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O Programa Nacional Biblioteca
da Escola e o desenvolvimento da
competncia leitora do aluno na
linguagem quadrinstica
Francisca das Chagas Nobre de Lima1
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)
Resumo
Este artigo prope-se a discutir a importncia de existir o convvio contnuo com a leitura da linguagem quadrinstica para que o aluno possa ampliar a sua competncia leitora, uma vez que essa linguagem foi includa nos acervos do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) no Ensino Mdio, com a finalidade de assegurar o acesso de alunos e professores cultura, formao e
aos conhecimentos socialmente produzidos ao longo da histria da humanidade, como tambm para incentivar a prtica da leitura nas escolas pblicas brasileiras pelo Ministrio da Educao. Nesse sentido, preciso pensar uma poltica de formao de leitores proficientes para alm do ambiente escolar, fundamentada numa concepo de leitura, como processo de interao.
Palvaras-chave: PNBE; linguagem quadrinstica; competncia leitora; poltica;
formao.
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1 Introduo
A pesquisa sobre o Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) e o
desenvolvimento da competncia leitora do aluno na linguagem quadrinstica
prope-se a investigar as aes norteadoras desse programa e a sua aplicabilidade
na escola pblica em relao s prticas de leitura dessa linguagem quadrinstica
no Ensino Mdio e discutir a relevncia de existir um convvio contnuo com a
prtica dessa leitura, para que o aluno possa ampliar a sua competncia leitora,
uma vez que tal linguagem faz-se cada vez mais presente nos livros didticos, nas
provas, exames e concursos pblicos e nas prticas sociais dos estudantes,
exigindo nesse sentido, letramento para ler os signos lingusticos verbais e visuais,
alm dela poder se constituir como fonte de prazer.
Ao delimitar o seu foco na investigao da lngua em uso, essa pesquisa
insere-se na rea da Lingustica Aplicada ao ensino de lngua materna, que concebe
a linguagem como prtica social em circulao na situao social mais ampla, visto
que a linguagem est presente no cotidiano do falante e, por isso, h um nmero
ilimitado de atividades no qual ela relevante, tais como: na escola, no trabalho,
entre outros, j que, na contemporaneidade, o desafio introduzir o aluno no
contexto do debate tico, plural, fomentando processos de ensino e aprendizagem
que levem construo do sujeito crtico, reflexivo, autnomo, entre outros.
A partir dessa compreenso, que optamos por desenvolver uma [...]
pesquisa qualitativa de orientao scio-histrica (FREITAS, 2007, p. 27), a qual
encontra-se embasada em um conjunto de constituintes, como os descritos a
seguir.
A fonte de dados (a constituio do corpus) so os documentos em geral
publicados pelo Ministrio da Educao e por alguns estudiosos sobre o PNBE
(portaria de criao, entre outros, para se compreender como ele foi institudo em
relao as suas aes norteadoras, o que tem sido viabilizado em termos de poltica
pblica de formao de leitores proficientes nas escolas pblicas brasileiras, como
tambm a necessidade de existir a formao dos profissionais da escola para
trabalhar com os acervos distribudos por esse programa, principalmente aqueles
voltados para a linguagem quadrinstica. Alm disso, optamos por trabalhar com
um questionrio contendo oito questes abertas com cinco profissionais, para
investigar quais so as concepes terico-metodolgicas que norteiam as prticas
de leitura da linguagem quadrinstica dos professores de Lngua Portuguesa, de
uma escola pblica da rede estadual de ensino, no de Ensino Mdio, nos trs turnos
(matutino, vespertino e noturno).
Ao formular as questes propostas para esta pesquisa, procuramos
compreender como os fenmenos estudados em sua complexidade tm se
configurado em seu acontecimento histrico, no sentido de ir ao encontro da
situao pesquisada, com a finalidade de entender melhor como a escola
pesquisada e os sujeitos contidos nesse processo vm desenvolvendo prticas de
leituras com a linguagem quadrinstica, no sentido de formar leitores proficientes
dos signos lingusticos verbais e visuais, que devem ser lidos como enunciados,
pelo fato dessa linguagem estar inserida em vrios materiais didticos utilizados no
cotidiano por professores e estudantes e em vrias provas de exames e concursos
pblicos existentes no Brasil, exigindo, assim, mltiplos letramentos.
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Os processos de coleta de dados (anlise de documentos sobre o PNBE e o
questionrio) possibilitam ao pesquisador entender melhor as variveis
identificadas neles e a partir da realizar descries e explicaes sobre tais dados,
por meio de possveis relaes entre os eventos investigados numa interao do
individual com o social.
A nfase na atividade do pesquisador deve situar-se no processo de
transformao e mudana no qual acontece os fenmenos estudado em relao ao
objeto pesquisado, na perspectiva de reconstruir a histria de sua origem e de seu
desenvolvimento.
