O Processo de Internacionalização de uma Multinacional ... · Internacional e Born Globals. ......
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO COPPEAD DE ADMINISTRAÇÃO
BERNARDO SOARES TEIXEIRA BEMVINDO
O Processo de Internacionalização de uma Multinacional
Brasileira: Estudo do Caso Vale
RIO DE JANEIRO
2014
BERNARDO SOARES TEIXEIRA BEMVINDO
O Processo de Internacionalização de uma Multinacional
Brasileira: Estuado do Caso Vale
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em Administração,
Instituto COPPEAD de Administração da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, como
parte dos requisitos necessários à obtenção do
título de Mestre em Administração.
Orientador: Luís Antônio da Rocha Dib, D.Sc
RIO DE JANEIRO
2014
BERNARDO SOARES TEIXEIRA BEMVINDO
O Processo de Internacionalização de uma Multinacional
Brasileira: Estudo do Caso Vale
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação
em Administração, Instituto COPPEAD de Administração da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos
necessários à obtenção do título de Mestre em Administração.
Aprovada em 13 de Agosto de 2014, por:
__________________________________________________________________________
Luís Antônio da Rocha Dib, D.Sc. (COPPEAD/UFRJ)
__________________________________________________________________________
Renato Dourado Cotta de Mello, D.Sc. (COPPEAD/UFRJ)
__________________________________________________________________________
Jorge Manoel Teixeira Carneiro, D.Sc. (IAG/PUC-Rio)
RIO DE JANEIRO
2014
Aos meus pais, minha maior fonte de apoio e carinho
e à minha saudosa avó, pelo exemplo de superação.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, gostaria de agradecer aos meus pais, Carlos e Lenita, pelo apoio
incondicional, por acreditarem em mim e por não medirem esforços para que eu tivesse
condições de realizar meus sonhos. Sempre presentes na minha educação, estiveram ao meu
lado em cada uma das etapas que me levaram ao mestrado. Durante a confecção desse
trabalho, foram essenciais me reconfortando nos momentos de incerteza e comemorando
comigo nos momentos de felicidade.
Agradeço também à minha irmã, Carol, e ao seu marido, Bruno, grandes amigos com quem
sempre pude contar, pelas conversas, pelas risadas e por todos os bons momentos que
aliviaram as pressões desse trabalho. Agradeço também à minha avó, por participar da minha
criação e sempre me incentivar a estudar e apreender coisas novas.
Um agradecimento especial ao meu orientador Luís Dib, por todos os ensinamentos passados
ao longo desse trabalho e nas aulas do COPPEAD, por entender os meus momentos difíceis e
por me estimular a superar as dificuldades.
Agradeço aos professores Jorge Carneiro e Renato Mello por aceitarem fazer parte da minha
banca e pelas contribuições ao trabalho.
Agradeço também a todos os entrevistados nessa dissertação, que encontraram tempo em suas
agendas ocupadas para me ajudar e doar um pouco de seu conhecimento.
Agradeço a todos meus companheiros de turma do COPPEAD, por dividirem comigo essa
experiência fantástica, pelo companheirismo, pelas noites estudando até que o prédio do
COPPEAD fechasse, por tudo que aprendi com eles e por toda a diversão que tivemos juntos.
Aqui não posso deixar de fazer dois agradecimentos especiais. À minha sempre companheira
de trabalhos em dupla ou grupo e confidente das dores e alegrias da dissertação, Camilla
Cordeiro. E à minha companheira de intercâmbio, Patrícia Souza, que gentilmente se
voluntariou para revisar essa dissertação.
Agradeço aos professores e funcionários do COPPEAD. Esse mestrado foi um período de
aprendizado incrível, e tenho certeza que isso só foi possível por causa da dedicação desses
profissionais.
Agradeço ao CNPQ pela bolsa dada durante o segundo ano do mestrado.
Por fim, gostaria de agradecer aos meus amigos da graduação, Letícia, Mateus, Sharisse,
Thaís e Vinícius, pela amizade e pelos momentos de descontração.
RESUMO
BEMVINDO, Bernardo Soares Teixeira. O Processo de Internacionalização de uma
Multinacional Brasileira: Estudo do Caso Vale. Rio de Janeiro, 2014. Dissertação (Mestrado
em Administração) – Instituto COPPEAD de Administração, Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro, 2014.
A pesquisa apresentada nesta dissertação buscou entender o processo de internacionalização
da mineradora Vale sob a ótica de diferentes teorias sobre a internacionalização de empresas.
A Vale é uma das maiores empresas brasileiras, a maior exportadora do país e uma das
empresas nacionais com maior presença em mercados estrangeiros. Foram abordadas as
convergências e divergências do caso da Vale com teorias econômicas e comportamentais
sobre a internacionalização. As teorias escolhidas para análise foram: Poder de Mercado,
Internalização, Paradigma Eclético, Modelo de Uppsala, Networks, Empreendedorismo
Internacional e Born Globals. O método utilizado foi o de estudo de caso único e a coleta de
dados se fez através de entrevistas em profundidade com três executivos que atuam ou
atuaram na empresa em áreas relevantes ao processo de internacionalização e complementada
por extenso uso de fontes secundárias, como matérias divulgadas na imprensa e comunicações
oficiais da empresa. Todos as teorias analisadas demonstram algum grau de relevância na
compreensão do caso da Vale. Ao mesmo tempo, todas apresentam divergências entre o
pregado pela teoria e o que efetivamente se observou no caso. Assim nenhuma teoria sozinha
é capaz de explicar o processo vivido pela Vale, apesar de algumas teorias demonstrarem um
poder explicativo maior do que outras. Em geral, as teorias comportamentais ofereceram uma
explicação mais completa para alguns dos movimentos de internacionalização da empresa,
mas falharam em fornecer explicação para outros movimentos. Em contrapartida, as teorias
econômicas forneceram explicações para um número maior de movimentos de
internacionalização, mas com um nível de detalhamento menos profundo
Palavras-chave: Internacionalização de empresas. Vale. Mineração. Teorias Econômicas.
Teorias Comportamentais.
ABSTRACT
BEMVINDO, Bernardo Soares Teixeira. O Processo de Internacionalização de uma
Multinacional Brasileira: Estudo do Caso Vale. Rio de Janeiro, 2014. Dissertação (Mestrado
em Administração) – Instituto COPPEAD de Administração, Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro, 2014.
The research presented in this dissertation sought to understand the internationalization
process of the mining company Vale from the perspective of different theories of
internationalization. Vale is one of Brazil’s largest companies, the country’s largest exporter
and one of the national companies with the largest presence in foreign markets. There were
addressed, convergences and divergences between the Vale case and the economical and
behavioral theories of internationalization. The theories chosen for analysis were: Market
Power, Internalization, Eclectic Paradigm, Uppsala Model, Networks, International
Entrepreneurship and Born Globals. The method used was a single case study and the data
collection was done through in-depth interviews with three executives who work or worked at
Vale in areas relevant to the internationalization process and supplemented by extensive use
of secondary sources, such as press reports and official communication from the company. All
the theories analyzed show some degree of relevance in understanding the Vale case. At the
same time, all show divergences between what the theory preached and what is actually
observed in the case. Therefore, no theory alone can explain the process experienced by Vale,
although some theories show a greater explanatory power than others do. In general, the
behavioral theories offered a fuller explanation of some of the internationalization movements
of the company, but failed to provide explanation for other movements. In contrast, the
economic theories provide explanation for a greater number of internationalization
movements, but with a smaller level of details.
Key-words: Internationalization. Vale. Mining. Economic theories. Behavioral theories.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
LISTA DE FIGURAS:
Figura 2.1: Mecanismo de Internacionalização do Modelo de Uppsala............................
Figura 2.2: Exemplo de Divisão do Trabalho (indústria automobilística simplificado)....
36
41
Figura 2.3: Rede de relacionamentos.................................................................................. 42
Figura 2.4:Elementos Necessários e Suficientes para um Novo Empreendimento
Internacional Sustentável.....................................................................................................
45
Figura 2.5: Tipos de manufaturas de alto valor agregado.................................................. 48
LISTA DE QUADROS:
Quadro 2.1: Diferença no Comportamento de firmas tradicionais e Born Globals...........
Quadro 2.2: Variáveis e Sub-Variáveis do Modelo.............................................................
Quadro 2.3: Sumário das Teorias de Internacionalização Apresentadas...........................
49
51
53
Quadro 2.4: Respostas das Teorias às Questões Básicas da Internacionalização............ 54
Quadro 3.1: Situações Relevantes para Escolha da Estratégia de Pesquisa...................... 58
Quadro 3.2: Proposições do Estudo................................................................................... 60
Quadro 3.3: Maiores Empresas do Brasil........................................................................... 61
Quadro 3.4: Empresas Brasileiras com maior Índice de Transnacionalidade................... 62
Quadro 4.1: Receita com privatizações 1995 a 2002 por setor.......................................... 73
Quadro 4.2: Importância do Minério de Ferro na Pauta de Exportação Brasileira.......... 74
Quadro 5.1: Análise das Proposições da Teoria do Poder de Mercado............................ 85
Quadro 5.2: Análise da Proposição da Teoria da Internalização...................................... 87
Quadro 5.3: Análise das Proposições do Paradigma Eclético............................................ 91
Quadro 5.4: Análise das Proposições do Modelo de Uppsala............................................ 94
Quadro 5.5: Análise da Proposição da Teoria de Networks............................................... 96
Quadro 5.6: Análise da Proposição do Empreendedorismo Internacional........................ 98
Quadro 5.6: Análise da proposição do fenômeno das Born Globals.................................. 100
Quadro 5.7: Aderência e divergências do caso da Vale as teorias testadas....................... 100
Sumário 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 14
1.1 Definição do Problema .......................................................................................................... 14
1.2 Importância do Tema ............................................................................................................ 15
1.3 Delimitação do Estudo .......................................................................................................... 16
1.4 Organização do Estudo .......................................................................................................... 17
2. REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................................................................. 19
2.1 Abordagens Econômicas da Teoria da Internacionalização .................................................. 20
2.1.1 A Teoria do Poder de Mercado ..................................................................................... 20
2.1.2 Internalização ................................................................................................................ 23
2.1.3 Paradigma Eclético ........................................................................................................ 27
2.1.4 Análise Comparativa Crítica das Teorias Econômicas ................................................... 30
2.2 Abordagens Comportamentais da Teoria da Internacionalização ........................................ 33
2.2.1 Introdução às Teorias Comportamentais ...................................................................... 33
2.2.2 A Escola de Uppsala....................................................................................................... 34
2.2.3 A Perspectiva de Networks ............................................................................................ 40
2.2.4 O Empreendedorismo Internacional ............................................................................. 44
2.3 Born Globals .......................................................................................................................... 47
2.4 Sumário das Teorias de Internacionalização ......................................................................... 52
3. DISCUSSÃO DO MÉTODO .............................................................................................................. 56
3.1 Questões de Pesquisa ........................................................................................................... 56
3.2 Método de Pesquisa .............................................................................................................. 57
3.3 Procedimentos Metodológicos ............................................................................................. 59
3.3.1 Proposições ................................................................................................................... 59
3.3.2 Seleção do Caso ............................................................................................................. 60
3.3.3 Unidade de Análise ........................................................................................................ 63
3.3.4 Coleta de Dados ............................................................................................................ 63
3.4 Críticas ao Método de Estudo de Caso e Limitações do Estudo ........................................... 64
4. DESCRIÇÃO DO CASO .................................................................................................................... 67
4.1 A História da Vale .................................................................................................................. 67
4.1.1 Fundação ....................................................................................................................... 67
4.1.2 Os Anos como Empresa Estatal ..................................................................................... 70
4.1.3 A Privatização ................................................................................................................ 72
4.1.4 Os Primeiros anos como Empresa Privada e a Internacionalização (1998 – 2008) ...... 74
4.1.5 A História Recente da Vale ............................................................................................ 78
5. ANÁLISE DO CASO ......................................................................................................................... 81
5.1 As Peculiaridades do Setor de Mineração............................................................................. 81
5.2 Aderências e Divergências em Relação à Teoria do Poder de Mercado ............................... 82
5.3 Aderências e Divergências em Relação à Teoria da Internalização ...................................... 86
5.4 Aderências e Divergências em Relação ao Paradigma Eclético ............................................ 87
5.5 Aderências e Divergências em Relação ao Modelo de Uppsala ........................................... 91
5.6 Aderências e Divergências em Relação à Perspectiva de Networks ..................................... 94
5.7 Aderências e Divergências em Relação ao Empreendedorismo Internacional ..................... 96
5.8 Aderências e Divergências em Relação à literatura Born Global .......................................... 98
5.9 Resumo das Aderências e Divergências entre o Caso da Vale e as Teorias Testadas ......... 100
6. CONCLUSÃO ................................................................................................................................ 103
6.1 Sumário do Estudo .............................................................................................................. 103
6.2 Conclusões........................................................................................................................... 104
6.3 Sugestões para Pesquisas Futuras ...................................................................................... 108
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................................... 110
APÊNDICE ............................................................................................................................................ 115
14
1. INTRODUÇÃO
Este capítulo tem por objetivo apresentar o tema da pesquisa e estabelecer sua
relevância e suas delimitações. Também está descrita a organização da dissertação, com uma
apresentação sucinta dos capítulos seguintes.
1.1 Definição do Problema
A evolução do campo de pesquisa de internacionalização de empresas, trouxe muitas
teorias sobre o que leva uma empresa a buscar mercados estrangeiros. Além de procurar
estabelecer o “por quê”, essas teorias levantam hipóteses sobre “o quê” será
internacionalizado, “quando” a firma irá buscar esses mercados internacionais, “onde” a firma
concentrará seus esforços de internacionalização e “como” essa firma irá acessar tal mercado
estrangeiro. As respostas a essas perguntas são quase sempre diferentes dependendo da teoria
em questão, e algumas vezes são contraditórias. Essas diferenças derivam da ótica utilizada
por cada teoria, se econômica ou comportamental, das premissas feitas por elas e da
introdução de conceitos de outros campos de estudo, como o empreendedorismo. Existem
muitos trabalhos que buscam comparar essas teorias em suas bases teóricas (CARNEIRO e
DIB, 2007).
O objetivo da pesquisa descrita nesta dissertação foi, a partir do caso de uma das
maiores e mais internacionalizadas empresas brasileiras, analisar desde o início seu processo
de internacionalização até sua atual configuração internacional sobre a ótica das principais
teorias sobre internacionalização de empresas.
O caso escolhido foi da empresa mineradora Vale, por se tratar de uma empresa de
grande porte com extensa presença internacional. O fato de se tratar de uma companhia
brasileira, além de facilitar o acesso aos dados para elaboração do caso através também de
entrevistas pessoais, permitiu o estudo do processo de internacionalização de uma empresa
multinacional oriunda de um país emergente, um “animal” um pouco mais raro do que as
multinacionais oriundas de Estados Unidos, Europa Ocidental e Japão, que tradicionalmente
dominam a arena dos negócios internacionais.
15
Portanto, a pergunta de pesquisa que norteou o trabalho foi: “Como o processo de
internacionalização e a atuação internacional da Vale podem ser analisados à luz das
principais teorias sobre internacionalização de empresas?”
As principais teorias contempladas na análise do caso foram: Poder de Mercado,
Internalização, Paradigma Eclético, Modelo de Uppsala, Networks, Empreendedorismo
Internacional e Born Globals, todas devidamente apresentadas no próximo capítulo.
1.2 Importância do Tema
A internacionalização de empresas tem sido um assunto a continuamente despertar o
interesse de pesquisadores. O aumento da importância do comércio internacional na economia
mundial e os movimentos de globalização vividos nas últimas décadas aumentaram ainda
mais o interesse no tema. Dunning e Mucchielli (2001) já apontavam que embora o fenômeno
da globalização não fosse recente, havia se acelerado nos últimos anos, com a adoção de
estratégias verdadeiramente globais por muitas empresas. Os autores ressaltavam a criação de
áreas de comércio comum, como a União Europeia, o Mercosul, a ASEAN e a NAFTA e os
movimentos de integração regional como fatores que influenciaram mudanças estratégicas nas
empresas.
No Brasil, a internacionalização das empresas nacionais também tem sido um tema
recorrente nas pesquisas da área de administração. As mudanças ocorridas na economia
brasileira na década de 1990 possibilitaram a inserção do país em um contexto global. A
internacionalização passou a ser vista como um meio para aumentar a competitividade,
através de ganhos de escala, além de assegurar e expandir mercados para as empresas (ALEM
e CAVALCANTI, 2005).
A investigação de empresas foi abordada por economistas, administradores,
especialistas da área comportamental e da área de empreendedorismo, entre outras. As teorias
desenvolvidas apresentam algumas semelhanças e diferenças entre si, dependendo da base
teórica, premissas e foco utilizados. Além da comparação teórica das mesmas é possível
analisa-las através da verificação com casos reais. Esta verificação permite tanto analisar um
caso real de maneira mais ampla, entendendo melhor o processo ocorrido com a empresa em
questão, quanto avaliar a validade teórica dos arcabouços propostos.
O caso da Vale se mostra interessante para tal pesquisa por uma série de fatores.
16
- A Vale é uma das maiores empresas brasileiras. Independente do critério usado para
a definição de tamanho da empresa, a Vale está entre as maiores empresas do Brasil. Na
pesquisa realizada pelo Valor econômico a empresa é apontada como a segunda maior
empresa brasileira atrás apenas da Petrobras no critério Receita Líquida (JORNAL VALOR
ECONÔMICO ONLINE <http://www.valor.com.br/empresas/2801254/ranking-das-1000-
maiores>) Com um total de mais de 85.000 empregados, é também uma das maiores
empregadoras do país.
- A Vale é a maior exportadora do Brasil. Em 2012, segundo dados da revista Exame,
a Vale manteve seu posto como maior exportadora do país. Com um total exportado chegando
a 25,5 bilhões de dólares, sua participação no total das exportações nacionais foi de 10,5%.
Além do desempenho da própria Vale, empresas onde ela possui participação como a
Samarco, também aparecem entre as maiores exportadoras brasileiras (REVISTA EXAME
ONLINE <http://exame.abril.com.br/negocios/noticias/as-50-maiores-exportadoras-em-2012-
do-brasil?p=2>).
- A Vale está entre as empresas brasileiras mais internacionalizadas: Segundo a
Fundação Dom Cabral, a Vale é uma das empresas mais internacionalizadas do país, é
também a que possui subsidiárias em maior número de países, em 2013 (FUNDAÇÃO DOM
CABRAL <http://www.fdc.org.br/imprensa/Documents/2013/ranking_multinacionais_
brasileiras2013.pdf>).
1.3 Delimitação do Estudo
Este trabalho analisou o caso de internacionalização da Vale, uma multinacional
brasileira da área de mineração, e comparou o seu processo de internacionalização e sua
atuação no exterior com o proposto pelas principais teorias de internacionalização da
literatura. Algumas das teorias escolhidas apresentam uma abordagem econômica (Poder de
Mercado, Internalização e Paradigma Eclético), enquanto outras possuem uma abordagem
comportamental (Modelo de Uppsala, perspectiva de Networks e Empreendedorismo
Internacional). O fenômeno das Born Globals, que não é perfeitamente caracterizado em
nenhuma das duas abordagens, também foi estudado, pois a literatura gerada traz insights
interessantes sobre a internacionalização de empresas.
17
A escolha da Vale delimita o estudo aos setores onde a companhia atua, especialmente
a indústria de mineração, e ao contexto de multinacionais brasileiras ou de países emergentes.
Extrapolações das conclusões da pesquisa a outras empresas devem ser feitas com cuidado,
respeitando-se as limitações do método de pesquisa utilizado, o estudo de caso.
Todos as etapas dos processos de internacionalização da Vale foram considerados para
traçar sua estratégia geral de internacionalização. No entanto, por questões práticas, alguns
processos podem ter sido apresentados com menos detalhes devido à escassez de dados e
documentos. O maior foco foi dado à compra da canadense Inco, devido à magnitude do
negócio mediante o portfólio internacional da companhia.
O período abordado no estudo vai desde a fundação da Vale, em 1942, até o ano de
2014. Maior ênfase foi dada ao período mais recente por este concentrar a maioria dos
esforços de internacionalização da companhia, assim como por questões práticas, como a
disponibilidade e fidelidade de dados e a possibilidade de entrevistar pessoas que
efetivamente participaram dos processos.
1.4 Organização do Estudo
Essa dissertação está dividida em seis capítulos. Neste primeiro são apresentados os
objetivos do estudo, definido o problema, a importância do tema, a delimitação do estudo e
sua organização.
O próximo capítulo apresentará o referencial teórico utilizado no estudo. São
apresentadas as teorias que posteriormente basearam a análise do estudo de caso. O capítulo
se inicia com a apresentação das teorias que se baseiam na abordagem econômica: as teorias
do Poder de Mercado e da Internalização e o Paradigma Eclético. Em seguida são analisadas
as teorias com base na abordagem comportamental: o Modelo de Uppsala, a perspectiva de
Networks e o Empreendedorismo Internacional. O capítulo se encerra com a apresentação da
literatura sobre o fenômeno das empresas Born Globals.
O terceiro capítulo é dedicado à discussão do método, explicando como a pesquisa foi
conduzida. O capítulo se inicia com a apresentação das questões de pesquisa e, a partir, delas
a explicação da escolha do método de pesquisa. Em seguida, são descritos os procedimentos
metodológicos, as justificativas para escolha do caso da Vale e os procedimentos de coleta de
18
dados. Por fim, são apresentadas as críticas ao método de estudo de caso e as limitações desse
estudo.
O quarto capítulo descreve o caso Vale, apresentando a história da companhia. A
trajetória da Vale é subdivida em cinco momentos. Embora todos os aspectos da história
sejam comtemplados, o foco é o conjunto de movimentos de internacionalização. O capítulo
começa a mapear a história da companhia antes mesmo da sua fundação, passa pelos anos da
Vale como empresa estatal, destaca o momento da sua privatização e em seguida conta sua
história como empresa privada. A história da companhia como empresa privada é dividida em
dois momentos, sendo a crise de 2008 o ponto de corte entre os dois. Essa data foi escolhida
por representar um momento de ruptura na estratégia da empresa de forma geral, sobretudo no
seu processo de expansão e internacionalização.
O quinto capítulo apresenta a análise do caso, nele cada uma das teorias mencionadas
no capítulo 2 são comparadas com o real processo de internacionalização da Vale. O capítulo
busca encontrar semelhanças e divergências entre essas teorias e o caso Vale, usando como
base a história da companhia apresentada no capítulo anterior, dados da empresa e as
entrevistas realizadas com executivos da empresa.
Finalmente, o sexto capítulo apresenta as conclusões do estudo. Antes é feito um
pequeno sumário do trabalho realizado para suportar as conclusões apresentadas. Por fim, são
apresentadas sugestões de pesquisas futuras.
19
2. REFERENCIAL TEÓRICO
Este capítulo apresenta uma revisão de literatura sobre as teorias de
internacionalização de empresa. Essa análise servirá de base para a análise da
internacionalização da Vale nos capítulos posteriores.
Vários autores (ANDERSEN; BUVIK, 2002; RÄISÄNEN, 2003), classificam as
teorias tradicionais de internacionalização em duas linhas de pesquisa. A primeira é a
abordagem com base em critérios econômicos, onde prevalecem soluções (pseudo-) racionais
na busca por maximização dos retornos econômicos para as questões relativas ao processo
internacionalização. A segunda é a abordagem com base na evolução comportamental, que
considera que o processo de internacionalização depende das atitudes, percepções e
comportamento dos tomadores de decisão, e que esses seriam orientados pela busca da
redução de riscos (CARNEIRO e DIB, 2007).
A abordagem econômica predominou nos estudos da área até a década de 1970,
quando foi questionada pelo Modelo de Uppsala. Segundo esse modelo o processo de
internacionalização não seria resultado de uma alocação ótima de recursos (nem na
perspectiva macroeconômica dos países e nem na perspectiva microeconômica das dinâmicas
indústrias entre as empresas). O processo seria incremental devido a racionalidade limitada
dos agentes envolvidos e de objetivos de redução de risco (CARNEIRO e DIB, 2007).
Essas duas abordagens dominaram a discussão sobre internacionalizações de
empresas, até que no início dos anos 1990, um novo tipo de empresa foi observado, as Born
Globals. Essa nova empresa não se encaixava com facilidade em nenhuma das duas
abordagens, nenhum dos dois modelos era capaz de explicar plenamente o processo de
internacionalização dessas empresas (CARNEIRO e DIB, 2007). Embora a importância do
papel do empreendedor e do uso de redes de relacionamentos aproxime essa nova teoria da
abordagem comportamental, o caráter não gradual da expansão internacional das Born
Globals desafia a abordagem tradicional.
A seção 2.1 analisa as abordagens econômicas. Os destaques dessa abordagem são: A
teoria de Poder de Mercado desenvolvida por Hymer (1960), a teoria da internalização
desenvolvida por Buckley e Casson (1976) e o Paradigma Eclético de Dunning (1977).
20
Posterior à análise individual de cada uma dessas teorias é feita uma revisão das principais
obras que buscaram compará-las.
A seção 2.2 apresenta as abordagens comportamentais. Os principais modelos dessa
abordagem são analisados: O modelo desenvolvido pela Escola de Uppsala (JOHANSON e
WIEDERSHEIM-PAUL, 1975; JOHANSON e VAHLNE, 1977), a perspectivas de Networks,
concebida por Johanson e Matsson (1988), e o empreendedorismo internacional, que une dois
campos de estudo o empreendedorismo e negócios internacionais (MCDOUGALL, 1989).
Por fim, as seções sobre Networks e empreendedorismo internacional dão a base
necessária para a introdução do fenômeno das Born Globals, na seção 2.3.
2.1 Abordagens Econômicas da Teoria da Internacionalização
As abordagens econômicas, como mencionado, procuram explicações racionais para
as decisões de internacionalização, buscando maximizar o retorno econômico. Sua origem
reside na tentativa de buscar por teorias gerais da produção internacional, sendo que essa pode
ser analisada em três níveis: Macroeconômico, Mesoeconômico e Microeconômico. As
abordagens microeconômicas e mesoeconômicas estudam, respectivamente, o crescimento de
firmas individuais e a interação dessas firmas em um nível setorial. Em contrapartida as
teorias macroeconômicas examinam tendências amplas e internacionais (DIB, 2008).
2.1.1 A Teoria do Poder de Mercado
Segundo Hymer (1960) a abordagem vigente até então, de que a diferença das taxas de
juros entre países explicaria o fluxo de investimento internacional seria capaz de explicar
apenas os investimentos em portfólio, que ocorre quando um investidor apenas busca
diversificar suas operações financeiras, e, portanto, era incompleta. Mais precisamente, esse
autor defende que as diferenças nas taxas de juros entre os países não são capazes de explicar
os investimentos estrangeiros diretos, que estavam se tornando cada vez mais frequentes na
época, e que ocorrem quando uma companhia controla a empresa estrangeira que recebe seus
investimentos.
