Ontico Epistemico

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Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianpolis, v. 20, n. 1, p. 112-123, jan./abr., 2015.

Anais do 32 Painel Biblioteconomia em Santa Catarina Lages/SC

AS DIMENSES NTICA, EPISTMICA E DOCUMENTAL NA

REPRESENTAO DA INFORMAO E DO CONHECIMENTO

Fabio Assis Pinho1

Bruna Las Campos do Nascimento2

Willian Lima Melo3

RESUMO: Apresenta as dimenses da organizao e do conhecimento proposta por Gnoli (2012), as quais so

ntica, epistmica e documental, e enfatiza que quando devidamente utilizadas, abrangem toda descrio

representativa dos materiais informacionais. Objetiva analisar a presena das dimenses ntica, epistmica e

documental no padro Dublin Core e no formato Marc. Conceitua a representao da informao (RI) como um

conjunto de elementos que representam um material informacional, tanto fisicamente como tematicamente. Reflete

que na RI verifica-se um maior enfoque na dimenso documental do que nas dimenses ntica e epistmica. Define

metadados e destaca algumas das diversas vantagens que esses podem oferecer. Delineia sobre os padres de

metadados e enfoca especificamente sobre o Dublin Core e o formato MARC. Utilizou-se como metodologia a

pesquisa exploratria e descritiva. Conclui que a complementaridade entre as dimenses ntica, epistmica e

documental podem contribuir em uma melhor representao dos materiais informacionais, e consequentemente em

uma recuperao mais eficiente e eficaz da informao.

PALAVRAS-CHAVE: Dimenses do conhecimento. Representao da informao. Metadados. Dublin Core.

Formato MARC.

1 INTRODUO

O presente trabalho direciona sua ateno necessidade da apreenso das dimenses da

organizao do conhecimento, as quais esto presentes no documento, para melhorar e facilitar a

recuperao da informao. Sendo uma das temticas de estudo da Representao da Informao e do

Conhecimento, a recuperao destina sua ateno aos processos que envolvem desde a construo do

documento, passando pela sua representao, at sua recuperao. Com esta perspectiva, a pesquisa se

embasa positivamente nos estudos de Gnoli (2012) que foram apresentados e validados anteriormente

pela International Society for Knowledge Organization (ISKO).

De acordo com Gnoli (2012) as dimenses da organizao do conhecimento apresentam-se em

estruturas separadas e se dividem em ontolgicas, epistmicas e documentais. Todas podem ser

abrangidas pelos metadados no momento da representao da informao e do conhecimento, no entanto

frequentemente no so utilizadas e algumas vezes acabam sendo confundidas. Isso resulta em uma

indexao menos eficiente, e consequentemente em uma recuperao imprecisa.

Neste sentido a pesquisa busca apresentar as dimenses do conhecimento e analisar a incidncia

dessas no padro Dublin Core e no formato Marc apresentando exemplos prticos que facilitem a

compreenso. A metodologia utilizada foi a pesquisa exploratria e descritiva acerca das temticas:

representao da informao e do conhecimento, padres de metadados e dimenses do conhecimento.

1 Doutor em Cincia da Informao pela Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho, UNESP, Brasil. Professor

Adjunto do Departamento de Cincia da Informao da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). E-mail:

[email protected]. 2 Mestranda em Cincia da Informao pela Universidade Federal de Pernambuco, UFPE, Brasil. E-mail:

[email protected]. 3 Mestrando em Cincia da Informao pela Universidade Federal de Pernambuco, UFPE, Brasil. E-mail:

[email protected].

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A lgica de desenvolvimento do ensaio mostra-se pertinente ligao dos termos que venham a

apresentar a ideia principal e a concluso do mesmo. Assim, houve a diviso em trs partes para

construo dos juzos pertinentes ao tema e outra para consideraes finais. A primeira parte aponta as

dificuldades referentes conceituao do termo documento, tambm destaca a acatvel hiptese de impossibilidade dos organizadores do conhecimento no poderem esperar a conceituao comum deste

termo entre os tericos da Cincia da Informao (CI).

O segundo tpico explana sobre as dimenses (ntica, epistmica e documental) que o

conhecimento percorre at materializar-se documento. Nesta parte, percebe-se a necessidade que

organizadores do conhecimento devem ter percepo tanto fenomenolgica quanto das caractersticas

de construo cientfica materializadas de alguma forma nos documentos, fora as questes voltadas aos

notrios aspectos de formatos materiais do documento.

