O Guardiao Da Nova Era

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Thais Candido O Guardião da Nova Era São Paulo 1ª Edição - 2011

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  • Thais Candido

    O Guardio

    da Nova Era

    So Paulo

    1 Edio - 2011

  • Thais Candido

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    Copyright 2011 Todos os direitos reservados a: Thais Candido

    ISBN: 978-85-7893-000-0

    1 Edio

    Julho 2011

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    Agradecimentos Agradeo a inspirao de Deus atravs dos deuses que

    fizeram com que este livro se transformasse no meu sonho real. Ao meu filho amigo e guerreiro. minha filha fiel seguidora que j escreve suas primeiras linhas. A to inseparvel amiga e amante de todas as horas que com pacincia ajudou a concluir esta obra. conselheira Solange Vitorio, meu muito obrigada. Aos companheiros que foram inspiraes para meu aprendizado e s patrocinadoras Vandelma Mamedes, da Star Glass Auto Vidros, e Sandra Gusmo, da Rota dos Caminhes, que acreditaram no livro e

    possibilitaram a realizao deste sonho. Agradeo Editora Biblioteca 24 horas que solidificou para toda a eternidade to simples palavras. Thais Candido

    Com carvo venero a Terra, com gua sado o

    combustvel. Com fogo dou vida palavra, com ar movimento-a por

    toda a eternidade. Vento! Leve minhas palavras onde minha voz no

    pode alcanar. Seja o grito e o clamor. A esperana e a dvida, a revolta e o amor. Ensine a

    todos o poder de sentir. Seja a semente manifesta do Deus vivo e poderoso. Para honra e glria do Criador e de toda criatura.

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    Prlogo A pichao no muro indicava que aquele era o lugar

    conhecido como cracolndia, o parque de diverses. Um carro iscuro dessis importadu, num dava para v

    quem tava l dentru, por duas veiz a janela do passagero si abriu at a metade e o rosto da dama de pretu apareceu, achu

    que ela devia de ter uns quarenta e cinco anos, usava chapu e luvas. Nesse lugar, uma sinhora como essa! J num fico

    surpreso com mais nada do que acontece aqui! Quando o carro ia vir a esquina, o motorista engatou a r e par de frente ruinha. Em seguida uma minivan branca, num tinha nenhum nome, par bruscadamente atrs do carro importadu, a sinhora apontou com o brao para fora da janela, imediatamenti os botinas branca pegaru o bicho, colocaru dentro da van e sumiram depois da esquina. Isso j t virando rotina. Eu precisu ri dessa minha vida de co! Eta

    vida de co! Eu gritei e fiquei dando gargalhadas... Rio at diante das disgraas, s assim eu vivu!

    Pare com isso, no nada do que vocs esto pensando! Me soltem!

    Temos uma ordem judicial! meu primeiro dia e me mandaram escrever um

    dirio. No sei o qu nem o porqu. Mas talvez isso faa o tempo passar bem rpido. No pretendo ficar aqui por muito tempo. Vou colocar minha mochila nas costas e ningum nunca mais vai me encontrar. E, quando digo nunca mais,

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    nunca mais mesmo! Foi assim que cheguei diante do grande porto, ou melhor,

    do Portal da Alma.

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    PATROCNIO

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    Sumrio

    Portal da Alma __________________ 11

    A Grande Casa ____________________ 19

    Conhecendo a nova famlia 32

    Minha dama de branco ________ 58

    Ouvindo o silncio ______________ 68

    Buscando o Criador ____________ 84

    Almas Gmeas _____________________ 96

    A filha da Lua ____________________ 110

    Conhecendo a si mesmo ________ 129

    Vinho das Almas _________________ 141

    Passado, presente e futuro ____ 169

    Animal de poder _________________ 177

    A matemtica universal ______ 189

    Guerra em Athzulla ____________ 196

    O encontro de almas gmeas 211

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    Portal da Alma Acho que vou ser exorcizado neste lugar. Um nome

    um tanto esquisito... Desta vez eu me dei mal de verdade. O que que minha me estava pensando?

    Proibida a entrada de telefone celular, fones de

    ouvido, computador, rdio e TV. Oh, me!?! Cheguei vida primitiva. Isso no vai

    ficar assim! Vai sim, querido, aproveite, ir gostar e vai lhe fazer

    muito bem! Desce do carro, me? Um minuto, filho, estou numa ligao internacional

    muito importante. O que pode ser mais importante do que eu? Desisto,

    este o minuto que no passa nunca! Na entrada, um grande porto preto polido fazia

    refletir a minha imagem em forma de sombra, o porto era de ferro e impedia que eu descobrisse o que havia por detrs dele. Se esse lugar no fosse extico, diria que sinistro. Devia ser fnebre noite e belo durante o dia.

    O porto tinha um arco na parte superior onde estava gravado o nome, Portal da Alma, todo trabalhado com muitos smbolos desenhados que pareciam saltar do ferro. Em toda a extenso lateral havia muros dos dois lados, cobertos por trepadeiras morning glory azuis e brancas, que se perdiam no

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    horizonte. A mistura de cores das flores fez o lugar parecer uma tela de pintura a leo. Uma arte que eu aprecio.

    Acho que esse lugar uma espcie de convento mdico! S pode ser isso, ou um colgio interno. Isso bem a cara da minha me!

    Fiquei ali, parado diante do porto, e minha me, logo atrs de mim no carro alugado, parecia estar preocupada consigo prpria, com outras coisas, menos comigo. Ela no saa da droga do telefone.

    Um sol alaranjado comeava a dar sinais de querer se despedir, iluminava toda a paisagem serrana, num dourado impressionante. O lugar era lindo demais e eu nem sei o que tem atrs do porto.

    Olhei para o cu e uma ave muito distante alava um voo rasante em direo s montanhas quando, por mais que eu achasse que tinha ficado louco, inesperadamente a ave se transformou em fogo, deixando um rastro de luz. Fiquei perplexo, tentei falar, mas no havia ningum ao meu lado e, deixei para l, ela j tinha sumido mesmo.

    Devia estar ficando louco... Conviver em meio s drogas deve ter afetado minha cabea. Eu j estava vendo coisas.

    No percebi como vim parar aqui. Deram-me uma injeo de sossega-leo e dormi mais da metade do tempo no caminho. Nunca tinha ouvido falar desse lugar e no fazia ideia de onde estava. Lembrava-me s do avio e de algum me dando algo para beber.

    Quem anda prevenido sempre pode contar com a sorte, tirei da mochila uma barra de chocolate e toquei o interfone ao lado do porto:

    Ol? Ol? Tem algum a? No precisa gritar, sempre tem algum aqui, em que

    posso lhe ajudar, senhor? Acho que esto me esperando, eu sou Agnus

    Flambel.

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    Sei quem o senhor. Aguarde! Se sabe quem eu sou, porque pergunta em que pode

    me ajudar! Que mal-educado! Alm de tudo, ainda tenho de suportar pessoas mal-humoradas! Detesto pessoas que descontam nas outras suas frustraes e realizam seus trabalhos com m vontade como se fosse obrigao!

    Bem se v como h pessoas que so burras mesmo, ningum as obriga a fazer o que no gosta, so elas mesmas que se obrigam a tal. Que raiva que me d de gente ignorante!

    Era s o que me faltava, vai ver que aqui um daqueles tipos de lugares que aparentam ser bonitos e bons, mas na verdade escondem verdadeiras bases militares e laboratrios de experincia com humanos.

    Enquanto aguardava, aproveitava meus ltimos momentos de liberdade ante o porto e me detive olhando os desenhos...

    Eram vrios desenhos em relevo, que pareciam se mover, tudo era meio bagunado, sem nexo. Tinha um pouco de tudo, e algumas cenas me chamaram a ateno. Havia uma guia com uma cobra presa em suas garras. Mais abaixo, cogumelos que pareciam bord com pontinhos pretos... Estranho, levando em considerao que o porto era preto! Deve ser o sol.

    Ao lado eu via vrias flores: lrios, ltus e orqudeas, num outro ponto havia o desenho linear do que seria um vale com uma cachoeira e um sol se pondo ou nascendo sob a linha imaginria do horizonte, outros animais estavam no porto, entre eles havia uma coruja, uma pomba, um leo, um pavo, uma serpente, um escaravelho, e at um drago cuspindo fogo, seguido de uma ave com um rastro parecida com a que vi no cu.

    Outra cena no canto me prendeu a ateno, era uma figura egpcia, onde uma princesa de p com o corpo

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    dobrado estava sendo tomada pela figura masculina de um fara. Por que colocariam isso num porto?

    Uma cruz com uma rosa no centro dava a impresso de estar deitada sobre o porto. Uma rvore com razes em formato de um...

    Senhor Flambel? Sim! Entre pela porta, coloque sua bolsa e todos os seus

    pertences na janela giratria, inclusive telefone, computador e todo tipo de comida que estiver com o senhor. Siga a trilha at a grande casa. No pare no caminho. Se chegar depois das vinte e uma horas, ficar sem jantar, e noite muitos animais ficam espreita, caando, prontos para dar o bote. Apresse-se, que o sol vai se pr!

    Sim, senhor, j vou indo. Que cara louco! Pensei.

    Uma parte no porto destravou bem em cima de uma asa que parecia me convidar para entrar. Nossa!

    Quando olhei para trs minha me estava indo embora e acenava da janela gritando:

    Tchau, meu filho, eu te amo, fique bem! Fiquei observando aquela cena pattica. Se isso amor,

    eu estou lascado! Amor, amor, o que amor? Minha me sempre foi assim, suas preocupaes

    sempre estiveram nas coisas que lhe do prazer. Se eu estivesse bem e no desse trabalho, para ela era o que bastava. Sempre me deu de tudo, menos o que eu precisava. uma pena!

    O carro se afastou, e mais uma vez ela se foi, sem me dar um abrao, eu posso no voltar nunca mais, foi o que eu gritei, ela no escutou, o carro j descia a colina de volta para a estrada.

    Entrei pelo porto e o que vi me fez ficar mais embasbacado ainda. Meu, que lugar esse?

    Os muros dos dois lados mais pareciam as muralhas

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    da China, perdiam-se ante meus olhos. Pequenas flores coloridas cobriam os campos, a relva parecia cor de ouro, salpicado por joias multicoloridas.

    Se existe o Paraso e ele for parecido com isso aqui, eu diria que morri e no sabia!

    A trilha se perdia pelo caminho e era feita de pequenas pedras brancas. Pensei que teria de andar por uns dois quilmetros, devia ser depois daquele monte.

    A porta se travou atrs de mim, por dentro o porto tinha os mesmos desenhos s que de ponta cabea, achei curioso, olhei para a guarita ao lado, com pequenas janelas no alto. No havia portas ou qualquer meio de comunicao, a cor parecia uma pintura sobre pedras do que era o porto, uma pequena portinhola giratria que no dava nenhuma viso do que havia l dentro. Como que algum entra e sai deste lugar?

    SIGA A TRILHA DE PEDRAS AT A FONTE DA VIDA.