Se o determinante do fluxo de investimentos fosse a diferença na taxa de juros entre
duas nações, deveria haver um fluxo unidirecional de recursos, de nações com taxas de juros
21
menores para nações com taxa de juros mais elevadas. No entanto, dados empíricos mostram
haver investimentos cruzados entre as nações. Ainda segundo Hymer (1960), tendo somente a
diferença de taxas de juros como estímulo ao investimento transnacional, dever-se-ia observar
um fluxo de capital para apenas alguns países, e dentro desses poucos países todas as
indústrias seriam contempladas com esses investimentos. No entanto, segundo suas
constatações empíricas essa não era a situação, Hymer observou que existia um fluxo de
capital para apenas algumas indústrias e em um grande número de países
Adicionalmente, operações de investimento direto não necessariamente envolvem o
fluxo de capital de um país para outro. Uma empresa estrangeira pode investir em outro país
obtendo um empréstimo em um banco local, por exemplo. Tal movimento também, não seria
explicado pela abordagem macroeconômica. De fato, Hymer (1960), em sua pesquisa
empírica, verificou que é uma tendência as empresas financiarem seus investimentos
estrangeiros através de empréstimos em bancos locais, em detrimento de empréstimos nos
seus países natal. Além disso, ele verificou firmas nativas de países com altas taxas de juros
faziam investimento direto em países que tenham baixas taxas de juros. Assim o fluxo de
investimentos diretos no mundo poderia ter o sentido oposto daquele descrito pela teoria
macroeconômica.
Insatisfeito com a explicação da diferença entre as taxas de juros Hymer afirmava que
dois principais motivos levavam uma empresa a investir em países estrangeiros eram :(i)
remover um competidor potencial; (ii) apropriar-se integralmente dos retornos que certa
habilidade desenvolvida por esta em seu país natal lhe proporcionava. Por exemplo, uma
empresa que desenvolveu um produto diferenciado para atender seu mercado local ou que
tenha desenvolvido um método de produção mais eficiente, pode maximizar os retornos
dessas vantagens competitivas ao replicá-las em outros mercados. No entanto, Hymer (1960)
faz a ressalva de que existem outros meios, além do controle direto das empresas nos
mercados estrangeiros, para garantir os objetivos das empresas. Por exemplo, a competição
pode ser removida também através de um conluio entre as empresas produtoras.
Isso também explicaria porque as firmas escolhem investir diretamente no exterior, ao
invés de utilizar o licenciamento de produto, por exemplo. Imperfeições de mercado
impediriam que a empresa se apropriasse de todo o lucro potencial que uma operação no
exterior poderia lhe render, a menos que essa investisse diretamente no país estrangeiro. Em
outras palavras, para Hymer (1960), exercer algum controle sobre a operação estrangeira era
22
necessário para a maximização dos retornos do processo de internacionalização. Então, a
busca de controle é o grande motivador do investimento estrangeiro direto.
Hymer (1960), então, desenvolveu a teoria de que as empresas tendem a aumentar sua
participação no mercado local enquanto possível, atingindo um alto grau de poder de
monopólio. Quando o crescimento no mercado local não é mais possível, a empresa usa os
lucros obtidos em seu país de origem para financiar operações em um país estrangeiro. O
mesmo processo de concentração de mercado e obtenção de poder de monopólio ocorre no
país estrangeiro (DIB, 2008).
Hymer afirma que as operações internacionais irão ocorrer em algumas indústrias e em
todos os países, ao invés de em todas as indústrias e em apenas alguns países como previa a
teoria macroeconômica. Mas, como prever quais indústrias estarão sujeitas a esse processo de
internacionalização e qual seria extensão desse? Segundo o autor não é impossível prever isso
com precisão, pois os mercados seriam imperfeitos, o que poderia resultar em uma solução
monopolista. No entanto, o autor descreve quatro cenários “puros” considerando as variáveis
envolvidas no processo de internacionalização. Na vida real, entretanto, o que se observa é um
híbrido entre esses diferentes cenários.
No primeiro cenário ocorreriam operações internacionais por causa de alguma
imperfeição de mercado. Nesse cenário ocorreriam operações internacionais nas indústrias
onde empresas de diferentes países vendessem no mesmo mercado ou vendessem umas para
as outras sob condições de competição imperfeitas. A forma pode variar: podem existir
conluios, fusões ou até mesmo um acordo de divisão de lucros. No entanto, se houvesse
interdependência e um número suficientemente pequeno de empresas capazes de reconhece-
las, ocorreria alguma forma de acomodação (HYMER, 1960).
No segundo cenário, operações internacionais aconteceriam em casos onde uma ou um
grupo de empresas terem alguma vantagem sobre as demais. Um exemplo desse cenário é um
mercado onde uma empresa tem uma patente que lhe dê um direito exclusivo sobre a
comercialização de um produto ou quando apenas um grupo de empresas tem acesso a uma
tecnologia superior que lhes garantem uma grande economia no processo produtivo de
determinado produto (HYMER, 1960).
Um terceiro cenário, descrito por Hymer (1960), seria quando as operações de
internacionalização não ocorressem nem por uma imperfeição do mercado e nem um
23
desequilíbrio nas capacitações. Por exemplo, como alguns mercados tem uma correlação
negativa uns com os outros (quando uma indústria em um país está gerando grandes lucros
isso implica que a mesma indústria está gerando prejuízos em outro país), operações
internacionais são estimuladas com o objetivo de diversificar o portfólio dos investidores.
Por fim, o quarto cenário seria aquele onde não haveria operações internacionais.
Indústrias que tem muitas firmas de pequeno tamanho costumam entrar nesse cenário. Fatores
como o nacionalismo e a integração com a economia mundial também podem levar a esse
cenário (HYMER, 1960).
2.1.2 Internalização
A teoria de internalização tem como base as ideias defendidas por Coase (1937). Esse
autor foi o primeiro a usar a figura do empreendedor como fator determinante do processo de
crescimento e diferenciação de uma firma. Para ele o empreendedor seria um gerente ou outro
empregado que apresentasse características de liderança e de tomada de decisões (DIB, 2008).
De acordo com Coase (1937), uma firma em particular cresceria conforme esse empreendedor
organizasse transações adicionais para essa firma, e diminuiria de tamanho conforme ele
abandonasse a organização de tais transações, ou seja, o crescimento ou decrescimento de
uma firma dependia do grau de internalização das atividades da mesma.
Segundo Dunning (2003), Coase discutiu porque as firmas internalizam determinadas
funções, ao invés de buscar soluções no mercado. A resposta dada foi que, para essas
atividades, o custo de transação do mercado seria maior do que os custos de se realizar essas
transações com uma única entidade. Dunning ainda aponta que Coase não levou em
consideração que poderia haver funções que simplesmente não poderiam ser feitas pelo
mercado e nem entrou na discussão de quem seria mais eficiente em fazer tais funções.
De qualquer forma, Dunning (2003) deixa claro que Coase foi uma influência crítica
para o desenvolvimento da teoria da internalização, anos mais tarde, por Buckley e Casson
(1976). Esses autores observaram o crescente número de multinacionais logo após a segunda
guerra mundial. Tal investimento estrangeiro não era condizente com a teoria
macroeconômica, que dizia que o fluxo de investimento seria dos países mais abundantes em
capital, e consequentemente com menores taxas de juros, em direção aqueles com escassez de
24
capital, e consequentemente taxas de juros mais elevadas. O que se observa na realidade é que
eram investimentos no sentido contrário, e muitas vezes investimentos cruzados entre países.
Empiricamente Buckley e Casson (1976) chegaram a uma série de características
presentes nas multinacionais. A primeira delas é que quanto maior a firma maior tendia ser
seu grau de internacionalização. Além disso, eles verificaram que as multinacionais tendiam
ser diversificadas horizontalmente, produzindo o mesmo produto em fábricas diferentes e
muitas eram verticalmente diversificadas também, produzindo produtos intermediários da
cadeia produtiva.
Segundo os autores isso seria reflexo do fato que os negócios modernos são
complexos, não se limitando a rotina de produção de bens e serviços. As empresas alocariam
grande parte de seus recursos em atividades como marketing, pesquisa e desenvolvimento
(P&D), treinamento da força de trabalho, os procedimentos bancários e financeiros,
administração de ativos financeiros, entre outras atividades não diretamente ligadas a
produção ou à prestação do serviço. Todas essas atividades são interconectadas e são ligadas
por um fluxo de produtos intermediários. Esses produtos intermediários podem ser simples
matérias semi-processados ou, mais frequentemente, conhecimento, expertise e capital
humano. Esses novos mercados, de produtos intermediários, são difíceis de organizar. A
tentativa de organizá-los gerou mudanças radicais no modo de se fazer negócios, entre essas
mudanças está o crescimento das firmas multinacionais.
Buckley e Casson (1976) definem a firma multinacional como sendo aquela firma que
possui e controla atividades em diferentes países. Baseando sua teoria em três postulados:
(1) Firmas buscam maximizar seus lucros em um mundo de mercados imperfeitos;
(2) Quando os mercados de produtos intermediários são imperfeitos, existe um
incentivo para tentar escapar deles através da criação de mercados internos. Isso
envolve trazer para posse e controle atividades que estão ligadas pelo mercado;
(3) A internalização de mercados através das fronteiras nacionais gera firmas
multinacionais.
Ainda segundo Buckley e Casson (1976), existe um grau ótimo para a internalização.
Esse grau ótimo seria na margem, onde os custos e benefícios de qualquer internalização
adicional se equalizariam. Os fatores que governam essa margem, controlam a extensão da
25
internalização. Cinco tipos de imperfeição de mercados que levam a internalização a ser
benéfica são apontados pelos autores:
- Atividades interdependentes podem envolver atividades com defasagens temporais
significativas. Quando a atividade envolve uma grande diferença temporal entre o início e o
final da produção, seria necessário um mercado futuro (que atuaria sinalizando o preço que
seria praticado no futuro) para coordenar tanto a produção no curto prazo quanto o calendário
de investimentos de longo prazo. Na ausência desses mercados futuros existe um forte
incentivo para as firmas criarem seu próprio mercado futuro, trazendo as atividades
interdependentes para seu controle.
- A exploração eficiente de Poder de Mercado sob um mercado intermediário pode
requerer descriminação de preços. Quando essa descriminação de preços não é possível o
monopolista tem um incentivo para se verticalizar, para que assim ele possa implementar o
sistema de discriminação apropriado.
- Uma situação onde haja bilateralidade de concentração de poder pode levar a uma
situação de barganha indeterminada ou instável. Por exemplo, quando um vendedor de um
produto intermediário é monopolista, mas tem como seu único cliente um comprador
monopsônico que por sua vez detêm controle sobre os canais de distribuição. Há um grande
incentivo a se realizarem contratos de longo prazo, ou uma solução mais permanente como
uma fusão ou compra de uma empresa pela outra, caracterizando assim uma internalização.
- Quando há uma assimetria de informação entre o comprador e o vendedor no que diz
respeito à natureza ou valor de um produto, a parte melhor informada tem um incentivo para
assumir o risco da outra parte, seja adquirindo essa outra parte ou entrando em competição
com ela por seu mercado.
- Normalmente, o preço dos bens e serviços, no mercado, deve ser público e por isso
não pode ser facilmente subestimado para efeitos tributários. Porém, em utilizando recursos
internos não existe tanta transparência, o que pode garantir um ganho fiscal. Esse tipo é
especialmente aplicado em casos de empresas multinacionais, já que o governo de cada país
estabelece tarifas ad valorem ou restrições de movimentação de capital e por causa das
discrepâncias entre as taxas dos impostos sobre receita e lucro que existe entre os países.
A discussão acima sugere que existem alguns mercados em que existe um incentivo
particularmente grande para a internalização. Segundo, Buckley e Casson (1976), alguns
26
exemplos são os mercados que vendem algum tipo de conhecimento, produtos agrícolas
perecíveis, produtos intermediários em indústrias intensivas em capital e recursos naturais que
são geograficamente concentrados.
Buckley e Casson (1976) também descreveram os aspectos negativos da
internalização. Segundo os autores um mercado internalizado pode acarretar custos mais altos
em alguns aspectos, principalmente no que tange a comunicação. O aumento do fluxo de
informações, a necessidade de confidencialidade e a necessidade de visitas locais a unidades
distantes seriam os principais fatores que fariam o custo de comunicação ser mais dispendioso
em um mercado internalizado. Além dos custos de comunicação, o aumento da complexidade
administrativa da empresa, o aumento do risco incorrido pela empresa e dificuldades em se
igualar a escala de atividades diferentes são apontados como pontos negativos da
internalização.
Considerando as possíveis economias e custos do processo de internalização, cada
companhia escolhe se deve internalizar uma dada atividade, no agregado essas escolhas
determinam o grau de internalização de uma firma. Segundo Buckley e Casson (1976), são
quatro fatores relevantes na decisão de internalização:
(1) Fatores específicos da indústria: A natureza do produto, a estrutura do mercado
externo e a relação entre as escalas ótimas das atividades que estão ligadas pelo
mercado;
(2) Fatores geográficos específicos: As distâncias físicas e sociais entre as regiões
envolvidas, já que quanto maiores forem essas distâncias maiores serão os custos
de internalização e, consequentemente, menores serão os incentivos a essa decisão;
(3) Fatores nacionais específicos: Relações políticas e fiscais entre os países
envolvidos;
(4) Fatores específicos das firmas: Vários fatores que determinam a capacidade da
firma se internalizar, como por exemplo, o grau de profissionalização do seu
quadro gerencial.
Uma comparação entre a teoria de internalização e a de Hymer (1960), é feita por
Buckley e Casson (1976). Segundo os autores existem várias similaridades entre as teorias,
porém também existem diferenças significativas. Na teoria de Hymer (1960), as vantagens
27
das firmas, especialmente a sua propriedade de conhecimentos, são consideradas dadas. O
planejamento e investimento necessários para obtê-las não são considerados. Como os custos
de aquisição dessas vantagens são ignorados, é impossível explicar ou prever o porquê das
firmas investirem nessas áreas em detrimentos de outras.
Em contraponto, a teoria de internalização, desenvolvida por Buckley e Casson
(1976), credita essas vantagens a investimentos realizados no passado em três frentes. A
primeira delas é na criação de uma área de pesquisa e desenvolvimento, o que proporciona as
empresas uma vantagem no campo tecnológico. A segunda é a criação de um conjunto
integrado de habilidades. E a última é o desenvolvimento de uma rede de transmissão de
informação, que permite que os benefícios das duas primeiras frentes sejam levados a toda a
organização por um custo mínimo, ao mesmo tempo em que protege tais conhecimentos,
impedindo seu acesso por terceiros. Além disso, a teoria de Buckley e Casson (1976)
apresenta uma ênfase na transmissão da capacidade de inovar, enquanto Hymer (1960) se
concentrava em uma única inovação ou patente.
2.1.3 Paradigma Eclético
A teoria do Paradigma Eclético foi desenvolvida por Dunning (1977). Segundo o autor
as firmas que desejam explorar um mercado externo encontram duas possibilidades:
- Produzir em seu país de origem, portanto usando recursos nacionais, e abastecer o
mercado externo com exportações. Sendo essa primeira compreendida pela teoria
convencional do comércio internacional.
- Produzir localmente no país estrangeiro, utilizando assim recursos localizados em
países estrangeiros. Abastecendo assim diretamente o mercado estrangeiro. Essa segunda
alternativa estaria no domínio da produção internacional e do investimento estrangeiro direto.
Segundo Dunning (1977) essas duas alternativas eram parte de um mesmo processo no
qual o principal objetivo do autor era entender a decisão de produzir em um mercado externo
ou não.
Partindo desse objetivo o autor buscou explicar, no seu artigo seminal e em trabalhos
posteriores, o “por que” uma empresa decide produzir diretamente no exterior em detrimento
de abastecê-lo com exportações, ou seja, quais são os motivos que impactam na decisão entre
28
as duas possibilidades de abastecimento do mercado externo. Outra questão era “quando” se
torna atraente investir diretamente em um mercado estrangeiro. “Onde” esses investimentos
serão localizados, ou por que a mesma firma escolhe a opção de exportação para alguns
mercados estrangeiros e a produção direta para outros, também é uma questão levantada pelo
autor. Além disso, ele discute a forma em que a operação estrangeira é desenvolvida, ou seja,
“como” essas operações internacionais são estruturadas.
Segundo Dib (2008), em sua teoria Dunning explica que as falhas de mercado, tais
como custo de informação e transação, oportunismo dos agentes e especificidade dos ativos,
levariam uma empresa a utilizar o investimento direto para alcançar um mercado externo em
detrimento das exportações ou do licenciamento. As empresas agiriam dessa forma quando
tivessem vantagens diferenciais em relação às concorrentes e desejassem proteger tais
vantagens utilizando uma estrutura própria.
Mais especificamente, o autor aponta três variáveis interdependentes que influenciam
essa decisão. A primeira delas são as vantagens competitivas da empresa que são
especificamente derivadas de suas propriedades (também conhecido como vantagens de
propriedade). Segundo a teoria, com tudo o mais constante, quanto maiores as vantagens de
propriedades de uma empresa estrangeira, principalmente relativamente as empresas locais do
país em questão, mais disposta essa empresa estará a realizar um investimento direto
(DUNNING, 1977).
Outra variável interdependente, segundo Dunning (1977) é a atração local dos
diferentes países e regiões, também conhecido com vantagens de localização. Ou seja, alguns
países e regiões apresentam vantagens competitivas em relações aos outros, quanto maiores
essas vantagens maior será o incentivo de uma firma realizar um investimento direto.
A terceira variável, utilizada por Dunning (1977) para compor seu paradigma, é a
vantagem de internalização. Isto é, o quanto vantajoso é realizar todas as diferentes etapas do
processo produtivo dentro da mesma empresa em detrimento da opção de externalizar
algumas dessas etapas. Uma das vantagens de internalização é a redução dos custos de
transação, por exemplo. Quanto maiores as vantagens de internalização mais disposta a
empresa estará a fazer o investimento direto.
Considerando essas três variáveis Dunning (1980), conclui que existiria investimento
estrangeiro direto em três situações:
29
(1) A empresa acredita ter uma vantagem de propriedade em relação às empresas de
outras nacionalidades para servir determinado país ou região.
(2) O país que recebe o investimento direto possui vantagens de localização. Essas
vantagens devem ser utilizadas em conjunto com as vantagens de propriedade e de
internalização.
(3) Existe um benefício em utilizar internamente um recurso, no qual a empresa detém
uma vantagem competitiva, ao invés de vendê-lo no mercado, por exemplo, via
licenciamento.
Além disso, existiriam fatores contextuais que influenciariam a decisão quanto a fazer
ou não o investimento direto. Entre eles estariam variáveis estruturais e conjunturais,
características específicas da indústria e do país em questão e variáveis operacionais e
estratégicas específicas da firma.
Dunning (1977) apontou que foram identificados quatro principais tipos de atividades
estrangeiras baseadas no investimento direto:
(1) Atividades desenhadas para satisfazer um mercado estrangeiro em particular,
seriam atividades orientadas pela demanda.
(2) Atividades desenhadas para se conseguir acesso a um recurso natural. Como por
exemplo, acesso a uma fonte de minério, a certos produtos agrícolas ou a uma
força de trabalho de baixo custo. Seriam, portanto, atividades orientadas pela
oferta.
(3) Atividades desenhadas para promover uma maior racionalidade, trazendo assim
mais eficiência para a empresa. Normalmente ocorre em sequência às atividades
orientadas pela demanda ou às atividades orientadas pela oferta.
(4) Atividades desenhadas para proteger ou aumentar as vantagens de propriedade da
firma em questão, ou ainda, para eliminar ou reduzir as das firmas concorrentes.
Portanto, seriam, atividades que buscam a obtenção de um ativo estratégico.
Ao refletir sobre o futuro do campo da internacionalização e de sua teoria Dunning
(1988) previu uma profunda mudança nas teorias que iriam surgir no futuro, como um reflexo
30
das mudanças que a própria organização internacional de produção estava passando. Entre as
tendências ele apontava:
(1) Um maior interesse em modelar as falhas de mercado;
(2) Maiores estudos para se entender a dinâmicas das vantagens de propriedade,
localização e internalização;
(3) Mais pesquisas sobre as colaborações feitas entre as multinacionais de países
avançados e entre multinacional e seus fornecedores e consumidores;
(4) Maior interesse em identificar e quantificar as vantagens de propriedade, sobretudo
aquelas vantagens ligadas ao quadro de gerência da companhia;
(5) Uma tendência à teoria e aos trabalhos empíricos se tornarem tecnicamente mais
sofisticados e mais voltados para a construção de políticas.
2.1.4 Análise Comparativa Crítica das Teorias Econômicas
Muitos autores se dedicaram a comparar e agrupar as teorias econômicas sobre a
internacionalização, buscando semelhanças e diferenças entre elas. Um deles é Cantwell
(1991), esse autor considerou que as teorias de produção internacionais nasceram em 1960,
quando Hymer mostrou que as teorias de comércio e movimentos de capital existente até
então eram incapazes de explicar as operações estrangeiras das empresas multinacionais,
principalmente no que se refere aos fluxos de investimentos de mão dupla e entre países com
fatores de produção similares. O autor considera que desde então quatro grandes arcabouços
teóricos foram desenvolvidos, são eles:
(1) O arcabouço baseado na obra de Hymer (1960), tem a visão da firma como um
agente de Poder de Mercado e de conluio.
(2) A abordagem da internalização, baseado em uma visão institucionalista, onde a
firma é um mecanismo de substituição dos mercados. Tendo Buckley & Casson
(1976) como um dos principais autores.
(3) As abordagens baseadas na análise das interações competitivas em indústrias
internacionais. Inclui-se nesse arcabouço diferentes abordagens, como por
31
exemplo, a abordagem da acumulação tecnológica, desenvolvida por vários
autores, incluindo o próprio Cantwell (1991).
(4) As abordagens de desenvolvimento macroeconômico. Inclui muitas formas
diversas, como, por exemplo, as primeiras versões da teoria do ciclo de vida dos
produtos, como a de Vernon (1966).
Além desses quatro arcabouços, segundo Cantwell (1991), o Paradigma Eclético de
Dunning poderia ser interpretado como um quinto arcabouço. Dunning (1977) buscou trazer
elementos dos seus precedentes, de tal maneira que ele é compatível com várias abordagens
teóricas diferentes. Cada um dos cinco arcabouços é subdividido em teorias particulares, o
autor ainda ressalva, que uma mesma teoria pode apresentar características de mais de um
arcabouço.
Ietto-Gilles (1997) é outra autora que se dedicou a comparar e agrupar diferentes
teorias da internacionalização. Ela subdividiu as teorias existentes até então em quatro
abordagens: (1) Neoclássica; (2) Macroeconômica; (3) Estrutura de mercado, poder e
conflitos; (4) Eclética. Sua visão é similar à de Cantwell, porém com algumas divergências,
como pode ser visto a seguir quando discutiremos a classificação das teorias que
mencionamos anteriormente.
Cantwell (1991) e Ietto-Gilles (1997) divergem quanto a classificação da teoria do
Poder de Mercado. Segundo Cantwell, a firma descrita no trabalho de Hymer (1967) agia
ativamente, criando barreiras à entrada e fazendo conluio com outras firmas, assim o
comportamento da firma moldava a estrutura de mercado e não o contrário. Por isso, Cantwell
classifica a teoria de Poder de Mercado como uma teoria da firma e do comportamento da
firma. Já Ietto-Gilles (1997), classifica a teoria de Hymer na abordagem de estrutura de
mercado e Poder de Mercado. Ou seja, a autora coloca a teoria de Hymer no mesmo grupo de
teorias que tinham como foco a estrutura do mercado e não no comportamento da firma.
Como visto anteriormente, a teoria da Internalização é um dos cincos arcabouços
teóricos apontados por Cantwell (1991). Já Ietto-Gilles (1977) inclui essa teoria na abordagem
neoclássica, porque seu foco são as trocas e não a produção, e por sua preocupação com a
maximização de lucros e com a eficiência. A teoria da Internalização seria o caso particular
onde a busca por maximização de lucro era feito através da redução dos custos de transação,
32
atingido pela internalização. A abordagem neoclássica, segundo Ietto-Gilles (1977) era
caracterizada pelos seguintes princípios:
- Os agentes são racionais e todos tem acesso a todas as informações dos mercados e
das condições econômicas, não existe incerteza;
- Os consumidores buscam maximizar sua utilidade que eles conseguem extrair do
consumo, dado suas restrições orçamentárias;
- As empresas buscam maximizar seus lucros;
- Os mercados são perfeitamente competitivos;
- Os recursos são escassos e a sua alocação, dentre os diversos usos possíveis, é feita
através do mecanismo de preço;
- A distribuição de renda entre os vários fatores de produção (particularmente trabalho
e capital) ocorre via o mecanismo de preço e é baseado na contribuição de cada fator à
produção.
Assim como Cantwell (1991), Ietto-Gilles (1997) classifica o Paradigma Eclético
como uma abordagem única que tenta conciliar elementos das abordagens anteriores, a
colocando no grupo, denominado por ela de abordagem eclética.
Em uma revisão das teorias de internacionalização alguns autores também se
dedicaram a escrever sobre as perspectivas para o futuro desse campo de estudo. Para Buckley
(2002) a agenda de pesquisa do campo até então se centrava em três perguntas:
(1) Explicar o fluxo de investimento estrangeiro direto;
(2) Explicar a existência, estratégia e organização das multinacionais;
(3) Entender e prever o desenvolvimento da internacionalização da firma e o novo
desenvolvimento da globalização.
Segundo o autor vários temas devem permear o futuro do campo, como as questões de
aquisição e fusão, gerência de conhecimento, geografia, localização e o impacto das
instituições como as organizações não governamentais. Além de um aprofundamento (ou
desconstrução) do conceito de globalização, sugerindo uma maior integração (ou
33
fragmentação) das economias mundiais. Segundo o autor a grande questão da agenda futura,
se é que vai haver uma, ainda não está definida.
2.2 Abordagens Comportamentais da Teoria da Internacionalização
2.2.1 Introdução às Teorias Comportamentais
O surgimento das teorias comportamentais se deu em 1970, quando pesquisadores da
Universidade de Uppsala se dedicaram a estudar como as empresas suecas internalizavam
seus negócios. A introdução dessa nova linha de pensamento fez com que os estudos de
negócios internacionais deixassem de analisar os fatores puramente econômicos, e
começassem a observar o tema sob a perspectiva da Teoria do Comportamento
Organizacional (HEMAIS e HILAL, 2002).
Essa nova abordagem buscava superar as limitações das abordagens econômicas,
principalmente no que se refere ao processo de internacionalização de empresas de menor
porte (DIB, 2008). Essa linha de pensamento gerou uma série de teorias, entre elas, Chetty e
Campbell-Hunt (2004), apontam o modelo desenvolvido pela Escola de Uppsala e o Modelo
de Inovação como os mais tradicionais.
O Modelo de Uppsala é focado na aquisição, integração e uso da experiência e do
conhecimento sobre o mercado estrangeiro, e no compromisso com a alocação de recursos
nesses mercados. O comportamento da empresa seria reativo, influenciado por mudanças nas
condições internas e externas e não pelo desenvolvimento controlado de uma estratégia. Já no
Modelo de Inovação, a internacionalização é vista como uma inovação da empresa. Uma
empresa teria um ritmo lento de internacionalização quando sua diretoria fosse avessa aos
riscos e sem conhecimento suficiente do mercado estrangeiro. Esses dois modelos apresentam
o processo de internacionalização como algo gradual e por isso são muitas vezes
referenciados na literatura como “modelos de estágio” ou “modelos de etapas”. Além disso,
ambos consideram o idioma, as diferenças culturais, a baixa velocidade para transporte e
comunicação internacionais, como barreiras que atrapalham a aquisição de informações sobre
o mercado estrangeiro (DIB, 2008).
34
2.2.2 A Escola de Uppsala
2.2.2.1 Os Antecedentes do Modelo de Uppsala
Até metade do século XX os economistas se concentravam em estudar os aspectos
macroeconômicos, não observando o que ocorria dentro das firmas. Essa realidade foi
modificada por pesquisadores como Penrose, Cyert, March e Aharoni, que procuraram
escrever sobre os fatores internos da firma (DIB, 2008).
