OBTENÇÃO DE BIODIESEL DE GIRASSOL E AVALIAÇÃO ......(biodiesel) com propriedades semelhantes ao...
Transcript of OBTENÇÃO DE BIODIESEL DE GIRASSOL E AVALIAÇÃO ......(biodiesel) com propriedades semelhantes ao...
-
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA
INSTITUTO DE QUÍMICA – UFRN CURSO DE QUÍMICA DO PETRÓLEO
OBTENÇÃO DE BIODIESEL DE GIRASSOL E AVALIAÇÃO DE SUA AÇÃO
CORROSIVA
BERNARDO BRUNO DIAS BARACHO
Natal/RN 2016
-
Bernardo Bruno Dias Baracho
Obtenção de biodiesel de girassol e avaliação de sua ação corrosiva
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como parte integrante dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Bacharel em Química do Petróleo pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Orientador: Ademir Oliveira da Silva Co-Orientadora: Maria Aparecida Medeiros Maciel
Natal/RN 2016
-
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Instituto de Química - IQ
Baracho, Bernardo Bruno Dias. Obtenção de biodiesel de girassol e avaliação de sua ação corrosiva / Bernardo Bruno Dias Baracho. - 2016.
36 f.: il.
Trabalho de conclusão de curso (graduação) - Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Exatas e da
Terra, Instituto de Química, Natal, 2016. Orientador: Prof. Dr. Ademir Oliveira da Silva.
Coorientador: Profª. Drª. Maria Aparecida Medeiros Maciel.
1. Biodiesel. 2. Óleos vegetais. 3. Óleo de girassol. 4.
Transesterificação. 5. Corrosão. 6. Química. I. Silva, Ademir
Oliveira da. II. Maciel, Maria Aparecida Medeiros. III. Título.
RN/UF/BS-IQ CDU 665.75
-
Bernardo Bruno Dias Baracho
Obtenção de biodiesel de girassol e avaliação de sua ação corrosiva
Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação apresentado ao Instituto de
Química da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito necessário para a obtenção do título de Bacharel em Química do Petróleo.
Aprovado em 20 de Dezembro de 2016.
BANCA EXAMINADORA
______________________________________________
Prof. Dr. Ademir Oliveira da Silva Orientador - UFRN
_______________________________________________
Prof. Dra Maria Aparecida Medeiros Maciel Co- Orientadora - UFRN
_______________________________________________
Prof. Jackson da Silva Santos
Colaborador - IFRN
-
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, à Deus.
A minha mãe, pelo amor, carinho e paciência. Ao meu pai, por ser minha
fonte de inspiração e por todo suporte que me foi dado. E a minha irmã, Bárbara, por
ser meu ponto de equilíbrio e porto seguro.
Ao Prof. Dr. Ademir Oliveira da Silva pelas oportunidades e orientação.
A Profa. Dra. Maria Aparecida Medeiros Maciel pelas orientações e pela
oportunidade de conhecer melhor o mundo científico.
A UFRN e seus professores, pela capacitação como pessoa e profissional.
A família LQV (Laboratório de Química Verde) e LTT (Laboratório de
Tecnologia de Tensoativos) por ter aberto as portas para mim e proporcionar
inúmeras experiências.
Pela contribuição em minha formação, agradeço também, ao Prof. Jackson da
Silva Santos, Denise Emerenciano e Joherbson Deivid.
Agradeço ao Laboratório de Caracterização de Petróleo e Derivados
(LabPetrol) da UFRN, especificamente à Profa. Dra. Luciene da Silva Santos e
Keverson Gomes de Oliveira, pela parceria em algumas das análises que foram
realizadas.
Aos meus amigos Pablo Matheus e Valdeir Lira por toda ajuda e incentivo
durante minha graduação. À minha amiga Lorena Kelly, por estar sempre perto de
mim nos melhores e piores momentos. Agradeço à Maria Clara Coutinho, por ser
para mim um exemplo de companheirismo, honestidade, fidelidade e amor.
Por fim, agradeço a todos os meus amigos que participaram da minha
trajetória, não só acadêmica, mas da vida.
-
RESUMO
As maiores causas do aquecimento global provocado pelo efeito estufa são as
emissões de gases poluentes provenientes da queima de combustíveis fósseis.
Neste contexto, o biodiesel é um combustível alternativo ao diesel, em função de
reduzir emissões de gases poluentes e contribuir com a diminuição da poluição
atmosférica. O biodiesel é produzido em larga escala pelo método sintético de
transesterificação, que consiste na reação de um material graxo e um álcool de
cadeia curta, na presença de um catalisador (ácido, básico ou enzimático). No
presente trabalho objetivou-se avaliar a ação corrosiva do biodiesel obtido do óleo
de girassol (B100-OG) através da transesterificação alcalina com NaOH, por rota
etílica. Inicialmente, utilizou-se 1,5% de NaOH em relação a quantidade de óleo, e a
razão óleo/álcool foi 1:6, à temperatura 60 ºC, por 90 minutos, com 74% de
rendimento reacional. Na sequência, preparou-se uma mistura contendo 93% de
Diesel S10 e 7% do biodiesel de girassol (B7-OG), que foi submetida a análises
físico-químicas de caracterização (viscosidade cinemática e dinâmica; densidade;
ponto de entupimento; ponto de fluidez). Para a amostra B100-OG, realizou-se
análise de estabilidade oxidativa, em que se determinou o tempo de indução do
biodiesel. Através do ensaio de imersão (experimento cupons de perda de massa),
avaliou-se o efeito corrosivo em aço carbono AISI 1020, para as amostras de Diesel
S10 adquirido comercialmente, B100-OG e B7-OG, seguindo a norma ASTM G31.
As maiores taxas de corrosão foram observadas para B100-OG (2,460 mpy) e Diesel
S10 (1,318 mpy). A amostra B7-OG apresentou valor inferior (1,290 mpy).
Palavras chaves: Óleo de girassol. Biodiesel. Transesterificação. Corrosão.
