OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · de que o uso do vídeo e filmes em sala de...
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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
UM ESTUDO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DO USO DE VÍDEOS/FILMES NO ENSINO DE CIÊNCIAS
Ari Fischdick 1 Juliana Moreira Prudente de Oliveira2
Resumo: Este trabalho tem por finalidade descrever os resultados das atividades que foram desenvolvidas na implementação de um projeto de intervenção pedagógica em uma escola pública de Cascavel/PR. A pesquisa teve como objetivo investigar o desenvolvimento de uma unidade didática elaborada com base na metodologia problematizadora, a saber, os Momentos Pedagógicos de Delizoicov e Angotti (1991). A unidade era referente à temática Tecnologia e Educação e foi trabalhada com o 6º ano do Ensino Fundamental. Utilizou-se a abordagem qualitativa e a coleta de dados foi realizada antes, durante e após o projeto, mediante questionários e atividades realizadas pelos alunos. Os resultados demonstraram que o uso do recurso tecnológico vídeos/filmes nas aulas de Ciências contribuiu para melhor compreensão dos conteúdos trabalhados e também que esse recurso tem grande aceitação pela maioria dos alunos. Palavras-chave: Tecnologia e Educação; Ensino de Ciências; Momentos Pedagógicos.
Introdução
Na busca por uma educação que vise maior sucesso na qualidade de ensino,
destaca-se a importância da formação continuada para os professores, prevista na
LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394/96 no artigo 67, Título
VI, a qual aponta que a formação de profissionais da educação deve articular a
teoria com a prática, incluindo a capacitação em serviço (BRASIL, 1996).
A formação de professores tem sido objeto de discussão e investigação em
várias esferas da educação e uma destas inclui o Programa de Desenvolvimento
Educacional (PDE) do Paraná, que se trata de uma formação continuada para os
professores que atuam na rede pública de ensino do Estado, oportunizando a eles o
retorno às atividades acadêmicas de sua área de formação inicial, com vistas à
atualização e aperfeiçoamento. Nesse modelo de formação continuada, as
atividades são distribuídas em quatro períodos, totalizando dois anos, as quais
iniciam com a elaboração de um Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola, pelo
1 Professor PDE da Rede Estadual de Educação no NRE/Cascavel. Licenciado em Ciências/Física.
Email: [email protected]. 2 Professora orientadora. Mestre em Educação para a Ciência e a Matemática. Licenciada em
Ciências Biológicas. Professora Assistente da Universidade Estadual do Oeste do Paraná.
professor PDE em conjunto com o professor orientador da Instituição de Ensino
Superior (IES). No segundo período do programa, elabora-se uma Produção
Didático-pedagógica que será utilizada como estratégia para a implementação do
projeto de intervenção. No terceiro período, ocorre o retorno do professor à escola
de origem, na qual implementará o projeto, e no quarto período, o professor
apresenta os resultados da pesquisa em forma de Artigo Final (GOBBATO;
OLIVEIRA, 2013).
Ao longo do primeiro ano, o professor PDE é afastado das atividades na
escola para elaborar o seu projeto e participar de aulas na IES, bem como de
eventos da área. No terceiro período, além da implementação do projeto, ele
participa como tutor no Grupo de Trabalho em Rede (GTR). O GTR também se trata
de formação continuada, mas à distância, ofertada aos professores da Rede Pública
Estadual de Ensino no Ambiente Virtual de Aprendizagem da Secretaria de Estado
da Educação, com carga horária de sessenta e quatro horas. No GTR são
socializadas e discutidas algumas atividades realizadas no contexto do PDE com
outros professores (GOBBATO, OLIVEIRA, 2013).
Portanto, este trabalho é resultado da pesquisa de um professor PDE, o qual
teve como questões problemas: ”Quais as contribuições do uso de recursos
tecnológicos, em especial os vídeos/filmes, para o processo de ensino e
aprendizagem?” e “Quais as percepções dos alunos em relação ao uso deste
recurso em sala de aula?”.
A escolha do tema Tecnologia e Educação foi fundamentada na observação
de que o uso do vídeo e filmes em sala de aula, embora de fácil utilização, ainda é
pouco explorado pelos professores, considerando o potencial que esse recurso
oferece, pois além da riqueza de imagens também propicia oportunidade de análise
e reflexão sobre o tema abordado.
