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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

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A LEITURA E O PROCESSO DE APRENDIZAGEM:

Uma proposta de leitura crítica e reflexiva a partir do método

recepcional

Autora: Hilda Dal Santo1 Orientador: Edson José Gomes2

RESUMO

Neste artigo, fazemos a sistematização dos trabalhos desenvolvidos no Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, no qual nosso objeto de estudo foram os motivos que levam muitos alunos a apresentarem um crescente desinteresse pela leitura e o que nós, professores, podemos fazer para amenizar tal problema. Apresentamos as pesquisas realizadas sobre a leitura como competência indispensável para o desenvolvimento do processo de aprendizagem do aluno, bem como a relevância do papel do professor como mediador no processo da mesma. Com base nas pesquisas realizadas, propomos um trabalho de leitura com o Método Recepcional visando a despertar nos educandos o prazer e o interesse pela mesma, bem como valorizá-la como fonte de informação para o desenvolvimento de sua competência reflexiva e comunicativa e, com isso, acontecer o ensino-aprendizagem na sua totalidade.

Palavras-chave: Leitura. Fonte de informação. Competência reflexiva. Método recepcional. Professor mediador.

1 INTRODUÇÃO

No presente artigo, apresentamos a sistematização das ações realizadas no

Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), conforme previsto no Projeto de

Intervenção Pedagógica e em seu desdobramento da Intervenção Pedagógica

direcionada aos alunos do 9º ano do Ensino Fundamental. No início do Programa

todas as ações de implementação foram pensadas para o Colégio Estadual Olavo

1 Professora da Rede Estadual de Educação do Paraná.

2 Doutor em Língua e Literatura Francesa: Professor Adjunto do Departamento de Letras Modernas da –

Universidade Estadual de Maringá, UEM.

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Bilac, em Sarandi, núcleo de Maringá, porém, em virtude de ter havido remoção de

padrão, sendo a transferência das aulas do Colégio Estadual Olavo Bilac em

Sarandi para o Colégio Estadual José Luiz Gori, em Mandaguari, as ações de

implementação foram desenvolvidas neste colégio, núcleo de Maringá, PR.

Nosso objetivo foi o de desenvolver estratégias de leitura com os gêneros

textuais fábula, conto e poesia por meio do método recepcional fazendo uso da

temática amizade, visando a despertar nos alunos o prazer e o interesse pela leitura,

bem como valorizá-la como fonte de informação para o desenvolvimento de sua

competência reflexiva e comunicativa e, com isso, acontecer o ensino-aprendizagem

na sua totalidade.

Trabalhamos a temática amizade com 32 alunos do 9º ano C, do Colégio

Estadual José Luiz Gori e também ofertamos estudos voltados à importância da

leitura aos profissionais da educação do Estado do Paraná, no curso a distância

GTR (grupo de trabalho em rede), onde 12 participantes contribuíram ativamente

nas discussões. Durante o curso, apresentamos as pesquisas realizadas sobre a

leitura como competência indispensável para o desenvolvimento do processo de

aprendizagem do aluno, bem como a relevância do papel do professor como

mediador no processo da mesma. Ainda durante o curso, disponibilizamos o material

didático produzido a partir do Método Recepcional como uma das alternativas para

amenizar a problemática da falta de leitura dos alunos.

Durante a aplicação do projeto e do material didático, foram coletados os

dados que serão analisados neste artigo, constituindo, assim, a conclusão dos

trabalhos desenvolvidos junto ao programa PDE (Programa de Desenvolvimento

Educacional).

Quanto à importância da leitura, ressaltamos que um leitor competente e

autônomo se constitui por meio de uma prática constante desta atividade,

organizada numa diversidade textual que circula socialmente e que uma das

principais funções da escola deve ser a de ensinar os alunos a ler auxiliando-os nas

escolhas de leitura e adequando as mesmas a sua faixa etária e ano escolar.

Outro aspecto observado durante a aplicação do projeto são as dificuldades

encontradas no dia-a-dia do trabalho pedagógico, como por exemplo: excesso de

conteúdos, muitos alunos em uma mesma sala de aula, práticas metodológicas que

nem sempre se revelam adequadas e que contribuem para que muitos alunos se

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tornem ledores de textos e não leitores conscientes, os quais possam interpretar e

serem autônomos em suas escolhas de leitura.

