o Discipulo Amado Beth Moore

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Beth Moore com Dale McCleskey Traduzido por Daniele Pereira O discípulo amado Rio de Janeiro 2010 1ª Edição

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Beth Moorecom Dale McCleskey

Traduzido por Daniele Pereira

O

discípulo amado

Rio de Janeiro2010

1ª Edição

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Todos os direitos reservados. Copyright © 2010 para a língua portuguesa da Casa Publicadora das Assembleias de Deus. Aprovado pelo Conselho de Doutrina.

Título do original em inglês: The Beloved DiscipleBroadman & Holdman Publishers, Nashville, Tennessee, EUAPrimeira edição em inglês: 2003Tradução: Daniele Pereira

Preparação dos originais: Elaine ArsenioRevisão: Gleyce Duque Adaptação de capa: Josias FinamoreAdaptação de projeto gráfico: Fagner Machado

CDD: 248 - Vida CristãISBN: 978-85-263-1052-0 As citações bíblicas foram extraídas da versão Almeida Revista e Corrigida, edição de 1995, da Sociedade Bíblica do Brasil, salvo indicação em contrário.

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1ª edição: 2010

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Dedicatór ia

Para meu novo filho, Curt —

Se eu pudesse ter procurado no mundo todo um parceiro de vida para

meu primogênito, teria escolhido você. Não foi necessário. Deus já fez

isso. Meu querido Curt, enquanto escrevo este estudo, com frequência

penso no quanto você lembra o apóstolo João. Você é um verdadeiro ho-

mem de visão, dirigido ao Logos por afeição divina. Você é a essência de

um discípulo profundamente amado.

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Sumário

Introdução ........................................................................... 11

Parte 1 Ventos Frescos sobre a Galileia ............................ 13 Capítulo 1 Desde aquele Tempo ................................. 15

Capítulo 2 A Identidade de Família............................ 21Capítulo 3 Pois eles Eram Pescadores ......................... 27Capítulo 4 Velhos Laços e Novos Laços ...................... 33Capítulo 5 Uma Ação Difícil de Seguir ...................... 39

Parte 2 Visões e Discernimentos ......................................... 45 Capítulo 6 Um Lugar Solitário ................................... 47Capítulo 7 Três e Um ................................................. 53Capítulo 8 Discípulos de Confiança ........................... 59Capítulo 9 Reclinando-se junto a Ele ......................... 65Capítulo 10 Nos Limites de um Jardim ...................... 73

Parte 3 Momentos Decisivos ............................................... 79 Capítulo 11 Estando por perto ................................... 81Capítulo 12 Uma Corrida ao Túmulo ........................ 89Capítulo 13 E quanto a Ele?..........................................95Capítulo 14 Se e quando .............................................101Capítulo 15 Apenas um Pouco ....................................107

Parte 4 Além dos Limites ......................................................115 Capítulo 16 Uma Nova Chama ..................................117 Capítulo 17 Devastação ..............................................123Capítulo 18 A Destra de Comunhão ...........................131

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Capítulo 19 Lições da Obscuridade ............................137Capítulo 20 Aquele a quem Jesus Amava ....................145

Parte 5 Recebendo sua Plenitude ........................................151 Capítulo 21 Mais Vida ................................................153Capítulo 22 Mais Fé !..................................................161Capítulo 23 Mais Vinho .............................................169Capítulo 24 Mais sobre o Mundo ...............................175Capítulo 25 Mais sobre quem Ele É ............................179

Parte 6 Vida mais Abundante ................................................185 Capítulo 26 Mais do Espírito Santo ............................187Capítulo 27 Mais Fruto ..............................................193Capítulo 28 Mais Revelação ........................................199Capítulo 29 Mais Interação com as Mulheres ..............205Capítulo 30 Mais sobre seu Pai ...................................211

Parte 7 Cartas do Coração ..................................................219 Capítulo 31 Koinonia ..................................................221Capítulo 32 Uma Carta de Amor ................................227Capítulo 33 Amando por meio de nós ........................233Capítulo 34 Amor na Verdade .....................................239Capítulo 35 Corpo e Alma ..........................................247

