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O CENTENÁRIO DA ILUMINAÇÃO PÚBLICA EM UNIÃO DA VITÓRIA:
TRANFORMAÇÕES SOCIAIS E ECONÔMICAS A PARTIR DE UMA
PERSPECTIVA DA HISTÓRIA LOCAL
RITA L. STACHERA1
ELOY TONON2
RESUMO
O artigo em questão tem por finalidade relatar resultados obtidos no projeto que faz parte do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, promovido pela SEED/PR, tendo como tema central O Centenário da Iluminação Pública em União da Vitória, fazendo uma análise de como as dinâmicas sociais foram alteradas com a instalação da luz elétrica na cidade de União da Vitória no início do século XX,buscou-se nessa temática fazer uma discussão de como trabalhar a História Local dentro do ensino da História.Através das atividades propostas presentes no projeto apontamos as várias possibilidades de trabalhar com a História Local como estratégia de aprendizagem,para que o(a) aluno(a) se perceba como parte integrante dessa História, sua inserção na comunidade da qual faz parte, tendo sentimento de pertencimento ao lugar e com isso ele possa criar sua própria historicidade e identidade.Pode-se concluir, portanto, que o projeto possibilitou uma maior apropriação dos conhecimentos históricos por parte dos(as) alunos(as) na busca por novas pesquisas,leituras e valorização da História Local. Palavras-chave: União da Vitória. Eletricidade. Memória. Identidade.
ABSTRACT
The article aims to report results in the project that is part of the Educational Development - SEED sponsored by PDE / PR, with the central theme of the Centenary of the Union of Public Lighting in União da Vitória, making an analysis of how the social dynamics have changed with the installation of electric light in the city of Union Victory in the early twentieth century, sought to make this theme a discussion of how to work within the Local History teaching of history. Through the activities proposed in the project aim to present the various possibilities of working with the local history as a learning strategy, so that (a) student (a) is perceived as an integral part of this history, its inclusion in the community to which it belongs, and feeling of belonging to this place and it can create its own historicity and identity. It can be concluded therefore that the project allowed greater ownership of historical knowledge on the part of (the) students (as) in the search for new research, reading and appreciation of local history. Keywords: União da Vitória. Electricity. Memory. Identity.
1 Professora da Rede Pública de Ensino Estadual do Paraná. Graduada em História e Especialista em
História- História e Sociedade pela FAFI/PR. 2 Professor Orientador –Mestre em História Social(UNESP); Doutor em História Social(UFF).
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1 INTRODUÇÃO
O presente artigo apresenta-se como parte final do PDE (Programa de
Desenvolvimento Educacional–Política pública que estabelece um diálogo entre os
professores da Educação Superior e os da Educação Básica).Consiste numa
discussão sobre a temática da História Local, pois enriquece e inova a relação de
conteúdos a serem abordados,tornando-os mais próximos à realidade social dos
alunos, inserindo na sua comunidade e possibilitando criar sua própria historicidade
e identidade.Pensando nesse sentido, faço um recorte temporal com um grande
acontecimento que marcou a História de União da Vitória: a implantação da energia
elétrica na cidade e assim sendo busca-se compreender as dinâmicas sociais e
econômicas que foram ocasionadas pela chegada da luz elétrica na cidade de
União da Vitória. Com isso será oferecido aos alunos uma oportunidade para
reflexão em torno da História local possibilitando um novo olhar para a História,
levando-o a uma maior aproximação com essa disciplina e passando a ter uma
maior sentido para ele.
Entendemos que um dos grandes desafios da História, seria a busca
incessante, por algumas respostas que venham a atender os anseios da maioria dos
jovens, pois constantemente fazem questionamentos como “Porque estudar
História? Por que o passado, se o importante é o presente?'‘. Por acreditar nessa
possibilidade optou-se por essa temática que envolve a História local, essa nova
opção metodológica enriquece e inova a relação de conteúdos a serem abordados,
além de promover a busca de produções historiográficas diversas e ampliadas que
possibilitam novas interpretações e segundo o historiador italiano Ivo Mattozzi
(citado por DCEs, 2008,p.72):''Histórias locais permitem a investigação da região ou
dos lugares onde os alunos, vivem, mas também das histórias de outras regiões ou
cidades”.
