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INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
MARIA REGINA COSTA MOREIRA
O USO DA INFORMAÇÃO COMO FATOR GERADOR DE
INTELIGÊNCIA COMPETITIVA NA ESTRATÉGIA DAS
MICRO E PEQUENAS EMPRESAS
Trabalho final apresentado ao Instituto
A Vez do Mestre como requisito parcial
à obtenção do grau de especialista em
Gestão do Varejo.
Orientador Prof. Jorge Tadeu Vieira Lourenço
Rio de Janeiro
Julho de 2010
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INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
Pós-Graduação em Gestão do Varejo
O USO DA INFORMAÇÃO COMO FATOR GERADOR DE
INTELIGÊNCIA COMPETITIVA NA ESTRATÉGIA DAS
MICRO E PEQUENAS EMPRESAS
Maria Regina Costa Moreira
Rio de Janeiro
Julho de 2010
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RESUMO
Este trabalho tem por objetivo detectar os motivos pelos quais as Micro
e Pequenas Empresas (MPE) ainda não fazem uso intensivo da Informação
como fator gerador de Inteligência Competitiva (IC) em seu planejamento
estratégico (PE). As MPEs representam 98% do total de empresas no Brasil,
porém não fazem uso de planejamento estratégico, de informação e de
Inteligência Competitiva, além de apresentarem fortes problemas ligados ao
conhecimento precário e até mesmo deficitário de seus gestores. Através de
pesquisa bibliográfica e de campo, mostramos que aos poucos o uso dessas
ferramentas vem sendo implantado, embora ainda de forma tímida, e que já se
percebe um maior nível de competitividade e, consequentemente, maior
longevidade para essas empresas que, estatisticamente, fecham ao longo de 2
a 5 anos de vida. Percebe-se que as MPEs buscam informação, mas não a
utilizam de forma a gerar um diferencial competitivo, o que seria um fator
importante para se firmarem no mercado em que atuam. Da mesma forma as
empresas tentam se planejar, mas, por não o fazerem de forma estruturada,
acabam se perdendo no meio do caminho, gerando desperdícios e prejuízos
muitas vezes desnecessários. Sem falar nos riscos que, por não serem
avaliados de forma aprofundada através da coleta e análise de informações
relevantes, não são minimizados e acabam gerando problemas que poderiam
ser antecipados e, consequentemente, eliminados.
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METODOLOGIA
A metodologia utilizada para a apresentação deste trabalho se baseou
em pesquisas bibliográficas, a partir das quais, por meio de estudos de
diversos autores, ampliou-se o conhecimento no que tange ao alcance e à
utilização da Informação e da Inteligência Competitiva. Pontuamos no presente
trabalho o uso precário, ainda hoje, de tais ferramentas, afirmando-as como
indispensáveis para a criação de estratégias nas empresas.
Por meio de uma pesquisa de campo junto a Gestores e Funcionários
de Micro e Pequenas Empresas, fizemos um levantamento amostral no qual
ratificamos as pesquisas feitas em livros, periódicos, artigos e publicações
diversas em que se verifica o uso ainda indevido da Informação como um
diferencial competitivo para a geração de inteligência nas empresas.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................ 6
1 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO, INFORMAÇÃO E INTELIGÊNCIA
COMPETITIVA ............................................................................................... 10
1.1 ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO ................................14
1.2 INFORMAÇÃO ......................................................................................... 21
1.3 INTELIGÊNCIA COMPETITIVA ............................................................... 23
2 INTELIGÊNCIA COMPETITIVA COMO FERRAMENTA ESTRATÉGICA. 26
3 ANÁLISE DA PESQUISA............................................................................ 32
CONCLUSÃO.................................................................................................. 34
REFERÊNCIAS BIBILIOGRÁFICAS............................................................... 37
ANEXO 1 ......................................................................................................... 41
ANEXO 2 ......................................................................................................... 46
ANEXO 3 ......................................................................................................... 49
6
INTRODUÇÃO
As novas tecnologias de informação possibilitam uma revolução na
estratégia de tomada de decisões das empresas. Os dados coletados a partir
da análise sistemática do mercado podem orientar os passos das companhias.
Isso é Inteligência Competitiva.
Porém, seja por falta de conhecimento ou por falta de infraestrutura, é
grande o número de empresas que não fazem uso da Inteligência Competitiva
(IC) para acompanharem as mudanças cada vez mais constantes e rápidas do
mercado.
Este estudo tem por objetivo detectar os motivos pelos quais as Micro
e Pequenas Empresas (MPE) ainda não fazem uso intensivo da Inteligência
Competitiva em seu planejamento estratégico e, por conseguinte, mostrar os
benefícios que a IC proporciona aos tomadores de decisão, na medida em que
disponibiliza ferramentas e análises que minimizam riscos ao fornecer
informações relevantes para o negócio.
Por intermédio de pesquisa feita em algumas empresas com seus
gestores e funcionários, ratificamos teorias e informações obtidas em livros,
revistas e pesquisas que mostram o desconhecimento e a não utilização da IC
nas organizações. Com isso foi possível apresentar um panorama do
conhecimento e uso da IC bem como sugestões para que as empresas possam
aproveitar de forma adequada as ferramentas disponíveis no mercado.
As MPEs desempenham um papel de extrema importância no cenário
econômico brasileiro, pois respondem por boa parte das ocupações geradas e
contribuem para um grande percentual do PIB brasileiro. Sua
representatividade para a economia brasileira pode ser entendida com o auxílio
dos seguintes dados do Sebrae (2007).
