Opinião - agencia.ecclesia.pt · teses de Lutero, que distanciou ... doutoramento sobre Shusaku...

38

Transcript of Opinião - agencia.ecclesia.pt · teses de Lutero, que distanciou ... doutoramento sobre Shusaku...

04 - Editorial: Paulo Rocha06 - Foto da semana07 - Citações08 - Nacional14 - Internacional20 - Opinião José Luis Gonçalves22 - Semana de... José Carlos Patrício24 - Dossier Liberdade e diálogo ecuménico

26 - Entrevista José Vera Jardim52 - Multimédia54 - Estante56 - Concílio Vaticano II58 - Agenda60 - Por estes dias62 - Programação Religiosa63 - Minuto Positivo64 - Liturgia66 - Fátima 201770 - Fundação AIS72 - LusoFonias

Foto de capa: AEFoto da contracapa: DR

AGÊNCIA ECCLESIA Diretor: Paulo Rocha | Chefe de Redação: Octávio CarmoRedação: Henrique Matos, José Carlos Patrício, Lígia Silveira,Luís Filipe Santos, Sónia NevesGrafismo: Manuel Costa | Secretariado: Ana GomesPropriedade: Secretariado Nacional das Comunicações Sociais Diretor: Padre Américo AguiarPessoa Coletiva nº 500966575, NIB: 0018 0000 10124457001 82.Redação e Administração: Quinta do Cabeço, Porta D1885-076 MOSCAVIDE.Tel.: 218855472; Fax: [email protected]; www.agencia.ecclesia.pt;

2

Opinião

Silêncio e asquestões da fé[ver+]

Igreja quer ouviros jovens[ver+]

Liberdade ediálogoecuménico[ver+] Paulo Rocha | José Luis Gonçalves |José Carlos Patrício |ManuelBarbosa | Paulo Aido | Tony Neves

3

Abraços no lugar de cismas

Paulo Rocha Agência ECCLESIA

Os gestos e as palavras do Papa Franciscoconquistam mediatismo crescente e gerampopularidade em crentes e não-crentes. Aeconomia, a defesa dos pobres, a preocupaçãopor contextos periféricos, a sustentabilidadeambiental e a defesa da vida são temas quegeram simpatia e empatia pelo antigo cardeal deBuenos Aires, agora bispo de Roma. Tambémquando se refere ao ecumenismo... Não só pelaforça das suas palavras, quando fala no“escândalo” da divisão entre os seguidores deCristo, mas sobretudo pelos braços que estendepara outros tantos abraços no esforço deaproximar lideranças de várias igrejas cristãs.Se o espaço mediático que Francisco conquistoué único, os gestos e as palavras que agora dizestão naturalmente em linha com imagens dopassado e do presente, protagonizadas poroutras lideranças da Igreja Católica, à escalauniversal ou local, que raramente merecem amesma amplificação na opinião pública.Em janeiro de 1964, representantes da IgrejaCatólica e da Igreja Ortodoxa punham fim aquase um milénio de desencontros entre asrespetivas lideranças com um abraço. O PapaPaulo VI e o patriarca Atenágoras, da IgrejaOrtodoxa de Constantinopla, confirmavampublicamente determinações conjuntas depromover o encontro entre cristãos desavindoscom um gesto que impulsionou o caminhoecuménico mesmo antes de ter terminado oConcílio Ecuménico Vaticano II.Em outubro de 2016, o presidente da FederaçãoLuterana Mundial, Munib Yunan, e o Papa

4

Francisco selavam com um abraçoa assinatura de uma declaraçãocomum por ocasião dacomemoração conjunta católico-luterana dos 500 anos da reformaprotestante.Em mais de meio século, outrasdeclarações e muitos mais abraçosmarcaram o diálogo ecuménico, nãosó com o protestantismo, e oencontro entre líderes de diferentesreligiões, anotados pela relevânciaque decorre de visitas institucionais.De facto, a presença de váriospontífices em templos ortodoxos,sinagogas ou mesquitas, o encontroentre patriarcas de várias ortodoxiase o Papa, a presença de rabinos ouimãs em ambientes católicos edestes em templos de tradiçãojudaica ou islâmica foram passosdados no diálogo inter-religioso eecuménico, sobretudo peloconhecimento pessoal queproporcionaram e pelaproximidade que daíresultou.Na históriados abraçose da

proximidade entre crentes,nomeadamente os seus líderes, tem de se incluir o que aconteceuna escala de uma viagemintercontinental, mas que representauma etapa fundamental do percursoecuménico. A caminho do México, oPapa encontrou-se com patriarcaortodoxo de Moscovo Cirilo para umabraço entre “irmãos” no “mesmobatismo” e dizer “finalmente”…!Falar hoje em aproximação entrecristãos significa tentar por fim aduas grandes separações, queinfelizmente não são as únicas: aque começou no século XI, no cismado oriente, que separou ortodoxos ecatólicos; e a que se seguiu àsteses de Lutero, que distancioucatólicos e protestantes. Umpercurso que há de ser feito comdebate de ideias, declaraçõesconjuntas e sobretudo com acapacidade de replicar o espírito deAssis, marcado por abraços, muitosabraços!

5

Campo de Refugiados na Grécia @Lusa

6

“O que há hoje de novo é uma sensibilidadepara estes problemas [sem-abrigo], háestruturas, e a Câmara, a Santa Casa daMisericórdia, a Cruz Vermelha e ovoluntariado estão com essas estruturas epõe-nas ao serviço do plano de emergência.Mas é evidente que a cobertura é parcial e ésempre insuficiente”. Marcelo Rebelo deSousa, presidente da República, PavilhãoMunicipal do Casal Vistoso, Lisboa,18.01.2017 "Faremos a nossa digestão interna,claramente está em causa o acordo deconcertação, não por iniciativa do PSD, masquando votar contribuirá para isso. Restaesperar qual a alternativa que o governo iráapresentar [à descida da TSU]". Carlos Silva,secretário-geral da UGT, Lisboa, 19.01.2017 "É uma inversão absoluta das regras dademocracia. Consideramos que é umaprovocação o que o Governo está a fazer eestá a tentar alimentar artificialmente estasituação para gerar um ambiente deconflitualidade política na sociedadeportuguesa". Marco António Costa, vice-presidente do PSD, Lisboa, 19.01.2017 “Há um dado que devemos salvaguardarperante os portugueses: o Governo, com oapoio do PS, celebrou um acordo deconcertação social, esse compromisso deveser honrado, dessa ou doutra forma e esseacordo deve ser garantido e assegurada asua continuidade”. Carlos César, líderparlamentar socialista, Lisboa, 18.01.2017

7

Silêncio e as inquietações da fé

O superior-geral da SociedadeMissionária da Boa Nova foimissionário no Japão durante quase20 anos e fez uma tese dedoutoramento sobre Shusaku Endo,o autor de ‘Silêncio’, obra de “fundohistórico” que é um “romanceteológico”. “O livro poderíamos dizerque é quase um compendio deTeologia em forma de ficção comuma dramaticidade impressionante”,afirmou o padre Adelino Ascenso noprograma 'Ecclesia' desta segunda-feira.

Para o missionário, o livro ‘Silêncio’“é um exemplo magistral” da buscade Shusaku Endo como “cristão ejaponês”, é um “eixo axiológico dasua teologia”.O padre Adelino Ascenso que fez umtrabalho de investigação a 10 obrasde ficção de Shusaku Endoconsidera que ‘Silêncio’ “tem ummiolo teológico impressionante”,uma obra onde o escritor usa comotécnica o fundo histórico para“transmitir as suas inquietações”,principalmente sobre a “fé”.

8

Esta quinta-feira estreou emPortugal o filme baseado noromance homónimo do escritornipónico que conta a história dedois padres da Companhia de Jesusdo século XVII que foram para oJapão em busca do seu mentor, ojesuíta português CristóvãoFerreira, e que são perseguidos etorturados durante a sua missão.Para o padre Adelino Ascenso, “umdos pontos fundamentais” da obraescrita é a valorização dos “cristãosescondidos” (em japonês, Kakurekirishitan) que transmitiram a fé “aolongo de 250 anos sem sacerdotes”.O superior-geral da SociedadeMissionária da Boa Nova explica queno título da obra estão presentesvários silêncios, “não só de Deus”, eque o protagonista começa porpensar que está “de braçoscruzados” porque não defende osseus seguidores, “principalmente dainstituição” (Igreja) relativamenteaos que tinham apostatado.João Lopes, crítico de cinema,refere à Agência ECCLESIA que aobra ‘Silêncio’ - desejada porScorsese desde 1989 - teve umresultado “esplendoroso e tocante”.O filme de Martin Scorsese evoca aperseguição de milhares decristãos

no território nipónico durante oXogunato Tokugawa, que baniu ocatolicismo e quase todo o contactocom o estrangeiro, cominterpretações de Liam Neeson,Adam Driver, e Andrew Garfield.João Lopes sustenta que o filme foipensado para “crentes e não-crentes”, colocando a questão da“relação” com o que transcende oser humano. “O filme pergunta, semdar respostas definitivas, até queponto o exercício da fé pode pôr emcausa a vida do nosso semelhante”,acrescenta.Uma questão abordada com“seriedade” e que, segundo o críticode cinema, tem “ressonâncias atuaismuito vivas”.“O Silêncio, de Martin Scorsese, éum filme que acredita do outro ladoestá ou pode estar um espetadorque não desistiu de pensar”, realçaJoão Lopes.

9

Cáritas de Viseu recebe refugiadosA Cáritas Diocesana de Viseurecebeu esta quarta-feira um casalde refugiados do Iraque, que vaiviver na cidade com o apoio destainstituição da Igreja Católica. Estefoi o segundo casal de refugiadosque a Cáritas Diocesana de Viseurecebe esta semana: na segunda-feira chegou também ao aeroportode Lisboa um casal sírio, disse àAgência ECCLESIA ManuelaAlberto, responsável doatendimento social da CáritasDiocesana de Viseu.Este organismo diocesano aderiu,há cerca de um ano à Plataforma deApoio aos Refugiados (PAR) emostrou-se disponível para receberestas pessoas que “chegamconstantemente à Europa”, frisou.Com estas ações, a Cáritas deViseu pretende ajudar “nestedrama

europeu”, mas o processo até àchegada destes refugiados foi “lentoe burocrático”, salientou aresponsável.A família síria é constituída por trêselementos (os pais e um bebé deum ano) e está na comunidadeparoquial de Pedrosas (Concelho doSátão).Os cinco elementos que constituema família iraquiana vão viver emViseu e a cidade já “espera poreles”, referiu Manuela Alberto.A barreira linguística vai ser o “maiorproblema” porque destas duasfamílias “só um elemento “é que falainglês, afirmou à Agência ECCLESIAPatrícia Paiva, da Equipa deRendimento Social de Inserção daCáritas de Viseu. No início recorre-se “aos gestos e aos desenhos” edepois, numa segunda fase, “vãoaprender a língua portuguesa”,acrescentou.

