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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA NA ESCOLA:

UMA INTEGRAÇÃO NECESSÁRIA

Cristina Aparecida Silveira1 Universidade Estadual de Londrina

[email protected]

Dra. Marleide Rodrigues da Silva Perrude2 Universidade Estadual de Londrina

RESUMO

O presente artigo trata de uma questão bem presente na sociedade atual, que é a relação entre a família e a escola. Muito se tem discutido sobre os desafios da aprendizagem das crianças na educação escolar no que se refere às suas causas. Aquela que vem se destacando no discurso dos professores é a participação da família em auxiliar a criança em suas atividades escolares. Embora essa questão seja a mais evidenciada, existem outras que são internas e/ou externas ao contexto escolar, por isso a necessidade de um trabalho da escola junto à família para que essas questões sejam debatidas pela comunidade escolar. Este trabalho se propõe a discutir, refletir e analisar como se processam as relações escola-família no âmbito escolar criando situações didáticas que permitam sua integração, despertando assim o interesse dos pais na vida escolar de seus filhos.

PALAVRAS-CHAVE: Gestão Escolar. Família. Participação. Perspectiva Democrática.

1 Professora PDE. 2 Docente orientadora da Universidade Estadual de Londrina.

1 Introdução

A educação ocorre onde hábitos, costumes e valores de uma

comunidade são ensinados e aprendidos de geração para geração. Ela vai se

desenvolvendo por situações presenciadas e experiências vividas por cada

indivíduo ao longo da vida e em diferentes processos de socialização. Neste

sentido a educação é um processo contínuo de desenvolvimento das faculdades

físicas, intelectuais e morais do ser humano, com a finalidade de melhorar sua

integração na sociedade.

Segundo Brandão (1981), a educação está em todos os lugares e no

ensino de todos os saberes. Assim percebemos que não existe um modelo único

de educação, a escola não é o único lugar onde ela ocorre e nem o professor é

seu único agente. Existem diferentes modelos de educação e cada um atende a

sociedade em que ocorre e pertence, portanto, a educação de uma sociedade

tem identidade própria.

Com isso vimos a oportunidade, por meio do Programa de

Desenvolvimento Estadual – PDE/PR, de problematizar sobre estas questões,

identificando no campo da educação qual o papel da família, principalmente sua

participação na vida escolar, discutindo qual a sua importância no aprendizado

e comportamento do aluno e articulando situações de aproximação entre estas

instâncias, estabelecendo parcerias que contribuam qualitativamente com a

efetivação dos saberes adquiridos no âmbito escolar, buscando uma

aproximação entre teoria e prática para melhorar o relacionamento entre a escola

e as famílias.

Neste sentido, este trabalho objetiva discutir sobre a participação da

família no acompanhamento das atividades escolares das crianças, discutindo o

papel da gestão escolar nesse processo.

Com isso pensamos na criação da “Escola de Pais”3 em uma escola da

rede pública do estado do Paraná. A proposta de trabalho consistiu na abertura

da escola para que os pais acompanhem o desenvolvimento de seus filhos,

3 Ressaltamos que a Escola de Pais é uma experiência de trabalho já existente em alguns Estados e Municípios. Dentre eles destacamos: São Paulo – SP, Praia Grande – SP, Perdizes – SP, São José dos Campos – SP, Curitiba – PR e Londrina – PR.

através da promoção de ações e eventos que requerem a participação ativa da

família. Entre as propostas de abertura estão o incentivo à participação nas

instâncias colegiadas existentes na escola como APMF (Associação de Pais

Mestres e Funcionários), Conselho Escolar e a criação de grupos de discussão

para estudos de temas ou de apoio mútuo para os pais dos alunos, permitindo

que participem do processo educativo de seus filhos.

Partindo desse princípio buscamos, através de alguns autores como

Paro (2001), Carezia (2004), Santos (2008), Pereira (2009), Libâneo (2004),

além de referências como LDB (1996) e ECA (1990), discutir melhor a questão

da participação da família na escola com estudo mais aprofundado para

conhecer, embasar e argumentar no momento das discussões com o grupo

envolvido na proposta.

