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O CHAFARIZ DE BONSUCESSO
O chafariz de Bonsucesso: um monumento
da história e memória leopoldinense.
MANGUINHOS: história e memória de um bairro
O desenvolvimento da região da Leopoldina se deveu muito pela importância econômica do Porto de Inhaúma.
GEHAL
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Dezembro 2010 Ano 3 Nº 5
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O CHAFARIZ DE BONSUCESSO
O objetivo deste artigo é despertar o interesse
das pessoas para a realidade em que se encontra
aquele que foi um dos mais belos monumentos
do Bairro de Bonsucesso:o chafariz da Praça
das Nações .O chafariz, de autor
desconhecido,esculpido há 102 anos atrás, traz-
nos à memória a realização da Exposição
Nacional de 1908, ocorrida entre os morros da
Urca e da Babilônia na Praia Vermelha. Esse
chafariz, talvez o primeiro em ferro fundido a
ser executado no
Brasil, teve sua
fundição artística feita
pela Companhia
Nacional de Fundição,
em 1908. A peça foi
criada,pois, para a
Exposição Nacional,
promovida pelo
Governo Federal para
comemorar o
centenário da Abertura
dos Portos às nações
amigas.
A exposição tinha por
objetivo a
apresentação dos bens
naturais e dos produtos
manufaturados
brasileiros, oriundos de diversos estados da
federação. O chafariz, de certa forma,
representava a competição entre uma fundição
nacional e as famosas fundições do Val D’Osne
.Tal obra é, provavelmente, um dos últimos
exemplares daquela exposição.
Não se tem muito mais informação sobre esse
monumento, mas sabe-se que ele foi transferido
para o Largo do Maracanã, talvez para contrapor
com o chafariz de ferro francês existente desde
1917 na Praça Barão de Drumond, que na época
se chamava Praça 7, no final do Boulevard ,na
28 de setembro.
A informação que se tem é de que o chafariz foi
levado para Bonsucesso em 1936, por conta da
construção de uma estação elevatória da Cedae
.O chafariz de Bonsucesso era composto por
quatro bacias, com muita decoração de folhas
aquáticas, unido por uma coluna onde estão
fixados quatro golfinhos (símbolo da cidade)
diametralmente opostos. Tinha ao centro uma
coluna com vários elementos ornamentais: uma
guirlanda, que começa em sua base e em volta
desta coluna, chega ao topo, com uma figura de
mulher segurando uma luminária em forma de
globo. Os quatro golfinhos funcionavam como
dutos, por onde fluía a água. E este monumento
nos lembra por observação o estilo de Moreau
apesar de não ser possível afirmá-lo já que a
obra fora feita no Brasil. O Rio possui um
acervo de arte a céu aberto.
Pela descrição e fotos vemos que a coluna tem
6m de altura e as folhas se enrolam em espiral
até o capitel. A cerca de 2m do piso, outra bacia
recebia a água que jorrava de quatro garças.
Outro detalhe observado nas fotos do chafariz é
que o capitel imita o estilo. coríntio. Na parte
superior do capitel estava a estátua, agora
desaparecida. A Mulher da Luz sustentava com
o braço direito um globo luminoso. Era uma
escultura muito graciosa, com planejamento
virtuoso, sendo ela a melhor peça do chafariz.
Tinha 1,80m de altura e pesava 250kg.
. A exposição trouxe ao conhecimento do
público interessado uma quantidade
considerável de variadas manifestações
artísticas.O chafariz de Bonsucesso é uma delas.
Entretanto, as condições de preservação em que
se encontra o monumento traz-nos a proposta de
resgatar uma parte significativa da memória
patrimonial, artística e também problematizar a
questão da preservação de obras artísticas
públicas na região da Leopoldina . Em 1914, o
engenheiro Guilherme Maxwell, adquiriu terras
do antigo Engenho da Pedra, urbanizou-as e
depois as loteou. Então, eclodindo a Primeira
Guerra Mundial (1914-1918) nomeou os
logradouros com nomes de aliados do Brasil: a
França, Bélgica ,Estados Unidos e Inglaterra.
