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  • 7/17/2019 o rei - isaak babel

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    O REIpor Isaak Babel

    Terminada a bno nupcial, o rabino deixou-se cair num cadeiro; depois saiu doaposento e observou as mesas a todo o comprimento do ptio. Eram tantas ue a

    cauda atravessava o porto e ia at! " Rua #ospitalna$a. %obertas com veludo, asmesas serpenteavam pelo ptio como cobras de ventre recosido com remendosmulticores; remendos de veludo cor de laran&a e vermel'os, ue cantavam com vo(es)raves.

    Os aposentos *oram trans*ormados em co(in'as. +elas portas c'eias de *uli)emsaa uma labareda suculenta, )orda e viva. os seus raios c'eios de *umo, tostavam-se rostos de ancis, peitos oscilantes de mul'er, tetas sorvadas. m suor rosado comoo san)ue, rosado como a baba de um co raivoso escorria por aueles mont/es deinc'ada carne 'umana e suave pestilncia. Trs co(in'eiras, sem contar as a&udantes,preparavam a ceia nupcial. 0iri)ia-as a octo)enria Rei(l, tradicional como umper)amin'o da Tora, mi1da e ana*ada.

    2inda a ceia no tin'a comeado, entrou no ptio um &ovem descon'ecido dosconvidados... +er)untou por 3!nia 4ri5, e c'amou ao lado 3!nia 4ri5.

    - Oua, Rei - disse o &ovem -, devo dar-l'e umas uantas palavras. 6oi a Tia 7ana,da Rua 4ost!ts5a$a ue me enviou...

    - 3em - respondeu 3!nia 4ri5, alis o Rei - ven'am de l essas uantas palavras.- Ontem tomou posse o novo comissrio; a Tia 7ana pediu-me ue l'e dissesse

    isso.- 7 o soube anteontem - observou 3!nia 4ri5 - 8ue mais9- O comissrio reuniu o pessoal e *e( um discurso.- 2 vassoura nova varre mais limpo - respondeu 3!nia 4ri5 -. 8uer *a(er uma

    batida. 8ue mais9- E o sen'or sabe, Rei, uando ser essa batida9- :er aman'.- 'o&e, Rei.- 8uem te disse isso, menino9- 0isse-o a Tia 7ana. %on'ece a Tia 7ana9- %on'eo a Tia 7ana. 8ue mais9- O comissrio reuniu o pessoal e *e( o discurso.

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    :entaram-se " mesa sem ter em conta as idades. 2 vel'ice c'oc'a ! al)o todeplorvel como a &uventude covarde. Tamb!m no se sentaram de acordo com as*ortunas. O *orro de uma pesada talei)a est cosido com l)rimas.

    o lu)ar de pre*erncia sentaram-se os noivos. Era o seu momento. 0epoisestava :ender Ei&baum, so)ro do Rei. Era o seu direito. O 'istorial de :ender Ei&baum

    ! di)no de ser con'ecido@ no ! uma 'istAria ualuer.%omo c'e)ou 3!nia 4ri5, assaltante e c'e*e de assaltantes, a )enro de Ei&baum9%omo c'e)ou a )enro de um proprietrio de pelo menos umas sessenta vacasleiteiras9 Tudo aconteceu por causa de um assalto. ?avia apenas um ano, 3!nia tin'aescrito uma carta a Ei&baum.

    atarei todos os leiteiros, excepto o sen'or.en'um ladro poder rondar pela rua em ue o sen'or vive. >ando-l'e construir umchalet na estao de(asseis... embre-se, Ei&baum, na sua &uventude o sen'or tamb!m

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    no *oi rabino. o diremos em vo( alta uem *alsi*icou o testamento, 'l... O sen'orter um Rei por )enro. o um palerma ualuer, mas um Rei, Ei&baum...

    3!nia 4ri5 venceu a sua, porue era apaixonado e as paix/es imperam nomundo. Os rec!m-casados passaram trs meses na exuberante 3essarbia no meiode uvas, de comida abundante e de suor amoroso. 0epois 3!nia re)ressou a Odessa

    para casar a irm 0voira, uma uarentona ue padecia da doena de 3asedoF. 2)ora,relatada a 'istAria de :ender Ei&baum, podemos voltar " boda de 0voira 4ri5, a irm doRei.

    a ceia da boda 'ouve peru, )alin'a assada, peixe rec'eado e sopa de peixecom il'otas de limo de re*lexos nacarados. +or cima das cabeas mortas dos perusexibiam-se *lores semel'antes a penac'os vaporosos. >as, acaso, a ressaca do marde Odessa deposita na areia *ran)os assados9

