O ensino das habilidades leitoras específicas_colomer

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120 T. Colomer & A. Camps O ENSINO DAS HABILIDADES LEITORAS ESPECIFICAS Outro tipo de intervenção de ajuda à leitura consiste na realização de atividades voltadas a exercitar as habilidades envolvidas no processo de leitura, tal como se descreveu anteriormente. O espaço concedido a tais atividades no conjunto do ensino da leitura nas escolas deve ser conside- rado como um espaço explicitamente subordinado à função habitual da leitura e circunscrito, portanto, a um tempo breve e limitado em relação ao conjunto de atividades leitoras. A forma adotada por esse tipo de ativi- dades será a de sua integração na linha de suporte paralela ao progresso leitor/ na qual os alunos poderão treinar-se na melhoria de suas habilida- des leitoras mediante exercícios curtos e regulares que muitas vezes tam- bém poderão dar a eles a possibilidade de constatar seus progressos de forma quantificada e objetiva. for suas características de apoio muito personalizado aos diferentes níveis leitores e pelo peso das atividades de automatização e rapidez lei- tora, uma parte desses exercícios presta-se ao trabalho individual e autó- nomo dos alunos. Inclusive alguns aspectos dessas aprendizagens pare- cem especialmente indicados para o uso de programas informáticos, que esse suporte didático pode ter mais possibilidades que o papel para a aquisição e automatização de habilidades como a velocidade leitora. Em- bora seja preciso advertir para suas limitações em outros aspectos, sobre- tudo quanto à atividade reflexiva sobre os próprios erros, seria bom que uma decisiva generalização dos meios informáticos na escola-proporcio- nasse desde logo os recursos materiais para tornar possível aproveitar-se de suas vantagens. Em suma, será necessário, pois, que o professor orga- nize o trabalho levando em conta se as atividades a serem realizadas re- querem uma reflexão coletiva, uma elaboração em pequenos grupos ou um trabalho individual do material preparado. Dentro desse item, dividiremos as propostas de atividades de siste- matização e domínio das habilidades leitoras nos seguintes pontos: 1. Propostas dirigidas à determinação, por parte do leitor, de sua intenção de leitura e à explicitação dos planos para conseguir seu propósito. 2. Propostas sobre as estratégias de antecipação necessárias ao abor- dar a leitura e durante todo o processo leitor. 3. Propostas para inferir significado não-explícito. 4. Propostas sobre a percepção e discriminação rápida de indícios, 5. Propostas para a exercitação da memória a curto prazo. 6. Propostas para o desenvolvimento de estratégias de controle da própria representação mental do texto lido e de compensação dos erros produzidos. Ensinar a ler, ensinar a compreender Explicitar intenções: tipo de leitura e nível compreensivo A determinação do propósito de leitura permite ao leitor adotar uma conduta eficiente a respeito de questões como a localização do texto apro- priado, a adoção do tipo de leitura conveniente (a busca rápida de infor- mação ampla, de entretenimento, etc.) e a apreciação do nível de exigên- cia compreensiva que requer. Tais questões podem parecer fáceis de adquirir de forma implícita em um meio rico de utilização do texto escrito como é a escola, porém, na prá- tica, a limitação escolar para usos leitores muito pouco diversificados deixa de fora propósitos de uso corrente na vida social, como, por exemplo/ a leitura da imprensa ou o acompanhamento de instruções. Por outro lado, a pouca consciência sobre a necessidade de ensinar a usar os textos, muito enraizada pelo fato de que os adultos não têm consciência de que tiveram de aprendê-las, e o hábito escolar de ler regularmente do início ao fim fa- zem com que as crianças tenham de aprender sozinhas (ou não aprendam nunca) a resolver questões tão elementares como distinguir o prólogo do início da narrativa ou saber como buscar informação sobre um tema sem copiar mdiscriminadarnente todas as folhas dos livros que tratem arespei- to. A explicitação desse aspecto, em suma, incide em um domínio rnuito mais rápido dessas condutas que fazem parte do saber ler, permite beneíici- ar-se das descobertas realizadas por outros companheiros através docon- traste e da comunicação entre os alunos e os acostuma a controlar o sentido e a intenção de suas atividades de aprendizagem. Como atividade habitual nos projetos de aula, mas também como exer- cício de formalização de uma atitude de pesquisa consciente e seletiva, pode- se pedir aos alunos que explicitem o que sabem sobre um tema, suscitarper- guntas ou questões não-esclarecidas, decidir quais se desejam resolver e per- guntar onde e como se pode encontrar a informação de que não se dispõe. Aparte as questões concretas integradas no trabalho habitual em sala de aula sobre as fontes e maneiras de obter a informação dos textos, podem-se propor aos alunos exercícios destinados a adquirir agilidades nestes aspectos: a) Buscar uma informação determinada em diferentes tipos de tex- tos, por exemplo: - No jornal (uma notícia internacional, local, um resultado desportivo, a previsão do tempo, o anúncio de uma conferência, de um espetáculo infantil, de um programa na televisão,etc.). - Na lista telefónica (um endereço, um serviço nas páginas amarelas, um número de emergência, os prefixos para uma conferência, etc.), no guia de ruas (o nome de uma rua, a lo- calização de uma praça, etc.), nos guias de viagens (o que diz de uma cidade, procurar um itinerário, etc.).

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120 T. Colomer & A. Camps

O ENSINO DAS HABILIDADES LEITORAS ESPECIFICAS

Outro tipo de intervenção de ajuda à leitura consiste na realização deatividades voltadas a exercitar as habilidades envolvidas no processo deleitura, tal como se descreveu anteriormente. O espaço concedido a taisatividades no conjunto do ensino da leitura nas escolas deve ser conside-rado como um espaço explicitamente subordinado à função habitual daleitura e circunscrito, portanto, a um tempo breve e limitado em relaçãoao conjunto de atividades leitoras. A forma adotada por esse tipo de ativi-dades será a de sua integração na linha de suporte paralela ao progressoleitor/ na qual os alunos poderão treinar-se na melhoria de suas habilida-des leitoras mediante exercícios curtos e regulares que muitas vezes tam-bém poderão dar a eles a possibilidade de constatar seus progressos deforma quantificada e objetiva.

for suas características de apoio muito personalizado aos diferentesníveis leitores e pelo peso das atividades de automatização e rapidez lei-tora, uma parte desses exercícios presta-se ao trabalho individual e autó-nomo dos alunos. Inclusive alguns aspectos dessas aprendizagens pare-cem especialmente indicados para o uso de programas informáticos, jáque esse suporte didático pode ter mais possibilidades que o papel para aaquisição e automatização de habilidades como a velocidade leitora. Em-bora seja preciso advertir para suas limitações em outros aspectos, sobre-tudo quanto à atividade reflexiva sobre os próprios erros, seria bom queuma decisiva generalização dos meios informáticos na escola-proporcio-nasse desde logo os recursos materiais para tornar possível aproveitar-sede suas vantagens. Em suma, será necessário, pois, que o professor orga-nize o trabalho levando em conta se as atividades a serem realizadas re-querem uma reflexão coletiva, uma elaboração em pequenos grupos ouum trabalho individual do material preparado.

Dentro desse item, dividiremos as propostas de atividades de siste-matização e domínio das habilidades leitoras nos seguintes pontos:

1. Propostas dirigidas à determinação, por parte do leitor, de suaintenção de leitura e à explicitação dos planos para conseguirseu propósito.

2. Propostas sobre as estratégias de antecipação necessárias ao abor-dar a leitura e durante todo o processo leitor.

3. Propostas para inferir significado não-explícito.4. Propostas sobre a percepção e discriminação rápida de indícios,5. Propostas para a exercitação da memória a curto prazo.6. Propostas para o desenvolvimento de estratégias de controle da

própria representação mental do texto lido e de compensaçãodos erros produzidos.

Ensinar a ler, ensinar a compreender

Explicitar intenções: tipo de leitura e nível compreensivo

A determinação do propósito de leitura permite ao leitor adotar umaconduta eficiente a respeito de questões como a localização do texto apro-priado, a adoção do tipo de leitura conveniente (a busca rápida de infor-mação ampla, de entretenimento, etc.) e a apreciação do nível de exigên-cia compreensiva que requer.

Tais questões podem parecer fáceis de adquirir de forma implícita emum meio rico de utilização do texto escrito como é a escola, porém, na prá-tica, a limitação escolar para usos leitores muito pouco diversificados deixade fora propósitos de uso corrente na vida social, como, por exemplo/ aleitura da imprensa ou o acompanhamento de instruções. Por outro lado, apouca consciência sobre a necessidade de ensinar a usar os textos, muitoenraizada pelo fato de que os adultos não têm consciência de que tiveramde aprendê-las, e o hábito escolar de ler regularmente do início ao fim fa-zem com que as crianças tenham de aprender sozinhas (ou não aprendamnunca) a resolver questões tão elementares como distinguir o prólogo doinício da narrativa ou saber como buscar informação sobre um tema semcopiar mdiscriminadarnente todas as folhas dos livros que tratem a respei-to. A explicitação desse aspecto, em suma, incide em um domínio rnuitomais rápido dessas condutas que fazem parte do saber ler, permite beneíici-ar-se das descobertas já realizadas por outros companheiros através docon-traste e da comunicação entre os alunos e os acostuma a controlar o sentidoe a intenção de suas atividades de aprendizagem.

Como atividade habitual nos projetos de aula, mas também como exer-cício de formalização de uma atitude de pesquisa consciente e seletiva, pode-se pedir aos alunos que explicitem o que sabem sobre um tema, suscitarper-guntas ou questões não-esclarecidas, decidir quais se desejam resolver e per-guntar onde e como se pode encontrar a informação de que não se dispõe.

Aparte as questões concretas integradas no trabalho habitual em sala deaula sobre as fontes e maneiras de obter a informação dos textos, podem-sepropor aos alunos exercícios destinados a adquirir agilidades nestes aspectos:

a) Buscar uma informação determinada em diferentes tipos de tex-tos, por exemplo:

- No jornal (uma notícia internacional, local, um resultadodesportivo, a previsão do tempo, o anúncio de uma conferência,de um espetáculo infantil, de um programa na televisão,etc.).

- Na lista telefónica (um endereço, um serviço nas páginasamarelas, um número de emergência, os prefixos para umaconferência, etc.), no guia de ruas (o nome de uma rua, a lo-calização de uma praça, etc.), nos guias de viagens (o que dizde uma cidade, procurar um itinerário, etc.).

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- Nos dicionários (uma definição, sinónimos de uma palavra,palavras de um campo semântico, resolução de uma dúvidaortográfica, etc.), nas enciclopédias (procurar as palavras emordem alfabética e escolher a entrada, decidir sua localiza-ção, etc.), entre diversos livros de consulta, etc.

- Em antologias literárias (um texto de um autor, um texto so-bre um tema, etc.).

Nesse tipo de atividades, os alunos devem verbalizar onde podemencontrar a resposta a todas essas questões, o que terão de fazer para obtê-las (consultar os índices, localizar uma determinada seção do jornal, situarmentalmente a informação entre os temas, escolher os itens, etc.) e comoterão de ler (rápido na consulta, fixando-se no que consultam, detendo-sepor mais tempo até encontrar o item informativo, etc.). Uma vez encon-trada^ informação, cada um pode explicar o que fez e que procedimentosforam mais proveitosos.

A seguir, damos alguns exemplos de diferentes tipos de textos e depropósitos leitores diversos:

b) Este é o índice de anúncios de um jornal. Que seções você con-sultaria se tivesse de:

- Alugar um espaço para montar uma oficina.- Procurar trabalho como modista/alfaiate.- Procurar trabalho como tradutor/a.

ÍNDICE DE SEÇÕES

Vendas imobiliárias

1 . Casas e terrenos2. Edifícios3. Andares4. Galpões5. Apartamentos6. Estabelecimentos7. Estacionamentos8. Escritórios9. Mansões

Vendas

10. Fotografia1 1 . Móveis12. Música13. Computadores14. Vídeo15. Antiguidadesló. Peleteria

Aluguéis imobiliários

15. Casas16. Edifícios17. Andares18. Galpões19. Apartamentos20. Estabelecimentos2Í. Estacionamentos22. Escritórios23. Hospedagem

Diversos

24. Modas25. Jóias2ó. Confecção27. Livros28. Perdas29. Filatelia30. Numismática

Serviços

65. Estética66. Ensino67. Detetíves68. investigadores69. Empréstimos70. Futurología

Bolsa de trabalho

71, Procuras72. Ofertas73. Traduções74. Serviço doméstico

An i m ais75. Cachorros76. Gatos

Ensinar a ler, ensinar a compreender

c) A consulta nos anúncios de espetáculos, dos filmes a que se querassistir/ ou/ na programação televisiva/ dos programas que iite-ressam pode ser feita normalmente utilizando a imprensa diária.

