O Golpe Militar de 1964 e o Contexto Político da Ditadura ... · após a invenção do gravador à...

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O Golpe Militar de 1964 e o Contexto Político da Ditadura: memórias da luta estudantil no Ceará. Tânia Gorayeb Sucupira 1 Karla Colares Vasconcelos 2 O objetivo deste artigo é registrar as memórias do protagonismo nos movimentos estudantis de Maria do Carmo Moreira Serra Azul, estudante secundarista e militante política em Fortaleza - CE, no contexto nacional da ditadura pós Golpe Militar de 1964. O recorte analítico é parte da pesquisa em curso, em nível de doutoramento, do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Ceará - UFC, cujo escopo de estudos compreende as narrativas biográficas de uma militante, situadas no recorte temporal das décadas de 1960-70 e contexto dos Movimentos Estudantis - ME. As categorias de análise deste artigo contemplam Narrativas Biográficas, com base nos autores Ferrarotti, (2014) e Villas-Boas (2014); Memória, a partir de estudos em Agostinho (2001), Bergson (2010) e Pollak (1989) e Movimento Estudantil, quando revisitamos Rocha (2008-2010) e Proner et al (2016). Na pesquisa qualitativa optamos pela metodologia da história oral, por ser uma das formas de conhecer mais profundamente uma pessoa, compreendendo melhor sobre suas escolhas e vivências num determinado contexto passado, neste caso o de 1968-9. Como parte dos resultados, ressaltamos a importância, hoje, de simbolismos e significados recuperados em reminiscências de mulheres ativistas dos movimentos político-estudantis no passado. Palavras-chaves: História de Mulheres, Narrativas Biográficas, Memória e Movimento Estudantil. Introdução Conhecer a militância política de adolescentes e jovens estudantes do passado instiga ao diálogo com a resistência estudantil do presente, especialmente quando se considera a peculiaridade do atual cenário político, no qual a democracia brasileira enfrenta desdobramentos de um golpe parlamentar, polêmico, conforme tese defendida em Proner et al (2016), e Dilma Rousseff, eleita em 2014 para o segundo mandato na presidência da República, com mais de 54 milhões de votos, é destituída do cargo, concluso o rito processual de seu impeachment. 1 UFC, Doutoranda em Educação Brasileira. 2 UFC, Doutoranda em Educação Brasileira, bolsista CNPq.

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O Golpe Militar de 1964 e o Contexto Político da Ditadura: memórias

da luta estudantil no Ceará.

Tânia Gorayeb Sucupira1

Karla Colares Vasconcelos2

O objetivo deste artigo é registrar as memórias do protagonismo nos movimentos

estudantis de Maria do Carmo Moreira Serra Azul, estudante secundarista e militante

política em Fortaleza - CE, no contexto nacional da ditadura pós Golpe Militar de 1964.

O recorte analítico é parte da pesquisa em curso, em nível de doutoramento, do

Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Ceará - UFC,

cujo escopo de estudos compreende as narrativas biográficas de uma militante, situadas

no recorte temporal das décadas de 1960-70 e contexto dos Movimentos Estudantis -

ME. As categorias de análise deste artigo contemplam Narrativas Biográficas, com base

nos autores Ferrarotti, (2014) e Villas-Boas (2014); Memória, a partir de estudos em

Agostinho (2001), Bergson (2010) e Pollak (1989) e Movimento Estudantil, quando

revisitamos Rocha (2008-2010) e Proner et al (2016). Na pesquisa qualitativa optamos

pela metodologia da história oral, por ser uma das formas de conhecer mais

profundamente uma pessoa, compreendendo melhor sobre suas escolhas e vivências

num determinado contexto passado, neste caso o de 1968-9. Como parte dos resultados,

ressaltamos a importância, hoje, de simbolismos e significados recuperados em

reminiscências de mulheres ativistas dos movimentos político-estudantis no passado.

Palavras-chaves: História de Mulheres, Narrativas Biográficas, Memória e

Movimento Estudantil.

Introdução

Conhecer a militância política de adolescentes e jovens estudantes do passado

instiga ao diálogo com a resistência estudantil do presente, especialmente quando se

considera a peculiaridade do atual cenário político, no qual a democracia brasileira

enfrenta desdobramentos de um golpe parlamentar, polêmico, conforme tese defendida

em Proner et al (2016), e Dilma Rousseff, eleita em 2014 para o segundo mandato na

presidência da República, com mais de 54 milhões de votos, é destituída do cargo,

concluso o rito processual de seu impeachment.