Assim surgiu a Praça das Nações e as avenidas
Paris, Londres e outras. A antiga Estrada do
Porto de Inhaúma que ligava o sertão ao mar,foi
rebatizada com o nome de Avenida Guilherme
Maxwell.A Praça das Nações só se tornaria
reconhecida como logradouro a partir de 1918 e
recebeu melhorias nas gerencias dos prefeitos:
Pedro Ernesto ( 1936-1937) e Mendes de Morais
(1948)
O Chafariz da Praça das Nações é,portanto, um
marco da época da Exposição Nacional de 1908.
A crescente industrialização que então se
operava é expressa no jornal “Careta” na
edição de sábado 06 de junho de 1908 que
mostrava as obras para tal realização
Hoje, em 2011, o monumento está fazendo 102
anos . Completamente depredado e esquecido
por muitos, apesar do seu inestimável valor
histórico e artístico, retrata a história de um
bairro carioca. Passamos por ele todos os dias e
o ignorando como se não existisse ,acabamos
por ignorar a nossa própria história patrimonial
urbana.
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“A curiosidade pelos lugares onde a memória se
cristaliza e se refugia está ligada a este
momento particular da nossa história” (NORA,
1984 )
O Rio de Janeiro é a segunda cidade no mundo a
possuir o maior número de peças escultóricas
em ferro fundido.. O Rio possui um acervo de
arte a céu aberto de cerca de 100 obras de
autores desconhecidos, de estrema beleza e
refinamento. As quatro garças do chafariz de
Bonsucesso infelizmente foram furtadas, Uma
foi recuperada e se encontra na
SECONSERVA, na Av. Presidente Vargas s/n,
no Parque Noronha Santos (próximo à Central
do Brasil). As gravuras mostram a beleza
artística deste monumento como ainda se
encontravam no ano de 1959.
As fotos de 1991 mostram a falta das garças e da
luminária em forma de globo no alto e assim
mais uma lacuna na memória das ricas
esculturas da região leopoldinense.
Recentemente o Monumento foi alvo de um
novo vandalismo com o roubo de partes da peça
que tinha 250 kg e 1,80 m de altura. (Jornal O
Globo, 09/10/2010, edição eletrônica),
descaracterizando mais ainda a originalidade e
beleza da peça.
Para reproduzir a réplica da escultura e a
restauração estética e funcional do chafariz da
Praça das Nações seria necessário cerca de R$
50.000,00.Entretanto, faltam 3 ( três) garças, que
chegam a um valor de R$8.000,00.Por outro
lado, restaurando a bacia danificada, somar-se-
ia mais R$ 4.000,00 além de todo equipamento
elétrico e hidráulico do chafariz, cujo custo
previsto é de R$ 20.000,00
Será necessário também investimento na
conscientização da população, educar as
pessoas, para que estas adquiram consciência
cidadã para honrar e preservar seu patrimônio e
história. Maravilhosas obras de artes, tal qual
o chafariz de Bonsucesso, estão sendo vitimados
pelo descaso, vandalismo e depredação. A falta
de cidadania, por parte de alguns, é um dos
fatores da não preservação da sua memória
local.
Entretanto,o descaso, o abandono, a
desvalorização, a falta de cidadania determinam
as conseqüências destrutivas das obras públicas
na cidade do Rio de Janeiro ou em qualquer
lugar do mundo. Em contrapartida o cuidado, a
valorização e a cidadania reavivarão a beleza
artística e escultórica das obras de ferro fundido
e também, o testemunho histórico que o
monumento representa.
Entretanto, será necessário um investimento
financeiro para reconfigurar e restaurar o
monumento e inculcar desde já, na mente das
comunidades locais a cidadania, que nos leva ao
nível de verdadeiros protetores da nossa própria
memória.
A Dra.Vera Dias, Diretora da Fundação Parques
e Jardins ressalta que o “patrimônio histórico
compreende a criação arquitetônica que dá
testemunho de uma civilização, de uma
evolução significativa ou de um acontecimento
histórico que com o tempo adquirem uma
significação cultural(...) Preservar os
monumentos significa deixar para as gerações
futuras o legado do nosso passado bem como
dar identidade a cada cidadão. Oferecer folhetos
aos moradores do Bairro da Leopoldina
(insistentemente) com o nome, localização dos
monumentos da área até mesmo em sacolas de
supermercado ou folhetos nas residências
ajudaria na conscientização dos moradores da
região da Leopoldina.”