Busca nos anúncios de espetáculos

1. Que filmes você pode ver se lhe interessa que comecem entieas18h e as 18h 45min? Não esqueça que se não tiver a idade sufici-ente não o deixarão entrar,

2. Em que cinema está passando o filme do diretor X? Qualéonome do filme?

3. Onde você veria uma obra do ator Y? O que é preciso fazer farácomprar os ingressos?

4. Em que cinemas está passando o filme Z?

A Era do Guio(EUA/2001) De Chris Wedge, Bichos ten-tam devolver um bebé humano para seupai. Animação. Uvre, 115 min.Aerocine 3 (15h30) Dublado.Cincmark 5 (13h35) Dublado.Iguatemi 9 (13h30- 16h~ )8h30) Dublado.Iguatemi 9 (21h).Ru3daPraia2(l5h30).Víctoria 2 {I2h- 16h15) Dublado.

A Festa de Margarette(BaV2QOO) Com Hlque Gomez. De Rena-to Falcão. Homem sonha em realizar festapara a esposa. Comédia. Livre. 80 min.P&B,Cinema*? (1SMS-2!h40).GNCMoinhoi4(l4h).GNC Praia de Belas 1 (22h).Iguatefnl5{13h20-I6h-I8h40~21h20).Center 2 (16h - 17hW - 19h40).Cinema* 5 (16h15-iah$0-Zlh25-23h55).

O Mistério da Libélula(EUA/2002) Com Kevln Costner. De TomShadyac. Médico acredita que sua esposamorta querfalar com ete. Drama. 12 anos.101 min.AewdMl(IOh-l2M5-í5h30-18hlS-2lK).C*rter1(l3h30-t6hlO-18h50-2lh30).Center4{15h-l7M5-20h30).dnema*3(14h-l7tilQ-20h30~23h4Q).On«mari<4(14h5Q-18h15-21h30).GNCBowboril03h30-l6hlS-19h-22h).

O Grilo Feliz(BRA/2001) De Walbercy Ribas. Grilocompõe músicas e dá lições ecológicas aseus amigos. Animação, Livre. 8Z min.GNClindóla 1 {]3h30-]6h!5-19h-22h).GNCMoínhos2(13h30-l6h15-l9h-2tM5j.GNC Praia de Belas 3 (I3h30- 16ht5-19h~22h}.Iguatemi S (14h-17h-20h}.Iguatemi? {14h30-17h30-2!)h30).Imperial 03MS-16h30-19h15j.

d) Saber como está organizada a informação nas enciclopédiaseií-vros de consulta é particularmente necessário nas aprendizagensescolares:

Você quer buscar uma informação sobre barcos.

- O que buscará em uma enciclopédia alfabética?- Que item lhe interessa olhar agora?

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Hw

BARCO. [De barca]. S. m. 1. Embarca-ção pequena, sem coberta. 2. P. ext.Qualquer embarcação. * Ancorar obarco. Fixar-se; parar. Deixar o barcocorrer. Deixar que as coisas sigam seucaminho normal; não interferir. Tocar obarco para a frente. Ir enfrentando avida, tratando de seus negócios, de seusproblemas, em rneio a vicissitudes e difi-culdades: "Mas 'o pobre nasceu para so-frer' e 'o que não tem remédio remedia-do está'. Acompanhando esses preceitosda ignorante sabedoria popular, seuAugusto, no dia seguinte, tocava o bar-co para frente, ia vivendo." (MiroelSilveira, Bonecos de Engoço, p. 102-103.]

- Qual destes volumes de uma enciclopédia temática?

1. O universo2. Os animais3. O corpo humano4. Os transportes

- Qual destes itens do sumário?

A vegetaçãoA indústria

SUMARIO

Ensinar a ler, ensinar a compreender

Carros e carruagens. A roda foi urn dos mais brilhantes inventos do homem. No campo dotransporte, levou à criação de carros de combate, de carretas de abastecimento e, maistarde, de carruagens para passageiros.

Através dos oceanos. Os primeiros marinheiros corriam grandes perigos quando sua frágilembarcação perdia a terra de vista. (Hoje, no entanto, as frotas modernas e as companhiasnavais realizam serviços essenciais, apesar da era dos velozes transportes aéreos.]

Transportes viários. Nos países desenvolvidos, muitas famílias consideram o automóvel nãocomo um luxo, mas como uma necessidade. A tecnologia de produção em série, que fez doautomóvel urn produto barato, porém, só foi introduzida na primeira década do século XX.

Canais. A maior parte das obras de construção de canais terminou com o início da idade deouro da ferrovia. Alguns, no entanto, corno o canal do Panamá, a via marítima de SãoLourenço e o canal de Suez, ainda são artérias vitais do comércio mundial.

A revolução das ferrovias. No ano de 1929, a locomotiva de Georges Stephensoichamada Rocket, alcançou a então fantástica velocidade de 58 krn/h. Atuaimente, os"trens-bala" japoneses, que proporcionam o serviço regular mais rápido do mundi,vão a 210 krn/h.

Viagem pelo ar. O domínio do voo, um dos primeiros sonhos do homem, é outra notaihistória do progresso tecnológico. Culminou nos aviões supersõnicos de passageirosenos foguetes, que atualmente exploram os segredos do espaço.

Aerodeslizantes e hidromodelos. O aerodeslizante é uma das formas de transporte masadaptável, porque pode viajar sobre a terra e sobre a água. O princípio do colchão deartem diversas aplicações. Inclusive tem sido utilizado nos cortadores de grama.

[Full, Barcelona, Editorial Teide, 1982.)

e) Para constatar o nível de exigência de uma leitura em funçãidaintenção, pode-se fazer perguntas sobre um texto encaminhadasa evidenciar essa diferença leitora. Por exemplo/ pode-se per^n-tar simplesmente de que tema trata um texto relativamentelon-go. Quando se está lendo um texto sobre um tipo de animais,porexemplo, é muito fácil determinar o tema, mas se pode ir alín eperguntar em seguida que tipo de informações ele dá (ondevi-vem, o que comem, perigos para sua sobrevivência, etc.) e, final-mente, será preciso especificar tudo o que diz de alguns dessesaspectos. Os alunos deverão comentar como tiveram de lerparasaber cada uma dessas coisas.

Da mesma maneira, podem-se fazer exercícios similares em muitosoutros tipos de textos, por exemplo, nos argumentativos (tema geral-opinião defendida - argumentos concretos), nos descritivos (quemdes-creve - impressão geral - detalhes que o corroboram), etc.

/Exercícios de antecipação do texto

A ativação dos conhecimentos prévios do leitor, tanto sobre o mundocomo sobre o escrito, já está presentenos exercícios de explicitação è suaintenção e sua forma de leitura, mas pode ser objeto de atividadesmaisespecíficas, centradas na utilização dos diversos níveis do contextoparaconseguir uma maior antecipação no processo de leitura. A automatizaçãodos níveis inferiores do texto redundará, além disso, na capacidade derapidez leitora desde os primeiros estágios da aprendizagem. Comessesobjetivos, é possível realizar exercícios como os seguintes.

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Atívação dos conhecimentos prévios do leitor

Uma atividade voltada a criar expectativas é a de distribuir na salade aula uma série de livros e propor que os alunos deduzam do que tra-tam a partir de um exame rápido de seu formato/ título, contracapa, ilus-tração, etc. Podem-se utilizar livros de características muito diversas (deviagens, de contos/ de história, etc.) - coisa qite torna mais interessante oexercício a partir de um certo nível de leitura - livros mais homogéneos,por exemplo, narrações, nos quais possam intervir critérios como o doconhecimento dos autores, a idade do público ao qual se destina, o tipo denarração, a coleção do livro, etc. Essa atividade é habitual em qualquerleitor no momento de adquirir um livro ou tomar a decisão de lê-lo, já queé na criação de expectativas sobre seu conteúdo que o leitor passa a julgá-lo conveniente ou não para si. Na escola, ao contrário, os alunos se de-frontam com muita frequência com uma leitura imprevista e obrigatória,o que os impede de desenvolver hábitos autónomos tanto de criação deexpectativas a partir desses indícios como de poder de decisão. O resulta-do é uma dependência excessiva em relação aos critérios e à orientaçãodos demais, a escolha pelos elementos de representação mais externos eevidentes, ou a simples inibição diante da dificuldade de orientar-se emmeio ao conjunto de livros oferecidos pela biblioteca ou livraria. Por essemotivo, um ponto de partida interessante é que os alunos possam esco-lher livros, tenham de buscar sua relação com temas determinados, te-nham de orientar-se para encontrar informação em revistas, dossiês, etc,A antecipação é um mecanismo que atua em todos os níveis do texto, Aseguir, e como exemplo, proporemos alguns exercícios que a fomentam,ordenados a partir de aspectos mais pontuais de antecipação de letras.

Essas atividades de criação de hipóteses e de juízo sobre a verossimi-Ihança são particularmente indicadas a partir das leituras coletivas de tunmesmo texto. O fomento de um hábito de antecipação ativa que obriga aimaginar dentro de regras de funcionamento textual e a necessidade dejustificá-lo mediante argumentos no debate com os colegas é de enormeajuda para examinar e interiorizar os esquemas narrativos tratados. En-tretanto, é preciso agir com muito cuidado na extensão de um tipo deatividade de expressão escrita que concita os alunos a mudar e a manipu-lar o texto (continuar o poema, mudar o final, inventar um diálogo, etc.)sem circunscrever-se às regras de coerência do texto de partida, com oque, em vez de contribuir para o conhecimento dos esquemas literários,passa-se a impressão de que a combinação de seus elementos é aleatória,já que é possível qualquer intervenção.

Exercícios de antecipação explícita

1. Continuar textos ou sequências de textos

Ensinar a ler, ensinar a compreender W

Continuar textos narrativos

Como dissemos, o conhecimento das superestruturas permite em-preender melhor um texto, porque o leitor pode fazer previsões sobre suaorganização, sobre os elementos que aparecerão nele .(tempo, espaço/personagens, etc.). O professor pode facilitar a ativação dos mecanismosde antecipação na narrativa com perguntas como estas: Como podem rea-gir os personagens de uma narrativa diante do que acaba de se passarnela? Resolverá ou não o enigma? O herói do filme da.TV se salvará? E ode um determinado filme? Que finais podem-se esperar a partir do que jáconhecemos? É habitual este tipo de personagem neste tipo de narrativa?Quais, ao contrário, não seriam verossímeis?, etc.

a) Por exemplo, pode-se pedir a continuação de historinhas ou decontos incompletos com atividades orais, escritas ou gráficas:

O que pretende fazer esta menina?O que se passa depois?Como pode continuar a história?

(Shirley Hughes, i Vuda,AnaI. Madrid, Edicíones Altea, 1993.]

128 T. Colomer & A. Camps Ensinar a ler, ensinar a compreender_

Desenhe e escreva o texto das três vinhetas que devem vir na continuação destas;Como você acredita que continua este conto?

A CAIXA DO SOL

Vr*íl

[Cavai!Fort, n. 447]

Que tipo de narrativa (de aventuras/ policiais/ de ficção científica/etc.) podemos esperar destas introdxições:

Meu pai, Haraid Daih, era norueguês e vinha de uma pequena cidade próxima a Oslochamada Sarpsborg. Seu pai, rneu avô, era um comerciante bastante próspero que tinhauma loja em Sarpsborg e que comerciava de tudo, desde queijo até teia metálica de gali-nheiro.

Certa vez, urn camponês cavando, cavando em sua horta, encontrou uma jarra grandecomo uma casa, e de uma espécie de argila muito estranha.

Quando deixaram Paris, por volta de três da tarde, as pessoas ainda se moviam entreurn sol amarelado de finais de outono. [...] Bern refestelado, com a cabeça apoiada norespaldo de seu assento, o comissário Maigret, com os olhos entrecerrados, observava todoo tempo, maquinalmente, os dois personagens, tão diferentes um do outro, diante dele.

O que isso o induz a pensar? Corno poderiam continuar? Com que tipo de aventuras?Inventem aventuras ou ações concretas (aparece urna fada, acontece um assassinato, diz-nos a letra de uma canção, etc.) e julguem se são prováveis em alguma ou algumas dasnarrativas e o que poderiam ser ern cada lugar [a lembrança de uma canção familiar, urnapalavra mágica ou uma pista do crime?)

Olhem para Nuri. Está tentando pôr um pouco de sol em uma caixa. Lá está. Acaixa já está cheia. Nuri fecha-a em seguida. Será divertido, à noite, soltar o sol no quartoe brincar de fazer sombras no teto e nas paredes...

- Nuri, o que está fazendo? - pergunta seu irmão.- Não posso dizer... é seu presente de aniversário.- Vou adivinhar o que você pôs nessa caixa. É um trevo de quatro folhas?

- Não.- Uma joaninha?- Não. Você não vai adivinhar!

b) Sugerir títulos de narrativas possíveis pode servir de estímulopara inventar histórias que correspondam a eles:

Diga tudo o que imagina das narrativas que têm estes títulos:

O homem das calças cinza

O cavaleiro do vale do inferno

As duas Carlotas

Peludo, o pai, ela e eu

Sequestrado pelos escravistas

Tudo quanto você vê é o mar

O esqueleto da baleia

c) O jogo de construir textos em cadeia também contribui para fo-mentar a capacidade de relacionar o significado jã construído coma continuação que se propõe e inclusive com as possibilidades dedesenvolvimento posterior: como o colega seguinte poderá con-tinuar o conto? As modalidades podem ser diversas, por exemplo:

- Construir tuna frase em conjunto: cada aluno deve dizer so-mente uma palavra.

