ORATIO - Capela do convento do Embaré

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ORATIO Família Religiosa do Embaré Ordem dos Frades Menores Capuchinhos de São Paulo

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Construção de uma capela para oração dos Frades Franciscanos Capuchinhos no convento da Basílica Menor de Santo Antônio do Embaré em Santos/SP, construída por Danilo Brás em 2014

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ORATIOFamília Religiosa do Embaré

Ordem dos Frades Menores Capuchinhos de São Paulo

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“Se o Capuchinho Vive como Capuchinho até o Diabo o Respeita”

Frei Félix de Lavalle - OFM cap

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Oração

A vida dos frades está sempre alicerçada na oração, e,um espaço concebido, projetado e construído para essefinalidade, esse agente catalizador dos votos, é fundamental naobservância regular, dessa prática diária é que o religiosoenxerga claramente o caminho, e conduz o seu rebanho.

Em meu trabalho vejo freis vivendo seus votos naplenitude e quando me foi confiado esse especial pedido, deconstruir uma capela para a freternidade, meu coração seencheu de alegria. Poder projetar e construir uma capela nafraternidade do Embaré, que tenho como uma casa, foiextremamente gratificante; uma honra da qual nunca me sentimerecedor. Trabalhando com os freis há 22 anos, e faço minhaas palavras de Frei Felix de Lavalle (superior da Missão):

Sei que os frades poderiam construir essa capela de muitas outrasformas, e obteriam êxito em todas elas, na mesma proporção que julgo queobtivemos, mas, de antemão, gostaria de registrar que esse meu trabalho não émeu em nada, ele é da Família Religiosa do Embaré, dessa e das futuras. Nãonutro nenhum sentimento de posse intelectual ou de permanência material doque construí. Sendo assim, registro que se for, ou quando for de interesse, ounecessidade, das futuras famílias religiosas em alterar, ou mesmo destruir esseespaço, de minha parte tem total compreensão e anuência, porque sei que seráfeito de forma muito pensada, e com total parcimônia Não fiquem presos aopassado porque tenho plena fé que os frades agem da melhor forma possível,conforme sua consciência.

“poder trabalhar, pois o trabalho sempre foi e é minha delícia e o meu mais caro divertimento”.. (1890 apudBERTO; Capuchinhos de Piracicaba,198?, p. 16)

Projeto convento trentinoProjeto convento trentino

Frades em frente a Capela do EmbaréFrades em frente a Capela do Embaré

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Sobre o espaço:

Esse novo espaço, construído no claustro da Basílica deSanto Antônio do Embaré, em Santos/SP, vem atender uma demandados religiosos capuchinhos de Santos. Os conventos capuchinhospaulistas (os remanescestes da missão) tentam seguir o estilo deconstrução religiosa nos moldes dos conventos trentinos. O conventode Santos sofreu também dessa mesma influência, mas ele sempreteve a espectativa de expansão, o que nunca ocorreu.

Desse modo, nesses mais de 80 anos de presençaCapuchinha em Santos, as orações diárias foram rezadas em muitoslocais do convento e em sua maioria em locais adaptados, e, nosúltimos anos, na sala de televisão da casa. Embora essa situação crie

desconforto, as muitas atividades da paróquia jogaram para segundo plano qualquer tentativa concreta de correção daquestão, tornando tão atuais as palavras de Frei Bernadino da Lavalle ao Bispo D. Duarte Leopoldo e Silva (Provincial queenviou os missionários capuchinhos ao Brasil):

Sempre houve queixa de um ou outro frade. Embora acasa seja relativamente espaçosa, ela não consegue atender ademanda de uma igreja complexa como a Basílica do Embaré, quetambém é uma paróquia com 85 anos de atividade. Desse modo,cada m2 do convento tem de ser muito bem usado, e apossibilidade de ter uma capela permanente tido como projetoinviável.