De acordo com as Diretrizes da Educação Básica de Língua Portuguesa

(2008, p.56) “ao ler o indivíduo busca as suas experiências, os seus conhecimentos

prévios, a sua formação familiar, religiosa, cultural, enfim, as várias vozes que o

constituem” e para isso precisa ser incentivado a ler, a experimentar diferentes

formas de leitura e nós, professores de uma maneira geral, temos que ter claro

nosso papel de mediador, auxiliando os alunos a inferir significados às leituras

realizadas. Nessa perspectiva, faz-se mister que o ambiente escolar resgate e

propicie o valor da leitura como sendo um ato de prazer.

2 DESENVOLVIMENTO

Nos últimos anos, segundo as Diretrizes Curriculares da Educação Básica de

Língua portuguesa (op. cit.), intensificaram-se as discussões sobre a função da

escola pública, já que ela passou a receber um grande número de estudantes

provenientes de classes menos favorecidas. Surgiram, assim, questionamentos

diversos sobre quem seriam tais sujeitos e que referências trazem para o ambiente

escolar.

A partir dessas discussões, foi necessária a reorganização do currículo

escolar “com o objetivo de construir uma sociedade justa, onde as oportunidades

sejam iguais para todos” (op.cit., 2008, p.14). A escola passa a ser um lugar de

socialização do conhecimento, pois muitas vezes ela é a única oportunidade de

acesso ao mundo letrado para os sujeitos advindos das classes populares. Nesse

sentido, as DCEs de Língua portuguesa enfatizam as práticas pedagógicas

fundamentadas em metodologias diferenciadas valorizando concepções de ensino e

aprendizagem. Um projeto educativo, segundo o documento citado, “precisa atender

igualmente aos sujeitos, seja qual for sua condição social e econômica, seu

pertencente étnico e cultural e às possíveis necessidades especiais para a

aprendizagem” (p.15).

Segundo Bakhtin, toda e qualquer produção social se manifesta por

intermédio da linguagem e ela nasce da interação social entre as pessoas e tem

como base a enunciação entre sujeitos socialmente constituídos. A comunicação se

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constrói sempre no diálogo de um locutor com um interlocutor, portanto, encontram-

se na interação e nos sujeitos produtores de linguagem:

[...] Toda palavra comporta duas faces. Ela é determinada tanto pelo fato de que procede de alguém, como pelo fato de que se dirige a alguém. Ela constitui justamente o produto da interação do locutor e do ouvinte. Toda palavra serve de expressão a um em relação ao outro (1999, p.113).

Por conseguinte, faz-se necessário levar em consideração os aspectos

sociais e históricos, pois é por intermédio da palavra que a língua se efetiva. Nesse

sentido, a escola passa a ser um espaço privilegiado e o professor de Língua

portuguesa precisa proporcionar práticas discursivas que vão desde textos escritos e

falados até a integração com outras linguagens, como artes visuais, vídeos,

músicas, teatro; entre outros.

O ensino dos gêneros nas escolas tem importante função na formação de

leitores e a melhor maneira de trabalhar com gêneros no espaço escolar é envolver

os alunos em situações concretas no uso da língua. Se a comunicação se realiza

por meio dos textos deve-se possibilitar aos alunos a oportunidade de produzir e

compreender textos de maneira adequada a cada situação de interação

comunicativa (Bakhtin, 1992). É preciso que a escola promova por meio de diversos

tipos textuais com funções diferenciadas o letramento do aluno e que os envolvam

nas práticas de uso da língua, sejam de oralidade, leitura e escrita.

É importante observar que a leitura realiza-se a partir do diálogo do leitor com

o objeto lido, levando em consideração o tempo, o espaço e a situação vivenciada.

