O trato pedagógico com a capoeira no ambito do PIBID/UNEB - EDUCAÇÃO FÍSICA -2009
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Transcript of O trato pedagógico com a capoeira no ambito do PIBID/UNEB - EDUCAÇÃO FÍSICA -2009
1
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS II
CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA
MÁRCIO DOS SANTOS PEREIRA
O TRATO PEDAGÓGICO COM A CAPOEIRA NO ÂMBITO
DO PIBID/UNEB – EDUCAÇÃO FÍSICA/2009
ALAGOINHAS
2012
2
MÁRCIO DOS SANTOS PEREIRA
O TRATO PEDAGÓGICO COM A CAPOEIRA NO ÂMBITO
DO PIBID/UNEB – EDUCAÇÃO FÍSICA/2009
Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura
em Educação Física da Universidade do Estado
da Bahia – UNEB/Campus II, para obtenção do
título de Licenciado em Educação Física.
Orientadora: Profª. Ms. Martha Benevides da
Costa.
ALAGOINHAS
2012
3
Dedico este trabalho a minha Mãe, Maria Raymunda
Pereira dos Santos e a minha avó, Maria Francisca
Luciana.
4
AGRADECIMENTOS
Agradeço a minha mãe, que sempre me apoiou e acreditou nas minhas escolhas.
A minha vó, que sempre me apoiou financeira e espiritualmente, quando precisei não exitou
em minha jornada.
Aos meus irmãos, Ronivaldo Pereira dos Santos, Renivaldo Preira dos Santos e Wilmário
(eterno irmão de consideração) quais eu sou grande admirador das personalidades que são.
A todos meus familiares, aos tios: José Marques, Jair Marques, Marinho Marques, Wellington
Marques e Marculino Filho; as minhas tias: Maria Adelaide, Elza Maria, Magna; aos primos
Marco Antonio (orêa), Marcone José (mascote), Welder Nascimento (Dinho), Jhonatas (jhow
brucutu), Maxon Brito (kissinho), Jadson Luciano, a minha cunhada Margarida e as minhas
sobrinhas Anna Beatriz e Anna Sofia.
A toda minha Família ACEM, prefiro não citar nomes para não cometer o ardil de esquecer
alguém, mas todos sabem o quanto eu os considero cada um, presente em minha vida desde
sempre.
Aos mestres da cultura Capoeira: Felipe Santiago, Luiz Medicina, Macaco (Santo Amaro),
Pantera (Vitoria da Conquista) e Gago (Feira de Santana), que durante muito anos são
referência para minha formação capoeiristica.
Aos meus colegas da Residência Universitária de Alagoinhas – R.U.A. que através do
convívio me mostraram ser possível coexistir com as diferenças, e a formação e consciência
política que a própria residência trás consigo.
Aos meus colegas de turma, pelas brigas e alegrias que convivemos nos últimos quatro anos.
A todo corpo docente que estão ou passaram pelo Colegiado de Educação Física e que eu tive
o prazer de absorver conhecimento: Luiz Rocha, César Leiro, Viviane Rocha, Ana Simon,
Alan Aquino, Valter Abrantes, Maurício Maltez, Lúria Scher, Neuber Costa, Ubiratan
Menezes (que nos permite a intimidade de chamar de BIRA), Michelle Venturine, Dianna
Tigre, Márcia Cozzani, Gleide Sacramento e Francisco Pitanga.
5
A todos meus colegas bolsistas do PIBID/UNEB – EF/2009: Alaine Bruna, Cíntia Castro,
Joice Souza, Ivanildo, Gilmário Souza, Daniela Alvin, Jutebergue, Renan Gomes, Diego
Firmo, Ramon Carvalho, Priscilla Nascimento, Ana Isa, Isa Leal, Daiara Nascimento, Laís
Araújo, Genildo Silva e em especial a Nívia Bispo e Gleisiane Almeida, por fazerem parte da
construção do plano de unidade do conteúdo Capoeira. E as bolsistas de supervisão Sandra
Stella e Meacy.
A minha orientadora Martha Benevides, pela pessoa extraordinária que é e pela paciência nas
orientações que tive nos últimos meses.
E por último, mas não menos importante agradeço ao meu mestre, Carlos Marques dos Santos
(mestre Kako), pela sua incansável dedicação à expansão e reconhecimento da capoeira e
manifestações da cultura afrodescendente (samba de roda, maculêlê, puxada de rede, entre
outras).
6
" A capoeira não tem credo, não tem cor, não tem bandeira, ela é do povo, vai correr o
mundo".
Mestre Canjiquinha
7
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
CCFR – Centro de Cultura Física Regional
CECA – Centro Esportivo de Capoeira Angola
CONBRACE – Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte
CONICE – Congresso Internacional de Ciências do Esporte
EFE – Educação Física Escolar
ESEF/UFRGS – Escola de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
FUBE - Federação Universitária Baiana de Esporte
ID - Iniciação á Docência
LDB – Lei de Diretrizes e Bases
PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais
PIBID - Programa Institucional de Bolsas de Iniciação á Docência
RBCE – Revista Brasileira de Ciência do Esporte
SBPC – Sociedade Brasileira de Pesquisa e Ciência
UEM – Universidade Estadual de Maringá
UNEB – Universidade do Estado da Bahia
UNICAMP – Universidade de Campinas
8
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1– O tocador de Berimbau 16
Figura 2– Jogar capuëra ou danse de la guerra 17
9
LISTA DE QUADROS
QUADRO I- FREQUÊNCIA TEMÁTICA NAS ENTREVISTAS 35
QUADRO II- FREQUÊNCIA TEMÁTICA DOS RELATÓRIOS 42
10
RESUMO
Este estudo se debruça sobre o trato teórico-metodológico da capoeira no âmbito do
PIBID/UNEB-EF/2009. Para tanto, quanto á problemática desta pesquisa obteve-se: como foi
desenvolvido o trato teórico-metodológico com a capoeira dentro do subprojeto PIBID/UNEB
– EF/2009? Tendo como objetivos específicos: investigar se as proposições teórico-
metodológicas da Pedagogia Histórico-crítica foram efetivamente utilizadas; identificar como
as atividades de capoeira foram desenvolvidas e as estratégias utilizadas para o
desenvolvimento das intervenções; verificar o resultado de aprendizagem dos bolsistas de ID
e dos estudantes da escola parceira em relação à capoeira. Esta pesquisa trata-se de um estudo
de caso de característica qualitativa descritiva, onde houve entrevista semiestruturada aos 19
bolsistas de ID, a análise de dados utilizada foi a técnica de análise de conteúdo, organizada
em três etapas: organização do material (pré-análise), descrição analítica dos dados
(codificação, classificação, categorização) e interpretação inferencial (tratamento e reflexão).
Os resultados mostraram que dos 19 bolsistas quatro não utilizaram as preposições e os 15
bolsistas conseguiram aplicar as preposições teórico-metodológica, mas valeram se apenas da
aplicação teórica, já que não tinham domínio pratico do conteúdo, além de encontrar como
principal resistência a falta de conhecimento dos alunos com a Capoeira. Como conclusão
obteve-se o êxito da preposição teórico-metodológica ficando a ressalva que quando não se
tem domínio pratico de qualquer conteúdo deve-se concentrar no contexto teórico, deixando a
vivência pratica para uma pessoa qualificada.
Palavras-chave: PIBID. Capoeira. Trato teórico-metodológico.
11
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 12
2 CAPOEIRA: A HISTÓRIA DE UMA MANIFESTAÇÃO
CULTURAL
15
2.1 CAPOEIRA DE LÁ PARA CÁ 17
3 CAPOEIRA E A EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR 28
4 METODOLOGIA 32
4.1 TIPO DE ESTUDO 32
4.2 TÉCNICA DE COLETA DE DADOS 33
4.3 ANÁLISE DE DADOS 34
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES 36
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 45
REFERÊNCIA 47
APÊNDICE A 49
APÊNDICE B 50
12
1 INTRODUÇÃO
Esta pesquisa tem como objeto o trato pedagógico com a capoeira no âmbito do PIBID
(Programa Institucional de Bolsas de Iniciação á Docência)/ UNEB – Educação Física/20091
por parte dos Bolsistas de Iniciação á Docência (ID), na escola parceira do subprojeto,
localizada no município de Alagoinhas.
A capoeira está presente na sociedade brasileira desde 17122, período em que se teve
registro pela primeira vez deste termo. De lá para cá, ela sofreu várias mudanças passando de
luta perseguida e proibida a conteúdo escolar e objeto de estudo de universidades.
Vista a importância da capoeira na sociedade atual enquanto manifestação que se
popularizou e tornou-se mercadoria de exportação, os trabalhos com a mesma foram
numerosos nos últimos dez anos. Em minhas pesquisas em algumas das principais revistas de
Educação Física e nos principais eventos da área sobre a temática capoeira foram
encontrados: na Revista Brasileira de Ciência e Movimento (Universidade Católica de
Brasília) um artigo sobre a temática; na revista Conexões (UNICAMP) dois trabalhos; na
revista da Educação Física da Universidade Estadual de Maringá – UEM foram encontrados
quatro trabalhos; na Revista Movimento, da Escola de Educação Física da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (ESEF/UFRGS) quatro artigos; na Revista de Educação Física,
Esporte e Lazer: Motrivivência, cinco publicações; nos anais do XVII CONBRACE e IV
CONICE realizado em Porto Alegre no ano de 2011, foram encontradas cinco publicações;
nos anais das Reuniões Anuais da Sociedade Brasileira de Pesquisa e Ciência – SBPC, foram
doze publicações e na Revista Brasileira de Ciência do Esporte – RBCE, treze publicações.
As publicações citadas acima estão divididas nos diversos campos do conhecimento humano,
como: sociologia, psicologia, saúde, corpo e cultura e educação, sendo esta a que detém o
maior número de publicações.
No campo específico da temática capoeira na escola é comum encontrar trabalhos
feitos por professores de educação física (capoeiristas ou não) que utilizaram a manifestação
em suas aulas, como Pinheiro, Vieira e Silva (2010); ou que elaboraram estratégias para
1 O PIBID/UNEB é desenvolvido desde maio de 2010. Os projetos que tiveram início nesse período foram
aprovados no edital CAPES/DEB 002/2009, de 25 de setembro de 2009. Dentre eles foi aprovado o projeto da
área de Educação Física no Departamento de Educação – Campus II/Alagoinhas. Por isso, vamos nos referir a
esse projeto como PIBID/UNEB – EF/2009.
2 Waldeloir Rego, em sua obra Capoeira Angola, relata que no Vocabulário Português e Latino de Rafael
Bluteau teve se o primeiro registro deste vocábulo, no ano de 1968.
13
orientarem capoeiristas e professores de educação física no trato pedagógico com o tema,
como Falcão (2009) e Souza e Oliveira (2001).
Apesar de tantos trabalhos sobre o tema, entendo-o como significativo devido a minha
implicação pessoal com o tema vem do fato de ser praticante de capoeira desde os doze anos,
sendo ela fator decisivo para o meu ingresso na universidade. Além disso, como bolsista de
ID do subprojeto PIBID/UNEB – EF/2009, contribui na elaboração do projeto de ensino-
aprendizagem no que diz respeito ao capoeira e ministrei oficina aos meus colegas bolsistas
de ID no que diz respeito à pedagogização desse conteúdo. Sinto que minha trajetória
acadêmica seria incompleta se eu não desse um retorno para os dois pilares da minha vida
acadêmica.
Freitas (1995), em sua obra “Crítica da Organização do Trabalho Pedagógico e da
Didática”, aborda proposta para o trato pedagógico com conteúdos escolares dividida em três
partes: debates com autores da área; exposição sobre alguns pontos de partida teórico-
metodológicos; e, apresentação de dados que apontam a categoria avaliação/objetivos como
central para a compreensão da pratica pedagógica. Então, o autor traz como proposta: fazer
um levantamento das pesquisas já desenvolvidas nesse sentido e dos procedimentos
metodológicos, além de captar a dinâmica do processo pedagógico; apontar aspectos relativos
às possíveis formas de superar as práticas conservadoras de trabalho pedagógico e enfatiza as
contribuições da pesquisa para a didática.
Portanto, observa-se que o trabalho pedagógico exige domínio técnico e teórico do
conteúdo a ser tematizado, mas também o cuidado com os elementos didáticos. Assim, é de se
esperar encontrar dificuldade em abordar temas que não são do domínio do professor, mas,
apesar de a maioria dos bolsistas não terem vivenciado o componente curricular
Conhecimento e Metodologia da Capoeira até as realizações das intervenções (apenas a
oficina oferecida pelo PIBID/UNEB–EF/2009 foi o suporte), esta é a oportunidade de
socialização das possíveis dificuldades e conquistas para sistematizar possibilidades no trato
teórico-metodológico da capoeira na escola.
Além da implicação pessoal com o tema, entende-se que esta pesquisa tem relevância
porque é preciso relatar e analisar o modo como as atividades propostas no âmbito do PIBID
vem sendo desenvolvidas nas escolas participantes desse Programa, visto que um dos
objetivos do mesmo é estimular práticas inovadoras na escola e ajudar na melhoria da
qualidade do ensino público.