Não existe passagem, na história dos Santos e homensexemplares de hábito capuchinho, em que a oração não apareça em

Se ama os capuchinhos não queira que assumamparóquias.(in BERTO; Dados biográficos dos fradesfalecidos,198?, p. 09)

Projeto para capelaProjeto para capela

Painel de tecaPainel de teca

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6Projeto para capelaProjeto para capela

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conjunto com a observância regular; o melhor exemplodisso, é a felicidade com que os frades descrevem o plenofuncionamento do convento de Piracicaba, no ano de1890, onde se exalta que se rezava conforme os moldes da“Província” até mesmo à meia noite, e que isso eramotivo de muita alegria (Frei Félix de Lavalle)

Tão fundamental quanto simples, a oração nãoexige nada sofisticado, nem mesmo em si, mas demanda,sim, de algo especial; não pode ser vazia; foi nesseespírito que tentei me inspirar, desde o primeiro momentode conversa com Frei Claudemir Vialli, quando tudoainda era etéreo, e eu não tinha expectativa de meresponsabilizar pela nova capela ou mesmo de construí-la. Pensei que bastaria comprar tudo pronto, em lojaslitúrgicas, e adequar às necessidades, e sairia comoqueríamos.

Realmente não sei exatamente em quemomento meu querido Frei confiou à mim essaempreitada, ou se me pus à frente de forma impulsiva,mas de qualquer forma começamos a pensar nela juntos.O local estava definido em sua cabeça, e do ponto de vistade disposição geométrica e assistencial para casa éperfeita, logo só teríamos que por tudo em prática.

Com o local definido, comecei a projetar tudo em função do espaço que tínhamos, já sabia que deveríamos construirmuito mais do que inicialmente pensávamos. Nada disponível em lojas agradou, então tínhamos terreno livre para executarexatamente o que queríamos, e elaborei regras, que são anseios de nossos corações e conceitos fundamentais na capela.

A Capela.

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Ela deveria ser totalmente ecológica, nada de madeira não certificada ounão reflorestada, e, de preferência, as madeiras maciças usaríamos de demolição(especialmente o que temos guardado no porão), mas isso não poderiacomprometer a qualidade e o padrão. Tinha expectativa de executar no estilo damarcenaria da Província.

Incorporei esse conceito e tive o cuidado de escutar e respeitar todos ospedidos, sempre ponderei e resguardei o fato que estava fazendo algo parapessoas muito queridas, e o meu melhor poderia não ser o suficiente, então nãopoderia ficar abaixo disso de nenhum jeito.

Tomei a lembrança da Capela do Espirito Santo do Cerrado projetadapela arquiteta Lina Bo Bardi, de modo muito franciscano, ecológico e primitivotanto no conceito como na execução, lembrando a ideia circular edescentralizadas das primeira igrejas paleo-cristãs, de uma espiritualidade tãoprofunda e delicada, advindo de uma militante comunista sem ligação com aIgreja.

Mas esse local sagrado para mim é muito diferente dos demais, não dediquei a perfeição, busquei ela, sempre busco,mas esse é um espaço de homens, que sofrem, refletem, buscam e se transformam, um espaço de homens que vivem juntos e“estão inflamados da verdadeira caridade Cristã, e de um grande zelo pela salvação das almas”.

Nesse espírito, quis construir um espaço de meditação de homens,elementos centrais da Criação, para qual tudo se volta.Amedida de todas as coisas,

desse pensamento, busquei símbolos que transporteme falem, de forma clara, mas não direta, oculto mas àvista de todos, símbolos elementares, compostos eutilizados de forma empírica, milenar e extremamentecontemporânea, fazendo pleno sentido, e agregandovalores diferenciados à capela.

Retângulo áureoRetângulo áureo

Homem VitruvianoHomem Vitruviano

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Quantas pessoas ainda são dominadas por preconceitos irracionais, por projeções e ilusões infantis, um quadrorealístico da mente humana revela que ainda subsistem desses traços primitivos agindo como se nada tivesse acontecido nosúltimos quinhentos anos (Carl G. Jung, O Homem e seus símbolos, 10º ed, 1991, pg 96)

Uma igreja é o espaço da celebração. Reflito e penso em símbolos da perfeição, nada mais glorioso que celebrar oCristo, unido em comunhão na presença de irmãos. O círculo me remete a isso, a essa perfeição, o círculo símbolo douniverso.