10

Cáritas lança campanha de invernoa favor dos refugiadosA Cáritas Portuguesa lançou acampanha solidária ‘Levo Calor aosrefugiados’, especialmentedirecionada para os milhares derefugiados que estão a enfrentar osrigores do inverno, em países comoa Grécia e a Sérvia. Em comunicadoenviado à Agência ECCLESIA, opresidente daquele organismocatólico recorda o drama queenfrentam aquelas pessoas, ao frio,à chuva e à neve, com ostermómetros a baixarem muitasvezes aos “20 graus negativos” enão havendo nenhum abrigo semser “barracas feitas de pano”.“Porque são tantos que nem todoscabem nessas barracas, muitosvivem ao relento, outros em camposou edifícios abandonados e muitosnão resistem a estas duríssimascondições. E as crianças nafragilidade das suas condiçõesfísicas?”, escreve Eugénio Fonseca,incentivando os portugueses aparticiparem nesta campanhasolidária. “Levemos aos refugiadoso calor do nosso donativo que é aexpressão do calor do nossocoração”, exorta aqueleresponsável.Esta nova recolha de apoiosfinanceiros prevê também a ajudaàs “populações mais vulneráveisque se encontram no Leste e Sul daEuropa“.

Para participar na campanha ‘LevoCalor aos Refugiados’, basta efetuarum donativo através da conta PT500033 0000 0109004015012.Sobre a situação dos refugiados naGrécia, a Cáritas Portuguesaapresenta o testemunho deMaristella Tsamatropoulou. Segundoesta representante da CáritasGrécia, “as pessoas nem sequerpodem beber água ou tomar umbanho, porque a água estácongelada”.Também “não há aquecimento”, peloque “as comunidades locais estão adistribuir lenha e fornos elétricos”.Quanto ao contexto na Sérvia, outropaís que acolheu um grandenúmero de refugiados, DanieleBombardi, coordenadora da CáritasItaliana naquele país, sublinha que“os campos estão sobrelotados eem Belgrado milhares de pessoasdormem ao relento".

11

A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram aatualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizadosem www.agencia.ecclesia.pt

12

Núncio apostólico espera ONU «revitalizada» sob a liderançade António Guterres

Refugiados: Quando a primeira paragem em Portugal é o Santuário deFátima

13

Vaticano quer conhecer expectativase condições de vida dos jovens

O Vaticano divulgou o documentopreparatório para o Sínodo dosBispos de 2018, dedicado aosjovens e ao “discernimentovocacional”, anunciando arealização de um inquérito onlinedirigido às novas gerações. “Estáprevista uma

consulta a todos os jovens, atravésda internet, com um questionáriosobre as suas expectativas e a suavida”, adianta o documento,disponibilizado pela sala deimprensa da Santa Sé.Os chamados ‘lineamenta’ incluem

14

já um questionário próprio, com 30perguntas sobre a relação entrejovens, Igreja e sociedade;o acompanhamento espiritual evocacional dos mais novos, porparte dos responsáveis católicos; apastoral juvenil vocacional; e umconjunto de questões específicaspara os vários continentes.O Papa Francisco decidiu convocarpara outubro de 2018 a 15ªassembleia geral ordinária doSínodo dos Bispos, dedicada aotema ‘Os jovens, a fé e odiscernimento vocacional’.A publicação do documentopreparatório dá início a umprocesso de consulta que levará àredação do instrumento de trabalhopara a assembleia sinodal.O Vaticano questiona os jovens e osresponsáveis católicos sobre odescontentamento perante o atualsistema político, económico e socialna Europa: “Como ouvem estepotencial de protesto, para que setransforme em protesto ecolaboração?”.O texto fala numa geração“(hiper)ligada”, para sublinhar queesta experiência de relacionamentoatravés da tecnologia “estrutura a

conceção do mundo, da realidade edas relações pessoais”.À Igreja, pode ler-se, competeajudar os jovens a criar um itinerário“reflexivo” que os ajude na transiçãopara a vida adulta num contexto de“fluidez e precariedade”.O documento preparatório propõeuma reflexão em três partes,começando pelas dinâmicas sociaise culturais antes de passar àabordagem do “discernimento”,como instrumento que a Igrejaoferece aos mais novos para adescoberta da sua vocação. Emterceiro lugar, são colocados emrelevo os elementos fundamentaisda pastoral juvenil vocacional.O Sínodo dos Bispos pode serdefinido, em termos gerais, comouma assembleia consultiva derepresentantes dos episcopadoscatólicos de todo o mundo, a que sejuntam peritos e outros convidados,com a tarefa ajudar o Papa nogoverno da Igreja. Até hoje houve14 assembleias gerais ordinárias etrês extraordinárias, as últimas dasquais dedicadas à Família (2014 e2015).

15

Papa escreve aos jovens

O Papa Francisco escreveu aosjovens de todo o mundo,apresentando o Sínodo de 2018,para pedir-lhes que construam uma“nova terra”, rejeitando a “cultura dodescartável” e a “globalização daindiferença”. “Qual é para nós hojeesta nova terra, a não ser umasociedade mais justa e fraterna, àqual vós aspirais profundamente eque desejais construir até àsperiferias do mundo?”, refere amissiva.Francisco recorda que em outubrode 2018 se vai celebrar o Sínododos Bispos sobre o tema ‘Os jovens,a fé e o discernimento vocacional’.“Eu quis que vós estivésseis nocentro da atenção, porque vos tragono coração”, explica.O Papa desafia os mais novos a“sair”

em direção ao futuro e a “ouvir a vozde Deus”, sublinhando que, paramuitos, a saída implica também afuga da “injustiça e da guerra”.“Muitos estão submetidos àchantagem da violência e sãoforçados a fugir da sua terra natal”,lamenta.Francisco aborda depois asquestões ligadas ao discernimentovocacional, aconselhando os jovensa procurar o “acompanhamento deguias especializados” para descobriro projeto de Deus. “Um mundomelhor constrói-se também graças avós, ao vosso desejo de mudança eà vossa generosidade. Não tenhaismedo de ouvir o Espírito que vossugere escolhas audazes, nãohesiteis quando a consciência vospedir que arrisqueis para seguir oMestre”, escreve.

16

Francisco levou solidariedadeaos subúrbios de RomaO Papa visitou no último domingo aParóquia de Santa Maria aSetteville, em Guidonia, periferialeste de Roma, e sublinhou aosmembros da comunidade católica aimportância da atenção ao outro.Francisco começou por encontrar-se com representantes de jovens,famílias, idosos e doentes, aosquais disse que quem se diz católicotem de dar testemunho da sua fécom “a palavra, o coração e asmãos”.“Eu posso falar do Senhor, mas senão falo com a minha vida, dandotestemunho, não serve. 'Mas, padre,eu sou cristão e falo do Senhor'.Sim, mas tu és um cristão-papagaio,apenas de palavras", advertiu.Simbolicamente, o Papa quis levaruma palavra de conforto ao padreGiuseppe Berardino, de 47 anos,que se encontra acamado porcausa de uma doença grave, aesclerose lateral amiotrófica.Falando aos jovens, Francisco faloude momentos na vida em que sevive uma “escuridão da alma”,dando como exemplo um pai, viúvo,com quem se encontrou estesábado na capela de Santa Marta,onde batizou 13 crianças quenasceram nas regiões atingidaspelos recentes sismos

na Itália. “Percebia-se que há aliescuridão e é preciso respeitá-la”,observou.Já na homilia da Missa a quepresidiu na igreja paroquial, o Papasublinhou a necessidade de“testemunho” de Cristo para queoutros acreditem, como fez SãoJoão Batista. A intervenção partiu do“testemunho e martírio” dos cristãos,evocando os que chegam a “dar avida” por causa da sua fé.“Ser cristão, acima de tudo, é dartestemunho de Jesus”, prosseguiuFrancisco.Numa homilia improvisada, o Papareferiu que os apóstolos tambémeram “pecadores”, fugiram quandoJesus foi preso e chegaram mesmoa traí-lo. Apesar das suas fraquezas,acrescentou, “eram testemunhas dasalvação que Jesus traz”, que se“deixaram salvar”.

17

O Papa desafia os mais novos a “sair” em direção ao futuro e a “ouvir a voz de Deus”,sublinhando que, para muitos, a saída implica também a fuga da “injustiça e da guerra”.“Muitos estão submetidos à chantagem da violência e são forçados a fugir da sua terranatal”, lamenta.Francisco aborda depois as questões ligadas ao discernimento vocacional,aconselhando os jovens a procurar o “acompanhamento de guias especializados” paradescobrir o projeto de Deus. “Um mundo melhor constrói-se também graças a vós, aovosso desejo de mudança e à vossa generosidade. Não tenhais medo de ouvir oEspírito que vos sugere escolhas audazes, não hesiteis quando a consciência vos pedirque arrisqueis para seguir o Mestre”, escreve.

A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram aatualidade eclesial internacional nos últimos dias, sempre atualizadosem www.agencia.ecclesia.pt

18

Papa batizou crianças nascidas nas zonas atingidas pelos terramotos naItália

Papa denuncia «perigos» que ameaçam menores migrantes e refugiados

19

Afirmar o primado da éticasobre a economia

José Luís Gonçalves Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti

A pretexto da realização do Fórum EconómicoMundial, em Davos, de 21 e 24 de janeiro, aONG Oxfam divulgou um estudo sobre aconcentração da riqueza mundial que apresentaresultados deveras escandalosos. Entre osvários dados disponibilizados, informa que, em2016, as 37 milhões de pessoas que compõem o1% mais rico da população mundial terá tido maisdinheiro do que os outros 99% juntos. Mais, queno interior deste grupo dos 99%, também existeuma desigualdade gritante: quase toda a riquezaestá nas mãos dos 20% mais ricos, enquanto asoutras pessoas dividem 5,5% dos bens. O 1%mais rico do mundo é maioritariamente daAmérica do Norte e da Europa e dedica-sesobretudo a atividades nos setores das finanças,dos seguros e, crescentemente, da industriafarmacêutica e da saúde.No atual sistema mundial, o verdadeiro sujeitohistórico deste processo de acumulação deriqueza é o capital financeiro transnacional,detentor dos vários poderes fácticos instituídos,permitindo-se difundir abertamente as ideologiasque pretendem justificar certas correnteseconomicistas desejosas de se desvincularem dequaisquer princípios éticos e, assim, legitimar aexploração e a injustiça. Esta ideologiasespalham “a convicção de que o crescimentoeconómico se deve conseguir mesmo à custa daerosão da função social do Estado e das redesde solidariedade da sociedade civil, bem

20

como dos direitos e deveres sociais”(Bento XVI, Dia Mundial da Paz2013).Esta tendência para acumularriqueza por parte de alguns “àcusta” da maioria foiabundantemente denunciada pelaIgreja, especialmente a LatinoAmericana (Cf. Documento dePuebla, n.º 28). O nexo causalexistente entre a acumulação deriqueza de uns poucos “à custa” doempobrecimento da maioria constituinão só uma evidência empírica,mas, acima de tudo, uma iniquidademoral. Constata-se, pois, que aeconomia mundial padece de uma“quebra ética” tornando-seimperativo restaurar o “primado doespiritual e da ética e, com ele, oprimado da

política – que é responsávelpelo bem-comum – sobre aeconomia e a finança” (CNJP,fevereiro de 2013).A atual cultura pós-utópica, dependor pragmatista e resignada “aoque é possível” – sinal maior de umasociedade empobrecida nos seushorizontes e valores – esquece quea pessoa humana constitui ofundamento, a causa e o fim detodas as realidades, inclusive arealidade económica. Estecompromisso ético assenta naesperança cristã, permanentementerevivificada pela força do Espirito doRessuscitado, de que a recriação dequalquer presente não só é possívelcomo necessária.