Parte 8 Entre os Castiçais ....................................................253 Capítulo 36 Exilado em Patmos ..................................255Capítulo 37 À Igreja em Éfeso ....................................261Capítulo 38 À Igreja em Esmirna ................................267Capítulo 39 À Igreja em Pérgamo ...............................273Capítulo 40 À Igreja em Tiatira ...................................279

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s u m á r i o

Parte 9 Vista Panorâmica do Trono ..................................... 287 Capítulo 41 À Igreja em Sardes ................................... 289Capítulo 42 À Igreja em Filadélfia ............................... 295Capítulo 43 À Igreja em Laodiceia .............................. 303Capítulo 44 A Sala do Trono ....................................... 311Capítulo 45 O Cordeiro ..............................................319

Parte 10 Graça Bendita ........................................................ 327 Capítulo 46 Uma Canção que ninguém mais Pode Cantar......................................................................... 329Capítulo 47 A Ira de Deus .......................................... 335Capítulo 48 A Ceia das Bodas do Cordeiro ................. 339 Capítulo 49 A Condenação de Satanás ........................ 355Capítulo 50 A Nova Jerusalém .................................... 363Capítulo 51 Vendo o Rosto dEle ................................. 369

Notas ...................................................................................... 375

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Introdução

Discípulo Amado explora um dos relacionamentos mais intrigan-tes da história, entre Jesus e seu apóstolo mais jovem, e traça a vida de seu jovem seguidor. João certamente se qualificaria como um dos personagens mais fascinantes nas Escrituras. Escreveu anonimamente o Evangelho que é o favorito de muitas pessoas. Ele identificou-se apenas como “o discípulo a quem Jesus amava”. Ele pegou os relatos sobre Jesus, o Messias, outros Evangelhos e escreveu como se dissesse: “Vocês ouviram sobre o que Jesus fez, agora me deixem mostrar quem Ele era de fato”. Assim, João nos mostra o Cristo cósmico, que criou o mundo, morreu para redimi-lo e vive para recuperá-lo.

A vida do apóstolo João inclui momentos inacreditáveis de cora-gem e grandeza. Dos Doze, somente João ficou por perto no momen-to da crucificação, e ele tornou-se o recebedor do ponto crucial das Escrituras: Apocalipse. João caminhou no círculo interno com Jesus por lugares como o monte da transfiguração e a casa onde ocorreu a ressurreição da filha de Jairo (Lc 8.51), ainda que entre aqueles topos de montanha João tenha vivenciado muitos longos anos quando os outros ficaram em evidência. Desse discípulo obtemos uma perspecti-va íntima e pessoal tanto de Jesus quanto de um seguidor amado.

Então venha comigo para uma jornada maravilhosa com o apóstolo João. Juntos, escalaremos as alturas e mergulharemos nas profundezas. Minha oração é para que no processo venhamos a nos identificar pesso-almente com esse longevo seguidor de Cristo. No final, espero que você faça a descoberta que ele fez muito tempo atrás — a descoberta de que a afeição vale mais que a ambição. Que amar e ser amado por Jesus é mais importante do que tudo que o mundo pode obter ou conter.

Espero que você ame a sua jornada porque eu o amo.

O

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Par t e 1

Ventos Frescos sobre a Galileia

Eu amo novos começos. E você? Sinto-me honrada

por embarcar nesse novo começo com alguém como

você. Vamos confiar em Deus para nos levar a lugares

onde nunca fomos, e realizar uma obra que não sabía-

mos como Ele poderia fazer. Quando Tiago e João dei-

xaram suas redes nas águas ensolaradas da Galileia, não

tinham ideia de que o Filho de Deus estava lançando sua

rede para eles. Logo se viram atraídos por seu chamado

e constrangidos por seu amor. Deixemos que a mesma

afeição divina nos atraia, ao também sermos chamados

de discípulos de Jesus Cristo.