Na capela da fraternidade elegi e trabalhei com o quadrado, o elemento de 4 lados, para mim o símbolo do homem,símbolo das 4 estações, dos quatro elementos fogo, terra água e ar (dos filósofos gregos Tales e Empédocles), que em minhaopinião estão fundidos na essência material do homem (fomos feito de barro, temos 65% de água, inflamos o corpo com ar epossuímos calor, estamos a 36 graus). Temos várias referências ao quatro - 4 rios do paraíso, 4 oceanos, 4 temperamentos, 4

Construção da porta de entrada da CapelaConstrução da porta de entrada da Capela

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p o n t o s c a r d e a i s , 4evangelistas, 4 fases ou ciclosda vida, 4 direções dos ventos-, mas na capela são 4elementos que são a essênciamaterial da vida, que é oprincipal elemento da Criaçãode Deus, o homem.

O início da capela foimuito aberto a observações ealterações, escolhemos o

painel de Teca em mosaico, de reflorestamento, e construiríamos tudo com ele, ecompensado folheado, com folha juntada Weng.

Consciente do local exato e definidas as alterações no prédio, comeceiconstruindo uma porta de entrada para a capela, com 260x130, com duas folhas de correr (65x210), e uma bandeira comvidros (230x50cm), tudo fabricado em madeira maciça de Freijo, certificada e com mecanismos modernos. Tudo no estilo artdéco, próximo ao estilo do convento, essa nova entrada ficou voltada para a escadaria, saindo do corredor interno, expondo acapela logo na chegada ao segundo pavimento. Essa foi a peça que consumiu mais tempo, metade dos três meses foram gastoscom ela, fazê-la funcionar entre chapas cimentícias de 10mm na paredes de alvenaria do convento, foi um verdadeiro desafio.

Antes mesmo de instalar a porta, já estava construindo a parte gratificante da Capela, a peças e adornos artísticos. Jápossuía um projeto bem definido, mesmo assim tentamos comprar as peças, especialmente o sacrário, mas saímosconvencidos em definitivo que faríamos mesmo tudo. Nessas andanças Frei Claudemir comprou uma via sacra doApostolado Litúrgico, não compreendi exatamente a idéia dele, eu gostava do emblema central em resina, mas a ideia depossuir 15 cruzes espalhadas pela a capela não me agradava.

Daquele momento em diante teria que aceitar e pensar em algo para as vias sacras, não sou de lutar contra oinevitável; da forma como vieram, não as usarias de jeito nenhum, mas esse não era um problema imediato, então as guardei e

A construção

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tentei esquecer o assunto.

Construí um protótipo dos bancos, e definidoo aspecto de conforto, fiz o primeiro banco. Sempreopto por gastar energia inicial nos elementos que vãogastar somente tempo e tem pouca exigência técnica eartística, uma vez que as peças complexas e artísticassempre renovam meu ânimo. Assim não corro o riscode desanimar antes de concluir o trabalho.

E, para minha total satisfação, os bancosficaram perfeitos, belos e confortáveis, de tal formaque dispensamos o uso de almofadas, e foi nessemomento que soube que essa capela daria certo;gastamos 3 semanas fazendo 8 bancos, e resguardamoseles no convento.

A partir desse momento comecei a construir o Sacrário conforme o projeto. Ele estaria apoiado sobre uma mesa de40x120cm, e na mesma mesa teria um vaso em madeira de teca, em harmonia com o sacrário, para um elemento vivo.Discutimos várias possibilidades para esse tabernáculo, principalmente para o lampadário, que estaria agregado ao sacrário.Eu sempre quis fazer um lampadário em vitral, no estilo tiffany, mas Frei Claudemir e Frei Paulo tinham a idéia de suprimir olampadário e incorporá-lo a algum elemento e iluminá-lo.

