O Processo de Treino Em Voleibol de Alto Nivel
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O processo de treino em Voleibol de alto nvel relatrio de atividade de
treinador da equipa snior masculina do Leixes Sport Club
Relatrio Profissional apresentado
Faculdade de Desporto da Universidade
do Porto, no mbito do 2 Ciclo de
Estudos conducente ao grau de Mestre
em Desporto de Alto Rendimento, ao
abrigo do Decreto-Lei 74/2006, de 24
de maro.
Orientadora: Prof. Doutora Isabel Mesquita
Autor: Mrio Artur Martins Fernandes
Porto, junho de 2013
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II
Ficha de catalogao
Martins, M. (2013). Treino de Alto Rendimento, Voleibol. A preparao do
processo de treino da equipa snior masculina de Voleibol do Leixes Sport
Club. Porto: M. Martins. Relatrio Profissional com vista obteno do grau de
Mestre de Desporto de Alto Rendimento apresentado Faculdade de Desporto
da Universidade do Porto.
PALAVRAS-CHAVE: VOLEIBOL, DESPORTO DE ALTO RENDIMENTO, TREINO, EXERCCIO.
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III
NDICE GERAL
ndice de Quadros e Figuras . V
ndice de Anexos . VI
Introduo/Estrutura do Relatrio.. 1
1. O treinador 5
1.1. O meu percurso .............. 7
1.2. Enquadramento da minha prtica profissional ... 12
1.3. Treinador de Alto rendimento .... 20
1.4. A formao para se ser treinador de alto rendimento ... 24
2. Estruturao do processo de treino .. 27
2.1. O Modelo de Jogo ....... 29
2.2. Planeamento .......................... 31
2.3. A Unidade de Treino e o exerccio como centro do processo ... 32
2.3.1. O Treino: ingredientes para uma boa prtica . 34
2.3.2. Elaborao das sesses de treino ..... 36
2.3.3. Treino integrado/global . 37
2.3.4. O treino decisional .... 40
2.3.5. A criatividade e a inovao no treino e no exerccio ... 41
2.3.6. A unidade de treino no Momento da poca desportiva .. 43
2.3.6.1. Preocupaes especficas na construo do
treino/exerccio no Perodo Inicial/preparatrio....... 44
2.3.6.2. Preocupaes especficas na construo do
treino/exerccio no Perodo Pr Competitivo........... 48
2.3.6.3. Preocupaes especficas na construo do treino/exerccio no Perodo Competitivo..............
53
-
IV
2.3.6.4. Preocupaes especficas na construo do treino/exerccio no perodo de Play-off .
56
2.4. Treino fsico .. 58
2.4.1. Circuito Funcional ..... 60
2.4.2. Circuito de preveno/propriocetivo .................... 60
2.4.3. Circuito de fora perodo competitivo . 60
2.5. Microciclo semanal no Perodo competitivo um exemplo .. 61
2.6. Exemplo de Unidades de treino de uma semana em Perodo Competitivo ...
65
2.7. Avaliao/ Scouting de um adversrio . 74
2.8. O dia do jogo .... 78
3. Consideraes Finais . 79
4. Bibliografia 85
5. Anexos .. VII
-
V
ndice de Quadros e Figuras
Quadro 1: Principais ttulos da seco de Voleibol do Leixes SC 13
Quadro 2: Estrutura de competncias do treinador definidas com base nas atividades desenvolvidas e nas tarefas necessrias ao desempenho
26
Quadro 3: Microciclo semanal no perodo competitivo - um exemplo ... 62
Figura 1 : Organizao geral do departamento de Voleibol 17
Figura 2: Funes primordiais do treinador ... 21
Figura 3: Exemplo de exerccio no Perodo Preparatrio/Inicial .... 47
Figura 4: Exemplo de exerccio no Perodo Pr-competitivo .. ... 51
Figura 5: Exemplo de exerccio no Perodo Competitivo .. ..... 55
Figura 6: Exemplo de exerccio no Perodo de Play-offs .. ..... 58
Figura 7: Ficha de observao do adversrio/Scouting ... 75
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VI
ndice de Anexos
Anexo I: Planeamento fsico .......... IX
Anexo II: Microciclo ......... XIII
Anexo III: Plano Semanal XVII
Anexo IV: Plano de Treino ............. XXI
Anexo V: Ficha de Jogo ......... XXV
Anexo VI: Ficha de Scouting ......... XXIX
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1. Introduo/Estrutura do Relatrio
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3
O presente relatrio consiste no Relatrio Profissional apresentado Faculdade
de Desporto da Universidade do Porto, no mbito do 2 Ciclo de Estudos conducente ao
grau de Mestre em Desporto de Alto Rendimento. A sua elaborao levou-me a uma
viagem ao meu percurso profissional enquanto Treinador de Voleibol, viagem essa que
conta j com vinte e um anos ininterruptos e sempre ao servio do clube que me formou
enquanto atleta e que me ajudou a crescer e a desenvolver valores humanos, o Leixes
SC.
Com este documento pretendemos transmitir a experincia enquanto treinador
de Voleibol de 1 diviso, funo desempenhada durante doze anos no Leixes SC.
Sendo adeptos incondicionais do treino, do treino pensado, organizado, planeado,
estruturado, e acreditando que s assim se conseguem resultados com consistncia e
que perdurem no tempo, o relatrio foca-se nas tarefas do Treinador, no seu trabalho,
na sua importncia no processo desportivo e competitivo e acima de tudo na forma
como ele (neste caso ns) constri todo o processo de treino, como pensa e constri o
exerccio e qual a importncia do mesmo no sucesso desportivo do atleta e da equipa.
Desta forma dividimos o relatrio em dois grandes itens. O primeiro, intitulado O
Treinador, onde abordamos o Meu percurso enquanto treinador, a forma como fui
crescendo e evoluindo ao longo dos anos e as experincias mais marcantes deste
fabuloso trajeto; aborda ainda o meu enquadramento profissional no mbito do treino de
alto rendimento, viajando um pouco pela caraterizao do Treinador de Alto
Rendimento, as suas competncias e formao (cada vez mais exigente luz das
novas diretrizes patentes no Programa Nacional de Formao de Treinadores). O
segundo item, intitulado A estruturao do processo de treino, divide-se pela
caraterizao e escolha do Modelo de Jogo e a influncia da cultura do clube no
desenvolvimento do mesmo; o Planeamento, a definio do microciclo em funo de
cada momento da poca e das necessidades individuais e coletivas e a passagem para
o treino e o exerccio so os passos seguintes deste item, que procura ser o espelho do
nosso dia-a-dia no treino, das nossas preocupaes, crenas, dvidas, certezas e
emoes. Aborda todo o processo de treino da forma como ns o preconizamos e como
o temos vindo a desenvolver, focando-nos nas questes do treino integrado (com
preocupaes fsicas, tcnicas, tticas, emocionais e decisionais), na forma como o
preparamos, como criamos o exerccio em funo do momento da poca, do dia da
semana, do adversrio que temos, das necessidades e funes do atleta! A importncia
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4
que damos ao processo de treino de facto muito grande, pelo que dedicamos grande
parte do nosso tempo explorao deste tema. Acreditamos que aqui que a funo
do treinador mais se evidencia, sendo o local de eleio para mostrar as suas
competncias tcnicas, tticas e de liderana, sendo o ponto de partida para
conquistar o atleta, a sua ateno, predisposio e levar a acreditar no processo de
treino e no sucesso do trabalho que desenvolve diariamente.
A terminar deixamos algumas consideraes gerais sobre o relatrio e esta
longo caminhada, deixando algumas reflexes sobre o passado, o presente e o futuro
da nossa modalidade e do nosso processo de treino.
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Captulo 1. O Treinador
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1.1. O meu percurso
Como muitos outros jovens, a prtica desportiva sempre foi uma paixo; a
disciplina de Educao Fsica a favorita, os jogos de futebol com os amigos uma
rotina, a corda da roupa a fazer de rede de voleibol uma conhecida estratgia!
Enfim, o tradicional mido irrequieto e extremamente ativo! Durante toda a minha
infncia, as muitas brincadeiras e jogos de rua na minha terra natal, Vila Real, onde
o trnsito era uma miragem, at prtica do desporto federado com nove anos
(pratiquei futebol no histrico guias da Areosa) foi um avolumar de experincias
motoras no guiadas mas simultaneamente enriquecedoras. Aos 11 anos, a
entrada no mundo do Voleibol, para iniciar aquilo que nunca imaginava, uma
viagem sem retorno! Recordo-me que pelos meus dez, onze anos, passava parte
das minhas frias de Vero na praia, com mltiplas brincadeiras na areia, sendo
que uma delas sempre me atraiu, o famoso bate bola de voleibol. Para ajudar, um
dos meus companheiros de praia, meu tio, era treinador de voleibol. Aps um
desses veres, e morando eu prximo do ento Estdio das Antas, esse tio foi
convidado para treinar os escales jovens do Futebol Clube do Porto, surgindo
assim a possibilidade de juntar o til ao agradvel, ou seja, praticar uma
modalidade que gostava e ainda por cima no meu clube! Aps os normais anos de
formao enquanto atleta dos escales Iniciado, Juvenil e Jnior (sendo a maior
parte deles j ao servio do Leixes Sport Club fruto da alterao de residncia
para Matosinhos) cumpre-se o desejo de entrar na Faculdade de Cincias do
Desporto e Educao Fsica, FCDEF, na Universidade do Porto. Durante os anos
do curso mantive a prtica desportiva no Leixes Sport Club, onde iniciei a minha
atividade como treinador, sendo adjunto na equipa de juvenis, em 1993. Aqui tive a
felicidade de comear a trabalhar com algum que me marcou positiva e
definitivamente no meu trajeto desportivo e humano, o meu grande amigo Professor
Carlos Maia. Um referencial de competncia, dedicao, organizao, e vontade de
vencer, associado a caractersticas humanas que muito aprecio, uma enorme
humildade e companheirismo. Rapidamente o Carlos me passou muito da sua
experincia, formao e princpios, ensinando-me os primeiros passos (e talvez os
mais decisivos) desta carreira. Recordo-me que continuava a gostar de jogar e
tinha muitas dvidas se queria seguir a carreira de treinador, mas por insistncia do
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Carlos associado motivao dos primeiros sucessos que juntos obtivemos
(Campees Regionais e Nacionais associado a presenas constantes dos nossos
atletas nas selees nacionais jovens) aqui cheguei! Aps alguns anos como seu
adjunto, sempre nas camadas jovens do Leixes SC, e com a mudana de clube
por parte do Carlos, surge a possibilidade de ser treinador principal de uma equipa
da formao do LSC, e aqui o clique que faltava: continuar a jogar ou assumir de
vez a carreira de treinador? A escolha acabou por ser mais fcil do que inicialmente
podia pensar! No querer desiludir quem em mim apostou, o desafio de saber se
seria capaz, o estmulo de querer repetir as alegrias dos bons resultados, de querer
evoluir nas dinmicas criadas no treino, a sede de aplicar os primeiros
ensinamentos acadmicos associados ao facto de no ter grandes expectativas
enquanto atleta, abriram uma perspetiva de futuro mais motivadora enquanto
treinador do que como atleta. A deciso estava tomada!
