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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

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¹  Professora  PDE  2013,  atuante  no  Colégio  Estadual  Carlos  Gomes  no  município  de  Tomazina-­‐Pr.  Email  [email protected].  ²  Professora  do  Departamento  de  Artes  visuais  da  Universidade  Estadual  de  Londrina  e  orientadora  deste  artigo.  

DA VIOLA AO FOGÃO, DA MARIA AO JOÃO: A HISTÓRIA QUE NOSSO POVO CONTA, FAZ NOSSA HISTÓRIA.

Nássara da Silva Elias Borges¹ Carmen Fabiana Betiol²

Resumo: O presente artigo é o resultado da conclusão do projeto realizado por oferecimento do Programa de Desenvolvimento Educacional-PDE da Secretaria de Educação do Estado do Paraná no período de 2013/2014. A intervenção deste projeto ocorreu com as turmas das 2ª séries A e B do período diurno, no Colégio Estadual Carlos Gomes, na cidade de Tomazina – Pr. Com o intuito de discutir e refletir os valores culturais e artístico da própria comunidade, bem como toda sua cultura popular existente, já que, nem sempre a mesma reconhece tais valores como sua cultura. Sabendo que esta lacuna é decorrência muitas vezes da falta de informação e que deveria ser adquirido em sala de aula, com observância nos conteúdos de arte, para assim se efetivar consequentemente no restante da comunidade local. Firmando nestas primícias, que no espaço escolar a cultura popular e local é pouco valorizada, estudada e discutida, projetou-se a necessidade de levar esta pesquisa como eixo educacional essencial para essa comunidade. Portanto tomamos a cultura local como subsídio para os recursos metodológicos utilizados neste aprendizado, tendo como certeza a necessidade de que os alunos adquiram primeiramente os conhecimentos produzidos por sua experiência nas vivências sociocultural e assim partam para a amplitude do mundo que os cercam. Palavras-chaves: Arte. Cultura popular. Escola. Comunidade.

INTRODUÇÃO

Sem a cultura, e a liberdade relativa que ela pressupõe, a sociedade, por mais perfeita que seja, não passa de uma selva. É por isso que toda a criação autêntica é um dom para o futuro.

Albert Camus

Esta intervenção pedagógica teve como princípio os estudos realizados com

as 2ª séries A e B do Colégio Estadual Carlos Gomes que está inserido no município

de Tomazina, pequena cidade que se localiza no norte pioneiro do Paraná. Esta

cidade historicamente se encontra como uma das mais antigas desta região, com

147 anos, com população estimada de 8.788 habitantes.

Este município conta com grandes riquezas naturais sendo banhada pelo Rio

das Cinzas, com diversas cachoeiras, sendo destaque o Salto Cavalcanti, a

cachoeira Santa Maria e também suas corredeiras ao longo de seu percurso, que já

serviram de inspiração para algumas lendas contadas pelo povo desta cidade.

Como bens patrimoniais culturais, já tivemos um cinema que no início do

século XX serviu de atração artística envolvendo as linguagens visuais e musicais,

pois, consta que no intervalo para trocas dos filmes, que na época era manual, uma

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orquestra animava o ambiente, este primeiro cinema ainda de madeira foi

substituído mais ou menos na década de 50 pelo prédio de hoje, onde também se

encontra abandonado se perdendo ao tempo o projetor, fitas de filmes e todos os

móveis utilizados na sala do cinema. Na sala de entrada, hoje funciona um bar

bastante popular e frequentado pelos mais exímios boêmios da cidade. Temos

também o Centro Cultural Newton Sampaio, mas que pouco utilizado para fins

culturais devido ao mal planejamento arquitetônico, não sendo possível realizar

atividades artísticas que envolva apresentação de palco, pois, não tem um palco e

suporta um número pequeno de pessoas no espaço, tem uma sala que hoje

funciona um projeto de informática oferecido pelo governo federal, uma sala onde

são guardados alguns instrumentos musicais como: violão, trombone, trompete entre

outros, que não são usados. Este espaço que deveria ser cultural é usado para

reuniões diversas, inclusive serviu de capela mortuária para velar personalidades

importantes da cidade. De modo que a maioria da população não sabe do

verdadeiro objetivo deste local e muito menos quem foi e porque este espaço leva o

nome de Newton Sampaio. Para tanto, se formos relacionar as demais perdas que

este município já sofreu estenderíamos a muito este relato.

