O Católico Ideal_ Dissertaçãod e Mestrado
-
Upload
flavia-gabriela -
Category
Documents
-
view
214 -
download
0
Transcript of O Católico Ideal_ Dissertaçãod e Mestrado
-
8/15/2019 O Católico Ideal_ Dissertaçãod e Mestrado
1/114
UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Comunicação da UniversidadePaulista – UNIP, para a obtenção do título deMestre em Comunicação.
FLÁVIA GABRIELA DA COSTA ROSA AMARAL
SÃO PAULO
2013
O CATÓLICO IDEAL: CULTURA DO IMATERIAL
E ESTÉTICA CLASSICISTA NO PORTAL DOS
ARAUTOS DO EVANGELHO
-
8/15/2019 O Católico Ideal_ Dissertaçãod e Mestrado
2/114
UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Comunicação da UniversidadePaulista – UNIP, para a obtenção do título deMestre em Comunicação.
Orientadora:
Prof. Dra. Malena Segura Contrera
FLÁVIA GABRIELA DA COSTA ROSA AMARAL
SÃO PAULO
2013
O CATÓLICO IDEAL: CULTURA DO IMATERIAL
E ESTÉTICA CLASSICISTA NO PORTAL DOS
ARAUTOS DO EVANGELHO
-
8/15/2019 O Católico Ideal_ Dissertaçãod e Mestrado
3/114
Amaral, Flavia Gabriela da Costa Rosa.O católico ideal : cultura do imaterial e estética classicista no
portal dos arautos do evangelho / Flavia Gabriela da Costa Rosa Amaral - 2013.
112 f. : il.
Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Midiática da UniversidadePaulista, São Paulo, 2013.
Área de Concentração: Comunicação e Cultura Midiática.Orientadora: Profª. Malena Segura Contrera.
1. Imaginário Midiático. 2. Cibercultura. 3. Ciber-religião. 4. Arautos do evangelho. I. Título. II. Contrera, Malena Segura(orientadora).
-
8/15/2019 O Católico Ideal_ Dissertaçãod e Mestrado
4/114
FLÁVIA GABRIELA DA COSTA ROSA AMARAL
O CATÓLICO IDEAL: CULTURA DO IMATERIAL E ESTÉTICA CLASSICISTA NO
PORTAL DOS ARAUTOS DO EVANGELHO
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
graduação em Comunicação da UniversidadePaulista – UNIP, para a obtenção do título deMestre em Comunicação.
Aprovado em: ____/____/_____.
BANCA EXAMINADORA
_________________________/___/___Prof. Dr. Alberto Klein
Pontifícia Universidade Católica – PUC
_________________________/___/___Prof. Dr. Jorge Miklos
Universidade Paulista – UNIP
_________________________/___/___
Prof. Dra. Malena ContreraUniversidade Paulista - UNIP
-
8/15/2019 O Católico Ideal_ Dissertaçãod e Mestrado
5/114
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos meus filhos, Júlio Luciano da Silva Júnior e Maria
Júlia Rosa Amaral, por entenderem minha ausência para dedicação aos estudos e
serem companheiros em todos os desafios nos quais estivemos juntos ao longo dos
anos de Mestrado. Amo vocês. À minha orientadora, Malena Contrera, pela
dedicação especial ao meu projeto e por entender como poucas pessoas a alma
feminina. Aos meus pais, meu marido e demais professores do Programa.
-
8/15/2019 O Católico Ideal_ Dissertaçãod e Mestrado
6/114
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por me iluminar no caminho de mais uma etapa acadêmica,
dando-me entusiasmo e força para seguir quaisquer que fossem os obstáculos.
À minha mãe, Rosa Maria da Costa, que jamais me abandonou na minha
caminhada, como pessoa, como mãe, como profissional, como estudante. Ao meu
pai, Argemiro Serafim Rosa, que embora não esteja fisicamente conosco, me deu
suporte com seus ensinamentos em curtos 13 anos, para ser quem hoje sou.
Ao Valdir Amaral, meu marido, com quem partilhei sonhos e reflexões acerca
deste projeto, pelo seu apoio e auxílio sempre que precisei.
Meu especial agradecimento ao PROSUP, por acreditar no projeto,
possibilitando concluir esta importante e sonhada etapa da minha vida.
Aos professores que tanto contribuíram com seu conhecimento e visão de
mundo, em especial ao professor Jorge Miklos.
À minha mestra Malena Contrera, que contribuiu com seu conhecimento e
visão de mundo. Você alargou meus horizontes e possibilitou percorrer o doce
caminho do conhecimento, reforçando o que aprendi ainda menina, que mestre não
é aquele que nos carrega nos braços, mas que nos mostra o caminho das pedras e
nos diz: ‘vá, você consegue!’.
Aos colegas de Mestrado, André Nakamura, Vâner Lima, Glaucya Tavares e
Suely Schiavo, pelo companheirismo. Nosso encontro de vida certamente não foi por
acaso.
Ao secretário do Programa de Pós-graduação, Marcelo Rodrigues; com seu
profissionalismo e pró-atividade me auxiliou em todas as necessidades durante o
curso.
Aos colegas Ana Clara Stockler, Aline Gomes, Marcela Caroline, Polyana
Gonzaga, Mylena Camargo, Juliana Valin e Carlos Alberto, pelos diálogos e auxílio
que extrapolaram o âmbito profissional.
-
8/15/2019 O Católico Ideal_ Dissertaçãod e Mestrado
7/114
RESUMO
A presente pesquisa pretende investigar as relações comunicacionais presentes
entre cibercultura e religião frente às novas tecnologias digitais de comunicação.
Para tanto, elegemos uma vertente católica denominada Arautos do Evangelho e
sua presença no cyberspace. Nesse contexto, nosso objetivo foi analisar a
transformação da linguagem dos Arautos do Evangelho e os recursos utilizados pelo
grupo para se relacionar com seu público no cyberspace e se existe a tentativa de
criação de um ambiente para um sujeito não corpóreo. Nossas hipóteses
consideraram que esse movimento religioso procura estimular a cultura do imaterial
por meio do uso de elementos da estética classicista no cyberspace. Para efetivar aanálise estabelecemos como corpus o portal do movimento na internet
(www.arautos.org) no período de fevereiro de 2011 a dezembro de 2012. A pesquisa
se utilizou do método científico, baseado em fundamentação teórica com uma lógica
qualitativa. O referencial teórico da pesquisa utilizou como alicerce conceitual no
campo da Teoria da Mídia, as obras de Muniz Sodré, Norval Baitello Júnior e Jesus
Martín Barbero. Acerca dos estudos da contemporaneidade e a ambiência sócio-
cultural das comunidades contemporâneas, a pesquisa utilizou os estudos deZigmunt Bauman, Konrad Lorenz e Jean Baudrillard. Sobre o tópico cibercultura, a
pesquisa utilizou os estudos de Paul Virillo e Eugênio Trivinho. Ao que se refere aos
estudos sobre o fenômeno religioso, a pesquisa se utilizou os estudos de Mircea
Eliade, Joseph Campbell e Vilém Flusser. A propósito da intersecção entre Mídia e
Religião, a pesquisa utilizou os estudos de Alberto Klein e Jorge Miklos. Malena
Segura Contrera contribui com seus estudos sobre mediosfera e seu lugar no
imaginário religioso. Para obter bases para análise acerca do processo detranscendência e consciência, a pesquisa fundamentou-se nas contribuições de
Boris Cyrulnik e Antônio Damásio. No âmbito da teoria da imagem a pesquisa
buscou apreciações nas obras Norval Baitello Júnior.