Assim sendo, espero com esta pesquisa esclarecer como a capoeira pode ser
desenvolvida no âmbito escolar, a partir do que se concretiza dentro de um subprojeto
14
inovador, como é o PIBID/UNEB–EF/2009, no qual alunos do curso de Educação Física
trataram pedagogicamente o conteúdo capoeira em diálogo com as supervisoras e com a
coordenação de área e de como foi essa experiência para os envolvidos no projeto.
Visto isto, o problema desta pesquisa é: como foi desenvolvido o trato teórico-
metodológico com a capoeira dentro do subprojeto PIBID/UNEB – EF/2009?
Este estudo tem como objetivo geral relatar e analisar o trato teórico-metodológico
com a capoeira dentro do subprojeto PIBID/UNEB – EF/2009.
Para tanto, os objetivos específicos são: investigar se as proposições teórico-
metodológicas planejadas foram efetivamente utilizadas; identificar como as atividades de
capoeira foram desenvolvidas e as estratégias utilizadas para o desenvolvimento das
intervenções; verificar o resultado de aprendizagem dos bolsistas de ID e dos estudantes da
escola parceira em relação à capoeira.
15
2 CAPOEIRA: A HISTÓRIA DE UMA MANIFESTAÇÃO CULTURAL
Nascia no cativeiro
Da dor do negro
E hoje está no mundo inteiro
Sinhozinho no mercado
Sempre prestava atenção
Para não comprar escravos
De uma mesma região
Misturando dialetos
Sem o feitor perceber
Escravo já conversava
Planejando o que fazer
O escravo então diz
Que vivia do pescado
Que pode ensinar a luta
Que aprendeu no passado
Outro escravo mostra a luta
Que em sua terra é tradição
Com um balanço de corpo
Usando golpes de mão
Negro diz a seu irmão
Mostra as pernadas que usou
Na disputa, na aldeia
No dia em que se casou
Das culturas africanas
Mas em terra brasileira
Do sofrimento do negro
Surge a nossa capoeira
(PERNINHA)
16
É impossível falar de capoeira sem relatar a escravidão sofrida pelos negros relatada
na epígrafe deste capítulo. Falar de capoeira é trazer à tona toda essa trajetória que os escravos
passaram. Visto como uma fonte de renda que gerava lucros exorbitantes, o tráfico negreiro
foi a saída encontrada pelo capitalismo europeu para colher as riquezas naturais brasileiras.
Assim, muitos negros acabaram vindos parar em solo brasileiro, ao menos os que
sobreviverem à longa viagem nos tumbeiros flutuantes3. Aqui chegando, eram separados pelo
seu dialeto, pois não era interessante para os senhores de engenho ter negros vindos da mesma
região africana, marcados a ferro quente como gado e vendidos como animais para
trabalharem na economia vigente da época as lavouras de café e cana e na mineração
(CAPOEIRA, 1999).
Mas, ao contrário do que se pensava, os negros não aceitaram pacificamente esta
condição subumana de horas de trabalho, alimentação inadequada (ração) e estadia
inapropriada. Prova disto eram as constantes fugas para o interior das matas e a formação dos
quilombos, que eram redutos organizados pelos negros contra a situação na qual eles se
encontravam. Alguns historiadores relatam que nos quilombos não se encontrava apenas
negros, mas qualquer um que fosse contra essa situação (negros, índios, brancos). Existiram
vários quilombos, mas o quilombo dos Palmares, situado na região de Pernambuco, foi o que
resistiu mais tempo contra essa violência (CAPOEIRA 1997).
Este foi apenas um pequeno relato histórico sobre o tráfico negreiro ocorrido no Brasil
em meados do século XVII, mas irei me concentrar em relatar como foi o processo de
surgimento da capoeira. Conforme Capoeira (1997, p.15), a história da capoeira no Brasil
pode ser dividida em três momentos: escravidão, marginalidade e academias.
No chamado período de escravidão, a capoeira era uma luta disfarçada de dança.
Tratava-se da única forma de ataque e defesa dos negros em seus momentos de sofrimento e
fuga.
Já no período que Capoeira (1997) denomina como da marginalidade, que se deu após
a abolição da escravatura, além da marginalização dos negros nas ruas das cidades, a prática
da capoeira era proibida por ser vista como vadiagem.
E, no período das academias, que tem início, segundo o mesmo autor, em 1930, a
capoeira passou a ser ensinada em espaço especificamente destinado para isto, teve sua
3 Era o outro nome dos navios negreiros, dava se esse nome porque muitos negros não resistiam às condições
sub-humanas e morriam, sendo estes jogados em alto mar.
17
prática liberada legalmente, foi reconhecida como método de ginástica brasileira e, mais
recentemente, tem passado por um processo de mercadorização e esportivização.
2.1 CAPOEIRA DE LÁ PARA CÁ
Existe uma grande dúvida quanto ao surgimento da capoeira: é africana ou brasileira?
Mesmo as duas celebridades da capoeiragem da Bahia divergiam sobre a sua origem.
Conforme Capoeira (1997), para mestre Pastinha a capoeira veio da África e para mestre
Bimba ela nasceu na Bahia, mais especificamente no recôncavo baiano, em Cachoeira, Santo
Amaro e Ilha de Maré.
Campus (1990, p. 15) apresenta essas duas teorias que dividem angoleiros e
regionais4, relatando que: “uma afirma que a capoeira teria vindo para o Brasil trazida pelos
escravos, e a outra considera a capoeira como invenção dos escravos no Brasil”.
Há ainda outras teorias sobre a origem da capoeira descritas por Capoeira (1999, p.37
e 38) que começa pela tradicional aceita por grande maioria dos capoeiristas, como sendo uma
mistura de danças, lutas e rituais africanos desenvolvidos pelos escravos no Brasil; perpassa
por uma luta disfarçada em dança, para escapar das perseguições dos seus opressores e, neste
trecho, ele contesta com a observação que as danças também eram reprimidas; e chega ao
n’golo (também conhecida como dança das zebras), uma disputa com chutes e coices onde o
prêmio era a escolha de uma jovem para o casamento sem pagar o dote; destaca, ainda, outra
teoria para a qual não há comprovação, envolvendo Zumbi dos Palmares, que afirma que a
origem da capoeira se deu dentro do quilombo.
Quanto à teoria que a capoeira é africana, ela é contestada por pesquisadores que não
encontraram registros históricos de luta na África que se assemelhasse à capoeira, além de que
o negro, quando chegou aqui no Brasil, manteve algumas tradições, como o candomblé, em
que a linguagem usada no Brasil é a mesma usada na África. Já na capoeira não existe
nenhum golpe em dialeto africano (ALMEIDA apud PÓVOAS, 1991, s/p).
Sua nomenclatura, ao que se sabe, segundo Rego apud Capoeira (1997)
4 Usaremos estes termos para reportarmos aos estilos de Capoeira Angola e Regional.
18
entrou no ramo da polêmica depois da publicação no vocabulário Português e Latino, de
Rafael Bluteau (1712) e no dicionário da Língua Portuguesa (1813), nesta briga três nomes se
destacaram pelas suas descobertas sobre a etimologia da palavra capoeira, sendo eles: José de
Alencar, que dizia que a palavra capoeira deriva do guarani caa-apuam-era (ilha de mato já
cortado); Beaurepire Rohan, indicava o tupi co-puera (roça velha) e Macedo Soares
descordava dos dois antecedentes e firmava tupi caá-puera (mato miúdo que nasceu no lugar
do mato que foi cortado).
A passagem de mato para luta do termo capoeira está evidente em Areias (1983) e
Capoeira (1997), pois os autores descrevem que esta passagem se deu porque assim foram
denominados os ataques que os negros fujões faziam aos capitães do mato que os perseguiam.
Areias (1983, p. 17) comprova ao afirmar:
Temos em alguns documentos citações de capitães do mato e comandantes de
expedições, que, quando se referiam aos combates com o negro, comentavam “um
estranho jogo de corpo” [...] os comandantes recomendavam aos soldados “terem o
máximo de cuidado com as emboscadas e ataques de surpresa deferidos pelos
negros, usando esse estranho jogo de corpo, vindos de repente do interior das
capoeiras.
Partindo de tudo que foi dito até agora, é que defendo aqui minha posição em relação à
origem da capoeira. Concordo com Areias (1983) e Rego (1968), de que ela é afro-brasileira.
É nascida no Brasil, mas mescla de vários costumes africanos e da necessidade do escravo
sobreviver. Libâneo apud Goulart (2006, s/p) reforça minha opinião ao dizer que “a capoeira
é afro brasileira, ela não veio da África, ela nasceu no Brasil, ela é nascida no Brasil de filhos
de pais africanos, esses africanos trouxeram para cá o legado da África[...] são legados
africanos transformados”.
Mas foi nos centros urbanos que se tiveram registros (de forma documental) da cultura
afrodescendente, em especial a capoeira. Prova disto estão nas pinturas de Debret e Rugendas:
19
Figura 1 - O tocador de Berimbau (DEBRET, 1826 aprox.). Fonte: Capoeira (1999).
Temos em destaque a pintura retratada no século XIX do pintor francês Jean-Baptiste
Debret, que viveu 15 anos no Brasil (até 1831), onde organizou sua grande obra, o livro
ilustrado Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil. Nesta obra, o artista apresenta diversas
pinturas sobre o povo brasileiro, paisagens, sociedade, cultura e arquitetura do Brasil. E,
dentre estas obras, está O Tocador de Berimbau, na qual retrata um idoso negro tocando um
berimbau em um ambiente que parece com uma feira livre em um centro urbano.
O berimbau5 é o símbolo da capoeira. É impossível olhar esse instrumento e não
associar à capoeira. O berimbau é um instrumento monocórdio constituído de uma cabaça
(fruto da cabaceira), uma verga de biriba (madeira), caxixi (cesto pequeno fechado com
sementes), vequeta e dobrão (antigamente usava se uma moeda de cinquenta réis).
Há registros de instrumentos derivados do arco por diversas partes do mundo, como
Novo México, Patagônia, África e nas civilizações mais antigas, a exemplo de Fenícia, Hindu,
Pérsia. Na África, ele era usado em cerimônias fúnebres e em pastoril do rebanho. Segundo
Capoeira (1999, p. 84), “alguns diziam que em certas partes da África era vedado o uso do
berimbau aos jovens que tomavam conta dos rebanhos: seu som levaria a alma do incauto ao
„país de onde não se volta‟. Todavia, esse instrumento se tornou referência na capoeira”.
5 A etimologia da palavra berimbau origina-se do termo quimbundo (dialeto Bantus). "Urucungo" que significa
"cova". É uma referência à cavidade do berimbau.
20
Figura 2 - Jogar capuëra ou danse de la guerra (RUGENDAS, 1835 aprox.). Fonte: Capoeira (1999).
Nesta outra figura do pintor alemão Johann Moritz Rugendas, que morou três anos no
Brasil também registrando através de suas pinturas os costumes do povo brasileiro, a sua obra,
Jogar capuëra ou danse de la guerra, registra um jogo de capoeira ao lado de casas. Na
imagem aparece, também, uma negra com cesto de frutas na cabeça e outra mulher, ao que
parece, vendendo algo para um senhor, dando novamente a impressão que estão em uma feira
livre.
Segundo Capoeira (1997), a promessa de alforria seduziu muitos negros capoeiristas a
ingressarem nas forças armadas, para lutarem na Guerra do Paraguai (1864-1870). A Guerra
do Paraguai foi a maior batalha ocorrida na América do Sul, travada entre a Tríplice Aliança
formada pelo Brasil, Argentina e Uruguai (custeada pela Inglaterra) contra o governo
paraguaio. Liderados por Francisco Solano López, o Paraguai invadiu a província do Mato
Grosso, dando início ao conflito que durou cerca de cinco anos. Para reforçar o exército
brasileiro, o governo prometia indenizar os proprietários das fazendas e engenhos e
assegurava aos negros a tão sonhada carta de alforria, além de um soldo ao fim da guerra.
Essas promessas não foram cumpridas.
Freitas apud Soares (2007, p.16) comenta que: “A promessa de alforria dos escravos
enganjados na guerra transformou os quartéis militares em pontos finais das rotas dos cativos
que fugiam das fazendas do interior.” Nesta guerra, destacou-se o batalhão de Zuavos,
21
formados exclusivamente por negros capoeiristas. Eles eram especialistas em tomar as
trincheiras das bases inimigas no confronto corpo a corpo, portando apenas armas brancas.
A capoeira, com suas cantigas, ensina sua própria história. Prova dista está no trecho
da cantiga de Caxias, que revela fatos históricos citados há pouco, sobre a Guerra do
Paraguai:
Seu senhor lhe jurou liberdade
Se ele fosse na guerra lutar
E o negro foi para o Paraguai
Se juntar ao pelotão Humaitá.
