O Trabalho docente e a organização dos trabalhadores em tempo de neo liberalismo.

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Denise Lemos O Trabalho docente e a organização dos trabalhadores em tempo de neo liberalismo

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Denise Lemos

O Trabalho docente e a organização dos trabalhadores em tempo de neo liberalismo

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O que os tempos neoliberais trouxeram para o trabalho docente?

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Caros colegas.....

Acabo de declinar um convite de um colega do IQ, que precisa de um parecerista para examinar seu processo de progressão acadêmica. Algo extremamente importante! Todos nós teremos que passar por isso! Entretanto tive que dizer: não tenho agenda para os próximos 60 dias, inclusive, porque todas as quintas pela manhã tenho que ir ao psiquiatra e todas as sextas ao terapeuta!

Aliás, ontem tivemos uma banca e a colega que veio examinar a tese de doutorado falou-me que foi feito um estudo na UFES e descobriu-se o número elevadíssimo de licenças médicas concedidas para professores capixabas. A grande maioria eram licenças PSIQUIÁTRICAS E ONCOLÓGICAS.

Algo bastante sugestivo. Primeiro, fica-se louco, depois, somatiza-se um câncer.

Desculpem-me pelo teor amargo,

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Uma fantasia de ócio docente?

O hipercontrole e a percepção de autonomia

O financiamento individual e a ênfase na pesquisa e publicações

A meritocracia

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A rede – o professor sob pressão

PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA MF MP CASA CIVIL MCT   INEP CNE MEC/SESU SINAES,CONAES CAPES CNPQ CRUB REITORIA ANDIFES CONSUNI CONSEPE   PRÓ-REITORIAS   DEPARTAMENTO COLEGIADOS: grad. e pós-grad  

PROFESSORES

ALUNOS

 

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A contradição

Ao mesmo tempo em que há uma percepção de autonomia, há também de permissividade de liberalidade

Cada um faz o que quer?

Autonomia percebida como liberdade individual

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Um professor Pronex argumenta:

“ ... com todos os defeitos que a UFBA tem, ainda é o lugar que eu me sinto livre, isso para mim é um valor que não tem o que pague.

Acho que tem liberdade demais. Mas, o que é disfuncional para a instituição, para mim é ótimo, eu invento o que eu quero, ninguém questiona a minha pesquisa, ninguém questiona o que eu dou na minha aula, para o bem ou para o mal. Você pode ser um ótimo ou um péssimo professor que não tem ninguém te reclamando.

Se a pessoa tiver capacidade de ser empreendedora e buscar seus recursos, não tem limite nenhum. Eu nunca tive um problema de ter um Reitor que não assinasse um pedido de apoio.Agora, não espere que a instituição te dê nada”

(Depoimento de uma professora da Escola de Administração em maio de 2006).

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Necessidade de um chefe – um controle mais perto

Para liberar reconhecimento

Para identificar os não produtivos,obrigando-os a produzir, ou para puni-los.

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O financiamento individualizado, a pesquisa e publicações

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A síndrome dos editais

A política de bolsas e editais – a “ competição administrada”

”A competição é o motor do desempenho coletivo e que, convém, de certo modo, “que todos sejam mal aquinhoados, para sentirem, na devida medida, a importância da disputa” (MANCEBO; FRANCO, 2003, p.194).

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A classificação

Cooptação pelos financiadores

Autonomia por cooptação e não por emancipação do sistema universitário que se daria através de recursos liberados em função de planos e orçamentos anuais.

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O poder dos grupos

Grupos se apossam de temas e recursos, pela política de financiar centros de excelência,

Significa uma estratégia de cooptação de algumas instituições em detrimento da emancipação do sistema universitário como um todo

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O risco do “ escritório de despachantes” ( Botomé,2004)

Predominariam as rotinas, normas, formulários, pedidos e programas(destacando-se as de fomento e outras governamentais).

O que facilitaria o exercício de conveniências políticas ou pessoais de grupos e indivíduos, principalmente se estiverem no governo, direção ou na administração da instituição.

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A ênfase na pesquisa e a docência como atividade marginal

“muito professor só se sente valorizado pelo outro, se estiver atrelado a um programa de pós-graduação, ou se ele for um pesquisador.

A Universidade perdeu um pouco o interesse pela questão da educação”.

Para ser um bom professor é necessário ser um bom pesquisador, representa um nível de desenvolvimento intelectual superior

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“ Muitos professores depois do doutorado querem se dedicar à pesquisa, porque precisam manter um certo padrão de produção, é por isso que eu tenho que minimizar a minha carga com os alunos da graduação. Se você publica mais, você se insere no campo científico, você aparece mais, as idéias que você defende podem ser veiculadas; publicando eu posso mostrar a minha cara, posso influenciar outros. Essa tensão tem me feito repensar algumas coisas, ao mesmo tempo em que me dá muito prazer estar com a graduação, eu fico com a sensação que eu poderia estar teclando as melhores coisas que estão engavetadas, que eu não consigo desovar e publicar”.

(Depoimento de uma professora da Faculdade de Odontologia em maio de 2006).