Enquanto aluno da opo de Voleibol na FCDEF, e inserido na disciplina de
quarto ano Centro de Treino opo de rendimento, no ano letivo noventa e
quatro/noventa e cinco fui um dos treinadores responsveis pelo Centro de
Formao de Jovens Praticantes da Federao Portuguesa de Voleibol. Todo o
processo foi orientado pela Professora Isabel Mesquita, docente da disciplina. Esta
experincia foi desportivamente das mais valiosas onde estive inserido; um ano de
grande upgrade tcnico, onde todo o trabalho assentava no desenvolvimento
tcnico de base, dividido em trs grandes blocos, a saber: Bloco I:
servio/receo/passe; bloco II: passe/ataque/bloco e bloco III, ataque/bloco e
defesa. A metodologia de treino desportivo aliada a um acompanhamento dirio de
grande rigor cientfico pela mo da coordenadora do projeto fizeram desta poca
uma decisiva base para o meu futuro enquanto treinador. Aqui surge a minha
grande referncia cientfica, acadmica e pedaggica, onde aprendi a importncia
de ser rigoroso, organizado e extremamente metdico na procura das melhores
solues de trabalho e de progresso. Este ano letivo/poca possibilitou-me a
aplicao de vastos conhecimentos acadmicos ao nvel da Pedagogia e da Teoria
e Metodologia do Treino, ao mesmo tempo que me obrigou a refletir e a criar
estratgias que possibilitassem a evoluo positiva de um grupo alargado de
atletas, vindos dos mais variados clubes, trs vezes por semana. As primeiras
inseguranas apareceram: ser que estou a fazer o exerccio certo, estarei a
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corrigir corretamente, isto que se pretende, serei um bom lder do processo;
sem grande dificuldade estas inseguranas foram rapidamente ultrapassadas,
graas presena constante, confiana e ajuda da professora, associado a alguma
pouca experincia enquanto treinador de clube e tambm ao facto de ser atleta da
modalidade. Julgo que estas inseguranas sero as primeiras grandes dificuldades
dos jovens treinadores, pelo que s me posso considerar um felizardo pelas ajudas
das duas grandes referncias com que me iniciei na minha ainda jovem carreira.
Daqui para a frente, um trajeto fantstico nas equipas de formao do LSC,
escola de reconhecido sucesso no panorama voleibolstico portugus, que me
possibilitou trabalhar com alguns dos melhores atletas e treinadores (ao mesmo
tempo que me trazia grandes desafios), evoluir enquanto treinador, experimentar o
sabor doce das grandes vitrias e o amargo das grandes derrotas. As grandes
lies do desporto s a derrota ensina, Resende (2006).
O salto
Daqui at equipa snior do clube foi um salto muito rpido, talvez
demasiado rpido, onde julgo que entrei demasiadamente jovem, muito fruto das
necessidades do clube. Numa poca de grandes dificuldades era necessrio um
plantel snior do clube sem grande investimento, assente na prata da casa.
Facilmente se percebia que o ideal seria um treinador barato, e se possvel da
casa, que conhecesse as necessidades e dificuldades do clube, a sua cultura, e
com esprito de misso! Recordo-me ainda hoje da reunio no velhinho Pavilho
Siza Vieira com uma das figuras mais emblemticas do clube e da modalidade em
Portugal, o Sr. Antnio Rijo. Com a sua voz rouca chamou-me e disse-me, Mrio,
vou assumir o comando da equipa snior e quero que sejas meu adjunto. Temos
poucas capacidades financeiras, o objetivo a manuteno e, como sabes, devido
minha vida profissional vou ter pouca disponibilidade para estar sempre presente,
pelo que tens que me ajudar e ao clube para ultrapassarmos esta fase! Vais ser tu
a orientar todo o processo! Comecei logo por perceber que a resposta positiva ao
convite estava implcita no mesmo! Fui para casa assimilar e tentar perceber o que
se estava a passar, e de facto as perspetivas e o enquadramento financeiro e
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desportivo do clube no eram os melhores. Recordo-me dos medos que tinha em
assumir tal liderana, no s pela minha inexperincia como principalmente por
muitos dos atletas terem sido meus companheiros de equipa e meus amigos do
dia-a-dia. Pensei ento o que tenho que fazer para me defender, para defender a
minha posio enquanto treinador deles e conquistar o seu respeito? O que fazer
para evitar os conflitos na gesto do processo de treino e de competio?. O que
fazer para que este salto na minha carreira no acabe numa queda com leses?
Aps muitos cenrios surgiu uma soluo; telefonei ao Sr. Antnio Rijo e a nica
exigncia (quem era eu para exigir alguma coisa e ainda para mais a uma
referncia histrica do voleibol do clube e do pas) que fiz foi que ele teria que
estar, no mnimo, em dois treinos da semana e seria ele a escolher o seis base
para o jogo bem como a responsabilidade de orientao da equipa. Obviamente
que tal implicava ser dele a comunicao aos atletas sobre as opes. Todas as
decises tomadas eram conversadas entre os dois, a preparao da equipa era
feita por mim (com toda a motivao e entusiasmo) mas quem as assumia seria
sempre o treinador principal. Como se percebe, para mim sobrava apenas a
preparao, orientao e avaliao do treino, sendo que quem assumia todas e
quaisquer consequncias desportivas bem como as questes mais complexas da
relao com os atletas e gesto de personalidades seria sempre o treinador
principal. E assim consegui uma estratgia que me permitia pensar muito mais no
treino e na sua conduo, sem necessidade de ter que gerir algo em que no me
sentia ainda preparado, como os normais conflitos treinador/atleta sobre as opes
tomadas e a complexidade das relaes humanas. Assim consegui dois objetivos:
evitar conflitos que me poderiam trazer prejuzos nas amizades extra-voleibol (algo
que sempre prezei) e centrar-me apenas na rea de performance desportiva da
equipa. Desta forma comecei este percurso no nosso Alto Nvel! Da para c a
evoluo foi normal, a segurana em todo o processo foi crescendo, e aps
algumas pocas como adjunto (sendo a ltima com o Professor Carlos Maia)
assumi a posio de treinador principal que continua at hoje. Sem dvida alguma
sinto que as dificuldades destes primeiros anos me obrigaram a grandes reflexes,
preparando-me para hoje ser um melhor treinador, melhor preparado, mais
completo e acima de tudo mais seguro. As primeiras grandes dvidas e
inseguranas foram diminuindo, a firmeza e segurana em passar a mensagem
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foram evoluindo. Atualmente ainda tenho muitas dvidas mas provavelmente mais
segurana e, acima de tudo, melhor capacidade em fazer perceber a mensagem e
qual o rumo para atingir o objetivo, bem como ultrapassar obstculos que surgem
no processo.
Paralelamente a este trabalho na equipa snior estive durante alguns anos
como Coordenador Tcnico da formao do clube, rea que me traz especial
sensibilidade (da uma ps-graduao nesta rea) pois o trabalho com os jovens, a
sua evoluo e o prazer de os ver representar as principais equipas e selees
sempre me motivou. Tem sido um trajeto traado com empenho, dedicao e acima
de tudo um grande amor profisso, ao treino, ao voleibol e ao clube que sempre
representei como treinador. Tenho tentado ser o agente de mudana que se pede a
quem ensina.
Pelo meio ficam alguns, no muitos, sucessos desportivos como a presena
numa final da supertaa em 1999/2000, a presena na final da Taa de Portugal em
2002 e consequente apuramento direto para a competio europeia Top Teams Cup
(que o clube prescindiu por incapacidade financeira), uma meia final de Play-off em
2008/2009, a conquista da manuteno em 2009/2010 com uma equipa composta
praticamente por atletas da formao e, acima de tudo, os objetivos de clube
sempre atingidos poca aps poca. Na formao ficam alguns campeonatos
regionais e nacionais juvenis e juniores e acima de tudo a evoluo dos nossos
atletas (que permitiu que muitos deles representassem o clube nas selees
nacionais, o que sempre considerei motivo de orgulho e de reconhecimento pelo
trabalho desenvolvido por eles no clube) e as amizades criadas. No esqueo
tambm as muitas derrotas, umas mais sofridas que outras, que me fizeram refletir,
reestruturar e planear o trabalho, evoluindo assim no plano desportivo, profissional
e humano. Graas ao meu clube passei de um jovem e desconhecido treinador a
treinador de uma equipa do Alto Rendimento, com trabalho e mrito reconhecido na
modalidade a nvel nacional. Por tudo o que proporcionou e continua a
proporcionar, Obrigado Leixes!
Aproveito tambm para destacar uma passagem pela seleo nacional
snior enquanto adjunto de um dos melhores treinadores do mundo, Juan Diaz,
onde tive o privilgio de realizar uma Liga Mundial e experimentar um novo
contexto desportivo e uma vivncia tcnica ao lado de um treinador de nvel
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mundial. Entre as muitas qualidades tcnicas que lhe so reconhecidas destaque
para as suas qualidades humanas expressas numa grande humildade,
solidariedade e respeito por todos que com ele trabalham.