O projeto foi aplicado no Colégio Estadual Túlio de França, Ensino
Fundamental, Médio e Profissionalizante, localizado na Cidade de União da Vitória,
estado do Paraná e conta atualmente com aproximadamente 814 alunos,
distribuídos nos períodos matutino, vespertinos e noturno.Atende a um público bem
diversificado quanto a questão social,recebe alunos de todos os bairros, do interior e
centro urbano. Aplicação do projeto deu-se com os alunos do Curso de Formação de
Docentes/Magistério, 2ªA, período matutino. Justificando a escolha em desenvolver
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o projeto com esses alunos, é a grande possibilidade de aplicação quando estiverem
atuando já como profissionais da educação.
Para atingir os objetivos e despertar o interesse dos alunos pela história
locais, onde conhecerão aspectos das suas identidades sociais, esse projeto partirá
de um tema central: a Implantação da Energia Elétrica na cidade de União da
Vitória,seguindo um roteiro de atividades que serão aplicadas em sala de aula,
presentes no material didático produzido especialmente para desenvolver esse
trabalho. São leituras específicas sobre a temática, linha do tempo, entrevistas com
antigos moradores, análise de fotografias antigas e pesquisas de campo.
A partir dessas diversas ações educativas propostas para os educandos,
espera-se que eles consigam compreenderas dinâmicas sociais e econômicas que
foram ocasionadas pela chegada da luz elétrica na cidade de União da Vitória e com
isso valorizem a memória do município de União da Vitória/PR, possibilitando um
maior enriquecimento no sentido do seu conhecimento a respeito da sua cidade.
Esse artigo é uma síntese de leituras e pesquisa dos resultados da aplicação
do material didático diferenciado e tem como objetivo auxiliar professores e alunos
sobre a história local, em União da Vitória ou em outras regiões.
2 DESENVOLVIMENTO TEÓRICO
Dentre as novas correntes historiográficas atuais é de suma importância o
estudo envolvendo a temática da História Local. Onde se busca a proximidade com
a realidade social do aluno e sua relação com as histórias regionais, pois permitem a
investigação e comparação necessárias ao processo histórico. Segundo Schmidt e
Cainelli (2005, p.114):
[...] a História local facilita, também a construção de problematizações, a apreensão de várias histórias lidas com base em distintos sujeitos da História, bem como de histórias que foram silenciadas, isto é que não foram institucionalizadas sob forma de conhecimento histórico.Tudo isso possa estar contribuindo para que os alunos percebam-se como parte integrante dessa história,ou melhor, sujeitos dessa história.
Pensando nesse sentido que o trabalho com a História local possibilita um
envolvimento maior do aluno nas aulas de História, fazendo com que participe da
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construção do conhecimento e não apenas um mero receptor.
Compreende-se, assim que a finalidade principal do ensino da História seria a
formação de um pensamento histórico, a partir da produção do conhecimento. Que é
ainda provisório, pois ainda se está buscando elementos necessários para a sua
elaboração que é configurado pela consciência histórica dos sujeitos.
Segundo as DCEs (2008) deve-se refletir hoje sobre o que ensinar na
disciplina de História, bem como a maneira em os aprendentes pensam
historicamente. Leva-se assim a discussão sobre o que é inerente ao homem
histórico e a sua consciência.
E também nos coloca Rüsen (1993, SCHMIDT; BARCA, 2009, p.86-87), que
aprender “[...] é um processo dinâmico no qual a pessoa que aprende muda [...]'', é
quando algo é obtido e adquirido. A partir desse conhecimento o aluno começa a
compreender os processos históricos em suas especificidades e dinâmicas próprias.
Diante desse novo aprender proposto por Rüsen (SCHMIDT; BARCA, 2009),
é a consciência histórica é local em que o passado é levado a falar, e este só vem a
falar quando é questionado, e a questão que o faz falar origina-se da carência de
orientação na vida prática atual, diante das suas experiências no tempo. Trata-se de
uma lembrança interpretativa que faz presente o passado no aqui agora, e só sente-
se essa necessidade de buscar no passado respostas muitas vezes para problemas
que estamos vivenciando no presente.
Com as narrativas históricas buscamos tornar presente o passado, de forma
queo presente e uma continuação do futuro, segundo Rüsen (2001, p.67):
Mediante a narrativa histórica são formuladas representações de continuidade da evolução temporal dos homens e seu mundo, instituidoras de identidade, por meio da minoria e inseridas,como determinação no sentido,no quadro de orientação da vida prática humana.