- Produzir um conto: cada aluno acrescenta uma parte (frase,situação, etc.).

d) As relações semânticas entre as palavras do texto são uma das ba-ses da compreensão da coerência do texto e um elemento impor-tante para dar-lhe coesão. É evidente que, se o leitor entende asrelações de sinonímia ou de hiponímia entre os nomes que podemser usados para falar de um mesmo referente, ele poderá entender

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o texto/ do contrário não poderá construir o significado nem avan-çar com ele. No texto seguinte/ por exemplo/ o leitor deve enten-der que todos os nomes marcados referem-se ao mesmo animal.

O ratinho Martín era um .alegre roedor, de bigodes longos e olhos espertos, que viviafeliz e tranquilo rodeado de pequenos animais do campo. Um dia, Martín dormia urna sestadentro do tronco de uma árvore quando foi despertado por fortes golpes na parede. E nãoeram apenas os golpes. O anima/zinho sentiu que caíam sobre ele estilhaços e serragemque o fizeram saltar como se tivesse entrado um raio. Olhou pelo buraco e viu um pica-pauque picotava um pouco mais acima. "B, mestre", advertiu o ratinho. "Você me toma por umsino?" "Oh, perdãolll", respondeu o pica-pau. "Não sabia que o tronco era habitado. Voupegar os pedaços e os colarei com um pouco de saliva." Mas nosso amigos deu conta deque, pelo buraco aberto pelo pica-pau, entrava urn maravilhoso raio de sol e disse: "Não sepreocupe, pica-pau, vamos deixá-lo assim. Urn pouco de luz rne irá bem para ler o jornal."

Por esse motivo/ os exercícios de relação entre os elementos léxicos: cam-pos semânticos/ sinonímia/ derivação/ etc. podem ajudar a estabelecer rela-ções que incidiriam na capacidade de compreensão das conexões textuais.

Continuar textos informativos

O trabalho de antecipação com textos informativos tem um interesseparticular porque o esquema textual é mais aberto, e a antecipação deveser feita a partir dos conhecimentos que o aluno tem e dos que vai cons-truindo à medida que lê. Para facilitar isso/ a professora pode fazer per-guntas como: Se neste item nos deram esta informação/ do que deverátratar o capítulo seguinte? Que informação podemos esperar deste título,destes subtítulos/ depois deste conectivo? Que informação é esperável ecom que distribuição em um mapa determinado, em um cartaz de anún-cio, em instruções, etc.? Por exemplo:

OS DESERTOS

1. Como são

Uma quinta parte da Terra exposta é coberta pelos desertos, e a maior parte encontra-seperto do equador. Os desertos recebem tão pouca chuva que neles não podem viver árvo-res e há muito poucas plantas. A terra é desnuda, pedras ou areias quentes cobrem o solo,ventos fortes sopram durante o dia levantando da terra seca tempestades de pó, e algumasvezes criam formas curiosas e mutáveis.

2. O clima

As nuvens aparecem raramente no céu do deserto, porque os ventos são secos. Não háproteção do sol abrasador que cai a prumo, produzindo um calor intenso durante o dia. Ànoite, não há nuvens que retenham o calor, e a terra esfria rapidamente. Nem todos osdesertos são quentes durante todo o ano. O deserto de Gobi, na Mongólia, e o da Patagônia,

Ensinar a ler, ensinar a compreender

na Argentina, têm invernos frios, mas ainda assirn são muito secos para que neles possacrescer a maior parte das plantas.

3. Os animais e as plantas

Alguns animais adaptaram-se a viver nesse clima tão duro. Ratos do deserto e raposasesca-vam profundas galerias debaixo da terra onde podem resguardar-se do calor do rneixlia:apenas algumas vezes, à noite, saem de seu esconderijo. Alguns animais não precisa m tetefágua e vivem da umidade que se desprende da escassa vida vegetal. As plantas tambto*adaptaram à prolongada seca e à armazenagem de água no interior de seus talos.

5, O avanço do deserto

Os desertos em geral são muito quentes e secos para que neles possam crescer {Mas.Outras regiões da Terra são frias demais para que as plantas possam sobreviver. Btasáoasregiões polares.

- Suprimimos o item 4 deste texto sobre o deserto. Do que será que ele tratarias quesubtítulo poderia ter?

- O item 5 trata do avanço do deserto. Que tipo de coisas deve explicar?- Se este texto é urn capitulo de um livro, o que deve abordar o capítulo seguinte?

(Updegraff. ContinenK í dimes.)

Como podem continuar as notícias?

A leitura da imprensa oferece um campo adequado para exerdtaraantecipação. Em geral/ o leitor habitual de jornal acompanha as notíciasde um dia para outro e na verdade busca o que se passou sobre osfatosque lhe interessam. Perguntar o que deve ocorrer depois de um faio de-terminado/ ler o jornal no dia seguinte para ver o que se passou realmen-te/ se as previsões eram acertadas/ etc... é/ evidentemente/ um exercido deantecipação. Vejamos um exemplo:

Leia a notícia e diga o que pode esperar encontrar amanhã no jornal que esteja relaionadocom este fato.

A RODOVIA DO AEROPORTO ESTARÁ MAIS ESTREITA DURANTETRÊS SEMANAS EM RAZÃO DE OBRAS

Barcelona ~ A rodovia de Barcelona ao Prat de Liobregat está com uma pistaamenosdesde ontem até 19 de outubro. A causa é a mudança dos canteiros no ponto médio entreos quilómetros 2.200 e 6.400.

Das 9h e BOmín da manhã às 4h e BOmin da tarde será impedida a circulaçãoporumapista próxima ao ponto médio. Nos dias Io, 2, 3, 4, 8, 9, 10 e 15 de outubro, nosentidoBarcelona-EI Prat; nos dias 20, 27 e 28 de setembro e 5, 11, 16, 17, 18 e 19deouRJbro,emsentido contrário.

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Redija o título de uma noticia sobre o que você imagina que ocorreu na continuação,por exemplo:

TRÊS QUILÓMETROS DE ENGARRAFAMENTO NAENTRADA DE BARCELONA PELO PRAT DÊ LLOBREGAT

2. Completar textos

Outro tipo de exercício que incide no conhecimento antecipatório deum texto é indicar onde se colocaria uma série de frases com pequenasinformações dentro de um determinado texto. Essa atividade permite umaatuação em níveis distintos do texto conforme os alunos tenham de orien-tar-se pelo tema (decidem a colocação a partir do tema dos subtítulos eitens, a partir do fio argumentativo da ação narrativa, etc.), pela organiza-ção em parágrafos dentro de um item, por uma atribuição de relaçõeslógicas entre as ideias do texto (por exemplo, decidir que a nova informa-ção seria um exemplo de uma das ideias expostas, ou que exporia suasconsequências), etc.:

Em que item do texto Os desertos poderiam acrescentar-se estas frases?"A passagem brusca do calor para o frio faz: com que as pedras se dilatem e contraiam-

se tão rapidamente que se esmigalham.""Para aproveitar a terra cultivável, as casas são construídas fora do oásis"."Normalmente, têm espinhos que as defendem dos animais."

Situe estas informações onde achar conveniente no texto seguinte. Pode ser que te-nha de fazer algumas alterações para encaixá-las.

Tinha uns olhos muito grandes, muito bonitos e também negros como o breu."

"Suas saias eram feitas de remendos de cores distintas e chegavam até os tornozelos."

"Era bastante magra."

O aspecto externo de Momo certamente era um tanto incomum e eventualmentepodia assustar um pouco as pessoas que dão muita importância ao asseio e à ordem. Erapequena, de rnodo que nem com muito boa vontade se podia dizer se tinha apenas oitoanos ou seja tinha doze. Tinha os cabelos muito encaracolados, negros como o breu, ecom todo o aspecto dejarnais ter enfrentado um pente ou tesoura. Os pés eram da mesrnacor, pois quase sempre andava descalça. Só no inverno usava sapatos de vez em quando,mas costumavam ser diferentes, desemparelhados, e além disso ficavam muito grandes. Issoporque Momo não possuía nada além do que encontrava por aí ou do que lhe davam. Porcima, usava um jaquetão de homem, velho, muito grande, cujas mangas ficavam arregaça-das em torno do pulso. Momo não queria cortá-las porque se lembrava, previdentemente,que ainda tinha de crescer.

[M. Ende, Momo.}

Ensinar a ler, ensinar a compreender 133

Á hipótese de onde seria esperável encontrar aquela informação podeser feita sobre textos reais ou inclusive dentro de um esquema maisabs-trato e formal. Por exemplo, atribuir ao início, núcleo ou desfecho deumanarrativa uma série de frases que contenham indícios linguísticos suficien-tes ou de outro tipo (Era uma vez um porco seria um exemplo bastante evi-dente), ou colocar as informações no interior de um esquema (tirado deuma lição do livro-texto, suponhamos) ou do índice suficientemente de-talhado de um livro de consulta.

Nesse item, também caberiam textos incompletos de todo tipo dosquais se tivesse suprimido uma parte necessária, por exemplo, o fragmentode O leão feliz nas páginas 166-167 em que falta uma parte central quecorresponderia à ação e à resolução da narrativa.

3. Recompor textos, frases, palavrasUm passo adiante nesse tipo de atividade nos coloca nos exercidos

de recomposição de textos, já tradicionais nas escolas durante a primeiraaprendizagem da leitura como recurso didático para o reconhecimentoleitor das unidades linguísticas e a elaboração de mensagens, mas quepodem complicar-se, adequando-se a níveis elevados de aprendizagemleitora. Muito simples de preparar como material de aula, separando gra-ficamente ou recortando um texto e misturando os fragmentos, tais exer-cícios podem ampliar sua utilidade ao incluir os seguintes aspectos:

• 1. Referir-se a níveis textuais superiores (não apenas a letras deumapalavra ou a palavras de uma frase, mas também a frases de umparágrafo, partes de um texto inteiro, etc.).

2. Incluir a explicitação dos indícios que permitiram sua ordenação.3. Programar-se como exercitação sistematizada da habilidade

antecipatória em todos os níveis, ou para fazer com que os alu-nos tomem consciência dos organizadores textuais ou de outroselementos que dão coesão ao texto, etc.

Recomposição da sequência temporal

Areflexão sobre os indícios que limitam as possibilidades de ordena-ção (uma letra maiúscula que inicia o texto ou indica um ponto anterior;uma explicação que concorda com um conectivo causal, um tempo verbalanterior ao de outra frase, um nome que deve ser anterior à sua substitui-ção por um pronome, etc.) pode incluir uma constatação progressiva dasdiferenças organizacionais entre os tipos textuais. Assim, os alunos pode-rão observar que a ordenação de uma narrativa apóia-se em uma linhacronológica de acontecimentos, uma descrição deve seguir uma ordemespacial determinada (de cima para baixo, da essência ao primeiro termo,etc.) que não pode mudar de repente uma vez configurada, urna argu-mentação situa de forma organizada seus prós e contras, etc.:

134 T. Colomer & A. Cainps

Estas três notícias apareceram em três dias sucessivos. Diga em queordem cronológica:

Começam a circular osveículos bloqueados pelaneve em La Jonquera

Barcelona.Os cinco míl veículos que hátrês dias permaneciam blo-queados pela neve na frontei-ra de La Jonquera (Gerona) co-meçaram a circular ontem aomeio-dia. Todo o tráfego de LaJonquera foi canalizado atra-vés das pistas da rodovia A-7,já que a estrada N-II aindapermanece fechada na zonafrancesa por causa da neve.Alguns desses caminhões blo-quearam posteriormente a ro-dovia A-7, no pedágio deGranollers, como medida deprotesto.Pouco depois de restaurado/ otráfego em La Jonquera foi in-terrompido quando alguns ca-minhões de placas francesa eitaliana ficaram atravessadosna estrada, em território fran-cês/ pornegar-se a pagar o pe-dágio da rodovia para a qualforam desviados. A interrup-ção durou cerca de 120 minu-tos. Na zona espanhola, ocor-reu um incidente similar, às 19horas, na altura do pedágio darodovia de Granoilers, quandocerca de cem caminhões blo-quearam os acessos em ambasas direções durante cerca deduas horas.

Mais de 5.000 veículosbloqueados pela neveem La Jonquera

Uma caravana de veículos decerca de 25 quilómetros de ex-tensão, composta de mais de5.000 unidades, em sua maio-ria caminhões, continuava blo-queada ontem à tarde pelaneve na estrada N-II, no trechocompreendido entre Figuerese a fronteira de La Jonquera. Aprimeira máquina de tirar nevechegou a La Jonquera depoisdas 4h da tarde de ontem, pas-sadas cerca de 50 horas desdeque o tráfego foi interrompidopela nevasca na passagemfronteiriça. Na madrugada desexta para sábado, muito pró-ximo do local onde os veícu-los permanecem bloqueados,duas pessoas morreram quan-do o carro de passeio em queviajavam derrapou e chocou-se contra um caminhão.Segundo o governo civil deGerona, esta manhã a rodoviapoderia ser aberta e liberar apassagem pela aduana aoscerca de nove mil caminhõesque aguardam dos dois ladosda fronteira. Os motoristas sequeixavam ontem por lhes te-rem permitido transitar pelaestrada sem alertá-los de quea passagem fronteiriça estavafechada.