1.2. Enquadramento da minha prtica profissional
A seco de Voleibol do Leixes SC surge em plena poca balnear de 1945
na Praia de Banhos de Matosinhos, por iniciativa de um grupo de rapazes. Orlando
Ramos e Henrique Moreira so dois dos principais responsveis pela criao da
seco no Leixes Sport Clube. A 4 de setembro arranca oficialmente o Voleibol do
Leixes Sport Clube, com a participao no Campeonato Popular. Inicialmente os
jogos disputavam-se ao ar livre no conhecido Campo do Santana, passando mais
tarde para o mtico pavilho Siza Vieira (Galego, 2009). Atualmente o clube utiliza
uma instalao municipal, moderna e com todas as condies exigveis ao alto
nvel, o Pavilho Ildio Ramos, nome atribudo em homenagem a um dos mais
importantes atletas e treinadores do clube e filho de um dos fundadores da seco,
Sr. Orlando Ramos. Em fevereiro de 1947 o Leixes Sport Clube fez a sua filiao
na Associao de Voleibol do Porto (AVP), sendo Orlando Ramos eleito Presidente
do Conselho Fiscal. Em 1962 conquista o primeiro ttulo nacional da sua histria, na
2 diviso. A 2 de agosto de 1964 sagra-se Campeo Nacional da 1 diviso ao
bater o Lisboa Ginsio por 3-1. A 6 de dezembro do mesmo ano, participa pela
primeira vez em competies europeias, mais concretamente na Taa dos
Campees Europeus, tendo batido em Barcelos o Clube Desportivo Hispano-
Francs por 3-2(Galego, 2009).
Daqui e at aos nossos dias a seco de Voleibol conquistou inmeros
ttulos regionais e nacionais, tanto nos escales de formao como a nvel snior,
cedendo regularmente atletas da sua formao s diferentes selees nacionais,
fazendo do clube uma referncia no panorama nacional. Destaque tambm para os
inmeros tcnicos do clube que tiveram a sua formao enquanto atletas no
Leixes SC, sendo tambm neste ponto um clube formador e de grande
enriquecimento para a modalidade. No quadro 1 podemos ver o destacado
palmars da seco. So 48 ttulos nacionais na formao, 26 ttulos nacionais no
-
13
escalo snior, 14 Taas de Portugal e 3 Supertaas, num total de 76 ttulos em 64
anos de existncia so uma demonstrao do que este clube representa no
panorama desportivo e voleibolstico do pas!
Quadro 1: Principais ttulos da seco de Voleibol do Leixes SC
N de ttulos nacionais
Escalo
Masculino
Feminino
Snior
9
17
Jnior 9
4
Juvenil
9
4
Iniciado
1
6
Infantil
1
0
Taas de Portugal
6
8
Supertaas
1
2
Total de Trofus
35
41
A sede do clube situa-se no corao de Matosinhos, cidade piscatria no Norte
do pas e beira-mar plantada. Os adeptos, scios e simpatizantes do clube
sempre demonstraram grande afinidade pelo clube, pelas suas modalidades, em
especial pelo futebol e voleibol, sendo a sua presena uma constante, mantendo as
bancadas do pavilho praticamente repletas. Destaque para a claque do clube
(Mfia Vermelha) que acompanha e apoia ruidosamente e com enorme paixo a
modalidade e todo o clube. O Leixes SC um daqueles clubes em que os seus
adeptos (especialmente os mais velhos) so em primeiro lugar leixonenses e s
depois de um dos ditos clubes grandes. O Leixes de facto motivo de orgulho, de
sentimento de pertena, de paixo, de referncia para a cidade e que desperta as
mais variadas emoes. Como refere Stendhal, citado por Margarida Gano (2011),
os homens s se compreendem uns aos outros na medida em que os animam as
mesmas paixes! E paixo o que no falta nos adeptos, atletas e todos os que
trabalham neste clube!
Desportivamente um clube com mais de cem anos (surge em 1907), com
grande destaque no futebol, natao e voleibol, sendo frequentes os ttulos
-
14
alcanados, o elevado nmero de praticantes e a presena dos seus atletas nas
selees nacionais, motivo de orgulho para o clube! frequente, em Matosinhos,
vermos os jovens de bola na mo (e no p), na praia, na rua, na escola, o que se
constitui como um fator determinante no desenvolvimento de competncias
motoras, desportivas e at culturais na formao dos jovens. Julgamos que esta
ser uma das grandes riquezas do clube e corresponsvel pelo sucesso da nossa
formao e da cultura desportiva dos nossos praticantes e dos seus pais, pois
desde muito novos entendem a prtica desportiva como algo inerente e importante
para a sua formao. O trabalho no clube fica desde logo facilitado, com jovens
atletas com bom desempenho motor, a que se lhe juntarmos competncia na
organizao da seco e no processo de treino e competitivo teremos uma boa
frmula para o sucesso.
Financeiramente o clube apresenta nos ltimos anos dificuldades financeiras e
consequentemente estruturais, muito provavelmente devido ao contexto
socioeconmico em que est inserido, numa cidade que viveu muitas dcadas
custa do trabalho rduo de pescadores e de todo o setor das pescas. Estas
dificuldades agravaram-se medida que a indstria conserveira (que muito apoiou
o clube) foi desaparecendo, sendo hoje apenas uma pequena amostra residual.
A seco de voleibol no alheia a esta realidade, sendo o desinvestimento
financeiro cada vez maior (transversal a todas as reas do pas), mas conseguindo
manter o nvel da sua formao. A grande mais-valia da seco sempre foi a paixo
e o ambiente positivo e profissional que ns, equipa tcnica, atletas e diretores
sempre dedicamos causa, associado a uma energia positiva de quem nos
acompanha, os adeptos, os leixonenses, os pais, familiares e amigos. de facto
um clube de um meio com forte cultura desportiva e voleibolstica, a que no so
alheios os mais de cem anos de histria do clube, do meio em que se insere e dos
sucessos alcanados.
A constante aposta na formao juntamente com o ambiente vivido desde o
balnerio at ao treino e ligao com a massa associativa tm sido uma arma
determinante no sucesso das consecutivas pocas. Na leitura do livro Sucesso
segundo Nlson vora. Exemplos de um campeo que pode seguir no dia a dia,
aprendi algo sobre a cultura Bahis que se aplica bem ao nosso dia-a-dia neste
clube. Os Bahs atribuem grande importncia educao moral e espiritual de
-
15
crianas e jovens e revelam quatro facetas humanas que distinguem de forma
positiva as pessoas: entusiasmo e coragem; rosto adornado com um sorriso e
semblante radiante; ver as coisas com os seus prprios olhos e no atravs dos
olhos dos outros; capacidade de levar uma tarefa, uma vez iniciada, at ao fim.
Ao ler este livro e em especfico esta abordagem aos Bahis estava a rever-me no
trabalho dirio com os atletas, pois perante tantas dificuldades estruturais,
oramentais, competitivas etc. S mesmo um grupo de trabalho entusiasmado e
corajoso, com uma alegria contagiante e motivante e completamente focados na
tarefa e no objetivo de a levar at ao fim conseguia ultrapassar as adversidades
semana aps semana, jogo aps jogo, poca aps poca e sempre a trabalhar no
limite da dedicao para atingirmos os objetivos definidos, que felizmente sempre
foram alcanados pelos nossos grupo de trabalho.
Olhando para trs percebemos que as dificuldades e debilidades do clube se
tornaram num fator positivo, tendo-nos conduzido criao de estratgias para as
resolver ou minimizar. Neste contexto sempre nos sentimos uns privilegiados pois
fomos estimulados a desenvolver novas competncias, estratgias e
conhecimentos para conseguirmos atingir os objetivos a que nos propusemos,
tornando-nos mais completos, mais competentes e melhor preparados.
Acreditamos que os mais experientes no so os que mais tempo viveram mas sim
os que mais experincias vivenciaram e mais dificuldades enfrentaram, e nesse
captulo o clube proporcionou-nos muita experincia!
A seco de Voleibol sempre foi financeira e administrativamente dependente do
clube. No entanto, e fruto das necessidades e dificuldades do clube e da prpria
seco, desde a poca 2012/2013 que a seco de Voleibol se tornou financeira e
logisticamente independente do clube, criando uma Academia (Academia de
Voleibol LSC), com uma gesto financeira e logstica autnoma, utilizando apenas
os direitos de imagem do clube. O momento decisivo desta alterao surge quando
o clube, fruto das suas constantes dificuldades econmicas em cumprir as suas
obrigaes fiscais e financeiras (reflexo das sucessivas ms gestes do
departamento de futebol do clube), se v inibido de receber subsdios e patrocnios,
o que teve uma implicao direta na sobrevivncia da seco de voleibol. Desta
forma toda a gesto da seco de voleibol passa para esta academia, liderada por
-
16
um diretor com assento no clube, ladeado por um grupo de pais de atletas do
voleibol e que so os corpos gerentes desta academia. Para o dirio funcionamento
desportivo os espaos de treino e competio so cedidos pela autarquia Nave
Ildio Ramos, e conta com 2 campos de treino, um campo de competio, uma sala
de musculao/treino funcional, um posto mdico e uma sala de reunies. Para
treinos dos escales de formao o clube dispe ainda do Pavilho Siza Vieira,
cedendo a autarquia o Pavilho da Escola EB 2, 3 de Matosinhos, diariamente
entre as 19h00 e as 22h00. Estruturalmente o departamento organiza-se com um
diretor geral de todo o Voleibol e uma auxiliar administrativa. Cada equipa snior
(masculina e feminina) tem um diretor desportivo cada, sendo as equipas tcnicas
compostas por um treinador principal e um adjunto e um fisioterapeuta. Destaque
aqui para a colaborao dos treinadores da formao junto das equipas seniores,
tanto ao nvel do treino como na anlise do jogo, sendo uma importante troca de
conhecimentos e estreitar de metodologias. A formao do clube gerida por um
grupo de pais de atletas que se organizaram no sentido de formar uma Associao
(Academia de Voleibol do Leixes SC) que permite gerir toda a formao do
Voleibol leixonense. Debaixo da coordenao do Diretor Geral toda a estrutura se
organiza com um diretor responsvel pela logstica de cada equipa e pela ligao
com a referida Associao. Do ponto de vista tcnico existe um Coordenador para
todo o voleibol; o treinador da equipa jnior feminina apoia mais diretamente os
escales femininos e faz a ligao com o Coordenador Geral; o Coordenador Geral
apoia diretamente a formao masculina; no Minivoleibol um dos treinadores
diretamente responsvel pela coordenao deste escalo, reportando tambm ao
Coordenador Geral. A estrutura geral apresentada na Figura 1.
