O Centro - n.º 41 – 02.01.2008

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DIRECTOR JORGE CASTILHO | Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia | Autorizado a circular em invólucro de plástico fechado (DE53742006MPC) ANO II N.º 41 (II série) De 2 a 15 de Janeiro de 2008 1 euro (iva incluído) Telef.: 239 854 150 Rua da Sofia, 95 - 3.º - 3000-390 COIMBRA EMENTAS ROMANAS E DAS TERRAS DE SICÓ PARA MARCAÇÕES: 969 453 735 A NATUREZA, A HISTÓRIA E A GASTRONOMIA ALIAM-SE PARA UMA EXPERIÊNCIA MEMORÁVEL EM CENÁRIO ÚNICO O local ideal para almoços e jantares de confraternização (condições especiais para grupos) Sócrates: um amor europeu O “Centro” escolheu José Sócrates como a Personalidade do Ano de 2007, pelo bom desempenho na Presidência da União Europeia. E para simbolizar o amor de Sócrates pela Europa e o seu empenho na construção europeia, entendemos ser esta imagem (da Agência Lusa) particularmente feliz. PÁG. 13

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Versão integral da edição n.º 41 do quinzenário “O Centro”, que se publica em Coimbra. Director: Jorge Castilho. 02.01.2008. Site do Instituto Superior Miguel Torga: www.ismt.pt Visite outros sítios de Dinis Manuel Alves em www.mediatico.com.pt , www.slideshare.net/dmpa, www.youtube.com/mediapolisxxi, www.youtube.com/fotographarte, www.youtube.com/tiremmedestefilme, www.youtube.com/discover747 , http://www.youtube.com/camarafixa, , http://videos.sapo.pt/lapisazul/playview/2 e em www.mogulus.com/otalcanal Ainda: http://www.mediatico.com.pt/diasdecoimbra/ , http://www.mediatico.com.pt/redor/ , http://www.mediatico.com.pt/fe/ , http://www.mediatico.com.pt/fitas/ , http://www.mediatico.com.pt/redor2/, http://www.mediatico.com.pt/foto/yr2.htm , http://www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/foto/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/luanda/ , http://www.biblioteca2.fcpages.com/nimas/intro.html

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DIRECTOR JORGE CASTILHO

| Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia |Autorizado a circular em invólucrode plástico fechado (DE53742006MPC)

ANO II N.º 41 (II série) De 2 a 15 de Janeiro de 2008 � 1 euro (iva incluído)

Telef.: 239 854 150Rua da Sofia, 95 - 3.º - 3000-390 COIMBRA

EMENTAS ROMANAS E DAS TERRAS DE SICÓ PARA MARCAÇÕES: 969 453 735

A NATUREZA, A HISTÓRIA E A GASTRONOMIA ALIAM-SE PARA UMA EXPERIÊNCIA MEMORÁVEL EM CENÁRIO ÚNICO

O local ideal para almoços e jantares de confraternização(condições especiais para grupos)

Sócrates: um amor europeu

O “Centro” escolheu José Sócrates como a Personalidade do Ano de 2007, pelo bom desempenho na Presidência da União Europeia.E para simbolizar o amor de Sócrates pela Europa e o seu empenho na construção europeia, entendemos ser esta imagem(da Agência Lusa) particularmente feliz. PÁG. 13

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2 DE 2 A 15 DE JANEIRO DE 2008

Director: Jorge Castilho(Carteira Profissional n.º 99)

Propriedade: AudimprensaNif: 501 863 109

Sócios: Jorge Castilho e Irene Castilho

Inscrito na DGCS sob o n.º 120 930

Composição e montagem: AudimprensaRua da Sofia, 95, 3.º - 3000-390 CoimbraTelefone: 239 854 150 - Fax: 239 854 154e-mail: [email protected]

Impressão: CORAZE - Oliveira de Azeméis

Depósito legal n.º 250930/06

Tiragem: 10.000 exemplares

OPINIÃO

No sentido de proporcionar mais al-guns benefícios aos assinantes destejornal, o “Centro” estabeleceu umacordo com a livraria on line“livrosnet.com”.

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Mas este desconto não se cinge aoslivros, antes abrange todos os produtoscongéneres que estão à disposição na li-vraria on line “livrosnet.com”.

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Adquira livros com 10% de desconto

Já lá vai 2007, tendo deixado pou-cas saudades.

Foi um ano difícil, para quase to-dos em quase todo o Mundo.

Os balanços têm vindo a ser fei-tos pela generalidade dos órgãos decomunicação social, pelo que nãofaria sentido estar aqui a derramarcatadupas de factos.

Opto, por isso, por me solidarizarcom todos aqueles para quem 2007foi, tal como para mim, um ano deperda de familiares e de amigos.

Quase todos de forma prematu-ra, mesmo quando não inesperada(apesar do avanço da Medicina, con-tinua a haver doenças que não sedeixaram ainda dominar pelo conhe-cimento humano e se mantêm comodolorosa prova da supremacia daNatureza).

Ontem chegou um novo ano.E com ele vieram os projectos, os

propósitos de mudança, de correc-ção de desvios aos rumos que sabe-mos serem os mais adequados.

Em coisas tão simples como o es-tilo de vida pouco sensato que dei-xamos que o quotidiano nos vá im-pondo (e que se revela desde os ali-mentos que ingerimos até ao escas-so descanso que a nós próprios con-cedemos, num permanente desafioque não raro tem desfecho poucofeliz).

Mas os inícios de ano têm, pelomenos, uma enorme virtude: a de noslevarem a renovar os votos de espe-rança, nos mais diversos domínios.

E de tantos compromissos queconnosco assumimos, pelo menosalguns havemos de cumprir...

Esse é, seguramente, o desejo decada um de nós.

Oxalá 2008 seja, para si, Leitor,um ano benfazejo!

Mas dê-lhe uma ajudinha...

Jorge [email protected]

A área da Justiça será marcada em2008 pelo novo mapa judiciário e novaLei Orgânica da Polícia Judiciária,bem como por alterações à acção exe-cutiva, à lei do apoio judiciário e àtabela de custas judiciais.

No âmbito das reformas legislati-vas, entraram ontem (1 de Janeiro)em vigor as alterações ao Código deProcesso Civil, com o objectivo de“simplificar e racionalizar” o regimede recursos cíveis e resolver confli-tos de competência entre tribunais.

A reforma do mapa judiciário, umamatéria constante do Pacto da Justi-ça celebrado entre PS e PSD, prevêa conversão das 230 comarcas actu-almente existentes em 35 tribunais re-gionais, devendo esta mudança inici-ar-se com uma experiência-piloto.

No novo modelo organizativo avan-ça-se com a criação da figura do “ad-ministrador de tribunal”, que assumi-rá a responsabilidade de gestão, a pardo juiz-presidente.

No domínio de novos equipamen-tos, prevê-se o arranque da constru-ção dos Campus de Justiça do Porto,Lisboa e Coimbra, que são instalaçõesde serviços judiciais integrados, ondeno mesmo edifício irão funcionar Tri-bunais de Família, Civil, Criminal, Ad-ministrativo e Fiscal e serviços comoNotariado, entre outros.

Aveiro, Faro e Leiria são tambémcidades abrangidas pelo conceito dosCampus de Justiça, encontrando-seestes já em fase de projecto e desen-volvimento.

Uma nova organização territorial,especialização e modernização dasestruturas judiciais e criação nos cen-tros urbanos de Campus da Justiçasão alguns dos traços gerais do con-ceito “Tribunal XXI”, uma das apos-tas centrais do Programa para a Mo-dernização do Sistema Judicial, a im-plementar pelo Governo até 2009.

O orçamento da Justiça para 2008prevê um investimento superior a 53milhões de euros para construção, re-modelação e reforço das condições de

Mudanças na Justiça em 2008segurança e sanitárias dos estabele-cimentos prisionais.

Está prevista a construção dos no-vos Estabelecimentos Prisionais deAngra do Heroísmo, Castelo Branco,Coimbra, Elvas, Grândola, Leiria, Li-nhó (Sintra), Ponta Delgada e Vale doTejo.

2008 deverá ser o ano em que, fi-nalmente, será erradicado o balde hi-giénico nas prisões portuguesas, de-pois de em Julho de 2005 o Ministérioda Justiça (MJ) ter anunciado um in-vestimento de 17,5 milhões de eurospara, até final de 2007, acabar comaquilo que recentemente, nos Açores,o ministro Alberto Costa classificou de“chaga e flagelo”.

No capítulo das medidas e penas al-ternativas à prisão, estão contempla-dos para 2008 seis milhões de eurospara o alargamento da aplicação davigilância electrónica até duas mil pul-seiras.

Nos tribunais, o Ministério da Jus-tiça prevê investir, em 2008, um mi-lhão de euros em novos equipamen-tos de comunicações e cerca de 1,3milhões de euros em plataformas in-formáticas e digitais.

Na área da segurança, o MJ prevêinvestir meio milhão de euros na insta-lação de novos equipamentos de vídeo-vigilância em mais de 20 edifícios.

A aposta passa, também, pela in-vestigação criminal, com o reforço dasverbas destinadas à Polícia Judiciária,Procuradoria-Geral da República(mais 10,6 por cento) e MinistérioPúblico.

2008 será o ano em que o Governopretende aplicar as alterações às ac-ções executivas que prevêem que osadvogados possam assumir funçõesde agente de execução, numa acçãopara cobrança de dívidas.

A proposta pretende tornar as exe-cuções judiciais mais simples, mais efi-cazes e evitar acções judiciais desne-cessárias.

Neste âmbito, cria-se também a pos-sibilidade de existência de centros de

arbitragem, na tentativa de descon-gestionar os tribunais comuns.

Com o objectivo de também descon-gestionar os tribunais, o Conselho deMinistros de 27 deste mês aprovou odecreto-lei que cria quatro novos Jul-gados de Paz, entre os quais o Julga-do de Paz de Odivelas e o Julgado dePaz do Agrupamento dos Concelhosde Palmela e Setúbal.

O diploma prevê ainda a criação doJulgado de Paz do Agrupamento dosConcelhos de Aguiar da Beira, Penal-va do Castelo, Satão, Trancoso e VilaNova de Paiva e o Julgado de Paz doAgrupamento dos Concelhos de Aljus-trel, Almodôvar, Castro Verde, Mér-tola e Ourique.

Com este alargamento, a rede dosJulgados de Paz passa a ter 20 unida-des, abrangendo 43 concelhos e umapopulação superior a 2,7 milhões dehabitantes, segundo o Ministério daJustiça.

Por outro lado, para 2008 está pre-vista a aplicação da nova Lei Orgâni-ca da Polícia Judiciária (PJ), diplomaque cria unidades especializadas parao combate ao terrorismo, ao tráfico dedroga e corrupção e crimes conexos,além de introduzir uma nova raciona-lidade nas estruturas regionais e lo-cais.

Segundo a proposta de lei, confia-se à PJ a responsabilidade de assegu-rar o gabinete da Europol e da Inter-pol e, a nível interno, consagra-se aarticulação do sistema de informaçãocriminal da Judiciária com os sistemasde informação de outras forças poli-ciais.

No campo das reformas, 2008 seráainda o ano de dotar o Conselho Su-perior da Magistratura (órgão de ges-tão, administração e disciplina dos ju-ízes) de autonomia administrativa e fi-nanceira.

Em 2008 deverá finalmente termi-nar o julgamento do processo de pe-dofilia da Casa Pia de Lisboa, o maismoroso da Justiça portuguesa e quejá dura há mais de três anos.

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3DE 2 A 15 DE JANEIRO DE 2008

O jornal “Centro” tem uma alician-te proposta para si.

De facto, basta subscrever uma as-sinatura anual, por apenas 20 euros,para automaticamente ganhar uma va-liosa obra de arte.

Trata-se de um belíssimo trabalhoda autoria de Zé Penicheiro, expressa-mente concebido para o jornal “Cen-tro”, com o cunho bem característicodeste artista plástico – um dos maisprestigiados pintores portugueses, comreconhecimento mesmo a nível inter-nacional, estando representado em co-lecções espalhadas por vários pontosdo Mundo.

Neste trabalho, Zé Penicheiro, como seu traço peculiar e a inconfundívelutilização de uma invulgar paleta decores, criou uma obra que alia grandequalidade artística a um profundo sim-bolismo.

De facto, o artista, para representara Região Centro, concebeu uma flor,composta pelos seis distritos que inte-gram esta zona do País: Aveiro, Caste-lo Branco, Coimbra, Guarda, Leiria eViseu.

Cada um destes distritos é represen-tado por um elemento (remetendo pararespectivo património histórico, arqui-tectónico ou natural).

A flor, assim composta desta formatão original, está a desabrochar, sim-bolizando o crescente desenvolvimen-

to desta Região Centro de Portugal, tãorica de potencialidades, de História, deCultura, de património arquitectónico, dedeslumbrantes paisagens (desde as prai-as magníficas até às serras verdejantes)e, ainda, de gente hospitaleira e traba-lhadora.

Não perca, pois, a oportunidade dereceber já, GRATUITAMENTE, estamagnífica obra de arte, que está repro-duzida na primeira página, mas que temdimensões bem maiores do que aquelasque ali apresenta (mais exactamente 50cm x 34 cm).

Para além desta oferta, passará a rece-

ber directamente em sua casa (ou no localque nos indicar), o jornal “Centro”, que omanterá sempre bem informado sobre oque de mais importante vai acontecendonesta Região, no País e no Mundo.

Tudo isto, voltamos a sublinhá-lo, porAPENAS 20 EUROS!

Não perca esta campanha promocio-nal, e ASSINE JÁ o “Centro”.

Para tanto, basta cortar e preencher ocupão que abaixo publicamos, e enviá-lo, acompanhado do valor de 20 euros(de preferência em cheque passado emnome de AUDIMPRENSA), para a se-guinte morada:

Jornal “Centro”Rua da Sofia. 95 - 3.º3000–390 COIMBRA

Poderá também dirigir-nos o seu pe-dido de assinatura através de:

� telefone 239 854 156� fax 239 854 154� ou para o seguinte endereço

de e-mail:[email protected]

Para além da obra de arte que desdejá lhe oferecemos, estamos a prepararmuitas outras regalias para os nossosassinantes, pelo que os 20 euros da as-sinatura serão um excelente investi-mento.

O seu apoio é imprescindível paraque o “Centro” cresça e se desenvol-va, dando voz a esta Região.

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REGIÃO CENTRO

O Presidente da Região de Turismo do Centro(RTC), Pedro Machado, anunciou que é candidatoà presidência da futura área regional de Turismo asurgir no centro do país no âmbito da reorganiza-ção do sector.

“Tenho o apoio incondicional das cinco estrutu-ras distritais do PSD [dos distritos que farão parteda futura área regional de Turismo do Centro] e dopresidente e do secretário-geral do PSD”, afirmouPedro Machado aos jornalistas durante um almoçode trabalho em Coimbra.

Aprovado recentemente em Conselho de Minis-tros, o diploma que reorganiza as regiões de turis-mo reduz estas entidades de 19 para cinco (corres-pondentes às NUT), avançando ainda com a cria-ção de mais cinco pólos de desenvolvimento turís-tico autónomos.

As Áreas Metropolitanas de Lisboa e Porto -através da Associação Turismo de Lisboa e daAssociação de Turismo do Porto - podem contra-tualizar o exercício de actividades e a realização

NOVAS REGIÕES DE TURISMO

Pedro Machado candidatoá futura área regional do Centro

de projectos com o Governo.A futura área regional de Turismo do Centro

passará a aglutinar 63 dos 78 concelhos da NUTII, com os restantes quinze a integrar o pólo daSerra da Estrela.

“Alguns dos aspectos que reclamávamos foramconsagrados na nova lei”, afirmou Pedro Macha-do, criticando, contudo, o que classificou como “ra-toeiras” do diploma.

O facto de caber ao secretário de Estado doTurismo a escolha da sede das futuras regiões e a“clivagem” gerada pela criação de sub-regiões, osreferidos pólos, foram aspectos criticados por Pe-dro Machado.

“Acho positivo estudar uma estratégia comuma plataforma assente nestes cinco pilares [osdistritos de Aveiro, Castelo Branco, Coimbra,Leiria e Viseu]. Dá mais competitividade facea outros territórios”, salientou o Presidente daRTC, estrutura que engloba, actualmente, 24concelhos.

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4 DE 2 A 15 DE JANEIRO DE 2008CULTURA

O “velhinho” acordo ortográfico, quehá 17 anos vem sendo debatido, foi no-vamente adiado.

Estava previsto que entrasse em vigoraté ao final de 2007. Dias antes do fimdo ano o “Centro” falou com Maria He-lena Rocha Pereira, Professora jubiladada Faculdade de Letras da Universidadede Coimbra, e uma das defensoras doprojecto que está “em banho-maria” hálongos anos.

A ilustre catedrática ainda manifestavaa esperança de que o Acordo finalmenteavançasse, dizendo-nos que a ideia “ deuniformizar o que foi possível uniformizarvai mesmo entrar em vigor”.

Referiu-nos que as transformações nãoseriam profundas, mas viriam simplificara língua portuguesa.

E acrescentava: “Haverá necessidade de uma campa-

nha de informação e sensibilização da opi-nião pública”. Haverá, a princípio, algumperíodo de alguma confusão e de adapta-ção. Mas as pessoas habituar-se-ão como tempo. Em 1911, as mudanças forammais radicais e também se fizeram”.

Referiu-nos ainda que algumas trans-formações já as verificam há algum tem-po, nomeadamente através da televisão.Desde a primeira telenovela brasileiratransmitida entre nós (“Gabriela, Cravo eCanela”, de Jorge Amado), somos con-frontados com palavras como “ator, dire-

CONTRARIANDO O OPTIMISMO DE MARIA HELENA ROCHA PEREIRA

Acordo Ortográfico continua adiado

ção, deceção”, entre outras, cujas conso-antes que não se lêem deixaram e deixa-

rão definitivamente de ser escritas. Regres-sam ao alfabeto a letra K, o W e o Y, o quejá se está a fazer (e bem) nas escolas, de-vido à linguagem da matemática ou da in-formática, com a necessidade frequente arecurso a estrangeirismos.

Os nomes de meses do ano passarão aser escritos com letras minúsculas comoem muitos países europeus.

A grande diferença, e ai não é possívelhaver acordo, é na pronúncia, mas até “aactual pronúncia brasileira”, segundo Ma-ria Helena Rocha Pereira, “é a pronúnciaantiga – a pretónica – do português. Vejaque no nosso país, viajando de Norte paraSul, também há variações no falar”.

Maia Helena Rocha Pereira estavaoptimista quanto à entrada em vigor doAcordo:

“Penso e desejo que avança, porque éimportante sob o ponto de vista político ecultural. Neste ano de 2007, em que secomemoram 200 anos da ida da Corte parao Brasil, é um complemento significativodesse acontecimento cultural. Há 17 anosque o acordo está congelado, mas o Jornalde Letras deu um contributo para que oacordo passe a ser uma realidade”.

A verdade é que este vaticínio optimistada prestigiada docente da Universidade deCoimbra não se confirmou.