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• 5,1 Milhões de estabelecimentos;
• 48% da produção nacional;
• 98,5% das empresas existentes no país;
• 95% das empresas do setor industrial;
• 99,1% das empresas do setor de comércio;
• 99% das empresas do setor de serviço;
• 60% da oferta de emprego;
• 42% do pessoal ocupado na indústria;
• 80,2% dos empregos no comércio;
• 63,5% da mão-de-obra do setor de serviços;
• 30% do Produto Interno Bruto.
Antes de aprofundarmos neste estudo, vale informar que as MPEs são
classificadas segundo o número de empregados e arrecadação, conforme
dados do Sebrae:
Os critérios que classificam o tamanho de uma empresa constituem um importante fator de apoio às micro e pequenas empresas, permitindo que estabelecimentos dentro dos limites instituídos possam usufruir os benefícios e incentivos previstos nas legislações.
No Estatuto da Micro e Pequena Empresa, de 1999, o critério adotado para conceituar micro e pequena empresa é a receita bruta anual, cujos valores, atualizados pelo Decreto nº 5.028/2004, de 31 de março de 2004, são os seguintes:
- Microempresa: receita bruta anual igual ou inferior a R$ 433.755,14 (quatrocentos e trinta e três mil, setecentos e cinqüenta e cinco reais e quatorze centavos);
- Empresa de Pequeno Porte: receita bruta anual superior a R$ 433.755,14 e igual ou inferior a R$ 2.133.222,00 (dois milhões, cento e trinta e três mil, duzentos e vinte e dois reais).
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Atualmente, esses critérios são adotados em diversos programas de crédito do governo federal em apoio às MPE.
É importante ressaltar que o regime simplificado de tributação, SIMPLES, que é uma lei de cunho estritamente tributário, adota um critério diferente para enquadrar micro e pequena empresa. Os limites, conforme disposto na Medida Provisória 275/05, são:
- Microempresa: receita bruta anual igual ou inferior a R$ 240.000,00 (duzentos e quarenta mil reais);
- Empresa de Pequeno Porte: receita bruta anual superior a R$ 240.000,00 (duzentos e quarenta mil reais) e igual ou inferior a R$ 2.400.000,00 (dois milhões e quatrocentos mil reais). (SEBRAE, 2010)
A escolha deste tipo de empresas para o estudo se deve ao fato de as
MPEs representarem um total de 97,5 % das empresas existentes no Brasil em
2006, como mostra a tabela abaixo.
Quadro 1 – Percentual de Micro e Pequena Empresa no Brasil
Ano Micro Micro e Pequena Empresa
Total Média Grande Total (N. Absolutos)
2002 84,4 13,2 97,6 1,5 0,9 1.905.912 2003 84,3 13,3 97,6 1,5 0,9 1.963.674 2004 83,9 13,6 97,5 1,5 0,9 2.054.841 2005 83,7 13,8 97,5 1,6 0,9 2.148.906 2006 83,6 13,9 97,5 1,6 0,9 2.241.071
(Fonte: Sebrae - Anuário do trabalho na micro e pequena empresa: 2008.)
Analisando estes números, fica clara a importância das MPEs para a
economia brasileira, e, tendo em vista que as mesmas não fazem uso da
Inteligência Competitiva para tomada de decisão, este estudo é de grande
importância para uma mudança da realidade atual.
No capítulo 1 iremos abordar os conceitos de Planejamento
Estratégico, Informação e Inteligência Competitiva como base para o
entendimento do estudo proposto.
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No capítulo 2 falaremos sobre a Inteligência Competitiva, o seu uso,
seus números e aplicações como uma ferramenta estratégica para as Micro e
Pequenas Empresas. Faremos também uma análise da pesquisa de campo
feita junto a alguns empresários e colaboradores de MPE.
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CAPÍTULO I
PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO, INFORMAÇÃO E
INTELIGÊNCIA COMPETITIVA
Antes de a questão do uso da Inteligência Competitiva nas MPEs ser
abordada é preciso entender alguns conceitos que se mostram presentes no
dia a dia dessas empresas e que muitas vezes são ‘deixados de lado’ por seus
gestores.
Para Mintzberg et al (1999), os conceitos que a literatura apresenta
podem ser agrupados da seguinte forma:
• Estratégia é planejamento: é sinônimo mais comum ao lado de
direção, guia, modo de ação futura, entre outros;
• Estratégia é modelo: é um padrão que permite manter a coerência
ao longo do tempo;
• Estratégia é posicionamento: é o lugar escolhido para
determinados produtos ou serviços em determinados mercados;
• Estratégia é perspectiva: é o meio fundamental para a execução
de tarefas;
• Estratégia é armadilha: é uma manobra específica, destinada a
abalar um concorrente.
Com a estratégia tem-se o planejamento estratégico, que nada mais é
que um processo gerencial que possibilita estabelecer um direcionamento a ser
seguido pela empresa, visando à sua otimização em seu ambiente. O
planejamento é uma das tarefas mais importantes do administrador, pois
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pressupõe: escolher um objetivo, avaliar os caminhos alternativos e decidir o
rumo que possibilitará alcançar o objetivo definido.
Stoner e Freeman (1995) dizem que
[...] o planejamento possui dois aspectos básicos, que são vitais para a organização: determinação dos objetivos da organização e escolha dos meios para alcançar estes objetivos. Tais aspectos básicos do planejamento apóiam-se em métodos, planos ou lógica, não sendo, portanto, intuitivos. (STONER; FREEMAN, 1995)
Para compreender melhor o que é Inteligência Competitiva é preciso
conhecer alguns conceitos, tais como dados e informação, que são peças-
chave da IC e que possibilitam a geração do produto de inteligência.