1 UFC, Doutoranda em Educação Brasileira. 2 UFC, Doutoranda em Educação Brasileira, bolsista CNPq.

2

O objetivo principal deste trabalho é registrar as memórias do protagonismo

político nos Movimentos Estudantis - ME3 de Maria do Carmo Moreira Serra Azul,

militante secundarista e contestadora do sistema, principalmente na época da ditadura

militar. As lembranças revisitadas, aqui analisadas e compreendidas, recuperam sua

participação na luta dos estudantes da capital cearense, durante os anos que sucederam o

golpe contrarrevolucionário de 1964, no entendimento de Rocha (2010).

A pesquisa é qualitativa, de acordo com Minayo (2009, p.21), pois “(...)

responde questões muito particulares.” e envolve o universo de significados, motivos,

aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo

das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à

operacionalização de variáveis. A metodologia utiliza a história oral em acordo com

Alberti (2005, p. 155):

A História Oral é uma metodologia de pesquisa e de constituição de fontes

para o estudo da história contemporânea surgida em meados do século XX,

após a invenção do gravador à fita. Ela consiste na realização de entrevistas

gravadas com indivíduos que participaram de, ou testemunharam

acontecimentos e conjunturas do passado e do presente.

Pressupomos que esta metodologia permite perscrutar mais profundamente a

entrevistada sobre suas crenças, experiências e vivências no período de 1968-9, como

construção do vivido e releitura da militância estudantil da biografada, na explicação de

Ferrarotti (2014, p. 73): “(...) cada entrevista biográfica é uma interação social

complexa, um sistema de papeis de esperas, de injunções, de normas e valores

implícitos”.

Neste sentido, esperamos contextualizar o ambiente histórico e político

envolvido nas questões mundiais e nacionais e daremos voz às memórias de Maria do

Carmo Moreira Serra Azul, compreendendo suas histórias de vida na década de 1960, à

luz dos Movimentos Estudantis no estado do Ceará, ocasião em que a juventude da

capital se uniu para manifestar contestação política, no contexto do Golpe Militar de

1964.

3 Usaremos a sigla ME para designar Movimentos Estudantis.

3

Como parte das conclusões, ressaltamos a participação do ME na historiografia

dos movimentos sociais contra a ditadura militar, a capacidade de organização e

articulação política dos secundaristas e a força da resistência estudantil naquela

conjuntura, de dura repressão a movimentos de protesto, bem como pontuamos

similitudes, diferenças, conexões e nexos, percebidos frente ao ME da atualidade.

Percurso Histórico do Ponto de Vista Político: do Mundo ao Brasil

Compreender a conjuntura política do presente implica em recuperar, no tempo,

o fio condutor de atos, acontecimentos e fatos outrora protagonizados e vividos por

atores políticos. Eventos e motivações que alimentaram ideias revolucionárias no

passado e que culminaram no golpe militar de 1964 são revisitados, à procura de

elementos que conectem a análise daquele período sociohistórico às circunstâncias

conturbadas do momento social e político do presente.

O protagonismo político de imigrantes europeus chegados ao Brasil no século

XIX para aqui trabalharem é revisitado por Rocha (2008). Além da esperança por

melhores condições de vida, eles trouxeram na bagagem sementes de ideias

revolucionárias do movimento socialista efervescente no Velho Continente, sob duas

correntes de pensamento: o socialismo utópico, ou anarquista e o marxismo científico.

Itália, Portugal e Espanha seguiam forte orientação política anarquista, por isso o

marxismo científico demorou mais a se afirmar como ideal político no Brasil. Em 1917,

teóricos, como Vladimir Lênin, Leon Trotsky, Karl Marx e Frederic Engels são

apropriados por militantes anarquistas, operários e intelectuais no Brasil. Embalados

pela Revolução Russa, eles lançam as bases para o movimento comunista.