MALACA CASTELEIROPERPLEXO

O linguista Malaca Casteleiro manifes-tou “estranheza e perplexidade” pelo adia-

mento para 2008 da aprovação pelo go-verno português do Protocolo Modificati-vo do Acordo Ortográfico, considerando“lamentável” a decisão.

Em Novembro, em declarações à im-prensa na XII Reunião do Conselho deMinistros da Comunidade dos Países deLíngua Portuguesa, CPLP, o Ministro dosNegócios Estrangeiros, Luís Amado, deraa garantia de que o Protocolo seria ratifi-cado até ao final do ano.Ainda em Novem-bro, a Ministra da Cultura, Isabel Pires deLima, intervindo na Assembleia da Repú-blica, anunciara que Portugal iria pedir umprazo de dez anos para a entrada em vigordo novo Acordo Ortográfico.

Mas na passada semana uma fonte doMinistério informou que o processo deaprovação do documento, inicialmenteprevisto para o último Conselho de Minis-tros, realizado a 27 de Dezembro, “foiadiado para 2008”, escusando-se a preci-sar a nova data.

Ouvido pela agência Lusa, Malaca Cas-teleiro, um dos mais activos defensores doAcordo Ortográfico, qualificou de “lamen-tável” o adiamento, decidido “como porefeito de uma varinha mágica”.

“Isto não é bom para a língua portugue-sa. Não é assim que se defende a línguaportuguesa”, criticou.

Relativamente à moratória de 10 anosanunciada pela titular da Cultura, conside-rou-a excessiva e defendeu que “quatro aseis anos” são “mais do que suficientes paraa mudança, para todas as alterações” aefectuar.

Assinado a 16 de Dezembro de 1990e publicado em Diário da República emAgosto de 1991 com a resolução do Par-lamento que o aprovou para ratificação,o Acordo Ortográfico deveria entrar emvigor a 1 de Janeiro de 1994 depois de“depositados os instrumentos de ratifi-cação de todos os Estados (Portugal,Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, An-gola, Moçambique e São Tomé e Prín-cipe) junto do Governo da RepúblicaPortuguesa”, mas isso não aconteceuporque só Portugal, Brasil e Cabo Ver-de o ratificaram.

Desde então foram aprovados doisProtocolos Modificativos, o primeiro dosquais, em Julho de 1998, previa a entra-da em vigor do acordo depois do depósi-to de ratificação por parte de todos osEstados signatários, sem todavia fixarqualquer data.

Em Julho de 2004, por um novo Pro-tocolo Modificativo, assinado numa ci-meira da Comunidade de Países de Lín-gua Portuguesa (CPLP) realizada emSão Tomé, prescindiu-se da aplicaçãounânime do acordo e estabeleceu-se queele poderia entrar em vigor quando (oprotocolo) fosse ratificado por três paí-ses, mas com a sua aplicação limitada aapenas esses países.

Norberto Rodrigues

A Galeria Minerva (no Bairro Norton De Matos, eem Coimbra) tem patente aopúblico uma exposição de pintura de Valdemar Peixoto, que poderá ser visitada até aopróximo dia 16 de Janeiro (de segunda a sábado, das 10h00 às 13h00 e das 14h30 às19h00).

Valdemar Fernando Cabral Peixoto é natural de Coimbra. Estudou desenho e pintu-ra na Escola Superior de Belas Artes do Porto e contactou com vários artistas contem-porâneos (como, por exemplo, Valdemar da Costa e a pintora Lúcia Maia).

Durante alguns anos foi também jornalista, na Deelegação de Coimbra do Diário deNotícias.

Enquanto pintor, tem participado em várias exposições individuais e colectivas emPortugal e no estrangeiro.

Exposição de pinturade Valdemar Peixoto

Valdemar Peixoto com Isabel Garcia e José Alberto Garcia

Maria Helena Rocha Pereira

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5DE 2 A 15 DE JANEIRO DE 2008 MUNDO ANIMAL

Fagus e Seara são os mais re-centes “hóspedes” do Centro deRecuperação do Lobo Ibérico, naMalveira, depois de chegaram doJardim Zoológico de Madrid debi-litados, cegos e em estado de ve-lhice.

Gerido pelo Grupo Lobo, uma as-sociação não governamental quedefende a conservação desta es-pécie e do seu ecossistema, o Cen-tro de Recuperação do Lobo Ibéri-co (CRLI) foi criado em 1987 e temo objectivo de providenciar um lara lobos feridos ou mantidos em máscondições de cativeiro.

Numa área de 17 hectares, queengloba sete espaços cercados, oCentro estende-se entre uma zonamais plana e um monte, o local pre-ferido dos lobos por aí se sentiremmais seguros.

Os catorze animais que o Cen-tro acolhe actualmente consomem1.750 euros mensais de alimenta-ção e medicação, só possível gra-ças às receitas proporcionadaspelas visitas guiadas, com um cus-to de quatro euros e que este ano,já atingiram as oito mil.

Os donativos dos “pais adopti-vos” são outra fonte importante dereceitas para o espaço, que não temqualquer apoio do Estado.

O Centro propõe às pessoas queapadrinhem um lobo. Para tal, osjovens até aos 15 anos pagam 40euros, e os adultos 45 euros.

Os “pais adoptivos” poderão par-ticipar nas actividades diárias docentro, que incluem a alimentaçãodos animais.

O CRLI possui ainda uma casacom capacidade para seis pesso-as, onde, mediante uma reserva,os visitantes poderão pernoitar.Dispõe também de uma habitação paradois voluntários.

Os voluntários participam nas acti-vidades diárias de alimentação dos lo-bos e da manutenção do espaço doCentro, e poderão oferecer a sua co-laboração em qualquer altura do ano.

Marta Cal, lisboeta e residente emZambujeira do Mar, adiantou à Lusaque as preocupações ecológicas a le-varam a tornar-se voluntária por umasemana no CRLI.

Estar em contacto com os lobos émaravilhoso. Cheguei em Lua Novae fui recebida por um concerto de ui-

CENTRO DE RECUPERAÇÃO NA MALVEIRA

Lobos ibéricos procuram“pais adoptivos”

vos, foi lindo”, descreveu, elegendocomo os seus favoritos o Prado e oZimbro, que “adoram festinhas”.

Marta Cal adiantou não ter medodos lobos, mas reconhece que “elesnão deixam de ser animais selvagens”.

Segundo a responsável do CRLI,Elisabete Pereira, embora a recupe-ração dos lobos seja o principal ob-jectivo, também já ali nasceram algunslobos, como é o caso do Prado.

“O Prado é um ‘Alfa’ e existe sem-pre em cada alcateia um macho e umafêmea ‘Alfa’, e só eles é que podemreproduzir. São os líderes”, referiu Eli-

sabete Pereira.Esta condição realça a agressivida-

de do Prado para com outros lobos,levando a que esteja isolado num dossete cercados.

Habituado à presença humana, oPrado não pode ser introduzido em li-berdade.

Elisabete Pereira referiu que rein-troduzir estes animais em liberdade“seria condená-los à morte pois, alémde não existirem actualmente alcatei-as para os introduzir, também não ve-riam o homem como uma ameaça”.

A perseguição do homem levou o

lobo ibérico a ser uma espécieameaçada de extinção.

Em Portugal calcula-se que exis-tam actualmente 300 animais destaespécie, contrastando com Espa-nha, onde vivem cerca de 1.700.

“Procuramos desmistificar aideia de que o lobo é um animal de-moníaco que come pessoas. Em 50anos há somente um registo de umlobo que atacou uma pessoa, masesse animal tinha raiva”, explicouElisabete Pereira.

Segundo a responsável, os lobos“nunca se aproximam das pessoas,pois o cheiro causa-lhes algumaconfusão”.

O lobo ibérico tem em médiauma duração de vida na ordemdos 16 anos em cativeiro e noveem estado selvagem, “emborahoje em dia não ultrapasse os cin-co anos”, devido à presença dohomem em locais que antes lheeram inacessíveis.

“A construção de auto-estradasou parques eólicos em sítios que an-tigamente eram inacessíveis contri-buiu para o desaparecimento daspresas naturais do lobo, como o ja-vali, o corço e o veado”, sublinhouElisabete Pereira.

Para a responsável, esta situa-ção leva a que os animais passemmuito tempo sem se alimentarem.

“Em liberdade podem passar atétrês semanas sem comer, o queapesar de os tornar mais fortes aonível da selecção natural tambémos debilita mais, porque envelhe-cem mais depressa”, referiu.

A cegueira de Fagus e Seara é ou-tra consequência do contacto exces-sivo destes animais com pessoas.

Segundo explicou à Lusa Elisa-bete Pereira, a cegueira é uma si-

tuação habitual causada pelo stress deestarem cativos num jardim zoológi-co, onde a presença humana e o ba-rulho são excessivos.

Os dois animais vão passar agora oresto das suas vidas no Centro.

Apesar da presença “ameaçadora”dos lobos, mais de 20 gatos elegeramo Centro como a sua morada e pas-seiam-se livremente pelo espaço.

Texto de Joaquim Reise foto de André Kosters

(agência Lusa)

Um dos lobos ibéricos que, na Malveira, espera “pais adoptivos”

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6 DE 2 A 15 DE JANEIRO DE 2008OPINIÃO

Varela Pècurto

A história que passo a contar, é re-ferida num jornal nacional de referên-cia, mais concretamente no Diário deNotícias. Por isso, partimos do princí-pio que tudo é verdadeiro, porém, ca-paz de fazer inveja a muitos latinos etema para muita coisa, incluindo umartigo de opinião.

Segundo aquele diário, na aldeia ar-gentina de Pago del Desco, um motoris-

José Soares

[email protected]

“Ambrósio, apetecia-me algo”...ta de 35 anos atrasava-se sempre, ape-sar de ter de percorrer apenas 15 quiló-metros. É que este prestável profissio-nal, autêntico motorista para todo o ser-viço, estava à disposição das pessoas quetransportava: seis docentes entre os 30e os 40 anos. Nestas paragens “obriga-tórias”, as professoras, cinco das quaiscasadas, mantinham relações sexuaiscom o prestativo e vigoroso motorista.

Tudo estaria ao nível das nuvens, paraos protagonistas, não fosse a noiva domotorista não ter achado nenhuma pia-da às prestações sexuais do seu ex-fu-turo marido. Vai daí, colocou na Internetas fotografias do telemóvel que mostra-

vam o seu noivo a ter relações com to-das as professoras que transportava: seis!Aquilo que se passava numa pacata al-deia argentina, passou a ter dimensãointernacional, graças à Internet. Dado quetodas as professoras moram na mesmaaldeia, onde todos se conhecem e aindapor cima sendo quase todas casadas,criou um perfeito reboliço naquela loca-lidade, no caso que ficou conhecido como“a orgia das professoras”.

O caso ganhou uma dimensão de talordem, que o próprio Ministério da Edu-cação argentina teve que intervir, abrin-do um inquérito para apurar os factos. Eque factos! Mas, como os intervenien-

tes são todos adultos, o assunto ficarámesmo por aí. Quanto às atitudes que osmaridos enganados irão tomar, só o fu-turo dirá. Por alguma razão, o motoristadesapareceu da aldeia assim que o casofoi tornado público. Uma das professo-ras justificou-se dizendo: “Somos sereshumanos, ninguém está livre de cometerum erro. O que não mata torna-nos maisfortes”.

O filho duma das professoras, umjovem de 18 anos, não resistiu a veruma fotografia da mãe a ter relaçõessexuais com o motorista e sofreu umacrise de nervos que o obrigou a serhospitalizado.

A nossa História é fértil em exemplosde protecção real dada a populações ouindividualmente.

Estas mercês tiveram as mais varia-das versões mas nem todas convincen-tes. E sobre os beneficiados, muitos nemterão merecido tais favores...

Vivemos numa cidade em franca ex-

pansão. O casario já está para além donúcleo que deu origem à que chamamoshoje Coimbra.

Este crescimento, algo irregular e evi-tando zonas menos propícias, é muitodesejado a poente; mas o sucesso maiorestá a sul, ultrapassando sucessivos ar-redores; a periferia, mais além, já estálonge do que consideramos o centro dacidade.

A Torre de Almedina, antes chamadada Relação e da Vereação, sem dúvidao edifício mais emblemático da cidademuralhada, foi referido pela primeira vezem 1269, mas a palavra Almedina vemde remota origem árabe.

Os privilegiadosReconstruída no final do século XV,

do que resultou a Porta, voltou a ter obrasque terminaram em 1541.

A protecção aos habitantes da Cercanão se limitava à segurança que as mu-ralhas proporcionavam. Para além dosaspectos militares, os moradores goza-vam de regalias especiais, as quais semantiveram durante séculos.

A penúltima função da Torre foi aco-lher o Arquivo Histórico Municipal cujorecheio é muito valioso. Aliás, a própriaTorre tem interesse. Integrada num dosmais belos recantos medievais da cida-de, está a escassos metros da Coimbramoderna. Sob o arco tem o escudo naci-onal com bordadura de 14 castelos e osescudos laterais apontados ao centro,obra iniludivelmente manuelina.

À direita colocaram o brasão da cida-de; e ao centro, uma escultura da Se-nhora com o Menino.

Por baixo, do lado esquerdo, uma ser-pente rastejante e, no lado oposto, umleão, formam a mais antiga representa-ção do século XIII.

Em 4 de Julho de 2003, durante asfestividades do feriado concelhio, a Tor-re de Almedina foi destinada a outra fun-ção muito diferente da anterior. Nelapassou a estar o Núcleo da Cidade Mu-ralhada.

Entretanto, o espólio do Arquivo Mu-nicipal mudou para instalações na Casada Cultura, exíguas mas consideradastemporárias porque estava prevista aconstrução de um edifício, amplo, funci-onal, inteiramente dedicado ao Arquivo.

O projecto “abortou” – mas não parase aproveitar da nova lei...

Ainda que o espaço destinado às fu-turas instalações tenha sido alindado,estamos em crer que o novo edifício ca-bia ali, sobrando ainda espaço para asflores e o parque infantil.

Assim, mesmo que o Arquivo venha aocupar outras salas da Casa da Cultura– e saber-se lá quando vagarão... – con-

tinua a “viver metido numa camisa deforças”.

Se o problema é o que prevemos –falta de dinheiro – esta teria sido umaocasião propícia ao mecenato.

A opinião mais optimista que ouvi afir-mava que a tal construção será execu-tada “quando choverem picaretas”...

Na Torre pode ver-se a maqueta daCerca, mostrando o perímetro de 2 Km

das suas muralhas e as respectivas tor-res de defesa, das quais Almedina fazparte. Foi construída no Centro de Estu-dos do Departamento de Arquitectura daUniversidade de Coimbra.

A topografia medieval representada éa Coimbra dos séculos XI e XII.

Do acervo do Arquivo Municipal fa-zem parte, entre outros, interessantes evaliosos documentos comprovativos dasregalias que os habitantes da Cerca man-tiveram durante séculos.

Demos conta da existência de umacarta de D. Afonso III, transcrita noutrade D. Pedro, privilegiando e isentandode determinadas obrigações todos os quecontinuadamente morassem da Porta deAlmedina para cima. É datada de 10 de

Fevereiro de 1269. (Ver gravura)Uma outra, de 31 de Janeiro de 1374,

de D. Fernando, considera que os mora-dores da Almedina não paguem sisa, doque comprassem ou vendessem dentroda Cerca.

Também em carta com data de 24 deJunho de 1374, D. Fernando manda de-fender os privilégios da população daAlmedina, que assim se mantiveram.

Para quê tantas provas de que os ha-bitantes da Cerca sempre foram uns sor-tudos?

Fora deste contexto existe um outrodocumento muito importante: o texto daLei das Sesmarias, de D. Fernando, fei-to em Coimbra no dia 1 de Janeiro de1375.

Ainda agora algumas medidas protec-cionistas da Câmara Municipal, justaspara os habitantes e de interesse para acidade, provam que, no seguimento doque se fez há séculos, as regalias conti-nuam, embora diferentes.

Apesar de tudo o problema do povoa-mento subsiste pois há sempre quemdeseje respirar novos ares e ver paisa-gens diferentes.

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7DE 2 A 15 DE JANEIRO DE 2008 AMBIENTE

O ano de 2007 foi um marco históricopara as alterações climáticas, que subiramà agenda política e económica das princi-pais potências mundiais, receberam um pré-mio Nobel e foram tema de várias obras deliteratura.

Os cientistas assumiram pela primeiravez este ano que o planeta está mesmo aaquecer “muito provavelmente” por cau-sa da intervenção humana e que, se nadafor feito, as consequências poderão serirreversíveis.

O último relatório do Painel Intergover-namental para as Alterações Climáticas(IPCC), divulgado em Fevereiro, em Pa-ris, revelou que o planeta vai aquecer en-tre 1,8 e 4 graus Celsius até ao final doséculo, fazendo subir o nível do mar até58 centímetros e multiplicando as secas evagas de calor.

Desde o primeiro relatório do IPCC, em1990, a comunidade internacional adoptoua convenção da ONU sobre alterações cli-máticas e o Protocolo de Quioto para travara subida das emissões de GEE, mas os re-sultados foram fracos.

Os cientistas avisaram este ano que asemissões mundiais de gases com efeito deestufa têm de começar a baixar a partir de2015 para que o aumento médio da tem-peratura global se mantenha entre 2 e 2,4graus Celsius.

Para descobrir como minimizar os im-pactos deste aquecimento, e descobrir to-das as suas causas, cientistas gregos anun-ciaram que vão examinar pinturas antigaspara perceber a intensidade do vermelhodo pôr-do-sol criado pelos pintores e verse tem relação com os grandes vulcões dopassado que, pensam, poderão ter contri-buído para o aquecimento global.

Também os economistas estão preo-cupados, com os custos das alterações cli-máticas, nomeadamente os investimentosque as empresas vão ter de fazer parareduzir as suas emissões de gases comefeitos de estufa.

No início deste ano, no 37º Fórum Eco-nómico Mundial, um dos encontros interna-cionais mais importantes nesta área, o temadas alterações climáticas ocupou parte daagenda, depois terem sido recebidos muitospedidos dos membros do Fórum para se-rem colocadas as questões ambientais e cli-máticas no centro do debate.

A opinião pública mundial, atenta e preo-cupada com os impactos do aquecimentoglobal, tem pressionado os dirigentes dospaíses desenvolvidos a dar prioridade naagenda política a este assunto, antes reser-vado a um círculo restrito de especialistas.

Na Europa, os 27 Estados membros che-garam em Março a acordo para metas vin-culativas que minimizem os efeitos das alte-rações climáticas, comprometendo-se a con-seguir que 20 por cento do consumo ener-gético europeu tenha origem em energiasobtidas de fontes primárias renováveis (ven-to, água, sol e biomassa) até 2020.

2007: O ano em que as alterações climáticassubiram ao topo da agenda política mundial

Os líderes europeus também assumiramo compromisso de reduzir, até 2020, pelomenos, 20 por cento das emissões de gasescom efeito de estufa (responsável pelo aque-cimento global do planeta), emrelação aos níveis de 1990, e de30 por cento se os restantes pa-íses desenvolvidos se compro-meterem a atingir reduções deemissões “comparáveis”.

Em Portugal, o tema foi esteano escolhido pelo primeiro-mi-nistro, José Sócrates, para umdebate mensal da Assembleia daRepública.