21

A herança que nos lega na sua Família e no imperativo de tudo fazermos ao serviço davida e da dignidade da pessoa humana deve ser um desígnio de missão e um propósitode ação para todos nós.Há pessoas a quem devemos uma imensa gratidão: as que nos fazem nascer; as quenos ajudam a ser felizes; as que nos ensinam a crescer na alegria, na verdade e na fé..Essas pessoas, dotadas de uma inteligência brilhante, de um coração generoso, de umavontade determinada e de uma fé esclarecida ajudam-nos a encontrar coragem nashoras de sofrimento, a escutar Deus em todos os acontecimentos e a trabalhar semdescanso e sem desânimo na construção de um mundo melhor.Todos, na vida, temos perto de nós exemplos desta grandeza, que juntam à simplicidadede vida o heroísmo dos gestos corajosos, a sabedoria das decisões lúcidas, a grandezados testemunhos humildes. E o Professor Doutor Daniel Serrão é um desses exemplosmaiores.Num mundo marcado pela ansiedade diante do horizonte do futuro e preocupado portantas razões, as válidas e as desnecessárias, vale a pena saber que há gente deinteligência lúcida, de coração largo e de generosidade ilimitada. Vale a pena saber quehá homens e mulheres, médicos de vocação, profissionais competentes, cristãoscomprometidos, que vislumbram horizontes de esperança e que dão uso ao ouvido docoração, constituindo um porto seguro de abrigo à vida humana.Vale a pena saber que há homens e mulheres que não se cansam de “cuidar” da vidada pessoa humana, em todas as fases, sobretudo quando ela é doente, quando sofre,quando está frágil, quanto é indefesa. Vale a pena saber que há homens e mulheresque tudo fazem para que na Humanidade surjam oásis habitados pela esperança nosavanços da ciência médica e pelo valor sagrado e intocável da vida humana. O Professor Doutor Daniel Serrão foi testemunho exemplar e voz profética em tantasfrentes de missão a favor da vida e ao serviço da fé. A Igreja do Porto tem o dever de lhe dizer esta palavra de gratidão e de lhe assegurar acerteza de que saberemos continuar este abençoado património que nos lega emherança e em compromisso de missão.

Porto, 9 de janeiro de 2016António, Bispo do Porto

Não vale virar a cara e ignorar

José Carlos Patrício Agência ECCLESIA

Durante a última semana tive a oportunidade deconhecer e de escrever sobre várias famílias derefugiados que já se encontram em Portugal.Pessoas simples, que assim que abrem a portafazem tudo para retribuir a hospitalidade quereceberam, cujos rostos apenas se fechamquando falam da situação no seu país e nosmotivos que as fizeram abandonar a pátria.Foi para mim um choque ouvir estes relatos,acerca da guerra, dos perigos que correram, deuma fuga que envolveu centenas de quilómetrosa pé por entre as montanhas e milhares demilhas por mar em barcos de borracha, confiadaà sorte e à ajuda incerta dos contrabandistas.Tudo apenas para enfrentar uma nova esperaagonizante, em campos de refugiados, ao frio e àchuva.Homens e mulheres com filhos pequenos, um paique teve de deixar para trás na fronteira amulher grávida, uma criança que pouco maisconheceu na vida do que o som dosbombardeamentos. Às vezes precisamos de estar face a face com odrama para compreendermos que ele não é algolongínquo ou saído de um filme, que é muito reale que todos podemos fazer algo para ajudar.Por exemplo, a campanha ‘Levo calor aosrefugiados’, que a Cáritas Portuguesa está apromover, é uma forma muito concreta de ajudarmilhares e milhares de pessoas que aindaesperam por um destino em camposimprovisados, que

22

podem não conseguir aguentar maisum inverno.Por cá, são também muitas aspessoas que precisam de ajuda esolidariedade, que vivem na ruasem qualquer tipo de condições, porterem perdido a sua casa, a suafamília, o seu rumo.Tal como os refugiados, carregamconsigo histórias que podiam teracontecido a qualquer um, a mim

e a ti, histórias de desânimo, dedepressão, de dependência, derevolta.Seres humanos que não merecemque nós viremos a cara nas ruas,que os ignoremos, mas sim umanova oportunidade, um sorriso, umouvido que escuta ou simplesmenteuma manta para os ajudar a passarmelhor a noite.

23

O Semanário ECCLESIA apresenta esta semana uma entrevista aopresidente da Comissão da Liberdade Religiosa, José Vera Jardim, oqual rejeita qualquer “agenda laicista” e sublinha que não pretendeuma revogação da Concordata entre a Santa Sé e a RepúblicaPortuguesa.Em destaque estão, depois, textos e testemunhos sobre a Semanade Oração pela Unidade dos Cristãos, que no hemisfério norte secelebra de 18 a 25 de janeiro, evocando em 2017 os 500 anos dareforma protestante, iniciada por Martinho Lutero.

24

As principais divisões entre as Igrejas cristãs ocorreram no século V,depois dos Concílios de Éfeso e de Calcedónia (Igreja copta, doEgito, entre outras); no século XI com a cisão entre o Ocidente e oOriente (Igrejas Ortodoxas); no século XVI, com a ReformaProtestante e, posteriormente, a separação da Igreja de Inglaterra(Anglicana).

25

26

Liberdade religiosanão é apenas questão deminorias O presidente da Comissão da Liberdade Religiosa, José Vera Jardim, fala àAgência ECCLESIA das prioridades deste organismo consultivo, do exemploportuguês na área do diálogo entre comunidades crentes e das questõesligadas à defesa do direito fundamental da liberdade de culto, asseguradosem Portugal pela Lei da Liberdade Religiosa e a Concordata.

Entrevista conduzida por Octávio Carmo Agência ECCLESIA - A presença demuitas comunidades religiosasaquando da tomada de posse, háquatro meses, mostrou que haviaum desejo de que esta Comissãovoltasse a ser uma referência dediálogo?José Vera Jardim (JVJ) - Sim, sim.Aliás, também na tomada de possedo senhor presidente da República,anteriormente, foi possível fazeruma oração em conjunto com asreligiões que representam ofundamental da sociologia religiosaem Portugal.A Comissão da Liberdade Religiosaesteve numa situação deesquecimento, após a presidênciado dr. Mário Soares, pelo que houvee há um tempo de esperança, paraque a comissão possa ter umdiálogo

aberto, contínuo e próximo com asconfissões religiosas.Participamos em eventos especiais,de todas as Igrejas, incluindo,obviamente, a Igreja Católica. Eunão entendo a comissão como umacomissão de defesa das confissõesminoritárias, mas como umacomissão que está aqui paradefender a liberdade religiosa emgeral. Por isso, por exemplo,participei numa organização daFundação Ajuda à Igreja que Sofre,com muito gosto.Fazemos o possível por manter estaproximidade e, por outro lado,apresentamos à ministra da Justiçaa ideia de fazer, pelo menos umavez por ano, uma reunião com todasas Igrejas radicadas e outras quetenham

27

importância no espetro religioso emPortugal, além, naturalmente, daIgreja Católica, que tem outroestatuto, para análise da situaçãoda liberdade religiosa. Tentamosainda fazer renascer o prémio daLiberdade Religiosa e convidarpersonalidades estrangeiras,professores, deputados.A Comissão da Liberdade Religiosatem limitações de meios, mastambém é da sua missão estatutáriao estudo da situação das religiõesem Portugal e a apreciação daliberdade

religiosa. Penso que é muitopositiva, não temos, felizmente,problemas graves de restrição deliberdade religiosa, mas temos deestar sempre atentos aos direitosfundamentais. AE - António Guterres, novosecretário-geral da ONU, dissesentir orgulho porque em Portugalnão se procuram ganhar votos como ódio. Sente que há um “modeloportuguês” de convivência entre asociedade e as religiões que podeinspirar outras

28

nações, neste momento de algumatensão na Europa?JVJ - O modelo português tem sidoreconhecido, a nossa Lei daLiberdade Religiosa, comoexemplar. Há países que não têmlei, mas nos países de sistema maisparecido com o nosso, do sul daEuropa - descontando a França,que é uma experiência muitoespecial, de laicidade muito dura,digamos -, a regulamentação darelação dos acordos entre Estado eIgrejas faz-se através de acordos,sobretudo. Em Portugal, fizemo-loatravés de duas coisas: aConcordata com a Santa Sé, para aIgreja Católica, e a Lei da LiberdadeReligiosa, que é aplicável a todos osoutros.Todas as Igrejas têm os mesmosdireitos, não precisam de acordoscom o Estado. Temos sentido daparte dos nossos colegas espanhóisque eles acham que o nossosistema é mais operacional, maisjusto, até, porque a Lei daLiberdade Religiosa se aplica atodos por igual. AE - Portugal tem aberto as suasportas aos refugiados e os novosfluxos migratórios têm um impactonos movimentos religiosos. Isso vaiimplicar uma atenção particular?JVJ - Bem, espero que não. Éevidente que isto depende dacapacidade de

integração que o país tenha. Euestou sempre em contacto como ministério, participei aliás numgrande colóquio sobre a matéria daintegração, porque a liberdadereligiosa é uma parte importante deuma boa integração na sociedade.A pluralidade religiosa deu-se emPortugal, sobretudo, a partir do 25de Abril, com a chegada de pessoasdas antigas colónias, como sechamava, e da imigração vinda doLeste europeu. Isso é um fenómenoque se tem dado na Europa, commais ou menos intensidade, nalgunspaíses com uma grandepredominância das comunidadesislâmicas.As relações entre o Estado e asreligiões, bem como entre as váriasreligiões, vivem-se, em Portugal,num clima de entendimento mútuo,de cooperação, poderíamoschamar-lhe quase de ecumenismogeral, de compreensão, detolerância. Tudo faremos para queesse clima se mantenha,independentemente da chegada denovos imigrantes. O que é preciso ésaber integrar bem essas pessoas ea integração passa não só pelaconvivência religiosa saudável, comtolerância, mútuo respeito, mastambém por outras coisas: a partesocial é muito importante.

29

AE - Portugal tem há 20 anos umapresença institucional das váriasreligiões na televisão pública,através do programa ‘Fé dosHomens’, agora também na rádio. Éimportante dar voz às religiõesperante um clima de crescentedesconfiança?JVJ - É óbvio. O ódio e o medo vêmmuitas vezes do desconhecimento.Esse ódio, infelizmente, grassa emmuitos países do mundo e tambémda Europa, é usado por movimentosxenófobos, como todos sabemos,radicais. Assenta muito nodesconhecimento, no conhecimentoinexato, na inverdade ou mesmo namentira aberta.O contacto, o diálogo, tudo o quepossamos fazer nesse sentido, é omelhor método que temos paracombater esse ódio. Tem sido ditopor todos os responsáveisgovernamentais que não estamoslivres de acontecer em Portugalalguma coisa e não é disso que setrata. Não temos aqui um muro aseparar-nos do resto do mundo. Oque temos de fazer é o nossotrabalho, de respeito mútuo, detolerância, de compreensão dooutro, para lutar contra o medo e oódio.