Diante desta situação vivenciada em muitas escolas, objetivou-se neste
trabalho investigar o desenvolvimento de uma unidade didática utilizando o recurso
tecnológico vídeos/filmes por meio da metodologia problematizadora dos Momentos
Pedagógicos (DELIZOICOV; ANGOTTI, 1991) para alunos de 6º ano do Ensino
Fundamental. Portanto se investigou a percepção dos alunos acerca do uso de
vídeos e filmes no ensino de Ciências; bem como, se o uso dos vídeos/filmes
contribui/auxilia no processo de ensino e aprendizagem; e ainda, a postura dos
alunos em relação à utilização de vídeos/filmes em sala de aula, após o
desenvolvimento do trabalho.
A relação tecnologia e educação
Considerando que a sociedade atual apresenta-se fortemente marcada pela
presença das mídias e das tecnologias da informação e comunicação em quase
todas as esferas que a compõe, faz-se necessário pensar sobre qual o papel da
escola nesse novo cenário, refletir sobre sua função e, sobretudo, buscar suporte
teórico para melhor compreensão dos seus objetivos.
Segundo Chaves (2004), a escola deve preparar cidadãos familiarizados com
o desenvolvimento tecnológico. As Diretrizes Curriculares Estaduais do Paraná
(PARANÁ, 2008) apontam a escola como lugar de socialização do conhecimento.
Perrenoud (2000) afirma que a escola deve oferecer ao aluno oportunidade de
acesso às tecnologias a fim de cumprir o seu papel social.
Com o avanço da tecnologia adentrando o espaço da escola, possibilitando a
rapidez e a abrangência de informações, surge a necessidade de uma nova forma
de pensar e de agir, o que implica também em novas formas de ensinar e de
aprender. Logo, a escola passa a ter uma nova dimensão, deixando de priorizar a
simples memorização, para promover um ensino que possibilite o exercício da
autonomia do aluno para a busca de novos conceitos, bem como o desenvolvimento
integral do indivíduo.
Nesse sentido, com vistas a uma educação significativa, cabe ao professor
saber selecionar conteúdos que sejam coerentes e adequados ao ensino, que sejam
acessíveis aos alunos e que despertem o interesse. Entende-se por conteúdos
acessíveis aqueles que, segundo Libâneo (1994) são compatíveis com o nível de
preparo e desenvolvimento mental dos alunos.
E ainda sobre o ensino dos conteúdos, Vasconcellos (1994, p. 13) aponta que
“o problema metodológico não é problema de uma escola, curso ou professor, ao
contrário é um problema que perpassa todo o sistema educacional”. Nesse sentido,
as tecnologias perpassam a questão das metodologias, pois são recursos que
podem melhorá-las, mas embora já estejam nas escolas há um bom tempo, a escola
continua como afirma Moran (s/d), sendo mais tradicional do que inovadora.
Para que as tecnologias da informação e da comunicação (TIC’s) possam ser
aplicadas à educação de forma eficaz é preciso que o professor reflita sobre sua
prática pedagógica para fazer uso adequado. E ao introduzir as TIC’s em sala de
aula, consiga superar as limitações e maximizar as potencialidades que possuem.
Sem dúvida, o uso das tecnologias na educação se constitui em uma
ferramenta poderosa no processo de construção do conhecimento, pois favorece o
acesso à informação, a troca de informações e experiências. Como afirma Freire
(1981, p. 79) “ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém se educa a si
mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo”. E as
TIC’s estão presentes nessa mediação.
Dessa forma, evidencia-se a influência que as tecnologias têm sobre a vida
das pessoas, promovendo a interação entre elas e ao mesmo tempo, superando
barreiras de espaço e tempo. Mas, como desenvolver uma prática pedagógica
integrando os conteúdos com as diferentes tecnologias disponíveis na escola, por
exemplo, o computador, Internet, e a TV Pendrive?
Segundo José Manuel Moran, em seu artigo sobre Desafios da televisão e do
vídeo à escola (2005, p. 96), “deve-se começar na sala pelo sensorial, pelo afetivo,
pelo que toca o aluno, antes de falar de ideias, conceitos e teorias”. E ainda,
aproximar ao máximo a linguagem do recurso à dos alunos, além de utilizar
estratégias para inserir os materiais audiovisuais e atividades que sejam dinâmicas,
interessantes, mobilizadoras e significativas.
Nesse sentido, o uso do vídeo pode ser um fator de motivação para os
alunos, pois como mostra Moran no artigo O Vídeo na sala de aula (1995, p. 27):
O vídeo parte do concreto, do visível, do imediato, que toca os sentidos. Mexe com o corpo, com a pele, - nos toca e “tocamos” os outros, estão ao nosso alcance através dos recortes visuais, do close, do som estéreo envolvente. Pelo vídeo sentimos, experienciamos sensorialmente o outro, o mundo, nós mesmos.