Dados são uma sequência de símbolos quantificados ou
quantificáveis. São elementos brutos, sem significado, desvinculados da
realidade. São, segundo Davenport (1998, p. 19), “observações sobre o estado
do mundo”. São símbolos e imagens que não desfazem nossas incertezas.
Constituem a matéria-prima da informação. Dados sem qualidade levam a
informações e decisões da mesma natureza.
As informações são dados com significado. “São dados dotados de
relevância e propósito”, segundo Drucker (apud Davenport, 1998, p.18). Elas
são o resultado do encontro de uma situação de decisão com um conjunto de
dados, ou seja, são dados contextualizados que visam fornecer uma solução
para determinada situação de decisão, conforme MacDonough e Lussato
(1991). A informação pode, assim, ser considerada como dados processados e
contextualizados.
Aldo Barreto, em seu artigo “A Transferência da Informação para Gerar
Conhecimento” define informação como “estruturas significantes com a
competência de gerar conhecimento no indivíduo, em seu grupo, ou a
sociedade”. E segue dizendo que “a informação, quando adequadamente
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assimilada, produz conhecimento, modifica o estoque mental de informações
do indivíduo e traz benefícios ao seu desenvolvimento e ao desenvolvimento
da sociedade em que ele vive” Aldo Barreto continua dizendo sobre o valor da
informação:
O valor da informação é uma “medida” que se localiza na realidade onde habitam os potenciais receptores e se operacionaliza pela transferência da informação. Caso seja possível idealizar uma hierarquia de valores, podemos dizer que o valor de troca da informação diz respeito à quantidade monetária que o receptor estaria disposto a pagar por um item ou produto de informação. O valor de uso se associa à utilidade da informação para o usuário receptor e subjuga ou redireciona o valor de troca . O valor simbólico é entendido aqui como sendo a capacidade do usuário da informação em acessar e utilizar positivamente o código simbólico no qual a informação está estruturada. O valor simbólico limita e condiciona os outros dois valores. (BARRETO, 1996)
Conforme Tefki Saracevic, o valor da informação é calculado pela
diferença entre a utilidade esperada da decisão tomada sem a informação e a
utilidade esperada da melhor decisão possível tomada após recebimento e
análise da informação.
Porém, a informação e sua gestão envolvem pessoas, equipamentos e
procedimentos, por isso Sianes (2006, p. 255) ressalta que “o homem está no
centro do mundo da informação e que trabalhar a cultura organizacional e,
especialmente, o comportamento informacional das organizações é um fator
decisivo para o sucesso empresarial”. Sem essa cultura informacional o
diferencial competitivo das empresas fica comprometido, pois as mudanças são
contínuas e faz-se necessário um acompanhamento rigoroso e genuíno na
coleta e análise das informações.
Por fim, pode-se definir a Inteligência Competitiva como o resultado da
análise de informações e dados coletados que irá embasar decisões. O
processo de Inteligência Competitiva é o que dá a visão geral consistente, a
partir das informações, para que se torne possível elaborar um planejamento
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estratégico adequado e, segundo Gomes e Braga (2006, p. 119), “é essencial
para as organizações que desejam sustentar suas vantagens competitivas
estarem alertas para as mudanças que ocorrem no seu mercado”, pois
somente as empresas que acompanharem o mercado e suas mudanças
conseguirão sobreviver em um mundo globalizado onde produtos são cada vez
mais copiados e serviços inovadores passam a ser o diferencial.
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1.1 - ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO
Uma vez entendidos os conceitos acima, fica clara a importância de a
empresa ter uma boa estratégia e construir um planejamento estratégico para
aumentar seu valor competitivo.
Policastro (2000) considera algumas razões para uma empresa
desenvolver o planejamento estratégico:
• O avanço tecnológico e as rápidas transformações no mercado
trouxeram uma maior complexidade à gestão das empresas, e o
planejamento estratégico pode ajudar o empresário a prever e reagir
rapidamente às mudanças mercadológicas e aproveitar melhor as
oportunidades, bem como identificar áreas de negócios promissoras;
• O controle financeiro, por si só, já não é suficiente para o sucesso
de uma empresa nos negócios. O planejamento estratégico atua de
forma complementar, indicando a direção futura da empresa ao
estabelecer objetivos de longo prazo;
• O planejamento estratégico possibilita promover a interação entre
os funcionários, envolvendo-os em todas as suas áreas de atividade,
ao disseminar o objetivo por toda a empresa;
• A empresa pode utilizar o planejamento estratégico para
apresentar o seu negócio a parceiros e credores.
Mais que se preocuparem com estratégia, as empresas precisam se
abrir para a estratégia competitiva, que, segundo Porter (1995), consiste em
ser diferente, significa escolher deliberadamente um conjunto diferente de
atividades para fornecer uma combinação única de valor.
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Para Kotler e Armstrong (1993) e Stoner e Freeman (1995), o
planejamento pode oferecer muitos benefícios para as empresas, tais como:
• Encorajá-las a pensar sistematicamente no futuro e a melhorar as
relações entre funcionários e gestores;
• Obrigá-las a definir melhor seus objetivos e suas políticas;
• Fazê-las obter e aplicar os recursos necessários ao alcance dos
seus objetivos;
• Estimular as pessoas envolvidas a realizarem atividades
consistentes em relação aos objetivos e procedimentos escolhidos;
• Proporcionar padrões de desempenho mais fáceis de controlar; e
• Adotar ações corretivas caso o resultado de suas ações não seja
satisfatório.