    Que lugar esse para onde minha me me mandou? No tinha nada mais louco? Agora vou ter de decifrar charadas, e o tesouro, onde deve estar escondido?

    Tinha acabado de entrar pelo Portal da Alma e dei de cara com o paraso. Um nome um tanto sugestivo para o lugar, parecia que s eu e o porto combinvamos.

    Eu te liberto, oh cavaleiro! O cu estremeceu e um facho de luz surgiu, seguido de

    um trovo. Parecia que ia ter sol e chuva. Espera a, So Pedro! brincadeirinha... Pega leve!

    Seno no chegarei Fonte da Vida vivo, vou morrer do corao antes!

    O que que eu estou fazendo aqui?!... Droga! Que droga de vida, tudo no poderia ser diferente?

    O caminho pela trilha era cercado de grama fina, de cor amarelada, com flores ora solitrias, ora em grupos,

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    todas eram simples e coloridas, tpicas da primavera. Alguns grilos passeavam pelo lugar. Em algumas pedras, tive certeza de ver um lagarto me seguindo.

    A cada cinquenta metros havia uma plaquinha com frases pensantes. Em algumas estavam escritos mais ou menos assim:

    O Todo manifestado nica e exclusivamente para deleite de nosso Deus Criador, onde partilhamos com ele todas as coisas. Se as reaes no nos so agradveis, no porque Deus se deleita de nosso sofrimento, mas simplesmente para que possamos estar aptos a experimentar os verdadeiros prazeres da nossa existncia.

    Quando li essa placa, pensei comigo que Deus no devia conhecer o sofrimento para achar que esse o melhor meio de sentir prazer.

    No fundo de mim, uma voz respondeu que Deus no achava nada.

    Loucura! Devo estar louco e por isso estou aqui ou, morri e acho que ainda estou vivo? Sei l!

    A prxima placa dizia: No h fora maior, a mesma de um lado e a mesma do

    outro. Cada lado se defende agindo em conjunto em prol de manter suas intenes e no de destruir o oponente. As baixas so resultados e nunca objetivo.

    Dessa vez eu pensei que Deus no escolhe um lado para estar. E no houve voz interior para me responder.

    E tem mais uma que vale a pena ser lembrada, estava escrito assim:

    Tudo aqui resultado da motivao de pessoas como vocs. Por isso estejam com a mente aberta para receber cada conceito, se deem ao trabalho de pensar antes de rapidamente julgarem.

    Desisti de fazer qualquer comentrio ou a prxima placa iria querer continuar o dilogo que s acontecia dentro de mim.

    Mas s para no perder o costume, na prxima estava escrito assim:

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    O maior erro est em no dar a devida importncia a tudo que ocorre ao nosso redor, alm de ver, ouvir e sentir, imprescindvel pensar! Pensar o sexto sentido com poder de um sexto e todos os outros cinco. Viver ter conscincia, reagir a estmulos de qualquer ordem. sentir! Sinta e aprender, pense e viver.

    Dispensa comentrio, foi assim que resolvi sentir o caminho at o meu destino abatedouro.

    A brisa suave tocava minha pele, causando arrepios de prazer. O aroma do campo era indescritvel! Eu me senti hipnotizado e curioso pelo lugar, ao mesmo tempo estava bufando de raiva por estar ali.

    Estava vivendo um conflito como sempre vivi em minha vida, nunca estava disposto a ir alm e me entregar a nada, vivia fugindo e acreditei que essa era a minha busca, encontrar em algum lugar algo que preenchesse esse sentimento de incompletude mesmo tendo todo dinheiro que o homem pode ter, ainda sim eu no era feliz.

    Abri os braos e senti o ar bater em minha camisa que balanava pela fora do vento fazendo um barulho agradvel de escutar; de todos os lugares em que estive, este sem dvida o mais bonito, a nica coisa que se deve ter neste lugar muita calma, brisa e uma vida pacfica, vou me entediar mais rpido do que penso se no houver mais nada a fazer do que ficar sentindo o vento, os cheiros e as paisagens.

    Hei! Tem algum a? Minha voz ecoou longe. O silncio se fez presente e apenas a minha voz me respondeu de volta como continuao do eco. Por que minha me me mandaria para esse lugar? No h nada aqui, vou ficar louco!

    Aprenda a ouvir... Loucura escutar essa voz dentro de mim como se

    fosse a minha voz falando como se soubesse todas as coisas. Escutar, ouvir, o que pode ter para ouvir alm do vento, do

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    eco? s vento e, s eco. Precisava me concentrar em caminhar. J via a noite se

    aproximar ao longe e ainda tinha de subir mais um morro e, alm disso, a chuva podia comear a qualquer momento. Grandes pedras no caminho serviam de bancos para descansar. Nem pensar, precisava caminhar, ou ia continuar tagarelando, para tentar me convencer de que tudo isso perda de tempo e o que minha me fez foi se livrar do problema. Que se dane! Ningum se importa comigo mesmo.

    L no alto, ofegante, deixei para trs o caminho que percorri. A cena a seguir era o prprio elo perdido, s que agora encontrado por mim... Nunca imaginei que esse lugar me causaria tantas surpresas.

    Uau! Isso no pode ser real, no existe um lugar assim

    em nenhuma parte do mundo, s nos filmes. A noite rapidamente cobriu o vale na parte baixa da

    montanha e apenas um rastro no horizonte se destacava da noite, laranja e vermelho anunciavam que o dia estava sendo tomado pelo anoitecer.

    A cena a mais linda que j vi. Bem, acho que no vi nada ainda! Mas que aqui o Paraso em beleza, ah, isso !

    Uma casa sobre o rochedo esquerda parecia o detalhe glorioso de um carto postal. Lampies e tochas iluminavam as proximidades da entrada, fui rapidamente atrado por ela. A noite avanava rpido e ainda poderia ter algum animal espreita, era melhor no vacilar.

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    A Grande Casa A casa era toda de madeira imperial, envernizada em

    marrom que brilhava em contraste com a luz das tochas de fogo e dos lampies. Parecia que tudo era projetado para parecer ouro reluzente. Acima da porta de entrada, uma luz branca, dessas de non que a gente conhece, s que pequena, o que tornava tudo mais bizarro ainda. Eu me estranhava estar num lugar que parecia no existir e encontrar uma luz assim, to industrializada.

    A porta se abriu e fui recebido pela Barbie, ou melhor, pela av da Barbie, parecia o tipo superav que mima seus netos, que a veneram e no veem a hora de encontr-la. Ela parecia uma quando me agarrou e me abraou, apertando-me contra os seus peitos. Seu cheiro era perfumado, fiquei constrangido com a recepo, no me lembro de ser tratado assim.

    O mais estranho que tudo parecia dourado. O pr do sol era dourado, o caminho, o reflexo no muro, as flores, a casa iluminada. E ento, uma senhora, que parecia a Barbie, de to linda, parecia reluzir ouro tambm.

    Agnus Flambel! Seja bem-vindo ao Portal da Alma. Chegou bem na hora do jantar, estvamos sua espera. Entre, vamos! Essa Rochelle, ela a enfermeira daqui e tambm minha nora. Ela vai lhe mostrar onde o seu quarto, tome um bom banho, vista o uniforme e v direto para a

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    cozinha, onde esto todos o guardando. Oi, Agnus! Muito prazer! Oi... o prazer meu! Venha, vou lhe mostrar onde seu quarto. No caminho vi que a casa era uma construo

    contempornea em madeira com detalhes folheados a ouro. Por todo o teto havia desenhos com cu, sol, lua, estrelas e nuvens, que eram cortados por guias e por corvos. Mais uma coisa sinistra! Causava at iluso de tica. Parecia que as coisas estavam se movimentando, quis olhar melhor e me perdi ali imaginando alguma continuidade da cena at que a Rochelle...

    Agnus? Desculpe! o teto deste lugar. No se preocupe. Todos ficam impressionados

    quando chegam aqui, pode ter certeza de que voc no viu nada ainda. Esse o seu quarto.

    Quantos quartos tm aqui? Quinze! Por qu? No, Nada! Quando se recolher para dormir, dever ler o

    manual de instrues que est na gaveta do criado-mudo, ao lado da cama. Se tiver alguma emergncia, dever acender a luz vermelha e, se precisar de alguma coisa, dever acender a luz azul. Aqui no so toleradas brincadeiras. No somos mordomos! No h chaves na porta, voc pode trav-la por dentro, mas tambm podemos destrav-la por fora. O jantar servido at s nove e meia. H roupas e um chuveiro quente, no se atrase, esto todos o esperando para o jantar.

    Quantas pessoas mais devem estar aqui? At tentei imaginar que tipo de pessoas encontraria, mas logo desisti. Tudo aqui surpreendente e qualquer resposta seria pura especulao.

    Meu quarto era to pequeno que num passo largo podia medir o tamanho. Do meu lado esquerdo havia uma

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    cama de solteiro, com armrio embutido na cabeceira e duas gavetas embaixo, um criado-mudo com uma pequena gaveta, um abajur com uma luz amarela, para variar e tinha um negcio daqueles de ar para se tomar oxignio e os dois fios com a luz vermelha e azul.

    Era um quarto do tipo de hospital, com a exceo de que estava numa casa de veraneio bem antiga e at agora em nada se assimilava a um hospital. Uma TV pequena estava presa parede da frente, bem acima da janelinha sobre a cmoda. Perto da cama, na cabeceira, havia um alto-falante, mas nenhum boto. O colcho era de mola e muito confortvel.

    Tinha uma cadeira de balano feita de palha que estava prximo porta do fundo do quarto. Do meu lado direito, alm da cadeira havia uma pequena porta.

    Ao abri-la, descobri ser o banheiro. Com um vaso, um gabinete com espelho que anunciava que eu realmente precisava de um banho e estava detonado, com olheiras de quem no dormia havia uma semana. Tinha uma toalha pendurada, um chuveiro com regulador de gua quente e fria, sabonete, e o mais interessante: um teto que se abria e fechava. No aguentei a curiosidade e puxei a cordinha, um cu escuro se revelou diante de mim e s o que havia era uma escurido sem fim, o ar frio fez com que eu fechasse o teto rapidinho. Parecia que tudo j estava me esperando. Bem, j estava, na verdade.

    Resolvi abrir a porta do fundo, mas a nica coisa que descobri era uma varanda de uns dois metros de largura onde encerrava o meu quarto. A noite fria e escura no dava viso de nada, parecia que at as estrelas haviam sido cobertas pela sombra.

    Apesar do tamanho e da simplicidade do quarto, ele era bem aconchegante e rico em detalhes. Havia tambm uma paisagem desenhada no teto: a mata vista de baixo para

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    cima sob um cu azul com nuvens brancas e tinha uma anja com asas que parecia de morcego e um anjo em forma de guerreiro com asas brancas, eles estavam quase unidos, bem juntos, e eu pensava que era louco!

    Meu relgio parecia uma bssola desgovernada, os ponteiros giravam de um lado para o outro. Estou na roa, no caminho at o quarto s vi quatro relgios grandes... Doidos como o meu!