Palavras-chave: Imaginário Midiático; Cibercultura; Ciber-Religião; Arautos do
Evangelho.
http://www.arautos.org/http://www.arautos.org/
-
8/15/2019 O Católico Ideal_ Dissertaçãod e Mestrado
8/114
ABSTRACT
The present research aims to investigate the communication relationship found
between cyber culture and religion in face of the new digital communication
technologies. Therefore, we chose Catholic section called Heralds of the Gospel
(Arautos do Evangelho) and its presence in cyberspace. In this context, our objective
is to analyze the transformation of the language of the Heralds of the Gospel and the
resources used by the group to relate to their audience in cyberspace and if there is
an attempt to create an environment for a non- corporeal subject. Our hypotheses
considered that this religious movement seeks to stimulate the immaterial culture
through the use of elements of classicist aesthetics in cyberspace. To conduct theanalysis we established as corpus the site of the movement on the Internet
(www.arautos.org) from February 2011 to December 2012. The research used the
scientific method, based on theoretical basis with a qualitative logic. The theoretical
framework of the research used as conceptual foundation in the field of media theory,
the works of Muniz Sodré, Norval Baitello Junior and Jesus Martín Barbero.
Concerning to the contemporary studies and the socio-cultural ambience of the
contemporary communities, the research used the studies of Zygmunt Bauman,Konrad Lorenz and Jean Baudrillard. On the topic of cyberculture, the research used
the studies of Paul Virillo and Eugenio Trivinho. Concerning to studies on the
religious phenomenon, the research used the studies of Mircea Eliade, Joseph
Campbell and Vilén Flusser. For the purpose of a intersection between Media and
Religion, the research used the studies of Alberto Klein and Jorge Miklos. Malena
Safe Contrera contributed with her studies about mediosfera and its place in the
religious imaginary. In order to obtain the base for analysis of the process oftranscendence and awareness, the research used as a reference the contributions of
Boris Cyrulnik and Antonio Damasio. Concerning to the theory of image the research
sought assessments in the works of Norval Baitello Junior.
Key words: Imaginary media, cyber culture, cyber-Religion; Heralds of the Gospel
http://www.arautos.org/http://www.arautos.org/
-
8/15/2019 O Católico Ideal_ Dissertaçãod e Mestrado
9/114
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Os Arautos do Evangelho em foto no Vaticano: perfilação e tentativa de
busca pelo e perfeito. ................................................................................................ 12
Figura 2 - Os Arautos do Evangelho em procissão com a imagem de Nossa Senhora
de Fátima. Na página do fundador dos Arautos do Evangelho destacam-se o carisma
do grupo e a opção pela evangelização a partir da cultura e da arte. ....................... 13
Figura 3 - Os Arautos do Evangelho em foto após aprovação pontifícia. Disponível
em http://www.aprovacaopontifica.arautos.org/caregory/mensageiros-do-evangelho.
Acesso em 10.02.2011. ............................................................................................. 14
Figura 4 - Home do site www.tfp.org ......................................................................... 29
Figura 5 - Home do site www.tfp.org - “Visitas da Imagem de Nossa Senhora de
Fátima”. ..................................................................................................................... 30
Figura 6 - Home do blog desdobramento do portal dos Arautos do Evangelho. ....... 30
Figura 7 - Home do site desdobramento dos Arautos do Evangelho. Sob o título“Imagem peregrina recebe devotas manifestações de afeto” constata -se que no site
dos Arautos e no da Cavalaria de Maria, a ‘visita da Imagem’ está em destaque. ... 31
Figura 8 - Indumentária Arautos do Evangelho (Reprodução livro comemorativo pela
aprovação do grupo como Associação de Direito Pontifício, publicado em julho de
2001). ........................................................................................................................ 34
Figura 9 - Arautos do Evangelho perfilados como exército (reprodução livro
comemorativo pela aprovação do grupo como Associação de Direito Pontifício,
publicado em julho de 2001). .................................................................................... 35
Figura 10 - Indumentária dos Cavaleiros Templários ................................................ 35
Figura 11 - Indumentária dos Cavaleiros Templários ................................................ 36
Figura 12 - Catedral de Notre Dame ......................................................................... 40
Figura 13 - Igreja Nossa Senhora do Rosário – Serra da Cantareira, construída e
coordenada pelos Arautos do Evangelho. ................................................................. 40
-
8/15/2019 O Católico Ideal_ Dissertaçãod e Mestrado
10/114
Figura 14 - Newsletter enviada diariamente aos cadastrados no site ....................... 46
Figura 15 - Imagem do rodapé da página com a diversidade de logomarcas
utilizadas pelos Arautos do Evangelho ...................................................................... 48
Figura 16 - Imagem da área www.ittanoticias.arautos.org. ....................................... 49
Figura 17 - Na imagem, uma reprodução do vídeo mostra repórter da TV Arautos
entrevistando uma idosa acamada. ........................................................................... 52
Figura 18 - Imagem da página www.rezempormim.arautos.org.br ............................ 53
Figura 19 - Imagem da página http://www.rezempormimblog.arautos.org.br. .......... 54
Figura 20 - Área do site onde se encontram imagens para personalização do fundo
de tela dos computadores. ........................................................................................ 55
Figura 21 - Página de redirecionamento aos blogs dos Arautos do Evangelho. ....... 55
Figura 22 - Imagem da página a que se é direcionado ao clicar no link Tv Arautos . 60
Figura 23 - Links para os interessados fazerem parte das redes de relacionamento
dos Arautos do Evangelho. ...................................................................................... 62
Figura 24 - Imagem da página principal do portal www.arautos.org, na ocasião ...... 63
Figura 25 - Imagem da página oficial dos Arautos do Evangelho no Facebook
(Acesso em 10.09.2012) ........................................................................................... 64
Figura 26 - Imagens postada na página oficial dos Arautos do Evangelho no
Facebook................................................................................................................... 64
Figura 27 - Imagens postada na página oficial dos Arautos do Evangelho no
Facebook................................................................................................................... 65
Figura 28 - Imagem da página a que se é direcionado ao clicar no link Orkut do