Portanto a integração das TIC’s na educação, “transcende as questões
puramente técnicas para se situar no nível da definição das grandes finalidades
sociais da educação” (BELLONI, 2009, p. 29). Educar utilizando as novas
tecnologias se constitui em um desafio para os professores, pois a grande parte não
foi preparada para tal, porém pouco a pouco é possível trilhar esse caminho,
buscando por mudanças por mais ínfimas que sejam.
Aspectos metodológicos
Este trabalho foi desenvolvido em uma escola pública localizada no bairro
Jardim Floresta, na cidade de Cascavel-Pr, com uma turma de 6º ano do Ensino
Fundamental, composta por 30 alunos. Para realização desta pesquisa optou-se
pela abordagem qualitativa. De acordo com Lüdke e André (1986) esse tipo de
análise implica em organizar todo o material obtido durante a pesquisa, de forma a
identificar as tendências e padrões relevantes, que serão novamente avaliados
buscando relações e inferências em um nível maior de abstração.
A coleta de dados foi realizada por meio da aplicação de dois questionários
(inicial e final), com questões abertas e de assinalar, e das atividades realizadas
pelos alunos ao longo da implementação da unidade didática.
A unidade didática foi organizada em cinco tópicos, totalizando trinta e duas
horas, a qual se constituiu em importante estratégia metodológica para a pesquisa,
pois permitiu a abordagem do tema focando na problematização e nos momentos
pedagógicos propostos por Delizoicov e Angotti (1991). Essa metodologia apresenta-
se em três momentos pedagógicos. No primeiro momento ocorre a problematização
inicial com questões que devem além de motivar, fazer uma ponte de ligação entre o
que o aluno já sabe e os conhecimentos que ainda não dispõem, fazendo com que
sinta necessidade de adquirir novos conhecimentos. No segundo momento, ocorre a
organização do conhecimento, com a sistematização dos conceitos trabalhados. E o
terceiro momento destina-se a aplicação do conhecimento, em que se verifica o que
o aluno realmente aprendeu, podendo ser retomadas as questões iniciais
aproximando o novo conhecimento construído pelo aluno.
O primeiro tópico da unidade didática abordou o tema biodiversidade, com
enfoque na biopirataria e extinção de espécies de aves no Brasil, utilizando para isso
o filme “Rio”. No segundo, terceiro e quarto tópico foram trabalhadas algumas
relações ecológicas, sendo: tópico (2) a sociedade das abelhas, com ênfase também
para o processo de polinização, mediante a utilização do filme “Bee Movie – A
história de uma abelha”; tópico (3) a relação ecológica mutualismo, com destaque
para o ecossistema marinho, por meio da utilização do filme “Procurando NEMO”;
tópico (4) sociedade das formigas, utilizando o filme “Vida de inseto”. No quinto
tópico (5) todos os assuntos anteriores foram retomados mediante o trabalho com os
assuntos degradação ambiental e preservação do planeta a fim de demonstrar para
o aluno que tudo está relacionado e que o ser humano pode interferir em todos os
aspectos anteriormente trabalhados. Para contextualizar todas essas questões foi
utilizado o filme “Wall-E”. Ressalta-se que os três momentos pedagógicos foram
utilizados em cada um dos tópicos.
Os alunos, sujeitos da pesquisa, foram identificados pelas letras do alfabeto,
precedidas da descrição Aluno, por exemplo: Aluno A, para que suas identidades
fossem preservadas. Ressalta-se que foram realizadas correções ortográficas e
gramaticais nas respostas e falas dos alunos para melhor apresentação do trabalho,
porém, sem prejuízo do sentido da frase.
Resultados e discussões
Para melhor organizar essa parte do trabalho, a discussão ocorrerá em três
etapas: Percepções iniciais dos alunos sobre a utilização dos vídeos/filmes em sala
de aula; Contextualização do trabalho e contribuições do uso dos vídeos/filmes em
relação aos assuntos desenvolvidos; Percepções dos alunos sobre a utilização dos
vídeos/filmes após a implementação da unidade didática.