A sociedade brasileira, em transformação, ensaiava a inovação de ideias e

conceitos também no campo artístico. A Semana de Arte Moderna, ocorrida no Teatro

Municipal de São Paulo, entre os dias 11 e 18 de fevereiro de 1922, entraria para a

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história como marco de renovação cultural: inaugurou o modernismo no Brasil,

apresentando novas linguagens e expressões na pintura, escultura, literatura, poesia e

música; rompeu o paradigma de arte do passado e passou a ser referência para a cultura,

ao longo do século XX.

Março de 1922 testemunharia, ainda, a fundação dos partidos mais tradicionais,

ainda atuantes: o Partido Comunista Brasileiro - PCB e o Partido Comunista do Brasil –

PCdoB. Sobre o fato, destaca-se em Rocha (2008) que a Terceira Internacional

Comunista, em Moscou, inicialmente negou a filiação do PCdoB, pois marcas de

anarquismo do partido não condiziam com a doutrina comunista e porque havia, entre

os quadros dos dirigentes, um membro maçom, fato inaceitável, “visto ser a maçonaria

uma organização de caráter eminentemente burguês” (ROCHA 2008, p. 94).

Em 1924, O PCdoB se filia à Terceira Internacional Comunista, reafirmando, em

1925, os princípios norteadores: a bandeira vermelha e o hino dos trabalhadores

mundiais. Logo depois, em 1928, durante o VI Congresso Mundial da Terceira

Internacional, em Moscou, Rocha (2010, p. 29) assevera, “se processa uma despudorada

virada para a direita naquele organismo”.

A derrota mundial do sonho socialista burocratizaria a Revolução Russa e os

teóricos enquadrariam o Brasil na condição de país dependente, ao qual se deveria

impor esforço para libertação. A análise comunista considerava que o país estaria em

fase de transição entre feudalismo e capitalismo. Fazer a “‘revolução democrático-

burguesa’ [...] haveria de se dar por via da luta armada, por via inssurreicional”, tanto à

época, quanto hoje, desastrosa, analisa Rocha (2010, p. 31), que conclui: porque

abandonou o princípio da luta de classes em favor da luta pela libertação do

imperialismo norte-americano.

É sabido que a crise financeira de 1929 abalou profundamente o sistema

capitalista e os negócios, a nível mundial. Os Estados Unidos, principal importador da

produção de café, base importante dos negócios brasileiros, quebraram, afundando os

negócios de cafeeiros e pecuaristas, principais atores da burguesia, naquela cena

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política. A baixa cotação destas commodities4 nos negócios internacionais enfraqueceu

as oligarquias e impulsionou o protagonismo político, junto ao Estado, da burguesia

industrial, cuja participação na economia crescia.

Destacamos da análise do historiador o apoio do aparelho estatal à

industrialização nacional, com a criação - Companhia Siderúrgica Nacional, em 1941;

Petrobrás, em 1954 - e incentivo para implantação de unidades internacionais,

especialmente depois da vitória, em 1955, de Juscelino Kubitscheck para a presidência

da República e da sua proposta de política econômica e desenvolvimentista: fazer o

Brasil avançar cinquenta anos em cinco.

Ocorre que as ideias revolucionárias do novo governante encontraram um país

essencialmente agrícola, carente de recursos financeiros e tecnológicos para promover o

progresso industrial pretendido, necessitando recorrer a capital e tecnologia

estrangeiros. Feito o convite aos parceiros norte-americanos estes “não se mostraram

interessados nesse projeto sob o argumento da limitação do nosso mercado”, pontua

Rocha (2010, p. 35), acrescentando: “[...] JK voltou-se para os empresários europeus,

especialmente os alemães [...] responderam positivamente, como é exemplo ilustrativo,

a Volkswagen e alguns outros.”

O avanço da industrialização no Brasil mudou a configuração de concentração e

distribuição demográfica no território. Até então predominantemente rural, em 1960 o

Brasil já mostrava crescimento populacional expressivo em zonas urbanas, chegando a

superar em números absolutos a população rural, em 1970, por conta do progresso

industrial e das precárias condições de vida no campo.

Os aumentos na produção e no número de trabalhadores fizeram surgir novos

objetivos para o sistema: escoar produção; garantir o abastecimento de matéria-prima;

proteger os negócios internos da concorrência dos produtos importados; tornar a

máquina administrativa mais eficiente e menos onerosa e adequar o sistema bancário.

Ainda havia uma problemática relacionada com o volume de recursos financeiros que

saíam da economia interna e eram remetidos pelas empresas estrangeiras aos países.

