Obra Completa- Murilo Rubião

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MARATONA UFG Literatura (Edna) NOME:______________________________________________ Lista 06 Obra Completa- Murilo Rubião Murilo Rubião – Biografia Murilo Eugênio Rubião nasceu em Silvestre Ferraz, hoje Carmo de Minas — MG, no ano de 1916. Formado em Direito, foi professor, jornalista, diretor de jornal e de estação de rádio (Rádio Inconfidência). Foi o responsável pela organização do Suplemento Literário de Minas Gerais (1966). Publicou seu primeiro livro de contos "O ex-mágico" em 1947; "A estrela vermelha" (1953); "Os dragões e outros contos" (1965); "O pirotécnico Zacarias" e "O convidado" (1974); "A casa do girassol vermelho" (1978); e "O homem do boné cinzento e outras histórias" (1990). Teve seus principais contos traduzidos para a língua inglesa, alemã e espanhola. Foram adaptado para o cinema os contos: "A Armadilha", "O pirotécnico Zacarias", "O ex-mágico da Taberna Minhota" e "O bloqueio". Para o teatro, foram adaptados "O ex-mago", "The piranha lounge" (peça baseada em diversos contos) e "O ex-mago da Taberna Minhota". Sua obra já foi objeto de dezenas de artigos publicados em jornais e revistas, além de ter sido estudada em mais de quarenta teses de doutorado e dissertações de mestrado, no Brasil e no exterior.O escritor faleceu em Belo Horizonte, em 1991, onde residiu a maior parte de sua vida. OBRA COMPLETA – Murilo Rubião Gênero: Narrativo O termo “narrar” vem do latim “narratio” e quer dizer o ato de narrar acontecimentos reais ou fictícios. Na Antiguidade Clássica, os padrões literários reconhecidos eram apenas o épico, o lírico e o dramático. Com o passar dos anos surgiu dentro do gênero épico a variante: gênero narrativo, a qual apresentou concepções de prosa com características diferentes, o que fez com que surgissem divisões de outros gêneros literários dentro do estilo narrativo: o romance, a novela, o conto, a crônica, a fábula. Porém, praticamente todas as obras narrativas possuem elementos estruturais e estilísticos em comum e devem responder a questionamentos, como: quem?, que? quando? onde? por quê? Vejamos a seguir: • Narrador: é o que narra a história, pode ser onisciente (terceira pessoa, observador, tem conhecimento da história e das personagens, observa e conta o que está acontecendo ou aconteceu) ou personagem (em primeira pessoa; narra e participa da história e, contudo, narra os fatos à medida em que acontecem, não pode prever o que acontecerá com as demais personagens). Tempo: é um determinado momento em que as personagens vivenciam as suas experiências e ações. Pode ser cronológico (um dia, um mês, dois anos) ou psicológico (memória de quem narra, flash-back feito pelo narrador). • Espaço: lugar onde as ações acontecem e se desenvolvem. • Enredo: é a trama, o que está envolvido na trama que precisa ser resolvido, e a sua resolução, ou seja, todo enredo tem início, desenvolvimento, clímax e desfecho. • Personagens: através das personagens, seres fictícios da trama, encadeiam-se os fatos que geram os conflitos e ações. À personagem principal dá-se o nome de protagonista e pode ser uma pessoa, animal ou objeto inanimado, como nas fábulas. O que vimos foram os recursos que os estilos narrativos têm em comum, agora vejamos cada um deles e suas características separadamente: • Romance: é uma narrativa longa, geralmente dividida em capítulos, possui personagens variadas em torno das quais acontece a história principal e também histórias paralelas a essa, pode apresentar espaço e tempo variados. • Novela: é um módulo mais compilado do romance e também mais dinâmico, é dividida em episódios, são contínuos e não têm interrupções. • Conto: é uma narrativa curta que gira em torno de um só conflito, com poucos personagens. • Crônica: é uma narrativa breve que tem por objetivo comentar algo do cotidiano; é um relato pessoal do autor sobre determinado fato do dia a dia. Espécie: Contos A palavra conto deriva do termo latino compŭtus, que significa “conta”. O conceito faz referência a uma narrativa breve e fictícia. A sua especificidade não pode ser fixada com exatidão, pelo que a diferença entre um conto extenso e uma novela é difícil de determinar. Um conto apresenta um grupo reduzido de personagens e um argumento não demasiado complexo, uma vez que entre as suas características aparece a economia de recursos narrativos. É possível distinguir entre dois grandes tipos de contos: o conto popular e o conto literário. O Universo Fantástico De Rubião Há tempos, as narrativas ficcionais perpassam pela história da humanidade, desde aquelas cultuadas pelos antigos povos nas noites de luar até atingir os parâmetros tidos como atuais e suas respectivas classificações- maravilhoso, fantástico, de terror, mistério, ficção científica, policial, moderno, contemporâneo, tradicional, dentre outros. Há quem diga que o conto está para o romance, assim como a fotografia está para o cinema, isto é, seja qual for a modalidade, se faz necessário uma atenta percepção diante de uma situação, na qual o autor/produtor deverá extrair dela o máximo para compor sua criação. E, por assim dizer, tanto o romance quanto o conto adquiriram novas roupagens ao longo do tempo, passando de meras produções que visam ao entretenimento a reflexões de cunho filosófico acerca das relações humanas x sociedade O chamado “conto fantástico” não ficou à espreita de tais evoluções, pois basta lembrarmo-nos de Franz Kafka e sua considerável obra – A metamorfose–, na qual a temática gira em torno do conflito manifestado pelo personagem Gregor Samsa que, de repente, se viu transformado em uma barata, bem ao gosto de uma análise metafísica que norteia o ser humano mediante seu convívio em meio à turbulência manifestada pela contemporaneidade. Foi a partir do século XX (décadas de 1970 - 1980) que o fantástico se incorporou no meio ficcional, época esta em que o Brasil vivia um período marcado pela repressão política, perseguições, prisões e censura. Em meio a este clima, importantes figuras, como, Murilo Rubião e José J. Veiga denunciaram em suas obras toda essa realidade opressiva. É o que podemos conferir por meio de alguns fragmentos pertencentes à obra intitulada - A hora dos ruminantes, de José J. Veiga. O conto fantástico se constrói a partir da oposição entre dois planos: o plano real dos personagens, em que ocorrem fatos comuns, e o plano irreal, em que acontecimentos estranhos e incompreensíveis tendem a se manifestar. A Cidade O artigo analisa como a cidade é representada na ficção, de cunho fantástico, do escritor Murilo Rubião. O objeto da pesquisa é o conto “A Cidade”. Nesse conto, Rubião materializa a cidade como o espaço do diálogo impossível, da desconfiança mútua, da estigmatização. O leitor de Rubião é induzido a fazer a pergunta: que cidade é esta? O conto de Rubião, portanto, não é uma resposta alegórica aos problemas do mundo real, mas é a problematização deste mesmo mundo. Narra as aventuras de Cariba, único passageiro de um trem, que o leva compulsoriamente a uma cidade desconhecida. Ele chega e faz muitas perguntas, o que o leva à prisão. Através de um discurso implícito, é possível perceber que o conto é uma crítica à ditadura militar e os governos que não permitissem a liberdade de pensamento e expressão. “A cidade” registra, de maneira velada ou não, as transformações políticas, sociais e econômicas por que passavam a cidades brasileiras no período de ditadura militar. Enquanto que, pelo viés da literatura fantástica, o autor do conto “ A cidade” expõe as contradições e absurdos pelos quais passa o homem da cidade. No conto “A cidade”, esse narrador, em terceira pessoa, não relata uma experiência coletiva, e muito menos apresenta uma estória com conflito resolvido, mas reserva ao leitor um instigante papel de observador das caóticas situações a que são submetidas as personagens. Ao final da narrativa, a impressão que fica é de incompletude: não há saída para Cariba. Ele é preso por fazer perguntas, simples para ele, porém impertinentes para o delegado da região “Quem são os donos desse município?” Num contexto de censura, os questionamentos de qualquer ordem eram silenciados e punidos. Naquele lugar não se podia ter dúvidas, a curiosidade era caracterizada crime. É nesse sentido, que o autor do conto “ A cidade” tece artisticamente as agruras de um contexto político de repressão. Órion

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  • MARATONA UFG Literatura

    (Edna)

    NOME:______________________________________________ Lista 06

    Obra Completa- Murilo Rubio Murilo Rubio Biografia Murilo Eugnio Rubio nasceu em Silvestre Ferraz, hoje Carmo de Minas MG, no ano de 1916. Formado em Direito, foi professor,

    jornalista, diretor de jornal e de estao de rdio (Rdio

    Inconfidncia). Foi o responsvel pela organizao do Suplemento

    Literrio de Minas Gerais (1966). Publicou seu primeiro livro de contos

    "O ex-mgico" em 1947; "A estrela vermelha" (1953); "Os drages e

    outros contos" (1965); "O pirotcnico Zacarias" e "O convidado"

    (1974); "A casa do girassol vermelho" (1978); e "O homem do bon

    cinzento e outras histrias" (1990). Teve seus principais contos

    traduzidos para a lngua inglesa, alem e espanhola. Foram adaptado

    para o cinema os contos: "A Armadilha", "O pirotcnico Zacarias", "O

    ex-mgico da Taberna Minhota" e "O bloqueio". Para o teatro, foram

    adaptados "O ex-mago", "The piranha lounge" (pea baseada em

    diversos contos) e "O ex-mago da Taberna Minhota". Sua obra j foi

    objeto de dezenas de artigos publicados em jornais e revistas, alm de

    ter sido estudada em mais de quarenta teses de doutorado e

    dissertaes de mestrado, no Brasil e no exterior.O escritor faleceu em

    Belo Horizonte, em 1991, onde residiu a maior parte de sua vida. OBRA COMPLETA Murilo Rubio Gnero: Narrativo O termo narrar vem do latim narratio e quer dizer o ato de narrar acontecimentos reais ou fictcios. Na Antiguidade Clssica, os padres literrios reconhecidos eram apenas o pico, o lrico e o dramtico. Com o passar dos anos surgiu dentro do gnero pico a variante: gnero narrativo, a qual apresentou concepes de prosa com caractersticas diferentes, o que fez com que surgissem divises de outros gneros literrios dentro do estilo narrativo: o romance, a novela, o conto, a crnica, a fbula. Porm, praticamente todas as obras narrativas possuem elementos estruturais e estilsticos em comum e devem responder a questionamentos, como: quem?, que? quando? onde? por qu? Vejamos a seguir: Narrador: o que narra a histria, pode ser onisciente (terceira pessoa, observador, tem conhecimento da histria e das personagens, observa e conta o que est acontecendo ou aconteceu) ou personagem (em primeira pessoa; narra e participa da histria e, contudo, narra os fatos medida em que acontecem, no pode prever o que acontecer com as demais personagens). Tempo: um determinado momento em que as personagens vivenciam as suas experincias e aes. Pode ser cronolgico (um dia, um ms, dois anos) ou psicolgico (memria de quem narra, flash-back feito pelo narrador). Espao: lugar onde as aes acontecem e se desenvolvem. Enredo: a trama, o que est envolvido na trama que precisa ser resolvido, e a sua resoluo, ou seja, todo enredo tem incio, desenvolvimento, clmax e desfecho. Personagens: atravs das personagens, seres fictcios da trama, encadeiam-se os fatos que geram os conflitos e aes. personagem principal d-se o nome de protagonista e pode ser uma pessoa, animal ou objeto inanimado, como nas fbulas. O que vimos foram os recursos que os estilos narrativos tm em comum, agora vejamos cada um deles e suas caractersticas separadamente: Romance: uma narrativa longa, geralmente dividida em captulos, possui personagens variadas em torno das quais acontece a histria principal e tambm histrias paralelas a essa, pode apresentar espao e tempo variados. Novela: um mdulo mais compilado do romance e tambm mais dinmico, dividida em episdios, so contnuos e no tm interrupes. Conto: uma narrativa curta que gira em torno de um s conflito, com poucos personagens. Crnica: uma narrativa breve que tem por objetivo comentar algo do cotidiano; um relato pessoal do autor sobre determinado fato do dia a dia.