Percepções iniciais dos alunos sobre a utilização dos vídeos/filmes em sala de aula
No início desse trabalho se procurou verificar quais as percepções dos
alunos em relação ao uso de vídeo/filme em sala de aula, uma vez que, na escola
investigada havia certa preocupação quanto à utilização de filmes, por se aproximar
de uma atividade ligada mais ligada ao lazer. Assim, desejou-se verificar quais as
percepções dos alunos quanto ao uso desse recurso em sala e foram obtidos os
dados demonstrados no quadro abaixo:
Percepções dos alunos sobre o uso de vídeos/filmes em sala Nº de respostas
1- Contribui para o aprendizado 24
2- Não contribui na aprendizagem 6
3- Muda a rotina 6
Quadro 1: Percepções dos alunos sobre o uso dos vídeos/filmes em sala
No item (1) é possível perceber que a maioria dos alunos (24) aponta que o
uso dos vídeos/filmes em sala de aula contribui para o aprendizado. Isso se verifica
em alguns exemplos das respostas obtidas:
Ele pode ensinar muitas coisas que a gente ainda não sabe. (Aluno A)
Muito bom para aprender melhor e se divertir. (Aluno B)
Que nós podemos aprender mais. (Aluno C)
É uma forma meio divertida para aprender. (Aluno D)
Um bom uso, aprendemos e nos divertimos ao mesmo tempo. (Aluno E)
Pelas respostas dadas percebe-se que a maioria dos alunos acredita que
com esse recurso aprende melhor, além de citarem que é uma forma divertida de
aprender. Essa relação com o lazer é feita pelos alunos, mas não desvinculada da
aprendizagem, o que é muito importante, pois indica que se o professor tiver um
objetivo para o uso do vídeo/filmes, os alunos entendem isso. Sabe-se que pelas
atividades lúdicas o aluno tem a oportunidade de expressar suas emoções, interagir
e participar mais ativamente das atividades para aprendizagem. De acordo com
Ramos e Ferreira (2004) por meio do lúdico o aluno exercita o autoconhecimento,
aprende o respeito consigo e com os outros e aprende melhor, mesmo que de forma
inconscientemente. Sabe-se ainda, que o uso desse recurso pode ser uma ótima
estratégia para o ensino e aprendizagem podendo ser utilizado de várias maneiras,
por exemplo, como sensibilização, ilustração, simulação, e também como conteúdo
de ensino, dependendo do objetivo, como se refere Moran (1995). Destaca-se
assim, a importância de se considerar o uso dessa estratégia como uma das
possibilidades de abordagem dos conteúdos na disciplina de Ciências.
Poucos alunos, apenas seis, responderam que estes recursos não contribuem
para a aprendizagem (item 2). Essa impressão que os alunos têm pode ser
decorrente do mau uso desse recurso em alguma situação presenciada. Moran
(1995), em seu artigo O vídeo na sala de aula, adverte sobre o uso inadequado
desse recurso, por exemplo, como: tapa-buraco: usado na ausência do professor;
vídeo-enrolação: sem ligação com a matéria; vídeo-deslumbramento: uso exagerado
em todas as aulas; e ainda, só vídeo: usado sem discussão.
No item (3) é possível verificar que alguns alunos (6) citaram o uso de
vídeos/filmes como uma forma de mudar a rotina, um jeito diferente de estudar,
como exemplificam as respostas a seguir:
O uso é para mudar a rotina ou às vezes para ajudar no conteúdo estudado.
(Aluno F)
Acho que os alunos podem entender melhor o filme, sem precisar copiar do quadro. (Aluno G)
Porque a criança aprende mais rápido com o filme, não adianta só copiar
texto. (Aluno H)
Essa relação que os alunos fizeram é um aspecto positivo, pois relacionaram
o uso dos vídeos/filmes como uma forma de o professor mudar a rotina das aulas,
não utilizando apenas os recursos mais tradicionais, como textos, quadro e giz. É
necessário que haja uma reflexão por parte dos professores em relação a não
manter sempre a mesma forma de trabalho, pois pode se tornar cansativa para os
alunos e, nesse sentido o uso de vídeos/filmes podem diversificar as aulas, desde
que também não passem a serem os únicos recursos utilizados.
Apresenta-se na sequência o contexto do trabalho e a sistematização dos
conhecimentos dos alunos em relação aos assuntos enfocados na unidade didática
implementada.
Contextualização do trabalho e contribuições do uso dos vídeos/filmes em relação
aos assuntos desenvolvidos
Em cada etapa da unidade didática foi utilizado um filme e/ou trechos deste
para trabalhar os conteúdos. Isso possibilitou realizar uma análise acerca dos
conhecimentos trabalhados e se o uso do filme foi significativo. Portanto, será
discutido como cada um dos filmes foi trabalhado e os resultados alcançados.