Enfim este resultado precário no que diz ao reconhecimento da construção,

da memória, das histórias, dos saberes, das tradições, e dos fazeres artísticos que

identificaria esta comunidade, pode ser atribuída primeiramente à escola, sendo esta

a responsável por informação concreta e de reflexão, e a comunidade que pode ser

consequência da escola e por fim as políticas públicas que em nada contribuem para

este reconhecimento.

O ESPAÇO EDUCACIONAL COMO PRIMORDIAL AO ESTUDO E REFLEXÃO DA ARTE E DA CULTURA.

Considerando a abordagem relacionada aos estudos da arte e da cultura,

podemos direcionar, este especificamente ao aprendizado adquirido por intermédio

da educação, e buscar a compreensão, de como tais fatos ocorrem pelo processo

desta educação. Quando falamos em educação, ela já nos remete a uma

interferência ocorrida em nossas vidas, interfere no processo de construção da

nossa “personalidade cultural”, como afirma Duarte p. 59, “educar-se é,

primeiramente adquirir a “visão de mundo” da cultura a que se pertence; educar diz

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respeito ao aprendizado dos valores e dos sentimentos que estruturam a

comunidade a qual vivemos”. Podemos observar então que esta educação se faz

desde que nascemos, pois, já fazemos parte deste aprendizado, desta comunicação

e socialização que se forma no seio familiar e prossegue pelos âmbitos sociais e no

entorno do contexto social a nossa volta, constituindo um tecido social da

comunidade a qual somos pertencentes. Duarte p.26 chama este momento de

“processo educacional primário” ou “aprender a ser humano” “A criança é

socializada: adquire uma linguagem e, com ela, uma determinada forma de falar,

pensar e agir, segundo a cultura em que está.” Desta forma se constitui a

socialização, o aprender a ser humano. A vivência em nossa comunidade, nos

proporciona o conhecimento de nossa “personalidade cultural” que segundo Idem p.

27 alguns autores chamam este processo de “endoculturação”, mais

especificamente seria o “processo pelo qual todos nós passamos, “interiorizando”

um estilo cultural de viver”. Podemos especificar este conhecimento como adquirido

de maneira informal, onde as trocas de experiências acontecem no dia a dia de

forma espontânea entre os atores desta constituição cultural, sendo estes: crianças,

jovens e adultos. Sabemos o quanto este conhecimento adquirido e informal é

importante e necessário para a construção destes saberes, assim também como

sabemos que estes saberes chegam a um potencial que necessitam buscar novos

conhecimentos e novas informações que irão acrescentar conteúdos nestas

experiências, ou seja, a educação formal também se faz necessária como diz Mattar

p.87 “é por meio desses sistemas que constrói a interpretação da realidade e os

conceitos e acessa os objetos de conhecimento”. Essa educação se faz importante

pois, fará com que se compreenda e some aspectos de relevância para a formação

cultural, seja ela popular ou outra, e geralmente estes aspectos voltados

especificamente a compreensão da cultura são oferecidos na maioria pelas aulas de

arte como cita Duarte 2003, p.70

Há que se considerar também os aspectos socioculturais da educação proporcionada pela arte, pois ela está sempre situada num contexto histórico e cultural. Por ela as culturas exprimem o seu “sentimento da época”, isto é, a forma como sentem sua realidade num determinado momento

Para o autor, o importante no processo do conhecimento é relacionar o que é

“vivido” ou “sentido” com aquilo que é “simbolizado” ou “pensado”, pois o simples

