O Que é Universidade
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WANDERLEY, Luiz Eduardo W. O que é universidade. 5 ed. São Paulo.
Brasiliense, 1985.
Universidade e suas estruturas
Felipe Alfredo Both
Esta obra retrata as origens e o desenvolvimento da universidade no decorrer da
história. O autor apresenta as discussões sobre a autonomia da qual as universidades
necessitam para que possam exercer a plenitude de suas funções, destaca ainda as
finalidades e as estruturas acadêmicas das universidades no passado e no presente. Aponta
a onda reformadora que sucedeu a reforma universitária de Córdoba em 1918.
Luiz Eduardo Waldemarin Wanderley é Doutor em Ciências Sociais (Sociologia)
pela FFLCH da USP, Livre Docente em Sociologia da Educação, USP, 1993 e Pós-
Doutor pela École des Hautes Études en Sciences Sociales, Paris (1995-96).
Em seu livro “O que é Universidade”, Wanderley distribui-o em 8 capítulos, nos
quais ele apresenta conceitos sobre a universidade, descrevendo assim, a história, o
movimento reformista, cultura, comunidade, estrutura, autonomia, sociedade,
desenvolvimento e finalidades da universidade em geral.
Sobre a história, Wanderley relata a origem e o desenvolvimento da universidade,
sendo ainda que para ter direito a ensinar e conferir graus, era necessária a autorização
papal, rei ou imperador, tornando assim, o ensinamento restrito aos professores e alunos,
estes ainda possuíam privilégios como a proteção contra prisão injusta e moradia com
segurança. No entanto, aos poucos as universidades foram se adequando ao processo de
desenvolvimento social.
No segundo capítulo, o autor apresenta o movimento reformista, destacando os
acontecimentos políticos e universitários ocorridos em Córdoba no século XX, o que
abalou a universidade de toda a América Latina. A partir dessa reforma universitária, os
estudantes elaboram um documento “Documento Preliminar”, assinado pela direção da
Federação Universitária de Córdoba e redigida por Deodoro Roca.
Tratando da cultura universal, Luiz Eduardo Wanderley relata que é na
universidade que se pode ter um contato com esta cultura, no entanto o autor discorda das
correntes que afirmam ser a cultura o principal causador das mudanças sociais, políticas
e econômicas, mas que a cultura possui uma autonomia relativa, e se expressa livremente
em formas de pensar e de agir, em valores, ideias, princípios, categorias e teorias.
O autor relata ainda, a questões culturais na América Latina e a dependência cultural
no Brasil. A cultura latino-americana vem-se englobando com as diversas culturas
nacionais, apresentando por uma parte aspectos comuns de dependência, seja pela
presença dos meios de comunicação ou pelas relações de produção. Já no caso do Brasil,
o autor afirma que a dependência cultural perpassa toda a história do ensino superior, no
qual as universidades se rendiam aos métodos de ensino do exterior.
O autor apresenta, no quarto capítulo, as finalidades da universidade (ensino e
pesquisa), no qual durante muito tempo, eram apenas de transmitir o saber humano
acumulado, porém pouco a pouco, com as inovações e transformações as quais o homem
produzia, a universidade passou a se adaptar a esse novo contexto.
Segundo Luiz E. Wanderley, com a necessidade de ampliação e descoberta, passou
a dar ênfase a pesquisa, como método de ensino, enfatiza ainda a grande importância do
impulso que é necessário, para que o estudo e a pesquisa mantenham um elevado padrão
de qualidade, sendo que separado, deve ser supervisionado e questionado, em função e
sua importância social.
Outro ponto destacado pelo autor, é a formação dos profissionais, das diversas
carreiras de base técnica, cientifica e intelectual, para o qual são compostos currículos.
Uma questão ainda acentuada, nas universidades latino-americanas é de se preocupar
exclusivamente em expedir diplomas legais para o exercício das funções. Ah também
uma certa dificuldade do estudante de optar por uma área, levando em conta os poucos
elementos para conhecê-la.