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Capí tu lo 1

Desde aquele TempoA Lei e os Profetas duraram até João; desde então, é anunciado o Reino de

Deus, e todo homem emprega força para entrar nele. (Lc 16.16)

Era mais ou menos o ano 28 d.C. Para um povo escolhido que não ouvira uma Palavra vinda de Deus por quatro séculos, a vida estava satisfatória. Os judeus haviam encoberto suas inseguranças com um cobertor de monotonia. A ausência de um encontro novo com Deus tornou-os apegados ao que lhes fora deixado — a Lei. Interessante, não é? O povo hebreu subiu ao topo de seu legalismo durante os anos de silêncio entre Malaquias e Mateus. É isso que pessoas realmente religiosas fazem quando não têm muito relacionamento com Deus.

Naqueles dias, os filhos seguiam os passos de seus pais. Meninas não tinham necessidade de educação formal. Afinal, elas simples-mente cresceriam e fariam exatamente o que suas mães fizeram. O devoto pronunciaria pela manhã a mesma oração que saíra de seus lábios na última vez em que o sol surgiu. No dia seguinte, o processo se repetiria.

Cortesia de um Herodes que precisava desesperadamente de seu favor, o povo judeu por fim tinha seu Templo, e era uma beleza. Na maior parte, eles tinham as coisas do jeito que desejavam.

O povo hebreu queria saber o que poderia esperar da vida, então criaram uma expectativa e a reforçaram com uma vingança. Eles or-ganizaram a vida do modo que queriam, cobriram a cabeça com um cobertor de segurança e se esconderam da mudança.

Eu posso falar. Fiz a mesma coisa muitas vezes.Se qualquer um questionasse o status quo, os que estavam com-

prometidos agiam como se o cobertor sempre estivesse ali. Sem dú-

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vida, muitos se referem à mesma atitude predominante descrita em 2 Pedro 3.4 vários anos depois: “Porque desde que os pais dormiram todas as coisas permanecem como desde o princípio da criação”.

Mas eles estavam errados. Desde o começo da criação, as coisas nunca prosseguiram simplesmente. Um plano de perfeição incon-cebível estava em cuidadosa execução. Sempre. Mesmo nos anos de silêncio da história de Israel, Deus nunca ficou inativo.

Não temos ideia de quão ocupadas estavam as mãos de Deus mes-mo quando sua boca parecia fechada. Onde Deus está envolvido, o silêncio nunca equivale a inatividade. Para aqueles que procuram uma compreensão total de o que o Deus do universo está fazendo com o planeta Terra, poucos títulos de Cristo são mais significativos do que aquele emitido de sua própria boca em Apocalipse 22.13. Ele é “o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim, o Primeiro e o Derradeiro”.

Não posso descrever quão impressionada fico com as diversas perfeições e coerências das Escrituras. O livro que se abre com as palavras “no princípio” chega a uma conclusão com aquEle que de-clarou ser o Princípio e o Fim. A vida neste planeta teve um princí-pio executado de maneira precisa, e terá um fim certo. AquEle que planejou ambos com perfeição, não deixaria tudo no meio seguir como quisesse... ou como sempre foi.

Deus no céu tem uma vontade para esta Terra. Antes mesmo que Ele proferisse “Haja luz”, todos os dias do calendário do seu Reino estavam preenchidos com eventos do início ao fim. O homem pode se recusar a cooperar, mas não pode impedir que Deus execute os eventos decisivos em seu cronograma. E, agradecidamente, nenhu-ma quantidade de tradição pode parar a Deus quando Ele está dis-posto a fazer mudanças.

