O viva à Elis

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48 KULTUR MÚSICA Maria Rita encantou fãs ao interpretar as músicas da mãe em show no Parque das Mangabeiras .............................................................................................................................................................................................................................................................. O viva à Elis Pela primeira vez, Maria Rita viaja Brasil afora com um show em que ela interpreta só músicas que fizeram sucesso com a mãe e emociona um público que nunca se esqueceu da Pimentinha do Brasil “De repente, hoje de manhã, em São Paulo, o coração de Elis parou. Calou-se a voz. E o Brasil começou a chorar”. Era assim que, no dia 19 de janeiro de 1982, o jornalista Sérgio Chapelin anunciava a morte de uma das mais consagradas vozes do mundo. Completam- se 30 anos desde o dia em que milhares de brasileiros ficaram quase 24 horas na fila esperando para ver Elis Regina pela última vez. O Brasil se chocou com a notícia e caiu em lágrimas. Maria Rita guarda a lembrança desse dia como a única de sua mãe, quando, com apenas quatro anos, viu Elis, linda, deitada, descansando tranquilamente. Depois de três décadas, Maria fez a Pimentinha do Brasil renascer. Demonstrando que parte da mãe sempre estará com ela, a cantora entrou com cara e coragem no projeto Nivea Viva Elis. Provou, inclusive para si mesma, que estava pronta para lidar com o desafio de reviver a história da mãe. Foi na cidade natal de Elis que a homenagem começou. Em Porto Alegre, uma semana após o que seria o aniversário de 67 anos do mito da MPB, Maria Rita entrou no palco como um anjo: toda de branco, com um manto caindo dos braços como asas, cabelos enrolados e um misto de determinação e medo no olhar. Com sorrisos nervosos que muito lembram a mãe, um pouco de choro contido, expressões fortes e muita música, o Viva à Elis passou por Recife, antes de chegar à capital dos mineiros. Ao contrário do que aconteceu nos outros estados, vergonhosamente, em Belo Horizonte o público teve número limitado. Por algumas exigências da comunidade local, apenas 10 mil ingressos foram entregues para o tão aguardado show no Parque das Fernanda Carvalho Fernanda Carvalho

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Pela primeira vez, Maria Rita viaja Brasil afora com um show em que ela interpreta só músicas que fizeram sucesso com a mãe e emociona um público que nunca se esqueceu da Pimentinha do Brasil

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Maria Rita encantou fãs ao interpretar as músicas da mãe em show no Parque das Mangabeiras..............................................................................................................................................................................................................................................................

O viva à ElisPela primeira vez, Maria Rita viaja Brasil afora com um show em que ela interpreta

só músicas que fizeram sucesso com a mãe e emociona um público que nunca se esqueceu da Pimentinha do Brasil

“De repente, hoje de manhã, em São Paulo, o coração de Elis parou. Calou-se a voz. E o Brasil começou a chorar”. Era assim que, no dia 19 de janeiro de 1982, o jornalista Sérgio Chapelin anunciava a morte de uma das mais consagradas vozes do mundo. Completam-se 30 anos desde o dia em que milhares de brasileiros ficaram quase 24 horas na fila esperando para ver Elis Regina pela última vez. O Brasil se chocou com a notícia e caiu em lágrimas. Maria Rita guarda a lembrança desse dia como a única de sua mãe, quando, com apenas quatro anos, viu Elis, linda, deitada, descansando tranquilamente.

Depois de três décadas, Maria fez a Pimentinha do Brasil renascer. Demonstrando que parte da mãe sempre estará com ela, a cantora entrou com cara e coragem no projeto Nivea Viva Elis. Provou, inclusive para si mesma, que estava pronta para lidar com o

desafio de reviver a história da mãe.

Foi na cidade natal de Elis que a homenagem começou. Em Porto Alegre, uma semana após o que seria o aniversário de 67 anos do mito da MPB, Maria Rita entrou no palco como um anjo: toda de branco, com um manto caindo dos braços como asas, cabelos enrolados e um misto de determinação e medo no olhar. Com sorrisos nervosos que muito lembram a mãe, um pouco de choro contido, expressões fortes e muita música, o Viva à Elis passou por Recife, antes de chegar à capital dos mineiros.