-
ABSTRACT
The major causes of the global warming caused by the greenhouse effect are the
emissions of polluting gases from burning of fossil fuels. In this sense, biodiesel is a
fuel alternative to diesel because of its use reduces emissions of pollutants and
contribute to the reduction of air pollution. This fuel type is produced on a large scale
by the transesterification synthetic methodology, which consists of the reaction of a
fatty material and a short chain alcohol, in the presence of a catalyst (acidic, basic or
enzymatic). The objective of this work was to obtain biodiesel from sunflower oil
(B100-OG) through alkaline transesterification with NaOH, by ethylic route, in order to
evaluate its corrosive action. Initially, 1.5% NaOH was used in relation to the amount
of oil, and the oil/alcohol ratio was 1:6, at 60 °C, for 90 minutes, with a 74 % of
reaction yield. A mixture of 93% S10 Diesel and 7% of the sunflower biodiesel (B7-
OG) was prepared, which was submitted to physical-chemical characterization
analyzes (kinematic and dynamic viscosity, density, clogging point, pour point). For
the sample B100-OG, an oxidative stability analyses was carried out wherein the
biodiesel induction time was determined. The corrosion effect on AISI 1020 carbon
steel was evaluated by the immersion test (mass loss coupon experiment) for the
tested samples such as the commercially purchased S10 Diesel, B100-OG and B7-
OG, following the standard ASTM G31. The higher corrosion rate were observed for
the S10 diesel (1.318 mpy) and B100-OG (2.460 mpy) samples. The greater result
was obtained for B7-OG (1.290 mpy) sample.
Keywords: Sunflower oil, Transesterification. Biodiesel. Corrosion.
-
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Reação de obtenção de triacilgliceróis.. ................................................... 13 Figura 2 – Reação de transesterificação.. ................................................................. 14 Figura 3 – Viscosímetro Anton Paar SVM 3000.. ...................................................... 21 Figura 4 – Equipamento Cloud and Pour point 5Gs.. ................................................ 22 Figura 5 – Equipamento AFP-102.. ........................................................................... 22 Figura 6 – Equipamento PetroOxy. ........................................................................... 23 Figura 7 – Cupom de aço carbono AISI 1020.. ......................................................... 24 Figura 8 – Amostras de combustíveis.. ..................................................................... 24 Figura 9 – Reação de transesterificação, aparato experimental.. ............................. 25 Figura 10 – Lavagem do B100-OG.. ......................................................................... 26 Figura 11– Secagem do B100-OG. ........................................................................... 26 Figura 12 – Análise de estabilidade oxidativa através do equipamento PetroOxy....28
-
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Composição em ácidos graxos presentes no óleo de girassol.. .............. 15 Tabela 2 – Vantagens do etanol sobre o metanol.. ................................................... 16 Tabela 3 - Caracterizações físico-químicas das amostras B7-OG.. .......................... 27 Tabela 4 – Estabilidade oxidativa da amostra B100-OG.. ......................................... 28 Tabela 5 – Resultados do experimento cupons de perda de massa.. ....................... 29 Tabela 6 – Taxa de corrosão para os combustíveis analisados.. .............................. 30
-
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS B100-OG 100% de biodiesel de girassol
B7-OG Mistura contendo 93% de Diesel S10 e 7% de biodiesel de girassol
ANP Agência Nacional de Petróleo
ASTM American Society for Testing and Materials
-
SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 10
2. OBJETIVO ............................................................................................................ 12
2.1 OBJETIVO GERAL .............................................................................................. 12
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ................................................................................ 12
3. REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................ 13
3.1 ÓLEOS VEGETAIS ............................................................................................. 13
3.2 REAÇÃO DE TRANSESTERIFICAÇÃO .............................................................. 14
3.2.1 Matéria prima ................................................................................................... 14
3.2.2 Álcool................................................................................................................ 15
3.2.3 Catalisadores ................................................................................................... 16
3.3 BIODIESEL .......................................................................................................... 17
3.4 ESTABILIDADE OXIDATIVA ............................................................................... 18
3.5 AUTO-OXIDAÇÃO .............................................................................................. 19
3.6 CORROSÃO ........................................................................................................ 19
4. METODOLOGIA EXPERIMENTAL ...................................................................... 20
4.1 OBTENÇÃO DO BIODIESEL ............................................................................... 20
4.2 CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA .............................................................. 21
4.2.1 Viscosidade e densidade .................................................................................. 21
4.2.2 Ponto de fluidez ................................................................................................ 22
4.2.3 Ponto de entupimento ...................................................................................... 22
4.2.4 Estabilidade Oxidativa ...................................................................................... 23
4.3 ENSAIO DE CORROSÃO .................................................................................... 23
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES .......................................................................... 24
5.1 OBTENÇÃO DO BIODIESEL ............................................................................... 25
5.2 CACTERIZAÇÕES FÍSICO-QUÍMICAS ............................................................... 27
5.3 EXPERIMENTO CUPONS DE PERDA DE MASSA............................................. 29
6. CONCLUSÕES ..................................................................................................... 30
7. REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 31
-
10
1. INTRODUÇÃO
As fontes de energia de origem fóssil são as mais utilizadas mundialmente e
por serem limitadas, intensificaram-se as pesquisas relacionadas às energias
alternativas (fontes renováveis). Em função deste interesse, os óleos vegetais
surgiram como alternativa para substituição do óleo diesel em diversas aplicações,
com inclusão do uso em motores de ignição por compressão (FERRARI et al., 2005).
Historicamente, é conhecido que no ano de 1900, o engenheiro mecânico
alemão Rudolph Diesel apresentou na Exposição Universal de Paris, um protótipo
de motor movido a óleo de amendoim. No entanto, a grande oferta do petróleo na
época, somado ao seu baixo preço, tornou os derivados do petróleo os combustíveis
preferidos da época (GONÇALVES; NOGUEIRA, 2007). Nas décadas dos anos
1930 e 1940 os óleos vegetais foram utilizados apenas em situações emergenciais,
como combustível no motor diesel (MA; HANNA, 1999). No entanto, comprovou-se
que a utilização dos óleos vegetais como combustível, com o passar do tempo,
promove uma série de danos ao motor, com destaque para a formação de coque
nos injetores (devido à atomização inadequada do combustível), depósitos de
carbono e, ainda, gelificação do óleo lubrificante. Estes danos estão correlacionados
a elevada viscosidade dos óleos vegetais, baixa volatilidade e reatividade de
hidrocarbonetos insaturados, presentes em suas composições (MA; HANNA, 1999).
Objetivando a otimização do uso de óleos vegetais em motores, vários
métodos foram utilizados para reduzir a viscosidade, com destaque para processos
de diluição, microemulsão, craqueamento catalítico, misturas binárias com
petrodiesel, pirólise e transesterificação. A transesterificação foi definida como a
melhor opção, por se tratar de uma reação simples, produzindo um combustível
(biodiesel) com propriedades semelhantes ao do diesel (FERRARI et al., 2005).
A transesterificação consiste na reação de óleos vegetais ou animais com
excesso de álcool (etanol ou metanol), na presença de catalisador (que pode ser
ácido, básico ou enzimático), com produção de ésteres e glicerina, que dispõe de
várias aplicações na indústria química (KNOTHE et al., 2006).