Através dessas narrativas os alunos buscam gerar novas compreensões do
passado, não necessariamente construir novos conhecimentos. É pensar acerca da
construção de narrativas ou versões do passado, por esse motivo que as narrativas
necessitam ser mais exploradas nas aulas de História, pois narrar significa contar e
recontar.
Mas quando os alunos começam a pensar historicamente? Quando
conseguem reconhecer as diferenças entre as temporalidades?Quando formam
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opinião sobre determinado assunto, utilizando as fontes como referência? É
necessário destacar aqui o papel fundamental do professor na formação do
pensamento histórico, com relação à escolha das fontes, a abordagem do conteúdo,
o conhecimento da historiografia, esses são elementos essenciais para a
organização do conhecimento e a compreensão de como os alunos constroem as
ideias sobre a História.
Compreende-se que toda essa reflexão sobre a História local nos remete a
uma interseção com a micro-história. Os historiadores que se filiam a essa corrente
historiográfica pretendem construir narrativas que tem buscado uma descrição mais
realista do comportamento humano. Pelo fato que a micro-história tem um estilo
realista,por compreender tanto que um recorte que privilegia as histórias particulares
de indivíduos, vilarejos e grupos específicos, como uma abordagem que
compreende a “[...] ação social como resultado de uma constante
negociação,manipulação, escolhas e decisões individuais” (GIOVANI, citado por
REZNIK; FERNANDES, 2011, p.3).
Cabe aqui ressaltar também o fato de conceituar o local como mera oposição
nacional, pois a história local não se opõe à história nacional,muito pelo
contrário,pois sempre estabeleceremos essa história numa amplitude maior, fazendo
essa relação coma História Geral. No entender de Reznik (2000, citado por
MARTINS; GOHL; GASPARI, 2008, p.3):
A escrita da história local costura ambientes intelectuais, ações políticas,processos econômicos que envolvem comunidades regionais, nacionais e globais[...]Sendo assim o exercício historiográfico incide na descrição dos mecanismos de apropriação -adaptação, respostas e criação- às normas que ultrapassam as comunidades locais.
Diante disso fica claro que ao trabalhar com a temática que envolva a História
local, exige que se estabeleça, de forma contínua e sistemática, a articulação entre
os conteúdos da História Regional, da nacional e da mundial, para que não seja algo
disperso, sem sentido para o aluno.
Para Reznik (2002, citado por MARTINS; GOHL; GASPARI, 2008, p.3): “A
história local não pode ser projetada como um valor superior para a admiração e
valorização da pequena pátria – no estilo 'eu me ufano da minha terra – mas como a
'costura' de um retalho dos processos de identificação do sujeito”. Não só sentido de
vangloriar as grandes figuras que fizeram parte da história do município, mas
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trazendo essa realidade mais próxima do aluno.
Esse projeto, visa também, promover o conhecimento sobre a História da
Energia Elétrica no Paraná vinculando ao processo de implantação na cidade de
União da Vitória. Essa história tem pouco mais de um século, porque as primeiras
usinas elétricas do Brasil surgiram no ano de 1883, em Campos (RJ), Juiz de Fora e
Diamantina.
No Paraná o primeiro esforço nesse sentido para a eletrificação ocorreu em 9
de março de 1890, quando o presidente da Intendência Municipal de Curitiba, Doutor
Vicente Machado, assinou um contrato com a companhia de Água e Luz do Estado
de São Paulo, para fazer a iluminação da cidade com “uma força iluminativa de onze
mil velas”.
E foi só a partir de 1901 que se instalou a 1ª usina termo elétrica propriamente
dita, num terreno situado na Avenida Capanema perto da garagem ferroviária,
também na capital, onde hoje está a Estação ferroviária, em seguida vieram
Paranaguá e Ponta Grossa. União da Vitória foi cidade seguinte a implantar o
sistema de iluminação Pública tendo como fonte de energia elétrica.
Com a concessão que foi de um período de 24 anos, Grollmann inaugura em
12de outubro de 1910 a luz elétrica em União da Vitória, geradas por máquina a
vapor de 100HP as lâmpadas elétricas substituem os quarenta e um lampiões de
querosene que eram acessos todos os dias ao por do sol e apagados a meia noite.