AE - A existência de umaConcordata com a Santa Sé beliscade alguma forma a igualdade entreas religiões, aos olhos do Estadoportuguês?JVJ - Não. Eu tenho a minhaopinião, que já exprimi - aliás váriasfiguras da Igreja Católica mostraramuma opinião parecida -, e penso quea solução ideal teria sido que a Leida Liberdade Religiosa se aplicassea todas as confissões, incluindo aIgreja Católica, e que as confissõespudessem ter acordos sobrematérias pontuais.Dou dois exemplos: a Igreja Católicatem o casamento como umsacramento, com todas asconsequências que disso advém;tem um património que necessita denegociação constante. O patrimónioda Igreja confunde-se muitas vezescom o património do país -conventos, igrejas, sés, etc.Se nós compararmos a Lei daLiberdade Religiosa com aConcordata, as diferenças não sãoassim tão grandes. A terminologia, alinguagem, é própria dos acordosinternacionais que a Igreja Católicacelebra, mas se formos ver osdireitos e a situação jurídica dasconfissões, sobretudo dasradicadas, não é muito diferente.Naturalmente, a posição da Igreja

30

Católica em Portugal é dominante,as confissões minoritárias nãonegam isso e devo dizer que nãotemos tido posições a dizer que sesentiam mal por haver umaConcordata.A minha posição é tomada a títulopessoal, não como presidente dacomissão: preferia que tivessehavido uma lei para todos e depoisse fizessem acordos com a IgrejaCatólica sobre várias matérias. Asisenções fiscais são exatamenteiguais, o ensino da religião também- quando se justifique - emcondições de igualdade. É evidenteque, como

se costuma dizer, é preciso tratarpor igual aquilo que é igual, não épossível tratar por igual aquilo que éprofundamente desigual.Eu não tenho nada contra aexistência da Concordata e a provaé que estive na cerimónia(18.05.2004), em visita a suasantidade o Papa [João Paulo II], naaltura com o senhor primeiro-ministro, Durão Barroso, aquandoda assinatura da Concordata. Estivepresente, aceitei o convite. Foiassim e agora não se trata derevogar a Concordata.

31

AE - Seria desejável criar um canalde comunicação entre a Comissãoda Liberdade Religiosa e aComissão Paritária da Concordata,por exemplo?JVJ - A Comissão Paritária trata deassuntos muito específicos, deexecução da Concordata.Eu uso um canal, mais informal: hádois representantes da IgrejaCatólica na Comissão da LiberdadeReligiosa. E tenho contacto diretocom o senhor cardeal-patriarca,mas por vezes nem o uso, peço aum dos representantes

que pergunte ao cardeal-patriarcase acha que a comissão deveriaintervir, ou se seria útil.Quando achamos que há restriçõesà liberdade religiosa, seja de quereligião for, incluindo a IgrejaCatólica, temos o dever de atuar, éassim que eu entendo a missão daComissão da Liberdade Religiosa.As confissões minoritárias,naturalmente, poderão ter maisqueixas, de instalação, por exemplo:são pequenas comunidades que sequerem instalar e os vizinhos

32

dizem que não querem. Já foram atribunal, também, pessoas quenão querem trabalhar nos diasfestivos das suas confissões e têmproblemas, que já foram resolvidos,pelo menos alguns.As confissões minoritárias têm estecanal, da comissão. Podem recorrerao provedor de Justiça, também,aos tribunais, como têm recorrido. AIgreja Católica tem esse canal, daComissão Paritária, para resolverqualquer problema da execução daConcordata, mas isso não excluique a Comissão da LiberdadeReligiosa, repito, quando houverrestrições que julgue inadequadasao exercício da liberdade religiosa,também por católicos, possa atuar.E deva. AE - O debate público ainda parecemuito marcado por modelos edebates sobre a relação Igreja-Estado marcado por um passado deconfrontação e crispação. O séculoXXI exige uma nova abordagem?JVJ - Sim. Eu disse na tomada deposse da comissão que não tenhouma agenda de laicidade. Alaicidade é um valor do Estado, dasociedade portuguesa, mas eu nãotenho uma

agenda laicista. A minha agenda é ada não-discriminação, é uma coisadiferente. Não discriminarentre Igrejas precisamente paracontribuir para o bom ambiente deconvivência entre religiões.Noutros países há experiênciasdiferentes, mais de separação, enão têm aquilo que nós temos, queé o princípio da cooperação entre oEstado e as Igrejas. Elas estão nomundo social, quer queiramos, quernão, e o problema da liberdadereligiosa não é um problema do forointerno de cada um: é também umproblema de presença social dasIgrejas. Portanto, temos de respeitarisso e as Igrejas também têm derespeitar o princípio da separação.Há coisas que podem seraperfeiçoadas nesta matéria, comoé óbvio. Há problemas culturais quenão devem ser tratados de formamenos cuidada.

33

JVJ - Há muito quem critique que nainauguração de um monumento vá opadre católico e o benza. Bem, se opovo da aldeia, da vila, da cidade,não se opõe a isso, eu não vejo…Não me agrada muito, acho quenem sequer é positivo para a IgrejaCatólica, mas é uma opinião minha.São os tais problemas de culturaque às vezes constituem umaagenda muito mediática: está obispo e não estão os outros, e poristo e por aquilo… Julgo que não épositivo para a Igreja Católica serolhada, sobretudo nos tempos quecorrem, como sendo

beneficiada em relação às outrasconfissões, não ganha nada comisso.O fundamental é que há umprincípio de separação, o Estadonão tem uma religião oficial, isso évisível. Na educação, a EducaçãoMoral e Religiosa só é organizadaquando os pais o pedirem - e issofoi bom, porque antigamente os paistinham de fazer uma declaração aocontrário. São caminhos que se vãofazendo e eu penso que todos têmcolaborado nesta distensão.É natural que aqui e acolá aflore umdiscurso que pretendia ser mais

34

igualitário, entre aspas, ou atémesmo pessoas que nãoconcordam que o Estado tenha oprincípio de cooperação com asconfissões religiosas. Mas eu pensoque sim, que é favorável.Nós temos sido causticados,ultimamente, com muitas questões,que têm sido levados aos tribunais,ao Tribunal Europeu dos Direitos doHomem, sobre os símbolosreligiosos, os crucifixos, os véusislâmicos, as burcas. São problemasque temos de tratar com pinças,porque muitas vezes são problemasde identidade das pessoas, quenem sempre têm a ver diretamentecom a religião - não me refiro aocrucifixo -, como o usar

ou não um véu. Eu já sou velho osuficiente para me lembrar queantigamente em Portugal asmulheres que viviam no campousavam um lenço na cabeça.Eu penso que, nalguns países, setem exagerado muito. Claro que hámatérias relacionadas com asegurança, o que é diferente, comono caso da burca ou do véu islâmicointegral, que levantam questõessérias. Nós nem sabemos quem láestá, o que é que leva, quem é, etc.Além disso, vivemos numasociedade aberta, onde temos odireito de ver a face das pessoas.Mas isso não é um problemareligioso, tem a ver com aconvivialidade das pessoas namesma comunidade.

35

AE - A opinião pública éparticularmente sensível às matériasde financiamento e de isençõesrelativas às comunidades religiosas.Prevê mudanças, por exemplo, noregime do IVA?JVJ - Alerto para isso há muitotempo. A isenção do IVA estápresente na Lei da LiberdadeReligiosa por uma razão muitosimples: sabíamos que existia paraa Igreja Católica. Mas isso foiincluído com a consciência de que éuma matéria que, cedo ou tarde, vaiser posta em questão e já o temsido no Parlamento Europeu.É uma matéria difícil, mas podemosser confrontados com ela. A Lei daLiberdade Religiosa prevê achamada consignação fiscal e euesperava, sinceramente, que estativesse mais expansão. As Igrejaspreferem manter a isenção do IVA.Vamos ver o que o futuro nosreserva, a consignação está lá epode, a meu ver, servir, até comretoques, é questão de fazer oscálculos, como já foi feito noutrospaíses para deixar de haversubsidiação indireta do Estado, seviermos a ter problemas com asautoridades europeias.

Outra questão é a do IMI: a isençãodos edifícios com fins religiososexiste em toda a Europa, que euconheça. Isso não me pareceproblemático. AE - A Comissão pretende alargar odebate sobre o fenómeno religiosotambém a quem não pertencer aqualquer comunidade crente?JVJ - Sim, até com pessoasantirreligiosas, porque a liberdadereligiosa não é apenas para osreligiosos, é também para os quenão têm religião. É evidente que nãovamos fazer dos nossos colóquiosmanifestações antirreligiosas,porque estaríamos a negar a nossarazão de existir.A Comissão não tem, por si, meiospara fazer grandes investigações,mas hoje, nas universidadesportuguesas, há um interesserenovado por estas matérias, sob oaspeto histórico, filosófico, teológico,sociológico. Há gabinetes deestudos que se ocupam destasmatérias, a Universidade Católicatem centros de estudos, vários, enão se ocupam apenas da religiãocatólica, mas do fenómeno religiosoem geral. Há universidades

36

que têm departamentos deCiências das Religiões.A Comissão deve pôr estas pessoasem contacto, incentivá-las. O prémiopode ser uma forma de incentivo,modesta. Há pouco demosconhecimento a várias instituições einvestigadores uma iniciativa quenasceu na Itália, com o objetivo delançar uma Academia Europeia deEstudos Religiosos, e entendemosassim a nossa missão.

37

Ecumenismo: Semana de Oraçãopela Unidade dos Cristãos de 2017evoca 500 anos da reformaprotestante

A Semana de Oração pela Unidadedos Cristãos de 2017, que nohemisfério norte se celebra de 18 a25 de janeiro, vai evocar os 500anos da reforma protestante,iniciada por Martinho Lutero.

O documento de reflexão preparadoe publicado em conjunto peloConselho Pontifício para aPromoção da Unidade dos Cristãos(Santa Sé) e a Comissão Fé eConstituição (Conselho Mundial deIgrejas) tem como tema

38

central a “reconciliação”.“Que pessoas e Igrejas possam serimpelidas pelo amor de Cristo aviver vidas reconciliadas e aderrubar as paredes da divisão”,pode ler-se.A proposta deste ano surgiu pelamão do Conselho de Igrejas naAlemanha (ACK), a convite doConselho Mundial de Igrejas, o qualassinala que a reforma de Lutero“tem sido tema de controvérsia nahistória das relações intereclesiais”.Em 1517 Martinho Lutero publicouas suas “95 teses”, provocando umarutura entre várias comunidadescristãs, até então ligadas à IgrejaCatólica, apresentada nodocumento como “dolorosa divisão”.As Igrejas cristãs na Alemanhapropõem que, 500 anos depois, sereflita sobre a “reconciliação comocentro da fé”.O tema da Semana de Oração pelaUnidade dos Cristãos de 2017inspira-se numa passagem dasegunda carta de São Paulo aosCoríntios: ‘Reconciliação: é o amorde Cristo que nos impele’.“Como embaixadoras dereconciliação, as Igrejas ativamenteprestaram assistência aosrefugiados na busca de novos lares,enquanto, ao mesmo tempo,tentavam melhorar as

condições de vida nos países queeles tinham deixado para trás”,refere o documento de reflexão.A 31 de outubro de 2016, o Papa eo presidente da FederaçãoLuterana Mundial (LWF, siga eminglês), assinaram na Suécia umadeclaração comum, por ocasião dacomemoração conjunta católico-luterana dos 500 anos da reformaprotestante.“Pedimos a Deus inspiração, ânimoe força para podermos continuarjuntos no serviço, defendendo adignidade e os direitos humanos,especialmente dos pobres,trabalhando pela justiça e rejeitandotodas as formas de violência”, refereo texto, firmado por Francisco e porMunib Yunan na catedral luteranade Lund, após uma oraçãoecuménica.A Semana de Oração pela Unidadedos Cristãos está em destaque nasemissões do Programa ECCLESIAna Antena 1 da rádio pública, atésexta-feira, pelas 22h45.

