O Jornalismo Do Futuro
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O JORNALISMO DO FUTURO:
o processo de comunicao no jornalismo digital
por
Elaine Cunha Chistofori
(Aluna da Faculdade de Comunicao Social)
Monografia apresentada ao Departamento de Jornalismo na disciplina Projeto Experi-mental.Orientador Acadmico: Prof. Doutor Aluizio Ramos Trinta
UFJF FACOM 1. sem.2006
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CHISTOFORI, Elaine Cunha. O jornalismo do futuro: o processo de comunicao do jornalismo digital. Juiz de Fora: UFJF, FACOM, 1.sem.2006. 88 folhas. Projeto Expe-rimental da Faculdade de Comunicao Social.
Banca Examinadora
____________________________________ Prof. Mestra Teresa Cristina da Costa Neves
Convidada
____________________________________ Prof. Doutor Paulo Roberto Figueira
Convidado
____________________________________ Prof. Doutor Aluizio Ramos Trinta
Orientador
Projeto Examinado em ___/___/2006
Conceito: ______________
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SINOPSE
Estudo do processo de comunicao e algu-mas caractersticas do jornalismo impresso em comparao com o jornalismo digital, destacan-do o modo de fazer jornalismo, o formato do texto e a relao do profissional com o seu p-blico.
Study of the communication process and some characteristics of the printed journalism matter in comparison with the digital journalism, standing out the way to make the journalism, format of the text and the relation of the professional with his public.
Palavra-chave: processo de comunicao
jornalismo impresso jornalismo digital
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SUMRIO
1. INTRODUO
2. A IMPORTNCIA DA COMUNICAO
2.1. Comunicao e jornalismo
2.2. Elementos bsicos do processo de comunicao
3. O JORNALISMO NA SUA ORIGEM
3.1. Jornalismo impresso
3.1.1. Breve histrico do jornalismo no mundo e no Brasil3.1.2. Estilos, linguagens e modelos dos jornais3.1.3. Pessoas, funes e elementos do jornalismo impresso
3.2. Caracterstica do veculo
3.2.1. Identificao dos elementos dentro do processo de comunicao3.2.2. O processo de comunicao nas especificidades do canal
4- O NOVO JORNALISMO
4.1. Jornalismo digital
4.1.1. Breve histrico do jornalismo digital no mundo e no Brasil4.1.2. Caracterstica do jornalismo digital4.1.3. Elementos importantes
4.2. Caracterstica do canal
4.2.1. Identificao dos Elementos4.2.2. O processo de comunicao e a especificidade do canal
5- CONCLUSO
6- REFERNCIAS BIBLIOGRFICA
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1. INTRODUO:
Os avanos tecnolgicos contribuem para o desenvolvimento de uma socie-
dade. A humanidade presenciou, no ltimo sculo, transformaes que afetaram nas
mais diversas reas. Poltica, economia, biologia, geografia e energia so exemplos
de reas que sofreram grandes modificaes. No entanto, a comunicao entre os
homens tem um destaque fundamental neste trabalho, principalmente no tratamento
dos veculos de comunicao e no exercer da atividade jornalstica.
Com o surgimento do jornalismo digital muitos estudiosos anunciaram o fim
do jornal impresso. Hoje se sabe que apenas 5% das pessoas lem os seus jornais
na internet. O fim do impresso, que vrias vezes foi anunciado como prximo, se es-
barrou em um novo meio de comunicao sem identidade, linguagem e repleto de
problemas e desafios, que o torna incapaz de substituir um veculo to antigo e es-
truturado. Tentar mudar esta realidade caminhar em uma longa estrada com bar-
reiras e mitos, que dependem de um estudo profundo sobre o assunto.
A construo deste projeto se prope a analisar a realizao do processo de
comunicao no jornalismo digital, o comparando com o jornalismo impresso. Co-
nhecer a relao da fonte produtora de mensagem (empresas jornalsticas e profissi-
onais da rea) com os receptores (leitores); o formato do estilo e elementos da men-
sagem; anlise bsica do contedo da mensagem (notcias); especificidade do canal
de comunicao e construo de um possvel sentido para o processo de comunica-
o so itens que compem este trabalho.
Durante as aulas das disciplinas Teoria da Comunicao e Estudos da Re-
cepo, na Faculdade de Comunicao da UFJF (Universidade Federal de Juiz de
Fora) surgiram alguns questionamentos. O estudo de teorias que demonstram o po-
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der de controle da opinio pblica dos grandes meios de comunicao de massa fez
surgir dvidas. Seria possvel a existncia de um veculo de comunicao democrti-
co, onde o significado original da palavra comunicao, comum a todos, fosse real-
mente praticado? Um lugar sem hierarquia entre fontes (produtores de mensagem) e
receptores? Um canal em que todos pudessem expressar suas idias e informaes
sem obstculos e filtros? Um meio no qual o jornalismo de forma precisa, aprofunda-
da e completa pudesse gerar conhecimento de acordo com o interesse de cada indi-
vduo? Foram estes questionamentos que originaram tal pesquisa.
Os estudantes de jornalismo ao entrar na faculdade trazem a esperana de
divulgar somente a verdade, de poder descobrir corrupes e crimes, de gerar co-
nhecimentos no seu pblico e estimular reflexes e debates para a construo de
uma sociedade mais justa. Porm, o contato com estgios e jornalistas com anos de
experincia mostram uma realidade diferente repleta de interesse e manipulao da
informao pela mdia.
Este trabalho uma tentativa de renascer a mesma esperana vivenciada por
muitos profissionais no incio da faculdade. Espera-se que a busca de conhecimento
do novo veculo possa renovar as expectativas para um novo formato de jornalismo.
Esta pesquisa um primeiro passo, em termos acadmicos, para despertar um estu-
do mais terico e um melhor uso prtico do veculo hipermdia, que abre inmeras
oportunidades a cada momento. Um veculo to complexo e amplo esta sendo subu-
tilizado, aqum da sua capacidade.
Em termos profissionais, o novo veculo pode no futuro acabar com o proble-
ma de mercado saturado na rea jornalstica. A hipermdia uma oportunidade para
os jornalistas trabalharem em diversas mdias, em mais de uma empresa e quem
sabe at tornarem-se empresrios. A possibilidade de construo de um site jorna-
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lstico no algo de grande investimento, permitindo as muitas pessoas possuir pro-
dutos jornalsticos na rede de computadores. Por ser algo novo, a hipermdia exige
profissionais renovados acostumados, com as novas tecnologias e com uma baga-
gem de conhecimento geral. Assim abre possibilidades para os inmeros jovens re-
cm-formados.
A sociedade tambm ter benefcios com o melhor aproveitamento do novo
canal. O pblico poder receber informaes mais aprofundadas, dados realizados
por profissionais especializados nos assuntos tratados e contedo sem restrio ou
censura. Todas estas modificaes possibilitaro, alm de um conhecimento mais
acessvel, uma transformao do leitor, em um indivduo mais ativo, com opinies
prprias e mais atentas aos problemas sociais. Resumindo, mais vigilantes do poder
pblico.
As idias do terico francs Pierre Lvy e a experincia da professora de jor-
nalismo digital da ECA, PUC e Unifeo, Pollyana Ferrari foram a base deste estudo.
Lvy, em seu livro As Tecnologias da Inteligncia fez uma avaliao das tcnicas de
transmisso e de tratamento de mensagens, redefinindo toda uma organizao da
estrutura da comunicao. Assim o autor, props o fim da pretensa oposio entre o
homem e a mquina e ataca, tambm, o mito da tcnica neutra, nem boa, nem m,
e sim pea integrante de um processo de comunicao. A autora Pollyana Ferrari,
por sua vez, descreve em seu livro Jornalismo Digital, a forma atual que a hipermdia
exerce o jornalismo, as inmeras possibilidades de abrangncia e reflete sobre o fu-
turo do veculo associado renovao das funes do profissional.
Muitos livros poderiam ser usados neste trabalho, mas devido novidade do
assunto h uma dificuldade de acesso s obras especficas do tema. Seja por ainda
no haver traduo para lngua portuguesa, pelo seu alto custo ou a no disponibili-
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dade em bibliotecas.
A estrutura do trabalho foi originada graas a um questionamento: A mudana
do canal de comunicao, do impresso para o digital, pode alterar a relao dos jor-
nalistas com o seu pblico e o contedo da mensagem? A partir da, a pesquisa foi
iniciada. Tentando analisar caractersticas dos dois veculos de comunicao e o tra-
balho do jornalista verificou-se alteraes importantes na relao de fonte e recepto-
res, alm de um novo cenrio que se abre como um leque de possibilidades para
produo, transmisso e recepo de mensagem.
Dessa forma, durante o trabalho, ficou clara a necessidade de um maior avan-
o no estudo da hipermdia. O novo veculo ainda est imerso no conceito de reu-
nio das mdias tradicionais. Precisa romper esta associao e identificar a hiperm-
dia como um veculo independente, com caractersticas, linguagem, forma e produ-
tos prprios. Este trabalho apenas o engatinhar do conhecimento do jornalismo di-
gital, que apesar de no possuir uma estrutura definida, j se concretiza nas pginas
da internet.
Com objetivo de desvendar os mistrios do novo canal, o estudo em questo
foi dividido em trs captulos. O primeiro mostra a evoluo da comunicao dos ho-
mens desde o tempo da oralidade at os dias atuais, passando pela escrita, o ad-
vento da imprensa e os avanos dos meios de comunicao. Neste captulo h uma
definio bsica do conceito de comunicao e de jornalismo. Na ltima parte, o pro-
jeto esclarece o conceito de processo de comunicao e os principais elementos en-
volvidos (fonte, codificador, canal, mensagem, decodificador e receptor).
O segundo captulo trata do desenvolvimento dos meios de comunicao e o
seu poder na sociedade. Alm de trazer informaes sobre o jornalismo impresso,
com um breve histrico no mundo e no Brasil; o estilo, a linguagem e o modelo do
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produto (demonstrando conceitos como a entrada, lead e pirmide invertida); e as
pessoas envolvidas. Na parte final, o estudo volta-se para as caractersticas prpria
do veculo e uma possvel estrutura do processo de comunicao no canal impresso.
O ltimo captulo exibe a definio de globalizao e o surgimento da internet.
Nesse captulo relata, tambm, os princpios do jornalismo digital, exibindo suas defi-
nies, o seu histrico no mundo e no Brasil, as caractersticas e elementos de mdi-
as usados na sua estruturao (hipertexto, links, portais, e-mails e outros). As lti-
mas pginas trazem a identificao do canal com suas especificidades e um poss-
vel processo de comunicao.