Luiz E. Wanderley afirma que a extensão universitária, nasceu, pela crítica a função
da universidade e da constatação de que deve cumprir tarefas sociais relevantes por suas
características especiais, contudo essa extensão tem assumido perspectivas diferenciadas
de sua atuação, sendo assim, a esta não é pensada como função da universidade, mas
como um serviço prestado.
A nível mundial o autor aponta, há múltiplas experiências de extensão
universitárias, como o ensino por correspondência, o uso de tecnologias de comunicação
de massa e implementação de universidades populares. Na América latina há uma
preocupação em democratizar a cultura e o ensino em todos os níveis, a necessidade de
estágios para alunos e outras mais.
Já no contexto brasileiro, Luiz E. Wanderley enfatiza que há duas fases, uma pré-
64 onde havia uma hierarquia severa e ultrapassada, nessa organização havia uma figura
de catedrático, figura essa que exercia o mais alto grau de docência. Porém, após o golpe
de 1964, com a Lei da Reforma Universitária, extingue-se essa função e estabelece uma
universidade com estruturas orgânicas com base em Departamentos reunidos.
No quinto capítulo, o autor trata da comunidade universitária, essa formada por
professores, estudantes e funcionários. No âmbito dos docentes, o autor trata dos meios
de admissão dos professores, sendo o método atualmente vigente o de seleção por
concurso com exigência de títulos e provas. Wanderley ressalta ainda a função de
catedrático existente até 1968, função essa que fazia com que os docentes que atingissem
essa posição, acomodavam-se de certa forma, tornando-se pequenos ditadores dentro das
cadeiras por eles ministradas.
Para ao autor atualmente, as universidades quase em sua totalidade, admitem um
padrão de carreiras, seguidas por uma ordem crescente de qualificação: auxiliar de ensino
(formado em graduação), assistente mestre (título de mestre), assistente doutor (título de
doutor), adjunto (livre-docente) e titular (livre-docente).
Luiz aponta que o método de ingresso nas universidades realizado pelo vestibular,
é um momento crítico não só para o vestibulando, mas sim para a família dele também.
No contexto brasileiro, o ingresso às universidades no período republicano era feito por
meio de um exame de madureza submetido aos alunos da última série, obtendo aprovação,
poderiam entrar em qualquer ensino superior do país.
Contudo o autor aborda o intenso debate sobre as formas de que o vestibular é
realizado, havendo diversas críticas sobre as provas objetivas, a falte de integração das
escolas de 1° e 2° graus com as universidades e a existência de cursos paralelos ao 2°
grau sem a chancela oficial.
O autor afirma que a integração das universidades com os outros níveis de ensino,
estabelecimento de outras alternativas educacionais, a separação da formação profissional
da geral, reconhecimento do valor de capacitação e não do título acadêmico, seriam
fatores que ajudariam a resolver a problemática do ingresso.
Na questão dos funcionários, Luiz Eduardo Wanderley destaca o quão esquecido
sãos esses profissionais tão importantes para a vida da universidade, enfatiza ainda forma
estrutural dos funcionários para que haja o funcionamento corriqueiro da instituição.
Aponta ainda as principais reivindicações dos funcionários, como o estabelecimento de
um quadro de carreiras que possibilite a promoção vertical e horizontal; uma formação
adequada para as várias funções; uma política salarial. Para que que estas reivindicações
sejam alcançadas, vem-se formando diversos movimentos sindicais para lutar por essas
causas defendidas.
Para introduzir o sexto capítulo, o autor expõe a afirmativa de que em todos os
países, a estrutura organizacional das universidades segue o padrão de organização da
sociedade global.
Luiz Eduardo Wanderley usa como referência o caráter hierarquizado, rígido das
universidades brasileiras, algumas tentativas de construir algo novo sendo que
convergiram para experiências frustradas, já que não conseguiram concretizar seus
objetivos, ou por não terem que compactuar com elementos do passado, ou pelas pressões
externas.