A terceira parte apresenta algumas definies sobre Representao da Informao (RI) e

Representao do Conhecimento (RC) com o intuito de colaborar para uma melhor compreenso desses

conceitos. A quarta parte explana sobre os metadados e suas principais vantagens, e destaca o padro de

metadados Dublin Core e o formato MARC. E por fim, apresenta a anlise das dimenses da organizao

doo conhecimento realizada nos formatos MARC e Dublin Core. Demonstra-se ao final a indispensvel

percepo da inter-relao das dimenses presentes no documento como agente facilitador para a melhor

representao e posterior recuperao da informao.

2 NA TENTATIVA DE CONCEITUAR O TERMO DOCUMENTO

A conceituao do termo documento na Cincia da Informao tida por vrios autores como desafio, bvio que existem pontos em comum entre uma definio e outra, porm, no existe ainda um

consenso. Desta forma, assume-se uma complicada situao, o que deve ser considerado como

documento? Como organizar aquilo que no se tem certeza se ou no um documento? comumente aceitvel que os profissionais que trabalham com a organizao do conhecimento no

devem esperar o resultado deste impasse para realizar suas atividades, ainda mais com o desenvolver da

humanidade e de suas tecnologias produzindo cada vez mais registros de atividades. Enquanto existe o

debate entre novos tericos sobre antigas concepes, ou at a concordncia destas, a humanidade vai

sugerindo novos desafios, novas incgnitas.

Em resumo, a importncia deste tpico consiste na capacidade do entendimento que organizadores

devem ter ao considerar registros como documentos. Pode-se assim assumir a postura diante de um

documento entendendo-o como o registro da atividade humana, como representante de significados, como

artefato, como fator de inmeras possibilidades comunicativas, como suporte, como registro do

pensamento individual ou coletivo, etc.

Deve-se considerar alm das descries acima citadas, que so as mais tradicionais, que as novas

tecnologias ampliaram os horizontes de consideraes que os organizadores possam abranger. Tudo que

venha a carregar e a representar o desenvolvimento de um pensamento pode ser caracterizado como

documento, a complexidade em conceituar o termo germina neste princpio, afinal uma gama de

possibilidades pode vir a ser classificada como documento.

vlido que todo documento tenha autoria (mesmo quando o autor no identificado), e, por mais

trivial que possa parecer tal afirmao, ela suficientemente vlida para o incio de atividades relativas

rea da organizao do conhecimento. Percebem-se na figura autoral diversas informaes, implcitas ou

explcitas, que ajudaram na composio de um documento. A autoria representa a sensibilidade humana

diante de sua prpria existncia e interao com seu meio, concebe ainda o reflexo de uma poca, de uma

cultura, enfim, de uma representao de mundo. A percepo destas informaes eleva a qualidade do

trabalho referente estruturao de dados representativos.

O prximo tpico tratar de como o conhecimento pode ser reconhecido atravs de camadas

presentes no documento. Apoiando-se na viso de Gnoli (2012), possvel encontrar nos documentos

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dimenses capazes de subsidiar informaes responsveis para uma melhor organizao e consequente

recuperao da informao.

3 DIMENSES DA ORGANIZAO DO CONHECIMENTO: DO MISTRIO AO REGISTRO

Qual caminho percorreu o conhecimento para materializar-se documento? Apreender a ideia deste

questionamento um incio, afinal o documento no um registro gratuito da ao humana, ele, antes de

mais nada, surge de uma inquietao. Sero descritas adiante, com base nos estudos de Gnoli (2012),

algumas etapas percorridas pelo conhecimento at seu registro.

Partiremos ento da caracterstica referida anteriormente: a inquietao humana para registrar algo.

A explicao das coisas reside na existncia da razo, ainda assim dependemos antes da sensibilidade. O

fator sensitivo do homem, auxiliado por sua razo, o torna capaz de investigar tudo aquilo que o cerca

(natural/fsico/emocional), capaz de tentar entender toda representao da ao fenomenolgica ou da

prpria existncia humana (BRAGA; GUERRA; REIS, 2010). A existncia do ser e suas relaes lgicas

o pressuposto da ontologia. O homem dotado de razo e sensvel a invaso de informao, sugerida pela

existncia dos fenmenos, torna-se assim elemento de ao racional. Qualquer fato que exista e que excite

a capacidade racional humana, sugerindo assim a resolues de dvidas, poder ser percebido no

documento em sua dimenso ntica.