Os norte-americanos, cujoactual presidente George W.Bush rejeitou o Protocolo deQuioto em 2001, não têm dúvi-das sobre o aquecimento do pla-neta: 74 por cento declaram-sehoje mais convencidos desta re-alidade do que há dois anos, se-gundo uma sondagem encomen-dada pela Federação Nacionalda Vida Selvagem e citada pelaagência France Presse (AFP).

Alguns estados norte-ameri-canos anteciparam-se ao presidente e pu-seram já em marcha programas de redu-ção das emissões de gases com efeito deestufa, como é o caso da Califórnia, cujogovernador é o republicano Arnold Schwar-zenegger.

O documentário do ex-vice-presidente AlGore sobre as alterações climáticas (“Umaverdade inconveniente”) também contribuiupara mobilizar a opinião pública e conseguiumesmo uma nomeação para o Óscar nacategoria de Melhor Documentário.

Em Outubro, o relatório do antigo econo-mista do Banco Mundial Sir Nicholas Stern,que estimava os custos económicos do aque-cimento global em mais de 5,5 mil milhõesde euros, se não forem tomadas medidasurgentes, caiu como uma bomba.

Este ano, em Setembro, o debate geralda assembleia-geral das Nações Unidastambém foi dominado pelo tema das altera-ções climáticas, que reuniu a atenção decentenas de chefes de Estado e de governoem Nova Iorque.

Nesta conferência foi lançado o calen-dário das negociações que vão conduzir, nofinal de 2009, a um acordo para acelerar eacentuar a redução das emissões de gasescom efeito de estufa.

Depois da sua ratificação, que deve de-morar dois anos, o acordo vai à primeira fasede cumprimento do Protocolo de Quioto quetermina em 2012.

O tratado tem sido discutido desde 2001,quando os Estados Unidos da América, osmaiores poluidores do mundo, anunciaramque não iam ratificá-lo.

O presidente George W. Bush tem sidoum opositor dos constrangimentos impostospelas metas de Quioto e advoga a adopçãode medidas voluntárias, apoiadas pela trans-

ferência de tecnologias.Para conseguir fazer vingar a sua tese,

os Estados Unidos organizaram um encon-tro em Washington, três dias depois do das

Nações Unidas em Nova Iorque, tendo con-vidado os 16 países mais poluidores do mun-do, como a China e Índia, bem como repre-sentantes da União Europeia e da ONU.

O agendamento deste encontro por par-te dos Estados Unidos, poucos dias depoisao promovido pela ONU, levou especialis-tas internacionais a encarar a reunião de Wa-shington como uma forma de a administra-ção norte-americana estar a preparar umboicote às decisões tomadas no âmbito dasNações Unidas sobre alterações climáticas.

O Nobel da Paz foi atribuído este ano aoantigo vice-presidente norte-americano AlGore e ao Painel Intergovernamental sobreMudanças Climáticas da ONU (IPCC) pe-los esforços para aumentar o conhecimen-to sobre mudanças climáticas, anunciou ocomité Nobel norueguês.

O prémio foi atribuído conjuntamentepelos esforços de recolha e difusão de co-nhecimentos sobre as mudanças climáti-cas provocadas pelo Homem e por lançar

os fundamentos para a adopção de medi-das necessárias para a luta contra estasalterações.

Em Portugal, o tema das alterações cli-máticas tem sido alvo de deze-nas de debates, alguns dos quaisinternacionais e organizadospela presidência portuguesa daUnião Europeia.

Também na literatura o temado aquecimento global tem sidocapa de várias obras literárias,entre as quais a do especialistaem alterações climáticas FilipeDuarte Santos e a do jornalistaJosé Rodrigues dos Santos.

Depois de duas semanas deimpasse, a 14 de Dezembrodelegados de 180 países reuni-dos em Nusa Dua, Bali, Indo-nésia, chegaram a acordo parainiciar até Abril de 2008 as ne-gociações para um novo proto-colo que sucederá ao de Quio-to, que tem como prazo de va-lidade 2012.

Esta décima terceira Con-ferência Quadro das Nações Unidas sobreAlterações Climáticas (UNFCCC) foi a pri-meira que a realizar-se depois de um painelindependente de cientistas ter concluído queas alterações climáticas são “muito prova-velmente” causadas pela actividade huma-na.

Segundo estabelecido no acordo alcan-çado em Bali, as negociações para o novoprotocolo de combate às alterações climáti-cas deverão terminar no final de 2009, ten-do como objectivo central uma redução de25 a 40 por cento das emissões de gasesaté 2020 e de 50 por cento até 2050.

Na sequência deste acordo, o ministo daAmbiente português, Nunes Correia, refe-riu que em Portugal, a aposta será “nas ener-gias renováveis e no desenvolvimento deuma economia mais eficiente do ponto devista familiar”, nomeadamente nos painéissolares, na energia solar térmica, no uso deviaturas híbridas ou de baixo consumo e nautilização dos transportes colectivos.

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8 DE 2 A 15 DE JANEIRO DE 2008OPINIÃO

UM ANO IMPOLÍTICO

(...) Não me lembro de outro ano tãodoentiamente impolítico como este de2007. Não apolítico ou antipolítico, doisestados reconhecíveis que supõemuma atitude consciente de distância ounegação face à política. O ano de 2007não foi feito nem dessa distância, nemdessa negação. Foi só um ano que de-monstrou a nossa quase total incapa-cidade de pensarmos sobre o presen-te, livres da encenação e da pompa ma-jestática do Governo. Foi um ano dalenta desagregação do PSD que, comLuís Filipe Menezes, parece apostadoem partilhar os despojos do poder. Foium ano da estranha domesticação dosdois líderes mais independentes: Lou-çã, que andou caladinho como nuncano passado, e Portas, que regressoupara uma oposição de baixa intensida-de, à espera que isso lhe altere a ima-gem. Em 2007, Sócrates conseguiu oque nenhum outro líder político teveantes dele: uma sociedade que o acei-ta sem particular entusiasmo, certa dassuas imperfeições, mas que desistiu depensar por si própria. A vida vai tristeno reino da Dinamarca.

Pedro Lomba (jurista)Diário de Notícias 27/12/2007

A HIPOCRISIAQUE BATE À PORTA

(...) Nas semanas mais recentestoda a gente se preocupou muito coma “noite do Porto” e com a violênciada “noite de Lisboa”. Mas essa vio-lência é que deveria levar os vários res-ponsáveis públicos a demitirem-se.Quem passa pela rua das Janelas Ver-des por volta das três da madrugadavê o espectáculo de crianças alcooli-zadas, caídas no chão, embrulhadas emvómito. O Dr. Francisco George de-veria demitir-se, isso sim, caso nãoconsiga impedir os “empresários danoite” de vender “shots” a um euro àscrianças dessas idades. Isso sim, seriaheróico e chamaria a atenção para ofenómeno do alcoolismo nessas idades.São bares e discotecas com polícias àporta para proteger esse negócio fora-da-lei, mas não para prender os pro-prietários de bares que toda a genteconhece e que “empregam” criançasde 13, 14 e 15 anos como “relaçõespúblicas”.

O director-geral da Saúde deveriademitir-se caso não consiga impedir onegócio do álcool vendido a criançasno Saldanha, no Bairro Alto ou em San-tos (estou a falar apenas de Lisboa),anunciado em plena rua, perante a in-diferença da ASAE e das autoridadesque gostam de punir o que é fácil pu-nir, mas que deviam ter dificuldade emolhar-se ao espelho, se tivessem umnadinha de pudor e de brio. Isso sim,seria heroísmo, e eu estaria aqui paraaplaudi-lo. (...)

Francisco José Viegas (escritor)Jornal de Notícias 24/12/2007

AINDA BEM QUE ESTAVAM LÁ

Vai daí, os últimos dias de 2007trouxeram-nos uma tranquilidade: ado que está certo, pelas mãos do Pre-sidente da República e do TribunalConstitucional.

A equiparação dos magistrados (Ju-dicatura e Ministério Público) ao fun-cionalismo público foi – e muito bem –chumbada pelo Tribunal Constitucionalde forma expressiva (nove votos a fa-vor e quatro votos contra).

A equiparação que o Governo pro-punha estava errada do ponto de vistados princípios, do ponto de vista con-ceptual e, ainda, seguramente quantoàs intenções.

(...) Razões conhecidas levam o Go-verno a querer fragilizar as magistra-turas, num claro ajuste de contas sis-témico. O problema é que agora a opo-sição – quase toda – quer o mesmo.Porquê? Pelas mesmas razões, prova-velmente, ainda que a propósito de epi-sódios diferentes.

É por estas e por outras que o pri-meiro-ministro pode vir a dormir muitodescansado em 2008. Ainda bem queestavam lá o Presidente da Repúblicae o Tribunal Constitucional.

Paula Teixeira da Cruz(advogada)

Correio da Manhã 27/12/2007

FUNCIONALIZAÇÃODA JUSTIÇA

O Tribunal Constitucional chumboua lei de vínculos da Função Públicapor considerar que era materialmenteinconstitucional, designadamente naparte em que incluía os juízes. Estainconstitucionalidade decorre do fac-to de esta lei pôr em perigo a inde-pendência do poder judicial, a sua uni-dade enquanto corpo e a sua naturalespecificidade. Esta é uma vitória doscidadãos, da democracia, do EstadoConstitucional de Direito, do princípioda separação de poderes e de todosos juízes portugueses.

E é uma derrota do seu autor, JoãoFigueiredo, secretário de Estado daAdministração Pública, que de formaautista e arrogante – talvez por andarnos corredores do poder há muitos anos,

seja com a esquerda, seja com a direi-ta – não quis ouvir a voz da consciên-cia, tendo sujeitado o Governo e o gru-po parlamentar do Partido Socialista aesta derrota política. Mais grave foinão reconhecerem, com humildade de-mocrática, esta derrota constitucional.

Que ninguém tenha dúvidas de queexiste, dentro do Governo, um propó-sito muito sério de funcionalizar a Jus-tiça, de politizar as decisões jurisdicio-nais e de acabar com a soberania dostribunais. Como não têm coragem po-lítica para fazer uma revisão constitu-cional, acabando com o poder sobera-no dos juízes, recorrem a esta formaesconsa de agir, tentando minar a dig-nidade do edifício da Justiça. (...)

Rui Rangel (juiz)Correio da Manhã 23/12/2007

NATAL

(...) Aquilo que o Natal, nos seus ac-tos mercantis, desnuda é o conflitocada vez maior entre o Menino Jesuse o Pai Natal. Ou dito de outra forma,o confronto entre a nossa memóriaconstruída a partir de valores e utopi-as que se desvanecem ou deixam deganhar sentido quando somos confron-tados com a revolução no mundo dasplaystation, dos computadores, do car-jacking, do ‘gramo-te bué’.

O Natal romântico – herdado do cul-to da família, que inclui os avós, a pa-rentalidade mais próxima, sobrecarre-gado de algum dramatismo nas rela-ções afectivas, catolicizado (ou pelomenos cristianizado), o Natal magistral-mente relatado por Eça de Queiroz,nascido da cultura urbana do séculoXIX, vivido com intensidade ao longoda última centúria – é cada vez maisum pretexto e cada vez menos um textopara ser vivido.

O valor da prenda, do símbolo da ri-queza individual, nem que essa riquezanão seja mais do que uma mão cheiade DVD, é a expressão de um outromomento das nossas relações sociais.Desvinculadas dos afectos legitimado-res, carregam consigo os segredos da-quilo que resultará da solidão frente aocomputador, das imaterialidade dosafectos e até da sexualidade, vividascada vez mais por relações de chats,tão efémeras quanto espontâneas, coma tecnologia a substituir o rasto maisprofundo e o consumismo a assumir ocomando de todas as operações. (...)

Francisco Moita FloresCorreio da Manhã 23/12/2007

A FESTA FOI DELAS

Olho para uma figura de Íris feitaquase mil anos antes da era cristã. Temno regaço o seu filho Hórus, de nasci-mento miraculoso.

Volto a página do livro e vejo Mi-thra, o Deus Menino, talvez o cultomais popular quando Constantino to-

mou a decisão política de tornar o cris-tianismo religião do império romano(313). O nascimento de Mithra eracelebrado na data equivalente a 25 deDezembro.

No ano de 354 o papa Liberius es-colheu esse dia para aniversário deJesus, visando aproveitar o impulso dasfestas religiosas da concorrência, so-bretudo da Saturnalia, no equivalentede 17 a 24 de Dezembro, em que osromanos decoravam as suas casascom velas e lâmpadas, e, na mesmaquadra, da Juvenalia, festa dedicada àscrianças romanas na qual era costumeoferecer-lhes presentes. Seja qual fora época e a religião, sempre soubemosque o melhor de tudo são as crianças.

Carlos Abreu Amorim(professor universitário)

Correio da Manhã 26/12/2007

2008 – O QUE AÍ VEM

(...) A Europa, com o Tratado de Lis-boa, vai seguir a duas velocidades. Oêxito da presidência portuguesa, aoconseguir o acordo, não impede que arealidade da Europa esteja igual: é umacomunidade económico-financeira,mas continua longe - e ainda bem - deser uma comunidade política.

E são os próprios Estados membros,plurinacionais, que experimentam cadavez mais dificuldades para ficarem in-tactos. Na Espanha a questão catalãacelerou, com o “direito a decidir” eas últimas manifestações em Barcelo-na contra o AVE. O Rei D. Juan Car-los precisa de mais alguns “y por quéno te callas?”, para reconquistar po-pularidade. E vai pedindo ao PSOE eao PP que se entendam no essencial.Difícil à porta de eleições gerais.

No resto da Europa que conta, Bro-wn continua em perda, Sarkozy em altae Merkel razoável mais.

Mas o mundo islâmico - o do MédioOriente, o do Oriente e o do Magrebe- continuará a ser o ponto nevrálgico.

Do nosso (euro-americano) relacio-namento com ele vai depender a esta-bilidade e a paz mundial. E estas nãovirão de uma democratização ou laici-zação pela força das armas ou pelapressão económica, mas do equilíbriono respeito pela diferença.

Nas Américas a sul do Rio Grande,a incógnita da escolha é entre o soli-darismo de matriz cristã, com raciona-lidade económica e medida política - àLula - ou a petrodemagogia de Chá-vez, com o seu apelo à reivindicaçãoindígena e ao revivalismo marxista.Esperamos que seja o modelo brasilei-ro a triunfar. (...)

Maria José Nogueira Pinto(jurista)

Diário de Notícias 27/12/2007

A ESCADA DE JACOB

O ano que fecha portas foi muitomau. Graves economistas declaram a

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9DE 2 A 15 DE JANEIRO DE 2008 OPINIÃO

pés juntos que o próximo será pior. Osadventistas de Sócrates pregam que vi-vemos no melhor dos mundos. E a mai-oria de nós esforça-se por amarinharpela escada de Jacob, na melancólicafé de que chegará lá acima - local in-certo e abstracto. O varar do tempoamarrota toda a gente; mas há gentemuito mais amarrotada do que outra.E o pior é a alma que se dissolve, aesperança agredida, o sonho desfeito.A televisão formou a ideia de que tudoo que é importante é imediato. Numroldão, deixámos de nos reconhecer e,numa bizarra mistura de serenidade ede impaciência, aceitamos as imposi-ções de uma casta difícil de definir - anão ser por uma notória mediocridade.

(...) Estabelecida a vocação da “cu-nha” partidária, o instinto de indepen-dência moral provoca indiferença e,até, hostilidade. A inteligência, o méri-to, a integridade e a habilitação são cas-tigados como delitos. O que se obser-va, nos tristes casos da BCP e da Cai-xa Geral de Depósitos, com a disputada pertença circunscrita aos assim cha-mados “partidos de poder”, reflecte omais atroz impudor. As exclusõespermitem-nos concluir que o PS e oPSD perderam o respeito pelos portu-gueses e a dimensão colectiva que selhes exige. Aliás, o projecto inscrito naexigência de um mínimo de cinco milmilitantes por partido e a revelação dosseus nomes é desprezível, por equiva-ler a uma estratégia de poder absolutodo “centrão”. É preciso conciliar osvínculos morais com os traços distinti-vos das nossas indignações.

Baptista-Bastos(escritor e jornalista)

Diário de Notícias 26/12/2007

PEQUENITOS DE PORTUGAL

Por causa de uma lei aprovada em2003, o Tribunal Constitucional obrigouos pequenos partidos a provar (sobpena de extinção) que dispõem de pelomenos 5 mil militantes. O Partido daNova Democracia possui (contas pró-prias) 1200 militantes. O PCTP anda-rá lá perto. Os demais têm sorte quan-do conseguem 5 mil votos: o POUSconsegue-os à tangente e o PDA nempor sombras. A exigência é absurda emal intencionada.

Um eurodeputado acha que consti-tui um atentado aos direitos do homem.No mínimo, é seguramente um atenta-do ao direito de alguns homens se di-vertirem. Sem estas forças (passe aexpressão) partidárias, as campanhaseleitorais perderão os últimos vestígiosde interesse e pagode, passe a redun-dância. Mesmo o BE, desde que ga-nhou deputados e pose solene, tende apolir o radicalismo e a conter as palha-çadas com que nos animava. O que nostem valido é o PCTP, que continua aabrir os tempos de antena com um dis-co triturado de “A Internacional”, ou oPOUS, que continua a tentar distribuir

folhetos nos portões das fábricas, ou odr. Monteiro do PND, que continua adiscursar no café à porta da casa dele.Sem eles, o que será de nós?

E sem eles, o que será da desejadaproximidade entre as cúpulas partidá-rias e os eleitores? Não existe maiorproximidade do que nos partidos insig-nificantes: em certos casos, cúpulas eeleitores chegam a morar juntos. E oPOUS, por exemplo, consegue organi-zar um congresso nacional na varandada dona Carmelinda Pereira.

Para mim, porém, o argumento de-cisivo em prol dos pequenos partidosfoi a notícia de que os sete se reuni-ram a fim de elaborar estratégias desalvação. Não importa que uns quei-ram expulsar imigrantes, outros fuzilarburgueses e, no que toca ao PDA, nãoqueiram nada que se perceba. Acimadas divergências, convergiram numfundo comum ou, como se usa dizer,numa plataforma de entendimento: aprópria sobrevivência. É ecuménico, éhumano, é comovente. É quase pretex-to para nos filiarmos. Onde fica a va-randa, perdão, a sede do POUS?

Alberto Gonçalves (sociólogo)Diário de Notícias 23/12/2007

CATÓLICOSNÃO PRATICANTES

(...) Entre nós, é frequente a confis-são: “Sou católico não praticante”, nosentido de baptizado, que ainda se casana Igreja, que baptiza os filhos e até osmanda à catequese, mas habitualmen-te não vai à missa nem se confessa.

Ora, quando se está atento à men-sagem originária do Evangelho, a prá-tica religiosa autêntica consiste na pro-moção da justiça e na bondade paracom todos os seres humanos, com osquais o próprio Jesus se identifica. Defacto, como diz o Evangelho segun-do São Mateus, no Juízo Final sobre aHistória, o determinante é a prática dajustiça e do amor. O Rei dirá então:“Vinde, benditos de meu Pai! Recebeiem herança o Reino. Porque tive fomee destes-me de comer, tive sede e des-tes-me de beber, era peregrino e reco-lhestes-me, estava nu e destes-me quevestir, adoeci e visitastes-me, estive naprisão e fostes ter comigo.”