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transmitir verbal sem ligação dos sentimentos ou experiências vividas pelo educando

não é sinônimo de aprendizagem, ou seja o importante é fazer com que nosso aluno

reflita sobre aquilo que lhes é significante, no pensar de, Idem p.70 “aquilo que

chamamos de “personalidade cultural”, encontra na arte um meio poderoso para se

expressar e se tornar objetivo”, entendendo então que o papel da educação formal e

principalmente as realizadas nas salas de arte, procura vincular o conhecimento e as

experiências vividas pelo aluno em seu meio cultural transcendendo para as

vivências cotidianas como explica Ibidem, p.70, 71. Conhecendo a arte em meu tempo e cultura, adquiro fundamentos que me permitem uma concomitante compreensão do sentido da vida que é vivida aqui e agora. E mais: conhecendo a arte pretérita da cultura em que vivo, posso vir a compreender as transformações operadas no seu modo de sentir e entender a vida ao longo da história, até os meus dias.

Podemos verificar nesta afirmativa a importância em valorizar o conhecimento

trazido da realidade e colocado como proposta de transformação dando mais

significado para o conhecimento que está a ser reconstruído pelo nosso aluno,

Duarte p.61 ainda afirma que “quando a educação se fundamenta na realidade

existencial dos educandos, a aprendizagem significativa tem maior possibilidade de

ocorrência”. Para o autor nossa compreensão está “radicada” nas experiências que

temos de mundo, e nesta “multiplicidade” que damos aos “sentidos de nossa cultura”

o nosso educando somente adquirirá o sentido do “apreender a aprender” com o

auxílio do “compreender-se”. Podemos comparar este pensamento aos estudos de

Freire em relação a “assunção” que neste momento seria designado para a

interpretação do “assumir” Freire, p.41 “Assumir-se como ser social e histórico como

ser pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos, capaz de

ter raiva porque capaz de amar”. Para Freire essa é uma das práticas mais

importantes no ato educativo, fazer os alunos relacionar-se uns com os outros e

estes com o professor numa experiência de “assumir-se”. Assumir-se como sujeito

porque capaz de reconhecer-se como objeto”. Objeto aqui na qualidade de ser

possível e estar apto a compreender a aprender, que pode transformar e ser

transformador de entender-se no processo de ensino-aprendizagem, Duarte 2005,

p.61 entende essa educação como:

O ato de valoração e significado somente se origina na vida concretamente vivida; valores e significados impostos torna-se, portanto, insignificante. A

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educação é, fundamental, um ato carregado de características lúdicas e estéticas. Nela procura-se que o educando construa sua existência ordenadamente, isto é, harmonizando experiências e significações.

Para o autor, a aprendizagem tem que ser significativa, apresentar um sentido

para o aluno se fundamentar em realidades objetivas e existenciais dele. Assim

também ele aponta que pela arte podemos concretizar estes sentimentos “em

formas expressivas”, que podemos afirmar também nas palavras de Zagonel (2008

p. 30) “A arte e a cultura são um meio de expressão humana, um meio de

comunicação importante. O indivíduo expressa, por meio da arte, seus sentimentos,

suas angústias, suas alegrias e se sente participativo na sociedade a qual está

inserido”. Este é o propósito desde estudo, fazer com que a comunidade escolar

entenda sua participação na sociedade como conclui - se através do pensamento de

Mattar, p.101 “Assim nenhum ser humano poderia ficar fadado a permanecer

excluído da possibilidade de conhecer e desfrutar do patrimônio cultural da

humanidade, reconhecer-se como humano, criar, expressar e agir sobre o mundo”.

O FAZER ARTISTICO EM EXPERIÊNCIAS VIVENCIADAS NA COMUNIDADE.

O trabalho de intervenção pedagógica idealizada através do projeto, teve

como proposta metodológica experiências obtidas da cultura popular local tomando

como base artistas como Antônio Poteiro e Mestre Vitalino e ainda vivências de

pessoas do âmbito familiar dos alunos e da comunidade local.