O trabalho de Cyert e March (1992) é considerado um dos principais referenciais
teóricos do Modelo de Uppsala. Os autores afirmam que a pesquisa econômica e a pesquisa
em organizações têm pontos em comum e podem ajudar uma a outra. No processo decisório
da empresa, tanto os dados econômicos e do mercado quanto o modo de operação interno da
empresa influenciam na escolha final.
Segundo Cyert e March (1992) considerar que a firma teria um único objetivo, a
maximização do lucro, e que esta teria conhecimento perfeito do mercado, era irrealista. Mais
do que isso, a teoria vigente até então, negligenciava aspectos importantes da firma, que
teriam grande impacto nas suas decisões, como por exemplo, seus problemas de controle. Os
autores então fizeram um esforço para combinar a teoria das firmas com a teoria das
organizações. O objetivo era prever o comportamento da firma quanto às decisões envolvendo
preço, produção e alocação de recursos. Johanson e Vahlne (1977) usaram essa ideia como
base para romper com a abordagem puramente econômica que era dado ao tema da
internacionalização, incluindo aspectos comportamentais em sua teoria (DIB, 2008).
Outra influência do Modelo de Uppsala foi Penrose (1959). Uma das principais ideias
da autora é que o crescimento da firma está ligado a sua aquisição de conhecimento, que por
sua vez é baseado na cumulatividade de experiências coletivas na firma. A autora também
colocou ênfase na figura do empreendedor (DIB, 2008). Essa ideia foi transferida para o
processo de internacionalização pelos autores da escola de Uppsala.
Além dessa base teórica, o trabalho de Johanson e Vahlne (1977) foi influenciado
pelas pesquisas empíricas de Johason e Wiedersheim-Paul (1975). Sendo esse um estudo
longitudinal sobre a internacionalização de quatro empresas suecas (Sandvik, Atlas Copco,
Facit e Volvo). A principal diferença desse trabalho é que ele considera a internacionalização
da empresa desde seu começo e não apenas nos anos em que essas já eram grandes
multinacionais. Com isso, os autores puderam constatar, que o comprometimento dessas
35
firmas com a internacionalização foi um processo gradual. Tal conclusão teria grande
influência na concepção dos modelos de estágio.
2.2.2.2 O Modelo de Uppsala
O trabalho de Johanson e Vahlne (1977) é um dos primeiros que aplica a abordagem
comportamental às questões de internacionalização. Tendo como base um estudo empírico, os
autores desenvolvem um modelo baseado na aquisição gradual, integração e uso de
conhecimento sobre mercados e operações no estrangeiro, e no aumento gradual de
comprometimento de uma firma para alocar esforços e recursos em um mercado estrangeiro.
Assim o processo de internacionalização não seria dado por uma análise de todos os
fatores macroeconômicos relevantes, resultando em uma alocação ótima de recursos e sim por
um processo incremental, levando em consideração a racionalidade limitada das empresas e
seus gestores e objetivos de redução de risco. Para os autores, a falta de conhecimento do
mercado estrangeiro é um dos principais obstáculos para o desenvolvimento de operações
nesse mercado, tal conhecimento é adquirido justamente através de operações nesse mercado.
Quanto mais uma empresa se relacionasse com um mercado estrangeiro, mais informações
teria sobre esse mercado, esse maior número de informações diminuiria suas incertezas e seus
riscos, deixando a empresa mais à vontade para assumir um compromisso ainda maior com
esse mercado, movendo assim para o próximo estágio do processo de internacionalização.
Esse processo seria iniciado quando o mercado doméstico de uma empresa estivesse
próximo da sua saturação, forçando a firma a procurar novas alternativas nos mercados
estrangeiros. Para minimizar as incertezas inerentes ao processo de internacionalização, as
firmas buscariam como seus primeiros mercados alvo, localidades que parecessem o mais
familiar possível com seu mercado doméstico.
Johanson e Vahlne (1990) propuseram o seguinte mecanismo básico de
internacionalização, esquematizado na figura2.1:
36
Figura 2.1: Mecanismo de Internacionalização do Modelo de Uppsala
Fonte: Johanson e Vahlne (1990)
Nesse esquema as variáveis de circunstância são subdividas em conhecimento de
mercado e comprometimento com o mercado. Seguindo a ordem utilizada pelo autor
começaremos analisando o compromisso com o mercado. Essa é composta por dois fatores: o
montante de recursos comprometidos e o grau de comprometimento. O montante de recursos
é dado pelo tamanho do investimento total, incluindo não só os gastos com instalações e
máquinas, mas também os gastos com marketing, organização, pessoal e todas as demais
áreas. O grau de comprometimento mede a dificuldade em se achar um uso alternativo para
um recurso. Alguns recursos são facilmente revertidos para outros fins, ou podem ser
vendidos gerando um capital que pode ser investido em outros mercados. Quanto mais difícil
for reverter o investimento em um mercado estrangeiro maior será o nível de compromisso de
uma firma com esse mercado.
A variável “conhecimento de mercado” é importante porque decisões de se
comprometer são baseadas em alguns tipos de conhecimentos. Primeiro, ter conhecimento das
oportunidades e dos riscos é essencial para se iniciar o processo decisório. Segundo, a
avaliação das alternativas é baseada em algum conhecimento sobre aspectos relevantes do
ambiente de mercado e sobre a performance de várias atividades. Esses conhecimentos podem
ser adquiridos de duas maneiras, alguns tipos de conhecimento podem ser ensinados,
enquanto outros só podem ser obtidos através da própria experiência. Esse conhecimento que
só pode ser adquirido através das próprias experiências é fator crítico na teoria de Johanson e
Vahlne (1977), no processo de internacionalização, esse conhecimento deve ser obtido
sucessivamente através das operações no mercado estrangeiro. Outra maneira de classificar o
conhecimento é separá-los em conhecimentos gerais e conhecimentos específicos.
Conhecimentos gerais são aqueles aplicáveis à firma, independentemente de sua localização
37
geográfica, enquanto os conhecimentos específicos são aqueles que versam sobre as
características singulares de um mercado nacional (seu ambiente de negócios, padrões
culturais, estrutura de mercado e características dos seus clientes).
Segundo Johanson e Vahlne (1977) dois fatores são considerados na tomada de
decisão sobre a internacionalização. Um deles é o tamanho do mercado potencial, onde,
naturalmente, quanto maior o mercado potencial maiores são os incentivos para uma
internacionalização. O outro é a “distância psíquica”, esse conceito é definido por Johanson e
Wierdersheim-Paul (1975) como:
(...) fatores impedindo ou perturbando os fluxos de informações entre os mercados.
Exemplos de tais fatores são línguas diferentes, cultura, sistemas políticos, nível de
educação, nível de desenvolvimento industrial, etc. Por razões óbvias, a distância
psíquica é correlacionada com a distância geográfica. Porém, exceções são
facilmente encontradas. Alguns países da Commonwealth britânica são bem
distantes geograficamente, por exemplo Inglaterra e Austrália, mas por diferentes
razões eles são próximos uns dos outros em termos de distância psíquica. Os Estados
Unidos e Cuba são perto um do outro geograficamente, mas, por razões políticas,
bem distantes em relação a distância psíquica. Como esses exemplos indicam,
distância psíquica não é uma constante. Ela muda por causa do desenvolvimento de
sistemas de comunicação, comércio e outros tipos de mudança social. Em geral
esperamos que a maioria das mudanças aconteça bem lentamente. (JOHANSON, J.;
WIEDERSHEIM-PAUL, F. The internationalization of the firm – four Swedish
cases. Journal of Management Studies. p. 308, 1975.)
A “distância psíquica” teria um efeito inverso na internacionalização, quanto maior a
distância psíquica menor o incentivo a internacionalização. Por isso, Johanson e Vahlne
(1977) afirmam que a ordem de seleção de países para a internacionalização seguiria uma
relação inversa com a “distância psíquica” entre o país original da empresa e os países que são
alvos potenciais para um processo de internacionalização.
Outra preposição de Johanson e Vahlne (1977) é que o processo de
internacionalização ocorreria em estágios sequencias em ordem incremental de
comprometimento de recursos. Uma empresa começaria suas atividades explorando seu
mercado doméstico, depois passaria a exportar seu produto para outros mercados, essas
primeiras exportações poderiam ocorrer de forma indireta, através de um agente. Com a
intensificação das exportações e maior contato com o mercado estrangeiro, a firma passaria
para o próximo estágio, uma subsidiária de vendas. Por fim, o processo alcançaria seu ápice
com o estabelecimento de unidades de produção no estrangeiro.
38
2.2.2.3 Comprovações Empíricas, Críticas e Evolução do Modelo
Johason e Vahlne (1990) destacam que o Modelo de Uppsala foi empiricamente
testado para a realidade de vários países, incluindo, mas não limitado à: Suécia, Estados
Unidos, Turquia e Austrália. Tais pesquisas empíricas comprovaram a validade do Modelo de
Uppsala e consolidaram os fatores comportamentais como parte importante do processo de
internacionalização. No entanto, segundo Petersen e Pedersen (1997) uma parte importante da
teoria, a de que o processo de internacionalização se daria em estágios consecutivos com um
comprometimento incremental por parte da firma, foi muito pouco testada empiricamente. Os
poucos trabalhos teóricos que testavam essa hipótese, não conseguiram apoiá-la. Para esses
autores o modelo apresentado por Johason e Vahlne (1977), onde a firma começava o
processo de internacionalização através da exportação, passando por uma subsidiária de
vendas, até cominar na abertura de uma unidade produtiva, era restritivo demais. A trajetória
de internacionalização de uma empresa poderia continuar tendo o caráter gradualista
defendido pelo modelo, mas as etapas em si poderiam ser totalmente diversas.
Quanto à questão do gradualismo no processo de internacionalização, Johason e
Vahlne (1990) também fizeram algumas considerações. Os autores identificaram três
exceções, onde o comprometimento poderia não ser lento e gradual:
- Quando as firmas tivessem grandes recursos, as consequências de um
comprometimento de recursos seriam pequenas, então firmas grandes ou com excedente de
recursos provavelmente farão passos maiores e menos graduais em seus processos de
internacionalização;
- Quando as condições do mercado são estáveis e homogêneas, os conhecimentos
relevantes sobre o mercado podem ser obtidos de outra forma que não a experiência;
- O conhecimento obtido em um mercado muito similar pode ser generalizado para o
mercado em que se deseja atuar, evitando assim parte do processo de acúmulo de
conhecimento e acelerando o processo.
O Modelo de Uppsala sofreu outras críticas significativas, algumas delas foram
comentadas pelos próprios Johanson e Vahlne (1990). Uma delas feito por Reid, Turnbull e
Rosson (apud JOHANSON e VAHLNE, 1990, p. 14) é que o modelo seria muito
determinístico. Esses autores defendem e comprovam empiricamente que as firmas teriam a
opção de fazer escolhas estratégicas quanto ao modo de entrada e suas atividades de expansão
39
no mercado estrangeiro. Johanson e Vahlne (1990) julgam o argumento válido, mas não o
consideram contrário ao modelo em si. O modelo foi um esforço consciente de se capturar um
mecanismo com forte poder de explicação sobre o amplo aspecto de manifestações do
fenômeno de internacionalização da firma. Ele pode ser entendido como um argumento de
desenvolvimento e diferenciação do modelo.
Já Forsgren (apud JOHANSON e VAHLNE, 1990, p. 14) aponta que o modelo só
seria relevante para empresas nos primeiros estágios de internacionalização, onde a falta de
conhecimento de mercado ainda é um fator limitador. Essa crítica é suportada pelo fato que a
maioria das comprovações empíricas do modelo vem de estudos que analisam os estágios
inicias da internacionalização.
Outros autores, como Hedlund e Kverneland (apud JOHANSON e VAHLNE, 1990, p.
14), acreditam, baseados em suas pesquisas empíricas, que a internacionalização se tornou um
processo tão generalizado que a falta de conhecimento de mercados estrangeiros específicos
não é mais um limitador da velocidade e do padrão dos processos de internacionalização.
Assumindo que a internacionalização dos mercados é um processo irreversível, o resultado
seria que o Modelo de Uppsala se tornaria cada vez menos válido no futuro. Aqui há uma
discordância na interpretação dos dados empíricos, que segundo Johanson e Vahlne (1990),
na verdade, comprovariam o Modelo de Uppsala.
Nordström (apud JOHANSON e VAHLNE, 1990, p. 15) também faz uma crítica ao
modelo, segundo ele o mundo está se tornando cada vez mais homogêneo, e, portanto a
importância explanatória da distância psíquica nos processos de internacionalização, estaria
declinando. Essa crítica levou os autores a repensarem o conceito de distância psíquica, em
um trabalho posterior (JOHANSON e VAHLNE, 2003) eles afirmaram que embora
originalmente o conceito fosse aplicado a distância entre duas nações, ele parece ser mais
apropriado às organizações ou até mesmo indivíduos (DIB 2008).
Outra crítica comum ao modelo é quanto a sua aplicação na indústria de serviços.
Existem alguns trabalhos empíricos que comprovam a transferência da teoria do ambiente
industrial para o de serviços e outras que a refutam (JOHANSON e VAHLNE, 1990).
Johanson e Vahlne (1990) concluem que apesar do tema de internacionalização ter
captado a atenção de muitos pesquisadores, houve poucas tentativas de desenvolvimento
conceitual. Isso aconteceria porque o tema envolve muitas tradições teóricas (teoria
40
econômica, organizacional e teoria de marketing), e os pesquisadores costumam se sentir
confortáveis discutindo apenas uma dessas tradições. Assim os economistas tendem a analisar
as razões econômicas, enquanto os adeptos da abordagem comportamental analisam as
questões organizacionais, sem que ninguém integre as duas visões em uma mesma teoria.
Outro ponto defendido pelos autores é que existe a necessidade de se dar mais atenção as
questões de estratégia da internacionalização. Os autores defendem que o processo de
internacionalização é fruto de uma mistura de pensamento estratégico, ações estratégicas,
desenvolvimentos emergentes, acaso e necessidades. Então, seria proveitoso analisar a
internacionalização das firmas considerando todos esses fatores.
Posteriormente, Johanson e Vahlne (2003) adicionam um novo elemento ao modelo, o
network. Agregando a estrutura de relacionamentos de negócios como um importante meio de
obtenção de conhecimento e experiência. A introdução desse elemento torna o modelo mais
complexo, mas permite sua manutenção, já que ele parece ainda ser válido. Ao mesmo tempo
esse elemento, adiciona ao modelo novas funções que permitem entender um importante
fenômeno do mundo dos negócios moderno. O Modelo de Uppsala foi o primeiro a usar a
abordagem comportamental no campo da internacionalização. Abrindo caminho para outros
modelos que não utilizam fatores puramente econômicos para a explicação dos processos de
internacionalização, como o modelo de Networks, explorado a seguir.
2.2.3 A Perspectiva de Networks
Como o Modelo de Uppsala a perspectiva de Networks também teve sua origem
acadêmica na Europa. Segundo Johanson e Matsson (1988) as empresas estabelecem
relacionamentos de longo prazo umas com as outras. O conjunto desses relacionamentos de
longo prazo formaria o network, ou rede de relacionamento, da empresa. Os autores tentaram
mostrar como esses laços influenciariam os processos e decisões de internacionalização.
Segundo Johanson e Mattson (1988), o sistema industrial é composto por firmas
individuais que se ocupam da produção, distribuição e uso de bens e serviços. Existe uma
divisão de trabalho entre diferentes firmas, o que significa que essas firmas são dependentes
umas das outras.
Por exemplo, para se colocar um automóvel no mercado é necessária uma divisão de
trabalho entre várias firmas diferentes, como pode ser observado na figura 2.2. Uma empresa
41
de mineração vende minério de ferro extraído de suas jazidas para uma siderúrgica. A
siderúrgica por sua vez transforma esse minério de ferro em aço e o vende para a uma
montadora. A montadora utiliza o aço para a fabricação do automóvel. Em seguida a
montadora vende esse automóvel para uma concessionária que o disponibiliza para o
consumidor final.1
Figura 2.2: Exemplo de Divisão do Trabalho (indústria automobilística simplificado)
Johanson e Mattson (1988) afirmam que as atividades de firmas dependentes umas das
outras teriam que ser coordenadas. Tal coordenação não é atingida através de um plano
central, uma estrutura hierárquica ou através de um mecanismo de preços como em um
modelo de negócios tradicional. Essa coordenação ocorre através de interações entre as firmas
que participam dessa rede de relacionamentos. As firmas são livres para escolher as
contrapartes que desejarem. No entanto, para ganhar acesso aos recursos externos necessários
para se atuar no mercado, uma firma tem que estabelecer uma rede de relacionamentos com
outras firmas. O estabelecimento desses relacionamentos demanda tempo e esforço. Além
disso, são necessários ajustes de qualidade ou quantidade do produto para que uma firma
possa fazer parte da rede de relacionamento da outra, esses ajustes demandam uma
coordenação entre as empresas dependentes. Essa coordenação pode ser atingida através de
planejamentos de produção conjuntos ou através do exercício de poder da parte mais forte
sobre a outra parte.
Fonte: Elaboração do Autor
42
A rede de relacionamentos de uma firma seria composta por quaisquer outras firmas
com as quais a empresa construísse um relacionamento estáveis de longo prazo, incluindo,
mas não limitado a: compradores, fornecedores, parceiros e até mesmo concorrentes. A figura
2.3 mostra uma rede de relacionamentos genérica. Em uma visão mais ampla, as firmas estão
conectadas as redes uma das outras, por exemplo, o fornecedor do seu fornecedor pode fazer
parte da sua rede. É importante ressaltar que apesar da exigência de um relacionamento
estável e de longo prazo, essas redes são dinâmicas, algum novo relacionamento pode ser
estabelecido, agregando uma firma à rede. Analogamente, velhos relacionamentos podem ser
descontinuados por alguma razão, por exemplo, por ação de uma concorrente (JOHANSON e
MATTSON, 1988).
Figura 2.3: Rede de relacionamentos
Em um trabalho posterior, Johanson e Mattson (2003) identificaram três tipos de
aprendizado que seriam alcançados por uma empresa através de sua rede de relacionamentos;
(1) Em um relacionamento de cliente e fornecedor uma empresa aprenderia características
específicas do seu parceiro; (2) Interagindo com um parceiro, aprenderia habilidades
transferíveis; (3) Aprenderia como coordenar atividades dentro de um relacionamento com
outro relacionamento, aprendendo a desenvolver uma rede de relacionamentos. Em suma,
essas redes permitem que uma firma conheça as capacidades e limites umas das outras, seu
acesso a recursos e suas características comportamentais.
Segundo Johanson e Mattson (1988), todas as firmas possuem recursos essenciais para
o desenvolvimento de seus negócios, esses recursos podem ser tanto tangíveis (máquinas,
equipamentos, instalações, etc.) quanto intangíveis (capital intelectual, capital humano,
marcas registradas etc.). Esses ativos seriam necessários para as empresas executarem sua
Fonte: Elaboração do Autor
43
produção, ações de marketing, de desenvolvimento, entre outras atividades. Alguns desses
ativos são controlados diretamente pela própria empresa, e por isso são denominados ativos
internos. No entanto, um dos pressupostos básico da teoria dos Networks é que as empresas
dependem também de recursos controlados por outras empresas, e só é possível ganhar acesso
à estes através de sua posição na rede de relacionamento. Esses ativos não seriam diretamente
controlados pela empresa, mas sim alcançados através de sua rede de relacionamento.
Considerando que o desenvolvimento de uma posição em uma rede de
relacionamentos demanda tempo e esforço, Johanson e Mattson (1988) consideram a posição
de uma empresa em uma rede de relacionamento como um ativo intangível da mesma.
Segundo Johanson e Mattson (1988) o fenômeno da internacionalização pode ser
abordado seguindo a perspectiva dos Networks. No modelo de Networks a internacionalização
de uma firma ocorre quando essa estabelece e desenvolve uma posição na rede de
relacionamentos de uma contraparte estrangeira. Isso pode ocorrer de três maneiras:
- Extensão Internacional: Através do desenvolvimento de posições em redes
estrangeiras onde até então a firma não estava presente;
- Penetração: Desenvolvendo sua posição e aumentando o comprometimento de
recursos em redes estrangeiras onde a firma já possua alguma posição;
- Integração Internacional: Aumentando o nível de coordenação entre suas posições
em diferentes redes estrangeiras;
Segundo a perspectiva dos Networks um mercado tem alto ou baixo grau de
internacionalização dependendo do número e da intensidade de relacionamentos entre
empresas nacionais e estrangeiras. Segundo este modelo, o termo “internacionalização”
significaria o aumento no número e na intensidade das relações entre empresas de diferentes
partes do mundo (JOHANSON e MATTSON, 1988).
Dib (2008) também discute a relação entre a perspectiva de Networks e a
internacionalização. A base da teoria de Networks é a ideia de que as empresas são
dependentes de recursos controlados por outras empresas, logo, a força motriz para a
internacionalização seria o desejo de se utilizar recursos, disponíveis em Networks
internacionais, para alcançar os objetivos da empresa.
44
2.2.4 O Empreendedorismo Internacional
Por muitas décadas foi considerado que apenas grandes firmas multinacionais
atuariam em negócios globais. Como consequência as teorias de negócios internacionais
buscaram entender o comportamento dessas firmas. No entanto, é crescente o entendimento
de que pequenas firmas empreendedoras tem um papel relevante nos negócios internacionais.
(MITGWE, 2006).
McDougall (1989) considera o Empreendedorismo Internacional como o campo de
estudo que integra outros dois outros campos de estudo o empreendedorismo e os negócios
internacionais. A autora constata que a pesquisa em negócios internacionais realizadas até
então, assumem que a empresa estudada já existia, ignorando assim o Empreendedorismo
Internacional.
Posteriormente, Oviatt e McDougall (1994), identificaram uma série de estudos de
casos que demonstram a importância de novos empreendimentos internacionais. Em seguida,
os autores definiram novos empreendimentos internacionais como (OVIATT e
MCDOUGALL, 1994):
(...) organizações de negócios que, desde início, buscam obter vantagens
competitivas significativas através do uso de recursos e a venda de produtos em
múltiplos países. A característica que distingue essas “start-ups” é que sua origem é
internacional, como demonstrado pelo observável e significante comprometimento
de recursos (material, pessoas, investimento, tempo) em mais de uma nação. O foco
aqui é na idade da firma quando ela se torna internacional, não no seu tamanho. Em
contraste com as organizações que evoluem gradativamente de uma firma doméstica
para uma empresa multinacional, esses novos empreendimentos começam com uma
estratégia internacional proativa. No entanto, eles não necessariamente são donos de
ativos estrangeiros, em outras palavras, investimento estrangeiro direto não é um
requisito. Alianças estratégicas podem ser arranjadas para o uso de recursos
estrangeiros, tais como capacidade de manufatura e marketing (...) (OVIATT, B.
M.; MCDOUGALL, P. P. Toward a theory of international new ventures.
Journal of International Business Studies, 25/1, p.49, 1994.)
Reconhecendo os problemas em aplicar a teoria tradicional de internacionalização a
esses novos empreendimentos internacionais, Oviatt e McDougall (1994) propuseram utilizar
elementos da teoria de negócios internacionais (como análises de custo de transação,
imperfeições de mercado e internalização) incorporando-os a conceitos do campo de
empreendedorismo e de gerência estratégica. Os autores ilustraram sua teoria com o esquema
mostrado na figura 2.4:
45
Figura 2.4:Elementos Necessários e Suficientes para um Novo Empreendimento
Internacional Sustentável
Fonte: Oviatt e McDougall (1994)
A figura começa no quadrado do canto superior esquerdo, que representa todas as
transações econômicas. Em seguida, são descritos quatro elementos necessários e suficientes
para novos empreendimentos internacionais sustentáveis, em quatro grandes flechas, que
progressivamente distinguem essas transações em subcategorias
O primeiro elemento é a “Internalização de algumas transações”. Esse elemento
distingue as transações que ocorrem dentro das organizações daqueles que são governados
pelo mercado. Organizações só existem quando houver algumas vantagens em se internalizar
algumas transações, ou seja, quando houver imperfeições de mercado. Essa condição é
necessária para qualquer tipo de organização, seja ela doméstica ou internacional; nova ou
pré-estabelecida (OVIATT e MCDOUGALL, 1994).
Nesse subgrupo de transações, denominado “Organizações”, é aplicado o segundo
elemento, “Estruturas alternativas de governança”. Esse segundo elemento segrega as
transações de firmas pré-estabelecidas daquelas associadas a novos empreendimentos. Os
novos empreendimentos optam por internalizar somente uma pequena parte dos seus recursos
essenciais, pois os mesmos não têm grandes recursos a sua disposição, o que dificulta a
46
aquisição e manutenção de ativos. Empreendedores têm então que buscar novas alternativas
para controlar ativos importantes. Algumas dessas alternativas são: licenciamento, franquias e
o uso de Networks (OVIATT e MCDOUGALL, 1994).
O subgrupo de “Novos empreendimentos” é em seguida testado observando o terceiro
elemento necessário e suficiente para novos empreendimentos internacionais sustentáveis,
“Vantagem de localização no estrangeiro”. Aqui os empreendimentos domésticos são
separados daqueles com caráter internacional. As firmas se internacionalizam porque
encontram uma vantagem em transferir recursos móveis (como matéria prima, ou produtos
intermediários e etc.) de um país para ser combinado com recursos imóveis (ou menos
móveis) em outro país (DUNNING, 1988). No entanto, as empresas locais têm vantagens em
relação às estrangeiras (barreiras institucionais, culturais e linguísticas são desvantagens das
empresas estrangeiras), tradicionalmente essas desvantagens eram superadas através de
ganhos de escala. Porém, novos empreendimentos não contam com tais ganhos de escala, eles
superam as desvantagens de ser uma firma estrangeira através de conhecimento.
Conhecimento é um recurso altamente móvel, que pode ser transferido de um país para outro,
literalmente na velocidade da luz, devido os avanços nas áreas de comunicação e tecnologia.
Um exemplo destacado por Oviatt e McDougall (1994) são softwares que demoram anos para
serem desenvolvidos, mas uma vez feitos podem ser copiados e usados infinitamente à um
custo marginal insignificante.
Por fim, o grupo restante, “Novos empreendimentos Internacionais” é submetido ao
quarto, e último, dos elementos. O elemento “Recursos únicos” separa os empreendimentos
internacionais sustentáveis daqueles que provavelmente terão uma curta duração. Como a
vantagem desses novos empreendimentos são seus conhecimentos, é vital que ele não possa
ser facilmente imitável. Os novos empreendimentos têm a sua disposição algumas alternativas
para evitar tais imitações: patentes, copyrights e segredos comerciais são algumas delas
(OVIATT e MCDOUGALL, 1994).
Posteriormente alguns autores se dedicaram a estudar a figura do empreendedor e
como suas características afetam o comportamento internacional de uma empresa. Segundo
Andersson (2000) definiu o empreendedor como um indivíduo que está realizando atividades
empreendedoras. Logo, em sua definição não é relevante se o empreendedor é o fundador ou
dono de uma empresa, ele pode ser um gerente ou outro funcionário. Segundo Schumpeter
47
(1934), o empreendedor seria aquele que introduz novos produtos, novos métodos de
produção, abre novos mercados, conquista novos fornecedores e reorganiza uma indústria.