A utilização do filme “Rio” no início da unidade didática teve como objetivo
envolver os alunos na reflexão quanto à importância da biodiversidade, além de
promover a sensibilização sobre a problemática socioambiental decorrente do
comércio ilegal de espécies de animais, que é apontado como uma das principais
causas da extinção de algumas espécies de aves no Brasil, especialmente a Arara-
azul, um dos personagens do filme. Para tanto, antes de passar o filme aos alunos,
se realizou a problematização inicial, na qual os alunos foram questionados sobre
biodiversidade, sendo que a maioria respondeu que é diversidade de animais,
portanto, percebeu-se que não se trata de um conceito desconhecido, porém não
está completo. Em seguida, se questionou o que é biopirataria e alguns não sabiam
responder. Isso indicou a importância de se trabalhar com esse filme pelo fato de
trazer à tona um problema que acontece na realidade.
Após assistirem ao filme, os alunos realizaram uma atividade em que
deveriam pesquisar e preencher uma ficha com as características principais de cada
animal presente no filme. Também receberam um texto sobre tráfico de aves
silvestres, extraído do livro Vontade de Saber Ciências 7º ano (GODOY; OGO, 2012)
para leitura, análise e discussão, que culminou em uma reflexão sobre o que fazer
para combater o comércio ilegal de animais silvestres. Ao final deste tópico fizeram
alguns desenhos representativos do assunto estudado, como mostra a figura 1:
Figura 1: Representação da Arara azul produzida por um dos alunos. Fonte: Dados do professor PDE.
No que se refere aos assuntos enfocados os alunos pontuaram aspectos
importantes quando indagados sobre como evitar o tráfico de animais:
Denunciando. (Aluno A)
Mantendo os animais protegidos em local proibido a caça. (Aluno B)
Com o reforço de fiscalização. (Aluno C)
Não comprando. (Aluno D)
Eu penso que se os homens parassem de matar aves, talvez o mundo fosse mais feliz. (Aluno E)
Eu aprendi que não é legal fazer tráfico de aves e é bom cuidar dos animais. (Aluno F)
Após entenderem a importância da biodiversidade, o problema da biopirataria
e refletirem sobre algumas formas de combatê-la, iniciou-se então o trabalho acerca
das relações ecológicas, visando demonstrar que os seres vivos mantêm entre si
inúmeras relações de convivência, que podem trazer benefícios para si e para os
outros, bem como para o ambiente.
Para o trabalho com as relações ecológicas foram utilizados três filmes: “Bee
Movie – A história de uma abelha”; “Procurando NEMO” e “Vida de inseto”. Optou-se
por estes a fim de demonstrar que as relações ecológicas estão presentes em
diferentes ambientes.
No filme “Bee Movie – A história de uma abelha” se objetivou levar os alunos
a compreenderem as relações entre fauna e flora, principalmente o processo de
polinização e a relação ecológica sociedade, vivenciada pelas abelhas. Na
problematização inicial os alunos foram questionados sobre como vivem as abelhas,
e o que elas buscam nas flores. Muitos responderam que elas buscam pólen e
néctar, mas quanto ao modo de vida alguns responderam que elas vivem em
colônias e outros que vivem em comunidade, nenhum aluno citou a vida em
sociedade. Em seguida, os alunos assistiram ao filme que foi discutido na sequência
e logo após responderam um questionário.
Após o trabalho com esse filme, foi possível verificar que a maioria dos alunos
compreendeu o conceito de sociedade, como ficou evidente nas seguintes
respostas:
Que elas ajudam umas as outras. (Aluno J)
Que todas trabalham juntas. (Aluno K)
Cada abelha tem sua tarefa. (Aluno L)
Na colméia, cada abelha tem uma função. (Aluno M)
Em relação à polinização, os alunos compreenderam a importância das
abelhas para esse processo, pois conseguiram explicar como elas auxiliam pelas
seguintes respostas:
Elas vão a uma flor, pegam o pólen e levam para outra. (Aluno A)
Pegando pólen [...] de uma planta e passando para outra. (Aluno B)
Levando o pólen de uma flor para outra. (Aluno C)
Ainda sobre a polinização, os alunos elaboraram desenhos, tendo como
referência o filme e outros materiais como livros e revistas sobre o assunto. Com
essa atividade, tiveram oportunidade de desenvolver a criatividade, a autonomia e
de expressar o que aprenderam de forma interessante e atrativa, como pode ser
observado em alguns exemplos na figura 2:
Figura 2: Exemplos de desenhos elaborados pelos alunos sobre polinização. Fonte: Dados do professor PDE.
O filme “Procurando NEMO” foi utilizado para trabalhar o ecossistema
aquático, com o objetivo de que o aluno percebesse a diversidade de animais
marinhos, como vivem, bem como a relação ecológica existente entre o peixe-
palhaço e a anêmona-do-mar. Embora muitos tivessem relatado que já haviam
assistido a esse filme anteriormente, nunca tinham discutido a respeito dos
conteúdos envolvidos na disciplina de ciências.