O pesquisador concebido como um instrumento fundamental, uma vez que
sua compreenso se constri a partir do lugar scio-histrico no qual se situa, por
meio das relaes intersubjetivas que estabelece com os sujeitos com quem
pesquisa.
O critrio buscado nesta pesquisa no preciso do conhecimento, porm
compreender a profundidade no universo pesquisado e a participao do
pesquisador e do pesquisado, uma vez que todos tm a oportunidade refletir sobre
os fatos, bem como aprender e ressignific-los, a partir de uma relao entre
sujeitos constituda pela linguagem como prtica social, visto que o seu campo de
atuao uma esfera social constituda pela circulao de discursos e textos.
O objeto de estudo das Cincias Humanas [...] o homem ser expressivo e
falante por meio de uma relao entre sujeitos mediada pela linguagem (FREITAS,
2007, apud BAKHTIN, 1997). Isso acontece porque temos a [...] idia de que
pesquisador e sujeito da pesquisa esto em condio de intersubjetividade, onde,
necessariamente, no h eu que no se constitua na relao com o tu [...]
(AMORIM, 2004, p. 89), j que o outro est imbricado nesse contexto.
Todos esses constituintes so indicadores fundamentais para que os
profissionais da escola procurem estabelecer o dilogo entre teoria e prtica num
constructo em que um referenda o outro simultaneamente e, por conseguinte,
realizem atividades de leitura que contemplem as obras quadrinsticas distribudas
pelo PNBE, visto que predomina, muitas vezes, uma viso padronizada de leitor nas
suas aes educativas, o que dificulta a realizao das prticas de leituras em
ambiente escolar com essa linguagem, como tambm ainda h uma viso
distorcida pelo Ministrio da Educao e Cultura (MEC) sobre o trabalho com ela, ao
conceb-la mais como um estmulo leitura, limitado a esfera do livro, quando na
verdade ela est presente em vrias atividades scio-comunicativas.
Esses aspectos remetem ao fato de que devemos compreender a leitura como
um ato de construo de sentido, visto que o sujeito ao usar a linguagem no se
limita somente traduzir e exteriorizar um pensamento ou transmitir informaes a
outrem, e sim, atuar sobre o seu interlocutor (ouvinte/leitor), logo, concebida como
um lugar de interao humana, de interao comunicativa, pela produo de efeitos
de sentido entre interlocutores em uma dada situao comunicativa e em um
contexto scio-histrico e ideolgico.
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2 O Programa Nacional Biblioteca da Escola: eixos norteadores e a
democratizao da leitura esperada
O Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) foi institudo por meio da
Portaria Ministerial n 584, de 28 de abril de 1997, a qual especifica:
Art. 1 - Instituir o Programa Nacional Biblioteca da Escola, com as seguintes
caractersticas bsicas:
a) aquisio de obras de literatura brasileira, textos sobre a formao histrica,
econmica e cultural do Brasil, e de dicionrios, atlas, enciclopdias e outros materiais
de apoio e obras de referncia;
b) produo e difuso de materiais destinados a apoiar projetos de capacitao e
atualizao do professor que atua no ensino fundamental;
c) apoio e difuso de programas destinados a incentivar o hbito de leitura;
d) produo e difuso de materiais audiovisuais e de carter educacional e cientfico.
Art. 2 - O acervo bsico da Biblioteca da Escola ser formado em trs anos, a partir
de 1997.
Art. 3 - Os recursos necessrios execuo do Programa sero assegurados pelo
Ministrio nos oramentos do Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educao.
Art. 4 - Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicao.
(http://www.abrelivros.org.br/).
A criao dessa portaria teve a finalidade de regulamentar o funcionamento
desse programa no que concerne a sua aplicabilidade nas escolas pblicas
brasileiras, pois ele [...] substitui programas anteriores de incentivo leitura e de
distribuio de acervos s bibliotecas escolares implementadas pelo Ministrio da
Educao e Cultura desde 1983 (PEREIRA, 2006, p. 11) e vem sendo desenvolvido
ao longo dos anos, na perspectiva de assegurar o convvio da comunidade escolar
com a leitura e a escrita.
O PNEB integra s aes Por Poltica de Formao de Leitores desenvolvida
pelo Ministrio da Educao e Cultura (MEC), a partir de trs eixos norteadores:
retomar a biblioteca escolar como foco de ao; acervos de uso coletivo voltados
para a ampliao das bibliotecas e espaos de leitura e atendimento universal das
escolas da educao bsica (PEREIRA, 2006). A regulamentao dessa poltica de
formao de leitores encontra-se fundamentada em trs volumes, nos quais so
apresentados uma viso geral sobre o que contm cada um deles, como os
descritos a seguir.