Mais recentemente, o próprio termo Empreendedorismo Internacional foi atualizado
por Oviatt e McDougall (2005). Segundo os autores: “Empreendedorismo Internacional é a
descoberta, a criação, avaliação e exploração de oportunidades através das fronteiras
nacionais, para criar produtos e serviços futuros” (p. 540). Os autores também afirmam que
seria desejável uma maior colaboração no futuro entre especialistas no campo do
empreendedorismo e no campo de negócios internacionais para acelerar os estudos em
Empreendedorismo Internacional.
2.3 Born Globals
Em um estudo sobre exportadores de produtos com alto valor agregado na Austrália,
realizado enquanto trabalhava na consultoria McKinsey, Rennie (1993) notou a existência de
um número crescente de jovens pequenas e médias empresas que competiam, com sucesso,
contra grandes corporações já estabelecidas globalmente. Essas firmas não consolidaram sua
posição no mercado local antes de buscar novas oportunidades no mercado internacional, elas
nasceram global. Segundo o autor essas firmas se internacionalizaram, em média, apenas dois
anos após sua fundação e tinham grande sucesso em mercados de nicho.
Rennie (1993) nomeou essas empresas “Born Globals”. O autor então comparou o
desenvolvimento dessas empresas, vis-à-vis as empresas tradicionais, ou seja, aquelas que
tinham, depois de atingir um tamanho significativo em seu país de origem, passado por um
processo gradual e incremental de internacionalização, os resultados estão apresentados na
figura 2.5:
48
Figura 2.5: Tipos de manufaturas de alto valor agregado
Fonte: Adaptado de Rennie (1993)
Ainda na primeira metade da década de 1990 Rennie foi capaz de prever a importância
que essas novas firmas teriam no futuro. Um reflexo dessa importância é que o estudo das
Born Globals não ficou restrito as consultorias, o tema vem recebendo atenção de vários
acadêmicos. Bell e McNaughton (2000) sintetizaram as diferenças entre as firmas tradicionais
e as Born Globals, no quadro 2.1.
Vários autores se propuseram a definir o que seria uma Born Global. Embora, as
definições sejam diferentes em alguns pontos específicos, como por exemplo, qual seria a
proporção mínima de vendas oriundas do mercado externo para uma empresa ser considerada
uma Born Global, todas possuem uma base comum. Segundo, Madsen e Servais (1997), Born
Globals são empresas que desde seu nascimento, ou logo após, têm como objetivo o mercado
internacional ou até mesmo global.
Alguns fatores proporcionaram o surgimento desses tipos de empresa. Um dos mais
importantes deles está ligado às tendências do mercado consumidor. A busca por produtos
cada vez mais especializados e customizados criou mercados de nicho. As pequenas e médias
empresas se especializam em atender as necessidades de um mercado de nicho especifico, já
que elas seriam mais dispostas a abrir mão da economia de escala adaptando seu produto as
necessidades únicas de cada cliente (RENNIE, 1994).
76
2
12
12
15
20
27
12
37
10
Propensão a exportar(% das vendas)
Idade ao iniciar a exportação(em anos)
Valor Exportado(em milhões de dólares de 1993)
Experiência em exportações(em anos)
Taxa de crescimento(%)
Empresas Tradicionais Born Globals
49
Quadro 2.1: Diferença no Comportamento de firmas tradicionais e Born Globals
Firmas Tradicionais Born Global
Motivação para a Internacionalização
Reativo Condições adversas no mercado doméstico Gerência Relutante Custo de novo processo de produção "força" o início da exportação Puxado pela demanda (pedidos não solicitados)
Proativo Mercados Globais de Nicho Gerência Engajada Internacional desde sua concepção Busca ativamente oportunidades internacionais
Objetivos Internacionais
Crescimento / Sobrevivência da Firma Aumento do volume de vendas Ganho de market share Estender o ciclo de vida do produto
Vantagem competitiva Vantagem de "first-mover" "Locking-in" dos consumidores Penetração rápida em nichos ou segmentos globais Proteger e explorar conhecimento
Padrão de Expansão Internacional
Incremental Expansão doméstica primeiro Foco em mercado físicos, de baixa tecnologia e menos sofisticados Evidência limitada de Networks
Concorrente Expansão doméstica e de exportação quase simultâneas (exportação pode preceder atuação no mercado doméstico) Foco em mercado "de ponta" Acompanha clientes em empreitadas internacionais Forte evidência de Networks
Velocidade da Internacionalização
Lenta / Gradual Um mercado internacional de cada vez Adaptação dos produtos existentes
Rápida Múltiplos mercados por vez Desenvolvimento de novos produtos globais
Método de Distribuição / Modo de Entrada
Convencional Uso de agentes / distribuidores ou atacadistas Vendas diretas ao consumidor
Flexível Uso de agentes / distribuidores mas também evidências de integração com canais de clientes, uso de licenciamento, joint ventures, produção internacional e etc.
Estratégia Internacional
Ad-hoc e oportunista Evidências de manutenção de um comportamento reativo a oportunidade de exportação Expansão para novos consumidores e mercados não relacionados entre si
Estruturada Evidências de uma abordagem planejada para a expansão internacional Expansão da network internacional
Fonte: Adaptado de Bell e McNaugton (2000)
Rennie (1994) também destacou os avanços tecnológicos e nos sistemas de
informação. Estes possibilitam que pequenas empresas atinjam um nível de qualidade
semelhante ao das grandes corporações. Ao diminuir os ganhos de economias de escala,
fazem com que pequenas empresas pudessem competir com grandes empresas em custo.
Madsen e Servais (1997) incluíram também os avanços tecnológicos na área de transporte,
como um impulsionador do surgimento das Born Globals.
50
Outro fator seria os avanços tecnológicos nos sistemas de comunicação. Estes fazem
com que comunicações globais não sejam mais exclusividades de empresas de grande porte.
(RENNIE, 1994).
Segundo Rennie (1994) a redução do ciclo de vida de produtos também é um dos
fatores que impulsionaram o surgimento das Born Globals. Essa redução seria uma
consequência dos avanços tecnológicos e nos sistemas de comunicação. A redução do ciclo de
vida dos produtos faz com que os mercados sejam mais dinâmicos, favorecendo empresas de
pequeno porte que tipicamente são mais flexíveis e por isso se adaptam mais rapidamente as
mudanças no mercado.
Posteriormente, Madsen e Servais (1997) destacaram a importância da evolução dos
recursos humanos. Segundo os autores, nas últimas décadas do século XX o número de
pessoas que tinham experiência internacional e/ou eram capazes de se comunicar e
desenvolver negócios em países estrangeiros aumentou consideravelmente. Foi desenvolvida
assim a geração de empreendedores que iniciou o fenômeno das Born Globals.
Ainda segundo Rennie (1994), o fenômeno das Born Globals não é específico de
nenhum setor. O estudo encontrou empresas Born Globals até mesmo industrias mesmo
industrias consideradas em declínio. Madsen e Servais (1997) embora concordem que o
fenômeno ocorre em múltiplas industrias, reconheceram que o mesmo é concentrado em
setores de alta tecnologia.
As grandes diferenças, no comportamento e no processo de internacionalização, entre
as Born Globals e as empresas tradicionais (quadro 2.1) fazem com que as políticas públicas
tenham que ser revistas para suportar o crescimento desse novo tipo de firma. Segundo Bell e
McNaughton (2000), firmas tradicionais necessitam de estímulos para iniciar ou aumentar seu
nível de comprometimento com o comércio internacional. Porém, devido ao caráter proativo
das Born Globals em relação ao tema o valor desses programas de estímulo à exportação é
questionável. O que não significa que organizações de incentivo à exportação não tenham seu
papel em dar suporte as Born Globals, pelo contrário os autores destacam que devido o ritmo
acelerado de internacionalização dessas empresas elas demandam níveis maiores de
assistência. Além das organizações de incentivo à exportação, as Born Globals necessitam de
uma maior colaboração de outras agências de suporte a inovação.
51
Ainda segundo Bell e McNaughton, uma das funções das organizações de incentivo à
exportação, no contexto introduzido pelas Born Globals, é ser uma fonte de “inteligência de
mercado” para essas empresas, e também direcioná-las para fontes secundárias de
informações. Além de ajudar as firmas a desenvolverem relacionamentos com empresas
internacionais e a acessar Networks internacionais através de outras empresas do mercado
doméstico.
Apesar das grandes diferenças entre o comportamento de empresas tradicionais e de
Born Globals (quadro 2.1), pode haver firmas que iniciam seu processo de
internacionalização como as empresas tradicionais o fazem, mas em um segundo momento
adotam características típicas das Born Globals. Chetty e Campbell-Hunt (2004) observaram
a existência de empresas na Nova Zelândia que iniciavam seu processo de internacionalização
de maneira tradicional, entrando no mercado vizinho, a Austrália. Porém, o desenvolvimento
posterior de sua empreitada internacional, obedecia o previsto no modelo das Born Globals.
Essas firmas eram levadas a entrar múltiplos mercados estrangeiros simultaneamente para
rapidamente se aproveitar de um produto inovador, se focavam em um nicho do mercado
global e usavam extensivamente Networks.
A maioria dos estudos empíricos sobre Born Globals foi conduzida em países
desenvolvidos. Em um dos estudos que testa o fenômeno no contexto de um país emergente,
Dib, Rocha e Silva (2010) identificaram três conjuntos de variáveis que, de acordo com a
literatura, parecem explicar porque uma firma segue a estratégia de internacionalização típica
das Born Globals, em detrimento das estratégias seguidas por empresas tradicionais. Os
conjuntos de variáveis descritos no quadro 2.2.
Quadro 2.2: Variáveis e Sub-Variáveis do Modelo
Variáveis relativas a Firma Variáveis relativas a Networks Variáveis relativas ao empreendedor
Ativos intangíveis únicos Uso de parcerias Orientação internacional
Capacidade de Inovação Uso de redes de negócios Experiência internacional
Especialização ou Foco Inserção em "Clusters" Educação internacional
Orientação para o consumidor Tolerância ao risco
Diferenciação de produto "Know-how" técnico
Vantagens tecnológicas
Uso de TI
Fonte: Dib, Rocha e Silva (2010)
Em seguida foi formulada a hipótese de que as variáveis relativas a firma, network e
ao empreendedor, eram associadas com o tipo de estratégia de internacionalização utilizado
52
pela empresa alvo da pesquisa (Born Global ou tradicional). Regressões logísticas binárias
foram usadas para testar as hipóteses formuladas. As empresas testadas foram 79 produtoras
de software brasileiras, das quais 35 seguiram o processo de internacionalização típico das
Born Globals e 44 seguiram o processo tradicional (DIB, ROCHA e SILVA, 2010).
O estudo sugere que as Born Globals foram mais inovadoras, mais orientadas ao
consumidor, seus empreendedores tinham um conhecimento técnico maior e eram mais
sensíveis em relação ao risco associados às operações em um mercado internacional do que as
empresas que apresentam um processo de internacionalização gradual (tradicional). Esse
resultado é coerente com a literatura teórica sobre o tema. No entanto, as outras variáveis
testadas não apresentaram diferenças significativas entre os dois tipos de empresa
pesquisados. Os autores ressalvam que algumas características históricas do Brasil podem ter
influenciado os resultados. Principalmente, o fechamento econômico que vigorou até a década
de 1990, que pode ter impedido que algumas firmas entrassem mais cedo em mercados
estrangeiros. Essas firmas talvez tivessem características de Born Globals, mas por causa das
barreiras institucionais encontradas no país foram impedidas de expandir rapidamente para
mercados estrangeiros. Esse ambiente singular pode ter obscurecido as diferenças entre os
dois grupos (DIB, ROCHA e SILVA, 2010).
2.4 Sumário das Teorias de Internacionalização
Esse capítulo buscou abordar algumas das principais teorias de internacionalizações
apresentando tanto a abordagem econômica quanto abordagem comportamental, além do
fenômeno das Born Globals, que parece não se adequar a nenhum modelo tradicional de
internacionalização. Algumas teorias econômicas como os modelos de comércio
internacional, as teorias de portfólio de investimentos e o modelo de ciclo de vida, foram
intencionalmente não estudados por apresentar menor relevância no escopo desse trabalho.
A fim de sumarizar as teorias apresentadas o quadro 2.3 apresenta um resumo de cada
uma das teorias.
53
Quadro 2.3: Sumário das Teorias de Internacionalização Apresentadas
Teoria Descrição
Teoria do Poder de Mercado
Essa teoria desenvolvida por Hymer (1960) defende que em um primeiro momento as empresas buscam aumentar sua participação em seu mercado doméstico, através do aumento de sua capacidade produtiva, fusões e aquisições. Com o passar do tempo aumentar seu poder no mercado doméstico ficaria mais e mais difícil devido a concentração do mesmo. Nesse momento a empresa decidiria então usar os lucros obtidos em seu mercado doméstico para financiar a entrada em um mercado estrangeiro, aonde ela repetiria o processo de conquista e concentração do mercado.
Internalização
Proposta por Buckley e Casson (1976), segundo essa teoria as empresas contam com duas formas de obter produtos intermediários: (1) Buscando no mercado tal produto ou (2) internalizando sua produção. Uma ou outra forma seria mais eficiente dependendo dos custos de transação envolvidos, e é justamente buscando uma maior eficiência, através da redução de custos ou de riscos, que as firmas se internacionalizariam.
Paradigma Eclético
Segundo essa teoria, desenvolvida por Dunning (1977), as empresas se internacionalizariam para explorar ou desenvolver uma vantagem de propriedade. Uma empresa se internacionalizaria para uma localidade em que acredita ter uma vantagem sobre as empresas locais, e onde é mais vantajoso utilizar tal vantagem internamente do que vendê-la no mercado (através de um licenciamento, por exemplo). Alternativamente, outro motivo para a internacionalização seria a busca por uma vantagem de propriedade, por tanto uma empresa poderia entrar em um mercado estrangeiro buscando acesso a uma determinada tecnologia ou a um novo mercado consumidor.
Modelo de Uppsala
Originado na Universidade de Uppsala esse modelo defende que o processo de internacionalização ocorre em estágios sequenciais com gradual aumento de comprometimento da empresa. A princípio as empresas têm poucas informações sobre o mercado estrangeiro e por isso optam por modos de entradas que exigem menor comprometimento, como a exportação de mercadorias, conforme a empresa adquire mais conhecimento sobre o mercado ela aumento seu grau comprometimento, chegando até o investimento produtivo direto. Ainda segundo a teoria as empresas escolhem entrar primeiro em países que ela considera similar a seu país de origem, ou sejam que apresentam uma menor distância psíquica.
Networks
Essa perspectiva considera que os mercados são compostos por redes de relacionamento entre as empresas. Uma firma se engajaria no processo de internacionalização para acessar uma nova rede de relacionamento internacional ou para seguir alguma firma em sua rede de relacionamento local.
Empreendedorismo Internacional
Diferente das teorias tradicionais que assumem que as empresas foram fundadas bem antes da sua internacionalização, essa teoria proposta por McDougall (1989) analisa o processo de internacionalização de firmas jovens e de startups. A figura do empreendedor e sua experiência internacional são os principais fatores que levam uma empresa a se internacionalizar nessa teoria.
Born Globals
Rennie (1993) foi o primeiro a notar a existência de um novo tipo de firma, que já são concebidas com o objetivo de alcançar mercados internacionais. Essas empresas normalmente atuam em um mercado de nicho com abrangência global.
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Carneiro e Dib (2007) apresentam uma maneira interessante de resumir os principais
aspectos de uma data teoria, os autores propõem que “as principais dúvidas acerca do
processo de internacionalização de empresas sejam sintetizadas em cinco questões básicas:
por quê, o quê, quando, onde e como as empresas internacionalizam” (CARNEIRO e DIB,
2007, pág.5). O quadro 2.4, abaixo, procura responder essas questões para as teorias descritas
nesse trabalho. Em “por quê” encontramos os motivos, justificativas e condições que levam
ao processo de internacionalização. Em “o quê” tentamos entender o alvo do processo, sejam
produtos, serviços, tecnologias ou outras atividades. “Quando” abrange em qual momento o
processo se inicia, assim como sua progressão posterior. “Onde” busca entender o país ou
região escolhido. E finalmente, “como” aborda o modo de entrada, o grau de controle e o
modo de operação.
Quadro 2.4: Respostas das Teorias às Questões Básicas da Internacionalização
Por quê? O quê? Quando? Onde? Como?
Poder de Mercado
Busca de novos mercados. Otimizar recursos, competências ou explorar imperfeições nos mercados.
Não especificado. É implícito que tanto produtos e serviços podem ser alvos do processo de internacionalização.
Conforme surgisse uma oportunidade de consolidar sua posição de monopólio no país de origem ou quando fosse necessário buscar novos mercados
Localidades passíveis de conluio e concentração de mercado.
Investimento estrangeiro direto, com controle da operação no estrangeiro ou exportação.
Internalização
Garantir a eficiência e a redução de riscos de fazer negócios com terceiros no exterior.
Não especificado. Entende-se que o escopo seja amplo incluindo produtos, serviços e tecnologias.
Quando o custo de se produzir o recurso internamente no estrangeiro fosse menor do que obtê-lo no mercado.
Onde houver a possibilidade de maximização de lucros.
Existe um modo ótimo de entrada (controle, licenciamento, sub-contratação, etc) dependendo da configuração dos custos de transação do mercado.
Paradigma Eclético
Explorar ou desenvolver vantagens de propriedade, como por exemplo: redução de custo, acesso a mercados consumidores ou a tecnologias.
Não especificado. Entende-se que o escopo seja amplo incluindo produtos, serviços e tecnologias.
Quando a firma desejasse alcançar uma vantagem de localização presente em um país estrangeiro, para maximizar seu lucro ou por questões estratégicas.
Onde houver vantagens de localização, como incentivos fiscais ou amplo mercado consumidor.
Exportação, licenciamento ou investimento direto, dependendo de qual opção apresentasse maiores vantagens de propriedade, localização e internalização.
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Por quê? O quê? Quando? Onde? Como?
Modelo de Uppsala
Busca de novos mercados
Não especificado. Entende-se que o escopo seja amplo incluindo produtos, serviços e tecnologias.
O processo se iniciaria quando o mercado doméstico estivesse saturado e expandiria conforme a empresa aumentasse seu conhecimento do mercado estrangeiro.
Os países seriam escolhidos em uma sequência inversamente proporcional a distância psíquica em relação ao mercado doméstico.
Em estágios de comprometimento gradual, iniciando-se pela exportação, evoluindo para a presença via um escritório de vendas e culminando no estabelecimento de uma unidade produtiva.
Networks
Desenvolver relacionamentos em redes internacionais ou seguir participantes de sua rede local.
Não especificado. Entende-se que o escopo seja amplo incluindo produtos, serviços e tecnologias.
Quando algum participante de sua rede local de relacionamento solicita ou quando a empresa deseja desenvolver uma posição em uma rede estrangeira.
Países onde a empresa tem interesse em desenvolver uma rede de relacionamento ou países onde as firmas que fazem parte de sua rede doméstica possuem operações.
Depende do grau de internacionalização da própria firma.
Empreendedorismo Internacional
Procura de novos mercados ou por uma restruturação da indústria.
Não especificado. Entende-se que o escopo seja amplo incluindo produtos, serviços e tecnologias.
Quando o empreendedor achar adequado.
Onde houver demanda potencial ou oportunidades de restruturação.
Via exportação, licenciamento, criação de novos canais e, até mesmo, fusões e aquisições.
Born Globals
As empresas nascem com o objetivo de alcançar o mercado global, muitas vezes desejam explorar mercados de nicho globais ou obter as vantagens de "first-mover"
Não especificado. Entende-se que o escopo seja amplo incluindo produtos, serviços e tecnologias.
No momento ou logo após sua fundação. Inclusive a exportação pode preceder a atuação no mercado doméstico.
Múltiplos mercado internacionais são explorados simultaneamente. Forte evidência do uso de Networks para alcançar os mercados estrangeiros.
Bastante flexível com o uso de agentes, distribuidores, integração com o canal dos clientes, uso de joint ventures, produção internacional e etc.
Fonte: Adaptado de Carneiro e Dib (2007)
56
3. DISCUSSÃO DO MÉTODO
Este capítulo aborda o método de pesquisa utilizada no estudo. Inicia-se com a
definição das perguntas de pesquisa e a escolha do melhor método para alcançar os objetivos
da pesquisa. Em seguida são apresentados os procedimentos metodológicos e as críticas ao
método escolhido, que permitiram apontar as principais limitações do trabalho.
3.1 Questões de Pesquisa
A definição da pergunta é fundamental para o sucesso de uma pesquisa. Segundo Yin
(1988) a forma como ela é elaborada fornece um melhor caminho para a execução da
pesquisa, já que alguns tipos de método se adequam melhor a determinados tipos de pergunta.
A pergunta deve apresentar ainda a substância da pesquisa, ou seja, sobre o que ele trata.
O objetivo da pesquisa descrita nesta dissertação foi, a partir do caso de uma das
maiores e mais internacionalizadas empresas brasileiras, analisar desde seu processo de
internacionalização até sua atual configuração internacional sobre a ótica das principais
teorias sobre internacionalização de empresas.
Assim a pergunta principal do estudo foi: “Como o processo de internacionalização e a
atuação internacional da Vale podem ser analisados à luz das principais teorias sobre
internacionalização de empresas?”
As principais teorias contempladas na análise do caso foram: Poder de Mercado,
Internalização, Paradigma Eclético, Modelo de Uppsala, Networks, Empreendedorismo
Internacional e Born Globals, todas devidamente apresentadas no próximo capítulo.
Da pergunta principal da pesquisa, foi possível extrair perguntas secundárias que
também orientaram a pesquisa e coleta de dados, são elas:
- Qual teoria melhor explicaria o processo de internacionalização da Vale?
- Quais são os fatores que contribuem para que uma teoria se afaste ou se aproxime de
fornecer uma melhor explicação para o processo de internacionalização e a atuação
internacional da Vale?
57
3.2 Método de Pesquisa
Segundo Campomar (1991) o método científico foi a forma encontrada pela sociedade
para legitimar o conhecimento empiricamente adquirido, podendo este ser divido em duas
categorias:
- Métodos Quantitativos: Tem como objetivo encontrar medidas e indicadores
mensuráveis através da análise estatística de dados.
- Métodos Qualitativos: Busca entender motivações e percepções dos elementos que
fazem parte da pesquisa, fazendo uma análise mais profunda destes.
Além dessa divisão na forma, alguns autores se concentraram em diferenciar os
estudos segundo seus objetivos. Selltiz (1975) resumiu os possíveis objetivos de uma
pesquisa:
- Familiarização com um fenômeno, levantando ou não hipóteses ou problemas
pesquisáveis no futuro;
- Descrição de uma situação ou de um grupo de indivíduos;
- Verificação da frequência de ocorrência de determinado evento, ou ainda, a
frequência com a qual determinado evento estaria ligado a um outro evento;
-Verificação de uma hipótese de relação causal entre diferentes variáveis
Yin (1988) também se dedicou a explorar os diferentes objetivos que um estudo
poderia assumir. Segundo o autor os estudos poderiam ter objetivos exploratórios, descritivos
ou explanatórios. Além do objetivo, o autor enumerou e descreveu as possíveis estratégias que
poderiam ser empregadas: Experimento, questionários (survey), análise de dados históricos,
análise da história e estudos de caso. A escolha de uma estratégia em detrimento a outra
dependeria de três fatores, o tipo de pergunta, o controle sobre os eventos e se a questão era
contemporânea. O quadro 3.1, na próxima página, resume a estratégia mais adequada para
cada um desses fatores.
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Quadro 3.1: Situações Relevantes para Escolha da Estratégia de Pesquisa
Método Tipo de Pergunta Controle Sobre
Eventos Questões
Contemporâneas
Experimento Como, Por que Sim Sim
Pesquisa (Survey) Quem, Qual, Onde Não Sim
Análise de Dados Históricos
Quem, Qual, Onde Não Sim / Não
Análise Histórica Como, Por que Não Não
Estudo de Caso Como, Por que Não Sim
Fonte: Adaptado de Yin (1988)
Como base no descrito por Yin (1988) a pesquisa apresentada nesta dissertação tem
uma pergunta do tipo “Como, Por que”, já que busca entender como se deu o processo de
internacionalização da Vale e por que a companhia se engajou em tal tarefa para
posteriormente comparar com o que as principais teorias da área. Assim sendo, as opções
disponíveis seriam um experimento, análise histórica ou estudo de caso.
Como pode ser verificado no quadro 3.1, os experimentos são destinados para
situações onde o pesquisador tenha controle dos eventos, podendo de alguma maneira replicá-
los para analisa-los. No caso da internacionalização da Vale isso seria impossível.
Restando as opções análise histórica e estudo de caso. Yin (1988) ressaltou que a
análise histórica lida com eventos no passado, onde não há a possibilidade de entrevistar
pessoas que testemunharam ou tiveram um papel relevante nos eventos pesquisados, fazendo
com que a pesquisa se baseie em documentos históricos. No caso da Vale, os processos de
internacionalização ainda estão ocorrendo, e mesmo para aqueles eventos já encerrados, no
passado, há a possibilidade de entrevistar testemunhas e pessoas com papeis relevantes nos
mesmo.
O estudo de caso utiliza a observação direta dos acontecimentos e entrevista com
pessoas envolvidas, mas também análises históricas. Ou seja, a principal diferença entre os
estudos de caso e a análise histórica é a capacidade da primeira estratégia de lidar com uma
variedade mais ampla de evidências. Todos esses fatos apontam que a melhor estratégia para
o estudo alcançar os objetivos definidos é um estudo de caso. Resumindo as pesquisas quando
o estudo de casos, constitui o melhor método de pesquisa:
59
“Geralmente estudos de casos são a estratégia preferida quando questões do tipo
“como” e “por quê” estão sendo feitas, quando o investigador possui pouco controle
sobre os eventos e quando o foco está sobre um fenômeno comteporâneo num
contexto de vida real” (YIN, R. K. Case Study Research: Design and Methods.
Londres: SAGE Publications, p.13, 1988.)
Yin (1988) também distinguiu estudos de casos múltiplos, onde mais de uma empresa
é observada, e estudos de caso simples, onde somente uma empresa é analisada. Pela própria
proposta desta pesquisa, de analisar a aderência e divergências de várias teorias ao caso de
uma empresa multinacional brasileira, o método utilizado foi um estudo de caso simples.
3.3 Procedimentos Metodológicos
Definido a pergunta de pesquisa e o método de pesquisa, passamos às questões de
operacionalização da pesquisa. Determinando as proposições usadas no estudo, seleção do
caso, a unidade de análise do caso e os procedimentos de coleta de dados.
3.3.1 Proposições
A partir da revisão da bibliografia sobre as teorias de internacionalização foram
estabelecidas proposições para investigar a aderência ou divergência entre o caso da Vale e as
citadas teorias. Como descrito por Yin (1988) as proposições apontam para os fatores que
foram estudados nessa pesquisa. A verificação dessas proposições será a base para a resposta
da nossa pergunta de pesquisa.