portal www.arautos.org. ............................................................................................ 66
Figura 29 - Área de notícias do portal dos Arautos do Evangelho. ........................... 71
Figura 30 - Post dos Arautos do Evangelho na rede social Facebook.. .................... 77
-
8/15/2019 O Católico Ideal_ Dissertaçãod e Mestrado
11/114
Figura 31 - Post dos Arautos do Evangelho na rede social Facebook. ..................... 77
Figura 32 - Post dos Arautos do Evangelho na rede social Facebook. A busca pela
perfeição e a insistência na pureza. Acesso em 08.03.2013..................................... 78
Figura 33 - Defesa da proposta de evangelização por meio da beleza, disponível no
portal dos Arautos do Evangelho. Acesso em 13.03.2013. ....................................... 82
Figura 34 - Arautos do Evangelho em missa na catedral de Nossa Senhora do
Rosário, localizada na Serra da Cantareira. .............................................................. 84
Figura 35 - Arautos do Evangelho em trabalhos pelo Brasil. ................................... 85
Figura 36 - Arautos do Evangelho trabalhos no Rio de Janeiro. ............................... 86
Figura 37 - Menino Jesus com a Cruz Templária estampada no peito. Disponível em
na página oficial do facebook dos Arautos do Evangelho. ........................................ 88
Figura 38 - Imagem do templo construído pelos Arautos do Evangelho na Serra da
Cantareira. Acima o brasão do Vaticano, a imagem do Sagrado Coração de Jesus e
do Sagrado Coração de Maria em Nossa Senhora de Fátima. Disponível em na
página oficial do facebook dos Arautos do Evangelho. ............................................. 89
Figura 39 - Nossa Senhora das Dores na timeline do face book dos Arautos do
Evangelho. Em seu manto a Cruz Templária ............................................................ 90
Figura 40 - Post compartilhado na rede Facebook, em página oficial dos Arautos do
Evangelho. ................................................................................................................ 92
Figura 41 - Post dos Arautos do Evangelho na rede social Facebook. Acesso em
15.03.2013. ............................................................................................................... 95
Figura 42 - Imagem de Nossa senhora de Fátima, que se repete nas páginas do
portal e do Facebook dos Arautos do Evangelho. ..................................................... 95
Figura 43 - Imagem publicada na rede social Facebook, lembrando os seguidores do
grupo sobre a oração do Terço da Misericórdia, rezada pelo grupo todas as
primeiras sextas-feiras do mês, às 15h. Em detalhe o relógio que figura atrás da
imagem de Jesus Crucificado. ................................................................................. 99
-
8/15/2019 O Católico Ideal_ Dissertaçãod e Mestrado
12/114
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 11
1. ARAUTOS DO EVANGELHO ............................................................................ 17
1.1. Lugar das associações e movimentos na Igreja Católica............................. 17
1.2. Sobre os Arautos do Evangelho - surgimento/contextualização .................. 19
1.3. Os Arautos do Evangelho e TFP .................................................................. 26
1.3.1. O “racha” da TFP ................................................................................... 28
1.3.2. João Clá Dias e Plínio Corrêa ............................................................... 29
1.3.3. Sociedade secreta ................................................................................. 31
1.4. Cavaleiros Templários .................................................................................. 33
1.4.1. Guardiães do Santo Graal? ................................................................... 40
2. O PORTAL DO EVANGELHO ........................................................................... 45
2.1. Análise de acessos e ferramentas de interatividade - o Portal dos Arautos do
Evangelho e a comunicação no ciberespaço ......................................................... 45
2.1.1. Os Arautos do Evangelho e as Redes Sociais ...................................... 62
2.2. A cibercultura e os arautos do evangelho: tentativa de utilização do
cyberspace para sedimentação da comunidade. ................................................... 66
2.2.1. A Igreja Católica se abre para o diálogo com o mundo: João Paulo II - o
Papa midiático .................................................................................................... 68
2.3. Lugar possível entre a matriz religiosa cristã e a internet – a noção de
religare na mídia contemporânea........................................................................... 71
3. O AMBIENTE IMAGINÁRIO DOS ARAUTOS DO EVANGELHO E SUA
RELAÇÃO COM OS IDEAIS ESTÉTICOS CLASSICISTAS NO PORTAL .............. 79
3.1. Elementos estéticos classicistas relevantes para a criação da imagem
pública dos Arautos do Evangelho no portal .......................................................... 81
3.2. A criação de um ambiente ideal para o homem “imaterial” - o cyberspace .. 93
3.3. Criação de um ambiente ideal para o homem “imaterial” - o cyberspace .... 96
CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 103
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 107
ANEXOS ................................................................................................................. 107
-
8/15/2019 O Católico Ideal_ Dissertaçãod e Mestrado
13/114
11
INTRODUÇÃO
A Igreja Católica se apresenta como vertente do cristianismo e grande
número de adeptos, mas reconhece que o islamismo já supera o número de
seguidores da “Igreja de Pedro”, como se referencia. Define-se como ‘Una, Santa,
Católica, Apostólica”1. No entanto, observam-se características diferentes em grupos
nas quais ela se subdivide. Um desses grupos que se define como Associação de
Direito Pontifício são os Arautos do Evangelho.
Com o objetivo de utilizar a internet para expressar e reverberar seus valores,
esses grupos aumentam gradativamente sua presença no ciberespaço, o que
demonstra o desejo de se apropriar de um instrumento simbólico - a internet. O uso
pode revelar a busca de uma nova forma de participação mística, ‘sacralizando a
mídia’.
Essa manifestação religiosa que vemos pipocar nos fenômenoscomunicativos e midiáticos (inclusive da teleparticipação) seria não apenasum resíduo ou ressurgimento de formas religiosas arcaicas, mas a busca oua invenção de outro plano de realidade, no qual os conteúdos arcaicos seimiscuíram sem serem convidados. (CONTRERA, 2005, p.4).1
Em relação aos Arautos do Evangelho, não se menciona nas publicações
oficiais, inclusive na página oficial na internet, em que tipo de universo simbólico
cristaliza-se a sua principal ideologia; no entanto, dentro dos formatos específicos da
internet, a vertente demonstra grande necessidade de autoafirmação, como parte da
Igreja Católica e movimento político articulado.