A outra prática - ir à igreja, partici-par na Missa - só em conexão com esta- a prática da justiça e do amor — al-cança autenticidade e verdade.

Anselmo Borges(padre e professor de Filosofia)Diário de Notícias 22/12/2007

SOLSTÍCIO

Que raio de memória tão curta, tãoestreita, tão judaica e tão pouco cristã,até um pouco romana, obviamente apos-tólica, careta, virgem e circuncidada noAno Novo, que ninguém se lembra deque a noite mais linda, mais longa, mais

faca é a de 21 de Dezembro segundo ocalendário comercial blá, blá, blá?

Ainda há gasolina, pachorra e cinis-mo para não parar de comprar lixinhode centro comercial, a trocar nos dias27 e seguintes enquanto a pobre lixei-ra (com honra & asseio) de Nisaaguenta uma ceia de cinco + bocashumanas mais uns canitos, um gatar-rucho magro e uns corococós que ti-veram o azar de ter duas pernas bemtorneadas e por isso serem candidatosa serem comidos!

Um salário mínimo, que é uma gorjaà mesa dos reis da banca, ficamos asaber pelo nosso Robin Joe “da Ma-deira”... e se os reis, magros ou não,lançassem um feitiço da Lua e toda agente começasse a dizer a verdade?Olha, poupava-se bué em SMS hipó-critas, não teríamos de aturar parentestinhosos e empregados graxistas! (...)

Rui Reininho (músico)Jornal de Notícias 22/12/2007

25 EUROS

(...) Olho para isto tudo e relembro:estamos a falar de 25 euros. O preçode uma refeição num restaurante mé-dio. O preço de cinco bilhetes de cine-ma (nem chega). O preço de um DVD.O preço de uma camisa na Zara. Es-tamos a falar de miséria: a miséria deum país onde há mesmo gente a vivercom 400 e tal euros por mês, gente quese mata a trabalhar por 400 e poucoseuros por mês, e onde há quem discu-ta se isso não será mesmo assim demais, sem se lembrar de discutir queraio de empresários quereriam pagarainda menos que isso por um mês detrabalho e que raio de empresas mere-cem sobreviver se nem isso aguentampagar aos seus empregados. E que raiode país é este no qual um aumento de83 cêntimos por dia é uma grande vi-tória da classe operária e de todo opovo em geral.

Fernanda Câncio (jornalista)DN 21/12/2007

FALAR DO CLIMAEM DEZEMBRO

(...) Acabo de chegar de seis diasde negociações em Bali (Indonésia),integrando um grupo de quinze depu-tados do Parlamento Europeu que par-ticiparam oficialmente na Conferênciadas Nações Unidas sobre alteraçõesclimáticas. Esta consumou-se numadecisão de, até 2009, se procurar umcompromisso entre todos os países domundo visando abrandar o processo deaquecimento crescente a que temosvindo a sujeitar o planeta. Já há dezanos, em Quioto, se tentara um pro-cesso semelhante e, se algum caminhofoi feito, urgia agora alargá-lo e torná-lo mais eficaz.

No fim da Conferência, e como úni-ca portuguesa integrante daquele gru-

po e responsável por acompanhar oprocesso pós-Quioto no âmbito dos de-putados socialistas europeus, sinto quedeveria conseguir transmitir a quem meelegeu uma opinião clara, de preferên-cia mediática e politicamente adequa-da, sobre o resultado final alcançado.E, nesta perspectiva, confesso que gos-tava de anunciar que um novo mundo,com renovado empenhamento numcrescimento menos destruidor, estavaem construção a partir de Bali. Mas,em consciência, não o posso fazer! Ain-da assim, penso que resultaram desteencontro único, reunindo cerca de 180países, alguns elementos bastante posi-tivos. Desde logo, ficou bem presentena agenda política de todos a necessi-dade de se fazer urgentemente algo deconcreto, articulado e convergente paraatacar o problema em causa; a decla-ração final reflecte-o de forma bem cla-ra, tanto mais quanto envolver os Esta-dos Unidos, a Europa, o Japão, a Aus-trália, a China, a Índia, o Brasil e os pa-íses africanos num diagnóstico único enum compromisso de acção não é emsi uma tarefa pequena. (...)

Elisa Ferreira(eurodeputada do PS)

Jornal de Notícias 23/12/2007

O REFERENDO

(...) A assinatura, com toda a pom-pa e circunstância, do tratado que re-toma o essencial da Constituição eu-ropeia, e a que querem que fique asso-ciado o nome de Lisboa, representa umgrande salto na integração capitalistaeuropeia.

Por isso, infelizmente para os traba-lhadores e a maioria das populações dePortugal e dos países da União Euro-peia, 13 de Dezembro não foi um dia deglória. No entanto, ainda é possível im-pedir a sua aplicação. Basta que um dos27 estados que são membros da UniãoEuropeia não o ratifique. Como acon-teceu em 2005 com a dita Constituiçãoeuropeia, quando os povos de França eda Holanda se pronunciaram contra nosreferendos que aí se realizaram. Daí afuga que agora os líderes europeus fa-zem ao referendo. Parece que só a Ir-landa o irá fazer por ser obrigatório nasua Constituição nacional.

Ilda Figueiredo(eurodeputada do PCP)

Jornal de Notícias 20/12/2007

LIVROS

Alfarrabista na Faculdade. Livros deantigos professores autografados. Umatentação. E um desconsolo: obras deMarcello Caetano, Lumbralles, PauloPitta e Cunha dedicadas a Leite Pinto,à venda... Razão tive eu em doar a mi-nha biblioteca a Celorico...

Marcelo Rebelo de SousaSol 22/12/2007

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11DE 2 A 15 DE JANEIRO DE 2008 CULTURA

O Museu da Ciência da Universidadede Coimbra abriu há dias uma nova ex-posição temporária, subordinada ao tema“A Diversidade da Vida”. A exposiçãoprocura sensibilizar o público em geralpara o perigo do desaparecimento demuitas espécies em todo o mundo. Noano em que se comemora o 300.º ani-versário do nascimento de Lineu, o Mu-seu relembra ainda o contributo de um

dos fundadores da taxonomia modernapara a contabilidade da biodiversidadeexistente.

Toda a gente percebe de que se trataquando se fala em Homo sapiens. Masserá que também se sabe o que é umEquus caballus, ou uma Bellis sylves-tris? E de onde vêm esses nomes? OMuseu da Ciência propõe responder aessas perguntas com uma exposição de-dicada a Lineu e à diversidade da vida.O cientista sueco do século XVIII im-plementou o sistema binomial de identi-ficação das espécies, que consiste numconjunto de nomes científicos compos-tos por duas designações latinizadas.

Organizando os dados fornecidos porvárias expedições científicas pelo mun-do, o botânico de formação, também zo-ólogo e médico, levou a bem uma tarefamonumental, a de conseguir a descriçãode cerca de 4400 espécies animais e 7700espécies vegetais. A nova exposição doMuseu da Ciência explica como, porexemplo, Lineu e a sua equipa de cola-

NOS 300 ANOS DO NASCIMENTO DE LINEU

Museu da Ciência da Universidade de Coimbraapresenta diversidade da vida

Carl Lineu foi o primeiro a proporum sistema de classificação robus-to, capaz reunir as informações so-bre a variedade do mundo vivo dis-ponibilizadas por vários naturalistase a sistematizar a classificação dosorganismos vivos – a taxonomia –,

CARL LINEU – UM DOS FUNDADORESDA TAXONOMIA MODERNA

dando forma um sistema que serviude base à nomenclatura moderna eque se mantém inalterado até hoje,mais de 250 anos após a sua criação.

Introduziu, ainda no séc. XVIII, umnovo sistema de designação das es-pécies que separa o nome da descri-ção e lhe associa o autor que descre-veu a espécie. A utilização internacio-nal do código inventado por Lineupermitiu a identificação inequívoca deuma espécie, para além das barreiraslinguísticas.

O trabalho de Lineu, reunido emvárias obras e nomeadamente no li-vro de referência “Systema Naturae”(1758), procurava organizar o mundovivo. Essa sistematização não assen-tava contudo em regras sólidas. Hojea classificação dos organismos é me-nos arbitrária e reflecte a sua históriaevolutiva das espécies, graças à evo-lução da biologia molecular e à análi-se de sequências do DNA (nos últi-mos 12 anos, foram sequenciadosmais de 180 genomas).

boradores ordenavam as plantas em fun-ção do seu sexo, seguindo uma técnicaque viria a ser abandonada mais tarde.

“Diversidade da Vida – 300 anos deLineu” pretende também mostrar o im-pacto que a “revolução” científica en-gendrada por Lineu teve em Portugal e,particularmente, na Universidade deCoimbra. Domingos Vandelli, primeirodirector do Gabinete de História Natural

e do Laboratório Chimico da Universi-dade de Coimbra, adoptou o sistema declassificação do naturalista sueco parasistematizar o seu gabinete de histórianatural. Dessa altura permanece um con-junto de sete potes com as designaçõessistemáticas de classes de plantas pro-postas por Lineu, agora exposto na ex-posição permanente do Museu.

A VIDA E A BIODIVERSIDADEAMEAÇADAS

Numa altura em que a desflorestação,a poluição e o aquecimento global pro-vocam alterações profundas nos ecos-sistemas, destruindo habitats e ameaçan-do a vida de muitas espécies, o Museuda Ciência recorre ao trabalho de Lineupara colocar em agenda um problemamuito sério, a biodiversidade e a sobre-vivência de milhões de espécies existen-tes no nosso planeta.

“Um considerável número de popu-lações e de espécies está em acentuado

declínio. E uma proporção consideráveldelas extinguir-se-á durante este sécu-lo”, explica o Museu, lembrando que es-tudos apontam para a extinção de váriasespécies até 2050. Como então continu-ar a assegurar os serviços essenciais queos ecossistemas prestam à Humanidade?A exposição “Diversidade da Vida – 300anos de Lineu” procura limitar a catás-trofe e solicitar uma atitude mais ecoló-gica por parte do público.

A mostra estará patente ao público atéJunho de 2008.

O Museu da Ciência da Universida-

de de Coimbra situa-se no Largo Mar-quês de Pombal, na alta da cidade.Aberto ao público de Terça-feira a Do-mingo, das 10h00 às 18h00, propõe,para além do acesso à mostra tempo-rária “Diversidade da Vida – 300 anos”,uma visita didáctica e interactiva à ex-posição permanente, “Segredos da Luze da Matéria”. Poucos dias antes deassinalar o seu primeiro ano de exis-tência, a 5 de Dezembro, o Museu foidistinguido com uma menção honrosano prémio Museu do Ano da Associa-ção Portuguesa de Museus.

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12 DE 2 A 15 DE JANEIRO DE 2008PUBLICIDADE

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13DE 2 A 15 DE JANEIRO DE 2008 IMAGINÁRIO

Porreiropá!

É hábito eleger-se a “figura do ano”. A nível nacional, nós escolhemos José Sócrates. Goste-se ou não, a verdade é que foi elequem mais se destacou ao longo de 2007, sobretudo através do trabalho desenvolvido na Presidência da União Europeia.Para simbolizar essa escolha, e o bom desempenho de Sócrates, escolhemos algumas imagens que nos pareceram interessan-tes, significativas, simbólicas.Três delas atestam a carinhosa relação que o nosso Primeiro-Ministro estabeleceu com a Chanceler Angela Merkel. Nunca asrelações luso-germânicas foram tão ternurentas!...Carinhoso é também o abraço entre Durão Barroso e Sócrates, num enlace que foi coroado pela célebre expressão deste últimopara o Presidente da Comissão Europeia: “Porreiro, pá! Porreiro!”.A outra imagem pretende simbolizar os progressos que José Sócrates vem fazendo na arte de bem falar inglês (simplificado...).

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14 DE 2 A 15 DE JANEIRO DE 2008EDUCAÇÃO/ENSINO

Professores avaliados com base nasnotas dos alunos e estudantes sujeitos aum estatuto que aperta as normas disci-plinares, mas já não lhes penaliza a ga-zeta: em 2008 todo o sistema educativoenfrenta novas regras.

Com a publicação em Diário da Re-pública do novo Estatuto da CarreiraDocente (ECD) no início deste ano, Go-verno e sindicatos avançaram para a re-gulamentação dos novos princípios daprofissão, nomeadamente da avaliaçãode desempenho, que constituiu um dospontos mais polémicos.

As notas dos alunos de cada docentee a sua comparação com os resultadosmédios dos estudantes da mesma escolaconstituem um dos factores determinan-tes da avaliação dos professores, um pro-cesso que irá ocorrer de dois em doisanos e que passa a ser decisivo para aprogressão na carreira.

Para os docentes, a assiduidade trans-forma-se num dos critérios mais impor-tantes a nível da avaliação, já que paraobter uma classificação igual ou superi-or a Bom, necessária para progredir deescalão, terão de ser cumpridas, pelomenos, 95 por cento das actividades lec-tivas previstas.

Já para os estudantes a assiduidadeperde importância, uma vez que o polé-mico novo estatuto do aluno, que deveráser aplicado já em 2008, permite que es-tes possam passar de ano sem ir às au-las, desde que tenham nota positiva numaprova de recuperação.

O novo documento, aprovado em No-vembro com os votos contra de toda aoposição, motivou uma das maiores con-trovérsias do ano no sector da Educa-ção, com os partidos a acusarem o Go-verno de “menosprezar o valor da assi-duidade” e de “mascarar as estatísticas”do abandono escolar.

Apesar disso, o diploma conseguiureunir o consenso no que diz respeito aoreforço da autoridade dos professores eà simplificação e desburocratização daaplicação de medidas disciplinares e cor-rectivas.

Ainda em relação aos alunos, o Mi-nistério da Educação (ME) anunciou aintenção de duplicar o número de estu-dantes do ensino secundário abrangidospela acção social escolar e de alterar asregras de acesso a bolsas de mérito, deforma a combater o abandono escolar.

Neste sentido, todos os alunos dos cur-sos profissionais públicos e privados vãobeneficiar, já a partir de Janeiro, de subsí-dios de alimentação e transporte, estandoainda a ser estudada a atribuição de umapoio durante os estágios curriculares.

O investimento vai também para osestabelecimentos de ensino, que vão re-ceber mais de 400 milhões de euros emequipamentos, no âmbito do Plano Tec-nológico da Educação, apresentado em

2008: Todo o sistema educativoenfrenta este ano novas regras

Julho pelo Primeiro-Ministro.Até Abril, a “escola do futuro”, como

lhe chamou José Sócrates, vai contar comum computador com ligação à Internetde banda larga, uma impressora e umvideoprojector em cada sala de aula, as-sim como um quadro interactivo por cadaduas salas.

Até ao final do segundo semestre de2008, está ainda prevista a generalizaçãoa 800 mil estudantes do cartão electróni-co, que funciona como porta-moedas elec-trónico e permite controlar o acesso e re-gistar a assiduidade dos alunos.

Para reforçar a segurança, serão tam-bém instalados, no mesmo prazo, 12 milsistemas de alarme e videovigilância nosestabelecimentos de ensino de todo o país.

As novidades ao nível das escolas vãotambém abranger o modelo de gestão,com a substituição dos conselhos exe-cutivos por um director que não será elei-to, mas escolhido por concurso pelosmembros do futuro conselho geral, umnovo órgão composto por professores,pais e representantes das autarquias edas “actividades locais”.

No entanto, as mudanças na gestãodas escolas, aprovadas em Dezembropelo Conselho de Ministros, só deverãoser aplicadas plenamente em 2009, umavez que os conselhos executivos queagora estão em exercício de funçõesdeverão cumprir os seus mandatos até

ao final.Também a avaliação e certificação dos

manuais escolares começará em 2008,mas será aplicada progressivamente, àmedida que forem adoptados os livrosrelativos a cada ano de escolaridade, umprocesso que só deverá ficar concluídoem 2015/16.

Universidades, associações profissio-nais de professores, sociedades ou as-sociações científicas são as entidades quevão avaliar e certificar os manuais emfunção de critérios como o rigor linguís-tico e científico, a conformidade com osprogramas, a qualidade pedagógica e di-dáctica, entre outros.

No próximo ano lectivo serão adopta-dos os manuais, já certificados, de todasas disciplinas curriculares do 9º ano, àexcepção de Língua Portuguesa e Ma-temática, livros que ficarão em vigor du-rante seis anos para possibilitar a suareutilização.

Relativamente aos manuais, o Minis-tério pretende ainda aumentar o apoio àsfamílias carenciadas, cobrindo “tenden-cialmente” a totalidade dos seus custospara mais de 200 mil alunos.

Em 2008, a Educação conta com umorçamento de quase seis mil milhões deeuros, uma verba praticamente igual àinscrita no orçamento do ano passado,mantendo-se como o segundo sector commaior peso no Produto Interno Bruto.

A Ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, impõe novas regras

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15DE 2 A 15 DE JANEIRO DE 2008 EDUCAÇÃO/ENSINO

A Federação Nacional dos Professo-res (FENPROF) reagiu com “grande in-dignação” ao projecto de decreto-lei re-lativo à gestão escolar, que afasta osdocentes da presidência do futuro órgãomáximo das escolas.

Segundo o documento aprovado peloGoverno, o Conselho Geral de cada es-cola ou agrupamento de escolas, órgãoque terá competência para eleger e des-tituir o director, só poderá ser presididopor um encarregado de educação, umelemento da autarquia ou um represen-tante da comunidade local.

Em declarações à Lusa, o Secretá-rio-Geral da FENPROF, Mário Noguei-ra, afirmou que o Governo quer “dimi-nuir ao máximo a participação dos pro-fessores nas escolas”, o que mostra avisão “altamente injuriosa” que tem dosdocentes.

“A FENPROF encara este projectode decreto-lei com grande preocupa-ção e indignação. É inaceitável o vetoque é imposto à possibilidade de os pro-fessores poderem assumir a presidên-cia do futuro Conselho Geral”, afirmouMário Nogueira, acusando o Governode querer que “passem a dominar nasescolas outros interesses que não ospedagógicos”.

Também a possibilidade de os respon-sáveis de colégios privados poderem can-didatar-se à direcção de escolas públi-cas é muito criticada pela federação sin-dical, que classifica este diploma como“um passo muito importante contra oensino público em Portugal”.

A Lusa contactou igualmente o Secre-tário-Geral da Federação Nacional dosSindicatos da Educação (FNE), JoãoDias da Silva, que também contestou o

FENPROF acusa Governode querer reduzira participação dos professores nas escolas

afastamento dos professores da presi-dência do Conselho Geral.

No entanto, João Dias da Silva reme-teu uma posição da FNE para o mês de

Janeiro que agora se inicia, altura em queaquela Federação vai realizar reuniõescom docentes e auxiliares para discutiresta matéria.

De acordo com o projecto de decre-to-lei do ME, que está em consulta pú-blica durante 30 dias (até meados de Ja-neiro), é criado o Conselho Geral, umórgão que terá, no máximo, 20 membros,sendo constituído por professores, fun-cionários não docentes, encarregados deeducação e representantes da autarquiae da comunidade local.