______________________________________________________________________
Elizeu Fernandes Gonçalves é aluno do 5º período de História da UNISUAM
Documento sobre a obra da X RA (Região Administrativa) cedido pela Fundação Parques e Jardins
(SECONSERVA).Cópia cedida para consulta.
REVISTA DE HISTÓRIA DA BIBLIOTECA NACIONAL. Rio de Janeiro: SABIN, ano 4, nº. 43, Abr. 2009. pp58-63.
CARETA. Rio de Janeiro, jun 1908. (disponível na Biblioteca Nacional Digital http:// )
O GLOBO. Rio de Janeiro, out 2010 ( edição eletrônica, acesso dia 08/10/2010 às 14:00 Hs)
SECRETARIA MUNICIPAL DE GOVERNO ( http://www2.rio.gov.br, link história dos bairros)
Carta Régia de 28/01/1808 ( de D. João VI ao Conde da Ponte, Biblioteca Nacional Digital, http://www.bndj)
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MANGUINHOS:
história e memória de um bairro
A história de Manguinhos está ligada à trajetória
histórica da cidade do Rio de Janeiro, com sua
divisão de bairros e segregação das pessoas que
saíam do centro para a periferia, motivados pela
epidemia de febre amarela ocorrida em 1870,
que causou 1.118 óbitos na cidade. Entre 1873 e
1876, mais duas epidemias, violentas,
ocasionaram mais mortes. Tais fatos implicaram
em muitas discussões em torno do saneamento
da capital do Império do Brasil. Começava
assim, a se delinear a polêmica em torno da
viabilidade e conveniência de se remover a
grande massa proletária do centro para as zonas
periféricas, exatamente no momento em que as
companhias de serviços públicos estendiam suas
linhas e canalizações em direção à zona norte e
sul da cidade. Uma sessão extraordinária da
Academia Imperial de Medicina em 1873,
afirmou que a epidemia era a “mais grave e
mortífera das que já no país tem havido”.
Médicos foram chamados para sugerir medidas
emergenciais: foi determinado a irrigação e
asseio das ruas e praças públicas; a saída dos
navios estacionados no porto; a retirada dos
imigrantes para fora da cidade e do município; a
nomeação de comissões paroquiais para socorrer
as vítimas do flagelo; a abertura do Hospital de
Santa Isabel; a inspeção dos cortiços visando a
sua remoção ou a diminuição do número de
moradores e também o aconselhamento à
população.
O primeiro plano urbanístico que teve o
Rio de Janeiro remonta justamente à década de
1870. Coincide com os anos mais prósperos – e
mais epidêmicos – do segundo Reinado, quando
a lavoura escravista do café no Vale do Paraíba
ainda alcançava boas possibilidades de
expansão e o Rio de Janeiro impunha-se como o
grande empório comercial do país.
Quanto à região onde se localiza
Manguinhos, a origem diz respeito às freguesias –
utilizada nos tempos coloniais pela Igreja Católica
para delimitar suas jurisdições eclesiásticas na
cidade e que depois da criação do Município Neutro,
no Império, passou a designar as divisões
administrativas do Rio de Janeiro. Há mais ou
menos um século e meio atrás naquela região havia
muitos mangues, por esta razão, o nome
Manguinhos.
O recorte da região onde se localiza
Manguinhos nos remete à Freguesia de Inhaúma,
criada em 1793, primeiramente com a denominação
de anhumas ou inhuma – nome de uma ave preta
comum naqueles lugares pantanosos. Ainda em
1565, Estácio de Sá concedeu duas sesmarias na
região – que eram extensas doações de terra
concedidas pela coroa portuguesa, durante o período
colonial, sendo uma a dos Jesuítas que daria origem
à Fazenda do Engenho Novo e a outra de Antônio da
Costa, futuro Engenho da Pedra. Ali predominaram
as lavouras açucareiras voltadas para a exportação,
do século XVI ao XVIII. Foi intensa, também, a
navegação de cabotagem entre as praias urbanas do
Peixe e Saúde com os portos Maria Angu e Inhaúma
e com os rios Faria, Jacaré e Timbó, por onde as
pequenas falésias( rochas à beira do mar ) e canoas
penetravam até o âmago do sertão carioca.
