O sonho moda - ClipQuick€¦ · "inteligência emocional e atitu-de" Actualmente, vende bem "o bom...
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O sonhoda modaTEMPOS DIFÍCEIS LEVAM CADA VEZMAIS JOVENS A PROCURAR GANHARFAMA E DINHEIRO COMO MODELOS
capaCOMO NASCEUM MODELOEM PORTUGALUns são descobertos
na rua, outros candi-datam-se através da
internet. Gente girae feliz vende melhor
Texto Isabel Faria e Lurdes Mateus Fotos Sérgio Lemos
Como se chega a manequimHA MAIS JOVENS A TENTAR A MODA PARA GANHAR DINHEIROEXTRA. FESTIVAIS K REDES SOCIAIS SÃO OS NOVOS PASSAPORTES
iogo, futuro medico. ( uri ia ;i
música no festival Rock in Rio
quando foi abordado por umscouter - os olheiro 1- do mundo
da moda. francisea, aluna de
'I Lirismo, usou o lacohook para
se lazer notara agência. |ack,es-tudanlede Períovming Artsem
Londres passeava-se peio
( 1 nado no dia enique foi convi-dado para umaentrevi.sta. Lavra
faz o secundário na área de eco-nomia e segue os conselhos de
um amigodopai, que desde cedo
insisU 1 para que entre no meio.
Ricaialo. nadador tederadoe es-tudante de Nutrição e Dietética,foi descoberto no Sudoeste. Va-
nessa, ainda no Q- ano, 0. o
'achado' de um fotógrafo amigoda família. Por ter pais na moda,
Gustavo, estudante de Multi-media na Faculdade de Belas Ar-tes, sabe que a lama é efémera t:
vê nessa actividade uma formade fazer crescer a mesada e pagaros concertos de Verão. M Barba-
ra, 20 anos, aluna de Medicina
Dentária, foi tentada pela pró-pria organização do evento Miss
Madeira, que venceu entre vá-rias candidatas.
São portugueses, têm entre ] 5
e 20 anos e por serem giros e
saudáveis integram a lista de
vários rostos da 'incubadora' da
Central Model s, agência que to -
dos os anos lança caras novas.
Alguns, batejados pela beleza e
talento, conseguem a interna-
cionalização. Aconteceu aos
gémeos Kevin e jonathan, Luís
Borges e Sara Sampaio, para fa-lar nos mais mediáticos, e a Mi e
To Romano nos anos 1980. 1 loje
o mercado é mais concorrido, a
crise fez baixar os cachets e a
vida de modelo pode durar ape-nas seis meses. Ainda assim, são
cada vez mais os candidatos e
entre centenas há sempre umapérola a descobrir.
Na empresa fundada por estes
dois antigos manequins, a ta- ?
? refa de 'caça-talentos' é exer-cida de diversas maneiras . A cx -
periência de 23 anos leva-os a
privilegiar a iniciativa de quemse apresenta à agência, pois"muitos dos que são contacta-das na rua nem sempre são pro -activos. Por vezes ficam eterna-mente à espera que tudo acon-
teça sem que façam esforço"
"Mais de 50%dos castingssão parapessoas dos30 a 40 anos"Valter Carvalhoscouter e responsávelda Glamem Lisboa
O preço-basecomo figurantevai de 75 a180 €. Umdesfile poderender cincomil euros
De pessoas normais a modelos internacionais
Pedro e Ricardo Guedesesperavam o autocarro
Tinham 16 anos e estavamna paragem do autocarro
quando foram descobertos
por uma produtora de
moda. Da Central à interna-
cionalização foi um passo.Os gémeos representarammarcas como a Armani, Ver-
sace ou Tommy Hilfiger.
Claudia Schiffer foi desco-berta a dançar na discoteca
Considerada a reincamaçãode Brigitte Bardot, a alemã
queria ser advogada quandofoi descoberta numa disco-teca de Dusseldorf pelo di-
rector da Metropolitan. Des-filou para todos os designersde topo e hoje é dona de
uma marca de roupa.
Sara Sampaio ganhou famaapós anúncio de champô
Aos 16 anos, venceu o con-curso Cabelos Pantene e
entrou na Central Models.Trocou a Matemática Apli-cada e o violino pela moda.Foi capa de revistas interna-
cionais, fotografada ao ladode Kate Moss, e a cara da re-cente campanha da H&M.