    Resolvi tomar logo o banho, no havia luz no banheiro apenas o fogo da chama da vela iluminava o ambiente. A gua quente caiu sobre meu corpo, e o vapor com cheiro de leite do sabonete invadia minhas narinas... Eu me senti reconfortado como se a gua estivesse levando parte do peso que sentia ralo abaixo.

    No posso dizer que sou forte e no choro. Nessa hora confesso que chorei. Havia muita tenso durante muito tempo, ou devia ser cansao. Foi um choro, com sentimento de dor, alvio, tristeza, arrependimento, incompreenso e desespero. Eu queria morrer. Estava cansado dessa busca por algo que no sabia o que era. As pessoas eram to diferentes de mim, ou eu que era diferente? No aguentava mais tantas perguntas e nada de respostas, no aguentava mais... chorei sem parar at me cansar. Como a vida era

    difcil, pensei. Na minha vida sempre houve muitas perguntas e

    poucas respostas, e andar de um lado para outro sem encontrar o que desejava cansava mais do que se eu no fizesse nada.

    No azulejo pintado estava escrito: O que nos motiva so as perguntas e no as

    respostas! Achei interessante, s no sabia onde estava a parte que nos motivava.

    Estar ali seria a ltima chance que estava dando a mim de tentar encontrar o que tanto busco. Se no desse certo, eu estava decidido. No iria a lugar algum, acabaria logo com

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    tudo isso. Para que continuar? Ao sair do banheiro, veio-me uma sensao de estar

    leve e faminto, j que dormi o caminho todo, mal tive tempo de comer no avio. Afastei os pensamentos ruins e resolvi no pensar nisso por enquanto. Como todas as outras vezes, essa tambm merecia uma chance e, se estou aqui, o mnimo que posso fazer tentar mais uma vez.

    Sobre a cama estava um jogo de camisa e cala de amarrar, brancos, tipo indiano. Leve, confortvel e do meu nmero.

    Agora vo querer me transformar num convertido alternativo.

    Ao sair do quarto, uma msica suave tocava no ambiente e rapidamente fui guiado pelo aroma da comida. Escutei vozes vindas de outro cmodo e, ao adentrar pela porta, era um refeitrio parecido com a cozinha da minha av. No fogo lenha, a senhora Barbie preparava algum alimento muito cheiroso que aguou meu estmago.

    Na mesa havia um pessoal sentado, de um lado estavam dois caras, e duas cadeiras vazias, na ponta minha frente estava sentado um homem de meia-idade e do lado direito dele estavam Rochelle e mais trs mulheres sentadas. Uma mais linda que a outra, diga-se de passagem.

    A Barbie colocou um caldeiro no centro da mesa e iniciou as apresentaes.

    Agnus, mais uma vez, seja bem-vindo! Tratamos este lugar carinhosamente como nosso lar e a chamamos de a Grande Casa. Sinta-se vontade, a partir de agora esta a sua nova famlia!

    Meu nome Armnia, todos me chamam de Nen. Sou mdica formada pela Faculdade de Medicina Oriental. Sou doutora da mente e do corpo. Especializada em diversos ramos orientais e ocidentais de tratamentos homeopticos e psicoteraputicos, aliados aos tratamentos cientficos

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    farmacolgicos. A Rochelle, voc j a conheceu, minha nora, casada com meu filho Petrer, que formado em psicologia pela mesma faculdade.

    Seja bem-vindo! Oi! Esses so Arboc e Felix, esto aqui h quatro e dois

    meses. Essas so a Flora, a Christina e a Lunna. Esto conosco h um ano, um ms e meio e duas semanas. Sente-se! No fique de p. Faremos um minuto de silncio e poderemos jantar.

    Todos j estavam mesa, sentei-me ao lado de Felix e todos iniciaram um minuto de silncio a pedido da dona Barbie.

    Uns pareciam que estavam orando silenciosamente, Flora estava com os braos semiabertos para o alto, a Barbie estava imvel, o senhor pedra estava de cabea baixa. Ningum notou que fiquei com os olhos abertos.

    Dona Nen chacoalhou o sino uma vez e todos muito animados como que sados de um transe comearam a se servir e conversar. Menos Arboc. Este daquele tipo de pessoa de que eu no gosto. No est satisfeito e no quer que ningum fique.

    Foi um alvoroo total. Christina, minha frente, foi quem puxou assunto comigo.

    E ento h quanto tempo voc viaja? Como assim viajo? Qual o seu id? Id! O que isso? A doena que te identifica, para ter entrado aqui! Ah! No sei, acho que pensam que sou usurio de

    drogas! E no ? No! No sou. Tudo bem, me desculpe. Voc vai adorar isto aqui!

    Estamos numa fazenda localizada bem no eixo de fora

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    magntica, alinhada com o Tringulo das Bermudas, muita coisa acontece por aqui, voc veio do Brasil, no ? Cruzou o mar para chegar aqui, deve ter percebido que seu relgio no funciona corretamente.

    Eu s balanava com a cabea, ela no parava de falar, nem para eu poder responder.

    Aqui eles usam quatro relgios para saber a hora exata. Esse lugar uma irmandade coordenada pela Organizao Mundial em busca do aprimoramento do corpo e mente humana, Imacom, j ouviu falar?

    Nunca! No sei como voc entrou aqui, mas somente

    passando por um rigoroso critrio de escolha que se consegue uma vaga. Eles nunca disseram como feita a seleo. Escolhem pessoas aparentemente com problemas que escondem fatos ocultos por detrs de uma rotina problemtica que nem a medicina nem a cincia conseguem descobrir o que . Na fazenda existem mais nove lugares iguais a este, um distanciado do outro por quinze quilmetros perfazendo um crculo, dizem que no centro do crculo existe um grande templo que foi construdo por seres de sangue azul para serem realizados rituais de contato com extraterrestres. Eles no falam sobre isso, no comentam sobre as outras casas, e elas no se misturam apesar de fazerem parte de um mesmo lugar. Aqui h muitos mistrios e segredos. Sinto-me fascinada!

    No a leve to a serio, ela gosta de contar histrias, nem sei como ela soube essas coisas. Christi, pare de encher a cabea dele.

    Essa a Lunna, como pode ver a prpria Lua, to doce e to enigmtica ao mesmo tempo. Est no lugar perfeito! No disse que tudo aqui tem um toque de mistrio e segredo!

    Prazer, Lunna Serpius.

  • Thais Candido

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    Quando olhei para Lunna, meus olhos pareciam ter ficado perdidos num tempo muito remoto, a impresso que eu tinha a de que a conhecia de algum lugar, porm nunca a tinha visto em toda a minha vida. Um sentimento difcil de explicar, poderia dizer que fosse amor primeira vista, mas isso seria clich, no deve haver nada mais intenso, isso deve ser o amor, ela parecia uma deusa do Olimpo, ah, parecia.

    Oi! Sou Agnus Flambel, prazer! No ligue, eu adoro histrias e tenho muitas tambm.

    Eu vou adorar ouvi-las. Lunna olhou para Christi e sorriu. Eu sei que voc vai adorar, dona Christi! Agora ela

    no vai largar do seu p. Prazer, Felix. No tem problema. Ri junto com eles. Todos continuaram conversando animadamente.

    Arboc era estranho no esboava sorriso ou qualquer outra feio, permaneceu durante todo o jantar impassvel.

    Logo depois, dona Barbie foi para a sala e todos na cozinha comearam a limpar a loua da janta. Era uma parceria, todos ajudavam todos a manter a ordem na casa.

    Na sala, uma lareira j estava com o fogo aceso. Um aroma de dama-da-noite embalava o ar. S se ouviam o titilar do fogo, o pio da coruja, os grilos e os sapos do lado de fora. Percebi que havia muita coisa a se ouvir.

    Todos estavam sentados nas poltronas reclinveis de frente para dona Barbie, escolhi um lugarzinho e me acomodei.

    Ainda comentei com Arboc! um dia quente para acender uma lareira, no ? Ele se limitou a me olhar e me deixar falando. Aqui tudo tem estado meio confuso, eu sei que

    minha me me mandou para c por causa de drogas, mas o que eu vim fazer aqui se no sou viciado? E se eles me derem choques e medicaes que eu fique fora de controle, o que vou fazer?

  • O GUARDIO DA NOVA ERA

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    Ele me olhou, levantou-se e foi se sentar ao lado da Flora. Talvez todos aqui sejam viciados, menos eu...

    Agnus? Oi! Ah! Desculpe-me, dona Barbie, quer dizer dona

    Nen, eu estava distrado. No se preocupe! Ok? Se houver qualquer problema

    ou pergunta, pode me fazer. Certo, obrigado! Quer dizer, no tenho nenhuma

    pergunta. Obrigado. Vou contar uma histria. Lembram-se do filme O elo

    perdido...

    Por incrvel que parea, ela comeou a descrever toda a jornada daqueles amigos em busca do paraso. Eu adorava essa histria. Falou da unio, do companheirismo e do objetivo da jornada que reuniu tantos seres diferentes que tinham um mesmo propsito, tendo que se adaptar com as diferenas para conseguir vencer.

    Todos prestavam muita ateno, eu estava muito cansado da viagem e alternava minha conscincia entre o que dona Nen contava como se eu fosse o prprio personagem procura do elo perdido, todo corajoso, como um guerreiro, partindo em busca de um tesouro, desbravando pelas montanhas e liderando um grupo de personagens animados, vidos por um osis.

    Rochelle entrou na sala com uma bandeja, com leite e croissants com manteiga, deixou em cima da mesinha de centro, entregou para todos uns copinhos com uns comprimidos e gua para que bebessem, para mim tambm.

    Confesso que fiquei com medo, pois o lugar em nada parecia um hospital, e se quisessem fazer uma experincia comigo? Eu estava to desesperado que minha cabea no parava de imaginar as situaes mais absurdas, levantava hipteses do que acontecia a todo instante e eu tentava raciocinar com o que estava vendo para tentar encontrar

  • Thais Candido

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    uma lgica e s o que encontrava eram mais hipteses e nada de respostas.

    Agnus? Obrigado! Tomamos o lanche noturno e, por volta das onze horas

    da noite, todos estavam caminhando em direo aos quartos. Em plena segunda-feira de primavera, tenho de estar

    neste lugar, todo mundo parece louco, com exceo da Lunna, ela misteriosa, linda e perfumada!

    Ao lado da porta do meu quarto, havia um cesto onde estava escrito: roupa suja. Ao entrar no quarto, em cima da cama, havia um pijama branco de seda. Troquei de roupa, coloquei a outra no cesto, liguei o abajur, tomei um copo com gua. Peguei o manual na gaveta e me deitei.

    Nesse momento, uma msica comeou a soar no quarto, no lembro exatamente o que era, vinha da caixinha de som de cima da cama, era um tipo de ministrao em udio, o cara falava sobre otimismo. Parecia muito melanclico e no dei ateno. Peguei o manual e comecei a ler.

    Na capa estava escrito: Dez Regras e atrs descrita, uma a uma, cada regra

    mais uma daquelas frases pensantes. 1. Respeito e amor so mandamentos que nem

    preciso mencionar por serem os mais importantes. A necessidade de mais sempre maior naquele que

    no se contenta em ser limitado. 2. Ao tocar a msica anunciando o novo dia, dever

    levantar-se, fazer a higiene pessoal, inclusive tomar banho, arrumar o quarto e seus pertences e, ao som do sino, dever se dirigir sala de refeio.