Justo na época em que o estabelecido deixou as coisas do jeito que eles sempre quiseram e declaravam ter sido sempre assim, alguém teve a audácia de colocar a cabeça para fora do cobertor de segurança. Mais cedo ou mais tarde, ele perderia a cabeça por fazer isso, entretanto sa-cudiria algumas coisas. Não se esqueça do envolvimento de um Deus cauteloso mantendo um cronograma preciso no calendário do Reino. Lucas 3.1,2 diz: “E, no ano quinze do império de Tibério César [...] sendo Anás e Caifás sumos sacerdotes”, algo muito decisivo aconte-ceu. A palavra de Deus veio a um homem chamado João.

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De alguma forma, João foi classificado como “o Batista”, mas “o pregador” seria mais apropriado. Ele veio declarando: “Dizia, pois, João à multidão que saía para ser batizada por ele: Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira que está para vir? Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento e não comeceis a dizer em vós mes-mos: Temos Abraão por pai, porque eu vos digo que até destas pe-dras pode Deus suscitar filhos a Abraão” (Lc 3.7-9).

Comecei este capítulo com uma citação do próprio Cristo: “A Lei e os Profetas duraram até João; desde então, é anunciado o Reino de Deus, e todo homem emprega força para entrar nele” (Lc 16.16). Je-sus se referiu à vida de João como um ponto de rotação de mudança no calendário do Reino. Depois de 400 anos de silêncio, de repente a palavra de Deus veio.

Após uma espera tão longa para ver Deus se revelando, novamente, às criaturas mortais, acho que todo o céu se calou para ouvi-lo. É claro, aque-les na Terra não tiveram que fazer silêncio. O batizador falava de modo apropriado e alto. Alto o bastante, de fato, pois, de acordo com a versão de Mateus, os fariseus e os saduceus de Jerusalém concordaram plenamente em levantar a borda do cobertor de segurança às margens do Jordão para ver o motivo de toda aquela agitação (Mt 3.5,7). A cabeça deles estava entre as poucas que ficaram secas naquele dia. Eles seguravam o cobertor de segurança sobre a cabeça para não se molharem na mudança.

Sempre nadando contra a correnteza, a mensagem de João Batista seguiu o curso do Jordão até as águas de um grupo de pescadores em uma vila chamada Betsaida. Atraídos como peixe pela isca, vários deles fizeram uma longa e difícil viagem para ouvi-lo e se apegavam a cada palavra que ele dizia. Na verdade, João 1.35 refere-se a eles como discípulos de João Batista.

Não deixe que o termo discípulo lhe pareça herético. O rótulo é quase sagrado para muitos de nós no cristianismo evangélico, mas mantenha em mente que o único motivo que fazia os doze discípu-los de Cristo sagrados era aquEle a quem seguiam. Discípulo simples-mente indica um aluno e seguidor dos ensinamentos de alguém.

Graças a Deus, João Batista tornou-se um homem digno de ser seguido exatamente porque eles o seguiam direto até Jesus.

Os líderes religiosos desafiaram o Batista: “Que dizes de ti mes-mo?” Quem ele era? Ele era Elias? Ele era o Cristo? Algum outro

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profeta? O pregador claramente declarou: “Eu sou a voz do que cla-ma no deserto: Endireitai o caminho do Senhor [...] Eu batizo com água, mas, no meio de vós, está um a quem vós não conheceis. Este é aquele que vem após mim, que foi antes de mim, do qual eu não sou digno de desatar as correias das sandálias” (Jo 1.22,23, 26,27). João Batista se definiu de duas formas:

1. Ele não era o Cristo.2. Ele era o enviado para preparar o caminho para Cristo.A pergunta que os líderes religiosos fizeram não é nada mal para

aplicarmos a nós mesmos ao embarcarmos juntos neste barco. En-tão, sobre você? O que você diz a seu respeito? O que não dizemos em palavras, no fim das contas dizemos em ações. Diariamente, fala-mos várias coisas sobre nós. Às vezes, o que falamos sobre nós não é necessariamente exato, mas é o que acreditamos.