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A autonomia percebida não é a exercida

“ Eu tenho ampla, total, completa e absoluta autonomia, sinto-me autônoma e democrática. Eu faço meu trabalho com muita autonomia, mas gosto de dividir, eu quero conhecer o que as outras pessoas fazem.

Cada um fica no seu gueto, no seu canto, na sua sala e não divide. Eu quero saber como usar melhor as novas tecnologias da educação, mas preciso que alguém me ensine, diga-me o que fazer. Eu gosto da autonomia, mas não gosto do isolamento. Isso aqui é uma faculdade de Educação mas que não tem integração. Não temos um objetivo, não temos resposta para o aluno que pergunta onde queremos chegar com a formação dele”

(Depoimento de uma professora da Faculdade de Educação em maio de 2006).

 

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Bourdieu e Passeron (1995) argumentam:

“ o poder de violência simbólica, especificamente no seu efeito simbólico, só pode acontecer, na medida em que o poder arbitrário responsável pela imposição de valores não aparece nunca em sua completa verdade, ou seja, na medida em que a arbitrariedade cultural do conteúdo que está sendo inculcado não é totalmente revelada, não há transparência. O desconhecimento da verdade objetiva do poder é exatamente sua condição de exercício. O poder arbitrário, de imposição, só pelo fato de ser ignorado como tal, se faz objetivamente reconhecido como autoridade legítima, o que termina por reforçá-lo” .

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A meritocracia e o produtivismo

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Excelência para quem?

Conceito de qualidade vem do Banco Mundial, que - noção de “eficiência” que, em sua forma ótima, se chama “excelência”.

Essa “qualidade máxima” deve ser quantificada, avaliada e comparada, estimulando a competição entre as instituições pelos parcos financiamentos.

A insistência na “excelência” visa selecionar os melhores, os mais dotados, para tirá-los do suposto marasmo geral e disponibilizar os melhores meios

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Perfil meritocrático - competência

Qualidade = eficiência

excelência é o grau máximo

empreendedorismo

empregabilidade

ênfase no conhecimento especializado, demandado pelo

mercado

Perda da dimensão política, crítica e

criativa da Universidade.

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O preço da excelência de algumas instituições, é o desaparecimento de muitas outras

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Resulta em:

A solidão acadêmica

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Percepções sobre o movimento docente

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Inserido no contexto geral de precarização sindical (profissionalização, carreirismo e burocratização)

Já foi significativo mas enfrenta crise sem precedentes

Perdeu seu lugar na história A estratégia da greve exaure a

Universidade e o MEC ignora. O pior possível

“ pessoas vaiam, saem aos tapas,gritam, metem o dedo no rosto do outro, aí eu penso, não piso mais aqui” (depoimento prof,fac Comunicação,2006)

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Sobre o ANDES

Confunde a atividade de sindicato com partido político, quando luta pela reforma agrária

Excesso de luta corporativista, sectária.

Exclusivamente salarial, perdeu o rumo

Centralização das decisões, ausência de debate, de espaço para posições divergentes.

O discurso é simplificado e a retórica de “ vamos à luta” empobrecida”

“foi a experiência da minha vida, conhecer a ANDES, porque a idéia que eu tinha de sindicato era da APLB e do SIMPRO, eu não podia argumentar, toda vez que eu ia para o microfone era vaiada”.

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O padrão de relação conflitiva – “ disputa de vaidades”

A existência de um padrão de relacionamento interpessoal conflituoso e desestruturante entre os professores foi um aspecto trazido por quase todos os entrevistados.

As políticas de individualização do financiamento, da hierarquização e da elitização do reconhecimento, na percepção dos professores de várias unidades, são os fatores responsáveis por essa precariedade das relações.

Por outro lado, a UFBA é vista também, como uma Universidade que não cria espaços de convivência, os professores seriam “transeuntes”.

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Migração de papel.

De militante político a:

Observador e apoiador crítico

Militante de conteúdo profissional

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Druck,2004 argumenta:

“ a rapidez e virulência do processo de destruição da sociabilidade acadêmica, tem levado a destruição da identidade com a instituição pública por um grande número de professores. A cultura do “sobreviva quem puder” tem gerado práticas oportunistas para atender interesses individuais de cada um, a cada momento” .

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E ainda....

“ o dilaceramento do trabalho coletivo é a conquista e realização da hegemonia neoliberal na Universidade”, que vai sendo legitimado através de um processo de interiorização, de aceitação de que essa é a única lógica do momento histórico atual” .

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“Criar uma nova cultura não significa, apenas, fazer individualmente descobertas originais, significa também e, sobretudo, difundir criticamente verdades já descobertas, socializa-las por assim dizer; transformá-las, portanto, em base de ações vitais, em elemento de coordenação e de ordem intelectual e moral. O fato de uma multidão de homens seja conduzida a pensar, coerentemente, e de forma unitária, a realidade presente é um fato filosófico bem mais importante e original do que a descoberta, por parte de um gênio filosófico, de uma nova verdade que permaneça como patrimônio de pequenos grupos de intelectuais”.

Gramsci