Ao contrário do que aconteceu nos outros estados, vergonhosamente, em Belo Horizonte o público teve número limitado. Por algumas exigências da comunidade local, apenas 10 mil ingressos foram entregues para o tão aguardado show no Parque das

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Mangabeiras. Se Elis estivesse viva, ela faria um deboche em alto e bom tom: “(o ser humano) tá cada vez mais down no high society”.

Depois de quase cancelado, o show seguiu o mesmo repertório das outras cidades. Das 65 músicas pré- -selecionadas por Maria Rita dos mais de 40 discos lançados por Elis, quase 30 canções, que fizeram parte do DNA da gaúcha, foram interpretadas pela filha. Uma escolha que pode ter parecido estranha aos ouvidos de muitos, mas que foi a ideal para relembrar todas as fases da protagonista do show.

Os 10 mil presentes tiveram a chance de “reviver” a trajetória da cantora, passando pelo seu jeito de criança feliz, indo à mulher politizada, relembrando os maiores amigos, amores e mais admirados compositores. Uma surpresa para os fãs veio logo de início: na música “Imagem”, a voz de mulher forte e intrépida de Elis surge defendendo o “cantar o que é nosso”.

Durante quase todo o show, bolinhas de sabão distribuídas ao público estampavam o céu. Bastões de plástico acompanhavam os aplausos ao fim de cada música. E Maria Rita relembrava a mãe não apenas com as músicas, mas contando histórias. “Essa música (O Bêbado e

a Equilibrista) passa por uma das características mais fortes da personalidade da minha mãe, que era seu envolvimento social e consciência política aguda. Um senso crítico que há muito não se vê. Minha mãe acreditava – e eu cresci com esse valor dentro de casa – que o artista, por ter um canal aberto e direto com o seu público, tem a obrigação de estabelecer, no mínimo, um diálogo, de fazer pensar, de instigar”, relembrou antes de cantar Menino e Onze Fitas.

Interpretar Elis não seria nem tarefa fácil, nem para qualquer um. Comparada insistentemente com a mãe pelos antigos fãs, Maria Rita conseguiu cumprir a tarefa com brilhantismo. Afinal, ao contrário do desejo de muitos, Maria Rita interpretou Elis sem deixar de ser Maria Rita, assim como Elis sempre foi Elis, mesmo cantando músicas de outros.

Muitos dizem que os shows de Elis eram também teatro. Talvez o fossem, mas apenas um pouco. Ela, de fato, era extremamente expressiva. Mas as caras e bocas do furacão Elis talvez representassem mais. Eram reflexos do que se passava dentro dela: dos sentimentos e pensamentos. Ao mesmo tempo em que era transparente e não tinha receio de se mostrar verdadeiramente, era um enigma. Como ela mesma disse: “eu não tenho a menor intenção de ser simpática a algumas pessoas. Me furtam o direito inclusive de escolher. (...) Quando descobrirem que estou verde, já estarei amarela. Eu sou do contra. Sou a Elis Regina Carvalho Costa que poucas pessoas vão morrer conhecendo”.

Maria Rita pouco conviveu com a mãe, mas ouve seu nome e suas histórias a cada esquina que vira. No show, ela demonstrou que a história de Elis foi passada para ela não somente por vozes, mas pelo sangue. Nas mais de duas horas de duração do show, o público de todo o Brasil teve a chance de se aproximar da voz mais ressoante do país. Maria Rita deu a certeza aos fãs de que a cantora gaúcha não se foi em 1982. Ela permanece viva, agora, mais do que nunca. Afinal, Elis sempre será a eterna Elis.

Além dos shows de Maria Rita, o evento em homenagem a Elis contará com uma exposição itinerante que começou por São Paulo. Ela traz mais de 500 fotos da cantora, assim como entrevistas, pôsteres, vídeos, in-gressos dos shows, objetos pessoais, um documentário com depoimen-to de vários artistas, revistas e jornais da época. Em Belo Horizonte, a exposição chega apenas no dia 27 de novembro ao Palácio das Artes.

A homenagem continua...

Elis Regina era expressiva e intensa em suas interpretações.........................................................................................................................

Nivea Viva Elis/ Divulgação