Com base na visão de leitura como prática social, as DCEs (2008, p.38) salientam

que:

É nos processos educativos, e notadamente nas aulas de Língua Materna, que o estudante brasileiro tem a oportunidade de aprimoramento de sua competência linguística, de forma a garantir uma inserção ativa e crítica na sociedade. É na escola que o aluno, e mais especificamente o da escola pública, deveria encontrar o espaço para as praticas de linguagem que lhe possibilitem interagir na sociedade, nas mais diferentes circunstâncias de uso da língua, em instâncias públicas e privadas. Nesse ambiente escolar, o estudante aprende a ter voz e fazer uso da palavra, numa sociedade democrática, mas plena de conflitos e tensões.

De acordo com o documento citado, a leitura torna-se essencial para a

inserção social e a formação da cidadania. Koch (2008, p.61) reconhece que no

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momento da leitura ativamos lugar social, vivências, relações com o outro, valores

da comunidade, conhecimentos textuais e aí se dá a interação. Ela afirma que:

[...] ao entrar em uma interação, cada um dos parceiros já traz consigo sua bagagem cognitiva, ou seja, por si mesmo, um contexto. A cada momento da interação, esse contexto é alterado, ampliado, e os parceiros se veem obrigados a ajustar-se aos novos contextos que se vão originando sucessivamente. (grifo nosso)

Nessa perspectiva, pode-se constatar que desde os primeiros contatos com o

mundo começamos a ler, a inserir significados, a compreender e a dar sentido a

tudo que nos cerca.

Na mesma esteira, Martins chama a atenção para o papel do educador no

processo de ensino-aprendizagem que ocorre nas escolas e ressalta que é

necessário ler com os alunos e não ler para o aluno:

[...] sustenta a intermediação de outro(s) leitor (es). Aliás, o papel do educador na intermediação do objeto lido com o leitor é cada vez mais repensado; se da postura professoral lendo para e /ou pelo educando, ele passar a ler com, certamente ocorrerá o intercâmbio das leituras, favorecendo a ambos, trazendo novos elementos para um e outro (grifos da autora) (1994, p.33).

De acordo com a autora, muitos educadores baseiam suas práticas escolares

em concepções de leitura inadequadas que não transformam o aluno ledor de texto

em um aluno leitor de texto. Os ledores de textos reduzem as leituras em momentos

de decodificação de palavras, uma mera decifração dos códigos linguísticos. Estas

atividades são as que norteiam as leituras em voz alta, por exemplo. Entretanto, não

contribuem para a leitura efetiva que transforma o aluno em leitor de texto, inferindo

significados à mesma, interpretando e compreendendo o que leu.

Segundo a autora, em muitas práticas escolares o texto vem acompanhado

de perguntas que exigem do aluno apenas a localização de informações explícitas.

Atividades como essas impedem o aluno de ver o texto, de ler nas entrelinhas, de

apontar os aspectos sociais da leitura:

Apesar de séculos de civilização, as coisas hoje não são muito diferentes. Muitos educadores não conseguiram superar a prática formalista e mecânica, enquanto para a maioria dos educandos aprender a ler se resume à decoreba de signos linguísticos, por mais que se doure a pílula com métodos sofisticados e supostamente desalienantes. Prevalece a pedagogia do sacrifício, do aprender por aprender, sem se colocar o

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porquê, como e para quê, impossibilitando compreender verdadeiramente a função da leitura, o seu papel na vida do indivíduo e da sociedade. (op. cit., p.23) (grifos da autora).

Ainda sobre a prática pedagógica, Solé (2009) ressalta que muitos

educadores adotam práticas de leituras mecânicas, sem preocuparem-se com a

função social da linguagem:

[...] sequência inclui a leitura em voz alta pelos alunos de um determinado texto-cada um lê um fragmento, enquanto os outros acompanham (grifo da autora) em seu próprio livro; se o leitor cometer algum erro, este costuma ser corrigido diretamente pelo professor ou, a pedido deste, por outro aluno. Depois da leitura elaboram-se diversas perguntas relacionadas ao conteúdo do texto, formuladas pelo professor. A seguir se preenche uma ficha de trabalho mais ou menos relacionada ao texto lido e que pode abranger aspectos de sintaxe morfológica, ortografia, vocabulário e, eventualmente, a compreensão da leitura. (p.34-35).