Sou eu sou eu Humaitá sou eu
Sou eu sou eu sou eu Humaitá
Solano López pretendia
O Mato Grosso dominar
Mas... o que ele não sabia é que Caxias
Traria consigo Humaitá
Sou eu sou eu Humaitá sou eu
Sou eu sou eu sou eu Humaitá Na batalha do Riachuelo
O negro surpreendeu
Com rasteira e cabeçada
A vitória aconteceu.
Sou eu sou eu Humaitá sou eu
Sou eu sou eu sou eu Humaitá (CAXIAS)
Com o fim da guerra do Paraguai, os negros sobreviventes tiveram sua liberdade
alcançada. Porém, muitos não conseguiram o soldo prometido pelo governo e foram
“jogados” nas ruas das cidades, aumentando a população negra nos grandes centros urbanos.
Antes da guerra era comum encontrar nas ruas das cidades negros que, com muito esforço,
compravam sua alforria e viviam de pequenos trabalhos no comércio (AREIAS, 1983).
O governo também deu calote nos fazendeiros e engenheiros, não pagando os negros
que morreram nem os que sobreviveram à guerra, e isto se deu talvez pela queima de
documentos referentes aos negros pelo então Ministro da Fazenda, Rui Barbosa, conforme
mostra Areias (1989, p. 21):
Outro ponto que dificulta o esclarecimento dessas questões é o fato, ridículo da
figura do nosso „ilustre Rui Barbosa‟, o „Águia de Haia‟ ter queimado todos os
documentos referentes à escravidão, na alegação que tais documentos eram retratos
da „vergonha nacional‟ que a escravidão tinha sido[...] Rui Barbosa acreditava que a
história é feita com palavras e não com ação, privando assim de um maior
conhecimento da nossa memória histórica.
Anos mais tarde, a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea, que libertou todos os negros.
Esta Lei foi fruto de uma manobra da Inglaterra visando um maior mercado consumidor. E lá
22
foram os negros saindo das condições subumanas das senzalas para a periferia dos centros
urbanos, iniciando o período de marginalidade da capoeira. A junção dos negros recém-
libertos pela Lei Áurea com os negros sobreviventes da Guerra do Paraguai contribuiu para o
aumento do fluxo de negros soltos nas ruas das cidades (AREIAS, 1983).
Agora façamos uma reflexão: os negros foram libertados e, ao invés dos fazendeiros
contratarem os mesmos para cuidar das lavouras que já tinham costume, expulsaram-nos e
contrataram outros imigrantes, desta vez pagando salários (alguns fazendeiros fizeram
acordos e mantiveram os negros, mas foram bem poucos). Os negros foram entregues à
pobreza e ao preconceito. E o que esperar disto? Imaginemos os negros que lutaram na guerra
do Paraguai durante anos e agora estão sem emprego e perspectiva nenhuma de melhora, não
tendo condições nem sequer de se alimentar. Obviamente, eles foram praticamente obrigados
a entrar na marginalidade.
É importante ressaltar que a marginalidade da capoeira ocorreu distintamente nos três
pólos: Bahia, Recife e Rio de Janeiro. Em Recife, a marginalidade estava relacionada a
bandas de músicas e foi se extinguindo com o surgimento dos grupos de frevo; no Rio de
Janeiro, as maltas6 eram usadas por partidos políticos e foram sumindo com o surgimento da
República; e, na Bahia, a capoeira estava mais ligada à religião, sem ter registro das maltas de
Rio de Janeiro e Pernambuco, mas foi perseguida pela ligação religiosa e persistiu a essa
perseguição (CAPOEIRA, 1997).
É nesse período que encontramos uma quantidade maior de documentos oficiais sobre
a capoeira (todos ligados a queixas policiais), sendo o de maior significado histórico o Código
Penal da República dos Estados Unidos do Brasil, que tem no seu decreto de número 847, de
11 de outubro, um capítulo exclusivo para os vadios e capoeiras, descrito assim:
Art. 402. Fazer nas ruas e praças públicas exercício de agilidade e destreza corporal
conhecida pela denominação Capoeiragem: andar em carreiras, com armas ou
instrumentos capazes de produzir lesão corporal, provocando tumulto ou desordens,
ameaçando pessoa certa ou incerta, ou incutindo temor de algum mal;
Pena de prisão celular por dois a seis meses.
A penalidade é a do art. 96.
Parágrafo único. É considerada circunstância agravante pertencer o capoeira a
alguma banda ou malta. Aos chefes ou cabeças, se imporá a pena em dôbro.
Art. 403. No caso de reincidência será aplicada ao capoeira, no grau máximo, a pena
do art. 400.
6 As maltas ou bandos eram grupos formados por negros, brancos e mulatos que aterrorizavam as capitais de Rio
de Janeiro e Recife. Mas as cariocas tiveram mais destaque principalmente na inicio do Brasil República. Os
grupos de maior destaque foram: os Guaimuns (ligados aos republicanos) e os Nagoas (ligados à monarquia)
(CAPOEIRA,1999).
23
Parágrafo único. Se fôr estrangeiro, será deportado depois de cumprida a pena.
Art. 404. Se nesses exercícios de capoeiragem perpetrar homicídio, praticar alguma
lesão corporal, ultrajar o pudor público e particular, perturbar a ordem, a
tranqüilidade ou segurança pública ou for encontrado com armas, incorrerá
cumulativamente nas penas cominadas para tais crimes.
Esta foi, sem dúvida, a nossa primeira política pública no Brasil República que teve
relação com a capoeira. É importante ressaltar que nesse período o capoeirista é um tipo
social, um jargão policial destinado a qualquer negro que fosse preso brigando, utilizando-se
de socos e chutes (LIBÂNEO apud GOULART, 2006).
Não sendo suficiente, mais adiante foram criadas colônias correcionais para os
“vadios, vagabundos, mendigos, capoeiras e desordeiros” que perturbavam a ordem pública,
fato que deu poder à polícia de fazer todo tipo de selvageria aos capoeiras (AREIAS, 1989, p.
43-44).
Segundo Capoeira (1997), a capoeira saiu de sua ilegalidade quando, em 1934, o
governo do presidente Getúlio Vargas, procurando apoio popular a sua política de
uniformização social, extinguiu o Decreto lei que proibia a capoeira, restringindo a prática da
capoeira a ambientes fechados, afirmando ser a capoeira um esporte genuinamente brasileiro.
Almeida (1994) apud Campos (2001, p.46) relata a fala do presidente da República ao assistir
uma apresentação de capoeira feita por Mestre Bimba e seus alunos. Na ocasião, o presidente
diz: “A capoeira é o único esporte verdadeiramente nacional”.
Mas, antes disto, entre 1907 e 1928, Campos (2001) destaca que a Educação Física
incluiu a capoeira como método de ginástica nacional, nos trabalhos de ODC7 (Ofereço,
Dedico e Consagro) intitulado de “O Guia do capoeira ou Gynastica brasileira” e de Anibal
Bulamarqui, a “Gynastica nacional (capoeiragem) methodista e regrada”.
Essa política de Vargas se constituía na formação de uma sociedade organizada, onde
o corpo deveria funcionar como uma máquina e, para que isto ocorresse, o corpo deveria ser
educado desde pequeno a hábitos saudáveis. Isso levou Vargas a tornar obrigatório o ensino
da Educação Física nas escolas, imaginando usar a capoeira como manifestação genuinamente
brasileira. É importante salientar que a capoeira que se pretendia usar não seria aquela
advinda do tempo da escravidão e, sim, uma capoeira com moldes hierárquicos semelhantes
às escolas brancas europeias, informa Capoeira (1999).
Em uma sociedade capitalista é de se esperar que nada vem de “mão beijada”, sempre
existe uma segunda intenção por trás das boas ações, e com a capoeira não foi diferente. A
7 Neste período, a capoeira ainda era proibida e, por isso, o autor não se identificou.
24
referida extinção do Decreto-Lei de 1890, proposto por Getúlio Vargas é prova disto, pois
legalizar para controlar era o lema nas entrelinhas da boa ação. Neste sentido, Capoeira (1997
p. 59-60) afirma:
Mas por um lado ele obriga que tanto os cultos quanto a capoeira sejam realizados
fora da rua, em recinto fechado com um alvará de instalação, e assim cria também
uma forma de controlar estas manifestações [...] embora permitindo a livre
expressão (vigiada) da cultura negra ele desmantelava a Frente Nacional Negra que
naquela época já tinha aglomerado uns duzentos mil associados, restringindo a
politica dos negros.
Neste período (a partir de 1930), iniciou-se a era das academias, com as academias de
Bimba e Pastinha. Eles foram/são, sem dúvida, ao lado de Besouro Mangangá8, os nomes de
maior expressão cultural da capoeiragem mundial.
Manoel dos Reis Machado, popularmente conhecido como Mestre Bimba, nasceu em
23 de novembro de 1900, filho de Maria Martinha do Bonfim e do lutador de batuque9 Luiz
Cândido Machado. Iniciou a Capoeira Angola ainda pequeno, aos doze anos, na antiga estrada
das boiadas, hoje bairro da Liberdade. Seu mestre foi um africano de nome Bentinho. Seus
ofícios eram: doqueiro, carvoeiro, carpinteiro, trapicheiro, mas acima de tudo capoeirista, cita
Campos (2001).
Mestre Bimba estava insatisfeito com a Capoeira Angola e, em 1930, ele misturou
golpes do batuque com a Capoeira Angola e criou a luta regional baiana e a capoeira sofreu
mais uma metamorfose. É importante destacar que a história da capoeira é descrita antes e
depois de mestre Bimba. Antes a capoeira era ensinada de “oitiva”, os mestres antigos
executavam os movimentos e os discípulos imitavam, e mestre Bimba criou um método de
ensino, constituído de oito sequências com golpes, contragolpes, esquivas e aús, introduziu
balões e agarrões e a capoeira ficou mais dinâmica (CAPOEIRA, 1997).
Campos (2001, p. 37-38) relata as características da Capoeira Regional como: “Exame
de Admissão, Sequência de Ensino de Mestre Bimba, Sequência de Cintura Desprezada,
Batizado, Esquenta Banho, Formatura, Iúna, Curso de Especialização e Toques de Berimbau”.
8 Besouro Mangangá, conhecido pelo nome de batismo como Manoel Henrique Pereira, foi um capoeirista
temido no recôncavo baiano. Tinha fama de ser justiceiro e não temia a polícia. Foi morto em 24 de julho de
1924, aos 24 anos, vítima de uma emboscada.
9 O batuque era uma luta/dança parecida com a capoeira, onde os jogadores usavam as pernas para desequilibrar
o adversário, jogada ao som de músicas, ritmada por pandeiros e bastante violenta, uma vez que muitos golpes
tentavam acertar a região genital.
25
Para mostrar a eficiência de sua luta regional baiana, em 1936, mestre Bimba desafiou
lutador de qualquer modalidade. Compareceram quatro lutadores e a luta que demorou mais
durou um minuto e quarenta segundos, fazendo jus ao seu apelido de três pancadas
(CAPOEIRA, 1999).
Como a capoeira já estava fora do código penal, em 1937, mestre Bimba registrou
oficialmente a sua academia, recebendo de um inspetor técnico de Ensino Secundário
Profissional o registro que lhe permitiu o ensino da sua Luta Regional Baiana, que foi
abreviada para Capoeira Regional. A partir daí, uma nova era para a capoeira surgiu: ela agora
tinha a participação da classe média da capital baiana.
O método desenvolvido por mestre Bimba facilitou a difusão da capoeira. Graças a
esse método de ensino-aprendizagem a Capoeira Regional ganhou diversos adeptos na capital
baiana, o que ajudou a lançar a sua luta regional no cenário nacional, pois muitos alunos do
mestre eram estudantes que vinham de toda a parte do Brasil para estudarem no primeiro
curso de Medicina do Brasil, e quando esses alunos retornavam a suas regiões, levavam
consigo na bagagem a Capoeira Regional do mestre Bimba.
Campos (2001) relata que mestre Bimba estimulava as competições em sua academia,
mas diz que a iniciativa das competições se deve à FUBE (Federação Universitária Baiana de
Esporte) na década de 1970, ao Departamento de Capoeira das Federações Estaduais de
Pugilismo e à inclusão, em 1985, nos Jogos Escolares Brasileiros. Estes são registros de
competições envolvendo a capoeira da Bahia. A capoeira a essa altura desenvolveu caráter de
luta/esporte, sendo, como outras manifestações corporais, esportivizada.
A Capoeira Regional estava crescendo em Salvador e começou sua expansão quando
mestre Bimba e alguns discípulos fizeram uma série de apresentações e participações de lutas
Brasil afora, entre 1949 e 1969. Dentre as diversas exibições, pode se destacar a apresentação
feita para o presidente Getúlio Vargas em 1953, na inauguração da TV Record em São Paulo
e a exibição na Exposição de Pecuária de Teófilo Otoni, em Minas Gerais (CAPOEIRA,
1997).