O 'olho'para descobrir modelos
exige treino, perspicácia, intui-
ção e obediência a regras pró-prias. Cantava Vinícius de Mo-raes que 'beleza é fundamental'
e no meio damoda "são mesmonecessários atributos físicos.
Ou se tem ou não" diz Mi.Tó Romano privilegia uma
cara bonita, estruturada, bons
dentes, bons cabelos, boa pele,"inteligência emocional e atitu -de" Actualmente, vende bem "obom ar, a felicidade" e nummundo que vive a correr, onde a
carreira foi substituída pelo tra -balho ocasional, ser modelo
exige também captar a atençãodo cliente em apenas 17 segun-dos. "Quem quer ter sucesso
precisa de destacar-se no gru-po, convencer, ter segurança e é
isso que trabalhamos muitocom estes jovens" explica Mi.
A Central Models organiza os
books - álbum fotográfico -dos modelos, sem custos paraestes, ensina a cuidar da ima-gem e "também a suportar a re -jeição, a ser resiliente e a gerir o
tempo" Nesse aspecto, destaca
a perseverança dos estudantesuniversitários e desportistas,pois, "muitas vezes, os queaparentam ter maior disponi-bilidade podem não ser os mais
empenhados. Os mais ocupa -
dos sabem gerir muito bem o
tempo, têm noção da respon-sabilidade e isso é fundamental
para este tipo de trabalho".Conta a sua experiência de
quando, ainda estudante de
Psicologia, começou a desfilar
por influência de uma amiga
que já estava no meio.
Tó Romano tinha 20 anos, es -tudava Arquitectura, e ao rece-ber a proposta das empregadasde uma loja de roupa da avenidade Roma, em Lisboa, encontrouali uma boa oportunidade "paraganhar dinheiro e comprar o
que queria, uma Vespa" O casal
singrou na moda, "quando os
modelos nacionais não erammais deóoetodos faziam o cur -
so do Brian" lembra Mi. Ao su-cesso em Portugal seguiu-se a
internacionalização, o glamourdos grandes contratos e umatemporada no Japão, finda a
qual decidiram voltar e criar a
Central Models.Desde então, vêem a moda
evoluir a um ritmo acelerado.
"Hoje exige-se naturalidade, a
personalidade é um contributo
poderoso" mas, alertam, "paraos portugueses é muito difícil a
internacionalização". Mesmo
que tenha a altura exigida parapasserelle, 1,77 metros, a mulher
portuguesa tem anca larga, cor-
po de violino, quando o pedido é
'corpo de 'cabide! Nos homens,o maior defeito é a perna curta.
Koi precisamente a estruturaóssea de Belisa, esguia e magrís -sima, que captou a atenção dePaulo Barata, scouter da EliteModels. Amenina que "durante
anos sentia ser demasiado alta e
nunca encontrava calças que f i -
cassem justas na cintura e ta-passem o calcanhar" chegou à
agência através das fotos envia-das por um dos muitos amigos
que lhe elogiava o "jeito de mo-delo" Fez comerciais e saltou àvista do olheiro, que a incenti-vou a inscrever- se no concursode Lisboa. O resultado foi o pri -meiro lugar no desfile eumpas -saporte para a próxima ediçãodo concurso internacional EliteModelLook.
Aos 18 anos, a estudante de
Leiria equilibra-se nos estudos
como nos saltos altos. "Queroacabar o 12^ ano, mas se come-
çar a ter muito trabalho terei de
me mudar para Lisboa. Estou
disposta a isso, pois ser modeloé o meu sonho. Sempre me dis-seram que tinha jeito e, apesardo treino que recebi, tenho boa
postura e sou naturalmentemagra" diz Belisa, que tem porinspiração Freja Beha - a dina-
marquesa descoberta por umscouter que, ao passar de táxi, aviu numa rua de Copenhaga.
É também a olhar para quempassa que Paulo Barata vai des-cobrindo talentos. No festival
de música Optimus Alive en-controu o vencedor de uma ou-tra edição do Elite Model Look.