Volume 1 Por uma Poltica de Formao de Leitores contempla o que
vem desenvolvendo no que concerne leitura, ao livro e biblioteca no processo
de formao de leitores e uma discusso acerca dos dados coletados na pesquisa
avaliativa do Programa Nacional Biblioteca da Escola, para compreender como tem
sido realizado o trabalho com a leitura nas escolas pblicas brasileiras e a partir
dela repensar aspectos para que a universalizao do acesso se efetive de fato
nelas (BERENBLUM, 2006).
Volume 2 Biblioteca na Escola traz algumas reflexes acerca dos
investimentos que o MEC tem efetuado no sentido de assegurar o acesso leitura
na escola, alm de apresentar algumas proposies de atividades voltadas para o
uso do das obras distribudas pelo PNBE (PEREIRA, 2006).
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Volume 3 Dicionrios em Sala de Aula defende a importncia de os
alunos ampliar os seus repertrios vocabulares na maioria das modalidades de
ensino da educao bsica, como uma forma de inseri-los no universo de
informaes e, por conseguinte, trabalhar os dicionrios sob as perspectivas de
livros e no como mera fonte de consulta de verbetes, o que requer o
desenvolvimento de atividades fundamentadas em objetivos definidos pela
comunidade escolar (RANGEL, 2006).
Portanto, a proposio do MEC procurar assegurar comunidade escolar,
melhores condies de trabalho, como tambm contribuir para a efetivao de uma
poltica de formao de leitores proficientes. Nesse sentido, o PNBE tem se
constitudo como um programa que visa incentivar a prtica da leitura nas escolas
pblicas de todo o Brasil, por meio da distribuio de livros dos seguintes gneros
discursivos: poemas, contos, crnicas, teatro, texto de tradio popular, romance,
memria, dirio, biografia, ensaio, obras clssicas, histria em quadrinhos
(PEREIRA, 2006).
A seleo desses gneros acontece atravs de edital pblico, no qual so
enumerados um conjunto de constituintes (do objeto, dos prazos, das obras, da
composio dos acervos, das condies de participao, dos procedimentos, do
processo de avaliao e seleo das obras, da acessibilidade, do processo de
habilitao, dos processos de aquisio, produo e entrega, das disposies
gerais). Alm disso, so adotados alguns critrios (qualidade literria do texto;
adequao temtica e projeto grfico), considerando-se quatro categorias:
categoria1 anos iniciais do Ensino Fundamental regular; categoria 2 anos finais
do Ensino Fundamental regular; categoria 3 Ensino Mdio regular; categoria 4
anos iniciais e finais do Ensino Fundamental da Educao de Jovens e Adultos e
categoria 5 Educao Infantil, (PEREIRA, 2006).
O Ministrio da Educao nas edies de 2000 a 2010 definiu a distribuio
dos acervos de obras de referncia enviados para todas as bibliotecas pblicas,
considerando o nmero de alunos matriculados, contemplando, primeiramente, os
anos iniciais e finais do Ensino Fundamental, Educao de Jovens e Adultos e em
2006 estendendo-a ao Ensino Mdio, utilizando o Censo Escolar para determinar o
nmero de livros a ser adquirido em cada ano, uma vez que os recursos utilizados
na viabilizao desse programa so assegurados pelo MEC, nos oramentos do
Fundo de Desenvolvimento da Educao (PEREIRA, 2006).
O Fundo de Desenvolvimento da Educao uma autarquia vinculada ao
Ministrio da Educao e foi criado em pela Lei no. 5.537 em 21 de novembro de
1968, com a finalidade de captar recursos financeiros para o desenvolvimento de
vrios programas, para assegurar a melhoria da qualidade da educao bsica
brasileira em todas as modalidades de ensino. Para isso, esse rgo orienta o
desenvolvimento de projetos que contemplem esses objetivos, por meio de
fiscalizaes contnuas em relao aplicabilidade dos recursos destinados para
eles. Assim,
no mais possvel desenhar polticas educativas sem enfrentar a problemtica da extrema desigualdade social existente no Brasil, sem avaliar a real oferta dos sistemas e das instituies pblicas e sem se pensar nos professores como verdadeiros
protagonistas da ao educacional [...]. (BRASIL, 2008a, p. 22).
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Ao investir em polticas pblicas de formao de leitores, fundamental
inserir no seu contexto a necessidade de formao dos profissionais da escola
(professores, gestores, coordenadores, bibliotecrios, entre outros) para fazer com
que o convvio com a leitura se constitua enquanto prtica contnua dentro e fora
do ambiente escolar, pois, na contemporaneidade, ele cada vez mais exigida em
vrias situaes comunicativas.