Com o pós-68, o autor destaca os critérios adotados para a modernização
administrativa da universidade, ressaltando a integração das funções com também da
estrutura, no qual foi necessário estabelecer uma administração central, a racionalização
de recursos que pretendia eliminar a duplicação de funções com fins idênticos e a
flexibilidade de métodos e critérios que exigia uma administração ágil.
O autor apresenta o regime de cátedra como uma “repartição administrativa” já que
os catedráticos eram responsáveis por ministrar o ensino de determinada área do
conhecimento, promover pesquisas, exercer as funções administrativas da cátedra,
orientar e coordenar o pessoal ligado à sua cátedra.
Contudo, Luiz E. Wanderley destaca os Decretos Leis nos 53/1966, visando
modificações nas universidades federais, e 252/1967, que impunha o sistema
departamental, preparando o terreno para a reforma. Portanto, com a Lei da Reforma
Universitária, estabeleceu-se que a universidade seria estruturada de forma orgânica com
Departamentos reunidos.
Entretanto o autor relata que de certa forma, ouve poucas mudanças nos já que o
antigo catedrático assumiu o controle do Departamento, levando assim, a uma
“catedralização do Departamento”, sendo que ainda houve a resistência dos docentes
contra integração e a burocratização geral reinante na estrutura universitária.
O autor relata os diferentes órgãos que concentram o poder dentro da universidade,
como o Conselho Universitário, o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão, a reitoria,
sendo essa última, organismo que, histórica e tradicionalmente concentra quase todo o
poder em uma única pessoa, sendo que poucas universidades possuem programa de
eleições, cabendo assim, nas universidades federais, o presidente da República, nomear o
reitor e nas estaduais, o governador do Estado.
Luiz E. Wanderley ainda aponta a discussão em relação ao número de participantes
de cada setor nos órgãos deliberativos das universidades. Discussão essa, que acompanha
noção de democracia dentro da instituição universitária. O autor enfatiza que o
movimento estudantil argumenta com a necessidade de se controlar os desmandos das
autoridades no poder, mesmo vários membros do corpo docente defendem essa causa,
vários criticam-na alegando que os acadêmicos não comparecem e não ser quando há
interesse muito especifico.
Na opinião do autor, essa experiência deve continuar, e com o amadurecimento
político-intelectual da comunidade como um todo e de cada segmento em especial, poder-
se-á estabelecer as condições para sua concretização. Destaca ainda que cada segmento
deveria ter um peso diferenciado e qualificado nos órgãos e nas discussões que dizem
respeito a questões específicas do segmento. No entanto, segundo o autor, é preciso
pensar na universidade em sua globalidade, ter acesso às informações, aos
esclarecimentos, ter liberdade de discutir seus pontos de vista, ter direito a defender ideias
e formas de atuação divergentes das assumidas oficialmente pelas diversas instancias.
Luiz apresenta no sétimo parágrafo, a autonomia universitária. Na realidade latino-
americana e brasileira, é uma quase utopia afirmar que a universidade possui controle das
verbas, das pesquisas, da orientação político-ideológica, das normas curriculares,
exercidas pelos governos, igrejas, grupos privados mantenedores.
O autor apresenta cinco dimensões que usualmente a autonomia é pensada: a
autonomia administrativa, na qual não há uma intromissão externa no governo da
universidade e a possibilidade de autogoverno; a financeira, independência de imposições
quanto a recursos externos alocados e independência no emprego de verbas no âmbito
interno; didática, possibilidade de produzir sem restrições o ensino e aprendizado;
técnico-cientifica, na qual a universidade escolhe seus valores e seus objetivos; e política,
na qual a universidade poderia determinar sua política de ensino, pesquisa e extensão,
dentro do direito de liberdade de pensamento.
No último parágrafo, o autor conclui que a universidade é parte integrada de um
contexto global que determina e pode colaborar com a manutenção ou a transformação
da sociedade. Um dos fatores condicionantes dessa situação corresponde a adaptação
cultural que a caracteriza e seu caráter dependente. O autor discorda daqueles que são
contra o compromisso social da universidade, destaca ainda a importância do estudo e da
pesquisa científica prepararem profissionais competentes para a formação da consciência
social.