Para Megginson et al (1986), o planejamento estratégico proporciona
vantagens para a competitividade das empresas, tais como:
• Ajuda a administração a adaptar-se às mudanças no ambiente;
• Contribui para a consolidação de acordos sobre assuntos
importantes;
• Habilita os gestores a enxergarem o quadro operativo com maior
clareza;
• Mostra como determinar mais precisamente as responsabilidades;
• Atua na coordenação entre as várias áreas da empresa;
• Tende a tornar os objetivos mais específicos e conhecidos;
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• Minimiza a adivinhação; e
• Poupa tempo, esforços e recursos financeiros.
Para responder de forma rápida e eficiente às alterações competitivas
do mercado, as empresas precisam ser flexíveis, e neste quesito as Micro e
Pequenas Empresas saem na frente das Grandes Empresas, que têm seus
processos mais lentos e uma estrutura mais hierarquizada. Porém, as MPEs,
por outro lado, são mais sensíveis às variações do mercado, pois têm uma
estrutura financeira, em sua maioria, frágil e com difícil acesso a instituições
financeiras. Tais fatores dificultam o bom desempenho e até mesmo
comprometem a competitividade por não terem como bancar projetos de
inovação, capital de giro e até mesmo aquisição de matéria-prima para
aumento de produção.
A palavra do momento na administração de uma empresa não é mais
posicionamento, mas estratégia, que, segundo Porter (1996), “é a criação de
uma posição única e valiosa que engloba um conjunto diferente de atividades”,
ou seja, “é escolher atividades diferentes das dos rivais”. Ainda segundo Porter,
[...] a essência da estratégia é decidir o que não fazer. Sem os trade-offs, não haveria necessidade de fazer escolhas e, portanto, de ter estratégias. O sucesso da estratégia depende de se conseguir fazer muitas coisas bem e em saber integrá-las. Se não houver adaptação entre as atividades, não há estratégia distintiva nem sustentabilidade. (PORTER, 1995)
Se o planejamento estratégico é fundamental para a sobrevivência e o
crescimento das MPEs, por que não é utilizado de forma eficaz? Será que os
gestores/proprietários não se empenham na busca por informação, treinamento
e atualização? A pesquisa feita com alguns empresários nos dará uma
pequena base para responder a tais questionamentos.
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É preciso ter claro que o planejamento estratégico também traz
algumas desvantagens, segundo Megginson et al (1986), tais como:
• Envolver um trabalho que pode exceder suas verdadeiras
contribuições;
• Levar à demora nas ações;
• Restringir indevidamente a iniciativa e a inovação da
administração (gestores);
• Permitir que poucos planos sejam consistentemente seguidos.
Estas desvantagens muitas vezes são as causas que desestimulam
muitas empresas a investir recursos na elaboração de um planejamento
estratégico, por acreditarem que, se não for para fazer um planejamento
completo, melhor será não fazer nenhum. Porém, vale repetir que as MPEs têm
a seu favor a agilidade, por serem menores e terem menos processos e
hierarquias, o que torna o planejamento estratégico menos complicado de ser
implantado, gerando maior competitividade e visão do negócio e trazendo um
forte aliado para a minimização dos riscos na tomada de decisão.
É sabido que a maior causa de mortalidade das Micro e Pequenas
Empresas é a falta de gestão ou o ‘despreparo’ dos donos de empresa ou seus
gestores. O planejamento das empresas, na maioria das vezes, é informal,
quando existe. Essa ausência de planejamento estratégico traz uma
considerável fragilidade aos negócios, pois muitas vezes as decisões são
tomadas por intuição, por forte necessidade do momento ou por parecer ser a
certa, porém sem nenhum estudo real da situação, uma análise estruturada
das reais necessidades e as ações mais apropriadas para a solução favorável
para a empresa.
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A estratégia nas MPEs ainda não é aplicada de forma efetiva, e
podemos observar que muitas vezes é por mero desconhecimento do assunto
ou até mesmo por desconhecimento de instituições que prestam auxílio às
empresas. A grande maioria das MPEs faz uso de um planejamento informal,
sem nenhum método ou uso de ferramentas tecnológicas, como programas
financeiros, banco de dados ou recursos humanos.
Segundo pesquisa feita pelo Núcleo de Informação e Coordenação do
Ponto BR – NIC.br (http://www.nic.br), 97% das pequenas empresas possuem
computadores e 93% possuem internet, mas este percentual nas
microempresas é bem menor. Informações do Sebrae, no Rio de Janeiro,
relatam que apenas 20% das microempresas possuem computadores.
Entretanto, o quadro não é tão pessimista, pois, conforme levantamento do
mesmo Sebrae, é crescente a procura por informações tecnológicas pelos
micro e pequenos empresários.
Entendemos que a demanda por informação é o primeiro passo para
que a empresa comece a se preocupar com a importância da capacitação
tecnológica. Essa preocupação revela um quadro no qual já se veem empresas
com noção do valor do processo de desenvolvimento tecnológico, algo que há
bem pouco tempo não existia, pois as MPEs tratavam a tecnologia como coisa
sofisticada e distante de sua realidade e necessidade.
Segundo Gomes e Braga (2006), a criação de um sistema de
inteligência competitiva, ao identificar os sinais que o mercado envia, é um
grande aliado da tomada de decisão por parte dos gestores, pois ele fornece
informação estratégica de alto nível e informação analisada.