Portanto, o entendimento da leitura como prática social deve estar presente

no trabalho do professor ao elaborar atividades para os alunos. Tais atividades

devem levá-los a adquirir gradativamente estratégias e habilidades de leitura. O

professor deve ser capaz de organizar oportunidades para que as leituras realmente

se efetivem. Segundo Martins (1994, p.34) ensinar a ler é muito mais do que

alfabetizar ou dar condições de acesso aos livros e sim de “dialogar com o leitor

sobre a sua leitura, isto é, sobre o sentido que ele lhe dá, repito, a algo escrito, um

quadro, uma paisagem, a sons, imagens, coisas, situações reais ou imaginárias”.

Assim sendo, nos trabalhos desenvolvidos com os gêneros, nas aulas de

Língua portuguesa, deve-se priorizar a diversidade das práticas sociais sempre em

relação ao cotidiano dos alunos. Pensando nisso, foi aplicado no 9º ano do Ensino

Fundamental o material pedagógico produzido no segundo semestre de 2013, tendo

como apoio o Método Recepcional de Bordini e Aguiar (1993), que possibilita uma

leitura reflexiva e oportuniza momentos de debates e reflexões dando voz ao leitor,

como podemos verificar abaixo:

Optou-se por esse encaminhamento devido ao papel que se atribui ao leitor, uma vez que este é visto como um sujeito ativo no processo da leitura, tendo voz em seu contexto. Além disso, esse método proporciona momentos de debates, reflexões sobre a obra lida, possibilitando ao aluno a ampliação de seus horizontes de expectativas (DCEs, 2008.p.74).

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O Método Recepcional tem o leitor como foco principal e trabalha com cinco

etapas em seu desenvolvimento, sendo elas:

- Determinação do horizonte de expectativas;

- Atendimento do horizonte de expectativas;

- Ruptura do horizonte de expectativas;

- Questionamento do horizonte de expectativas e

- Ampliação do horizonte de expectativas.

Segundo as autoras, para iniciar os trabalhos com este método é importante

escolher leituras próximas da vivência dos alunos para, aos poucos, irem realizando

leituras mais complexas e, por consequência, acontecer a ampliação do horizonte de

expectativas.

Portanto, o que se pretendeu com o trabalho realizado foi despertar nos

alunos o gosto pela leitura, bem como também ajudá-los a inferir significados às

mesmas, pois a compreensão leitora ajuda no rendimento escolar bem como no

desenvolvimento de sua personalidade.

3 METODOLOGIA

O Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) nos oportunizou tempo

para estudos e pesquisas na área da Educação e, no meu caso, da temática sobre

leitura e o papel do professor como mediador. Nos dois anos de formação,

buscamos, por meio de pesquisas, estudar a teoria para trabalhar com a formação

do leitor autônomo, que infere significados às leituras realizadas. Outro ponto

pesquisado foi o importantíssimo papel do professor como mediador da leitura. Nas

pesquisas realizadas o Método Recepcional foi o escolhido, pois parte de leituras

próximas das vivências dos alunos e aos poucos possibilita a ampliação da mesma

com textos mais complexos. Com base nestas leituras, elaboramos o Projeto de

Intervenção Pedagógica e o Material Didático-pedagógico que foi suporte para a

atividade de implementação realizada no Colégio Estadual José Luiz Gori, 9º ano C,

município de Mandaguari, Paraná. A temática escolhida para trabalhar com os

alunos foi amizade e as relações interpessoais. Esta temática foi escolhida por

acreditar que a aprendizagem aconteça num ambiente onde há afetividade entre

professor/aluno e aluno/aluno. O tempo destinado para a realização dos trabalhos foi

de 32 horas/aula.

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Antes de iniciar o desenvolvimento da leitura baseando-se no Método

Recepcional, reservamos um momento para explicar aos alunos sobre as pesquisas

realizadas, a importância da leitura em nossas vidas, como ela nos beneficia como

cidadãos e nos ajuda a compreender os conteúdos básicos de todas as outras

disciplinas. Além disso, conversamos sobre a temática a ser desenvolvida, sobre o

significado do termo interpessoal e assistimos ao vídeo “Relacionamento

interpessoal: Fábula do porco espinho”.