O levantamento de dados deu-se pela análise do portal dos Arautos do
Evangelho (www.arautos.org), como dispositivo e discurso.
Chegou-se ao tema em consequência da ampla vivência da pesquisadora na
Igreja Católica, principalmente no que se refere ao local onde atualmente trabalha, O
Santuário Nacional de Aparecida, maior templo católico dedicado a Maria no mundo,
sendo constante a presença dos Arautos do Evangelho.
As roupas utilizadas pelos Arautos do Evangelho - a grande cruz dos
1 Informação extraída da internet no site do Vaticano, parágrafo 3, sobre a Profissão da Fé Cristã,disponível no endereço http://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/p1s2cap3_683-1065_po.html#PARÁGRAFO_3_ – Acesso em 05.01.2013
-
8/15/2019 O Católico Ideal_ Dissertaçãod e Mestrado
14/114
12
Cavaleiros Templários ostentada no peito e as publicações com presença marcante
da figura feminina de Maria -, despertam a atenção não apenas pela estética
medieval que incorpora uma série de elementos da estética clássica, mas pela forma
como os membros se impõem: perfilados, sincronizados, bandeiras em punho etc.
Figura 1 - Os Arautos do Evangelho em foto no Vaticano: perfilação e tentativa debusca pelo e perfeito.
Fonte: http://arautosdoevangelho.com.br/especial/13824/Arautos.html. Acesso em 10.02.2011.
-
8/15/2019 O Católico Ideal_ Dissertaçãod e Mestrado
15/114
13
Figura 2 - Os Arautos do Evangelho em procissão com a imagem de Nossa Senhora deFátima. Na página do fundador dos Arautos do Evangelho destacam-se o carisma do grupo
e a opção pela evangelização a partir da cultura e da arte.
Fonte: http://www.joaocladias.org.br/arautos.asp. Acesso em: 01.05.2013.
-
8/15/2019 O Católico Ideal_ Dissertaçãod e Mestrado
16/114
14
Figura 3 - Os Arautos do Evangelho em foto após aprovação pontifícia. Disponível emhttp://www.aprovacaopontifica.arautos.org/caregory/mensageiros-do-evangelho. Acesso em
10.02.2011.
Fonte: http://www.joaocladias.org.br/arautos.asp. Acesso em: 10.02.2011.
Desperta curiosidade o discurso que se dirige aos seguidores no ciberespaço.
O ‘lócus’, considerado então democrático e espaço livr e, é usado, com frequência,
para um público específico, que decifre os códigos e os discursos.
Avaliar as sobreposições e antagonismos na cibercultura pelo discurso e as
formas de comunicação dos Arautos do Evangelho provocaria nova discussão sobre
o espaço e as lacunas que ainda existem nessa ferramenta, que pode ser utilizada
para o bem ou para o mal. Deve-se ressaltar ainda o modo como um grupo com
características de estética medieval ocupa a internet - espaço considerado
contemporâneo, que possui a natureza virtual e tecnológica própria da atualidade.
Sobre a questão central, o estímulo à cultura do imaterial, a pesquisa analisa
de que forma o conceito é reforçado pelo grupo em seu canal na internet, e como os
elementos da estética classicista se apresentam nesse meio de comunicação.
Como será feita a análise do portal com base na observação da construção e
-
8/15/2019 O Católico Ideal_ Dissertaçãod e Mestrado
17/114
-
8/15/2019 O Católico Ideal_ Dissertaçãod e Mestrado
18/114
16
imaterial na busca pelo homem perfeito? Como os Arautos utilizam a cibercultura
para autolegitimar-se? Existe a tentativa do grupo de utilizar a cibercultura para
estabelecer uma relação comunitária?
-
8/15/2019 O Católico Ideal_ Dissertaçãod e Mestrado
19/114
17
1. ARAUTOS DO EVANGELHO
1.1. Lugar das associações e movimentos na Igreja Católica
O Concílio Vaticano II, que aconteceu de 1962 a 1965, em Roma, provocou
na Igreja Católica grandes reflexões e nela estabeleceu novas posturas. Embora,
quase 50 anos depois, diversos líderes religiosos e outras associações e
movimentos da Igreja Católica ainda resistam às definições surgidas no Concílio,
assembleia histórica para a Igreja, não se pode negar que uma das grandes
novidades foi a visão gregária que a Igreja assumia, a partir daquele momento, que
se refere ao lugar dos movimentos e associações na instituição.
Frei Betto, renomado teólogo da Igreja Católica, em declaração ao site
www.revistadehistoria.com.br 3, menciona os modelos pastorais que ganharam
espaço da hierarquia da Igreja, como as Comunidades Eclesiais de Base e a
Teologia da Libertação. Ana Maria Tepedino, teóloga da PUC-RJ, comunga das
ideias de frei Betto e destaca a mudança de postura da instituição em relação aos
leigos, agora “convidados a uma participação maior e mais efetiva na Igreja”.
Sobre os movimentos, o site oficial do Vaticano4 dispõe de uma seção sobre o
DECRETO APOSTOLICAM ACTUOSITATEM em latim, ou Decreto sobre o
Apostolado dos Leigos, que explana a “importância e atualidade do apostolado dos
leigos na vida da Igreja”. A página cita em seu primeiro parágrafo:
1. O sagrado Concílio, desejando tornar mais intensa a atividade apostólicado Povo de Deus (1), volta-se com muito empenho para os cristãos leigos,
cujas funções próprias e indispensáveis na missão da Igreja já em outroslugares recordou (2). Com efeito, o apostolado dos leigos, que deriva daprópria vocação cristã, jamais poderá faltar na Igreja. A mesma SagradaEscritura demonstra abundantemente como foi espontânea e frutuosa essaatividade no começo da Igreja (cfr. Act. 11, 19-21: 18, 26; Rom. 16, 1-16; Fil.4, 3).Os nossos tempos, porém, não exigem um menor zelo dos leigos; maisainda, as condições atuais exigem deles absolutamente um apostoladocada vez mais intenso e mais universal. Com efeito, o aumento crescenteda população, o progresso da ciência e da técnica, as relações mais
3 Material publicado em 14 de fevereiro de 2013. Acesso em 07.05.2013. Disponível emhttp://www.revistadehistoria.com.br/secao/conteudo-complementar/forum.