Manguinhos, como qualquer área
considerada favela, no Rio de Janeiro, sofreu com a
dessimetria e com o descompasso entre a formulação
e a prática das políticas públicas, fossem elas de
cunho habitacional ,urbanas ou sociais. O bairro hoje
faz parte da X Região Administrativa, sediada em
Ramos, e está entre os bairros de Benfica, Caju,
Jacaré, Maria da Graça, Higienópolis, Bonsucesso e
Ramos e é uma área do subúrbio carioca
leopoldinense próxima à baía de Guanabara que
apresenta uma densa ocupação popular ,onde se
localizam várias empresas e indústrias.
O seu reconhecimento como bairro deu-se
em 1988 e a situação das 12 comunidades
compreendidas neste espaço delimitado de forma
administrativa e geográfica não foram alteradas.
Essa nova configuração procurou sinalizar que a
região, com suas favelas, a partir de então, estaria
“inserida” na cidade.
Ao longo da sua trajetória histórica
apresenta realidades que enfocam o lado humano de
sua existência, numa viagem que vai do Rio de
Janeiro Colônia à República, sem saneamento e
infra-estrutura necessários à população. Entretanto,
não podemos esquecer a ação transformadora de
Oswaldo Cruz e o maior projeto arquitetônico e de
saúde do bairro: a Fundação Oswaldo Cruz, a maior
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instituição de saúde do Brasil e da América
Latina, reconhecida mundialmente.
Em cem anos de ocupação paulatina
foram elaborados projetos visando a transformar
a região, pela via do saneamento, do
planejamento urbano, do zoneamento e da
industrialização, em “uma zona digna de figurar
entre as melhores urbanizadas” (Reis, 1943:94).
O resultado, por motivos diversos, não se deu
como previsto nos vários projetos e a situação de
pobreza e de abandono de tais comunidades foi o
reflexo das propostas frustradas e das relações
conflituosas por interesses antagônicos.
Entretanto ,é importante ressaltar que
não só de favelização ou de tráfico vive
Manguinhos. Ele tem uma história marcante e
viva dentro da alma dos seus moradores,
subdivididos em várias comunidades.
A história desse bairro se entrelaça com
a da Fiocruz, que não teria lugar mais adequado
a ocupar: no seio de uma sociedade que
sobrevive entre a pobreza e a ciência.Tal
contraste , a Fiocruz, ao longo da sua trajetória,
vem tentando mudar, com projetos voltados para
essas comunidades, a fim de trazer-lhes quem
sabe, um futuro melhor. Por ser próxima, ela se
articula constantemente com os moradores, já
que as comunidades localizam-se nas
proximidades do “campus” da Fundação. Num
contexto de inserção, os moradores das
comunidades do bairro se tornam atores
políticos, reivindicando sua participação nas
políticas públicas, através de órgãos de
representação local. Assim, a Fiocruz vem
integrando à sociedade projetos sociais de cunho
referencial, numa vontade constante de tornar
melhor a convivências das famílias dentro de
uma concepção de cidadania. Como exemplo
citamos: Teias-Escola Manguinhos (Território
integrado de atenção à Saúde); Oficina Escola de
Manguinhos (Educação profissional em
conservação e restauração de bens culturais
imóveis para jovens dos Complexos de
Manguinhos e da Maré); Oficina Artesanal
(voltada para 795 mulheres e homens do
complexo de Manguinhos); Bazar da
Solidariedade (desde 1998 atende a famílias de
portadores de HIV/Tuberculose/Dependência
química); Ateliê da Saúde (atende pacientes de
assistência psicológica do Ipec). Esses são apenas
alguns exemplos do papel social que a Fiocruz tem
em parceria com a comunidade de Manguinhos.
Como toda boa discussão histórica, na
vontade de minimizar a “favelização”, deparamo-nos
com ações da Igreja e do Estado, na perspectiva de
negociar a cumplicidade entre o poder público e a
comunidade. Nesse embate, a reurbanização de
Manguinhos nos remete a um recorte da formação da
sociedade brasileira- seja colonial,imperial ou
republicana.O homem tem atuado sobre a história de
maneira transformadora,mas a possibilidade de
atuação e transformação é limitada ou ampliada
conforme a própria conjuntura histórica existente.