    Quem deseja e busca encontra rapidamente aquilo

    que tanto anseia.

  • O GUARDIO DA NOVA ERA

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    3. Sempre dever estar com caderno e caneta em mos. profundamente delicioso quando se compreende

    sem barreiras o sentimento da verdade se transformando em palavras.

    4. Sentar-se no lugar determinado, tomar sua

    medicao. Quem subestima a si prprio ganha o maior inimigo

    da vida. 5. Sempre seguir as determinaes dos instrutores. Uma deciso mal tomada no s de

    responsabilidade de quem a tomou, pois afeta a todos. 6. Qualquer objeto, alimentos proibidos ou drogas no

    quarto no so permitidos. O que bom e o que mal so definidos por aquilo

    que traz harmonia ou no dentro de uma sociedade em favor do bem-estar da maioria.

    7. Andar fora da casa no horrio noturno no

    permitido sem o acompanhamento de um instrutor. Quem est dormindo continua dormindo e sonhando,

    quando acordam do sonho, logo esquecem ou no do a menor importncia. Foi apenas um sonho.

    8. Nunca acenda a luz vermelha quando de fato no

    for uma emergncia. Nunca! Algo negativo bom para quem quer alguma coisa

    negativa, e algo positivo bom para quem quer alguma coisa positiva.

    9. Essa a sua casa e a sua famlia, aja como se

    estivesse no lugar que desejasse e ame como gostaria de ser

  • Thais Candido

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    amado. O que a felicidade seno a harmonia de tudo que

    nos necessrio para viver a vida! 10. Todos os Rthis que aqui se encontram devem ser

    unidos como irmos. Aquele que capaz de governar a si prprio este rei

    de seu destino. Quanta coisa ridcula! a mistura mais grotesca de

    moral e ordem que j vi. Na caneta estava escrito: Nem tudo quer dizer

    exatamente o que aparenta ser. Eu, hein?! Este lugar fala atravs de tudo! E esse som?

    Como algum pode dizer essas coisas sem entender que mais fcil falar do que fazer?

    Perguntas, perguntas e perguntas. Estou cheio! So tantas perguntas que minha cabea di. Deitei-me na cama e, como h muito tempo no fazia, pensei em Deus e rezei como sabia:

    Meu Deus, no sei como falar com o Senhor, porque no sei nem como dizer palavras bonitas, mas, se de alguma forma estiver me ouvindo, quero que saiba que a minha vida inteira senti que foi sem razo e vazia, nunca me interessei pelo que h no mundo para que eu pudesse desfrutar, como duas coisas totalmente diferentes, nada tem graa. Nunca encontrei um lugar o qual eu sentisse que pertencesse e por isso minha vida sempre foi assim um nada, porque de certa forma sempre tentei encontrar uma razo, mas nunca soube o que procurar. Perdoe-me quando tentei no mais viver, e no sei se devo agradecer, mas obrigado por no deixar que eu conseguisse tirar a minha vida, ainda me sinto fraco e sem foras para lutar contra esses pensamentos. Sei que foi tolice, muito obrigado mesmo. Eu s queria que soubesse na verdade que estou cansado e quase desistindo.

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    No sei onde estou, ou como vim parar aqui e que lugar esse. Isso parece loucura. Se o Senhor existe, ouve o que eu digo, consegue olhar dentro do meu desespero e pode ver minha necessidade, ser que pode fazer alguma coisa agora? Porque eu juro que, se nada mudar daqui para a frente, eu no sobreviverei e no suportarei. Esta a ltima chance, a ltima que dou a mim. Ento, por favor, eu peo e suplico, faa alguma coisa para que eu consiga me salvar. Porque meus sonhos j desistiram, s resta o corpo. assim que eu me sinto. Obrigado, Deus, e boa-noite.

    A msica estava falando que era preciso lutar porque ningum combateria por mim, que ainda havia esperana, que a morte antecede a vida e que me apoiava, que sou alegre porque encontrei a felicidade...

    Ser que encontrei a felicidade? Fui caindo no sono, as ltimas palavras de que me lembro repetiam na minha mente, encontrei a felicidade, encontrei a felicidade... At no me lembrar de mais nada e dormir. Nessa noite eu no sonhei.

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    Conhecendo a nova famlia Uma msica com som de pssaros acompanhada por

    notas de harpa soava profundamente em minha mente, bem distante e cada vez mais ia aumentando, aumentando at que abri os olhos. Olhei e tudo continuava igual, o teto, os anjos. Tentei imaginar o significado, o bem e o mal unidos.

    Em cima da cmoda havia uma muda de roupa vermelha clara e uma papete, tratei de me levantar, era menos um dia.

    Levantei-me, abri a pequena janela e o que eu vi me imobilizou por uns trinta segundos. Apressei-me em abrir a porta e o que vi realmente me tirou o flego, primeiro porque abaixo dos meus ps s havia o desfiladeiro gigante de rocha e depois a vista da varanda do quarto era mais lindo que do alto da montanha, parecia que eu podia tocar o cu do vale que ficava bem abaixo de mim.

    Parte do quarto ficava sobre o desfiladeiro e era voltada para o leste, a sacada se sobressaa da pedra, o que me causou vertigem, o sol estava a pino e o que via parecia uma miragem. Os respingos de gua da cachoeira refletiam um pequeno arco-ris, que s dava para ser visto por causa da luz do sol, as cores estavam bem vibrantes, tudo era real, estava ali diante dos meus olhos. No d para explicar, deu mesmo foi uma sensao de pular l de cima do quarto.

    Qual a razo da vida, para precisar passar por tudo

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    isso aqui? Dentro de mim a voz respondia: crescer, evoluir, ser

    grande. Mas eu no dava trgua, crescer para qu? Pensei que pudesse haver respostas e eu at queria encontr-las.

    O sino tocou na cabeceira da cama e me dei conta de que no tinha arrumado o quarto. Terminei de me vestir e, na cmoda ao lado da cama, um caderno estilo antigo com um emblema em formato de losango, parecia pedra ou metal marrom, despertou minha curiosidade. Ele no estava ali quando me deitei.

    Abri a primeira pgina, um grande A em formas garrafais e bem desenhado anunciava o incio. Na pgina seguinte, no canto inferior do lado direito, dizia:

    Escreva uma dedicatria... Em seguida encontrei esses dizeres: O Criador o Grande VCUO, amalgamado de duas Foras

    presentes em trs faces, do qual se cria o meio de revelar sua infinita existncia.

    Antes do Vcuo ainda se tinha O Tudo dotado de um Grande Pensamento, o mesmo pensamento que o ser humano tem, em propores magnnimas.

    Ele sendo O Pensamento no Vcuo, quis que o Vcuo fosse revelado e assim permitiu que as duas foras se unissem a fim de criar o Tudo para que o Vcuo fosse revelado, e Ele pudesse regorjear-se do que .

    Na parte da trs da pgina continuava: Um homem que no tinha nada resolveu ganhar tudo que

    queria. Fez por onde. Ganhou tanto que dava risadas de tudo o que tinha. Satisfazendo o seu prprio desejo, desejo de olhar para tudo

    que fez e que lhe d aquela sensao de prazer inexplicvel como o pice de um orgasmo.

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    o orgulho de si prprio. Isso o Amor e esse o nome do Criador! Que Seu lugar seja reconhecido em Seu Trono!

    No tinha assinatura, quem quer que tenha escrito aquilo me deixou intrigado. Eu li, reli e li mais uma vez e no sabia se estava entendendo alguma coisa.

    Que diabos isso queria dizer?! Esse lugar no se parece com hospital e sim com uma igreja alternativa ou um convento caipira.

    No esqueci o texto, ele no quis sair da minha cabea. sempre assim quando no gostamos de uma coisa ou a achamos idiota, ela no nos abandona, fica martelando na mente.

    Fechei o caderno, guardei a caneta no bolso e segui em direo ao refeitrio. Eu era o ltimo, todos j estavam l.

    Bom dia, Agnus. Dormiu bem? Sim, dona Nen, nem me lembro do que fiz direito

    antes de pegar no sono. Sente-se e tome seu caf, logo depois vamos todos

    para a sala de leitura nos reunir. Fiquei imaginando que tipo de sala teria num hospital

    daquele. Dona Nen olhou para mim e disse: Voc ir conhecer! Alm de tudo, ainda podem ler nosso pensamento! A mesa estava farta! Tinha tanta comida quanto a mesa

    da histria de Joo e Maria. Havia bolos, pes, tortas, frutas, queijos, mel, bolachas, trufas, at docinhos de leite em p, cereal, ovos, leite, chocolate, sucos e caf. Poderia at descrever, pois pareciam obras de arte e estavam exercendo uma forte dominao sobre minha fome e o cheiro invadia as minhas narinas, ia atacar o caf...

    Vamos fazer um minuto de silncio!

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    Antes do incio, ainda tinha o minuto de silncio, no sei para qu, ainda no me disseram, acho que eles tm hbitos de rezar para agradecer pela comida. Todos fizeram o minuto de silncio, e desta vez fui pego por dona Nen, que viu que eu estava de olhos abertos. Fechei meus olhos e, por menos de um minuto, no pensei em nada. Logo todos estvamos devorando a comida e conversando.

    Lunna estava em um lindo vestido azul com uma fina pelcula de um tecido furta-cor, a mulher mais linda que j vi, parecia uma fada, uma flor branca prendia os cachos do lado, seu cabelo era to negro e comprido quanto a noite passada e exalava o mesmo perfume, por um momento isso me fez desejar estar neste lugar.

    Flora era meio astrloga, bem extica, e sua pele bronzeada lembrava uma ndia de pele vermelha. Estava primaveril e estampada como a estao, tudo para ela era se energizar com tudo, percebi que ela no falava muito, mas a vi conversando com as plantas e com os passarinhos, andava como se estivesse bailando e sorrindo, era uma viso delicada e enchia o ambiente de alegria com seu jeito infantil, esses eram os nicos momentos de que Arboc parecia gostar, ele ainda falava menos que ela, mas, quando ficava observando a Flora, seus olhos brilhavam, isso deu para perceber rapidamente.

    A Christi era totalmente o oposto e vestia um macaco vermelho-melancia que chegava ofuscar meus olhos. Felix parecia encantado com ela, e Arboc parecia zangado j que Christi, ao contrrio de Flora, no parava de falar.

    Peter, depois que terminou de ajudar Rochelle, sentou-se mesa e tudo parecia uma festa, com todos conversando, menos, claro, Arboc.

    J estvamos guardando a loua do caf, quando ele derrubou um prato no cho, em seguida caiu convulsionando, todos correram para ajudar, pois havia cacos para todos os

  • Thais Candido

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    lados. Eu fiquei imvel, no esperava por aquilo e tambm no sabia o que fazer.

    Peter pegou Arboc no colo e o levou para algum lugar que fiquei sabendo ser uma sala de emergncia igual de hospitais com aparelhagem de UTI e tudo. Queramos ir at l, mas fomos contidos por Rochelle.