4 Verbete do idioma inglês. Tradução: mercadorias. Esta palavra é usada para descrever produtos de baixo

valor agregado.

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As Reformas de Base postas em Rocha (2008) tinham objetivos relacionados

com o aumento de consumo e proteção do mercado interno: garantir salário mínimo e

mais direitos trabalhistas ao trabalhador do campo e fazer a reforma agrária,

distribuindo terras improdutivas ao produtor direto; aumentar o poder aquisitivo dos

assalariados urbanos e promover política habitacional para facilitar o acesso à

propriedade de moradia. Com a sobra nos ganhos nominais, o consumo de bens deveria

crescer. Sobre a evasão de divisas, o controle das remessas de lucros ao exterior e

avanço da concorrência estrangeira se daria com taxação e barreiras alfandegárias.

Enquanto o capitalismo fortalecia o modelo de desenvolvimento econômico,

setores da igreja católica faziam a evangelização da sociedade, organizando as famílias

nas atividades paroquiais e os jovens em escolas e universidades. Os ativistas religiosos

integravam os membros da comunidade no desenvolvimento de ações sociais e foram

importantes para ampliar a visão de estudantes e universitários acerca da realidade que

se delineava na conjuntura política e econômica.

Em 1950, a Juventude Universitária Católica – JUC5 e a Juventude Estudantil

Católica – JEC6 foram fundadas por jovens estudantes, como Maria do Carmo7 . A

utopia da sociedade igual para todos seria gestada, inicialmente, entre os dogmas

católicos, mas a luta para torná-la real se daria na militância dos movimentos estudantis

" Meu pai era advogado... Sociedade igualitária. A igreja dizia: Deus criou

o mundo e não deixou inventário. Se Deus disse que é pai de todos, todo

mundo tem que ser igual. Cristo dividiu o pão, o peixe... Foi o primeiro

socialista. A gente queria o socialismo cristão. Minha irmã e eu, a gente

queria o socialismo de Cristo, contra as injustiças. Nossa militância

começou em 67. A JEC serviu de escola de base. Tinha panfleto. A ação

católica gerou a Ação Popular- AP8."

Ao longo de sua existência, a igreja católica tem sido esteio para as famílias,

tanto na orientação da conduta, como na construção dos valores. A narrativa de Maria

do Carmo, ao se referir aos ensinamentos de natureza espiritual cristã, contempla o

5 Será denominado a sigla JUC para associação de Juventude Universitária Católica. 6 Será denominado a sigla JEC para associação de Juventude Estudantil Católica. 7 Entrevista concedida por Serra Azul, Maria do Carmo Moreira. Entrevista I. [5 jan. 2017].

Entrevistadora: Tânia Gorayeb Sucupira. Fortaleza, Ceará, Brasil, 2017. 8 Será denominado a sigla AP para Ação Popular

7

humanismo e solidariedade comumente presentes nas encíclicas e em cânones, repletos

de valores éticos e morais.

Mônica Karnis9 cita o descontentamento de integrantes da JUC e JEC, que se

puseram contra os interesses eclesiais e desviaram seu protagonismo da vertente

católica para a militância nos ME: para lutar pela “transformação radical da estrutura

brasileira em sua passagem do capitalismo para o socialismo”. As memórias de Maria

do Carmo recuperam seus ideais, àquela época

Dizimaram índios, sindicatos rurais... Entrei na JEC com 13 anos. Já

queríamos o socialismo. A igreja fazia os contatos e passava para a AP,

clandestino... Na AP, que se afastou da igreja e assumiu o marxismo, entrei

com 15 anos.

No início de 1962, de acordo com Karnis (2017), os estudantes da JUC,

liderados por Herbert José de Sousa 10 , produziram manifesto de cunho político

convocando para o congresso nacional estudantil em Belo Horizonte, no qual lançariam

as bases para fundação da AP, organizada para atuar politicamente em âmbito nacional.

O grupo “não confessional” pretendeu reunir todos os setores de atividade

unidos organicamente em pensamento e orientados para a “luta revolucionária e pela

emancipação nacional”. Em fevereiro de 1963, durante o segundo congresso nacional

em Salvador aprovaram o documento base e o alcance das ações: em nível nacional,

regional e municipal.