Conforme relatam, “[...] a função de um sistema de inteligência será de
modo contínuo, legal e sistemático coletar, tratar, analisar e disseminar, em
tempo hábil, essas informações analisadas sobre o ambiente competitivo para
apoiar a tomada de decisão” (GOMES; BRAGA, 2006, p.122).
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Segundo Tiffany e Peternos (1998), as razões que levam as MPEs ao
fracasso do planejamento estratégico são:
• Ausência de visão de longo prazo;
• Incapacidade de definir metas e objetivos claros;
• Compreensão equivocada do que os clientes querem;
• Visão subestimada da concorrência;
• Planejamento financeiro inadequado;
• Procedimentos e sistemas ineficazes;
• Incapacidade de mudar; e
• Inabilidade para comunicar o plano para os demais membros da
empresa.
Não podemos deixar de mencionar que a carência de crédito para as
MPEs muitas vezes é fator de fracasso, uma vez que se estima que 13 milhões
de brasileiros não têm acesso a crédito, mesmo se tratando de pessoas
produtivas que empreendem mais de 9,5 milhões de pequenos negócios. A
falta de garantia é um dos principais motivos que levam instituições financeiras
a recusarem crédito aos micro e pequenos empresários. Apesar de Sebrae,
BNDES e Banco do Brasil manterem linhas de crédito para as MPEs, ainda
podemos considerar precário o acesso ao crédito, o que devemos lamentar,
pois as MPEs são as maiores empregadoras do País e mereciam um cuidado
maior por parte dos governos.
Estudos mostram que, para um melhor desempenho das MPEs, a
parceria é peça-chave nos resultados. A união de empresas com objetivos em
comum permite uma maior competitividade e até mesmo negociação com
fornecedores e clientes. Os Arranjos Produtivos Locais (APL) são um exemplo
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de parceria que vem mostrando ao longo do tempo que pode contribuir para o
crescimento das empresas, levando a maior estabilidade e resultados. É o uso
do planejamento estratégico de forma inteligente, participativa e com
resultados.
21
1.2 - INFORMAÇÃO
Nenhuma estratégia e nenhum planejamento estratégico serão bem
executados sem a busca por informação, principalmente aquelas que sejam
relevantes e que auxiliem na tomada de decisão, pois, considerando que se
trata de importante fonte de vantagem competitiva, a informação se torna
altamente importante para a formulação da estratégia das empresas.
Num mercado cada dia mais disputado, preço e qualidade já deixaram de ser diferenciais competitivos. Essa competitividade exige, hoje, um acesso imediato a informações relevantes que auxiliem a tomada de decisão, uma coordenação eficaz e integração efetiva dos recursos humanos, de informação e de comunicação disponíveis, além de políticas de redução de custos e da eliminação de duplicidade dos esforços de coleta, organização, armazenamento, intercâmbio e utilização das informações produzidas interna ou mesmo externamente às organizações. (Starec, 2006, p.48)
O quadro abaixo nos mostra as principais características de dados,
informação e conhecimento que são a base para a geração de um produto de
Inteligência.
Quadro 2 - Comparativo entre Dados, Informação e Conhecimento
Quadro 1 – Dados, Informação e Conhecimento
Dados Informação Conhecimento
Simples observações sobre o estado do mundo
Dados dotados de relevância e propósito
Informação valiosa da mente humana
Inclui reflexão, síntese, contexto
Facilmente estruturado Facilmente obtido por máquinas Freqüentemente quantificado Facilmente transferível
Requer unidade de análise Exige consenso em relação ao significado Exige necessariamente a mediação humana
De difícil estruturação De difícil captura em máquinas Freqüentemente tácito De difícil transferência
Fonte: Davenport, 1998, p. 18.
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Para uma maior compreensão de todo o material estudado, foi feita
uma pesquisa com empresários de Micro e Pequenas Empresas que, ao
responderem às perguntas (pesquisa no ANEXO I), nos forneceram
informações relevantes para as conclusões encontradas.
É por intermédio da informação que empresários e gestores podem se
embasar de forma mais segura no momento da tomada de decisão, pois é com
informações relevantes, que basicamente são a matéria-prima de um produto
de inteligência, que se minimizam os riscos e se inserem vantagens
competitivas em produtos e serviços das empresas e para isto, segundo Starec
(2006, p. 56), “a informação não pode, nem deve, ser armazenada em silos
informacionais, sem ser compartilhada pelos tomadores de decisão nas
organizações”.
Segundo Wersig (1975), a intenção do emissor da informação deve ser
a de aperfeiçoar a comunicação de forma a transferir as informações da melhor
forma possível e de maneira simples. Mas, o ideal é conhecer as necessidades
informacionais daqueles que receberão as informações.
Segundo Roedel (2006, p. 80),
[...] a utilização da informação contextualizada pela inteligência competitiva permite às empresas acumular o máximo entendimento sobre a rapidez das mudanças no ambiente de negócios em tempo real, disseminando-se uma informação de alto valor agregado para a tomada de decisões, comprometida com a construção do futuro dos negócios.
Ao falar sobre o treinamento de usuários, Wersig (1975) aponta
barreiras informacionais como, por exemplo, a barreira terminológica, a barreira
de capacidade de leitura ou de nível de entendimento, a barreira do tempo etc.
Nossa pesquisa teve como objetivo detectar os principais motivos que
levam os gestores e empresários a não contratar profissionais de IC para seus
negócios, bem como estabelecer seu nível de conhecimento do assunto, além
do grau de importância que dão à informação e suas consequências.