    Espcie: Contos A palavra conto deriva do termo latino comptus, que significa conta. O conceito faz referncia a uma narrativa breve e fictcia. A sua especificidade no pode ser fixada com exatido, pelo que a diferena entre um conto extenso e uma novela difcil de determinar. Um conto apresenta um grupo reduzido de personagens e um argumento no demasiado complexo, uma vez que entre as suas caractersticas aparece a economia de recursos narrativos. possvel distinguir entre dois grandes tipos de contos: o conto popular e o conto literrio. O Universo Fantstico De Rubio H tempos, as narrativas ficcionais perpassam pela histria da humanidade, desde aquelas cultuadas pelos antigos povos nas noites de luar at atingir os parmetros tidos como atuais e suas respectivas classificaes- maravilhoso, fantstico, de terror, mistrio, fico cientfica, policial, moderno, contemporneo, tradicional, dentre outros. H quem diga que o conto est para o romance, assim como a fotografia est para o cinema, isto , seja qual for a modalidade, se faz necessrio uma atenta percepo diante de uma situao, na qual o autor/produtor dever extrair dela o mximo para compor sua criao. E, por assim dizer, tanto o romance quanto o conto adquiriram novas roupagens ao longo do tempo, passando de meras produes que visam ao entretenimento a reflexes de cunho filosfico acerca das relaes humanas x sociedade O chamado conto fantstico no ficou espreita de tais evolues, pois basta lembrarmo-nos de Franz Kafka e sua considervel obra A metamorfose, na qual a temtica gira em torno do conflito manifestado pelo personagem Gregor Samsa que, de repente, se viu transformado em uma barata, bem ao gosto de uma anlise metafsica que norteia o ser humano mediante seu convvio em meio turbulncia manifestada pela contemporaneidade. Foi a partir do sculo XX (dcadas de 1970 - 1980) que o fantstico se incorporou no meio ficcional, poca esta em que o Brasil vivia um perodo marcado pela represso poltica, perseguies, prises e censura. Em meio a este clima, importantes figuras, como, Murilo Rubio e Jos J. Veiga denunciaram em suas obras toda essa realidade opressiva. o que podemos conferir por meio de alguns fragmentos pertencentes obra intitulada - A hora dos ruminantes, de Jos J. Veiga. O conto fantstico se constri a partir da oposio entre dois planos: o plano real dos personagens, em que ocorrem fatos comuns, e o plano irreal, em que acontecimentos estranhos e incompreensveis tendem a se manifestar. A Cidade O artigo analisa como a cidade representada na fico, de cunho fantstico, do escritor Murilo Rubio. O objeto da pesquisa o conto A Cidade. Nesse conto, Rubio materializa a cidade como o espao do dilogo impossvel, da desconfiana mtua, da estigmatizao. O leitor de Rubio induzido a fazer a pergunta: que cidade esta? O conto de Rubio, portanto, no uma resposta alegrica aos problemas do mundo real, mas a problematizao deste mesmo mundo. Narra as aventuras de Cariba, nico passageiro de um trem, que o leva compulsoriamente a uma cidade desconhecida. Ele chega e faz muitas perguntas, o que o leva priso. Atravs de um discurso implcito, possvel perceber que o conto uma crtica ditadura militar e os governos que no permitissem a liberdade de pensamento e expresso. A cidade registra, de maneira velada ou no, as transformaes polticas, sociais e econmicas por que passavam a cidades brasileiras no perodo de ditadura militar. Enquanto que, pelo vis da literatura fantstica, o autor do conto A cidade expe as contradies e absurdos pelos quais passa o homem da cidade. No conto A cidade, esse narrador, em terceira pessoa, no relata uma experincia coletiva, e muito menos apresenta uma estria com conflito resolvido, mas reserva ao leitor um instigante papel de observador das caticas situaes a que so submetidas as personagens. Ao final da narrativa, a impresso que fica de incompletude: no h sada para Cariba. Ele preso por fazer perguntas, simples para ele, porm impertinentes para o delegado da regio Quem so os donos desse municpio? Num contexto de censura, os questionamentos de qualquer ordem eram silenciados e punidos. Naquele lugar no se podia ter dvidas, a curiosidade era caracterizada crime. nesse sentido, que o autor do conto A cidade tece artisticamente as agruras de um contexto poltico de represso.

    rion

  • O Pirotcnico Zacarias O narrador-protagonista( o prprio Zacarias) inicia o conto,dizendo que seus amigos e pessoas de suas relaes no sabem se est vivo ou morto o pirotcnico Zacarias. Todas as pessoas do local tem dvidas se o Zacarias que passeia pela cidade o mesmo que havia morrido em acidente. Devido a essa dvida, o narrador-defunto decide contar como morreu. A princpio foi azul,depois verde, amarelo e negro. Um negro

    espesso,cheio de listras vermelhas,de um vermelho compacto,

    semelhante a densas fitas de sangue. Sangue pastoso com pigmentos

    amarelados, de um amarelo esverdeado, tnue, quase sem cor (...)

    Quando tudo comeava a ficar branco,veio um automvel e me

    matou.(Rubio,2010,p.15-15)

    Neste conto, o tema da morte est presente desde a epgrafe bblica do livro de J, que concebe a morte como um renascimento, at o fim da narrativa em que o narrador, Zacarias, torna-se morto-vivo da cidade. A frmula (narrador = defunto) nos familiar desde que Machado de Assis cria o morto-vivo mais famoso da literatura, Brs Cubas, em seu romance Memrias Pstumas de Brs Cubas. A morte e o modo como as pessoas se relacionam com ela so questes centrais da narrativa. A beleza do texto, porm, que Murilo Rubio tem a maestria de tratar este tema, levando os leitores ao domnio do fantstico, ou seja, ao universo da dvida diante de um fato que foge do real; um morto pode andar pela cidade como se estivesse vivo? Nesse sentido, apesar de vagar pelas ruas,tentando provar,angustiado,que est vivo, Zacarias encara com ironia e humor a sua morte, ao dizer que ir de carro para o cemitrio era sugesto que mais lhe convinha, Afinal, as longas caminhadas cansam indistintamente defuntos e vivos.(Rubio,2010,p.17). Contudo fica-lhe o rancor de que as pessoas no percebem que se pode amar indivduos diferente. assim que o conto se torna uma alegoria da sociedade contempornea do autor. O Ex Mgico da Taberna Minhota O narrador, que no diz seu nome, um ex-mgico que, entediado com a profisso, torna-se funcionrio pblico. Contudo,a nova profisso tambm lhe oferece como existncia entediante. Alis, sua vida fora um tdio desde a infncia, nunca gostou de viver. Ele relata, em tom saudoso, as mgicas que fazia na Taberna Minhota e depois no Circo-Parque Andaluz. A vida de mgico no lhe agradava, pois seus truques no eram mgicas, eram naturais e no apenas iluses. Ele relata que, sem querer, foi ao banheiro da taberna e retirou do bolso o dono do restaurante, e tal fato surpreende o narrador. Quem ficou perplexo foi o dono do restaurante, que lhe props emprego de mgico na Taberna Minhota. Neste conto, temos um personagem-narrador que um sujeito inapto para a vida, um sujeito que tem vrias crises de identidade, pois nada do que a vida lhe oferece o satisfaz e chega a declarar: Na verdade, eu no estava preparado para o sofrimento. Todo homem,

    ao atingir certa idade, pode perfeitamente enfrentar a avalanche do

    tdio e da amargura, pois desde a meninice acostumou-se a vicissitudes,

    atravs de um processo lento e gradativo de dissabores. Tal no

    aconteceu comigo. Fui atirado vida sem pais,infncia ou

    juventude.(Rubio,2010,p.21). Trata-se portanto, de um sujeito que tende para a morte do que para a vida. Neste sentido, o tema da morte surge nas vrias tentativas de suicdio que o narrador empreende. Neste conto, temos portanto, um personagem instvel e que no sabe suportar a existncia humana que, ora prazerosa, ora entediante. Trata-se portanto, de um sujeito prprio da ps-modernidade, que vive uma intensa crise existencial e de identidade. Brbara O narrador marido de Brbara, uma esposa que tem a mrbida mania de pedir as coisas mais absurdas para o marido. Do mais simples ao mais extico, ela queria e pedia.Fato estranho que, medida que pede, ela engorda incrivelmente. como se o saco de sua ambio no tivesse fundo e cresce conforme suas vontades fossem atendidas. O marido, por sua vez fica ressentido por no receber nada em troca por realizar todos os pedidos de Brbara. Ela exercia estranho poder sobre o marido. A mais simples recusa a fazia entristecer. Numa dessas tentativas de recusa do marido, ela emagrecera e um filho brotou de seu ventre. O filho foi a soluo dos problemas, pelo contrrio, os cuidados do marido para com Brbara redobraram.

    Ingnuas esperanas fizeram-me acreditar que o nascimento da

    criana eliminasse de vez as estranhas manias de Brbara. E

    suspeitando que a sua magreza e palidez fossem prenncio de grave

    molstia, tive medo de que, adoecendo, lhe morresse o filho no ventre.

    Antes que tal acontecesse, lhe implorei que pedisse

    algo.(Rubio,2010,p.28). Trata-se nessa narrativa, de uma relao absurda. O elemento fantstico do conto, o fato de Brbara, sempre insatisfeita com o que recebe do marido,engordar at adquirir dimenses gigantescas. Neste sentido, o conto resgata, de certa forma, o amor corts.Murilo Rubio traz para o universo fantstico este amor Romntico, em que a mulher est num patamar superior em ralao ao homem. Desta forma, o amor do narrador por Brbara incondicional, chegando ao absurdo. Os Drages Este um conto em que o fantstico d lugar ao maravilhoso. O aparecimento de drages vai alterar a rotina e os costumes dos habitantes de uma cidade tranqila e pacata. Trata-se de um acontecimento maravilhoso, porque no h hesitao ou dvida sobre o fenmeno ocorrido (elemento que gera o efeito fantstico), ou seja, ningum questiona a existncia ou a presena desses seres na cidade. Seres aparentemente malficos, aparecem neste conto como criaturas benignas, ao passo que os homens, pelo contrrio, so descritos como criaturas malficas, isso fica claro no incio da narrativa, quando o narrador-personagem diz que: Os primeiros drages que apareceram na cidade muito sofreram com o atraso dos nossos costumes (Rubio,2010,p.47). Como acontece no conto O pirotcnico Zacarias, ocorre nesta narrativa que as pessoas da cidade no conseguem aceitar aquilo que diferente. Todos na cidade, inclusive o padre hostilizam os drages. Apenas o narrador-personagem e as crianas convivem sem reservas com os novos habitantes. O convvio com os humanos completamente malfico aos seres voadores, que at chegam a adquirir hbitos humanos. Os drages so presos em um prdio abandonado. So quase extintos por conta do alcoolismo, fornicao com as mulheres humanas. O narrador, um professor, decide, ento criar os dois drages que restaram. O Odorico, que vai morar com uma mulher casada e morto pelo ex-marido. E Joo, que se aplica nos estudos, mas tratado como animal de carga ou festa religiosa. Ao que indica, o conto demonstra que os humanos so inferiores e no dignos de conviverem com os drages., pois os outros drages pelo mesmo local no quiseram mais habitar aquela cidade. como se os animais se recusassem a se humanizar. Teleco, o coelhinho Dois fatos inusitados se colocam, de imediato, na leitura desta narrativa: um coelho que fala e , alm do mais, que pede um cigarro ao narrador-personagem. Ser que ele que ser humano? Esta pergunta que se coloca na leitura do conto. O homem d cigarro a Teleco, o coelho, e trava com ele uma conversa amigvel. Ao perceber que Teleco no tem casa, e encantando com a educao do animal, o personagem humano o convida para morarem juntos. Teleco se metamorfoseia, o tempo todo, em outros animais. Ele alega ser um sujeito instvel por querer sempre agradar aos outros. O comportamento do coelho , portanto, de algum que vive buscando uma identidade. Com o passar do tempo a convivncia com Teleco torna-se insuportvel. Motivo, Teleco vira canguru r arruma namorada humana. O narrador fica furioso, pois Teleco , o coelho, agora tem nome e sobre nome, Antnio Barbosa. E nega nunca ter sido bicho. A hesitao em reconhecer Teleco como homem ou animal fica evidenciada na fala do narrador: Por mais que me parecesse, havia uma trgica sinceridade na voz deles. Eu me decidira, porm. Joguei Barbosa ao cho e lhe

    esmurrei a boca. Em seguida, enxotei-os(Ruibio,2010,p.58). Teleco no se firma como humano, e se transforma em carneiro. Doente e triste , o carneiro adoece, angariando assim novamente o carinho do narrador. Teleco tem um fim trgico, pois, na impossibilidade de firmar-se como homem, ele morre, transformando em uma criana. Suas virtudes foram perdidas no momento em que deixou de ser o simples e agradvel coelhinho. O edifcio O conto dividido em sub captulos e narra a construo de um fabuloso edifcio que teria um nmero ilimitado de andares. O elemento