Os professores nunca poderão estarem maioria absoluta no Conselho Geral,

uma vez que o projecto de decreto-leiestabelece que a sua representação nãopoderá ser inferior a 30 por cento nemsuperior a 40 por cento da totalidade dos

membros.No conjunto, docentes e auxiliares das

escolas não poderão ocupar mais do quemetade dos lugares no Conselho Geral,enquanto os encarregados de educaçãoe alunos (estes últimos apenas no casodo ensino secundário) nunca poderão sermenos do que 20 por cento, não estandofixada qualquer quota máxima para a suarepresentação.

Já os representantes da autarquia eda comunidade local, nomeadamentepersonalidades do meio económico, ci-entífico, cultural e social da zona envol-vente da escola, serão em igual número,

não estando igualmente fixado um valor.Assim, o peso dos pais no Conselho

Geral poderá até ser igual ao dos pro-fessores, sendo que os docentes estãoimpedidos de assumir a presidência des-te órgão.

Segundo o diploma, cabe ao ConselhoGeral eleger o director, depois de abrirum concurso e analisar as candidaturas,nomeadamente através de entrevistas.

Os candidatos a director terão de serprofessores com pelo menos cinco anosde serviço e ter formação em gestãoescolar ou, em alternativa, um mínimo detrês anos de experiência de funçõesexecutivas.Ao cargo de director de umadeterminada escola ou agrupamento deescolas podem candidatar-se docentesde outros estabelecimentos de ensinopúblicos, o que a actual legislação nãoprevia, e até responsáveis de colégiosprivados, desde que abandonem essecargo se forem eleitos.

O director, que será coadjuvado poruma equipa de dois a quatro membrosem função da dimensão do estabeleci-mento de ensino, poderá ser destituídopor decisão de, pelo menos, dois terçosdos membros do Conselho Geral, em casode “manifesta desadequação da respec-tiva gestão”.

Na sequência de um processo de ava-liação externa da escola ou de uma ac-ção de inspecção, o director poderá igual-mente ser destituído por despacho do ME,desde que se comprove “um manifestoprejuízo para o serviço público ou umamanifesta degradação” da gestão.

Se tal não acontecer, o director é elei-to por três anos, não podendo assumirmais do que três mandatos na mesmaescola.

O Secretário-Geral da FENPROF, Mário Nogueira

O ensino do português como segundalíngua nos Estados Unidos da América estácontemplado na proposta de lei “omnibus”,aprovada pelo Congresso norte-america-no e que o presidente George W. Bush iráassinar.

Numa intervenção em Novembro, noEstado de Indiana, o presidente Bush ri-dicularizou a proposta de lei de apropria-ção de meios para trabalho, saúde e edu-cação, que vetou, por alegadamente con-ter “projectos de esbanjamento(de dinhei-ros públicos)”, citando como um dos exem-plos “o programa de português como se-gunda língua”.

Tratava-se de uma proposta do congres-sista democrata de Rhode Island, PatrickKennedy, que pedia a atribuição de 200 mildólares para um programa de português

Presidente Bush volta atrás na língua portuguesado Rhode Island College, em Providence.

Nas últimas semanas, ainda houve umatentativa dos republicanos na Câmara dosRepresentantes para que a proposta fos-se retirada da lei de apropriação de mei-os, mas esta acabou derrotada pela maio-ria democrata.

Numa conferência de imprensa no pas-sado dia 20 de Dezembro, em Washing-ton, Bush frisou que na proposta de lei de555 mil milhões de dólares aprovada peloCongresso, existem 9 800 casos de orça-mentos para fins específicos, cujo objecti-vo é satisfazer os anseios dos círculos elei-torais, de forma a garantir o voto nas pró-ximas eleições.

Sem poder para bloquear projectos es-pecíficos, que lhe foi retirado por uma de-cisão do Supremo Tribunal, em 1998, a pre-

sidência dos Estados Unidos apenas podevetar a proposta em bloco.

Na ausência do veto presidencial, o fi-nanciamento para o curso de portuguêssurge entre as 1.300 páginas da propostaque Bush irá assinar, acalmando os muitosprotestos de associações e entidades por-tuguesas aos reparos de George W. Bushem Indiana.

No Rhode Island College (RIC) existe,desde Outubro de 2006, o Instituto paraEstudos Mundiais Portugueses e Lusófo-nos, criado com dois donativos de 250 mildólares, um da JB Fernandes MemorialTrust e outro da Fundação Luso-Ameri-cana para o Desenvolvimento (FLAD).

As doações foram concedidas ao RICem Junho do ano passado como primeiropasso de uma campanha de angariação de

um milhão de dólares para desenvolvimen-to dos estudos de português naquela insti-tuição universitária.

A proposta do congressista Patrick Ken-nedy enquadra-se nesse projecto.

O instituto oferece aos estudantes apossibilidade de se tornarem biligues e bili-terados nos seus ramos profissionais.

O primeiro curso incluiu formação pro-fissional para professores de português eum curso de português para profissionaisde medicina.

Outros áreas incluem a formação deinterpretes certificados, programas de in-vestigação e “workshops” de capacitaçãoem língua portuguesa.

Se em 2002 havia no RIC matriculados51 alunos em cursos de português, hojeexistem mais de 200.

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16 DE 2 A 15 DE JANEIRO DE 2008SAÚDE

Beber oito copos de água diáriospode não ser tão saudável como sepensa, a crença popular de que ape-nas utilizamos 10 por cento da nossacapacidade cerebral é infundada e abarba não cresce mais forte quandoé feita à máquina. Estes são algunsdos mitos que caíram por terra depoisdas investigações de um grupo de ci-entistas da Escola de Medicina daUniversidade de Indiana, segundo umcomunicado divulgado pelo centroacadémico.

“Entusiasmamo-nos com isto por-que sabíamos que os médicos acei-tam estas ideias e transmitem essa in-formação aos seus pacientes e estascrenças são citadas frequentementenesses meios”, sublinhou Aaron Car-roll, um dos co-autores do estudo, pu-blicado no último número do “BritishMedical Journal”.

Carroll e a sua equipa começarama analisar a ideia de que beber oitocopos de água por dia é bom, uma re-comendação que remonta a 1945:“Quando examinamos essa crença,vemos que não existem provas médi-cas que sugiram que uma pessoa ne-

Cientistas americanos deitam por terraalguns mitos populares

cessita de tanta água”, afirmou emcomunicado emitido pela Universida-de de Indiana, Rachel Vreeman, par-ticipante no projecto.

Vreeman acredita que este mito co-meçou em 1945 quando o Conselhode Nutrição recomendou que se de-veria consumir o equivalente a oitocopos de líquidos por dia.

“Com os anos perdeu-se uma parteimportante da recomendação do Con-selho de Nutrição, nomeadamente queas grandes quantidades de líquidos dacomida, sobretudo das frutas e vege-tais, assim como do café e refrescosdeveriam ser incluídas na quantidadetotal aconselhada”, insiste Vreeman.

Os investigadores defendem quebeber em excesso pode ser perigosoe pode conduzir à intoxicação ou in-clusivamente à morte.

Vreeman e Carroll também des-mentem a crença popular de que ape-nas usamos 10 por cento do nosso cé-rebro, uma ideia que está em circula-ção desde 1907.

Os cientistas asseguraram que‘scaners’ cerebrais demonstram quenão há áreas do cérebro inactivas e

os estudos metabólicos sobre como ascélulas processam os químicos cere-brais indicaram que não há partes des-te órgão que não estejam operantes.

O conselho que muitas mães dão àssuas filhas adolescentes para que nãodepilem as pernas porque os peloscrescem mais rapidamente, mais es-curos e com mais força também ca-rece de valor científico.

O mito, que se perpetuou duranteos últimos 80 anos, pode ser em partefruto de uma ilusão óptica.

“Quando o pelo aparece depois deser rapado, cresce espetado. Com otempo essa ponta desgasta-se e podeparecer mais grossa do que realmen-te é”, dizem os investigadores.

Para além disso, o sol descolora o pelocom o tempo, pelo que os pelos recém-nas-cidos depois de rapados podem parecer maisescuros, mas não o são.

Outra ilusão óptica leva a crer que pelose unhas continuam a crescer nos mortos.

O que ocorre na realidade é que apele se retrai em redor do pêlo e dasunhas devido à desidratação dos ca-dáveres.

E para finalizar, ler com pouca luznão causa um dano permanente nosolhos e comer perú não provoca so-nolência como garantem alguns.

As mulheres sentem e queixam-semais vezes da dor e o número de nasci-mentos e mortes ao longo do ciclo devida é maior no sexo masculino, querecebe melhor tratamento de Saúde,conclui um relatório português.

Estas conclusões integram um docu-mento provisório, que resulta de um con-junto de estudos elaborados no âmbitodo projecto “Saúde, Sexo e Género -PROSASGE”, a decorrer na Direcção-Geral da Saúde (DGS), desde Maio de2006.

Datado deste mês, o documento inti-tulado de “Saúde, Sexo, Género; Fac-tos, representações e desafios” lembraque o actual desafio em relação ao gé-nero é desenvolver estratégias para ocolocar nos programas de política desaúde e assim uma melhor adaptaçãodos cuidados prestados a homens emulheres.

Citando um estudo de 2005, o docu-mento da DGS refere que as mulheressão mais sensíveis e menos tolerantes àdor, queixando-se mais frequentemente,com maior duração e maior severidade.

Em termos de tratamento, “parece

SEGUNDO RELATÓRIO DA DIRECÇÃO-GERAL DE SAÚDE

Mulheres queixam-se de mais dore homens nascem e morrem mais

haver também evidência científica queas mulheres serão mais inadequada-mente tratadas do que os homens” eque os efeitos de alguns analgésicos,segundo alguns autores, variam como sexo e os efeitos adversos parecemser mais frequentes nas mulheres.

Sobre mortalidade e morbilidade (re-lação entre os casos de doença e nú-mero de habitantes), sublinha-se queas diferenças são encontradas por in-fluência biológica, genética, hormonale metabólica, como em situações decancro do colo do útero e cancro dapróstata.

São concebidos mais embriões dosexo masculino, numa proporção calcu-lada de 120/100, mas face à maior vul-nerabilidade destes fetos a morte den-tro do útero é mais frequente. Regista-se, porém, mais nascimentos de rapa-zes numa proporção de 105/100.

Ao longo do ciclo de vida, os homenslideram as taxas de mortalidade nas vá-rias regiões do mundo e em todos osgrupos etários.

Em Portugal, segundo dados de2004, esta tendência apenas apresen-

tou uma excepção nas idades maisavançadas, sendo no total que a dife-rença de mortalidade masculina é 4,5por cento superior à feminina. A maiordiferença é encontrada entre os 15 eos 54 anos.

Dados da Organização Mundial daSaúde referem que, em média, morre-ram 1,42 vezes mais homens que mu-lheres, encontrando-se os limites des-ses valores em África (1,09 vezes mais)e na Europa (2,33).

A explicação para estes indicado-res pode estar numa maior vulnerabi-lidade dos homens face a algumas do-enças ou ao aparecimento destas emidades mais jovens ou ainda pelo sexomasculino estar mais exposto a deter-minados riscos, muitas vezes volunta-riamente para demonstração de “mas-culinidade”.

Entre as principais causas de mortena Europa, segundo a OMS, estão asdoenças cardiovasculares, matando 55por cento de mulheres e 43 por centode homens e os tumores, que vitimamcerca de 17 por cento e 21 por cento,respectivamente.

Quanto a causas “externas”, na Eu-ropa o valor da mortalidade entre oshomens é sempre superior, exceptoacima dos 75 anos, assim como emtermos de acidentes rodoviários e desuicídio.

Em Portugal, morreu-se mais em2004 devido a doenças cerebrovascu-lares e tumores. Nas causas de morteviolentas, onde se incluem os acidentesde trânsito e lesões auto provocadas in-tencionalmente, a sobremortalidademasculina é mais evidente.

Este padrão havia já sido constatadoa propósito da mortalidade em idadesjovens. Entre 1992 e 2001, quanto aóbitos por acidentes de transporte nosgrupos etários 15-19 e 20-24 anos, fo-ram observados nos homens valoressuperiores em 80 por cento aos verifi-cados nas mulheres.

Em 2005, segundo o Instituto Nacio-nal de Estatística, a esperança de vidaà nascença foi de 81,4 anos, no sexofeminino, ao passo que no sexo mascu-lino não ultrapassou os 74,9 anos.

No entanto, a sobrevida nas mulhe-res não significa, necessariamente, que

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17DE 2 A 15 DE JANEIRO DE 2008 SAÚDE

MassanoCardoso

Na minha adolescência, as férias doVerão eram passadas, invariavelmente,na terra, em amenos e divertidos conví-vios com os colegas e outros jovens quenessa época vinham das cidades. O lo-cal de encontro, “Oásis”, era uma espla-nada isolada junto à ponte do rio Dão,aproveitando um velho parque, com be-las e frondosas árvores, entre as quaissobressaíam gigantescos cedros impedin-do o sol de penetrar no espaço, a meiocaminho entre a estação e a vila. Tardese noites com jogos, música, conversas ealguns mosquitos. Durante a tarde, de-pois da digestão feita, dávamos uma sal-tada ao rio, tomávamos umas boas ba-nhocas acabando por repousar mais unsmomentos até fazer horas para o jantar,rápido, findo o qual voltávamos ao “Oá-sis” para a noite, que tinha que acabarantes das doze badaladas, excepto emalguns dias de festa. Mesmo assim, ahora limite era, no meu caso, até à uma,sendo um problema se chegasse meiahora depois. Feitas as contas ainda eramuns razoáveis quilómetros a pé que tinhaque fazer diariamente.

No Verão dos meus quinze anos, jun-taram-se ao nosso grupo duas jovens quenão conhecíamos de lado nenhum. Sabí-amos que estavam a habitar a casa dacurva do bairro. O pai, um senhor bemparecido, com aspecto de ter idade nacasa do meu, passou a ser objecto decuriosidade. Quem seria? Donde vinha?Por que razão passou a ocupar uma casaque ninguém se lembrava de ter sidohabitada? Uns diziam que era engenhei-

“Ó Chiquinho, o lugar?”ro, que vinha para as obras, outros des-confiavam e diziam que não tinha caradisso. Ao fim de algum tempo a curiosi-dade foi satisfeita, tratava-se de um es-critor. Mas o que é que fazia um escritorna vila? Devia escrever, claro. Mas porque razão escolheu o nosso espaço? Seo escolheu devia ter os seus motivos. Vi-o várias vezes a conversar junto do caféda vila e fiquei a saber o seu nome: Má-rio Braga. Presumo que passou mais doque um Verão.

Uma das filhas, no nosso “Oásis”,desafiou-nos para um jogo de cartas. –Vamos jogar à canasta? – Canasta?! Quejogo é esse?!. Ficou com ar meio sur-preendida com a nossa resposta e disseque era um jogo em que se utilizavam as52 cartas. Aí respondemos que não sa-bíamos jogar com tantas cartas, só com40 e tinha que ser à bisca ou à sueca,porque ao burro era para os mais miú-dos. Bem tentou explicar as regras, masnós não achámos muita piada. Acaboupor ter que jogar à sueca e à bisca. Queremédio!

Perguntámos se o pai era escritor eela disse que sim. Gostava da nossa vila,queria conversar com as pessoas, estu-dá-las, ouvir as suas histórias, tudo parase inspirar e produzir a sua obra.

Anos mais tarde, já era médico há al-gum tempo, em casa de um compadre,esbarrei numa obra intitulada “Históriasda Vila”. Perguntei-lhe: – Olha lá. Esteautor não era aquele senhor que chegoua habitar, durante o Verão, a casa dacurva do bairro? Respondeu que sim edisse que o livro contava histórias da vila.Pedi-lho emprestado e li-o, freneticamen-te, de uma penada. Recordo algumaspassagens e, sobretudo, uma persona-

gem, facilmente identificável, que conhe-ci muito bem. O livro tinha um encantoespecial. Adorei a narrativa e a análisedas suas personagens.

Há dias, num intervalo de provas aca-démicas que decorreram em Lisboa,aproveitei a tarde do primeiro dia paranão fazer nada, ou melhor, acabei porfazer o habitual: ir para a zona do Chia-do, que eu adoro, percorrer os alfarra-bistas. Entrei num e deparei-me comquatro obras que de imediato recolhi, aprimeira das quais foi “Antes do Dilú-vio”, de Mário Braga. O livro, editadohá quase 40 anos, tinhas as marcas na-turais da passagem do tempo. Comeceia folheá-lo e a leitura do mesmo fez-merecordar o outro que tinha lido há muitosanos. Na última página, a fechar a obra,podia-se ler: “Santa Comba Dão. Agos-to de 1966”. Ah! Então este era o livroque o senhor andava a escrever naquelebelo e saudoso Verão! Em duas noitesdevorei-o com a mesma satisfação daleitura de “Histórias da Vila”.

A história do “Antes do Dilúvio” des-creve a vida e a problemática política esocial de uma vila tipicamente beirã. Apersonagem principal era o ChiquinhoBoavida, barbeiro, cronista do semaná-rio da região, presidente da junta de fre-guesia, dotado para as artes de fígaro eexcelente orador, desejoso de voos maisaltos, que lhe possibilitassem ir para Lis-boa, a fim de fugir à tirania da mãe e

poder casar com a sua eterna amada,além de tirar rendimentos dos seus ta-lentos.

Numa das passagens, o escritor rela-ta a entrada em cena do Recor. O Re-cor é o tolo do sítio, defeituoso de mão epé direitos que nunca conseguiu sair daprimeira classe. O mestre-escola chegoua dizer-lhe que batia o “record da estupi-dez”. De record a Recor foi um passopara passar a ser conhecido apenas peloapodo. Era defeituoso, tinha as suas li-mitações mentais, mas sabia que tinhaque ganhar a vida, porque a mãe erapobre. Tinha pedido mais do que uma vezum lugar na junta ou no cemitério, a fimde providenciar o seu sustento. Volta enão volta atacava o presidente da juntada freguesia. A sua entrada em cena, naobra de Mário Braga, é notável. Chiqui-nho Boavida, numa caminhada, matuta-va sobre como dar volta à vida, quandosentiu alguém, por detrás, a puxar a man-ga do seu casaco dizendo: – “Ó Chiqui-nho, o lugar?” Surpreendido, disse-lhe queestava a ser difícil porque não tinha odiploma e sem o comprovativo da quartaclasse não sabia como arranjar-lhe um.Lá se descartou do pobre rapaz comopode.

No dia em que comprei esta obra, osjornais anunciavam as preocupações dosenhor Presidente da República com odesemprego dos nossos jovens que es-tão cada vez mais qualificados mas cadavez mais longe de arranjarem um lugarque lhes possa propiciar independênciae subsistência. É triste o ambiente de-pressivo que nos rodeia. Desemprega-dos, incapazes de conseguirem um lugarminimamente estável, objectos de explo-ração indigna, o quadro não abona nadade bom e desmistifica a promessa de al-guém que há pouco mais de dois anosprenunciou uma centena e meia de mi-lhar de novos empregos! Não foi nenhumpresidente de junta, foi o actual Primei-ro-Ministro.