Segundo Paro (2001), a escola do século XXI deve ter o compromisso

de efetivar a educação para todos, com qualidade. Isso passa por mecanismos

de gestão que viabilize a democratização das suas relações com a comunidade

interna e externa através da participação de todos os envolvidos, por meio das

instâncias colegiadas (Conselho Escolar, Conselho de Classe, APMF –

Associação de Pais, Mestres e Funcionários e Grêmio Estudantil), princípios

passaram a ser priorizados no discurso sobre gestão democrática e que por meio

das quais todos participam das decisões a serem tomadas em benefício da

escola, desde a escolha e compra da merenda escolar até a participação na

elaboração do PPP (Projeto Político Pedagógico) da escola.

Durante muito tempo nosso país vivenciou nos estados e municípios

brasileiros, um governo, em que a classe social dominante apresentava um dos

mais eficazes procedimentos administrativos, limitando e inibindo a postura

democrática, nas manifestações e participações populares em qualquer tipo de

instituição mantida ou subsidiada pelo Estado. Nessas instituições, ninguém

podia expor suas ideias, tampouco lutar pelos seus direitos de cidadãos, tudo

era pensado para atender as prioridades da classe dominante. A escola, sendo

instituição pública, em nenhum momento esteve alheia a esse processo; ainda

hoje vive as consequências que vieram dessa forma de governo.

Há algumas décadas o modelo de gestão escolar possuía a imagem de

um diretor autoritário e subordinado aos órgãos centrais, sua função era limitada

à de administrador, imposta pelos interesses superiores. Comenta Santos

(2008), que o processo de autonomia da escola se deu a partir dos anos oitenta,

quando eleitos os primeiros governantes pelo voto direto. A partir deste momento

as discussões por uma educação democrática ganhou espaço e vários

movimentos começaram a incentivar a luta por uma escola participativa,

autônoma e de qualidade.

Em busca de uma educação que possibilite o sujeito superar os desafios

do momento, aumentando a autoestima e a confiança necessária para executar

a restrição do que lhe é negado, desde então, vários educadores procuram por

respostas que levem em consideração a participação da comunidade, iniciando

assim a busca pela inserção crítica do cidadão brasileiro nesse processo de

“democratização da escola” (SANTOS, 2008).

Com a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação 9394/96

(LDB), que garante a gestão democrática na escola, a educação brasileira

conquista o direito de refletir sobre a necessidade e importância da participação

consciente dos diretores, pais, alunos, professores e funcionários nas decisões

a serem tomadas no cotidiano escolar, buscando um compromisso coletivo com

resultados educacionais mais significativos. Buscou-se fortalecer cada vez mais

a democracia no processo pedagógico por meio do projeto de Gestão

Democrática da Escola, uma oportunidade de transformá-la num espaço público

onde todos os envolvidos podem articular suas ideias, estabelecer diálogo e

considerar diferentes pontos de vista.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de nº 9.394/96, em

seu título II, artigo 3º, inciso VIII, estabelece que: “O ensino será ministrado com

base nos seguintes princípios: [...] VIII – gestão democrática do ensino público,

na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino; [...]” As escolas

públicas têm como base de ensino a gestão democrática (BRASIL, 1996).

Na gestão democrática o envolvimento da comunidade escolar e das

famílias se efetiva por meio da Constituição da APMF, do Conselho escolar; da

elaboração do Projeto Político Pedagógico; da definição e fiscalização da verba

da escola pela comunidade escolar; da divulgação e transparência na prestação

de contas e da Avaliação institucional.