Para a problematização inicial os alunos foram questionados sobre como
vivem os peixes e do que se alimentam. Responderam que eles vivem nadando
livremente e que se alimentam de outros peixes. Também foram indagados sobre o
peixe-palhaço, como ele pode viver perto da anêmona sem se prejudicar e sobre
isso não souberam responder.
Após assistirem ao filme, os alunos realizaram uma atividade escrita com
questões sobre os pontos principais, tendo como material de apoio textos e imagens
sobre a relação ecológica mutualismo. Para finalizar fizeram pequenos cartazes com
desenhos, recortes e colagem, representando o ambiente marinho, destacando
principalmente o peixe-palhaço e a anêmona, conforme exemplo demonstrado na
figura 3:
Figura 3: Desenho elaborado por um dos alunos representando o ecossistema marinho e a relação ecológica mutualismo.
Fonte: Dados do professor PDE.
Após o trabalho com este filme, evidenciou-se que os alunos construíram
tanto conhecimentos conceituais, como atitudinais, como demonstram as falas
abaixo:
A anêmona serve como casa para o peixe-palhaço. (Aluno A)
Sempre obedecer nossos pais. (Aluno B)
Que nunca podemos sair de perto dos nossos pais. (Aluno C)
Que na vida terá muitos obstáculos. (Aluno D)
Não desistir das coisas muito facilmente, pois sempre tem que ter esperança. (Aluno E)
Segundo Campos e Nigro (1999) as proposições conceituais estabelecem as
relações entre os conceitos e ajudam a desvendar os seus significados, como a
resposta que aluno A deu em relação à relação ecológica mutualismo, exemplificada
no filme. Embora, não tenha lembrado de que a anêmona também se beneficia ao
alimentar-se dos restos de alimento deixados pelo peixe, há um início de construção
conceitual em relação ao assunto. As falas seguintes remetem a conhecimentos
atitudinais construídos, segundo os mesmos autores esse tipo de conhecimento está
relacionado ao comportamento, aos sentimentos e valores atribuídos pelo aluno aos
conteúdos do aprendizado. Portanto, este filme foi importante tanto para construção
de conhecimentos conceituais, como atitudinais.
Outro filme no qual também se tratou de relação ecológica foi “Vida de inseto”,
e nesse caso, também a relação ecológica sociedade, mas agora das formigas.
Procurou-se delinear a divisão de tarefas na sociedade dessa espécie de inseto,
assim como evidenciar a importância social desses insetos para o equilíbrio
ecológico e sensibilizar o aluno para o desenvolvimento de atitudes de cooperação e
de trabalho em equipe. Para isso, na problematização inicial foi contada aos alunos
a fábula A cigarra e a formiga, e em seguida foram questionados sobre como vivem
as formigas e como se organizam. As respostas foram de que elas trabalham para o
seu sustento, mas não souberam explicar a organização em sociedade e a divisão
de tarefas. Após assistirem ao filme, foi realizada uma discussão sobre os principais
assuntos envolvidos, e por fim realizaram uma atividade escrita com questões sobre
os insetos que aparecem no filme e a divisão de tarefas em um formigueiro.
Percebeu-se que, após o trabalho com o filme, os alunos demonstraram uma
melhor compreensão da vida em sociedade e suas vantagens, pois quando
indagados sobre o que aprenderam com o filme, obteve-se respostas, como por
exemplo:
Eles trabalham em grupo e são bastante unidos. (Aluno A)
Que as formigas e outros insetos trabalham em equipe. (Aluno C)
Que os insetos precisam um do outro para sobreviver. (Aluno D)
Trabalho em equipe. (Aluno F)
Nas respostas acima é perceptível que os alunos enfatizaram o trabalho em
grupo e equipe. Embora, não tenham mencionado a divisão de trabalho, há uma
relação entre estes aspectos. Na fala do aluno D, especificamente, é possível
visualizar que há um início inclusive de sistematização do que foi trabalhado, uma
vez que ao começar com a biodiversidade a intenção era que os alunos
entendessem as relações ecológicas e a importância delas, inclusive para a
manutenção da mesma. Embora não tenha nenhuma resposta elaborada totalmente
neste sentido, na frase desse aluno há uma reflexão em relação à dependência de
outros para sobreviver, mesmo que tenha sido somente em relação aos insetos.
O último filme utilizado foi “Wall-E”, no qual se objetivou promover uma
sensibilização quanto à ação do ser humano no meio, procurando estabelecer
relações com tudo que já havia sido trabalhado anteriormente. Para iniciar essa
sistematização, na problematização inicial foram demonstradas aos alunos imagens
de acúmulo de resíduos sólidos no planeta, e realizado os seguintes
questionamentos: será que tudo aquilo que jogamos fora não serve para mais nada?