-
11
O biodiesel, mesmo sendo uma solução viável ao uso dos óleos vegetais,
apresenta como grande desvantagem sua baixa estabilidade oxidativa. A oxidação
deste combustível promove um aumento de sua acidez e da viscosidade,
provocando, posteriormente, corrosão e sedimentação de produtos sólidos que
danificam o motor via proliferação microbiológica (MONYEM et al., 2000).
A interação entre o fluido, estrutura metálica e a estrutura de atomização de
combustível (usualmente à alta pressão na câmara de combustão de um motor de
combustão interna) pode promover uma série de danos em que se incluem os
processos de corrosão, cavitação e erosão (ASI, 2006). Objetivando-se o avanço de
estudo que viabilizem a minimização de perdas por deterioração de metais, se
destaca a necessidade de estudos sobre os processos de corrosão causados pelo
uso de biodiesel.
De maneira geral, o estudo de processos corrosivos possibilitam conhecer e
caracterizar os diversos meios agressivos que são responsáveis pelas reações
químicas e eletroquímicas desencadeadas em materiais de elevada importância
industrial para, em uma etapa subsequente, reduzir os efeitos com agentes
antioxidantes, denominados de inibidores de corrosão (ROSSI et al., 2007). A
corrosão metálica representa uma das principais causas de perdas econômicas para
a indústria de petróleo, considerando o aumento com custos operacionais e de
manutenção da rede dutoviária afetada (NIZHEGORODOV et al., 2008).
No sistema de combustível de automóveis, materiais metálicos, como ligas de
metais ferrosos, ligas não-ferrosas e elastômeros entram em contato com o
combustível e, dependendo das diferentes características químicas do
biocombustível quando comparadas ao diesel, ocorre agravamento da perda de
materiais em função da ação corrosiva. Desta forma, alguns fabricantes de
automóveis estenderam a garantia apenas para misturas com menores percentuais
de biodiesel, como por exemplo o B10 (10% biodiesel e 90% diesel). Misturas
superiores a este percentual são isentas de garantia (GRACIA-ESCOSA et al., 2015;
HASEEB et al., 2011).
-
12
No Brasil, a lei de número 13.263, de 23 de Março de 2016, determina que
em Março de 2017 será permitido o aumento da mistura do biodiesel ao óleo diesel
vendido no país, dos atuais 7% para 8%, aumentando mais ainda a necessidade de
estudos de corrosão provocados pelo biodiesel.
No presente trabalho, o óleo de girassol (Helianthus annuus L.) foi escolhido
para ser avaliado como fonte alternativa ao uso de diesel. Especificamente,
objetivou-se o estudo comparativo do potencial corrosivo de biodiesel de girassol
(B100-OG), de diesel S10 e da mistura B7-OG (7% de biodiesel de girassol e 93%
de diesel S10). O ensaio de corrosão foi realizado pelo método de perda de massa,
seguindo a norma ASTM G31, no qual se expressa a perda de massa por unidade
de tempo.
2. OBJETIVO
2.1 OBJETIVO GERAL
Avaliação dos efeitos corrosivos de biodiesel de girassol (B100-OG), da
mistura B7-OG (7% de B100-OG e 93% de diesel S10) e óleo diesel S10 em aço
carbono 1020 através do experimento cupons de perda de massa.
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Obtenção do biodiesel de girassol através da reação de transesterificação por
rota etílica, em meio básico;
Avaliações físico-químicas para a amostra B7-OG, assim como análise de
estabilidade oxidativa para a amostra B100-OG;
Realização de experimentos de cupons de perda de massa com amostras de
óleo diesel S10, mistura B7-OG e biodiesel de girassol (B100-OG) para avaliação
comparativa do efeito corrosivo destes combustíveis em aço carbono 1020.
-
13
3. REVISÃO DA LITERATURA
3.1 ÓLEOS VEGETAIS
Os óleos vegetais são constituídos principalmente de triacilgliceróis (>95%),
pequenas quantidades de mono e diacilgliceróis, ácidos graxos livres, tocoferol
(importante antioxidante), proteínas, esteróis e vitaminas (REDA; CARNEIRO,
2007). A Figura 1 mostra uma rota sintética geral para obtenção de triacilgliceróis, a
partir da reação de uma molécula de glicerol e de três moléculas de ácidos graxos.
Os ácidos graxos são ácidos carboxílicos de cadeia longa, podendo ser saturados
ou não. Quando saturados, apresentam baixa reatividade química (menos suscetível
a oxidação) e, quando insaturados, apresentam alta reatividade química (mais
suscetível a oxidação). As propriedades físicas, químicas e nutricionais de óleos e
gorduras dependem da natureza do ácido carboxílico (número de carbonos e
saturações ou insaturações, presentes em sua estrutura).
Figura 1: Reação de obtenção de triacilgliceróis.
Fonte: Autor.
Óleos vegetais, gorduras animais e seus derivados alquil ésteres podem ser
utilizados como combustível alternativo por apresentarem um valor de número de
cetano semelhante ao do óleo diesel. Este valor é um indicativo adimensional da
qualidade de ignição de um combustível diesel e está associado a cadeia do ácido
graxo presente na composição do óleo, de tal forma que quanto maior o
comprimento da cadeia carbônica e menor o grau de ramificação dos ácidos graxos,
maior será o número de cetano (KNOTHE et al., 2006).
-
14
Como citado anteriormente, algumas desvantagens são atribuídas ao uso de
óleos vegetais como combustível. Neste contexto, vários métodos já foram utilizados
na tentativa de reduzir a viscosidade de óleos vegetais, e o método da
transesterificação é um dos mais utilizados e encontra-se descrito a seguir.
3.2 REAÇÃO DE TRANSESTERIFICAÇÃO
No processo de transesterificação, óleos vegetais e gordura animal reagem na
presença de um catalisador (geralmente uma base) com um álcool de cadeia
pequena para produzir os alquil ésteres correspondentes aos ácidos graxos
presentes na fonte original (óleo vegetal ou gordura animal) (KNOTHE et al., 2006).
Figura 2: Reação de transesterificação.
Fonte: Autor.
3.2.1 Matéria prima
O biodiesel pode ser obtido através de qualquer material graxo, tais como:
óleos e gorduras de origem animal e vegetal, óleos residuais de frituras e matérias
graxas de esgoto.