Os jovens que andam por aí não sãodefeituosos, o que é, também, de some-nos importância, como é óbvio, não sãotolos e têm, a grande maioria, diplomasde ensino superior, um verdadeiro record.

Estou a vê-los – se pudessem lá che-gar, claro – a puxarem a manga do se-nhor Primeiro-Ministro dizendo-lhe: – “ÓChiquinho, o lugar? “

Qual seria a sua resposta?A do Boavida já eu sei...

Mário Braga

estas vivam com “mais saúde” do queos homens e com a chegada da meno-pausa, deixa de haver uma tão marca-da protecção hormonal dos estrogéni-os, nomeadamente em termos de doen-ças cardiovasculares.

Ao apresentarem sintomas ou sinaisdiferentes dos homens quanto a estasdoenças, poderá haver uma sub-diag-nosticação no sexo feminino.

Não alheio a este cenário está tam-bém uma habitual adopção por parte dosprofissionais de saúde de uma “perspec-tiva masculina nos ‘hábitos de pensa-mento’, que cria uma ‘norma masculi-na’, consubstanciada na tendência parausar o homem como standard”.

“Tal viés repercute-se também noacesso aos cuidados, no emprego dosrecursos de diagnóstico e nos proces-sos terapêuticos”, lê-se no documento.

O uso de um “modelo feminino”também acontece, mas de forma muitorestrita como na osteoporose. Esta do-

ença quando relatada na literatura ci-entífica é usualmente ilustrada por fi-guras de mulheres, enquanto em ou-tras patologias a norma é usar figurasmasculinas.

São ainda apontadas diferenças nainvestigação centrada no caminho queos medicamentos seguem no organis-mo (farmacocinética), ao serem usa-dos nos estudos, de “forma largamentemaioritária”, indivíduos do sexo mas-culino, embora “as conclusões sejamgeneralizadas a ambos os sexos e autilização dos fármacos sigam os mo-delos desse modo produzidos”.

Em Setembro último, o Comité Re-gional para a Europa aprovou uma re-solução que exortava os Estados-membros a tomar uma série de inicia-tivas para integrarem a análise base-ada no género em matérias de saúdee mesmo “concretizar progressos nosentido da igualdade de género no sec-tor da Saúde”.

MULHERES QUEIXAM-SE MAIS DA DOR

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18 DE 2 A 15 DE JANEIRO DE 2008A PÁGINA DO MÁ[email protected]

Mário Martins

DISTINÇÃOPela primeira vez, “A Página do Má-

rio” integra uma lista dos “melhores blo-gues”.

A distinção - que é naturalmente agra-dável, mas julgo exagerada - foi do blo-gue “Bola na Área”, que classificou “APágina” em 6.º lugar n’ “Os meus blo-gues de Desporto em 2007”.

Muito obrigado.(publicado em 29/12)

DESABAFOPor vezes, é difícil interpretar correc-

tamente o que surge na comunicaçãosocial.

Cada vez mais difícil, parece-me.Agora mesmo tive de pegar no tele-

fone e ligar a um amigo para perceberum (estranho) texto.

Felizmente, ele forneceu-me a “cha-ve” para entender a entrevista.

Obrigado.(publicado em 29/12)

QUE CONFUSÃO!A jornada joga-se a 6 (domingo).O Académica-Braga foi alterado para

8 (terça-feira).Agora foi corrigida a data para 4 (sex-

ta-feira).As mudanças ficarão por aqui?

PS - Noutro dia mostrei aqui no blo-gue que Manuel Machado ainda era otreinador da Académica no “site” daLiga de Clubes, meses depois de ter sa-ído do clube. “Remédio santo”: em pou-cos dias, o nome do treinador da Briosafoi corrigido. Prova-se que há quem leiaeste blogue.

(publicado em 28/12)

OS VÍDEOS DO ANO (*)A saída de Santana Lopes dos estúdi-

os da SIC foi o momento YouTube de2007 para os vídeos nacionais.

De Ricardo Araújo Pereira escolhe-mos Marcelo Rebelo de Sousa. Marizano David Letterman e Joe Berardo nãopodiam faltar. E as gaffes de Sócratestambém não.

“Leave Britney alone!” foi visto maisde 14 milhões de vezes e tem de ser oescolhido nos vídeos internacionais.

“Por qué no te callas?”, o vídeo gra-vado pelo responsável do massacre deVirginia Tech e a morte do fotógrafo ja-ponês na Birmânia foram algumas danotícias que marcaram 2007.

(*) - escolhas do jornal“Público” (publicado em 28/12)

HISTÓRIA (TRISTE)DE NATAL

O rapazinho chorava. O agente da

PSP que estava de serviço àquela esco-la de Rabo de Peixe perguntou-lhe a ra-zão do choro, e ele respondeu: “Minhamãe não teve dinheiro para comprar ve-las.”

Uns anos antes, o pai fora acusado demaus tratos à mulher e aos filhos. Entre-tanto, deixara de beber e arranjara em-prego. Mas foi então que, numa certanoite, alguns polícias foram buscá-lo acasa para cumprir a pena de prisão fi-nalmente decidida pelo tribunal. Quandoele já não representava nenhum perigopara a sociedade nem para a família, ese tornara indispensável para garantir osustento desta.

A mãe não tivera dinheiro para pagara conta da electricidade, que lhe foi cor-tada. Nem o teve para comprar velas àluz das quais o filho pudesse fazer os tra-balhos de casa. E ele estava com medode que a professora se zangasse.

A justiça é cega. Mas, às vezes, seriamelhor que abrisse os olhos.

(in “Aspirina b”;publicado em 27/12)

ASAE ENCERRAPRESÉPIOS MUNICIPAIS

Os presépios são um mau exemplopara a sociedade.

Entre vários problemas, salientam-seos seguintes: pessoas e animais a convi-verem no mesmo espaço, bebé sem rou-pa adequada ao clima, animais sem re-gisto de vacinas e a presença de palha,que é altamente inflamável e não ofere-ce condições de segurança.

Por último, a mirra e o incenso nãopodem ser transportados naquele tipo derecipientes.

(publicado em 23/12)

ÁRBITRO (DE 18 ANOS!)MORRE DURANTE JOGO

Lorenzo Modena, de 18 anos, morreuhoje vítima de paragem cardíaca, en-quanto arbitrava um jogo de futebol ju-venil, em Verona (norte de Itália).

Lorenzo Modena dirigia um encontrodo campeonato regional.

(publicado em 22/12)

BCPTambém tenho uma “estória” para

contar.Triste.

(publicado em 22/12)

BONS SONHOSA próxima é a mais longa noite do ano.Aproveitem-na bem.

(publicado em 21/12)

ANEDOTANuma reunião com o Presidente da

Suiça, o primeiro-ministro portuguêsapresentou-lhe os seus ministros:

– Este é o ministro da Saúde, este é oministro dos Negócios Estrangeiros, estaé a ministra da Educação, este é o mi-nistro da Justiça, este é o ministro dasFinanças...

Chegou a vez do Presidente da Suiça:– Este é o Ministro da Saúde, este é o

Ministro dos Desportos, este é o da Edu-cação, este o da Marinha...

Nessa altura, com ar emproado, JoséSócrates começou a rir:

– Ha! Ha! Ha!... Para que é que vo-cês têm um Ministro da Marinha, se ovosso País não tem mar?

Presidente da Suiça faz um ar dignoe respondeu:

– Não seja inconveniente. Quandovocê apresentou os seus ministros daEducação, da Justiça e da Saúde, eu tam-bém não me ri...

(recebida por e-mail;publicada em 20/12)

APITADELAS (*)Um amigo meu perguntava-me: «Afi-

nal, no que deu ou vai dar o Apito Dou-rado?». Ao que eu respondi: «O que vaidar não sei, o que deu sei». E no que jádeu foi no seguinte:

- João Loureiro abandonou o Boavis-ta, bem assim como a sua família.

- Valentim Loureiro não é o presidenteda Liga.

- E a U. Leiria está com os patinscalçados...

Podem achar pouco. Eu acho que já é

alguma coisa.(*) Eugénio Queirós no “Bola na

Área”; publicado em 20/12

PONTOS DE VISTAEm Portugal, o poder de compra caiu

de tal modo que até a classe média estáa sentir na pele essa queda.

No seu estilo inconfundível, o Blocode Esquerda atacou o Governo com oseguinte argumento:

– Temos a situação tão degradada,com os valores éticos, sociais e morais aserem postos quotidianamente em cau-sa por este Governo, que até universitá-rias estão a começar a prostituir-se...

A resposta de Sócrates não se fezesperar:

– Em primeiro lugar, este Governo nãorecebe lições de ética, nem quaisqueroutras, de ninguém. Em segundo lugar, ecomo é apanágio de V. Ex.ª, que já noshabituou à distorção sistemática da rea-lidade, o que acontece é exactamente ooposto: a situação é tão boa que até asprostitutas já são universitárias...

(recebida por e-mail;publicado em 20/12)

Esta jovem, Olga Marisa Martins Almeida, do Conselho de Arbitragemde Viseu, fez uma excelente arbitragem, ao contrário do que tinha sucedidocom a árbitra do Vigor-Alverca.

Olga Almeida mereceu 18 valores!Tomaram muitos homens arbitrar como ela...

(publicado em 28/12)

AS ESTRANHAS CONTAS DA INFLAÇÃOInflação prevista pelo Governo para 2008: 2,1%Aumento de salário dos funcionários públicos: 2,1%Inflação prevista por organismos estrangeiros para 2008: 2,4% a 2,5%

AUMENTOS DE PREÇO REAIS em 2008Electricidade: 2,9%Gás propano: 4,5%Pão (previsão): 30%Portagens de auto-estrada (média): 2,58%Portagens de auto-estrada (Classe 1): 2,94%Tabaco: 10%Taxa de radiotelevisão: 5%Transportes: 3,9%

(publicado em 28/12)

VISEU TEM EXCELENTE ÁRBITRA

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19DE 2 A 15 DE JANEIRO DE 2008 DESPORTO

O treinador Vítor Manuel, de 55 anos,parte amanhã (quinta-feira) para Luan-da, para treinar o vice-campeão angola-no de futebol, a equipa do 1º de Agosto,com o objectivo de conquistar o título.

“Esta é a minha primeira experiênciainternacional. Claro que o objectivo é sercampeão pelo 1º de Agosto, ser melhorque os outros, mas ter muito respeito pe-los adversários. O 1º de Agosto, sem me-nosprezo pelos outros clubes, é o maiorclube de Angola”, referiu o novo técnico.

Vítor Manuel explicou ainda que o 1ºde Agosto rivaliza com o Petra devido aonúmero de títulos conquistados, tendo oprimeiro conquistado 9, enquanto o segun-do já conta com 13. Para além destes doiscolossos, há que contar com o Asa e como actual campeão angolano, o Inter.

O técnico conimbricense vai trabalhardurante dois anos em Angola e faz-se

Vítor Manuel parte à conquistado campeonato angolano

CONFESSANDO QUE A ACADÉMICA É O SEU “CLUBE DO CORAÇÃO”

acompanhar por Vítor Bruno, como trei-nador-adjunto, e por Hélder Cruz, comotreinador de guarda-redes.

Para além da conquista do título, a in-tenção de Vítor Manuel é, dentro dosseus conhecimentos, “disponibilizar tam-bém algum tempo para organizar o fute-bol de formação dentro do clube”.

Como o Campeonato de Angola come-ça apenas em Março, a equipa do 1º deAgosto vai estagiar em Portugal de 13 a31 de Janeiro, no Centro de Estágios deRio Maior. Estão já agendados jogos entreo 1º de Agosto e o Rio Maior, o Belenen-ses, o Fátima, a União de Leiria, o Estrelada Amadora e o Rapid de Bucareste.

“O objectivo é dar competitividade eritmo à equipa e prepará-la para a pré-eliminatória da Liga dos Campeões Afri-canos”, salientou o técnico.

Vítor Manuel é treinador desde 1984,

ano em que treinou pela primeira vez aAcadémica de Coimbra, “clube do cora-ção”, segundo suas palavras. Liderououtros grupos como o Penafiel, União deLeiria, Salgueiros, Académica (2ª vez),Leça, Belenenses, Sporting de Braga eUnião da Madeira.

“Desempregado” há três anos, depois deuma curta experiência no União da Madei-ra, com problemas de saúde à mistura, temsido companhia de noites ou tardes no canalSportv a comentar jogos da Liga portugue-sa de futebol ou da Liga Vitalis.

Questionado se se sentia a mais comotreinador em Portugal, Vítor Manuel de-sabafou ao seu jeito, dizendo que não eracaso virgem. “Em Portugal a experiên-cia e o curriculum por vezes não con-tam. As coisas não se passam assim.Portugal tem muitos treinadores e nãohá lugares para todos. Treinar lá fora

também era o meu sonho, o meu objecti-vo. Angola foi o mais rápido e vou commuito gosto”.

O “bicho” Académica está sempre amorder dentro dele, Vítor Manuel, mascomo profissional só pode desejar a me-lhor sorte do mundo e desligar os senti-mentos que o prendem para sempre aoclube de eleição.

“A Académica é o meu clube do co-ração. Representa muito para mim, mascomo profissional de futebol só possodesejar ao meu colega Domingos Paci-ência que tenha muita sorte e que recu-pere no campeonato, aliás o que está aacontecer. Não tenho nenhum ressenti-mento de não ter voltado a treinar a Aca-démica, mas nunca digo nunca a nada,no entanto, não estou obcecado por isso”,concluiu o treinador.

Norberto Rodrigues

Vanessa, Telma, Nelson. Os nomes sãopouco vulgares, mas identificam com fa-cilidade os três desportistas portuguesesque mais se destacaram em 2007 e re-presentam as maiores esperanças demedalhas olímpicas.

Nelson Évora foi o surpreendente cam-peão mundial do triplo salto, Vanessa Fer-nandes confirmou-se como a grande do-minadora do triatlo, ganhando o Mundial ea Taça do Mundo, e Telma Monteiro che-gou à prata no Mundial de judo, o melhorresultado de sempre de portugueses namodalidade.

O saltador e a judoca já asseguraram aqualificação olímpica, a triatleta ainda nãofaz parte dessa lista, mas pelos pontos quejá conseguiu está virtualmente apuradapara Pequim2008.

Aos 22 anos, Vanessa Fernandes, che-gou mais cedo que o esperado ao topo eesta época conseguiu não só repetir o triun-fo na Taça do Mundo (só não ganhou naetapa de Moololaba, Austrália), como ga-nhar o primeiro ouro em Mundiais, em Ham-burgo, Aledmanha, em 30 de Agosto.

Três dias antes em Osaca, no Japão,Nélson Évora tornava-se no primeiro por-tuguês a conseguir uma medalha de ouroem Mundiais de atletismo, no sector mas-culino.

Apenas um ano mais velho que Vanes-sa, também ele parece que “queimou eta-pas” esta temporada, em que progrediucerca de meio metro.

Em Julho, em Madrid, passou por umcentímetro a barreira dos 17,50 metros, masem Agosto fez melhor, com um fantásticosalto de 17,74, que “arrumou” toda a con-

BALANÇO DO DESPORTO NACIONAL EM 2007

Vanessa, Telma e Nélson: o “trio de ases”corrência.

Telma Monteiro, o terceiro “ás” do ac-tual desporto português em modalidades in-dividuais esteve quase tão bem, só perden-do por muito pouco na final do Mundial doRio de Janeiro, já em Setembro.

No que terá sido um dos últimos comba-tes em -52 kg (ainda o fará nos Jogos Olím-picos, depois fará só -57 kg), Telma, tam-bém de 22 anos, chegou a ter vantagemsobre a chinesa Junjie Shi, mas permitiu areviravolta.

Vanessa, Nelson e Telma foram os gran-des destaques individuais do ano e é nelesque os portugueses depositam as maioresesperanças olímpicas, mas pelo que fize-ram em 2007 outros há que justificam umanota bem positiva.

Em Dezembro, no Orange Bowl, umaespécie de campeonato do Mundo oficio-so para jovens tenistas, Michelle Brito ga-nhou no escalão de sub-19 (juniores).

O triunfo só por si merece destaque, maseste fica reforçado ao acrescentar-se queMichelle só fará 15 anos em Fevereiro eque foi a segunda mais jovem de sempre aganhar o Orange Bowl de juniores.

O ano já lhe correra muito bem, tendosido a primeira portuguesa a ganhar a uma“top-50”, no torneio de Miami, Florida, emAbril, para no mês seguinte atingir os “quar-tos” de juniores em Roland Garros, Paris.

No atletismo, o feito de Nelson Évora,deixou para segundo plano o facto de Nai-de Gomes ter ficado às portas do pódioem Osaca, no comprimento, o “nulo” deFrancis Obikwelu e a ausência de Rui Sil-va das pistas.

Naide não chegou ao pódio de Osaca -

todo composto por russas - por três centí-metros apenas, mas fica com razões parater um balanço positivo do ano, pois foicampeã europeia em pista coberta e me-lhorou o recorde nacional para excepcio-nais 7,01 metros.

Francis Obikwelu, vice-campeão olím-pico de 100 metros em 2004, conseguiunos Mundiais algo de raramente visto, aoser desclassificado por falsa partida semse adiantar ao tiro, mas tão-somente porter mexido o ombro.

Rui Silva, também medalhado em Ate-nas2004, mas com o bronze dos 1.500 me-tros, passou pelo segundo ano consecutivoao lado da época de pista, mas em Dezem-bro regressou aos melhores dias, numa ines-perada estreia em corta-mato longo.

A mudança de treinador, de BernardoManuel para João Campos, e de residênciae local de treino, para a Maia, trouxeramoutras prioridades, nomeadamente as dis-tâncias mais longas.

Em Toro, Espanha, correu no início deDezembro o seu primeiro Europeu de cros-se e saiu-se muito bem, com o bronze, logoatrás do ucraniano Serguei Lebid, hetpacam-peão continental, e do sueco Mustafa Mo-hamed, um dos grandes especialistas mun-diais de obstáculos.

O brilharete nas modalidades colectivaspertenceu ao râguebi e ao basquetebol, pou-co habituadas a estar entre a elite, mas queem 2007 o conseguiram.

Para os “Lobos”, a ida ao Mundial foi oprémio de uma grande evolução. Como seantevia, nos estádios de França somaram

derrotas, mas por números que nada têm aver com o que acontecia há ainda não mui-tos anos.

Em Espanha, em Setembro, a selecçãode basquetebol esteve em excelente planono Europeu, vencendo Letónia e Israel, paraterminar no “top-10” continental.

A nível organizativo, a nota principal fo-ram os Mundiais de classes olímpicas devela, em Cascais, em Julho. Quase todos osbarcos portugueses conseguiram o apura-mento olímpico, mas ninguém foi ao pódio,pelo que o principal sucesso desportivo vaipara a dupla Álvaro Marinho/Miguel Nu-nes, finalmente campeã da Europa de 470.

Portugal também organizou o Europeude futsal, em Novembro em Gondomar, coma selecção das “quinas” a desiludir de algu-ma forma, com o quarto lugar.