Confie em mim, Eu sei disso. Passei boa parte de minha vida com uma avaliação bastante incorreta de quem eu não era e de quem eu era. Como uma pessoa jovem, oscilava vertiginosamente entre senti-mentos de “sou uma vítima, e não sou tão boa como qualquer outra pessoa” e “não sou vítima de ninguém, e serei melhor que todo o mundo”. Quando encaro esse breve testemunho, vejo a recordação de tudo isso. Acreditar e viver em uma mentira era desgastante. O que finalmente me tirou da oscilação? Aprender a me ver em um relacionamento com Jesus Cristo.

Não fique com a ideia de que eu cheguei ou que tudo que aprendi até agora não tem sido um processo. Ainda luto com minha iden-tidade mesmo estando um pouco mais saudável. Ainda faço isso às vezes. Durante meus primeiros anos de ministério, tentei com afinco ser como minha mentora e fazer tudo como ela fazia.

Você já descobriu que tentar ser outra pessoa é desgastante?Por causa de Jesus, João sabia quem ele era e quem não era. Quem

ele não era? O Cristo. Muitos em sua audiência estavam bastante propensos a aclamá-lo como o Messias, se ele permitisse. Ele não permitiu.

Então, quem era João Batista, segundo sua própria definição? “Eu sou a voz do que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor”. Acho o que ele disse sobre si mesmo muito animador. Ele entendeu a grandeza de Cristo e quão indigno ele era fazendo uma

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comparação, mas não se deu o valor de um verme sob uma rocha. Sua vida tinha valor por meio da conexão com o Messias. João Ba-tista introduziu um conceito que outro João levará adiante para nós ao longo de nossa viagem juntos. Entre muitas outras coisas, va-mos aprender como nos definir por nosso relacionamento com Jesus Cristo. Vamos chegar a um importante lugar de maturidade quando formos capazes de, com precisão, avaliar e enunciar quem somos... e quem não somos.

Ao tentarmos nos comparar a João Batista, podemos ser tentados a pensar: “Bem, uma coisa é certa. Ninguém vai me confundir com Cristo”. Pelo contrário, algumas pessoas tentarão fazer de qualquer um com semblante de maturidade e identidade espiritual seus salva-dores pessoais.

Já teve alguém tentando fazer de você um salvador? Nossa reação mais conveniente poderia ser transferir toda a responsabilidade para a pobre pessoa confusa. Afinal, o que podemos fazer se alguém nos considera mais do que somos? O exemplo de João Batista poderia su-gerir que podemos e devemos “fazer alguma coisa” sempre que possí-vel. Como ele, quando circunstâncias e relacionamentos demandam uma reavaliação apropriada, não queremos deixar de confessar, mas livremente fazer declarações como:

• “Sinto muito se o levei a acreditar de outro modo, mas não sou sua salvação. Não tenho poder para resgatá-lo.”

• “Não posso ser a rocha de nossa família. Se vocês estão se apoiando em mim para ter estabilidade, vamos todos cair.”

• “Além de não ter todas as respostas, ainda estou tentando ima-ginar as perguntas.”

Então nós apenas deixamos todos desanimados? Não, nós pedi-mos que eles nos desçam imediatamente daquele pedestal feito de palitos de dente. Nosso papel na vida daqueles que Deus autentica-mente envia ao nosso caminho em busca de ajuda não é, de modo geral, diferente do de João Batista. Nós nos tornamos uma voz no deserto delas ajudando-as a preparar o caminho para o Senhor.

Não posso esperar para ver por que Deus me chamou ao longo de sua jornada. Não tenho ideias pré-concebidas. Nenhuma ideia de para onde vai este estudo. Uma aventura está diante de mim como certamente diante de você. Poucas vezes me senti tão entusiasmada

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para começar um estudo porque simplesmente não tenho ideia do que nos espera.

Eu gosto muito de uma aventura! Mal posso esperar para ver to-das as paradas que faremos e todas as lembranças que vamos adquirir ao longo do caminho. Mas quando tudo estiver dito e feito, tenho a sensação de que aprenderemos muito sobre identidade. De quem? De Cristo e dois de seus mais importantes discípulos. Um você en-contrará em nosso próximo capítulo. O outro você pode encontrar no espelho mais próximo.