    Christi, leve todos para a sala de leitura e aguardem. Arboc foi levado para a sala de dona Nen. Christi contou que ele passou a ter desmaios depois de

    sofrer um acidente de carro. Um amigo que estava de passageiro disse que ele ficou esttico por uns quinze segundos e sua pele chegou a brilhar. Ele perdeu a direo e, quando se deu conta, j estava de frente com um caminho. Ningum sabe o que ocasionou o acidente e, milagrosamente, os dois saram com ferimentos leves. Ele tinha chegado ali havia quatro meses, calado e distante, dava para ver uma sombra em seus olhos, pensava muito e falava pouco.

    Christi era bem dramtica quando falava alguma coisa. Adorava enfeitar as histrias e as encenava como uma verdadeira atriz, ela sim uma guerreira! Leva tudo na diverso.

    Fomos para a sala e todos ns ficamos apreensivos. A sala parecia uma biblioteca do jardim de infncia, um quadro branco frente e cadeiras dispostas em crculo perto de uma longa estante baixa com livros. A luz invadia a sala pelas janelas onde havia prismas balanando por causa do ar, fazendo refletir luzes coloridas que corriam por todo o cmodo, o cheiro do frescor do dia invadia a sala, era evidente que, apesar de tudo o que acontecia com Arboc, a natureza permanecia inabalada em seu processo, como se no sentisse a preocupao pairando no ar. Christi disse que ia ler um texto.

    Ficamos agitados at a hora que a Rochelle apareceu. Pessoal, o Arboc est melhor. Quero que vocs

    fiquem aqui at dona Nen voltar. Podem ler alguma coisa ou ligar o rdio.

  • O GUARDIO DA NOVA ERA

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    Rochelle uma enfermeira muito eficiente, um pouco sria, mas bem atenciosa.

    Todos ns ficamos de frente para Christi, ela levantou o livro que segurava, era seu caderno, parecido com o meu, porm o dela tinha uma pedra obsidiana em formato de crculo que transpassava a capa.

    Ontem noite eu escrevi um texto que gostaria de compartilhar com vocs, ele se chama: A Unidade perfeita.

    Lunna olhou para mim, no entendi o que seus olhos queriam dizer. E Christi comeou:

    Deus deu um mundo perfeito ao homem. O homem espiritual tinha conscincia de seu lugar como um

    Deus filho. Por isso, mesmo tendo direito ao livre-arbtrio, ele preferiu agir de acordo com a vontade de Deus, pois sua vontade perfeita e agradvel.

    Assim, o homem perfeito vivenciava a experincia de ter tudo abaixo da terra e acima do cu sob sua vontade, e foi perfeito por muito tempo.

    O animal irracional passou a ser racional e continuou vivendo conforme a sua natureza, mas o homem racional decidiu ser irracional e passou a viver de acordo com seu meio, passou a agir conforme suas vaidades e fez dos elementais seus escravos.

    Obrigando-os a fornecer cada vez mais, no respeitando seus limites e sentimentos nem sua natureza divina, o homem se tornou rei de seu planeta e pde governar sobre todas as coisas. E quando os elementais mandavam seus avisos, suas lgrimas, seu sangue, sua revolta, sua ira, o homem tripudiou e no se importou. Em sua arrogncia, achou que podia venc-los. Essa guerra existe at hoje e j dura milhes de anos.

    Nessa guerra, para o homem sair vitorioso, ele necessita renunciar ao desejo de crescimento fsico. Isso no vai acontecer! O poder daquele que tem mais e mais forte.

    Os elementais, gua, fogo, ar, terra, ter, eletricidade, magnetismo e tantos outros resolveram cobrar o que lhes so de direito e no permitiro que o homem acabe com aqueles que sempre

  • Thais Candido

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    estiveram para servir. Com sua inteligncia superior do homem, os elementais vm

    acreditando que o ser humano pode mudar. Mesmo com os enviados da parte de Deus, o homem no

    ouviu e no entendeu que Deus tiraria aquilo que lhes fora dado para servir, levaria consigo os deuses filhos e faria com que sua criao as servisse em outro lugar onde pusessem recomear.

    Cada passo para o homem foi um espao para a natureza que se criou perfeita como homem perfeito do incio.

    Ela era perfeita; E o homem tambm! E ambos caminhavam em harmonia. Os elementais serviam ao homem; E os homens os respeitavam. E ambos caminhavam em harmonia. Os elementais continuavam a servir ao homem; E o homem achou que podia dominar a natureza; Os elementais tentaram avisar o homem, Mas o homem achou que era superior e poderia vencer a

    natureza. Os elementais, como vieram para servir, continuaram a

    servir. E o homem achou que podia dominar a situao; Que havia se tornado rei. E ambos no caminhavam mais em harmonia. Os elementais iam se tornando cada vez mais fortes, A cada ato errneo do homem; Mas continuaram servindo e mandando avisos, E o homem j no era mais perfeito; Tornou-se deficiente e no mais ouviu a Voz que vem dos

    elementais, Que ainda tentaram se comunicar.

  • O GUARDIO DA NOVA ERA

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    Deram de si, atravs de homens encarnados, E ainda assim, uma pequena parte dos homens lhes deram

    ouvidos. Atravs dos elementais Deus mostrou as consequncias. Mas o homem achou que podia ser Deus. E, como Deus, ele transmutou os elementais; E os deixou cada vez mais poderosos. Por sua vez os elementais, em sua perfeio, foram evoluindo e

    o deus homem que pensa estar evoluindo foi se tornando imperfeito e frgil. Ele se achou to poderoso que criou um mundo com suas mos e esqueceu-se de viver no mundo que Deus havia preparado.

    Cada vez mais o homem foi destruindo o mundo perfeito de Deus e aumentando o poder dos elementais, que por sua vez foram ficando to evoludos que no precisavam mais ficar entre o Deus homem, e foram se dispersando e se juntando de acordo com a evoluo de cada um, e foram para onde lhes cabia sua perfeio.

    O homem cresce. A natureza desaparece! O homem involui. A natureza evolui! O homem perece. A natureza cresce em poder. A natureza muda. E o homem morre! H poluio d+, comida d-, sol d+, gelo d-, gua d+, gua d-,

    p d+, verde d-, homem d+. A natureza continua perfeita e poderosa e o homem ainda se

    acha superior a Deus! A natureza, com seu poder, vendo o desequilbrio causado pelo

    deus homem, vem cobrando a sua dvida. Manda sol para queimar a pele, manda escurido para lembrar

    como era no princpio e como ser no fim, manda terra para sepultar

  • Thais Candido

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    a obra morta, manda areia para que o homem no mais habite, manda ar poludo para que no mais respire, manda o trovo e os raios como sons anunciando a batalha, manda tufes, furaces, como arma para varrer a sujeira, manda fogo para queimar o homem, e os terremotos para mostrar-se dona da terra, manda doenas pelo ar para mostrar como se governa na esperana de curar o homem.

    To fortes e evoludos ficaram graas ao deus Homem! Ele j no existe mais! O homem manda gases e deixa o ar como fogo que queima a

    terra, degela a gua que imunda a terra que cai e soterra. Destri a harmonia do ar e cria a bomba mais potente que todas as atmicas juntas.

    So vitaminas para a adrenalina num corpo chamado Terra. Esse o apito final! Quando o homem achar que precisa de espao, ele renunciar

    ao seu direito de portador. Injeta adrenalina nas vrias partes do corpo Terra, que por sua vez detona sua arma principal, no ser uma bala achada que cair do cu, ser um corpo chamado Terra morrendo e deixando de existir para que novas formas evoludas possam se formar ao final de to grande batalha, outros elementos evoludos que em outro lugar possam comear a roda tudo de novo.

    H soluo para isso? Sim... A natureza responde de acordo com a deciso do homem e, se

    deixar de se portar como sendo superior e no mais injetar vitaminas no corpo Terra, sofrero apenas o inverso natural de como era no princpio e agora que chegado o princpio do fim.

    No precisa de mais bombas, a guerra sem ela ser suficiente para dizimar mais da metade da populao da terra.

    A natureza cobrar sua dvida e mandar aqueles com quem o homem no pode guerrear.

    SER O HOMEM CONTRA O HOMEM. E A NATUREZA CONTRA O HOMEM! Aqueles que sobreviverem desejaro morrer, mas no

    morrero todos, aprendero a viver como primitivos num mundo que

  • O GUARDIO DA NOVA ERA

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    no ser mais verde, mas sua natureza no sobreviver, ainda que sua alma tenha se tornado a de um guerreiro. Esse ser o grande fim de tudo o que conhecemos sobre o nosso planeta e nossa humanidade.

    Os que conhecem a Verdade no provaro a dor da morte! Do fim para o incio voltaremos! chegada a Nova Era. Fim! O que acharam?

    Eu nem sabia o que falar. Era assustador na verdade! Oh! Christi, lindo e profundo disse Flora. Eu tambm acho! respondi. Obrigada, Flora. Dona Nen entrou na sala, acendeu um incenso e se

    sentou na poltrona. Arboc teve um desmaio por conta do trauma do

    acidente que sofreu e ficar em repouso em seu quarto durante o dia. Hoje faremos uma apresentao para que Agnus possa conhec-los um pouco mais, depois iremos almoar, tarde teremos uma atividade com pintura e noite os senhores participaro de um trabalho especial com o Vinho das Almas.

    Eu no fazia a menor ideia do que ela estava falando, escutei alguns urros de excitao, seguidos por palmas da Flora.

    J faz algum tempo que no fazemos esse ritual. Continuei sem entender e percebi que o lugar era bem

    ecltico em suas crenas, e Vinho das Almas parece ser um tipo de beberagem ou alguma coisa do tipo.

    Pois bem, meus queridos! Quando todos chegaram aqui tiveram a oportunidade de me conhecer. Mas Agnus no os conhece, por isso quero que cada um de vocs se apresente e fale um pouquinho de sua histria. Lunna, pode comear por voc!

    Eu me chamo Lunna, como j sabe! Tenho dezenove anos. Estou aqui h duas semanas, dizem que passei quatorze

  • Thais Candido

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    dias desacordada em estado letrgico depois de ter sido atingida por um raio em alto-mar. Quando acordei, bem, descobri que estava num hospital, no centro de uma cidadezinha. Foi um alvoroo. No hospital os mdicos vieram, me examinaram e fizeram um monte de perguntas. Eu sem entender perguntei: Como vim parar aqui? Foi assim que

    fiquei sabendo que passei quatorze dias como se estivesse morta. Os mdicos disseram que a frequncia cardaca, assim como todo o meu corpo, funcionava num ritmo quase imperceptvel aos equipamentos e quase me deram por morta, no fosse o fato de minha pele manter a temperatura normal de um corpo vivo. Quando fizeram uma ressonncia, descobriram que eu estava bem viva, meu corpo funcionava normalmente e minha conscincia dormia profundamente. Foi a que contei detalhadamente a todos onde estive durante os quatorzes dias; os mdicos juraram que eu no havia sado da cama do hospital e eu jurava que nem l eu havia estado. Contei a eles coisas importantes que aconteceram fora do hospital durante esses dias. Ningum soube explicar o que havia ocorrido e como eu poderia saber daquelas coisas estando em coma numa UTI de hospital, nem como meu corpo sobreviveu a uma frequncia de funcionamento baixssimo. Fizeram estudos e no chegaram a nenhuma concluso. Disseram que era um perigo eu fazer coisas do dia a dia sozinha, pois eu poderia ter um novo mal sbito e me machucar gravemente. Foi ento que meu caso foi levado Imacom e eles disseram ter um lugar onde poderiam descobrir o que estava acontecendo e foi assim que vim parar aqui. s vezes meu estado de conscincia se altera e eu estou aqui e ao mesmo tempo estou em outro lugar, fazendo um monte de coisas, enquanto aqui eu s estou. Onde quer que eu esteja num tempo real e sempre trago conhecimentos desses lugares e desde ento a dona Nen cuida de mim como uma me!