Mestre Bimba foi embora para Goiás com a promessa de que lá seria valorizado, fato
que não ocorreu em sua terra natal. Vendeu sua academia e suas casas e mudou-se para
Goiânia, mas as promessas não foram cumpridas e o mestre entrou em uma profunda
depressão. Faleceu em 05 de fevereiro de 1974, colocando um ponto final em sua vida carnal
e iniciando sua imortalidade na capoeira.
Mas, durante todo esse período em que a Capoeira Regional esteve em ascensão, a
capoeira tradicional mantinha-se viva através de muitos capoeiristas que não concordavam
26
com as inovações postas por mestre Bimba, a exemplo dos mestres Atenilo, Aberrê,
Chapeleiro, Totonho de Maré, Gata Magra, Valdemar, Cobrinha Verde, Traíra, entre outros
(CAPOEIRA,1998).
Mas Vicente Ferreira Pastinha, Mestre Pastinha (1889 – 1981), foi sem dúvida o mais
importante para a agora denominada Capoeira Angola. Filho de um espanhol com uma baiana
de acarajé, mestre Pastinha teve início na capoeiragem ainda na sua infância, também aos
doze anos, com um ex-escravo conhecido por Benedito, que ao observar Pastinha apanhar de
um garoto mais velho e mais forte chamou e disse: “menino vem cá, você não pode com ele,
sabe por quê? Ele é maior e tem mais idade. O tempo que você perde empinando arraia vem
aqui no meu cazuá que vou lhe ensinar coisa de muita valia”. Depois desse episódio, ele
iniciou a prática da capoeira mãe10
, relembra mestre Pastinha no documentário “Pastinha: uma
vida pela capoeira” (MURICY,1998).
Capoeira (1999) relata que mestre Pastinha abriu sua academia depois do mestre
Bimba, em 23 de fevereiro de 1941, no fim de linha do bairro da Liberdade, num local
conhecido como Jingibirra, que era ponto de encontro dos maiores mestres da capoeira
tradicional da Bahia. O Centro Esportivo de Capoeira Angola (CECA), fundado por Pastinha,
levou este nome para diferenciar da capoeira de mestre Bimba.
A academia de mestre Pastinha era reduto de artistas famosos, como o pintor Carybé e
o escritor Jorge Amado. Ele ficou conhecido como o filósofo da capoeira. Dentre muitas de
suas célebres frases, Capoeira (1999, p. 56) destaca: “capoeira, mandinga de escravo em ânsia
de liberdade. Seu princípio não tem método, seu fim é inconcebível ao mais sábio dos
mestres”.
A mandiga é a principal característica da Capoeira Angola, sempre ligada aos aspectos
mágicos e misteriosos. Rego (1968) apud Abib (2005, p. 190) faz a relação do substantivo
mandinga à “possivelmente Mandiga, na África Ocidental, banhada pelos rios Níger, Senegal
e Gambia, uma vez que entre os africanos trazidos para o Brasil havia a crença que nessa
região habitavam muitos feiticeiros”. E a Capoeira Angola se apropriou desse elemento.
Mestre Pastinha morreu abandonado em um asilo em Salvador, aos noventa e dois
anos e deixou como seu herdeiro João Pereira dos Santos, mais conhecido como João
Pequeno de Pastinha (CAPOEIRA, 1999), falecido em 09 de dezembro de 2010, na cidade de
Salvador, em decorrência de falência intestinal.
10
Este termo “capoeira mãe” é usado por todos angoleiros para determinar a Capoeira Angola como a verdadeira
capoeira dos escravos. Ela é sem dúvida a capoeira que aproxima da capoeira primitiva criada pelos escravos.
27
Depois das academias de mestre Bimba e mestre Pastinha, a capoeira entrou em uma
nova era. As academias de capoeira ultrapassaram os limites de Salvador, ganharam o Brasil
e, consequentemente, o mundo. Aliás, Almeida apud Goulart (2006, s/p) relembra que mestre
Bimba em conversa com o mesmo fala “Itapuã, eu criei a capoeira para o mundo”. E a
capoeira agora é vista não como uma coisa de negro e, sim, um esporte de branco.
O esporte, segundo Campos (2001, p. 42), “é um fenômeno social de alta relevância
no mundo moderno, distinguido principalmente pela ação democrática de participação de uma
sociedade”. O autor relaciona a capoeira com o esporte e justifica isto mostrando dois
aspectos relevantes:
1 - O caráter econômico, pois a Capoeira é um esporte de baixo custo, não necessita
de instalações e equipamentos sofisticados, o que facilita e populariza sua pratica; 2
– o aspecto lúdico/cultural que bem ajustado aos praticantes, por ser uma
manifestação popular que desperta grande interesse, estimulando seus praticantes ao
estudo e à pesquisa (CAMPOS, 2001, p. 45).
Os PCN‟s (BRASIL, 1997, p. 70) classificam esportes como “práticas em que são
adotadas regras de caráter oficial e competitivo, organizadas em federações regionais,
nacionais e internacionais que regulamentam a atuação amadora e a profissional”. Fato que
ocorre atualmente no Brasil com a capoeira, pois as Federações de Capoeira organizam
campeonatos, visando uma maior valorização da capoeira perante a sociedade. Isto, todavia,
pode ser uma faca de dois gumes, pois estas competições podem afastar a capoeira de sua
essência, de sua ancestralidade e transformá-la apenas num fenômeno comercial que tem
caracterizado o esporte moderno em nossos tempos. Com as regras, o capoeirista pode perder
a criatividade em se expressar durante um jogo, já que será contado ponto.
É bom ressaltar que, hoje em dia, esta capoeira com princípios esportivos (federações,
associações, competições, uniformização, etc) se encontra presente nos estilos Regional e
Angola, mas com uma ênfase maior na Capoeira Regional.
28
3 CAPOEIRA E EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR
A relação da capoeira com a Educação Física não é algo recente. Como vimos
anteriormente, em 1907 e 1928, a capoeira foi concebida como método de ginástica brasileira.
Porém, isto não vingou devido à perseguição sofrida pela capoeira na época e só mais tarde,
com a criação do Centro de Cultura Física Regional (CCFR) por mestre Bimba, que registrou
sua academia na Secretaria de Saúde e Assistência Pública do Estado da Bahia, a capoeira
passou a ser vista como método de ginástica reconhecida pelo Ministério da Educação
(CAMPOS, 2001).
Já a inserção da capoeira na escola é recente. Campos (2001) destaca a entrada da
capoeira na escola pelas conquistas que a mesma vem tendo na sociedade brasileira atual e ao
apoio da Educação Física que reconhece o valor educacional da capoeira. O autor ainda
destaca essa entrada da capoeira no âmbito escolar a “professores de Educação Física com
formação em Capoeira (capoeiristas) [...]” justificando a entrada da mesma “para suprir as
deficiências de espaço, material e atividades para os dias chuvosos” (CAMPOS, 2001, p. 77).
Mas, a capoeira ganhou força na Educação Física escolar quando esta passou a ser
questionada nas suas práticas tecnicistas e quando se reconhece que a mesma deve tematizar a
cultura corporal. Soares, et al. (1992, p. 75) diz: “A Educação Física brasileira precisa, assim,
resgatar a capoeira enquanto manifestação cultural, ou seja, trabalhar com sua historicidade,
não desencarná-la do movimento cultural e político que a gerou”.
Além disso, a LDB de 1996 considera a Educação Física um componente curricular
obrigatório. Essa Lei atribui às escolas (professores e diretores) e os Conselhos de Educação a
liberdade em organizar e estruturar o ensino de acordo com sua região. Por isso, foram
elaborados, como orientações para os professores, os Parâmetros Curriculares Nacionais
(BRASIL, 1998).
No que se refere à capoeira, Brasil (1998, p. 70) destaca a mesma como modalidade de
lutas, mencionando: “Podem ser citados como exemplos de lutas desde as brincadeiras de
cabo-de-guerra e braço-de-ferro até as práticas mais complexas da capoeira, do judô e do
caratê”. Discordo dessa afirmação, por entender que a capoeira nasceu, sim, com
características de lutas, mas durante muitos anos ficou à margem da sociedade, sendo
conhecida como coisa de vadios e somente há poucos anos vem sendo usada pela sociedade
como válvula de escape para um sentimento de nacionalismo. E esse “reconhecimento” ainda
29
encontra resistência tanto dos gestores quanto dos professores para o seu uso em ambiente
escolar.
Falcão (2009, p. 68) contempla minha posição quanto à associação da capoeira
enquanto luta dizendo:
.
A luta na capoeira deve e tem de ser vista a partir uma dimensão ampliada. A
principal luta do capoeira, nos dias de hoje, não deve ser contra determinado
feitor[...] A luta do capoeira nos, dias de hoje, deve ser contra todo e qualquer tipo
de opressão, discriminação, e pela construção de uma sociedade mais justa, livre e
democrática.
Com o seu referencial afro brasileiro, diferente das outras modalidades da
incorporadas pela Educação Física Escolar (voleibol, basquete, handebol e a ginástica), que
originalmente foram manifestação disseminadas nas classes dominantes, a capoeira é,
historicamente, característica de grupos oprimidos (FALCÃO, 2009).
De todos esses pontos de vista, a capoeira tem e deve ser contemplada pela Educação
Física Escolar. Porém, é preciso bastante cuidado no ensino desse conteúdo na escola, sendo
esta um local de aprendizado e não de treinamento, uma vez que:
Considerando a escola um local de expectativa educacionais, onde o aluno vai para
conhecer, educar-se, defendemos que o espaço escolar é um campo de intervenção
educacional intencional[...] a escola não é o local para treinar o aluno, mas para
ensiná-lo de forma significativa e prazerosa[...]a capoeira na escola não deve ser
algo apenas praticado, mas sim estudado (FALCÃO,2009, p. 57).
Bispo, Pereira e Silva (2011, p. 5) chamam a atenção dos professores quanto ao modo
com que a capoeira é desenvolvida no espaço escolar dizendo: “cabe ao professor entender
que além de ser conteúdo específico da Educação Física, a tematização da capoeira deve se
fazer presente no espaço escolar enquanto manifestação da nossa cultura”.
O professor tem que tomar cuidado para não ficar focalizado em ensinar apenas os
movimentos, ou apenas a história da capoeira, e sim oferecer de forma balanceada os
elementos da mesma, já que:
[...]a aprendizagem da capoeira não deverá ter somente o aspecto técnico de
aprender determinada forma de luta ou esporte; o ensino dos movimentos deverá ser
acompanhado da transmissão de todos os elementos que envolvem sua cultura,
história, origem e evolução, ao mesmo tempo que deverá ser estimulada a integração
com outras disciplinas do contexto escolar, a fim de que o educando tenha uma
participação efetiva no contexto da capoeira como um todo[...] (SOUZA, 1999, p.
44).
30
Em uma visão mais ampla acerca da relevância da prática da capoeira no âmbito
escolar, Souza (1999, p. 44) destaca que isto:
[...] possibilita o desenvolvimento de conteúdos conceituais, procedimentais e
atitudinais, como autonomia, cooperação e participação social, postura não
preconceituosa, entendimento do cotidiano pelo exercício da cidadania, historicidade
etc. No aspecto motor, especificamente, a capoeira deve ser reconhecida como uma
alternativa rica para o desenvolvimento das estruturas da criança, como esquema
corporal, lateralidade, equilíbrio, orientação espaço-temporal, coordenação motora
etc[...].
Vê-se, portanto, que por uma série de argumentos, relativos, inclusive, a concepções
diversas de Educação Física escolar, reconhece-se a capoeira como um conteúdo que precisa
ser tematizado, sem exigir dos alunos a execução técnica perfeita dos movimentos próprios
dessa manifestação, mas garantindo o conhecimento destes e de toda a história e simbolismo
que a caracterizam.
Além disso, considerando que esta pesquisa se debruça sobre o trato com a capoeira
no âmbito do PIBID/UNEB-EF/2009 e este projeto se baseia na Pedagogia Histórico-Crítica
como dito antes, é importante trazer alguns aspectos e princípios dessa perspectiva
pedagógica e como Soares, et al. (1992), em livro conhecido como Coletivo de Autores,
propõem o trabalho com a capoeira.
A Pedagogia Histórico-Crítica entende que para a consolidação de uma educação de
qualidade o ponto de saída e chagada é a prática social. Portanto, parte-se do conhecimento
sincrético que o aluno possui do conteúdo a ser trabalhado, passando pela problematização
para que o aluno possa avançar ao estágio sintético, ou seja, a mudança do olhar do aluno
acerca de certo conteúdo (SANIANI, 2008).
Gasparin (2009), baseando-se em Saviani, elabora “Uma Didática para Pedagogia
Histórico-Crítica”, que tem como base o materialismo dialético e a teoria histórico-cultural de
Vigotski, para encaminhar o processo pedagógico em cinco passos: Prática Social Inicial (o
que o aluno sabe sobre o conteúdo a partir de sua realidade), Problematização (o que o aluno
quer/precisa saber mais sobre o conteúdo), Instrumentalização (trabalho sistematizado com o
conhecimento), Catarse (síntese da apropriação realizada pelos alunos) e Prática Social Final
(retorno à realidade com olhar crítico-reflexivo). Este livro foi base da nossa elaboração do
projeto de ensino-aprendizagem do PIBID/UNEB.