Entende-se assim que a natureza/sociedade existe e pode ser apresentada em forma de mistrio

sensibilidade humana, e nesta apresentao so sugeridos fenmenos carregados de significados, ora de

fcil interpretao, ora no. Desta maneira conclusivo que exista a necessidade da investigao para o

entendimento dos mistrios encontrados na natureza/sociedade e suas relaes (GNOLI, 2012).

Configura-se assim a segunda etapa onde o conhecimento se desenvolve, esta pode ser percebida na

dimenso epistmica do documento.

A busca do entendimento, ou do registro de um confronto relacional entre o indivduo e a

natureza/sociedade no obedecer a mecanismos perenes. A maneira como registramos o conhecimento

sobre sistema solar, sistema poltico ou at mesmo sobre o amor hoje no a mesma de 20 anos atrs, por

exemplo. A humanidade avana juntamente com seus sistemas de investigao, de metodologia e de

registro. As variveis presentes na dimenso epistmica de um documento so capazes de informar

aspectos determinantes para a construo do mesmo. Aspectos como poca, lugar, mtodo, cultura,

disciplina, teoria so capazes de esboar a lente utilizada pelo autor do documento para materializar

aquela informao (GNOLI, 2012).

Os vestgios so encarados como perspectivas na dimenso epistmica, e em alguns casos, as

perspectivas so mais gritantes que o prprio fenmeno relatado. Temos como exemplo documentos do

Renascimento, onde em alguns registros so mais perceptvel as influncias da poca/cultura/mtodo do

que dos fatos (dimenso ntica) contidos nas obras. Outra particularidade pode ser encontrada em obras

abstratas, pode-se enquadrar a dimenso epistmica documental (Surrealismo de Paris da dcada de 20,

por exemplo), porm, a dificuldade residir na apreenso da dimenso ntica.

Ainda acompanhando o caminho percorrido pelo conhecimento, no prprio suporte que podemos

encontrar a dimenso documental. A anlise desta dimenso preconiza o entendimento de detalhes

presentes no objeto. Tempo da publicao, lugar de publicao, linguagem, tipo de mdia, autoria,

formato so algumas das caractersticas mais comuns de serem percebidas nesta dimenso (GNOLI,

2012). No menos importante que as outras, esta percepo mostra-se uma prtica mais tcnica.

Configura ento para a organizao do conhecimento o desafio de estabelecer melhores prticas que

consigam apreender estas dimenses, principalmente para a construo de metadados representativos.

Quanto mais preciso for a anlise destas dimenses, melhor organizado e representado pode ser o

conhecimento.

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4 REPRESENTAO DA INFORMAO E DO CONHECIMENTO

No intuito de organizar a informao necessrio represent-la para que, posteriormente, se consiga

recuper-la. No mbito da Cincia da Informao, verifica-se ambiguidades em relao ao uso dos termos

Representao da Informao (RI) e Representao do Conhecimento (RC). Deste modo pretende-se aqui

explanar sobre a definio de cada um desses conceitos, com a finalidade de colaborar para uma melhor

compreenso dessas estruturas conceituais.

De forma mais abrangente, o termo representao refere-se a traduzir, retratar, ou ainda fazer

meno a um documento, obra, imagem, etc. Dodebei (2002, p. 28) afirma que a representao compe-

se de objetos e propriedades; os objetos so coisas que queremos representar, enquanto que as propriedades so as caractersticas dessas coisas. Voltando para o contexto cientfico, especificamente no mbito da Biblioteconomia, Documentao e Cincia da Informao a representao abarca a descrio fsica e de contedo dos livros e documentos em geral (SAN SEGUNDO MANUEL, 2003, p. 4, traduo nossa).

Diferentemente do que se pensa a representao da informao e do conhecimento no apenas um

trabalho tcnico, um processo cognitivo que perpassa pelas etapas de percepo, identificao,

interpretao, reflexo e codificao. Nesta pesquisa adotou-se a definio de RI e RC proposta por

Brascher e Caf (2008): a RI consiste em um processo que envolve a descrio fsica e de contedo de um

objeto informacional, e a RC envolve uma anlise de domnio que resulta em sistemas conceituais

estruturados esquematicamente que so utilizados no processo de descrio de contedo na RI.