De acordo com o autor, no Brasil a falta de uma verdadeira universidade, estão
exigindo uma reforma em toda a comunidade universitária do país, inserindo-se na
necessidade da construção de um sistema democrático para toda a sociedade. A ciência
deve responder aos interesses nacionais, assimilando-se o saber produzido no exterior
para ser empregado de acordo com o desejo da Sociedade Civil.
Segundo o Luiz E. Wanderley, a comunidade universitária tem a responsabilidade
de defender e de fortalecer o regime democrático na sociedade, professores, alunos e
funcionários tem procurado atuar visando à democratização da universidade, no entanto,
observa-se que essas discussões vou muito além do modelo liberal, constituindo um
avanço ponderável.
De acordo com o autor, a universidade é uma das instituições que apresentam um
grau substancial de autonomia, porem nas conjunturas das crises ela passa a ser cada vez
mais limitada e controlada. No entanto essas contradições estão em toda parte, sendo que
na universidade também é um campo de luta pela democratização e pelo desenvolvimento
do país.
Segundo o autor, muitos professores, alunos e funcionários se engajam em
movimentos e partido políticos, todas essas atividades realimentam a vida interna da
universidade, mudando cursos e programas, renovando métodos e técnicos pedagógicas,
mostra que alguns setores da universidade brasileira estão vencendo a crise que que
enfraquece-a e procuram apontar caminhos que ajudem a elaborar um projeto próprio de
emancipação e de colaboração efetiva na construção de um desenvolvimento democrático
para o país.
Luiz Eduardo Wanderley conclui, que as universidades assim como outras
instituições, necessitam adequar gradativamente aos processos de desenvolvimento
econômico e social. Essas instituições, por muito tempo exerceram a função de formar
apenas uma elite aristocráticas, sendo que depois foi complementada por uma elite de
mérito. As instituições sofreram grandes mutações ao longe do tempo, e necessitam cada
vez mais de estratégias para que se adequem às novas condições impostas pela sociedade.
De maneira geral, o autor consegue abordar um tema de imensa pluralidade como
o de Universidade já que, universidade não é apenas um local para divulgar a cultura, mas
sim produzindo ciência e formar profissionais, no intuito de buscar uma identidade
própria e a adequação na realidade nacional. Se a universidade é um instrumento de
transformação social, é dever da comunidade acadêmica, retardar ou acelerar a solução
dos problemas presentes. Portanto, só haverá de fato mudanças na sociedade, quando o
pluralismo ideológico e a liberdade de pensamento forem garantidos.
Esta obra, foi uma leitura na qual não houve a necessidade de conhecimentos
antecipados, já que a obra possui certa clareza na apresentação dos fatos, sendo que
compõem uma coleção destinada ao leitor iniciante. O autor emprega um estilo bastante
objetivo, percebe-se que sua intenção é de salientar determinados elementos que intriga
a população principalmente em relação ao ensino nas instituições de ensino superior.
Utilizando-se de exemplos claros, o autor facilita a compreensão de como foi e
como são as estruturas das universidades, por meio desses exemplos, é possível identificar
a organização estrutural destro dessas instituições, permitindo ao leitor compreender as
inúmeras formas de ensino através da pesquisa.
Sendo assim, a análise dessa obra permite o amadurecimento em relação as questões
universitárias, sua história e seus problemas permitindo ainda pensar em maneiras de
como contribuir para a solução dos problemas que ainda persistem e dos muitos outros
que ainda surgirão.
Esta obra possui a finalidade de desvendar as dúvidas que existem em relação ao
ensino nas faculdades públicas e privadas. Sendo, portanto, esta obra é recomendada para
jovens e adultos a partir de 17 anos, pelo fato desse livro de passos a serem seguidos para
que haja uma maior compreensão do âmbito universitário, de suas necessidades e das
transformações que dentro dela ocorreram e que ainda precisam ocorrer.