2. A IMPORTNCIA DA COMUNICAO:
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A comunicao distingue os seres vivos. Em seres humanos e animais, ges-
tos, combinaes de gritos e grunhidos so atos de instinto comunicativo. A trans-
misso de mensagens e comportamentos se perpetua por geraes. Um exemplo
disso so as colmias de abelhas, que mantm uma organizao hierrquica e es-
trutura, com diviso em classes sociais e comunicao interna entre abelhas, mes-
mo as de outras colmias.
Hoje impossvel imaginar um mundo sem comunicao. Alm da forma de
interao entre os homens, caracterstica essencial para diferenciao deste em re-
lao a outros animais, o mundo vive uma comunicao que supera o espao e o
tempo. Fala, escrita, transportes e mdia so os responsveis por ligaes entre indi-
vduos, culturas e ambientes. A humanidade conseguiu construir formas eficazes e
particulares de comunicao, graas ao extraordinrio instrumento da memria e da
propagao das representaes, pela linguagem.
O homem, como ser racional, conseguiu associar um determinado som ou
gesto a certo objeto ou ao. Dessa forma, criou o signo, aquilo que faz referncia a
um objeto ou idia; e a significao ou uso social dos signos, formando assim a base
da comunicao humana. Outro ponto a ser destacado foi a criao da gramtica,
ou seja, as regras de associao de signos. A combinao de signos sob uma deter-
minada ordem permite que qualquer pensamento ou idia de um indivduo seja
transmitido em forma de mensagem para outro, manifestando assim a existncia da
linguagem.
No se sabe quando nem como, mas em um determinado momento o homem
com a evoluo de sua espcie viu a aptido de seu aparelho fonador em produzir
sons e pronunciar palavras, combinando sons articulados. Baseando-se no poder de
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organizao da estrutura comunicativa, a principal caracterstica para identificar uma
sociedade, fica fcil perceber que o primeiro passo dado da humanidade foi a con-
quista da linguagem verbal articulada, ou seja, a oralidade. Pierre Lvy, no livro As
Tecnologias da Inteligncia, dividiu a oralidade em dois tempos: a oralidade primria
e a secundria. A primeira seria caracterstica de uma sociedade que s dispe da
palavra e dos gestos como forma de comunicao. A outra, de uma sociedade que
usa a linguagem oral como complemento da escrita.
A oralidade primria remete ao papel da palavra antes que uma sociedade tenha ado-tado a escrita, a oralidade secundria est relacionada a um estatuto da palavra que complementar ao da escrita, tal como o conhecemos hoje. Na oralidade primria, a palavra tem como funo bsica a gesto da memria social, e no apenas a livre ex-presso das pessoas ou a comunicao prtica cotidiana. Hoje em dia a palavra viva, as palavras que se perdem no vento, destaca-se sobre o fundo de um imenso cor-pus de textos: os escritos que permanecem. O mundo da oralidade primria, por ou-tro lado, situa-se antes de qualquer distino escrito/ falado.(LVY,1993, p. 77)
A inteligncia na sociedade oral se fundamenta na memria auditiva. O co-
nhecimento transmitido atravs de discursos e narrativas repetidas entre as gera-
es em forma de ciclo peridico. O uso somente da linguagem oral apresenta limi-
taes, como a falta de permanncia durante o tempo e de alcance por diferentes
espaos. Da surge para o homem a necessidade de fixar seus signos e transmiti-los
a distncia. A princpio os desenhos so usados e, mais tarde, a linguagem escrita o
substitui.
A escrita foi o segundo passo importante para evoluo de tcnicas de comu-
nicao. Ela responsvel por armazenar sons da linguagem oral para usos mais
duradouros. Escrever permite aos homens arquivar, expandir e explorar a lingua-
gem, controlando os signos por um distanciamento de espao e tempo. Como escre-
veu Pierre Lvy (1993), a pedra fala sempre, inaltervel, repetindo incansavelmente
a lei ou narrativa, retomando textualmente as palavras inscritas. A aquisio desta
tecnologia proporcionou a sociedade condies para se organizar socialmente,
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construir cdigos legais e criar padres de comportamento.
A comunicao presencia com a escrita um patamar do seu aperfeioamento.
Mas a prpria linguagem escrita desenvolve uma evoluo, que democratizou o seu
uso. A primeira forma de manifestao foram os pictogramas, signos que guardam
correspondncia direta entre o desenho e o objeto representado, como os hierglifos
do antigo Egito. Com a existncia de algumas limitaes na compreenso e tradu-
o dos pictogramas, houve a necessidade de usar os signos no para representar
objetos, mas para personalizar idias, o caso dos ideogramas chineses e japone-
ses.
Porm, o grau de liberdade e democracia no domnio da escrita s foi atingido
quando os homens perceberam que as palavras compunham-se por unidades me-
nores de sons, os fonemas. Assim, a escrita tornou-se silbica ou fonogrfica, e pos-
teriormente alfabtica, com a criao das letras. De acordo com Derrick de Kerckho-
ve, em seu livro A pele da cultura, a explicao de Havlock resume o aprimoramento
da escrita, no momento em que esta cria as unidades do alfabeto.
Como explica Haverock, os cdigos alfabticos so muito mais poderosos do que os silabrios porque, em vez de analisarem as lnguas faladas em termos de slabas pro-nunciadas, levam esta anlise ao nvel dos fonemas individuais. Isto reduz o nmero de caracteres necessrios para a representao das palavras ditas e tambm elimina as ambigidades nas complexas contraces silbicas. Quanto mais simples e mais fiel o cdigo, mais poderoso se torna ao garantir um controlo consciente sobre a lin-guagem. Havelock sugere que os melhoramentos do alfabeto grego elevaram o esta-tuto da escrita de ferramenta para a memria a ferramenta do pensamento. A inteli-gncia humana libertou-se do peso da lembrana para se aplicar na inovao.(KERCKHOVE, 1997, p. 258)
A escrita se baseia na aposta da sua durabilidade no tempo, permanecer du-
rante anos. Com isso, ela separa o emissor do receptor, impossibilitando a interao
do contexto da mensagem. O texto, isolado, nas condies da criao e na leitura
apresenta obstculos e risco de mau entendimento, de perdas e erros. A intelign-
cia, nesta fase, diferente da memria no perodo da oralidade se fixa na capacidade
de raciocinar, criticar e interpretar o contedo da mensagem.
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A escrita permite uma situao prtica de comunicao radicalmente nova. Pela pri-meira vez os discursos podem ser separados das circunstncias particulares em que foram produzidos. Os hipertextos do autor e do leitor podem portanto ser to diferen-tes quanto possveis. A comunicao puramente escrita elimina a mediao humana no contexto que adaptava ou traduzia as mensagens vindas de um outro tempo ou lu-gar. (...) A transmisso oral era sempre, simultaneamente, uma traduo, uma adap-tao e uma traio. Por estar restrita a uma fidelidade, a uma rigidez absoluta, a mensagem escrita corre risco de tornar-se obscura para seu leitor.(LVY, 1993, p. 89)
A escrita rompeu o tempo, porm, faltava ultrapassar as barreiras da distn-
cia. Era preciso criar um meio de transporte da mensagem mais prtico que as pe-
dras e os pergaminhos de couro. Os chineses solucionaram o problema com a cria-
o de papel, mas o grande avano foi quando o alemo Guttenberg inventou a im-
prensa, na segunda metade do sculo XV.
A passagem da caligrafia para a impresso provoca uma transformao na
histria da humanidade. Antes os acontecimentos do passado eram repetidos
freqentemente, em ciclos construindo os rituais na fase da oralidade, agora se tor-
na linear, com uma ordem seqencial de signos e fatos sobre a pgina. Essas novas
caractersticas rompem com a tradio de escutar narrativas, prpria da fase oral.
Como destacou Pierre Lvy (1993), a quantidade de livros impressos possibilita as-
sociaes e recombinaes de textos, originando um leitor independente.
A impresso transformou profundamente o modo de transmisso dos textos. Dada a quantidade de livros em circulao, no seria mais possvel que cada leitor fosse in-troduzido as suas interpretaes por um mestre que tivesse, por sua vez, recebido um ensino oral. O destinatrio do texto agora um indivduo isolado que l em siln-cio. Mais que nunca, a exposio escrita se apresenta como auto-suficiente. A nova tcnica, tal qual se desenvolveu na Europa a partir do meio do sculo XV, contribuiu para romper elos da tradio.(LVY, 1993, p. 96)
Os usos da fragmentao, da descontextualizao e da recombinao amplia-
ram o nvel de comunicao. Desde a criao do alfabeto, o homem percebeu como
a fragmentao levada a menor unidade permite uma independncia do cdigo, pos-
sibilitando a sua combinao em um novo contexto. o que ocorre com as peas
de montar (brinquedo infantil), unidades de formas diferentes e pequenas permitem
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construo de objetos variados.
Ao analisar (fragmentar) a matria e a linguagem, dividir (descontextualizar) segmen-tos teis, e depois combinando-os (recombinao) com outros segmentos as culturas ocidentais praticaram a inovao como uma estratgia de sobrevivncia. Isto levou a saltos quantitativos na aplicao da inteligncia a situaes sociais, culturais e tecno-lgicas.(KERCKHOVE, 1997, p. 265)
Com os avanos tecnolgicos a comunicao aumentou a sua eficcia graas
a inmeras invenes. Fotografia, telgrafo, telefone, rdio, televiso, satlite e com-
putadores so apenas alguns exemplos de descobertas que favoreceram o domnio
do poder da comunicao, ampliada pelo espao e o tempo. Atualmente, o mundo
se encontra interligado por uma rede global que permite a divulgao de qualquer in-
formao em tempo instantneo e entre espaos distantes.
2.1. Comunicao e Jornalismo
Para analisar o processo de comunicao no jornalismo impresso e digital
precisa-se estabelecer uma definio bsica das palavras comunicao, jornalismo
e processo1. A palavra comunicao com o passar do tempo ganhou vrios significa-
dos. Ligaes entre espaos, meios eletrnicos, transporte e relaes entre empre-
sas so algumas das situaes de comunicao. Mas ao buscar a sua essncia, en-
contra-se o seu significado bsico que a relao do homem com os seus seme-
lhantes, no seu ambiente e consigo mesmo. Sobre o uso freqente de comunicao
David Berlo, em seu livro O Processo de Comunicao, diz:
A palavra comunicao tornou-se popular. usada hoje para denominar os proble-mas de relaes entre trabalhadores e dirigentes, entre naes, entre pessoas em geral. Alguns usos do rtulo comunicao se referem a um modo diferente de ver tais problemas; outros, simplesmente, mudam o nome dos mesmos problemas que existiam ontem.(BERLO, 1999, p. 13)
1 O conceito de processo e o termo processo de comunicao sero apresentados no prxi-mo subcaptulo, porm as caractersticas da comunicao e do jornalismo sero estudadas neste mo-mento.