Percebemos que a instituio do PNBE representa um avano significativo em
termo de poltica pblica de formao de leitores, j que os acervos selecionados
contemplam gneros discursivos variados, o que permite a constituio de espaos
de leituras diversificados em cada modalidade de ensino da educao bsica, desde
a implementao do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educao Bsica
(FUNDEB) em 2009. Porm, todos os investimentos desse programa direcionam-se
de forma especfica para a distribuio de obras, sem que isso se entenda a outros
aspectos contidos nesse processo, como por exemplo, a preparao dos
profissionais da escola para trabalhar com eles, a criao de espaos fsicos e de
objetos mobilirios para abrigar as bibliotecas, como tambm a constituio de
canais efetivos para ouvir as proposies das escolas pblicas brasileiras nesse
sentido.
Verificamos, ainda, a importncia de investir na formao dos profissionais da
escola (professores, gestores, coordenadores, bibliotecrios, entre outros,
constatada por meio de uma pesquisa denominada Avaliao diagnstica do
Programa Nacional Biblioteca da Escola desenvolvida pela Secretaria de Educao
Bsica do Ministrio da Educao em 2005, nas cinco regies brasileiras com 196
escolas, para investigar como as escolas pblicas brasileiras vinham utilizando os
acervos distribudos pelo PNBE (BRASIL, 2008a).
Os dados coletados revelaram que, muitas vezes, as obras eram usadas para
introduzir ou fixar aspectos gramaticais abordados, direcionando o foco da leitura
para um foco especfico: a compreenso das informaes explcitas contidas nos
textos, transformando-a em uma prtica unilateral, o que traz desafios, pois a sua
finalidade no se restringe a essa abordagem, mas deve ser concebida como algo
mais abrangente, que envolve vrios constituintes. O desenvolvimento dessa
pesquisa foi relevante, porque atravs dela chegaram-se as seguintes
constataes: 1) dificuldade do docente para trabalhar com os acervos; 2) falta de
formao para trabalhar as obras em prticas pedaggicas e 3) falta de tempo para
os professores realizarem a prpria leitura dos materiais (RAMOS, 2009, p. 39), ou
seja, a ausncia de uma poltica de formao dos educadores e de outros
profissionais da escola (gestores, bibliotecrios, entre outros) para colocar em
prtica as atividades de leituras, pois eles reconhecem que os gneros
disponibilizados so bons.
Tais elementos demonstram que possvel existir a democratizao do acesso
leitura com os acervos disponibilizados pelo PNBE, apesar de ainda no ter se
efetivado a preocupao em ouvir os profissionais da escola sobre o processo de
distribuio, pois, muitas vezes, eles ficam encaixotados nas bibliotecas ou
simplesmente expostos nas estantes delas sem nenhuma funcionalidade. Tudo isso,
no entanto, sinaliza o fato de que sejam adotadas novas perspectivas para o
trabalho com a leitura, porque
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a leitura nem sempre apenas prazer. Na verdade, na maioria das vezes, lemos por necessidade. Porque, por exemplo, precisamos utilizar um equipamento ou fazer um novo prato com base em uma receita; queremos saber das ltimas notcias; precisamos estar atualizados em nossa rea de conhecimento; precisamos obter certa
informao em um determinado momento; precisamos estudar para uma prova ou concurso ou precisamos conferir um texto que escrevemos, entre inmeros outros casos. Nesses casos, o prazer decore da consecuo do objetivo que motivou a leitura. (RAMOS, 2009a, p. 39).
Essas concepes evidenciam que a atividade de leitura como produo de
sentido desenvolvida por meio de recursos variados utilizados para a construo
de sentidos, tais como: o autor do texto, o seu meio de veiculao, o gnero
textual, o ttulo, entre outros, uma vez que nesse processo so acionados vrios
conhecimentos do leitor na produo do sentido: ativao de vivncias, contexto
social no qual ele est inserido, relaes com o outro, valores da comunidade, alm
de outros.
Entendemos que a democratizao do acesso leitura esperada pelo PNBE
em relao distribuio de livros ainda no se efetivou de fato, porque as obras
destinadas s escolas pblicas so pouco utilizados nas prticas educativas no
processo de formao de alunos leitores e, por conseguinte, escritores. Por isso,
torna-se urgente o (re)dimensionamento dos aspectos que j avanaram nesse
sentido, para a partir deles ampliar os que apresentaram mais desafios, para que a
comunidade escolar insira-se em um mundo constitudo por mltiplas linguagens,
as quais suscitam a presena de sujeitos ativos, capazes de ler e o compreender as
informaes contidas em diferentes gneros discursivos.
3 O Programa Nacional Biblioteca da Escola e o desenvolvimento da
competncia leitora do aluno na linguagem quadrinstica
O PNBE tem se constitudo como um programa voltado para a formao de
leitor, devido a um conjunto de fatores, dentre eles as exigncias postas pela
sociedade moderna, caracterizada pela velocidade da informao e relevncia de
existir um convvio do sujeito com as mltiplas linguagens inseridas no mundo, que
precisam ser lidas como textos, nas diversas situaes comunicativas
permanentemente dentro em fora do ambiente escolar, visto que elas esto
presentes em vrios espaos.