Ao concluirmos este primeiro capítulo, vamos formar uma base a partir de nossa atual percepção de identidade para que sejamos capazes de fazer comparações à medida que avançamos na estrada dessa jornada. Por favor, seja totalmente honesto. Apenas entre Deus e você, quem você descobriu que você não é? E quem você descobriu que é?

Estou feliz por você ter se juntado a mim. Vamos tomar fôlego na Palavra de Deus. Começaremos dando uma olhada em um dos elementos mais importantes na vida judaica... a família.

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A Identidade de FamíliaE, adiantando-se dali, viu outros dois irmãos: Tiago, filho de Zebedeu, e

João, seu irmão... (Mt 4.21)

Família. Apenas o próprio Deus poderia ser mais importante. Para o judeu devoto, o familiar não poderia ser separado do espiritual. O próprio Deus entrelaçou os dois desde o início, quando criou Eva como um complemento para Adão (Gn 2.21,22) — um ato espiri-tual se você já descobriu. Então, em Gênesis 4.1, Deus acrescentou o primeiro filho à combinação.

A vida em família tornou-se sinônimo de problemas em família praticamente desde o começo, mas Deus nunca abandonou a ideia. De fato, a família era uma ideia muito boa e tornou-se um pode-roso meio pelo qual Deus tem trabalhado ao longo da História. O entrosamento de familiar e espiritual foi tão enfatizado no Antigo Testamento que o espaço me permite apenas algumas de muitas re-ferências: Êxodo 12.25-27 diz: “E acontecerá que, quando entrardes na terra que o Senhor vos dará, como tem dito, guardareis este culto. E acontecerá que, quando vossos filhos vos disserem: Que culto é este vosso? Então, direis: Este é o sacrifício da Páscoa ao Senhor, que passou as casas dos filhos de Israel no Egito, quando feriu aos egíp-cios e livrou as nossas casas”.

Em Josué 4.5-7 relata: “E disse-lhes: Passai diante da arca do Se-nhor, vosso Deus, ao meio do Jordão; e levante cada um uma pedra sobre o seu ombro, segundo o número das tribos dos filhos de Israel, para que isto seja por sinal entre vós; e, quando vossos filhos no fu-turo perguntarem, dizendo: Que vos significam estas pedras?, então,

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lhes direis que as águas do Jordão se separaram diante da arca do concerto do Senhor”.

Os pais e filhos hebreus conversavam. O Senhor não diz: “se seu filho lhe perguntar”, mas “quando seu filho lhe perguntar”. Os pais estavam até mais envolvidos na educação dos filhos do que as mães. Em um típico lar judaico antigo, a comunicação era quase constan-te; remover a significância espiritual de suas conversas serviria para quase silenciá-los.

Provavelmente, você é gentio por herança, assim como eu. Sem-pre que estudarmos a vida de alguém que viveu em uma cultura totalmente diferente, temos que ser muito intencionais sobre vê-lo em seu mundo e não no nosso. Podemos fazer incontáveis aplica-ções para nosso mundo, mas só depois de observar a figura histórica, como João, em seu próprio mundo. O judaísmo ortodoxo antigo não só era uma cultura totalmente diferente da nossa; Deus certificou-se de que não se comparasse a nenhuma outra. Ele não queria que sua nação fosse semelhante a qualquer outra. Vou deixar o próprio Deus falar a partir de Deuteronômio 14.1,2: “Filhos sois do Senhor, vosso Deus [...] Porque és povo santo ao Senhor, teu Deus, e o Senhor te escolheu de todos os povos que há sobre a face da terra, para lhe seres o seu povo próprio”.

O povo que estudaremos juntos era judeu em uma época em que o judaísmo talvez nunca tivesse sido mais judeu. Com essa ex-pressão quero dizer que embora eles estivessem sob o domínio ro-mano, desfrutavam significativa liberdade para praticar sua cultura. Eles estavam firmemente estabelecidos em sua terra e tinham seu Templo. Todos os partidos de vida religiosa estavam funcionando a todo vapor: os fariseus, os saduceus e os doutores da Lei, para citar apenas alguns.