Ainda assim, bem melhor que o sexto noMundial de hóquei em patins, no que foi apior classificação portuguesa de sempre.

Sem decepcionar, mas sem empolgar, ofutebol terminou a sua qualificação para oEuro2008, fechando o grupo atrás da Poló-nia, com mais empates e derrotas que o queseria de esperar.

Na Liga de futebol, o FC Porto continuaa mandar, sem rivalidade à altura dos clu-bes de Lisboa, mas nas competições euro-peias o ano não foi especialmente interes-sante: os que chegaram mais longe foram oBenfica, nos “quartos” da Taça UEFA, e oFC Porto, nos “oitavos” da Liga dos Cam-peões.

Filipe Bravo (Agência Lusa)

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20 DE 2 A 15 DE JANEIRO DE 2008OPINIÃO

Carlos Carranca e a chama de Torga em cada um de nósSou um jovem estudante de medicina em

Coimbra e confesso que desconheço emgrande parte a obra de Miguel Torga, muitoembora o seu entusiasmo pelas montanhasagrestes da paisagem transmontana, bemcomo a transparência das suas palavras noque diz respeito à mais subtil natureza hu-mana, me tenham chamado a atenção parao seu nome. Existe em mim uma profundaadmiração pela tranquilidade majestosa dasmontanhas – silêncio que nos confronta im-placavelmente com o ruidoso desassossegodas nossas existências em roda-viva. Quantoà necessidade de procurar um sentido paraa vida humana, está latente em cada um denós e é uma busca que começa precisa-mente por compreender qual a nossa ver-dadeira natureza.

Quiseram as circunstâncias que me de-parasse com a voz imortal, possante echeia de emoção de Miguel Torga, leva-da ao palco por Carlos Carranca, numahomenagem feita pela Associação dosAntigos Estudantes de Coimbra em Lis-boa no Casino Estoril, e que contou com

Já há muitos anos, no sábado mais pró-ximo do 25 de Novembro, data da inolvi-dável “Tomada da Bastilha”, comemoran-do agora o seu 87º aniversario, realizou aDirecção da Associação a costumadaFesta, desta vez com a homenagem aMiguel Torga, no ano do seu centenário.Tudo se conjugou para uma grande reu-nião no Casino. Gente… muita gente!

O programa prometia, ansiedade eramuita.

Tudo começou pela alegria de rever ve-lhos companheiros, dar muitos abraços erecordar com muitas saudades o tempo pas-sado, onde tudo era lindo… Um bem-estarinterior afaga-nos de mansinho, vai-se en-tranhando em nós. É a felicidade do reen-contro. Coimbra no seu melhor!

A presença dos três últimos Magníficos

A propósito do espectáculo intitulado “Aqui, Diante de Mim” (uma homenagem a Miguel Torga que decorreu no Casino Estoril no passado dia 24de Novembro, e a que já aludimos nas anteriores edições) recebemos os dois textos que a seguir se reproduzem:

AINDA A HOMENAGEM A MIGUEL TORGA NO CASINO ESTORIL

a participação dos alunos da Escola Pro-fissional de Teatro de Cascais.

A homenagem consistiu numa recriaçãode alguns momentos da vida de Torga, par-tindo de alguns dos seus textos e poemas.Juntando canto, poesia, dança e imagens, oespectáculo deu ao público a oportunidadede contactar com o poeta e o seu mundo,numa atmosfera de grande intimidade ecumplicidade. A figura imponente mas hu-milde de Carlos Carranca com os seus pésdescalços simbolizou bem toda a força telú-rica de Torga, em uníssono com a sua con-dição humana. Em pouco mais de 45 minu-tos transmitiu-se toda uma vivência de umhomem que soube dar o devido valor às ra-ízes humanas que nos prendem à vida.

Presenciei um espectáculo que deu aconhecer Torga de uma forma muito práti-ca, através da sua obra, sem qualquer exer-cício de erudição. Foi um momento de pro-funda interiorização poética, no qual perce-bi claramente o quanto as palavras de Tor-ga ressoam dentro de mim. Ligam-nos amesma natureza humana e a mesma inquie-

tação. Na verdade, basta existir neste tran-sitório mundo desconhecido e ter uma com-pleta consciência disso para que a necessi-dade de encontrar respostas surja sem dónem piedade. É uma busca que não temfim, mas a única capaz de nos ir libertando,aos poucos, das amarras invisíveis da nossaprópria inconsciência.

Como diz Torga, o importante é aceitarpartir nessa aventura, o ponto de chegadapouco importa. Até porque respostas abso-lutas nunca se encontram, ou não fosse esteum mundo em que a mais básica ilusão setoma facilmente por verdade à luz do nossoentendimento. Mas é no seio desta aparen-te realidade que cabe ao homem encontrar-se a si mesmo, descobrir a sua essência depoeta e, com a mesma lucidez de Torga,compreender que recebemos de Deus umagrandeza natural que dispensa qualquer tipode submissão. Compreender o verdadeirovalor da existência humana passa realmen-te por reconhecer que é nesta nossa experi-ência telúrica que se encontram as oportu-nidades perfeitas para a nossa completa

realização espiritual.Reconhecendo o valor da herança que

Torga deixou a Portugal, que nenhum denós descanse enquanto não conquistartambém dentro de si a liberdade necessá-ria para manifestar toda a grandeza quese esconde dentro de cada ser humano.No nosso espírito arde a mesma chamade faíscas irrequietas que se encontra emtodos os poetas.

De facto, uma homenagem capaz de(re)despertar consciências para o grandepoeta que foi Miguel Torga. Uma excelenteforma de dar a conhecer um autor e queme contagiou com uma vontade sincera deconhecer melhor a sua obra. Um exemploa seguir, num momento em que é muitasvezes difícil cativar os jovens para os gran-des autores da nossa língua e para a impor-tância que a literatura representa como pontode partida para uma compreensão mais pro-funda de nós próprios.

João da Cruz(finalista de Medicina

da Universidade de Coimbra)

Homenagem a Miguel TorgaReitores, todas as Associações dos AntigosEstudantes de Coimbra, o Presidente daCâmara da nossa “Cidade”, tudo enfim con-tribuía para a festa ser maior.

Conversa e mais conversa, todos se sen-tam para jantar à última hora.

Assiste-se ao Programa do Casino, se-gue-se a Tuna da Faculdade de Medici-na de Coimbra, os cumprimentos e agra-decimentos da Presidente da Direcção,a entrega do Premio à melhor aluna daFaculdade de Medicina da Universidadede Coimbra e, finalmente, a Homenagema Miguel Torga.

Era o ponto alto da Festa!Obra do nosso querido Amigo Carlos

Carranca, senhor de conhecimento perfeitode Miguel Torga e sua genial obra.

Silencio…muito silencio! Cenário sóbrio!

Carlos Carranca entra em cena em man-gas de camisa e descalço. Senta-se à mesa,no canto inferior esquerdo, acende a vela ecomeça, com a sua famosa voz, narrandoos acontecimentos marcantes da vida doEscritor, dizendo no seu estilo incomparávelos versos do próprio Miguel Torga.

Ao fundo, começam a movimentar-se osalunos da Escola profissional do Teatro deCascais. Todos descalços, modestamentevestidos, com movimentos sentidos e len-tos, muito bem ensaiados. Duas moças can-tam maravilhosamente e a narrativa seguena voz do Carlos Carranca.

Sobe então ao palco o nosso queridoAmigo Luís Goes que, acompanhado porCarlos Couceiro e António Toscano, cantacomo só ele sabe, o poema” Aqui”.

Foi a melhor e mais linda homena-

gem que vi prestar a Miguel Torga.O Carlos Carranca merece os nos-

sos melhores aplausos. Todos o aplau-dem de pé.

Segue-se, como é da praxe, a Serenata ea Balada da Despedida pelo grupo Serena-ta de Coimbra.

Feliz a Associação que pode contar,entre os seus associados, um Autor ca-paz de tal comedimento.

Demos todas as mãos e, com muitaamizade e muita alegria, gritemos bemalto: “F.R.A. Carlos Carranca!”.

Com as melhores Saudações Acadé-micas

Maria Manuela Alves da Costa(Presidente da Delegação de Lisboa nos anos

1981/84. Sócia Honorária da Associação dos An-tigos Estudantes de Coimbra em Coimbra desde

1990)

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21DE 2 A 15 DE JANEIRO DE 2008 OPINIÃO

Renato Ávila

João PauloSimões

FILATELICAMENTE

Joséd’Encarnação

POIS...POIS...POIS...POIS...POIS...

País real

O virar do ano é altura de balanço.De deitar contas à vida. De procurarentender os êxitos e os fracassos. Deprojectar para o futuro.

Assim o fazemos nós, cidadãos, nanossa vida particular e na nossa par-ticipação comunitária. Assim o fazemos nossos governantes.

Neste trancar do razão, atiram-noscom estatísticas oficiais a querer de-monstrar que tudo vai correndo sobrerodas e a tentar esvaziar estatísticasvadias muito menos optimistas.

O cidadão, todavia, não entende,desconfia do corrupio dos números.Vai pelas evidências. Por aquilo queobserva, que lhe chega pela notícia daqual retira o sumo depois de lhe ex-trair as pevides do sensacionalismo eas polpas onde mergulha o néctar damensagem.

Para o cidadão atento, acabam porexistir dois países: o dos políticos etecnocratas que nos falam por núme-ros e o dos homens e das mulheresdum Portugal concreto que, na sua,singularidade e diversidade, escapamaos números.

Quando, por exemplo, nos dizemque o emprego inverteu o seu sentidoascendente, que a economia estará a

crescer dois por cento, que somos opaís mais seguro do mundo, que a nos-sa justiça funciona com a mesmapresteza da dos outros países, que osalunos regressaram à escola e que osucesso educativo é mesmo um suces-so... estão a falar-nos dum país muitodiferente daquele onde ainda ouvimosdesfiar o rosário de iniquidades dasempresas que fecham ou fogem paraos paraísos de mão de obra ainda maisbarata, onde as universidades conti-nuam a formar para o desemprego de-zenas de milhar de licenciados por ano;onde os administradores das grandesempresas, ganhando chorudos orde-nados de milhares de contos mensais,afirmam com frieza, pompa e circuns-tâncias irem dispensar milhares detrabalhadores para que haja mais lu-cro; onde o ministro das finanças diz,na mesma burocrática insensibilidadecom que inventa mais impostos, taxase reduções, que é preciso despedir de-zenas de milhar de funcionários públi-cos para eliminar o défice das contasdo Estado. Estão a falar-nos dum paísdiferente daquele em que o crime vi-olento aumenta assustadoramente, emque as cidades, prisioneiras de gue-tos, se vão tornando cada vez mais in-seguras. Estão falar-nos dum país di-ferente daquele em que a celeridade

da justiça se procura através da des-mobilização do lesado pelo selectivoaumento das custas judiciais, dum paísdiferente daquele cuja escola tem ospiores alunos da Europa e das maisaltas taxas de insucesso e abandono.

Quando, por exemplo, o PrimeiroMinistro pretende incentivar a natali-dade com a concessão de ajudas eco-nómicas aos casais, estará a pensarnum país muito diferente daquele emque o desemprego é o espectro maisdesmobilizador, não somente na cruavertente da sua existência concretamas nas fórmulas cada vez facilita-das que o potenciam e nas quais avul-ta a famigerada flexisegurança; esta-rá a pensar num país diferente daque-le em que as leis de protecção e asestruturas de apoio à maternidade nãoexistem ou são ineficazes, estará a es-quecer-se de que patrocinou a apro-vação duma lei que banaliza a inter-rupção voluntária da gravidez.

Quando, numa disparatada febreeconomicista, se encerram escolas eserviços de saúde, com o cínico argu-mento de que é para aumentar a qua-lidade e eficácia dos que sobram, e,simultaneamente, se planeiam TGVse mega aeroportos com escandalososempenhamentos financeiros, estão afalar-nos dum outro país que não aque-

le em que a interioridade cada vezmais convida ao êxodo e à desertifi-cação e onde a subalternização dosdireitos de cidadania é injusta moedacorrente.

É nesta dicotomia de país virtual epaís real que, quanto a nós, reside ocerne da questão política que a todosnos preocupa.

As paredes do Palácio de São Bentosão ciclópicas, impenetráveis e trans-ferem-se para as mentes que as po-voam com a velocidade da luz e a efi-cácia da morte.

É com este país real que entramosno novo ano.

A apregoada excelência das políti-cas governativas já não colhe.

Este país real em que vivemos existetal como está porque as promessas sereferiam a um país virtual – o dos polí-ticos e dos tecnocratas que néscia ecomprometedoramente cederam, pac-tuaram, se conluiaram com o capital.

O receituário desse desenfreadocapitalismo liberal não serve. É ignó-bil. Terrorista.

Teremos nós, cidadãos, que procu-rar outras soluções.

A mais importante, porventura, en-contrar alguém decente, de confian-ça, com a capacidade de merecer onosso voto.

«Casar» detém o significado de«pôr na mesma casa», «juntar». Emprincípio, o botão existe para acasa, sem ela não há razão paraexistir; e faz-se a casa à medidado botão.

«Solteiro», ao invés, vem de «so-litário»; optou, em princípio, porexistir sozinho, sem partilha.

No dia-a-dia, porém, tudo issoanda, amiúde, desencontrado!

– Tu nunca ouves o que eu digo!– ‘Tás sempre a pensar noutra

coisa!– Ontem, a porta ficou só no trin-

que.– Alguém puxou mal o autoclis-

mo.– Esta noite, alguém deixou a luz

do corredor acesa.«Tu nunca»? «Alguém dei-

xou»?...

Tendo sido alterada a equivalênciado escudo com o franco-ouro, por de-creto de 31 de Agosto de 1917, e osportes em 1918 e 1919 com vista àsdificuldades dos correios, motivadaspela Grande Guerra, foram estabele-cidas novas taxas para os diversosportes.

Para manter as cores referentes acada porte, conforme o determinadopela UPU, sofreram estas, alteraçãoem relação às taxas. Foram impres-sos tipograficamente na Casa da Mo-eda, em folhas de 100 e 180 selos comdenteados 15x14 e 12x11,5 utilizandopapel pontinhado em losangos, papelporcelana colorido, papel liso (finomédio espesso), papel acetinado (mé-dio espesso), papel cartolina, papelazulado fino, e papel amarelado. Fo-ram emitidos 133.570.000 selos de 1centavo castanho, 5.800.000 selos de1-1/2 centavos verde escuro,88.029.820 selos de 2 centavos ama-

1917-1920 - Ceres– Novas cores,novas taxas

relo laranja, 9.200.000 selos de 3 cen-tavos carmim, 41.200.000 selos de 3-1/2 centavos verde claro, 84.230.000selos de 4 centavos verde claro,10.600.000 selos de 5 centavos bis-tre, 900.000 selos de 6 centavos lilásrosa, 9.100.000 selos de 7-1/2 centa-vos azul escuro, 400.000 selos de 12centavos cinzento violeta, 200.000

selos de 13-1/2 centavos azul cinzen-to, 141.760 selos de 14 centavos azulsobre amarelo, 2.000.000 selos de 20centavos castanho sobre salmão, e900.000 selos de 30 centavos casta-nho sobre amarelo.

(In: Carlos Kulberg: Selos de Portugal- Álbum II - 1910 / 1953)

Uma folha do meu álbum de selos com a série ainda incompleta

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22 DE 2 A 15 DE JANEIRO DE 2008MÚSICA

Distorções

José Miguel [email protected]

Olá a todos, neste novo ano vou co-meçar com a primeira parte do balançodo ano que acaba de nos deixar, na qual

irei falar sobre aqueles que, quanto a mim,foram os melhores concertos do anode 2007.

No que toca ao melhor cartaz dos

vereiro, na discoteca Via Latina, emCoimbra, que estava a “rebentar pelascosturas”.

Foram muitos os concertos a que as-

Festivais de Verão, não restam muitasdúvidas de que o Super Bock Super Rock(que decorreu nos dias 28 de Junho, 3, 4e 5 de Julho, no Parque Tejo, em Lisboa)foi o melhor, juntando alguns pesos pe-sados da música mundial que já tinhamvisitado o nosso país (como sejam osMetallica, Arcade Fire, Bloc Party e Scis-sor Sisters), a estreantes em território luso(como os Interpol ou os Magic Numbers).

Quanto a actuações ao vivo, começopor elogiar aquele que foi o melhor dj-set a que assisti, e a escolha recai sobreuma actuação da minha dupla de dj’spreferida, os belgas 2 Many Dj’s, maispropriamente no passado dia 15 de Fe-

sisti no passado ano, desde os Nine InchNails a Rodrigo Leão, passando pelosEditors e pelos Interpol. Mas, após umareflexão árdua, a minha escolha para osmelhores concertos de 2007 desta-ca: a actuação dos Arcade Fire e dosBloc Party, a 3 de Julho, no Super BockSuper Rock, tal como a “performan-ce” dos britânicos Arctic Monkeys deAlex Turner, a 16 de Julho, no Coliseudos Recreios em Lisboa. O concertoque se revelou a uma grande surpre-sa para mim, foi o dos Rakes no palcosecundário do Oeiras Alive! (que de-correu entre os dias 8 e 10 de Junhono Passeio Marítimo de Algés, Lisboa).Por fim, gostaria de eleger aquele quefoi o melhor concerto de uma ban-da portuguesa e, inevitavelmente, foia comemoração dos 20 anos sobre aedição de “Circo de Feras”, que jun-tou no arena do Campo Pequeno (Lis-boa), os Xutos & Pontapés e uma sé-rie de artistas de circo. Mas não gos-taria de encerrar este balanço sem elo-giar uma grande banda ao vivo que sãoos Wray Gunn, de Paulo Furtado, aquem fica entregue uma espécie demenção honrosa nesta matéria.

Para a semana irei eleger as melho-res edições discográficas nacionais e in-ternacionais do ano de 2007, não esque-cendo a melhor remix do ano.

PARA SABER MAIS:www.metallica.comwww.arcadefire.comwww.blocparty.comwww.scissorsisters.comwww.interpolnyc.ptwww.soulwax.comwww.nin.comwww.rodrigoleao.ptwww.arctic monkeys.comwww.xutos.ptwww.wraygunn.com

A palavra "satisfação" foi a mais ouvida em Lisboa após a assinatura do protocoloque garante a compra pelo Estado português da colecção de 8.000 discos de músicaportuguesa do britânico Bruce Bastin.

A ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, o secretário de Estado da Cultura, orepresentante da EGEAC, o presidente do Instituto dos Museus e da Conservação(IMC), e o próprio coleccionador abriram os seus discursos afirmando-se satisfeitospor este processo de seis anos ter chegado ao fim.

Isabel Pires de Lima referiu-se mesmo a "seis anos de peripécias, de recuos eavanços".

O espólio, adquirido por 1,1 milhões de euros, irá agora ser inventariado por umacomissão de peritos, ainda não constituída, que tem 50 dias para determinar se oespólio corresponde ao valor efectivo afirmado pelo coleccionador.

O secretário de Estado da Cultura, Mário Vieira de Carvalho, disse à Lusa que oespólio ficará temporariamente no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, que "temas condições necessárias para a sua preservação", e que a estrutura de trabalhoficará no Palácio Foz, onde foi assinado o protocolo.