Nas ruas de Lisboa vê caras no-
vas, "nórdicos que agora en-chem a cidade e são bastante re-quisitados. Temos muitos bel-
gas, holandeses, alemães e in-gleses a viver em Lisboa, muitosvêm para fazer Erasmus e
acham graça a este trabalho" A
abordageméquase sempre bemrecebida. "Por vezes estra-nham, mas depois os amigos
dão sempre um empurrão."Hélio Bernardino, director da
Elite Lisboa, não tem 'lata' paraabordar talentos na rua e admi-te já ter perdido duas ou três
oportunidades. Portugal temcaras muito bonitas, com garra,e já lhe aconteceu estar numevento e, de repente, "ter umamancha de pessoas à frente só
para serem vistas" Outras há
que "nem sabem ter esse alen-
to, como a Jani Gabriel, que es-tava no Algarve, venceu o Elite
em 2005 e hoje é internacional"
"A política e ocontexto socialinfluenciam omundo damoda. Hoje omundo quergente normal"To Romanodirector daCentral Models
Facebook éuma arma derecrutamento.Candidatosinscrevem-see aí é fácil vero seu perfil
Diz Tó Romano que "a política e
o contexto social" influenciamomundo da moda. E com o 11 de
Setembro tudo mudou. Depoisda era das 'top Models \ em queElle MacPherson, NaomiCampbell, Claudia Schiffer, Gi-sele Búndchen, Linda Evange-lista e outras eleitas pela nature -
za vendiam o sonho de uma be -leza inatingível, omundovirou-- se para "as pessoas reais"
"As marcas e as agências de
publicidade perceberam que era
importantíssimo colocar pes-soas normais com as quais o
consumidor se pode e queridentificar" nota Valter Carva-lho, scouter da Glam. E o profis -sional, que representa em Lis-boa a agência sediada em VilaNova de Gaia, garante que a
moda já não é a área onde se in-veste. "Os cachets baixaram e
devido à crise as marcas não fa-zem desfiles, nem catálogos. O
que dáé apublicidade."Também nessa área, a ten-
dência leva a que o consumidor
queiraidentificar-secomopro-tagonista dos anúncios e , a ver -
dade, "é que não. somos todosaltos e de olhos azuis. Por isso,
actualmente mais de metadedos castings são para pessoasdos 30a40 anos"
Essa aproximação ao real ba-nalizou a oferta e, consequente-mente, os preços. "Para fazer de
figurante na plateia de um pro-grama de TV, pessoas de mais ?
? idade recebiam 6o a 70 euros
por programa, actualmentesão 25 euros."
Contudo, mesmo nesse mer-cado há que "ter olho" Como
scouter, Valter Carvalho vai a
"escolas, associações de estu-
dantes, eventos e discotecas'!
No Verão privilegia as praias,não locais turísticos mas aque-las onde as pessoas normais
passamférias. "E aprocuraparaencontrar um novo modelo de -
pende das épocas. Temos al-
guns scouters que são nossos
modelos, procuram perfis nas
faculdades que frequentam e
recebem comissão sobre quem'descobrem' e sobre o trabalho
que esse novo perfil fizer."
Essas pessoas reais, diz Valter
Carvalho, uma vez encontra-
das, também têm de ser "traba-lhadas e tratadas como os ou-tros modelos. Cuidamos da
imagem, porque pode aconte-cer um desgaste se trabalha paradeterminada marca ou produ-tos e ser, por isso, rejeitada paraoutros trabalhos. Se essa pessoa
ganha dinheiro, eu também ga-
nho. As duas partes têm a ga-nhar com um trabalho sério,cuidado e empenhado" diz.
"Aqui todossomosscouters.Todos temosde saber olhar"Cláudia MonteiroRPdaGOModels
"Quando sãoabordadas aspessoa reagembem. Receiamquando notamque é a sério"Nathalie Azevedoscouter da Act In
Como eles chegaram às agências de manequins
Dali Mos
O sonho de ser mo-delo levou a holande-
sa a um concurso e à
LAgence. "As pernaslongas são o meu
ponto forte, já fui co-mentada por isso."
Diogo Cerejeira
Contactado num fes-
tival, o jovem do Por-
to acabou por ficar
na Central. No 4 o anode Medicina, quer"tentar Milão". "Médi-co serei sempre."