Soares, et al (1992) propõem o uso da capoeira pela Educação Física brasileira, mas
faz uma ressalva de que a capoeira deve ser trabalhada como manifestação cultural. Portanto,
31
ela deve ser desenvolvida preservando sua historicidade, sem separá-la do movimento social e
político que a gerou.
Nesse mesmo contexto, Bispo, Pereira e Silva (2011) apresentam proposta para se
trabalhar a capoeira no ambiente escolar, valorizando sua história, sua musicalidade, seus
instrumentos. Enfim, todos os elementos cultural que a capoeira contempla.
32
4 METODOLOGIA
A curiosidade em saber como cada evento surgia, cada novidade, curiosidade e
descoberta aconteciam foi o que levou os homens a criarem a ciência para responder a estas
indagações de forma rigorosa e sistematizada.
Ela pode ser definida como a busca constante de explicações e soluções para
problemas que afligem e incomodam o ser humano. Lakatos e Marconi (2001, p. 80) definem
ciência como sendo uma palavra que é entendida como uma sistematização de conhecimento,
ou seja, “um comportamento de certos fenômenos que se deseja estudar”.
Já a pesquisa é um processo interativo de buscar respostas para perguntas formuladas,
ou seja, para a descoberta de soluções de problemas. Para Andrade (2001, p. 121), “a pesquisa
é um conjunto de procedimentos sistemáticos, baseados no raciocínio logico, que tem por
objetivo encontrar soluções para problemas propostos, mediante de métodos científicos”.
A pesquisa é de fundamental importância para sociedade, pois ela busca respostas para
os problemas da mesma. Quando decidimos fazer uma pesquisa, partimos da suposição que
existe um problema a ser resolvido (MATTOS; ROSSETO JR; BLECHER, 2004).
O método é o tipo de procedimento (quantitativo ou qualitativo) empregado na
pesquisa. Mattos, Rossetto Jr e Blecher (2004, p.12) relatam que: “por meio do método tem-se
condições de alcançar objetivos, conhecer, investigar e traçar, demarcar o caminho a ser
seguido, detectando erros e acertos [...]”.
Conforme citado, o método ajuda a atingir os objetivos da pesquisa. Todavia, para os
mesmos autores não existe um método único que seja correto. Este é relevante do ponto de
vista científico na medida em que possibilita o alcance dos objetivos.
Visto isto, o método é de suma importância na pesquisa, pois, sem ele não atingimos
os objetivos propostos, ficando a pesquisa comprometida sem a resposta da sua indagação.
Portanto, em grande medida o método é determinado pelo problema da pesquisa.
4.1 TIPO DE ESTUDO
Esta pesquisa aborda o trato teórico-metodológico com a capoeira dentro do
PIBID/UNEB – EF/2009 no ano letivo de 2011, especificamente na quarta unidade letiva.
33
Para tal, é adotada a linha de estudo qualitativa, que é definida por Vianna (2001, p. 122)
como “uma pesquisa onde será analisada cada situação a partir de dados descritivos, buscando
identificar relações, causas, efeitos, consequências, opiniões, significados, categorias e outros
aspectos considerados a necessários á compreensão da realidade estudada”.
A pesquisa tem caráter descritivo, pois busca descrever o trato pedagógico com a
capoeira no âmbito do PIBID/UNEB – EF/2009. A descrição da característica de determinada
população ou fenômeno ou então o estabelecimento de relações entre as variáveis é o objetivo
primordial da pesquisa descritiva (GIL, 2007). Para Mattos, Rossetto Jr e Blecher (2004, p.
15) este tipo de pesquisa tem como características: “observar, registrar, analisar, descrever e
correlacionar fatos ou fenômenos sem manipulá-los, procurando descobrir com precisão a
frequência em que um fenômeno ocorre e sua relação com outros fatores”. Em suma, ela visa
construir uma descrição detalhada de determinado fenômeno, suas características,
propriedades, variáveis e inter-relações.
Trata se de um estudo de caso, definido por Mattos, Rossetto Jr e Blecher (2004, p.15)
como investigação onde: “sua preocupação é estudar um determinado indivíduo, família ou
grupo para investigar aspectos variados ou um evento específico da amostra”. Algumas das
vantagens deste estudo são explorar situações da vida real, preserva o caráter unitário do
objeto estudado, descrever situação do contexto em que está sendo feita determinada
investigação e explicar as variáveis causais de determinado fenômeno em situações muito
complexas que não possibilitam a utilização de levantamentos e experimentos.
Por outro lado, as desvantagens deste estudo estão nas dificuldades de generalização (a
análise de um ou poucos casos não são suficientes para fornecer uma base generalizada), ao
tempo destinado à pesquisa (os estudos de caso demandam muito tempo, o que às vezes os
pesquisadores não detêm) (GIL,2007). Como nos interessa no trato com a capoeira apenas no
âmbito do PIBID/UNEB – EF/2009 é assim que esse estudo se caracteriza.
4.2 TÉCNICA DE COLETA DE DADOS
34
Para a coleta de dados, foram feitas entrevistas semiestruturadas contendo oito
perguntas abertas aos 19 bolsistas de Iniciação à Docência do PIBID/UNEB – EF/200911
,
além da análise documental dos planos de aula e dos relatórios dos bolsistas de ID no período
em que a capoeira foi tematizada na escola parceira.
A entrevista semiestruturada é parecida com a entrevista estruturada, contém um
roteiro de perguntas, porém é permitido que o pesquisador altere e até mude a sequência das
perguntas se avaliar que isto é necessário para alcançar os objetivos da investigação. Minayo
(2010, p.267) diz que: “Por ter um apoio claro na sequência das questões, a entrevista
semiestruturada facilita a abordagem e assegura, sobretudo, aos investigadores menos
experientes, que suas hipóteses e seus pressupostos serão cobertos na conversa”. Porém, a
autora chama a atenção para o risco destes mesmos pesquisadores menos experientes na hora
da análise apontarem apenas o que interessa na sua pesquisa, deixando de relatar dados
importantes dos entrevistados, que podem ser de grande aproveitamento na pesquisa.
Além da entrevista, foi feita análise documental, que trabalha na classificação aleatória
dos dados e na representação condensada da informação para armazenamento e consulta. Para
Minayo (2010), em geral, usa-se esse tipo de técnica com documentos que ainda não foram
submetidos a estudos. A vantagem é que os documentos também trazem descrições sobre a
realidade.
4.3 ANÁLISE DE DADOS
Os dados foram analisados a partir da técnica da análise de conteúdo, que tem como
objetivo organizar e sumariar os dados de tal forma que possibilitem o fornecimento de
respostas ao problema proposto para a investigação. A análise de conteúdo se debruça sobre a
forma como as mensagens são produzidas e socialmente interpretadas (MINAYO, 1994). A
análise de conteúdo é realizada em três etapas: organização do material (pré-análise),
descrição analítica dos dados (codificação, classificação, categorização) e interpretação
inferencial (tratamento e reflexão) (TRIVIÑOS, 1997).
11
Foram entrevistados 19 bolsistas de Iniciação à Docência porque o próprio pesquisador é também bolsista e se
excluiu desse momento.
35
Nesta pesquisa, dados foram analisados a partir das seguintes categorias: objetivos
pedagógicos e aspectos avaliados, tema trabalhado e metodologia utilizada, dificuldades
encontradas no processo pedagógico e aprendizagem dos bolsistas de Iniciação à Docência e
estudantes da escola.
36
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Este capítulo destaca os resultados e discussão da realidade, mas antes existem
algumas observações que precisam ser esclarecidas: as intervenções dos bolsistas de Iniciação
à Docência na escola parceira do PIBID/UNEB-EF/2009 ocorreu em duplas e trios no turno
vespertino12
, ficando apenas um bolsista no turno matutino na unidade referida à capoeira; no
projeto de ensino-aprendizagem estava previsto para a unidade lutas e capoeira e ficou a
critério dos bolsistas a utilização de um ou dos dois conteúdos a depender do tempo
pedagógico necessário para as intervenções e da segurança em realizar as intervenções com os
referidos temas; devido aos feriados e aos Jogos Intersalas13
a unidade ficou curta, o que
impossibilitou, mas dificultou, a execução do conteúdo.
As entrevistas foram feitas aos 19 bolsistas de Iniciação à Docência nos locais em que
foi possível encontrá-los (em suas casas, na UNEB e na escola parceira). Para um maior
conforto dos entrevistados primeiramente tivemos um conversa formal sobre o objeto e
objetivos da pesquisa.
Dos 19 bolsistas de Iniciação à Docência, que estão descritos na pesquisa como B1,
B2, B3 e assim sucessivamente, apenas quatro não utilizaram as proposições teórico-
metodológicas para o trabalho com a capoeira e a justificativa foi a de que pelas vivências que
eles tiveram ao longo do ano foi perceptivo que os educandos tinham um maior contato com a
capoeira, de modo que, como ficou à cargo dos próprios bolsistas definir se tratariam a
capoeira ou as lutas, houve preferência pela tematização das lutas no sentido de ampliar o
acesso dos alunos a diversos temas da cultura corporal. Some-se isto ao fato de que a unidade,
como dito anteriormente, ficou curta.
Esse é um primeiro elemento que possibilita a discussão nesse momento, apesar de se
distanciar das categorias de análise anteriormente definidas. Essa discussão tem relação com a
proposta de organização do Projeto de Ensino-Aprendizagem formulado pela equipe do
12
Como o curso de Licenciatura em Educação Física da UNEB/Campus II tem suas atividades de ensino (aulas)
no turno matutino, o projeto PIBID/UNEB – EF/2009 se concretiza no turno oposto, mas para garantir
intervenções no turno matutino os bolsistas com semestres mais avançados atuaram também neste horário nas
situações em que foi possível. Em 2012, avaliou-se que é mais adequado manter as intervenções somente no
turno da tarde para evitar choques e mudanças constantes de horário.
13 Os Jogos Intersalas são realizados na escola e já aconteciam mesmo antes da parceria com a UNEB no
PIBID/UNEB-EF/2009. Com a presença do PIBID/UNEB – EF/2009, os bolsistas deram um suporte maior a
esta atividade na escola parceira, propuseram e realizaram modificações no evento.
37
PIBID/UNEB-EF/2009, mas também com o modo como, em geral, a Educação Física se
concretiza nas escolas.
O Projeto de Ensino-Aprendizagem do PIBID/UNEB-EF/2009 propõe o trato
pedagógico com todos os temas da cultura corporal em todos os anos/séries participantes do
projeto, pois em diagnóstico inicial realizado da realidade escolar a Educação Física
encontrada cindia teoria e prática e tratava mais do esporte numa perspectiva de prática.
Tomou-se como princípio, então, que era preciso garantir a todos os alunos o acesso aos
diversos temas da cultura corporal.
Propõe-se, todavia, que a partir dos momentos subseqüentes a esta pesquisa, já que um
dado é que o ano letivo é curto para o trato com todos os temas da cultura corporal, que ao se
reavaliar o Projeto de Ensino-Aprendizagem do PIBID/UNEB-EF/2009 sejam estabelecidos,
também, outros critérios de organização para que os temas da cultura corporal no decorrer das
séries/anos escolares.
Quanto às categorias de análise, no sentido de descrevê-las e discuti-las, apresenta-se o
Quadro I a seguir.
QUADRO I- FREQUÊNCIA TEMÁTICA NAS ESNTREVISTAS
CATEGORIAS FREQUÊNCIA OCORRÊNCIA EM
NUMEROS
Objetivos pedagógicos
História 6
Desmistificação
capoeira/candomblé
6
Preconceito 5
Fundamentos 5
Reflexão 2
Capoeira/mídia 2
Aspectos avaliadores
Participação nas atividades 12
Questionário 2
Prova/ relatório/ debate 3
Leitura de texto 6
Construção de Painel 2
38
Dos objetivos pedagógicos que os bolsistas pretendiam atingir, os de maiores
frequências foram possibilitar o conhecimento da história da capoeira e desmistificar a relação
da capoeira com o candomblé, sendo este segundo o de maior preocupação. Essa necessidade
foi percebida antes ou durante a aplicação do conteúdo por conta do preconceito presente,
estando bem transparente nos depoimentos de B8: “Desmistificar a relação da capoeira
diretamente com o candomblé (...)”; B12 também destaca: “[...] nosso objetivo então, por
algumas aulas, foi o de desmistificar essa visão preconceituosa sobre a capoeira [...].”