  • fantstico da narrativa que tal edifcio interminvel. Joo Gaspar o engenheiro contratado, pelo Conselho da Construo, para realizar a obra. Com ar de mistrio, no incio do conto, o narrador diz que Ao engenheiro responsvel, recm-contratado, nada falaram das

    finalidades do prdio. (Rubio,2010,p.60). H tambm uma lenda a respeito da construo do 800. Joo Gaspar, para comemorar a vitria sobre a lenda, decide oferecer um baile aos funcionrios. Joo Gaspar decide abandonar a obra, mas por insistncia dos funcionrios ele volta obra. Podemos ler neste conto, levando em considerao o intertexo com o episdio bblico da construo da Torre de Babael. A narrativa da construo desta torre est no Livro de Gnesis. Assim como acontece na narrativa bblica, tambm acontece no conto de Rubio. Joo Gaspar advertido pelo Conselho de Ancios a no tentar terminar a construo da obra. Da mesma maneira que o homens desafiaram a Deus, ao construrem a Torre de Babel, Joo Gaspar, tambm desobedece ao Conselho. Ele vaidoso, e quer terminar a construo logo.A lenda se cumpre, e ele no consegue terminar a obra. H uma grande confuso de lnguas. Tal como acontece na Torre de Babel, acontece tambm neste conto: o interminvel edifcio em construo e uma confuso de discursos entre o engenheiro e seus subalternos. A Casa do Girassol Vermelho Em A Casa do Girassol Vermelho, os personagens se localizam num espao fechado. um lugar atrasado e distante da civilizao. O nico espao externo citado na narrativa vila, onde moravam os filhos adotivos de D Belisria e Simeo. A Casa do Girassol Vermelho um lugar mtico, onde acontecem coisas inusitadas. Isolado do resto da civilizao. Os habitantes so incivilizados, tudo neles extremado. So sem limites, sem refinamento e urbanidade, vivem mais perto da natureza.Um mundo de necessidades e escassez. Mundo ao mesmo tempo de orgias, da festa e da punio, da perverso sexual. O grupo tribal: Simeo e Belisria so pais adotivos dos dois grupos de irmos. O jogo da sexualidade oscila entre a mais completa represso (Belisria morre virgem porque "o marido considerava pecado o ato sexual" e Xixiu mergulha na represa para a desaparecer) e a mais completa permissividade (incestos etc.) Nesse universo, a morte dos pais significa libertao e festejada. Aps a morte de Simeo, os filhos comemoram danando: a casa respirava uma alegria desvairada". Surubi, o narrador, afirma que "Todos os acontecimentos alegres da nossa existncia eram comemorados com bailados coletivos". O significado do ttulo do conto, a simbologia mais conhecida da flor, segundo Chevalier & Cheerbrant(2002), carrega uma Ambiguidade,pois nos remete tanto inocncia quanto ao erotismo. O girassol traz a cor radiante, a fora. Acrescente-se o fato de a cor vermelha dar, ao smbolo, um carter mrbido,indicando sangue,ferida,dor. Tambm conhecida do povo a casa da luz vermelha, nome que sugere um ambiente de sexualidade e at mesmo de prostituio. Dessa forma, se o espao narrado absurdo, por ao haver nele uma lgica que o ser humano possa seguir, A Casa do Girassol Vermelho o espao incivilizado, smbolo do aprisionamento e da desiluso das personagens.

    Memrias do Contabilista Pedro Incio Murilo Rubio foge regra neste conto pelo seguinte motivo: alm de utilizar epgrafes bblicas, neste relato o autor cita um trecho do livro Memrias pstumas de Brs Cubas, de Machado de Assis. A influncia da Machado de Assis nas obras de Murilo Rubio so recorrentes. O trecho citado uma firmao de Brs Cubas sobre a sua amante, Marcela que o amou durante quinze meses e um conto de ris. Esse comentrio contabilstico justifica o ttulo do conto Memrias do contabilista Pedro Incio. O narrador o prprio Pedro Incio, que declara, ter duas paixes: o amor e a contabilidade. Em um estilo bem Machadiano, o narrador contabiliza todos os gastos que teve com cada uma de suas amantes (Jandira,Dora e Aspsia). Assim como no livro de Machado, este um relato de memrias, o narrador , porm declara que se trata, tambm de uma crnica de famlia: Tio Paulo, foi sumariamente Banido da crnica de nossa famlia.(Rubio,2010,p.121). Est presente no conto, assim como em Memrias pstumas de Brs Cubas, a metalinguagem. Momento em que o narrador utiliza a escrita para se referir a prpria escrita. Para maior esclarecimento destas

    memrias, devo ainda esclarecer que esse meu ancestral, Jos Antnio

    da Cmara Bulhes e Couto, morreu de desgosto ao descobrir que dois

    de seus bisavs tinham falecido em conseqncia de cirrose heptica( Rubio,2010,p.119). Ele recorre a genealogia de sua famlia. Essa memria da genealogia do personagem Pedro Incio , tambm, um procedimento usado p Machado de Assis. Na obra de Rubio, essa memria familiar uma forma de o narrador buscar, ironicamente, as origens para as suas fraquezas. Enfim, a influncia machadiana evidente e foi declarada pelo prprio Rubio em uma entrevista. Assim, com relao a epgrafe machadiana, presente no conto, Rubio chega a dizer na entrevista que o nome de Machado de Assis o nico digno de ocupar um lugar junto s Sagradas Escrituras. A Dispora recorrente nos contos de Rubio a presena de construes e edificaes sem nenhuma explicao lgica para existir. Em A Dispora , temos a questo da construo de uma ponte, cuja a razo de ser no referida ou justificada. Essa construo pretende ligar um lugarejo, isolado da civilizao por montanhas e vales, cidade. Como em A Casa do Girassol Vermelho um lugar mtico, por seu isolamento e por se constituir por uma organizao social singular e independente uma espcie de paraso. Roque Diadema, o engenheiro responsvel pela obra em Mangora, lugar mtico da narrativa. Ele advertido pelo lder do povo de Mangora, uma espcie de lder carismtico. com ele que Roque Diadema tem que se entender sobre a construo da ponte: Aqui em Mangora, no gostamos de chefes. Em todo o caso,converse com

    Hebron. Ele quem sabe das coisas. E apontaram para um senhor

    idoso que vinha na direo deles.(Rubio,2010,p.145). A sabedoria e idade de Hebron fazem com que ele se torne lder desta comunidade. Com relao ponte, no h referncia sobre o motivo da construo. Este silncio prprio daquilo que no tem explicao racional. Essa falta de razo para se explicar as coisas faz parte do inslito. Entende-se por inslito, tudo aquilo que quebra as expectativas do leitor, tendo por referncia a sua realidade. aquilo que foge ordem e lgica do senso comum vigente. Numa definio especfica, tudo aquilo contrrio aos costumes,s regras. o inabitual e o incomum(AURLIO,1997). O inslito marcante trao da literatura e se coloca ao lado dos gneros fantstico, maravilhoso, realismo-mgico,estranho,absurdo e outros derivados dessa linha de fuga da realidade referencial que transmitem a totalidade ou a parcialidade dos acontecimentos. O inusitado se manifesta em diversos estgios narrativos, o que comum em textos sobre a influncia inslita. O segundo aspecto inslito, que est presente neste conto,refere-se ao inslito como desumanizao do carter ordinrio e lgico. Trata-se do efeito desumanizador do carter da personagem. O personagem carrega o trao inslito como ndice de fuga da ordem, da lgica do ser humano.Desta forma, o inslito no caracteriza apenas uma metamorfose, como ocorre no conto Teleco, o coelhinho. A desumanizao em A dispora moral e relaciona-se a figura de Hebron. H uma banalizao do personagem como lder comunitrio e at mesmo religioso.Em outras palavras, h uma perda de funo do personagem dentro a organizao social de MANGORA. Assim Hebron perde a sua autoridade e suas funes so destitudas. Este o sentimento do homem ps-moderno. Um sentimento de perda, pois no existe respeito com a hierarquia. Certas funes de liderana e poder esto perdendo sua razo de ser no mundo contemporneo.Em outras palavras, a condio de indivduo se perde, as identidades se confundem e no se configuram mais como uma uniformidade humana, seja pelas aes, pelos sentimentos, pelos avanos tecnolgicos, etc. O home do bon cinzento Um homem solteiro e muito rica se instala num prdio velho, atiando a curiosidade dos vizinhos. Anatlio solteiro e magricela. Possui um bon cinzento, branco e cinza com quadrados amarelos, assim como o cu. Sem qualquer explicao, este homem comea a, paulatinamente, emagrecer at sumir. Arthur, irmo de Roderico, o narrador , comea a ter obsesso pelo emagrecimento do vizinho e , no fim da narrativa, acaba por diminuir de tamanho e transforma-se numa esfera preta a rolar pelas mos de Roderico. A histria contada por um narrador-personagem que testemunha a metamorfose, tanto de Anatlio- seu vizinho, como de Arthur, seu irmo, que observando obsessivamente o novo vizinho, tambm se

  • transforma. A narrativa estruturada a partir da obsesso e observao constante que Arthur dedica ao enigmtico homem do bon cinzento. O principal evento inslito se instala na personagem que d o ttulo ao conto, surgindo como elemento de desequilbrio.Anatlio possui atitudes estranhas e rotineiras. Conforme a narrativa vai se desenvolvendo, ele vai emagrecendo, at desaparecer e, por fim, lana um jato de fogo que varre a rua da cidade. Desde o incio da narrativa, Anatlito tratado como um ser humano comum, porm suas caractersticas fsicas j denunciam o inslito: na transparncia, na cor do bon, nos dentes escuros e no corpo esqueltico e pequeno. Essa metamorfose o transforma em um ser sem caractersticas de ser humano. Ou seja, sem papel na sociedade, sem posio. Essa desumanizao fsica, e no moral e funcional como no conto A dispora, corrobora para a instalao do inslito na narrativa, transformando-o em um ser sem identidade ou identificao. Ele est ficando transparente. Assustei-me. Atravs do corpo do

    homenzinho viam-se objetos que estavam no interior da casa: jarra de

    flores, livros, misturados com intestinos e rins. O corao parecia estar

    dependurado na maaneta da porta, cerrada somente de um dos

    lados(Rubio,2010,p.155). O fenmeno da metamorfose tambm acontece com Arthur, que no fim do texto se transforma em uma esfera, perdendo tambm a identificao, desumanizando-o: Ficar reduzido a alguns centmetros(...) Retive-o com as pontas dos dedos antes que desaparecesse completamente.