No ano de 1916, Alexandre Schlemm, empresário Joinvilense, adquire a
massa falida de Godofredo Grollmann, composta de várias propriedades e a
empresa, geradora de energia elétrica do município. E que segundo esse autor que
diz que:
O quadro urbano tem a área de 360 alqueires, com 33 ruas quase todas iluminadas luz elétrica e servidas por uma rede telefônica [...] Possui a cidade 624habitações,relacionadas na prefeitura municipal,mais quatro prédios do estado,onde funcionam o Fórum e prefeitura,grupo escolar,Hotel e cadeia pública;e ainda o belo templo católico que serve de matriz.A população urbana é calculada em 6000 almas (SILVA,1936,p.15).
A partir de 1927, a cidade está em processo de crescimento, a empresa
Alexandre Schlemm e Cia, com muito esforço e espírito de pioneirismo, inaugura a
sua primeira usina hidrelétrica, situada no salto do Palmital, iniciando dessa forma o
fornecimento contínuo de luz e força motriz. A Nova usina possuía uma capacidade
de 500HP.
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Em 1973, a Copel assume definitivamente os serviços de geração e
distribuição de energia no estado, adquirindo a maioria das empresas privadas só
setor, inclusive Alexandre Schlemm S.A, em 31 de outubro desse mesmo ano.
Sob tal enfoque, analiso como esse grande acontecimento veio provocar
mudanças substanciais na vida dos moradores do município de União da
Vitória,seriam no caso as dinâmicas sociais, econômicas e culturais que foram
alteradas com a instalação da luz elétrica na cidade.
Nesse projeto também estaremos relembrando um grande momento do
passado que foi a chegada da Luz Elétrica na cidade de União da Vitória, quando
dizemos que um povo:
[...] recorda, na realidade dizemos primeiro que um passado foi ativamente transmitido às gerações contemporâneas através do que em outro lugar chamei ‘ os canais e receptáculos da memória’ e que Pierre Nora chamou com acertos ‘ os lugares de memória’ e que depois esse passado transmitidos e recebeu como que carregado de um sentido próprio.Em consequência um povo ‘esquece’ quando a geração possuidora do passado não a transmite à seguinte ou quando esta rechaça o que recebeu ou cessa de transmiti-lo a sua vez, o que vem ser mesmo.A ruptura na transmissão pode produzir-se bruscamente ou término de um processo de erosão que abarcou várias gerações.Mas o princípio segue sendo o mesmo: um povo jamais pode ‘ esquecer’ o que antes não recebeu(YERUSHALMI, citado por FÉLIX,1998,p.17).
Em razão disso que reafirmo a importância da existência desses espaços de
memória em União da Vitória relacionados principalmente ao processo de
Implantação da Energia Elétrica em União da Vitória para que as futuras gerações
tenham o conhecimento sobre esse momento do passado.
3 MATERIAL DIDÁTICO
A estratégia de intervenção do projeto foi desenvolvida em 7 etapas,onde foi
produzido uma Unidade Didática contendo todos os passo do projeto a ser aplicado
em sala de aula.
A primeira parte consistiu na apresentação do projeto em forma de
slides,enfatizando sua importância, em seguida foi realizada uma linha do tempo
com os alunos para situá-los dentro do contexto histórico de alguns fatos da história
de União da Vitória relacionando ao do Paraná e Brasil, vinculando ao processo de
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Implantação da Luz Elétrica na cidade.Nessa etapa foi observado algumas
dificuldades por parte de alguns alunos no sentido de estabelecer essa articulação
entre os conteúdos da História Regional, da Nacional e Mundial,no final foi produtiva
essa atividade, pois conseguiram perceber a importância de fazer essa articulação
no ensino da História.
Na segunda parte foram realizadas algumas leituras de fragmentos de textos
de Mª Auxiliadora Schmidt e Marlene Cainelli a respeito da História Local, apontando
seu limites e possibilidades dessa metodologia no ensino da História e também
leituras de alguns textos dessas autoras relacionados à História Oral com a
finalidade de preparar os alunos para as entrevistas com os antigos moradores de
União da Vitória.Em seguida surgiram alguns questionamentos dos alunos com
relação à História Oral, percebeu-se o pouco conhecimento a respeito , e
principalmente que está vinculado a questão das entrevistas e os devidos cuidados
que devemos ter ao trabalhar com essa metodologia no ensino da História
(HISTÓRIA..., 2003).