4 DECRETO APOSTOLICAM ACTUOSITATEM, disponível no site do Vaticano. Acesso em07.05.2013. Disponível em:http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_decree_19651118_apostolicam-actuositatem_po.html
-
8/15/2019 O Católico Ideal_ Dissertaçãod e Mestrado
20/114
18
estreitas entre os homens, não só dilataram imensamente os campos doapostolado dos leigos, em grande parte acessíveis só a eles, mas tambémsuscitaram novos problemas que reclamam a sua atenção interessada e oseu esforço. Esse apostolado torna-se tanto mais urgente quanto aautonomia de muitos setores da vida humana, como é justo, aumentou, por
vezes com um certo afastamento da ordem ética e religiosa e com graveperigo para a vida cristã. Além disso, em muitas regiões onde os sacerdotessão demasiado poucos ou, como acontece por vezes, são privados daliberdade de ministério, a Igreja dificilmente poderia estar presente e ativasem o trabalho dos leigos4.
Como explica o documento, a Igreja Católica viu nas associações e
movimentos a oportunidade de se aproximar das comunidades, levando em
consideração que a crise na formação de novos padres para esse exercício já é há
algum tempo realidade enfrentada pela instituição.
O site www.veritatis.com.br, que congrega outros sites católicos, pertencente
a frente tradicionalista da Instituição, o Apostolado Veritatis Splendor, explica os
espaços que hoje os movimentos e associações ocupam na estrutura da Igreja e
como se configuram:
Canonicamente, não existe ‘movimento’. Essa figura jurídica não aparecenas leis canônicas. Daí que, em termos gerais, movimento é qualquer
agrupamento humano com um fim. Nesse sentido, o franciscanismo é ummovimento, o monasticismo também, até o Opus Dei, ainda que todos elessejam figuras jurídicas distintas. (...) Quais os tipos de personalidade jurídicapara agrupamento humano que temos aqui? Institutos de vida consagrada(que se dividem em institutos de vida religiosa e institutos seculares),sociedades de vida apostólica, e associações de fiéis. Institutos de vidaconsagrada são aqueles aos quais o membro se liga mediante votos oupromessas. Podem ser de dois tipos: institutos de vida religiosa e institutosseculares. Os primeiros pedem que o vínculo jurídico de pertença sejam osvotos, e também obriga o uso de um hábito, bem como a vida comunitária.(...) Já aos segundos, os membros se ligam ou por votos ou por promessasequivalentes, não são obrigados, pelo Código, ao hábito (embora suasconstituições possam obrigar), nem à vida comunitária (idem). (...)
Sociedades de vida apostólica são aquelas aos quais o membro se ligaapenas pelo compartilhamento de um carisma e pela vida comunitária, massem votos. Associações de fiéis são grupos de leigos e sacerdotes que seunem por um fim comum. Podem ter votos privados, promessas, vidacomunitária, espiritualidade própria, mas nada disso é obrigatório. Algunstêm ramos com promessas e vida comunitária, e ramos que vivem nomundo etc. Muitas dessas associações são ligadas a um instituto de vidaconsagrada ou sociedade de vida apostólica5.
Os Arautos do Evangelho configuram-se como Associação Internacional de
Fiéis de Direito Pontifício. Os detalhes da outorga estão nos capítulos seguintes.
5 A explanação postada em 17 de julho de 2009 pode ser lida na íntegra no sitehttp://www.veritatis.com.br/doutrina/a-igreja/1441-sobre-os-movimentos-da-igreja-catolica. Acessoem 07.05.2013.
-
8/15/2019 O Católico Ideal_ Dissertaçãod e Mestrado
21/114
19
1.2. Sobre os Arautos do Evangelho - surgimento/contextualização
Naturalmente, as teorias, assim como as doutrinas, alimentam-se dos
desejos, aspirações, temores, paixões, obsessões dos humanos; aspróprias teorias científicas são alimentadas pelos themata (Holton, 1982),ideias fixas obsessionais dos cientistas. (E. Morin)
Quem são os Arautos do Evangelho
Antes de conceituá-los, deve-se justificar o termo cyberspace, ao invés da
palavra em português cyberespaço, tendo em vista que na pesquisa o termo será
citado. Optou-se por cyberspace porque a adoção da versão original inglesa, de
acordo com Eugênio Trivinho em “A dromocacia cibercultural: lógica da vida humana
na civilização mediática avançada”; (2007; Paulus, p. 67), deve-se a razões de
fidelidade à categoria crítica em todos os níveis epistemológicos da construção
teórica. Trivinho cita:
Trata-se, a rigor, de política da teoria como forma de rechaço organizado àtão em voga sedução da ingenuidade política e histórica. (....) Vale lembrarque a noção de cyberspace, egressa da ficção científica norte-americana –
ela foi cunhada, como se sabe, em 1984, por william gibson (1985), que lhehavia concedido significado inteiramente surreal e futurista -, é, nos diascorrentes, assimilada, grosso modo, ao espaço-tempo imaterial produzidopela rede planetária de computadores, criada no final dos anos 60 do séculoxx, a internet, hoje em fase hipermediática (web), desencadeada no iníciodos anos 1990, com a invenção do modelo de interface gráficacibericonizada” (trivinho, e. 2007; p. 67.)
Sobre a definição, em livro comemorativo publicado em julho de 2001, a
associação, grupo de afirmação católica, comemora o título de Associação
Internacional de Fiéis de Direito Pontifício6
, “que ocorreu por ocasião da festalitúrgica da Cátedra de São Pedro, (22 de fevereiro) em 2001”.
A aprovação lhes conferia a partir daquele momento um mandato especial,
que implicava à comunidade uma relação própria com a Cátedra de São Pedro, ou
seja, com o Papa, líder máximo da Igreja Católica, possibilitando que não mais
estivesse como ponto de referência um bispo.
De acordo com informações do Código de Direito Canônico, promulgado pelo
6 Trecho de Publicação Comemorativa dos Arautos do Evangelho intitulada – Surge um novocarisma na Igreja, julho.2001. Pag.13.
-
8/15/2019 O Católico Ideal_ Dissertaçãod e Mestrado
22/114
20
Papa João Paulo II, o superior de Institutos Religiosos Clericais de Direito Pontifício
e das Sociedades Clericais de Vida Apostólica de Direito Pontifício possui o direito
de “poder executivo ordinário”.
Cân. 134 — § 1. Com o nome de Ordinário designam-se, em direito, alémdo Romano Pontífice, os Bispos diocesanos e os outros que, mesmo sóinterinamente, são colocados à frente de uma Igreja particular ou de umacomunidade equiparada segundo o cân. 368, e ainda os que nas mesmastêm poder executivo ordinário geral, a saber, os Vigários gerais eepiscopais; do mesmo modo, para com os seus súditos, os Superioresmaiores dos institutos religiosos clericais de direito pontifício e dassociedades clericais de vida apostólica de direito pontifício, que tenham pelomenos poder executivo ordinário.§ 2. Com o nome de Ordinários do lugar designam-se todos os referidos no§ 1, excetuados os Superiores dos institutos religiosos e das sociedades de
vida apostólica.7
A medida fez a vertente, agora mais próxima do Papa, ganhar respeito da
comunidade católica e expandir os trabalhos. Sua organização demonstra
complexidade quando o assunto é defini-los. De acordo com seu site oficial, o
www.arautosdoevangelho.com.br, “a Associação dos Arautos é composta
predominantemente por jovens entre 15 e 25 anos, e está presente em 78 países”8.