O quadro 3.2, na próxima página, apresenta as proposições utilizadas no presente estudo:
60
Quadro 3.2: Proposições do Estudo
Proposição Referência Empresas se internacionalizam para remover um competidor
potencial e se apropriar integralmente dos retornos de certa
habilidade desenvolvida no país natal
Hymer (1960)
O processo de internacionalização tem início quando o mercado local
está em uma situação difícil
Hymer (1960) e Johanson e
Vahlne (1977)
Empresas se internacionalizam buscando internalizar a obtenção de
algum produto ou serviço intermediário, e assim, aumentar sua
eficiência
Buckley e Casson (1976)
As vantagens de localização são fatores fundamentais para uma
empresa decidir se deve se internacionalizar para um país
Dunning (1977)
Empresas se internacionalizam quando acreditam que possuem uma
vantagem em relações as empresas locais
Dunning (1977)
A busca por um recurso natural é um dos motivos que leva uma
empresa ao investimento estrangeiro direto
Dunning (1977)
Proteger ou aumentar suas vantagens de propriedade, assim como,
eliminar ou reduzir as vantagens de propriedade de suas concorrentes
é um dos motivos que leva uma empresa a efetuar um investimento
estrangeiro direto
Dunning (1977)
O comprometimento com mercados estrangeiros é gradual,
aumentando conforme as empresas ganham informações sobre tais
mercados
Johanson e Vahlne (1977)
A internacionalização para um país pode acelerar a
internacionalização para outra, fazendo com que ela seja menos
gradual
Johanson e Vahlne (1977)
Quanto menor a reversibilidade de um ativo o estrangeiro, maior o
comprometimento da empresa com aquele mercado
Johanson e Vahlne (1977)
Empresas são "puxadas" a se internacionalizar por outras empresas da
sua rede de relacionamento (fornecedores, clientes, parceiros...)
Johanson e Mattson (1988)
A figura do empreendedor é fundamental nos processos de
internacionalização de empresas
Anderson (2000)
Existe um novo tipo de empresa, que desde sua fundação busca a
internacionalização. Essas empresas buscam o mercado de
internacional proativamente, se internacionalizando rapidamente e
atingindo múltiplos mercados simultaneamente.
Rennie (1993)
3.3.2 Seleção do Caso
O estudo de caso não segue uma lógica amostral, assim não há necessidade de
aleatoriedade no processo de escolha da(s) empresa(s) analisada(s), podendo o pesquisador
escolher o caso que deseja apresentar de acordo com seus objetivos (YIN, 1988). Baseado
61
nessa premissa iniciou-se o processo de definição da empresa que seria tema do estudo de
caso.
Primeiramente foi necessário optar entre um estudo de caso único ou múltiplos casos.
Sendo o objetivo do trabalhar comparar o caso de internacionalização de uma empresa
multinacional brasileira com várias teorias do tema, foi julgado ser mais apropriado focar em
uma única empresa devido ao grande número de teorias que seriam abordadas. Além das
dificuldades práticas da realização de um estudo de múltiplos casos, o estudo de caso único
possui vantagens como as apontadas por Zanni, De Moraes e Mariotto (2011). Segundo os
autores, estudos de casos únicos permitem gerar insights mais valiosos, já que o foco em um
caso permite uma visão particular, mais profunda, levando a compreensão mais valiosa dos
fenômenos e circunstâncias do que ocorre na comparação de dois casos ou mais. Os estudos
de casos únicos também servem para preencher a lacuna de especificidade deixada pelos
estudos que buscam generalização empírica.
Em seguida, era necessário escolher qual empresa seria tema do caso, observando a
exigência inicial de se tratar de uma multinacional brasileira. Outra característica desejada é
que fosse uma empresa de grande porte e com alto grau de internacionalização. Para a
adequação aos requisitos desejados foram observadas duas fontes de informações:
- A lista das maiores empresas brasileiras, pelo critério de maior receita líquida,
divulgada pelo jornal Valor Econômico, com dados de 2011 (parte da lista é reproduzida no
quadro 3.3)
Quadro 3.3: Maiores Empresas do Brasil
Posição Empresa Receita Líquida em 2011 (R$
milhões)
1 Petrobras 244.176,00
2 Vale 103.195,00
3 JBS 61.796,80
4 Ultra 48.661,30
5 Pão de Açúcar 46.594,50
6 Gerdau 35.406,80
7 Braskem 33.176,20
8 Eletrobras 29.532,70
9 Telefônica Brasil 29.128,70
10 Oi 27.907,00
11 AmBev 27.127,00
62
12 BRF Brasil Foods 25.706,20
13 Carrefour 24.899,70
14 Cosan 24.096,90
15 Volkswagen 24.001,10
Fonte: Jornal Valor Econômico
(http://www.valor.com.br/empresas/2801254/ranking-das-1000-maiores
Acessado em 29/08/2013)
- O ranking das empresas brasileiras com maior presença no exterior divulgado pela
Fundação Dom Cabral, segundo o índice de transnacionalidade. Para empresas que atuam no
exterior a partir de unidades próprias o índice é calculado conforme a fórmula abaixo (parte
da lista é reproduzida no quadro 3.4):
Ativos no Exterior
+
Receitas no Exterior
+
Funcionários no Exterior
Ativos totais Receitas Totais Funcionários Totais
3
Quadro 3.4: Empresas Brasileiras com maior Índice de Transnacionalidade
Posição Empresa Índice de
Transnacionalidade
1 JBS 0,589
2 Gerdau 0,542
3 Stefanini 0,496
4 Magnesita Refratários 0,457
5 Marfrig Alimentos 0,433
6 Metalfrio 0,427
7 Ibope 0,364
8 Odebrecht 0,349
9 Sabó 0,333
10 Minerva Foods 0,32
11 Tigre 0,306
12 Vale 0,283
13 Weg 0,28
14 Suzano 0,271
15 BRF 0,271
Fonte: Fundação Dom Cabral
(http://www.fdc.org.br/imprensa/Documents/2013/ranking_multinacionais_brasileiras2013.pdf
Acessado em 08/10/2013)
O cruzamento dessas duas fontes de informação resultou em uma lista de empresas
desejadas, a escolha final da Vale, como objeto do estudo, derivou da conveniência
63
geográfica, existente de um contato inicial com executivos da empresa, disponibilidade de
dados e atratividade do setor produtivo da empresa. A Vale ainda é a empresa brasileira mais
internacionalizada, no critério números de países com atuação através de subsidiárias. Ao
todo a Vale possui subsidiárias em 31 países.
3.3.3 Unidade de Análise
A unidade de análise delimita o que é o caso, ou seja, aquilo que os pesquisadores se
propõem a pesquisar, e está diretamente relacionada com a pergunta de pesquisa e
preposições do estudo (YIN, 1988). Também limita o que constitui o caso, focando o
pesquisador nos fatores relevantes e assim impedindo a coleta e análise de informações
desnecessárias.
Yin (1988) também descreveu a possibilidade de subunidades de análise, que dão a
oportunidade de uma análise mais profunda, reforçando descobertas e explicações do
fenômeno. Podemos apontar a Vale como um todo como a unidade de análise e as áreas
internacionais da Vale como nossa subunidade.
3.3.4 Coleta de Dados
O método de estudo de caso, permite a coleta de dados em diferentes fontes, podendo
ser utilizadas, entrevistas, publicações, e informações de bancos de dados, além de outras
observações (YIN, 1988). A utilização de múltiplas fontes de dados permite a triangulação
das informações, ou seja, a confirmação e verificação dos dados presentes nas diferentes
fontes, além de dar uma visão mais ampla do objeto de estudo.
No presente trabalho a técnica predominante foram entrevistas em profundidade com
roteiros semiestruturado (APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA). A escolha desse
tipo de roteiro foi feita visando dar liberdade aos entrevistados para compartilhar dados e
informações não previsto na confecção do roteiro ou ainda para possibilitar o aprofundamento
de questões secundárias que surgissem conforme as questões principais fossem sendo
respondidas.
Os entrevistados na pesquisa são ou foram executivos da Vale, dois deles pediram
explicitamente para não serem identificados, Respeitando o desejo dos entrevistados
64
resolvemos então, suprimir o nome dos três e ainda generalizar os cargos daqueles que
pediram que suas entendidas fossem suprimidas. Os três entrevistados foram:
- Um atual diretor da Vale, tendo atuado nas áreas Iniciativas Estratégicas e de
Governança e Gestão da Mudança, na sede da empresa no Rio de Janeiro.
- Um ex diretor com longa história na Vale, tendo atuando nas áreas de Serviços
Compartilhados e Planejamento Logístico entre outros. Esse ex-diretor teve papel ativo em
vários processos de internacionalização, inclusive na compra da Inco, maior movimento de
internacionalização da Vale.
- Um atual diretor, tendo atuado nas áreas de serviço compartilhado e finanças de uma
das operações internacionais da Vale. O executivo se encontra expatriado em um dos
escritórios internacionais da Vale.
As entrevistas juntas tiveram uma duração de aproximadamente três horas e duas delas
puderem ser gravadas com o consentimento do entrevistado.
Além das entrevistas foram utilizadas diversas fontes de dados secundárias tais como
jornais, revistas e estudos de casos prévios sobre a empresa. Também foram utilizadas as
fontes de comunicação oficiais da Vale, site da empresa, comunicados a impressa e relatórios
financeiros e ambientais.
3.4 Críticas ao Método de Estudo de Caso e Limitações do Estudo
Uma vez estabelecido o estudo de caso como método de pesquisa a ser aplicado para
conclusão dos objetivos desse estudo, é importante ressaltar algumas críticas que esse método
encontra, para entendermos não só os ganhos, mas também as limitações da escolha deste.
Good e Hatt (1975) questionam a abordagem intuitiva do método, apoiado apenas na
observação e sem um plano adequado de análise. Também comentam sobre a influência do
ponto de vista pessoal do autor nas inferências retiradas do caso. Segundo o próprio autor a
maneira de evitar esses problemas é traçar um plano de pesquisa e segui-lo, além de buscar a
triangulação dos dados.
Yin (1988) admite que uma das principais críticas ao método é sua pouca estruturação
e falta de rigor metodológico. No entanto, ressalto que esses mesmo problemas assolam
65
outros métodos de pesquisa. A influência do ponto de visto do pesquisador, por exemplo, é
um problema existente em qualquer método de pesquisa, tanto qualitativos como
quantitativos.
Outra crítica recorrente ao método citada por Yin (1988) é a falta de base para a
generalização. O autor concorda com a crítica, estudos de caso não podem ser generalizados
para populações, nem mostram a frequência de determinado evento, porém continua válido e
relevante, pois oferece a possibilidade de expandir e generalizar teorias. Com isso o método
não possibilita uma generalização estatística, mas sim uma generalização analítica.
“O método de estudo de caso não permite generalizações para o universo, a não ser
sob condições específicas, e restritas. Assim, a partir do que encontramos em um
pequeno número de casos não podemos fazer inferências quanto à frequência com
que os fenômenos estudados ocorrem na população. (Podemos, entretanto, afirmar
que determinado tipo de fenômeno (...) pode ocorrer em circunstâncias semelhantes
à(s) do(s) caso(s) estudado(s).)”( ROCHA, A. Estutura básica para o capítulo de
metodologia em teses com base em estudos de caso. Rio de Janeiro, Coppead, p.3,
sem data)
O tempo e recursos necessários para a realização de um estudo de caso também são
frequentemente discutidos. Segundo Yin (1988), diferentes tipos de estudo de casos diferem
muito na quantidade de tempo e recursos necessários a sua realização. Alguns exigem
observações participativas, que geralmente consumem muito tempo e recursos, enquanto
outros podem ser realizados somente com informações secundárias.
Em suma, os estudos de caso recebem críticas, assim como qualquer outra
metodologia de pesquisa, algumas delas com ampla aceitação acadêmica. Assim, como
defendido por Yin (1988), não pode ser considerado como um método informal, sem técnicas
que garantam a qualidade dos dados e das análises obtidas através desses.
O entendimento das críticas feitas ao método de estudo de caso, ajudam a traçar as
limitações do presente trabalho, assim como desenvolver estratégias para mitiga-las. São
limitações dessa pesquisa:
- A presença de viés na análise do pesquisador, dado que o método do caso é uma
abordagem intuitiva baseada na observação participante;
- A presença de viés dos informantes da pesquisa, tanto os entrevistados como as
matérias de jornais e revistas e até as fontes oficiais da companhia estão sujeitas a vieses, a
percepção dos mesmos pode não refletir fielmente a realidade. Como esses são usados como
fonte de dados para as pesquisas, seus vieses são transmitidos a mesma;
66
- Impossibilidade de generalização para uma população.
Para minimizar a influência dos vieses foram usadas múltiplas fontes de dados e
entrevistas com mais de uma pessoa, essa triangulação, permite o descarte de algumas das
informações enviesadas.
Não é o objetivo deste estudo fazer quaisquer generalizações para uma população.
67
4. DESCRIÇÃO DO CASO
O objetivo desse capítulo é apresentar a história da companhia objeto do estudo, a
Vale. Para isso foram utilizadas as fontes oficiais da companhia e reportagens de jornais e
revistas, assim como referência aos autores que se dedicaram ao estudo da mesma. Embora o
foco sejam os movimentos de internacionalização da empresa, outros temas são abordados,
uma vez que são importantes para contextualizar e traçar um panorama da situação
empresarial da companhia.
Por questões didáticas, a história da companhia foi dividida em quatro partes. A seção
4.1.1, traz a história da fundação da Vale, quais foram os objetivos do seu estabelecimento,
assim como o contexto em que a companhia foi criada. Essa análise se mostra fundamental
para entendermos o comportamento da companhia na época em que a mesma era uma
empresa estatal, esse período de sua história é abordado na seção 4.1.2. Por ter um profundo
impacto no comportamento que a companhia adotaria nos anos seguintes, a privatização da
mesma, recebe uma seção, a 4.1.3, dedicada somente a ela. As duas seções seguintes tratam
dos anos da empresa sob a administração privada. Na seção 4.1.4 são analisados os anos
desde a privatização até a crise de 2008 e na seção 4.1.5 os anos a partir da crise até os dias
atuais. A crise de 2008 foi escolhida como divisora entre as seções pela sua importância
mundial na econômica, mas principalmente porque marcou uma mudança no comportamento
empresarial da Vale, sobretudo na sua estratégia de internacionalização.
4.1 A História da Vale
4.1.1 Fundação
A região de Itabira no Estado de Minas Gerais atraiu desde cedo a atividade
mineradora. Acreditava-se que a região conhecida como Pico do Cauê concentrava uma
grande quantidade de ouro. A crença da existência desse minério na região aparece no nome
da região de origem tupi, pedra (Ita) que brilha (bira). No entanto, os garimpeiros que se
instalaram na região não encontraram o cobiçado minério. O brilho da montanha não vinha do
ouro e sim da sua grande quantidade de minério de ferro (Vale: Nossa História, 2012).
68
A descoberta do potencial geológico da região é atribuída a L. F. Gonzaga de Campos
que tentou várias vezes estimar a quantidade de ferro no Estado de Minas Gerais. O trabalho
de Gonzaga foi posteriormente apresentado em um congresso em Estocolmo, Suécia, em
1909. A estimativa de 3.000 milhões de toneladas de minério de ferro causou um grande
interesse internacional na região, já que na época os países desenvolvidos estavam
preocupados com a diminuição de suas próprias reservas minerárias. Uma verdadeira corrida
para garantir acesso aos depósitos minerais do Estado começou logo após o congresso.
Representantes de sindicatos industriais de vários países como Estados Unidos, Reino Unido,
Alemanha, França, Bélgica entre outros demostraram interesse na área (PELAEZ, 1970).
Um grupo de ingleses fundou a Itabira Iron Ore Company, e concentraram seus
investimentos em compra de terras e construção de uma ferrovia para conectar a região a
Estrada de Ferro Vitória-Minas. Essa ligação lhes daria acesso à costa, possibilitando a
escoação da produção por via marítima. Quando a ferrovia já estava pronta, faltando apenas a
etapa de eletrificação da linha, acabaram os recursos financeiros do grupo. O projeto foi
paralisado em 1913 e em seguida, devido o começo da Primeira Guerra Mundial, foi
abandonado (PELAEZ, 1970).
Em 1918 esse grupo de ingleses vendeu o controle de Itabira para um grupo de
empresários do ramo de metais e banqueiros britânicos. Esse novo grupo convidou o
empresário Americano, Percival Farquhar, para representar seus interesses no Brasil
(PELAEZ, 1970).
Farquhar havia atuado na construção de várias ferrovias na América Latina e na
Rússia. Já no Brasil, fundou a Tramways, Light and Power (percursora da Light S.A.). Anos
depois de ser apontado como o representante da empresa no Brasil, Farquhar comprou a
Itabira Iron Ore Company. (Vale: Nossa História, 2012).
Um novo plano de exploração da área foi desenvolvido, com o redesenho da ferrovia.
O Estado de Minas Gerais, em uma manobra para forçar a construção de uma planta de
beneficiamento dentro dos limites do Estado, aumentou a taxa de exportação de minério para
um valor proibitivo, e em seguida ofereceu um desconto de 90% para aqueles produtores que
estabelecessem uma planta de beneficiamento no Estado. Com isso, o plano de Farquhar
passou a incluir tal planta de beneficiamento. O efeito colateral e indesejado dessa estratégia
do governo de Minas Gerais é que ela permitiu que a Itabira Iron Ore Company obtivesse o
monopólio das exportações e do mercado doméstico de ferro (PALAEZ, 1970).
69
Porém, uma série de disputas tanto no nível federal quanto estatual, além do ataque
vindo da imprensa brasileira na época, paralisou novamente o projeto, em 1920. Somente em
1928, a empresa conseguiu um acordo com o governo Federal. O projeto parecia que
finalmente sairia do papel, mas a crise econômica de 1929 impossibilitou a capitação de
recursos necessários. Além disso, a crise diminui a atividade industrial em todo o mundo,
diminuindo significativamente a demanda por minério de ferro (PALAEZ, 1970).
Em 1930 um movimento armado, do qual o Estado de Minas Gerais tomava parte,
assumiu a administração federal no Brasil. O novo governo não considerou a crise econômica
mundial como um empecilho para a efetivação do plano de Farquhar e exigiu que o mesmo
fosse posto em prática imediatamente, sob pena de multa e até mesmo cancelamento do
contrato. Foi introduzida uma nova constituição em 1934 que deixou a situação de Farquhar
ainda mais delicada. Palaez (1970) aponta as principais mudanças na constituição que
afetaram a Itabira Iron Ore Company:
1. A posse de um solo foi separada da posse e direito de exploração do seu subsolo;
2. A exploração mineral, só poderia ser feita sob licença governamental;
3. Tais licenças só poderiam ser consentidas a cidadãos ou empresas brasileiras
Em face da nova legislação e da demora para a efetivação do plano de Farquhar o
contrato da Itabira Iron Ore Company foi reavaliado por uma série de comissões federais que
o invalidaram. O contrato foi cancelado em 1939 (PALAEZ, 1970).
O plano de explorar as reservas de Itabira passava agora para o governo federal.
Seguindo a onda de nacionalismo e de estatização da economia, em junho 1942 o então
presidente Getúlio Vargas assina o Decreto-Lei no 4.352 que criava a Companhia Vale do Rio
Doce (CVRD). Os bens, incluindo estoques de minério, instalações, veículos e utensílios, da
Companhia Brasileira de Mineração e Siderurgia S.A. e da Companhia Itabira de Mineração
foram incorporados ao patrimônio da União. Os acionistas das duas companhias foram
indenizados (Vale: Nossa História, 2012).
A CVRD foi constituída como uma sociedade anônima de economia mista, do seu
capital inicial de 200 mil contos de réis, 110 mil seriam subscritos pelo Tesouro Nacional
(ações ordinárias) e 90 mil ficariam à disposição do público (ações preferenciais). A sede
administrativa da nova empresa seria Itabira, mas seu domicílio para todos os efeitos legais
seria o município do Rio de Janeiro. A diretoria da empresa foi formada por nomes
70
importantes da política mineira e capixaba, os estados mais diretamente envolvidos nas suas
operações, além de um representante do banco Eximbank, que concedeu um empréstimo de
US$ 14 milhões para a CVRD (Vale: Nossa História, 2012).
4.1.2 Os Anos como Empresa Estatal
A maior preocupação da CVRD nos primeiros anos era atingir sua meta de exportação
de minério de ferro. Para isso a empresa investiu pesado em infraestrutura e na compra de
equipamentos, necessitando logo em seus primeiros anos de um aumento de capital e de um
novo empréstimo junto ao Eximbank. Durante a Segunda Guerra Mundial, as exportações da
empresa tiveram um grande salto, permanecendo abaixo da meta porém. Com o fim da guerra
a demanda mundial por minério de ferro diminuiu, os principais mercados internacionais,
Estados Unidos e Inglaterra passaram a ser abastecidos por países situados a uma menor
distância, e portanto com custos de frete mais atraentes. As exportações desaceleraram, mas o
mercado interno continuou a se desenvolver, com a instalação de diversas empresas de ferro e
aço no entorno da CVRD (Vale: Nossa História, 2012).
Com o processo de reconstrução da Europa no pós guerra a demanda mundial de
minério voltou a crescer e a CVRD aumentou paulatinamente suas exportações nos últimos
anos da década de 1940 e na década de 1950, chegando a ser responsável por 98% das
exportações de minério de ferro do Brasil. A exportação de minério de ferro da CVRD,
passou de 41 mil toneladas em 1946 para 4.270 mil toneladas em 1960. A década de 1950
também foi chave para a diversificação de mercados da CVRD, em 1951 a empresa era
altamente dependente do mercado americano, destino de mais de 80% das suas exportações,
no final da década esse número caiu abaixo dos 30% e a companhia passou a atender um
número muito maior de países.
A chegada de Juscelino Kubitschek a presidência do Brasil, em 1956, marcou um novo
período de investimentos em infraestrutura. Reconhecendo o potencial do setor, o Brasil
detinha 15% das reservas de minério, mas só era responsável por 1% do mercado
internacional, seguiu-se um plano de modernização do complexo mina-ferrovia-porto,
pesquisa para o melhor aproveitamento do minério da região e mecanização dos processos de
embarque portuário. Além dos investimentos, a empresa passa adotar uma nova política de
vendas, assume contratos de fornecimento de longo prazo e abre seus primeiros escritórios
comerciais no exterior (Vale: Nossa História, 2012).
71
Em 1962, é criada a companhia Vale do Rio Doce Navegação S.A. (Docenave),
empresa que seria responsável pela logística de exportação do minério da CVRD. Conjugando
a exportação de minério com a importação de carvão dos Estados Unidos a empresa
conseguiu reduzir os custos de frete do minério brasileiro, aumentando a competitividade da
empresa brasileira no mercado internacional.
Com a chegada do governo militar ao país a CVRD foi aberta ao capital estrangeiro,
em 1964 o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) aprovou o empréstimo de US$
28,8 milhões usado para vários investimentos na área de transporte, sobretudo a expansão do
Terminal Marítimo de Tubarão. Os investimentos possibilitaram uma grande expansão da
presença da CVRD no mercado externo entre os anos de 1968 e 1978. A expansão
internacional, foi acompanhada também por um forte crescimento no mercado interno, se
aproveitando do surto de industrialização que o Brasil viveu nesse período as vendas no
mercado interno passaram de 877 mil toneladas em 1968 para 9,5 milhões de toneladas em
1978 (Vale: Nossa História, 2012).
Todo esse crescimento de exportações e vendas no mercado interno levou a CVRD a
expandir seu complexo na região de Minas Gerais e também a buscar novas minas. A empresa
começou a investir mais em pesquisa geológica, culminando com a criação de uma subsidiária
integral, a Docegeo, responsável unicamente por esse tipo de pesquisa, em 1971. A Docegeo
também foi um importante instrumento no plano da CVRD de diversificar sua atuação para
além do mercado de minério de ferro, diminuindo assim os riscos ligados a depender da
exportação de um único produto. As descobertas da Docegeo possibilitaram vários projetos da
CVRD em joint venture com empresa estrangeiras, em mercados como alumínio, pelotas e
celulose.
Os anos 1970 foram marcados pela descoberta das reservas minerárias de Carajás no
Pará. A princípio o direito de explorar a região pertenceria a US Steel, mas um acordo
permitiu que a CVRD participasse com 51% da joint venture criada para implantar o Projeto
de Ferro Carajás. Posteriormente, já no início dos anos 1980, a CVRD indenizou a ex-parceira
e passou a implementar o projeto sozinha. Carajás possuía um grande potencial geológico,
com a presença de vários minérios, somente a reserva de minério de ferro foi avaliada em 18
bilhões de toneladas. Para explorar a região remota, no entanto, foi necessária a criação de um
novo complexo mina-ferrovia-porto, o que exigiu grandes investimentos na década de 1980.
Por seu potencial minerário e sua localização, longe do até então centro das atividades
72
mineradoras do país, Carajás mudou o perfil da CVRD e também da indústria de mineração
brasileira como um todo (Vale: Nossa História, 2012).
O início dos anos 1990 foi marcado por recordes de produção na CVRD. A empresa
alcançou importantes certificações internacionais e avançou em suas práticas de
desenvolvimento sustentável e preservação do meio-ambiente. Toda essa evolução permitiu a
conquista de novos mercados, notavelmente a China. A empresa também prosseguia nos seus
planos de diversificação, apostando em commodities como manganês, ouro, cobre e alumínio.
Entretanto, a economia do Brasil passava por um momento difícil. O país enfrentava
uma inflação galopante que só foi resolvida em 1994 com a introdução do Plano Real. No
entanto, a estabilidade da moeda não trouxe crescimento econômico de imediato. Já em 1995
a balança comercial brasileira registrava déficit e a situação se agravou nos anos seguintes.
Para enfrentar essa situação o governo federal intensificou seus projetos de desestatização
com a intensão de aumentar o fluxo de capitais no mercado e amortizar os efeitos das dívidas
externas. Assim era montado o cenário para um dos acontecimentos mais importantes na
história da empresa, sua privatização em 1997 (Vale: Nossa História, 2012).
4.1.3 A Privatização
Criados nos anos 1990, o Programa Nacional de Desestatização (PND) foi um dos
instrumentos utilizados para equilibrar a balança comercial e as contas públicas, com o
objetivo de prolongar a estabilidade gerada pelo Plano Real. Quando Fernando Henrique
Cardoso assumiu a presidência, em 1995, as privatizações se aceleraram. Em seus dois
primeiros anos de governo 19 empresas foram privatizadas, totalizando uma arrecadação de
5,1 bilhões de dólares. Totalizando seus dois governos, entre 1995 e 2002, o total arrecado
com as privatizações superou 78 bilhões de dólares, conforme pode ser verificado no quadro
4.1.
O Poder Executivo incluiu a CVRD como alvo do processo de privatização, baseado
no inciso VI, do artigo 84, da Constituição Federal e na Lei 8.031/90, e em 06 de maio de
1997, ocorreu a primeira etapa do leilão de privatização. O leilão já havia sido adiado várias
vezes por liminares na justiça e o no dia do leilão houve uma manifestação na frente do prédio
da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, onde ocorria o leilão, que segunda a imprensa, reuniu
cerca de 300 pessoas (Vale: Nossa História, 2012).
73
Quadro 4.1: Receita com privatizações 1995 a 2002 por setor (em US$ bilhões)
Fonte: BNDES (<http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/default/bndes_pt/Galerias
/Arquivos/ conhecimento/pnd/Priv_Gov.PDF>)
O vencedor do leilão foi um consórcio formado por investidores nacionais e
estrangeiros, que arrematou 41,73% das ações pertencentes ao governo brasileiro. Hoje
conhecido como Valepar, o consórcio detém o controle acionário da companhia. O lance final
foi de pouco mais de 3.338 milhões de reais, representando um ágio de aproximadamente
20% em relação ao preço afixado pelo governo. O financiamento aos compradores foi
garantido pelo BNDES.
Também em 1997 ocorreu a segunda etapa da privatização da companhia, com a
venda de parte do seu capital a seus empregados. A terceira e última etapa, ocorreu no início
dos anos 2000 quando milhares de pessoas em todo o país puderam utilizar parte do recurso
do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) para adquirir ações da companhia.