Segundo Brascher e Caf (2008) a Representao da Informao envolve um conjunto de elementos

descritivos que representam os atributos de um objeto informacional especfico. A RI compe-se de um

conjunto de elementos que dizem respeito descrio fsica e de contedo de determinado objeto

informacional. A descrio fsica est diretamente relacionada ao suporte material, a catalogao, ou seja,

descrio do autor, ttulo, local, editor, data, paginao, dimenso, dentre outros. Essas informaes

compreendem descries dos atributos de um documento, refletindo desta forma a sua origem e

facilitando sua recuperao. J a descrio de contedo segundo Carlan (2010, p. 27) trabalha com os conceitos contidos nos documentos e a representao desses conceitos de forma sistemtica e

semanticamente estruturada (elaborao de resumo, indexao, classificao, ...). O resumo produto da anlise documentria e consiste na apresentao sintetizada dos pontos relevantes de um documento. A

indexao o processo em que se representa o contedo dos documentos por meio de descritores. E a

classificao objetiva agrupar e organizar os documentos segundo os assuntos que tratam, isso realizado

com o auxlio de sistemas de classificao (CDD e CDU, por exemplo).

A Representao do Conhecimento (RC) se constitui numa estrutura conceitual e fruto de um processo de anlise de domnio, [...] procura refletir uma viso consensual sobre a realidade que se

pretende representar (BRASCHER; CAF, 2008, p. 6). Em outras palavras, a RC consiste em um processo de representao de um domnio de conhecimento, os quais se materializam na estrutura das

relaes conceituais que so as linguagens documentrias4, ou seja, aquelas padronizada e uniformizada

compatvel com a linguagem dos sistemas. No mbito da Cincia da Informao, a Representao do

Conhecimento

[...] possibilita a elaborao de linguagens documentrias verbais e notacionais, visando

recuperao da informao e organizao dos contedos informacionais de documentos. No

4 Linguagens documentrias (LDs) - so linguagens artificialmente construdas e constitudas de sistemas simblicos que

visam traduzir sinteticamente contedos documentais, utilizadas nos sistemas documentrios para indexao, armazenamento e recuperao da informao (SALES, 2007). As LDs tm como principal finalidade organizar a informao e o conhecimento,

e, consequentemente facilitar a recuperao das informaes contidas nos documentos (CARLAN, 2010).

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mbito da terminologia, esses mesmos mecanismos permitem a sistematizao dos conceitos [...].

(CAMPOS, 2004, p. 24).

Tanto a RI quanto a RC objetivam garantir a recuperao e, consequentemente, o acesso e uso dos

documentos. Quando se relaciona a representao da informao e do conhecimento com as dimenses

nticas, epistmicas e documentais verifica-se maior enfoque na dimenso documental (que abrange a

descrio de autor, ano de publicao, lugar de publicao, formato, mdia) deixando a desejar, por vezes

nas dimenses ntica (fenmeno) e epistmica (descrio da poca, lugar, mtodo, cultura, etc.).

No desmerecendo a importncia da dimenso documental, mas, de acordo com Gnoli (2012), se

esta for relacionada com os fenmenos (dimenso ntica) e com as perspectivas (dimenso epistmica)

alguns fatores relevantes podero fortalecer uma melhor representao do documento. Em vrios

documentos os fenmenos so os objetos primrios de tratamento, mas h tipos particulares em que os

fenmenos so menos importantes quando comparados s perspectivas; ou seja, no to importante o

que representado, mas a forma como . Isto geralmente ocorre em desenho, escultura, pintura,

fotografia, poesia e em composies sonoras.

Conforme foi visto pertinente dizer que o enfoque nas dimenses ntica epistmica e documental

podem contribuir em uma melhor representao da informao contida nos documentos. Isto ocorre

porque as trs dimenses, quando devidamente utilizadas, abrangem toda descrio representativa dos

materiais informacionais.

Para realizar a representao da informao e do conhecimento so necessrias algumas estruturas

padronizadas para descrever os documentos, dentre as diversas disponveis destaca-se os padres de

metadados, no qual as dimenses (ntica, epistmica e documental) podem ser combinadas. Aqui ser

enfocado o formato MARC (Machine Readable Cataloging) e o Dublin Core, os quais sero abordados na

seo a seguir.