    Retive-o por instantes. Logo se transformou numa bolinha negra, a

    rolar na minha mo.(Rubio,2010,p.155). H nessa narrativa, uma precariedade das relaes interpessoais, fator caracterstico da sociedade ps-moderna. Verifica-se tal atributo na obsesso de Arthur, que, rotineiramente, dedicava seu tempo a vigiar a vida de Anatlito, enquanto sua vida se tornava sem sentido, sem humanidade.Ele perdia, assim a caracterstica humana de zelar pelo que seu, no se importando com a sade e com a prpria vida. O convidado O enredo centrado no personagem Jos Alferes que recebe um convite para uma festa misteriosa . Cujo objetivo a recepo de uma pessoa tambm misteriosa. O traje que deve usar bastante formal. O txi que ir lev-lo, o percurso e o local da festa, as pessoas e os dilogos, tudo sugere um acontecimento que todos sabem o que , menos Jos Alferes. Acontece, que o convidado esperado, misteriosamente, o prprio Alferes. Trata-se de um encontro com a morte. No fim da narrativa, Alferes rende-se aos encantos de uma mulher linda, mas terrvel. Esse conto, como os demais antecedido por uma citao bblica: V pois,que passam os meus breves anos, e eu caminho por uma vereda,

    pela qual no voltarei (J,XVI,23.) Rubio mostra seu poder de prosador ao realizar um dilogo intertextual com a Bblia. Acontece, que o convidado esperado, misteriosamente, o prprio Alferes. Trata-se de um encontro com a morte. No fim da narrativa, Alferes rende-se aos encantos de uma mulher linda, mas terrvel. Esse conto, como os demais antecedido por uma citao bblica: V pois,que passam os meus breves anos, e eu caminho por uma vereda,

    pela qual no voltarei (J,XVI,23.) Rubio mostra seu poder de prosador ao realizar um dilogo intertextual com a Bblia. O Txi de Faetone, que recusa levar Jos Alferes de volta pra casa, tambm se liga morte. Faetone, na mitologia grega, o carro que leva os para o alm. Ainda h a figura do cavalo, tema preferido das conversas dos participantes da festa. O cavalo tem sua simbologia ligada morte. com o cavalo que o xam obtm o xtase necessrio viagem de iniciao do ritual. Nesse sentido, o cavalo uma imagem da morte, pois ele que leva os mortos para o outro lado, promovendo a ruptura deste mundo para o outro. (Eliade,1993,p.364). Jos Alferes cercado pela ameaa da morte e tenta resistir heroicamente. Quando o personagem se d conta que o convidado (para a morte) ele mesmo e no outro que est por chegar, ele foge da festa e da mulher terrvel que quer seduzi-lo e lev-lo ao encontro da morte. Assim, ao fugir de todo este esquema tenebroso,Alferes demonstra uma atitude herica diante de tudo aquilo que pode pr fim a sua vida. Consideraes Finais O leitor das narrativas de Murilo Rubio, que se estruturam a partir da erupo de eventos fantsticos, inslitos, sobrenaturais e de carter ilgico, no pode aceitar pacificamente, tais eventos. Ele deve fazer, ento, uma leitura crtica, vinculada ao contexto de sua realidade

    experimentada. Esse tipo de leitura funciona como artifcio de reflexo, remetendo a conflitos da realidade referencial. Em resumo, essa literatura, vista em algumas narrativas de Murilo Rubio sob o ponto de vista da desumanizao das personagens, permite construir crticas interpretativas a respeito da sociedade ps-moderna, sob a abrangncia do carter efmero, espantoso ou banalizador dos seres humanos. Ao entrar em contato com o sobrenatural ou com a metamorfose, a personagem deixa de existir como ser natural e ordinrio e passa a um grau imprevisvel, sem limites para os acontecimentos ilgicos, inesperados e inslitos. No plano da fico, o ser humano pode se configurar de forma que quiser, construindo um espao crtico e mais amplo para o leitor. To amplo quanto a multiplicidade de identidades assumidas ou quanto concretizao da literatura como retrato desta era ps-moderna.

  • MARATONA UFG Literatura

    (Edna)

    NOME:______________________________________________ Lista 06

    Obra Completa- Murilo Rubio Murilo Rubio Biografia Murilo Eugnio Rubio nasceu em Silvestre Ferraz, hoje Carmo de Minas MG, no ano de 1916. Formado em Direito, foi professor,

    jornalista, diretor de jornal e de estao de rdio (Rdio

    Inconfidncia). Foi o responsvel pela organizao do Suplemento

    Literrio de Minas Gerais (1966). Publicou seu primeiro livro de contos

    "O ex-mgico" em 1947; "A estrela vermelha" (1953); "Os drages e

    outros contos" (1965); "O pirotcnico Zacarias" e "O convidado"

    (1974); "A casa do girassol vermelho" (1978); e "O homem do bon

    cinzento e outras histrias" (1990). Teve seus principais contos

    traduzidos para a lngua inglesa, alem e espanhola. Foram adaptado

    para o cinema os contos: "A Armadilha", "O pirotcnico Zacarias", "O

    ex-mgico da Taberna Minhota" e "O bloqueio". Para o teatro, foram

    adaptados "O ex-mago", "The piranha lounge" (pea baseada em

    diversos contos) e "O ex-mago da Taberna Minhota". Sua obra j foi

    objeto de dezenas de artigos publicados em jornais e revistas, alm de

    ter sido estudada em mais de quarenta teses de doutorado e

    dissertaes de mestrado, no Brasil e no exterior.O escritor faleceu em

    Belo Horizonte, em 1991, onde residiu a maior parte de sua vida. OBRA COMPLETA Murilo Rubio Gnero: Narrativo O termo narrar vem do latim narratio e quer dizer o ato de narrar acontecimentos reais ou fictcios. Na Antiguidade Clssica, os padres literrios reconhecidos eram apenas o pico, o lrico e o dramtico. Com o passar dos anos surgiu dentro do gnero pico a variante: gnero narrativo, a qual apresentou concepes de prosa com caractersticas diferentes, o que fez com que surgissem divises de outros gneros literrios dentro do estilo narrativo: o romance, a novela, o conto, a crnica, a fbula. Porm, praticamente todas as obras narrativas possuem elementos estruturais e estilsticos em comum e devem responder a questionamentos, como: quem?, que? quando? onde? por qu? Vejamos a seguir: Narrador: o que narra a histria, pode ser onisciente (terceira pessoa, observador, tem conhecimento da histria e das personagens, observa e conta o que est acontecendo ou aconteceu) ou personagem (em primeira pessoa; narra e participa da histria e, contudo, narra os fatos medida em que acontecem, no pode prever o que acontecer com as demais personagens). Tempo: um determinado momento em que as personagens vivenciam as suas experincias e aes. Pode ser cronolgico (um dia, um ms, dois anos) ou psicolgico (memria de quem narra, flash-back feito pelo narrador). Espao: lugar onde as aes acontecem e se desenvolvem. Enredo: a trama, o que est envolvido na trama que precisa ser resolvido, e a sua resoluo, ou seja, todo enredo tem incio, desenvolvimento, clmax e desfecho. Personagens: atravs das personagens, seres fictcios da trama, encadeiam-se os fatos que geram os conflitos e aes. personagem principal d-se o nome de protagonista e pode ser uma pessoa, animal ou objeto inanimado, como nas fbulas. O que vimos foram os recursos que os estilos narrativos tm em comum, agora vejamos cada um deles e suas caractersticas separadamente: Romance: uma narrativa longa, geralmente dividida em captulos, possui personagens variadas em torno das quais acontece a histria principal e tambm histrias paralelas a essa, pode apresentar espao e tempo variados. Novela: um mdulo mais compilado do romance e tambm mais dinmico, dividida em episdios, so contnuos e no tm interrupes. Conto: uma narrativa curta que gira em torno de um s conflito, com poucos personagens. Crnica: uma narrativa breve que tem por objetivo comentar algo do cotidiano; um relato pessoal do autor sobre determinado fato do dia a dia.

    Espcie: Contos A palavra conto deriva do termo latino comptus, que significa conta. O conceito faz referncia a uma narrativa breve e fictcia. A sua especificidade no pode ser fixada com exatido, pelo que a diferena entre um conto extenso e uma novela difcil de determinar. Um conto apresenta um grupo reduzido de personagens e um argumento no demasiado complexo, uma vez que entre as suas caractersticas aparece a economia de recursos narrativos. possvel distinguir entre dois grandes tipos de contos: o conto popular e o conto literrio. O Universo Fantstico De Rubio H tempos, as narrativas ficcionais perpassam pela histria da humanidade, desde aquelas cultuadas pelos antigos povos nas noites de luar at atingir os parmetros tidos como atuais e suas respectivas classificaes- maravilhoso, fantstico, de terror, mistrio, fico cientfica, policial, moderno, contemporneo, tradicional, dentre outros. H quem diga que o conto est para o romance, assim como a fotografia est para o cinema, isto , seja qual for a modalidade, se faz necessrio uma atenta percepo diante de uma situao, na qual o autor/produtor dever extrair dela o mximo para compor sua criao. E, por assim dizer, tanto o romance quanto o conto adquiriram novas roupagens ao longo do tempo, passando de meras produes que visam ao entretenimento a reflexes de cunho filosfico acerca das relaes humanas x sociedade O chamado conto fantstico no ficou espreita de tais evolues, pois basta lembrarmo-nos de Franz Kafka e sua considervel obra A metamorfose, na qual a temtica gira em torno do conflito manifestado pelo personagem Gregor Samsa que, de repente, se viu transformado em uma barata, bem ao gosto de uma anlise metafsica que norteia o ser humano mediante seu convvio em meio turbulncia manifestada pela contemporaneidade. Foi a partir do sculo XX (dcadas de 1970 - 1980) que o fantstico se incorporou no meio ficcional, poca esta em que o Brasil vivia um perodo marcado pela represso poltica, perseguies, prises e censura. Em meio a este clima, importantes figuras, como, Murilo Rubio e Jos J. Veiga denunciaram em suas obras toda essa realidade opressiva. o que podemos conferir por meio de alguns fragmentos pertencentes obra intitulada - A hora dos ruminantes, de Jos J. Veiga. O conto fantstico se constri a partir da oposio entre dois planos: o plano real dos personagens, em que ocorrem fatos comuns, e o plano irreal, em que acontecimentos estranhos e incompreensveis tendem a se manifestar. A Cidade O artigo analisa como a cidade representada na fico, de cunho fantstico, do escritor Murilo Rubio. O objeto da pesquisa o conto A Cidade. Nesse conto, Rubio materializa a cidade como o espao do dilogo impossvel, da desconfiana mtua, da estigmatizao. O leitor de Rubio induzido a fazer a pergunta: que cidade esta? O conto de Rubio, portanto, no uma resposta alegrica aos problemas do mundo real, mas a problematizao deste mesmo mundo. Narra as aventuras de Cariba, nico passageiro de um trem, que o leva compulsoriamente a uma cidade desconhecida. Ele chega e faz muitas perguntas, o que o leva priso. Atravs de um discurso implcito, possvel perceber que o conto uma crtica ditadura militar e os governos que no permitissem a liberdade de pensamento e expresso. A cidade registra, de maneira velada ou no, as transformaes polticas, sociais e econmicas por que passavam a cidades brasileiras no perodo de ditadura militar. Enquanto que, pelo vis da literatura fantstica, o autor do conto A cidade expe as contradies e absurdos pelos quais passa o homem da cidade. No conto A cidade, esse narrador, em terceira pessoa, no relata uma experincia coletiva, e muito menos apresenta uma estria com conflito resolvido, mas reserva ao leitor um instigante papel de observador das caticas situaes a que so submetidas as personagens. Ao final da narrativa, a impresso que fica de incompletude: no h sada para Cariba. Ele preso por fazer perguntas, simples para ele, porm impertinentes para o delegado da regio Quem so os donos desse municpio? Num contexto de censura, os questionamentos de qualquer ordem eram silenciados e punidos. Naquele lugar no se podia ter dvidas, a curiosidade era caracterizada crime. nesse sentido, que o autor do conto A cidade tece artisticamente as agruras de um contexto poltico de represso.

    rion

  • O Pirotcnico Zacarias O narrador-protagonista( o prprio Zacarias) inicia o conto,dizendo que seus amigos e pessoas de suas relaes no sabem se est vivo ou morto o pirotcnico Zacarias. Todas as pessoas do local tem dvidas se o Zacarias que passeia pela cidade o mesmo que havia morrido em acidente. Devido a essa dvida, o narrador-defunto decide contar como morreu. A princpio foi azul,depois verde, amarelo e negro. Um negro

    espesso,cheio de listras vermelhas,de um vermelho compacto,

    semelhante a densas fitas de sangue. Sangue pastoso com pigmentos

    amarelados, de um amarelo esverdeado, tnue, quase sem cor (...)