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A partir da dcada de 70, a palavra comunicao fortaleceu o seu uso no
campo social. Estudos sobre o homem social, o indivduo que ao mesmo tempo
produto e criador do ambiente em que vive, foi a principal razo para este foco. A co-
municao significou a relao em que o novo homem social mantm com seu ambi-
ente e com as pessoas que o cerca. Juan E. Daz Bodernave, em seu livro O que
comunicao, explica a comunicao como fator importante na socializao do ho-
mem.
A comunicao foi o canal pelo quais os padres de vida de sua cultura foram-lhe transmitidos, pelo qual aprendeu a ser membro de sua sociedade de sua famlia, de seu grupo de amigos, de sua vizinhana, de sua nao. Foi assim que adotou a sua cultura, isto , os modos de pensamento e de ao, suas crenas e valores, seus hbitos e tabus.(BORDENAVE, 1982, p. 17)
A tentativa de definir o significado da comunicao antiga. Aristteles definiu
a comunicao como o estudo da retrica, que a procura de todos os meios dis-
ponveis de persuaso. Assim, o objetivo da comunicao passou a ser analisado
como a tentativa de levar outras pessoas a adotarem o ponto de vista de quem fala,
permanecendo este conceito at o fim do sculo XVIII.
Da segunda metade do sculo XVIII, a concretizao das escolas de pensa-
mento, como a psicologia das faculdades, mudou a concepo feita por Aristteles e
props uma nova realidade. Uma diviso entre os objetivos da comunicao em in-
formativo (racional), persuasivo (emoo) e divertimento (entretenimento) foi estabe-
lecida. A distino do sistema informar-persuadir-divertir pode ser trabalhada inde-
pendente ou em conjunto, dependendo da situao.
Muitas discusses foram levantadas sobre o assunto. Mas o fato principal
que o homem possui uma necessidade de interar, trocar, se relacionar com a socie-
dade em que vive. E, para isso, o indivduo precisa ser influente e decisivo, as suas
opinies e seus pensamentos devem ser ouvidos e aceitos. O foco da comunicao
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definitivamente a audincia.
Nosso objetivo bsico na comunicao tornarmo-nos agentes influentes, afetar-mos outros, nosso ambiente fsico e ns prprios, tornarmo-nos agentes determi-nantes, trmos opo no andamento das coisas. Em suma, ns nos comunicamos para influenciar para afetar com inteno.(BERLO, 1999, p. 20)
A palavra comunicao pode ser definida como uma situao que compreen-
de a produo de uma mensagem por algum, com objetivo de informar, persuadir
ou divertir uma audincia que ir receber esta mensagem. De acordo com a enciclo-
pdia livre Wikipdia, o conceito de comunicao :
A comunicao humana um processo que envolve a troca de informaes, e utiliza os sistemas simblicos como suporte para este fim. Esto envolvidos neste processo uma infinidade de maneiras de se comunicar: duas pessoas tendo uma conversa face-a-face, ou atravs de gestos com as mos, mensagens enviadas utilizando a rede global de telecomunicaes, a fala, a escrita que permitem interagir com as ou-tras pessoas e efetuar algum tipo de troca informacional.(Wikipedia. Disponvel em . Acesso em: 3 de maio de 2006)
A palavra jornalismo possui o uso mais restrito a sua definio. de origem
mais recente do que o vocbulo comunicao. A grande maioria dos estudiosos
acredita que o jornalismo, ou atividade jornalista, uma forma de comunicao.
Os jornalistas como outros profissionais que utilizam a comunicao so con-
siderados responsveis por desenvolverem a arte da elaborao das mensagens.
Pesquisas de produo, percepo, decodificao, interpretao e incorporao de
contedo so cada vez mais freqentes no jornalismo. A preocupao por uma me-
lhor forma de comunicar surgiu por causa das grandes capacidades tcnicas desen-
volvidas pela humanidade, o que explica a criao de profissionais especficos para
cada etapa do processo de comunicao.
Fora do terreno acadmico, a revoluo tecnolgica na comunicao criou ou desen-volveu maior necessidade de competncia no exerccio da mesma. Jornais, revistas, a oratria, o teatro, h muito so o mercado do comunicador profissional. sse mer-cado foi agora ampliado pela necessidade de redatores de propaganda, de conselhei-ros de relaes pblicas, de diretores-produtores de rdio, televiso e cinema, de tc-nicos em audiovisuais, e congneres.(...) fcil apontar diferenas entre um redator de propaganda, um tcnico em audio-visuais e um inquiridor de opinio pblica. Ao mesmo tempo, um processo bsico ca-racteriza o trabalho de todos sses profissionais e liga-os de maneira significativa.
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Cada qual responsvel pela criao, emisso ou avaliao do impacto de mensa-gens que se destinam a produzir efeito sbre uma ou mais audincias.(BERLO, 1999, p. 13)
Ao analisar a atividade jornalstica, o ato de relatar um acontecimento, perce-
be-se dois fatos importantes, que de qualquer maneira funcionam como um ato de
comunicao. O primeiro diz respeito a um papel de intermedirio da comunicao.
Isto ocorre devido s vrias fases de manipulao do fato a ser informado antes da
sua chegada audincia (a pauta, a inteno do chefe de reportagem, a interpreta-
o do jornalista do fato, o fato em si, a escolha do cdigo para formar a mensagem,
a escolha do canal, a edio e a recepo da audincia). E o segundo, como verda-
deira fonte de informao, o caso da parte do editorial (espao onde dada a opi-
nio dos editores do jornal sobre um determinado acontecimento).
Enfim, a definio da palavra jornalismo est totalmente ligada descrio
das tarefas dirias dos seus profissionais, os jornalistas. O uso de vocbulos como
pauta, apurao, notcia, redao e edio so freqentes em qualquer conceito de
jornalismo2. A enciclopdia Wikipdia explica jornalismo como:
Atividade profissional que consiste em lidar com notcias, dados factuais e divulgao de informaes. Tambm define-se o Jornalismo como a prtica de coletar, redigir, editar e publicar informaes sobre eventos atuais. Jornalismo uma atividade de Comunicao.(Wikipdia. Disponvel em: Acesso em: 3 de maio de 2006)
2.2. Elementos Bsicos do Processo de Comunicao
Cada situao de comunicao possui suas caractersticas prprias, mas po-
dem ser encontrados elementos comuns. A definio de algumas unidades seme-
lhantes na comunicao e a forma de relacion-las chama-se processo de comuni-
cao. Para entender tal procedimento preciso compreender o conceito complexo 2 Detalhes sobre o processo desses atos s sero vistos no prximo captulo
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da palavra processo. O processo algo contnuo, que no possui um incio e nem
um fim, uma variao, mvel. Os ingredientes do processo agem um sobre os
outros e cada um afeta todos os demais. Essa situao pode ser verificada nas pala-
vras de Juan E. Daz Bordenave em seu livro O que comunicao:
No possvel, assim, enumerar as fases de uma comunicao como se fossem par-tes de uma seqncia linear e ordenada. A comunicao, de fato, um processo mul-tifactico que ocorre ao mesmo tempo em vrios nveis consciente, subconsciente, inconsciente , como parte orgnica do dinmico processo da prpria vida.(BORDENAVE, 1982, p. 41)
Diante dessa informao fica claro que, para estudar o processo de comuni-
cao, deve-se congelar o seu funcionamento por um determinado instante, para po-
der melhor analis-lo.
A busca para compreenso de como funciona o processo de comunicao
antigo. Desde o perodo clssico, Aristteles j pincelava os ingredientes da comuni-
cao. No seu livro A Retrica ele apontava a importncia de trs elementos da co-
municao: quem fala, o discurso e a audincia. Pode-se organizar o estudo do pro-
cesso sob trs ttulos: a pessoa que fala; o discurso que faz e a pessoa que ouve. A
partir da vrios modelos de comunicao foram criados, todos similares ao de Aris-
tteles, porm um pouco mais complexos.
Neste projeto de estudo o modelo a ser usado ser o que possui coerncia
com os modelos criados por estudiosos e cientistas, no se preocupando com a ter-
mologia e sim o conceito dos elementos.
Assim, pode-se dizer que todo ato de comunicao possui uma fonte, pessoa
ou grupo de pessoas com objetivo de transmitir algo, se comunicar. Para isso, a
idia, o pensamento, a inteno ou a informao que a fonte possui o objetivo de co-
municar deve ser expresso em forma de mensagem. O contedo da mensagem
para ser entendido deve usar um cdigo comum aos participantes do processo, o
que seria a linguagem. Para traduzir a idia em um cdigo especfico essencial a
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presena do terceiro elemento, o codificador.
A conduo da mensagem produzida pela fonte e traduzida pelo codificador
s ser possvel atravs de um intermedirio, o canal. O canal ou meio aparece de
diversas formas, desde o ar, que permite a propagao das ondas sonoras, at os
mais avanados meios tecnolgicos, como a internet. Porm, at agora, no houve
comunicao, porque a fonte precisa ser ouvida por algum, neste momento que
se faz presente o receptor da comunicao. Este quinto ingrediente s vai poder
exercer o seu papel com a presena de uma nova traduo da mensagem, para po-
der entend-la, no caso o decodificador, tambm faz parte do modelo.
Como o processo de comunicao algo constante, o receptor aps decodifi-
car a mensagem reagir mesma, produzindo idias, pensamentos, intenes e in-
formaes que sero expressos. O interessante observar que neste momento o re-
ceptor vira fonte e produz o que chamamos de feedback. Temos, agora, a continua-
o do processo no qual o indivduo ora se comporta como fonte, ora como receptor.
E esta seqncia sucessiva confirma o que foi dito antes, impossibilidade de se en-
contrar um incio e um fim do processo.
Quando h um objetivo de comunicar e uma resposta a obter, o comunicador
espera eficcia na sua comunicao. Com isso, o conceito de fidelidade e rudo de-
monstra o sucesso ou fracasso da comunicao. A fidelidade pode ser entendida
como a compreenso exata do receptor de acordo com a inteno que a fonte quis
transmitir e o rudo a presena de algum fator que no permitiu esta real compre-
enso.
Um codificador de alta fidelidade o que expressa perfeitamente o que a fonte quer dizer. (...) Rudo e fidelidade so as duas faces da mesma moeda. A eliminao do rudo aumenta a fidelidade; a produo de rudo reduz a fidelidade. Parte da literatura de comunicao fala em rudo, parte em fidelidade. Seja qual for o rtulo, o problema ser o mesmo.(BERLO, 1999, p. 43)
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Depois de estabelecidos os ingredientes necessrios para comunicao (fon-
te, codificador, mensagem, canal, decodificador e receptor), resta agora defini-los,
segundo os conceitos de David K. Berlo (1999). Sendo assim, considera-se:
1) Fonte: pessoa ou grupo de pessoas que tm por objetivo transmitir para outro
indivduo, grupo de indivduos ou para si mesmo um pensamento, idia, inten-
o ou informao. Segundo David K. Berlo h pelo menos quatro espcies
de fatores dentro da fonte que podem aumentar a fidelidade da comunicao,
so os seguintes:
a) Habilidade de comunicao: domnio da forma escolhida para ex-
pressar o cdigo usado para traduzir a mensagem.