No que concerne ao nosso trabalho com a equipa snior, o Departamento
organizou-se ao longo dos anos com um Diretor Geral, responsvel pela macro-
organizao do departamento, mas com responsabilidades partilhadas. Como
principais responsabilidades destaca-se a definio do oramento da equipa, a
contratao dos atletas (em conjunto com o diretor da equipa e o treinador
principal), a gesto financeira (elaborao e cumprimento do oramento,
angariao de patrocnios, representao institucional, ligao Federao
Portuguesa de Voleibol). A Secretaria tem como principais responsabilidades a
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17
gesto logstica do departamento, nomeadamente as inscries da equipa e dos
seus atletas e corpo tcnico, divulgao de informao diversa (redes sociais,
cartazes de divulgao dos jogos, etc.), marcao/organizao dos jogos (espaos,
horrios, viagens, refeies, transportes, etc.) e toda a rea administrativa
relacionada com a equipa. O diretor da equipa tem como principais
Figura 1 - Organizao geral do departamento de Voleibol
responsabilidades a ligao com a direo (diretor e secretaria), organizao dos
jogos (cumprimento do protocolo, nomeadamente apanha-bolas, speaker,
responsabilidades com a equipa de arbitragem, boletim de jogo, refeies,
transportes), necessidades dirias gua, bolas, materiais, alojamento e refeies
dos atletas deslocados, e toda a logstica diversa. Quanto equipa tcnica,
constituda por dois treinadores e um fisioterapeuta. Obviamente que as principais
responsabilidades dos treinadores so a programao e planificao de todo o
trabalho tcnico e fsico, a definio de objetivos, a liderana e conduo do
Diretor Geral
Secretaria
Departamento snior
Equipas Masculinas
Equipa tcnica: Treinador
Treinador Adjunto Fisioterapeuta
Diretor
Departamento formao Associao Academia Voleibol do LSC
Coordenador Tcnico Geral
Por equipa: Diretor
Treinador Treinador Adjunto
Mini-Voleibol - Minis A e B:
Diretor Treinador
Treinador Adjunto
Coordenador Tcnico
Feminino Coordenador tcnico do Mini-Voleibol
Por equipa: Diretor
Treinador Treinador Adjunto
Equipas Femininas
Departamento Mdico
Marketing e Ev
entos
Departamento Finance
iro
Atletas
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processo desportivo e consequente avaliao, O fisioterapeuta, em articulao com
o departamento mdico e tcnico, tem como funes bvias a preveno do
aparecimento de leses e o tratamento das mesmas, tendo uma presena ativa no
trabalho de campo, com o objetivo de definir/aplicar programas de preveno e
reforo muscular, definindo exerccios propriocetivos para o atleta, e avaliar a
evoluo na recuperao de leses, ao mesmo tempo que participa na recuperao
ativa dos mesmos em conjunto com o treinador. Enquanto equipa tcnica sempre
tivemos a preocupao de articular as competncias de cada um e rentabilizar os
seus conhecimentos em prol do crescimento coletivo. O envolvimento do
fisioterapeuta no trabalho de campo a prova disso mesmo. Como diz Katzenback
e Smith, citado por Gano (2011) uma equipa um pequeno nmero de pessoas
com aptides complementares, comprometidas com um propsito comum, com
objetivos de desempenho e formas de trabalhar em conjunto, e pelos quais se
responsabilizam mutuamente.
O momento atual
Aps mais de dez anos frente da equipa snior do Leixes SC, e fruto do
elevado desinvestimento desportivo (consequncia natural da crise econmica
nacional), o projeto apresentado para continuar a trabalhar com este escalo foi
muito pouco motivante. Uma equipa maioritariamente constituda por atletas ainda
juniores, um plantel de apenas oito/nove jogadores, que em simultneo teriam que
competir no escalo jnior e snior. Algo pouco organizado, nada competitivo,
com debilidades financeiras, logsticas, desportivas e sem objetivos ambiciosos!
Entendi que seria o fim de um longo e enriquecedor ciclo e que precisava de
novos desafios desportivos. Assim, surge a possibilidade de coordenar um projeto
de formao intitulado Academia de Voleibol do Leixes SC, financeira e
organizativamente independente do clube, mas com a ligao histrica e cultural
quase obrigatria. Um projeto com cerca de 300 atletas, dos seis aos dezoito
anos, divididos pelos diversos escales (Minis A, B, Infantis, Iniciados, cadetes,
Juvenis e Juniores, de ambos os gneros), com uma equipa de trabalho de
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aproximadamente vinte treinadores. Como base deste projeto est a formao de
atletas que a curto/mdio prazo tenham condies para integrar a equipa snior,
fazendo com que a base da mesma seja constituda por atletas da nossa
formao, tornando-se o clube o principal local de recrutamento dos atletas
seniores e praticamente auto-sustentvel no que diz respeito mo-de-obra
desportiva (atletas).
Surge assim um novo desafio, muito ligado s minhas origens, enquadrado
num novo tempo, novo cenrio e com novas ideias.
Esta uma excelente oportunidade de trabalhar com treinadores jovens e de
lhes passar alguns dos meus conhecimentos e experincia (o mesmo que fizeram
comigo no meu processo de formao), ao mesmo tempo que me poderia
enriquecer com a troca de conhecimentos e novidades que os mais jovens
sempre carregam na sua bagagem acadmica. Uma das primeiras medidas
implementadas foi criar um corpo tcnico que se identificasse com o clube
(treinadores que foram nossos praticantes), com a sua histria e cultura, com
formao acadmica, tcnica e desportiva na rea, ambicioso e com vontade,
muita vontade, de treinar.
Nesta fase a Academia est a crescer e a desenvolver-se, tanto no seu plano
tcnico, onde estamos a trabalhar para um nvel de treino cada vez mais
competente, mais comprometido, mais integrado e interligado, como no plano
desportivo, onde estamos a marcar presena em vrias fases finais, com
inmeros atletas nas selees nacionais. Paralelamente temos vindo a crescer na
organizao de eventos (Torneios, festas, encontros de treinadores) e na criao
de parcerias com as escolas da freguesia com o objetivo de aumentar a nossa
base de recrutamento de atletas e de promover a modalidade. O nosso objetivo
claramente crescer quantitativa e qualitativamente, marcar presena nos
momentos de deciso e de maior presso competitiva finais (acreditamos que
aqui que os atletas mais crescem) e alimentar as equipas snior com os atletas
que aqui treinam diariamente. Acreditamos que este o rumo certo!
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1.3. Treinador de Alto Rendimento
Segundo Arajo, 1992, o treinador de alta competio deve relacionar-se de
modo equilibrado com a realidade em que se integra, pois daquilo que ele
representa e do que produz em termos scio-desportivos resultam sempre
evidentes reflexos, no s para o desenvolvimento desportivo em geral como para
a respetiva modalidade e para a sua profisso. Ser treinador de alta competio
pressupe uma cultura geral e uma experincia profissional que esto muito para
alm das aquisies de uma carreira de atleta, por mais destacado que ele tenha
sido.
Na mesma linha, e segundo o PNFT, pg. 66, ao treinador de grau III (de
alta competio) que compete planear o exerccio e avaliar o desempenho de um
colectivo de profissionais com qualificao igual ou inferior, coordenando,
supervisionando, integrando e harmonizando as diferentes tarefas associadas ao
treino e participao competitiva, especialmente de praticantes de alto nvel de
rendimento. Neste mbito, requer-se para este nvel de formao o domnio de um
conjunto de competncias profissionais simultaneamente eclticas, em referncia
pluralidade de domnios onde intervm, e especfica, tendo por referncia o nvel de
prtica onde preferencialmente atua: o alto rendimento desportivo. Marques (2001)
complementa esta ideia quando refere que quem quer ter sucesso como treinador
no desporto de alto rendimento tem que ser dono de um conjunto vasto de recursos
em conhecimentos e competncias. Numa s frase este autor espelha bem o seu
ponto de vista quando refere que s com intuio e inspirao no se obtm
resultados. O PNFT (p.67) refere ainda que a elevada exposio pblica a que
est sujeito, as prerrogativas de rendimento que lhe so impostas no mbito dos
quadros competitivos onde participa, a necessidade de ser capaz de liderar,
catalisar a dinmica de grupo e otimizar climas de participao plural nas equipas
tcnicas que coordena, so exigncias que requerem do treinador de Grau III uma
formao fundada em bases slidas, tanto no domnio especifico da modalidade
como no conhecimento plural e sistemtico oriundo das Cincias do Desporto.
de facto muito importante o treinador perceber o seu papel, as suas
responsabilidades, funes e tica, pois s assim poder contribuir para o
desenvolvimento da modalidade em geral bem como para melhorar o contributo no
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desenvolvimento ttico-tcnico dos atletas e os seus resultados individuais e de
equipa (Yuri Chesnokov, 2011, pp. 26).
Ao mais alto nvel desportivo, o alto rendimento, o treinador o profissional
lder de uma equipa responsvel pela preparao e performance do atleta e da
equipa em geral. O treinador o responsvel mximo pelo resultado.
Chesnokov (2011) apresenta atravs da Figura 2 as funes primordiais do
treinador, em diferentes momentos:
Funes desportivas do treinador
Determinar: objetivo; resultados intermdios; prazos para alcanar os objetivos
Escolha do staff
Seleo dos jogadores
Plano de preparao
Processo de treino: ensinar, aperfeioar, conduzir e controlar materiais e equipamentos de treino
Competio: coordena scouting, estatstica e vdeo; preparao especfica; plano de jogo; coordena a equipa durante o jogo
Anlise da performance e respetivas correes
Figura 2: funes primordiais do treinador (Chesnokov, 2011, pp. 26)
No nosso trabalho explicaremos como desenvolvemos o Processo de Treino e
competio, uma das principais funes desportivas do treinador, referida na figura
2.
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O reputado treinador japons, Yasutaka Matsudaira (2011, pp. 27), deixa-nos
algumas dicas para o nosso trabalho enquanto treinadores, das quais destacamos:
1. Antes de treinar atletas o treinador tem de ter uma doutrina, uma filosofia
prpria de treinar
2. Um treinador no deve colocar objetivos e habilidades impossveis de
atingir
3. Independentemente da dificuldade da tarefa, quando o objetivo alcanado
deve ser aplaudido, valorizado
4. importante adotar um princpio de competitividade para que os atletas
aprendam e evoluam nas suas prticas
5. Relativamente aos mtodos de treino importante que o treinador respeite
os mtodos tradicionais mas ao mesmo tempo consiga criar uma forma
original e nica de treinar, que no so cpia de ningum. Isto ajudar a que
o atleta respeite e acredite no treinador.
Neville (2011, pp. 119) refere que a atitude da equipa comea com o treinador.