Essa relação da capoeira com o candomblé se dá pelo fato de a capoeira, quando
perseguida no período da marginalidade, ter encontrado nos terreiros de candomblé o refúgio
Tema trabalhado
Historia 15
Estilos 2
Movimentos 10
Musicalidade 6
Instrumentos 3
Economia 1
Esportivização 2
Metodologia utilizada
Texto 5
Filme 6
Oficina 8
Dificuldades encontradas no
processo pedagógico
Domínio pratico do conteúdo 8
Participação 8
Tempo 1
Aprendizagem dos estudantes
da escola
Aumento da participação dos
alunos nas aulas
2
Postura não preconceituosa 2
Aprendizagem dos bolsistas
de ID
Não é necessário o
conhecimento prático
4
A necessidade de pesquisar em
qualquer conteúdo
2
39
que necessitava para sua sobrevivência. E, como outras manifestações afro brasileiras, o
candomblé e outras religiões de matriz africana são vistas socialmente com maus olhos.
Foi perceptivo que os demais objetivos citados estavam relacionados com o projeto de
ensino-aprendizagem criado pela equipe do PIBID/UNEB-EF/2009 para orientação dos
mesmos nas intervenções da escola. Esses objetivos foram: Conceituar a capoeira e apresentar
aos alunos os fundamentos teóricos e práticos, de modo que os mesmos possam refletir sobre
a importância cultural através de sua origem; Apresentar aos alunos os elementos que
compõem a capoeira, entendendo os significados que cada um traz, resgatando-a como
manifestação cultural; Apresentar aos alunos as diferentes formas da prática da capoeira de
forma historicizada para que o aluno, além de identificar na prática os estilos da capoeira,
conheça suas diferentes origens; e, Problematizar com os alunos a relação da capoeira com o
esporte de forma que eles possam entender como a mídia aborda os diferentes elementos da
cultura corporal de acordo com as necessidades capitalistas. Além disso, identificar os
motivos que levam o capoeirista a ser discriminado.
No que diz respeito aos objetivos, o desenvolvimento da capoeira no âmbito do
PIBID/UNEB – EF/2009 seguiu os princípios da Pedagogia Histórico-Crítica. Falcão (2009)
já elucidava o referencial afro brasileiro presente na capoeira, como ferramenta pedagógica do
professor para o processo de entendimento da realidade sócio-histórica brasileira. E este
contexto histórico foi bastante utilizado pelos bolsistas na consolidação da proposta.
Na categoria aspectos avaliadores, a frequência que teve maior indicação foi
participação dos alunos nas atividades desenvolvidas durante a unidade. O B3 relata: “a
participação nas aulas práticas foi um método avaliativo e uma prova prática (...)”.
Em relação à avaliação, Freitas (1995) destaca dois tipos de avaliação: a avaliação
formal, na qual consiste a utilização de instrumentos explícitos da avaliação e a avaliação
informal, que se configura na construção de juízos gerais sobre o aluno por parte do professor.
Estas avaliações podem ser desde a participação até a realização de prova. Todavia, para o
mesmo autor, os temas avaliados devem se relacionar com os objetivos pedagógicos e, aqui,
parece haver um problema na prática avaliativa concretizada pelos bolsistas de Iniciação à
Docência. Aparece, portanto, a necessidade de discutir o tema avaliação em Educação Física
escolar no âmbito da equipe do PIBID/UNEB-EF/2009.
Os temas mais utilizados nas aulas foram: história da capoeira e a vivência dos
movimentos (prática corporal) e o de menor citação a relação capoeira/economia. Com base
nas entrevistas tais temas se destacaram primeiro para uma maior aproximação do conteúdo
por parte do aluno,e segundo para o contato direto com a capoeira.
40
Como citado anteriormente por Falcão (2009), a história da Capoeira deve ser bastante
aproveitada no processo de ensino-aprendizagem do aluno. Quanto à experimentação dos
movimentos da capoeira, isto atende à perspectiva de tematizá-la em todos os seus aspectos e
dimensões e possibilita que os alunos experimentem suas possibilidades de ação corporal,
como propõem Soares, et al (1992).
As metodologias utilizadas para consolidar o trabalho com a capoeira que mais se
sobressaíram foram oficinas de capoeira, ministradas em sua maioria por convidados,
conforme B2: “Contamos com o auxílio do contramestre e colega do PIBID, [...] que fez uma
aula tematizando os golpes, a roda, a ginga, a música (...)”
A exibição de filmes também foi bem utilizada como recurso metodológico, como está
presente na fala do B12: “fizemos debate sobre o filme “Besouro”. Outro recurso utilizado foi
leitura de textos.
Referente às questões metodológicas utilizadas pelos bolsistas, Bispo, Pereira e Silva
(2011, p. 6) destacam: “a transmissão do conteúdo pode ser feita através de estudo de textos,
vídeos, filmes e convidados que possam ministrar palestras, oficinas que oportunizem ao
aluno desfrutar de algumas vivências práticas”. Fato que ocorreu com todos bolsistas na
utilização das proposições.
Campos (2001, p. 87) destaca que o ensino-aprendizagem da Capoeira não deve ser
voltado para que o aluno aprenda uma técnica de luta ou esporte. O ensino dos movimentos
deve vir acompanhado da transmissão de todos os elementos que compõem a cultura (história,
origem, e evolução), além de ser estimulada a pesquisa, o debate e as discussões em
seminários, a fim de que haja participação dos alunos. Ele continua: “A principal ideia é que,
durante as aulas, os alunos possam participar de maneira integrada, jogando, cantando e
tocando.” Ele ainda atribui ao professor estimular e oportunizar essa prática em momentos de
aulas/capoeira.
Vê-se, portanto, que as estratégias metodológicas utilizadas pelos bolsistas de
Iniciação à Docência são próximas daquelas propostas pelos autores que referenciam este
estudo, já que a capoeira é vista como tema de estudo na escola, como propõe Falcão (2009),
não se constituindo uma prática de treinamento da capoeira.
As dificuldades que se destacaram mais na aplicação do conteúdo foram domínio
prático do conteúdo e participação dos alunos nas atividades de experimentação corporal
(práticas), com índice de oito frequências cada.
Saviani (2008) discorre que a relação do domínio de certo conteúdo não é garantia que
seja bem executado na escola, ele exemplifica: “o melhor geógrafo não será necessariamente
41
o melhor professor de geografia; nem será o historiador aquele que desempenhará o melhor
papel de professor de história (...).” Isto ficou evidente de forma contrária a citada por
Saviani, pois os bolsistas desempenharam bem o trato com o conteúdo, mesmo não tendo o
domínio prático da Capoeira, pois conseguiram construir uma sequência didática que deu
conta dos objetivos pedagógicos propostos e assumiram o compromisso político com o grupo
com o qual se trabalhava, buscando os suportes para desenvolver o trabalho.
Segundo os relatos dos próprios bolsistas a dificuldade em participação das atividades
estava relacionada à associação da capoeira com as religiões de matrizes africanas, em
especial ao candomblé, e ao não contato deles com o conteúdo, conforme cita B2: “A
principal dificuldade encontrada foi a não participação da grande parte da turma nas vivências
capoerísticas devido, justamente, a associarem a prática da capoeira a uma prática religiosa
(candomblé) e não como uma prática da cultural corporal.” B6 também comenta: “Veja bem,
dentre as principais dificuldades encontradas, posso relacionar o não contato direto com essa
cultura[...].” Mas, estas ocorrências foram mais tarde contornadas através de conversas.
Dentro das aprendizagens dos alunos percebidas pelos bolsistas ocorreram-se duas
citações que merecem destaque, o B1 relata: “(...) alguns que ficavam fora de outras
atividades práticas e com a capoeira foram diferentes, eles participaram unanimemente” e B2
afirma que “Pelo aumento na participação das atividades e pelos próprios jogarem capoeira na
escola fora do horário da aula (...)”.
Isto tem uma grande importância para a Capoeira, pois mostra apenas um dos seus
vários benefícios, conforme cita Campos (2001, p. 78) “Aprender Capoeira é, acima de tudo,
interagir com a identidade cultural de um povo, é vivenciar a expressão corporal, é ter a
possibilidade de adquirir o espírito crítico-reflexivo da sociedade onde está inserido.”
Quanto às aprendizagens dos bolsistas, as ocorrências foram de que não é necessário o
domínio prático do conteúdo a ser tematizado. Em relação a isto, no relato de B2 destaca-se:
"O meu principal aprendizado refere-se em tematizar esse conteúdo independente do meu
domínio técnico ou não (...)”.
Vejo esta declaração não como desvalorizando o domínio prático da Capoeira ou de
quaisquer outros conteúdos da Educação Física escolar, mas que o não domínio não deve ser
motivo para a não oferta do conteúdo, pois, como citado anteriormente por Saviani (2008), a
garantia de que você domina na prática certo conteúdo não é garantia de que em sala de aula
será um excelente professor. Do mesmo modo, se a postura assumida no trabalho pedagógico
for a de busca de suportes necessários para a transposição didática, para a construção da
42
sequência didática e de contato com a comunidade, como foi feito no âmbito do
PIBID/UNEB-EF/2009, haverá condições de trato com o conteúdo.
Houve também a preocupação dos bolsistas na pesquisa do referido conteúdo,
explícito na entrevista de B12: “Aprendi muita coisa, principalmente pelo fato de ter que
pesquisar sobre temas mais polêmicos, como a religiosidade, no sentido de ter propriedade
para passar para os meninos (...).”
QUADRO 2 - FREQUÊNCIA TEMÁTICA DOS RELATÓRIOS
CATEGORIAS FREQUÊNCIA OCORRÊNCIA EM
NUMEROS
Objetivos pedagógicos
- -
- -
- -
- -
- -
- -
Aspectos avaliadores
Relatório 1
Questionário 5
Prova 5
Textos 3
Tema trabalhado
- -
- -
- -
- -
- -
- -
- -
Metodologia utilizada
Jogos 2
Filme 6
43
Não houve ocorrências, nos relatórios analisados, sobre os objetivos pedagógicos, os
temas trabalhados, as dificuldades e as aprendizagens de bolsistas e estudantes. Este já se
configura um ponto de reflexão, pois a solicitação nos relatórios é que os bolsista de ID
reflitam acerca de suas experiências. E, o que se viu, todavia, foram relatos descritivos sem se
dar conta de um processo de reflexão sobre a experiência pedagógica oportunizada por esse
Programa.
Na categoria “Aspectos avaliados” tivemos como maior índice de frequência provas e
questionário, , além de produção de texto e elaboração de relatório. Isto mostra que, apesar do
PIBID/UNEB-EF/2009 propor uma pedagogia inovadora, ainda seguem as orientações da
escola, pautada em referenciais tradicionais, para avaliação da aprendizagem dos estudantes.
Falcão (2009, p. 92) chama a atenção para a avaliação na Capoeira em ambiente
escolar. Ele diz: “O professor deve privilegiar o cotidiano, do aluno estabelecendo um tempo
para deixá-lo falar, relatar situações e criar.” Para o autor, o professor deve valorizar o tempo
que tem para o aprendizado pedagógico e os aspectos e conceitos que os alunos aprendem
neste processo de ensino-aprendizagem. Estes fatos estavam presentes nas conversas
informais e nas entrevistas, mas nos relatórios não foram perceptivas.
Outra reflexão que pode ser feita, nesse momento, remete-nos ao que afirma o próprio
Saviani (2008) acerca das dificuldades de “atravessar a ponte” entre a proposição pedagógica
da Pedagogia Histórico-crítica e o fazer escolar concreto e cotidiano. O autor afirma que uma
das dificuldades desta proposição está no fato de o sistema escolar ainda se pautar em
referencias conservadores. Vê-se isto no modo como está organizado o sistema avaliativo da
rede estadual baiana (e, por conseqüência, da escola parceira), no qual é exigida a existência
Slaider 1
Oficina 11
Dificuldades encontradas no processo
pedagógico
- -
- -
- -
Aprendizagem dos estudantes da escola - -
- -
Aprendizagem dos bolsistas de ID
- -
- -
44
da “semana de provas” e a atribuição de uma nota numérica ao estudantes. Esta seria, todavia,
outra discussão – sobre avaliação na escola – a qual não pretendemos aprofundar.
Dentre as metodologias utilizadas pelos bolsistas, tivemos a aplicação de oficina a que
teve maior frequência nesta categoria com 11 aparições, seguido da utilização de filmes com 6
frequência, a aplicação de jogos com 2 e a utilização de slides com uma indicação, sendo
estes os recursos metodológicos encontrados nos relatórios e planos de aulas dos referentes
bolsistas de Iniciação à Docência.
Referente às metodologia utilizada pelos bolsistas de Iniciação à Docência para
obtenção dos resultados, Soares et al (2012) destaca: “o trato com o conhecimento
corresponderia à necessidade de criar as condições para que se deem a assimilação e
transmissão do saber escolar”.
E foi o que de fato ocorreu, os bolsistas utilizaram-se de vários métodos para
atingirem seus objetivos, isto ficou evidente tantos nos relatórios mensais que os bolsistas
fazem das atividades, quanto nas entrevistas citadas anteriormente.
45
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa estuda como foi o trato pedagógico com a capoeira no âmbito do
PIBID/UNEB – EF/2009 por parte dos Bolsistas de Iniciação á Docência, na escola parceira
do subprojeto.