Projetamos um sacrário com um mosaico em forma de cruz, feita em pastilhas de 1x1cm de resina poliuretanapigmentada, unidas por um filete de cobre e formato de folhas, e isso seria iluminado com led. Estimei em 40 dias a construçãodessa peça, mas no final a descartamos, sobretudo pelas ponderações do Frei Paulo, que partimos para uma visão maistradicional, onde faríamos um emblema sólido, almofadado, que por si já dava uma modernidade pelo conjunto, e esseemblema seria o contra ponto, que uniria tradição e modernidade.

Apresentei dois apliques para esse emblema, que seriam construídos em cedro de reuso, e folheado a ouro 23 kilates.O primeiro aplique, um Agnus Dei, com detalhes em vermelho, e o segundo, um Cristograma clássico (quadrado), comarremates com trigo e uva, e gravação doAlfa e do Ômega (Cristo é o princípio e o fim), em um esplendor longo, em 4 direções

Sacrário

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12Diversas fotos doSacrário da CapelaDiversas fotos doSacrário da Capela

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(pontos cardiais - Cristo é o caminho).

O lampadário acabou sendo confeccionado em vidrosimportados, soldados com fita de cobre e estanho, iluminado porled. Seu desenho é de uma caixa retangular, e cada lado possui 4quadrados em vidro escorrido imitando madeira, faz um beloconjunto com o sacrário, e está fundido na base do tabernáculo,como peça única e insolúvel.

O conjunto do sacrário possui em toda sua volta umacinta de alumínio, polido à exaustão, com uma sequência dequadrados perfilados perfurados à mão. Esse adorno não foicolocado de forma casuística, fiz baseado na leitura da bíbliapastoral do Cláudio Pastro, Jesus Cristo sempre agrada dia enoite; incorporei esse pensamento e idéia para algo totalmente autoral.

O cinturão de alumínio com seus múltiplos quadrados, simboliza o povo de Deus, queespera e zela ao pé do altar pelo Cristo Vivo. Feito em alumínio polido, aparenta uma coisa quenão é, da mesma forma que a pessoa humana; já o Cristograma, logo acima, só poderia ser emouro, porque Cristo é perfeito e infinito, assim como o ouro, que entre os metais é o mais nobree indelével. O homem deve buscar Cristo, do mesmo modo que na natureza os metais buscamascender na escala periódica, e ir para o metal mais nobre; nesta minha livre interpretação,Cristo é ouro e o homem aparenta ser prata, mas, na verdade, sua essência é alumínio, muito polido, esse leve verniz de nobre.

Ainda encontramos, nesse mesmo conjunto, as pequenas gravações de um quadrado de 1,5x1,5cm, com uma estrelainterna (e tudo feito numa técnica conhecida como “chipcraving”), e se tornou quase uma marca representativa da capela.Esse mesmo quadro representa a pessoa humana, mas a estrela, a pessoa que ascendeu, aqui representa um apóstolo de Cristo.Quatro peças dessa representam os evangelistas, que são como estrelas, Homens que brilham na presença do Cristo (o astrorei, a estrela de quinta grandeza), mas como as estrelas não possuem luz própria, somente refletem a luz do astro maior, oVerdadeiro Elemento que em sua incandescência é capaz de transformar e dar vida, como Cristo transforma simplespescadores em estrelas salvadores de almas, reconhecidas pela eternidade.

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Detalhes

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Quando concluí o sacrário, voltei minha atenção à via sacra, não contei minha intenção de não fazer uso das peças,só busquei saber porque não as queria, e o principal era as cruzes e o fato de serem feitas em cerejeira (madeira de corterestrito).

Minha primeira tentativa foi de refazê-las, utilizando um modelo de cruz latina menor, mas não resolveu, logo vique o problema estava em estarem dispersas, sem sinergia umas com as outras. Então resolvi conversar com Frei Paulo sobrea questão, expliquei que queria algo realmente diferente para a mesma coisa, e ele me encorajou a seguir em frente e

desmontar todas as peças. Munido de talconfiança expliquei meu propósito ao FreiClaudemir, indaguei se era imprescindívelserem em cruz para eles, e nesse momentodeixei claro que nenhum elemento que nãofosse quadrado entraria na capela, e que nãodeixaria a via sacra dispersa na parede.