Para Santos (2008), a organização do trabalho pedagógico em uma

Instituição pública requer uma formação de qualidade, pois exige do gestor um

trabalho coletivo buscando autonomia e participação na construção do Projeto

político-pedagógico. Esta organização é uma estratégia educacional para

democratizar o processo ensino-aprendizagem, sendo de suma relevância para

um gestor programar novas formas de administrar em que a comunicação e o

diálogo estejam inseridos na prática pedagógica do professor. Ao assumir esse

papel ele deve buscar a articulação dos diferentes atores em torno de uma

educação de qualidade, o que implica uma liderança democrática, sendo capaz

de interagir com todos os segmentos da comunidade escolar. Isso requer uma

formação pedagógica crítica e autônoma. Nesse sentido, o objetivo é construir

uma educação com sensibilidade para que possa obter o máximo de contribuição

e participação dos membros da comunidade (SANTOS, 2008).

Conforme explica Santos (2008), para que se efetive uma gestão

democrática, é preciso garantir a participação, o comprometimento e o

envolvimento de todos os envolvidos neste processo de tomada de decisões

para o bom funcionamento da escola.

Apenas com estruturas gestoras fortalecidas, as escolas podem

consolidar princípios, procedimentos, métodos e relações de gestões

democráticas eficientes possibilitando uma nova relação dentro das unidades

escolares, com intuito de construir um plano escolar comprometido com a

qualidade de ensino, com a formação do cidadão e principalmente com a

participação das famílias.

1.1. Processos de Participação da Família no Contexto Escolar

Segundo Pereira (2009), a família é a primeira instituição no que se refere

à educação, pois é dela que se origina a base pedagógica do ato de aprender e

da ação educativa. É primeiramente na família que o indivíduo vivencia,

juntamente com os afetos e cuidados, a ciência do aprender que depois é

vivenciada nas instituições de ensino. Assim, o processo de educação vem

auxiliar e aliar-se ao processo de educação iniciado no seio familiar, de modo

que vinculadas – escola e família – resultam na garantia de uma prática

educativa que de fato promova aprendizagem.

Nas últimas décadas tem se verificado que a família é muito importante

para o aprendizado das crianças na escola e que sua ausência pode gerar

dificuldades para serem acompanhados apenas pela escola.

Embora a família, no contexto atual, já não exerça uma influência tão

ampla como no passado, ainda constitui o grupo social mais importante para a

criança pois suas experiências mais significativas são vividas junto à família.

Portanto, há necessidade de valorização das famílias, enquanto lugar de

produção de uma identidade social basilar para toda e qualquer criança no

processo de desenvolvimento de sua cidadania (KALOUSTIAN, 2000). Ainda

segundo a autora, “Pensa-se a necessidade da valorização das famílias,

enquanto lócus de produção de identidade social básica para qualquer criança,

tendo em vista a formação de uma cidadania ativa” (KALOUSTIAN, 2000, p.44).

Entretanto, um dos grandes desafios das instituições de ensino na

atualidade em nosso país, refere-se justamente à pouca participação da

comunidade e, especialmente, das famílias, na gestão e nas etapas de ensino

desenvolvidas nas escolas. Os novos formatos econômicos da sociedade têm

demandado muita dedicação dos pais em relação ao trabalho em busca da

sobrevivência, impossibilitando a presença dos mesmos em compromissos

educacionais. A correria do dia a dia não permite que muitos pais acompanhem

de perto o desenvolvimento de seus filhos. Além disso, muitos pais pensam não

ter condições intelectuais de participar e acompanhar o que está sendo feito na

escola.

No entanto, é importante saber que essa relação de presença na

educação dos filhos está para além da relação com a escola. É uma relação com

o conhecimento, com o aprender e conhecer. É comum vermos crianças cujos

pais não são alfabetizados, que foram educados e que se destacam em suas

turmas. Isso quer dizer que a relação estabelecida com a educação no seio

familiar era importante, ou seja, os pais sempre mostraram aos filhos a

importância de estudar, de receber e construir conhecimentos, de respeitar as

instituições de ensino e as pessoas que participam desse processo.

Família e escola devem ser base e sustentação para o processo de

ensino e aprendizagem. Quanto melhor for a parceria entre ambas, mais

positivos e significativos serão os resultados na formação do aluno.

1.2. Gestão democrática e participação das famílias no processo de ensino

e aprendizagem.