    Quando tudo comeava a ficar branco,veio um automvel e me

    matou.(Rubio,2010,p.15-15)

    Neste conto, o tema da morte est presente desde a epgrafe bblica do livro de J, que concebe a morte como um renascimento, at o fim da narrativa em que o narrador, Zacarias, torna-se morto-vivo da cidade. A frmula (narrador = defunto) nos familiar desde que Machado de Assis cria o morto-vivo mais famoso da literatura, Brs Cubas, em seu romance Memrias Pstumas de Brs Cubas. A morte e o modo como as pessoas se relacionam com ela so questes centrais da narrativa. A beleza do texto, porm, que Murilo Rubio tem a maestria de tratar este tema, levando os leitores ao domnio do fantstico, ou seja, ao universo da dvida diante de um fato que foge do real; um morto pode andar pela cidade como se estivesse vivo? Nesse sentido, apesar de vagar pelas ruas,tentando provar,angustiado,que est vivo, Zacarias encara com ironia e humor a sua morte, ao dizer que ir de carro para o cemitrio era sugesto que mais lhe convinha, Afinal, as longas caminhadas cansam indistintamente defuntos e vivos.(Rubio,2010,p.17). Contudo fica-lhe o rancor de que as pessoas no percebem que se pode amar indivduos diferente. assim que o conto se torna uma alegoria da sociedade contempornea do autor. O Ex Mgico da Taberna Minhota O narrador, que no diz seu nome, um ex-mgico que, entediado com a profisso, torna-se funcionrio pblico. Contudo,a nova profisso tambm lhe oferece como existncia entediante. Alis, sua vida fora um tdio desde a infncia, nunca gostou de viver. Ele relata, em tom saudoso, as mgicas que fazia na Taberna Minhota e depois no Circo-Parque Andaluz. A vida de mgico no lhe agradava, pois seus truques no eram mgicas, eram naturais e no apenas iluses. Ele relata que, sem querer, foi ao banheiro da taberna e retirou do bolso o dono do restaurante, e tal fato surpreende o narrador. Quem ficou perplexo foi o dono do restaurante, que lhe props emprego de mgico na Taberna Minhota. Neste conto, temos um personagem-narrador que um sujeito inapto para a vida, um sujeito que tem vrias crises de identidade, pois nada do que a vida lhe oferece o satisfaz e chega a declarar: Na verdade, eu no estava preparado para o sofrimento. Todo homem,

    ao atingir certa idade, pode perfeitamente enfrentar a avalanche do

    tdio e da amargura, pois desde a meninice acostumou-se a vicissitudes,

    atravs de um processo lento e gradativo de dissabores. Tal no

    aconteceu comigo. Fui atirado vida sem pais,infncia ou

    juventude.(Rubio,2010,p.21). Trata-se portanto, de um sujeito que tende para a morte do que para a vida. Neste sentido, o tema da morte surge nas vrias tentativas de suicdio que o narrador empreende. Neste conto, temos portanto, um personagem instvel e que no sabe suportar a existncia humana que, ora prazerosa, ora entediante. Trata-se portanto, de um sujeito prprio da ps-modernidade, que vive uma intensa crise existencial e de identidade. Brbara O narrador marido de Brbara, uma esposa que tem a mrbida mania de pedir as coisas mais absurdas para o marido. Do mais simples ao mais extico, ela queria e pedia.Fato estranho que, medida que pede, ela engorda incrivelmente. como se o saco de sua ambio no tivesse fundo e cresce conforme suas vontades fossem atendidas. O marido, por sua vez fica ressentido por no receber nada em troca por realizar todos os pedidos de Brbara. Ela exercia estranho poder sobre o marido. A mais simples recusa a fazia entristecer. Numa dessas tentativas de recusa do marido, ela emagrecera e um filho brotou de seu ventre. O filho foi a soluo dos problemas, pelo contrrio, os cuidados do marido para com Brbara redobraram.

    Ingnuas esperanas fizeram-me acreditar que o nascimento da

    criana eliminasse de vez as estranhas manias de Brbara. E

    suspeitando que a sua magreza e palidez fossem prenncio de grave

    molstia, tive medo de que, adoecendo, lhe morresse o filho no ventre.

    Antes que tal acontecesse, lhe implorei que pedisse

    algo.(Rubio,2010,p.28). Trata-se nessa narrativa, de uma relao absurda. O elemento fantstico do conto, o fato de Brbara, sempre insatisfeita com o que recebe do marido,engordar at adquirir dimenses gigantescas. Neste sentido, o conto resgata, de certa forma, o amor corts.Murilo Rubio traz para o universo fantstico este amor Romntico, em que a mulher est num patamar superior em ralao ao homem. Desta forma, o amor do narrador por Brbara incondicional, chegando ao absurdo. Os Drages Este um conto em que o fantstico d lugar ao maravilhoso. O aparecimento de drages vai alterar a rotina e os costumes dos habitantes de uma cidade tranqila e pacata. Trata-se de um acontecimento maravilhoso, porque no h hesitao ou dvida sobre o fenmeno ocorrido (elemento que gera o efeito fantstico), ou seja, ningum questiona a existncia ou a presena desses seres na cidade. Seres aparentemente malficos, aparecem neste conto como criaturas benignas, ao passo que os homens, pelo contrrio, so descritos como criaturas malficas, isso fica claro no incio da narrativa, quando o narrador-personagem diz que: Os primeiros drages que apareceram na cidade muito sofreram com o atraso dos nossos costumes (Rubio,2010,p.47). Como acontece no conto O pirotcnico Zacarias, ocorre nesta narrativa que as pessoas da cidade no conseguem aceitar aquilo que diferente. Todos na cidade, inclusive o padre hostilizam os drages. Apenas o narrador-personagem e as crianas convivem sem reservas com os novos habitantes. O convvio com os humanos completamente malfico aos seres voadores, que at chegam a adquirir hbitos humanos. Os drages so presos em um prdio abandonado. So quase extintos por conta do alcoolismo, fornicao com as mulheres humanas. O narrador, um professor, decide, ento criar os dois drages que restaram. O Odorico, que vai morar com uma mulher casada e morto pelo ex-marido. E Joo, que se aplica nos estudos, mas tratado como animal de carga ou festa religiosa. Ao que indica, o conto demonstra que os humanos so inferiores e no dignos de conviverem com os drages., pois os outros drages pelo mesmo local no quiseram mais habitar aquela cidade. como se os animais se recusassem a se humanizar. Teleco, o coelhinho Dois fatos inusitados se colocam, de imediato, na leitura desta narrativa: um coelho que fala e , alm do mais, que pede um cigarro ao narrador-personagem. Ser que ele que ser humano? Esta pergunta que se coloca na leitura do conto. O homem d cigarro a Teleco, o coelho, e trava com ele uma conversa amigvel. Ao perceber que Teleco no tem casa, e encantando com a educao do animal, o personagem humano o convida para morarem juntos. Teleco se metamorfoseia, o tempo todo, em outros animais. Ele alega ser um sujeito instvel por querer sempre agradar aos outros. O comportamento do coelho , portanto, de algum que vive buscando uma identidade. Com o passar do tempo a convivncia com Teleco torna-se insuportvel. Motivo, Teleco vira canguru r arruma namorada humana. O narrador fica furioso, pois Teleco , o coelho, agora tem nome e sobre nome, Antnio Barbosa. E nega nunca ter sido bicho. A hesitao em reconhecer Teleco como homem ou animal fica evidenciada na fala do narrador: Por mais que me parecesse, havia uma trgica sinceridade na voz deles. Eu me decidira, porm. Joguei Barbosa ao cho e lhe

    esmurrei a boca. Em seguida, enxotei-os(Ruibio,2010,p.58). Teleco no se firma como humano, e se transforma em carneiro. Doente e triste , o carneiro adoece, angariando assim novamente o carinho do narrador. Teleco tem um fim trgico, pois, na impossibilidade de firmar-se como homem, ele morre, transformando em uma criana. Suas virtudes foram perdidas no momento em que deixou de ser o simples e agradvel coelhinho. O edifcio O conto dividido em sub captulos e narra a construo de um fabuloso edifcio que teria um nmero ilimitado de andares. O elemento

  • fantstico da narrativa que tal edifcio interminvel. Joo Gaspar o engenheiro contratado, pelo Conselho da Construo, para realizar a obra. Com ar de mistrio, no incio do conto, o narrador diz que Ao engenheiro responsvel, recm-contratado, nada falaram das

    finalidades do prdio. (Rubio,2010,p.60). H tambm uma lenda a respeito da construo do 800. Joo Gaspar, para comemorar a vitria sobre a lenda, decide oferecer um baile aos funcionrios. Joo Gaspar decide abandonar a obra, mas por insistncia dos funcionrios ele volta obra. Podemos ler neste conto, levando em considerao o intertexo com o episdio bblico da construo da Torre de Babael. A narrativa da construo desta torre est no Livro de Gnesis. Assim como acontece na narrativa bblica, tambm acontece no conto de Rubio. Joo Gaspar advertido pelo Conselho de Ancios a no tentar terminar a construo da obra. Da mesma maneira que o homens desafiaram a Deus, ao construrem a Torre de Babel, Joo Gaspar, tambm desobedece ao Conselho. Ele vaidoso, e quer terminar a construo logo.A lenda se cumpre, e ele no consegue terminar a obra. H uma grande confuso de lnguas. Tal como acontece na Torre de Babel, acontece tambm neste conto: o interminvel edifcio em construo e uma confuso de discursos entre o engenheiro e seus subalternos. A Casa do Girassol Vermelho Em A Casa do Girassol Vermelho, os personagens se localizam num espao fechado. um lugar atrasado e distante da civilizao. O nico espao externo citado na narrativa vila, onde moravam os filhos adotivos de D Belisria e Simeo. A Casa do Girassol Vermelho um lugar mtico, onde acontecem coisas inusitadas. Isolado do resto da civilizao. Os habitantes so incivilizados, tudo neles extremado. So sem limites, sem refinamento e urbanidade, vivem mais perto da natureza.Um mundo de necessidades e escassez. Mundo ao mesmo tempo de orgias, da festa e da punio, da perverso sexual. O grupo tribal: Simeo e Belisria so pais adotivos dos dois grupos de irmos. O jogo da sexualidade oscila entre a mais completa represso (Belisria morre virgem porque "o marido considerava pecado o ato sexual" e Xixiu mergulha na represa para a desaparecer) e a mais completa permissividade (incestos etc.) Nesse universo, a morte dos pais significa libertao e festejada. Aps a morte de Simeo, os filhos comemoram danando: a casa respirava uma alegria desvairada". Surubi, o narrador, afirma que "Todos os acontecimentos alegres da nossa existncia eram comemorados com bailados coletivos". O significado do ttulo do conto, a simbologia mais conhecida da flor, segundo Chevalier & Cheerbrant(2002), carrega uma Ambiguidade,pois nos remete tanto inocncia quanto ao erotismo. O girassol traz a cor radiante, a fora. Acrescente-se o fato de a cor vermelha dar, ao smbolo, um carter mrbido,indicando sangue,ferida,dor. Tambm conhecida do povo a casa da luz vermelha, nome que sugere um ambiente de sexualidade e at mesmo de prostituio. Dessa forma, se o espao narrado absurdo, por ao haver nele uma lgica que o ser humano possa seguir, A Casa do Girassol Vermelho o espao incivilizado, smbolo do aprisionamento e da desiluso das personagens.

    Memrias do Contabilista Pedro Incio Murilo Rubio foge regra neste conto pelo seguinte motivo: alm de utilizar epgrafes bblicas, neste relato o autor cita um trecho do livro Memrias pstumas de Brs Cubas, de Machado de Assis. A influncia da Machado de Assis nas obras de Murilo Rubio so recorrentes. O trecho citado uma firmao de Brs Cubas sobre a sua amante, Marcela que o amou durante quinze meses e um conto de ris. Esse comentrio contabilstico justifica o ttulo do conto Memrias do contabilista Pedro Incio. O narrador o prprio Pedro Incio, que declara, ter duas paixes: o amor e a contabilidade. Em um estilo bem Machadiano, o narrador contabiliza todos os gastos que teve com cada uma de suas amantes (Jandira,Dora e Aspsia). Assim como no livro de Machado, este um relato de memrias, o narrador , porm declara que se trata, tambm de uma crnica de famlia: Tio Paulo, foi sumariamente Banido da crnica de nossa famlia.(Rubio,2010,p.121). Est presente no conto, assim como em Memrias pstumas de Brs Cubas, a metalinguagem. Momento em que o narrador utiliza a escrita para se referir a prpria escrita. Para maior esclarecimento destas

    memrias, devo ainda esclarecer que esse meu ancestral, Jos Antnio

    da Cmara Bulhes e Couto, morreu de desgosto ao descobrir que dois

    de seus bisavs tinham falecido em conseqncia de cirrose heptica( Rubio,2010,p.119). Ele recorre a genealogia de sua famlia. Essa memria da genealogia do personagem Pedro Incio , tambm, um procedimento usado p Machado de Assis. Na obra de Rubio, essa memria familiar uma forma de o narrador buscar, ironicamente, as origens para as suas fraquezas. Enfim, a influncia machadiana evidente e foi declarada pelo prprio Rubio em uma entrevista. Assim, com relao a epgrafe machadiana, presente no conto, Rubio chega a dizer na entrevista que o nome de Machado de Assis o nico digno de ocupar um lugar junto s Sagradas Escrituras. A Dispora recorrente nos contos de Rubio a presena de construes e edificaes sem nenhuma explicao lgica para existir. Em A Dispora , temos a questo da construo de uma ponte, cuja a razo de ser no referida ou justificada. Essa construo pretende ligar um lugarejo, isolado da civilizao por montanhas e vales, cidade. Como em A Casa do Girassol Vermelho um lugar mtico, por seu isolamento e por se constituir por uma organizao social singular e independente uma espcie de paraso. Roque Diadema, o engenheiro responsvel pela obra em Mangora, lugar mtico da narrativa. Ele advertido pelo lder do povo de Mangora, uma espcie de lder carismtico. com ele que Roque Diadema tem que se entender sobre a construo da ponte: Aqui em Mangora, no gostamos de chefes. Em todo o caso,converse com