Diversas espécies oleaginosas já foram utilizadas para produção de biodiesel,
dentre elas destacam-se: óleo de soja, amendoim, coco, palma, colza, babaçu,
girassol e algodão (Parente, 2003). O girassol (Helianthus annuus L.), por exemplo,
é uma planta de ciclo curto e elevada qualidade, com bom rendimento em óleo que
é rico em ácidos graxos poliinsaturados/saturados (65,3%/11,6% em média), com
-
15
teor majoritário para o poliinsaturado ácido linoléico (65% em média) (EMBRAPA,
1997; SILVA; SANGOI, 1985). Por apresentar um alto índice de poliinsaturados,
este óleo apresenta baixa estabilidade oxidativa. A Tabela 1 mostra a composição
total de ácidos graxos presentes no óleo de girassol.
Tabela 1: Composição de ácidos graxos presentes no óleo de girassol.
ÁCIDOS GRAXOS ESTRUTURA VALORES DE
REFERÊNCIA (%)
C
-
16
O Grupo de Trabalho Interministerial (GTI) apresentou em seu relatório final
do ano 2002 algumas das vantagens do uso de etanol, comparado com o metanol,
como mostrados na Tabela 2.
Tabela 2: Vantagens do etanol sobre o metanol.
Características Etanol Metanol
Auto suficiência Sim Não
Dispêndio de divisas com importação Não Sim
Geração de empregos no país Muitos Poucos
Impacto na cadeia produtiva Grande Pequeno
Disponibilidade onde óleos vegetais
são produzidos
Sim Limitada
Tecnologia de transesterificação
dominada
Sim Sim
Potencial de exportação da tecnologia Sim Não
Toxidez Moderada Elevada
Compatibilidade com materiais Maior Menor
Impacto em caso de acidentes Baixo Alto
Renovável Sim Não
Viabilidade econômica comparativa Equivalente Equivalente
Fonte: GTI, 2002.
Além destas vantagens, têm-se que o biodiesel produzido através da rota
etílica apresenta um maior número de cetano comparado com a rota metílica, visto
que o etanol apresenta um carbono a mais em sua estrutura do que o metanol,
aumentando a sua compressibilidade, proporcionando uma combustão de maior
qualidade (STERN et al., 1999).
3.2.3 Catalisadores
Existem três tipos de catalisadores que podem ser utilizados na reação de
transesterificação: homogêneos, heterogêneos e enzimáticos (lipases). Os
catalisadores homogêneos são os mais utilizados e dividem-se em ácidos (HCl e
H2SO4) ou básicos (KOH, NaOH e carbonatos). A catálise básica é utilizada
-
17
preferencialmente, já que a reação de transesterificação ocorre com mais
velocidade, seletividade e produz maior rendimento e o biodiesel obtido apresenta
menor índice de deterioração aos metais (por ser menos corrosivo). O processo
catalítico ácido ocorre em temperaturas mais elevadas, o que justifica os maiores
índices corrosivos observados em reatores (LEUNG et al., 2010).
3.3 BIODIESEL
De acordo com Ramos et al. (2003), o biodiesel é quimicamente definido como
um éster monoalquílico de ácidos graxos derivados de lipídeos de ocorrência natural
e pode ser produzido, juntamente com a glicerina, através da reação de
triglicerídeos com etanol ou metanol, na presença de um catalisador ácido ou
básico.
Segundo Knothe et al. (2006), o biodiesel apresenta muitas vantagens
comparando com o diesel de petróleo, tais como:
Provém de matérias-primas renováveis de ocorrência natural;
É biodegradável;
Caráter não tóxico;
Menor emissão de gases poluentes (com exceção dos óxidos de
nitrogênio, NOx). O biodiesel é livre de enxofre;
Alto ponto de fulgor, dando mais segurança no manuseio e
armazenamento;
Alto número de cetano;
Excelente lubricidade.
Entre as desvantagens do biodiesel, podem ser citadas seu alto custo,
aumento da emissão de óxidos de nitrogênio (NOx) e sua baixa estabilidade
oxidativa.
-
18
3.4 ESTABILIDADE OXIDATIVA
A estabilidade oxidativa é um parâmetro bastante importante na qualidade do
biodiesel, em função de desencadear, ao longo do tempo, uma série de problemas
que reduzem a qualidade do combustível, devido a modificação de suas
propriedades físico-químicas. Uma alternativa para solucionar a baixa estabilidade
oxidativa de biodiesel consiste no uso de misturas biodiesel/diesel em proporções
variadas (B5; B7; B10; B20) que reduzem o elevado consumo de diesel e amplia a
eficiência do uso dos combustíveis B100. Também pode ser utilizadas misturas de
dois biodieseis de matéria prima diferente, com estabilidades oxidativas distintas
(SOUZA, 2010; SILVA, 2011; FREITAS, 2015). Outra alternativa consiste no uso de
aditivos antioxidantes naturais (SANTOS et al., 2014) ou artificiais.
A estabilidade oxidativa é definida como a resistência da amostra à oxidação
(ANTONIASSI, 2001). Este parâmetro pode ser medido através das seguintes
metodologias: termogravimetria, índice de peróxido, índice de acidez e testes de
oxidação acelerada.
No método PetroOxy, é detectado uma queda de pressão do processo de
oxidação. Suas principais características são: tempo de análise (geralmente uma
hora), volume de amostra necessário (5 mL), apresenta repetitividade e
reprodutibilidade adequadas e a operação é automática (SILVA, 2015).
O equipamento consiste de uma câmara de ensaio hermeticamente fechada,
onde a amostra é colocada. Esta câmara recebe gás oxigênio a uma pressão inicial
de 700 kPa, elevando a pressão interna até um limite máximo que é registrado. O
sistema é aquecido até 140 ºC, e a amostra vai sendo oxidada a partir do consumo
de oxigênio, gerando uma redução da pressão interna. A estabilidade oxidativa será
então é o tempo necessário para se alcançar uma queda de 10% da pressão
máxima obtida na câmara, sendo obtido o período de indução (SILVA, 2015).
-
19
3.5 AUTO-OXIDAÇÃO
Como dito anteriormente, a maioria dos biodieseis apresentam baixa
estabilidade oxidativa devido a presença de insaturações em sua estrutura. Estes
sítios ativos reagem com o oxigênio, promovendo a auto-oxidação, que acontece em
3 etapas: iniciação, propagação e terminação. A iniciação é a etapa de formação
dos radicais livres (Equação 1), que pode acontecer por aquecimento, ação da luz
ou decomposição de hidroperóxidos.