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1.3 INTELIGÊNCIA COMPETITIVA
De acordo com a Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa
Tecnológica (ABIPTI),
[...] a inteligência competitiva é um processo analítico que envolve informações sobre todas as organizações e eventos do meio externo que são importantes à organização, causando algum tipo de impacto. A inteligência está em transformar informações dispersas em conhecimento estratégico para a organização. (CAMPESTRINI et al, 2008, p. 429).
Estratégias voltadas apenas para atender às necessidades do
consumidor não garantem mais o sucesso da empresa. O monitoramento do
ambiente externo, incluindo concorrência e novas tecnologias, é essencial para
que as empresas possam identificar ameaças e antecipar oportunidades que
lhes permitam permanecer competitivas no mercado.
Podemos dizer, então, que Inteligência Competitiva é um processo
contínuo e formalizado pelo qual se avalia a movimentação do mercado em
que a organização atua e as capacidades e comportamentos de seus
concorrentes, com a finalidade de criar ou manter vantagem competitiva. Mais
do que isso, é um processo pelo qual as organizações se mantêm atualizadas
para que decisões possam ser tomadas de maneira rápida e eficiente.
Inteligência Competitiva pode ser entendida como um processo
sistemático de coleta, tratamento, análise e disseminação da informação sobre
as atividades dos concorrentes, fornecedores, clientes, tecnologias e
tendências gerais dos negócios, tendo por fim dar subsídios à tomada de
decisão para se atingirem as metas estratégicas da empresa (quadro 2). Com
isto, podemos afirmar que capacitar a empresa na utilização da IC permite que
seus funcionários façam uso da informação relevante como insumo essencial
para a proposição de estratégias e para a tomada de decisões.
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Figura 1 - O Ciclo da Inteligência Competitiva
(Fonte: Gomes & Braga, 2001.Adaptada por Regina Moreira)
A IC hoje é um pouco conhecida nas MPEs por ações dos APL
(Arranjos Produtivos Locais), que têm levado conceitos e ferramentas para os
empresários. Micro e pequenas empresas estão descobrindo que unir forças
pode trazer melhorias e resultados crescentes. Pela união pode-se aumentar a
rede de informações e a parceria estratégica entre setores, além de um preço
competitivo no mercado. É preciso construir empresas que saiam da
competição para a coopetição, é momento de partilhar, cooperar para competir.
“[...] todas as companhias, grandes ou pequenas, no mundo de hoje possuem
praticamente o mesmo acesso à informação. As companhias que convertem a
informação disponível em inteligência útil terminarão vencendo o jogo” (Fuld,
1995).
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Mais que converter informação em inteligência, as empresas precisam
saber usá-la de forma eficiente e na velocidade necessária. É importante
ressaltar que gestores devem estar sempre atentos às informações relevantes,
pois pior que não ter informação é ter excesso dela, a chamada hiper-
informação.
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CAPÍTULO II
INTELIGÊNCIA COMPETITIVA COMO FERRAMENTA
ESTRATÉGICA
O sucesso de uma empresa hoje depende crescentemente da
estratégia de seu negócio. A estratégia de negócio, no entanto, requer eficácia
operacional, que por sua vez depende da sincronia entre a estratégia de
negócio e os recursos capacitadores organizacionais: Tecnologia de
Informação (TI) e Inteligência Competitiva (IC). A TI é o mecanismo agilizador
da realização da estratégia. A IC alimenta as premissas do negócio.
Daniel Roedel observa que o uso da Inteligência Competitiva para
fornecer um direcionador estratégico às empresas pode sanar de forma
bastante eficiente as carências nos processos, pois a IC se caracteriza pelo
foco na identificação de vantagens competitivas, pela velocidade e objetividade
de seu uso e pela simplicidade de seu funcionamento. Além disso, ela é ideal
para capacitar as equipes de trabalho para utilizar a informação relevante como
matéria-prima fundamental nas ações estratégicas e nas tomadas de decisão.
Podemos dizer ainda que a Inteligência Competitiva é a capacidade de
entender o ambiente empresarial, o funcionamento da empresa e a capacidade
de formular alternativas de estratégias competitivas, sendo que esta última
deve ser delegada a um dos dirigentes ou sócios. Não se pode esquecer que a
colaboração e o entendimento de todos são cruciais para que a estratégia seja
vencedora, pois possibilita maior capacidade de discernimento na avaliação de
oportunidades e ameaças e maior discussão de idéias, alternativas e
estratégias.
É importante citar os pontos fracos das MPEs para entender o motivo
do fechamento dessas empresas, pois há alguns pontos importantes aos quais
27
os empresários e gestores devem ficar atentos para buscar melhorias para
minimizar os efeitos negativos. Abaixo alguns pontos negativos detectados:
• Influência das relações de parentesco nas atribuições de cargos e tarefas;
• Falta de planejamento estratégico, visão e missão;
• Confusão entre a pessoa física do empresário e a pessoa jurídica da empresa;
• Reduzida capacidade administrativa;
• Falta de conhecimento do mercado em que está inserida;
• Relação com os fornecedores;
• Setor produtivo defasado e sem qualidade;
• Pedidos acima da capacidade produtiva;
• Falta de uma política de recursos humanos;
• Não utilização de recursos computacionais;
• Endomarketing zero; e
• Falta de uma visão de melhoria contínua.
Tão importante quanto os pontos fracos são os pontos fortes, que
devem ser enfatizados, tendo em vista que são fator competitivo que deve ser
aproveitado em todas as suas possibilidades. Os pontos fortes detectados são:
• Maior flexibilidade em relação às grandes empresas;
• Caráter mais empreendedor;
• Comunicação mais efetiva entre subordinado e superior; e
• Contato mais próximo com o cliente.