O texto enfatizava a necessidade de trabalhar a consciência da nação,

mobilizando todo o povo para a luta contra a dominação capitalista - nacional e

internacional, de ampliar o alcance das ações políticas, inclusive nos setores operário,

rural e nos meios estudantil e profissional. O controle político da AP chegou ao ponto

de comandar a classe estudantil, lembra Maria do Carmo: “quem dirigia a UNE era a

Ação Popular.”

Às vésperas do golpe militar de 1964, a AP aderiu ao movimento dos grupos

políticos favoráveis às reformas nacionalistas propostas por João Goulart, mas o quadro 9 Texto disponível em: http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/acao-popular-ap 10 Herbert José de Sousa, o Betinho, nasceu em Bocaiúva, a 3 de novembro de 1935 e morreu em Rio de

Janeiro, a 9 de agosto de 1997. Sociólogo e ativista dos direitos humanos no Brasil concebeu e se dedicou

ao projeto Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida.

8

político era “completamente insatisfatório do ponto de vista dos interesses do

socialismo”, conforme Rocha (2008, p. 97). Melhor dizendo, o Partido Comunista do

Brasil –PCdoB- se limitava a fazer revolução com luta armada e o Partido Comunista

Brasileiro –PCB- estava contaminado com ranços da oligarquia dos coronéis.

Após o golpe, a repressão aos movimentos de esquerda foi dura e sistemática:

muitas prisões, presos torturados com requinte de crueldade, ativistas assassinados e

muitos corpos desaparecidos. A perseguição atingiu os membros da AP. Quem pôde

fugiu para o exílio. Os que optaram pela militância clandestina foram caçados e presos

pela ditadura, como no caso da nossa entrevistada...

Quando eu fui presa eles não queriam saber da minha participação no movimento

estudantil, só no movimento clandestino. Para eles, o movimento estudantil era

secundário, as organizações de esquerda queriam fazer uma revolução socialista,

implantar o socialismo, o movimento estudantil era secundário.

Excetos das memórias de Maria do Carmo narram a história singular da mulher

militante política que sonhou e ainda sonha com a redução das desigualdades e

injustiças sociais. As reminiscências da participação no movimento estudantil durante

os “anos de chumbo” se misturam com experiências em movimentos estudantis na

atualidade, quando ela reafirma suas convicções e ideais políticos. Procuramos ancorar

uma discussão sobre memórias e narrativas biográficas para ampliar a compreensão de

simbolismos e significados das histórias de vida de Maria do Carmo, no contexto da

memória coletiva.

Memórias e Narrativas Biográficas

A narrativa de uma biografia escreve a história daquele personagem, como nos

explica Soares (2011, p. 103): “a trama biográfica está diretamente ligada à biologia e à

grafia (escrita) histórica, daí a expressão história de vida [...]”. Pollak (1989) define a

memória como sendo tudo que é vivido e sentido e Martinho Rodrigues (2011) defende

que ela constrói a história, agindo sobre o passado já vivido.

Narrativas biográficas e histórias de vida encontram nas memórias o suporte

principal e “pano de fundo” para lembranças e resiliências do passado, postula Santo

Agostinho (2001), mas completar a teia dos fatos, durante a (re)construção histórica,

9

envolve reunir e analisar diversas fontes: documentos, registros e relatórios, como nos

orientam Vasconcelos, Fialho e Santana (2014).

Revisitar vivências e imagens do passado traz à tona uma releitura do vivido

ampliada em suas percepções e reinterpretada nos significados, o que enriquece o

conjunto de experiências. Contudo, Vasconcelos e Araújo (2016, p.17) ressaltam que

“[...] o silêncio e o esquecimento são também reveladores de conflitos [...] [...] repetirem

várias vezes as mesmas histórias acabam cristalizando suas lembranças [...], revelando o

que se encontra subjacente no que não é dito, despertando para o significado da

narrativa que recorre, enrijece as lembranças e impede a fluidez dos discursos.

Recuperamos estudos de Bergson (2010) que conceituam memória como sendo

a imagem do passado e complementamos com o pensamento de Sucupira e Martinho

Rodrigues (2015, p.45) “[...] Nela estão os significados para os registros que se tem,

impregnados de afetividade e subjetividade, pois a memória perpetuada é sempre a

memória sob um determinado ponto de vista ou estado de espírito [...]”.