Uma expresso muito curiosa deste autor que uma grande vantagem de um
treinador a capacidade de olhar para o espelho e ver a mesma pessoa que os
outros vm! A este respeito, Adolph Rupp, citado pelo mesmo autor, refere que
ns nunca somos to bons como pensamos nem to maus como julgamos que
somos O treinador, atravs do seu comportamento, das suas atitudes, define
como os seus atletas vo acreditar nele, como vo ver as situaes, como o vo
ver a ele. Se o treinador discute com o rbitro, se reclama com as condies de
trabalho, de jogo, os atletas vo segui-lo. Se o treinador entusiasta, acredita nele
prprio, v uma oportunidade de crescimento em diversas direes, a equipa e os
seus atletas vo segui-lo. Sem dvida que, sendo o treinador a pessoa com mais
influncia no grupo, que mais lidera, as suas boas prticas, os bons jogos, os bons
treinos e uma boa programao dependero da atitude exibida pelo treinador.
Tambm nesta linha de pensamento, Lana, R. (2012) refere que a Atitude do
Treinador se baseia em seis pontos: escuta ativa (verbal e no verbal, explcito e
implcito); assertividade: sinceridade e simplicidade (aberto, autntico, partilha
emoes, feelings e opinies); respeito (pelas suas ideias e do outro); objetividade;
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processo construtivo; empatia (identificao das emoes prprias e alheias);
gesto das emoes (identificar estados, identificar e analisar as causas, controlar
e expressar).
Na prtica diria e no ensino dos fundamentos e habilidades muito importante
que os treinadores se foquem na criao de tarefas que coloquem o atleta prova
e os guie a descobrir as respostas para os diferentes problemas.
Segundo Neville (2011, pp. 119), essencial que os treinadores se foquem
essencialmente naquilo que conseguem controlar, continuando a procurar melhorar
as suas condies de treino; no entanto muita preocupao sobre o que est
errado nunca ir valorizar o trabalho positivo que o treinador est a tentar criar.
ento no treino, na prtica, que se pode abranger todos os elementos de evoluo
da equipa. uma quantidade de oportunidades para se desenvolver a atitude, os
padres comportamentais, a cooperao, o comprometimento, a disciplina, a
condio fsica, as tcnicas e as tticas. Todos estes elementos esto interligados;
todos estes ingredientes juntos formam aquilo que vulgarmente se chama de
Equipa.
Num contexto mais especfico, Woodman (1993) considera que a arte do
treinador ou a conjugao dos seus saberes e conhecimentos, assenta fortemente
no conhecimento, experincia, intuio e na sua filosofia pessoal, bem como no
conhecimento das cincias aplicadas ao desporto. O julgamento pessoal do
treinador, a opinio, a antecipao, a autoridade e o entusiasmo fazem parte da
arte do treino, que por sua vez assenta fortemente no conhecimento, intuio e
filosofia pessoal dos treinadores (Crisfield et al. 1966).
Crisfield et al. (1966), ao referirem-se aos conhecimentos que os treinadores
necessitam, indicam que os treinadores eficientes e de sucesso tm uma mente
aberta e inquiridora acerca do desporto que treinam. As suas qualidades de
reflexo, combinadas com a vontade de desafiar as vias tradicionais, so
importantes. No entanto, afirmam que para o exerccio cabal da sua atividade no
h substituto para ter um conhecimento firme nas especificidades do Desporto em
causa, nas necessidades especficas dos atletas, nos fatores que influenciam a
performance e a efetividade do treino.
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4. A formao para se ser treinador de alto rendimento
Para J. E. Kane, psiclogo ingls citado por Arajo (1992), o ato de treinar tem
de conduzir independncia futura dos atletas, mesmo por absurdo, conseguir que
estes precisem cada vez menos dos treinadores. Os atletas tm de ser preparados
para tomar as suas prprias decises, utilizando a sua perceo e anlise das
situaes e no a dos treinadores. Neste propsito, Mesquita (2009, pp. 5), aborda
a questo da formao do treinador com grande clarividncia e paixo, referindo
que treinar deve ser entendido como o processo intencional e deliberado de fazer
aprender e desenvolver capacidades, ou seja, como um conjunto de aces
organizadas, dirigidas finalidade especfica de promover intencionalmente a
aprendizagem, com os meios adequados natureza dessa aprendizagem. Neste
contexto, o treinador deve ser visto como o profissional que tem a funo especfica
de conduzir esse processo, o treino desportivo, fazendo-o no quadro de um
conjunto de saberes prprios, saberes esses que sustentam a capacidade de
desempenho profissional. As funes do treinador definem-se, assim, com base
num conjunto de competncias resultantes da mobilizao, produo e uso de
diversos saberes pertinentes (cientficos, pedaggicos, organizacionais, terico-
prticos, etc.), organizados e integrados adequadamente, em funo da
complexidade da aco concreta, a desenvolver em cada situao de prtica
profissional. Arajo (1992), complementa esta posio abordando a importncia da
necessidade de o treinador pode ser (ou no) um bom executante, afirmando que
um bom executante ser sempre um excelente demonstrador das tcnicas, mas
no garante a capacidade de as ensinar ou a necessria criao de climas de
trabalho adequadas obteno de cada vez maior rendimento.
Arajo (1992) vai mais longe ao definir uma metodologia para a formao dos
treinadores, implicando preocupaes como: aquisio de conhecimentos (saber);
domnio das tcnicas (saber fazer); transformao positiva e continuada das
atitudes (saber estar).
Estas preocupaes aparecem-nos tambm no Programa Nacional de
Formao de Treinadores (2010) (adiante designado por PNFT). Segundo esse
mesmo programa, o treinador snior, de alta competio, deve reunir competncias
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na rea do planeamento, implementao, reviso e avaliao das sesses de
treino, bem como demonstrar competncias avanadas de treino. Para sermos
mais precisos destacamos o quadro 2, retirado desse mesmo programa.
Segundo o PNFT fica claro que o treinador de alta competio (de grau III), o
tal Expert, dever dispr j das competncias necessrias resoluo dos mais
complexos problemas que se deparam na profisso, com especial referncia para
os suscitados pelo alto nvel. Acima disso ficaro os treinadores de grau IV,
formados em referncia s exigncias da prtica profissional relativas
coordenao e direo de equipas tcnicas plurais, inovao, investigao,
formao profissional e ao empreendedorismo.
Por curiosidade, no mbito da implementao do novo sistema de formao
de treinadores destacam-se alguns pontos que se julgam relevantes: um aumento
da exigncia da carga horria; a obrigatoriedade da formao em exerccio; a
obrigatoriedade da existncia de estgio tutorado. Estas especificaes encontram-
se bem definidas no PNFT. Da nossa parte, e enquanto treinadores de alto nvel em
Portugal durante dez anos consecutivos, no temos dvidas que o desafio impe
um grande domnio de vrias competncias, sejam tcnicas, tticas, metodolgicas,
de liderana, entre outras, sendo que, de forma alguma, estaremos sempre
munidos das solues para os desafios que a tarefa nos coloca. Importante
estarmos preparados para refletir e ouvir os que nos rodeiam, no sentido de
encontrar solues para resolver os desafios colocados, tendo por dado adquirido
que a deciso e as consequncias que da advm sero sempre da
responsabilidade do treinador, do lder do grupo de trabalho. Este um processo
sempre em crescimento, que nos vai enriquecendo diariamente e que nunca est
completo, devendo o treinador estar aberto a escutar opinies, analisar
comportamentos e emoes, antes de assumir uma posio. Este o pressuposto
para que estejamos sempre atualizados, preparados para aprender e evoluir. O
processo de aprendizagem nunca termina, muito menos quando estamos numa
posio de liderana.
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Quadro 2: Estrutura de competncias do treinador definidas com base nas atividades desenvolvidas e nas tarefas necessrias ao desempenho. PNFT (2010 - pp. 30)
Atividades Tarefas Competncias As principais atividades do
treinador so: Em cada atividade as principais
tarefas do treinador so: As competncias necessrias para
realizar com sucesso as tarefas relacionadas com cada atividade
so: Ao nvel do treino:
Preparar desportistas para a competio, atravs do
planeamento, organizao e
conduo e avaliao do programa
e sesses de treino.
Planear: Tarefa de definir um programa passo a passo para atingir um objetivo num exerccio, numa
sesso, srie de sesses, poca, ou
srie de pocas.
No domnio do conhecimento: Uso da teoria e dos conceitos, bem como do conhecimento informal e tcito ganho com a experincia.
Ao nvel da competio: Planear, organizar, avaliar e conduzir a participao
competitiva dos desportistas.
Organizar: Tarefa de coordenar e diligenciar no sentido de assegurar que o
objetivos ser atingido de forma eficiente e efetiva.
No domnio das aptides: Desempenho das funes
(saber fazer) que uma pessoa deve ser capaz de fazer quando
desempenha uma actividade numa dada rea de trabalho,
educao, ou social. Ao nvel da gesto:
Liderar, dirigir, ou controlar pessoas
relacionadas com o desporto.
Conduzir: Tarefa de executar uma tarefa
planeada e organizada.
No domnio da tica pessoal e profissional:
Comportar-se com propriedade numa situao especfica e
possuir certos valores pessoais e profissionais.
Ao nvel da educao / formao:
Ensinar, instruir ou tutorar pessoas
relacionadas com o desporto.
Avaliar: Tarefa de estudar, analisar e
decidir acerca da utilidade, valor e
significado ou qualidade de todo o processo.
Genricas / basilares / chave: Comunicao na lngua
materna, comunicao noutra lngua, competncias bsicas
em matemtica, cincia e tecnologia, competncia digital, competncia de aprendizagem
autnoma, competncias cvicas e interpessoais, empreendedorismo
e expresso cultural.
Investigar e refletir.
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Captulo 2. Estruturao do Processo de Treino
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29
2.1. O Modelo de Jogo
Antes de mais interessa perceber o que o Modelo de Jogo; segundo Frade
(2003, pp. 97), "o Modelo de Jogo consiste na aquisio de determinadas
regularidades no "jogar" da equipa atravs da operacionalizao de determinados
princpios". Para Guilherme, citado por Frade (2003), o Modelo de Jogo so as
ideias que o treinador tem para transmitir aos jogadores, devendo estar relacionado
com os jogadores que tem pela frente, com o que entendem do jogo. Segundo o
mesmo autor, deve tambm estar relacionado com a cultura do clube onde est.