5 PADRES DE METADADOS MARC E DUBLIN CORE

Os metadados geralmente so descritos como dados sobre dados, de fato so, pois descrevem as informaes que caracterizam determinado recurso informacional. Eles permitem o acesso, o uso e o

gerenciamento dos dados de maneira eficiente e eficaz, assim como sua recuperao.

Conforme Rosetto (2003) os metadados consistem em um conjunto de dados-atributos,

devidamente estruturados e codificados, com base em padres internacionais, para representar

informaes de um recurso informacional em meio digital ou no, contendo uma srie de caractersticas e

objetivos. De forma geral os metadados fornecem dados de um determinado documento sobre uma

estrutura organizada, a qual auxilia na representao, localizao, acesso, recuperao e uso de um

recurso de informao.

Os metadados apresentam diversas vantagens, dentre elas destaca-se: a integrao e

interoperabilidade entre os sistemas de informao, a possibilidade de definir descritores para identificar

um documento, a legibilidade tanto pelo homem como pela mquina, como tambm, a permisso em

recuperar atravs de mecanismos padronizados no acesso ao documento e uma maior acessibilidade ao

recurso.

Os metadados devem seguir esquemas codificados comuns que permitam a padronizao de

metodologias de estruturao de pginas e sites, estes esquemas so comumente chamados de padres de

metadados. Segundo Grcio (2002) um padro de metadados pode ser descrito como um conjunto de

elementos descritores que segue um determinado modelo de dados com o objetivo de descrever recursos

de um domnio especfico. Mas, para que serve estes padres? Para uniformizar e estabelecer um conjunto

de elementos comuns facilitando assim a compreenso e uso da informao por diferentes usurios.

Adiante sero brevemente exemplificados, para melhor entendimento, os padres de metadados Dublin

Core e o formato MARC.

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O Dublin Core um padro de metadados composto por quinze elementos, mas inicialmente

comeou apenas com treze. O primeiro padro surgiu na dcada de 60, nos EUA, com o objetivo de

possibilitar a troca de registros bibliogrficos e catalogrficos entre bibliotecas, com o uso de

computadores. Souza, Vendrusculo e Melo (2000) destacam que as principais caractersticas deste padro

so a simplicidade na descrio dos recursos, entendimento semntico universal (dos elementos), escopo

internacional, extensibilidade, padro flexvel, podendo inserir campos mais de uma vez ou no preench-

los a depender da necessidade e complexidade da descrio. Os quinze elementos bsicos que compem o

Dublin Core so: ttulo, criador, assunto, descrio, publicador, colaborador, data, tipo, formato,

identificador, fonte, idioma, relao, cobertura e direitos autorais.

O formato MARC um acrnimo de Machine Readable Cataloging, que traduzindo quer dizer

catalogao legvel por mquina. Segundo Alves e Souza (2007) o MARC consiste em um conjunto de

padres para identificar, armazenar e comunicar informaes bibliogrficas em formato legvel por

mquina, de forma que diferentes computadores e programas possam reconhecer, processar e estabelecer

pontos de acesso dos elementos que compem a descrio bibliogrfica. Esse formato utiliza a estrutura

de campos fixos e variveis, subcampos e indicadores, tornando-se assim mais complexo, rgido e de

difcil utilizao por usurios no especialistas em catalogao.

Os padres de metadados Dublin Core e MARC so formatos conhecidos e associados a padres

especficos para facilitar a descrio, acesso e uso dos recursos informacionais. A principal finalidade da

descrio por meio dos metadados contribuir para uma busca e recuperao eficiente e eficaz da

informao. Todo o contexto da representao da informao e do conhecimento visa garantir uma

precisa recuperao de modo a satisfazer as necessidades informacionais dos usurios. Na seo a seguir

ser analisada a presena das dimenses ntica, epistmica e documental nos campos que constituem os

padres de metadados MARC e Dublin Core.

6 ANLISE DAS DIMENSES NOS PADRES DE METADADOS MARC E DUBLIN CORE

Conforme ressaltando anteriormente, as dimenses da organizao do conhecimento propostas por

Gnoli (2012) trazem consigo facetas que caracterizam cada uma delas. A dimenso ntica refere-se ao

estudo ontolgico, do ser, do que existe ou ainda como denominado por Gnoli diz respeito aos

fenmenos, compreende aqui as facetas relacionadas aos conceitos. A dimenso epistmica lista de que

forma o homem interagem com os fenmenos, nesta inclui as facetas: poca, lugar, mtodo, teoria,

disciplina, dentre outros. E por fim, a dimenso documental voltada as caractersticas formais dos

suportes informacionais, aqui inclui-se as seguintes facetas: tempo, lugar, ano de publicao, linguagem,

mdia, autor, entre outros.

