnológica avance, a cada centésimo de segundo, suas relações com o outro
são frutos de sua vivência, com o seu tempo.
Afinal, por mais que o homem esteja acontecendo e vivendo no
ciberespaço, é no espaço concreto que ele se faz e transporta seu ser para o
virtual. Trazemos para reflexão o que Guimarães Rosa escreveu sobre a
espécie humana, por julgarmos ser a mesma leitura, que “[...] não do ponto de
vista filológico e sim metafísico, no sertão fala-se a língua de Goethe,
Dostoievski e Flaubert, porque o sertão é o terreno da eternidade, da solidão
[...]”. Ele continua: “No sertão, o homem é o eu que ainda não encontrou um tu;
por ali os anjos e o diabo ainda manuseiam a língua” (1988, p. 142).
O teórico José Neto Moran defende uma postura de compreensão desta
realidade de “manuseio da língua” em uma nova era, incorporando-a à escola,
chamando-os envolvidos no processo educacional a uma nova forma de ação:
“A educação escolar precisa compreender e incorporar mais as novas
linguagens, desvendar os seus códigos, dominar as possibilidades de
expressão e as possíveis manipulações”. Ele prossegue: “E é importante
educar para usos democráticos, mais progressistas e participativos das
tecnologias, que facilitam a evolução dos indivíduos (in MARCONI e PULGA,
apud MORAN, 2000, p.36).
Os alunos manifestaram consciência “progressista” e “participativa” com
relação às novas tecnologias, como lemos no relato a seguir:
Foi incrível ter feito parte desse grupo. Desejo que muitas pessoas um dia possam compreender a arte como eu compreendi, que tenham a experiência de sair desse mundo de alienação das mídias, de etnocentrismo e passem a enxergar o que está ao lado. Nadir, te parabenizo por esta tão bela obra, não é qualquer um que consegue conquistar tanto seus alunos, nunca tive uma aula tão boa a ponto de fiar ansioso para ter a próxima. Dizem que cada um que passa em nossa vida tem uma missão, mas para mim não é qualquer um que consegue ser capaz de realizar essa tarefa tão bem como você. Valeu por tudo e saiba que sinto e sentirei muita saudade daqueles momentos que marcaram tanto minha vida. (Wesley Wisenfath)
O escopo é que os estudantes perceberam que a realidade que nos
cerca, na qual estamos inseridos e imersos, é objeto para as narrativas
literárias. Reportagens e matérias jornalísticas, de qualquer meio de
comunicação, poderiam ser contadas e vistas pela ótica literária, como fez e
transpôs o dramaturgo Nelson Rodrigues (1994) em suas tragédias e peças
teatrais, ressaltando-se, por exemplo, O Beijo no asfalto, que para a linguagem
teatral converte em outro fato um acontecimento, porém, tão real quanto à
ficção. É o que descreve Afrânio Coutinho:
[O autor] passa, então, a viver outra vida, autônoma, independente do autor e da experiência de realidade de onde proveio. Os fatos que lhe deram às vezes origem perderam a realidade primitiva e adquiriram outra, graças à imaginação do artista. São agora fatos de outra natureza, diferentes dos fatos naturais objetivados pela ciência ou pela história ou pelo social (apud NICOLA, id., p. 53).
Após concluir o projeto, depois de estudar, explorar, ler, escrever, a
pergunta apresentada, no início, ‘’Quem é o homem?’’, faz-me acreditar que a
mente humana, que o homem, é movido por emoções e sentimentos, podendo
então qualquer pessoa chegar ao seu limite e até cometer crimes terríveis
contra seus irmãos. É relativo que algumas pessoas detenham maior controle
sobre si mesmo e outras nem tanto. Como disse Rosseau: “O ser humano não
nasce mau, mas o ambiente em que ele habita influencia na construção de sua
moral e ética”. Esse homem é uma caixinha de surpresa, vai depender da
análise de cada um sobre o seu comportamento na sociedade. A literatura nos
mostra esse universo.