Como codificadores-fontes, os nossos nveis de habilidade comunicativa determinam de duas formas a fidelidade de nossa comunicao. Primeiro, afetam a nossa capaci-dade de analisar nossos prprios objetivos e intenes, de dizer alguma coisa quando nos comunicamos. Segundo, afetam a nossa capacidade de codificar mensagens que exprimam o que pretendemos.(BERLO, 1999, p. 44)
b) Atitudes: a forma ou o sentimento (emoo), como a fonte se relacio-
na consigo mesmo, com o assunto a ser tratado e com o recebedor
ir influenciar no momento da comunicao.
c) Nvel de conhecimentos: a sabedoria ou o conhecimento sobre o as-
sunto afetar a mensagem final. Se o grau de conhecimento for pe-
queno a efetividade do material ser pequena tambm. Mas pode
ocorrer o inverso um alto nvel de conhecimento pode dificultar a co-
municao, j que o receptor talvez no esteja preparado, causando
rudo.
d) Sistema cultural-social: toda fonte recebe influncia direta do seu
ambiente cultural e social. A funo em uma sociedade, a classe so-
cial e o contedo cultural traz uma posio, status, que transparece,
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claramente, no discurso. Pessoas da mesma cultura e do mesmo pa-
tamar social possuem mais facilidade de se comunicar entre si.
2) Codificador: toda forma de expressar, traduzir, o objetivo, a palavra, a
idia, a inteno ou a informao da fonte em um determinado cdigo. O co-
dificador aparece como complemento do canal, na comunicao humana o
codificador pode ser cordas vocais, msculos que demonstram expresses;
ou o saber escrever. E no caso dos meios eletrnicos varia entre ondas, fios,
satlites e outros.
3) Mensagem: o produto final do sistema codificador-fonte.
Definimos mensagem como o produto fsico real do codificador-fonte. Quando fala-mos, o discurso a mensagem. Se escrevemos, a escrita a mensagem. Ao pintar-mos, a pintura a mensagem. Quando gesticulamos, os movimentos dos braos, as expresses do rosto so a mensagem.(BERLO, 1999, p. 54)
Assim importante destacar trs fatores:
a) Cdigo: um grupo de elementos regidos por um conjunto de re-
gras ou normas, que so estruturados sobre a conveno ou aceita-
o de uma sociedade.
Um cdigo pode ser definido como qualquer grupo de smbolos capaz de ser estrutu-rado de maneira a ter significao para algum. Os idiomas so cdigos. A lngua in-glsa um cdigo: contm elementos (sons, letras, palavras, etc.) que so dispostos em certas ordens que tm significao, e no em outras ordens.(BERLO, 1999, p. 57)
b) Contedo da mensagem: o material da mensagem escolhido pela
fonte para exprimir o seu objetivo, a ordem, a palavra e a idia ex-
pressa.
c) Tratamento da mensagem: a forma que cada fonte possui para
selecionar o signo (cdigo), a seqncia (contedo) que a mensa-
gem ser apresentada. o tratamento que ir personificar a mensa-
gem.
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4) Canal: uma espcie de veculo que transporta a mensagem de um ponto a
outro, intermedirio da comunicao. A escolha do canal cabe s pessoas en-
volvidas na comunicao (a fonte e o receptor). A seleo do canal o ponto
marcante da comunicao.
5) Decodificador: muito similar ao codificador, enquanto o codificador tem
como principal funo de traduzir a inteno da fonte, o decodificador vai
exercer a funo traduzir novamente a mensagem para a compreenso do re-
ceptor entender a inteno da mensagem. Assim se o codificador for a fala o
decodificador vai ser a audio se um for a escrita o outro vai ser a leitura.
6) Receptor: o objetivo que a fonte pretende atingir. Mas algo deve ficar bem
claro, a semelhana entre a fonte e receptor que variam os seus papis no
discurso.
til falar sbre fontes e recebedores separadamente, para fins analtico. Mas, no faz sentido supor que se trate de funes independentes, de tipos independentes de comportamento. Chamar um indivduo de fonte implica paralisar a dinmica do pro-cesso em determinado ponto; cham-lo de recebedor implica que simplesmente cor-tamos o processo noutro ponto.(BERLO, 1999, p. 52)
Enfim, estes so os ingredientes comuns no processo de comunicao. Mas,
apenas a presena deles no significa que haja comunicao. Somente a relao, a
mistura, que vai poder definir a existncia ou no do processo de comunicao.
3. O JORNALISMO NA SUA ORIGEM:
A comunicao foi essencial para a humanidade; porm, imprescindvel foi o
advento dos meios de comunicao. Por sua intermediao se produzem, so arma-
zenadas e circulam os materiais simblicos, muito significativos para produtores e
receptores. A capacidade de executar essas tarefas compe caracterstica importan-
te, tendo permitido ao homem dominar o seu ambiente e conviver socialmente com
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seus semelhantes. Assim, John B. Thompson, em seu livro A Mdia e a Modernida-
de, expressa a importncia do desenvolvimento dos meios de comunicao:
(...) o desenvolvimento dos meios de comunicao , em sentido fundamental, uma reelaborao do carter simblico da vida social, uma reorganizao dos meios pelos quais a informao e o contedo simblico so produzidos e intercambiados no mun-do social e uma reestruturao dos meios pelos quais os indivduos se relacionam en-tre si. Se o homem um animal suspenso em teias de significado que ele mesmo te-ceu, como Geertz uma vez observou (GEERTZ, Clifford, The Interpretation of Cultu-res, p. 5), ento os meios de comunicao so rodas de fiar no mundo moderno e, ao usar estes meios os seres humanos fabricam teias de significao para si mesmos. (THOMPSON, 1998, p. 19/20)
Os meios de comunicao podem ser analisados na sua usabilidade. Segun-
do Thompson, h quatro tipos de aspecto: em primeiro lugar, a capacidade de fixa-
o da forma simblica, variando a preservao em graus de durabilidade conforme
o meio tcnico utilizado. O segundo atributo diz respeito ao poder de reproduo, de
multiplicao de cpias de uma produo caracterstica essa que se ampliou gra-
as criao da imprensa e permitiu uma explorao comercial dos meios de comu-
nicao. Outro aspecto se refere capacidade de distanciamento espao-temporal.
A ltima caracterstica diz respeito a habilidade, competncia e formas de conheci-
mento exigidas pelo uso do meio tcnico, uma vez que, para se elaborar e emitir a
mensagem, necessrio um conjunto de regras e procedimentos (codificar e deco-
dificar), formando um contedo e se enviando a mensagem a um canal, para dar
curso ao processo de comunicao.
Desde o seu advento, os meios de comunicao so instrumentos de uma hi-
erarquia, a quem os domina na sociedade de que so parte. O domnio das formas
simblicas (produo, transmisso e recepo de significados) e o saber prprio a
seu uso confere prestgio. Por ser caracterstica fundamental da vida social, os indi-
vduos que lidam com a atividade simblica so respeitados pelo seu poder de con-
vencimento, sua liderana e sua capacidade de intervir.
Na produo de formas simblicas, os indivduos se servem destas e de outras fontes para realizar aes que possam intervir no curso dos acontecimentos com con-
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seqncias as mais diversas. As aes simblicas podem provocar reaes, liderar respostas de determinado teor, sugerir caminhas e decises, induzir a crer e descrer, apoiar os negcios do estado ou sublevar as massas em revolta coletiva. Usarei o ter-mo poder simblico para me referir a esta capacidade de intervir no curso dos acon-tecimentos, de influenciar as aes dos outros e produzir eventos por meio da produ-o e da transmisso de formas simblicas.(THOMPSON, 1998, p. 24)
O poder simblico se assemelha ao poder econmico, poltico e coercitivo tal
como se encontrado na sociedade. H muitos estudiosos que consideram a comu-
nicao e as mdias como um quarto poder, em referncia aos trs poderes (Execu-
tivo, Legislativo e Judicirio) constitudos. Vrias irregularidades, quando apresenta-
das pelos meios de comunicao, provocam reaes imediatas, repercutindo mais
do que quando so apresentadas por um rgo pblico especfico. Escndalos, de-
nncias de corrupo e fraudes so constantemente descobertos pelos veculos de
comunicao, o que fortalece o seu poder na sociedade.
Assim, pode-se falar em instituies detentoras do poder cultural, tal como as
igrejas, que se dedicam a formas simblicas associadas salvao, aos valores es-
pirituais e s crenas; tambm as escolas e universidades, que se ocupam com a
transmisso de conhecimentos e a pesquisa cientfica; e a indstria da mdia, que se
orienta para a produo em larga escala e a difuso generalizada de formas simbli-
cas.
Com os avanos alcanados por estudos, pesquisa e tecnologia, os meios
tcnicos de comunicao passaram da simples extenso da capacidade humana em
falar e ouvir para a complexidade de aparelhos eletrnicos de codificao, decodifi-
cao e transmisso de mensagens. Assim, muitos estudiosos consideram os meios
de comunicao como produtos da indstria de comunicao massiva3.
Durante as fases iniciais do desenvolvimento da imprensa escrita peridica, e em al-guns setores das indstrias da mdia hoje (por exemplo, algumas editoras de livros e revistas), a audincia foi e permanece relativamente pequena e especializada. Assim,
3 O termo comunicao massiva significa, basicamente, a comunicao dirigida a um nmero indeter-minado de indivduos, heterogneos e annimos, produzida por uma fonte organizada ampla e com-plexa.
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se o termo massa deve ser utilizado, no se pode, porm, reduzi-lo a uma questo de quantidade. O que importa na comunicao de massa no est na quantidade de indivduos que recebe os produtos, mas no fato de que estes produtos esto dispon-veis em princpio para uma grande pluralidade de destinatrios.(THOMPSON, 1998, p. 30)
A humanidade conheceu o primeiro veculo de comunicao massiva, o livro,
com o surgimento da imprensa. O livro pertence a esta categoria, porque produzi-
do por uma fonte para uma ampla audincia, reproduzido diversas vezes em carter
comercial e fixa o seu contedo pelo espao e pelo tempo. Depois dos livros vieram
os jornais peridicos, fotografia, rdio, cinema, televiso e, agora, a internet.