Montamos, aleatoriamente naoficina, o que eu queria, um painel linearhorizontal, que reunisse as vias sacras, queestariam sobre um quadrado de mosaico deteca. Recriamos a peça comprada de talforma que a incorporamos, e criamos umnovo elemento com uma identidade própria ecomungando com os demais elementos dacapela, e, o melhor, criamos uma leituralinear para essa narrativa bíblica, onde Cristose demonstra mais divino por estar tão 14

Via SacraVia Sacra

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15Cristo em estilo tiroloCristo em estilo tirolo

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humano (e colocar o quadrado homem sob o emblema divino,é lembrar a dupla natureza do Cristo), e para mim essa foi apeça que mais deu satisfação em fazer.

Rapidamente surgiu uma peça imprevista, todos dafamília religiosa sentiram falta da capela não possuir umcrucifixo. Pensado, de forma muito prática e rápida, estabelecique essa peça seria em estilo tirolo, como os antigos crucifixosda Província, e especialmente um modelo do Scopoli. Elaboreiuma cruz grossa em madeira de teca, com gravações dequadrados rendilhados, onde, no seu interior, um novoquadrado se surge, formando uma trama de cruzes, como umteia. De esplendor, modelei quatro peças quadradas, comagulha em flor em estilo gótico todo preto, referência ao estiloda Basílica, onde a capela está hospedada. Esses quatroquadrados, juntos, formam um grande quadrado atrás do Cristo (dupla natureza), e todo o conjunto, com uma iluminaçãoprópria em led, foi colocado cerca de 5 cm da parede, ressaltando sua beleza.

Acabado o crucifixo, dei especial atenção à caixa, ondedeveria ser guardada a chave do sacrário (pesquisei bastante atéencontrar uma fechadura ideal, e compramos uma importada dePortugal). Construí essa delicada peça com muito carinho, feitainteiramente de encaixe espinha de peixe, e com uma tampacorrida, onde gravei quatro quadrados com estrelas, referência aosevangelistas e de interpretação que os evangelhos guardam achave, que leva à salvação, que é Cristo.

Logo comecei a construir o suporte para vela. Elaboreiessa peça com os mesmos elementos decorativos das demais peças;não tentei agregar nenhum outro elemento simbólico, além daprópria simbologia que uma vela carrega. Essa peça foi pensadapela necessidade, e para fazer conjunto com as demais peças da 16

Caixa com as chavesCaixa com as chaves

Mesa do altarMesa do altar

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capela, e por isso seu pedestal em ferro preto, muito discreto,foi a escolha perfeita, para suportar a base em madeira de tecae alumínio polido, e perfurado com os quadrados, formandoum cinturão (de pessoas) a volta da “luz” da vela.

Com essa peça, tomei como concluída a construçãodas peças internas da capela, e parti para uma peça externa,que fizesse conjunto tanto com as peças internas como com aporta de entrada da capela. Essa peça deveria ser significativa,mas funcional, já que iria tampar o quadro de disjuntores, quefica ao lado da porta da capela.

Para isso, projetei um painel em madeira de teca, emestilo românico e com um frontão similar ao da porta dacapela, muito característico ao estilo das casas da Província(Piracicaba e São Paulo). Esse painel iria ser o suporte de umapintura. Inicialmente escreveria um ícone de São José (quantapetulância), o tema não poderia ser melhor, como pai, logoimaginei esse pai zeloso ao leito de repouso do filho; São José,patrono da Igreja, à porta da capela, tem essa função, deconvidar à capela e resguardar esse leito. Busquei váriosmodelos, e criei uma versão para pintura do Santo da Basílica,mas acabei por optar, na última hora, por um modelo do FreiPaulo Maria de Sorocaba, já que achei que a primeira pinturaseria descartada.

Tomei a liberdade de mudar a pintura do Frei Pauloao meu gosto e como melhor me convinha, levando aexpressão da imagem próxima a iconografia fria, descartandoo modelo renascentista original. Incorporei as cores dasvestimentas da escultura da Basílica nesse modelo, e dessaforma foi o intermediário da fusão de duas grandes referências 17

São José da entradaSão José da entrada

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artísticas da Província (Frei Paulo e Giacomo Scopoli),e no final, nas palavras do Superior Frei Claudemir,nada de nenhum dos dois havia sobrado, somenterestara o Danilo na obra. Gravei a expressão “IDE ADJOSEPH” e “ORATIO”, e finalizei a obra aplicandoouro 22 kilates no fundo.