A vida nas vilas da galileias de Cafarnaum e Betsaida devia pare-cer estar anos-luz distantes do centro da vida religiosa no Templo de Herodes em Jerusalém, mas uma coisa variava pouco de hebreu para hebreu: YHWH* era vida. Provedor, Sustentador, Soberano Criador de todas as coisas. Para eles, pensar pouco sobre Deus era pensar pouco de tudo.

*YHWH é o nome divino de Deus, nunca pronunciado pelos judeus; em português, corresponde com frequência a Javé ou Jeová.

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Nosso apóstolo João veio da região rural do norte. Se o judeu mais sofisticado na Cidade Santa achava que os simples moradores no mar da Galileia o invejavam, estava completamente enganado. Nem escapava dos problemas inevitáveis que faziam parte da vida. Cada um tinha suas preferências. Cada um tinha um ponto de vista. Um acordava com o brilho do sol cintilando nos muros do Templo. O outro via o sol passe-ando na superfície do lago. Seria difícil convencer um pescador de que a glória de Deus habitava mais poderosamente em uma construção feita de pedras do que em um brilhante pôr do sol rosa e lilás no mar da Ga-lileia. Sei disso por experiência própria. Vivi com um pescador.

Dois pares de filhos cresceram não longe um do outro no ponto mais ao norte do mar da Galileia. Quatro pares de pés ficaram cale-jados nos seixos de uma praia familiar. A partir do momento em que seus filhos estavam na altura de seus joelhos, Zebedeu e Jonas eram responsáveis não só por garantir que seus filhos impetuosos não se afogassem, mas também por aproveitar a insaciável curiosidade deles com seus negócios. Os pais eram a creche ambulante para os filhos, e a mãe estaria esperando por eles em casa intactos antes de escurecer ou depois de uma longa noite de pescaria.

Pedro, André, Tiago e João. Eles eram árvores plantadas junto a correntes de água se desenvolvendo para dar seus frutos na estação própria (Sl 1.3). Se aqueles pais soubessem o que seus filhos se torna-riam, acho que iriam educá-los um pouco diferente. Pensando bem, acho que não. Eles eram homens simples com um simples objetivo: ensinar aos filhos tudo o que sabiam.

Nossa tarefa é compor como a vida de nosso protagonista deve ter sido em sua infância e juventude, antes que um Cordeiro viesse e mudasse tudo. Encontramos João pela primeira vez nas páginas do Novo Testamento em Mateus 4.21. Ali lemos que no barco de pesca estavam “Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João”.

Estudiosos são quase unânimes em sua hipótese de que João era o irmão mais novo de Tiago. Nas referências mais antigas, ele é citado depois de seu irmão, Tiago, o que era, com frequência, uma indi-cação da ordem de nascimento, nas Escrituras e outras literaturas orientais antigas.

No mundo deles, se algum nome era mais comum do que Tiago (uma forma helenizada de Iakob, ou Jacó), era João. Como a família

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usava a língua hebraica, eles na verdade o chamavam de Jehohanan. Pode soar um pouco mais extravagante, mas o nome era tão comum quanto deveria ser. Não concordo com a ideia de que Tiago e João eram do tipo de meninos sobre quem os vizinhos refletiam: “Não posso esperar para ver em que eles se tornarão. Escute isso. Eles serão algo especial!” Aqueles que os observavam enquanto cresciam toma-vam por certo que os filhos de Zebedeu seriam pescadores. Assim como o pai.

Se estivermos certos e Tiago for o irmão mais velho, ele tinha a posição cobiçada na sequência da árvore genealógica. Direitos es-peciais e privilégios pertenciam a ele bem como um direito de pri-mogenitura que lhe garantia uma porção dobrada das posses de seu pai. O primogênito era um líder na família, comandando um certo respeito por uma posição que ele nada fez para obter. João? Ele era apenas o irmão mais novo.