Como já destacado anteriormente, após 1980 o movimento em favor da

descentralização e da democratização das escolas públicas encontrou grande

incentivo e apoio, através das reformas educacionais e nas proposições do

legislativo. A partir do reconhecimento da importância de democratizar a escola,

é que se institucionaliza, sob a forma de leis, a participação de todos e

principalmente da família na gestão e organização das escolas (PEREIRA,

2009).

Embora hoje vivamos numa época marcada pela comunicação,

informação e orientação, a educação ainda é um fator preocupante. Na verdade,

vive-se há algum tempo uma verdadeira crise educacional “identificada pela

incapacidade da política educacional oficial do país de enxergar as diferenças

culturais, para então formular estratégias eficazes de educação pública de

qualidade” (NEDER, 1994 apud KALOUSTIAN, p.27).

A educação não se desenvolve sozinha, é necessário o envolvimento de

vários setores da sociedade civil, de forma a promover um melhor gerenciamento

e direcionamento das fases do ensino e assim alcançar êxito no processo

educativo. Neste momento, a família é convocada a estar presente e inserida no

contexto das instituições de ensino, pois se constitui de uma representação

essencial da sociedade civil.

Através da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Básica, vemos que o

ato de “articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de

integração da sociedade com a escola” (LDB – Lei 9394/1996, Art. 12, Inciso VI)

e no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) em seu artigo 53, parágrafo

único, diz que “é direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo

pedagógico, bem como participar da definição das propostas educacionais”. É

uma das atribuições do gestor escolar.

“O papel da família é estimular o comportamento de estudante nos filhos,

mostrando interesse pelo que eles aprendem e incentivando a pesquisa e a

leitura” (COSTA, 2011). Sendo assim, é preciso ajudar os pais com informações

sobre o processo de ensino e de aprendizagem, os objetivos da escola e os

projetos desenvolvidos, criando oportunidades para que essa colaboração se

concretize de fato.

Para Libâneo (2004), a participação dos pais na escola se dá através da

inserção necessária dos mesmos, nos movimentos orgânicos e de legitimidade

legais da comunidade escolar, como os conselhos escolares ou associações de

pais. Para o autor, além do suporte no auxílio e desenvolvimento do ensino, os

pais também são chamados a contribuírem na construção de uma proposta

pedagógica, no acompanhamento e na avaliação das ações desenvolvidas na e

pela escola.

Segundo PARO (1997), o processo educativo enquanto fenômeno social

mais abrangente não pode estar desvinculado de tudo o que ocorre fora da

escola, em especial no ambiente familiar. A escola deve estar sempre buscando

formas de conseguir a adesão da família para sua tarefa de levar os educandos

a desenvolverem atitudes positivas e duradouras com relação ao aprender e ao

estudar.

A participação da família na escola ganha sentido quando a instituição

adquire uma postura positiva em relação aos pais e responsáveis pelos

estudantes, oferecendo ocasiões de diálogo, de convivência e de participação

na vida da escola. Levar o aluno a querer aprender implica um acordo tanto com

educandos, fazendo-os sujeitos, quanto com seus pais, trazendo-os para o

convívio da escola, mostrando-lhes quão importante é sua participação e

fazendo uma escola pública de acordo com seus interesses de cidadãos (PARO,

1997a).

A participação familiar corresponde aos ideais pedagógicos da gestão

democrática participativa onde o trabalho coletivo, especificamente na unidade

escolar, tende a ser muito mais benéfico, pois resulta de uma reflexão conjunta

garantindo práticas pedagógicas que têm a capacidade de alcançar um

adequado processo de ensino e de aprendizagem.

2. Desenvolvimento do projeto

O desafio de transformar a escola num espaço onde se vivencia a

democracia contempla a participação efetiva dos diversos atores sociais no

universo escolar, na formulação e na efetivação da gestão democrática. Nesta

perspectiva, esse estudo se justificou pela busca de conhecimento através de

alguns teóricos que articulam sobre o tema, de forma a entender com clareza

qual o papel da gestão escolar no processo de participação da família na vida

escolar de seus filhos e qual a necessidade dessa interação junto à escola.