Com todo esse volume de peças prontas, leveitudo para o convento, escolhi como cor Mostarda “Dijon” forte e ousada para o interior da capela - deixei claro que essa erauma opção minha, passível de troca mas que inaugurasse com essa cor -, a iluminação da capela ficou resolvida com umasanca em gesso que projeta luz indireta; o piso da capela ficou o mesmo piso original da sala, tacos de madeira maciça, que foisomente lustrado, e a janela foi inteiramente decapada, ficando na madeira crua, que foi envernizada, e sua ferragem foi limpacom solvente, e polida até obter lustro como nova.

Quando tínhamos tudo definido, elaboramos uma nova peça, uma mesa pequena, para celebração, quandonecessário. Ela ficaria no canto, e seu interior guardaria tudo necessário à sua finalidade. Elaborei essa nova peça inspiradonos antigos revisteiros das bibliotecas das casas, feitos na marcenaria da Província; defini como tamanho de tampo 80x40cm,

com altura de 90cm, feito todo em madeira, revestido com folhaescura de weng; recebeu um tampo de madeira de mosaico deteca, e esse tampo, em suas extremidades, recebeu a gravação dequatro estrelas dentro do quadrado, simbolizando osevangelistas, o conjunto se completa na celebração, onde ocálice ao centro da mesa é Cristo em holocausto, a essência purados evangelhos.

Circulando a mesa, na parte de baixo, fiz uma saia, coma seguinte simbologia: no centro inclui uma cruz em baixorelevo, com rajadas circulares simbolizando o sol (centro douniverso), perfilados ao lado desse astro rei seis estrelas de cadalado, muito dispersas, como os apóstolos, que vão ao longe paratransmitir a mensagem e levar a luz, que é Cristo; abaixo disso, ocinturão, em alumínio polido, com quadrados perfurados, como 18

Croqui dos símbolos das saia da mesaCroqui dos símbolos das saia da mesa

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dito elemento que simboliza pessoas, que aqui são o povo deDeus, que contempla o céu, na esperança de fazer o melhor aotentar seguir Cristo, através da luz transmitida pelos seusapóstolos.

A última peça desse quebra cabeça que é essa capelaestá ainda em nosso corações, Maria, sempre amada, serácolocada no devido local de destaque ao lado do filho, em ummedalhão referente a Imaculada Conceição, um modelo similarao encontrado no colégio internacional Capuchinho em Roma,porém essa medalha circular estará dentro de um quadrado, ecom isso encerrará a capela.

Termina assim, por hora, a capela da fraternidade doEmbaré. Essa leitura narrativa e simbológica do que fiz, foialgo novo para mim, e sei que tudo isso está ali presente, mas deforma nenhuma representam algo ofensivo ao pensamentoobjetivo e claro dos Frades, por quem nutro muito carinho e admiração. Se deixei de fazer algo, não foi senão pelas minhaslimitações, pois em nenhum momento me faltou vontade em dar o melhor.

Aconselho sempre, e a todo tempo, que, havendo necessidade, rearranje o espaço conforme as novas conveniências,mas pensem muito bem, mesmo nas mínimas peças, por mais insignificante que pareçam, pois dificilmente o extraordinárioacompanha o tamanho ou está escondido da vista.

Eternamente agradecido pela oportunidade única.

Paz e Bem.

Danilo Brás dos Santos.

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Fotos da Execução

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Fotos da Execução

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Fotos da Capela

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Fotos da Capela

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Fotos da Capela

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Ordem dos Frades Menores Capuchinhos de São Paulo

Basílica menor de Santo Antônio do Embaré

Faça-se Capuchinho e será feliz!!!Capuchinho esmoler

Elaborado e escrito por Danilo Brás em abril de 2014 25