Fechamento de estradas erodovias e dificuldades notransporte ferroviário

BarcelonaA forte tormenta de água eneve registrada ontem emgrande parte da Catalunhaprovocou o fechamento de nu-merosas estradas e, no meio datarde, o uso de bloqueios eraobrigatório na quase totalida-de da rede viária. Nesse mo-mento, a díreção geral da es-tradas da Generalitat recomen-dava, por meio de seu telefonede informação sobre a situaçãodas estradas, evitar, na medidado possível, o uso de veículosprivados e a utilização dostransportes públicos.Na rede viária, encontrava-sefechado o tráfego dos portosde Ia Panadella e Els Brucs(N-II), Ordal (N-340), Toses(N-152) e Bonaigua (C-142).Na rodovia A-7 (Barcelona-LaJonquera) era necessário ouso de bloqueios.

La Jonquera fechada

No posto fronteiriço de LaJonquera, essa rota encontra-va-se fechada ao tráfego rodo-viário.Nos postos aduaneiros,cerca de 20 agentes da Guar-da Civil, polícia e funcionáriosencontravam-se isolados, jáque a neve impedia a chega-da das equipes de resgate.

Recomposição de textos

Os cozinheiros embaralharam as receitas de cozinha. Ajude-os a descobrir como aca-bar cada prato:

Ensinar a ler, ensinar a compreender

Bolinhos de bacalhau

Bata as claras em neve; acrescente a fa-rinha, as gemas de ovo, um pouco deleite e o bacalhau triturado. Misture tudoaté conseguir urna massa bem fina.

Arroz com cogumelos

Refogue a cebola; depois acrescenteo arroz, o cogumelo e o caldo quedeve estar no ponto.

Pastel de fruta

Misture bem a farinha, o açúcar, osovos, o leite e o fermento. Amassebem e acrescente a maçãassada no forno.

Ponha para ferver e deixe cozinhar, me-xendo de vez em quando.

Ponha em urna forma untada com mafhteiga e cozinhe no forno-.

Com uma colhei; coloque porções demassa em uma frigideira com azeiteabundante e frite-as.

(Brunzit, Barcelona, Ed.Teide, 1981.)

Ordene estes parágrafos de maneira a obter um texto bem-formado

RUMINANTES DOS BOSQUES

Os dic-dic são os menores ruminantes. Esses diminutos e delicados antílopes límchi-fres pontiagudos e um focinho em forma de trompa. O dic-dic vive sozinho ou em pjfesemterrenos arborizados muito áridos. Não bebe e obtém a umidade de que necesita dasfolhas e brotos, como também dos frutos que caem no solo. Ê um animal espeda'mentenoturno, mas às vezes parece ser o único habitante mamífero do bosque durante odia.

Como a girafa, o guerenuc, tão bonito, tem a cauda longa. Além disso, quandodes-basta as árvores levanta-se sobre as patas traseiras e apóia-se nas dianteiras entre asramas.O cudo grande desbasta mais ou menos à mesma altura que o guerenuc, mas prífereasvertentes das colinas e os barrancos; já o guerenuc vive em terrenos planos.

A girafa é o mais alto de todos os ruminantes graças às patas alongadas e ao pescoço.O lábio superior é longo e preensor e tem uma língua extensível com a qual pode fegar asfolhas e os raminhos. Nem sempre se alimenta do que encontra na parte mais alta.maséoúnico animal que pode alcançar a folhagem alta sem para isso ter de dobrar a árvore.

O elefante, quando estende a trompa para cima, é quase tão alto quanto a girafa.Quando come, é o animal mais destrutivo: baixa os ramos ou arranca a árvore pelaraiiparachegar aos ramos mais altos; mas os animais pequenos beneficiam-se disso, já que têmacesso aos ramos que não estão no seu nível.

O rinoceronte alimenta-se dos ramos mais baixos que o guerenuc, e o impalaemumnfvei ainda inferior. Unn macho jovem como o da ilustração tem os chifres pontiagudos; osmachos adultos têm cornos muito elegantes e característicos, em forma de lira.

Os bosques da África, muito espessos, estendem-se ao longo de muitas centenas dequilómetros quadrados. A maioria de suas árvores e arbustos tem espinhos e, apear disso,os principais animais que vivem neles comem suas partes tenras, pela simples razãJdequegeralmente não há ervas. Esses animais são os elefantes, os rinocerontes, asgirafai,otudogrande e o pequeno, os guerenuc, os impalas e os dic-dic. Todos esses animaii podemcomer o mesmo tipo de arbusto, mas não competem entre eles, porque,.dependendodesua altura, desbastam diferentes partes das plantas.

Toda notícia jornalística começa explicando brevemente quem, o quê, onde e o porquê de um fato. A seguir, vocês encontrarãoum primeiro parágrafo de oito notícias. As informações de cada parágrafo forarn fragmentadas e misturadas. Tente recompô-ios:

QUEM

As mulheres vítimas dernaus-tratos e seus filhos

Um exemplar macho dagirafa reticulada

O QUE

confiufram

serão inaugurados

GUANDO

quinta-feira passada

ontem

Um grupo de ecologistas disporão de um centro ontemde Bellvitge de asilo

ONDE

no parque zoológico

no Tribunal de Vendrell

às margens do rioUobregat, próximo darodovia de Castelldefels

Os novos parques daCreueta dei Coll, daPegaso e do Clot

plantaram 50 álamos a partir do mês de abril nesta localidade

POR OUÊ

O novo serviço "permiti-rá oferecer uma saída àsmulheres maltratadas, aoafastá-las do local do con-flito que é o lar".

já que está ocorrendouma destruição perma-nente dos silhares quecompõem esta muralha,principalmente os que sesituam na zona oriental.

A progressiva degrada-ção da muralha romanade Tarragona

nas próximas semanas em Barcelona A intenção do grupo émudar a imagem do rio"pestilento quando passaporHospitaleta caminhoda desembocadura".

A Câmara Municipal deSanta Colorna

Dois manifestantes, um afavor e outro contra os re-servatórios de Pais(Gironaj

A empresa GranAcueducto S.A., quefornece água a diferentespopulações da provínciade Tarragona

apresentará uma queixacontra Set Leather

alarmou os serviços téc-nicos do património cul-tural da Generalitat

investirá 100 milhões em992 depósitos e mudaráo serviço de limpeza

este verão

há 20 anos por considerá-ia respon-sável pela contaminaçãode três poços de águapotável e dos mananciaisque abastecem Calafell,Cunit, Segur de Calafell,Cubelles e Sant Vicenç deCalders.

permitirá a implementa-ção de um novo sistemacompleta m ente distintodo utilizado até agora eque visa mudar a ima-gem da localidade emmatéria de limpeza.

138 T. Colomer & A. Camps

Recomposição de frases

Veja se consegue construir uma frase com estas palavras sem que sobre nenhuma:

- Lola, doente, mal, lhe, está, doce, melão, com, de, mel, fez.- O, dor; porque, chocolate, está, xerife, corn, barriga, de, comeu, churros.

Recomposição de palavras

Com estas letras você pode escrever sete nomes de animais diferentes que comecemcom cada uma das letras de CAMELO

O

M

A

T

N

G

N

M

A

A

E

A

T

P

R

E

R

A

A

F

L

N

T

E

O

V

E

U

L

R

A

T

O

N

C

A

M

E

L

O

(Jocs de llenguaíge, Barcelona, Editorial Teide, 1983.]

4. Utilizar indícios gráficos e tipográficos

Os exercícios de antecipação do conteúdo do texto que apresentamosaté agora como exemplo basearam-se principalmente na construção dosignificado/ que permitirá antecipar sua continuação/ geralmente em rela-ção à organização própria a cada tipo de texto.

Os elementos gráficos também são indícios que o leitor utiliza e queos alunos devem aprender a utilizar para fazer conjecturas sobre o con-teúdo. Há recursos tipográficos que estão estreitamente relacionados comalguns tipos de textos/ como, por exemplo/ a notícia/ a carta (e inclusive osdiferentes tipos de carta)/ etc., e sua função é/ precisamente, dar pistas aoleitor sobre o tipo de informação que segue. Para acostumar os alunos autilizá-los, podem-se fazer exercícios como os seguintes:

a) Um diálogo vazio/ marcado apenas com os travessões ou aspas/que eles têm de preencher.

b) Um texto em que é preciso passai' as palavras para negrito ou itálico/conforme seja necessário/ para destacar os títulos/ as referências/ etc.

c) Algumas frases que têm de separar e ver o que fazem corn umamaiúscula.

Ensinar a ler, ensinar a compreender 139

d) Uma leitura de um fragmento teatral para constatar/ por exem-plo/ que as marcações não são lidas em voz alta.

Para deixar explícito como utilizamos muita informação que não re-cebemos por meio do significado estrito das palavras e para experimentaras formas de exploração do texto, podem-se fazer exercícios de deduçãode tipos de escritos muito formalizados ou com muitos indícios gráficos(cartas/ anúncios/ etc.) escritos em línguas estrangeiras. Quanto mais es-tranha seja a língua/ teremos menos níveis textuais em que nos apoiar/ enossas deduções serão mais limitadas/ mas será sempre surpreendenteperceber a quantidade de informação que podemos obter deles.

5. Preencher espaços vazios

Os exercícios deste item podem ser relacionados/ de certa maneira/ como que chamamos de completar textos no item 2. Entretanto/ aqui nos referire-mos à inclusão de elementos menores/ que podem ser antecipados recorren-do não apenas ao significado global do texto e à sua estrutura/ mas também aconhecimentos de tipo mais local: gramaticais/ semânticos/ fonéticos ou orto-gráficos. A utilidade desses exercícios não está apenas no fato de resolvê-losde urna maneira mais ou menos mecânica e inconsciente/ mas em tomar cons-ciência de quais são as condições que levaram a uma determinada escolha/especialmente no caso dos exercícios de supressão ou de escolha de palavras.

As atividades sistemáticas de treinamento antecipatório farão ganharrapidez na utilização contextuai e/ portanto/ na velocidade de leitura. Sãofrequentes os exercícios com espaços vazios tanto de letras como de pala-vras/ seja escolhidas ao acaso (uma de cada cinco ou de cada 10), sejaconforme a função ou a categoria gramatical (os nomes/ os adjetivos/ osconectivos). Por exemplo, vamos nos fixar nos mecanismos que são ne-cessários para preencher os espaços vazios deixados na primeira frase doconto de G. Rodari, O sol e o mocho:

Q sol viajava pelo (l ] , alegre e triunfante em seu carro de fogo, [2] seus raiosa [3] e a direito, o que provocava a indignação de_(4J_ nuvem de humor tempestuoso.

[ l) céu. conhecimento do mundo, em relação ao conhecimento das possibilidades. que têm os contos de dar vida às coisas inanimadas.

(2) lançando: conhecimentos léxico-semânticos, O que faz um objeto que emiteraios? As possibilidades são bastante restritas. De todo modo, há mais de uma,por exemplo, espalhando. Parece que outro verbo poderia ser emitir, mas oregistro linguístico próprio de um conto o descartaria.

[31 torto: conhecimentos léxicos, neste caso da locução adverbia! a tono e a direito.(4) uma: conhecimentos gramaticais, em relação à concordância do artigo e à me-

lhor adequação do indeterminado ern face do determinado, neste caso.

140 T. Colomer & A. Camps

a) Os exercícios de preencher espaços vazios podem ser feitos emdiferentes níveis textuais e podem incluir o controle - e oautocontrole - do tempo de resolução.

Preencha os espaços vazios com as palavras que faltam:

Uma viajante que fazia sua. a cavalo chegou a urna estalagem hora doalmoço e se nela com a intenção tomar algo seguir seu caminho.

queria chegar antes anoitecer no final de_em uma argola daalguma coisa para.

entrou nela, sentou-se perto da lareira.

e, depois de pedir queviagem. Amarrou seu.

. servissem

Mas acontece . naquele dia havia uma , animação, a estalagem estava. de gente que queria e os estalajadeiros, pouco a tanto movimento,

gente. Nosso cheirava com visEvel satisfação. diante dele, que exalavam aroma excitante, mas

não davam conta de servir a toda _, diferentes pratos que _

via que sua nuncademorasse mais a noite

. Até que se deu conta de _. sobre ele no caminho

. era muito tarde e que se.de avançar.

b) Nos exercícios em que é preciso completar os espaços vazios comletras que faltam, comprova-se que as letras não proporcionamtodas elas a mesma quantidade de informação. Como se podecomprovar, as consoantes proporcionam muito mais informaçãoque as vogais:

Quem sabe ler estas palavras sem vogais?

c_lç_s

_v_nt_r_

b_l_ch_PJ-J-_scr_v

c_mp_n ___ r ___ss_nr_tr_nq __ l d_d_fr_gjpr_bl_m_

c st s

Vocês são capazes agora de recompor as palavras a seguir somente a partir das vogais?

J_ua_ao_a_e

a_ia_ão_a_e_o

Podemos ver que as consoantes nos ajudam mais a distinguir umas palavras das outras.