Pensando sob este aspecto, destacamos que o interesse e

conhecimento do tema desta pesquisa surgiram nas reuniões pedagógicas e

conselho de classe da escola. Na condição de docente vivenciamos dificuldades

em relação aos estudos das crianças na escola, pois não faziam as tarefas, não

participavam das aulas, se mostravam sem limites e chegavam até mesmo a

desrespeitar os professores e funcionários da escola. Nós professores

atribuímos essa dificuldade ao não envolvimento das famílias no

acompanhamento dos estudos das crianças no que diz respeito à escola. Então

resolvemos pesquisar para saber se era possível uma intervenção com o objetivo

de melhorar essa condição.

Nesse sentido, diante dos novos valores familiares expressos em

diferentes instâncias da sociedade atual, bem como o reflexo que isto traz para

a escola, desafiando a sua função social que diz respeito à sistematização dos

conhecimentos científicos, propomos um estudo que usou como questão

norteadora a seguinte problematização: em que termos o trabalho de gestão

possibilita a construção de uma parceria entre família e escola, com a finalidade

de atender os educandos em seus desafios referentes à aprendizagem escolar?

Partindo da premissa de que a família e a escola constituem os dois

principais ambientes de desenvolvimento humano nas sociedades ocidentais

contemporâneas, é fundamental que sejam implementadas ações que

assegurem a aproximação entre os dois contextos, de modo a reconhecer suas

particularidades e semelhanças, principalmente no que se refere aos processos

de desenvolvimento e aprendizagem, que envolvem o aluno e as pessoas que

convivem com ele neste processo.

Para tanto, esta pesquisa objetivou conhecer os processos de gestão

escolar, no sentido de desenvolver uma parceria entre família e escola, com a

finalidade de atender os educandos em seus desafios referentes à

aprendizagem escolar. A proposta consistiu ainda em identificar no campo da

educação escolar qual o papel da família, principalmente sua participação na

vida escolar, discutindo qual a sua importância no aprendizado e comportamento

do aluno e articulando situações de aproximação entre estas instâncias,

estabelecendo parcerias que contribuam qualitativamente com a efetivação dos

saberes adquiridos no âmbito escolar.

Inicialmente buscamos realizar uma pesquisa bibliográfica tomando

como base a ideia de vários autores, mais especificamente a fundamentação

teórica da História da Educação e da Política Educacional. Num segundo

momento, com base em uma pesquisa participativa, na qual pesquisador e

pesquisado estiveram envolvidos em atividades que tiveram como

procedimentos a aplicação de questionários para levantamento de dados que

serviram de base para o conhecimento da realidade, em que pais e alunos estão

inseridos, e atividades coletivas envolvendo familiares, educadores, professora

PDE e grupo de estudos para a reflexão dos textos sugeridos.

Chamamos os encontros com as famílias de “Escola de Pais”, sendo um

espaço de reflexão e de orientação para as famílias dos alunos do 6º e 7º anos4

que frequentavam a escola e que queriam melhorar o relacionamento com seus

filhos e participar ativamente da educação e do desenvolvimento destes através

de reflexões sobre o seu papel educativo, compartilhando conhecimento

4 Escolhemos os anos iniciais (6º e 7º), pois assim teríamos os alunos por mais tempo na escola, podendo contar com os pais, fazendo parte da IPMF, por mais tempo e contar com sua ajuda para

dar continuidade ao trabalho nos próximos anos com os pais dos alunos que estão chegando.

psicopedagógico, numa troca de experiências pessoais e coletivas na

perspectiva de ampliar a comunicação entre pais, filhos e escola,

proporcionando uma interação construtiva e saudável entre os mesmos.

Para que a Gestão democrática se efetive no contexto da escola pública,

é necessário que as relações entre a família e a escola se estabeleçam de forma

entoada e seja capaz de melhorar a qualidade do ensino público.

Inicialmente, atribuímos a esses encontros um formato de participação

que não demandasse muito tempo e nem se restringisse aos conteúdos de

outros momentos “participativos” como a entrega de boletins, reuniões de

instâncias colegiadas etc.