    Hebron. Ele quem sabe das coisas. E apontaram para um senhor

    idoso que vinha na direo deles.(Rubio,2010,p.145). A sabedoria e idade de Hebron fazem com que ele se torne lder desta comunidade. Com relao ponte, no h referncia sobre o motivo da construo. Este silncio prprio daquilo que no tem explicao racional. Essa falta de razo para se explicar as coisas faz parte do inslito. Entende-se por inslito, tudo aquilo que quebra as expectativas do leitor, tendo por referncia a sua realidade. aquilo que foge ordem e lgica do senso comum vigente. Numa definio especfica, tudo aquilo contrrio aos costumes,s regras. o inabitual e o incomum(AURLIO,1997). O inslito marcante trao da literatura e se coloca ao lado dos gneros fantstico, maravilhoso, realismo-mgico,estranho,absurdo e outros derivados dessa linha de fuga da realidade referencial que transmitem a totalidade ou a parcialidade dos acontecimentos. O inusitado se manifesta em diversos estgios narrativos, o que comum em textos sobre a influncia inslita. O segundo aspecto inslito, que est presente neste conto,refere-se ao inslito como desumanizao do carter ordinrio e lgico. Trata-se do efeito desumanizador do carter da personagem. O personagem carrega o trao inslito como ndice de fuga da ordem, da lgica do ser humano.Desta forma, o inslito no caracteriza apenas uma metamorfose, como ocorre no conto Teleco, o coelhinho. A desumanizao em A dispora moral e relaciona-se a figura de Hebron. H uma banalizao do personagem como lder comunitrio e at mesmo religioso.Em outras palavras, h uma perda de funo do personagem dentro a organizao social de MANGORA. Assim Hebron perde a sua autoridade e suas funes so destitudas. Este o sentimento do homem ps-moderno. Um sentimento de perda, pois no existe respeito com a hierarquia. Certas funes de liderana e poder esto perdendo sua razo de ser no mundo contemporneo.Em outras palavras, a condio de indivduo se perde, as identidades se confundem e no se configuram mais como uma uniformidade humana, seja pelas aes, pelos sentimentos, pelos avanos tecnolgicos, etc. O home do bon cinzento Um homem solteiro e muito rica se instala num prdio velho, atiando a curiosidade dos vizinhos. Anatlio solteiro e magricela. Possui um bon cinzento, branco e cinza com quadrados amarelos, assim como o cu. Sem qualquer explicao, este homem comea a, paulatinamente, emagrecer at sumir. Arthur, irmo de Roderico, o narrador , comea a ter obsesso pelo emagrecimento do vizinho e , no fim da narrativa, acaba por diminuir de tamanho e transforma-se numa esfera preta a rolar pelas mos de Roderico. A histria contada por um narrador-personagem que testemunha a metamorfose, tanto de Anatlio- seu vizinho, como de Arthur, seu irmo, que observando obsessivamente o novo vizinho, tambm se

  • transforma. A narrativa estruturada a partir da obsesso e observao constante que Arthur dedica ao enigmtico homem do bon cinzento. O principal evento inslito se instala na personagem que d o ttulo ao conto, surgindo como elemento de desequilbrio.Anatlio possui atitudes estranhas e rotineiras. Conforme a narrativa vai se desenvolvendo, ele vai emagrecendo, at desaparecer e, por fim, lana um jato de fogo que varre a rua da cidade. Desde o incio da narrativa, Anatlito tratado como um ser humano comum, porm suas caractersticas fsicas j denunciam o inslito: na transparncia, na cor do bon, nos dentes escuros e no corpo esqueltico e pequeno. Essa metamorfose o transforma em um ser sem caractersticas de ser humano. Ou seja, sem papel na sociedade, sem posio. Essa desumanizao fsica, e no moral e funcional como no conto A dispora, corrobora para a instalao do inslito na narrativa, transformando-o em um ser sem identidade ou identificao. Ele est ficando transparente. Assustei-me. Atravs do corpo do

    homenzinho viam-se objetos que estavam no interior da casa: jarra de

    flores, livros, misturados com intestinos e rins. O corao parecia estar

    dependurado na maaneta da porta, cerrada somente de um dos

    lados(Rubio,2010,p.155). O fenmeno da metamorfose tambm acontece com Arthur, que no fim do texto se transforma em uma esfera, perdendo tambm a identificao, desumanizando-o: Ficar reduzido a alguns centmetros(...) Retive-o com as pontas dos dedos antes que desaparecesse completamente.

    Retive-o por instantes. Logo se transformou numa bolinha negra, a

    rolar na minha mo.(Rubio,2010,p.155). H nessa narrativa, uma precariedade das relaes interpessoais, fator caracterstico da sociedade ps-moderna. Verifica-se tal atributo na obsesso de Arthur, que, rotineiramente, dedicava seu tempo a vigiar a vida de Anatlito, enquanto sua vida se tornava sem sentido, sem humanidade.Ele perdia, assim a caracterstica humana de zelar pelo que seu, no se importando com a sade e com a prpria vida. O convidado O enredo centrado no personagem Jos Alferes que recebe um convite para uma festa misteriosa . Cujo objetivo a recepo de uma pessoa tambm misteriosa. O traje que deve usar bastante formal. O txi que ir lev-lo, o percurso e o local da festa, as pessoas e os dilogos, tudo sugere um acontecimento que todos sabem o que , menos Jos Alferes. Acontece, que o convidado esperado, misteriosamente, o prprio Alferes. Trata-se de um encontro com a morte. No fim da narrativa, Alferes rende-se aos encantos de uma mulher linda, mas terrvel. Esse conto, como os demais antecedido por uma citao bblica: V pois,que passam os meus breves anos, e eu caminho por uma vereda,

    pela qual no voltarei (J,XVI,23.) Rubio mostra seu poder de prosador ao realizar um dilogo intertextual com a Bblia. Acontece, que o convidado esperado, misteriosamente, o prprio Alferes. Trata-se de um encontro com a morte. No fim da narrativa, Alferes rende-se aos encantos de uma mulher linda, mas terrvel. Esse conto, como os demais antecedido por uma citao bblica: V pois,que passam os meus breves anos, e eu caminho por uma vereda,

    pela qual no voltarei (J,XVI,23.) Rubio mostra seu poder de prosador ao realizar um dilogo intertextual com a Bblia. O Txi de Faetone, que recusa levar Jos Alferes de volta pra casa, tambm se liga morte. Faetone, na mitologia grega, o carro que leva os para o alm. Ainda h a figura do cavalo, tema preferido das conversas dos participantes da festa. O cavalo tem sua simbologia ligada morte. com o cavalo que o xam obtm o xtase necessrio viagem de iniciao do ritual. Nesse sentido, o cavalo uma imagem da morte, pois ele que leva os mortos para o outro lado, promovendo a ruptura deste mundo para o outro. (Eliade,1993,p.364). Jos Alferes cercado pela ameaa da morte e tenta resistir heroicamente. Quando o personagem se d conta que o convidado (para a morte) ele mesmo e no outro que est por chegar, ele foge da festa e da mulher terrvel que quer seduzi-lo e lev-lo ao encontro da morte. Assim, ao fugir de todo este esquema tenebroso,Alferes demonstra uma atitude herica diante de tudo aquilo que pode pr fim a sua vida. Consideraes Finais O leitor das narrativas de Murilo Rubio, que se estruturam a partir da erupo de eventos fantsticos, inslitos, sobrenaturais e de carter ilgico, no pode aceitar pacificamente, tais eventos. Ele deve fazer, ento, uma leitura crtica, vinculada ao contexto de sua realidade

    experimentada. Esse tipo de leitura funciona como artifcio de reflexo, remetendo a conflitos da realidade referencial. Em resumo, essa literatura, vista em algumas narrativas de Murilo Rubio sob o ponto de vista da desumanizao das personagens, permite construir crticas interpretativas a respeito da sociedade ps-moderna, sob a abrangncia do carter efmero, espantoso ou banalizador dos seres humanos. Ao entrar em contato com o sobrenatural ou com a metamorfose, a personagem deixa de existir como ser natural e ordinrio e passa a um grau imprevisvel, sem limites para os acontecimentos ilgicos, inesperados e inslitos. No plano da fico, o ser humano pode se configurar de forma que quiser, construindo um espao crtico e mais amplo para o leitor. To amplo quanto a multiplicidade de identidades assumidas ou quanto concretizao da literatura como retrato desta era ps-moderna.

  • MARATONA UFG Literatura

    (Edna)

    NOME:______________________________________________ Lista 06

    Obra Completa- Murilo Rubio Murilo Rubio Biografia Murilo Eugnio Rubio nasceu em Silvestre Ferraz, hoje Carmo de Minas MG, no ano de 1916. Formado em Direito, foi professor,

    jornalista, diretor de jornal e de estao de rdio (Rdio

    Inconfidncia). Foi o responsvel pela organizao do Suplemento

    Literrio de Minas Gerais (1966). Publicou seu primeiro livro de contos

    "O ex-mgico" em 1947; "A estrela vermelha" (1953); "Os drages e

    outros contos" (1965); "O pirotcnico Zacarias" e "O convidado"

    (1974); "A casa do girassol vermelho" (1978); e "O homem do bon

    cinzento e outras histrias" (1990). Teve seus principais contos

    traduzidos para a lngua inglesa, alem e espanhola. Foram adaptado

    para o cinema os contos: "A Armadilha", "O pirotcnico Zacarias", "O

    ex-mgico da Taberna Minhota" e "O bloqueio". Para o teatro, foram

    adaptados "O ex-mago", "The piranha lounge" (pea baseada em

    diversos contos) e "O ex-mago da Taberna Minhota". Sua obra j foi

    objeto de dezenas de artigos publicados em jornais e revistas, alm de

    ter sido estudada em mais de quarenta teses de doutorado e

    dissertaes de mestrado, no Brasil e no exterior.O escritor faleceu em

    Belo Horizonte, em 1991, onde residiu a maior parte de sua vida. OBRA COMPLETA Murilo Rubio Gnero: Narrativo O termo narrar vem do latim narratio e quer dizer o ato de narrar acontecimentos reais ou fictcios. Na Antiguidade Clssica, os padres literrios reconhecidos eram apenas o pico, o lrico e o dramtico. Com o passar dos anos surgiu dentro do gnero pico a variante: gnero narrativo, a qual apresentou concepes de prosa com caractersticas diferentes, o que fez com que surgissem divises de outros gneros literrios dentro do estilo narrativo: o romance, a novela, o conto, a crnica, a fbula. Porm, praticamente todas as obras narrativas possuem elementos estruturais e estilsticos em comum e devem responder a questionamentos, como: quem?, que? quando? onde? por qu? Vejamos a seguir: Narrador: o que narra a histria, pode ser onisciente (terceira pessoa, observador, tem conhecimento da histria e das personagens, observa e conta o que est acontecendo ou aconteceu) ou personagem (em primeira pessoa; narra e participa da histria e, contudo, narra os fatos medida em que acontecem, no pode prever o que acontecer com as demais personagens). Tempo: um determinado momento em que as personagens vivenciam as suas experincias e aes. Pode ser cronolgico (um dia, um ms, dois anos) ou psicolgico (memria de quem narra, flash-back feito pelo narrador). Espao: lugar onde as aes acontecem e se desenvolvem. Enredo: a trama, o que est envolvido na trama que precisa ser resolvido, e a sua resoluo, ou seja, todo enredo tem incio, desenvolvimento, clmax e desfecho. Personagens: atravs das personagens, seres fictcios da trama, encadeiam-se os fatos que geram os conflitos e aes. personagem principal d-se o nome de protagonista e pode ser uma pessoa, animal ou objeto inanimado, como nas fbulas. O que vimos foram os recursos que os estilos narrativos tm em comum, agora vejamos cada um deles e suas caractersticas separadamente: Romance: uma narrativa longa, geralmente dividida em captulos, possui personagens variadas em torno das quais acontece a histria principal e tambm histrias paralelas a essa, pode apresentar espao e tempo variados. Novela: um mdulo mais compilado do romance e tambm mais dinmico, dividida em episdios, so contnuos e no tm interrupes. Conto: uma narrativa curta que gira em torno de um s conflito, com poucos personagens. Crnica: uma narrativa breve que tem por objetivo comentar algo do cotidiano; um relato pessoal do autor sobre determinado fato do dia a dia.