Imaginemos, com um simples exerccio mental, e reportando-nos ao "nosso"
voleibol, o treinador do S. C. Espinho (equipa comandada em grupo pelo
distribuidor Miguel Maia) a tentar implementar um Modelo de Jogo sem
combinaes de ataque, sem variao constante de opes, com predominncia de
passes de terceiro tempo, lento e sem dinmicas ofensivas! Facilmente se
conclui que, por um lado, corramos o risco de deixar de ter adeptos, pois no se
identificariam com esta forma de jogar (a tal cultura de clube), por outro lado
estaramos a retirar ao seu distribuidor, Miguel Maia, algumas das suas principais
caractersticas, como a criatividade e a velocidade (a necessidade de o Modelo de
Jogo ir de encontro s caractersticas dos jogadores).
Da mesma forma, e reportando-nos nossa experincia de clube,
imaginemos que no Leixes S. C. optamos, por exemplo, por no ter atletas da
formao na equipa principal, recaindo a nossa escolha sobre estrangeiros ou
jogadores de outros clubes! Os nossos adeptos iriam cobrar-nos isso, pois
valorizam e foram habituados a ver vrios atletas da formao do clube a jogar pela
equipa principal, correndo ns o risco de perder uma das maiores foras do clube, o
apoio dos seus adeptos. Na mesma linha de raciocnio, as caractersticas destes
atletas (elevada disponibilidade motora e volitiva, elevada capacidade de superao
na defesa dos objetivos do clube) continua a influenciar a nossa forma de jogar, o
nosso Modelo de Jogo, que ao longo dos anos se foi enraizando no clube e criando
o que atrs referimos de "cultura de clube". Da ser importante que o treinador,
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30
antes de definir o Modelo que quer adotar, conhea a cultura do clube onde est e
os seus jogadores.
No nosso desempenho enquanto treinadores do Leixes SC, o Modelo que
preconizamos para as nossas equipas resulta, em primeiro lugar, das
caractersticas dos jogadores que temos connosco, fruto da nossa realidade
econmica e cultural, verificando-se que ao longo dos anos tm sido atletas com
caractersticas fsicas e motivacionais muito semelhantes: maioritariamente
formados no Leixes SC, jogadores de estatura mais baixa que as principais
equipas (equipas essas que fruto de uma maior capacidade de investimento
privilegiaram a opo por atletas de qualidade tcnica e com elevada estatura,
caracterstica importante no voleibol), versteis na movimentao e ocupao de
diferentes posies, voluntariosos, com boa entrega ao processo de treino e
competio, que formam uma boa dinmica de grupo e fazem do clube e da equipa
uma causa a defender, aliado ao facto de quererem conquistar um espao no
panorama voleibolstico portugus. Isso condicionou-nos a desenvolver um modelo
de jogo que, na nossa opinio, deveria ter as seguintes caractersticas:
nomeadamente em situao de Side-out 1, em Bola "A"2 , construo ofensiva sem
grandes rotinas (a maior rotina mesmo jogar sem rotinas, etc.), com jogo
combinado (com e sem cruzamento de jogadores), com opes de dois tempos
diferentes de batimento, assente em trajetrias de passe rpidas, sem dependncia
de individualidades, utilizando combinaes ofensivas a um ritmo previamente
definido.
Em situao de contra-ataque/transio, procuramos um jogo com grande
volume defensivo e diferentes zonas de ataque de segunda linha, inclusive zona
cinco; grande capacidade tcnica e ttica de bloco coletivo e sempre em elevada
velocidade de execuo e movimentao, em virtude da nossa baixa estatura;
elevado risco de servio para equilibrar a relao do nosso bloco com o ataque
adversrio; investimento no bloco triplo. Que fique claro que, para ns, este Modelo
ser sempre um ponto de partida para um Modelo que queremos cada vez mais
completo, com mais variveis, com mais opes/alternativas e, acima de tudo, com
1 Organizao do ataque aps receo ao servio adversrio 2;Situao em que o distribudo tem condies para solicitar todos os atacantes
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31
capacidade para se adaptar a diferentes momentos e ritmos de jogo, bem como ao
adversrio com quem jogamos. Ou seja, queremos que o Modelo
esteja sempre aberto introduo de novas opes (consoante a evoluo que
vamos apresentando e consoante o nvel do campeonato, do adversrio e o
momento da poca).
2.2. Planeamento
O tradicional planeamento anual, com diferentes "picos de forma" em funo
de determinados momentos da poca, deixou para ns, de fazer sentido.
Acreditamos que com um esquema de provas em que se joga todas as semanas,
algumas delas duas e trs vezes na mesma semana, o "pico de forma" sempre o
jogo seguinte.
Esta opinio partilhada por Garganta (1993), quando refere que "os
denominados "picos de forma" so substitudos por "patamares de rentabilidade",
nos quais relevada a lgica e as rotinas de treino". A classificao final do
campeonato no mais do que o somatrio dos pontos conquistados em cada
jornada, pelo que o Planeamento mais no poderia ser do que um somatrio de
necessidades e objetivos semanais da equipa. Um dos princpios competitivos e
emocionais que tentamos passar aos nossos atletas que com qualidade de treino
e boa preparao ttica e mental, podemos vencer todos os jogos; se assim ,
temos que estar no nosso melhor momento em cada jornada, queremos estar
"funcionais" e disponveis ao mximo em cada jogo. De uma forma geral, a nica
diviso que preconizamos definir dois momentos na poca, o Momento I., Perodo
Inicial, sem jogos oficiais (apenas de preparao, avaliao e controlo), e o
Momento II., perodo competitivo, com jogos oficiais (incio do campeonato). Aqui,
dividimos em primeira e segunda fase e definimos os objetivos do trabalho para
cada um desses momentos e os conceitos a desenvolver em cada um deles.
Assim, o nosso Planeamento constitudo por um conjunto de microciclos
semanais em que o jogo seguinte a referncia mxima para a definio dos
objetivos do Plano de Trabalho. Neste microciclo temos sempre em linha de conta
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32
objetivos fsicos, tticos, ttico-tcnicos, coletivos, individuais e emocionais. Cada
jornada preparada ao pormenor, desde o plano de recuperao e fisioteraputico
individual, ao trabalho coletivo da dinmica da equipa, anlise do adversrio e
consequente Plano de Jogo, bem como componente emocional e motivacional da
equipa. A partir do momento em que as linhas gerais do trabalho esto definidas,
passamos para a prtica, para a planificao da Unidade de Treino.
2.3. A unidade de treino e o exerccio como centro do processo
Os exerccios exercem um papel determinante no processo de ensino-
aprendizagem, na medida em que constituem o principal meio de formao do
jogador e da equipa. Neles o treinador materializa as suas intenes e atravs da
sua prtica os atletas aprendem os contedos de treino. J Matveiev (1977) dizia
que "a unidade elementar do processo de treino o exerccio. Este est destinado
ao desenvolvimento de uma ou mais qualidades. a relao entre os diferentes
exerccios que constituem a estrutura da sesso". Segundo Wrisberg (2007), "para
mantermos os atletas motivados durante o treino temos tambm que lhes dar a
oportunidade de experimentar o sucesso e de se divertirem, desenvolvendo um
plano de treino o mais eficaz possvel e seguindo os seguintes passos: identificar
as habilidades que os atletas precisam de aprender/desenvolver, definir as
capacidades dos atletas, definir prioridades, determinar os melhores mtodos de
treino e elaborar o plano de treino.
Atendendo s caractersticas do Voleibol e natureza aberta das suas
habilidades tcnicas os exerccios por ns construdos vo de encontro aos
problemas colocados pelo jogo, sendo estruturados em funo do comportamento
motor que se deseja que o jogador domine em situao de jogo (apelo tomada de
deciso em funo de determinados indicadores); por outro lado pretende-se que o
exerccio garanta ao jogador um elevado nmero de oportunidades de resposta e
com um nvel de dificuldade adequado. Acreditamos que o sucesso se constri
volta de uma consistente abordagem metodolgica ao treino, porquanto este o
motor central de toda uma complexa engrenagem que o rendimento desportivo. O
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33
Treino , para ns, o espao onde o treinador melhor se dever exprimir e
evidenciar, pois nesse contexto que aplica o que pretende para a equipa e
constri todos os processos tticos e emocionais do jogo, desenvolve o Modelo de
Jogo, a capacidade fsica, mental e ttico-tcnica do atleta e da equipa. Um dos
melhores treinadores de futebol do mundo, Jos Mourinho, citado por Rodrigues
(2000), evidencia bem a importncia do treino ao referir-se ao trabalho que teria
pela frente com uma determinada equipa: "os nveis de confiana esto muito
baixos. Mais do que uma chicotada psicolgica, esta equipa precisa de uma
chicotada Metodolgica". Aqui est bem patente que o treino, e acima de tudo a
metodologia que nele se aplica, importante e decisiva para o sucesso de uma
equipa no processo competitivo! Segundo o mesmo Mourinho, citado por Jim Keat
(2004), "uma equipa tem de ser ensinada de forma correta pelo treinador Trata-se
de o treinador fazer as coisas certas, de trabalhar arduamente e de as sesses de
treino serem proveitosas." Citado por News of the world (2004), Mourinho refere
que "quanto melhor o treinador realizar este trabalho mais forte ser a equipa e
melhores sero os resultados, facilitando a obteno dos objetivos propostos".
Tambm Mesquita (1991) refere a complexidade e importncia do treino na
obteno de elevada capacidade de rendimento quando diz que "o treino constitui
um processo complexo, na medida em que formado por elementos em interao
constante e dinmica. A perfeita conjugao desses elementos leva otimizao da
capacidade de rendimento, meta final do treino desportivo". Para alm de tudo isto
temos sempre presente a convico de que a atitude perante o treino, o jogo, o
trabalho, determinante para o sucesso. Como diria Nlson vora, campeo
olmpico de triplo salto, citado por Gano (2011), "o resultado ser tanto melhor
quanto maior for a paixo com que nos envolvemos na execuo da tarefa!" Sem
dvida que acreditamos na atitude, acreditamos nesta paixo!
Na elaborao da Unidade de Treino temos inmeras preocupaes.