A privatização significou, obviamente, um novo organograma, com a presidência
sendo exercida por um Conselho Administrativo, que contava com a atuação e influência dos
sócios controladores. A nova administração da dividiu a companhia em unidades de negócio:
Celulose e Papel, Minério de Ferro, Alumínio e um Centro Corporativo. Nomeando,
diretores-presidentes responsáveis por cada área de negócios, e lhes incumbindo de buscar
maneiras de inserir a CVRD no mercado global de suas devidas áreas (Vale: Nossa História,
2012).
74
O processo de reestruturação e otimização da empresa levou a uma redução do seu
quadro de funcionários, de 15.483 em 1996 para 10.965 em 1997, uma diminuição de quase
30%. A maior parte dos desligamentos ocorreu pelo Programa de Demissão Incentivada,
criado em setembro de 1997.
Como resultado dos vários processos que visavam o ganho de eficiência,
principalmente a revisão dos antigos contratos da empresa, foi possível uma redução de 15%
nos custos por tonelada de minério em 1997. No mesmo ano, foram alcançados recordes de
produção de minério, tanto no Complexo de Tubarão como em Carajás, de alumínio e no
segmento de papel. Outros recordes ocorreram na quantidade de minério exportado,
principalmente devido a novos contratos com clientes Australianos e Chineses, e nos terminas
ferroviários e portuários da companhia.
No final de 1997 todas as mudanças ocasionadas pela privatização da companhia
resultaram em lucro líquido de 756 milhões de reais, um aumento nas vendas e na carteira de
clientes. O lucro obtido foi um recorde para a companhia, superando em 46% o resultado do
ano anterior (Vale: Nossa História, 2012).
4.1.4 Os Primeiros anos como Empresa Privada e a Internacionalização (1998 –
2008)
Os bons resultados da CVRD continuaram nos anos logo a após a privatização. No ano
de 1998 a empresa quebrou novamente seu recorde de lucratividade. A empresa ampliou seus
investimentos em transporte, e passou a usar sua estrutura não mais apenas para o transporte
de cargas próprias, mas também de terceiro. Foi o início de um negócio que mais tarde se
mostrou estratégico e lucrativo, a companhia passou a ofertar soluções logísticas para outras
empresas (Vale: Nossa História, 2012).
Em 1999, tomou posse o novo presidente da CVRD, o embaixador Jório Dauster. Sua
escolha reflete o foco no mercado internacional que a companhia ganhou após a privatização,
Dauster trazia à CVRD uma forte experiência internacional. Já no primeiro ano de sua gestão,
o número de clientes internacionais cresceu, as ações da companhia triplicaram de valor e
novamente a companhia superou seu lucro recorde anterior.
O final dos anos 1990 também foi marcado por aquisições. A empresa adquiriu
participações em várias empresas pelotizadoras (processo realizado após a extração do
75
minério que propicia sua utilização nas indústrias siderúrgicas) como a empresa brasileira
Samarco, que na época era a produtora de pelotas de minério de ferro com menor custo no
mundo. Adquiriu também outras mineradoras especializadas em minério de ferro, como a
Ferteco, ampliando sua capacidade produtiva e infraestrutura logística. Além de seguir com
seu plano de diversificação, investindo, por exemplo, na produção de cobre com o Projeto
Sossego no Pará. Sossego foi um dos projetos com menor investimento por tonelada de
capacidade instalada no mundo, um marco da preocupação com eficiência que passou a
permear a CVRD após sua privatização. A crescente preocupação com o meio ambiente e as
comunidades afetadas pelas atividades da companhia também marcaram a década de 1990,
com a criação da Fundação Vale do Rio Doce, que foca no desenvolvimento social de forma
integrada, com projetos nas áreas de educação, saúde, geração de trabalho e renda, cultura,
esporte e desenvolvimento urbano (Vale: Nossa História, 2012).
O foco internacional que a empresa ganharia na década seguinte, é simbolizado pelo
início da comercialização das ações da companhia na Bolsa de Valores de Nova York
(NYSE), no ano 2000. A partir dessa data, investidores do mundo inteiro teriam acesso as
ações da companhia, que agora podiam ser compradas também em dólares e até euros, em um
mercado muito mais transparente. As ações de internacionalização da empresa estavam
apenas começando. Em 2001 a empresa, buscando parcerias com seus vizinhos sul-
americanos para explorar commodities cuja exploração no Brasil era pequena, a CVRD
firmou um joint-venture com a chilena Codelco, a maior produtora de cobre do mundo. Ainda
no início da década a CVRD foi buscar parceiros ainda mais longe adquirindo parte da GIIC
empresa, a maior empresa pelotizadora independente do mundo, localizada no Bahrain, uma
pequena ilha do Golfo Pérsico. A GIIC contava com clientes na região do Golfo Arábico, na
Ásia e no Norte da Africa.
Em 2004, a CVRD chegou à China, com um investimento de 10,6 milhões de dólares
ela participou, junto com sócios japoneses, da criação da Shandong Yankuang International
Coking Company. A China se transformaria nos anos 2000 no maior mercado de commodities
do mundo, devido suas altas taxas de crescimento e sua necessidade de investimentos para
renovar sua infraestrutura. A importância do minério de ferro na pauta de exportação
brasileira e em especial a relevância do mercado chinês desse produto pode ser observado no
quadro 4.2. O grande apetite chinês por minério de ferro afetou também o preço da
commodity que desparrou na primeira metade dos anos 2000. Como reflexo do aumento da
importância desse mercado, a Vale decidiu aumentar sua presença em solo chinês,
76
construindo, em 2008, centros de distribuição no país. Tais centros permitiram atender as
siderúrgicas chinesas com mais rapidez e eficiência, além de proteger a companhia contra a
volatilidade dos preços dos fretes ultramarinos. Também em 2008 a Vale, concluiu a
construção da usina de processamento de Níquel de Dalian, na China (Vale: Nossa História,
2012).
Quadro 4.2: Importância do Minério de Ferro na Pauta de Exportação Brasileira
Fonte: Adaptado Vale: Nossa História (2012)
Porém a aquisição internacional mais notável do período foi sem dúvida a da
canadense Inco. Na época a Inco detinha as maiores reservas mundiais de níquel e era a
segunda maior produtora global dessa commodity. A compra foi aprovada pelas autoridades
canadenses em outubro de 2006 e o valor total investido foi de US$ 18,24 bilhões, fazendo
desta a maior aquisição na América Latina. A negociação entre a CVRD e a Inco foi o quinto
maior negócio do mundo em 2006. Nesse ano a Vale respondeu por 50% dos investimentos
feitos por empresas brasileiras. A compra serviu para diversificar ainda mais a CVRD, que
com ela se tornou a segunda maior produtora global de níquel, com a produção de 250,6 mil
toneladas. O minério de ferro continuou sendo o principal produto da companhia,
respondendo por 48% da sua receita bruta, porém o níquel ganhou espaço e passou a
representar 26% dos negócios da Vale em 2006.
A Inco era uma empresa global, com operações não só no Canadá, mas também na
Indonésia, Reino Unido, Japão, China, Taiwan e Coreia, além de um projeto na Nova
Caledônia. Portanto, a aquisição da Inco ampliou muito a presença global da CVRD.
Total de Exportações
Em milhôes US$ Em milhôes US$ Em % Em milhões US$ Em %
2002 60.362 3.049 5,1% 597 1,0%
2003 73.084 3.456 4,7% 765 1,0%
2004 96.475 4.759 4,9% 1.115 1,2%
2005 118.308 7.297 6,2% 1.785 1,5%
2006 137.807 8.949 6,5% 2.629 1,9%
2007 160.649 10.558 6,6% 3.710 2,3%
2008 197.942 16.539 8,4% 4.886 2,5%
2009 152.995 13.247 8,7% 7.011 4,6%
2010 201.915 28.912 14,3% 13.338 6,6%
2011 256.040 41.817 16,3% 19.797 7,7%
Exportação de Minério de
Ferro
Venda de Minério de Ferro
para a ChinaAno
77
O processo de internacionalização da companhia apresentou inúmeros desafios para a
CVRD. Um dos maiores deles foi a adaptação aos diferentes tipos de relações trabalhistas
existente nos vários países onde agora a empresa operava. A companhia enfrentou greves nas
suas operações em Sudbury, Port Colborne, Voisey’s Bay, Newfoundland e Labrador, todas
no Canadá. Algumas greves chegaram a durar um ano, de julho de 2009 a julho de 2010. As
greves foram solucionadas com acordos coletivos firmados com os sindicatos representativos
dos empregados (Vale: Nossa História, 2012).
Em 2007 foi a vez da CVRD se internacionalizar para a Austrália, onde adquiriu a
AMCI, mineradora que operava vários ativos de carvão, por US$ 656 milhões.
Outro grande passo rumo à internacionalização foi a chegada a Moçambique onde a
Vale venceu uma licitação para explorar a maior província carbonífera ainda não explorada no
mundo. O Projeto Moatize, foi iniciado em 2008 e envolveu não só a construção da mina, mas
também de uma grande estrutura logística, até então inexistente no país.
Também em 2008 a Vale fechou parceria com o governo de Omã. Uma planta de
pelotização de minério foi estabelecida no país para atender melhor as características dos
fornos predominantes nas siderúrgicas da região do Oriente Médio.
Além das aquisições e desenvolvimento de minas, outro fato que impulsionou a
internacionalização da CVRD, foi a obtenção do grau de investimento. Esse é um sinal dado
pelas empresas de classificação de risco que uma empresa é sólida e segura para se investir,
sem risco de calote em seus títulos. A CVRD foi a primeira empresa brasileira a receber tal
classificação, atingindo-a antes mesmo do Brasil (as economias nacionais de um país também
são objetos da classificação dessas empresas). A obtenção do grau de investimento permitiu
que a empresa conquistasse mais investidores internacionais, aumento seus recursos, além de
projeta-la ainda mais no mercado global (Vale: Nossa História, 2012).
Outra importante mudança na empresa, que também teve origem em seu desejo de se
tornar uma empresa global, foi a alteração de seu nome. Em 29 de novembro de 2007, a
companhia anunciou que passaria a ser chamada apenas de Vale. Entre as razões para a
mudança de nome, está o fato de que Vale é uma palavra facilmente lida e entendida em todo
o mundo. A mudança no nome foi acompanhada também por uma mudança no logotipo, o
desenho traz a letra V estilizada, a fácil leitura visual do símbolo também mirava o mercado
global.
78
O início dos anos 2000, no entanto, não foi benéfico somente na área da
internacionalização. A CVRD também fez aquisições no Brasil, em 2003 comprou a
mineradora brasileira Caemi. Também foi uma década de recordes, o ano de 2004 foi
especialmente positivo, a companhia registrou o maior lucro de sua história, R$ 6,46 bilhões.
Entre 2001 e 2004 a empresa exportou R$16,2 bilhões, o que a fez a maior exportadora
líquida do país no período, sendo responsável por 18,4% do superávit da balança comercial do
país. O período de grande prosperidade durou até 2007, quando a empresa apresentou
crescimento em todas as suas áreas de negócios. No entanto, em 2008 a economia mundial foi
atingida por um grande choque, a crise que havia começado no ano anterior no setor
imobiliário americano tomou proporções globais e se espalhou para os mais diversos ramos
da economia. Os reflexos da crise demoram para aparecer no setor de mineração, em 2008 a
Vale ainda apresentou bons resultados econômicos, no entanto, no último trimestre desse ano
já era possível avistar sinais da crise. Em novembro de 2008 várias operações da companhia
foram paralisadas. A situação se agravaria em 2009, e a Vale enfrentaria seu primeiro período
de recessão desde sua privatização (Vale: Nossa História, 2012).
4.1.5 A História Recente da Vale
O ano de 2009 foi de recessão global, a economia brasileira encolheu em 0,6%, a
americana 2,4%, a europeia 4,2% e a japonesa 5%. A demanda por minério de ferro e outras
commodities minerais foram altamente impactadas pelo esfriamento da economia mundial.
Como consequência o preço do minério de ferro também sofreu uma grande queda, 44,5% em
2009. Como resultado, a Vale passou por um dos períodos mais complicados da sua história,
seu lucro líquido caiu de US$13,2 bilhões em 2008 para US$ 5,3 bilhões em 2009. Sua
presença no mercado transoceânico caiu de 30,2% para 24,9% (Vale: Nossa História, 2012).
A crise vivida em 2009 exigiu que a companhia reavaliasse seu plano de crescimento e
expansão, tanto nacional quanto internacional. O ano de 2009 foi marcado por
desinvestimentos, que contribuíram para o resultado econômico positivo no ano, apesar da
maioria dos seguimentos onde a empresa atuava ter obtido resultados negativos. No Brasil, a
empresa vendeu uma fatia de sua participação na Usiminas, três usinas hidrelétricas e parte
dos ativos de alumínio de sua subsidiária, a Valesul, além de direitos de exploração mineral
na Bahia. Globalmente, se desfaz de negócios nos Estados Unidos e China. O plano de
79
desinvestimento continuaria mesmo depois da crise se dissipar, com a venda de negócios
considerados não estratégicos indo até o começo de 2011 (Vale: Nossa História, 2012).
Já em 2010 a Vale se recuperaria da crise, impulsionada pela volta do crescimento
global, especialmente dos países emergentes, incluindo o Brasil. Esse ano foi extremamente
positivo para a Vale, que voltou a bater recordes de margem operacional e lucro líquido. No
entanto, a crise vivida em 2009, deixou marcas na estratégia de crescimento da Vale, a
empresa passou a ser mais conservadora.
Passada a crise a Vale retornou seus planos de internacionalização, mesmo que de
forma mais discreta. Em 2010, a Vale chegaria a Guiné, onde está executando o maior projeto
de minério de ferro, interligado com infraestrutura, de todo o continente africano. A
companhia ainda controla outro projeto na África, no Cinturão de Cobre da Zâmbia. Além
desses projetos no continente africano, a Vale fechou 2010, com presença no Congo, Angola e
na África do Sul, onde desenvolve pesquisas de inúmeras commodities minerais. Também em
2010, a empresa começou suas operações no Chile, onde possui duas minas e uma usina de
cobre. O total de investimento, em solo chileno, chegou a US$ 140 milhões (Vale: Nossa
História, 2012).
Seu plano de diversificação também foi retomado com o fim da crise. Notavelmente a
empresa investiu no mercado de fertilizantes, passando a atender também o segmento de
produção de alimentos. Foram adquiridos ou desenvolvidos projetos de fertilizantes em cinco
estados brasileiros, na Argentina, Canadá, Peru e Moçambique.
A crise também trouxe mudanças na área de logística da companhia. A principal
mudança foi a construção de uma frota de navios próprios para driblar a redução de oferta e
oscilação de preços no mercado de fretes marítimos. Os navios encomendados seriam os
maiores navios de transporte de minério de ferro do mundo e passaram a ser conhecidos como
Valemax. A importância da logística para a companhia pode ser resumida nessa declaração de
José Carlos Martins, então diretor-executivo de Minério de Ferro e Estratégia: “o custo de
para colocar uma tonelada de minério de ferro na Ásia está na faixa de US$ 50, sendo que,
desse valor, menos de US$ 10 é custo da mina, o resto é custo logístico”. Os investimentos
em logística não se resumiram ao transporte marítimo, a empresa continuou investindo na
malha ferroviária no Brasil e construiu um centro de distribuição em Omã (Vale: Nossa
História, 2012).
80
A administração da Vale nos anos 2000 ficou a cargo de CEO Roger Agnelli, ex
diretor-executivo do Bradesco. Agneli geriu a companhia durante o forte período de
crescimento do início dos anos 2000, a crise de 2008-2009 e na retomada da empresa em
2010. Seu estilo de negócio, considerado agressivo pela impressa e por analistas de mercado,
trouxe resultado para a companhia, durante sua administração os lucros da Vale passaram de
R$3 bilhões ao ano para R$30 bilhões. O CEO foi o grande impulsionador do processo de
internacionalização da empresa. Agnelli também aumentou o foco da empresa, vendendo
negócios não estratégicos na área de celulose. Os investimentos em logística também
aumentaram, tornando a CVRD uma das líderes do setor no Brasil, responsável por 68% da
movimentação das cargas em ferroviária e 27% da movimentação portuária.
Agnelli deixou a Vale em 2011, a presidência da companhia foi assumida por Murilo
Ferreira. Funcionário da Vale desde 1998, quando foi diretor da Aluvale, passou pela diretoria
executiva de níquel e pela presidência da Vale Inco, no Canadá, antes de chegar ao cargo mais
alto da companhia. Nos primeiros anos da administração de Murilo Ferreira, de 2011 aos dias
atuais, sua atuação foi considera bem menos agressiva que a do CEO anterior. Os planos de
crescimento, diversificação e internacionalização continuaram, mais em um ritmo bem menor
do que se viu anos antes (Vale: Nossa História, 2012).
A menor demanda da China levou a uma redução nas expectativas para o mercado de
minério de ferro. Segundo projeções do BNDES os investimentos no setor devem cair 32%
entre 2014 e 2017, considerando o menor apetite da Vale por novos investimentos. O foco do
novo presidente da Vale tem sido a redução de custos e o desinvestimento de ativos
considerados não estratégicos, focando em minério de ferro, níquel, cobre e fertilizantes. O
maior investimento atual da companhia é a ampliação da produção de minério de ferro em
Carajás, que custará mais de R$ 40 bilhões, incluindo as modernizações logísticas necessárias
para o projeto (<http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2013/10/1359561-vale-pisa-no-freio-
e-investimento-de-mineracao-cai-32-preve-bndes.shtml>).
81
5. ANÁLISE DO CASO
A partir da análise da história da Vale, apresentada no capítulo anterior, das entrevistas
realizadas com executivos da companhia e dos dados públicos da mesma é possível comparar
o processo de internacionalização vivido por esta com as teorias acadêmicas. Esse capítulo
tem como objetivo apresentar pontos de aderência e divergência entre o caso estudado e o
referencial teórico sobre internacionalização. Esse estudo ainda busca levantar proposições
que busquem explicar os pontos de divergência.
5.1 As Peculiaridades do Setor de Mineração
O primeiro fato que chama a atenção ao se analisar as teorias de internacionalização é
como a grande maioria tem como foco uma operação industrial. Alguns autores, também
consideram o setor de serviços ao desenvolverem suas teorias, ou em estudos subsequentes,
porém o foco é quase sempre na produção industrial. A exceção são as teorias mais recentes,
especialmente a das Born Globals, que ao descreverem um fenômeno relativamente recente
na economia mundial, encontram em empresas não tradicionais, como as indústrias de
tecnologia e comunicação, algumas de suas mais importantes representantes.
A indústria de extração mineral, no entanto, não costuma ser apresentada como
exemplo das teorias de internacionalização e, comparada a outros setores industriais,
apresenta características únicas, que afetam profundamente o seu processo de
internacionalização. Dois fatores, em especial, merecem ser mencionados devido a extensão
do seu impacto no processo de internacionalização.
O primeiro deles é que o minério é aleatoriamente distribuído pelo mundo,
impossibilitando a livre escolha no momento da empresa mineradora decidir onde concentrará
sua produção. Diferente de uma fábrica que pode escolher virtualmente qualquer país do
mundo para abrigar sua produção, as empresas de extração mineral estão limitadas aqueles
que apresentam reservas do minério desejado. Considere ainda que os fatores como a
quantidade e qualidade do minério também diferem entre os países, e ainda que algumas
reservas são, por condições naturais, mas acessíveis do que outras (por exemplo algumas
reservas são subterrâneas enquanto outras a céu aberto, obviamente, facilitando seu acesso).
82
Esses fatores adicionais são extremamente importantes na decisão de estabelecer uma unidade
produtiva no estrangeiro, muitas vezes se sobrepondo aos motivos tradicionalmente
apontando pelas teorias de internacionalização e, assim, afastando a história de
internacionalização da Vale do prevista pelas teorias acadêmicas.
Agravando as consequências desse primeiro fator, está a diminuição das reservas
minerais não exploradas no mundo. O próprio processo de exploração de minério e a corrida
para garantir os direitos de exploração futura, por parte das mineradoras, reduziram ainda
mais as opções disponíveis para a escolha de para onde a firma desejaria internacionalizar sua
produção. Assim ao analisar o porquê uma determinada mineradora escolheu internacionalizar
a exploração de um minério para um dado país estrangeiro, a resposta pode não citar as
possíveis causas inumeradas pelas diferentes teorias de internacionalização, e sim o fato de
que aquele país era o único com reservas disponíveis daquele minério.
Segundo, commodities minerais, especialmente o minério de ferro, principal produto
da Vale, costumam ter um baixo valor em relação ao seu peso e volume. Mesmo considerando
o maior preço atingido pelo minério de ferro em todos os tempos, quase US$ 200 a tonelada,
no início de 2011 (<http://www.ft.com/cms/s/0/76bf9812-49ec-11e2-a625-
00144feab49a.html#axzz34fL3sUdz>), é possível perceber que a relação entre preço e peso é
baixa, especialmente quando comparados com produtos de alta tecnologia e, portanto, maior
valor agregado. Isso faz com o custo logístico seja proporcionalmente mais importante no
setor de mineração. Como consequência, diminuir as distâncias geográficas entre suas
operações, minas de extração, e o mercado consumidor, é mais relevante do que na maioria
dos outros setores da economia. Isso implica que a decisão de quais países são escolhidos
como consumidores é muito mais influenciada pela distância geográfica nas empresas de
mineração do que em outros setores. Diminuindo, assim, a importância relativa de fatores
apontados pelas teorias de internacionalização, como a distância psíquica por exemplo.
5.2 Aderências e Divergências em Relação à Teoria do Poder de Mercado
Hymer (1960) aponta dois motivos que impulsionariam uma empresa a se
internacionalizar: a remoção de um competidor potencial e se apropriar integralmente dos
retornos de certa habilidade desenvolvida no país natal da empresa. Quando perguntado os
83
entrevistados não expressaram voluntariamente esses dois motivos, segundo eles os fatores
que motivaram a internacionalização da Vale foram:
- A vontade da companhia diversificar suas operações: Conforme descrito no capítulo
anterior a Vale a partir da sua privatização traçou um objetivo claro de diversificar suas
operações para além do minério de ferro. O principal motivo da perseguição pela
diversificação é diluir o risco da companhia deixando-a menos vulnerável, as volatilidades do
mercado de minério de ferro. A diversificação foi apontada em duas das três entrevistas como,
se não o principal, um dos principais motivos para a internacionalização da Vale.
- A situação do mercado de commodities e a corrida pela compra de ativos: No início
dos anos 2000, que marcou a transformação da Vale em uma empresa realmente global, o
mercado de commodities minerais, especialmente de minério de ferro, estava muito aquecido.
Os preços subiam rapidamente, à medida que a China passava a demandar quantidades cada
vez maiores de minério. Essa situação gerou uma corrida entre as principais mineradoras
mundiais, incluindo a Vale, para garantir o acesso às reservas de minério, e assim conseguir
aumentar a sua oferta do produto, tirando o máximo de proveito do bom momento do setor.
Um dos entrevistados, porém, ressalva que a situação não era uma luta pela sobrevivência,
que a Vale não se sentia pressionada a se internacionalizar, havia apenas uma vontade de
aproveitar o excelente momento do setor.
- A situação do caixa da companhia: A privatização da Vale e o bom momento vivido
pelo setor de mineração no início da década de 2000, com o “boom” do mercado chinês,
fizeram com que a companhia apresentasse uma grande sobra de caixa. A combinação de
dinheiro em caixa e perspectiva de crescimento ainda maior no mercado de commodities
minerais, fizeram com que o apetite por investimento da companhia crescesse. Esse apetite
levou a Vale procurar opções de investimento tanto no Brasil quanto no exterior, acelerando a
internacionalização da empresa.
- A busca por ativos de classe mundial: Como as reservas minerais são distribuídas
geograficamente de maneira aleatória no mundo, um dos motivos que levou a
internacionalização da companhia foi simplesmente o desejo de acessar reservas com
minérios de qualidade e em grande quantidade.
- O perfil da nova administração da companhia: Segundo um dos entrevistados o perfil
mais arrojado e extremamente voltado para o crescimento da administração que assumiu a
84
companhia após sua privatização foi um dos motivos para a internacionalização da empresa.
As características do seu CEO na época, Roger Agneli, também foram destacadas.
A apropriação integral de uma vantagem adquirida no seu país natal, não configurou
entre as razões para a internacionalização mais citadas pelos entrevistados. No entanto, eles
puderam apontar várias vantagens que a Vale teria, em relação à uma empresa local, o que
colabora com a teoria do Poder de Mercado, já que essas vantagens foram desenvolvidas na
época que atuava no Brasil, seu país natal. As vantagens apontadas pelos entrevistados foram:
- A diversificação da companhia e o acesso a clientes: Muitas vezes commodities
diferentes têm em comum os mesmos compradores, assim os contatos e relacionamentos com
os clientes no negócio de minério de ferro, seriam uma vantagem para a firma também na
comercialização de outras commodities. Esse fato faz com a Vale, uma mineradora
diversificada, seja mais eficiente ao gerir uma operação de exploração de um minério
especifico do que uma empresa especializada somente nesse minério. Quando a Vale comprou
a Inco, que na época era uma empresa especializada em níquel, ela usou seu conhecimento e
contatos no mercado de minério de ferro, conquistado em grande parte na sua operação local
no Brasil, para alavancar os negócios da companhia canadense. Particularmente o acesso aos
clientes chineses, foi apontado como uma vantagem da Vale ao operar os negócios da Inco,
quando comparado a administração local.
- Condições Financeiras e acesso ao crédito: Como já citado a situação financeira da
Vele era muito boa quando ela intensificou seu processo de internacionalização. O tamanho
da Vale também garantia que ela podia suportar até perdas no curto prazo em alguns dos seus
ativos, essas perdas seriam absorvidas pelos lucros de outros ativos, o mesmo não pode ser
dito de empresas locais que muitas vezes dependem da lucratividade de um único ativo para
se manter no mercado. Isso fez com que ela tivesse uma vantagem em relação a
administrações locais de empresa em situação financeira não muito boa, como era o caso da
Inco. Além da condição financeira em si, outro fator muito importante é o acesso ao crédito, a
Vale como empresa global disponibilizava de uma facilidade muito maior de obter crédito
quando comparada a empresas locais. O tamanho e volume de negócios da Vale, assim como
sua grande carteira de garantias, também a colocavam em uma situação mais confortável na
hora de negociar os termos dos empréstimos.
- Ganhos de Escala: Outra vantagem apontada é a escala das operações da Vale. Já
sendo uma companhia com grandes operações dentro da Brasil, a Vale contava com um poder
85
de barganha junto aos fornecedores que foi transferido para as suas operações internacionais.
Em vários insumos, como máquinas, equipamentos e pneus para mina a Vale conseguia
preços menores dos que as empresas locais, reduzindo assim seus custos.
- Filosofia de Negócios e Cultura: Também foi apontada por um dos entrevistados a
maneira de fazer negócios da Vale como uma vantagem frente as empresas locais. O foco em
resultados da Vale foi apontado como a principal marca da cultura da empresa que
representou uma vantagem em relação as empresas locais. No caso, da Inco especificamente,
a habilidade da Vale em lidar com o sindicato e com as pressões trabalhistas, foi apontada
como uma vantagem da Vale.
Também segundo a teoria de Poder de Mercado uma empresa aumentaria sua
participação no mercado local enquanto possível, atingindo um alto grau de poder de
monopólio e somente quando o crescimento local não fosse mais possível, ela usaria os lucros
obtidos no mercado local para financiar operações no estrangeiro. A Vale desde sua origem já
realiza exportação de seus produtos, como descrito no capítulo anterior, os ingleses e
americanos foram os grandes clientes nos primeiros anos da empresa. Posteriormente a Vale
também construiu uma sólida atuação no mercado nacional. Essa suposição de Hymer (1960)
não parece ser comprovada pelo processo de internacionalização da companhia.