    Obrigada, minha querida! Tenho certeza de que

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    Agnus e os outros adoraro ouvir sobre suas experincias. Flora sua vez.

    Eu nasci na frica. Tenho dezesseis anos e desde pequena tenho, como chamam os mdicos dizem, uma deficincia digestiva, na verdade desde pequena j comia

    muito pouco e agora, quando me alimento, como se fosse por pura gula, fico meses sem comer ou beber. Estou aqui para servir de estudos, os mdicos no sabem por que no me alimento. O que mais os surpreende o fato de como posso ser mais saudvel do que todos eles juntos. No estou preocupada com isso, para mim to normal, continuo at ganhando peso. Quando paro para pensar na comida, vejo nitidamente uma espcie de seiva translcida vinda como o ar que entra pelo meu nariz como um alimento, assim com a maioria das coisas, estou aqui e estou me alimentado a cada segundo, como o ar que respiro, eu aspiro comida a todo o momento. Por isso no sinto desejo pelos sabores excntricos dos alimentos que temos aqui, eu os como quando quero, no porque preciso deles, e no vejo motivos para alarde, mas sou nica a fazer isso naturalmente, sou saudvel e eles querem saber quanto meu corpo pode viver e como minha vida pode ajudar a humanidade. Tambm posso ver cores e sentir odores dos sons, entre outras coisas do tipo.

    Muito bem, Flora. Sei que voc tem uma teoria sobre isso e j estamos estudando, depois poder contar ao Agnus, o que acha?

    Claro! Muito bem! Christi quer se apresentar? Sou um ano mais velha que a Flora, vivi numa aldeia

    chamada Cidade das Estrelas, nasci com duas costelas quebradas e com o corao perfurado, sou um milagre, os mdicos desenganaram minha famlia e disseram que no havia como me operar, eles tambm no entendiam como meu corao podia funcionar. Meu corpo se adaptou

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    estrutura das minhas costelas e meu corao tambm. Minha famlia vivia em uma aldeia alternativa e tudo ia bem. Quando fiz doze anos, passei pelo ritual da transformao e me tornei uma mulher no grupo. Nessa poca, nosso lder comeou a trazer um tipo de substncia qumica que usava nos festivais que comemorvamos. Nossas festas eram para celebrar a vida em agradecimento ao grande Deus por tudo que tnhamos. Nossa aldeia era subsistente, no precisvamos de nada de fora para viver. Num fim de semana, meus pais viajaram at a cidade para pegar os resultados de uns exames que havia feito. Uma vez por ano eu os repetia, dessa vez no fui porque estava me sentindo indisposta e no era consulta. Eu sempre atra a ateno de todos na aldeia, principalmente do lder, que chegou a pedir ao meu pai para se casar comigo. Meu pai foi contra e disse que, se ele quisesse, teria de esperar at eu completar dezoito anos para decidir. Essa deciso no agradou nosso lder. Algumas pessoas tambm no gostaram e acharam que meu pai era orgulhoso e consentir o casamento era um ato de honra e de grande desejo da aldeia. Meu pai dizia que eu era nova demais para tomar uma deciso como aquela. A verdade que meu pai acreditava que os valores da aldeia j no eram mais como na poca de nossos antepassados e por isso ele no tinha certeza de qual era a inteno de nosso lder. Era uma sexta-feira quando meus pais viajaram e Shamiara ficou comigo em casa. No dia seguinte, minha me ligou da estrada para nosso lder e consegui falar com ela.

    Como est se sentindo, minha filha? Estou bem me, no se preocupe. Na segunda-feira de manh estaremos de volta,

    quero que fique em casa e no v para o Sab. Tudo bem, ficarei em casa. As festas sempre terminavam tarde. Naquele final de

    semana poucas pessoas permaneceram na aldeia. O nibus que levou meus pais vinha uma vez a cada trs meses, pegava

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    as pessoas da aldeia que tinham coisas a resolver na cidade e os trazia de volta uns quatro dias depois.

    O sbado estava agitado e resolvi ajudar nos

    preparativos da festa. Os rapazes que ficaram pegavam a lenha para a fogueira e as meninas enfeitavam ao redor. ramos em mais ou menos sete famlias na aldeia, pouco mais de trinta pessoas no total, nesse fim de semana deve ter ficado umas dez pessoas.

    Quando o sol estava se pondo resolvi voltar para casa. Ainda no tinha servido o jantar por causa da festa, mas no tinha problema porque em casa havia frutas do pomar. Estava me retirando quando Golbi me ofereceu uma caneca com gua. Sem pensar, agradeci e tomei.

    Em segundos, senti uma leveza e uma felicidade indescritvel, com vontade de rir e danar. Golbi me abraou e me levou de volta para o grupo.

    Todos estavam sentados em volta da fogueira acesa. Eu estava tonta. Havia ficado eu, a Shamiara, a Ttila e a Senhora Velma, acho que ela devia de ter uns 85 anos, era a mais velha na aldeia.

    Ficamos comendo e bebendo por um longo tempo, dois rapazes ajudaram a senhora Velma a voltar para casa. Enquanto isso, Golbi oferecia mais uma caneca de bebida para mim e as meninas.

    Tome, Christi! Eu no quero, estou tonta. Tome que isso ajudar a melhorar. Peguei o copo e bebi, era doce e amarrava no final. Na hora achei que o tempo havia enlouquecido, tudo

    estava sem sentido, as meninas danavam e brincavam ao redor da fogueira e os rapazes alegres de repente se transformavam em animais frenticos. Um deles me puxou para a dana e me perdi como criana. Quando me dei conta, as meninas passavam mel em meu corpo seminu e diziam que

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    eu me tornaria a rainha, j que havia me tornado mulher. No sei o que aconteceu exatamente, estava muito fora de mim para ter conscincia do que acontecia, tudo era muito estimulante, o som do batuque entrava na minha mente e me fazia mover lentamente numa dana como se tivesse bailando numa outra dimenso. Eu no estava com medo, no sentia dor. Golbi chegou at mim, ele estava sem camisa e comeou a danar junto comigo. A msica nos envolvia e a impresso que tinha era de que eu no estava ali e nada daquilo estava acontecendo. Perto da fogueira tinha uma pedra que servia de mesa e de altar. Fui levada at l pelas garotas. Golbi me abraou por trs e, ao som de urros, sob cu escuro e luz da fogueira, ele me possuiu como um animal feroz. No me lembro de tudo, s das meninas passando mais mel no meu corpo e eu deitada na pedra, no sei quais dos rapazes fizeram a mesma coisa. s vezes, isso parece irreal, como se s meu corpo estivesse presente. Acordei no domingo em minha cama com fortes dores no abdmen, no sa de casa at meus pais voltarem e ningum apareceu para me ver. Meus pais no sabiam o que tinha acontecido e comecei a ficar muito doente. A princpio eu no sabia o que fazer ou o que dizer, j que no sabia se o que eu pensava que pudesse ter ocorrido tinha acontecido de verdade, Golbi estava sempre sondando por perto, fingindo estar preocupado, me olhava e isso fez com que eu no dissesse nada, afinal no poderia afirmar o que ocorreu. Quando tive um sangramento que no parava mais e fui ficando fraca, meus pais me levaram para a cidade. J tinham se passado trs meses e ningum que estava naquela festa apareceu em casa. Meus pais, desesperados, fizeram as malas e fomos no nibus para a cidade em busca de ajuda. No hospital, tive de tomar sangue e meus pais acabaram descobrindo o que aconteceu, depois de saber que o sangramento era devido a um aborto. Meu pai, louco, jurou que voltaria e mataria Golbi; minha me, sbia e iluminada, queria que ele se preocupasse com a minha recuperao e

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    providenciaria algum para buscar o restante das coisas que ficaram na casa. Quando tive alta do hospital, pegamos um nibus em sentido contrrio ao de nossa cidade e viajamos muitas noites at chegar casa de minha av. Ela benzia todos que buscavam algum tipo de ajuda e foi assim que fui curada e iniciei atendimento a quem precisava. Tudo que aconteceu s fez fortalecer a minha f e acreditar que o sentido da vida superar cada obstculo para continuar seguindo em frente. Vi na dor daquelas pessoas a minha prpria dor e como meus pais fizeram por mim eu fiz por todos aqueles que entravam no stio pedindo ajuda. Fui o amor dos meus pais para com todos eles e assim milagres iam acontecendo e cada dia mais pessoas nos procuravam, ora para pedir emprego, ora para curar enfermidade, ora por problemas de ordem espiritual. Quando minha v morreu, fui ficando desanimada da vida e meus pais, sem compreender, procuraram de novo ajuda e mais uma vez o milagre se deu comigo e, de l para c, tenho estado aqui. Esse lugar o cu, aqui tudo que fao primeiro por mim, ainda que o fato de estar aqui seja pelos outros. Compreendo que minha vida de fato importante para a humanidade, porque somos Um.

    Christi contou sua histria como se tudo que aconteceu fosse normal e decisivo em sua vida. No sei se fiquei chocado ou feliz por ver como ela se d com essa situao. Lunna, to sensvel, ficou com os olhos marejados e discretamente enxugava as lgrimas, eu contive o n na garganta. No foi em vo quando disse que ela era uma guerreira.

    Todas as coisas que passamos na vida, sejam elas boas

    ou no, contribuem para nosso desenvolvimento e crescimento. Escutei em mim.

    J ouvi isso, interessante, pensando bem sobre as placas no caminho quando cheguei aqui, agora entendo o que ela queria dizer, mas ainda surgiu outra pergunta, por que preciso a dor para crescer?

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    Foi a voz interior quem me respondeu: Somente vivenciando cada experincia se adquire

    conhecimento. Se o homem aprendesse a sentir sem vivenciar, no precisaria sofrer porque compreenderia que dor que di em si a mesma que di no outro, e no h felicidade assim.

    Sabe que eu nunca prestei ateno na voz, eu nem a ouvia direito e, desde que cheguei aqui, sinto que no estou sozinho de nenhuma forma.

    Obrigada, Christi. Felix, gostaria de dizer alguma coisa?