A terceira parte relacionou-se em fazer análise de fotografias antigas de
União da Vitória, que retratam alguns momentos Históricos importantes da cidade
relacionados a Luz Elétrica,com um roteiro de perguntas dados aos alunos
observou-se um grande envolvimento nessa atividade,pelo fato já ter o
conhecimento de alguns momentos importantes sobre a História de União da Vitória
e puderam perceber as transformações pelos quais a cidade passou e algumas
curiosidades sobre a mesma.
A quarta parte foi desenvolvida em contra-turno, envolvendo as entrevistas
com antigos moradores de União da Vitória e a sua relação com a Implantação da
Energia Elétrica em União da Vitória. Inicialmente foi feito o contato com esses
antigos moradores para colher seus depoimentos a respeito. Foram entrevistadas as
seguintes pessoas da comunidade: Sr. Luis Schlemm, bisneto de Alexandre
Schlemm grande empresário joinvilense que foi um dos responsáveis pela
Implantação da Energia Elétrica em União da Vitória, a Sra. Teresinha Wolf pessoa
ligada a Cultura em União da Vitória, o padre Aquiles que na época era morador do
bairro de Navegantes e por último Werner Wollinger que trabalhou na Empresa
Schlemm na função operador de máquina. Em seguida organizamos a sala em
grupos não muito grandes e repassadas as orientações necessárias no sentido de
como deveriam proceder diante das pessoas entrevistadas, sendo que os
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questionários foram estruturados por décadas para facilitar o trabalho dos
alunos,as entrevistas foram filmadas e fotografadas com a autorização por escritos
dos entrevistados.
Considero bastante significativa essa atividade para o entendimento dos
alunos, os principais procedimento a serem adotados com relação as
entrevistas,envolvendo sua postura diante dessas pessoas e nas diferentes falas
desse moradores. Compreendeu-se que a memória de algum fato possui diversos
significados para diferentes grupos e a parcialidade da memória e sua relação com
os grupos tem importantes repercussões sobre o que pensamos e sabemos acerca
do passado.
A partir das colocações acima, podemos apontar as principais informações
obtidas através dessas entrevistas, que nos revelaram a grande precariedade do
fornecimento da Luz Elétrica na cidade de União da Vitória, principalmente na fala
do Sr. Werner que trabalhou no período que a Empresa Schlemm fornecia energia
para o município de União da Vitória. Era uma constante a falta de energia,
ocasionando grandes prejuízos para os comerciantes locais, e também ficou muito
nítido os benefícios trazido para o desenvolvimento da cidade no momento que a
Copel assumiu o fornecimento de energia acabando com todos esse problemas. Na
entrevista com a Sra. Teresinha Wolf, ela nos relatou algo bastante interessante
ocorrido em sua vida pessoal, quando no momento que foi ter um dos seu filhos no
hospital S. Brás a luz apagou e devido a isso o seu parto foi na base do lampião, na
sua fala também ficou evidente a precariedade da Energia na cidade.
No depoimento do seu Luis Schlemm ficou claro a importância da Luz
Elétrica no desenvolvimento econômico da cidade, em relato mencionou duas figura
importantes relacionadas a essa questão, o Cel. Amazonas de Araujo Marcondes e
de seu bisavô Alexandre Schlemm, homens de visão, os quais não mediram
esforços para levar o crescimento da cidade de União da Vitória.
Nessa fase entramos no campo de estudo da História Oral e dentro das novas
correntes historiográficas, bastante utilizado como fontes histórica.
.Para Pollack (citado por FÉLIX,1998, p.5), “[...] a história oral, ao privilegiar a
análise dos excluídos, dos marginalizados e das periferias, contribui para ressaltar a
importância da ‘memórias subterrâneas’, de culturas minoritárias e dominadas em
oposição “memórias oficiais” e às memórias nacionais”.Compreende-se assim que
os depoimentos desses moradores de União da Vitória representam as memória
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subterrâneas ressaltadas por Pollak.
Na quinta etapa trabalhamos com questão de análise de documentos antigos.
Essa atividade consistiu em fazer uma leitura e discussão sobre esses documentos
e procurando relacioná-lo ao processo de Implantação da Luz Elétrica em União da
Vitória, e que segundo (ABUD; SILVA; ALVES, 2010, p.17), o professor deve
apresentar aos seus alunos alguns procedimentos necessários para fazer essa
análise como:
1) Contextualização Histórica;
2) Objetivo;
3) Aspectos Materiais;
4) Descrição do Documento;
5) Interpretação.