Esses veculos fazem parte de uma Indstria Cultural, que se desenvolveu
com os avanos proporcionados com a Revoluo Industrial. Desta forma, os vecu-
los de comunicao de massa visam alguns objetivos, como a explorao comercial,
atribuindo valores para os seus produtos (as formas simblicas) e tornando dispon-
veis tais produtos a uma audincia pblica.
A comunicao de massa implica a mercantilizao das formas simblicas no sentido de que os objetos produzidos pelas instituies da mdia passam por um processo de valorizao econmica. (...) A mercantilizao de alguns impressos, como livros e panfletos, depende quase inteiramente da capacidade de produzir e vender as mlti-plas cpias da obra. Outros impressos (jornais, por exemplo) combinam este tipo de valorizao com outros, como a capacidade de vender o espao de propaganda. No caso das transmisses de rdio e televiso, a venda do tempo de propaganda aos anunciantes tem sido fundamental importncia, em alguns contextos nacionais, para a valorizao econmica. (THOMPSON, 1998, p. 33)
Os produtos da mdia esto disponveis nos mais diversos locais, definindo
um padro de vida e propondo uma felicidade a ser alcanada. Eles se auto-propa-
gam em meio social. O despertar de desejos, a busca de status e os sonhos de con-
sumo s podem ser satisfeitos com tais formas simblicas, sempre disponveis em
um mesmo padro para um grupo heterogneo de indivduos.
Os produtos da mdia so disponveis, em princpio, a uma pluralidade de destinatri-os. Eles so produzidos em mltiplas cpias ou transmitidos para uma multiplicidade de receptores, e permanecem disponveis a quem quer que tenha os meios tcnicos, as habilidades e os recursos para adquiri-los. Neste aspecto, a comunicao de mas-sa se diferencia de outras formas de comunicao como as conversas telefnicas, as teleconferncias, ou as produes particulares de vdeo que empregam os mes-mos meios tcnicos de fixao e transmisso, mas que so dirigidas para um indiv-
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duo ou para um grupo bem restrito de receptores.(THOMPSON, 1998, p. 35)
3.1. Jornalismo impresso
O jornalismo impresso foi a primeira atividade de produo e transmisso de
fatos a uma audincia. O jornalismo uma forma de comunicao em sociedade.
Assim, possui como objetivo principal manter um sistema de vigilncia e de controle
dos poderes; numa nao democrtica, essas caractersticas so observadas difu-
so pblica da informao.
Aes como informar, analisar atos, expor contextos, explicar as possveis
conseqncias e revelar condies pem destaque o papel do jornalismo. A notcia
deve trazer para o espao pblico assuntos de interesse social, que, de outro modo,
poderiam passar despercebidos.
3.1.1. Breve histria do jornalismo no mundo e no Brasil
difcil dzer quando surgiu a prtica jornalstica, no entanto o desenvolvimen-
to desta atividade ganhou fora no perodo da criao da imprensa de Guttenberg,
por volta de 1450. O jornal estava subordinado ao desenvolvimento da economia de
mercado e tambm s leis de circulao; as notcias informavam sobre exportaes,
importaes, o comrcio em geral e a vida de polticos.
H uma dvida sobre qual teria sido o primeiro jornal impresso; alguns histori-
adores acreditam que tenha sido o Noviny Poradn Celho Mesice Zari Lta 1597
(Jornal Completo do Ms Inteiro de Setembro de 1597), mensrio editado em Praga
por Daniel Sedltchansky, a partir de 1597. Antes disso, o que se existia eram folhe-
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tos e gazeta, impressos em formato de panfletos. Essas foram as caractersticas da
primeira fase do jornalismo, que no sculo XVII comea adquirir carter dirio4.
Aps um perodo em que a notcia era tratada como uma mercadoria e a in-
formao, negociada, iniciou-se a segunda fase do jornalismo, por volta do sculo
XVII. O jornalismo passa da imprensa informativa para a opinativa, caracterizando o
jornalismo literrio e poltico, que colocou em segundo plano, finalidades econmi-
cas e trouxe para as manchetes artigos e escritos com fins pedaggicos e polticos.
No incio do sculo XIX, mudanas radicais na tecnologia modificaram os ru-
mos e o carter da imprensa. A criao da prensa rotativa por Koning, em 1812, o
advento do telgrafo e a evoluo dos transportes foram importantes para permitir
uma maior produo, melhor distribuio e menores custos, que caracterizaram, de
par com o desenvolvimento industrial, um jornal feito para massa. Com estes in-
ventos, os jornais ficaram menos opinativos e mais factuais e noticiosos, iniciando-
se aqui a terceira fase. As matrias envolvem cada vez mais o mundo da poltica, da
economia e da guerra, substituindo os artigos. Como destacou Mrio L. Erbolato, em
seu livro Tcnicas de Codificao em Jornalismo:
Os novos pblicos conquistados para os jornais pela imprensa popular fizeram alar-gar o leque do noticivel a assuntos de interesse humano. O pioneiro foi o The New York Sun, dirigido por Benjamin Day, que reduziu as notcias sobre poltica e dimen-so dos artigos de fundo para publicar crnicas sobre assuntos de interesse humano (os bbados, os ladres, as pessoas comuns que expunham os seus problemas na polcia, etc.). Difundem-se, igualmente, novas tcnicas jornalsticas, destinadas a um pblico vasto.(ERBOLATO, 1978, p. 138)
Alm das mudanas de assuntos noticiados, houve modificaes no estilo da
reportagem. Jornalistas especializados em certos temas foram contratados; tcni-
cas, como a pirmide invertida, foram implantadas. As empresas jornalsticas se
transformaram em empresas capitalistas, visando sua auto-sustentao. Espaos
4 Ciro Marcondes Filho em seu livro Comunicao e jornalismo: a saga dos ces perdidos (2000). Considera a definio, relatada aqui, de primeira fase como a pr-histria do jornalismo (1631-1789) e a segunda fase (1789-1830), como o primeiro jornalismo e assim por diante.
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para publicidades foram comercializados, havendo preocupao com os interesses
dos leitores; jornais mais factuais e sensacionalismo jornalstico renovaram o modo
de fazer peridicos, criando o Novo Jornalismo.
A imprensa popular apresentava uma linguagem acessvel, clara, concisa, di-
reta, simples e precisa, alm de grafismo inovador e grandes manchetes. Contedos
referentes a escndalos, combate corrupo, histrias de interesse humano e ilus-
traes se tornaram cada vez mais freqentes. Em um mesmo paralelo, a imprensa
de referncia conquistou seus leitores. Sua linguagem era baseada no rigor, na exa-
tido, na sobriedade grfica e de contedos; havia anlise opinativa, independncia
e culto da objetividade, assim se consagrando jornais como The Times, The New
York Times, O Estado de S. Paulo, a Folha de S. Paulo e o Jornal do Brasil.
A cobertura da I e da II Guerras possibilitou o incio de uma segunda etapa do
movimento Novo Jornalismo com o retorno do jornalismo de investigao em profun-
didade, que revelou o caso Watergate e o novo papel para o profissional da notcia,
cada vez mais encarado como intrprete ativo da realidade. Como mostra Joo Pe-
dro de Sousa, em seu trabalho Elementos de Jornalismo Impresso:
O movimento do (segundo) Novo Jornalismo surge como uma tentativa de retoma do jornalismo aprofundado de investigao por parte de jornalistas e escritores que des-confiavam das fontes informativas tradicionais e se sentiam descontentes com as roti-nas do jornalismo, mormente com as suas limitaes estilsticas e funcionais. De en-tre esses profissionais podem destacar-se, por exemplo, Truman Capote ou o prprio Tom Wolfe, entre outros.(SOUSA, 2001, p. 29)
Em meados dos anos 80, inicia-se a quarta fase do jornalismo. Novas tecno-
logias fizeram com que o jornal mudasse. O motivo foi a concorrncia com a televi-
so, tornando os dirios mais atraentes com infogrficos, alm de matrias de entre-
tenimento, de servios e utilidades. Mas, a principal mudana foram os meios on-
line, e o advento do World Wide Web (www), que aumentaram a interatividade entre
jornalistas, jornais e pblico.
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Neste mesmo perodo, uma mudana importante caracterizou os jornais. For-
maram-se grandes grupos multimiditicos, que substituram gradualmente as empre-
sas por uma s mdia. Assistiu-se convergncia dos setores das telecomunica-
es, da informtica e de elaborao de contedos.
Em parte atravs de fuses, tomadas de controle e outras formas de diversificao, os grandes conglomerados da comunicao emergiram e assumiram um crescente e importante papel no domnio da mdia: so organizaes multimdia e multinacionais que participam dos lucros de uma variedade de indstrias interessadas na informao e na comunicao. A diversificao em escala global permite que as grandes corpora-es se expandam de modo a evitar restries ao direito de propriedade presentes em muitos contextos nacionais; ela tambm lhes permite beneficiarem-se da conces-so de certos tipos de subsdios. Hoje os maiores conglomerados da comunicao tais como Time Warner, grupo Bertelsmann, News Corporation de Rupert Murdoch, Fininvest de Silvio Berlusconi se tornaram jogadores-chave nas indstrias da mdia. Estas grandes concentraes de poder econmico e simblico fornecem as bases institucionais para a produo de informao e contedo simblico e sua circulao em escala global(THOMPSON, 1998, p. 74/45)
No Brasil, o primeiro jornal foi o Correio Braziliense, fundado em Londres, no
ano de 1808, por Hiplito Jos Costa. O objetivo era combater a censura existente
no Pas, tratando de temas polticos. O Correio Braziliense era produzido e vendido
na Inglaterra e chegava ao Brasil clandestinamente. Tinha 100 pginas, era mensal,
caro e apresentava um tom mais doutrinrio do que informativo.
A partir de 1820, com o fim da censura, o Correio passou a circular livremente
e novos jornais foram criados, tais como o Dirio do Rio de Janeiro, o Revrbero
Constitucional Fluminense e a Sentinela da Liberdade. Em sua maioria, adotavam ti-
nha um tom panfletrio e eram favorveis independncia poltica do Brasil. Usa-
vam muitos adjetivos (e at alguns ermos de calo), sempre em tom agressivo e en-
ftico. Neste perodo, os jornais no eram muito acessveis, porque seu preo era
elevado e a maior parte da populao era analfabeta.