Bárbara Franco
Um convite da organi-zação levou a estu-dante de MedicinaDentária a vencer o
Miss Madeira. Modeloda Central, preferedesfiles de passerelle.
Rafael Marques
Recrutado no metro,inscreveu-se na
LAgence por "curiosi-
dade e para ganhardinheiro". Tem na ex-
pressão do rosto o
ponto forte.
Jack Paulo
Filho de pai portu-guês e mãe angola-na, estuda em Lon-
dres e posa emLisboa. Foi contacta-do no Chiado pelascouter da Central.
NaLAgence, agência gerida porElsa Gervásio, pele, dentes,personalidade e "sobretudouma boa atitude" são atributos
incutidos nos scouters, que fa-zem castings pontuais "em vá-rios pontos do Pás e com diver -
sas parcerias, como os ginásiosHolmes Place, entre outros",onde tentam encontrar gentenova e saudável.
É essa a missão de Nathalie
Azevedo, que, aos 27 anos, pas-sa os dias em "zonas de grandefluxo, centros comerciais, esco-las e pastelarias" à procura de
gente gira. O mestrado em Co-
municação Social e a personali -
dade "comunicativa" valeram --lhe uma proposta da Act In."Sou scouter há seis meses e re -cebo consoante o trabalho das
pessoas que angario. Neste mo -
mento não nos pedem pré-re-quisitos. Há mercado para to-dos, temos meninas desde 1,60
metros a outras com 1,80 quedesfilam em passerelle. Mais do
que 'uma cara laroca! os clientes
querem pessoas com boa atitu-de, que vendam um estilo pró-prio" Nathalie garante quenunca foi mal- sucedida naabordagem inicial, "a situaçãotorna-se mais difícil quandopercebem que é mesmo a sério"
Cláudia Monteiro, relações --públicas da GOMODELS .ex-plica que na agência todos fa-zem trabalho de scouter, todos
"sabem olhar e isso acontece
casualmente, durante o nosso
dia-a-dia, quando estamos abeber café ou nas compras" No
portef ólio da agência há mode -los XL, para passerelle e produ-ção fotográfica, manequins só
para passerelle e as tais 'pessoasnormais' para publicidade.
Sendo que o maior númerode candidatos inscreve -se nosite da empresa, "tudo depen-de do que está a passar na tele -visão. Normalmente são mais
raparigas, mas ultimamentetêm aparecido mais rapazes.Estes estão mais vaidosos,
cuidam-se mais e interessam-
se mais por moda" explicaCláudia Monteiro. "O que nos é
pedido é cada vez mais o 'real
people! Só às vezes é que pe-dem actores."
A tendência é confirmada porRui Colaço, um dos responsá-veis pela BluModel. "O consu-midor tende, cada vez mais, a
querer identificar- se nos anún-cios. Quer rever-se nos prota-gonistas. Por isso há uma gran-de procura de ' real people ' e , as -
sim, há trabalho para todos,desde os mais novos aos maisvelhos" ainda que sejam traba-lhos pontuais pagos a recibo
verde. A Blu Model só aceita
inscrições feitas no seu site na
net, uma ferramenta poderosa
para recrutar caras novas.
A par dos sites, as redes sociais
como Twitter e Facebook tor-naram-se os melhores caça--talentos da actualidade. As
agências valorizam a sua ima-
gem na rede e os candidatos,
por seulado, também investem
no seu perfil pessoal. O acessofácil a roupa de bom corte, a
maquilhagem e a maior estatu-ra dos jovens deste século faz
com que muitos se produzampara entrar num mundo quepensam ser cor-de-rosa.Quem 'espia' o Facebook facil-mente encontra meninas des-
lumbrantes, jovens atléticos, à
distância de um clique. Só a
página Jovens Modelos, onde
os interessados se podem ins-crever e são anunciados vários
castings, tem 3409 seguidores.T ó e Mi Romano alertam para
a necessidade de estar atento a
angariador e angariado. "De-vem desconfiar de quem pededinheiro à cabeça para fazer umbook." E, nesta nova era do digi-tal, é preciso ter noção de que a
exposição daimagem é imedia-ta e efémera. "São poucos os
minutos de fama e já ninguémfala em carreira." O