Esta intervenção foi aplicada nas 2ª séries A e B do Colégio Estadual Carlos

Gomes do período diurno, optou-se por trabalhar com as duas turmas de 2ª séries

desta escola, sabendo que estes conteúdos são essenciais para continuidade dos

conhecimentos obtidos pelos alunos no decorrer do ensino médio e também

primordial para sua vivência na comunidade a qual estão inseridos, não podendo ser

privilégio de uma minoria, com a certeza de quanto mais alunos se apropriarem

deste saber, melhor será o resultado diante do grupo à qual pertencem. Assim

sendo, no primeiro contato com os alunos foi apresentado a proposta do projeto em

contribuição à formação da professora, como também no que diz respeito a

preocupação com os resultados do ensino da arte no âmbito escolar e sua

repercussão sucessivamente na comunidade. Nesta preocupação, foi proposto aos

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alunos, que primeiramente se inteirassem com alguns temas da qual seria utilizado

com grande proporção durante as experiências, tendo em vista também a

inquietação com o ato de pesquisa realizado em sala de aula, muitas vezes este

conhecimento não pode ser obtido, pelo fato dos alunos realizarem de forma errônea

este fazer, sabendo de que atividades desta proporção levam os alunos a

simplesmente utilizarem os meios de comunicação como à internet fazendo o

famoso “colar e copiar”, desta forma foi colocado o verdadeiro sentido para a

aprendizagem em atividades desta proporção, enfatizando qual a maneira correta

para se desenvolver um bom trabalho, assim cada grupo executou sua pesquisa e

posteriormente, passou para apresentação, verbal e visual. A pesquisa em si obteve

o resultado esperado, mas em relação ao ato de pesquisar fontes em internet, ainda

se observa que estas turmas necessitam de mais auxilio para efetivar um bom

trabalho, tendo em vista que está embutido de uma maneira errônea o aprender por

pesquisa, observa-se que os mesmos não leem o que foi pesquisado perdendo o

valor em conhecimento, assim chegou-se à conclusão que mais trabalhos com mais

orientação devem ser realizados, para que esta situação da pesquisa virtual, seja

modificada para um estudo mais aprofundado.

Em continuação deste, o próximo passo que se viu como importante na troca

de experiências com nossos alunos na atualidade foi pela vivência dos mesmos com

o mundo da informatização e também pela facilidade com a comunicação nas redes

sociais, tendo em vista que pouco utilizamos a nosso favor nos conteúdos de sala de

aula, assim essa familiaridade que eles apresentam ficam somente à mercê do que

é oferecido pelo ambiente em que visitam, desta forma entrou-se com a proposta de

criarem um grupo fechado no facebook para troca de conhecimento. No momento de

criação deste grupo alguns fatos foram surpreendidos pela professora, quando se

imaginava todos os alunos com acesso à internet e também ao facebook, sendo que

na sala da 2ª série A, onde os alunos na maioria são provenientes da zona urbana,

quatro alunos tinham acesso esporádico à internet, mas não ao facebook, assim

para que a atividade pudesse ser colocada em prática, os demais alunos auxiliaram

esses que ainda não faziam parte desta rede, criando uma página para que

pudessem participar juntamente com o grupo. Após a sala em consonância, foram

colocadas em prática as atividades, sendo utilizado primeiramente um vídeo de

Antônio Poteiro e Mestre Vitalino para discussão da produção destes artistas assim

também como exemplos que pudéssemos obter em nossa comunidade, para então

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ser utilizado um vídeo do acervo da professora, sobre um violeiro desta comunidade,

para comparação em relação a cada fazer artístico. No momento de discussão via

facebook pode se comprovar que realmente o acesso que eles têm com a internet

está distante do aprender dirigido, vendo a dificuldade que muitos tinham a início da