Observamos que tais exigncias desencadearam a adoo de aes urgentes
por parte do poder pblico e da escola no sentido de formar leitores proficientes,
um objetivo que vem se efetivando ainda de forma gradativa nas prticas
escolares, embasado numa concepo de linguagem como prtica social (BAKHTIN,
1995, 2003, 2005), que norteiam as abordagens propostas nos Parmetros
Curriculares Nacionais para o Ensino Mdio (BRASIL, 2002a), nas Orientaes
Curriculares para o Ensino Mdio (BRASIL, 2008b) na rea de Linguagens, Cdigos
e suas Tecnologias e no PCN+ Linguagens, Cdigos e suas Tecnologias (BRASIL,
2002b).
Esses documentos contm algumas orientaes para que os professores de
Lngua portuguesa sistematizem o trabalho com a leitura e a escrita na escola, por
meio de atividades que contribuam para a formao do aluno, com o objetivo de
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que este possa utilizar a linguagem em vrias situaes comunicativas, visto que
ela permeia toda a vida social e preenche nela um papel central na formao scio-
poltica e nos sistemas ideolgicos. A linguagem de natureza scio-ideolgica e
como tudo que ideolgico possui um significado e remete a algo situado fora de
si mesmo (BAKHTIN, 2003, p. 31). Para esse autor, no se deve esquecer que a
ideologia um reflexo das estruturas sociais. Entre linguagem e sociedade existem
relaes dinmicas e complexas que se materializam nos discursos, ou melhor, nos
gneros do discurso.
Os gneros so aprendidos no curso da existncia humana como participantes
de determinado grupo social ou membro de alguma comunidade, pois toda vez que
algum se comunica o faz por meio de algum gnero do discurso, j cada esfera da
atividade humana elabora seus tipos relativamente estveis de enunciados. Cada
gnero discursivo tem uma concepo padro de destinatrio, o qual sempre adota
uma atitude responsiva, possvel graas totalidade acabada do gnero. Tal
totalidade constituda por trs fatores: o tratamento exaustivo do objeto do
sentido; o intuito de querer-dizer do locutor; as formas tpicas de estruturao do
gnero do acabamento (BAKHTIN, 2003, p. 299), pois a linguagem est presente
em todos os momentos nas prticas sociais, por meio de enunciados.
Ao concebermos a prtica da leitura da linguagem quadrinstica como
enunciado, implica replica por parte do sujeito, uma vez que nesse processamento
da leitura so acionadas vrias estratgias pelo leitor para o estabelecimento de
sentidos, tais como: os tipos de bales, as cores e os formatos das letras, as
roupas utilizadas pelos personagens, as onomatopias, os tempos verbais, as
diferentes maneira de representar a fala, a sobreposio de vozes, as formas de
apresentao dos quadrinhos (retangulares, quadradas ou circulares), entre outros.
O enunciado concebido como elo de interao entre dois sujeitos, j que a
palavra dirige-se a um interlocutor o qual no abstrato, todavia social e
ideolgico, portanto, com a linguagem refletindo o que ele (BAKHTIN, 1995).
Ento, a orientao da palavra em relao ao interlocutor essencial, porque ela
apresenta dupla face: procede do eu e dirige-se para o outro, por meio da interao
entre locutor e ouvinte, atravs da materializao da palavra como signo
socialmente construdo.
Os contextos sociais esto cercados de palavras e, impulsionados pela
agilidade de informao e de comunicao, bem como cheio de imagens que
conduzem os sujeitos a re-elaborar constantemente as formas de leitura. Diante de
tal cenrio, verifica-se que as imagens ajudam na aprendizagem, sejam como
recursos para prender a ateno do aluno, sejam como informao complementar
ao texto verbal, pois uma linguagem no se sobrepe a outra, porm se
complementam, interagem.
A partir da crescente preocupao com o visual e outras formas de linguagem
presentes na comunicao, a noo de letramento tem sofrido modificaes. Se at
bem pouco significava saber ler e escrever, hoje essa noo procura incluir a
habilidade de lidar com a multiplicidade e integrao de todos os modos de fazer
sentido que acompanham as mudanas no mundo. Nesse sentido, cada vez mais
frequente o uso da linguagem quadrinstica nos diversos materiais didticos
utilizados em sala de aula, nos quais o aluno vai ter que coordenar um complexo
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sistema de atividades que integra o texto verbal oral, o texto verbal escrito e o
texto visual.
A mudana em relao a essa concepo s aconteceu a partir do momento
no qual a Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional, promulgada em
20/12/1996, contemplou a relevncia de que fossem inseridas mltiplas linguagens
no Ensino Fundamental e Mdio, por meio da implementao do PNBE. , portanto,
no ano de 2009, que pela primeira vez, esse tipo de leitura introduzido na
educao brasileira em nvel de Ensino Mdio (VERGUEIRO e RAMOS, 2009a),
embora s tenham vindo quatro obras nesse sentido.