O quadro 5.1 mostra os principais achados em relação as proposições da Teoria do
Poder de Mercado, definidas como escopo desse trabalho.
Quadro 5.1: Análise das Proposições da Teoria do Poder de Mercado
Proposição Referência Achados
Empresas se internacionalizam para remover um competidor potencial e se apropriar integralmente dos retornos de certa habilidade desenvolvida no país natal
Hymer (1960) Não pode ser diretamente comprovada, a remoção de um competidor potencial não foi citada. No entanto, o número significativo de vantagens para atuar no mercado internacional derivadas da atuação da empresa em seu mercado doméstico, indica que se apropriar de uma habilidade desenvolvida no país natal seja um dos motivos para a internacionalização.
O processo de internacionalização tem início quando o mercado local está em uma situação difícil
Hymer (1960) Refutada, a Vale inicia seu processo de internacionalização antes mesmo de consolidar sua presença no mercado local.
86
5.3 Aderências e Divergências em Relação à Teoria da Internalização
Segundo essa teoria as empresas contam com duas formas de obterem os produtos que
são necessários para seu processo produtivo. A primeira seria buscar tais produtos no mercado
e a segunda produzir ela mesma, ou seja, internalizar sua produção. A utilização de uma ou
outra forma de obtenção desses produtos intermediários dependeria dos custos de transação
do mercado. Quando fosse mais vantajoso a internalização de uma atividade, e para isso que
tal internalização aconteça fosse necessário que a empresa passasse a atuar além do seu país
natal, haveria um incentivo a internacionalização.
Segundo os entrevistados não houve na internacionalização da Vale uma busca direta a
um dos seus produtos intermediários. Ou seja, a Vale não se internalizou para nenhum país
para passar a produzir um produto ou serviço intermediário que antes ela buscava no mercado.
No entanto, houve uma busca de atender as necessidades dos clientes, vendendo
produtos que normalmente são utilizados nas mesmas ocasiões que os produtos que a Vale já
vendia. Por exemplo, a Vale se internalizou para conseguir acesso a fontes de carvão, o desejo
de vender carvão vem do fato que os mesmos clientes, as siderúrgicas, que compravam
minério de ferro da Vale também precisavam do carvão, já que ambos são necessários para o
processo de fabricação de aço. A mesma situação acorre com o níquel. Assim a Vale
internalizou a venda de um produto que antes seus clientes tinham que buscar junto a outras
mineradoras do mercado. O objetivo era gerar soluções de “pacotes” para seus clientes. Caso
a Vale não buscasse o acesso a esses minérios em países estrangeiros, a única maneira de
gerar tal solução seria comprando estes no mercado, o que geraria maiores custos de
transação.
Ao produzir ela própria esses minérios a Vale reduziu o próprio custo de transação e
ao oferecer uma solução de “pacotes” para seus clientes ela reduziu os custos de transação
deles. Os clientes agora têm que negociar somente com a Vale, e antes tinham que negociar o
minério de ferro com a Vale, o carvão com um outro fornecedor e o níquel com um terceiro.
Parte da economia em custos de transação obtida pelos clientes é repassada para a Vale, e
funciona, como uma espécie de prêmio por ela oferecer uma solução que abrange a todas as
necessidades do cliente.
87
Quadro 5.2: Análise da Proposição da Teoria da Internalização
Proposição Referência Achados
Empresas se internacionalizam buscando internalizar a obtenção de algum produto ou serviço intermediário, e assim, aumentar sua eficiência
Buckley e Casson (1976)
Refutada, nenhuma internacionalização da Vale tenha sido motivada para obter algum produto ou serviço antes adquirido no mercado. No entanto, a internacionalização por vezes motivadas pela vontade de oferecer uma solução de "pacote" para os clientes da Vale, reduzindo seus custos de transação e assim aumentando sua eficiência.
5.4 Aderências e Divergências em Relação ao Paradigma Eclético
Segundo essa teoria, três fatores influenciam a decisão de abastecer um mercado
estrangeiro via exportação ou internacionalizar a produção, um deles seria a vantagem de
localização. Dunning (2000) afirma que algumas regiões apresentam vantagens competitivas
em relações a outras, a busca por usufruir dessas vantagens levariam ao investimento
estrangeiro direto e, portanto, a internacionalização.
Durante as entrevistas como executivos da Vale foi possível comprovar esse aspecto
da teoria. Para analisar essa questão tendo como plano de fundo a experiência da Vale,
separaremos seu processo de internacionalização em dois momentos. O primeiro é a fase de
abertura de escritórios comerciais no estrangeiro. Nesse momento, as vantagens de
localização que foram importantes para definir para onde a Vale se internacionalizaria são:
(1) Vantagens de localização geográfica: Foram priorizados os países próximos às
principais siderúrgicas clientes da Vale, como por exemplo, a Holanda, que foi a
porta de entrada para o mercado europeu como um todo.
(2) Vantagens Fiscais: Países com uma estrutura fiscal atraente para centralizar as
vendas de suas regiões, como por exemplo, Suíça, Áustria e Cingapura.
A segunda fase a ser analisada é a de investimentos produtivos no estrangeiro. Nesse
caso uma vantagem de localização óbvia é a existência de minério e a qualidade deste. Além
88
disso, outros fatores podem ser considerados vantagens de localização que influenciaram a
decisão de produzir ou explorar minério em países estrangeiros:
(1) Vantagens de custo: Alguns países apresentam custos menores de mão de obra,
incentivos fiscais e uma estrutura física que diminuiu os custos logísticos.
(2) Vantagens de localização geográfica: Novamente estar próximo aos mercados
consumidores é muito importante, dando mais agilidade no atendimento aos
pedidos e possibilitando um preço mais baixo. Como visto no capítulo anterior, a
Vale investiu em plantas de pelotização de minério de ferro no Bahrain devido à
sua proximidade com as siderúrgicas da região.
(3) Estabilidade jurídica e regulatória: Conforme a busca por minério no mundo
cresce, as reservas ainda não exploradas cada vez mais se localizam em países que
tradicionalmente não costumam receber investimentos diretos. Devido a esse fato,
todos os indicativos de estabilidade jurídica e regulatória têm grande influência na
decisão de investimento de empresas de mineração como a Vale.
Dunning (1980) afirma que uma das condições para haver investimento estrangeiro
direto é a firma acreditar ter uma vantagem em relação a firma local. Como já explorado na
seção 5.2, os executivos da Vale foram capazes de enumerar algumas vantagens que a firma
teria em contraponto as empresas locais ao operar um ativo no estrangeiro. Seriam essas
vantagens:
- A diversificação da companhia e o acesso a clientes
- Condições Financeiras e acesso ao crédito
- Ganhos de Escala
- Filosofia de Negócios e Cultura
Dunning (1977) buscou mostrar quais seriam os tipos de atividade estrangeira que se
baseariam no investimento direto. Uma delas seriam atividades desenhadas para se obter
algum recurso natural. Embora o Brasil seja um dos países rico em muitos minérios,
analisando a história da Vale vemos momentos em que ela estabeleceu uma operação no
89
estrangeiro com o objetivo de obter um recurso natural que ela não conseguia em seu país
natal. Alguns casos podem ser mencionados:
- A Vale foi explorar grandes minas de carvão tanto em Moçambique quanto na
Austrália. Apesar do Brasil ter reservas de carvão, a magnitude das reservas nesses países é
muito superior. Além disso, o tipo de carvão presente nesses países também é diferente, o
Brasil é rico em carvão energético, enquanto Moçambique e Austrália têm grandes
quantidades de carvão metalúrgico, que é usado em siderurgias no processo de fabricação do
aço. Conforme já citado, o carvão metalúrgico é importante para a Vale porque entra no
processo de produção de aço junto com o minério de ferro, principal produto da mineradora.
Portanto, oferecer tanto o minério de ferro, quanto o carvão metalúrgico, possibilita a Vale a
oferecer uma solução total a seus clientes.
- Hoje um dos principais produtos vendidos pela Vale é o Níquel, no entanto, nem
sempre essa commodity deve lugar de destaque no portfólio de produtos da empresa. A Vale
tem produção de níquel no Brasil, mas a grande maioria das reservas da companhia está no
exterior, principalmente no Canada. Nesse caso a busca não foi por um tipo de minério em si,
mas pela quantidade das reservas.
- Assim como no caso do Níquel, o Cobre é um minério explorado no Brasil pela Vale.
No entanto, a quantidade produzida localmente é pequena fazendo com que a Vale detenha
operações no estrangeiro para garantir a quantidade desejada desse recurso natural.
Outro pressuposto do modelo de Dunning que pôde ser testada durante as entrevistas
com executivos da Vale foi a de que as firmas buscam o investimento estrangeiro direto para
proteger ou aumentar suas vantagens de propriedade, ou ainda, eliminar ou reduzir as
vantagens de propriedades das firmas concorrentes. Segundo os entrevistados, o principal
motivo da internacionalização era a busca de diversificação, mas dois deles reconhecem que
impedir a compra do mesmo ativo internacional por outra empresa de mineração era um fator
relevante. Assim há indícios deque a Vale poderia estar buscando reduzir as vantagens de
propriedades de suas concorrentes ao decidir comprar algumas das suas operações
internacionais.
Segundo um dos entrevistados na época em que a Vale iniciou seu processo de
internacionalização da produção, logo após sua privatização, havia um movimento de
consolidação entre as mineradoras mundiais. O mercado vivia um momento onde as empresas
90
que não crescessem corriam o risco de serem compradas. Embora para a Vale essa “ameaça”
não fosse tão relevante, já que a grande participação do governo na companhia a transformava
em um alvo difícil para uma aquisição hostil, esse momento vivido pelo mercado mundial
impulsionou a companhia para uma fase de grandes aquisições internacionais. A ideia que
norteava, não só a Vale mas a maioria das grandes mineradoras internacionais era ser a maior
mineradora do mundo. Essa estratégia mostrou-se não rentável e abriu espaço para um
momento, onde os planos de expansão da Vale e das demais mineradoras se tornou mais
conservadora. Na Vale essa mudança de estratégia se tornou visível no momento de troca do
CEO da companhia, Roger Agnelli, liderou a companhia na fase de grande expansão e depois
entregou o cargo a Murilo Ferreira que faz até agora uma administração mais conservadora e
focada em redução de custos.
Embora nenhum fato da internacionalização da Vale contradiga a teoria do Paradigma
Eclético, alguns pontos da teoria não puderam ser verificados e alguns aspectos parecem não
se adaptar a indústria de extração mineral. Por exemplo, uma das bases da teoria a vantagem
de internalização não pode ser verificada.
A teoria, construída pensando nos processos industriais assume uma mobilidade em
escolher os países que receberam investimentos produtivos que não é encontrada na indústria
de mineração, onde a produção tem que estar onde as reservas de minério estão. Além disso a
teoria assume duas opções: (1) produzir localmente e abastecer os países estrangeiro com
exportações ou (2) produzir no estrangeiro; essa é uma simplificação muito forte para a
indústria mineradora já que nela existem um descasamento entre produtores e consumidores,
nem sempre o país que tem as reservas minerais é um consumidor daquele minério e vice-e-
versa. Assim a teoria não é capaz de explicar alguns dos arranjos produtivos que ocorrem no
setor de mineração, onde muitas vezes a mineradora se internacionaliza para países que não
são consumidores e continuam a suprir grandes mercados consumidores com exportações.
O quadro 5.3 resume os achados pertinentes em relação às proposições do Paradigma
Eclético.
91
Quadro 5.3: Análise das Proposições do Paradigma Eclético
Proposição Referência Achados
As vantagens de localização são fatores fundamentais para uma empresa decidir se deve se internacionalizar para um país
Dunning (1977) Comprovada, vantagens de localização foram citadas como importantes fatores na decisão sobre se internacionalizar para um país
Empresas se internacionalizam quando acreditam que possuem uma vantagem em relações as empresas locais
Dunning (1977) Comprovada, os executivos entrevistados apotam diversas vantagens da Vale em relação as empresas locais para justificar a internacionalização para determinados países
A busca por um recurso natural é um dos motivos que leva uma empresa ao investimento estrangeiro direto
Dunning (1977) Comprovada, a Vale se internacionalizou para diversos países tendo como objetivo acessar reservas minerais que não eram encontradas em seu país de origem
Proteger ou aumentar suas vantagens de propriedade, assim como, eliminar ou reduzir as vantagens de propriedade de suas concorrentes é um dos motivos que leva uma empresa a efetuar um investimento estrangeiro direto
Dunning (1977) Comprovada, a compra de ativos estrangeiros para que outras concorrentes não pudessem comprá-los demostra que proteger suas vantagens de propriedade ou reduzir as vantagens de propriedade de concorrentes é um dos fatores que levaram a Vale a se internacionalizar.
5.5 Aderências e Divergências em Relação ao Modelo de Uppsala
Segundo essa teoria o processo de internacionalização teria início quando o mercado
doméstico estivesse próximo a sua saturação. Aqui constatamos o primeiro ponto de
divergência entre a teoria e o caso da Vale. Como vimos, a empresa tem como objetivo a
exportação desde sua concepção, e nos primeiros anos da companhia os principais mercados
explorados eram internacionais. Além disso, mesmo olhando para a fase mais recente e
acelerada de investimentos no estrangeiro, após a privatização, temos o mercado interno
passando por um ótimo momento, como pôde ser constatado nas entrevistas com executivos
da empresa.
92
Outra divergência aparece quando a teoria tenta prever os primeiros alvos do processo
de internacionalização, segundo a teoria as empresas buscariam os mercados que fossem o
mais familiar possível com seu mercado doméstico. Considerando que países como Estados
Unidos, Canadá, Alemanha, Japão entre outros receberam tentativas de internacionalização
antes de países mais próximos do Brasil, como Portugal ou nossos vizinhos da América do
Sul.
Uma das principais premissas da escola de Uppsala é que a internacionalização se
daria de forma gradual. Ou seja, as empresas iriam comprometendo mais e mais recursos em
uma dada operação no estrangeiro conforme fossem adquirindo informações e experiência
nesse mercado. Partindo dessa premissa, as empresas primeiramente estabeleceriam relações
com um mercado estrangeiro abastecendo esse através de exportações, conforme a empresa
fosse conhecendo esse mercado estrangeiro se sentiria mais segura para comprometer mais
recursos, e aprofundaria seus investimentos no país, abrindo uma representação comercial.
Por fim, depois de conquistar ainda mais conhecimento do mercado, ela comprometeria ainda
mais recursos abrindo uma unidade produtiva.
Quando comparamos esse ponto com a história de internacionalização da Vale,
encontramos sinais de aderência e divergência. Uma divergência fundamental é que devido às
peculiaridades do setor de mineração já mencionadas, os países produtores e consumidores
não são, em muitos casos, os mesmos. Assim a história da Vale está repleta de exemplos de
países onde a primeira ação da Vale foi a construção de uma unidade produtiva, sem passar
pelo processo gradual descrito pela teoria, como Moçambique. Do mesmo modo, é existem
muitos exemplos onde a aquisição de conhecimento sobre o mercado estrangeiro não resultou
em um aumento no comprometimento da Vale naquele país, são países em que a Vale
estabeleceu uma relação de exportação, mas essa relação nunca evolui para um investimento
produtivo, como o Japão.
Ainda segundo os executivos da Vale que foram entrevistados muitas vezes embora
seja desejável um processo gradual, surgem oportunidades muito boas de compras de reservas
minerais no mercado. Nesses casos, o comprometimento não seria gradual, e a empresa
passaria direto para a última etapa do processo, a implantação de uma unidade produtiva no
país estrangeiro.
No entanto, outros exemplos, parecem colaborar com a teoria. Conforme visto no
capítulo anterior o relacionamento da Vale com a China, começou por meio de exportações,
93
depois migrou para um investimento produtivo mas ainda no sistema de joint ventures (com
sócios japoneses), e mais tarde a empresa se aventurou sozinha com um projeto produtivo no
país. Também podemos citar o caso do Oriente Médio, onde um processo parecido ocorreu.
Na realidade, a própria Escola de Uppsala admite que o processo por vezes pode não
ser tão gradual. Segundo Johanson e Vahlne (1990) existem três exceções, onde o
comprometimento poderia não ser tão gradual:
- Quando as firmas tivessem grandes recursos, diminuindo as consequências de um
maior comprometimento de recursos: A história mais recente de internacionalização da Vale,
após sua privatização, se enquadra bem nessa exceção. A Vale e o setor de mineração como
um todo viviam um excelente momento e a companhia disponibilizava de uma boa quantia
em caixa segundo seus executivos, o que acelerou e deixou menos gradual seu processo de
internacionalização.
- Quando as condições do mercado são estáveis e homogêneas, os conhecimentos
relevantes sobre o mercado podem ser obtidos de outra forma que não a experiência: Não
foram encontrados indicativos que corroborassem esse ponto.
- O conhecimento obtido em um mercado muito similar pode ser generalizado para o
mercado em que se deseja atuar, evitando assim parte do processo de acúmulo de
conhecimento e acelerando o processo: Aqui os entrevistados divergiram quanto a
aplicabilidade desse ponto para o caso Vale. Um dos entrevistados foi cético e apontou que a
maioria dos processos de internacionalização da empresa aconteceram quase que ao mesmo
tempo, não dando a oportunidade de a empresa digerir o conhecimento adquirido e usá-lo em
um outro país. Porém, outro entrevistado colocou a aquisição da Inco como um processo que
abriu as portas para todos os outros processos de internacionalização. Então, nesse caso, o
conhecimento ganho no processo da Inco, teria sido generalizado e usado para acelerar
processos posteriores.
Por fim, mais um aspecto da teoria foi discutido com os executivos entrevistados foi a
reversibilidade dos ativos internacionais da Vale. A teoria diz que quanto menor a
reversibilidade dos ativos maior o comprometimento da empresa no país estrangeiro. Os três
executivos ouvidos concordam que os ativos são reversíveis, já que podem ser vendidos para
outras mineradoras. No entanto, ressalvam que o processo pode ser mais complexo hoje, já
que existe um apetite menor das outras mineradoras para realizar aquisições. Analisando a
94
história da Vale, vemos que ela saiu de poucos países, o que indica um elevado grau de
comprometimento com suas operações no estrangeiro.
O quadro 5.4 resume os achados relativos as preposições do Modelo de Uppsala.
Quadro 5.4: Análise das Proposições do Modelo de Uppsala
Proposição Referência Achados
O comprometimento com mercados estrangeiros é gradual, aumentando conforme as empresas ganham informações sobre tais mercados
Johanson e Vahlne (1977)
Parcialmente comprovada, parte dos processos de internacionalização da Vale apresentam essa gradualidade. Os que não apresentam muitas vezes se encaixam as exceções descritas pela própria teoria.
A internacionalização para um país pode acelerar a internacionalização para outra, fazendo com que ela seja menos gradual
Johanson e Vahlne (1977)
Parcialmente comprovada, a Inco foi por vezes citadas como um processo de internacionalização que contribui para que os processos posteriores fossem menos graduais. No entanto, o fato de um grande número de processos de internacionalização da Vale terem ocorrido quase que simultaneamente, enfraquece constatação da proposição.
Quanto menor a reversibilidade de um ativo o estrangeiro, maior o comprometimento da empresa com aquele mercado
Johanson e Vahlne (1977)
Inconclusivo, existe evidências de que a proposição é verdadeira mas o caso da Vale falhou em mostrar bons exemplos que a suportem.
O processo de internacionalização tem início quando o mercado local está em uma situação difícil
Johanson e Vahlne (1977)
Refutada, a Vale inicia seu processo de internacionalização antes mesmo de consolidar sua presença no mercado local.
5.6 Aderências e Divergências em Relação à Perspectiva de Networks
Segundo Johanson e Mattson (1988) os mercados são compostos por redes de
relacionamento entre as empresas. Uma empresa se internacionalizaria para acessar uma rede
de relacionamentos no estrangeiro ou para acompanhar uma firma com a qual já possuía um
95
relacionamento no mercado local. Para analisar a aderência da teoria com o processo de
internacionalização vivido pela Vale podemos então testar dois fatores:
(1) A Vale se internacionalizou para algum lugar buscando acompanhar um parceiro de
negócio;
(2) A Vale foi a responsável pela internacionalização de alguma outra empresa da sua rede
de relacionamentos, ou seja, algum fornecedor ou parceiro seguiu a Vale para algum
mercado internacional.
Analisando a história da Vale e com base nas entrevistas com executivos, podemos
achar indicativos do primeiro fator. Por exemplo, segundo um dos entrevistados praticamente
todas as operações de joint venture em siderúrgicas da Vale, foram puxadas por clientes,
como por exemplo a siderúrgicas da Vale na Califórnia, Estados Unidos. Quando as
siderúrgicas migraram suas atividades para regiões do Oriente Médio, Ásia e norte da África,
a Vale buscou presença na região através da compra parcial da GIIC, no Bahrain. Outro
indicativo são as iniciativas para entrar no mercado chinês, conforme o mercado desse país
ganhou relevância global, a Vale começou a intensificar sua presença nele. Partindo das
exportações, para unidades produtiva no sistema de joint venture e depois, finalmente,
partindo para o investimento em uma unidade produtiva própria. O esforço dedicado a
consolidação de seus negócios na China pode ser interpretado como uma tentativa de obter
uma posição na rede de relacionamentos das empresas chinesas.
O segundo fator também pode ser verificado. A Vale parece ter incentivado a
internacionalização de seus fornecedores, em 2009 ela convidou diversos parceiros para
conhecerem seus projetos internacionais e suas ferramentas de apoio à internacionalização.
Segundo o coordenador técnico da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais, Boris
Macedo: “Este contato com os projetos no exterior de uma empresa como a Vale é uma
oportunidade para a realização de parcerias e pode ser o início de um processo de exportação
para pequenos empresários” (<http://www2.defatoonline.com.br/noticias/ultimas/02-12-
2009/vale-apresenta-seus-projetos-no-exterior-para-fornecedores>).
Os executivos entrevistados complementaram que a Vale usou em seus diversos
projetos internacionais os mesmos fornecedores globais que já usavam no Brasil, e que os
ganhos de escala de compras foi um dos motivos que levou a Vale a reduzir o custo nas
operações no exterior, quando comparado a um competidor local. Isso também aponta que a
Vale possui um network global, ou seja, uma rede de relacionamento com outras empresas
96
que, como ela, atuam em diversas partes do mundo. Por fim, um dos entrevistados mencionou
que os fornecedores da Vale estão dispostos e se mostram muito receptivos a ideia de
acompanhar a companhia em empreitadas internacionais. Essa disposição por parte dos
fornecedores é muito importante para a Vale, sobretudo conforme a companhia entra em
países com mercados locais ainda em desenvolvimento, onde é difícil contratar fornecedores e
garantir mão de obra qualificada, como no caso de Moçambique.
Não foram encontrados fatores que contradigam a perspectiva de Networks, no entanto
a teoria tem capacidade limitada de explicar o processo de internacionalização da Vale. Um
dos pontos de divergência é a escolha de para onde se internacionalizar, muitas vezes,
contrariando a teoria, o país escolhido está totalmente fora da rede de relacionamentos que a
companhia possui. Ou seja, não é um país onde nenhum membro da rede de relacionamento
local da Vale, possua uma posição. Mais uma vez, isso decorre do fato que no setor de
mineração, a internacionalização para um determinado país ocorre pela existência de reservas
minerais no mesmo.
Quadro 5.5: Análise da Proposição da Teoria de Networks
Proposição Referência Achados
Empresas são "puxadas" a se internacionalizar por outras empresas da sua rede de relacionamento (fornecedores, clientes, parceiros...)
Johanson e Mattson, 1988
Comprovada, na história da Vale existem movimento de internacionalização ocasionados pelo desejo de seguir seus clientes, fora isso a Vale incentiva a internacionalização de seus fornecedores e parceiros
5.7 Aderências e Divergências em Relação ao Empreendedorismo
Internacional
A princípio a teoria de Empreendedorismo Internacional parece não ser apropriada
para entender o caso da Vale. Isso porque a teoria foi construída para entender as dinâmicas
de internacionalização de empresas de menor porte, em detrimento das teorias anteriores que
focavam em grandes corporações. Como a Vale foi uma empresa que já nasceu grande e atua
em um setor dominado por companhias de grande porte, há uma incompatibilidade natural
97
entre sua história e essa teoria. No entanto, isso não quer dizer que não haja pontos de
aderência entre o caso Vale e a teoria do Empreendedorismo Internacional.
Primeiro, segundo Oviatt e McDougall, as companhias que se enquadram no
Empreendedorismo Internacional são aquelas que, desde início, buscam obter vantagens
competitivas através da venda do seu produto em múltiplos países. A Vale teve esse foco
internacional desde sua fundação, o mercado brasileiro por minério era pequeno e seus
principais clientes potenciais eram países no estrangeiro, como Estados Unidos e Japão.
A teoria também diz que o investimento estrangeiro não é um requisito, e que muitas
vezes essas empresas utilizam alianças estratégicas para o uso de recursos no estrangeiro.
Mais uma vez, temos uma semelhança entre a teoria e o caso da Vale, onde embora os
primeiros investimentos estrangeiros diretos tenham demorado a acontecer, desde cedo
observamos alianças estratégicas. Um exemplo, são os contratos de fornecimento que a Vale
assinou com siderúrgicas japonesas após a segunda guerra.
A figura do empreendedor e como ele afeta o comportamento internacional da
empresa também é objeto de estudo da teoria. Segundo a definição de Anderson (2000) o
empreendedor é aquele que realiza atividades empreendedoras independentes se ele é o
fundador ou dono da empresa. Nesse contexto, nas entrevistas com executivos da Vale, foram
citados alguns nomes de pessoas que se destacaram no processo de internacionalização da
empresa, e que por causa disso se encaixariam na figura de empreendedor da teoria. São eles:
- Roger Agnelli: O ex-CEO da companhia foi citado pelos três entrevistados, que
ressaltaram sua audácia e coragem. Ele foi o principal viabilizador do processo que
transformou a Vale em uma empresa realmente global. Liderou a companhia em uma época
que o contexto era de crescimento e expansão.
- Pedro Rodrigues: O diretor de fusões e aquisições, foi apontado por um dos
entrevistados como alguém muito ativo na prospecção de oportunidades de aquisição, cuja
algumas foram em países estrangeiros;
- Leonardo Moretzsohn: Diretor financeiro da Vale em Toronto, que segundo um
entrevistado, analisou muitas oportunidades de internacionalização para a empresa;
98
- A equipe da área de exploração mineral foi, segundo um dos entrevistados que
preferiu não citar um único nome, foi extremamente ativa na prospecção de boas
oportunidades de exploração e compra de ativos pelo mundo.
Quadro 5.6: Análise da Proposição do Empreendedorismo Internacional
Proposição Referência Achados
A figura do empreendedor é fundamental nos processos de internacionalização de empresas
Anderson (2000) Comprovada, apesar do porte da Vale, os entrevistados citaram alguns nomes de empreendedores que foram de grande importância para o processo de internacionalização da empresa.
5.8 Aderências e Divergências em Relação à literatura Born Global
A teoria das Born Globals a princípio também parece pouco apropriada para analisar o
caso de internacionalização da Vale. A teoria nasceu em 1993, mais de 50 anos depois da
fundação da Vale, e buscava entender um fenômeno atual de empresas que já nascem globais.