Antes, porém, realizamos o planejamento detalhado das ações de todo

o trabalho com o auxílio da equipe pedagógica da escola. Definimos as datas, o

público, os objetivos a alcançar e a metodologia adequada. Estabelecemos a

realização de oito encontros, sendo os três primeiros com os professores e

equipe técnico-pedagógica, visando construir consensos teórico-práticos e nos

cinco encontros finais as ações foram direcionadas às famílias.

Os primeiros encontros foram como grupo de estudos e versamos sobre

a temática do projeto, que propunha analisar e melhorar a relação

escola/comunidade começando pela socialização do projeto.

Como parte das atividades planejadas no grupo de estudos, os

professores trabalharam com os alunos reflexivamente as seguintes questões:

“Para que servem as escolas na sociedade atual?”. “Por que vocês vêm à

escola?”. “No que acreditam que a escola pode mudar a vida das pessoas?”.

As respostas foram coletadas, analisadas e registradas pelo grupo com

o intuito de serem confrontadas posteriormente com as respostas dos pais,

coletadas no quarto encontro.

2.1 Desenvolvimento

Na semana anterior ao início do ano letivo nos reunimos (a pedagoga da

escola e eu), onde ela teve oportunidade de conhecer melhor o projeto

demonstrando boa receptividade, se dispondo a ajudar. Neste momento

decidimos que o primeiro encontro com os professores seria na semana

pedagógica, pois a maioria dos deles estaria na escola.

Na semana pedagógica iniciamos as reuniões com os professores para

apresentar o projeto que propunha analisar e melhorar a relação escola-família.

Pronunciei que contava com a ajuda dos mesmos para a aplicação dos

questionários nas salas selecionadas e propus grupo de estudos para reflexão

de alguns temas que achava relevante para a continuidade de nosso trabalho

cotidiano. Todos disseram que dentro de suas possibilidades iriam participar,

pois o assunto era de interesse de todos.

Nos grupos de estudo refletimos as seguintes questões: Para você

professor, o que é Educação? O que é ensino-aprendizagem? Qual a função

social da escola? Obtivemos respostas do tipo: “Educação é um processo de

ensinar e aprender”; “É o ato de educar”; “Instrução”; “maneira de disciplinar

alguém”. Os professores mostraram-se participativos e colaboraram, refletimos

as questões propostas que nos fizeram ter outro olhar para com nossos alunos

e consequentemente suas famílias.

Nas reuniões com as famílias os professores participaram desde a

recepção dos pais até nas discussões dos grupos onde na maioria das vezes

relatavam as falas do grupo. Após as reuniões sempre ficavam para ajudar a

recolher o material e fazíamos um feedback da reunião, onde a avaliação sempre

foi positiva em relação ao trabalho proposto.

Quanto ao questionamento do que é Ensino-aprendizagem obtivemos

as seguintes respostas: “A aprendizagem é a capacidade de construir que o

indivíduo tem”; “O ensino age sobre a aprendizagem transformando o indivíduo”;

“O ensino é a ação utilizada para orientar a aprendizagem”.

Quanto à questão sobre a função social da escola recebemos como

resposta: “A escola é onde o aluno deve encontrar motivo para estar e participar

para seu crescimento intelectual”; “Lugar onde se deve favorecer o

conhecimento através do ensino”; “Lugar onde o aluno desenvolve-se nos

aspectos: físico, cognitivo e afetivo por meio da aprendizagem”.

Os professores ainda levantaram questões e refletiram sobre os outros

locais em que podem ser ensinados os conteúdos científicos, artísticos e

filosóficos, bem como as disciplinas de história, geografia, matemática.

Chegando ao consenso que é na escola o espaço privilegiado para a

transmissão e construção de conhecimentos.

O grupo de professores, coerente com os pressupostos da pedagogia

histórico-crítica, buscou estudar e defender a especificidade da escola, sua

importância para o desenvolvimento cultural, acreditando na possibilidade de

conscientização, participação e a contribuição que as famílias, sabedoras de sua

função, podem dar às escolas e à aprendizagem de seus filhos.