Na propagação, o radical livre formado reage com oxigênio, formando um
radical peróxido (Equação 2). Como o radical peróxido é instável reage rapidamente
com outro substrato original, formando um hidroperóxido (Equação 3). A partir da
decomposição do hidroperóxido, são formados os produtos secundários de
oxidação, como aldeídos, álcoois e ácidos carboxílicos de cadeia curta. Por fim, na
terminação, os dois radicais livres reagem, formando uma espécie não reativa
(Equação 4).
Iniciação: RH + I• R• + IH (Equação 1)
Propagação: R• + O2 ROO• (Equação 2)
ROO• + RH ROOH + R• (Equação 3)
Términação: R• + R• R R (Equação 4)
A auto-oxidação modifica as propriedades mais importantes do biodiesel,
como sua viscosidade cinématica, índice de acidez e número de cetano, podendo
trazer prejuízos, como o aumento do processo corrosivo, ou ainda, gelificação do
óleo devido o processo de polimerização.
3.6 CORROSÃO
Segundo Gentil (1996), a corrosão é definida como sendo a degradação de
um material, geralmente metálico, por ação química ou eletroquímica do meio
ambiente aliada ou não a esforços mecânicos e pode ser classificada em 3 tipos:
eletroquímica, química e eletrolítica.
-
20
A corrosão eletroquímica é mais frequente na natureza e ocorre
necessariamente na presença de água. É um processo espontâneo que acontece
quando o metal está em contato com um eletrólito, ocorrendo reações anódica e
catódica. A corrosão química ocorre com o ataque de um agente químico
diretamente sobre o material, sem necessitar da presença de água. Por fim, a
corrosão eletrolítica difere da corrosão eletroquímica por ser um processo não
espontâneo, no qual há a aplicação de uma corrente elétrica externa (MERÇON et
al., 2004).
Existem várias metodologias de ensaios de corrosão, em que se incluem os
ensaios eletroquímicos (impedância eletroquímica, potencial de corrosão, dentre
outros), ensaio de corrosão (ensaio por imersão, ensaio acelerado, dentre outros) e
os ensaios complementares (MEV, microscopia de elétrons Auger, dentre outros).
4. METODOLOGIA EXPERIMENTAL
4.1 OBTENÇÃO DO BIODIESEL
A síntese do biodiesel foi feita a partir da reação de transesterificação,
utilizando-se óleo de girassol adquirido comercialmente (da marca Liza), álcool
etílico absoluto 99,5% e hidróxido de sódio (catalisador). A metodologia de síntese
do biodiesel foi adaptada do trabalho de Silva et al. (2015).
Na etapa inicial do processo sintético, foi pesado 100 g de óleo de girassol em
uma balança analítica. Em seguida, esta quantidade de óleo foi transferida para um
balão de fundo redondo de 3 bocas contendo uma barra magnética, para facilitar a
agitação da mistura. A razão molar óleo/álcool utilizada foi 1:6 e a porcentagem de
catalisador foi 1,5%, em relação a quantidade de óleo. Para 100 g de óleo, foi
necessário 600 mL de etanol e 1,5 g de NaOH. O hidróxido de sódio foi solubilizado
no etanol e, quando o óleo atingiu a temperatura reacional, a mistura de álcool e
NaOH foi transferida para o balão. O balão foi colocado em banho maria, sendo
ajustada a temperatura reacional para 60 ºC, sob agitação magnética de 35 rpm. O
tempo de reação foi 90 minutos. Decorrido este tempo, a mistura foi transferida para
-
21
um funil de separação, onde foi mantida em repouso por 24 horas para separação
das fases e posterior purificação via lavagens consecutivas com água (80 ºC).
4.2 CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA
As caracterizações físico-químicas realizadas para a amostra B7-OG foram:
viscosidade, densidade, ponto de fluidez e ponto de entupimento. Para a amostra
B100-OG, realizou-se apenas a análise estabilidade oxidativa.
4.2.1 Viscosidade e densidade
Para a análise de viscosidade e densidade foi utilizado a metodologia ASTM
D7042, através do equipamento Viscosímetro Anton Paar modelo SVM 3000 (Figura
3), no qual foi analisado a viscosidade cinemática, viscosidade dinâmica e
densidade.
Figura 3: Viscosímetro Anton Paar SVM 3000.
Fonte: Autor.
-
22
4.2.2 Ponto de fluidez
A análise de Ponto de fluidez foi feita através da metodologia ASTM D97, com
o equipamento CPP (Cloud and Pour point) 5Gs, mostrado na Figura 4.
Figura 4: Equipamento Cloud and Pour point 5Gs.
Fonte: Autor.
4.2.3 Ponto de entupimento
Para a análise do ponto de entupimento foi utilizado o método ASTM D6371,
a partir do equipamento AFP-102 da marca Tanaka (Figura 5).
Figura 5: Equipamento AFP-102.
Fonte: Autor.
-
23
4.2.4 Estabilidade Oxidativa
Para a análise de estabilidade oxidativa, foi utilizado a metodologia ASTM
D7545, com o equipamento PetroOxy, mostrado na Figura 6.
Figura 6: Equipamento PetroOxy.
Fonte: Autor.
4.3 ENSAIO DE CORROSÃO
O ensaio de corrosão foi realizado pelo experimento de cupons de perda de
massa (ensaio por imersão), seguindo a norma ASTM G31, no qual o aço carbono
AISI 1020 foi imerso nas amostras de diesel S10, B100-OG e B7-OG, durante um
período de 15 dias. O aço Carbono 1020 utilizado é quimicamente composto por:
0,18% - 0,23% de carbono, 0,30% - 0,60% de manganês, 0,030% de fósforo e
0,050% de enxofre (GERDAU, 2003).
Inicialmente, os cupons de aço carbono AISI 1020 (Figura 7) foram lixados e
polidos, em seguida foram pesados em uma balança analítica. Posteriormente,
foram imersos nas amostras e retirados após 15 dias, sendo realizado o processo de
decapagem química com solução de HCl para a remoção dos óxidos que se
formaram pela ação dos combustíveis analisados. No experimento, os béqueres 1, 2
e 3 continham diesel S10, os béqueres 4, 5 e 6 as amostras de B7-OG e o béquer
de número 7, continha a amostra B100-OG.
-
24
Figura 7: Cupom de aço carbono AISI 1020.
Fonte: Autor.
Figura 8: Amostras de combustíveis.
Fonte: Autor.
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Atualmente, é imprescindível a utilização de energias alternativas
ecocompatíveis, visto que o efeito estufa e aquecimento global são fenômenos
gravíssimos que a humanidade enfrenta. O biodiesel além de reduzir a utilização de
combustíveis fósseis, é uma alternativa mais saudável visto que reduz a emissão de
gases poluentes na atmosfera (com exceção dos gases NOx), diminuindo o efeito
estufa.