O que poderá acontecer se formos produzindo lixo em grande quantidade? Essas
questões foram propostas para incitar o aluno a pensar e refletir sobre a
problemática. Em seguida se trabalhou com o filme com o objetivo de discutir dois
problemas atuais: degradação ambiental e consumo exagerado de produtos;
procurando estabelecer relações com tudo que já havia sido discutido nos tópicos
anteriores. Após esse trabalho, os alunos foram questionados quanto ao seu papel
em relação à questão ambiental e deram as seguintes respostas:
Eu aprendi que não devemos poluir, e sempre fazer exercícios. (Aluno A)
Que os humanos poluem o planeta Terra. (Aluno B)
Que se não cuidarmos, daqui a alguns anos o planeta vai estar todo poluído. (Aluno C)
Que nós devemos preservar a vida no planeta. (Aluno D)
Eu aprendi a prevenir a poluição. (Aluno F)
Que o lixo acumulado faz as plantas e os seres vivos sumirem do planeta. (Aluno H)
Entende-se que os objetivos propostos neste item foram alcançados em
termos de sensibilização, porém sabe-se que educação ambiental é um processo
contínuo que implica não somente a aquisição/assimilação de conceitos, mas
também uma mudança de atitude, uma nova postura com relação ao meio ambiente.
Nesse sentido, Oliveira et al. (2011, p.112) afirma que a Educação Ambiental “deve
propiciar o desenvolvimento de atitudes concretas nos diversos setores sociais, e
que o aluno deve reconhecer a importância da conservação dos recursos naturais,
visto que muitos dos bens naturais não são inesgotáveis”. De acordo com os
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), a escola por ser uma instituição que
exerce intervenção na realidade “deve estar conectada com as questões mais
amplas da sociedade, e com os movimentos amplos de defesa da qualidade do
ambiente, incorporando-os às suas práticas” (BRASIL, 1998, p. 192). Isso inclui o
envolvimento de todos os professores numa perspectiva multi e interdisciplinar, pois
a Educação Ambiental não se limita apenas às ciências, mas se estende às outras
áreas do conhecimento escolar.
Tendo em vista, que o trabalho com o uso de filmes por meio da metodologia
dos Momentos Pedagógicos (DELIZOICOV; ANGOTTI, 1991) contribuiu para a
sistematização, ampliação e construção de conhecimentos pelos alunos, como pode
ser visto nas discussões acima, é possível inferir que este recurso é uma importante
ferramenta para o professor de ciências, pois contribuiu para que o aluno
participasse de forma ativa, interagindo e refletindo sobre o conteúdo que estava
sendo trabalhado. Vasconcellos (1994, p. 78) aponta que o processo de construção
do conhecimento demanda práticas objetivas do aluno e não só o “prestar atenção”.
Também afirma que é necessária a participação ativa do aluno, que tenha
oportunidade de se debruçar sobre o objeto e atuar sobre ele, o que foi realizado
neste trabalho.
Percepções dos alunos sobre o uso dos vídeos/filmes após a implementação da
unidade didática
Ao final do trabalho, os alunos foram questionados novamente acerca do uso
de vídeos/filmes em sala de aula, e as respostas dadas foram sistematizadas no
quadro abaixo:
Percepções dos alunos sobre o uso de vídeos/filmes em sala após o trabalho
Nº de respostas
1 - Contribui para o aprendizado 20
2 - É melhor do que outras formas 8
3 - Desperta o interesse 15
4 - Melhora o comportamento 5
Quadro 2: Percepções dos alunos sobre o uso de vídeos/filmes em sala após o trabalho.
Pelos dados obtidos verificou-se que todas as respostas remetem a um bom
aproveitamento desse recurso, pois nenhum aluno respondeu que não contribui para
o aprendizado, sendo que no questionário inicial seis pensavam deste modo. Pelo
contrário, a maioria dos alunos (20) reafirmou que o uso do filme contribui para o
aprendizado, como seguem os exemplos de respostas a seguir:
[...] ajuda na matéria. (Aluno B)
Muito bom porque a gente aprende mais sobre as matérias. [...] porque facilitam muito o entendimento. (Aluno C)
Que facilita entender mais os conteúdos. [...] para compreendermos sobre as coisas. (Aluno D)
Muito bom, com o filme eu aprendi muita coisa. (Aluno E)
É bom porque a gente aprende mais. [...] melhora o desenvolvimento do aluno. (Aluno F)
Oito alunos enfatizaram que o uso de vídeos/filmes é melhor do que outras
formas de ensinar (item 2), algo mencionado por seis alunos no questionário inicial.