Ensinar a ler, ensinar a compreender 141

Ponha a letra que falta:

DE COMO MESTRE CEREJA, CARPINTEIRO, ENCONTROU UM PEDAÇODE PAU QUE CHORAVA E RIA COMO UMA CRIANÇA

Era_mavez...- Um rej Dirão Io_o os meu_ pequenos leítJes-- Não. __océs se en_anaram. Era u_a vez um peda_o de pau.N_o era _au de lu_o, mas simples_edaço de lenha para queimai; desces que, no Invjno,

se bot_m nas estufas _ nas lareiras, pa_a se acender o f_go e para se aquecerem as sa_as. _Não sei co_o aquilo se passou. Mas _ fato é que, _m belo dia, ess__ pedaço de p_u foi

parar na _fícina de um _eího carpinteiro, _ue se chamava M_stre António. Apesar disso,to_os o cham_vam de Mestre C_reja, devido à po_ta de seu nariz, que se apresentavasempre lu_trosa _ avermelhada, co_o cereja _adura.

Ass_m que Mestre Cere_a viu aque_e pedaço de _au, alegrou-se todo imejatamente.__, es_regando as mãos, de contentamento, resmun_ou à meia voz:

- Esse pedaço de pa__ che_ou a tempo. Quero servir-me dele para f__zer uma_ernade m_sinha.

(C. Collodi. Asaventuras'dePinóquty

c) Muitos jogos de linguagem consistem justamente em evidenciarelementos que faltam em um texto. Um exemplo é o tradicionaljogo da forca:

O jogo da forca

Esse jogo também baseia-se na capacidade de adivinhar uma palavra sem ter todas assuas letras para não ser "enforcado".

Leia como se joga.

Um jogador escolhe uma palavra, escreve-a em um papel e numera as letras:

B A R C O

1 2 3 4 5

Aos demais jogadores diz apenas quantas letras há para que possa numerar os espaços

TTTTTOs participantes desenham uma forca ern sua folha:

E o jogo começa

[Guasch; Punt, Barcelona, Editorial Teide, 1984.)

142 T. Colomer & A. Camps

d) Uma variante desses exercícios são os que consistem em escolherentre alternativas, como se pede no exercício seguinte:

De cada grupo de palavras, escolha as que mais convêm para que a explicação tenhasentido:

se foichegouvoltou

ontemum diatodo dia

dos Penkamuskas

o rechaçaramo receberamo saudaram

muitascalorosasgrandes

reverenciassaudaçõespalmadas

não sabia com que cara ficavaestava preocupadoestava com o nariz pintado

todosa que algunsde quando em quando

apertavam seu nariz

\Terrabastall, Barcelona, Editorial Tefde, 1980.]

Ensinar a ler, ensinar a compreender

A parte os exemplos que acabamos de ver, no item que trata de exer-cícios de percepção rápida (p. 146 e ss.) há alguns que também são deexercitação da capacidade de antecipação. Na descrição do processo lei-tor, já se explica a estreita relação e interdependência de ambas as opera-ções, e nesses exercícios destaca-se justamente essa inter-relaçao.

Exercícios de pressuposição e inferência

A emissão de hipóteses de pressuposição é constante no processo deleitura. Muitas vezes, os problemas de compreensão de um texto residem memissão de hipóteses não-confirmadas que os alunos não lembram ter feito/mas que condicionam sua imagem mental do que estão lendo. As diferençasna interpretação de uma mesma história por parte dos alunos evidencia aprojeção de seus próprios conhecimentos e sistemas de valores da história.

Muitas vezes, quando os alunos percebem o erro, não têm consciênciade onde ocorreu a ruptura e não podem retificá-lo. Os exercícios de expliataçãodas antecipações pressupostas podem ajudar a evitar tal problema.

Tente resolver este enigma:Um pai e um filho sofrem um acidente no qual o pai morre e o filho fica ferido. Já no

hospital, a equipe médica analisa a situação e decide fazer uma cirurgia. Ao ver o restadomenino, no entanto, quem faria a operação diz: "Não posso, é meu filho".

[É preciso encontrar a solução no fato de que o cirurgião é uma mulher e, normal-mente, pressupõe-se que se fala de um homem se não se diz o contrário.)

Podem-se realizar outras atividades na mesma linha, fazendo comque os alunos tirem conclusões que se prestam a isso, especialmente: rela-tos de mistério, artigos de opinião, reportagens, etc. A partir dosdadosacumulados, devem-se formular conclusões e comprovar que todos oselementos se encaixam entre si.

Toda a linguagem está cheia de informações implícitas que sedevemdeduzir do significado das palavras, da construção da frase, etc. Os alu-nos podem tomar consciência desses mecanismos de pressuposição me-diante exercícios como;

Quando dizemos a frase:

"Surpreendeu-nos que o Barcelona tenha ganho",

além do que dizemos de maneira direta, tarnbérn damos uma informaçãsdoquepensávamos, do que pressupúnhamos. Nessa frase, a informação que damos é:

1. O Barcelona ganhou,2. A vitória do Barcelona nos surpreendeu.3. Nós acreditávamos (supúnhamos) que o Barcelona não ganharia.

144 T. Colomer & A. Camps

Que informações nos dão as seguintes frases?

Mamãe se assustou por Marcos ter ficado em casa a Carde toda.Muitos se espantam que Pedro e Paulo voltem a ser amigos.Surpreendeu-nos que em uma hora fizessem todo o trabalho.O treinador não podia crer que todos estivessem bem.Os colegas acham estranho que Agustfn não tenha chegado primeiro.A avó ficou admirada de como seu neto tinha crescido.

(Espetec, Barcelona, Editorial Teide, 1984.]

Também se pode ir lendo um texto em voz alta que os alunos acom-panhem com atenção para descobrir e verbalizar todas as inferências ouas de um tipo determinado (mudanças de tempo ou de lugar, sentimentose estados de ânimo dos personagens, etc.). Todas as inferências indicadasdevem justificar-se a partir da informação explícita no texto. Assim, a lei-tura de conteúdos implícitos é o objetivo de exercícios como os seguintes:

EVTRAMUROS

Voltam os pardals a recolher-se no ninho do cipreste, e o sol cai, flor da árvore do dia. Ocampo, com a sombra, parece que se foi. Meninas e anjos cruzam sua aguda gritaria.

As vezes, entre o pó malva, um rufdo de guizos passa, de carroças que voltam das vinhasverdes, deixando rastros fragrantes de desejo, que fazem tremer, um instante, as vozes dasmeninas.

As estrelas começam a contemplar o mundo.-Homens tristes retornam junto ao muro cor de amora.No fim é somente a brisa a dona do profundo momento, e é mar de ilha de povo

amuralhado.(Juan RamónJiménez]

O poeta nos diz muitas coisas de uma paisagem que contempla ao anoitecer. Algumas elediz diretamente, por exemplo: os pardals fizeram um ninho no cipreste; outras, podemos adivinharporque as diz indiretamente: podemos supor que os habitantes do povoado são camponeses quecultivam vinhas porque se refere a "carroças que voltam das vinhas".

Quais destas frases dizern coisas que encontramos no poema e quais não?

Descreve-se o entardecerO céu está limpoOuvem-se as meninas que brincamO sol se põeJá não se vêem os camposA poesia descreve os arredores de um povoadoO povo está amuralhadoQuando escurece, cessam todos os ruídosOcorreu alguma desgraçaÉ primaveraAs meninas sentem frioAparecem estrelas no céuOs camponeses regressam ao povoadoCaem as flores das árvores

Ensinar a ler, ensinar a compreende

As imagens também nos sugerem coisas que não vemos. Quais destas frasstacoisas que encontramos na fotografia e que outras podemos imaginar?

A menina abre a janela para pegar a cesta.A cesta está pendurada.Na cesta há pão.A menina usa um vestido estampado.A menina está com a mão no parapeito.A menina está com fome.O vizinho de cima é amigo da menina.Há um relógio sobre o aparador.A parede do quarto tem forro de papel.O parapeito é de ferro forjado.A menina tern sete anos.O vizinho lhe dá comida escondido de seus pais.A casa é grande.O vizinho de cirna tirou o cinto para segurar a cesta.A esquadria da janela é de pedra.A casa é velha.

[Brunzit. Barcelona, Editorial Teide, 198 i.)

U146 T. Colomer & A. Camps

Exercícios de percepção e discriminação rápida de indícios

Condicionado pela percepção do que espera encontrar, o leitor terá defixar-se em indícios suficientes para comprovar qual das opções possíveis otexto lhe apresenta. A habilidade para selecionar os indícios mais significa-tivos e da forma mais rápida possível pode ser melhorada mediante umbom treinamento percepíivo e do desenvolvimento de técnicas para umaexploração adequada do texto. Trata-se de propor atividades voltadas a:

1. Facilitar a leitura instantânea da maior quantidade de texto possí-vel mediante a ampliação do próprio campo visual de cada leitor.

2. Agilizar os saltos visuais no texto e evitar as regressões desne-cessárias do olhar sobre o que já se leu.

3. Discriminar os detalhes diferenciadores das unidades linguísticaspara conseguir sua identificação de uma maneira mais imediata.

4. Saber orientar-se pelos indícios.

Muitos exercícios desses itens têm como objetivo a melhora da velo-cidade de leitura mediante a automatização efetiva da exploração dos ní-veis inferiores do texto, já que o desenvolvimento e a automatização des-sa habilidade tornam-se indispensáveis para que o leitor possa dedicarsua atenção à construção do significado, evitando o que se conhece comoefeito túnel, que descrevemos anteriormente.

A diversidade de exercícios pode ser muito grande. Destacamos ape-nas alguns tipos e damos alguns exemplos ilustrativos. Os manuais deleitura oferecem muitas ideias que se aproveitam para o ensino escolar.

Em muitos desses exercícios, convém levar em conta a velocidadeprogressiva com que os alunos e as alunas os realizam. Podem ser leva-dos a cabo tanto em forma de jogos coletivos como de prática individual,em que cada aluno pode ir controlando seu progresso.

1. Discriminação visual

Estes exercícios tendem a possibilitar que o aluno distinga entre pa-lavras cada vez mais parecidas por sua forma a partir da captação globalrápida da palavra ou inclusive de frases inteiras:

Quantas vezes encontramos repetida a palavra que encabeça cada coluna?

antigamente calefação concerto

geralmentetotalmenteparalelamenteprimitivamente

estaçãohabitaçãodoaçãoexploração

congeladocontratoconcentrocondenso

Ensinar a ler, ensinar a compreender^

arduamenteantigamentenaturalmenteinfelizmenteamavelmenteplacidamentepassivamenteantigamenteplacidamenterapidamentealegrementevoluntariamentesupostamentepossivelmenteantigamente

contrário

entrarcorsáriocontráriosumáriosudáriomaltratararmáriocontratoentrada

calefaçãobonificaçãoexplicaçãopopulaçãoinjeçãoextraçãoconduçãoputrefaçãosoluçãopoluiçãoprovocaçãocalefaçãodistraçãoinsurreiçãoperdição

fácil

fácilfavorfachofato rfacialfácilfalsofacçãofaceta

constituiçãoconcertoconduzircondicionadoconsideradoconstanteconceitoconscienteconservaconsuladocontribuircontráriocontrapontoconsideraçãocontente

cantar

cantocançãocantinacantorcansarcantarcanteirocantavacandil

2. Percepção global

Estes exercícios são voltados a possibilitar a percepção rápida daspalavras. É aconselhável que o número de palavras ou frases seja sitotemente Brande para permitir o cálculo da diferença de velocidade entre^SeJvas realizações. Por esse motivo, oferecemos o p r i m a i -pio, como poderia ser dado aos alunos de ensino fundamental.mais exemplos, limitamo-nos a algumas linhas ilustrativas.

Encontre e sublinhe o mais rapidamente possível o nome do dês enh oSe não houver nenhum que lhe corresponda, sublinhe o número da linha corres pmdente.

148 T. Colomer & A. Camps

4'

5' f

6' ^&

7 ô8. g

9- K•0$•̂3-

1 0. >-,

"'

12' ^

l3' |@*14. •* \

15 ,-n -v-^- _

'^ ^=^"^°•KM*!»"̂ '

16' Qi

caçador

capa

bicicleta

amplo

sopa

gasto

chama

derrota

cesta

pente

nariz

martelo

potro

mandril

copo

bicolor

ângulo

cogumelo

grilo

chave

barreira

casta

cavalo

verniz

castelo

barraca

crocodilo

cepa

botelha

gargalo

sesta "'

galo

chora .^

barra . ",,

,-,'i1costa ..,.1,

diferença ;"

: -**

narrar i;

' ' í'5'iíamarelo ';-£

. -. eçpoltrona .óí(|

,(..m

(H Richaudeau. Je deviens un vrai /ecteur.)

•í^SÍ

Encontre o mais rapidamente possível a palavra de cada linha que é igual à primeira.Se não houver nenhuma, sublinhe o número que há no início. i

- • • £v1 . sopa copa sopa sapo 1 •••*- ;•'

2. fogo rogo logo fogo \. •

3. coelho colo coelho cotejo >£••

4. carnaval carnaval cabedal cavalo í '. i

Ensinar a ler, ensinar a compreender 149

ti

!