Quanto ao acesso futuro da colecção que "ficará disponível a investigadores epúblico em geral", o ICM terá ainda que efectivar um protocolo com a EGEAC,disse à Lusa o presidente do Instituto, Manuel Bairrão Oleiro.

"A EGEAC não perde nunca a propriedade do espólio mas terá que ser feito umprotocolo que o entregue à salvaguarda do Museu da Música e Arquivo do Som",disse Bairrão Oleiro.

O coleccionador afirmou-se "satisfeito" por a colecção vir para Portugal, "ondepertence e deve ser mantida, pois não faz qualquer sentido ficar em Inglaterra".

O Ministério da Cultura participou com 400.000 euros na compra deste espólio, talcomo a Câmara de Lisboa através da EEAC, e os restantes 300.000 euros foramassegurados por um mecenas, que permanece anónimo.

Portugal compra a britânicocolecção de música portuguesa

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23DE 2 A 15 DE JANEIRO DE 2008 INTERNET

IDEIAS DIGITAIS

Inês AmaralDocente do Instituto Superior Miguel Torga

Neste final de ano recuperamos asprincipais Ideias Digitais de 2007. Comamplo destaque para a produção, o am-biente e a comunidade. Para um 2008dinâmico, interactivo, ecológico. E, jáagora, com um sentido social de comuni-dade que possa fazer a diferença.

ETSY – O Etsy é uma espécie de cen-tro comercial online para produtos feitos àmão. Neste espaço é possível comprar evender peças originais e únicas, construídascom criatividade e materiais que combinamo tradicional e o urbano.

– http://www.etsy.com/

VIRTUALTOURIST – A ideia de par-tilha na rede é hoje uma realidade da Inter-net, com a progressiva passagem para a Web2.0. O VirtualTourist integra este fenóme-no e é uma mais valia a quem gosta de via-jar ou quer programar as próximas férias.

– http://www.virtualtourist.com/

NETVIBES – O Netvibes é umdesktop online que se baseia na tecnologiaAjax – que permite maior interacção entreo utilizador e o browser, e é o pleno da deno-minada Web 2.0. Este espaço permite que,mediante um registo, o utilizador possa con-figurar a página para concentrar conteúdosnuma única página. É uma espécie de ho-mepage inicial, à semelhança de outros ser-voços como o PageFlakes ou o desktop doGoogle. – http://www.netvibes.com/

DO SOMETHING – O Do Some-thing é um site que promove o activismo.

Como? Assim: «Encourages young peo-ple to create their own vision for makinga difference in their community and pro-vides them with the resources and supportneeded». – http://www.dosomething.org/

DEBOLEIA – O site DeBoleia pro-põe boleias com vista a atenuar os proble-mas da utilização abusiva de automóveis. Oprojecto foi criado por dois ex-alunos da Uni-versidade do Minho e tem como base a ideiade que andar à boleia é uma forma de pou-par, já que o preço da gasolina chegou a va-lores históricos, e de preservar o ambiente,

uma vez que se prevêem menos carros acircular. – http://www.deboleia.com/

YAHOO GREEN – O projecto Yahoo-Green tem como propósito alterar os ci-bernautas para a importância de alterar há-bitos de consumo, promovendo a cultura dapoupança dos recursos energéticos. Estacampanha de sensibilização do portal Yahooapresenta um importante conjunto de infor-mações sobre o meio ambiente. A páginatem uma actualização regular e tenta pro-mover a ideia de que pequenas acções indi-viduais de cada um de nós podem provocarmudanças significativas no mundo.

– http://green.yahoo.com/

FREECYCLE – Na Internet há umespaço que promove redes de trocas debens a nível local, mas que funciona em todoo mundo. O conceito é de uma organizaçãosem fins lucrativos criada no Arizona, nosEstados Unidos, com o nome de Freecycle.Polémicas à parte, o objectivo não é obterbens gratuitamente, mas antes evitar queobjectos que ainda podem ser utilizados se-jam deitados ao lixo.

– http://www.freecycle.org/

TWITTER – Não é novo, mas no Ve-rão de 2007 o Twitter teve uma notávelexpansão. Trata-se de uma plataforma quepermite o conceito de “microblogging”, ouseja, registar o que se está a fazer no mo-mento em poucos caracteres – 140, parasermos mais precisos. É a ênfase no instan-te, no “agora”. – http://twitter.com/

FACEBOOK – O Facebook é umarede social que permite a criação de perfise a adesão a grupos temáticos. É possívelcada utilizador persoanlizar o seu espaço einteragir com outros membros. O objectivoé ligar amigos e conhecidos do mundo offli-ne, assim como potenciar ligações entre uti-lizadores que se conhecem neste espaço.

– http://www.facebook.com/

LINKEDIN – Esta rede social é umpouco diferente: a ideia é a de que cada uti-lizador insira o seu CV e estabeleça liga-ções a conhecidos. Pode também recomen-dar o trabalho dos outros ou ser recomen-

dado. Depois é só aguardar eventuais con-tactos de emprego, à escala global.

–http://www.linkedin.com

GLIFFY – A Web 2.0 trouxe uma ex-plosão de aplicativos disponíveis na rede al-ternativos aos tradicionais softwares dedesktop. O Gliffy é uma dessas ferramen-tas que permite fazer diagramas, fluxos eoutros desenhos através do browser. Paraalém das vantagens evidentes, permite acolaboração entre vários utilizadores, quepodem trabalhar no mesmo diagrama emlocais geograficamente remotos.

– http://www.gliffy.com/

SPRESENT – O Spresent é uma fer-ramenta online para criar apresentações eslideshows, que utiliza flash mas que nãoobriga a que o utilizador o saiba utilizar. Atra-vés desta aplicação é possível trabalhar di-rectamente no browser, reunindo todas asvantagens do PowerPoint.

– http://www.spresent.com/

XTIMELINE – Criar timelines podeser um exercício interessante, independen-temente do propósito. Os serviços que oXTimeline propõe são simples: explorar,criar e partilhar linhas cronológicas, de tudoo que é temática. As ferramentas para criaros cronogramas são graficamente apelati-vas e a aplicação é gratuita.

– http://www.xtimeline.com/

CLEVR – O CleVR é um aplicativoonline que permite criar fotografias panorâ-micas. O slogan deste site é easy way ofcreating and sharing panoramic photos,e efectivamente é verdade. O serviço per-mite criar fotografias panorâmicas que de-pois podem ser impressas, publicadas narede ou guardadas no nosso computador, damesma forma que é possível guardá-las noCleVR e partilhá-las com todos os outrosutilizadores. – http://www.clevr.com/

TUMBLR – Mais uma nova defini-ção para o dicionário da web: “tumble-

logging”. O termo vem de “tumblelog”,que significa uma variação de weblog.É diferente de “microblogging” porquenão se trata de registar que o utilizadorestá a fazer, mas antes bloggar em pe-quenos posts recorrendo a vários tiposde media.

– http://tumblr.com/

JAY CUT – O Jay Cut é um editorde vídeo online que permite que o utili-zador edite e partilhe vídeos na rede. Épossível criar vídeos e slideshows de for-ma inteiramente gratuita. Por outro lado,uma das grandes vantagens é tambéma possibilidade de fazer uploads ilimita-dos. Os efeitos possíveis são muito va-

riáveis, o que torna este sistema muitoatractivo. – http://jaycut.com/

BEATBULLYING – O Beat-Bullying é um canal criado pelo You-Tube, em parceria com a instituição de

beneficência Beatbullying, contra o “cy-berbullying”. Mas, afinal, o que é isso?“Cyberbullying” significa a intimidaçãoatravés de dispositivos de novas tecno-logias. Via email, SMS, etc.

– http://youtube.com/beatbullying

PEGADA ECOLÓGICA – O quizPegada Ecológica faz parte do site Ear-thDay Network, este último é orienta-do para questão associadas aos proble-mas ambientais e com metas traçadaspara cumprir até ao próximo Dia Mun-dial da Terra – 22 de Abril de 2008.Entre várias secções de informação ecolaborativas, indicações pedagógicaspara professores e relatórios, há um tó-pico que nos ajuda a perceber o nossoimpacto ambiental. – http://www. e a r t h d a y. n e t / F o o t p r i n t /index.asp

EU NÃO FAÇO LIXO – O site EuNão faço lixo tem como objectivo “As-sumir o desafio da sustentabilidade” epromover junto dos utilizadores uma cul-tura ambiental. Há inúmeras dicas decomo ser ecológico e amigo do ambien-te em variadíssimos locais, como emcasa, no escritório, na escola, ao fazercompras, em viagem, na praia, entre ou-tras situações.

– http://www.eunaofacolixo.com

FABRICO PRÓPRIO – Para pe-gar num chavão: a tradição já não é oque era. Agora pode ser digital e pode-

mos eternizá-la na web. É esse o pro-pósito do site Fabrico Próprio, que sedebruça sobre “O design da pastelariasemi-industrial portuguesa”. Aparente-mente qualquer coisa estranha, mas narealidade a frase resume produtos comopastéis de nata. O site funciona numalógica de weblog, permitindo entenderassim a evolução da pesquisa.

– http://www.fabricoproprio.net

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24 DE 2 A 15 DE JANEIRO DE 2008TELEVISÃO

PÚBLICA FRACÇÃO

Francisco [email protected]

Como primeira crónica de 2008, aqui ficaum breve balanço, não sistematizado, so-bre a televisão portuguesa recorrendo aideias aqui expressas durante o ano queficou para trás. Ou talvez, para ser maiscorrecto, como eu vi a televisão em Portu-gal. Ou ainda, de uma forma mais sincera,como não vi televisão durante o ano de2007. E não se trata de contra-senso ne-nhum. Tirando as sempre salvadoras ex-cepções, ver televisão em Portugal é umaactividade tão próxima do vazio, que verparece ser a sua própria ausência.

O VAZIO

Na televisão em Portugal cresce o vaziocheio de nada. Não que faltem conteúdos,mas sobretudo porque faltam ideias e sobrauma necessidade absoluta de controlar.

A falta de diversidade é algo que a mé-dia dos espectadores recusa. Recusa, nãoporque sintam essa falta, mas porque jul-gam que ela não existe. Mas existe. A for-matação dos principais canais é ferozmenteconcorrencial e, só aparente e paradoxal-mente, se diferencia.

TELENOVELA NA RTP-1

Em 2007, a RTP 1 lançou também umatelenovela em prime-time. Ficaram assimtodos os canais de distribuição hertziana idên-ticos na sua oferta que ocupa o principalhorário para as audiências.

Paixões Proibidas, uma co-produçãocom a brasileira Bandeirantes, foi, segun-do a própria RTP, inspirada na escrita deCamilo Castelo Branco e parece assimestar tudo justificado. Não está. O que aRTP pretendeu foi competir nas audiênci-as com a TVI e a SIC. Não que estejaerrado tentar competir com as concorren-tes. O que está errado é a escolha nas ar-mas da competição e, num canal público,não tentar com perseverança disponibili-zar uma verdadeira alternativa.

GRANDES PORTUGUESES

O programa com esta designação con-seguiu, pelo menos, a proeza de ter sido omomento televisivo mais polémico do ano.O primeiro erro foi o de terem permitido queos espectadores votassem em quem bementendessem, incluindo neles próprios, o queprovocou uma lista inicial de cem mais vo-tados que devia ter servido de lição aos pro-dutores do programa. De facto, o apareci-mento de um actor da série “Morangos comAçúcar” nos 100 “melhores portugueses desempre”, fez o desenho imediato do absur-do que tínhamos pela frente.

A RTP pensou que não, que assim é queera, que mesmo com todas as contradiçõesvalia a pena. A ideia defendida pelos res-ponsáveis era a de que era melhor avançar

por estes processos absolutamente falhosde critérios porque, pelo menos, haveria po-lémica e seria assim possível conhecer edebater a História do País.

Ora o debate tornou-se impossível. Ouantes, possível, mas pouco sério. Aliás, oformato dos debates entre defensores daspersonalidades mais votadas foi caminhan-do para um formato “light” com defensoresconvidados a assumir o papel de meros cu-riosos “ligeiramente melhor informados”.Percebeu-se tudo quando se viu que a de-fesa de D. Afonso Henriques foi entregueà jornalista de desporto Leonor Pinhão.

Neste irresponsável “Grandes Portugue-ses”, ao brincar com a História, a RTP “res-salarizou-se”. Tomo aqui o termo a F. RuiCádima. Quase 40 anos depois da célebrequeda do ditador, um concurso e um ex-re-alizador do Telejornal do mesmo ditador–Jaime Nogueira Pinto, que foi o defensor deSalazar no espectáculo– mais alguns pro-dutores empenhados, e eis que a RTP se“ressalarizou”. É que segundo a votação dosespectadores, Salazar foi o “melhor portu-guês de sempre”.

O “mito” regressou em 2007, votado pelopúblico (que público?) numa perigosa brin-cadeira da estação pública de televisão.

GATOS SUBVERSIVOS

Nos domingos à noite, o “non-sense” nãopodia ser mais agudo e o mérito da RTPesteve em ainda permitir que alguém des-construísse de uma forma rápida e incisiva,aquilo que outros, dentro da mesma casa,

construíram sem proveito algum gastandotempo e muito dinheiro (Os “tesourinhosdeprimentes” dos Gato Fedorento).

Entretanto, os “Gato Fedorento” impu-seram um intervalo na sua notável inter-venção televisiva e, garantem, durante opróximo ano ninguém os irá ver. Uma me-dida possivelmente acertada em termosindividuais, de gestão da carreira, masuma lamentável ausência no futuro próxi-mo da televisão portuguesa. Quem, a nãoser eles, tem um espaço de intervençãoconquistado ao ponto de poderem colo-car a ridículo qualquer tipo de poder?

Herman José, que se arrasta pelasmadrugadas de sábado da SIC, num la-mentável chorrilho de vulgaridades, já dis-se que os Gatos também terão a sua“Casa Pia”. Não me parece. São muitopouco deslumbrados e não dão mostrasde se deixarem passar facilmente para o“outro lado” (seja ele qual for), tal comoaconteceu a Herman.

OBRIGADO... OBRIGADO

Espantoso o concurso-passatempo daRTP 1: Aqui há talento! Nunca ouvi tantos“obrigado” em tão pouco tempo. Os con-

correntes eram postos a andar do palco edesprezados pelo júri? “Obrigado... obriga-do”. O júri achava aquilo uma maçada? Dequalquer forma “obrigado... obrigado”. Nãose percebe por que é que não gostou? “Obri-gado... obrigado”. Era tudo a correr, a des-pachar, para supostamente manter o espec-táculo (caro!) bem vivo. Só que num canalestatal, isto de arranjar um júri que gosta ounão das actuações dos supostos talentos, sóporque sim ou porque não, foi mais um pés-simo exemplo de serviço público.

OS 50 ANOS DA RTP

No ano do cinquentenário da RTP, osque produziram e produzem televisão e ostelespectadores que contribuíram para oseu crescimento, pagando taxa ou não,mereciam muito mais do que uma Gala co-memorativa, uma exposição itinerante euma administração auto-satisfeita com umprogressivo equilíbrio das contas.

Ao fim de cinquenta anos, num País quetem de ser muito diferente daquele que exis-tia em 1957, merecíamos todos não estarsujeitos a tanta mediocridade. O serviçopúblico de televisão, embora inegavelmen-te mais equilibrado se o compararmos como que existia há cinco anos, não sabe, ounão quer, contribuir para reflectir o país nopequeno ecrã, quer no que temos de gran-dioso, quer no que temos de crítico (comoa iliteracia). Hoje, como afinal no passado,a RTP, especialmente a RTP1, não respei-ta nem legitima, com a sua programação ea sua informação, o financiamento públicoque os governos (ou melhor, os portugue-ses) todos os anos lhe concedem.

AS EXCEPÇÕES

A verdade porém é que, mesmo assim,foi na RTP que aconteceram os melhoresmomentos televisivos do ano. Para alémdos Gato Fedorento, as séries “PortugalSocial” de António Barreto (já editada emDVD), “A Guerra”, de Joaquim Furtado,e “Conta-me como foi”, um formato espa-nhol, mas que retrata de uma forma notá-

vel o Portugal do final dos anos 60, acaba-ram por constituir óptimas excepções.

Ainda bem que couberam no serviçopúblico de televisão.

O CASO MADDIE

O trabalho de tentar encontrar respos-tas para as perguntas sobre a forma comoa informação (toda) circulou em torno dodesaparecimento da menina inglesa numapraia algarvia, precisa de ultrapassar lar-gamente aquilo que foi dado a conhecer,sobretudo, pela televisão.

Por lá passaram, já não diria só os ha-

bituais exageros, mas, mais uma vez, asgrandes prestidigitações mediáticas des-tinadas a entreter as audiências. E quasetodos os responsáveis (estou a ser bene-volente...) da informação televisiva sabemperfeitamente o que o público quer, em-bora saibam também (estou de novo a serbenevolente...) aquilo e o modo como odeviam mostrar ao público.

Como foi possível manter o interesse dopúblico perante o assunto? Pela criação eexploração das expectativas. A memória eas expectativas. A nossa vida está entreelas. “Talvez no próximo noticiário possamdizer mais alguma coisa.”. E com a forçados directos, de alguém que estava maisperto, lá, mesmo que não seja nesse “lá”que o mais importante acontecesse, o pú-blico deixou-se transportar para a lógicade uma telenovela.

BOAS NOTÍCIAS

Os números mais recentes indicam quecada vez se vê mais televisão em Portugal.Em média, um português está de olhos noécran cerca de três horas e meia por dia.Será muito? Será demais? Verdadeiramen-te não é importante encontrar resposta paraestas perguntas. O que interessa é saberque a audiência de televisão diminuiu entreas crianças e nos jovens até aos 24 anos.

Acrescente-se agora uma outra informa-ção: a televisão está a perder audiência jun-to dos extractos mais elevados da popula-ção. Classes com maior capacidade econó-mica e maior nível de formação, estão, gra-dualmente a afastar-se do pequeno écran.

A notícia da queda de popularidade datelevisão junto dos mais novos é uma boanotícia. A televisão que se faz em Portugal,e não só, como é evidente, não transmite omelhor conjunto de valores a todos os queestão em formação.

TV DIGITAL EM 2008?

Há pouco mais de dois meses, o minis-tro dos Assuntos Parlamentares, AugustoSantos Silva, disse que em três ou quatrosemanas seria divulgado o relatório finalsobre a consulta pública da TDT, que ter-minou no dia 15 de Outubro. Até hoje orelatório não é conhecido.

Agora a expectativa é a de que o go-verno anuncie, antes do lançamento do con-curso público da TDT, como será a utiliza-ção do espectro a partir da TV digital e sePortugal terá ou não mais um canal gene-ralista. Para isso só falta que as entidadesreguladoras emitam os relatórios sobre aconsulta pública.

Se o calendário do Governo não fossesempre tão atrasado, o País não seria umdos últimos da União Europeia a iniciar astransmissões de televisão digital terrestre.

RODAPÉJá me esquecia. Bill Gates afirmou em

2007: “Estou espantado por ver que aspessoas não percebem que, daqui a cin-co anos, todos se vão rir do que temoshoje na TV”.