Seguem alguns exemplos de respostas que evidenciam isso:
Muito legal, melhor que texto. (Aluno B)
Legal, perfeito, muito bom, melhor que texto. (Aluno G)
Boa, porque a maioria dos professores só passam exercícios. (Aluno I)
Nesse sentido, é evidente que os alunos preferem aulas em que o professor
diversifica o uso dos recursos, pois afirmam que é mais divertido, é melhor que texto
e só fazer exercícios. Em várias destas falas também fica evidente que há um
interesse maior nas aulas, logo o uso de vídeos/filmes desperta essa atitude nos
alunos (item 3), como fica mais explícito nas falas a seguir:
Muito legal, tem que passar mais filmes, muito interessante. (Aluno B)
É muito interessante. (Aluno C)
É bem legal. (Aluno D)
É legal assistir filmes. (Aluno E)
[..] porque as aulas não se tornariam cansativas, e sim legais. (Aluno F)
Com relação ao comportamento (item 4), alguns alunos citaram que com filme
eles se comportam melhor e que colaboram mais com o professor, como
demonstram as falas:
Sim, porque entendemos melhor, os alunos se comportam na hora de assistir. (Aluno E)
No filme, os alunos não incomodam. (Aluno J)
É bom, nós prestamos mais atenção em um filme do que as pessoas falando lá na frente. (Aluno H)
Portanto, esse recurso além de facilitar a compreensão dos conteúdos e
promover maior participação do aluno, pode contribuir para diminuir a indisciplina,
pois esse tipo de atividade muitas vezes aproxima os alunos dos professores,
melhorando a relação em sala de aula. Garcia (1999) aponta que a indisciplina tem
diversas causas, uma delas é a relação entre professores e alunos e, segundo o
autor a forma como o professor intervém na classe pode reforçar ou mesmo gerar
modos de indisciplina.
Para finalizar o trabalho, os alunos foram questionados se gostariam de
assistir outros filmes nas aulas de ciências, e a maioria respondeu que sim. Isso
demonstra que o trabalho realizado despertou interesse nos alunos e que o uso
desse recurso pode ser útil para o professor que quer dinamizar, renovar e
potencializar suas aulas tornando o processo de aprendizagem mais atraente para o
aluno.
Considerações Finais
Os dados da pesquisa demonstram que houve ótima aceitação por parte dos
alunos no que se refere ao uso de vídeos/ filmes no ensino de ciências. Verificou-se
pelas atividades desenvolvidas pelos alunos, que esse recurso didático pode auxiliar
na construção e compreensão dos conceitos, contribuindo assim para uma
aprendizagem mais significativa.
Durante o desenvolvimento da unidade didática os alunos tiveram
oportunidade de interagir, trabalhar em grupo, dialogar sobre os conteúdos
apresentados nos filmes, demonstrar suas emoções e o que aprenderam por meio
das atividades escritas, das discussões e desenhos que elaboraram. Portanto, a
organização da aula conforme a metodologia dos Momentos Pedagógicos é
bastante produtiva. Embora nem todas as respostas dadas fossem totalmente
corretas e completas, foi possível verificar que após o trabalho, houve uma
assimilação significativa de conhecimentos e uma evolução do estágio inicial quando
do início do trabalho. Ressalta-se que, para utilização dos filmes neste trabalho
houve recortes específicos, mas podem ser explorados muitos outros aspectos em
relação à ecologia e/ou mesmo outros assuntos, dependendo do objetivo do
professor.
A importância de se trabalhar com o uso de vídeos/filmes, ficou também
evidenciada nas discussões do GTR, pois vários professores apontaram a
necessidade de utilizar estratégias que motivem o aluno a aprender. De modo geral,
percebe-se que as práticas pedagógicas ainda estão bastante amparadas na aula
expositiva, porém neste trabalho se procurou trazer uma alternativa para o
enfrentamento de problemas que existem dentro de uma sala de aula,
principalmente no que se refere ao interesse do aluno em aprender. É necessário
pensar numa educação que se efetive pela atividade do sujeito sobre o objeto, em
que os conteúdos sejam significativos e relacionados com a realidade social de cada
aluno.
Desta forma, se objetiva como educador oportunizar ao aluno acesso às
informações e possibilidades de construção de conhecimentos e saberes que
permitirão refletir sobre suas práticas e posturas, de modo que possa intervir e atuar
sobre a sua realidade e isso foi iniciado neste trabalho.
Referências
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