    auela noite estrelada e a(ul, o mais nobre do nosso contrabando, tudo o uede um a outro con*im 'onra a nossa terra, deixou sentir o seu e*eito destrutivo esedutor. O vin'o estran)eiro auecia os estGma)os, uebrava suavemente as pernas,embotava os c!rebros e provocava arrotos sonoros como as notas de uma trompa de)uerra. O co(in'eiro ne)ro do adeira, ci)arros das vr(eas de +earpont >or)an e laran&as dasproximidades de 7erusal!m. %oisas dessas a espumosa ressaca do mar de Odessadeposita na mar)em, disso bene*iciam ocasionalmente os mendi)os de Odessa nasbodas &udias. a boda de 0voira 4ri5 bene*iciaram do rum da 7amaica. +or isso, !brioscomo porcos, os mendi)os &udeus *a(iam repicar ruidosamente as suas muletas.Ei&baum, com o colete desabotoado, observava com um ol'o entreaberto a estrondosaassembleia e arrotava com esmero. 2 oruestra tocava com violncia, or)ul'osamente;parecia a parada militar de uma diviso. 7actHncia e bravata. Os assaltantes, sentadosem *ilas apertadas, a princpio coibidos pela presena de pessoas estran'as, *oram-seanimando. iova 4atsap partiu uma )arra*a de a)uardente na cabea da sua amada.>Ania, o artil'eiro, disparou para o ar. O entusiasmo atin)iu o apo)eu uando,con*orme os vel'os costumes, os convidados o*ereceram os seus presentes aosnoivos. Os salmistas da sina)o)a treparam para cima das mesas e, secundados pelaestrepitosa *an*arra, contavam os rublos e as col'eres de prata o*erecidas. Os ami)osdo Rei *i(eram )alas de san)ue a(ul e de caval'eirismo ainda no extintos no bairro do>oldavan5a. %om )estos descuidados, deixavam cair nas bande&as de prata moedasde ouro, pulseiras e colares.

    2 aristocracia de >oldavan5a vestia coletes carmesins, casacos vermel'osenvolviam-l'e os ombros e nas pernas carnudas rebentava o couro cor de turuesa. 0ep!, de barri)a em riste, os bandidos batiam palmas ao som da m1sica, )ritavam

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    - 3!nia - disse o pap 4ri5, um vel'o carroceiro com *ama de mal-educado entreos carroceiros -, 3!nia, sabes o ue me parece9 +arece-me ue aui est ualuercoisa a arder.

    - +ap - respondeu o Rei ao seu embria)ado pai -, coma e beba, por *avor, e nose preocupe com essas nin'arias.

    O pap 4ri5 se)uiu o consel'o do *il'o. %omeu e bebeu. >as a nuvem de *umocrescia e tornava-se a cada momento mais as*ixiante. Em al)uns stios, a beira do c!utin)iu-se de cor-de-rosa. ma ln)ua de *o)o, *ina como uma espada, lanou umaestocada pelo alto. Os convidados levantaram-se e c'eiraram o ar. 2s mul'eres dosconvidados )ritavam. Os assaltantes ol'aram uns para os outros. :A 3!nia, ue nonotava nada, estava a*lito@

    - Esto-me a estra)ar a *esta - )ritava ele com desespero. - 8ueridos ami)os,comam e bebam, por *avor...

    >as nesse momento apareceu no ptio o &ovem ue tin'a ali estado antes da*esta comear.

    - Rei - disse ele - , ten'o de l'e comunicar umas uantas palavras.- 0i-las - respondeu 4ri5. - Tu tens sempre de reserva umas uantas palavras...- Rei - pronunciou o &ovem descon'ecido com um risin'o -, a coisa tem piada. O

    %omissariado est a arder como uma toc'a...Os comerciantes emudeceram. Os assaltantes sorriram. >nia, uma sexa)enria,

    pro)enitora de bandidos do bairro, meteu dois dedos na boca e produ(iu um silvo ue*e( estremecer os seus apani)uados.

    - >nia - observou 3!nia -, no ! 'ora de trabal'o. Ten'a pacincia, >nia.O &ovem mensa)eiro continuava a rir.:aram do %omissariado uns uarenta para *a(er a batida - di(ia ele movendo a

    mandbula -. 2*astaram-se uns uin(e passos e comeou o incndio... :e uiseremcorram, para o ver...

    3!nia proibiu os convidados de irem ver o incndio. 6oi ele, com doiscompan'eiros. O %omissariado ardia pelos uatro costados. Os polcias corriam pelaescada, meneando os traseiros, envoltos em *umo, e lanavam co*res pelas &anelas.Os presos tin'am *u)ido, aproveitando a con*uso. Os bombeiros sentiam-se pletAricosde entusiasmo, mas na torneira mais prAxima no 'avia )ua. O comissrio, avassoura nova ue varre mais limpo, estava no passeio da *rente mordendo o bi)odeue se l'e metia na boca. 2 vassoura nova estava uieta. 3!nia passou perto docomissrio e *e(-l'e a continncia.

    - 3oa noite, Excelncia - disse ele, compadecido -. Isto ! uma calamidade, 'K+arece um pesadelo...

    0eteve o ol'ar no edi*cio em c'amas e deu uns estalidos com os lbios@- 2iK 2iK 2iK3!nia re)ressou a casa uando se apa)aram os lampi/es no ptio e a aurora se

    acendia no c!u. Os convidados tin'am-se retirado; os m1sicos dormitavam com acabea pousada na 'aste dos contrabaixos. :A 0voira no estava disposta a dormir.Empurrava o assustado marido para a porta do uarto con&u)al; ol'ava-o com alascvia de um )ato ue leva um ratin'o na boca e o apalpa suavemente com osdentes.

    Notas:

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    5/5

    B - a R1ssia, )rita-se