28
As principais razões para o fechamento das MPEs são: ponto/local
inadequado, falta de conhecimentos gerenciais e desconhecimento do
mercado, além de causas econômicas. Entendemos que a IC tem todo um
ferramental para minimizar de forma considerável tais falhas, uma vez que
disponibiliza informações relevantes para a tomada de decisão, além de
contribuir na construção do planejamento estratégico.
As MPEs têm uma importância enorme para a economia do País,
segundo dados do Sebrae de 2006, conforme descrição abaixo:
• 98% das empresas do país;
• 67% das pessoas ocupadas (*);
• 56% dos empregados com carteira assinada (CLT);
• 62% das empresas exportadoras;
• 2,3% do valor das exportações;
• 20% do PIB.
Nota: (*) Pessoas ocupadas no setor privado. Inclui todos os tipos de
ocupações: sócios-proprietários, familiares e empregados com e sem
carteira.
Ao falar dos motivos de fechamento das MPEs, é preciso citar a
questão da inovação, que é fator importante, mas não determinante para o
sucesso de novos empreendimentos.
O Brasil ocupa a 13ª posição no ranking mundial de
empreendedorismo, conforme o Global Entrepreneurship Monitor de 2008. A
cada 100 brasileiros, 12 estavam envolvidos com alguma atividade
empreendedora, estando acima da média de países desenvolvidos, onde a
cada 100 pessoas apenas 7 estão envolvidas com atividades empreendedoras.
29
Vale ressaltar os fatores que motivam a atividade empreendedora:
empreendimentos por necessidade e empreendimentos por oportunidade,
sendo que o Brasil tem 2 empreendedores por oportunidade para cada
empreendedor por necessidade.
Gráfico 2 – RAIS – Distribuição percentual do número de
estabelecimentos por porte -2003
(Fonte: Boletim Estatístico de Micro e Pequenas Empresas – Observatório Sebrae, 1º Semestre 2005)
O Brasil possui uma das mais baixas taxas de lançamento de produtos
novos (desconhecidos pelo consumidor) e com nível de tecnologia com menos
de um ano no mercado, ficando bem abaixo dos concorrentes da América
Latina e do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China). Mesmo com as incubadoras,
relativamente recentes no Brasil, as empresas inovadoras e com base
tecnológica ainda são pequenas frente às dimensões geográficas do País, que
30
tem sérios problemas sociais e econômicos. Um maior apoio para as parcerias
universidade-empresa seria uma saída para melhorar esse quadro deficitário
da inovação.
O quadro abaixo mostra a fragilidade do empreendedor brasileiro ao
se lançar no mercado com produto/serviço nada ou pouco inovador.
Quadro 3 – Empreendedores brasileiros segundo características
de inovação dos empreendimentos
(Fonte: Metodologia GEM 2009)
Apesar da importância das MPEs, é importante ressaltar a
característica do empreendedor brasileiro conforme os dados abaixo:
• 84% abrem empresas com produtos não inovadores;
• 65% têm muitos concorrentes;
• 98% usam tecnologias disponíveis há mais de 1 ano no mercado;
• 85% não possuem expectativas de exportar seus produtos;
• 45% abrem a empresa para gerarem seu próprio emprego, sem
pensar em gerar novos empregos nos próximos cinco anos;
31
• 78,3% não têm expectativas de gerar mais do que 5 empregos (a
maioria para familiares), e;
• 60% estão ligados à prestação de serviço ao consumidor final,
com baixa qualificação, como, por exemplo, vendas de ambulante,
serviços de reparos domésticos, vendas de cosméticos, entre outros.
Quadro 4 – Potencial empreendedor segundo características dos
empreendimentos
(Fonte: Pesquisa GEM, 2009)
Vale ressaltar que estas características estão muito ligadas à
necessidade de sobrevivência, ou seja, a questões sociais e culturais do Brasil.
É preciso reverter este quadro para que a criação de novas empresas seja
baseada em conhecimento, em profissionalismo, em inovação, e é aí que a
Inteligência encontra seu maior potencial, pois pode agregar grande valor aos
negócios, gerando maior competitividade, inovações inteligentes e diminuição
dos riscos inerentes aos negócios.
32
CAPÍTULO III
Análise da Pesquisa
Com o objetivo de melhor entender o motivo pelo qual grande parte
das MPEs não faz uso da Inteligência competitiva, foi montada uma pesquisa
no site Zoomerang (www.zoomerang.com), que foi enviada para diversos
funcionários e empresários de empresas de pequeno e médio porte. Os dados
com o resultado final da pesquisa encontram-se nos Anexos 2 e 3.
Para que fosse possível identificar as causas do problema, a pesquisa
não se restringiu apenas aos temas Informação e Inteligência Competitiva, mas
também incluiu alguns programas importantes para as empresas, como os de
Qualidadde e Treinamento, além do próprio Planejamento Estratégico,
abordado de forma aprofundada neste trabalho.
A pesquisa foi enviada primeiramente aos gestores da empresa e em
seguida aos demais funcionários aos quais tivemos acesso. Este segundo
momento teve como meta verificar se as informações dentro de uma mesma
organização são coerentes, facilitando a visualização de falhas de
comunicação e disseminação de informações.
O objetivo principal da pesquisa foi buscar informações diretamente na
fonte, ou seja, nas MPEs, para tentar entender o que leva estas emrpesas a
não buscarem serviços de profissionais de IC, o nível de conhecimento do
assunto, a importância dada à informação. Além disso, era nosso objetivo
também ratificar a literatura pesquisada para este trabalho.
