O meu Lugar
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Hoje eu acordei, e não estava em lugares costumeiros. Acordei em um tempo novo, em uma nova época, em um novo mundo.
Levantei-me da cama.
Meus pés tocam algum tipo de solo empoeirado, ríspido e frio.
Mas a sensação é agradável.
Cheiro de terra, de mato, de chuva fina de uma manhã escura e cinzenta.
Caminho a passos lentos, suaves, a gravidade parece diminuta nesse lugar.
O ambiente é denso, e não vejo um palmo diante de meu rosto.
O puro vazio assusta-me sobremaneira.
Não há ninguém, não há ruídos, não há sequer um rastro de sonoridade ou presença.
Apenas a solidão de um espaço obscuro e sinistro.
Paro diante de uma porta.
Madeira judiada pelo tempo, de um tom que mistura o nublado do firmamento e os reflexos do breu.
Com um rugido que parecia interminável e ensurdecedor, empurro aquele imenso portal para o desconhecido.
Nada além de uma visão inerte, figuras desconexas, muitos degraus e vasto terreno ocre.
Corro. O fôlego me falta, o ar gelado não penetra em meus pulmões, apenas o som apavorado de meus passos no chão surdo de terra batida.
Não há retorno.
Não há saídas.
Passado esse portal, neste caminho que oscila entre o familiar e o novo, não existem meios de voltar.
Apenas duas opções: ou enfrento o desafio, arriscando-me ao tão conhecido, particular e ao mesmo tempo cotidiano possível sofrimento do platonismo, ou estanco a caminhada, e ainda assim enfrento a dor de não tê-lo vivido.
O resultado de ambas as escolhas, eu não sei.
Mas sei que tenho todo o corpo, toda a alma e a essência do que sou, unidos e presos a essa neblina.
Neblina agora quente, amaciada pelo alvo brilho que emana daquela boca ao se abrir em malicioso sorriso.
Hei de permanecer nesta nova terra desconhecida, e desbravar toda a magnitude que teus apetrechos oferecerem-me...
...pois que não sou mais eu sem ser presente neste território.
Amo este lugar.