Para tanto os objetivos específicos foram: investigar se as proposições teóricas
metodológicas foram utilizadas, identificar como as atividades de capoeira foram
desenvolvidas, averiguar quais as estratégias os bolsistas de ID utilizaram para o
desenvolvimento das aulas, verificar o resultado de aprendizagem dos bolsistas de ID e dos
estudantes da escola parceira.
No que se diz respeito ao primeiro objetivo específico, os resultados são bem claro,
dos dezenove bolsistas de ID quinze utilizaram as proposições e quatro não tematizaram a
capoeira pelos motivos anteriormente explicitados.
As atividades foram desenvolvidas através de diversas estratégias metodológicas,
desde a utilização de filmes, textos até as oficinas. E, o não domínio do conteúdo não foi
empecilho para sua utilização, já que houve o convite de professores de capoeira reforçando a
relação escola/comunidade e a busca de suportes necessários à pedagogização do tema.
Como já era esperado encontrar resistência, até mesmo porque capoeira é um conteúdo
de pouco encontrado nas escolas, os bolsistas utilizaram-se de debates e pesquisas para
desmistificar a visão preconceituosa que os educandos tinham com a capoeira, conseguindo
atingir seus objetivos e garantir a participação dos estudantes nas atividades no decorrer das
intervenções.
Ao final das intervenções, segundo relato dos bolsistas pesquisados, os alunos
mudaram a visão que eles tinham inicialmente da capoeira e a prova disto foi a participação
nas atividades e nas pesquisas solicitadas. Nesse sentido, B16 narra: “(...) E uma coisa que foi
superinteressante, foi uma das atividades que a gente propôs que foi o seminário, a gente
dividiu em subtemas relacionados com capoeira [...] foi superinteressante, todas as equipes
fizeram, né, trouxeram cartazes com as figuras relacionadas ao tema, eles explicaram né,
lógico alguns ainda com dificuldade na leitura, mas só o empenho de pesquisa de saber que
eles puderam perceber a capoeira de uma forma diferente [...]. Tinham muitos alunos que
eram evangélicos na sala e não tiveram nenhuma resistência nesse sentido, pesquisaram sobre
a capoeira, trouxeram o conteúdo e apresentaram no seminário, o seminário que foi uma das
avaliações [...]”
46
Foi perceptivo nas entrevistas que os bolsistas perceberam a importância da pesquisa
ao abordarem temas de pouco contato. E que a capoeira pode e deve ser trabalhada na
Educação Física escolar, mesmo que o professor precise buscar auxílio de membros da
comunidade que tem o domínio que o professor não tem.
Já nos relatórios os bolsistas de ID não relataram suas conquistas, adentraram-se em
descrever os encaminhamentos das aulas. As dificuldades também não foram relatadas nos
depoimentos dos mesmos e no último relatório referente, ao mês de dezembro, eles fizeram
uma avaliação geral dos resultados obtidos no ano e não especificaram a capoeira, conteúdo
trabalhado pela maioria na quarta unidade. Isto gera a necessidade da equipe rever o processo
de produção do relatório para que o mesmo se constitua um registro de memórias, mas
também de reflexões sobre a realidade escolar.
É possível dizer que os resultados alcançados pelos bolsistas de Iniciação à Docência
ampliaram o acesso à capoeira por parte dos alunos da escola parceira. A dificuldade em
tematizar o conteúdo no que se refere à experimentação corporal (vivência prática) já era
esperada, mas os bolsistas buscaram estratégias, especialmente convidando pessoas da
comunidade para dar conta dessa dimensão. Ou seja, apesar do não domínio prático dos
movimentos, conseguiu-se consolidar as proposições teórico-metodológicas para o trabalho
com a capoeira no contexto do PIBID/UNEB – EF/2009. Isto mostra que há possibilidades
reais e concretas de inserir esse tema na escola de modo contextualizado e que envolve,
mobiliza e ensina a alunos e professores.
Essa realidade, todavia, leva a refletir que a Capoeira precisa estar presente mais cedo
e de forma mais aprofundada na formação inicial de professores de Educação Física.
Partindo deste pressuposto, cabe realizar estudos sobre a capoeira na formação de
professores de Educação Física e, ainda, os impactos do PIBID/UNEB – EF/2009 no trabalho
pedagógico desses mesmos bolsistas quando estiverem nas diversas realidades escolares na
condição de professores, após a conclusão do processo de formação.
47
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49
APÊNDICE A
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO/CAMPUS II
COLEGIADO DE EDUCAÇÃO FÍSICA
O TRATO PEDAGÓGICO COM A CAPOEIRA NO ÂMBITO DO PIBID/UNEB –
EF/2009
ROTEIRO DA ENTREVISTA
1. Você utilizou as proposições teórico-metodológicas planejadas para o trabalho com a
capoeira? Por quê?
2. Quais foram os objetivos pedagógicos na tematização da capoeira?
3. Como você realizou a avaliação e que aspecto você priorizou?
4. Dentro da capoeira, que temas você priorizou?
5. Você encontrou alguma dificuldade na aplicação das atividades? Quais foram?
6. Como você contornou essa situação?
7. Você percebeu se o conteúdo contribuiu de alguma forma na vida dos alunos? Como?
8. O que você considera que aprendeu nesse processo de trato pedagógico da capoeira no
âmbito do PIBID?
50
APENDICE B
Tabela 1 MAPA DE ANÁLISE DE CONTEÚDO TEMATICO DAS ENTREVISTAS
Bolsistas/
categorias
Objetivos
pedagógicos
Aspectos
avaliadores
Temas trabalhados Metodologia
utilizada
Dificuldades
encontradas no
processo pedagógico
Aprendizagem
dos alunos da
escola
Aprendizagem dos
bolsistas de ID
B1 “Sua origem, é...
fundamentos, suas
crenças, conceitos
e visão atualizada
do conteúdo”
“A avaliação foi
caracterizada desde
relatos individuais de
cada aluno até a
pratica simples da
capoeira entre eles
(...)”
“É... o conceito
história, o jogo, a
musicalidade, os
golpes, a malícia e
também a ginga do
corpo.”
“(...) leituras e
discussão de textos,
vídeos em sala de
aula (...)”
“Por ser um conteúdo
que poucos tinham
habilidades com a
prática.”
“(...) alguns que
ficavam fora de
outras atividades
práticas, e com a
capoeira foram
diferente eles
participaram
unanimemente (...)”
“A forma temática de
ministrar o conteúdo.”
B2 “(...) valorização
da cultura afro e a
apreensão de
movimentos
motores da
capoeira (...)”
“A avaliação foi
realizada através de
vivencias sendo
valorizado o quesito
participação,
independente da
destreza ou não do
aluno em relação a
capoeira.”
“(...) definição sobre
capoeira, a diferença
entre Capoeira
Regional e Angola, a
musica, os diferentes
tipos de instrumento
que compõem a roda,
os golpes e outros.”
“Contamos com o
auxilio do contra
mestre e colega do
PIBID, Márcio[...]
que fez uma aula
tematizando os
golpes, a roda, a
ginga, a música (...)”
“A principal
dificuldade encontrada
foi a não participação
da grande parte da
turma nas vivencias
capoeristicas (...)”
“Pelo aumento na
participação das
atividades e pelos
próprios jogarem
capoeira na escola
fora do horário da
aula(...)”
"O meu principal
aprendizado refere-se
em tematizar esse
conteúdo independente
do meu domínio
técnico ou não(...)”
51
B3 “Desmistificar a
associação que é
feita com as
crenças religiosas,
o preconceito e a
desvalorização
com as pessoas
que praticam
capoeira (...)”
“a participação nas
aulas praticas foi um
método avaliativo e
uma prova pratica(...)”
“Contextualizamos a
historia, a ginga e
alguns
movimentos...só
(risos)”
“Fiz algumas
pesquisar e procurei
ajuda dos colegas
(bolsistas)”
“(...) Sendo que, eu tive
muita dificuldade em
passar alguns
movimentos (...)”
“Contribuiu sim,
pois muitos não
conheciam e o
conhecimento é
sempre valido.”
“Apesar de já ter tido
essa disciplina na
faculdade, desenvolver
o papel do professor
foi conquistado aos
poucos, através de
pesquisas, leituras e
conversas com os
colegas (...)”
B4 “(...) promover aos
alunos uma
reflexão de como a
capoeira está
inserida em nosso
contexto
historicamente e
principalmente e
de que ela não é
violenta como
muitos abordam
(...)”
“ Fizemos a avaliação
teórica e priorizamos o
mínimo de... de
domínio sobre o
conteúdo.”
“ A história da
capoeira, religião
associada a capoeira
(o candomblé), é... os
instrumentos e seus
significados.”
“(...) de sempre
dialogar com eles,
acho que isso
facilitou que eles
aceitarem o que não
é tão...é constante tá
na escola o conteúdo
capoeira.”
“Eu não encontrei
dificuldade em aplicar o
conteúdo capoeira,
talvez pelo fato de os
alunos já estarem
acostumados a nossa
maneira(...)”
“ Eu não tive
como perceber
isso porque eu
(pausa), como
troquei de dupla
devidos aos
horários das aulas
na
faculdade[...]então
eu não tenho
como avaliar
como eles
pensavam antes,
para depois do
“(...) eu descobrir
algumas coisas que as
pessoas
relacionavam[...]depois
que começamos a
trabalhar o conteúdo
capoeira, foi que eu fui
vendo que existia a
questão da
religião[...]com o
tempo foi ficando claro
com a gente em
oficinas e tal, que isso
realmente não tinha
52
conteúdo
trabalhado.”
nenhuma relação, que
inclusiva pessoas que
são de outra religião
praticam, capoeira.”
B5 1- “(...)meu intuito
foi tentar mostrar
aos alunos o
contexto histórico
[...]reconheciment
o da capoeira
como patrimônio
cultural[...]a
discriminação era
sempre posta em
pauta, como um
ato que não deve
existir em nenhum
fato de nossas
vidas.
“ O aluno era avaliado
durante as aulas, por
seus gestos
participativos;
avaliamos os mesmos
com uma série de
questões dirigidas a
grupos, com perguntas
sobre todo o assunto
abordado como:
preconceito,
discriminação,
contexto histórico,
reconhecimento como
patrimônio cultural,
instrumentos,
praticantes, entre
outros.”
“Contexto histórico;
percurso da capoeira
no Brasil;
contemporaneidade;
alguns movimentos
(...)”
“ Tentei trabalhar os
temas e dimensões
no que cerne a parte
teórica (...)”
“ Outros conteúdos
como ginástica e dança
tive mais dificuldade
tanto em planejar,
quanto em executar a
intervenção didática.
No caso da capoeira
tinha me preparado
bem, aproveitei o
máximo das oficinas de
Márcio e Silas, prestava
atenção nas aulas da
disciplina na UNEB
(...)”
“ Pelo que pude
perceber os alunos
tiveram o
entendimento da
capoeira, enquanto
conteúdo de criação
brasileira.”
“(...) serviu para
aprofundar meus
conhecimentos em
torno da capoeira e
como ressalto sempre,
não só cada conteúdo,
mas a intervenção
didática no geral
contribui para o meu
aperfeiçoamento
profissional (...)”
B6 “(...) o “(...) participação dos “(...) a historia da “Através do dialogo, “Veja bem, dentre as “Sim, os alunos “Bem...aprendi que
53
reconhecimento da
capoeira no âmbito
escolar, o não
preconceito em
participar de uma
roda de capoeira, a
relação de capoeira
e mídia (...)”
estudantes durante as
aulas, e...os textos
produzidos pelo
mesmos.”
capoeira (pausa),
sendo também
trabalhada a
musicalidade junto
com os movimentos
básicos da capoeira.”
e sempre ouvindo os
estudantes e
procurando tematizar
as aulas de acordo
com as situações que
eles mesmos queria
aprender (...)”
principais dificuldades
encontradas, posso
relacionar o não contato
direto com essa cultura
e a principio houve um
pouco de rejeição dos
alunos (...)”
aprenderam uma
cultura diferente e
procuraria repassar
isso fora do âmbito
escolar.”
mesmo não dominando
totalmente um
conteúdo é capaz de
repassa-lo de forma
concreta e
sistematizada através
de vídeos e oficinas
ofertadas por
professores que
sabem(dominam) o
conteúdo (...).”
B7 - - - - - - -
B8 “Nosso objetivo
era levar aos
alunos, o
conhecimento da
capoeira [... ]
Desmistificar a
relação da capoeira
diretamente com o
candomblé (...)”
“A gente avaliou é
(pausa) teoricamente
através dos textos com
as leituras dos textos a
gente fez uma
discussão em sala de
aula, e com o filme, a
gente pediu que eles
fizessem um relatório
do que tinham
entendido do filme
“A gente priorizou a
historia da capoeira; é
(pausa) os
movimentos (...)”
“(...) a gente
trabalhou através de
texto e através do
filme besouro, que
retratava a pratica da
capoeira.”
“(...) A dificuldade que
a gente encontrou foi a
nossa falta de pratica,
então foi essa a
dificuldade que a gente
encontrou em não poder
levar prá eles mais a
pratica a aula pratica de
capoeira.”