Como parte das atividades planejadas no grupo de estudos, os

professores trabalharam com os alunos reflexivamente as seguintes questões:

“Para que servem as escolas na sociedade atual?”; “Por que vocês vêm à

escola?”; “No que acreditam que a escola pode mudar a vida das pessoas?”.

As respostas foram coletadas, analisadas e registradas pelo grupo com

o intuito de serem confrontadas posteriormente com as respostas dos pais,

coletadas nos encontros finais. É interessante ressaltar que desta pesquisa

analisamos 22 questionários de uma sala de 6º ano e 42 questionários de duas

salas de 7º ano, num total de 64 questionários. Considerando as respostas dos

questionários observamos que: 60% dos alunos que participaram da entrevista

moram com seus pais, 50% dizem não ter hábitos de estudo; 37% relatam que

não são cobrados em casa para que estudem ou façam suas tarefas; 15%

relatam que não estudam e nem fazem tarefa omitindo da família que também

não cobra muito; e o restante faz as tarefas muitas vezes sozinho ou conta com

ajuda do professor do reforço no contraturno. No quesito para que serve a

escola, 57% relatam que a escola serve para aprendermos o que ainda não

sabemos, 37,5% dizem que precisamos da escola para no futuro termos melhor

emprego e 5% relatam que a escola serve para aprimorar conhecimento.

Este levantamento nos revela que a maioria dos alunos não tem hábito

de estudo, não são cobrados em casa e nem tampouco a família se interessa

pelos assuntos da escola, porém eles veem na escola o lugar onde podem

adquirir conhecimento e que assim terão um futuro melhor.

Realizamos o segundo grupo de estudos com professores versando

sobre as temáticas: Qual a importância da escola na vida dos indivíduos? Qual

o papel da escola e da família na vida escolar do aluno? Com estes

questionamentos procuramos refletir e repensar o papel das famílias e da escola

em relação ao ato de educar e como podemos contribuir para superar problemas

relacionados ao processo ensino-aprendizagem.

2.1 Participação das famílias

Posteriormente iniciamos a pesquisa participativa com os familiares

através de um questionário que foi enviado pelos alunos5. Através do

questionário podemos perceber que 36% dos pais que participaram da pesquisa

possuem apenas ensino fundamental II incompleto, 18% ensino fundamental II

e 18% não concluíram o ensino médio.

Observamos que, na concepção deles, 91% diz participar das reuniões

na escola. Observamos que os pais se sentem participativos em relação às

reuniões da escola: 55% dizem acompanhar as lições de casa ajudando seu filho

nas tarefas; 55% não deixam seus filhos faltarem na escola, pois a veem com

muita importância em suas vidas; 46% alegam incentivar a leitura, reservando

um momento juntos para conversar sobre o livro; 30% mandam seu filho pegar

na biblioteca e 24% dão alguma coisa para o filho ler enquanto assistem TV.

Quando o filho vai mal na escola, 73% dizem que procuram a escola para saber

o motivo e se pode ajudar. Durante as reuniões, apenas 73% ouvem o que a

escola tem a dizer sem dar sua opinião.

Para muitos pais, estar presente significa frequentar o espaço da escola

e comparecer às reuniões e eventos. Para outros, a presença na vida escolar

dos filhos implica estabelecer relações com os conteúdos das disciplinas que

eles estão aprendendo, ajudando nas tarefas de casa, sugerindo leituras e até

mesmo atividades culturais. Todas essas formas de agir geram a presença dos

pais na educação e contribuem para formar uma pessoa melhor.

5 Enviamos 64 questionários e retornaram apenas 31 respondidos.

Ao iniciar os trabalhos com a participação dos pais na escola buscamos

a aproximação dos pais ao cotidiano escolar. Discutimos com eles quais seriam

as funções inerentes à escola e às famílias. Foi um momento bastante produtivo.

Propusemos aos pais com os seguintes questionamentos: de que forma as

famílias podem contribuir com o trabalho dos professores? A escola serve para

ensinar? Como eram as escolas quando estudávamos? O que as diferencia da

escola atual?