interação num diálogo mais formal em trocas de conhecimentos, assim viu-se que

muitos não utilizavam a ferramenta “comentar” e somente a “curtir” e conforme as

discussões foram acontecendo mais alunos começaram participar, e mesmo que

timidamente dando suas opiniões. Acredita-se que este trabalho merece ser

ampliado em outros conteúdos para levar os alunos a compreensão do ensino-

aprendizagem com satisfação fora do ambiente escolar. Na 2ª série B este trabalho

via facebook não foi possível tendo em vista que a maioria, dos alunos é da zona

rural e não tem acesso à internet e ao facebook, desta forma os vídeos foram

colocados no telão e feito a discussão em sala de aula. Ficando evidente que

nossas metodologias nem sempre são eficazes em todas as turmas, temos sempre

que estarmos atentos às adaptações necessárias.

Compreendendo a necessidade do fazer artístico para a consonância de um

saber, neste momento após discussão via facebook e sala de aula, era o momento

de transformar as experiências assistidas e vividas entre os grupos, em trabalhos,

que fizessem sentido pessoal, onde cada um pode criar uma composição utilizando

pintura. Observou que este fazer artístico foi essencial e prazeroso para a maioria

dos alunos, tendo em vista a pouca experiência que tiveram com esta qualidade de

atividade, assim sendo o relato de muitos durante o momento de criação, momentos

estes que podem ser observados nas imagens abaixo: Imagem 01- Aluna no momento de Imagem 02- Desenho para ser pintado.

Criação. Aluna E. da 2ª série A Aluno J da 2ª série A.

Fonte autora. Fonte autora.

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Imagem 03- Pintura aquarelada Imagem 04- Pintura aquarelada

Alunos 2ª série B. Alunos 2ª série A.

Fonte autora. Fonte autora.

Como uma das materias prima utilizado pelos artistas Antonio Poteiro e

Mestre Vitalino eram a argila, o importante era colocar os alunos em contato com

este material, assim como no nosso município não existe artista que faça trabalho

desta categoria optamos por algo semelhante, fomos visitar a cerâmica de tijolos

onde usam esta matéria prima e o processo de preparo até a queima dos produtos

são semelhantes aos usados no vídeo pelos artistas. Fomos muito bem recebidos

pelo proprietário, que além de explicar todo o processo para o uso da argila na

fabricação do tijolo, também apresentou um pouco da história do local incentivando

os alunos a pesquisa e valores que devem ser embutidos para melhoria da

conservação de nossa cultura local. Os alunos puderam fotografar, filmar e fazer as

considerações necessárias deste momento, da qual segue abaixo algumas fotos:

Imagem 05- tijolo saindo da maromba. Imagem 06- tijolo em processo de corte.

Fonte autora. Fonte autora.

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Imagem 07- Tijolo levado secagem. Imagem 08 – Tijolo em processo de secagem.

Fonte autora. Fonte autora.

Todo o processo observado nesta visita veio contribuir para o fazer artístico

dos alunos, sendo que posteriormente a argila foi levado para a sala de aula e serviu

para uma reflexão sobre a matéria prima, já que para manuseá-la foi preciso

somente retirar os resíduos e assim confeccionar os trabalhos expressivos

tridimensionais. Para tanto antes do fazer artístico, foi solicidado aos alunos, que

como viram no vídeo os artistas sempre buscavam uma fonte de inspiração para

fazer suas criações, geralmente com fatos ou histórias do lugar onde viviam

retratando também personalidades locais, desta forma foi pedido que os mesmos

pesquisassem junto a internet, na biblioteca da escola ou com familiares lendas

contadas com fatos de nosso município e assim que os materiais chegaram foi hora

do fazer artístico, usando as argilas elaboraram peças que caracterizavam cada

lenda. Foi um momento prazerozo, pois a concentração e o desempenho era visível

e plausível, como podemos conferir pelas imagens que segue: Imagem 09- processo de criação. Imagem 10- Alunas em processo de criação.

Fonte autora. Fonte autora.

