O corpo no século XVIII
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O corpo normatizado
O corpo no século XVIII
O momento histórico das disciplinas é o momento em que nasce uma arte do corpo humano, que
visa não unicamente o aumento de suas habilidades, nem tampouco aprofundar sua
sujeição, mas a formação de uma relação que no mesmo mecanismo o torna tanto mais
obediente quanto é mais útil e inversamente.
Michel Foucault, Vigiar e Punir, 1975
A disciplina: a anatomia política do
detalhe e o humanismo moderno
1. A arte das distribuições: a disciplina, em primeiro lugar, distribui os indivíduos no espaço
• o encarceramento
• o quadriculamento: “cada indivíduo no seu lugar; e em cada lugar, um indivíduo.”
• as localizações funcionais
• a disposição em filas
“Pouco a pouco um espaço administrativo e político se
articula em um espaço terapêutico. Nasce da disciplina um
espaço útil do ponto de vista médico.”
A disciplina: a anatomia política do
detalhe e o humanismo moderno
1. A arte das distribuições: a disciplina, em primeiro
lugar, distribui os indivíduos no espaço
2. O controle da atividade:
• o horário
• a elaboração temporal do ato
A escola
“A ordenação por fileiras, no
século XVIII, começa a
definir a grande forma de
repartição dos indivíduos
na ordem escolar.”
“Assim afixada de maneira
perfeitamente legível a toda
série dos corpos singulares,
a força de trabalho pode ser
analisada em unidades
individuais.”
A fábrica
“Pouco a pouco um espaço administrativo e político se
articula em um espaço terapêutico. Nasce da disciplina um
espaço útil do ponto de vista médico.”
O hospital
“Um corpo bem disciplinado forma o contexto de
realização do mínimo gesto. Uma boa caligrafia, por
exemplo, supõe uma ginástica – uma rotina cujo rigoroso
código abrange o corpo por inteiro, da ponta do pé à
extremidade ao indicador.”
A disciplina: a anatomia política do
detalhe e o humanismo moderno
1. A arte das distribuições: a disciplina, em primeiro
lugar, distribui os indivíduos no espaço
2. O controle da atividade:
• o horário
• a elaboração temporal do ato
• o corpo e o gesto postos em relação
• articulação corpo-objeto
“O tempo penetra o corpo, e com ele todos os
controles minuciosos do poder.”
o complexo corpo-arma
A disciplina: a anatomia política do
detalhe e o humanismo moderno
1. A arte das distribuições: a disciplina, em primeiro
lugar, distribui os indivíduos no espaço
2. O controle da atividade:
• o horário
• a elaboração temporal do ato
• o corpo e o gesto postos em relação
• articulação corpo-objeto
• a utilização exaustiva
“Através desta técnica de sujeição, um
novo objeto vai-se compondo e
lentamente substituindo o corpo
mecânico – o corpo composto de sólidos
e comandado por movimentos, cuja
imagem tanto povoara os sonhos dos
que buscavam a perfeição disciplinar.”
A disciplina e o corpo
A disciplina: a anatomia política do
detalhe e o humanismo moderno
1. A arte das distribuições
2. O controle da atividade
3. A organização das gêneses• decompor o tempo em seqüências, separadas
e ajustadas• organizar essas seqüências segundo um
esquema analítico, segundo uma complexidade crescente
• finalizar esses segmentos temporais com uma prova
• estabelecer séries de séries
“O exercício, transformado em elemento de uma
tecnologia política do corpo e da duração, não culmina
num mundo além; mas tende para uma sujeição que
nunca deixou de se completar.”
A disciplina: a anatomia política do
detalhe e o humanismo moderno
1. A arte das distribuições
2. O controle da atividade
3. A organização das gêneses
4. A composição das forças:
• inserção do corpo-segmento em todo o conjunto
com o qual se articula
• o tempo de uns deve ajustar-se ao tempo de outros
de maneira a obter-se um resultado ótimo
• um sistema preciso de comando
Os recursos para um bom adestramento
1. A vigilância hierárquica
2. A sanção normalizadora
3. O exame
“Uma das grandes novidades nas técnicas de poder, no século XVIII, foi o surgimento da „população‟, como problema econômico e político: população riqueza, população mão-de-obra ou capacidade de trabalho.
(...)
É a primeira vez em que, pelo menos de maneira constante, uma sociedade afirma que seu futuro e sua fortuna estão ligados não somente ao número e à virtude dos cidadãos, não apenas às regras de casamentos e à organização familiar, mas à maneira como cada um usa seu sexo.”
Michel Foucault, História da sexualidade 1
O bio-poder
As funções da família
nos séculos XVIII e XIX
A „boa família‟ é o fundamento do Estado.
O casamento é o meio mais favorável para um bom
regime sexual – garantia de saúde.
No século XVIII a família incorpora dois elementos
novos: a preocupação com a higiene e a saúde
física.
“A nova sociedade assegurava a cada gênero de vida um
espaço reservado, cujas características dominantes
deviam ser respeitadas: cada pessoa devia parecer
com um modelo convencional, com um tipo ideal,
nunca se afastando dele, sob pena de excomunhão.
O sentimento da família, o sentimento de classe e talvez,
em outra área, o sentimento de raça surgem portanto
como as manifestações da mesma intolerância diante
da diversidade, de uma mesma preocupação de
uniformidade.”
Philippe Ariés, História social da criança e da família
A criança como ser social justifica a intervenção pública no
espaço privado: o filho é o futuro da nação e da raça,
produtor, reprodutor, cidadão e soldado do amanhã.
As mulheres e os médicos
A medicalização da família a partir da infância
burguesa: a prevalência da visão de puericultura do
médico
“O peso da autoridade médica sobre a vida privada
varia conforme a relação que se estabelece
entre o doutor e seus clientes; varia também
segundo a época.”
O projeto higienista
Nunca se insistirá o bastante sobre as incidências
desta ‘higiene familiar’. Variando conforme o
sexo, a idade, a posição, a profissão, o
temperamento e o clima, ela abrange todos os
aspectos da vida do grupo: a higiene corporal; a
higiene alimentar impondo um complexo
dietético; mas, ainda, um conjunto de
prescrições que visam ordenar a conduta.
Ariès e Duby (org.), História da vida privada
É certo que já entramos em sociedades de „controle‟ que já
não são exatamente disciplinares. Foucault é um dos primeiros
a dizer que as sociedades disciplinares são aquilo que
estamos deixando para trás, o que já não somos.
Gillles Deleuze, Conversações