-
25
O Brasil, por ser um país de dimensões continentais e por apresentar
condições climáticas favoráveis para o cultivo de oleaginosas, pode se tornar o
maior produtor de biodiesel do mundo, estando hoje em 2º lugar, atrás dos Estados
Unidos, segundo a ANP. Além da redução da poluição atmosférica, um grande
benefício para o país no investimento desta fonte de energia é a possibilidade de
geração de empregos. Neste contexto, no presente trabalho, obteve-se biodiesel
B100-OG e uma mistura B7-OG, como descrito a seguir.
5.1 OBTENÇÃO DO BIODIESEL
A produção de biodiesel é amplamente viabilizada pela reação de
transesterificação alcalina, por ser um processo simples, relativamente rápido e de
baixo custo, no qual é obtido um biocombustível com características semelhantes ao
petrodiesel. Utilizando-se esta rota sintética (Figura 9) foi possível obter 74% do
biodiesel B100-OG, ou seja, a utilização de 100 mL de óleo de girassol (Helianthus
annuus L.), forneceu, além da glicerina, um volume de 74 mL de biodiesel (B100-
OG). Os processos de lavagem e secagem deste biodiesel foram realizados nos
equipamentos mostrados nas Figuras 10 e 11, respectivamente.
Figura 9: Reação de transesterificação, aparato experimental.
Fonte: Autor.
-
26
Após separação das fases (Figura 10), removeu-se a glicerina produzida e
procedeu-se a realização das etapas de lavagem e purificação do biodiesel
produzido. A lavagem do biodiesel ocorre para remoção do álcool remanescente e
de impurezas. A lavagem consiste em adicionar água destilada quente (80 ºC) no
funil de separação, sendo feita uma agitação sutil e mantendo por 15 minutos em
repouso. A água de lavagem é removida e o mesmo procedimento é repetido até
que a água de lavagem apresentasse pH neutro. Após a lavagem do biodiesel, foi
necessário realizar a remoção da água remanescente, com sulfato de sódio anidro
que foi adicionado no papel de filtro e, só então, se realizou a filtração do biodiesel.
Figura 10: Lavagem do B100-OG.
Fonte: Autor.
Figura 11: Secagem do B100-OG.
Fonte: Autor.
-
27
5.2 CACTERIZAÇÕES FÍSICO-QUÍMICAS
Os resultados das análises físico-químicas da mistura B7-OG são mostrados
na Tabela 3, assim como as especificações determinadas pela Resolução da ANP
de número 30, datada em 23/06/2016. Todos os parâmetros avaliados para a
mistura B7-OG estão de acordo com as especificações da Resolução Nº 30 da ANP.
Com relação ao aspecto da amostra B7-OG, a mesma apresentou resultados que
indicam ausência de impurezas.
Tabela 3: Caracterizações físico-químicas da amostra B7-OG.
Característica B7-OG Especificação RANP Nº
30/2016
Aspecto Límpido Límpido
Viscosidade Cinemática,
mm²/s, 40ºC
Viscosidade Dinâmica,
mm²/s, 40ºC
2,8860
2,3979
Entre 1,9 e 4,1
Densidade, kg/m³, 40ºC
Densidade, kg/m³, 20ºC
Densidade, kg/m³, 15ºC
830
845
849
Entre 817,8 e 865
Ponto de entupimento, ºC -8 Máximo de 19
Ponto de fluidez, ºC -15 -
O parâmetro de estabilidade oxidativa da amostra B100-OG, como
apresentado na Figura 12, mostra o consumo de oxigênio pela amostra e sua rápida
oxidação, sendo determinado o período de indução, que consiste no valor da
estabilidade à oxidação da amostra, em unidade de tempo .
A Tabela 4 apresenta a estabilidade oxidativa da amostra B100-OG, com a
especificação da Resolução da ANP Nº 30/2016. O baixo valor da estabilidade
oxidativa para o biodiesel de girassol, em comparação com o valor especificado pela
resolução da ANP, é explicado devido a presença de insaturações (sítios ativos de
-
28
reação) em sua estrutura, os quais reagem facilmente com o oxigênio, promovendo
a auto-oxidação e formação dos produtos desta reação, que modificam as
características físico-químicas do biodiesel e promovem, com o passar do tempo,
danos ao motor. Anteriormente, Ferrari (2009) avaliou a estabilidade oxidativa de
biodiesel de girassol através do equipamento Rancimat® e obteve um período de
indução de 1h e 10 min.
Figura 12: Análise de estabilidade oxidativa do biodiesel B100-OG através do
equipamento PetroOxy.
Tabela 4: Estabilidade Oxidativa da amostra B100-OG.
B100-OG Especificação RANP Nº
30/2016
Estabilidade Oxidativa, horas 0,173 20
Uma solução para a baixa estabilidade oxidativa do biodiesel de girassol seria
realizar a mistura deste biodiesel com o diesel, ou ainda a aditivação do mesmo com
substâncias antioxidantes. Neste sentido, no presente trabalho, optou-se pela
mistura B7-OG, em função da necessidade de reduzir o consumo de diesel S10,
bem como contribuir com a redução de óleos vegetais.
0
200
400
600
800
1000
1200
0 2 4 6 8 10 12
Pre
ssão
(kp
a)
Tempo (min)
-
29
5.3 EXPERIMENTO CUPONS DE PERDA DE MASSA
Após 15 dias de imersão, os cupons de aço carbono 1020 foram removidos
das amostras de combustível, passaram por decapagem química, sendo utilizado
uma solução de HCl 20%, e por fim foram pesadas para determinação da perda de
massa e cálculo da taxa de corrosão.
Tabela 5: Resultados do experimento cupons de perda de massa.
Amostra/Número
do cupom
Massa inicial (g) Massa após 15
dias (g)
Perda de massa
(g)
Diesel S10/1 13,2619 13,2572 0,0047
Diesel S10/2 13,8704 13,8671 0,0033
Diesel S10/3 13,8259 13,8236 0,0023
B7-OG/1 13,8983 13,8950 0,0033
B7-OG/2 13,6747 13,6712 0,0035
B7-OG/3 12,5664 12,5631 0,0033
B100-OG/1 13,6080 13,6016 0,0064
O cálculo para a taxa de corrosão é mostrado abaixo e segue a norma ASTM
G31 e seus resultados são mostrados na Tabela 6.