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Imagem 11- Alunos 2ª série A. Imagem 12- Alunos 2ª série B.

Fonte autora. Fonte autora.

Nosso munícipio é riquíssimo em lendas, pudemos observar e conhecer

algumas, através deste trabalho na qual desempenhou o entusiasmo dos alunos.

Os grupos começaram a dar vida a suas obras e, as lendas foram sendo conhecidas

através das peças em argilas, que contavam com detalhes minuciosos as

particularidades de cada história. Assim tivemos a lenda do “Diamante do Paredão”

da “Noiva do Trevo”, “A velha”, “O homem de sete metros”, “O saci na garupa do

cavalo” e o mito “Da cobra encantada”, entre outras. Para muitos alunos essas

lendas foram novidades, os mesmos desconheciam essas histórias contadas por

pessoas da comunidade ou até mesmo entre seus familiares. Firmando assim a

necessidade de tais projetos serem executados para a valorização da cultura local.

Após o conhecimento destas lendas contadas por moradores de nossa

comunidade, foi a hora de ouvir histórias contadas por alguém da família, essas

histórias poderiam envolver fatos ocorridos com a pessoa ou com alguém próximo

dela, mas deveria ter ligação com fatos acontecidos em nosso munícipio. Desta

forma as histórias foram chegando, cada qual com suas particularidades e que

agora elas sofreriam interferência artística, passando por um processo de

composição gráfica onde construiriam uma imagem, ou seja, eles teriam que fazer

uma representação da história e este desenho seria posteriormente elaborado em

uma tela. O processo da pintura em tela, passou por todos os fazeres, desde a

montagem do tecido na madeira com a pintura base de fundo para assim transpor o

desenho na tela e fazer a pintura desejada. Assim podemos observar este processo

pelas imagens seguintes:

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Imagem 13- Aluno L. na pintura base. Imagem 14- Alunas desenhando na tela .

Fonte autora. Fonte autora.

Imagem 15– Alunos pintando tela. Imagem 16- Alunos pintando tela.

Fonte autora. Fonte autora.

Essa experiência foi única para todos os alunos, tendo em vista que foi a

primeira vez que realizaram uma atividade de pintura em tela. Podemos observar

que muitas das pinturas foram inspiradas nas histórias contadas pelos pais ou avós,

portanto teve história de quando o avó veio de portugal para o Brasil até chegar em

Tomazina, ou a história da família que veio de São Paulo para Tomazina, de rural, o

nascimento do sobrinho também foi representado pictoriamente, o sufoco do pai ao

deparar com o lobisomem, ou o ataque das abelhas ao avô, o desejo de estudar, a

pescaria, o susto com a boiada, enfim as inspirações para o fazer artístico foram

surpreendente e enriquesseram o resultado final deste conhecimento, atigindo assim

o objetivo desse projeto: consagração das memórias da cultura local.

Entendemos que o fazer que e o saber espontâneo, bem como o

aprendizado nas vivencias diárias não são compreendidos como fundamentais na

formação do saber formal adquirido nas salas e para rever determinados conceitos

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juntos aos alunos, foi proposto que todos conversassem com seus familiares do qual

convivessem na mesma casa e pedisse que cada um oferecesse um objeto pessoal

que tivesse algum significado importante para si, assim também o aluno teria que

buscar seu objeto pessoal e contar o porquê desta escolha e qual representação em

sua vida. Estes objetos foram colocados todos em recipiente de escolha do aluno e

trazido para a sala de aula onde cada aluno retirou o seu, relatando sua história e

em seguida foi instigado a fazer um desenho de observação de seu objeto, sendo

transferido para um tecido recortado e bordado em um outro retalho de tecido que

após cada um fazer o seu bordado foi unido com costura cada pedaço formando

uma colcha de retalhos. O resultado neste fazer artístico foi surpreendente já que

até os meninos se propuseram a bordar sua história, desta forma em participação

podemos ver os resultados nas imagens que seguem:

Imagem 17- Alunos bordando. Imagem 18- Alunos bordando.