Do ponto de vista do pesquisador, os encontros e entrevistas são momentos de

aproximação e intimidade com o entrevistado, de forma que amizade, empatia e

confiança são pilares importantes nesta relação, conforme Ferrarotti e Villas-Boas

(2014) sintetizam: toda narrativa biográfica é um momento de desestruturação e

estruturação de uma história pessoal.

Recordações não surgem espontaneamente, assevera Abrahão (2006), elas

emergem em dadas circunstâncias e Vasconcelos (2011, p.28) as especifica: “(...). A

memória exalta e destaca elementos-chaves que se expressam na oralidade. Marca os

pontos que se fixam em volumes de lembranças prontas a emergir dos escaninhos mais

profundos de sua alma (...)”.

Trocando em miúdos podemos dizer que os momentos de resgates e recordações

ocorrem nas situações seguintes: a) quando lembranças dos fatos passados são mais

presentes do que aquelas dos eventos no presente, o caso da memória intencionalmente

seletiva; b) quando o narrador fez questão de esquecer eventos e fatos, por algum

motivo, e, quando questionado, os revisita, mas sem muito “agrado” de recordar, é a

memória seletiva e c) o momento de “expressão de reconstrutividade memorial,

10

evidente quando o narrador realmente ressignificava o fato no momento da enunciação.”

(ABRAHÃO, 2006, p. 151).

Consideramos que o registro da memória, literalmente, resgata fatos e eventos

perdidos no tempo, porque proporciona a busca das experiências do passado, novas

percepções, outros significados e maior compreensão de contextos e processos. É nesta

perspectiva que revisitamos as memórias de Maria do Carmo ressaltando o seu

protagonismo político no ME e compreendemos aspectos, detalhes e motivações da sua

militância e participação na resistência estudantil, na capital cearense, no contexto de

pós-golpe militar de 1964.

Histórias de uma militante no movimento estudantil de 1968-9.

Maria do Carmo representa bem a estirpe de mulheres singulares, forjadas no

ideal e tecidas com fibra de luta, que fortalece suas convicções com a utopia da justiça

social: uma sociedade mais humana e menos desigual. A condição social privilegiada da

família, estruturada e na classe média, não a impediu de se indignar, quando busca as

lembranças dos tempos no Colégio da Imaculada Conceição

As freiras apoiavam a ditadura. Chegou um padre para lecionar, deu uma

palestra e disse: os militares estão dizimando os índios e mostrava slides. A

ditadura jogava um contra o outro, tribos rivais juntas para uma matar a

outra.

Ao se lembrar das motivações políticas para a luta estudantil no passado, o

pensamento desta militante se volta para o extermínio dos oprimidos, o sentimento de

indignação, perante as injustiças, e a solidariedade fraternal comum na sua geração, mas

que ficou no tempo, bem distinta da atual

Na época, o que tinha nossa geração que não tem hoje...estimulava o melhor

lado do ser humano, solidariedade, generosidade...ela tentou fazer a vida

valer a pena, a gente tinha um objetivo comum...você vê crueldade, tirania,

injustiça...a nossa geração pensava: vou fazer alguma coisa.

Suas recordações procuram semelhanças e diferenças entre os dois momentos

históricos críticos para a democracia brasileira: a ditadura pós golpe militar de 1964 e o

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conturbado contexto político do processo de impeachment recentemente ocorrido: "68,

mesmo com a repressão, tinha multidão, diferente de hoje [...] Por trás de cada

movimento tinha organizações de esquerda, diferente de hoje. Hoje, o povo é contra

partido. "

Corrobora-se com Maia Junior (2002, p.16) quando afirma que “(...) As lutas

podem não ser as mesmas, contudo articulam-se, têm seus laços (...)”, ao justificar a

importância de recuperar simbolismos e significados nas reminiscências de militantes

que protagonizaram movimentos político-estudantis no passado, a fim de compreender

motivações para lutas e resistências de manifestantes no presente.

Após o golpe militar de 1964, certamente haveria de ser grande a pressão sobre

todos os setores da sociedade. Maria do Carmo recupera lembranças daquele momento

de separação das ideologias: "Aqui em Fortaleza, a direita era a TFP – Tradição

Família Propriedade privada, mas a gente batia neles, a gente tomava bandeira. Eles

ocuparam o SESC."