S

•!;

1ití1'•;

i

ii.;

(i

tJ;1

5. feliz

6. fome

7. caminhar

8. sapato

9. bruto

1 0. fácil

deslize

homem

caminhão

sapo

bruto

fóssil

perdiz

cume

caminharás

sobejo

brusco

fútil

feliz

lume

caminhar

sapato

busco

fácil

Quantos nomes de animais há nesta lista? E de flores? E de peças de vestir?

aradao asno

o nariz

a cova

a rosa

o sapato

as violetas

a onda

o orvalho

a lebre

o coelho

ojuiz

o porco

a abelha

o sonho

a saúde

o piano

3 corda

a vaca

o gesso

a tulipa

o motor

a criança

a navalha

a hora

abola

o artigo

o balcão

a mimosa

a metade

o cavalo

o papel

a laranja

a galinha

a blusa

a barca

o pato

a maleta

o azulejo

o pombo

o operário

as meias

a verdura

a caverna

Quantas vezes encontramos repetida a seguinte frase?

Amanhã iremos patinar.

Amanhã iremos patinar.

Amanhã iremos passear.

Amanhã iremos ao parque. Depois iremos patinar.

Montaremos depois de patinar. Hoje Iremos patinar.

Amanhã começaremos a patinar. Marcaremos onde patinar. Amanhã iremos patina

Para exercitar a captação global de signos/ podemos usar exercidoscom desenhos ou outros elementos. Embora a captação dossignoslinguísticos tenha características específicas, o hábito de exercitara visãonas diferenças gráficas, ou na relação de elementos com seu conjunfOjpoderia favorecer a capacidade perceptiva visual dos alunos. Os jogosque se encontram em muitos livros ou cadernos de "passatempo"podemser muito úteis.

150 T. Colomer & A. Camps

Entre estes desenhos há l O diferenças. Quais são?

(Picanyol: Mussoi]

3. Percepção dos elementos mais significativosdas letras das palavras

Segundo a opinião de Smith (1971), o leitor faz um uso seletivo dosindícios gráficos. Pode-se comprovar facilmente que a parte superior daletras traz mais informação gráfica que a inferior:

Ti X A TDTTTT C\r esse motivo, parece interessante treinar os leitores a pôr os olhos

nessa parte das palavras, com exercícios de leitura como o seguinte:

Kathult era uma casa de campo ™' >'*« bonita; era pintada de vermelho e ficava emuma colina entre macieiras e »!«'«>*•>«•. E ern torno dela havia sementeiras, prados, pequenosbosques, um lago e um bosque .nrar"HQ muito grande.

Kathult «•<"•!•> um lugar tranquilo e plácido se Miguel não »ÍWAC« neje.

- Este menino r*™™* faz travessuras - dizia ' In:t. E se não é ele, por azar sempre sepassa algo à sua volta. Eu vi um menino igual.

(A. Lindgren: Miguel de Lônnenberga.]

Ensinar a ler, ensinar a compreender

4. Agilidade visual

É preciso igualmente aumentar a agilidade visual e saber desligar-seda linha para saltar com rapidez no papel. É verdade que no inídodaaprendizagem é difícil, para as crianças, não se perderem no texto/ e essafoi uma das justificativas escolares para propor apoios, como acompa-nhar a leitura com o dedo, etc. Mas, na realidade, todas essas dificuldadesreferem-se à falta de controle do leitor em sua exploração visual/tantoquando se traduz em saltar a linha como em operar muita colado nela, demaneira que o treinamento perceptivo terá de incidir no aumentodessecontrole. Assim, exercícios como ter de sair da linha para encontraiain-formação que falta e em seguida voltar a ela incidirão na agilidade e naprecisão da exploração visual.

Nos exercícios a seguir, o aluno deve procurar ler os textos oralmentee de forma contínua, embora muito lentamente. Se não conseguir preverápalavra que falta, terá de erguer os olhos e procurá-la.

Leia este conto de G.Rodari. As palavras que faltam, você as encon-trará, pela ordem de que necessita, nas três colunas abaixo do texto.

O SOL E A NUVEM

milhões,.

O sol viajava pelo._e a direito, o.

_, alegre e triunfante no carro de fogo,, .sejs raiosprovocava a indignação de. nuvem de humor tempestuoso,

resmungava:-Esbanjador, dissipador, todos os teus raios, e verás, logo, quantos .

sobrarão no final!vinhas, cada cacho , uva que amadurecia nas roubava umraiopor

, ou mesmo ; e não havia um filamento de erva, uma aranha, nemuma , nern uma gota de que não fizesse o .

-Tu mesmo deixas quenão tiveres nada para deixar-te roubarl

os roubem; logo como te agradecerão, já

.sol continuava alegremente,.nem sequer _

_viagem, ofertando.

Somente ao anoitecer _,. A nuvem, de tão

. os raios que lhe ,: mas veja,.

.raiosa miares,a

lhe faltara nern, desfez-se em.

cepasminutodoisnemnemfloráguamesmotodosverásquandomais

. E o sol. .alegremente no mar.

152 T. Colomer & A. Camps

Leia este texto. As palavras que faltam, você as encontrará abaixo,em ordem alfabética.

O ratinho Martin fazia urna sesta do tronco de uma árvore foi despertadopor fortes golpes. parede. E não eram apenas os . O ratinho Martin sentiu que

sobre eie estilhaços e serragem que fizeram saltar como se tivesse entradoraio. Oihou pelo buraco e viu pica-pau que picotava um pouco mais . "El,

mestre", advertiu o ratinho. "Você toma por um sino?" "Oh, perdão!ir, o pica-pau. "Não sabia , o tronco era habitado. Vou pegar pedaços e os colarei.um pouco de saliva." o ratinho se deu conta c'pau, entrava maravilhoso raio de sol e disse:

o ratinho se deu conta de que buraco aberto pelo pica-.se preocupe, pica-pau, vamos

irá bem para eu ler o jornal." Mas o não odeixá-lo assim. Um pouco de luz . , . _ __ . . . .ouvia porque estava uma fileira de formigas e pulgas tinha se formado paracontemplar. incidente. O rato, ao ver isto, muito contente: "Isto é magnífico!

pica-pau me abre uma janela quando necessito e depois me tira de asformigas e as pulgas que molestam. É urna jóial". E ratinho Martin convidou opica-pau a com ele na árvore. Mas, ideia não era tão boa. toc-toc do bico namadeira. a tornar-se tão insuportável que o teve de fazer as malas e paraoutra árvore. "Não se , ter tudo!", exclamava descendo pelo entre os toc-toc dopica-pau.

Palavras que foram tiradas, em ordem alfabética:

a, a, acima, caíam, chegou, com, comendo, dela, dentro. Ele, Ele, ele, ele, em cima, ficou,golpes, Mas, me, me, mudar-se, na, Não, o, os, para, pelo, pica-pau, pode, por, quando,que, que, rato, respondeu, seu, tanto, tronco, um, um, um, viver,

Leia o texto a seguir. Escolha a palavra que falta em cada caso entre as duas que estãoem cada lado da linha que esteja lendo:

quasequemetadenoitesolomesesemvoltarhojeportaanimai

deixá-labom

Os invernos, na latitude da ilhade Sullivan,. . nunca são rigorosos, e é umararidade . no final do ano se tenha deacender o fogo. Por volta de de outubrode 18.., no entanto, houve um frio deverdade. Pouco antes do põr-do- , abricaminho pelo mato até cabana de meuamigo, que há muitas não via, porquenaquela época eu vivia em Charleston,nove milhas da ilha, e as facilidades para.vir estavam muito longe das que existem .Ao chegar à cabana bati tinha o hábito defazer e, não obtendo , procurei a chave noesconderijo onde costumava

, abri a porta e entrei na cabana. Na lareira,havia um fogo. Era uma novidade, e nadadesagradável, certamente.

semprequemmeadosdiatardeasemanasaircomumentecomoresposta

descansá-laaceso

(E. A. Põe: O escaravelho de ouro]

Ensinar a ler, ensinar a compreendei

No exercício seguinte, combinam-se a agilidade para mover osolhosdas palavras aos números e ao desenho com a rapidez de ler globalmenteas palavras. Não se trata de um exercício de vocabulário, embora tambémpossa servir para recordar os nomes das partes do corpo. Porém, quasidose faz o exercício de leitura rápida já se deveria saber isso, porque os alu-nos devem encontrar justamente os erros.

O desenhista cometeu erros. Assinale o mais rapidamente possível no desenho osnúmeros que não correspondem à lista abaixo.

pálpebra [44], pescoço [40), boca [2], punho [47], cabelo [12], queixo (51), calcstojii),cotovelo [31], quadril [13), dedão [17], nariz (15), sobrancelhas (20), ombro jH],piia(i Í], olho (18), polegar (24], joelho (7], dentes [50], coxa [3), mínimo (1), Índi0dor|l9),fronte [37], maçã [34], peito (42), tornozelo (25), orelha [68], braço (5).

(F. Richaudeau. Je deviens un vraílecteur]

5. Fixação da vista

a) A leitura rápidabaseia-se na capacidade de captar unididesgb-bais mais amplas que a palavra. Muitos exercícios que fomentama velocidade leitora são voltados a ampliar o campo visu^iab

-zindo o número de fixações por linha de texto. Esse é oobjetívode um exercício como o seguinte:

154 T. Colomer & A. Camps

Prova de mover os olhos saltando de asterisco ern asterisco:

Sara e Eva eram amigas;

seus contos e seus sonhos,

de cada coisa. O que lhes

compartilhavam

suas visões

parecia importante

Sara

de capa azul

anotava

que ficava

em um caderno grosso

guardado muito em segredo

em urna caixa com chineses pintados

b) A leitura de palavras em colunas cada vez mais longas ajudará aampliar o campo visual e acostumar-se a reduzir o número de fixa-ções oculares. Pode-se preparar um material muito graduado emsua progressão; tanto no número de colunas (uma, duas, três) comono número de letras de cada coluna (quatro, cinco, seis, sete, etc.).

Quantas vezes está escrita a palavra couvél E coafi E colar! E as palavras papeleirae construção?

couvecoarpazcorfossoiistapastorcoarestudantesolo - couvelebre - calcama - papeleiraporco - circo - colarexplicação - mistura - couvefolga - representação - calcolar - maquinista - papeleiracorrida- coar- muitíssimo

Ensinar a ler, ensinar a compreender

rainha - couve - multiplicaçãocopiar - guerra - felizmente - couvecondutor - governador - parede - istomoto - ponto - apartamento - ferida - cançãocomposição - construção - peruca - alegreimprudente - imaginação - mentira - couve - bonitabandido - surpresa - coar - papeleira - construção

c) Ler textos reais de maneira rápida para encontrar palavras ouresponder a perguntas prévias são ativídades voltadas a aumen-tar a velocidade leitora e a agilidade na escolha. Podem-sereali-zar buscas rápidas de informações determinadas como as dosseguintes exercícios:

Procure em uma receita de cozinha os elementos necessários para cozinhar um prato eanote-os

Busque no seguinte verbete de dicionário o significado de espelho de corpo intim, dalocução olhar-se como em um espelho e de que palavra latina provém a palavra r1"**1

Espelho (ê). [Do lat.specithi.] S. m. 1. Ôpt. Super-fície refletora constituídapor uma película metálicadepositada sobre um dielé-trico (geralmente vidro) po-lido, ou pela superfície deum corpo metálico polido.2. Objeto que serve pararefletir as imagens das pes-soas e das coisas. 3. Kg.Modelo, exemplo: espelho devirtudes, í. Fig. Imagem, re-presentação, reflexo: Osolhos são o espelho da alma. 5.Arquil. A parte vertical dodegrau da escada. 6. ArL

Gráf. Desenho ou esquemaque orienta a paginação deum impresso em conformi-dade com a diagramaçãoestabelecida. 7, Encaâ.Charneira (5). 8. Típ. Plani-lha (1). 9. Turfe. Linha dechegada das corridas decavalos, assim chamadaporque nela realmente exis-te um espelho, através doqual se pode observar nafotografia a chegada pelosdois lados e dirimir possí-veis dtividas quanto aovencedor ou às colocaçõesposteriores; disco final.

10. Brás. Nas máquinas avapor, a parte .do cilindrosobre a qual deslizaosula-que, 11. Bros. Destjnaçãocomum às placas aiferioreposterior das caldaras^squais são presos acabos.12, Zoo/. Mancham áreatransparente nas aasdeal-guns lepdópteros.B.Zooí.Mancha nas asas è certasaves, formadaporrenasdecolorido brUhante.14.lfeNum trocador dt calor,peça onde se soldam os tu-bos.

d) A necessidade de conhecer os indicadores convencionais de or-denação informativa (o alfabeto, os diversos tipos de dicionários,listas telefónicas, índices, catálogos de biblioteca, etc.) já Mmetvcionada no item sobre a explicitação da intenção leitora e doplanejamento dos passos a realizar. Sua inclusão também nesteitem deve-se à necessidade de treinar em seu uso e ganhar segu-

156 T. Colomer & A. Camps

rança e velocidade. De fato, todos sabemos que não é suficientesaber que devemos buscar uma informação a partir da ordemalfabética, mas é preciso ter muito interiorizado que o F vem an-tes do G ou o I depois do H (e não apenas na primeira letra dapalavra como às vezes crêem as crianças!) para não perder muitotempo. Assim, o mesmo tipo de atividades anteriores nos serviráaqui, porém voltadas à aquisição de rapidez na busca ou na ex-plicação das operações realizadas.