Salientamos o nvel do(s) atleta(s), o que nos faz preparar o treino de acordo com
as suas necessidades e capacidade de execuo, definindo critrios de xito reais,
atingveis, e com uma perspetiva evolutiva ao longo do processo; procuramos que o
treino seja o mais integrado possvel, desenvolvendo as capacidades fsicas,
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mentais e ttico-tcnicas (ver ponto 2.3.3.); orientamos o exerccio criando
situaes que "obriguem" o atleta a decidir em vez de estereotipar a resposta (ver
ponto 2.3.4. - treino decisional); na procura de manter ndices de motivao e de
desenvolvimento emocional constante, vamos criando diferentes formas de abordar
o treino, utilizando a competio no treino e criatividade (ver ponto 2.3.5.) como
cerne desta premissa; procuramos que o treino seja o mais competitivo possvel,
criando dinmicas de procura de vitria, de conquista, de perseguio de objetivos,
de critrios de xito, sendo o treino um somatrio de tarefas bem sucedidas mais
que um somatrio de exerccios; por fim, e consoante o momento da poca,
programamos o treino de diferentes formas e com diferentes objetivos (ver ponto
2.3.6.) O peso atribudo a cada item ser sempre de acordo com o momento da
poca, com o nvel de prestao e dinmica coletiva que a equipa apresenta e que
se pretende que venha a apresentar, com os resultados da anlise estatstica e
com a preparao para o adversrio seguinte.
2.3.1. O treino - ingredientes para uma boa prtica
Este o momento em que ns, treinadores, colocamos em prtica os nossos
conhecimentos e implementamos o nosso plano de ao. Segundo Mesquita (1991,
pp.65) "o treino desportivo constitui uma atividade que tem por objetivo fundamental
a otimizao das capacidades dos atletas, tendo em vista o melhor desempenho
competitivo."
Para que o treino seja efetivo e eficiente, o treinador dever dominar certos
elementos (Bill Neville, 2011, pp. 122): um alto conhecimento dos movimentos e
habilidades; uma lista de princpios para ensino das tcnicas e das respetivas
aplicaes tticas; um profundo conhecimento de condio fsica e princpios de
treino; criatividade; capacidade de organizao; capacidade comunicativa.
Relativamente aos equipamentos e materiais, o treinador dever procurar ter: um
mnimo de duas bolas por jogador; medidas oficiais do espao de jogo;
possibilidade de treinar no campo de jogo; dois carrinhos de bolas; boa
luminosidade; bons materiais de treino (material de salto, fsico, tcnico, etc.)
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O mesmo autor refere ainda que uma preocupao do treinador dever ser
nunca ensinar taticamente aquilo que o atleta no consegue realizar tecnicamente.
Assim sendo, cada treino dever ter: um tema principal (processo ofensivo,
defensivo, plano de jogo, etc.); um ritmo prprio (velocidade de jogo intensa,
aprendizagem mais lenta de determinado fundamento, etc.); uma progresso lgica
(por ex., habilidades individuais e movimentos tticos de aplicao em competio).
De uma forma geral o mesmo autor prope a seguinte estrutura de
organizao do treino de alto nvel: ativao geral: aumentar a temperatura do
corpo e trabalho tcnico; trabalho dos fundamentos: progresso dos fundamentos
individuais especficos; trabalho combinado: habilidades utilizando fundamentos
individuais com dois ou mais jogadores; trabalho de equipa: trabalho com toda a
equipa utilizando as habilidades das fases dois e trs; trabalho em stress: trabalho
individual e/ou coletivo em crise de tempo; condio fsica: trabalho de salto;
retorno calma.
A nossa experincia de alto nvel difere um pouco da aqui apresentada visto
estarmos num contexto diferente do que o autor carateriza. O nosso alto nvel
caraterizado por atletas e treinadores que tm outras funes/profisses durante o
dia e que se renem duas a trs horas ao final do dia para treinar. Com certeza que
as indicaes que Bill Neville aqui nos deixa sero em condies timas de
trabalho e que gostaramos de as poder seguir. No entanto, e dado as nossas
condies e possibilidades de trabalho, tentamos enquadrar estas importantes
indicaes no nosso processo de treino, utilizando as mais diversas estratgias.
Comeando logo pela Ativao Geral, o nosso treino inicia com movimentaes
tticas coletivas e individuais, com e sem bola, e trabalho dos fundamentos
tcnicos. Assim, rentabilizamos esta fase do treino, permitindo-nos progredir mais
rapidamente para a parte principal. Em determinados momentos da poca, este
incio do treino inclui um circuito fsico funcional e/ou preventivo. Em grande parte
da poca o Trabalho Fsico realizado durante o dia, em horrios que cada atleta
pode cumprir, sendo este um trabalho prescrito pela equipa tcnica mas de controlo
e gesto individual do atleta, que ser responsvel pelo cumprimento do plano.
Obviamente que nestas condies perdemos um pouco o controlo sobre o trabalho
realizado pelo atleta, mas por outro lado podemos ganhar em responsabilidade de
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cada um e comprometimento perante a equipa, ao mesmo tempo que
rentabilizamos o tempo de treino.
2.3.2. Elaborao das sesses de treino
Os bons treinadores tm abordagens sistemticas para preparar o treino.
Eles maximizam a eficcia de cada treino definindo os objetivos e colocando nfase
no comportamento que os atletas tm que trabalhar com o intuito de atingirem o
seu melhor (Wrisberg, C., 2007).
Tendo em vista uma elevada rentabilidade do tempo de treino (escasso
numa equipa amadora ou semi-profissional) e para ir de encontro aos objetivos
definidos, entendemos que toda a sesso de treino ter de ser previamente
organizada, planeada, com os exerccios muito bem definidos, com objetivos claros,
critrios de xito atingveis e com elevada organizao. De uma forma geral
estruturamos a sesso da seguinte forma:
- No incio da sesso de treino procuramos que a capacidade de trabalho
aumente progressivamente, sendo um perodo para o atleta se colocar em
condies. A coordenao vai melhorando - assim como o rendimento energtico
do trabalho muscular, ao mesmo tempo que a atividade das funes vegetativas
(sistema respiratrio e circulatrio) se adapta ao trabalho. Nesta fase utilizamos
Circuitos de preveno, circuitos fsicos funcionais e/ou exerccios orientados para
movimentaes tticas a adotar no prximo jogo (muito utilizado em perodos
competitivos, em especial nos Play-off).
- Perodo de introduo e preparao: compreende em primeiro lugar uma
fase de organizao e depois de preparao do atleta para a realizao do trabalho
que est definido. Deve ter o efeito de disciplinar e coordenar as suas
atividades/tarefas e concentrar a sua ateno sobre o trabalho futuro. Assegura
tambm um aumento da atividade dos diferentes sistemas funcionais, que
preparam o organismo para o trabalho seguinte. A escolha dos exerccios e a sua
organizao dependem do atleta em causa, da sua funo e do trabalho a realizar
no treino.
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- Parte principal: quando se efetua a maior parte do trabalho
correspondente ao objetivo da sesso. Aqui desenvolvemos o trabalho ttico-
tcnico definido.
- Parte final: assegura uma reduo progressiva da intensidade do trabalho
de forma a que reconduza o organismo a um estado o mais prximo possvel do
inicial, o qual cria as condies propcias ao desenvolvimento do processo de
recuperao. Em muitos momentos destinamos esta fase para um trabalho
individual de tcnica do servio (nunca mais de duas a trs sries de 3 servios) ,
aproveitando algum desgaste do treino para obrigar o atleta a desenvolver uma
forte capacidade mental e de concentrao para atingir bons nveis de prestao
(muito necessria em jogo para este gesto tcnico).
2.3.3. Treino Integrado/Global
Por Treino Integrado entendemos a perfeita conjugao das componentes
fsica, ttica, tcnica e emocional no treino. Para Joo Gano (reconhecido
treinador de atletismo do Campeo Olmpico Nlson vora), citado por Margarida
Gano, o Treino Global mais no que o "concentrar de esforos em torno de um
objetivo, sempre de uma forma globalizante na forma como se aborda o treino,
atentos a todos os fatores que possam influenciar o rendimento do atleta." Esta
definio facilmente nos leva aos contedos de treino que tambm ns, no Voleibol,
queremos abordar e integrar. A interligao entre o trabalho fsico, tcnico, ttico e
emocional possvel e por ns procurada com o intuito de tornar o treino o mais
prximo possvel do jogo, o exerccio o mais rico e completo possvel, permitindo-
nos rentabilizar ao mximo o (pouco) tempo de treino disponvel (atletas, tcnicos e
estrutura do clube no profissionais; dificuldade de espaos de treino disponveis;
um s treino por dia) e tornar o atleta mais completo e autnomo. Acreditamos que
a conjugao de todas estas vertentes no treino vai dotar a nossa equipa de uma
maior e melhor capacidade de resposta aos desafios da competio.
Segundo Wrisberg, C. (2007), "ao planear o treino devemos considerar
inmeros fatores que incluem: a capacidade dos atletas; as exigncias tcnicas,
tcticas e mentais do desporto em causa; o grau de semelhana entre a
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pratica/treino e a competio." O mesmo autor complementa esta linha de
raciocnio dizendo que para atingirem os seus objetivos os atletas tm que
experimentar sesses de treino que os ajude a desenvolver todas as habilidades e
capacidades e que as consigam aplicar em competio.
Para Platonov (2001), o objetivo da preparao tcnica de criar habilidades
que permitam ao atleta utilizar eficazmente o seu potencial funcional durante as
aes de competio, devendo as habilidades tcnicas ser treinadas de forma
consciente e nas condies o mais prximas possvel da competio. O processo
de aperfeioamento tcnico passa pela prtica de exerccios muito variados, cuja
aquisio reclama qualidades de perceo, anlise e reflexo dos atletas, assim
como a sua capacidade para combinar movimentos simples em aes motoras
muito mais complexas. A aquisio dos hbitos motores manifesta-se pela eficcia
e facilidade do movimento, traduzindo-se pela fiabilidade da ao motora.
No processo de treino o desenvolvimento tcnico ter sempre que aparecer
associado estrutura ttica da equipa, devendo o exerccio ser construdo
interligando as duas componentes.
Associado ao desenvolvimento tcnico e ttico do atleta durante o processo
de treino est a preparao mental. Desde o comeo da preparao de base ate
final da carreira do atleta indispensvel consagrar uma parte do aperfeioamento
desportivo ao desenvolvimento das qualidades mentais e formao da vontade. O
nvel atual dos resultados desportivos est to ligado s qualidades do carter e da
vontade como ao nvel de preparao tcnico e ttico.
Segundo Matveiev (1977), "o processo de educao da vontade faz intervir
numerosos meios: persuaso, crescimento gradual das dificuldades e competio.