    Eu passei 480 horas sem dormir e isso um recorde. Por isso me trouxeram para c. Aqui eles me ajudam a controlar o sono e a usar a energia contida. Meu intelecto representado atravs da msica e da pintura, so minhas preferidas. Quando estou dormindo, minha mente no descansa, o tempo todo ela continua sempre em constante atividade, isso causa um desequilbrio e por isso estou aqui, para lidar melhor com essa situao. Preciso aprender a manter o corpo forte, fisicamente ele limitado como qualquer outro, e dormir uma lei natural.

    Muito bem, Felix. Agnus, esta uma clnica desenvolvida para um Estudo de Aperfeioamento da Raa Humana custeada pela Imacom. Aqui nesta fazenda acolhemos pessoas a quem chamamos de Rthis. Por um motivo em especial, o que ocorreu na vida de todos fez com que fossem trazidos para c, alguns antes da hora que outros. Todos tm um dom aparente. Entre vocs existe uma semelhana muito ntida que os une como um grupo muito importante. Para que no se perdessem no caminho, o destino os guiou at aqui. Nossa funo ajud-los a desenvolver seus dons, aprender com os Senhores e ensinar s pessoas no mundo inteiro como alcanar o domnio de si prprios para viverem melhor e, mais, sem que haja violncia, distino de raa, credo, cultura, sem misria e sem doenas, no esquecendo que isso salvaria principalmente o mundo

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    paralelo. Nossa primeira misso fazer com vocs percebam quem so e qual o seu objetivo nesta vida. Este lugar parece o cu, mas no . Estamos localizados na regio central do planeta Terra, chamamos esse lugar de Continente da Luz.

    Aqui so dez fazendas no total, distribudas a um raio de quinzequilmetros umas das outras em relao ao primeiro marco, que onde est localizado Templo da Existncia, e tem esse nome por ser o ponto indicativo na extremidade oposta do Tringulo das Bermudas, um dos locais onde a fora magntica de toda matria-prima da criao de nosso planeta flui com maior intensamente. um grande portal entre nosso mundo e a existncia das coisas imateriais e uma ponte entre o visvel e o invisvel. Todas as propriedades so cercadas por um nico muro que voc viu se perder de vista na entrada. O muro dotado de sensor de calor controlado via satlite e qualquer massa que emita calor que toque o muro, somos imediatamente avisados atravs de imagens. Aqui no tem como fugir, l fora no tem quem os socorra. Prefiro acreditar que no h razo para sair de um lugar que muitos consideram o Paraso e desejariam estar. A civilizao mais prxima fora dos muros est bem mais que nove quilmetros daqui, no h nibus ou carro. Em cada fazenda podem morar at doze pessoas, sendo trs instrutores, um mdico clnico, um psiclogo ou psiquiatra, uma enfermeira, o caseiro e oito Rthis, quatro mulheres e quatros homens. O tempo que determina o quanto ficaro aqui s depende de cada um. Alguns passam anos, outros passam meses e somente uns passam dias. Todos passam por uma rigorosa investigao antes de chegarem e so encaminhados para grupos correspondentes. Esta fazenda tem a misso de reunir o grupo dos Oito Guardies, os lderes dos Rthis, e vem fazendo isso h centenas de anos. Muitos passaram por aqui um dia, foram ajudados e se foram, alguns retornaram ao longo de sua jornada e hoje caminham pelo mundo semeando em cada

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    corao o amor com base na Verdade Suprema. Para a sociedade, somos uma clnica para doenas neurolgicas e viciados, e por isso que esta instituio to antiga, ela se mantm em segredo pelo bem da humanidade. Anteriormente era desenvolvida pelo grupo dos 72, que atualmente tem o nome de Ordem Mundial e uma seo chamada Imacom. Esperamos poder ajud-los para sermos ajudados. A humanidade clama desesperadamente por socorro, s no se deu conta ainda. Infelizmente, para comear a melhorar, preciso muita dor, s assim a vontade sentida ser suficiente para quererem mudar e agir conforme a verdadeira vontade. E isso tambm uma lei, como tudo est sempre em transformaes as leis tambm so modificadas medida que elas no so mais associadas s suas causas, h uma adequao da lei, da causa e do efeito.

    Eu no entendi direito, por que a senhora acha que eu ou ns todos temos algo para a humanidade?

    Todos tm, no so s vocs. Somos Um, parte de um mesmo corpo chamado criao. Todos os caminhos se cruzam, cada pessoa ter de passar por um determinado grau de desenvolvimento para continuar a crescer como homem e como ser. Por isso, muitos vm e vo, h pocas em que aqui no tem ningum, estamos sempre esperando por algum em especial que sempre chega.

    Mas eu no tenho nenhum problema, nunca realizei milagres, no sofri acidente, no h nada em mim de errado, talvez todos vocs estejam enganados comigo e certo que minha me se equivocou ao me trazer aqui.

    Talvez o erro no seja para ns e sim para voc! voc quem sente que algo est errado; quando diz que no tem problema, porque est querendo comparar com os problemas dos outros.

    Meus pais me mandaram para c porque acham que sou viciado em drogas e isso tem afetado meu crebro. Eles me inscreveram neste programa contando todas as coisas

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    estranhas que falo e, por algum motivo, vocs me aceitaram. No sei o que a senhora espera de mim, mas sei que estou aqui pela ltima vez. Quando eu sair, se um dia tiver de voltar, eu jamais passarei por aquele porto novamente.

    Tenha certeza, meu querido, de que aqui ningum entra por engano, mas vamos deixar voc ver por si mesmo e, se no se convencer de que est no lugar certo, poder ir embora hora que quiser. Tome cuidado com o que fala, jamais muito tempo, o que voc no suportaria. Somente

    voc determina como as coisas acontecero na sua vida. O que quero dizer que espero que a senhora tenha

    razo. Eu sei! Aproveite o tempo em que est aqui, j que

    est, e comece contando um pouco sobre voc. A ltima coisa que me lembro de ter acontecido de

    modo estranho, que considero um devaneio, diga-se de passagem, foi um dia em que tudo o que acontecia se resumia no nmero trs, qualquer soma, contagem de horas, de pessoas resultava no nmero trs, tudo que eu resolvia contar para ver se batia, dava trs. Ao me questionar sobre o significado do nmero logo a resposta me veio de que seriam trs anos a contar de 2009 que se completariam em 2012. Ao buscar na internet o significado de profecias possveis para 2012, deparei-me com muitas coisas e fiquei um tanto admirado, pois no sabia nem tinha noo de algo a respeito, mas agora e da forma como est escrito, tenho medo de o mundo acabar! s vezes, em meu pensamento vejo-me em outro lugar, sentado sozinho numa sala de cinema com uma grande tela onde comeam a passar imagens que ficam latejando na minha mente, eu sinto desespero, quero falar e no consigo, tento escrever e me perco, no entendo direito, na hora tudo claro, quando vou pensar, parece que minha cabea fica confusa com muita coisa que eu no consigo organizar para entender o que acontece e a, quando parece

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    que no vou aguentar, s quero fugir para um lugar onde ningum e nenhuma imagem possa me incomodar. Acho que d para entender que no h lugar que eu possa fugir de meus pensamentos. Quando comeo, sempre assim, no paro mais. Muitos assuntos invadem minha cabea e desejam sair de mim de alguma forma. Olho para minha mente e est tudo l, o filme, as fotos, um assunto puxa o outro. Inicio numa coisa e acabo em outra. Tem dias que passo horas sem pensar em absolutamente nada, nem sequer sinto a presena das pessoas ao meu lado, e tem horas que desejo no ter cabea, porque, quando quero pensar, vem tanta coisa junto que no consigo raciocinar, como se minha mente ficasse cansada de to cheia. Minha cabea parece que quer explodir, fico num desespero absurdo, tudo sai do meu controle, fico to irritado que no consigo calar meus pensamentos. S consigo me acalmar quando saio de casa e ando feito louco sem direo at encontrar um lugar em que me acalmo, eu encontrei um lugar onde morava, foi antes de vir para c, l eu tentava entender por que o homem no entendia e percebia que eu era um deles.

    Ainda tem dvidas de que com voc nada acontece de diferente? As pessoas esto perdidas porque acham que viver no mundo parecer, e no o ser, que o verdadeiro saber viver. As pessoas adoecem porque suas mentes esto dormindo e esse estresse o resultado da condio de vida do ser humano escolhida por ele mesmo. a maior doena desde a criao de todas as coisas, porque ataca a alma para depois atingir o corpo. Nenhum mdico que no tenha conhecimento da alma capaz de encontrar a cura enquanto estiver buscando pela causa no fsico, enquanto no corpo s resta o resultado. Cada um precisa ser mdico de si mesmo. Quanto ao que vai acontecer em 2012, uma grande transformao, uma mudana em como o mundo reage s leis do Universo que est em constante movimentao. Voc cr em tudo que acredita ter visto?

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    No! Tenho opinies a respeito, mas acho que tudo no passa de uma imaginao ou desejo do meu subconsciente de que eu saiba algo que possa ser diferente dos outros e me completar.

    Ento voc se considera diferente? No respondi, no sabia como sair dessa. No fique agoniado, Agnus, estamos aqui para

    ajud-lo. Sempre que quiser, estaremos prontos para ouvir seus pensamentos. Iremos ensin-lo como canalizar sua mente para algo absoluto, de forma que ela no fique descontrolada e voc no precise mais fugir ou achar que est inventando tudo. A primeira coisa que lhe peo que d uma oportunidade para o que est vivendo aqui, tenha certeza de que no se arrepender. E voc se identificar e muito com nosso modo de vida, a vida que todos vivero um dia. Hora do almoo! Em quinze minutos estejam na cozinha. No se esqueam do livro e lembrem-se: quaisquer pensamentos que tiverem que merea ateno escrevam. As intuies so como o vento, ele vem e voc o sente, ele se vai antes que voc se d conta de que o sentiu.

    Estava me retirando em direo ao quarto quando Lunna se aproximou de mim.

    Sei como se sente e posso te garantir que se sentir melhor daqui a alguns dias, sempre que precisar pode me chamar. Meu quarto fica na outra ponta do corredor, o nmero 2, quando precisar conversar, me chame.

    Obrigado, eu me sinto perdido e no sei bem o que est acontecendo, momentos difceis esto por vir, eu sinto, estou muito agoniado e tenho medo de no aguentar.

    Aguenta, sim, voc forte! Christi deu uns tapinhas no meu ombro e saiu correndo em direo ao quarto.

    No sofra por antecedncia, se for da forma como voc est falando, sofrer duas vezes, agora e depois... ao meu ver isso tolice.

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    Me livrar desse sentimento difcil. Fala isso porque no percebe a tortura que est

    fazendo consigo mesmo. Se toda vez que se sentir assim voc se desse uma mordida bem forte no seu brao, perceberia o quanto est se machucando agindo dessa forma. D tempo ao tempo, at l ver como nada conforme est tentando deduzir e ainda ir rir do quanto foi bobo. No sou eu quem estou dizendo isso, voc ver.