Para o desenvolvimento da primeira etapa, Determinação dos Horizontes de

Expectativas, fizemos um trabalho em grupo em que os alunos deveriam ler algumas

questões, fazer as anotações e socializar no grupo maior. Nesta etapa também

assistimos a dois vídeos: Um “As estrelas e os cometas”, que aborda o tema sobre a

importância das amizades e o respeito que devemos ter para com as diferenças e

outro que é a música “A lista” de Oswaldo Montenegro e fizemos uma dinâmica de

grupo “A teia da amizade”. Segundo Bordini e Aguiar (1993, p.88) esse horizonte de

expectativas “conterá os valores prezados pelos alunos, em termos de crenças,

modismos, estilos de vida, preferências quanto ao trabalho e lazer, preconceitos de

ordem moral ou social e interesses específicos da área de leitura”.

Para o desenvolvimento da segunda etapa, Atendimento dos Horizontes de

Expectativas, trabalhamos com o gênero Fábula e textos de humor retirados da

Internet. As fábulas escolhidas foram “A raposa e a cegonha” e “Dois amigos e o

urso”. Durante a leitura das fábulas levamos os alunos a posicionarem-se com o

propósito de desenvolver atitudes responsivas diante de valores, ética, moral, enfim

os princípios que são característicos do gênero. Apesar de os alunos já conhecerem

o gênero fábula, fomos lendo e interpretando, fazendo com que eles percebessem a

linguagem simbólica das mesmas. Com base nas leituras dos textos pudemos

discutir sobre relacionamentos, amizades, respeito para com o próximo. Durante a

leitura dos textos de humor os alunos puderam descontrair sobre a temática

conversando sobre tipos de amigos encontrados ao longo de nossas vidas como, o

amigo nerd, o amigo irmão, o amigo fiel, o amigo festeiro, etc... Ainda nesta etapa

reservamos um momento de produção textual oral com base em alguns provérbios.

Segundo as autoras (1993) o professor, na segunda etapa, “proporá textos cujos

temas e/ ou composição sejam muito procurados, ou na própria literatura ou em

outros meios de expressão...”.

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Na terceira etapa, a Ruptura dos Horizontes de Expectativas, apresentamos

aos alunos o texto de Lygia Bojunga “O bife e a pipoca”. Segundo Bordini e Aguiar

(op.cit.) esta etapa deve-se priorizar o texto chamado “difícil”, pois é ela que abalará

as certezas dos leitores. A dinâmica escolhida foi entregar o texto por capítulos, ir

lendo, inferindo significados, dialogando sobre o assunto, sobre termos

desconhecidos e refletindo sobre as dificuldades encontradas pelos personagens ao

longo do texto. Também abordamos as diferenças entre a linguagem padrão e

coloquial, já que o texto traz muitas expressões informais. Após as questões com a

leitura trabalhamos com a estrutura do gênero conto, os elementos da narrativa e as

partes que o compõe. Sugerimos aos alunos a dramatização do texto.

Durante a quarta etapa, que corresponde ao Questionamento dos Horizontes

de Expectativas, fez-se a leitura do texto de Aristóteles “As três espécies de

amizades”, a amizade segundo a virtude, segundo a utilidade e segundo o prazer.

Estudamos também o “Soneto do amigo”, de Vinícius de Moraes e, em ambos os

textos, os alunos puderam perceber a evolução das leituras realizadas desde o início

dos trabalhos até o momento presente.

E, para finalizar o projeto desenvolvido, a quinta etapa, Ampliação dos

Horizontes de Expectativas, trabalhamos excertos do livro “O pequeno príncipe” de

Antoine de Saint-Exupéry, no qual o autor conta a história de um príncipe criança e

muito ingênuo que resolve sair do asteroide em que mora e passear pelos planetas,

até chegar ao planeta terra. Em cada planeta existe um ensinamento, uma lição de

moral, um aprendizado. No caminho ele encontra muitas pessoas com

personalidades diferentes. Na terra, ele conheceu a raposa, o piloto, as flores e

aprendeu um pouco sobre os homens. O livro trata de muitos assuntos: ganância,

morte, responsabilidade, amor, vaidade, ilusão, pessoas e amizades. Além dos

excertos assistimos a um vídeo sobre a história e ouvimos a música “Velhos

amigos”, de Oswaldo Montenegro. Ao final do projeto houve a apresentação da

dramatização do conto “O bife e a pipoca”.