Assim sendo os alunos foram levados a Câmara Municipal de União da
Vitória, com objetivo de fazer uma pesquisa junto ao arquivo morto na parte da
documentação que se refere à Energia Elétrica em União da Vitória.Apesar dos
alunos sentirem algumas dificuldades para examinar os documentos, principalmente
com relação à letra bastante ilegível,percebi o quanto foi importante para eles esse
contato com documentos antigos,podendo fazer suas análises e
observações.Ressalto a importância dessa atividade, no sentido dos alunos
perceberem o quanto é necessário para a memória histórica, a existência de
acervos históricos, e que Pierre Nora chamou com acerto ‘os lugares de memória’,
se não for preservado com o passar do tempo desaparece .
Em relação a sexta etapa,os alunos foram convidados conhecer o local onde
foi construída a 2ª Usina Elétrica sob o comando da família Schlemm, localizado na
região de Palmital e atualmente esse local pertence a Copel. Entramos em contato
com a pessoa encarregada de liberar essa visita, a mesma aconteceu no dia
18/11/11 no período da manhã, onde foi contratado um ônibus da Prefeitura
Municipal de União da Vitória para levar os alunos juntamente com o professor
responsável e a coordenadora do Curso de Formação de Docentes,chegando lá
fomos recebidos por um funcionário da Copel que nos levou para conhecer as
dependência da Usina.Foi bastante significativa essa visita dos alunos na Usina de
Palmital,pois percebi um grande interesse em saber como funcionava essa usina na
época do Sr. Alexandre Schlemm e também atualmente, a quantidade de energia
que ainda produz,enfim toda a estrutura existente nesse lugar ,que foi construído na
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época da família Schlemm. As principais observações dos alunos ficaram bem
nítidas em seus relatórios,onde conseguiram relacionar essa pesquisa de campo ao
processo de Implantação da Energia em União da Vitória,pois:
O estudo do meio representa uma excelente estratégia para a construção do conhecimento histórico por professores e alunos pelo fato de unir pesquisa, contato direto com um contexto (meio),sua observação e descrição, aplicação de entrevistas, análise de elementos que compõe o patrimônio histórico e memória (ABUD; SILVA; ALVES, 2010, p.79).
Término da aplicação do projeto; produção de uma narrativa histórica por
parte dos alunos, em que ficou evidenciado na clareza de suas ideiasas etapas do
projeto vinculando ao processo de implantação da Energia Elétrica abordada e
também a importância de se trabalhar em História com conteúdos envolvendo a
História Local. E a parte final, com uma montagem de um painel com fotos dos
alunos em vários momentos do desenvolvimento do projeto e os trabalhos
produzidos por eles.
As fotos abaixo relacionadas mostram as várias etapas do desenvolvimento
do projeto, como as entrevistas com antigos moradores, visita à câmara municipal de
União da Vitória, e a pesquisa de alunos na Usina Hidrelétrica Salto do Vau
construída pela empresa Schlemm em 1959.
Foto 1 – Sr. Sr. Luis Schlemm (bisneto de Alexandre Schlemm)
Fonte: Acervo pessoal de Rita L.Stachera, 2011.
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Foto2 – Visita a Câmara Municipal de União da Vitória em outubro de 2011
Fonte: Acervo pessoal da aluna InêsTopolski, 2011
Foto 3 – Placa indicativa da Usina Val do Palmital/PR
Fonte: Acervo pessoal da aluna Inês Topolski, 2011
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Foto 4 – Canalização da água
Fonte: Acervo pessoal da aluna Inês Topolski, 2011
Foto 5 - Usina Palmital/PR
. Fonte: Acervo pessoal da aluna Inês Topolski, 2011
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Foto6 – Montagem do Mural
Fonte: Acervo pessoal de Solange Alves Pereira, nov. 2011
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O projeto Centenário da Iluminação Pública em União da
Vitória:Transformações Sociais e Econômicas a partir de uma Perspectiva da
História Local teve como objetivo principal ressaltar a importância da história local no
ensino da História e com isso oportunizar aos alunos a essa percepção de sujeito da
História, é função da História possibilitar este entendimento.
Nesse sentido coloco como de suma importância o Programa de
Desenvolvimento Educacional- PDE ofertado a todos os professores da rede pública
estadual proporcionando aos profissionais de educação um aprimoramento em seus
estudos, fazendo essa ponte com o Ensino Básico e Superior e com isso
proporcionando uma melhoria em sua prática pedagógica. Através dos cursos,
leituras, pesquisas e contato com um professor orientador, o professor PDE pôde
construir seu projeto.