Essas dimenses podem ser identificadas nos formatos utilizados para representao da informao

e do conhecimento dos documentos. importante salientar que diante da proposta feita pelo Gnoli foram

feitas algumas adaptaes das facetas, para que assim se pudesse apresentar de forma mais clara os

campos que correspondem s dimenses.

O formato MARC por possuir um nmero bem maior de atributos e por ser mais completo,

apresenta descries e campos bem mais complexos. Sendo assim sero analisados aqueles campos mais

utilizados para as descries fsicas e temticas. Conforme mostra a Figura 1 podemos verificar a

presena das seguintes dimenses nos campos.

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Figura 1 Layout do formato MARC no Sistema Pergamum

Fonte: Autoria prpria (2013).

Tabela 1 Anlise das dimenses presentes no formato MARC CAMPO DESCRIO DIMENSO

100 Autor Dimenso documental

245 subcampo A Ttulo subcampo B Subttulo

Pode conter as facetas das dimenses ntica,

epistmica e documental ao mesmo tempo.

250 Edio Dimenso documental

260

subcampo A Local da publicao

Dimenso documental subcampo B Editor

subcampo C Ano da publicao

subcampo A Extenso do item

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300

subcampo B Detalhes fsicos do material

Dimenso documental

subcampo C Dimenses

5xx Notas Pode conter as facetas das dimenses ntica,


6xx Assuntos Pode conter as facetas das dimenses ntica,


7xx Entrada secundria Dimenso documental

Fonte: Autoria prpria (2013).

O campo 100 que diz respeito a descrio do autor refere-se a uma das facetas da dimenso

documental. O campo 245, que corresponde a ttulo e subttulo, pode ocorrer a presena das trs

dimenses ao mesmo tempo, pois no ttulo e subttulo de alguns documentos podemos identificar o

fenmeno, a perspectiva e o suporte material. Por exemplo, no ttulo Manual (material dimenso documental) da Antropologia Africana (fenmeno dimenso ntica + perspectiva dimenso epistmica) (GNOLI, 2012, p. 272). Isso no algo que ocorre em todos os materiais, mas em alguns possvel combinar mais ou menos explicitamente as dimenses.

Nos campos 250 (edio), 260 (dados da publicao) e 300 (descrio fsica) verifica-se a presena

da dimenso documental, pois trazem caractersticas que dizem respeito ao suporte fsico dos

documentos. O campo 5xx referente a notas (notas gerais, de dissertao ou tese, de bibliografia, de

contedo, de citao, de resumo) e o 6xx referente a assunto (entidade, tpico, ttulo uniforme) podem

conter, mais uma vez, as trs dimenses, pois tanto nas notas como nos assuntos (termos descritores que

representam os documentos) h a possibilidade de identificar os fenmenos, as perspectivas e o material.

Por exemplo, no campo 500 (notas gerais) ao colocar o nome do orientador atribuiu-se uma faceta da

dimenso documental. No campo 650 (assunto-tpico) administrao da qualidade possvel identificar a dimenso epistmica, neste caso a disciplina. E para finalizar a anlise formato o campo 7xx referente a

entrada secundria temos mais uma faceta da dimenso documental, pois geralmente neste campo

acrescenta-se o nome pessoal daqueles autores secundrio, organizador, tradutor, ilustrador e etc.

O formato Dublin Core apresenta uma interface mais simples e de fcil utilizao. Sendo assim faz-

se necessrio apresentar os elementos que o compe e suas respectivas descries, ver Figura 2.

Figura 2 Elementos que compem o formato Dublin Core

Fonte: (ALVES; SOUZA, 2007).

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Conforme visto acima, alguns elementos que constituem o Dublin Core so semelhante estrutura

do formato MARC, s que de forma bem mais simplificada. Para realizar a anlise deste formato seguir

a ordem acima apresentada e no ser necessria a tabulao dos dados, tendo em vista o nmero de

elementos que compe o Dublin Core.