O bom uso destes mtodos faz com que o atleta adquira progressivamente a
disciplina, a exigncia com ele mesmo, a perseverana, a capacidade de superar
as dificuldades e o sentimento de segurana associado. Uma preparao
especfica educar a firmeza, a vontade de vencer e sobretudo a capacidade de
mobilizar todos os seus recursos no decorrer do treino e das competies. Na
prtica, esta educao da vontade passa pela execuo obrigatria dos exerccios
propostos, pela introduo sistemtica de dificuldades suplementares nas sesses
de treino e pelo mantimento constante de uma atmosfera de competio entre os
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atletas". Neste captulo, Matveiev (1977) define alguns procedimentos teis para o
treino que ajudam os treinadores a criar dificuldades suplementares no processo de
preparao mental do atleta: introduo de um objetivo suplementar (no
anunciado antecipadamente ao atleta), destinado a aumentar a durao do trabalho
em condies de fadiga. Treina-se a perseverana e a estabilidade psquica para
vencer situaes desagradveis, bem como a fadiga; desenvolvimento de situaes
de treino em condies mais complexas ou com uma equipa mais evoluda. O
objetivo aumentar a solidez dos hbitos e educar a segurana/confiana em si
mesmo; alterao das condies de execuo dos exerccios com o objetivo de
criar dificuldades suplementares, introduzindo estimulaes sensoriais
perturbadoras; o objetivo educar o sangue frio, a firmeza e a tomada de deciso;
complicar as interaes de treino e competio bem como das condies de
avaliao dos movimentos - torneios com equipas muito fortes. O objetivo a
formao da capacidade de luta e de vontade de vencer.
O Treino Fsico outra componente sempre presente no treino. Neste mbito
orientamos o nosso trabalho em diferentes direes:
- Treino fsico preventivo, propriocetivo e de recuperao: muito a cargo do
fisioterapeuta, destina-se a prevenir o aparecimento de leses, a diminuir a sua
possvel gravidade e a reforar e estimular as estruturas musculares, articulares e
tendinosas mais solicitadas e a desenvolver posturas mais adequadas aos
movimentos tcnicos (SGA - strenghth global active/reeducao postural global,
importante na preveno e correo postural; CORE - estabilizao da bacia;
ncleo central do sistema muscular; msculos posteriores da coxa; SMFR - Self
Miofascial Release, muito importante na recuperao dos tecidos).
- Treino fsico funcional: vai de encontro s caractersticas dos movimentos
de jogo (movimentos que solicitam mais de um segmento ao mesmo tempo, que
que pode ser realizado em diferentes planos e que envolve diferentes aes
musculares - Clark, 2001), em que o objetivo apresentarmo-nos com qualidade
em todos os jogos e em toda a poca, perspetivando um lugar nos seis primeiros
classificados da 1 fase. No h um momento alto da poca mas sim vrios
momentos. Com o treino funcional o principal objetivo estar Funcional em vez de
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estar em Forma. O treino funcional proporciona um elevado grau de transferncia
para o objetivo que esteve na sua origem e tanto mais funcional quanto mais se
aproximar do perfil biomotor da tarefa para a qual se est a ser treinado.
- Treino de fora (com carga): desenvolvimento da fora excntrica
(capacidade de recrutar Unidades Motoras para o desenvolvimento da fora
concntrica); desenvolvimento da fora explosiva determinante no Voleibol. A
carga definida conforme momento da poca e individualizada capacidade e
funo do atleta;
- Saltabilidade: a carga do salto por ns tratada como uma das principais
cargas a que o atleta est sujeito. Procuramos desenvolver uma boa resistncia de
salto e enorme explosividade/potncia. No planeamento semanal temos a
preocupao de no realizar treinos consecutivos com elevada carga de salto (ex:
se num dia treinamos muito ataque e bloco no dia seguinte o treino ser mais
direcionado para receo e defesa ou aspetos organizativos com menor carga de
treino); de acordo com o momento da poca o treino ter tambm diferente volume
de salto (incio de poca sem salto, aumentando progressivamente (ver captulo
2.3. "A Unidade de Treino no momento da poca desportiva").
2.3.4. Treino Decisional
O Treino Decisional, ou melhor, o exerccio decisional aquele que faz com
que o atleta seja obrigado a tomar decises ttico-tcnicas em funo de
determinados estmulos ou indicadores presentes no mesmo, e que normalmente
no se repetem, ou seja, no tm uma sequncia mecnica, sempre igual, que
permita ao atleta uma resposta previamente definida; o atleta ter que analisar
diversos fatores e optar pela melhor resposta possvel, sendo certo que os atletas
com melhor capacidade de deciso sero tambm os mais eficazes (Afonso et al.,
2011 ). Segundo Grhaigne J-F, Godbout P, Bouthier D. (2001), citados por Arajo,
Neves e Mesquita (2012, pp. 167), no contexto dos desportos de equipa, um
jogador de alto nvel aquele capaz de escolher a ao apropriada em cada
momento do jogo. Para Platonov (2001) , uma das funes essenciais de criar
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hbitos motores o de permitir o controlo plstico dos movimentos. Esta
caracterstica plstica do controlo permite assegurar nas melhores condies a
adaptao das tcnicas motoras situao e escolher as solues timas para os
problemas que se colocam execuo do movimento. Da ser muito importante a
repetio, em diferentes contextos, com diferentes estmulos e obstculos. O que
se pretende criar um atleta autnomo, com capacidade de "ler o jogo" e tomar as
melhores decises, sendo certo que os melhores so os que tomam as melhores
decises. o que tentamos fazer no treino.
Neste mbito, e fora da nossa rea de interveno, pertinente a frase num
artigo de Miguel Esteves Cardoso (2013), conhecido escritor e jornalista, quando
refere que "o crebro conservador e habitua-se s melhores e piores coisas. Mas
por isso mesmo que tambm se consegue dar-lhe a volta, desabituando-se
tambm do que lhe faz mal e habituando-se devagar ao que faz bem. O vcio ou a
virtude dependem desse gosto pela repetio. Para mais, o crebro no aceita
estimulaes tardias, nem aceita batotas. A preguia tambm uma repetio -
perigosa!".
Para Wrisberg, 2007, "os bons treinadores abordam as situaes de treino
muito prximas do jogo, tanto do ponto de vista fsico como mental, incorporando
uma variedade de instrues tcnicas que promovam a aprendizagem das
habilidades. Eles sabem como e quando aplicar o feedback mas tambm como
desafiar os atletas a serem eles prprios a solucionar os seus problemas - tomadas
de deciso.
2.3.5. A criatividade e inovao no treino e no exerccio
O que nos leva a abordar este ponto , em primeiro lugar, fruto de uma
necessidade que fomos sentindo ao longo das ltimas pocas em no repetir o
trabalho, muito porque os nossos grupos/planteis se mantiveram muito estveis,
fazendo com que surgisse a necessidade de criar novos desafios aos atletas e a
ns prprios enquanto treinadores. Como refere Einstein, a imaginao uma
viso prvia de todas as atraces futuras da vida; pois ns sempre quisemos
manter esta ideia bem viva no processo de treino. Decididamente no queramos
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repetir a abordagem ao treino; pelo contrrio, sempre quisemos "surpreender" os
atletas e obrig-los a pensar o treino/exerccio, nunca sabendo o que iriam ter pela
frente, de forma a estimular o seu raciocnio, a sua concentrao e o seu
envolvimento no treino. Por outro lado, ao sermos criativos estamos tambm a
motivar os atletas a participar de uma forma diferente da que eles j
experimentaram, procurando que o atleta sinta prazer e curiosidade no seu dia-a-
dia. Salientamos o facto de sempre termos tentado criar/inovar em todas as
vertentes do treino (fsico, ttico-tcnico, emocional e na ligao entre eles) e
tambm na abordagem ao jogo, na elaborao do seu plano e na prpria
orientao do jogo. Ou seja, nunca quisemos que uma poca fosse "mais do
mesmo", uma repetio da anterior, apesar de sempre termos tido um sucesso
relativo! Sabemos que os atletas so tambm cada vez mais exigentes, com
acesso a informao vria, o que obriga a uma necessidade grande de nos
mantermos atualizados com as novas metodologias e meios de treino, com a
tecnologia, mas sempre com a nossa identidade presente. Cada vez mais
acreditamos que s inovando que conseguimos manter os atletas focados no
trabalho e na competio, conseguindo assim melhores progressos e resultados. A
ttulo de curiosidade, desenvolvemos alguns materiais dos quais destacamos o
Tubo de gua, que consiste num tubo de canalizao com cerca de trs metros de
comprimento e dez centmetros de dimetro, vedado em ambas as extremidades,
em que metade do seu interior est coberto com gua. Com este material
conseguimos realizar um trabalho fsico em situao de elevada instabilidade, que
requer um alto grau de controlo corporal, aproximando o trabalho s necessidades
do atleta do ponto de vista competitivo. Este trabalho teve muita recetividade por
parte dos atletas, que entenderam a sua lgica e assimilaram o conceito do
mesmo. No trabalho com bola fomos sempre criando variantes aos exerccios que
amos aplicando, com novas pontuaes, critrios de xito, trabalhando com duas
bolas em simultneo, com superioridade/inferioridade numrica, etc. A prpria
abordagem e lgica do treino foi sendo alterada, trocando determinados circuitos de
incio de treino por movimentaes tticas, com novas exigncias coletivas, a
implementar no jogo seguinte.
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2.3.6. A Unidade de Treino no momento da poca desportiva
Na elaborao do exerccio e da Unidade de treino temos preocupaes
distintas consoante o momento da poca. Em primeiro lugar definimos no nosso
planeamento quatro momentos:
- o primeiro, a chamada "Pr-poca" (termo que por norma no utilizamos
pois se a equipa j se reuniu e est a treinar j est em "poca"), que
preferimos designar por Perodo Inicial ou Preparatrio, em que
comeamos a criar as nossas rotinas, a definir as nossas regras, a conhecer
o grupo e a adapt-lo carga, sem competies formais e a introduzir as
primeiras noes tticas individuais e coletivas;
- o segundo, o Perodo Pr-competitivo (em que estamos a definir o nosso
Modelo de Jogo e a desenvolver a relao ttica entre os atletas e os
setores, bem como a aumentar a carga de treino, tanto em volume como em
intensidade);
- o terceiro, o mais longo da poca, o Perodo Competitivo, quando
aprimoramos o nosso Modelo de Jogo e nos preparamos em funo do
adversrio seguinte (desenvolvimento do Plano de Jogo). Aqui procuramos
uma intensidade mxima de treino e diminuio do volume, procurando
tambm aumentar o trabalho especfico de cada atleta e momento de jogo.
- um quarto, mais especfico, o momento dos