Fonte autora. Fonte autora.

Imagem 19- Aluna bordando. Imagem 20- Alunas bordando.

Fonte autora. Fonte autora.

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Imagem 21- Alunas bordando. Imagem 22- Alunos bordando

Fonte autora.

Fonte autora.

Assim a reflexão foi para além de que um objeto pode representar, contando

com sua representatividade enquanto objeto pessoal e agora enquando um fazer

artístico que não mais sozinho mas compondo a união de vários outros em suas

particularidades. Provando assim que a construção do saber, parte do individual

para se chegar em sua totalidade sendo completada com o grupo da qual cada um

pertence, e que, com o fator cultural e artístico de uma comunidade não é diferente,

a construção se inicia com o saber e o fazer de cada um, tornando um conjunto

evidente nesta comunidade.

Resaltando a importância deste saber embutido na cultura popular de nossa

comunidade e também de levar aos alunos a refletirem e a pesquisarem de forma

instigante, podendo neste momento unir suas vivências e experiências com os

meios de informação tão receptivos por eles, assim foi proposto a construção de um

documentário, usando como base pessoas da comunidade que de alguma forma

apresentasse características com o fazer artístico, que no anonimato estes estão.

Sendo dividido os alunos em grupo e colocado a responsabilidade de cada um na

criação deste documentário e usando o Windows Movie Maker onde foi explicado

passo a passo de como usar este aplicativo. Percebeu-se que em todos os grupos

pelo menos um componente já havia feito uso deste aplicativo para produzir vídeos

caseiros, mas na qualidade de documentário nenhum deles havia feito, então para

direcionar seus fazeres foi usado um documentário rico, tanto em seu conteúdo

social como também artístico, o curta metragem do Cineasta Jorge Furtado “Ilha das

flores”, e a partir deste, a riqueza das produções foram diversas como, roda de

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conversas para ouvir causos, roda de viola, histórias de vida e profissional enfim

todos conteúdos fundamentais que vieram contribuir para a ampliação deste

trabalho.

Foi proposto pela direção e equipe pedagógica que a atividade de

encerramento do projeto a Mostra Cultural ficasse para o mês de novembro onde a

escola estaria comemorando a semana de integração da comunidade na escola,

tendo em vista que a todo o momento a comunidade esteve presente enriquecendo

o aprendizado dos alunos. Para realizar esta mostra foi colocado todos os passos

necessários para se chegar ao resultado desejado, que neste momento deveria ser

representado como II Mostra Cultural do Colégio Carlos Gomes, levando o tema:

“Da viola ao fogão, da Maria ao João: A história que nosso povo conta, faz nossa

história”, tendo em vista que no ano anterior ocorreu a primeira, assim os alunos

pensaram como ficariam o convite para a comunidade e o convite em especial para

todos que contribuiram nas atividades, como seria organizado o espaço e material

necessário para expor todas as obras realizadas. As imagens abaixo nos mostra um

pouco do resultado obtido:

Imagem 23- Professora e alunos montando cenário. Imagem 24- Cenário da Mostra.

Fonte autora. Fonte autora.

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Imagem 25 e 26- Exposição das telas.

Fonte autora. Fonte autora.

Imagem 27 exposição das pinturas sobre papel.

Fonte autora.

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Imagem 28- Colcha de retalhos. Fonte autora.

Imagem 29- Obras de uma artesão do município. Fonte autora.

Imagem 30- Exposição grupo Dê-lhe Gaita, banda gaúcha da cidade.

Fonte autora.

Os convites do evento foram direcionados aos pais e toda a comunidade

sendo na forma de cartazes, convite e também pela rádio comunitária da cidade.