39

Ecumenismo como sinal de esperança

As Igrejas estão a celebrar omomento mais significativo dodiálogo ecuménico, com a semanade oração pela Unidade dosCristãos. Em 2017, a iniciativaassinala os 500 anos da reformaprotestante, iniciada por MartinhoLutero e apresenta como temacentral a reconciliação, umamensagem que o Papa repetiu noVaticano“O Evangelho de Cristo está nocentro

da nossa vida e une pessoas quefalam várias línguas, vivem empaíses diferentes e vivem a fé emcomunidades diversas. Recordocom emoção a oração ecuménicaem Lund, na Suécia, no último dia31 de outubro. No espírito daquelacomemoração comum da reforma,olhamos mais para o que nos unedo que para aquilo que nos separae continuamos juntos o caminho

40

para aprofundar a nossa comunhãoe dar-lhe uma forma cada vez maisvisível", referiu, na audiência públicasemanal.O Papa quis assim assinalar o iníciodesta semana de oração pelaunidade dos cristãos. Um esforçoecuménico que, para Francisco, éum sinal de esperança para aEuropa.“Na Europa, esta fé comum emCristo é como um fio de esperança:pertencemos uns aos outros.Comunhão, reconciliação e unidadesão possíveis. Como cristãos, temosa responsabilidade destamensagem

e devemos testemunha-la com anossa vida. Que Deus abençoe estavontade de união e guarde todas aspessoas que caminham pela estradada unidade”.A audiência contou com saudaçõesaos peregrinos lusófonos presentesno Vaticano, com um apelo àcomunhão nas preces e naesperança: “O movimentoecuménico vai frutificando, com agraça de Deus. Que o Pai do Céucontinue a derramar as suasbênçãos sobre os passos de todosos seus filhos. Irmãs e irmãos muitoamados, servi a causa da unidade eda paz!”.

41

Europa: Igrejas cristãs assinalam 45anosde caminhada conjuntaO Conselho das ConferênciasEpiscopais da Europa (CCEE),emitiu uma mensagem dedicada àSemana de Oração pela Unidadedos Cristãos, que hoje se inicia, emconjunto com a Conferência dasIgrejas Europeias (CEC).No documento, enviado à AgênciaECCLESIA, os presidentes dosreferidos organismos, o cardealAngelo

Bagnasco (CCEE) e o bispoChristopher Hill (CEC) sublinham aimportância das Igrejas cristãs“curarem feridas antigas eultrapassarem as suas divisões”.“A história do cristianismo na Europaé marcada por períodos de dolorosadivisão, de condenação mútua emesmo de violência. Numa altura emque várias igrejas se preparam paracomemorar cinco séculos da

42

Reforma Protestante”, é tempo deaproveitar essa “preciosaoportunidade” para “renovar ocompromisso” rumo à “unidade”,frisam aqueles responsáveis.Para os líderes das Igrejas cristãsda Europa, é essencial “buscar areconciliação através das palavrasmas também dos gestos”O cardeal Angelo Bagnasco e obispo Christopher Hill invocam os 45anos de caminhada em conjuntoentre os membros do CCEE e daCEC, que tem permitido alcançar um“diálogo teológico frutuoso”.“As múltiplas crises que caíramsobre a Europa e os territóriosvizinhos têm-nos unido ainda mais”,realçam os dois responsáveisreligiosos.Atualmente, o CCEE e a CECtrabalham e buscam soluções emconjunto para desafios como aguerra, as políticas

internacionais, a ecologia, asmigrações e a pobreza, tanto físicacomo espiritual.“A par destas crises está aesperança. Juntos podemos dartestemunho do amor conciliador deCristo através da salvaguarda daCriação, da solidariedade para comos mais pobres, da proteção dadignidade de todos os filhos deDeus”, sustentam D. AngeloBagnasco e o reverendoChristopher Hill.O tema da Semana de Oração pelaUnidade dos Cristãos de 2017inspira-se numa passagem dasegunda carta de São Paulo aosCoríntios: ‘Reconciliação: é o amorde Cristo que nos impele’.Uma iniciativa que está em destaquenas emissões do ProgramaECCLESIA na Antena 1 da rádiopública, até sexta-feira, pelas22h45.

43

Ecumenismo: Crise de refugiados éuma oportunidade para traduzir odiálogo cristão em «gestos concretos»Está em marcha até à próximaquarta-feira a Semana de Oraçãopela Unidade dos Cristãos, este anomarcada pela recente viagem doPapa Francisco à Suécia, porocasião dos 500 anos da ReformaProtestante.Em entrevista à Agência ECCLESIA,João Luís Fontes, do GrupoEcuménico Jovem, considera que ofacto de o Papa “não ter enviadoninguém, ter ido ele próprio, é umsinal de que assume o diálogoecuménico como uma urgência esobretudo que é fundamental queos cristãos se unam no testemunhode dão em relação ao mundo”.“Não no sentido de dominarem masde tornarem credível, pela suacomunhão, por serem reconciliados,a verdade desta reconciliação queCristo traz”, acrescenta.Aquele responsável recorda que “oPapa não se tem cansado de repetirque áreas como a reconciliação, apaz, a justiça e a dignidade humanasão áreas fundamentais do sercristão no mundo, e que os cristãosas podem fazer ecumenicamente”.

É também nesse sentido que odocumento de reflexão da Semanade Oração pela Unidade dosCristãos sugere este ano oenvolvimento de todos os cristãosna assistência por exemplo aosrefugiados na busca de novos lares.“Aqui o princípio é muito simples, sea fé for vivida na verdade, ela temque necessariamente marcar a vidadas pessoas e transformar a vidadas pessoas. E isso não se situaapenas ao nível da cabeça, dasideias e teorias, mas situa-se emgestos concretos”, aponta João LuísFontes.O membro do Grupo EcuménicoJovem recorda que o Papa, durantea sua deslocação à Suécia, não sóapontou “o ecumenismo como umcaminho irreversível” mas “juntou àquestão dos refugiados” outrasinterpelações “muito concretas”,como “o terrorismo, a questãoecológica e o cuidado pela Criação”.A Semana de Oração pela Unidadedos Cristãos, que se vai prolongaraté à próxima quarta-feira, dia 25 dejaneiro, tem como tema‘Reconciliação –

44

É o amor de Cristo que nos impele”.João Luís Fontes destaca o factode, “pela primeira vez, a Reforma irser celebrada ecumenicamente”.De acordo com aquele responsável,em Portugal “vão decorrercelebrações ecuménicas durantetodo o Oitavário, em Lisboa, noPorto, em Aveiro, em Braga ondeserá a celebração nacional”.O guião das iniciativas, a nívelinternacional, esteve desta vez acargo do Conselho de Igrejas naAlemanha (ACK), a convite doConselho Mundial de Igrejas.

Durante a celebração final doOitavário, as pessoas serãoconvidas a trazerem “pedras afigurar elementos de divisão, com asquais se construirá um muro queserá depois derrubado e com asmesmas pedras será construídauma cruz”.“Um gesto muito bonito” e que querlembrar que “as separações quecriamos são derrubadas por Cristo,que estabelece a ponte, queestabelece os laços e que cria acomunhão”, conclui João LuísFontes.

45

Portugal: Diálogo de amizade entreconfissões religiosas tem presençana televisão há 20 anos

O padre António Rego,representante católico na Comissãodo Tempo de Emissão dasConfissões Religiosas, elogiou opercurso percorrido nos últimosanos em volta da presença dosvários credos na televisão e narádio públicas em Portugal“No princípio olhávamos notandomuito as nossas diferenças comouma espécie de defeito, deficiência.Com o tempo fomos descobrindoque era

uma riqueza os católicos seremdiferentes dos Ortodoxos, dosEvangélicos ou dos budistas, dosBahai”, disse o sacerdote açoriano àAgência ECCLESIA.O antigo diretor do SecretariadoNacional das Comunicações Sociaisrecorda as reuniões à hora do jantarque incluem “uma pequena refeição”ecuménica, para “acalentar afragilidade” e entrar em diálogo.

46

“A ementa é escolhida de maneiraque seja ecuménica, que não fira asensibilidade de nenhuma dasconfissões religiosas, nem judaica,nem muçulmana”, acrescentou, emdeclarações transmitidas esta terça-feira, no programa ECCLESIA, naAntena 1.O padre António Rego contextualizaque desde 1997, quando começouo tempo de emissão da IgrejaCatólica e das outras confissões natelevisão, os diversosrepresentantes passaram do“conhecimento reverencial, primeirodesconfiado” ao ser amigos.“Isto ultrapassou muito a dimensãoconvencional que as confissõesreligiosas vão juntar-se para travaruma grande batalha. É para travargrande momento de encontro”,sublinha.

O Oitavário de oração de 2017 temcomo tema central a “reconciliação”,no contexto dos 500 anos dareforma protestante, iniciada porMartinho Lutero, e inspira-se numapassagem da segunda carta de SãoPaulo aos Coríntios: ‘É o amor deCristo que nos impele’.O sacerdote açoriano destaca que aamizade “é o mais simples” e nãosão precisas “fórmulas especiais”,nem “renúncias” religiosas.‘Fé dos Homens’ é desde 1997 onome do programa de televisão naRTP2 onde as diferentes confissõesreligiosas em Portugal têm a suapresença, atualmente a partir das15h00 de segunda a sexta-feira;essa presença estendeu-se maistarde à rádio pública.

47

Portugal: Igreja Cristãs sublinhamimportância do ecumenismo nummundo em conflito

Dois responsáveis cristãos emPortugal, um presbiteriano da Igrejada Escócia e um Ortodoxo daUcrânia, destacam a voz e açãoativa do Papa Francisco peloecumenismo e a importância daSemana de Oração

pela unidade, este ano centrado nareconciliação.Norman Hutcheson, daSt. Andrew’s Church of Scotland,disse à Agência ECCLESIA, que otema da reconciliação “nunca foi tãoimportante do que agora”,

48

quando existem países “em tensão”uns com os outros.Neste contexto, o reverendopresbiteriano sublinha que o temada Semana de Oração pela Unidadedos Cristãos, que no hemisférionorte se celebra até 25 de janeiro, ésobre “construir pontes” e “maisimportante” aprender com a“experiência” dos outros.A iniciativa, que começou estaquarta-feira, evoca este ano os 500anos da reforma protestante,iniciada por Martinho Lutero einspira-se numa passagem dasegunda carta de São Paulo aosCoríntios: ‘É o amor de Cristo quenos impele’.O padre ucraniano Vasyl Bundazyakconsidera, por sua vez, que a IgrejaCatólica e as outras Igrejas Cristãsdemonstram com as iniciativasecuménicas que procuram “a paz”.O padre missionário ortodoxosublinha que a semana ecuménicaserve para “unir as váriasconfissões” e permite que sepercebam uns aos outros.O reverendo Norman Hutchesonafirma que tem “muito respeito” peloPapa Francisco e que, como cristão,vê em nele “um homem com grandepreocupação” em construir pontes.

“Talvez até em demolir algumastradições criadas ao longo dosséculos e que nos dividiram”,acrescentou.O assistente espiritual da St.Andrew’s Church of Scotlandsublinhou a importância de“construir pontes e frentesecuménicas” juntando as Igrejas no“entendimento e reconhecimento”de todos como irmãos e irmãs emJesus Cristo” e não como inimigos”.“Então, o Papa Francisco fez umgrande serviço ao mundo e àIgreja”, observou NormanHutcheson, que acompanha acomunidade em Lisboa desde 2013.Por sua vez, o padre da IgrejaOrtodoxa Ucraniana do Patriarcadode Kiev, que está em Aveiro,também destaca o “grande trabalho”ecuménico do Papa Francisco,como a visita à Suécia, em 2016, naqual mostrou que Igreja Católica“está para curar, abrir portas” para oecumenismo ser uma “realidade”.O padre Vasyl Bundazyak tambémassinala que é necessário que asIgrejas se ouçam, porque “amensagem única”, o Evangelho, etêm “de mostrar que fazem o queestá escrito”.