Substancialmente, inúmeros são os relatos sobre a experiência vivida
pelos alunos no projeto. Por isso mesmo impossível ao artigo ignorar ou
dispensar os depoimentos e relatos, de modo que externam as sensações e
sentimentos dos alunos:
O que a professora Nadir Alves nos mostrou com o projeto, é que em toda situação a ser analisada deve-se considerar os dois lados da história. Deixo meu muito obrigado, pela honra de fazer parte dessa experiência linda que foi o projeto Do folhetim as redes sociais, agradecendo a Nadir Alves, professora e jornalista pela total atenção e carinho com os alunos do 3°B. Então quando penso em falar do projeto, fico sem saber por onde começar. Creio que um lado do ser humano é querer mostrar primeiro tudo aquilo que ele mais gostou. E por onde começar quando você gostou de tudo? Foi uma das melhores experiências que tive. Um projeto bem planejado, onde além da diversão consegui levar muitas mensagens para toda vida, mensagens que em uma aula qualquer, jamais iria compreender. Sinceramente, pensei que não fosse dar certo, pois, nunca fizemos algo deste tipo. Nem pensávamos em fazer. Então, começaram as gravações, confusões de horários, tempo, discussões. Enfim, depois de muitas horas, nosso curta estava pronto. E, ganhamos de Melhor Curta. O que posso dizer, acrescentar? Melhor trabalho em anos, pois, aprendemos muito, dos outros, de nós mesmos e do que podemos fazer (Patricia Akemi). Uma incrível e indescritível novidade. Uma atividade totalmente diferente, que nos instigou a querer a fazer algo bonito, digno desse projeto. Uma experiência diferente das atividades normais da escola. Tínhamos vontade de vir à escola. Nunca havia pensado em dividir pensamentos numa fogueira, com meus amigos da escola. Criamos personagens, criamos histórias
sobre eles e demos vida às histórias do festival (Lorena Wolfarth). Saímos todos vencedores, com ou sem aquele troféu. O que ficaram foram as lembranças de algo bem feito. E, espero que não somente eu, mas, outros estudantes possam ter esta aventura, como a nossa, que achei inesquecível (Cleverson Rodrigues, 17 anos). Uma prova de que sonhos precisam de alguém que acredite, para que eles se tornem realidade. E, como um jato em plena decolagem, este projeto passou em nossas vidas e decolou rapidamente, deixando uma bela história. História que teremos orgulho de dizer que fizemos parte, graças à melhor professora de Arte, Nadir Alves. Saiba que seremos gratos eternamente. Valeu por acreditar em nós (Grupo do curta DNA do Amor).
Ao final do projeto, é lícito considerar como resultado o processo de
afetividade: são os sentimentos e manifestações internas que iluminam como
lanterna o projeto educacional que busca por resultados. Esse foi um dos
elementos principais ao analisarmos todo o processo. Por isso, em 2015,
buscaremos patrocínio para levar as narrativas, os folhetins digitais, dessa
turma, para um livro.
Se ficar como um projeto da escola, de alguma escola, ou da cidade,
buscaremos patrocinadores, para incentivo à cultura. E nada melhor do que o
relato de duas mães e do diretor de cultura do município, ao nos parabenizar
pelo trabalho, como prova do sucesso dos resultados:
Professora Nadir, precisamos promover novos eventos como estes, que presenciamos hoje, pois nossos filhos se envolvem, aprendem e poder ver a alegria deles, com prêmio ou sem prêmio (já que essa não era a finalidade do trabalho), é gratificante para todos, principalmente para os pais (Harume Akemi Bolognesi e Maria Aray). Fiquei fascinado com esta noite. Um dia, perguntei a uma professora como se fazia cinema. Ela me respondeu, primeiro com coragem, aceitando as críticas e os desafios. Hoje, vejo estudantes de nossa cidade promovendo algo artístico, muito além de coragem. Uau!! Quantos trabalhos maravilhosos, quantos artistas talentosos, quantos diretores brilhantes, quanta arte! Quanta cultura! Quanta diversão! Parabéns a todos os envolvidos, à amiga Nadir Alves, e a todos os estudantes que desenvolveram estes trabalhos maravilhosos! Parabéns a todos os envolvidos! (Luciano Scuissatto, diretor de Cultura de Paiçandu).
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ANEXO
ICONOGRAFIA
Fig. 1. Aula de Fotografia – Colégio Paiçandu
Fig. 2 e 3. Duas imagens: dia do festival / Após, as premiações
Fig. 4 a 7: Entrega dos prêmios
Fig. 8. Público presente no evento: prestígio
Fig. 9 e 10. Professora Nadir Alves, vestida de Charles Chaplin
Fig. 11 e 12. Troféus aos premiados
Fig. 13. Carinho e amizade entre os alunos
Fig. 14 a 16. As estrelas do evento: os alunos
Fig. 17 e 18. Premiação
Fig. 19. Cartaz de uma das produções
Fig. 20 a 22: resultado de “Noite na taverna”
Fig. 23 e 24: produção de “Noite na taverna”
Fig. 25: gravações
Fig. 26 a 28: Noite na fogueira, sítio nas redondezas de Paiçandu
Fig. 29: Noite na fogueira, sítio nas redondezas de Paiçandu