A maioria de nós experimentou a ambiguidade de ser conhecido por pouco mais que nosso relacionamento com alguém. Amo ser a esposa de Keith Moore, mãe de Amanda e Melissa, e sogra de Curt, mas provavelmente porque vivi o bastante para calcular quem eu sou. Posso me lembrar de sentir-me perdida em uma lista comple-ta de irmãos em crescimento. Encontro recordações de minha mãe chamando cada nome em nossa grande família, menos o meu. Com frequência, eu sorria enquanto ela se esforçava na busca pelo correto e então, irritada, diria por fim: “Se estou olhando para você, estou falando com você!” Eu diria em meio a risadinhas: “Sim, mãe!” e saía correndo enquanto ela ainda estava fazendo o máximo para se lembrar do meu nome.

E você? Você pode se identificar? Já foi identificado pelo seu rela-cionamento com outras pessoas?

Algumas coisas sobre educar filhos devem ser universais. Cer-tamente, Zebedeu olhava direto para Jehohanan e acidentalmente chamava Iakob, às vezes. Se fosse o caso, o jovem João seria do tipo que deixaria isso passar despercebido ou ele teria dito: “Pai! Eu sou Jehohanan!” Estes são pensamentos que gosto muito de explorar de modo imaginário quando estudo um personagem.

De qualquer forma, sem dúvida João estava acostumado a ser o outro filho de Zebedeu e irmão mais novo de Tiago. Embora seu

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a i d e n t i d a d e d e f a m í l i a

nome fosse comum, o significado era extraordinário: “Deus é gra-cioso”.1 Crescendo na praia do mar favorito de Jesus, João não tinha ideia nesse ponto de quão gracioso Deus é. Ele logo teria um vis-lumbre.

João pode ter sido um nome ordinário para um menino ordiná-rio; mas com base em convicções maternais ao longo do tempo, po-demos ter absoluta certeza de que ele era excepcional para sua mãe. Descobriremos mais tarde em nossa jornada que ela não considerava nada bom demais para seus filhos. Quem era essa mulher, afinal, a esposa de Zebedeu e mãe de Tiago e João?

Vamos dar uma olhada adiante por um momento para fins de sua identificação. Comparando Mateus 27.55,56 e Marcos 15.40, aprendemos que seu nome provavelmente era Salomé. Muitos estu-diosos que tenho pesquisado acreditam que a mãe de João é positiva-mente identificada pelo nome no último versículo. Alguns eruditos vão até dizer que Salomé, na verdade, era irmã de Maria mãe de Jesus, com base em uma comparação com João 19.25: “E junto à cruz de Jesus estava sua mãe, e a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Clopas, e Maria Madalena”.

Como você pode ver, não temos como saber se João identificou três diferentes mulheres ou quatro. Maria, esposa de Clopas, poderia ter sido a identificada como tia materna de Jesus, mas duas irmãs chamadas Maria em uma mesma família parece um pouco peculiar. Por outro lado, esboçar uma conclusão incontestável de que Salo-mé era irmã de Maria a partir de listas de comparação como essas provavelmente é um risco. Embora eu não tenha dúvidas de que as famílias possam ter se conhecido e até mesmo serem relacionadas de alguma forma, sinto-me inclinada a concordar com R. Alan Culpe-pper, que escreveu: “Certamente, se João fosse primo irmão de Jesus, esse relacionamento teria sido reconhecido de modo mais proemi-nente nas tradições cristãs antigas sobre o apóstolo”.2

Como você e eu aprenderemos nos próximos capítulos, uma quantidade considerável de tradições foi registrada pelos pais da Igreja Primitiva sobre João, mas encontramos pouca menção a res-peito de ele ser primo de Jesus por parte de mãe. Decerto, não sou especialista, mas a partir do que tenho acumulado daqueles que são, escreverei como base na provável familiaridade existente entre as

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