Discutimos com os pais as respostas dos alunos aos questionamentos

feitos pelos professores no início do projeto de implementação. Vimos que na

maioria das respostas veem a escola como perspectiva de melhoria na condição

de vida. Refletimos então se essa posição dos alunos reproduzia ou não o

pensamento de suas famílias e concluímos que na maioria das vezes sim.

Entretanto, a partir do contato dessas famílias com a escola, por meio

da escola de pais, elas tiveram oportunidade de conhecer esse espaço até então

desconhecido pela maioria.

Os relatos dos pais, por ocasião do último encontro do projeto de

intervenção na escola, confirmaram a hipótese de nosso estudo: o maior

envolvimento dos pais no cotidiano escolar resulta em maior compromisso e

melhor aprendizagem dos alunos.

Deixaram claro que os pais, aproximando-se dos professores e equipe

pedagógica, tendo conhecimento da proposta da escola e da finalidade dos

conteúdos escolares, podem conversar com mais propriedade sobre a escola

com os filhos.

Os pais manifestaram bastante interesse pela continuidade das

atividades. Propuseram-se a testemunhar nas reuniões sobre o sucesso do

projeto e convidar pessoalmente outras famílias que não vieram e não

conhecem a proposta. Solicitaram a continuidade ao menos uma vez ao mês.

Os debates tiveram boa participação das famílias, visto que todas as

discussões tiveram como foco principal assuntos relacionados à educação de

seus filhos, assuntos dos quais todos puderam falar e opinar. Percebemos um

maior empenho familiar e um maior interesse pelas discussões promovidas pela

escola, pois quando a escola e a família cultivam uma relação de parceria sem

perder de vista o desempenho do aluno, fazem-se vínculos com significados

indispensáveis à sua vida.

Considerações Finais

A análise dos resultados deste projeto motiva-nos a sugerir a

implementação da “Escola de Pais” nesta escola da rede estadual de ensino,

pois a experiência levou-nos a acreditar que a participação da família

responderá positivamente à parte dos problemas encontrados no ambiente

escolar. Conforme já descrito, são momentos que desmistificam aos pais

imagens distorcidas dos profissionais da educação e, ao mesmo tempo,

valorizam a especificidade da instituição escolar, resgatando e valorizando

profissionais do magistério como sujeitos do processo educativo e a escola

enquanto espaço privilegiado de ensino, capaz de transformar cada indivíduo

por meio da transmissão e construção de novos conhecimentos.

A atividade realizada agradou aos pais, porque lhes permitiu novas

experiências e aprendizagens. Neste sentido, procurou-se promover na referida

escola, ações que pudessem resgatar a importância de estar presente na vida

escolar dos filhos, e ainda assim colaborar com a comunidade escolar no

gerenciamento e desenvolvimento de suas atividades educativas.

Todas essas atividades tiveram como objetivo principal chamar a

atenção dos pais e responsáveis para a necessidade do empenho familiar na

caminhada escolar de seus filhos e o quanto a comunidade escolar necessita de

apoio para o cumprimento de suas atividades educativas.

A partir dessas atividades observou-se que houve uma significativa

melhora no que se refere à participação dos pais na vida escolar dos filhos e no

cotidiano da escola. Este trabalho trouxe novas perspectivas para a escola a

respeito da atuação da família para com o meio escolar, pois percebeu-se que

uma vez estabelecidas as necessidades do vínculo família-escola, passou-se a

verificar um maior comprometimento de ambas em relação ao aluno.

A escola precisa estar atentamente voltada às necessidades do seu

alunado e fazer a comunidade escolar perceber a importância de sua

participação nas decisões da escola rumo a uma educação mais significativa.

A presença das famílias foi, sem dúvida, um dos grandes aliados neste

processo sem o qual não teríamos conseguido realizar todas as atividades

propostas no projeto.

REFERÊNCIAS

BRASIL. LDB: Diretrizes e Bases da Educação Nacional: Lei 9.394, de 1996. 2.ed. 2001.

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