49

Ir de comboio à Igreja? Sim!A proximidade da estação doscaminhos-de-ferro de Aveiro foi arazão que fez com que aComunidade Ortodoxa Ucranianapedisse a cedência da Igreja da Sra.da Alegria, na paróquia da Vera-Cruz, Aveiro, para o culto semanal.Foi celebrado um contrato entre aparóquia da Vera-Cruz e os padresdo rito ortodoxo do Patriarcado deKiev, no sentido desta paróquia secomprometer a emprestar estaIgreja, cito no bairro de Sá-Barrocas, à comunidade ortodoxaucraniana para que, os membrosacima mencionados, aí possamcelebrar o culto sagrado segundo oseu rito e presidirem aos batismosque, porventura, tiveremnecessidade de celebrar aodomingo, ou ocasionalmente aosábado; outros dias serãocombinados caso a caso. Assim se lê no protocolo assinadopelos representantes dacomunidade ortodoxa ucraniana e opároco da Vera Cruz, na diocese deAveiro, Manuel Rocha. Uma capaazul em que as argolas unem aspáginas de um processo que durahá cerca de oito anos.“Os ortodoxos vieram até Aveiro apartir do DepartamentoArquidiocesano das Migrações

e Turismo de Braga que fizeram opedido de acolhimento; entre elessepararam-se e veio a comunidadeortodoxa ucraniana até estaparóquia para pedir um espaço parao culto, nomeadamente esta Igrejada Sra. da Alegria, mais pelo espaçogeográfico do que por outrasrazões”, explica o pároco de formasimples.Foi assim que a Igreja da Sra. daAlegria, sem rito regular, abriu asportas a esta comunidade quechegava e que muitos dos seusmembros vinham de fora de Aveirousando o comboio como meio detransporte.“A referida Igreja fica perto daestação dos caminhos-de-ferro eesta é a razão da escolha”, explica.A comunidade ortodoxa ucranianacelebra o seu culto aos fins-de-semana e a cerca de 300m acomunidade católica tem outraigreja, a Igreja do Senhor dasBarrocas, onde acontece a missadominical. Mas a Igreja da Sra. daAlegria serve para aquela zona decapela mortuária e “quando énecessário, há mesmo uma cláusulano protocolo, na data dos funeraisusamos esta Igreja”, diz o padreManuel Rocha.“Naquela Igreja celebra-se aSenhora da Alegria, a 15 de agosto,e o Mártir São Sebastião, a 20 dejaneiro; nas

50

duas datas há um entendimentoentre católicos e ortodoxos: porexemplo na festa do Mártir há missano domingo à tarde e depois umapequena procissão.Neste dia acontece uma permuta:abrimos as portas da capela doSenhor das Barrocas aos ortodoxose nós celebramos na Igreja da Sra.da Alegria”.Em vez de uma igreja católicafechada a Igreja da Sra. da Alegria,na paróquia da Vera Cruz, emAveiro, passou a ser um espaço deacolhimento que a própriacomunidade paroquial recebeu deforma simples.“No início houve muita gente acolocar questões, a defender

património, tradições e memóriasmas temos de nos habituar a viverassim.Vejamos que em Aveiro há atradição bonita de, na semana dooitavário juntar em oração osprotestantes, ortodoxos e católicos,representados com as altasinstâncias, por isso é bom que, naprática, abramos as portas a estagente cristã, como nós; passospequenos que vamos dando rumo àunidade”, conclui o pároco da Vera-Cruz.Uma capela católica cedida ao cultode uma comunidade ortodoxaucraniana, na diocese de Aveiro…Um exemplo prático trazido noâmbito da semana de oração pelaunidade dos cristãos.

DR - Cruzeiro e Igreja de Nossa Senhora da Alegria, Aveiro

51

Conselho Mundial de Igrejas onlinewww.oikoumene.org/pt

Em plena semana de Oração pelaUnidade dos Cristãos, esta semanaa minha proposta passa pelo sítiodo Conselho Mundial de Igrejas(CMI). O CMI é a principalorganização ecuménicainternacional e pretende ser “umacomunhão global que busca aunidade, o testemunho comum e oserviço”. Foi fundada em 1948, naHolanda, tendo a sua sede naSuíça. Congrega mais de 340igrejas e entre os seus membrosencontramos protestantes eortodoxos, além de algumasdenominações evangélicas. A IgrejaCatólica não faz parte destaorganização, mas possui um grupode trabalho permanente e participacomo membro pleno em algumascomissões de trabalho. Como é ocaso da comissão de Fé e Ordem ea comissão Missão e Evangelho.Ao digitarmos o endereçowww.oikoumene.org/pt encontramosum espaço eminentementeinformativo onde a principal vocaçãopassa, precisamente, peladisponibilização de documentos etextos referentes às diversas açõese reflexões por parte destaestrutura. Basicamente para alíngua

portuguesa temos apenas duasopções disponíveis.Em novidades, como o próprio nomeo refere, encontramos todos osartigos que vão sendodisponibilizados no sítio, ordenadoscronologicamente.No item “documentos”, dispomos detodos os escritos organizados emquatro grandes áreas (Assembleiado CMI, Secretário geral do CMI,Semana de Oração pela Unidadedos Cristãos, Programas do CMI).Especificamente na opção referentea esta semana, que agora estamosa viver, podemos aceder aossubsídios que foram preparados epublicados em conjunto peloPontifício Conselho para aPromoção da Unidade dos Cristãose a Comissão Fé e Constituição doConselho Mundial de Igrejas.A exortação apostólica do papaFrancisco de 2013, EvangeliiGaudium, serviu de mote para otema deste ano “O amor de Cristonos impele” (nº 9). Assim essa frase,espelhada do capítulo cinco dasegunda carta aos Coríntios, foi abase de reflexão que o Conselho deIgrejas da Alemanha (ACK), utilizoupara criar todos os materiais paraesta semana. Conforme refere aintrodução a este

52

documento, existem dois grandesdestaques que importa sublinhar.Por um lado, “deveria haver umacelebração do amor e da graça deDeus, a «justificação dahumanidade somente pela graça»,refletindo a ideia principal dasIgrejas marcadas pela Reforma deMartinho Lutero. Por outro lado,deveria também ser reconhecida ador das subsequentes profundasdivisões que afligiram a Igreja, commenção aberta de culpa

e oferta de uma oportunidade paradar passos na direção dareconciliação”.Aqui fica então a sugestão para quevisitem e consultem os váriosdocumentos que por aqui sãopublicados, pois todos eles nosajudam cada vez mais a construireste caminho de união em torno deCristo.

Fernando Cassola [email protected]

53

Teologia e RefugiadosO mais recente número da revistada Faculdade de Teologia – Portoversa sobre a questão dosrefugiados. É um interessanteexemplo de como uma questão deatualidade pode ser tratada commuito proveito pela teologia.Um amplo dossier trata o assuntodos migrantes e refugiados desde aperspetiva teológica e filosófica. Dosvários textos emerge a necessidadede pensar o movimento interminávelde seres humanos que deixam asua terra, onde domina a guerra oua miséria, para buscarem outrascondições em que a vida sejapossível. O assunto é vista à luz datradição bíblica, onde a existênciahumana aparece caracterizada pelamobilidade e pela hospitalidade.A história humana é uma história“em trânsito”, segunda a palavra deum dos textos. O ordenamento domundo de hoje tem muito queaprender com a amplitude dehorizontes que a teologia e filosofiapodem abrir, de forma que todos osseres humanos podem encontrarpátria e cultura

onde existir, para lá dos poderes einteresses que condicionamnegativamente as condições dehabitar o mundo em diversaslugares.Autores como Florinda Martins,Karin Wondracek, Virgínia Buarque,Marcelo Saldanha, Jorge Cunhadesenvolvem diferentes visõessobre a vida humana à procura deum contexto que supere a violênciae a miséria, neste mundo que temem Deus a sua origem e a suaprovidência. Uma entrevista aMariana Barbosa, coordenadora, emLesbos, dos voluntários daPlataforma de Apoio aosRefugiados, dá entrada numaproblemática para que o PapaFrancisco tanto tem chamado aatenção.Outros textos enriquecem estenúmero, como a filosofia da históriade Silva Cordeiro, o ensino deMartin de Ledesma na Universidadede Coimbra do séc. XVI ou a figurade Gustavo Gutiérrez.A Revista pode ser encontrada nalivraria da UCP de Lisboa e doPorto.

54

55

II Concílio do Vaticano: Asensibilidade ecuménica de JoãoXXIII contagiou

A plena integração da Igreja católica no movimentoecuménico mais amplo aconteceu no II Concílio doVaticano. A questão ecuménica esteve presentedesde o início na caminhada conciliar, muito devido àexperiência e à sensibilidade do Papa João XXIII. Aexperiência diplomática em França, Grécia e Turquiado cardeal Angelo Giuseppe Roncalli (futuro PapaJoão XXIII) moldou a personalidade deste homem queconvocou o II Concílio do Vaticano (1962-65).É fundamental recordar que a assembleia magna foiconvocada a 25 de janeiro de 1959, precisamente noúltimo dia da celebração do Oitavário de Oração pelaUnidade. E um dos objetivos do II Concílio do Vaticanopassava pela restauração da unidade dos cristãos.Apesar da sensibilidade do Papa João XXIII, assementes foram lançadas para o terreno nas décadasanteriores. Na encíclica «Mystici Corporis» (1943) enão obstante uma “visão renovada da Igreja à luz doprincípio da encarnação, Pio XII mantém a posiçãotradicional de uma simples e total identificação entreIgreja de Jesus Cristo e Igreja católica” (In:«Ecumenismo – Situações e perspectivas»; JoséEduardo Borges de Pinho; Lisboa; UCeditora).Mas no pontificado de Pio XII começam a dar frutos osmovimentos “refontalização bíblica, patrística elitúrgica que impulsionaram a renovação da teologiacatólica na primeira metade do século XX” (obra citadaanteriormente). Com o mesmo Pio XII, através dainstrução «Ecclesia Catholica», datada de 20 dedezembro de 1949, mas só publicada a 1 de março

56

de 1950, aparece “o primeiropronunciamento oficial positivo”,ainda que “com muitaspreocupações face ao movimentoecuménico”.Antes dos trabalhos conciliares seiniciarem, o Papa João XXIII criou oSecretariado para a Unidade dosCristãos (15-06-60), um organismoque teve importância fulcral naorientação global do II Concílio doVaticano e, em particular, nalgunsdos seus documentos. Por decisãodo mesmo Papa, este secretariadofoi elevado, poucos dias depois doinício dos trabalhos conciliares, aonível de comissão conciliar. Destemodo,

os seus membros foram colocadosnuma situação de igualdade deestatuto relativamente às outrascomissões do concílio. Umaparticularidade digna de registo éque os membros desta comissãoforam designados pelo Papa, nãoescolhidos pelos padres conciliares.Com as reformas da cúria romana, osecretariado foi transformado noatual Conselho Pontifício para aPromoção da Unidade dos Cristãos.Teve como primeiro presidente ocardeal Augustin Bea (1960-68) e oatual é o cardeal Kurt Koch,anteriormente bispo de Basileia(Suiça).