    Espcie: Contos A palavra conto deriva do termo latino comptus, que significa conta. O conceito faz referncia a uma narrativa breve e fictcia. A sua especificidade no pode ser fixada com exatido, pelo que a diferena entre um conto extenso e uma novela difcil de determinar. Um conto apresenta um grupo reduzido de personagens e um argumento no demasiado complexo, uma vez que entre as suas caractersticas aparece a economia de recursos narrativos. possvel distinguir entre dois grandes tipos de contos: o conto popular e o conto literrio. O Universo Fantstico De Rubio H tempos, as narrativas ficcionais perpassam pela histria da humanidade, desde aquelas cultuadas pelos antigos povos nas noites de luar at atingir os parmetros tidos como atuais e suas respectivas classificaes- maravilhoso, fantstico, de terror, mistrio, fico cientfica, policial, moderno, contemporneo, tradicional, dentre outros. H quem diga que o conto est para o romance, assim como a fotografia est para o cinema, isto , seja qual for a modalidade, se faz necessrio uma atenta percepo diante de uma situao, na qual o autor/produtor dever extrair dela o mximo para compor sua criao. E, por assim dizer, tanto o romance quanto o conto adquiriram novas roupagens ao longo do tempo, passando de meras produes que visam ao entretenimento a reflexes de cunho filosfico acerca das relaes humanas x sociedade O chamado conto fantstico no ficou espreita de tais evolues, pois basta lembrarmo-nos de Franz Kafka e sua considervel obra A metamorfose, na qual a temtica gira em torno do conflito manifestado pelo personagem Gregor Samsa que, de repente, se viu transformado em uma barata, bem ao gosto de uma anlise metafsica que norteia o ser humano mediante seu convvio em meio turbulncia manifestada pela contemporaneidade. Foi a partir do sculo XX (dcadas de 1970 - 1980) que o fantstico se incorporou no meio ficcional, poca esta em que o Brasil vivia um perodo marcado pela represso poltica, perseguies, prises e censura. Em meio a este clima, importantes figuras, como, Murilo Rubio e Jos J. Veiga denunciaram em suas obras toda essa realidade opressiva. o que podemos conferir por meio de alguns fragmentos pertencentes obra intitulada - A hora dos ruminantes, de Jos J. Veiga. O conto fantstico se constri a partir da oposio entre dois planos: o plano real dos personagens, em que ocorrem fatos comuns, e o plano irreal, em que acontecimentos estranhos e incompreensveis tendem a se manifestar. A Cidade O artigo analisa como a cidade representada na fico, de cunho fantstico, do escritor Murilo Rubio. O objeto da pesquisa o conto A Cidade. Nesse conto, Rubio materializa a cidade como o espao do dilogo impossvel, da desconfiana mtua, da estigmatizao. O leitor de Rubio induzido a fazer a pergunta: que cidade esta? O conto de Rubio, portanto, no uma resposta alegrica aos problemas do mundo real, mas a problematizao deste mesmo mundo. Narra as aventuras de Cariba, nico passageiro de um trem, que o leva compulsoriamente a uma cidade desconhecida. Ele chega e faz muitas perguntas, o que o leva priso. Atravs de um discurso implcito, possvel perceber que o conto uma crtica ditadura militar e os governos que no permitissem a liberdade de pensamento e expresso. A cidade registra, de maneira velada ou no, as transformaes polticas, sociais e econmicas por que passavam a cidades brasileiras no perodo de ditadura militar. Enquanto que, pelo vis da literatura fantstica, o autor do conto A cidade expe as contradies e absurdos pelos quais passa o homem da cidade. No conto A cidade, esse narrador, em terceira pessoa, no relata uma experincia coletiva, e muito menos apresenta uma estria com conflito resolvido, mas reserva ao leitor um instigante papel de observador das caticas situaes a que so submetidas as personagens. Ao final da narrativa, a impresso que fica de incompletude: no h sada para Cariba. Ele preso por fazer perguntas, simples para ele, porm impertinentes para o delegado da regio Quem so os donos desse municpio? Num contexto de censura, os questionamentos de qualquer ordem eram silenciados e punidos. Naquele lugar no se podia ter dvidas, a curiosidade era caracterizada crime. nesse sentido, que o autor do conto A cidade tece artisticamente as agruras de um contexto poltico de represso.

    rion

  • O Pirotcnico Zacarias O narrador-protagonista( o prprio Zacarias) inicia o conto,dizendo que seus amigos e pessoas de suas relaes no sabem se est vivo ou morto o pirotcnico Zacarias. Todas as pessoas do local tem dvidas se o Zacarias que passeia pela cidade o mesmo que havia morrido em acidente. Devido a essa dvida, o narrador-defunto decide contar como morreu. A princpio foi azul,depois verde, amarelo e negro. Um negro

    espesso,cheio de listras vermelhas,de um vermelho compacto,

    semelhante a densas fitas de sangue. Sangue pastoso com pigmentos

    amarelados, de um amarelo esverdeado, tnue, quase sem cor (...)

    Quando tudo comeava a ficar branco,veio um automvel e me

    matou.(Rubio,2010,p.15-15)

    Neste conto, o tema da morte est presente desde a epgrafe bblica do livro de J, que concebe a morte como um renascimento, at o fim da narrativa em que o narrador, Zacarias, torna-se morto-vivo da cidade. A frmula (narrador = defunto) nos familiar desde que Machado de Assis cria o morto-vivo mais famoso da literatura, Brs Cubas, em seu romance Memrias Pstumas de Brs Cubas. A morte e o modo como as pessoas se relacionam com ela so questes centrais da narrativa. A beleza do texto, porm, que Murilo Rubio tem a maestria de tratar este tema, levando os leitores ao domnio do fantstico, ou seja, ao universo da dvida diante de um fato que foge do real; um morto pode andar pela cidade como se estivesse vivo? Nesse sentido, apesar de vagar pelas ruas,tentando provar,angustiado,que est vivo, Zacarias encara com ironia e humor a sua morte, ao dizer que ir de carro para o cemitrio era sugesto que mais lhe convinha, Afinal, as longas caminhadas cansam indistintamente defuntos e vivos.(Rubio,2010,p.17). Contudo fica-lhe o rancor de que as pessoas no percebem que se pode amar indivduos diferente. assim que o conto se torna uma alegoria da sociedade contempornea do autor. O Ex Mgico da Taberna Minhota O narrador, que no diz seu nome, um ex-mgico que, entediado com a profisso, torna-se funcionrio pblico. Contudo,a nova profisso tambm lhe oferece como existncia entediante. Alis, sua vida fora um tdio desde a infncia, nunca gostou de viver. Ele relata, em tom saudoso, as mgicas que fazia na Taberna Minhota e depois no Circo-Parque Andaluz. A vida de mgico no lhe agradava, pois seus truques no eram mgicas, eram naturais e no apenas iluses. Ele relata que, sem querer, foi ao banheiro da taberna e retirou do bolso o dono do restaurante, e tal fato surpreende o narrador. Quem ficou perplexo foi o dono do restaurante, que lhe props emprego de mgico na Taberna Minhota. Neste conto, temos um personagem-narrador que um sujeito inapto para a vida, um sujeito que tem vrias crises de identidade, pois nada do que a vida lhe oferece o satisfaz e chega a declarar: Na verdade, eu no estava preparado para o sofrimento. Todo homem,

    ao atingir certa idade, pode perfeitamente enfrentar a avalanche do

    tdio e da amargura, pois desde a meninice acostumou-se a vicissitudes,

    atravs de um processo lento e gradativo de dissabores. Tal no

    aconteceu comigo. Fui atirado vida sem pais,infncia ou

    juventude.(Rubio,2010,p.21). Trata-se portanto, de um sujeito que tende para a morte do que para a vida. Neste sentido, o tema da morte surge nas vrias tentativas de suicdio que o narrador empreende. Neste conto, temos portanto, um personagem instvel e que no sabe suportar a existncia humana que, ora prazerosa, ora entediante. Trata-se portanto, de um sujeito prprio da ps-modernidade, que vive uma intensa crise existencial e de identidade. Brbara O narrador marido de Brbara, uma esposa que tem a mrbida mania de pedir as coisas mais absurdas para o marido. Do mais simples ao mais extico, ela queria e pedia.Fato estranho que, medida que pede, ela engorda incrivelmente. como se o saco de sua ambio no tivesse fundo e cresce conforme suas vontades fossem atendidas. O marido, por sua vez fica ressentido por no receber nada em troca por realizar todos os pedidos de Brbara. Ela exercia estranho poder sobre o marido. A mais simples recusa a fazia entristecer. Numa dessas tentativas de recusa do marido, ela emagrecera e um filho brotou de seu ventre. O filho foi a soluo dos problemas, pelo contrrio, os cuidados do marido para com Brbara redobraram.

    Ingnuas esperanas fizeram-me acreditar que o nascimento da

    criana eliminasse de vez as estranhas manias de Brbara. E

    suspeitando que a sua magreza e palidez fossem prenncio de grave

    molstia, tive medo de que, adoecendo, lhe morresse o filho no ventre.

    Antes que tal acontecesse, lhe implorei que pedisse

    algo.(Rubio,2010,p.28). Trata-se nessa narrativa, de uma relao absurda. O elemento fantstico do conto, o fato de Brbara, sempre insatisfeita com o que recebe do marido,engordar at adquirir dimenses gigantescas. Neste sentido, o conto resgata, de certa forma, o amor corts.Murilo Rubio traz para o universo fantstico este amor Romntico, em que a mulher est num patamar superior em ralao ao homem. Desta forma, o amor do narrador por Brbara incondicional, chegando ao absurdo. Os Drages Este um conto em que o fantstico d lugar ao maravilhoso. O aparecimento de drages vai alterar a rotina e os costumes dos habitantes de uma cidade tranqila e pacata. Trata-se de um acontecimento maravilhoso, porque no h hesitao ou dvida sobre o fenmeno ocorrido (elemento que gera o efeito fantstico), ou seja, ningum questiona a existncia ou a presena desses seres na cidade. Seres aparentemente malficos, aparecem neste conto como criaturas benignas, ao passo que os homens, pelo contrrio, so descritos como criaturas malficas, isso fica claro no incio da narrativa, quando o narrador-personagem diz que: Os primeiros drages que apareceram na cidade muito sofreram com o atraso dos nossos costumes (Rubio,2010,p.47). Como acontece no conto O pirotcnico Zacarias, ocorre nesta narrativa que as pessoas da cidade no conseguem aceitar aquilo que diferente. Todos na cidade, inclusive o padre hostilizam os drages. Apenas o narrador-personagem e as crianas convivem sem reservas com os novos habitantes. O convvio com os humanos completamente malfico aos seres voadores, que at chegam a adquirir hbitos humanos. Os drages so presos em um prdio abandonado. So quase extintos por conta do alcoolismo, fornicao com as mulheres humanas. O narrador, um professor, decide, ento criar os dois drages que restaram. O Odorico, que vai morar com uma mulher casada e morto pelo ex-marido. E Joo, que se aplica nos estudos, mas tratado como animal de carga ou festa religiosa. Ao que indica, o conto demonstra que os humanos so inferiores e no dignos de conviverem com os drages., pois os outros drages pelo mesmo local no quiseram mais habitar aquela cidade. como se os animais se recusassem a se humanizar. Teleco, o coelhinho Dois fatos inusitados se colocam, de imediato, na leitura desta narrativa: um coelho que fala e , alm do mais, que pede um cigarro ao narrador-personagem. Ser que ele que ser humano? Esta pergunta que se coloca na leitura do conto. O homem d cigarro a Teleco, o coelho, e trava com ele uma conversa amigvel. Ao perceber que Teleco no tem casa, e encantando com a educao do animal, o personagem humano o convida para morarem juntos. Teleco se metamorfoseia, o tempo todo, em outros animais. Ele alega ser um sujeito instvel por querer sempre agradar aos outros. O comportamento do coelho , portanto, de algum que vive buscando uma identidade. Com o passar do tempo a convivncia com Teleco torna-se insuportvel. Motivo, Teleco vira canguru r arruma namorada humana. O narrador fica furioso, pois Teleco , o coelho, agora tem nome e sobre nome, Antnio Barbosa. E nega nunca ter sido bicho. A hesitao em reconhecer Teleco como homem ou animal fica evidenciada na fala do narrador: Por mais que me parecesse, havia uma trgica sinceridade na voz deles. Eu me decidira, porm. Joguei Barbosa ao cho e lhe

    esmurrei a boca. Em seguida, enxotei-os(Ruibio,2010,p.58). Teleco no se firma como humano, e se transforma em carneiro. Doente e triste , o carneiro adoece, angariando assim novamente o carinho do narrador. Teleco tem um fim trgico, pois, na impossibilidade de firmar-se como homem, ele morre, transformando em uma criana. Suas virtudes foram perdidas no momento em que deixou de ser o simples e agradvel coelhinho. O edifcio O conto dividido em sub captulos e narra a construo de um fabuloso edifcio que teria um nmero ilimitado de andares. O elemento