O canal na internet afirma que os membros da Associação, embora hajaexceção àqueles que abraçam o sacerdócio, são leigos, ou seja, não professam
votos, mas praticam o celibato e “dedicam-se integralmente ao apostolado, vivendo
em casas destinadas especificamente para rapazes ou para moças, os quais
alternam a vida de recolhimento, estudo e oração com atividades de evangelização
nas dioceses e paróquias, dando especial ênfase à formação da juventude”9.
Compreende ainda a Associação Arautos do Evangelho outra categoria de
membros, denominados Cooperadores. Segundo o site:
7 De acordo com informações do Código de Direito Canônico, promulgado pelo Papa João Paulo II,versão portuguesa, 4ª edição, disponível no item ‘Normas Gerais’, subitem Do poder de governo(p. 23). O material está disponível na íntegra no endereço http://www.vatican.va/archive/cod-iuris-canonici/portuguese/codex-iuris-canonici_po.pdf
8 A afirmação está disponível em http://www.arautos.org.br/view/show/341-arautos-do-evangelho
acesso em 21.05.20119 Embora o Estatuto dos Arautos do Evangelho não esteja disponível em seu canal, taisinformações constam em vídeo disponível no portal e descrita na página de apresentação davertente. Ver: http://www.arautos.org/view/show/13713-arautos Acesso em: 21.05.2011
http://www.vatican.va/archive/cod-iuris-canonici/portuguese/codex-iuris-canonici_po.pdfhttp://www.vatican.va/archive/cod-iuris-canonici/portuguese/codex-iuris-canonici_po.pdfhttp://www.vatican.va/archive/cod-iuris-canonici/portuguese/codex-iuris-canonici_po.pdfhttp://www.vatican.va/archive/cod-iuris-canonici/portuguese/codex-iuris-canonici_po.pdf
-
8/15/2019 O Católico Ideal_ Dissertaçãod e Mestrado
23/114
21
Embora sintam-se identificados com o espírito da Associação - lê-se nosEstatutos - não podem comprometer-se plenamente com os objetivos dela,devido a seus compromissos sacerdotais, ao fato de pertencerem a alguminstituto de vida consagrada ou sociedade de vida apostólica, ou a seusdeveres matrimoniais ou profissionais10.
Sobre essa categoria, os Arautos do Evangelho demonstram grande simpatia
àqueles que, embora parte de outra vertente da Igreja Católica ou tenham
constituído família, ou ainda, exerçam profissão que não permita tempo livre para se
envolver com as atividades do grupo, dispõem-se a participar dos encontros
periódicos dos Arautos, e frequentam as ações de evangelização e rituais propostos.
O grupo ainda se desdobra na Sociedade Clerical Virgo Flos Carmeli11,
constituída por membros dos Arautos do Evangelho que se ordenaram sacerdotes
após conviver na comunidade, e na feminina Regina Virginum, ramificação feminina
dos Arautos12. Ambas receberam aprovação pontifícia em 4 de abril de 2009. Os
Arautos contam com diversos conjuntos musicais, sendo o mais conhecido os
Cavaleiros do Novo Milênio. Aqui verificamos mais um entre os vários itens de
identificação da vertente com os Cavaleiros Templários, sobre o qual se tratará mais
adiante.
Deve-se observar como os Arautos do Evangelho, de cunho religioso,
possuem normas e regras determinadas em um estatuto além daquelas próprias da
Igreja Católica, demonstrando seu aspecto de associação. Os membros - leigos,
casados, solteiros, sacerdotes, diáconos, religiosos devem, além de observar os
deveres próprios a seu estado, viver de acordo com o carisma e a espiritualidade da
Associação, comprometendo-se a cumprir as obrigações de membros do grupo.
No que se refere ao seu estatuto, não disponível no canal na internet,
10 Sobre a categoria do grupo chamada ‘cooperado’, o único local do site em que se encontrareferência faz a menção citada acima. Ver http://www.joaocladias.org.br/arautos.asp Acesso em05.06.2011
11 Informação disponível no desdobramento do site dedicado a essa ramificação da Associação.Cita que "A Sociedade nasce como expressão do carisma da Associação Arautos do Evangelho,com a especificidade da vocação sacerdotal, manifestando a vontade de atuar em comunhão demétodos e metas com a mencionada associação, e empenhando-se particularmente em que osfiéis que se sentem atraídos por este carisma tenham uma assistência ministerial, sobretudo, osque vivem em comunidade". Acesso em 04.03.12, disponível emwww.virgofloscarmeli.org/page/artigo/25280
12 Informação disponível no desdobramento do site dedicado a essa ramificação da Associação. Citaque “nasce como expressão do carisma dos Arautos do Evangelho, aplicado às especificidades davida feminina, empenhando-se de modo particular em manifestar as suas características própriasno mundo secularizado”. Acesso em 04.03.12, disponível em www.reginavirginum.org.
http://www.joaocladias.org.br/arautos.asp%20Acesso%20em%2005.06.2011http://www.joaocladias.org.br/arautos.asp%20Acesso%20em%2005.06.2011http://www.joaocladias.org.br/arautos.asp%20Acesso%20em%2005.06.2011http://www.joaocladias.org.br/arautos.asp%20Acesso%20em%2005.06.2011
-
8/15/2019 O Católico Ideal_ Dissertaçãod e Mestrado
24/114
22
conforme mencionado anteriormente, cita-se no portal que está delineada a sua
vocação:
Esta Associação nasceu com a finalidade de ser instrumento de santidadena Igreja, ajudando seus membros a responderem generosamente aochamamento à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade,favorecendo e alentando a mais íntima unidade entre a vida prática e a fé13.
As palavras “plenitude” e “perfeição” são claros sinais de um discurso de
autoengrandecimento de um grupo que se pretende eleito, escolhido, ou seja,
exemplo para os demais, bem peculiar à estética classicista.
Esse comportamento se daria em decorrência do fechamento neles mesmos,e assim os membros enxergam-se como parte integrante dessa “comunidade”. O
fechamento, o qual Zygmunt Bauman (2001: 16) denomina como círculo
aconchegante, prevê uma organização viva e fechada (sem acesso), na qual seus
membros se sentem seguros, capazes de defendê-la contra possíveis “invasores” ou
demais fatores que abalariam sua estabilidade.