O desejo de um lar, de ocupar uma terra
onde não havia nada, de marcar um pedacinho para
morar e de construir um “lugar”, fez surgirem vários
“lugares” que passaram a se chamar favela. Assim
temos uma breve concepção de Manguinhos.
Sheyla Cristina Borges Linhares é aluna do 5º período de História da UNISUAM
REFERÊNCIAS
1 - FERNANDES, Tânia Maria; COSTA, Renato Gama-Rosa. Histórias de pessoas e lugares: memórias das
comunidades de Manguinhos. Rio de Janeiro: Ed. Fiocruz, 2009. 232 p.
2 - BENCHIMOL, Jaime Larry. Pereira Passos: um Haussmann Tropical. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de
Cultura, 1992. 358 p. (Biblioteca Carioca; v.11)
3 - BENCHIMOL, Jaime Larry. Manguinhos do sonho à vida: a ciência na Belle Époque. Rio de Janeiro: Casa de
Oswaldo Cruz, 1990. 250 p.
4 - OLIVEIRA, Benedito Tadeu de (coord.); COSTA, Renato da Gama-Rosa; PESSOA, Alexandre José de Souza.
Um lugar para a ciência: a formação do campus de Manguinhos. Rio de Janeiro: Ed. Fiocruz, s.d. (Coleção História e
Saúde)
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O PORTO DE INHAÚMA E O DESENVOLVIMENTO
DA REGIÃO DA LEOPOLDINA (I)
“A memória, onde cresce a história, que por sua vez a alimenta, procura salvar o passado para
servir o presente e o futuro.” (LE GOFF, 1994, p.477)..
“É de concluir-se que Inhaúma teria sido uma aldeia de Tamoios, pelo que se chamará antes
“Tapéra”,aliás,figurando,assim,na carta de sesmaria concedida a jesuítas,em 1555,por Estácio
de Sá, - “cem braças ao longo do mar e mil pela terra a dentro da tapera de Inhaúma”. Havia
varios portos.Nas cartas se vêem,no litoral,o nome da grande freguesia varias veses
repetido:”Porto de Inhaúma”,Saco de Inhaúma”,Bonsucesso de Inhaúma”,etc,Para o
mar,logo,os Jesuítas abriram caminhos,seis anos depois, - o de freguesia,antes Inhaúma,e que
passando por Bonsucesso,ia ter ao porto principal.Outro rasgo na floresta, - para a grande
estrada que ia á cidade, - a de Santa Cruz.Conservou esse caminho longos anos”.(Almanaque
Suburbano,ano I nº I,p.50,1941)
O desenvolvimento da região da Leopoldina
se deveu muito pela importância econômica
de suas Freguesias, de seus rios e
particularmente do Porto de Inhaúma,
responsável pelo transbordo de produtos
agrícolas entre os Engenhos da região e o
Porto Carioca.Procuraremos mostrar neste
artigo como esta região se tornou importante
para o abastecimento da Cidade do Rio de
Janeiro,pois acreditamos que não podemos
falar do seu desenvolvimento sem pensar
nos meios de transportes e nas micro-
relações econômicas,políticas e sociais que
permitiram que a mesma pudesse contribuir
de alguma forma para o crescimento
econômico e urbano da cidade. A criação do
referido porto ,o surgimento do subúrbio da
Leopoldina em fins dos séculos XIX e inicio
7
do XX ,a construção da Estrada de Ferro
Leopoldina em 1886 foram marcos
importantes para o crescimento urbano do
Rio de Janeiro e conseqüentemente
transformadores da estrutura fundiária nas
até então consideradas Freguesias Rurais,
que aos poucos foram sendo fragmentadas e
cedendo lugar às pequenas propriedades.