No elemento Ttulo, conforme ressaltado anteriormente no formato MARC, pode ocorrer a presena das trs dimenses ao mesmo tempo, pois no ttulo e/ou subttulo de alguns documentos

podemos identificar o fenmeno, a perspectiva e o suporte material. No elemento Criador que neste caso o mesmo que autor, est diretamente ligado a uma das facetas da dimenso documental. Nos elementos

Assunto e Descrio, este ltimo equivale respectivamente a resumo, podem conter, mais uma vez, as trs dimenses, pois tanto na descrio do contedo como nos assuntos h a possibilidade de identificar

os fenmenos, as perspectivas e o material.

Nos elementos Publicador, Colaborador, Data, Tipo, Formato, Identificador, Fonte, Idioma, Relao, Cobertura e Direitos Autorais ambos apresentam caractersticas formais relacionadas aos suportes fsicos dos documentos. No intuito de facilitar a identificao das dimenses no

formato Dublin Core fez-se uma anlise de dois exemplos trazidos por Grcio, um artigo e uma imagem,

e atribui-se as dimenses equivalente a cada elemento, conforme mostra a Figura 3 e 4.

Figura 3 Texto disponvel na Revista Cincia da Informao on-line

Fonte: Adaptado de Grcio (2002).

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Figura 4 Imagem digitalizada de uma tela de Vincent Van Gogh.

Fonte: Adaptado de Grcio (2002).

Mediante tais consideraes verifica-se que a combinao das dimenses ntica, epistmica e

documental se manifestam em vrios documentos atuais e isso pode contribuir de forma efetiva para uma

melhor representao da informao e do conhecimento, e consequentemente, com a recuperao, acesso

e uso dos materiais informacionais.

7 CONSIDERAES FINAIS

Os novos formatos e mdias, assim como o avano das tecnologias, alteram o contexto da

organizao do conhecimento e traz consigo desafios para esta rea. Estas inovaes interferem

diretamente nos processos de representao, codificao, transmisso e recuperao da informao.

Representar descritivamente e tematicamente os documentos a partir das dimenses ntica,

epistmica e documental podem contribuir para uma melhor descrio, acesso, uso e recuperao da

informao. Deste modo os metadados podem abranger todas as caractersticas resultantes destas

dimenses, tendo assim uma maior relevncia e preciso na busca dos registros informacionais.

O intuito principal deste trabalho foi apresentar as dimenses ntica, epistmica e documental na

organizao do conhecimento, especificamente no contexto dos metadados, e, assim, enfatizar como essas

podem contribuir e interferir no processo de recuperao da informao. Verificou-se que ambas as

dimenses abrangem as principais caractersticas dos documentos, a ntica mais voltada para os

fenmenos, a epistmica s perspectivas e a documental ao suporte material. Quando inter-relacionadas

elas complementam-se e facilitam a recuperao precisa das informaes.

Assim, pode-se concluir que as facetas das dimenses ntica, epistmica e documental da

organizao do conhecimento podem ser abrangidas pelos metadados, ajudando desta maneira a

concentrar as informaes mais importantes dos documentos. Alm disso, essas podem contribuir para

uma recuperao mais eficiente e efetiva da informao.

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THE ONTIC, EPISTEMIC AND DOCUMENTAL DIMENSIONS ON INFORMATION AND

KNOWLEDGE REPRESENTATION

ABSTRACT: Introduces dimensions of organization and knowledge proposed by Gnoli (2012), which are ontic,

epistemic and documentary, and highlights that when properly used it is able to cover the entire representative

description of the informational material. It aims to analyze the presence of ontic, epistemic and documentary at

the Dublin Core pattern and also at the Marc format. It conceptualizes the representation of information as a group

of elements that represents an informational material, both physically and thematically. It also speculates that in IR

it is possible to verify a greater focus in the documental dimension than in ontic and epistemic ones. It defines

metadata and focuses specifically in Dublin Core and MARC format. It used as methodological approach an

exploratory and descriptive research. And concludes that the complementarily between dimensions ontic, epistemic

and documentary can contribute to a better representation of informational materials and, thereafter, to a more

efficient recuperation of information.

KEYWORDS: Knowledge dimensions. Information of representation. Metadata. Dublin Core. MARC format.

Recebido em: 20-08-2014

Aceito em: 19-09-2014

Ontico Epistemico

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