Convém que esse tipo de exercitação se faça sobre material real: jornais,revistas, anuários, etc., e através de perguntas orais para acostumar os alunosa moverem-se entre eles comfacilidade e é importante também que o materialnão seja excessivo para a duração do exercício. A condição evidente é que aescola disponha normalmente de jornais diários e semanais.

Estreou o filme O mistério da libêlula. De que nacionalidade é e em que cinemas está pas-sando?

Ensinar a ler, ensinar a compreender_M

Quem é o diretor e de que trata o filme A era do gelo!

estreias

A Era do Gelo(EIW2001) De Chris Wedge. Bichos ten-tam devolver um bebé humano paca seupai. Animação, Livre, 115 min.Aeroõne 3 (15h3G) Dublado.Onemark 5 (13h35) Dublado.Iguatemi 9 (13h30- 16h- 18h30) Dublado.Iguatetiit9(21h).RuadaíYaia2(15!i3Q),Victoria 2 (12h- 16M5) Dublado.

A Festa de M aro are tt e(BFW2000) Com Hique Gomez. De Rena-to Falcão. Homem sonha em realizarfestapara a esposa. Comédia. Livre. 80 min.PSB.

GNC Moinhos 4 (14h).GNC praia de telas 1(22h}.Iguatemi 5(13h20-16h-18h40-2lh20).Center2(16h-17h50-19h40).Cinemark S (16MS- 18h50-H W5-23h55).

O Mistério da Libêlula(EUA/2002) Com Kevin Costner. De TomShadyac. Médico acredita que sua esposamorta quer falar com ele. Drama. 12 anos.101 min.AerocJne1(10h-12h45-l5h3D-18h15-2lh).C«lteM(13h30-16htO-18h5Q-21ri30).Cent* 4 Í15h - 17M5-20h30).CInen»rk3(14h-17h10-20h30-23h40).Cinema* 4 (I4h50-18h15-2lh30).GNC Bourbon 1 (I3H30- 16h15- 19h-22h}.

O Grilo Feliz(BRA/2001) De Walbercy Ribas. Gritocompõe músicas e dá lições ecológicas aseus amigos. Animação. Uvre. 82 min.GNC Undóia 1 (13h30- 16h15-19h-22h).GNCMoinhos2(13h30-16hl5-19h-21h45).GNC hnia de telas 3 (13h30- 16h15- 19h-22h).Lguatemi6{14b-17h-2Dh}.Iguatemi 7 {14H30- 17h30-20h3Q).Imperial (13h4S-16h30-19hl5).

6. Relação entre antecipação e captação rápida das palavras .

Em alguns dos exercícios anteriores/ a percepção gráfica era exercitadaem si mesma/ sem relação com o significado. Em outros/ no entanto/ era pre-ciso reconhecer o que queriam dizer as palavras. Nos que seguem/ a signifi-cação do texto baseia-se em uma adequada percepção das palavras.

a) O exercício seguinte consiste em escolher as palavras ̂ cessariaspara compor uma frase que possa responder a um dos temas pro-postos.

Escolha uma das duas palavras de cada coluna que sirvam para compor uma frase e indiqueo título que lhe corresponde.

[Õntêml melhor [pãj] janela azeite por [no] .cinzeiro

nunca [meu"] pão [plantou] [rosis] em a Qardimj

[ ] O desjejum[X] Jardinagem

O armário toca uma boina com o máquina

Mais palhaço tigre a canção por a sanfona

( ] O circo[ ] O trabalho

O folha azul o gato ontem dorme

A menino olha uma vaso que perto

[ ] Desjejum[ j Sesta

Este comerei espinafres no parar

Hoje bonito tesouras para jantar

( | Bom proveito( ) Boa viagem

Sempre cavalo tinteiro o cavaleiro durante a água

O papel tirou ao carro estrela o corrida

[ ] Um acidente[ | • O ganhador

b) Em outros exercícios/ pode-se comprovar que a escolha dapala-vra adequada depende de diversas condições:

1. Ser capaz de antecipar. .2. Ser capaz de avançar o olhar além do que se esta lenèoral-

mente.3. Ir elaborando o significado do texto.

158 T. Colomer & A. Camps

Dessas condições dependerá a possibilidade de uma percepção rápi-da e global das palavras.

Para ler este texto, você terá de escolher às vezes entre duas palavras; procure esco-lher a boa e risque a outra.

lsse S o carpinteiro, /5em \s para levantar-se.cantou/ r \por /

Então < saltou > na oficina um< velhinho *y muíto\/ ^arvnrwmha /• entrou

esperto que se <"chamava N pepe; mas os meninosr ^ \a / r

do< bairro >quando queriam < Perturbf'0 ,N cinema / \encontra-Io

chamavam-no com o <f "j"? ^> de Mingau, por causa de sua

cabeleira amarela que tinha o <^ 2n/,nci0^> do mingau de milho.

Pepe era muito suscetívei. AÍ de S ^ue N o chamasse de Mingau!r \m / a

Ficava feito uma <" ̂ nas> e não\/

navíaSquemo</escutassecabia X \e

Excrcitacão da memória a curto prazo

O trabalho sobre a memória a curto prazo tem uma repercussão dire-ta nas atividades de exploração do texto e de elaboração imediata da in-formação. Por esse motivo, proporemos atividades voltadas a aumentar acapacidade de retenção de palavras ou frases.

Leia as frases seguintes. Depois disso, tape-as com um papel e leia as seguintes. Quefrase é exatamente igual a alguma primeiras?

O gelo é responsável por muitos acidentes.A neve da manhã é sinai de bom tempo.Não há dois flocos de neve iguais.Os pinheiros e os abetos não perdem as folhas no inverno.

A neve provoca muitos acidentes.A neve matinal cobre as montanhas. ano_Os pinheiros e os abetos tem folhas duranteNão há dois flocos de neve iguais.

^u^Tpapel e depois leia;Leid di uciics uu piiiii^ii- a - - r— •

lembra quais são as palavras que faltam/

Ao lado dos correios há uma papelariaA estação de trem da vizinhança não fica muito longe.Embora tenha me apressado, perdi Ç oníbusAs ruas antigas desta cidade são muito estreitas.Anda não pudemos visitar o Museu da C.enaa.

Ao lado dos há uma papelaria.A estação de trem da não fica muito longe.Embora tenha me . perdi o °n'̂ .As antigas desta cidade são muito estreitas.

:. . .;_:,--.. « íiín«i| ( Ha

No exercício seguinte, os aluBos tem de co^a«r d ^ ̂distintas de descrições de objetos e ̂ ̂ ^ emsum caso e em outro é a mesma ou não As • du* ̂ tormapresentadas em duas folhas separadas para ̂ comproretenção da informação. Também se pode fazer comdos para compará-los.

^ ̂podemsde

segll,

Comparemos os textos:

Bola de futebol ,Esta bola de futebol que lhes Apresentamos ;é ̂couro natural e costurada à mão. É formada porum produto impermeável.

Esquis de fundoEstes esquis de fundo são para bons esquiadorbase de madeira coberta por d.versas cam ̂ de

lizar facilmente e girar com segurança, inclusive em

de competição. Foitas e brancas,

dosamente com ̂des

addentados.

Relógio de criança . m ca|endário que'A caixa deste relógio é de aço cromado. Te. i uma es^ra n ̂ ̂ e um ̂o dia da semana e o do mês. Todos « = P«^ ' ̂ ̂ rpode mergulhar até uma Pr°uma pilha elétrica que deve ser trocada uma vez por ano.

eira é metálica.

Comprove se as informares ̂ *"*guir oferecem a mesma informação que os textos

Bola de futebol da a mão, 32 peças pBola de futebol, modelo de competição. Couro natural costurada'brancas, revestimento impermeável.

reta

160 T. Colomer & A. Camps

Esquis de fundoEsquis de fundo para bons esquiadores. Fabricação cuidadosa. Base de madeira cobertapor diversas camadas de fibra de vidro. Seguros e manejáveis em todo tipo de terreno.

Relógio de criança

Relógio de criança. Caixa de aço cromado. Esfera central. Calendário que indica o dia domês. Ponteiro e números luminosos. Pilhas fdois anos de duração). Pulseira de couro.

Estratégias de controle e compensação de erros

As estratégias de previsão e verificação do texto são utilizadas pelo lei-tor para ir configurando sua representação mental do significado do que lê. Oleitor deve estar consciente o tempo todo do que está entendendo/ de quandoocorre uma falta de compreensão e da importância dessa confusão para/ en-tão/ poder recorrer à estratégia adequada para compensá-la. Normalmente/em uma leitura fluida/ os leitores não são conscientes do controle que têmsobre a própria compreensão/ nem mesmo de alguns pequenos problemascom que podem se deparar/ porque aplicam de maneira automática algumasestratégias úteis. Somente quando o problema é importante se tornam cons-cientes dele. Os textos com erros podem ser um instrumento útil para tomarconsciência do mecanismo que se segue na compreensão e também para apli-car explicitamente estratégias para resolver a falta de compreensão que seproduz. E evidente que/ no momento de resolvê-la/ se põe em funcionamen-to todo o processo de elaboração de hipóteses do qual falamos.

A graça de muitas piadas baseia-se na transgressão das regras de pres-suposição/ na atribuição de um significado diferente do que se esperariado contexto para uma frase ou palavra determinada. Assim/ pode-se pe-dir aos alunos que expliquem qual é o erro de interpretação que produz agraça de piadas como as seguintes:

Explique qual é a graça destas piadas:

O juiz diz ao acusado:-Você pode escolher entre dois dias de prisão ou cinco mii reais.-Pois, quer saber? Me dê as cinco mil reais.

Um senhor comia no restaurante e, quando terminou, o maftrelhe disse:

-Como achou o bife?-Pois, olhe, casualmente, debaixo de uma batata.

Embora os exercícios que se oferecem como exemplo pudessem ser re-solvidos de maneira rápida e silenciosa pelos alunos como exercícios de aula/o mais interessante é explicar por que se consideram equivocados/ verbalizaro significado do que foram construindo e os caminhos seguidos para fazê-lo.

Ensinar a ler/ ensinar a compreender 161

Identificar as incoerências

Urn tipo de exercício frequente e que ativa o mecanismo de controleconsciente da compreensão consiste em assinalar a parte do texto que fal-ta/ que sobra ou que não está de acordo. Por exemplo:

Nesta história há um balão com o texto equivocado. Qual é? O que teria de dizer?

Se você deixar o carro debaixo desse andaimedos pintores, você pode encontrá-lo cheio )de manchas de Unta. ^

O que esse homem estapensando! Tenho de lhe daruma multa por ter deixadoseu carro muito perto do meu

Quando ler minha notificação, ojroprietário do cairo dirá; veja, els aqui

uma pessoa que lern senso deL responsabilidade

A-

(Cava!!Fort. n°. 553/554.]

162 T. Colomer & Á. Camps

Nesta história acrescentou-se uma fala que sobra. Sabe dizer qual é?

e estão com vontade de correi;iof que riflo v3o atrás do trem e

não deniro dos vagões? Nem sedesculpam de nadai

\CavaIIFort, n°. 553/554.1

Ensinar a ler, ensinar a compreendei

Indique a palavra que não combina com o sentido do texto:O õnibus chegou pontualmente na porta de casa. Como na véspera as criançaifinhara

ido para a cama muito cedo, levantaram tarde. Por isso, não estavam prontos e o Girafaembora sem esperar por eles.

Resolver a falta de compreensãoAo fazer alguns destes exercícios, pode-se pedir aos alunos que si-

gam determinadas estratégias para resolver a dificuldade de compreen-são que a palavra ou frase comporta, ou inclusive o erro que o professorintroduziu voluntariamente.

Reconer ao contexto

a) No exercício seguinte, é necessário advertir que os alunos pthdem escolher entre os significados possíveis das palavrasilceisde cada frase pelo contexto no qual aparecem, sem necessidadede recorrer ao dicionário.

Escolha na lista abaixo de cada frase qual deve ser o significado de cada palavra finfâm:

"Aproxirna-se uma época de emergência, durante a qual teremos de etf/masme-dídas de segurança."

Extremar: deixar à partecomeçar pelo extremoaumentarsuavizar

"Não gosto de falar com tanta dureza nesses momentos em que ele sofre pesoaliWrte os efeitos da perniciosa política que o país seguiu nos últimos anos."

perniciosa: que faz faltamáque pertence aos que perderam a guerrametálica

"Se você quer saber onde fica a rocha de Vacamuerta pergunte a qua [quebra osnomes dos acidentes geográficos daquelas paragens"

paragens: tipo de veículo puxado por urn animalverdadeirospessoas que trabalham no campolugar ou parte de um povoado ou região

164 T. Colomer & Á. Camps

b) Muitas vezes, embora o texto contenha erros, eles podem ser cor-rigidos com a ajuda do contexto

Neste texto, foram mudadas algumas palavras por outras que não se encaixam nele.De quaiquer modo, tente entender a história:

Nesse ponto de minhas reflexões, fiz um esforço para lembrar e lembrei mesmo, niti-damente, todos os volumes que ocorreram naquela noite. O tempo estava fresco (oh rara efeliz circunstancial] e na lareira havia um bom fogo. A caminhada tinha me reanimado e mesentei perto da juventude. Mas você tinha habitado uma cadeira para perto da lareira. Noexato momento em que ia dar-lhe um pergaminho, Wolf, o cão terra-nova, entrou e pulousobre seus ombros. Enquanto o acariciava e detinha com a farinha esquerda, a mão direita,na qual segurava o pergaminho, resvalou entre seus joelhos e ficou muito perto do perdão.Por urp instante, achei que o resultado ia pegar fogo, mas, antes que pudesse avisá-lo, vocêo afastou e começou a examiná-lo.