As lealdades humanas, oferecidas e normalmente esperadas dentro do
‘círculo aconchegante’, não derivam de ‘uma lógica social externa ou dequalquer análise econômica de custo-benefício’. Isso é precisamente o quetorna esse ‘círculo aconchegante’: não há espaço para o cálculo frio quequalquer sociedade em volta poderia apresentar, de modo impessoal e semhumor, como ‘impondo-se’ à razão. E essa é a razão porque as pessoasafetadas por essa frialdade sonham com esse círculo mágico e gostariamde adaptar aquele mundo frio ao seu tamanho e medida. Dentro do ‘círculoaconchegante’ elas não precisam provar nada e podem, o que quer quetenham feito, esperar simpatia e ajuda14. (BAUMAN. Z. 2001, p. 16).
Nesse trecho, Bauman menciona como o diálogo estabelecido entre o grupo
pode diferir daquele entre as demais pessoas, conferindo a ele uma característicaprópria, em virtude de estar fechado em si mesmo, impossibilitando o olhar sob
pontos de vista diferentes.
O fechamento do grupo em si mesmo é latente no já citado estatuto dos
Arautos do Evangelho. Em livro comemorativo publicado em 2001 cita-se que o
13 Informação disponível em www.arautosdoevangelho.com.br. Acesso em maio de 2011.14 No livro “Comunidades: a busca por segurança no mundo atual”, Zygmunt Bauman menciona que
quanto mais fechadas as comunidades, mais segurança elas sentem e mais homogêneas são,não permitindo a interferência externa, logo, questionamentos sobre condutas e discursos. Pag.16.
-
8/15/2019 O Católico Ideal_ Dissertaçãod e Mestrado
25/114
23
estatuto de criação foi aprovado em 21 de setembro de 1999, por dom Emílio
Pignoli, então bispo diocesano de Campo Limpo (SP), que abarca parte da região da
cidade de São Paulo.
Sobre sua origem, as informações oficiais da Associação não são
elucidativas. O mesmo livro (2001; 56) menciona que a origem dos Arautos “teve a
Providência seus desígnios misteriosos”, referindo-se aos “insondáveis desígnios de
Deus”.
Sua origem remonta, em meados do século passado, a um grupo de jovens que se aglutinou em São Paulo para admirar a harmonia e cultivar aespiritualidade que se evoca do canto gregoriano, em meio ao estudo daDoutrina Católica. Por essa via estava a Providência convidando-os para seentregarem por inteiro ao verdadeiro Autor de todas as pulcritudes. Aomesmo tempo, o Espírito Santo suscitou em suas almas o anseio deformarem uma instituição de cunho religioso, com a finalidade depromover a santificação pessoal, enquanto utilizariam a música e acultura em geral como meio de evangelização15.
Há novamente elementos da estética classicista no discurso dos Arautos do
Evangelho, como a relação entre arte e espiritualidade. Observa-se aqui o uso de
um discurso que reforça a noção de antiguidade, e que na verdade não condiz com
a realidade.
De acordo com o mesmo material, a partir desse momento “os Arautos do
Evangelho passavam a ser instrumentos vivos da Sagrada Hierarquia a serviço da
Nova Evangelização”. Nota-se o esforço dos Arautos em se afirmar como grupo
escolhido em todo o discurso da vertente, no site oficial e nas demais publicações.
Mostrar-se como ‘ligados diretamente ao Papa’, líder máximo da Igreja Católica,
pregar a ‘nova Evangelização’, como se a existente não fosse a ideal para umprojeto de salvação são afirmações que denotam essa característica.
Como já evidenciamos através de imagens do portal, essa insistência na
hierarquia faz parte da linguagem gestual dos Arautos do Evangelho. A organização
e disposição do grupo nos sugere um exército sempre pronto para agir. Segundo
Boris Cyrulnik em O homem e o encantamento do mundo (1999; p. 100), devido a
sua aptidão para a palavra, o homem fala também pelos gestos.
15 Publicação comemor ativa “Arautos do Evangelho – surge um novo carisma na Igreja”; 2001. Pág.57.
-
8/15/2019 O Católico Ideal_ Dissertaçãod e Mestrado
26/114
24
Durante uma reunião política, a decoração do estrado, a disposição dosdirigentes e o panurgismo nos seguidores estruturam no espaço uma“geometria que quer dizer”. Se o chefe subir para um estrado com TREmetros de altura, equivalente moderno de um trono, enquanto a multidão évigorosamente ordenada por um serviço de ordem, esta geometria elabora
um discurso sem palavras. (...) O espaço e os gestos pré-dizem e, tal comoas palavras, podem mentir. (CYRULNIK, B. 1999; p. 100)
A linguagem textual dos Arautos do Evangelho nos falam tanto quanto o texto
que constroem em seu canal. neste sentido, destacamos também a linguagem
utilizada para a internet: a figura do fundador, monsenhor João Scognamiglio Clá
Dias. João Clá possui uma área criada especificamente para suas mensagens, no
endereço www.joaocladias.org.br, que detalha das origens do fundador à trajetória
da sua vida pública.
João Clá Dias, segundo informações dessa área, é brasileiro, nascido em São
Paulo, a 15 de agosto de 1939. O canal enfatiza a data comemorativa da Igreja
Católica por ocasião do nascimento de João Clá: a 15 de agosto se celebra a
solenidade da Assunção de Nossa Senhora.
Afirma ainda que seus pais, António Clá Dias e Annitta Scognamiglio Clá
Dias, “constituíam uma família de imigrantes europeus (o pai era espanhol e a mãeitaliana), na qual a fé católica, herdada de seus maiores, era ainda muito viva”16.
Com fotos do fundador em quase todas as páginas, o site menciona o grau
acadêmico de João em vários momentos, inclusive na página oficial dos Arautos do
Evangelho, evidenciando a busca pela excelência.
Informações sobre o surgimento e a fundação da Associação não são
próprias dos canais oficiais. No entanto, há na página de João Clá Dias detalhes
sobre sua tese de doutorado:
O objetivo da tese é abordar cientificamente o problema que consiste emencontrar a figura jurídica mais adequada para enquadrar a obra dos Arautos do Evangelho no ordenamento canônico, garantindo-lhe a unidadeinstitucional com o englobamento dos diversos estados de vida, o que evitao risco de uma fragmentação futura da instituição e de um desvirtuamentodo carisma; problema de máxima atualidade para diversos movimentoseclesiais que iniciaram sua trajetória institucional como associação privadade fiéis17.
16 Disponível em http://www.joaocladias.org.br/Mostra_Noticia.aspx?id=11. Acesso em 25.05.2011.17 Disponível em http://www.arautos.org/artigo/19510/Os-homens-de-fe-mudam-os-rumos-da-
Historia.html. Acesso em 25.05.2011.