Um dos pontos que mais chamam a atenção diz respeito ao
Planejamento Estratégico (PE): apenas 32% das respostas foram positivas em
relação ao fato de a empresa ter um planejamento estratégico formal. Um total
de 36% das respostas indicam que a empresa tem um planejamento
estratégico informal, 23% revelam que a empresa não o possui e 9% não sabe
33
se a empresa possui PE. No caso específico destes 32% (23% dizem que não
possui e 9% não sabem se possui), observa-se que as informações não são
disseminadas nas empresas de forma adequada, tendo em vista que estas
respostas foram dadas na empresa em que o gestor respondeu ter
planejamento estratégico.
Outro ponto importante é que 45% das pessoas entrevistadas não
sabem o que é Inteligência Competitiva.
Também chama a atenção o fato de 95% dos entrevistados terem
acesso à internet, mas apenas 86% deles usam esta ferramenta como fonte de
informação. Também é pequena a análise dos concorrentes (43%), o que
mostra como as empresas não estão prestando a devida atenção ao mercado
em que atuam.
Além disso, apenas 50% das respostas foram positivas em relação ao
uso das fontes de informação no auxílio à gestão da empresa, e 32% apenas
disseram que elas são adequadas aos processos da empresa, mostrando
assim que muita informação é desperdiçada.
Um dado importante diz respeito ao clima de cooperação na troca de
informação, a respeito do qual 59% dos respondentes disseram existir,
mostrando que ainda é pequena a troca de informação entre os colaboradores
e gestores.
34
CONCLUSÃO
A pesquisa realizada mostrou que, mesmo existindo em todas as
empresas entrevistadas um clima de cooperação na troca de informações,
estas não são disseminadas de forma eficiente e, quando são, sua utilização
não acontece de forma estratégica, visando minimizar riscos, analisar
concorrentes, fornecedores e clientes, o que possibilitaria maior
competitividade frente aos concorrentes.
Fazer uso da informação de forma estratégica possibilitaria às MPEs
estar à frente em um mercado cada vez mais competitivo, além de permitir
maior entrada nesse mercado, uma vez que as informações relevantes são
utilizadas a favor do negócio e de forma objetiva e bem direcionada.
Em diversos casos, o que acontece é que a pesquisa não reflete
exatamente a verdade. Principalmente no caso de cooperação e troca de
informações, pois muitas pessoas ainda guardam as informações apenas para
si, em uma tentativa de permanecerem importantes dentro da organização ou
por medo de passarem a ser desnecessárias, uma vez que a informação é
disseminada entre outros membros da equipe.
Nestes casos, os líderes devem estar atentos para orientar a mudança
deste tipo de cultura dentro da organização, pois reter informação não colabora
para o crescimento da empresa e de seus resultados. Informação é para ser
compartilhada, e o exemplo deve partir, primeiramente, de gestores e
empresários, criando uma verdadeira “cultura informacional” na qual tudo é
compartilhado em prol dos resultados da empresa.
As empresas devem fazer e divulgar internamente seu planejamento
estratégico para que todas as áreas estejam alinhadas. Para isso, fontes de
informações como Concorrentes, Clientes, Institutos de Pesquisa, Bases de
Dados e Instituições Financeiras, devem ser usadas com mais frequência.
Estas últimas são geralmente deixadas de lado, o que é muito preocupante,
35
uma vez que, com a economia globalizada, crises financeiras em outros países
afetam diretamente a economia brasileira, como é o caso da crise americana
que culminou em setembro de 2008.
Ao compartilhar seu planejamento estratégico, a empresa está
sinalizando seus objetivos, seus propósitos, e para os colaboradores, estar
inserido no negócio da empresa cria um sentimento de pertença que só vem a
contribuir para o sucesso do negócio da empresa.
Com relação ao uso da tecnologia para a busca de informação, é
necessário que as MPEs esclareçam seus colaboradores quanto à importância
do uso de tecnologias, mesmo que seja pesquisa pela internet, para que os
mesmos criem uma cultura de interesse, de curiosidade por novas informações
e conhecimentos, e a internet pode ser uma grande aliada nesse processo, a
um custo baixíssimo.
Faz-se necessário e é recomendado um maior investimento nas
ferramentas de IC para que as empresas possam ser mais ágeis e flexíveis
para responderem rapidamente às alterações competitivas e do mercado.
Este custo muitas vezes é elevado e pode não ser possível para
pequenas empresas, mas existem alternativas de baixo custo que podem ser
usadas até que a empresa tenha condições de arcar com custos mais
elevados. Como hoje tudo pode ser feito pela internet, algumas empresas
criam suas bases de dados on line utilizando programadores recém-formados,
reduzindo assim o investimento necessário.
Outra forma de inserir a IC nas MPEs seria criar um setor de
inteligência com um pequeno investimento em um profissional que ficaria
responsável pelo estudo de necessidade de informação (qual informação e
onde buscar), coleta, análise e disseminação, que poderíamos chamar de
produto de Inteligência.
Por fim, a pesquisa mostrou que, de uma forma geral, as empresas
possuem algum conhecimento sobre IC, mas não existe nenhum procedimento
36
sistematizado e estruturado para coletar dados, processá-los e utilizar as
informações obtidas para a estruturação de um planejamento adequado, que,
em grande parte das empresas estudadas, não existe ou não é divulgado. É
necessário que seja feito um trabalho de base em toda a cadeia de informação
para que as empresas possam evitar problemas no futuro.
37
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