Outro fator importante a necessidade de repensar-se os pressupostos
estabelecidos pelo PNBE no perodo de 2006 a 2009, para a seleo das HQs, a
partir da adoo de critrios genricos quanto a sua escolha j evidenciados nos
editais de 2009 e 2010, contendo novas perspectivas, as quais apresentam pontos
positivos (respeito configurao do gnero) e negativos (a concepo de que as
HQs so um gnero literrio), j que tal escolha realizada por pesquisadores da
rea de teoria literria e ensino de literatura (VERGUEIRO E RAMOS, 2009a).
Os pressupostos estabelecidos nesses editais do PNBE apresentam alguns
problemas em relao aos critrios de seleo, pois considerar as HQs como
literatura traz implicaes para a prpria noo desse gnero, ou seja,
estabelecido um rtulo academicista privilegiado (o literrio) e um
desconhecimento acerca da rea dos quadrinhos, um gnero constitudo por uma
manifestao artstica autnoma como os demais gneros publicados no mercado,
constituda por mecanismos prprios, por meio da interconexo da vrias formas de
linguagens dos signos lingusticos nela existentes, pois As histrias em quadrinhos
vm h mais de um sculo encantando leitores de todo o mundo (VERGUEIRO e
RAMOS, 2009b, p. 11), porque elas tm uma magia especial.
A falta de clareza contida nos editais do PNBE antes de 2006 depende da
concepo de leitor adotada pelo professor para o trabalho com a leitura dos
gneros dos quadrinhos, gerando com isso limites em relao ao uso de [...]
outras prticas de leitura em ambiente escolar (VERGUEIRO e RAMOS, 2009a,
p. 39), inclusive as HQs, transformando-as em algo desmotivador. Nesse sentido, o
convvio do aluno com a prtica da leitura quadrinstica fundamental para que
eles possam perceber que os usos deles esto relacionados com a esfera na qual
eles so produzidos, atendo-se diversidade e pluralidade de tais gneros, o que
implica pensar a linguagem como presena, por meio da interao verbal, atravs
das construes dialgicas (RAMA et al, 2009).
Por conseguinte, preciso existir uma alfabetizao (VERGUEIRO, 2009),
para que o aluno consiga compreender as mltiplas mensagens neles presentes e
tambm para que o professor obtenha melhores resultados em sua utilizao, ou
seja, fundamental ter letramento para ler os seus constituintes como linguagem
enquanto enunciado, pelo fato deles conterem aspectos sociointeracionias. Nesse
sentido,
as histrias em quadrinhos tambm passaram a ser utilizadas em sala de aula e
ganharam espaos em muitos livros didticos. At exames vestibulares (a Unicamp constantemente usa quadrinhos em suas questes) e o Enem (Exame Nacional do Ensino Mdio) se apropriaram do recurso. (RAMOS, 2009a, p. 65-66).
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A linguagem quadrinstica tem se constitudo de forma significativa dentro e
fora da esfera escolar e, por isso, ela no pode mais ser negligenciada (MACHADO,
2003), como tambm estava presente no concurso vestibular executado pela
Comisso Permanente do Vestibular da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (COMPERVE) e em outros concursos pblicos para a Prefeitura Municipal do
Natal (2008) e Prefeitura Municipal de Parnamirim (2009), os quais tambm
contemplavam o domnio da competncia leitora da linguagem quadrinstica pelo
aluno e professor, j que eles deveriam responder s questes propostas (grifo
meu).
Dessa forma, identificamos que h uma presena constante da leitura da
linguagem quadrinstica nas atuais provas e concursos em diferentes nveis,
exigindo que professores e alunos tenham letramento para l-los enquanto
linguagem hibrida, como tambm nas pginas dos livros didticos constitudas por
informaes ilustrativas, verdadeiras criaes artsticas, que os conduzem a fazer
uma leitura sedutora, mas tambm se apresentam assim para competir no mercado
pedaggico comercial.
A comunidade escolar, portanto, precisa compreender a [...] a importncia
do uso das HQs na sala de aula, para o desenvolvimento de um leitor mais
proficiente) (ANDRADE e ALEXANDRE, 2008, p. 95), j que ele precisa ativar uma
srie de conhecimentos e competncias para compreender os elementos verbais e
visuais presentes nela (diferenas e semelhanas) nem sempre entendidas por ele,
pois os sentidos so construdos por uma sucesso de etapas inferidas durante a
leitura, o que implica um trabalho interrelacionado entre os signos verbais e visuais
(RAMA et al, 2009).