Bordini e Aguiar (1993, p.90) relatam que nesta etapa final os alunos “tomam

consciência das alterações e aquisições, obtidas através da experiência com a

literatura... e verificam que suas exigências tornaram-se maiores”.

Em paralelo a implementação do material didático ocorreu o Grupo de

Trabalho em Rede (GTR), destinado aos profissionais da Educação, em que 17

professores se inscreveram, havendo a participação ativa de 12 educadores e a

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seguir apresentamos os resultados das discussões realizadas pelos profissionais da

Educação.

4 RESULTADOS

Para analisar os resultados obtidos utilizamos os textos produzidos pelos

professores no Grupo de Trabalho em Rede. Durante o GTR pudemos discutir toda

a problemática que envolve o desinteresse e a desmotivação dos alunos pela leitura

e como nós, professores, podemos fazer para resgatar esta atividade e que ela se

torne prazerosa. Vejamos alguns pontos levantados pelas professoras os quais se

revelam empecilhos para uma leitura de qualidade. As professoras serão nominadas

pelas letras do alfabeto.

A professora A relatou em seu depoimento sobre o uso da internet:

“Realmente, a leitura está sendo um desafio. Motivar nossos alunos a lerem

de uma forma mais completa, e não realizarem uma leitura superficial, nos dias

atuais, é uma verdadeira batalha, pois, a passividade e o comodismo imposto pela

navegação de sites, jogos, programas, entre outros, que não contribuem para a

formação de cidadãos críticos, dominam nossos educandos, que parecem não

estarem dispostos a uma leitura diferente.”

As professoras B e C ressaltaram a postura do professor diante das leituras

realizadas:

Professora B:

“A leitura das palavras, frases ou textos é muito pouco na escola e, cabe ao

educador mediar e incentivar os alunos para buscarem argumentos e

enriquecimento linguísticos através do ato de ler. A leitura deve elevar as

expectativas de conhecimento e mostrar o lado intelectual nas pessoas, mesmo

vivendo num mundo onde existem tantas pessoas que não dominam a leitura e

escrita...”.

A professora C destaca ainda que:

“Como o mundo está cercado pela tecnologia não dando espaço para que o

aluno tenha domínio da leitura e da escrita através de livros, literaturas, revistas,

jornais, etc... cabe à escola resgatar o valor da leitura como sendo um ato de prazer

e quanto a, nós professores, temos que ter claro nosso papel de mediador...”.

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Durante as discussões também foi levantado qual método poderia resgatar o

interesse dos alunos pela leitura, que fizessem com que eles realmente se

tornassem leitores críticos, conscientes de seu papel na sociedade e trouxe como

sugestão ao grupo de professores o Método Recepcional de Bordini e Aguiar (1993).

Após a leitura do material didático, as professoras D e E opinaram o seguinte sobre

o Método Recepcional:

Professora D:

“Acredito que o Método Recepcional é de grande importância da leitura e

criatividade do educando, pois a Estética da Recepção e a Teoria do Efeito são

pressupostos que segundo Maria da Glória Bordini e Vera Teixeira Aguiar,

desenvolvem seus estudos em torno da reflexão sobre as relações entre narrador-

texto-leitor, que se realiza a partir de horizontes de expectativas. E isso com certeza

levará o aluno a pensar e tornar-se um ser crítico, gerando hipóteses e soluções

para os problemas enfrentados.”

Professora E:

“Concordo contigo quando diz sobre a importância de se trabalhar o Método

Recepcional como incentivo na leitura para despertar mais interesse e motivação

dos educandos melhorando assim suas expectativas e raciocínio lógico”.