57

janeiro 201720 janeiro 2017. Encerramento da campanhasolidária para a aquisição de um jipepara o Gungo (Angola)promovida Grupo MissionárioOndjoyetu, da Diocese de Leiria-Fátima. . Fátima - Hotel Santo Amaro -Encontro nacional da PastoralPenitenciária dedicado ao tema damisericórdia. (termina a 21 dejaneiro) . Lisboa – UCP - Início do curso deformação de voluntários em saúde . Porto - Escola Secundária Clara deResende, 10h20 - Sessão do ciclosobre religião e economia noProjeto «Palavras no Tempo» . Fátima, 15h00 - Reunião daComissão Episcopal do Laicado eFamília . Braga - Igreja dos Congregados,21h00 - Celebração Ecuménica anível nacional na Igreja dosCongregados (Braga) com aparticipação dos hierarcas dasIgrejas

. Vila Real - Centro Católico deCultura, 21h15 - Apresentação daobra «Quero acordar a Aurora» deD. Manuel Linda pelo bispo de VilaReal, D. Amândio Tomás. 21 de janeiro. Lisboa - Convento de SãoDomingos - Clausura oficial doJubileu dos Dominicanos e Expo-OPcom publicações e Canto dosDominicanos em Portugal. . Viana do Castelo - O encontro daPastoral Litúrgica da Diocese deViana do Castelo realiza-se nos dias21 e 22 deste mês e tem como tema“O serviço da liturgia nossacramentos do serviço”. . Aveiro - Casa Diocesana deAlbergaria - Ação de formação paracatequistas de adolescentes . Itália – Roma - Início do processoeletivo que vai nomear o novoprelado da Opus Dei . Itália – Roma - Encerramento docongresso dos Dominicanosdedicado ao tema «Enviados apregar o Evangelho».

58

22 de janeiro. Aveiro - Ação de formação naanimação da fé em PastoralOperária promovida pela JOC . Lisboa - Colégio de Santo Antão-o-Novo, 12h00 - Percurso pedestrepelos «caminhos de CristóvãoFerreira», iniciativa promovida peloMuseu São Roque e apoiada pelarevista Time Out Lisboa. . Guarda, 15h00 - O Departamentodo Património Cultural da Dioceseda Guarda vai realizar, estedomingo, uma visita guiada sobre«São Vicente, diácono e mártir». . Porto - Vila Nova de Gaia, 16h30 - Celebração ecuménica na Paróquiado Senhor da Vera Cruz promovidapela Comissão Ecuménica do Porto . Porto - Mosteiro de Bande (Paçosde Ferreira), 16h30 - Celebração ecuménica no Mosteiro de Bande(Paços de Ferreira) promovida pelaComissão Ecuménica do Porto. 23 de janeiro. Itália – Roma - Iníciodo congresso eletivo para escolhero novo prelado da Opus Dei

. Marco de Canaveses - Conventode Avessadas - A Diocese de Vianado Castelo vai promover asJornadas de Formação do Clero, emduas sessões, para permitir“oferecer a todos a possibilidade departicipar”, no Convento deAvessadas, no Marco deCanaveses. . Torres Vedras - Centro deEspiritualidade do Turcifal - O bispode Leiria-Fátima vai participar nosencontros de formação permanentedo clero este ano dedicado àhistória, à teologia e aos desafiospastorais desta Igreja, no Centro deEspiritualidade do Turcifal, emTorres Vedras. (termina a 27 dejaneiro) . Lisboa - Capela do Rato, 18h15 - Sessão do curso «grandescorrentes da ética ocidental» naCapela do Rato. Lisboa - Auditório da Escola deHotelaria e Turismo de Lisboa,21h30 - Sessão dos Encontros deSanta Isabel «Sobre o capítulo 13da Primeira Carta aos Coríntios nocapítulo IV da Exortação Apostólica» 24 de janeiro. Lisboa - Seminário dos Olivais – OPatriarcado de Lisboa promove assuas Jornadas de FormaçãoPermanente do Clero onde vãorefletir sobre o tema ‘A vida sob oolhar de Deus’, entre 24 e 26 dejaneiro, no Seminário dos Olivais.(até 27 de janeiro)

59

Na semana de oração pela unidade dos cristãos sãovárias as celebrações ecuménicas por todo o país,nomeadamente no domingo, em Vila Nova de Gaia,pelas 16h30, na Paróquia do Senhor da Vera Cruz eno Mosteiro de Bande (Paços de Ferreira), promovidapela Comissão Ecuménica do Porto. Já na terça-feira, dia 24 janeiro, pelas 21h30, naParóquia Lusitana do Redentor, acontece a Celebração Ecuménica do grande Porto com os hierarcas dasdiversas confissões cristãs. Ainda no dia 24, celebração litúrgica de São FranciscoSales, acontece em Bragança - Casa Episcopal, às09h30 o Encontro de D. José Cordeiro, bispo deBragança-Miranda, com os jornalistas para evocar SãoFrancisco de Sales, padroeiro dos profissionais dacomunicação. Também na terça-feira acontecem as Jornadas deFormação Permanente do Clero, no seminário dosOlivais, em Lisboa onde vão refletir sobre o tema ‘Avida sob o olhar de Deus’, até 26 de janeiro; e noSeminário do Funchal acontecem as jornadas deatualização para o clero, leigos e consagrados sobre otema do ano pastoral «Viver, em Igreja, a alegria deser cristão» e sobre o último documento do PapaFrancisco «A alegria do Amor». Já no dia 25 de janeiro Coimbrões, no Porto, pelas21h15 recebe a Celebração ecuménica na Paróquiade Santa Bárbara também promovida pela ComissãoEcuménica do Porto.

60

61

Programação religiosa nos media

Antena 1, 8h00RTP1, 10h30Transmissão damissa dominical

11h00 -Transmissão missa

Domingo:10h00 - Porta Aberta;11h00 - Eucaristia;23h30 - Entrevista deAura Miguel Segunda-feira:12h00 - Informaçãoreligiosa Diariamente18h30 - Terço

RTP2, 13h00Domingo, 22 de janeiro,13h30 - Silêncio: osimbolismo de um filme Segunda-feira, dia 23, 15h00 - Entrevista a Carlos Fiolhais,físico da Universidade deCoimbra, sobre a globalizaçãoe os Jesuítas. Terça-feira, dia 24, 15h00 - Informação e entrevista ao padre Américo Aguiar,sobre a Mensagem do Papa para o Dia Mundial dasComunicações Sociais Quarta-feira, dia 25, 15h00 - Informação e entrevistaa Luísa RIbeiro Ferreira, sobre o Curso de Ética, naCapela do Rato. Quinta-feira, dia 26, 15h00 - Informação e entrevistaa Maria José Vilaça, sobre o primeiro forum Wahou. Sexta-feira, dia 27, 15h00 - Análise à liturgia dedomingo com o padre Armindo Vaz e Nélio Pita. Antena 1Domingo, dia 22 - 06h00 - 800 anos dosDominicanos, Ordem dos Pregadores Segunda a sexta-feira, dias 23 a 27 de janeiro- 22h45 - Silêncio: perspetivas e testemunhos sobre ofilme que retrata a perseguição religiosa no Japão noséculo XVII

62

63

Ano A – 3.º Domingo do TempoComum Irradiar aunidade emCristo

Neste terceiro domingo do tempo comum, a Palavra deDeus apresenta-nos o projeto do Reino de Deus, quenos quer oferecer a salvação e a vida plena.A primeira leitura indica-nos o profeta Isaías aanunciar uma luz que Deus irá fazer brilhar por cimadas montanhas da Galileia e que provocará alegrianaqueles que a acolherem.A segunda leitura apresenta a realização do Reinonuma comunidade concreta de discípulos queesqueceram Jesus e a sua proposta. Paulo exorta-osa redescobrirem os fundamentos da sua fé e doscompromissos assumidos no Batismo, em particular aunidade em Cristo: «Falai todos a mesma linguagem enão haja divisões entre vós, permanecendo bemunidos, no mesmo pensar e no mesmo agir».A belíssima oração do salmo envolve-nos nodinamismo do Reino centrado em Jesus. Vale a penasaboreá-la: «o Senhor é minha luz e salvação, é oprotetor da minha vida; confia no Senhor, sê forte».O Evangelho aponta Jesus como a luz que começa abrilhar na Galileia. Há discípulos que respondem aoapelo de Jesus e se comprometem com o Reino.Em Jesus, o Reino torna-se uma realidade emconstrução no mundo. O anúncio de Jesus toca eenche de júbilo o coração dos pobres e humilhados,daqueles cuja voz não chega ao trono dos poderosos,nem encontram lugar à mesa farta do consumismo,nem protagonizam as histórias balofas das colunassociais. Deus quer oferecer-lhes a vida feliz que osgrandes e poderosos insistem em negar-lhes.Para que o Reino seja possível, Jesus pede-nos aconversão: refazer a existência, de forma a que sóDeus ocupe o primeiro lugar na nossa vida; despir-nos

64

do egoísmo que impede deestarmos atentos às necessidadesdos irmãos; renunciar aocomodismo e à indiferença, queimpedem o compromisso com osvalores do Evangelho; sair doisolamento e da autossuficiência,para estabelecer relação e fazer davida um dom ao serviço dos outros.A história do compromisso de Pedroe André, Tiago e João com Jesus ecom o Reino é uma história quedefine os traços essenciais dacaminhada de qualquer discípulomissionário: é chamado, aceitaseguir Jesus, compromete-se namissão. Uma missão que passa portestemunhar a salvação que Deustem para

oferecer a todos, sem exceção.Vivamos esta semana na lógica doReino, do amor, da doação da vida,da comunhão fraterna, datolerância, do respeito pelos outros,da procura da unidade. Que aSemana de Oração pela Unidadedos Cristãos que estamos a viverseja assumida em oração ecompromisso entre as váriasconfissões cristãs.Procuremos espalhar a luz do Reinoque é Cristo. Deixemos de sercandeeiros opacos e passemos aser focos que irradiam luz. Aconversão passa por aí.

Manuel Barbosa, scjwww.dehonianos.org

65

Visita centrada em Fátimaestá em linha com atual pontificado

O jesuíta italiano Antonio Spadaro,autor da primeira entrevista defundo ao Papa, disse hoje à AgênciaECCLESIA que a próxima visita deFrancisco a Portugal, centrada emFátima, está em linha com asescolhas do atual pontificado. “OPapa viaja às periferias, também daEuropa. Se repararmos, as viagenseuropeias partiram de Lampedusa eseguiram

pela Grécia, Turquia, Bósnia,Polónia, Suécia e depois virá aqui, aPortugal: está a circum-navegar aEuropa”, assinalou o diretor darevista ‘La Civiltà Cattolica’ econsultor do Conselho Pontifíciopara a Cultura (Santa Sé).O sacerdote jesuíta temacompanhado as visitasinternacionais do Papa Francisco efala em escolhas com “significadosimbólico, profundo”.