Rocha (2008, p. 115) registra a participação da Igreja Católica para a

consolidação do golpe no seio da sociedade: “cumpriu soberbamente seu papel golpista,

levando setores das classes médias para a rua, com a famosa ‘marcha da família com

Deus pela propriedade’”.

Como posto, houve divergências de opinião no posicionamento de jovens e

clérigos frente ao avanço do capitalismo e não foi diferente quanto ao golpe militar. A

Conferência Nacional dos Bispos do Brasil CNBB procurou enfraquecer a articulação

política da juventude católica. Em 1966, a equipe estudantil nacional se desligou do

movimento, dando lugar a vários grupos autônomos, com objetivos políticos e sociais

próprios. Em 1967, Maria do Carmo estudava no Colégio da Imaculada Conceição

Eu era da diretoria do Centro de Estudantes Secundaristas do Estado do

Ceará – CESC, a entidade que representava os estudantes. Confeccionava

carteirinhas. Eu era da tesouraria. A Mirtes foi estudar no Colégio da

Imaculada Conceição. O movimento era ilegal, mas o CESC era legal. A

gente fazia panfletagem, não gostava de injustiça. O Liceu era muito

atuante, o movimento secundarista era muito atuante.

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A militância de Maria do Carmo e Mirtes na AP compõe a memória coletiva do

ME no Ceará. Os jovens se organizavam fazendo “Pichamento, com piche mesmo, não

saía fácil, e na base do boca a boca.” O evento que disparou a revolta estudantil foi a

intenção do colégio de passar a cobrar taxa escolar. Neste período, a UNE e a AP

faziam parte do mesmo ciclo.

Quem dirigia a UNE era a Ação Popular. O movimento era contra o

pagamento da taxa escolar... era o acordo do MEC com o governo

americano para privatizar. A taxa era simbólica, só para iniciar. O

movimento era contra, como eu e muitos.

A Revolta das Saias, em alusão ao gênero na manifestação, foi o nome dado pela

imprensa para o movimento de repúdio à cobrança de taxa na escola, segundo Maria do

Carmo, como antecipação ao objetivo principal: a privatização do ensino. Adísia Sá, em

1968, era diretora do Colégio Estadual Justiniano de Serpa, em Fortaleza- CE, a antiga

Escola Normal.

“A notícia mais badalada na imprensa da época: a ‘revolta das saias’, por

que eram só mulheres”. Foi a passeata em solidariedade à Mirtes, que

estava contra a cobrança de taxas, era o projeto de privatizar o ensino. Adísia Sá era a diretora da escola indicada pela ditadura. A Mirtes

perguntava para que era o dinheiro da taxa e a Adísia dizia que era para o

grêmio. Daí a Mirtes disse: então me dá o dinheiro que vou fazer assembleia

para perguntar o que é pra fazer, para ver o destino para o dinheiro. Adísia

disse que não, que o grêmio ia fazer o jornal. Daí a Adísia compra mesa de

ping-pong. Mirtes disse: que história é essa, o dinheiro não era do grêmio?

Ela expulsa a Mirtes.”

As estudantes não aceitaram os argumentos, enfrentaram a direção da escola,

questionaram a cobrança de taxa e o uso do recurso, culminando na manifestação

histórica. O movimento tomou as ruas e alcançou grande repercussão, à época,

considerado a maior revolta feminina da América Latina, resultando na queda de Adísia

Sá como diretora da escola e em severa retaliação para os líderes, como lembra Maria

do Carmo

O grêmio foi extinto e todos ficaram clandestinos. A escola ficou parada uns

45 dias, porque ninguém aceitava Adísia. Aí ela saiu. Naquela época, a

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gente entrava na escola e fazia todo mundo sair pra rua: também Adísia não

fica.

Depois da saída da diretora e entrada do interventor acabou a taxa.

Botaram o professor Sobreira como interventor. Ele era mais esperto. Ele

dizia: não sou besta pra mexer em boca de formigueiro. Se afastar do

formigueiro eu pego. Ele me pegou.