No Segundo Reinado, teve incio uma nova fase do jornalismo brasileiro: era
menos poltica e polmica para se fazer mais literria e mundana. Dessa poca, so
Jornal do Comrcio (1827), a Gazeta de Notcias (1874), o Estado de S. Paulo
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(1875) e, mais tarde, o Jornal do Brasil (1891), que exibiam nas suas pginas textos
de famosos jornalistas escritores, como Machado de Assis, Jos Alencar, Raul Pom-
pia, Jos Verssimo e outros. Como destacou Isabel Travancas, em seu artigo Lite-
ratura e Imprensa:
Poder-se-ia afirmar que esse perodo caracterizado como literrio por trs aspectos: pelo fato de publicar nas pginas dos dirios da poca romances e folhetins, por apresentarem os dirios um estilo de escrita que ainda no possua objetividade e conciso do jornalismo do sculo XX, e por estimularem e divulgarem os jornais a produo literria, brasileira ou no.(TRAVANCAS, 1997, p. 44)
No sculo XIX, o nmero de habitantes do Rio de Janeiro triplicou; porm, a
quantidade de consumidores de jornais, revistas e livros permaneceram restritos
apenas elite aristocrtica e alta burguesia. O analfabetismo ainda tinha elevados
ndices. Os peridicos publicavam crnicas, resenhas, fragmentos de narrativas e
romances em captulos.
So dessa poca jornalistas-escritores ilustres como Olavo Bilac e Aluisio de Azeve-do. Para Lage so esses personagens que caracterizam a imprensa daquele mo-mento, j sofrendo modificaes. Segundo ele, muitos se tornaram notveis: Eucli-des da Cunha, Lima Barreto, Joo do Rio (Joo Paulo Alberto Coelho Barreto). A Eu-clides deve-se uma cobertura antolgica da campanha de Canudos, a Lima Barreto uma participao crtica que refletiu, com certa angulao poltica, o fechamento auto-crtico da sociedade brasileira de seu tempo; a Joo do Rio, o desenvolvimento de um estilo de reportagem urbana na observao da realidade, coleta de informaes e tratamento literrio do texto. A partir desta fase, os jornalistas comearam a se distin-guir dos escritores, formando uma categoria prpria.(TRAVANCAS, 1997, p. 46)
Com a virada do sculo, os jornais trazem, alm de poltica e literatura, entre-
vistas e reportagens. A imprensa descobre a publicidade e passa a ser uma empre-
sa capitalista. Os pequenos jornais, com estruturas simples, do lugar s empresas
jornalsticas de maior porte, contando com complexos equipamentos grficos. o
incio da industrializao dos jornais. Aparecem, neste perodo, grandes jornais, tais
como o Correio da Manh. As empresas familiares se tornam caractersticas nesse
setor, o que mais tarde ocorrer tambm com as editoras. Forma-se o conglomerado
dos Dirios Associados e os jornais passam a ter sedes prprias com prdios monu-
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mentais. Para muitos, esta considerada a poca urea da imprensa escrita brasi-
leira, na qual a notcia e suas linguagem so muito valorizadas, destacando-se ainda
a objetividade, a clareza e a conciso do texto jornalstico.
No final dcada de 50, o Dirio Carioca e o Jornal do Brasil passaram por
uma reforma, sob o comando de Odilo Costa Filho e Jnio de Freitas, com a moder-
nizao e a transformao dos jornais editados. Revolucionava-se a aparncia, com
a adoo de um novo processo de produo de notcias, aliado a uma apresentao
grfica padronizada, elaborada pelo escultor Amlcar de Castro.
Atualmente, os jornais utilizam em suas redaes terminais de computadores;
so preparados de modo mais rpido e fizeram da notcia um produto para milhares
de leitores. So poucos os jornais com suplementos literrios. A literatura e os livros,
na maioria das vezes, encontram espao reduzido nas pginas dos peridicos. O
nico lugar que ainda tratam de assuntos propriamente literrios somente nos cader-
nos de cultura.
3.1.2. Estilos, linguagem e modelos dos jornais
A apurao do fato importante para produo da matria; mas, a redao
constitui ato essencial para o jornalismo. Redigir-se a mensagem, que vai ser trans-
mitida, momento relevante, uma vez que a escolha das palavras, as frases e o dis-
curso iro definir o interesse ou determinar o fracasso estilstico do texto. O jornalis-
mo dotado de uma linguagem prpria, cujo principal objetivo o interesse do leitor
pela reportagem.
O jornalismo, como uma cincia no-exata, comporta vrios estilos. Os jor-
nais adotam um nico estilo ou, s vezes, uma combinao de estilos. Tais estilos
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variam do clssico (que adota o rigor, a sobriedade, a profundidade interpretativa, a
separao entre informao e opinio) ao sensacionalismo (apresentao de fatos
muito dramatizados), passando pelo popular (sem fronteiras entre sensaes e infor-
mao) e o elitista (vocabulrio rebuscado e subjetividade).
A linguagem do texto jornalstico diferenciada de outros textos, modificando-
se de acordo com o meio de comunicao. Os princpios da redao jornalstica so:
o da correo (respeito s regras gramaticais e s normas do estilo em vigor no jor-
nal); clareza e eficcia (organizao e fcil compreenso); simplicidade (escolha de
palavras de domnio pblico); funcionalidade (obedecendo-se aos limites de um es-
pao no jornal destinado ao texto); conciso (texto compacto, econmico); preciso
e rigor (palavras que correspondem ao seu valor semntico, fontes identificadas e
detalhes importantes); seduo (cativante e agradvel), coordenao (manter uma li-
nha seqencial lgica, encadeada, ordenada); seletividade (informaes seleciona-
das, evitando irrelevncia e evidncias), utilidade (informao til para os leitores);
interesse (tornar interessante as informaes importantes); e hierarquizao (estru-
turar o texto com informaes mais e menos importantes).
Alm do estilo e da linguagem, o jornalismo impresso pode ser identificado na
diviso de categorias ou enunciaes presentes em uma notcia, que tambm pode
responder a uma nica categoria ou corresponder combinao de mais de uma.
Dessa forma, tm-se a descrio, que como prprio nome diz, descrever o fato
em si, ressaltando detalhes importantes para a compreenso; a citao, que ocorre
de maneira direta com aspas da fonte ou indireta, inclusa no texto do reprter; a
anlise, que corresponde interpretao dos acontecimentos e das idias, correla-
cionando dados para explicar ocorrncias e situaes; e a opinio, que visa manifes-
tar um saber e uma posio sobre um assunto.
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Se, na sua essncia, a descrio visa tornar pblica a informao e se a anlise visa gerar conhecimento, a opinio visa influenciar o pblico e contribuir para o debate de idias, acontecimentos e problemticas, enriquecendo o frum pblico (por vezes transformado em arena pblica).(SOUSA, 2001, p. 139)
Quanto forma ou modelo presente em alguns textos jornalsticos, podemos
destacar os que so frequentemente usados ou que j foram adotados como carac-
terstica da notcia. Os mais importantes so: entrada, lead, construo por bloco, pi-
rmide, pirmide invertida, progresso cronolgica, regra dos trs tempos, perguntas
e respostas, alm de outros mais.
A entrada um pargrafo que abre a pea jornalstica. Pode anteceder uma
notcia, uma entrevista, uma reportagem ou mesmo um artigo, mas raramente ante-
cede um editorial ou uma crnica. conhecida tambm como abertura ou super-le-
ad. Sua principal funo atrair o leitor e apresentar a histria, ressaltando um pon-
to interessante, pode ser escrita de forma leve e atrativa. O super-lead totalmente
independente do lead e o seu corte no afeta o contedo da notcia. Geralmente
escrito em uma grafia diferente do resto do texto e possui informaes redundantes
em relao ao texto.
O lead o primeiro pargrafo de uma notcia, funcionando como uma sntese
do que vai ser descrito no resto do texto. Ele surge no momento em que os jornais
comeam a abandonar a escrita mais literria e passam a uma forma mais direta de
se tratar o fato, criando normas com objetivos de simplificar e direcionar a notcia.
Determinou-se, ento, que as primeiras palavras da notcia deveriam dizer quem fez
o qu, como, onde, quando e por qu. Assim, o lead pode ser caracterizado, como:
Lead em ingls significa guiar, conduzir, levar, indicar o caminho, orientar, ir frente, ir na primeira posio, ir em primeiro lugar, sugerir, indicar, etc. Portanto, o lead o pargrafo que lidera e orienta, o pargrafo que sugere e indica. Isto significa que o lead , em primeiro lugar, o pargrafo que introduz o tema da pea e, em segundo lugar, o pargrafo que d o tom ao resto da pea, principalmente quando no existe entrada.(SOUSA, 2001, p. 221)
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O lead pode aparecer de diversas formas, a mais comum o de impacto ou
direto; ele possui um ncleo duro da informao, no qual uma das respostas das
seis perguntas a informao mais importante. Alm desse, existem o lead de su-
mrio, que responde a todas as perguntas sem lhes dar uma ordem de importncia;
de pergunta, que utiliza interrogaes para iniciar o texto; de provrbio, que como
nome j diz inicia com uma frase popular; de ironia; de retrato, descrevendo a cena
do acontecimento; de suspense, criando um clima dramtico; de documento, fa-
zendo o registro de um fato para o futuro; de citao, iniciando-se com uma frase;
de contraste, destacando situaes opostas; enfim, o indireto ou soft lead que, em
vez de dar todas as informaes, apenas prepara o leitor para buscar outros dados
na leitura da pea jornalstica.
Alm da entrada e o lead existem modelos para se organizar o texto jornalsti-
co como um todo. A construo por bloco um exemplo, a informao dividida por
pargrafos ou sees autnomas. Em caso de pargrafo, cada unidade do texto
provida de uma informao que se conclui no mesmo pargrafo, no levando o leitor
a procurar o complemento da informao no prximo pargrafo. So pargrafos in-
dependentes. O mesmo acontece quando a notcia dada atravs de sees, a divi-
so, que ocorre geralmente por entre-ttulos, determina a independncia da informa-
o.
Outro exemplo de modelo a pirmide, que j foi muito utilizada no jornalis-
mo, hoje figurando quase exclusivamente nos gneros literrios. Esse modelo traba-
lha com a progresso da notcia menos importante para a mais interessante, criando
uma expectativa no leitor que, por sua vez, precisa de mais tempo para concluir sua
leitura. uma tcnica aplicada a uma reportagem, que no tem por objetivo dar uma
informao imediata. conhecida tambm como nariz-de-cera.
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Existe, ainda, a pirmide invertida, o modelo mais conhecido e utilizado nas
redaes dos jornais. O modelo surgiu na Guerra de Secesso, nos Estados Unidos:
como o telgrafo era dispendioso e sua continuidade, irregular, os reprteres que es-
tavam no local precisavam passar a informao mais importante no incio da comu-
nicao ficando secundrias em plano inferiores. Assim, caso a ligao fosse inter-
rompida, a redao saberia qual o fato mais interessante a ser publicado. Pela pir-
mide invertida, a informao mais importante vem no lead e nos primeiros pargra-
fos e decresce em ordem de interesse at o fim da matria. As vantagens dessa tc-
nica consistem na posio do leitor, que fica ciente do fato logo nas primeiras linhas,
podendo interromper a leitura no meio da notcia, sem comprometimento do entendi-
mento e no trabalho do diagramador5, caso seja necessrio cortar alguma frase para
que a notcia caiba no espao reservado a ela, o profissional pode amputar o final
sem comprometer o texto.