Esse projeto não se encerrou com a sua aplicação em sala de aula, pois a
proposta e os materiais produzidos durante esse período poderão ser utilizados por
outros professores em suas práticas pedagógicas, poderá ser modificado ou
adaptado dentro da realidade de cada escola.Faz-se necessário criar novas
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oportunidades de pesquisa,o que vai socializar experiências e possibilitar novas
produções.
Para chegar ao resultado esperado em relação a esse projeto, foi necessário
o envolvimento de alunos, professores, equipe pedagógica e direção, membros da
comunidade, e ressaltando a importante participação de todos na realização desse
projeto,sem isso seria inviável a sua realização.
Através das atividades e do material didático produzido especialmente em sua
aplicabilidade, e a forma como exploramos esse material, percebemos o interesse e
a curiosidades por parte dos alunos no tocante a Energia Elétrica em União da
Vitória,com isso atingindo o seu objetivo principal a compreensão das dinâmicas
sociais e econômicas provocadas por esse acontecimento importante, isso ficou
evidente em suas narrativas históricas.Considero resultado do desenvolvimento do
projeto como positivo principalmente com relação a sua proposta inicial que é
reafirmar a importância do conhecimento da História do local onde o estudante está
inserido.
Mas também aponto algumas considerações em relação ao desenvolvimento
desse projeto, a necessidade de um tempo maior para o professor no preparo de
suas aulas,no sentido de aumentar suas horas atividades para dispormos de tempo
maior para leituras, aprofundamento de estudos e desenvolvimento de mais
projetos.
Entendemos que se faz necessário trabalharmos com conteúdos que
evidencie a História Local, por acreditarmos que o aluno não seja um mero receptor,
mas um partícipe na construção do conhecimento.Sem uma compreensão de si
mesmo, a compreensão dos eventos ao redor fica comprometida. Freire (1996, p.85)
declara: ”Não sou apenas objeto da História, mas seu sujeito também”, levar ao
aluno a esse entendimento de si mesmo, colabora para que ele perceba-se como
sujeito da História.Esse educando consegue conhecer, entender, valorizar e acima
de tudo identificar a cultura local.
5 REFERÊNCIAS
ABUD, K.M.; SILVA,A.C de M.; ALVES,R.C. Ensino de história.São Paulo: Cengage Learnig, 2010 (Coleção Ideias em Ação).
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FÉLIX, L. OTERO. História e memória: a problemática da pesquisa.Passo Fundo-RS: Ediupf,1998 FREIRE,P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 27.ed.São Paulo: Paz e terra, 1996. HISTÓRIA oral no sentido das entrevistas. Revista da Associação Brasileira de História Oral, n.6, jun. 2003. MARTINS,I.C., GOHL,J.W.; GASPARI, L.T. Fragmentos de memória, trechosdo Iguaçu:olhares e perspectiva de história local. União da Vitória: FAFIUV, 2008 (Coleção Vale do Iguaçu, 81). REZNIK, L.; FERNANDES, R. A. Um acontecimento revelador: Inauguração do Hospitalde São Gonçalo. Disponível em: <http://www.rj.s2.anpuh.org/conteudo/view?ID_CONTEUDO=305> . Acesso em:9 maio 2011. REZNIK, L. Qual o lugar da História Local. Projeto ”História de S. Gonçalo: Memória Identidade” UERJ. Disponível em: http://www.historiadesaogoncalo.pro.br/txt_hsg_artigo_03.pdf . Acesso em: 9 maio 2011. RÜSEN, J. Razão histórica: teoria da história. Os fundamentos da ciência histórica. Brasília: Universidade de Brasília, 2001. _____. Reconstrução do passado, teoria da história ii: os princípios da pesquisa histórica. Brasília: Universidade de Brasília, 2007. _____. História viva,teoria da história III: formas e funções do conhecimento histórico. Brasília: Universidade de Brasília, 2007. SCHMIDT,M.A.;CAINELLI,M. Ensinar História.São Paulo: Scipione,2006. _____. BARCA,I.(Orgs). Aprender história: perspectiva da educação histórica. Ijui-RS: Unijui, 2009. SECRETARIA DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ. Diretrizes Curriculares da