Como esperados existem muitos pontos de divergência entre a teoria e a história de
internacionalização da Vale, mas há também alguns pontos de aderência.
Em relação as motivações que levam a internacionalização, a Vale tem algumas
semelhanças com as Born Globals, já que procurou ativamente mercados internacionais no
início de sus história e não esperou a deterioração das condições em seu mercado doméstico
para começar a explorar o mercado estrangeiro. A companhia também conta com uma
gerência engajada, segundo a teoria uma característica das Born Globals. Um ponto de
divergência nesse aspecto é que a empresa não explora nichos globais, contrariando a teoria.
Os objetivos internacionais da Vale se aproximam mais com as de empresas
tradicionais do que com as Born Globals. Os objetivos da Vale são o crescimento e
sobrevivência da empresa, aumento das vendas e ganho de market share. Enquanto, segundo a
teoria o foco das Born Globals seriam obter vantagens de “first-mover”, o “lock-in” dos
consumidores e a penetração em nichos globais.
Quanto ao padrão de expansão internacional, a Vale começou a sua exploração do
mercado internacional em concomitância (ou até mesmo antes) da exploração do mercado
99
local, o que a aproxima da concepção de Born Globals. No entanto, seu foco em mercados
físicos de baixa tecnologia e menos sofisticado entre em conflito com a definição do campo
de atuação de uma Born Global, normalmente descrito como “de ponta”.
No aspecto da velocidade de internacionalização, também são encontradas aderências
e divergências. A teoria descreve a velocidade de empresas tradicionais como lenta e gradual,
e das Born Globals como rápida, atingindo múltiplos mercados por vezes. Analisando a
trajetória da Vale vemos que a empresa começou sua internacionalização de maneira rápida,
exportando para diferentes mercados internacionais em um curto espaço de tempo. Porém,
após esse período passou um bom tempo sem acelerar seu ritmo de comprometimento com os
mercados estrangeiros, ficando na fase de exportação e representação comercial por um longo
período. Em compensação quando iniciou o processo de investimento em unidades
produtivas, voltou a apresentar uma grande velocidade de internacionalização, explorando
oportunidades em múltiplos mercados ao mesmo tempo. Por isso, no quesito velocidade de
internacionalização a Vale apresenta algumas características em comum com as Born
Globals.
Por fim, analisaremos a estratégia internacional descrita na teoria como típica das Born
Globals e compará-la com o caso da Vale. Segundo a teoria as Born Globals têm uma
estratégia internacional estruturada, uma abordagem estruturada para a expansão internacional
e construção e expansão de um network global. Já as empresas tradicionais têm uma estratégia
mais ad-hoc e oportunista, com um comportamento reativo as oportunidades de exportação, e
assim tendo a expansão para novos consumidores e mercados não necessariamente
relacionados entre si. A Vale, mais uma vez, fica entre as duas definições, sem dúvida parte
de sua internacionalização foi reativa as condições do mercado de mineração mundial, mas
principalmente após sua privatização, se tornar uma companhia global virou um dos objetivos
da empresa, e foi perseguido de forma mais estruturada.
Em suma, a Vale não pode ser descrita como uma Born Global, mas ela tem
características em comum com esse tipo de empresa. O quadro 5.6 mostra a análise da
preposição do fenômeno das Born Globals.
100
Quadro 5.6: Análise da proposição do fenômeno das Born Globals
Proposição Referência Achados
Existe um novo tipo de empresa, que desde sua fundação busca a internacionalização. Essas empresas buscam o mercado de internacional proativamente, se internacionalizando rapidamente e atingindo múltiplos mercados simultaneamente.
Rennie (1993) Parcialmente comprovada, a existência de características comum entre a Vale e as Born Globals, mostram que mesmo empresas tradicionais podem atuar como Born Globals em alguns aspectos
5.9 Resumo das Aderências e Divergências entre o Caso da Vale e as Teorias
Testadas
A análise do caso da Vale mostrou pontos de aderência e divergência com todas as
teorias de internacionalização objeto desse estudo. Claramente algumas teorias trazem mais
aderência do que divergências, ou vice-e-versa. O quadro 5.7 resume esses pontos para cada
uma das teorias.
Quadro 5.7: Aderência e divergências do caso da Vale as teorias testadas
Teoria Pontos de Aderência Pontos de Divergência
Teoria do Poder de
Mercado
Os entrevistados puderam citar vários
exemplos de habilidades que a Vale adquiriu
nas suas operações locais que mais tarde
foram transferidas para suas unidades no
estrangeiro (diversificação, acesso ao
crédito, escala, cultura), sugerindo que se
apropriar integralmente de uma vantagem
desenvolvida em seu país local é uma das
razões que leva uma firma a se
internacionalizar, como diz a teoria de
Hymer (1960).
A remoção de um competidor potencial,
umas das principais razões para a
internacionalização segundo a teoria, não
foi citado nas entrevistas. O fato que uma
empresa aumentaria sua participação no
mercado local o quanto fosse possível
antes de explorar mercados estrangeiros
também não é visto na história da Vale,
desde sua concepção ela atua como
exportadora, tendo o mercado
americanos, europeu e japonês como um
dos seus primeiros alvos.
101
Teoria Pontos de Aderência Pontos de Divergência
Internalização
A Vale se internalizou para alguns países
buscando minérios que eram usados por
seus clientes juntos com o minério de ferro
já produzido por ela. Isso possibilitou a Vale
oferecer aos seus clientes soluções de
"pacote" sem recorrer ao mercado para
obtenção desses minérios. Reduzindo os
custos de transação da própria Vale e de
seus clientes.
Nenhuma das ações de
internacionalização da Vale foi motivada
pela internalização de um produto
intermediário que antes ela própria já
adquiria no mercado.
Paradigma Eclético
As vantagens de localização realmente
influenciam a decisão de internacionalização
(tanto produção, quanto representação
comercial). Os executivos da Vale apontam
várias vantagens da Vale operar um ativo
estrangeiro em relação a firmas locais, o que
é uma das condições para existência de
investimento estrangeiro direto segundo a
teoria. A Vale busca acesso a recursos
naturais ao se internacionalizar o que está
de acordo com a teoria que diz que esse é
um dos quatro tipos de atividade
estrangeiras baseado no investimento
direto. Além disso, a vontade de adquirir
ativos internacionais para que suas
concorrentes não pudessem comprá-los
indica que eliminar ou reduzir as vantagens
de propriedades de concorrentes pode ser
um dos motivos que levou a Vale a se
internacionalizar, como descreve a teoria.
Nenhum fato da internacionalização da
Vale contradiz a teoria do Paradigma
Eclético. No entanto, alguns fatos, como
as vantagens de internalização
impulsionando a internacionalização, não
puderam ser demonstrados. Além disso a
teoria, construída pensando em industrias
mais tradicionais, ignora algumas
peculiaridades da indústria de mineração.
Por exemplo, a escolha de produzir em
seu país de origem e abastecer mercados
por exportação ou produzir no
estrangeiro abastecendo o mercado
diretamente, não se adapta bem à
dinâmica do setor de mineração. Devido
ao descasamento entre os países
detentores de reservas minerais e os
países consumidores, muitas vezes
arranjos diferentes de produção global
são adotados.
Modelo de Uppsala
Alguns exemplos de internacionalização da
companhia, como para a China e Oriente
Médio, apresentam a gradualidade descrita
pelo modelo. Das três exceções que
gerariam um processo de
internacionalização menos gradual, duas
estão presentes no caso da Vale (grande
disponibilidade de recursos e experiência
em um país estrangeiro sendo generalizada
e, assim, acelerando a internacionalização
para outro)
A internacionalização ocorreu antes da
saturação do mercado local, os primeiros
alvos de internacionalização da
companhia apresentam poucas
semelhanças com o Brasil, contrariando a
teoria. Muitos dos processos de
internacionalização não são graduais, por
causa das características próprias do setor
de mineração.
102
Teoria Pontos de Aderência Pontos de Divergência
Networks
A Vale teve movimentos de
internacionalização cuja motivação foi
seguir empresas da sua rede de
relacionamento, no caso clientes. Fora isso
foi verificado que a Vale incentiva a
internacionalização dos seus fornecedores e
parceiros para que esses a sigam em países
estrangeiros.
Embora não haja pontos que contrariam a
teoria, a mesma parece não ser suficiente
para explicar muitos dos processos de
internacionalização da empresa.
Especialmente os processos de
internacionalização que buscavam
garantir o acesso da companhia a reservas
minerais parecem não se adequar à
perspectiva de Networks.
Empreendedorismo
Internacional
A Vale tem como objetivo o mercado
internacional desde sua concepção, assim
como as empresas descritas na teoria. Como
descrito pela teoria a Vale não precisou de
investimentos estrangeiros direto para
inicializar sua internacionalização, utilizando
em um primeiro momento, alianças
estratégicas. A figura do empreendedor
como forte influenciador no processo de
internacionalização da empresa é vista na
Vale, apesar do porte da empresa.
A teoria foi pensada para explicar a
internacionalização de empresas de
menor porte e por isso não se enquadra
muitas vezes no caso da Vale. O foco em
um empreendedor individual não é tão
grande quanto descrito na teoria, devido
ao porte da empresa.
Born Globals
O fato da empresa ter sido concebida para
exportar e o atual objetivo da empresa em
se tornar uma empresa global, assim como a
estruturação e coordenação das suas ações
de internacionalização, aproximam a Vale
das Born Globals. Momentos de rápida
expansão internacional, e entrada em
múltiplos mercados de maneira
concomitante, o que exige uma rápida
velocidade de internacionalização, também
são características que a Vale compartilha
com as Born Globals.
O campo de atuação da Vale, o tradicional
setor de mineração, é diferente das Born
Globals, geralmente focadas em setores
tecnológicos. A Vale tem objetivos com
seus processos de internacionalização
(crescimento, aumento das vendas) mais
próximos de empresas tradicionais do que
de Born Globals (vantagens de first-
mover, lock-in). Após seus anos iniciais, a
empresa passou por um período onde seu
comportamento em relações a
oportunidades internacionais era mais
reativo, só voltando a intensificar a busca
ativa por oportunidade no estrangeiro
quando o mercado de mineração apontou
para um movimento de concentração.
103
6. CONCLUSÃO
Esse capítulo tem como objetivo apresentar as conclusões do estudo, para isso ele se
inicia com uma recapitulação do trabalho feito. Em seguida as perguntas da pesquisa são
resgatadas e as conclusões em si são apresentadas. O capítulo se encerra com sugestões para
pesquisas futuras que podem dar continuação ao trabalho iniciado nessa pesquisa.
6.1 Sumário do Estudo
O presente trabalho tinha como objetivo analisar a trajetória real de
internacionalização de uma empresa e compará-la com algumas das mais importantes teorias
de internacionalização. Assim seria possível apontar pontos de aderência e divergência entre
as teorias e o caso analisado. Entre as teorias utilizadas no trabalho algumas apresentam
abordagem econômica e outras, abordagem comportamental. Além disso, o fenômeno das
Born Globals também foi objeto do estudo.
O caso escolhido para o trabalho foi a internacionalização da Vale, uma grande
multinacional brasileira do setor de mineração. A Vale foi escolhida por ser uma empresa de
grande porte, com extensiva presença internacional e ser uma das maiores exportadoras do
país. Todas essas características garantiram um caso com dados e informações suficientes
para o teste de todas as teorias selecionadas.
Para alcançar os objetivos desejados foi realizada uma pesquisa qualitativa, utilizando
o método do estudo de caso. Esse método foi escolhido baseado nas perguntas da pesquisa, o
fato do pesquisador não ter controle sobre os eventos pesquisados e a característica
contemporânea da pesquisa. A utilização de um estudo de caso simples em detrimento de
casos múltiplos ocorreu devido à natureza da pesquisa proposta, que tenta analisar o mesmo
caso sob a ótica de várias teorias.
A escolha do método do estudo de caso possibilitou a coleta de dados em diferentes
fontes, permitindo assim a triangulação das informações. Grande parte das informações foi
obtida através de entrevistas em profundidade com roteiros semiestruturados (APÊNDICE A
– ROTEIRO DE ENTREVISTA) com três executivos da Vale, sendo que dois deles atuavam
na empresa no momento da entrevista e um era um ex-funcionário. Os três entrevistados
104
atuam no nível da diretoria da empresa e juntos têm experiências em diversas áreas, com
ênfase nos negócios internacionais da mesma. Além dessas entrevistas, foram utilizadas
fontes de dados secundárias tais como jornais e revistas e estudos de casos prévios sobre a
empresa. Também foram utilizados os instrumentos oficiais de comunicação da Vale, o site
institucional da companhia, comunicados a imprensa e relatórios financeiros e ambientais. O
livro editado pela Vale sobre a sua história também se mostrou grande fonte de informações.
6.2 Conclusões
A partir das análises do capítulo anterior é possível abstrair respostas para as perguntas
de pesquisa do presente trabalho.
- Como o processo de internacionalização e a atuação internacional da Vale
podem ser analisados à luz das principais teorias sobre internacionalização de
empresas?
O fato de várias teorias mostrarem pontos de aderência ao caso da Vale é um
indicativo de que sua internacionalização precisa ser entendida usando diferentes teorias. É
possível perceber que muitos dos movimentos de internacionalização da Vale têm como
objetivos fatores descritos pelas teorias econômicas, como por exemplo, a apropriação de uma
vantagem desenvolvida localmente, a busca de redução de custos de transação e a busca por
acesso a recursos naturais. No entanto, também é possível observar fatores comportamentais
nas decisões de internacionalização, como o seguimento de clientes da rede de relacionamento
da empresa e até mesmo a figura de empreendedores individuais incentivando o processo.
Talvez a maior surpresa tenha sido a verificação de fatores da teoria das Born Globals, apesar
da idade da empresa e do fato dela atuar em um mercado tradicional, ela guarda semelhanças
com as empresas modernas e tecnológicas descritas por essa teoria.
Também não existe nenhuma teoria que não apresentem nenhum ponto de divergência.
Embora algumas teorias não sejam diretamente contrariadas pelo caso da Vale, como no caso
do Paradigma Eclético e da perspectiva de Networks, há sempre fatores da teoria que não
105
puderam ser exemplificados pelo caso da Vale ou movimentos de internacionalização da Vale
que não puderam ser explicado pela teoria.
Portanto, todas as teorias analisadas, contribuem para o entendimento do processo de
internacionalização da Vale, mesmo que algumas de maneira mais extensiva do que outras.
Ao mesmo tempo nenhuma delas tem, sozinha, o poder de explicar esse processo. O fato de
não existir uma teoria única para explicar o caso da Vale, parece derivar do tamanho da
empresa e a consequente diversidade nos seus processos de internacionalização. Cada um dos
processos individuais (a compra da canadense Inco, as joint ventures no Oriente Médio, os
investimentos na China...) podem se aproximar mais de uma das teorias, o resultado é um
macro processo de internacionalização tão rico e complexo que não podem ser explicados por
uma única teoria e que reúne elementos de aderência e divergência com várias delas.
- Qual teoria melhor explicaria o processo de internacionalização da Vale?
Como explicado anteriormente não existe uma teoria que sozinha explique o processo
de internacionalização da Vale. No entanto, algumas teorias são mais completas nessa
explicação e apresentam menos pontos de divergência. Algumas teorias como a Born Globals
e Empreendedorismo Internacional foram desenvolvidas para um contexto muito diferente do
vivido pela Vale. Elas foram pensadas para empresas mais novas e de indústrias menos
tradicionais do que o setor de mineração, o que afeta muito sua capacidade de explicação do
caso da Vale, mesmo tendo sido encontrados pontos de aderência entre a teoria e a realidade.
Outros modelos, como a perspectiva de Networks, são muitos bons para explicar
alguns dos movimentos de internacionalização da companhia e apresentam poucos pontos
contraditórios, no entanto, possuem uma abrangência pequena. Ou seja, são capazes de
explicar alguns movimentos de internacionalização muito bem, mas oferecem pouca ou
nenhuma explicação para outros movimentos.
Há ainda modelos onde o caso Vale, é reconhecido como uma exceção pela própria
teoria. É o caso do Modelo de Uppsala, que adverte para três situações onde a principal
característica do modelo, a gradualidade nos processos de internacionalização, poderia não ser
observada. A Vale apresenta duas dessas três situações, tornando compreensível uma
adaptação não tão extensiva entre o modelo e sua experiência de internacionalização. No
106
entanto, é importante ressaltar que o modelo apresenta bom poder de explicação para alguns
dos movimentos de internacionalização da empresa, só é difícil generaliza-lo.
Os modelos econômicos em geral, embora também apresentem divergência com o
caso real, foram os que mais se mostraram versáteis para explicar boa parte dos processos de
internacionalização da empresa. Esse fato parece derivar do grande porte da empresa e do fato
dela ser uma companhia privada com ações negociadas em bolsas, o que contribui para que
fatores econômicos sejam mais presentes nas decisões do que fatores pessoais e
comportamentais.
Entre as teorias econômicas, a teoria da internalização, não pôde ser totalmente
comprovada, apesar de a companhia ter feito movimentos internacionais cujo o objetivo
parece ter sido diminuir os custos de transação dela e de seus clientes. Faltou a percepção
mais clara de que alguns dos movimentos internacionais buscaram internalizar atividades
antes providas pelo mercado. Além disso, vários processos de internacionalização da
companhia não acham explicação nessa teoria.
A teoria do Poder de Mercado apresenta um bom poder explicativo para o processo de
internacionalização da Vale. As explicações são genéricas o suficiente para ajudarem o
entendimento da maioria dos movimentos internacionais da companhia. No entanto, a teoria
apresenta algumas divergências significativas em relação ao caso Vale, principalmente, ao
definir que o início da internacionalização se dará quando o mercado doméstico está
saturando, enquanto o que se observa na Vale é uma busca pelo mercado internacional desde
sua concepção, além de inúmeros movimentos internacionais ocorrendo em fases de expansão
do mercado doméstico.
O Paradigma Eclético parece ser a teoria que melhor explica o caso de
internacionalização da Vale como um todo. Ela se adapta à grande maioria dos movimentos
internacionais vividos pela companhia, mostrando ser bastante abrangente. Não existem
contradições diretas entre a teoria e o caso da Vale, apesar de alguns aspectos da mesma não
sejam exemplificados no processo de internacionalização da companhia. Existe também um
problema de adaptação entre a teoria, que parece ter sido formulada considerando setores
industriais de produção de bens e não um setor como o de extração mineral, e o caso da Vale.
No entanto, todas as teorias em algum grau sofrem desse problema de adaptação.
107
Resumindo, como explicado na pergunta anterior não existe uma teoria que sozinha
explique o processo de internacionalização da Vale e todas as teorias apresentadas ajudam
nessa explicação. No entanto, algumas têm um poder de explicação mais profundo ou mais
abrangente que outras. Teorias como a perspectiva de Networks, são ótimas para explicar
alguns dos movimentos de internacionalização, mas para outros não trazem praticamente
nenhuma explicação, ou seja, trazem uma explicação profunda, mas não abrangente.
Analisando as teorias apresentadas nessa pesquisa, a que parece reunir o melhor conjunto, ou
seja, um bom poder de explicação com uma abordagem abrangente o suficiente para tirarmos
conclusões sobre vários dos processos de internacionalizações da Vale (e assim sobre a
companhia como um todo) parece ser o Paradigma Eclético.
Podemos verificar também que em geral as teorias comportamentais parecem oferecer
uma explicação melhor para um movimento específico, mas são menos abrangentes. Em
contraponto, teorias econômicas são mais facilmente generalizadas para uma quantidade de
diferentes processos de internacionalização.
- Quais são os fatores que contribuem para que uma teoria se afaste ou se
aproxime da história de internacionalização da companhia?
Em geral não foi identificada uma regra que permita generalizar os fatores que fariam
uma teoria se aproximar ou não do caso da Vale. Entretanto é possível fazer algumas
observações. O tipo de abordagem da teoria, se econômica ou comportamental, parece
influenciar a capacidade de explicação da teoria em relação ao caso real. Como já visto a
abordagem comportamental parece mais assertiva ao explicar processos específicos enquanto
a abordagem econômica apresenta uma maior abrangência, ou seja, oferece informações sobre
uma gama maior de processos de internacionalização.
O setor que foi foco do desenvolvimento da teoria também parece influenciar a
capacidade da teoria explicar o caso da Vale. As teorias que parecem ter sido concebidas
considerando indústrias mais tradicionais, como é o caso das teorias econômicas, parecem ter
um poder de explicação maior do que as teorias concebidas para indústrias de alta tecnologia,
como a teoria das born globals.
Por fim, parece pertinente ressaltar a data de elaboração da teoria como um dos fatores
que determina sua capacidade de explicação dos processos de internacionalização. As teorias
108
mais recentes, ao descreverem fenômenos também mais recentes, mostram uma habilidade
maior de explicar processos de internacionalização recentes, em detrimentos daqueles
ocorridos há mais tempo. Enquanto teorias mais antigas parecem explicar melhor os
movimentos de internacionalização mais antigos. Por exemplo, a perspectiva de Networks
explica importantes casos recentes de internacionalização da Vale, depois da sua privatização,
mas tem participação limitada na explicação dos processos de internacionalização mais
antigos, da época quando a empresa era estatal. Esse fato mostra uma evolução natural das
pesquisas de internacionalização, que parecem estar absorvendo em suas bases teóricas as
mudanças nos critérios usados para as tomadas de decisões de internacionalização das
empresas.
Com base na análise feita sobre o caso Vale, a partir das entrevistas e coleta de dados
secundários, pudemos abstrair respostas para nossas perguntas de pesquisa. Essas respostas
nos permitem concluir que todas as teorias testadas apresentam aderências e divergências
quando comparadas ao caso da Vale, não existindo uma única teoria que possa explicar o
processo de internacionalização dessa empresa. Algumas teorias tem um poder de explicação
sobre caso de internacionalização da empresa, maior do que outras, sendo que algumas teorias
são ótimas para explicar processos específicos, mas tem pouca abrangência para explicar o
processo de internacionalização da empresa como um todo. Fatores como o tipo de
abordagem da teoria, os setores econômicos considerados no momento da concepção da
mesma e a época em que a teoria foi desenvolvida, parecem influenciar o poder de explicação
da teoria em relação ao caso real observado na Vale. Todas as conclusões aqui feitas estão
sujeitas ao viés do ponto de vista do pesquisador, devido às características do método do
estudo de casos. As limitações do método também não nos permite fazer qualquer
generalização sobre as conclusões feitas para outros casos de multinacionais brasileiras.
6.3 Sugestões para Pesquisas Futuras
Essa pesquisa se limitou, por questões práticas e metodológicas, ao caso da Vale, seria
interessante repetir sua metodologia e objetivos para casos distintos. Nessa linha de raciocínio
dois grupos de empresas seriam especialmente interessantes:
- Outras empresas multinacionais brasileiras: Como observado na seção 3.3.2, outras
empresas nacionais atingem os requisitos para o desenvolvimento de tal trabalho, a escolha da
109
Vale, obedeceu a limitação da proposta de um estudo de caso simples e foi baseada na
disponibilidade de dados e interesse pessoal do pesquisador. Entretanto existe a oportunidade
de um estudo semelhante para empresas como a Petrobras, JBS, Gerdau, Ambev, entre outras.
- Outras empresas atuantes no setor de mineração: Como parte das conclusões se
baseou nas especificidades do setor de mineração, seria interessante um trabalho similar com
outras empresas do mesmo setor, a fim de corroborar ou refutar essas conclusões. Algumas
empresas internacionais do ramo como a BHP Billiton, Rio Tinto, Anglo American, Glencore
e Xstrata, poderiam ser o alvo dessa pesquisa.
Outra possibilidade de pesquisa futura seria buscar entender casos mais específicos de
internacionalização. Ao longo da pesquisa foi possível perceber que o caso de
internacionalização da Vale é muito extenso, e na verdade é formado por processos menores
(compra da canadense Inco, expansão do negócio para a China, criação de joint ventures no
Oriente Médio, entre vários outros). Muitas vezes cada um desses processos tem
características únicas e relevância suficiente para ilustrar um estudo por si só, assim seria
possível analisar mais profundamente o processo de internacionalização. A compra da Inco é
um excelente caso para ser estudado mais profundamente, devido sua relevância para a Vale e
para o Brasil como um todo, aqui conseguimos analisa-lo apenas em linhas gerais.
Em alguns momentos os entrevistados sugeriram que alguns dos comportamentos da
Vale teriam origem no fato dela ser uma empresa brasileira. Apontando assim possíveis
diferenças entre os processos de internacionalização das empresas desse país quando
comparadas a empresa de outras origens. O fato desta dissertação ter apenas um estudo de
caso, não permitiu a comprovação dessas hipóteses. Uma pesquisa futura poderia comparar os
processos de internacionalização de empresas semelhantes (mesmo porte, setor de atuação,
idade, entre outras características) brasileiras e estrangeiras, afim de inferir sobre o quanto o
fator “país de origem” interfere nos processos de internacionalização.
Por fim, outra oportunidade é, uma vez identificada a teoria do Paradigma Eclético,
como a que parece fornecer o maior poder explicativo para o caso da internacionalização da
Vale, aprofundar a análise do caso sob a ótica dessa teoria. Como o presente estudo tinha
como objetivo analisar sete teorias, o nível de profundidade em cada uma delas foi limitado,
um trabalho dedicado exclusivamente ao Paradigma Eclético ampliaria o entendimento do
processo de internacionalização da Vale.
110
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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empresas brasileiras: algumas reflexões. Revista do BNDES, v.12, n. 24, p. 43-76, dez.
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115
APÊNDICE
APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA
Data:
Nome do Respondente:
Cargo / Empresa Atual:
Cargos Ocupados na Vale:
1. Quais motivos levaram a Vale a se internacionalizar?
2. Quais os indicadores que a Vale analisa ao decidir se deve ou não estabelecer um
relacionamento com um país estrangeiro e qual deve ser a natureza desse investimento
(exportação, representação comercial ou produção)?
3. Algum dos investimentos internacionais da Vale foi motivado pela vontade de passar a
produzir um insumo que antes era comprado no mercado? Ou passar a efetuar um
processo que antes era terceirizado?
4. Quais são as vantagens da Vale, em relação as empresas locais, para explorar uma
operação no estrangeiro?
5. Existe algum minério que a Vale não encontra no Brasil e por isso busca explorá-lo
em suas operações no estrangeiro?
6. As operações no estrangeiro buscam apenas contribuir financeiramente para a
empresa? Ou há também uma função estratégica? Se sim, qual seria essa função?
7. Quais geralmente são as etapas do processo de internacionalização? O processo
costuma ser gradual? Se sim, qual é a importância do processo ser gradual?
8. A experiência na internacionalização para um país acelerou a internacionalização para
outro?
116
9. Como era a situação da Vale no mercado nacional quando ela iniciou seu processo de
internacionalização?
10. A Vale já saiu de algum mercado estrangeiro? O quanto os investimentos feitos no
estrangeiro são reversíveis? Há no mercado firmas interessadas em comprar os ativos
estrangeiros da Vale, caso ela decida desinvestir?
11. Qual a importância da rede de relacionamentos da Vale (fornecedores, compradores,
parceiros e até concorrentes) em sua estratégia de internacionalização? A Vale já se
internacionalizou para algum país para acompanhar um parceiro de negócios, como
um cliente, por exemplo? Ou a Vale já incentivou a internacionalização de algum
parceiro de negócios?
12. No processo de internacionalização da Vale alguma pessoa teve um destaque especial?
Alguém atuou como empreendedor, descobrindo e desenvolvendo uma oportunidade
internacional específica?