Neste ponto, a narrativa de Maria do Carmo cessa o som, cai no silêncio, como

se as lembranças enveredassem por caminhos mnemônicos oblíquos... Imaginamos que

as imagens surjam junto a sentimentos e percepções, sugerindo ao entrevistador o

momento de respeitar o silêncio, perscrutar no que parece implícito, como nos sugere

Ricoeur (2007). Nossa guerreira recupera o tom e refaz a teia: dos fios da história,

surgem os detalhes

Na organização que eu fui ligada tinha gente de esquerda infiltrada na

polícia. Pegamos documento da Adísia delatando a Mirtes como subversiva.

Éramos delatados ou como subversivo, ou como terrorista ou como

comunista. Na época, quem era delatado morria.

A lembrança dos fatos envolvendo a denúncia da companheira traz à tona o

contexto de perseguição a Mirtes, delatada por Adísia Sá. Maria do Carmo revisita as

memórias referentes à fuga da amiga de colégio e parceira na luta contra o sistema

Adísia denuncia Mirtes para os órgãos de repressão, daí a Mirtes

‘fugiu do Ceará’11. A Polícia Federal cercou o quarteirão da casa

dela. A polícia invadiu a casa dela. Ela fugiu, com dezesseis anos. Ela

se escondeu na casa de um militar da marinha. O cara tinha umas

crianças e ela saiu no carro, vestida de babá, como camuflagem. O

pai dela era procurador, tinha conhecimento e tirou ela do Ceará.

A Mirtes teve sorte, por estar em posição social privilegiada, no seio de família

da classe média, o pai bem posicionado profissionalmente, com condições de proteger

sua vida e garantir sua fuga. Muitos naquela conjuntura de repressão e violência

institucionalizada não foram tão “felizes”, desapareceram nos porões da ditadura e

11 Ao se referir fugiu do Ceará, a narradora está se antecipando os fatos que ainda irá narrar.

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estiveram sob dura tortura, ou tiveram seus corpos eliminados, literalmente, sem sequer

a dignidade do sepultamento.

Consideração Final

O trabalho do historiador de narrativas biográficas envolve mergulhar em

singularidades das histórias de vida, conhecer nuances de percursos biográficos e

compreender as subjetividades dos personagens. Os fragmentos da história de vida de

Maria do Carmo Serra Azul aqui postos dão conta de um trajeto biográfico admirável,

uma vida dedicada à luta por uma sociedade com menos desigualdade.

De forma breve, apresentamos a luta política na perspectiva de uma estudante

secundarista na cidade de Fortaleza. A adolescente, com apenas 13 anos, vivendo em

situação econômica e familiar confortável era capaz de se indignar com as injustiças

sociais e desigualdades que percebia na sociedade. A militante trazia no pensamento o

desejo de lutar por condições de vida melhores para as minorias e populações

vulneráveis e não relutou em colocar a própria vida em risco em movimentos estudantis,

em favor da ideologia que acredita.

Longe de esgotar o tema, recorremos à atual conjuntura política conturbada

relacionada ao pós-golpe parlamentar de 2016, para compreender de que maneira fatos e

eventos que motivam a problemática social e política do presente se conectam e/ou

remetem aos problemas e desafios do passado e encontramos as mesmas bandeiras de

luta das populações mais vulneráveis da sociedade: reforma agrária, trabalho, salário

digno, moradia saúde e educação, a pauta dos movimentos sociais brasileiros.

A título de “modernização/flexibilização”, o Congresso Nacional tem tomado

decisões polêmicas que atingem diretamente os interesses e direitos do povo. Medidas

provisórias, emendas e leis estão sendo incorporadas à Carta Magna brasileira,

modificando a política de educação, saúde, assistência social e relações de trabalho,

reduzindo/retirando investimentos sociais para favorecer ao capital: empresários,

banqueiros e investidores. Como esperado, as massas se insurgem: grupos políticos,

coletivos de luta, organizações populares e os diversos setores da sociedade fazem

volume e ganham força de luta nas ruas.

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Evidentemente, o golpe na atualidade encontra nova conjuntura e envolve outro

contexto: narrativas, atores, veículos e linguagens. Novamente, o ME mobiliza a

juventude no protagonismo político de enfrentamento aos retrocessos e contestação ao

sistema. São muitas “mariasdocarmo” em rede, articuladas nos discursos de redução das

desigualdades, condições dignas de sobrevivência e prontas para a luta contra o sistema,

movidas pelo ideal de justiça.

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