Assim, para que o convvio com a linguagem quadrinstica v se efetivando na
prtica da leitura no contexto da sala de aula, fundamental que ela seja
desenvolvida continuamente nas aulas de Lngua Portuguesa e em outras reas do
conhecimento, para que avance no sentido de formar leitores proficientes, uma
exigncia crescente no mundo contemporneo. Para isso, a proposio que
acontea um trabalho integrado entre essas reas, respeitando-se as
caracterizaes dessa linguagem, por meio da estruturao de uma sequncia
didtica (um conjunto de etapas desenvolvido com o gnero), porque ela contribui
para que o aluno aprenda as especificidades inerentes a cada gnero discursivo),
segundo (SCHNEUWLY e DOLZ, 2004).
As etapas contempladas nessa sequncia didtica (SCHNEUWLY e DOLZ,
2004) so: a) apresentao inicial a construo da situao de comunicao e
atividade de linguagem a ser desenvolvida com o gnero selecionado; b) produo
inicial tentativa de elaborao do texto oral ou escrito individual ou
coletivamente, ou seja, o encontro inicial com o gnero; c) os mdulos
possibilitam aos educandos e educadores os instrumentos essenciais para superar
possveis problemas durante trabalho desenvolvido, ou seja, as etapas a ser
percorridas ao longo do desenvolvimento das atividades com o gnero, o que
constitui a organizao de um cronograma seqencial a ser executado do princpio
ao fim e d) produo final momento no qual o aluno colocar em prtica os
conhecimentos adquiridos durante as atividades desenvolvidas com o gnero.
Atravs dessa produo, o professor poder analisar e compreender quais foram as
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possveis dificuldades enfrentadas na sequncia trabalhada e, por conseguinte,
redimensionar algumas etapas a serem desenvolvida novamente.
Devemos compreender que o texto constitudo por vrias vozes, atravs das
quais possvel garantir o discurso do outro, o seu posicionamento ideolgico. Para
isso, o leitor deve compreender como os discursos sociais so reveladores de
valores ideolgicos no que diz respeito linguagem quadrinstica, por meio de
vrios elementos: legenda (a qual, na maioria das vezes, tem a funo de mesclar
a voz do narrador com a dos personagens); a cor (as diferentes representaes que
ela atribuir leitura atravs da mudana nos tons e formatos das letras); a nota de
rodap (existente nas revistas dos super-heris) (RAMOS, 2009b).
Tudo isso revela a relevncia de existir o (re)dimensiomento do trabalho com
a prtica da leitura da linguagem quadrinstica no Ensino Mdio, transformando-a
em algo permanente, por meio de um processo de descobertas variadas: fonte de
prazer, informao, conhecimento, que vai se estruturando a partir de uma relao
de pertencimento do leitor com o texto e a obra lida. Portanto, deve-se
compreender a leitura como um ato de construo de sentido, uma vez que o
sujeito ao usar a linguagem no se limita somente traduzir e exteriorizar um
pensamento ou transmitir informaes a outrem, e sim, atuar sobre o seu
interlocutor (ouvinte/leitor).
4 A formao do professor de Lngua Portuguesa para a prtica de leitura
da linguagem quadrinstica
Sabemos que a formao do professor na esfera acadmica ainda est
voltada, muitas vezes, para a orientao terica, isto , para uma viso mais ampla
sobre os pressupostos que fundamental a abordagem das disciplinas obrigatrias e
complementares do currculo de cada curso, especialmente o de Letras para a
habilitao em Lngua Portuguesa e Literaturas. Mas, isso vem sendo modificado ao
longo dos anos, com o objetivo de que haja a prxis entre teoria e prtica, uma vez
que uma referenda a outra. Essa mudana surgiu a partir da necessidade de
conceber-se o ensino da lngua materna em uso, utilizado por falantes reais nas
suas prticas sociais, nas diversas situaes comunicativas, nas quais eles esto
inseridos.
Identificamos que na formao inicial e permanente do educador de Lngua
Portuguesa devem ser concebidas novas perspectivas, considerando-se a sua
identidade, os desafios enfrentados por ele nas suas prticas educativas, entre
outros aspectos (GUEDES, 2006). Todas essas mudanas so fundamentais, porque
h a necessidade de o professor refletir sobre a prtica da aula de portuguesa,
especialmente em relao s prticas de leitura e escrita, medida que assumiu-se
a dimenso interacional da linguagem, a partir da qual a comunicao passa a ser
mediada (ANTUNES, 2003).
Ao conceber que a situao comunicativa mediada pela linguagem e, por isso,
o professor de Lngua Portuguesa precisa fundamentar a sua prtica educativa
numa [...] concepo de linguagem como interao entre sujeitos em sociedade
(sociointeracionista) implica uma crena na capacidade dos sujeitos sociais de criar
ou construir contextos (construcionistas), de forma sempre renovada, inovadora
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[...](KLEIMAN, 2006, p. 25-26), pois ela quem o orientar nas aes a serem
desenvolvidas no processo de ensino-aprendizagem da lngua materna.