Enfim, todas as professoras participantes do Grupo de Trabalho em Rede

(GTR) concordaram que o projeto e o material didático são pertinentes, pois sabem

da importância da leitura para o desenvolvimento cognitivo da pessoa, além de

desenvolver o senso crítico e abrir caminhos para o novo, onde se podem vislumbrar

horizontes, novas maneiras de ver e interpretar o mundo. Um sujeito leitor, por meio

dos conhecimentos que acumula tem a oportunidade de melhorar suas condições

socioeconômicas e culturais e, estes conhecimentos lhe proporcionam autonomia

para o desenvolvimento de todos os aspectos de sua vida.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Percebeu-se nas discussões realizadas pelos professores a preocupação

com o desinteresse pela leitura, tendo em vista que ela é a base para que o aluno

entenda os conteúdos de todas as disciplinas.

Alguns profissionais destacaram que o trabalho por meio de projetos e

envolver a internet, que muitos alunos adoram, talvez sejam o caminho para

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resgatar tal interesse. Durante a aplicação do material didático muitos alunos

também opinaram e nas suas falas pode-se perceber que aulas mais dinâmicas e

com o uso da internet atrairiam mais os jovens para gostar de ler.

Muitos alunos terminam seus estudos sem conseguirem fazer uma leitura

reflexiva, crítica e, portanto apresentando dificuldades para posicionar-se diante de

situações concretas da vida, como por exemplo, entrevistas de emprego para sua

inserção no mercado de trabalho, na escolha de seus representantes

governamentais ou ainda, posicionarem-se satisfatoriamente em simples conversas

com amigos. Um dos desafios a ser enfrentado pela escola é o de fazer com que os

alunos aprendam a ler corretamente. Muitos são os fatores que envolvem e que

influenciam nossos alunos a deixarem a leitura em segundo plano, mas nós

professores, podemos fazer uso das teorias existentes e por meio de

aperfeiçoamento profissional buscar soluções para o problema.

Portanto, é na escola que os alunos têm a oportunidade de aprimorar sua

competência linguística e suas práticas de linguagem de forma a garantir uma

inserção ativa e crítica na sociedade.

6 REFERÊNCIAS

BAKHTIN,Mikhail/ (Volochinov). Marxismo e filosofia da linguagem. Trad.de Michel Lahud e Yara Frareschi. 9ª ed. São Paulo. Hucitec,1999.

BARBOSA, Dom Marcos. O pequeno príncipe. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, Pocket Ouro, 2008.

BOJUNGA, Lygia. Tchau. 10ª edição. Coleção quatro ventos. Rio de Janeiro: Editora Agir, 1995. BORDINI, Maria da Glória; AGUIAR, Vera Teixeira. Literatura – a formação do leitor: alternativas metodológicas. 2ª ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1993. KOCH, Ingedore Villaça; ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender os sentidos do texto. 2ª ed.2ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2008. MARTINS, Maria Helena. O que é leitura. 19ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. PARANÁ, Secretaria de Educação do. Diretrizes Curriculares de Português para a Educação Básica. Curitiba, 2008. SOLÉ, Isabel. Estratégias de Leitura. 6ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.

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SITES PESQUISADOS As estrelas e os cometas disponível em http://pensador.uol.com.br/frase/NTM1ODU0/ acesso em 14/10/2014. Música A lista de Oswaldo Montenegro disponível em http://www.vagalume.com.br/oswaldo-montenegro/a-lista.html acesso em 14/10/2014. Música Velhos amigos de Oswaldo Montenegro disponível em http://letras.mus.br/oswaldo-montenegro/velhos-amigos/ acesso em 14/10/2014. Relacionamento interpessoal: A fábula do porco espinho. Disponível em http://www.youtube.com/watch?v=Ec8fPSNB4ts acesso em 14/10/2014. As três espécies de amizade disponível em http://glauberataide.blogspot.com.br/2008/09/as-trs-espcies-de-amizade-em-aristteles.html acesso em 14/10/2014. Soneto do Amigo de Vinicius de Moraes disponível em http://pensador.uol.com.br/frase/NTQ1OTg/ acesso em 14/10/2014. A raposa e a cegonha de Esopo disponível em http://pensador.uol.com.br/frase/ODEwMzk3/ acesso em 14/10/2014. Dois amigos e o urso de Esopo disponível em http://pensador.uol.com.br/fabulas_de_jean_de_fontaine/ acesso em 14/10/2014.