“Sim, muito em
relação à religião,
eles
desmistificaram
realmente (...).”
“Eu considero que a
gente pode trabalhar a
capoeira independente
da pratica ou não (...).”
54
priorizando os
aspectos da educação,
da disciplina, do
movimento (...).”
B9 “Proporcionar aos
alunos maior
contato possível
dos elementos da
cultural corporal.”
“Foi priorizado o
conhecimento
histórico dos alunos e
a participação nas
aulas.”
“Trabalhamos maior
tempo com o contexto
histórico, com suas
diferenças e realidade
em cada momento.
Realizamos algumas
vivências em sala
com movimentos e
cantigas (...).”
“Na prática, levamos
os alunos para
vivenciar com
profissionais.”
“Sim, sim... Por não se
sentir seguro com o
tema. Nunca tive
experiência e na
Universidade não
tornou suficiente para
deixar seguro. Como
em qualquer outro
tema.”
“Os alunos
perceberam que é
possível vivenciar,
mesmo de forma
simples a capoeira
e compreender toda
sua fase histórica.”
“Que a capoeira deve
ser trabalhada na
escola e que não é
preciso ser ensinada da
mesma forma que
acontece em clube,
mesmo com pouco
conhecimento é
possível realizar um
trabalho de qualidade.”
B10 “(...) acabamos
focando mais na
própria história da
capoeira[...]a
questão da
esportivização, a
questão do
preconceito que os
capoeirista sofrem,
“(...) A gente pediu
pros alunos que
participassem das
aulas... e foi essa
participação que a
gente contou (...).”
“(...) sempre
tematizando a
história da capoeira
associada ao diversos
elementos que a
compõem. E os
próprios movimentos
da capoeira, que não
foi prioridade, mas
“(...) E aí é bom
ressaltar que os
alunos participaram
da leitura e da
discussão e nas
aulas-oficinas, que
fizemos acabou
tendo uma sintonia
entre o que foi visto
“(...) a gente teve
poucos dias de aula pra
tematizar a capoeira, ai
o que a gente fez... a
gente deu um texto, e aí
a gente trabalhou a
história mesmo da
capoeira.. e mostrou um
pouco como a
“Eu acho que sim,
viu?! Acho que
tudo que a gente
leva pra sala de
aula acaba
contribuindo na
vida dos alunos,
mesmo aqueles que
se interessam
“(...) Aprendi que não
há tanta resistência
com a capoeira como
eu imaginei que
tivesse... e assim, que
há muitas
possibilidades de se
trabalhar com a
capoeira. Formas
55
o fato da mídia não
dar muita
importância a
capoeira(...)”
não deixou de ser
elemento presente em
todas as aulas.”
da parte histórica
com a prática (...).”
vestimenta, os
instrumentos... e como
duas das aulas foram
feitas em forma de
oficina, com
convidados que tinha a
prática da capoeira e
estudavam sobre
isso(...).”
menos, mesmo
aqueles que não
participam tanto
eles apreendem
algo (...).”
diferentes de agregar,
pode ser utilizado uma
forma lúdica para
aprender.”
B11 “Foi abordagem
histórica e social
da capoeira[...]é...
a sua
desmistificação em
torno da
religiosidade, do
gênero, do
preconceito ao
trabalhar o
conteúdo no
ambiente escolar
(...).”
“Avaliação foi em
torno do que os alunos
traziam de
conhecimento, através
de sua pratica
corporal, priorizando
sempre o
conhecimento prévio
do aluno (...).”
“É... conhecimento da
pratica, ou seja, os
movimentos básicos
e, teoricamente a
historia da capoeira e
sua esportivizaçao.”
“Através do
planejamento com o
grupo fizemos um
convite ao acadêmico
e instrutor de
capoeira a apresentar
os movimentos da
capoeira na sala de
aula para os
estudantes [...]a
partir daí tentamos
sempre relacionar
essa aula com as
demais.”
“Sim, principalmente
aqueles alunos mais
tímidos que não
participavam das
atividades trazidas por
nos[...]Outro ponto que
destaco foi a minha
aproximação com a
pratica da capoeira isso
implicou um pouco no
desenvolvimento das
atividades.”
“Apesar dos
problemas lá no
inicio quando
apresentamos o
conteúdo à turma
[..]ao trabalhar a
capoeira com a
classe fomos
desconstruindo essa
visão conservadora
no decorrer da
unidade.”
“(...) esse momento foi
fundamental tanto no
ponto de vista
pedagógico o quanto
pessoal, tem me
proporcionado
vivenciar e aproximar-
me dessa realidade que
é levar a capoeira
como conteúdo no
ambiente escolar na
pratica de ensino-
aprendizagem (...)”
56
B12 “(...)
Inicialmente,
pretendíamos
garantir a
capoeira como
uma
manifestação
cultural como
luta, como
jogo[...]nosso
objetivo então,
por algumas
aulas, foi o de
desmistificar essa
visão
preconceituosa
sobre a
capoeira[...]traça
mos como
objetivos,
relacionar os
“Na verdade, a nossa
avaliação foi
processual[...]Avalia
mos a participação
dos alunos nas
aulas[...]fizemos
debate sobre o filme
„Besouro‟, fizemos
avaliação escrita(...)”
“Trabalhamos os
elementos básicos: os
golpes, a
musicalidade, a
religião, os
instrumentos, a
história, estilos de
capoeira(...)”
“(...) com relação à
prática, aos
movimentos básicos
da capoeira, optei por
convidar pessoas que
tem um
conhecimento
específico da
capoeira[...]Com
relação ao trabalho
da capoeira nas
dimensões social,
econômica, política,
histórica, etc, para
superar estas
dificuldades tive que
buscar em textos, em
conversas com
pessoas mais
experientes na
prática pedagógica,
como a coordenadora
do projeto, por
“Sim...senti
dificuldades. Por não
ter uma vivência ativa
na capoeira senti
dificuldades nas
especificidades práticas
(golpes, músicas,
movimentos básicos).”
“É claro que não é
fácil desconstruir
um pensamento
baseado em
valores[...]Creio
que pelo menos
tenham entendido a
capoeira como uma
luta pela liberdade,
como manifestação
cultural(...).”
“Aprendi muita coisa,
principalmente pelo
fato de ter que
pesquisar sobre temas
mais polêmicos, como
a religiosidade, no
sentido de ter
propriedade para
passar para os
meninos[...]aprendi a
respeitar a visão do
outro, a opinião de
cada aluno, sem perder
de vista o objetivo de
transformar esse
conhecimento
sincrético num
conhecimento
sistematizado, afinal,
temos que considerar a
realidade para poder
avançar e mudar esta
realidade.”
57
movimentos
básicos da
capoeira com sua
historicidade,
introduzir a
capoeira a partir
de jogos da
cultura popular,
apresentar os
diferentes tipos
de capoeira.”
exemplo, enfim, tive
que buscar
estratégias para
avançar.”
B13 - - - - - - -
B14 “(...) Tentamos
mostrar a relação
dela com a
religião, com a
dança e o jogo,
mostra que a
capoeira pode ser
jogada por todos
(...)”
“A avaliação foi
focada em cima das
dimensões da capoeira,
como forma de jogo,
dança e luta. Além de
seu contexto histórico
como mestres,
instrumentos e
movimentos da
capoeira.”
“(...) mesclando os
movimentos com a
história (...).”
- “A grande dificuldade
era a participação dos
alunos nas aulas
práticas (...).”
“creio que sim,
principalmente por
eles terem visto que
a capoeira
concentra os
elementos da
dança, jogo e lutas,
e que a mesma, é
de grande
importância na
“aprendi que os
conteúdos da educação
física não se prendem
apenas aos jogos e
esporte, que conteúdos
que trazem fenômenos
culturais como a
capoeira podem ser
trabalhos.”
58
nossa cultura.”
B15 “Além de fazer
com que os alunos
conhecessem a
capoeira, eles
vivenciassem a
prática, é...
conhecendo um
pouquinho a raiz, a
origem, tivessem a
oportunidade
também de
conhecer não os
dois tipos de
capoeira, não sei
se fala assim
(entrevistador:
ESTILOS!), os
dois estilos de
capoeira a
Regional e a
Angola (...)”
“A avaliação já
começou desde o
primeiro dia de aula,
que foi com o
questionário
diagnostico [...] depois
a gente fez, é... oficina
de capoeira na
escola[...]fizemos um
mural é... pra colocar
algumas coisas, alguns
gestos, como é que
chama? -
Movimentos! –
movimentos da
capoeira, acabamos
fazendo um painel e
todos participaram, é...
e só.”
“(...) é o histórico
[...]e depois a gente
trouxe pra economia.”
“É a gente priori,
pediu pra eles
pesquisarem, o que
era capoeira, de onde
surgiu e tal, e
também pesquisar as
religiões [...]A gente
levou também
pessoas ligadas a
capoeira como
mestres e alunos que
também já fazem
capoeira para falar
um pouquinho sobre
o assunto e ensinar
também e falar sobre
os gestos (...)”
“Encontrei... é (pausa)
uma das foi a relação
que os alunos faziam da
capoeira com o
candomblé [...]Teve a
questão também de
movimentos, quando a
gente levava algo pra
eles fazerem eles eram
muito limitados (...).”
“(...) Então eu
percebi assim na
postura deles, foi
mudado muito
rápido, é... pela
consciência
mesmo, eles
criaram
consciência,
participaram das
aulas, participaram
das oficina, não só
isso mas até nos
trabalhos eles
participaram, é... a
gente percebeu
realmente um olhar
diferente dos
alunos (...)”
“(...) Mas o PIBID ele
abriu realmente
janelas, né eu posso
dizer leques de
conhecimentos da
capoeira, e me deu
subsídios mesmo para
adentrar no colégio
com outra visão e
mudar a postura
mesmo em relação à
capoeira.”
B16 “(...) desmistificar “(...) Então a gente “A história, as - “(...) nesse sentido a “Eu acho que “(...) Mas é... aprendi
59
um pouco essa
questão que a
gente percebia na
sala[...]preconceito
diante da prática
né, comparando
com
macumba[...]partiu
do principio
também de tentar
diferenciar um
pouco os
questionamentos
que ficam do que é
realmente a
capoeira, se é
dança, se é jogo, se
é luta, né?(...)”
utilizou assim
questionário né? A
gente trabalhou
também o filme
besouro[...]
Trabalhamos um texto
explicando um pouco
da sagação histórico da
capoeira(...)”
diferentes formas de
concepção vamos
dizer assim né, se ela
é dança, se ela é luta,
em fim, basicamente
isso.”
dificuldade maior
encontrada foi fazer
essa vivência pratica
mesmo, porque assim,
nós não nos sentimos
segura é... prá... a gente
orientar esse momento,
a agente achou que
podia negar alguma
coisa, né?(...)”
contribuiu, a
primeira coisa foi
tirar essa ideia de
que os meninos têm
de que „a capoeira é
macumba‟ [...] mas
só o empenho de
pesquisa de saber
que eles puderam
perceber a capoeira
de uma forma
diferente, indo a
fundo pesquisando,
procurando, acho
que isso já trás uma
mudança, e com
certeza no final isso
foi mudado né!”
também que a gente
precisa pesquisar mais,
se integra mais, nesse
sentido dentro desse
conteúdo [...]apesar
das dificuldades que é
possível ainda assim se
trabalhar, mesmo que
inicialmente comece
nessa esfera mais
teórica e veja com uma
outra pessoa, um
mestre de capoeira, ou
até com um próprio
aluno na sala que tenha
a vivência, tira um dia
pra fazer a vivencia
com o resto da turma
(...).”
B17 - - - - - - -
B18 “A proposta era
fazer com que os
alunos
“A avaliação foi feita
em primeiro lugar com
a participação do
“História (cultura),
esportivização,
musicalidade, etc.”
- “A única dificuldade
apresentada foi sobre a
religião, visto que,
“Sim. Foi
perceptível após
esse conteúdo que
“Percebi que com
cuidado e jogo de
cintura todos os
60
entendessem que a
capoeira pode ser
praticadas por
todos independente
da sua crença ou
religião.”
grupo [...]com
pesquisas e perguntas
relevantes feitas sobre
a mesma [...]Os alunos
também tiveram uma
avaliação escrita (...).”
tínhamos alguns alunos
evangélicos que
achavam que a prática
da capoeira era
indevida para eles.”
os alunos se
socializavam
melhor, o respeito
para com o outro e
os professores foi
maior, entre
outros.”
conteúdos podem ser
trabalhados e que nós
(professores) não
precisamos ser mestres
nessas áreas para
propiciarmos as
mesmas para os
alunos, basta bom
censo da
prática/conteúdo.”
B19 - - - - “(...) a turma não
ajudava e se mostrou
resistente a essa
novidade da capoeira na
escola, eles estavam
acostumados a uma
Educação Física
diferente, a gente já
vinha desde a primeira
unidade fazendo coisas
novas que eles não
estavam acostumados e
ai quando chegou na
- -
61
capoeira eles se
mostraram um pouco
resistentes (...).”