Quando se escreve uma notcia com base no modelo da pirmide invertida, o ncleo duro da informao deve figurar no lead. Os restantes pargrafos seguem-se ao lead, sendo hierarquicamente ordenados por ordem decrescente de importncia e interes-se. Ou seja, o lead deve conter a informao mais importante e interessante. O se-gundo pargrafo conter informao um pouco menos interessante e importante do que o lead e assim sucessivamente. Os pargrafos vo-se sucedendo do que contm a informao mais importante e interessante para o que contm informao menos importante e interessante. Ao conjunto de pargrafos que surgem depois do lead cha-ma-se corpo da notcia.(SOUSA, 2001, p. 317)
H alguns modelos que no aparecem com tanta freqncia, reservando-se a
matrias especficas. A progresso cronolgica, por exemplo, uma tcnica utiliza-
da para recordar, etapa por etapa, como se chegou a uma determinada situao. A
forma mais comum consiste em narrar como decorreu o acontecimento que serve de
pretexto reportagem. Outra forma a Regra dos Trs Tempos, que mais aplica-
da em editoriais, artigos de anlise e de opinio, mas tambm pode ser utilizada em
reportagem. Consiste na estruturao de um texto com o incio, desenvolvimento e
5 Funcionrio do jornal responsvel por organiza a forma do jornal, colocando os textos, fotos, man-chetes, legendas e outros itens no seu devido lugar.
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concluso. No caso de artigos e editoriais, apresentao do tema, discusso com ar-
gumentos e tomada de posio. Enfim, tcnica de perguntas e respostas, que po-
dem ser feitas em uma entrevista ping-pong (o reprter pergunta e o entrevistado
responde, escrevendo-se as palavras que foram ditas); tambm ou no meio de uma
reportagem, para explicar melhor a informao ou ilustrar uma situao de fato.
Outros modelos podem ser utilizados, mas so raros no jornalismo dirio. Eis
alguns exemplos por itens (a fragmentao de um tema principal em vrios subte-
mas); flash-back (apresentar uma nova situao recordando o passado do mesmo
acontecimento); circular (obrigando o leitor retornar ao lead no final da matria); es-
trutura Y(desenvolvimento de duas situaes diferentes, mas com o mesmo final);
texto teatralizado (recorrendo a tcnicas do teatro) e epistolar (em forma de carta).
3.1.3. Pessoas, funes e elementos do jornalismo impresso
A atividade do jornalismo impresso compreende vrias etapas, assim como a
estrutura de produo e a transmisso da notcia envolvem um grande nmero de
pessoas, funes e elementos. O jornal no apenas um nico processo de comu-
nicao, mas sim uma rede de informao instalada em um grande e complexo pro-
cesso de comunicao. A construo do jornal tem inicio na redao, nela que en-
trando a matria-prima informativa e saindo as notcias. O processo se conclui com
a pgina nas mos do leitor.
Por causa desta complexidade e da variedade de etapas sero aqui destaca-
das aqui pessoas mais importantes na produo de um jornal, bem como e os ele-
mentos mais rotineiros da atividade jornalstica.
O funcionamento e o sucesso de um jornal, ou de uma redao, dependem,
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diretamente, do desenvolvimento do trabalho de vrias pessoas. O diretor, o chefe
de reportagem, os editores, os reprteres, os fotgrafos, o diagramador, os motoris-
tas, a secretria da redao e o arquivista, executam funes interdependentes. Fa-
lhas, que ocorram, comprometem o jornal.
Uma das figuras mais importantes no jornal o diretor, estando a seu cargo a
coordenao da publicao a ser feita, de acordo com as instrues recebidas da
Administrao, assim como a poltica editorial da empresa e os documentos pelos
quais ela a expressa. o diretor que representa o jornal; tambm ele que assume
as responsabilidades legais pelas peas no-assinadas e a co-responsabilidade le-
gal por peas assinadas. O diretor pode pedir ajuda ao Conselho Editorial, que tem
por funo aconselhar a direo e a administrao no que toca definio da linha
editorial do jornal. formado pelo editor-geral, que fica dentro da redao, resolven-
do os grandes problemas, decidindo as manchetes da primeira pgina e o editorial, e
o chefe editorial, que se responsabiliza por todas as chefias ou editorias do jornal.
Em ordem decrescente na hierarquia do poder se situa o chefe de redao.
Ele responsvel pela coordenao do trabalho na redao e pela fluidez comuni-
cativa (na redao e na rua), quando reprteres apuram uma matria. geralmente
ao chefe de redao que compete decidir sobre a distribuio de pautas e espaos
na pgina do jornal, reservando-os a diferentes editorias.
Inscrevem-se tambm entre as funes mais comuns do chefe de redaco a solicita-o de colaboraes regulares de mdia ou pequena importncia, a aceitao, rejei-o ou reelaborao de textos enviados pelas editorias, a aceitao ou rejeio de fo-tografias e infogrficos enviados, respectivamente, pela Editoria de Fotojornalismo e pela Infografia, a reviso de certos materiais, a planificao da primeira pgina e o destaque a dar a cada tema (em conjunto com os editores e, eventualmente, o dire-tor), a determinao dos reprteres a serem destacados para deslocaes prolonga-das ou para servios mais difceis ou melindrosos (igualmente em conjunto com os editores), etc.(SOUSA, 2001, p. 53)
Em algumas redaes, existe a funo da secretaria da redao, um departa-
mento auxiliar da chefia de redao e dos editores. O setor responsvel pela distri-
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buio de servios aos jornalistas, alm de entrar em contato com colaboradores e
correspondentes, elaborar agendas, controlar sadas e chegadas dos carros e os
deslocamentos dos jornalistas, organizando ainda matrias de arquivo para jornalis-
tas que estiverem cobrindo determinado assunto. E cuida tambm de aspectos mais
burocrticos da vida na redao (folgas, frias, faltas, inscries no sindicato...).
O arquivo fundamental para o jornal, servindo secretaria de reportagem.
Matrias e os jornais antigos devem estar organizados, permitindo fcil acesso no
momento em que forem requisitados. Em alguns jornais, o arquivo todo informati-
zado, facilitando a busca por assuntos ou por datas.
Os editores se responsabilizam por uma determinada seo (poltica, polcia,
cidade, cultura, esporte, mundo, fotografia, grfica etc.). Em conformidade s suas
obrigaes editoriais, eles precisam coordenar os jornalistas e verificar o material
produzido.
Compete-lhes coordenar o trabalho dos jornalistas da sua editoria, rever ou at reela-borar textos produzidos na editoria, decidir, a um primeiro nvel, sobre a publicao ou no desses textos, definir, em conjunto com a Direco, a Chefia de Redaco e a Secretaria de Redaco, os temas a tratar pela editoria, estipular, em consonncia com a Chefia de Redaco e a Direco, o espao que ser consagrado a esses te-mas, a sua disposio grfica e as chamadas primeira pgina, etc. ao editor que compete fechar as pginas da sua editoria, prestando contas Chefia de Redaco.(SOUSA, 2001, p. 56)
A produo do contedo do jornal feita por alguns profissionais. So eles: o
redator principal, tambm conhecido como copidesque, que elabora artigos especi-
ais de maior profundidade, reescrevendo alguns textos de forma torn-los mais atra-
entes e mais compreensveis. Os grandes reprteres ou reprter especiais profissio-
nais que se destacaram pela sua competncia, ganhando a confiana dos editores.
Ficam responsveis pela promoo de grandes reportagens e dispem de autono-
mia para a escolha do tema e a forma de produzi-lo. Os redatores ou reprteres, que
apuram e escrevem os textos que compem o jornal, diariamente. Os fotgrafos ou
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reprteres fotogrficos (produtores de imagens fotogrficas presente no jornal), dan-
do imagem um carter jornalstico, respeitando transmisso de informaes. Os
cronistas, articulistas ou colunistas responsveis por escrever notas, crnicas ou ar-
tigos, que ocupam o mesmo espao em dias especficos, caracterstico ao tema tra-
tado. Os correspondentes so jornalistas que permanecem junto a uma instituio
ou um pas, enviando com regularidade informaes (brutas ou tratadas) ao jornal.
Os revisores, que fazem a reviso do texto em busca de erros ortogrficos ou falhas.
E os diagramadores, responsveis pela parte grfica do jornal, situando os textos, as
fotos, os anncios, os boxes e outros itens.
O jornal composto de vrios elementos, alm do texto, que iro ajudar na
comunicao da mensagem. O ttulo, o subttulo, as fotos, as legendas, o olho (fra-
ses destacadas do texto), entre-ttulos (palavras em fontes diferentes, que quebram
a continuidade do texto) e a retranca (um texto independente que trata de um assun-
to referente notcia, figurando em um box) todos esses elementos tm a funo de
informar e organizar a notcia, de modo que ela fique compreensvel, agradvel e es-
timulante leitura.
Na confeco da notcia, o jornalista precisa vivenciar algumas etapas. A pri-
meira a pauta, que corresponde ao tema, o assunto e a angulao da matria; al-
gumas possuem indicao de fontes e um resumo do que ali se trata. A pauta pode
ser planejada de acordo com uma agenda e a cobertura de alguns eventos especfi-
cos durante o ano; pode ser gerada por uma conversa entre os editores; pode ser
sugerida por um reprter, funcionrio ou um leitor do jornal; pode, ainda, ser origem
de um acontecimento factual.
Para fabricar notcias, os jornais usam as informaes em bruto que lhes chegam atravs de cartas e telefonemas dos leitores; de e-mails; da consulta a outros rgos de comunicao social; das conferncias de imprensa; dos contactos pessoais com fontes de informao; da ronda telefnica que alguns rgos informativos fazem pela polcia, bombeiros, hospitais e outras entidades; dos comunicados imprensa envia-
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dos por diversas entidades; das pesquisas pessoais dos jornalistas na Internet, etc. (SOUSA, 2001, p. 63)
A segunda etapa o processo de apurao, o momento em que o reprter,
com o fotgrafo e o motorista, sai rua em busca de fontes, que expliquem ou rela-
tem algum acontecimento. As fontes podem variar entre rgos oficiais, testemu-
nhas, vtimas ou personagens.