(E. A. Põe. O escaravelho de ouro.}

Continuar lendo

Uma das estratégias que aplicamos com mais frequência quando nãochegamos a entender o texto é continuar lendo, já que o próprio textoesclarecerá a incoerência mais adiante. Aconsciência dessa conduta é fun-damental no controle da construção do significado, já que deve ser segui-da habitualmente na maioria das leituras.

Às vezes, há crianças capazes de detectar rapidamente a informaçãoque as surpreende ou qtie não sabem como relacionar, mas em compensa-ção ainda não aprenderam a suspender seu juízo e continuar lendo, reten-do os dados soltos na memória. Como consequência, tendem a interrom-per a leitura com a sensação de que não a entendem e, muitas vezes, aindaque peçam ajuda para retomá-la, o intervalo de tempo transcorrido fazcom que já não recordem com precisão qual era a dificuldade.

Assim será preciso insistir no hábito de não interromper tão rapida-mente a leitura e na exercitação dos mecanismos de controle da coerência.

Este é o início de um romance. Leia-o detendo-se depois de cada parágrafo paracomentar o que entendeu que está se passando e vá assinalando a informação que aindanão sabe como interpretar.

Por exemplo, no primeiro parágrafo fala-se de urn banco. Esse banco parece seguro,eficiente, etc, mas não fica claro o que são esses registros feitos pelos médicos e guardadoscom tanto cuidado. Nada do que sabemos sobre os bancos tem relação com essa informa-ção; portanto, sublinhe-a e espere para ver se mais adiante há alguma informação que lhepermita saber do que se trata.

Ensinar a ler, ensinar a compreender

O FANTASMA DE KANSAS

"Meu banco é o ArchimedeTrustAssodation. É um estabelecimento que oferece todasas garantias de segurança. Seu pessoal é educado e tem seu serviço médico própró,cujaúnica função é estabelecer os registros que em seguida são armazenados nas caixatfortes.

"E faz duas semanas que os roubaram."Isso rne causou alivio. A data de meu controle de rotina se aproximava e eu fensava

com inquietação no corte que imporia a minhas economias. E eis que alguns ladrõerouba-vam meu banco, apoderavam-se de uma quantidade considerável de valores e, toadospelo entusiasmo, destruíam todos os cubos-mernória. Todos, até o úkimo. Só réstia umapoeira de minúsculos fragmentos de plástico. Naturalmente, teriam de ser substititerasua totalidade, e no tempo mais breve possível. Os banqueiros não eram idiotas. Nfoeraaprimeira vez que o assalto a um banco servia para facilitar um assassinato. TambénoATAtinha de inventariar todos os titulares de contas, e isto no espaço de poucos as. Umtrabalho que seguramente lhes custou mais caro que o roubo.

"Duas palavras de passagem para explicar o mecanismo desse tipo de operação. Oladrão não está nem um pouco preocupado com o dinheiro que roubou. De qualquermaneira, em geral é muito arriscado dar saída a um produto desse tipo. É preciso ser umdelinquente muito excepcional para causar um revés nos programas incorporados dos com-putadores financeiros de hoje. Assim, o dinheiro obtido dessa maneira tem de serdeixadode lado durante cerca de um século, se desejamos tirar algum proveito dele. Nãoíimpos-sfvel, naturalmente, mas a polícia constatou que os criminosos suficientemente pacientesnão são muitos. O motivo profundo do ladrão, quando há destruição de cubos-memôrianão é o roubo: é o assassinato.

"De tempos em tempos alguém comete urn crime passional. Há poucas possilidadesnesse terreno, e o assassinato é a rnenos satisfatória. Simplesmente porque matar ima pes-soa que voltaremos a encontrar seis meses depois passeando em perfeito estado tesaúdenão é nada gratificante.

"E quando a vítima contesta na justiça seu assassino por alienação de persoraldade-e obtém até 90% dos bens terrestres deste a titulo de perdas e danos -, isso signíEca voltara faca contra a ferida. Além disso, quando se odeia verdadeiramente uma pessoa, Ê muitogrande a tentação de matá-la de verdade, definitivamente, como nos velhos tenpos, prhmeiro destruindo seu cubo-memória e depois suprimindo-a fisicamente.

Isto é o que temia a ATA e, na última semana, eu teria tido direito a um guafeostaspessoal conforme as cláusulas previstas em meu contrato. Isso é uma espécie deprivilÊgiosocial que pega bem perante meus amigos, mas que não me impressionou deraisaléomomento em que me dei conta de que o banco ia deixar, por conta de seus gatos.meupróximo arquivo no âmbito do programa de urgência que havia implementado pafa insere-ver em um repertório todos os titulares de apólices de seguros. Eles tinham se coopiometí-do a manter-me eternamente vivo e, ainda que rneu arquivo estivesse previsto apínasparatrês semanas depois, eram obrigados a pagar de seu bolso. A jurisprudência eraforrnal:aempresa tinha o dever de substituir o mais rapidamente possível os cubos extraiadosoudeteriorados.

"Assim, eu deveria estar muito contente. Não estava, mas procurava serváenle.'

Recorrer a uma fonte externaO termo desconhecido é essencial para a compreensão e deve-secon-

stútar o dicionário, outra pessoa, etc., para poder continuar.

166 T. Colomer & A. Camps

Imaginemos, por exemplo, que lemos pela primeira vez o texto se-guinte e que não sabemos o que querem dizer as palavras interação e roti-neiro. É possível que o primeiro problema pudesse ser resolvido pelo con-texto (um adulto e urna criança fazem coisas para o outro e com o outro).Entretanto, o segundo problema parece mais difícil de resolver desse modoe, seguramente, seria preciso recorrer a uma fonte de informação externa.

"Um formato é uma interação constante e que se tornou rotineira, na qual um adultoe uma criança fazem coisas um para o outro e corn o outro. Visto que esses formatos sur-gem antes da fala léxico-gramatical, são veículos cruciais na passagem da comunicação àlinguagem."

[J. Bruner. A fala da críanç^.

Ativcir a capacidade de controle da compreensão

Para acostumar-se a julgar a coerência dos elementos do texto;

a) Podem-se fazer exercícios como, por exemplo, buscar um critériosemântico comum a um conjunto de palavras e encontrar as quenão combinam com ele:

Em cada grupo há uma palavra que sobra. Qual é?

1. Fevereiro, julho, maio, primavera, abril, janeiro, março, setembro, outubro.2. Agradável, leal, amável, bonito, mentiroso, simpático, limpo, prestativo, manhoso.3. Judo, equitação, esqui, futebol, pingue-pongue, natação, turismo, boxe.

b) Também se podem apresentar textos que não correspondem aonosso conhecimento do mundo, que contêm parágrafos erróneos,apresentam finais narrativos incoerentes, etc. Se tais atividadesestão relacionadas a refazer o texto equivocado ou a imaginar oque poderia ocorrer nele, é preciso ter presente que continuaruma narrativa costuma ser mais simples do que a operação in-versa, isto é, pensar o início a partir de seu final, e ainda é maisdifícil imaginar o meio, já que o aluno deverá julgar a coerênciatanto em relação ao que está antes quanto ao que está depois:

Neste conto, falta o meio. Como você acha que poderia ser?

O 1EÃO FELIZ NA ÁFRICA

O senhor Flarnbó percorria a França com seu circo.

Porém, em todos os lugaresos palhaços e os acrobatas faziam seus números diante de cadeiras vaziase não havia ninguém para aplaudir quando a foca tocava a trombeta.

Ensinar a ler, ensinar a compreender

"E o que devemos fazer, então?", lamentava o senhor Flarnbó,um dia em que seu circo parou em uma cidade encantadora.

"Se ao menos tivesse o Leão Feliz,esse famoso Leão Feliz que todo mundo amae que todo mundo vai ver em sua casa no parque zoológico,então não haveria cadeiras vazias!"E foi por esse motivo que o senhor Flambó raptou o Leão Feliz.

Numa noite sem lua entrou no parque com uma jaula de leões.

Vem, pequeno, vem", chama com uma voz carinhosa,depois de abrira porta da casa do leão.

O Leão Feliz, que sempre fica alegre ao ver um amigo,salta dentro da jaula... e lá está!

No dia seguinte, toda a cidade se entristece.

As pessoas comentam a notícia pelas esquinas.

"Que horror!", dizem, "nosso Leão Feliz nos abandonou!"

No jardim do Leão Feliz,Francisco, o filho do guarda, está sentado em uma pedra e chora.

"Meu.querido Leão Feliz, onde pode ter ido?"

"Onde este homem está me levando?", lamenta-se o Leão Feliz.

"E pensar que eu o tomei por um amigo!"

O senhor Flambó leva a jaula até o cais,onde há grandes barcos, com as chaminés soltando fumaça.

O carro pára de repente e a jaula se abre.

O Leão Feliz sai de um saitoe corre a se esconder no primeiro buraco que encontra.

É um buraco mais escuro que a noite.

É a adega de um barcol

Quando o senhor Lentilla, o famoso fotógrafo de animais selvagens,volta ao acampamento, levanta os braços surpreso,ao ver um leão deitado em sua cama.

De repente exclama:

"Mas é o Leão Feliz! Caramba, eu o conheço!

Eu o fotografei muitas vezes em seu jardim.

Que aventura!"

Desperta o Leão Feliz depois de fazer uma foto dele,e se abraçam como dois velhos amigos.

Alguns dias mais tarde, um telegrama enche de alegriaa cidade do Leão Feliz:"CHEGO DE AVIÃO COM O LEÃO FELIZ. LENTILLA."

"Viva o Leão Feliz!", grita em uníssono a multidãoenquanto a banda roda La Marselhesa

168 T. Colomer & A. Camps Ensinar a ler, ensinar a compreender

"Bem-vindo ao lar. Leão Feliz!"

. E, finalmente, Francisco pôde abraçar seu amado leão.

Depois, o Leão Feliz volta ao parquecom um esplêndido desfile ao som de marchas militares.

(L. Fatio, O Leão Feliz.)

Nesse sentido, é interessante também o livro de Contos para brincar,de G. Rodari, que propõe três finais diferentes para cada narrativa/ a fimde que o leitor julgue qual é a mais adequada. Ao final do livro, o autor dásua opinião a respeito.

Descobrir a necessidade de conhecimentos prévios

O leitor deve poder decidir também de que conhecimentos préviosnecessita para entender uma informação em um sentido mais amplo queo do estrito significado de uma palavra desconhecida. Um bom exemploda grande quantidade de informação prévia de que o leitor necessita paraentender o texto são as notícias de jornal, e particularmente os títulos esubtítulos, jã que sintetizam o que há de novo em fatos sobre os quais já seinformou em dias anteriores.

Diga se as seguintes frases são corretas ou não. Se não forem, diga por quê:

O menino caiu da bicicleta porque foi para o hospital.

O camponês rega a horta porque quer que as plantas sequem.

Vou lhe trazer o livro em casa se eu tiver vontade de lê-lo.

Sairei para passear embora o tempo-esteja muito bom.

O dia está bom, mas o sol está muito agradável.É o dia de meu aniversário, portanto Ernesto se machucou na bicicleta.

Em geral, todas as atividades analíticas dos textos contribuem parafomentar a capacidade de controle que tem suas raízes ras funçõesmetacognitivas e métalinguísticas do funcionamento da mente humana.Por esse motivo, todas as atividades de reflexão sobre a leitura e deexerci tacão das diversas estratégias leitoras e especialmente a verbalizaçãodas operações que se realizam contribuem de maneira decisiva para de-senvolver a capacidade de perceber tanto o que não se entende como onível de compreensão. Portanto, isso dificulta a delimitação dos exercíciosque levam ao desenvolvimento dessa capacidade. Demos alguns exem-plos que se referem claramente a isso. Em última instância, é o caso detodos os que propomos neste trabalho.

Estes títulos de jornal não podem ser entendidos se não soubermos muitas coisas que nãose explicam aqui. O que necessitaríamos saber para poder entendê-las?

"Os dirigentes alemães tentam tranquilizar os europeus"

"Gorbachov pede apoio dos intelectuais para aprofundar a perestrofktf

"Israel pede explicações a Washington sabre o discurso de Bush na ONU"

"Os sindicatos dos agricultores anunciam novas ações contra o pedágio"

"Os quatro diplomatas iraquianos expulsos pelo Governo central abandonam a Espanha"

Corrigir incoerências

Corrigir mensagens mal-construídas por causalidade mal-atríbuída,generalização incorreta, ou por muitas outras causas, ajuda a sensibilizaros alunos nessas questões e acostuma-os a julgar a coerência do texto.

COLOMER, Teresa. CAMPS, Anna. Ensinar a ler ensinar a compreender -Porto

Alegre: Artmed, 2002.