  • fantstico da narrativa que tal edifcio interminvel. Joo Gaspar o engenheiro contratado, pelo Conselho da Construo, para realizar a obra. Com ar de mistrio, no incio do conto, o narrador diz que Ao engenheiro responsvel, recm-contratado, nada falaram das

    finalidades do prdio. (Rubio,2010,p.60). H tambm uma lenda a respeito da construo do 800. Joo Gaspar, para comemorar a vitria sobre a lenda, decide oferecer um baile aos funcionrios. Joo Gaspar decide abandonar a obra, mas por insistncia dos funcionrios ele volta obra. Podemos ler neste conto, levando em considerao o intertexo com o episdio bblico da construo da Torre de Babael. A narrativa da construo desta torre est no Livro de Gnesis. Assim como acontece na narrativa bblica, tambm acontece no conto de Rubio. Joo Gaspar advertido pelo Conselho de Ancios a no tentar terminar a construo da obra. Da mesma maneira que o homens desafiaram a Deus, ao construrem a Torre de Babel, Joo Gaspar, tambm desobedece ao Conselho. Ele vaidoso, e quer terminar a construo logo.A lenda se cumpre, e ele no consegue terminar a obra. H uma grande confuso de lnguas. Tal como acontece na Torre de Babel, acontece tambm neste conto: o interminvel edifcio em construo e uma confuso de discursos entre o engenheiro e seus subalternos. A Casa do Girassol Vermelho Em A Casa do Girassol Vermelho, os personagens se localizam num espao fechado. um lugar atrasado e distante da civilizao. O nico espao externo citado na narrativa vila, onde moravam os filhos adotivos de D Belisria e Simeo. A Casa do Girassol Vermelho um lugar mtico, onde acontecem coisas inusitadas. Isolado do resto da civilizao. Os habitantes so incivilizados, tudo neles extremado. So sem limites, sem refinamento e urbanidade, vivem mais perto da natureza.Um mundo de necessidades e escassez. Mundo ao mesmo tempo de orgias, da festa e da punio, da perverso sexual. O grupo tribal: Simeo e Belisria so pais adotivos dos dois grupos de irmos. O jogo da sexualidade oscila entre a mais completa represso (Belisria morre virgem porque "o marido considerava pecado o ato sexual" e Xixiu mergulha na represa para a desaparecer) e a mais completa permissividade (incestos etc.) Nesse universo, a morte dos pais significa libertao e festejada. Aps a morte de Simeo, os filhos comemoram danando: a casa respirava uma alegria desvairada". Surubi, o narrador, afirma que "Todos os acontecimentos alegres da nossa existncia eram comemorados com bailados coletivos". O significado do ttulo do conto, a simbologia mais conhecida da flor, segundo Chevalier & Cheerbrant(2002), carrega uma Ambiguidade,pois nos remete tanto inocncia quanto ao erotismo. O girassol traz a cor radiante, a fora. Acrescente-se o fato de a cor vermelha dar, ao smbolo, um carter mrbido,indicando sangue,ferida,dor. Tambm conhecida do povo a casa da luz vermelha, nome que sugere um ambiente de sexualidade e at mesmo de prostituio. Dessa forma, se o espao narrado absurdo, por ao haver nele uma lgica que o ser humano possa seguir, A Casa do Girassol Vermelho o espao incivilizado, smbolo do aprisionamento e da desiluso das personagens.

    Memrias do Contabilista Pedro Incio Murilo Rubio foge regra neste conto pelo seguinte motivo: alm de utilizar epgrafes bblicas, neste relato o autor cita um trecho do livro Memrias pstumas de Brs Cubas, de Machado de Assis. A influncia da Machado de Assis nas obras de Murilo Rubio so recorrentes. O trecho citado uma firmao de Brs Cubas sobre a sua amante, Marcela que o amou durante quinze meses e um conto de ris. Esse comentrio contabilstico justifica o ttulo do conto Memrias do contabilista Pedro Incio. O narrador o prprio Pedro Incio, que declara, ter duas paixes: o amor e a contabilidade. Em um estilo bem Machadiano, o narrador contabiliza todos os gastos que teve com cada uma de suas amantes (Jandira,Dora e Aspsia). Assim como no livro de Machado, este um relato de memrias, o narrador , porm declara que se trata, tambm de uma crnica de famlia: Tio Paulo, foi sumariamente Banido da crnica de nossa famlia.(Rubio,2010,p.121). Est presente no conto, assim como em Memrias pstumas de Brs Cubas, a metalinguagem. Momento em que o narrador utiliza a escrita para se referir a prpria escrita. Para maior esclarecimento destas

    memrias, devo ainda esclarecer que esse meu ancestral, Jos Antnio

    da Cmara Bulhes e Couto, morreu de desgosto ao descobrir que dois

    de seus bisavs tinham falecido em conseqncia de cirrose heptica( Rubio,2010,p.119). Ele recorre a genealogia de sua famlia. Essa memria da genealogia do personagem Pedro Incio , tambm, um procedimento usado p Machado de Assis. Na obra de Rubio, essa memria familiar uma forma de o narrador buscar, ironicamente, as origens para as suas fraquezas. Enfim, a influncia machadiana evidente e foi declarada pelo prprio Rubio em uma entrevista. Assim, com relao a epgrafe machadiana, presente no conto, Rubio chega a dizer na entrevista que o nome de Machado de Assis o nico digno de ocupar um lugar junto s Sagradas Escrituras. A Dispora recorrente nos contos de Rubio a presena de construes e edificaes sem nenhuma explicao lgica para existir. Em A Dispora , temos a questo da construo de uma ponte, cuja a razo de ser no referida ou justificada. Essa construo pretende ligar um lugarejo, isolado da civilizao por montanhas e vales, cidade. Como em A Casa do Girassol Vermelho um lugar mtico, por seu isolamento e por se constituir por uma organizao social singular e independente uma espcie de paraso. Roque Diadema, o engenheiro responsvel pela obra em Mangora, lugar mtico da narrativa. Ele advertido pelo lder do povo de Mangora, uma espcie de lder carismtico. com ele que Roque Diadema tem que se entender sobre a construo da ponte: Aqui em Mangora, no gostamos de chefes. Em todo o caso,converse com

    Hebron. Ele quem sabe das coisas. E apontaram para um senhor

    idoso que vinha na direo deles.(Rubio,2010,p.145). A sabedoria e idade de Hebron fazem com que ele se torne lder desta comunidade. Com relao ponte, no h referncia sobre o motivo da construo. Este silncio prprio daquilo que no tem explicao racional. Essa falta de razo para se explicar as coisas faz parte do inslito. Entende-se por inslito, tudo aquilo que quebra as expectativas do leitor, tendo por referncia a sua realidade. aquilo que foge ordem e lgica do senso comum vigente. Numa definio especfica, tudo aquilo contrrio aos costumes,s regras. o inabitual e o incomum(AURLIO,1997). O inslito marcante trao da literatura e se coloca ao lado dos gneros fantstico, maravilhoso, realismo-mgico,estranho,absurdo e outros derivados dessa linha de fuga da realidade referencial que transmitem a totalidade ou a parcialidade dos acontecimentos. O inusitado se manifesta em diversos estgios narrativos, o que comum em textos sobre a influncia inslita. O segundo aspecto inslito, que est presente neste conto,refere-se ao inslito como desumanizao do carter ordinrio e lgico. Trata-se do efeito desumanizador do carter da personagem. O personagem carrega o trao inslito como ndice de fuga da ordem, da lgica do ser humano.Desta forma, o inslito no caracteriza apenas uma metamorfose, como ocorre no conto Teleco, o coelhinho. A desumanizao em A dispora moral e relaciona-se a figura de Hebron. H uma banalizao do personagem como lder comunitrio e at mesmo religioso.Em outras palavras, h uma perda de funo do personagem dentro a organizao social de MANGORA. Assim Hebron perde a sua autoridade e suas funes so destitudas. Este o sentimento do homem ps-moderno. Um sentimento de perda, pois no existe respeito com a hierarquia. Certas funes de liderana e poder esto perdendo sua razo de ser no mundo contemporneo.Em outras palavras, a condio de indivduo se perde, as identidades se confundem e no se configuram mais como uma uniformidade humana, seja pelas aes, pelos sentimentos, pelos avanos tecnolgicos, etc. O home do bon cinzento Um homem solteiro e muito rica se instala num prdio velho, atiando a curiosidade dos vizinhos. Anatlio solteiro e magricela. Possui um bon cinzento, branco e cinza com quadrados amarelos, assim como o cu. Sem qualquer explicao, este homem comea a, paulatinamente, emagrecer at sumir. Arthur, irmo de Roderico, o narrador , comea a ter obsesso pelo emagrecimento do vizinho e , no fim da narrativa, acaba por diminuir de tamanho e transforma-se numa esfera preta a rolar pelas mos de Roderico. A histria contada por um narrador-personagem que testemunha a metamorfose, tanto de Anatlio- seu vizinho, como de Arthur, seu irmo, que observando obsessivamente o novo vizinho, tambm se

  • transforma. A narrativa estruturada a partir da obsesso e observao constante que Arthur dedica ao enigmtico homem do bon cinzento. O principal evento inslito se instala na personagem que d o ttulo ao conto, surgindo como elemento de desequilbrio.Anatlio possui atitudes estranhas e rotineiras. Conforme a narrativa vai se desenvolvendo, ele vai emagrecendo, at desaparecer e, por fim, lana um jato de fogo que varre a rua da cidade. Desde o incio da narrativa, Anatlito tratado como um ser humano comum, porm suas caractersticas fsicas j denunciam o inslito: na transparncia, na cor do bon, nos dentes escuros e no corpo esqueltico e pequeno. Essa metamorfose o transforma em um ser sem caractersticas de ser humano. Ou seja, sem papel na sociedade, sem posio. Essa desumanizao fsica, e no moral e funcional como no conto A dispora, corrobora para a instalao do inslito na narrativa, transformando-o em um ser sem identidade ou identificao. Ele est ficando transparente. Assustei-me. Atravs do corpo do

    homenzinho viam-se objetos que estavam no interior da casa: jarra de

    flores, livros, misturados com intestinos e rins. O corao parecia estar

    dependurado na maaneta da porta, cerrada somente de um dos

    lados(Rubio,2010,p.155). O fenmeno da metamorfose tambm acontece com Arthur, que no fim do texto se transforma em uma esfera, perdendo tambm a identificao, desumanizando-o: Ficar reduzido a alguns centmetros(...) Retive-o com as pontas dos dedos antes que desaparecesse completamente.

    Retive-o por instantes. Logo se transformou numa bolinha negra, a

    rolar na minha mo.(Rubio,2010,p.155). H nessa narrativa, uma precariedade das relaes interpessoais, fator caracterstico da sociedade ps-moderna. Verifica-se tal atributo na obsesso de Arthur, que, rotineiramente, dedicava seu tempo a vigiar a vida de Anatlito, enquanto sua vida se tornava sem sentido, sem humanidade.Ele perdia, assim a caracterstica humana de zelar pelo que seu, no se importando com a sade e com a prpria vida. O convidado O enredo centrado no personagem Jos Alferes que recebe um convite para uma festa misteriosa . Cujo objetivo a recepo de uma pessoa tambm misteriosa. O traje que deve usar bastante formal. O txi que ir lev-lo, o percurso e o local da festa, as pessoas e os dilogos, tudo sugere um acontecimento que todos sabem o que , menos Jos Alferes. Acontece, que o convidado esperado, misteriosamente, o prprio Alferes. Trata-se de um encontro com a morte. No fim da narrativa, Alferes rende-se aos encantos de uma mulher linda, mas terrvel. Esse conto, como os demais antecedido por uma citao bblica: V pois,que passam os meus breves anos, e eu caminho por uma vereda,

    pela qual no voltarei (J,XVI,23.) Rubio mostra seu poder de prosad