66

“As viagens do Papa servem paratocar lugares em que háefervescência, onde existemestímulos, que possam ajudar acompreender melhor o centro etambém os lugares onde se vivemferidas abertas, que se tocam paraserem curadas”, precisou.Francisco já realizou 17 viagensinternacionais e vai estar em Fátimanos dias 12 e 13 de maio, porocasião do Centenário dasAparições.“O motivo pelo qual o Papa vem aFátima é porque é um grandecentro religioso, onde há uma fortereligiosidade popular”, refere opadre Antonio Spadaro.O jesuíta italiano realça que amensagem de Nossa Senhora deFátima chegou através de “trêscriancinhas”. “No fundo, são ospequenos, as pessoas que,precisamente, não sãoconsideradas pela sociedade, sãopobres, mas têm

uma mensagem para todo omundo”, prossegue.O sacerdote esteve em Portugalcomo conferencista convidado dasjornadas de atualização do clero dasdioceses do Algarve, Beja, Évora eSetúbal.A intervenção inaugural, estasegunda-feira, teve como tema ‘Asperiferias geográficas e amisericórdia’. “O Papa sabe que, porvezes, a maior riqueza não vem docentro, onde as coisas são maisestáticas, mas dos lugares quecrescem, que evoluem, maisexpostos às fronteiras”, explicou àAgência ECCLESIA o padreSpadaro.O diretor da ‘Civiltà Cattolica’assinala que a insistência nanecessidade de “construir pontes”parte de um Papa “apaixonado” portudo o que está “para lá daimaginação”. “É muito importanterefletir sobre as periferiasgeográficas, as periferiasexistenciais, os lugares que colocamdesafios à vida da Igreja”, explica.

O bispo do Algarve disse à Agência ECCLESIA que a diocese já está aviver intensamente a vinda do Papa a Portugal, prevista para os dias 12e 13 de maio, por ocasião do Centenário das Aparições. Segundo D.Manuel Quintas, “há uma alegria muito grande” a rodear a visita deFrancisco, que irá “animar, motivar a Igreja Católica em Portugal econcretamente cada diocese e paróquia”, mesmo que seja difícil àscomunidades algarvias estar na Cova da Iria, por serem uma “periferia”do país.

67

A Escultura do Anjo

O Santuário de Fátima assinalou oencerramento das celebrações doCentenário das Aparições do Anjoda Paz, no final de 2016, com ainauguração de uma escultura embronze, da autoria de ClaraMenéres, colocada sobre a porta deentrada da Capela do Anjo da Paz.

Esta imagem do Anjo da Paz,realizada de forma tradicional,através da modelação em barro,passagem a gesso e execução finalem bronze, apresenta um vulto deexpressão jovem, embrulhado nummanto branco, com uma pombanuma mão e o ramo da oliveira naoutra, numa

68

clara referência ao AntigoTestamento. “Quisemos assinalar de formapermanente a passagem desteprimeiro Centenário das ApariçõesAngélicas. Para isso, convidámos aescultora Clara Menéres a fazeruma escultura do Anjo da Paz, quehoje inauguramos e benzemos”,disse o reitor do Santuário deFátima, padre Carlos Cabecinhas.A escultora, Clara Menéres, afirmouser “difícil interpretar otranscendente”, considerando “umahonra e uma oportunidade trabalhareste tema tão fascinante do Anjo eda Paz” e deixou um desejoconfesso: que a escultura do Anjo,colocada por cima da entrada daPorta da Capela do Anjo da Paz, nacolunata sul do Recinto de Oração,“possa ser um convite permanenteaos peregrinos para uma

maior presença da oração pela Paznas suas preces”Não se conhecem as datas exatasdesta anunciação angélica há cemanos, mas sabe-se, a partir dasmemórias da Irmã Lúcia, que teráacontecido por três vezes, tendo aprimeira ocorrido por altura daPrimavera.E, ao anunciar-se três vezes aosvidentes, o Anjo convoca-os paraum aspeto central da mensagem deFátima − a adoração − que se vêespelhada na oração que o Anjoensina às três crianças: “Meu Deus,eu creio, adoro, espero e amo-vos”.Clara Menéres é professora eméritada Universidade de Évora, escultorae investigadora em Arte, diplomadaem Escultura pelas Belas Artes doPorto e doutorada em Etnologia pelaUniversidade de Paris VII.

O Apóstolo de FátimaManuel Nunes Formigão nasceu a 1 de janeiro de 1883 e foi ordenadopadre em Roma, a 4 de abril de 1908, após ter estudado Teologia eDireito Canónico na Universidade. Com as aparições de Fátima, em1917, recebe o convite do arcebispo de Mitilene para investigar aocorrência e está presente na 5ª aparição (setembro) na Cova da Iria;efetua vários interrogatórios aos videntes que são a primeira fonte comque de imediato divulga o acontecimento de FátimaDe 1918 a 1922, o cónego Formigão colaborou com frequência nosperiódicos «A Guarda»; «Novidades» e «A.B.C.», assinando crónicasnas quais descreve muitos episódios sobre as aparições de Fátima e oseu relacionamento com os pastorinhos; fundou a 6 de janeiro de 1926 aCongregação das Irmãs Reparadoras de Nossa Senhora das Dores deFátima.Faleceu a 30 de janeiro de 1958 e, devido à fama de santidade, aConferência Episcopal Portuguesa anuiu em 2000 à introdução da causade beatificação e canonização deste sacerdote.

69

A história de dois cristãos sequestrados em Mossul, noIraque

A cruz escondida…Foram dois anos de suplício.Uma mãe e um filho, aindaadolescente, ambos cristãos,foram levados para Mossuldepois de a sua aldeia ter sidoconquistada pelos jihadistas.Felizmente, Jandark Nassi eIsmail conseguiram escapardaquele verdadeiro inferno mashá feridas que nunca mais vãocicatrizar. Ismail tinha apenas 14 anos quandoocorreu, em Agosto de 2014, ainvasão da Planície de Nínive pelosjihadistas. Ismail vivia na cidade deBartella com sua mãe, JandarkNassi. De um dia para o outro, ossinos das igrejas emudeceram porcompleto e todos procuraram fugirdo terror que se anunciava com achegada dos homens de negro.Milhares de pessoas fugiram comopuderam e levaram consigo apenasa roupa que traziam vestida. Masnem todos foram capazes de partirantes da chegada dos terroristas.Ismail e a sua mãe, Nassi, recordamesse dia como algo de terrível.“Tentávamos sair da cidade quandonos levaram para Mossul.” Era oprincípio de uma história que os vaiagora perseguir até ao resto das

suas vidas. “Tive tanto medo…” Nassi, viúva, apesar de ter apenas55 anos, sentia que era suaobrigação proteger o filho.Caramba, ele era ainda umacriança. Levados para Mossul, a“capital” dos jihadistas, mãe e filhoviveram os primeiros dias empânico, desconhecendo o que lhesiria acontecer. Até que lhes disseramque seriam livres se renunciassem aCristo. Recusaram. Foi o começo dopesadelo. “Levaram logo o meu filhopara uma prisão. Tinha apenas 14anos…” Imagine-se a aflição destamãe ao ver o seu próprio filho a seragarrado e conduzido para umacadeia, sem poder socorrê-lo…Imagine-se também a aflição destejovem colocado numa prisão. “Umdia – lembra ele agora – um homemfoi assassinado mesmo à minhafrente. E os terroristas viraram-sedepois para mim e disseram: ‘se nãote converteres ao islão, damos-tetambém um tiro.’” Nesse instante, asua resistência acabou. “Foi entãoque lhes disse que me ‘convertia’ aoislão.” Não foi uma conversão, foiuma cedência, uma forma de semanter vivo.

70

A cruz escondidaMas o terror continuava. O filho deJandark foi colocado num campocorreccional, obrigado a deixarcrescer o cabelo e a barba. Até que,um dia, um jihadista descobriu queele usava uma cruz ao pescoço.Afinal, ele era ainda Cristão!Quando descobriram que Ismailusava uma cruz, podia ter sido logomorto. Mas era apenas uma criança.Preferiram torturá-lo por dentro.Convertê-lo à força. Obrigados aestudar o Corão, tanto ele como asua mãe, passaram a ser agredidossempre que davam respostaserradas. A violência parecia não terfim quando começaram a ouvir-seos primeiros

rumores de que o exército iraquianoestava a reconquistar a região. E osrumores passaram a certeza quandose verificaram os primeirosbombardeamentos. Foi na confusãode uma dessas batalhas que elesconseguiram fugir. Agitando umabandeira branca, entregaram-se aosprimeiros soldados queencontraram. Ismail e Nassi sãoapenas dois rostos da multidão derefugiados cristãos iraquianos quesão apoiados diariamentepela Fundação AIS. São pessoasque perderam tudo o que tinham,que têm agora de reconstruir vidas,que têm de voltar a acreditar nofuturo. São pessoas que precisammuito de nós.

Paulo Aido www.fundacao-ais.pt

71

Reconciliação - um dom ou umatarefa?

Tony Neves Espiritano

Não há alternativa à caminhada ecuménica:quem o disse foi o Concílio Vaticano II e, depoisdele, todas as intervenções oficiais da Igrejacatólica o têm reafirmado. Se até ao Concílio, oecumenismo era olhado com alguma suspeição evivido apenas por alguns, a partir deste grandeacontecimento, a opção deu lugar à obrigação.Os últimos tempos têm sido muito ricos emtermos ecuménicos. Surgem documentos,realizam-se eventos, abrem-se debates, reza-seem comum, os membros de diversas Igrejasencontram-se.A nível mundial, registamos os encontrosfrequentes entre os Papas e líderes das grandesIgrejas Cristãs de tradição Ortodoxa ou nascidasda Reforma Protestante. Também ganhou direitode cidadania o Oitavário de Oração para aUnidade dos Cristãos que, na Europa, estamos acelebrar de 18 a 25 de Janeiro.A nível da Europa, saliento a realização de trêsAssembleias Ecuménicas: em Basileia (Suiça, em1989), em Graz (Áustria, em 1997), em Sibiu (naRoménia, em 2007). Os temas escolhidos,debatidos e rezados tocam nas questões dejustiça, paz, ecologia, reconciliação e comunhão.Trata-se de grandes temas gravados naspáginas dos Evangelhos que, quando vividos,tornam o mundo mais humano e mais fraterno.Portugal tem impresso já no seu ritmo eclesialuma caminhada ecuménica interessante.Vivemos com intensidade, a nível nacional, aSemana da Unidade, com encontros ecelebrações um pouco por todo o país. Temosdioceses (como, por

72

exemplo, Porto, Lisboa e Coimbra)onde vão acontecendo, ao longo doano, eventos que congregamdiversas Igrejas cristãs. Mas é anível dos jovens que o caminhoparece mais palmilhado: desde1999 que se realiza, seminterrupções, o Fórum EcuménicoJovem, fruto de uma organizaçãoconjunta dos departamentos juvenisdas Igrejas Católica, Lusitana,Metodista e Presbiteriana. Alémdestes fóruns, que têm percorrido opaís, têm surgido outras iniciativasde que saliento a produção de doisCD’s Ecuménicos que reúnemcânticos nascidos no contexto dasdiferentes Igrejas.

‘Reconciliação – é o amor de Cristoque nos impele’, eis o tema destaSemana da Unidade, relacionadocom a celebração dos 500 anos daReforma Protestante. Há quecontinuar a derrubar as paredes dadivisão para dar lugar ao projeto deCristo que quer ‘um só rebanho eum só Pastor’…que é Ele!Reconciliação: um dom ou umatarefa? Certamente que um enormedom de Deus à sua Igreja, que setorna tarefa para quantos sentem opeso do sonho bíblico: ‘oh como ébom e agradável viverem os irmãosem harmonia’!

73

74