Ao fundamentar a sua prtica em uma concepo de linguagem, o docente
comea a entender que a funo da escola ensinar a lngua padro o seu
principal objetivo ensin-lo, e, por isso, preciso criar mecanismos para que ela
realmente seja aprendida no que concerne realizao das prticas de leitura e
escrita no contexto escolar e fora dele tambm, pois o estudante precisa ler e
conhecer uma variedade de gneros discursivos existentes no seu processo de
formao educativo, especificamente a prtica de leitura da linguagem
quadrinstica.
O desenvolvimento de atividades voltadas para a prtica de leitura da
linguagem quadrinstica deve estar embasado em trs princpios fundamentais:
1) o caminho do leitor respeitar o repertrio j constitudo pelo aluno nas suas
vivencias; 2) o circuito do livro haver momentos nos quais o convcio com a
leitura de diferentes gneros vai se efetivando na vida do estudante, principalmente
por meio de troca de obras entre eles, pois a partir da comeam a ser construdos
espaos de leituras em sala de aula, como tambm necessrio incentiv-los a
frequentar a biblioteca escolar, entre outros e 3) no h leitura qualitativa no leitor
de um livro fundamental que o professor propicie frequentemente, a maior
variedade de leituras dentro e forma do ambiente escolar, considerando-se a
singularidade do leitor (GERALDI, 2006).
Todos esses constituintes abordados remetem ao fato de que fundamental
existir a formao, principalmente do professor de Lngua Portuguesa para
desenvolver prticas pedaggicas com outros materiais que no sejam o livro
didtico, pois as prticas de leitura no podem ficar limitadas somente a esse
recurso didtico, porque ele apenas um meio orientador para o educador
organizar o seu planejamento dirio e, assim, existe a necessidade de que sejam
selecionados gneros discursivos variados, para que o aluno tenha um convvio
contnuo com a leitura em diferentes situaes comunicativas nas quais ele est
inserido.
5 Consideraes finais
A opo pelo desenvolvimento desta pesquisa teve o objetivo de investigar o
Programa Nacional Biblioteca da Escola e os acervos distribudos por ele,
principalmente a linguagem quadrinstica voltada para o Ensino Mdio, em relao
ao seu uso nas prticas educativas, como tambm a importncia de existir a
formao dos profissionais das escolas pblicas, para que acontea de fato a
realizao de uma poltica de formao de leitores proficientes no ambiente escolar
e fora dele.
A partir da verificamos a urgncia de a prtica de leitura da linguagem
quadrinstica v se efetivando no contexto escolar, atravs da apropriao de
estratgias de leitura diversificadas, visto que essa linguagem agora est presente
nos livros didticos e em diversos tipos de avaliao e concursos pblicos em
diferentes nveis, exigindo que sejam postas em prticas novas concepes de
leitura dessa linguagem na escola.
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As escolhas desenvolvidas pelo leitor nas prticas de leituras so mobilizadas
passam necessariamente, pela (res)significao delas na escola, pois elas devem
favorecer situaes em sala de aula nas quais o aluno sinta-se vontade para
expressar suas opinies, seus pontos de vista e seus sentimentos; compartilhar
com os colegas a busca de solues para problemas surgidos com um determinado
contedo, com o professor, com o programa ou com os colegas; respeitar e fazer
respeitar diferenas de opinio; ter iniciativa e cooperar com os colegas;
compreender que h explicaes diversas para um mesmo fenmeno observado;
relacionar os temas estudados com a sua vivncia; ser incentivado a buscar novas
informaes, entre outros.
Essas exigncias, contudo, deparam-se com alguns desafios para serem
postas em prtica, como por exemplo, a falta de tempo para esses profissionais da
escola, especificamente os de Lngua Portuguesa conhecerem as obras,o fato de
ainda predominar uma viso padronizada de leitor em alguns documentos
produzidos pelo MEC, o qual dificulta o trabalho com as prticas de leituras dessa
linguagem em ambientes escolares; a necessidade de existir a criao de espao
fsico para abrigar bibliotecas; a constituio de canais efetivos com essas
instituies de ensino, para ouvir as estratgias apresentadas, visando elaborao
de um referencial que oriente melhor como isso pode ir se efetivando na prtica
desses profissionais.
Consequentemente, a comunidade escolar deve se perguntar sobre as suas
responsabilidades de frente a esse mundo mudado, de como responder aos novos
desafios, de como propiciar sala de aula uma pedagogia das novas relaes entre
educandos e educadores e outra percepo das intercomplementaridades dos
saberes, independentemente da fase da vida na qual o leitor realize tal leitura ela
relevante, porque esse convvio se configura como um processo de compreenso
sobre a composio dos gneros em relao aos seus aspectos lingusticos verbais
e visuais, considerando-se que a linguagem quadrinstica tem se constitudo de
forma contnua em diversas prticas discursivas dentro e fora do ambiente escolar
nas suas prticas sociais.
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