    Felix disse que ia visitar o Arboc. Despedi-me de Lunna e fui para meu quarto. Minhas mos estavam suando frio. Sabia que meu corpo estava entrando naqueles momentos em que tenho dificuldade de me controlar. Entrei no quarto e tinha uma carta em cima do criado-mudo com uma rosa branca. Ela dizia assim:

    Agnus, aprendi quando ca. Sempre esperamos que situaes desagradveis sejam

    superadas com fora, garra e coragem e nos sirva de lio, aquela lio que nos faz responder o quo somos felizardos por no sermos ns a passar por aquela tragdia e o quanto precisamos dar valor ao que temos, at que tudo caia no esquecimento e depois seja reavivado por um novo acontecimento que novamente nos faz sentir agradecidos por sermos felizes e perfeitos.

    Se fosse assim, na vida s aconteceriam situaes grandes para que pudssemos aprender algo, se em todo caminho s houvesse grandes pedregulhos, aprenderamos muito pouco, levando em considerao o tempo que gastaramos para retirar cada uma!

    Confesso que uma grande pedra requer muito mais esforo e tempo, muito tempo para ser retirada do caminho.

    A vida uma grande escola, como essas que a gente cursa para ser algum na vida.

    Se voc no passa bem pelas provas, ficar para recuperao e ter que fazer uma nova prova diferente, porm da mesma matria, para conseguir se recuperar e de fato aprender a lio como se essa fizesse parte de sua rotina. No final, se reprovar por insuficincia de aprendizado, ter de passar tudo de novo e, se aprovado, mudar de

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    srie para uma mais elevada com ensinamentos superiores para que no final dos estudos tenha aprendido o suficiente para no mais precisar aprender o que j foi aprendido, pois no fim da grande escola voc j ter se tornado quem de fato .

    Tudo que somos a semelhana de um Ser supremo e absoluto, e tudo ao nosso redor a semelhana do que a vida.

    Na vida levamos tombos em situaes menos esperadas e esses tombos nos causam dor, angstia e sofrimento, e ainda que por algum tempo fiquemos impossibilitados de levantar por conta do trauma, sempre trabalhamos em prol de nos restabelecer completamente, assim como um tombo de uma escada requer um esforo com dor para se reerguer, assim tambm com a vida, sempre depois de um tombo devemos nos reerguer, no natural que fiquemos cados no cho, sem fazer nada por muito tempo.

    Cair e levantar uma lei nessa ordem. Voc cai, voc se levanta.

    Caber apenas a voc decidir se far isso, com mais dor ou com menos dor, no final estar de p, continuar em frente e, quando parar para analisar, o tombo encontrar as causas e ter aprendido a lio, no voltar a sofrer novamente e ainda ter muito a ensinar.

    J pensou parar tudo o que se faz para prestar ateno se o que fazemos vai resultar em erro ou no? Por isso aprendemos quando camos. No h como saber se tudo o que iremos fazer dar certo ou no se no tivermos a coragem de nos arriscar e conhecer o resultado.

    Preste ateno, em que condio voc est? E pode contar comigo, sempre que precisar.

    Seu amigo Petrer.

    No fundo de mim a voz dizia que meu pensamento semelhante a uma pedra grande e o melhor aprender a caminhar em frente, porque cair s permitido no incio.

    O sino tocou e fui direto para o refeitrio, Arboc estava ao lado de dona Nen, um pouco abatido e mal-humorado como de costume. Ainda no o ouvi conversar desde que cheguei aqui.

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    Um olhar. Foi o que vi. Oi! No almoo percebi que no havia carne, apenas folhas,

    frutas, sucos naturais e fibras. Muito arroz com ervilhas, caldo verde e bolinhos de legumes.

    Flora se serviu de suco e, pelo jeito, seria a nica coisa que iria consumir. Arboc estava com muita fome e fez um prato e tanto. Com exceo dele, todos pareciam despreocupados. Lunna olhava para mim com certa curiosidade, at podia ler o pensamento dela, o que parecia estranho.

    Qual o mistrio que ronda a vida desse homem? Foi o

    que eu escutei. Pelo menos algum me considera um homem, sorri

    de volta! Um minuto de silncio e todos estavam almoando.

    Petrer tem o hbito de dizer parbolas e dizem que ele o autor dos textos e pensamentos que encontramos pela fazenda.

    Foi assim que ele declamou sua parbola. Um renomado editor chefe de uma grande editora recebeu a

    presena de um ilustre jovem escritor. Aps ler sua apresentao, muito intrigado, o editor pergunta:

    Se voc, meu jovem, se tornou um milionrio, ento cad o seu dinheiro?

    O jovem escritor, na nsia de ver sua primeira obra de arte editada, responde ao chefe editor:

    Meu dinheiro est aplicado em um investimento e s poder ser retirado daqui a algum tempo.

    O editor ri e diz ao jovem escritor que ele est contando uma mentirinha.

    O jovem escritor acompanha os risos do editor e responde: apenas uma mentirinha verdadeira. O editor simpatiza com o jovem escritor e decide apostar uma

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    nica ficha em seu livro. O jovem escritor calmamente convicto. Sabia que necessitava

    apenas de uma nica chance. Seu livro lanado no mundo inteiro, torna-se uma febre,

    fazendo emergir vozes que gritam e clamam pela Verdade acima da verdade. O jovem escritor era de fato um milionrio. Tornou-se uma lenda viva, inundou cada mente com a perspectiva de uma to sonhada LIBERDADE.

    Lunna, Felix, Flora e Christi olhavam para mim, Petrer

    apenas sorriu. No entendi o recado, se tinha um, era para mim? Todos deram gargalhadas e eu continuei sem entender

    o que ele queria dizer e o que isso tem haver comigo. Aqui meio assim, tudo parece ter sentido e no ter sentido algum, at eu tenho dificuldades de entender o que eles querem dizer.

    Arboc, de cabea baixa o nico que parece no se importar.

    Aps o almoo, teramos duas horas para descansar.

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    Minha dama de branco Fui para o jardim ao lado da casa, passei por Flora,

    percebi que era a nica que usava um pequeno gravador, ela no se dava bem com papis. Lunna me convidou para conhecer seu lugar preferido, enquanto caminhvamos s se ouvia a voz da Christi tagarelando com Felix. Arboc voltou para seu quarto e o vi sentado na varanda olhando em nossa direo.

    Entramos por um grande arco que dava numas runas, que deviam de ser de uma antiga construo parecida com um castelo antigo. Havia um sino que ainda estava l. No meio do que sobrou dos alicerces, uma fonte com um anjinho de pedra derramando gua do vaso resistia bravamente.

    As runas so bem antigas. impressionante que a fonte ainda funcione!

    verdade, esse foi um casaro destrudo por um raio em 1644, o que sobrou incrivelmente foi a fonte e o resto da armao de ferro.

    O lugar mais uma vez era cena de filme. Flores de diversas cores davam luz tarde de primavera e se abraavam a toda estrutura do lugar.

    Bem se v por que um raio caiu aqui. melhor tomarmos cuidado, ou a Lunna pode chamar um raio de novo! Desta vez eu quase levei um empurro.

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    Suas armaes eram de metal, estava enferrujado e recoberto de plantas que se agarravam s armaes. A luz invadia o salo em focos que no estavam cobertos por plantas. Dava para ver o movimento do ar dentro da luz, as grandes janelas permitiam que focos maiores invadissem o local, tornando-o uma miragem.

    Este lugar maravilhoso, o preferido de todos ns, uma mistura de obra do homem com a natureza, uma integrao que possvel sentir. A gente vem para c toda vez que queremos fazer uma prece, pensar e meditar. Conversar com o infinito, com o Eu superior, entende?

    Estou tentando. No ba tm cobertores e esteiras que usamos para

    deitar. Queremos que voc participe conosco. Felix pegou as coisas no ba, enquanto Lunna segurou

    minha mo e fomos para perto da fonte. Sentamos um de frete para o outro, enquanto Felix

    abriu mais o registro da fonte, o barulho de queda dgua

    era como de uma cachoeira em propores menores, os respingos em forma de uma fina garoa parecia voar sobre nossas cabeas. O mais louco de tudo foi o arco-ris que se formou bem acima de ns. Todos estavam em silncio contemplando a cena. Agora eu entendia o que ele queria dizer com integrao.

    Agora compreendo porque to especial! Christi chorava silenciosamente, suas lgrimas

    escorriam sem parar de seu rosto. Felix estava fazendo respiraes profundas. Lunna olhava para o arco-ris, perdida em algum ponto muito longe aonde eu no podia chegar.

    Fui inundado por uma onda de calor que me fez sentir que estava voando. Conheo bem essa sensao, eu sabia, era a voz que estava chegando, raramente eu a via. Esse o meu segredo.

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    Tem uma coisa que eu no contei a meu respeito. s vezes eu vejo uma mulher em esprito que vem at mim e me fala coisas que no compreendo; quando ela no vem, escuto sua voz. Toda vez, quando volto a mim, esqueo a maioria do contedo da conversa, mas a sensao de estar ao lado dela to boa quanto estar do lado de Lunna.

    O ambiente tinha sua prpria melodia, o barulho das guas, das folhas se movendo pela brisa do ar e dos pssaros que se aninhavam em meio s flores e as armaes.

    Ao me perder em meus pensamentos, a vi chegar de azul-beb num lindo vestido quase transparente. Nunca me lembro de seu rosto, quando ela se vai, fico completamente vido por sua presena, ela parece uma deusa, sei que uma mulher porque sinto sua essncia, seu perfume e sua beleza inegavelmente inebriante.

    Agnus, no se preocupe, quando chegar a hora, estarei ao seu lado. Tudo ir acontecer conforme a lei. Pense em mim e estarei aqui para ajud-lo.

    Do que voc est falando? Na hora certa. Agora volte! Felix me tirou de meus pensamentos. Vamos invocar a fora do anjo guardio para que

    possamos nos harmonizar com as intenes de nossos coraes, para que no tenhamos dvidas do que queremos e do que viemos fazer.

    Quem podia imaginar que o Felix tivesse essa coisa de fazer magia! Parecamos um bando de jovens alheios ao mundo, brincando de faz de conta. Isso que era fuga da realidade!

    Agnus, no volte a ser aquele garoto perdido ante o

    porto! No havia me dado conta do que pensei, ela no foi

    embora. Vamos criar uma ponte entre nosso corpo fsico,

    nosso corpo espiritual e a mente do universo. Vamos

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    precisar. Tive a impresso de que eles sabiam mais at de mim

    mesmo. Lunna me olhou de uma forma, seu olhar misterioso,

    entra na alma de uma forma hipnotizante a ponto de que, se fizer um movimento com a cabea, eu repito, muito estranha a fora que ela tem sobre mim apenas com o olhar.

    Felix ascendeu um pequeno fogareiro no centro do crculo que desenhou e colocou uma faca tipo punhal ao lado, Christi colocou uma pequena coroa de pedrinhas que usava para enfeitar o cabelo, Lunna colocou seu colar de pedra em volta de um pequeno vidrinho e me pediram que eu colocasse alguma coisa tambm.

    Eu s tinha um colar velho com uma garra de leo que ganhei do meu av. Ele contava que havia lutado com um gran