A importância histórica desta região
remonta à abertura de caminhos, aos rios
navegáveis e particularmente à criação do
Porto de Inhaúma no século XVI,logo após
a concessão destas terras aos Jesuítas pelo
então Provedor Cristovão de Barros.O
cronista Dias da Cruz relata no
“Almanaque Suburbano”, que os Jesuítas
rasgaram a floresta e abriram três caminhos
dentro da cidade: um passando por
Bonsucesso que ligava o Porto Carioca a
Santa Cruz, posteriormente conhecida como
Estrada Real, hoje Avenida Dom Helder
Câmara;um segundo para a Rua
Matacavalos, hoje Rua do Riachuelo até o
Engenho Velho (atual bairro de São
Francisco Xavier); o terceiro ia do Castelo
para o Flamengo e Botafogo indo até a atual
Lagoa Rodrigo de Freitas.Esses caminhos
permitiam a comunicação de suas sesmarias
com o centro do Rio de Janeiro, por onde
eram escoadas toda a produção de açúcar,
aguardente,gêneros alimentícios em geral
assim como tijolos e madeiras provenientes
dos Engenhos, que se faziam chegar a pé ou
a cavalos ou ainda pelos inúmeros rios que
cortavam essas regiões,onde eram
transportados por canoas,barcos e barcaças
até o Porto de Inhaúma e deste para o Porto
Carioca.Servia também este Porto de
comunicação com as varias ilhas existentes
na Baia da Guanabara,interligando-se aos
portos do Caju,São Cristóvão, Porto de
Maria Angu e Irajá,sendo responsável não
só pelo transporte de produtos agrícolas mas
também pelo de passageiros das pequenas
propriedades e granjas localizadas em torno
da Enseada de Inhaúma assim como no
interior das freguesias.
“Inhaúma foi uma grande zona
agrícola, das primeiras estabelecidas
nas terras suburbanas. Iniciou-se
sua história em 1687”. (Almanaque
suburbano, ano I nº I, p.50, 1941)
Hoje, observando o final da Avenida
Maxwell e seu cruzamento com a Rua Praia
de Inhaúma na atual comunidade da Maré já
não é mais possível encontrar vestígios do
que outrora fora o Porto de Inhaúma. Criado
ainda no século XVI, este Porto teve uma
grande importância econômica para o
abastecimento da cidade do Rio de Janeiro
durante o ciclo do açúcar,do ouro e do
café.Foi fundamental para o
desenvolvimento do subúrbio da Leopoldina
tal qual a conhecemos hoje. Os transportes
hidroviários e terrestres existentes nos
séculos XVI, XVII e XVIII,foram sendo
substituídos ao longo do século XIX e XX
pelas ferrovias mais rápidas e seguras.
Diminuindo gradativamente a importância
deste porto na região, passou este a abrigar
a colônia de pescadores Z 6 no fim do
século dezenove. Posteriormente
desapareceu por completo com os
constantes aterros em meados do século XX.
O Porto de Inhaúma hoje, existe apenas na
memória de antigos moradores da
comunidade da Maré.
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Verônica Lima e Silva é aluna do 6º período do Curso de História da UNISUAM
Bibliografia :
Revista O Almanaque Suburbano IHGB.Ano 1,nº 1,1941
http://www.portosrio.gov.br/node/4
Barreiros,Eduardo Canabrava,Atlas da Evolução Urbana do Rio de Janeiro.Rio de
Janeiro:IHGB,Ensaio.1565-1965.prancha 5.p.10.
SANTOS,Noronha,as freguesias do Rio Antigo.edições O Cruzeiro,1965).
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FOTOS DO CHAFARIZ DE BONSUCESSO
O chafariz visto por baixo da bacia: uma iconografia que lembra uma concha e sobreposta plantas aquáticas. (Foto
09)
O chafariz visto por baixo da bacia: uma iconografia que lembra uma concha e sobreposta plantas aquáticas. (Foto 09)
EXPEDIENTE: OFICINA DE HISTÓRIA E MEMÓRIA DA REGIÃO LEOPOLDINA N° 5
CURSO DE HISTÓRIA
CENTRO UNIVERSITÁRIO AUGUSTO MOTTA – UNISUAM
COORDENADORA DO PROJETO: PROFª. RUBENITA VIEIRA CLEMENTE
COORDENADORA DO CURSO DE HISTÓRIA: PROF.ª ADRIANA PATRÍCIA RONCO
ALUNOS COLABORADORES: ELIZEU FERNANDES GONÇALVES / SHEYLA CRISTINA BORGES LINHARES / VERÔNICA LIMA E SILVA
EDIÇÃO VISUAL: PROFº ADALBERTO LARROQUE
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