Toda e qualquer entidade que possua dados susceptveis de ser usados pelo jornalis-ta no seu exerccio profissional pode ser considerada uma fonte de informao. Exis-tem, assim, vrios tipos de fontes: humanas, documentais, eletrnicas, etc. Tambm se podem classificar as fontes de acordo com a sua provenincia: internas ao rgo informativo (o Centro de Documentao, os colegas, etc.), externas (o primeiro-minis-tro, uma testemunha de um acidente, o pblico em geral, etc.) ou mistas (um jornalis-ta da casa que presenciou um acontecimento a noticiar por outro jornalista, etc.). As fontes podem ainda classificar-se acordo com o seu estatuto: oficiais estatais (Assem-blia da Repblica, etc.), oficiais no estatais (partidos polticos, sindicatos, associa-es, etc.), oficiosas (um assessor de um ministro que d a sua verso dos fatos, etc.), informais (a testemunha de um crime, o polcia de giro, etc.). (SOUSA, 2001, p. 62/63)
A ltima etapa a construo do texto, dependendo do estilo do jornalista na
forma de escolha das palavras e das idias e da posio editorial do jornal. O texto
deve obedecer normas tcnicas e as regras gramaticais, assim como a algumas ca-
ractersticas da linguagem do veculo, como j foi visto.
3.2. Caracterstica do veculo ou canal
O jornal impresso um meio de comunicao, porque exibe as caractersticas
do processo de comunicao. Sua complexa estrutura permite a produo, a trans-
misso e a recepo de mensagens. A escolha das notcias, as manchetes e as
imagens a ser apresentadas nas pginas no dia seguinte tm um nico objetivo, sa-
tisfazer o leitor.
O veculo impresso exerce uma funo especfica sua estrutura, que a de
relatar o que aconteceu com mais profundidade. Descreve uma situao como o fa-
zem a televiso e o rdio; mas, alm disso, o jornal precisa explicar, analisar e at
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opinar sobre o acontecimento. A descrio do fato, em si, j pode ser presenciada
em outros meios, como o rdio e a televiso que, devido as suas estruturas, relatam
uma situao de modo quase simultneo sua ocorrncia. Porm, o aprofundamen-
to das informaes, a busca de novos dados, o cruzamento de itens como estatstica
ou em relao a outras situaes parecidas, exigem tempo de apurao e espao
para exibio, ambas as caractersticas encontradas no impresso. Segundo Clvis
Rossi, em seu livro O que Jornalismo, o impresso possui uma funo distinta de
outros veculos:
Mas razovel supor que o universo restrito dos leitores de jornais busque um apro-fundamento e queira entender melhor o aconteceu. E tamanha a complexidade e diversidade de assuntos que afetam diretamente a rotina dos cidados ou lhes inte-ressam pela curiosidade e/ou necessidade de conhecimento que ele precisa ser aju-dado a entend-los. Ele merece explicaes dos jornais. Seria impensvel que um lei-tor qualquer, por mais ilustrado, culto e bem informado que fosse, pudesse acompa-nhar e entender informaes secas sobre medicina e poltica, energia nuclear e Afe-ganisto, educao e meio ambiente. No. Ele necessita de um aprofundamento, um questionamento que o jornal (ou revista) deveria estar em condies de fornecer.(ROSSI, 1980, p. 37/38)
3.2.1. Identificao dos elementos dentro do processo
Ao se analisar o processo de comunicao pode-se identificar, como foi visto,
seis elementos fundamentais: fonte, codificador, mensagem, canal, decodificador e
receptor. No jornalismo impresso, esses elementos aparecem de diversas formas,
principalmente nas etapas de construo da notcia, na escolha da pauta, na apura-
o e na redao do texto.
A continuidade do processo de comunicao e a alterao de tais elementos,
ora como fonte, ora como receptor, tm lugar no jornalismo impresso. O assunto que
ir virar notcia pode surgir das seguintes formas: na reunio de pautas, quando a
fonte sero os editores; nos acontecimentos do dia, na qual as fontes so os rgos
oficiais (Corpo de Bombeiros, Polcia, assessores de polticos, Prefeitura e outros) e
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eventuais denncias, reclamaes, cartas dos leitores ou testemunho de cidados,
quando os receptores valem por fontes. Porm, pode ocorrer que o reprter, na mai-
oria das vezes receptor da pauta, sirva como fonte de sua elaborao, quando ele
mesmo sugere ou vende a matria (convence ao editor que a sua pauta possui va-
lor noticioso) para o seu editor. Ou ele mesmo ter presenciado o fato e ser fonte rela-
tora de informaes.
Na apurao, o jornalista ir decodificar mensagens vindas de suas fontes,
exercendo o papel de receptor. Da mesma forma que o fotgrafo disponibilizar de
uma imagem do acontecimento para depois comunic-la pela fotografia, com a es-
colha do melhor ngulo, da luz utilizada e do enquadramento. Na cobertura de um
acidente, por exemplo, o jornalista alm de registrar a cena da coliso, ir ouvir as
fontes oficiais (policiais, soldados dos bombeiros e outros), os envolvidos no aciden-
te, as vtimas e as testemunhas. Nesse momento, ele apenas um receptor que de-
codifica mensagens provindas de vrias fontes e faz anotaes.
Aps o primeiro contato com a notcia, o reprter ir comunicar redao (ao
seu editor) o fato em si, passando de receptor para fonte da mensagem a ser difun-
dida. O editor por sua vez ir receber a informao e decidir da continuidade ou no
do trabalho do reprter e do valor da notcia: se ela merece destaque ou no, qual o
espao adequado, que localizao ter na pgina.
Na redao, o profissional, de posse das anotaes, transforma-se de recep-
tor das fontes que dominavam o contedo da mensagem para fonte de receptores
que no estavam no local, os leitores. Na criao do texto, ele ir escolher as pala-
vras, a forma e a informao a ser distribuda. Este o incio da produo de con-
tedo do jornal.
O funcionamento do jornal envolve complexa rde de comunicao. O jornal tem a seu servio pessoas cuja tarefa principal decodificar reprteres que observam uma ou mais espcies de acontecimentos e os transmitem ao sistema nervoso cen-
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tral do jornal, a redao.Quando as mensagens so recebidas, alguma deciso tomada pelo corpo editorial e expedidas ordens da redao para que se produza ou no determinada mensagem no jornal. Aqui tambm a funo codificadora se torna especializada. O jornal empre-ga redatores que reescrevem a matria, revisores de provas, linotipistas, impressores e mensageiros. Cada qual responsvel por uma ou outra parte das funes codifi-cadora e canalizadora, da remessa da mensagem da redao s pginas do jornal, e da a um conjunto diferente de recebedores o pblico leitor.(BERLO, 1999, p. 39)
O codificador no varia muito quando da confeco da notcia; ele permanece
ligado a fatos e usos lingsticos, variando apenas na forma de apresent-las. Na
escolha da pauta, o codificador usado pode ser a fala, proveniente da conversa en-
tre os editores ou transmisso da informao para a redao; tambm a escrita, as
cartas dos leitores e a prpria pauta que ser entregue ao reprter, antes de ele ir
para a rua.
Na apurao, o codificador poder variar, indo da fala do depoimento das fon-
tes e, da escrita dos documentos oficiais a respeito do acontecimento viso do re-
prter quando da descrio da cena ou da atitude de um personagem. Nessa etapa,
h codificadores importantes: a viso e a lente da mquina do reprter fotogrfico,
que utilizar a imagem para informar ao leitor.
Na redao, codificadores dominantes sero a escrita, a imagem e tudo o que
compuser o processo de leitura do jornal. Quanto sua amplitude, destacam-se: as
fontes das letras usadas, a localizao da matria na pgina e dentro do jornal, os
fios, os espaos e outros.
A mensagem ou o contedo da notcia variao pouco em suas etapas. Esta
mensagem ser bsica na escolha da pauta, proporcionando apenas uma descrio
superficial do assunto; bruta no momento da apurao, quando toda informao
guardada, no importando o seu valor, porque tudo observado e anotado pelo jor-
nalista; e precisa ou especfica na redao, uma vez que no momento de escrever,
o reprter seleciona as informaes mais importantes e mais precisas sobre o as-
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sunto, para dar credibilidade ao seu texto. Erros ocorrem e, muitas vezes, o que
exibido no jornal no corresponde realidade do fato; tambm o contedo no ou
est completo, devido presena de diversos filtros, da falta de tempo para apura-
o adequada e de outros fatores.
importante lembrar que todos os itens presentes nas pginas de jornais so
considerados mensagens. A diagramao, a forma como esto colocados os textos,
a posio das fotos, o tamanho das letras e as fontes fazer circular informao, valo-
rizam e conferem prioridade a algumas matrias. As manchetes, ttulos, subttulos,
estilo de texto, fotos, legendas, alm de outros recursos, servem para atrair a aten-
o, beneficiando a comunicao do contedo das mensagens.
O canal varia de acordo com o acesso informao. Na produo da pauta, o
canal o ambiente, que transmite as ondas sonoras, na conversa face a face entre
os editores e jornalistas, por via telefone, carta ou ainda e-mails no contato com lei-
tores, assessores e rgos. Na apurao, o canal pode ser o telefone, documentos,
jornais antigos, outros meios de comunicao de massa e outros canais que permi-
tam a captao de informaes ou dados. E, na redao, o canal o jornal impres-
so.
Os decodificadores se desincumbem de funes simtricas s dos codificado-
res. A simetria permanece na escolha da pauta, na apurao e na redao. Codifica-
dores destas etapas so: a fala, a escrita e a viso; os decodificadores: a audio, a
leitura e o reconhecimento de imagens.
Os receptores alternaro suas posies com as das fontes frequentemente.
Na produo da pauta, os receptores sero os jornalistas, que recebem as pautas
de seus editores, mas tambm podem ser os editores, quando aceitam sugesto de
pauta de seus reprteres. Os editores tambm so receptores de escolha de pauta,
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quando as fontes so rgos oficiais ou leitores.
Na apurao o reprter, quase sempre, receptor das fontes, mas pode se
transformar em fonte, quando vivencie ou presencie uma situao ou quando relate
o fato para o seu editor. E na redao os receptores so os editores e revisores; e,
em ltima escala os leitores do jornal.
Os exemplos podem ser usados tambm para ilustrar o princpio da relatividade antes referido. Em determinado nvel de anlise, podemos descrever um reprter como um decodificador. Em outro, le ser tanto fonte como recebedor e desempenhar com-portamentos de codificao e de decodificao. A maneira como iremos denomin-lo depende de nossos prprios objetivos, de como o encaramos, em que posio o situ-amos, etc.Finalmente, os exemplos demonstram o significado do processo, a inter-relao dos ingredientes da comunicao. Dentro do jornal, no podemos ordenar os aconteci-mentos da comunicao como: 1) reportagem; 2) tomada de deciso pela redao segundo o valor das mensagens recebidas; 3) ordem de insero de certos artigos no jornal e 4) codificao dsses artigos. difcil dizer o que vem primeiro.(BERLO, 1999, p. 41)
Segundo Berlo, pode-se dizer que o jornal impresso uma fonte de comuni-