Para a noite de abertura foi organizada uma vernissagem onde os entrevistados

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vinham expor seus trabalhos e os violeiros e repentistas também estavam presente

para abrilhantar a noite, que infelizmente foi apagada por uma forte chuva e a falta

de energia elétrica que cobriu a metade da noite não sendo possível realizar o

evento nesta noite, ficando somente a exposição para o dia seguinte que contou

com a visita de todas as escolas da zona urbana e uma pequena parcela da

comunidade. Ao finalizar as atividades foi feito uma roda com cada turma e proposto

uma avaliação de todo o processo vivido neste trabalho até o seu final com a

mostra, assim pode se verificar o entusiasmo dos alunos em relação a nova forma

de aprendizado e também as críticas de melhorias para as próximas experiências,

nesta troca satisfatória em auto-avaliação serviu para que o processo de ensino-

aprendizagem nas aulas de arte realmente sejam fator primordial enquanto sentido

para os educandos.

Outro momento de reflexão e contribuição para o processo desta

implementação foi a experiência obtida pela elaboração e tutoria no GTR na qual

participaram de meu grupo 18 professores de diversas regiões do estado do Paraná

que contribuiram para reflexão da fundamentação teorica que até então discutida e

refletida entre professora PDE e orientadora da IES. Acredito que tais educadores

aproveitaram este estudo levando-o e adaptando-o as suas realidades, penso que

talvez essa troca de experiência tenha sofrido um prejuízo somente pela época em

que foram realizado os estudos, tendo em vista que o andamento da implementação

ainda estava no início e muitas atividades não haviam sido aplicadas com os alunos,

para assim revelar aos professores participantes o resultado obtido, firmando assim

a efetivação positiva desta proposta pedagogica.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Fazer nossos alunos trilhar caminhos significativos com propostas que façam

o refletir necessário na construção de um saber, que se beneficia primeiramente,

dos saberes contidos na comunidade é primordial, para que o aprendizado em arte

seja significativo nos demais conteúdos envoltos nesta disciplina. Esta intervenção

pedagógica estruturada com seus objetivos definidos de forma consisa pode conferir

uma mudança de atitude necessária, para que o ensino da arte neste momento e

nesta comunidade fossem realmente expressivos, tanto ao aprendizado dos alunos,

Page 19: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA …€¦ · Conhecendo a arte em meu tempo e cultura, adquiro fundamentos que me permitem uma concomitante compreensão do sentido da

como as experiências vivenciadas da comunidade numa repercussão para o

verdadeiro objetivo colocado dentro da escola.

Neste propósito fica evidente do quanto é fundamental a busca e a inovação

de práticas pedagógicas nas aulas de arte, para que as experiências sejam sempre

renovadas através também do fazer artístico e que este seja sempre vindo da

construção socio-cultural experimentada pelo aluno.

Portanto instigar nossos alunos ao valor atribuído a cultura local e fazê-lo

compreender como também participativo e contribuinte desta cultura, para posterior

amadurecimento de seus direitos em ter acesso, conhecer e saborear outras

culturas, que virão acrescentar aprendizado necessário para conviver e

compreender a imensidão de oportunidades presentes nas mais diversas

comunidades, que um povo é capaz de construir, faz-se basilar no verdadeiro

processo de ensino-apredizagem tão almejado por esta pesquisa e imprescindível

nas aulas de arte.

REFERÊNCIAS

DUARTE JUNIOR, João Francisco. Fundamentos Estéticos da Educação. 8ª ed.

Campinas, SP: Papirus, 2005.

DUARTE JUNIOR, João Francisco. Por que Arte-educação? 14ª ed. Campinas,

SP:Papirus, 2003.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática

educativa. 29ª ed. São Paulo: Paz na Terra, 2004.

GEERTZ, Clifford. A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro, RJ: LTC editora.

MATTAR, Sumaya. Sobre a Arte Educação: entre a oficina artesanal e a sala de

aula.Campinas, SP: Papirus, 2010.

ZAGONEL, Bernadete. Arte na Educação Escolar: metodologia do ensino de artes.

Curitiba: Ibpex, 2008.