o céu do miniestúdio

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o céu do miniestúdio Inverno de 2011 23°33'28.67" S 46°41'14.53" W

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Catálogo do céu de SP no Inverno de 2011

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o céu do miniestúdio

Inverno de 201123°33'28.67" S46°41'14.53" W

Lucas Odahara - Agosto de 2011

O céu tem me acompanhado de perto.Muito mais do que um pano de fundo recortado pela ambição da arquitetura modernista paulistana,foi nele que encontrei o reflexo da minha própria natureza.Um fluxo contínuo e intermitente,que revela como única certeza a sua própria mutação.O sutil e constante fluxo de cores;Formas e desformas das nuvens; Alternãncia eterna entre o claro e o escuro.Um espelho do meu devir.

No Miniestúdio o céu é atração principal. Estúdio localizado na cidade de São Paulo, onde o céu diminui de tamanho a cada nova grande empreitada da Engenharia Civil, o estúdio possui uma vista privilegiada do céu da capital. Um espetáculo que todos os dias compete e ganha da mol-dura formada pela arquitetura paulistana de concreto e vidro. Um lugar onde ainda é possível, em meio às turbulen-tas jornadas de trabalho em frente ao computador, que a cada mudança de cor, luz e forma do lado de fora da janela, se possa ouvir: “Gente, olha o céu!”. E é nesse momento que o Design acontece. No desvio do olhar do monitor para a janela e na pura contemplação de um frame do projeto sem fim. Um projeto que não nasce ali dentro, mas que força a sua entrada na percep-ção de cada um dos ali presentes e que acaba fazendo parte natural da nossa constituição como seres criativos, como seres viventes. Esse é o projeto que eu venho capturando nos últimos 3 meses. Snapshots desses momentos de contemplação do mutável céu do Miniestúdio, que acabou se transfor-mando em um catálogo de nada mais do que frames de um projeto que o Miniestúdio não controla, mas que fe-lizmente tem a honra de contemplar.

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“Nuvens... Hoje tenho consciência do céu, pois há dias em que o não olho mas sinto, vivendo na cidade e não na natureza que a inclui. Nuvens... São elas hoje a principal realidade, e preocupam-me como se o velar do céu fosse um dos grandes perigos do meu destino. Nuvens... Passam da barra para o Castelo, de ocidente para oriente, num tumulto disperso e despido, branco às vezes, se vão esfarrapadas na vanguarda de não sei quê; meio-negro outras, se, mais lentas, tardam em ser varridas pelo vento audível; negras de um branco sujo, se, como se quisessem ficar, enegrecem mais da vinda que da sombra o que as ruas abrem de falso espaço entre as linhas fechadoras da casaria. Nuvens... Existo sem que o saiba e morrerei sem que o queira. Sou o intervalo entre o que sou e o que não sou, entre o que sonho e o que a vida fez de mim, a média abstracta e carnal entre coisas que não são nada, sendo eu nada também. Nuvens... Que desassossego se sinto, que desconforto se penso, que inutilidade se que-ro! Nuvens... Estão passando sempre, umas muito gran-des, parecendo, porque as casas não deixam ver se são menos grandes que parecem, que vão a tomar todo o céu; outras de tamanho incerto, podendo ser duas juntas ou uma que se vai partir em duas, sem sentido no ar alto contra o céu fatigado; outras ainda, pequenas, parecendo brinquedos de poderosas coisas, bolas irregulares de um jogo absurdo, só para um lado, num grande isolamento, frias.

Nuvens... Interrogo-me e desconheço-me. Nada te-nho feito de útil nem farei de justificável. Tenho gasto a parte da vida que não perdi em interpretar confusamen-te coisa nenhuma, fazendo versos em prosa às sensações intransmissíveis com que torno meu o universo incóg-nito. Estou farto de mim, objectiva e subjectivamente. Estou farto de tudo, e do tudo de tudo. Nuvens... São tudo, desmanchamentos do alto, coisas hoje só elas reais entre a terra nula e o céu que não existe; farrapos indes-critíveis do tédio que lhes imponho; névoa condensada em ameaças de cor ausente; algodões de rama sujos de um hospital sem paredes. Nuvens... São como eu, uma passagem desfeita entre o céu e a terra, ao sabor de um impulso invisível, trovejando ou não trovejando, alegran-do brancas ou escurecendo negras, ficções do intervalo e do descaminho, longe do ruído da terra e sem ter o silêncio do céu. Nuvens... Continuam passando, conti-nuam sempre passando, passarão sempre continuando, num enrolamento descontínuo de meadas baças, num alongamento difuso de falso céu desfeito.

BERNARDO SOARESFernando pessoa

PESSOA, Fernando. 1982. O livro do desassossego.

“Como só existe um céu, a repetição do trigrama Ch’ien, que tem o céu como imagem, indica o movimento do céu. Uma rotação completa do céu constitui um dia e a repe-tição do trigrama significa que os dias se seguem uns aos outros. Isso gera a idéia de tempo. Já que é o mesmo céu que se move com poder incansável, sugere também a idéia de duração tanto no tempo como além dele, um mo-vimento que jamais se detém ou reduz seu ritmo, assim como os dias seguem-se uns aos outros continuamente. Essa duração no tempo é a imagem da força inerente ao Criativo. O sábio extrai dessa imagem o modelo segundo o qual ele deverá desenvolver-se de modo a tornar sua influência duradoura. Ele deve tornar-se integralmente forte, eli-minando de maneira consciente tudo que é degradante e inferior. Assim, ele se torna incansável em virtude de uma limitação consciente de seu campo de atividade.”

O movimento do céu é poderoso.Assim, o homem superior torna-se forte e incansável.I CHING, o livro das mutações

ch’ien, o criativo, céu.

WILHELM, Richard. 2006. I CHING - O livro das mutações. São Paulo. Pensamento

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29 de Julho, 18:41:42

Aos que, em meio a tantos verbos que aterrorizam o nosso cotidiano, ainda conseguem incluir em suas

vidas paulistanas o verbo contemplar.

Rodrigo pimentahaná vaisman

priscilla CoradetteDiogo lopes

25 de Agosto, 14:35:03 - 18:26:49

Lucas Odahara - Agosto de 2011São Paulo, Brasil