𝑇𝑐 = 𝐾 𝑥 𝑊
𝐴 𝑥 𝑡 𝑥 𝑑
em que, K = constante (3,45x106 mpy) tabelada pela norma ASTM G31; A = Área do
cupom, em cm² (3,175cm²); W = Perda de massa, em gramas; t = tempo de imersão,
em horas (15 dias = 360 horas); d = densidade do cupom, em g/cm³ (densidade do
aço carbono 1020 = 7,86 g/cm³).
Para o cálculo, foi usado a média das perdas de massa das amostras de
Diesel S10 (cupons 1, 2 e 3) e B7-OG (cupons 4, 5 e 6).
-
30
Tabela 6: Taxa de corrosão para os combustíveis analisados.
Amostra Taxa de corrosão (mpy - milímetro por ano)
Diesel S10 1,318
B7-OG 1,290
B100-OG 2,460
Os resultados da taxa de corrosão mostram que a amostra de biodiesel puro
(B100-OG) é a mais agressiva ao aço carbono 1020. Isto pode ser explicado devido
à presença de ácidos graxos livres, aumentando o índice de acidez do biodiesel e
tornando-o mais corrosivo. Além disso, a estrutura do biodiesel apresentar sítios
ativos que promovem a auto-oxidação e consequente obtenção de produtos
secundários, como ácidos carboxílicos de cadeia curta, que também tornarão o
biodiesel mais corrosivo.
Os resultados da taxa de corrosão da amostra de Diesel S10 não foi
significante maior do que da amostra B7-OG.
6. CONCLUSÕES
A partir deste trabalho, conclui-se que a reação de transesterificação alcalina
por rota etílica é um método rápido e simples de obtenção de um combustível verde
a partir de um óleo vegetal, porém sua aplicação pode promover danos ao motor
diesel com o passar do tempo, tendo em vista que a estabilidade oxidativa analisada
foi baixa (0,173 horas), comparada com a especificação de Resolução nº 30 da
ANP. Ainda assim, este efeito negativo do biodiesel pode ser minimizado através de
misturas com diesel ou com adição de substâncias antioxidantes. No caso, optou-se
por preparar o combustível B7-OG que consiste na mistura 93% de Diesel S10 e 7%
do biodiesel de girassol.
Através do ensaio de corrosão foi concluído que o biodiesel B100-OG
apresentou maior taxa de corrosão, com 2,460 mpy, em segundo lugar o diesel S10
com 1,318 mpy e, como combustível menos agressivo ao aço carbono 1020, a
mistura B7-OG com taxa de corrosão 1,290 mpy.
-
31
7. REFERÊNCIAS
ANP - Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis. RESOLUÇÃO
Nº 30, de 23.06.2016 - DOU 24.06.2016. Disponível em:
. Acessado em 17 dez. 2016.
ANTONIASSI, R. Métodos de avaliação da estabilidade oxidativa de óleos e
gorduras. Boletim do Centro de Pesquisa e Processamento de Alimentos
(B.CEPPA), Curitiba, v. 19, n. 2, p. 353-380, jul./dez 2001. Disponível em:
. Acesso em: 26 dez. 2016
ANVISA - Agência Nacional da Vigilância Sanitária - Valores de Referência: RDC
Nº482, de 23/09/1999. Disponível em:
. Acesso em 17 dez.
2016.
ASI, O. Failure of a diesel engine injector nozzle by cavitation damage.
Engineering Failure Analysis, v.13, ed.7, 2006, p.1126-1133.
ASTM - AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. ASTM D7042-
16e3, Standard Test Method for Dynamic Viscosity and Density of Liquids by
Stabinger Viscometer (and the Calculation of Kinematic Viscosity), ASTM
International, West Conshohocken, PA, 2016, www.astm.org.
ASTM - AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. ASTM D97-16,
Standard Test Method for Pour Point of Petroleum Products, ASTM International,
West Conshohocken, PA, 2016, www.astm.org.
ASTM - AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. ASTM D6371-
05(2010), Standard Test Method for Cold Filter Plugging Point of Diesel and Heating
Fuels, ASTM International, West Conshohocken, PA, 2010, www.astm.org.
ASTM - AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. ASTM D7545-14,
Standard Test Method for Oxidation Stability of Middle Distillate Fuels—Rapid Small
http://www.astm.org/http://www.astm.org/http://www.astm.org/
-
32
Scale Oxidation Test (RSSOT), ASTM International, West Conshohocken, PA,
2014, www.astm.org.
ASTM - AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. ASTM NACE /
ASTMG31-12a, Standard Guide for Laboratory Immersion Corrosion Testing of
Metals, ASTM International, West Conshohocken, PA, 2012, www.astm.org.
BRASIL. Presidência da República. Lei nº 13.263, de 23 de Março de 2016.
Disponível em: . Acesso em 17 dez. 2016.
CASTRO, C. de; CASTIGLIONI, V. B. R.; BALLA, A.; LEITE,R. M. V. B. de C.;
KARAM, D.; MELLO H. C.; GUEDES, L. C. A.; FARIAS, J. R. B. A cultura do
girassol. Londrina, EMBRAPA- CNPSo. (EMBRAPACNPSo. Circular Técnica, 13),
p.36, 1997.
E. GRACIA-ESCOSA, I. GARCÍA, J. C. SÁNCHEZ-LÓPEZ, M. D. ABAD, A.
MARISCAL, M. A. ARENAS, J. A. DAMBORENEA, Surface and Coatings
Technology, p.263, 2015.
FARIAS, A. C. M. de. Análise da lubricidade do biodiesel brasileiro de ésteres
etílicos de soja e girassol. 2011. 143 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de
Engenharia Mecânica, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2011.
Disponível em: . Acesso
em: 26 dez. 2016.
FERRARI, R. A.; OLIVEIRA, V. da S.; SCABIO, A. Biodiesel de soja: taxa de
conversão em ésteres etílicos, caracterização físico-química e consumo em
gerador de energia. Química Nova, v.28, n.1, p.19-23, 2005. Disponível em:
. Acesso em: 26 dez. 2016.
http://www.astm.org/http://www.astm.org/
-
33
FERRARI, R. A.; SOUZA, W. L. de. Avaliação da estabilidade oxidativa de
biodiesel de óleo de girassol com antioxidantes. Química Nova, v.32, n.1, p.
106-111, 2009.
Disponível em: . Acesso em: 26 dez. 2016.
FREITAS, Osmar Nunes de. Estudo de Diversas Misturas de Biodiesel de Óleo
de Soja e de Sebo Bovino. 2015. 111 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de
Química, Instituto de Química, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo
Grande, 2015. Disponível em:
.
Acesso em: 26 dez. 2016.
GENTIL, A. Corrosão. 3 ed., Rio de Janeiro: LTC Livros Técnicos e Científicos S.A.,
1996.
GERDAU AÇOS FINOS PIRATINI. Manual de Aços, 2003. 106 p. Disponível em:
. Acesso em: 26 dez. 2016.
GONÇALVES, M. A. B.; NOGUEIRA, R. G. O efeito estufa pode ser reduzido com
a produção e a utilização do biodiesel? Revista Processos Químicos, Goiânia, v.
1, n. 2, p. 51-59, 2007. Disponível em: <
http://www.senaigo.com.br/repositoriosites/repositorio/senai/download/Publicacoes/R
evista_Cientifica_Processos_Quimicos_/2008/processosquimicos_022007.pdf>.
Acesso em: 27 dez. 2016.
GTI - Grupo de Trabalho Interministerial, Biodiesel Relatório Final Anexo II Atas
das Reuniões do Grupo de Trabalho Interministerial, Brasília, 2002.
HASEEB, A. S. M. A.; FAZAL, M.A.; JAHIRUL, M.I.; MASJUKI, H.H. Compatibility
of automotive materials in biodiesel: A review. Fuel, v.90, p.922-931, 2011.
-
34
KNOTHE, G.; GERPEN, J. V.; KRAHL, J.; RAMOS, L. P. Manual de Biodiesel, São
Paulo: Edgard Blucher, ed. 1, p.340, 2006.
LEUNG, D. Y. C.; WU, X.; LEUNG, M. K. H. A review on biodiesel production
using catalysed transesterification. Applied Energy, v.87, p.1083-1095, 2010.
Disponível em:
. Acesso em: 27 dez. 2016.
MA, F.; HANNA, M. A. Biodiesel production: a review. Bioresource Technology,
v.70, p.1-15, 1999.
Disponível em:
. Acesso em: 27 dez. 2016.
MERÇON, F.; GUIMARÃES, P. I. C.; MAINIER, F. B. Corrosão: um exemplo usual
de fenômeno químico. Química Nova na Escola, n.19, p.11 - 14, 2004. Disponível
em: . Acesso em: 27 dez. 2016.
MONYEM, A.; VAN GERPEN, J.; CANAKCI, M. Investigation of Biodiesel
Thermal Stability Under Simulated In-use Conditions. Applied engineering in
agriculture, v.16, p.373-378, 2000.
Disponível em: . Acesso em: 27 dez. 2016.
NIZHEGORODOV, S.; VOLOSKOV, S.; TRUSOV, V.; KAPUTKINA, L.; SYUR, T.
Corrosion of steels due to the action of microorganisms. Metal Science and
Heat Treatment, n.50, p.191-195, 2008.
PARENTE, E. J. S. Biodiesel: uma aventura tecnológica num país engraçado.
Fortaleza: Unigráfica, p.66, 2003.
RAMOS, L. P.; KUCEK, K. T.; DOMINGOS, A. K.; WILHELM, H. M. Biodiesel: Um
projeto de sustentabilidade econômica e sócio-ambiental para o Brasil.
-
35
Biotecnologia: Ciência e Desenvolvimento, v.31, p.28-37, 2003. Disponível em:
. Acesso em: 17 dez.
2016.
RAMOS, L. P.; SILVA, F. R.; MANGRICH, A. S.; CORDEIRO, C. S. Tecnologias de
Produção de Biodiesel. Revista Virtual de Química, v.3, n.5, p.385-405, 2011.
Disponível em:
. Acesso em: 27 dez. 2016.
REDA, S. Y.; CARNEIRO, P. I. B. Óleos e gorduras: Aplicações e implicações.
Revista Analytica, v.27, p.60-67, 2007.
Disponível em:
. Acesso em: 27 dez. 2016.
ROSSI, C. G. F. T.; SCATENA JUNIOR, H.; MACIEL, M. A. M. Estudo comparativo
da eficiência da difenilcarbazida e do óleo de coco saponificado
microemulsionados na inibição da corrosão de aço carbono. Química Nova,
v.30, n.5, p.1128-1132, 2007.
Disponível em: . Acesso em: 27
dez. 2016.
SANTOS, A. C. C.; SANTOS, K. A.; SILVA, E. A. da; CORAZZA, M. L. Avaliação da
estabilidade oxidativa do biodiesel de soja (Glycine max L) na presença de
antioxidantes naturais obtidos das folhas de acerola (Malpighia glabra L)
utilizando CO2 supercrítico. Revista Brasileira de Energias Renováveis, v.3, p.197-
210, 2014.
Disponível em: . Acesso em:
27 dez. 2016.
SILVA, G. B., Estudo da Influência de Antioxidantes na Avaliação Da
estabilidade Oxidativa de Biodiesel Pelo Método PetroOXY. 2015. 81 f.
-
36
Dissertação (Mestrado em Química do Petróleo e Biocombustíveis; Química) -
Universidade Federal do Espírito Santo, Vitoria, 2015.
Disponível em: . Acesso em: 26 dez.
2016.
SILVA, H. K. T. de A. Estudo da influência do biodiesel de mamona como
aditivo antioxidante para o biodiesel de girassol e soja. 2011. 182 f. Dissertação
(Mestrado em Físico-Química; Química) - Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, Natal, 2011.
Disponível em: . Acesso
em: 27 dez. 2016.
SILVA, P. R. F. da; SANGOI, L. Época da semeadura em girassol: I. Efeitos no
rendimento de grãos, componentes do rendimento, teor de e rendimento de
óleo. Lavoura Arrozeira, v.38, n.361, p.20-27, 1985.
SILVA, P. R. F. da; FREITAS, T. F. S. de. Biodiesel: o ônus e o bônus de produzir
combustível. Ciência Rural, v.38, n.3, p.843-851, 2008. Disponível em:
. Acesso em: 17 dez. 2016.
SILVA, P. V. S.; GALVÃO, E. L.; CARVALHO, R. H. R.; SILVA, S. P.; ROSAL, A. G.
C.; Estudo da Síntese de Biodiesel de óleo de Coco Bruto. Anais do XX
Congresso Brasileiro de Engenharia Química - COBEQ 2014; Blucher Chemical
Engineering Proceedings, v.1, n.2, p.9672-9679, 2015. Disponível em:
. Acesso em: 27 dez. 2016.
SOUSA, M. M. F.; Estudo da estabilidade oxidativa em blends de biodiesel.
2010.
STERN, R.; HILLION, G.; ROUXEL, J.; LEPORG, S., Process for the production of
esters from vegetable oils or animal oils alcohols. US patent 5908946, 1999.