-
8/15/2019 O Católico Ideal_ Dissertaçãod e Mestrado
27/114
-
8/15/2019 O Católico Ideal_ Dissertaçãod e Mestrado
28/114
26
Esses conceitos estão estampados no brasão19 que ostentam, no portal e nas
roupas. Afirma o site:
A espiritualidade tem como linhas mestras a adoração a Jesus Eucarístico,de inestimável valor na vida da Igreja, para construí-la como una, santa,católica e apostólica, corpo e esposa de Cristo (EE 25, 61); a filial piedademariana, imitando a sempre Virgem e aprendendo a contemplar n’Ela orosto de Jesus; e a devoção ao Papado, fundamento visível da unidade dafé20.
Como mencionado, a importância da hierarquia sob a qual se organizam é
tratada com seriedade.
Sobre a obediência a Maria, apesar da possível devoção dos pais de JoãoClá Dias e a data na qual o fundador nasceu, não se pode esquecer que é um dos
dogmas principais da fé católica. Com relação à adoração de Jesus Eucarístico, fala-
se novamente de um dos dogmas da fé cristã-católica, que crê na encarnação do
‘corpo de Cristo’ no pão e no ‘sangue de Cristo no vinho’, momento em que Deus se
faria presente nesses dois itens.
Dessa forma, ‘corpo de Cristo’, como a Igreja se refere àqueles que fazem
parte do corpo da Igreja Católica, é uma tentativa de os Arautos demonstrarem que
fazem parte desse corpo-igreja.
1.3. Os Arautos do Evangelho e TFP
A Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade – TFP
define-se21 como entidade cívica legalmente registrada em São Paulo em 1960.
Fundada por um grupo de católicos leigos tradicionalistas, encabeçados por Plínio
19 Sobre o brasão ver http://www.arautos.org.br/imprimir/19510.html Acesso em 22.05.2011.20 Um dos dogmas da fé católica é a assunção de Maria, Mãe de Jesus, ao céu, de corpo e alma.
Diante da pureza e virgindade de Maria, ela não mereceria morrer como uma pessoa qualquer. Oscatólicos acreditam que, devido à sua obediência e resignação, Maria teria sido levada aos céuspelos anjos, por isso essa data é tão importante, e achamos relevante citá-la nesta parte dapesquisa, considerando ainda a Obediência filial à Maria um dos pilares dos Arautos doEvangelho. Ver citação em http://www.acnsf.org.br/article/19510/Os-homens-de-fe-mudam-os-rumos-da-Historia.html. Acesso em 22.05.2011.
21 Quem é a TFP. Disponível em http://www.tfp.org.br/tradicao-familia-e-propriedade/luz-agua-ou-lenha. Acesso em 05.06.2011.
-
8/15/2019 O Católico Ideal_ Dissertaçãod e Mestrado
29/114
27
Corrêa de Oliveira22 e com atuação política destacada nas décadas seguintes ao
seu surgimento, a TFP, mesmo com a morte de seu criador, em 1995, ainda possui
sócios que mantêm sua organização original. Formam, em cada Estado, uma seção,
tendo à frente um diretório seccional, que se divide em subseções, coordenadas por
dois órgãos de jurisdição em todo o país: o Conselho Nacional, com o encargo das
atividades sociais em seus aspectos culturais e cívicos, e a Diretoria Administrativa e
Financeira Nacional, cujo campo de ação é definido pelo próprio título.
Segundo Gizele Zanotto (2006)23:
Sua matriz de interpretação do mundo deriva do catolicismo integrista,
doutrina contrarrevolucionária que preconiza uma reedificação da ordemsocial cristã como a única solução aceitável para a solução dos problemasengendrados desde o fim da época medieval pela chamada modernidade(ZANOTTO, G. 2006; p. 8).
Em seu site oficial, o www.tfp.org.br, mantido por membros da TFP que ainda
tentam preservar o que sobrou da Sociedade após a morte de Plínio, está a
afirmação de que a finalidade da TFP “é combater a ‘maré -montante do socialismo e
do comunismo’24, o que comparam com ‘a tuberculose simples e a tuberculose
galopante”. Segundo a concepção dos tefepistas, ambos os “males” (exposto desta
forma no site) repousam sobre a mesma base filosófica, que induzem a uma série de
máximas culturais, sociais e econômicas. Portando, a sociedade teria como objetivo
combater essas correntes filosóficas. Utilizam como principal instrumento as obras
doutrinárias escritas por sócios ou amigos, cujo sistema de difusão consiste na
22 Plínio Corrêa de Oliveira nasceu em São Paulo/SP em 1908. Sua militância católica iniciou-se nosanos 20, como integrante da Congregação Mariana na Paróquia de Santa Cecília, e se estendeu
até seus últimos dias, tendo participado ativamente de atividades de inspiração cristã, como afundação da Ação Universitária Católica – AUC, na Faculdade de Direito, onde estudava (1929); acriação da Liga Eleitoral Católica - LEC (1932); deputado federal na Assembleia Constituinte(1934-1937); diretor do jornal O Legionário, Órgão da Congregação Mariana de Santa Cecília,transformado em porta-voz oficioso da Arquidiocese de São Paulo (1933-1947); presidente daJunta Arquidiocesana da Ação Católica Paulista (1940-1943); orientador e inspirador do mensáriode cultura Catolicismo (fundado em 1951); fundador e presidente vitalício da Sociedade Brasileirade Defesa da Tradição, Família e Propriedade - TFP. Plínio Corrêa de Oliveira faleceu em SãoPaulo, no ano de 1995, em odor de santidade, segundo seus sequazes. Ver Gizele Zanotto, artigo“Tradição, Família e Propriedade: cristianismo, sociedade e salvação”, 2006.
23 ZANOTTO, Gizele. “Tradição, Família e Propriedade: cristianismo, sociedade e salvação”, In: XICONGRESSO LATINO-AMERICANO SOBRE RELIGIÃO E ETNICIDADE - MUNDOSRELIGIOSOS: IDENTIDADES E CONVERGÊNCIAS, 2006, São Bernardo do Campo/SP. Anais do
XI Congresso Latino-Americano sobre Religião e Etnicidade - Mundos Religiosos: Identidades eConvergências. São Bernardo do Campo/SP: UMESP/ALER, 2006. v. I.
24 Acesso em 05.06.2011. Disponível em http://www.tfp.org.br/tradicao-familia-e-propriedade/luz-agua-ou-lenha
-
8/15/2019 O Católico Ideal_ Dissertaçãod e Mestrado
30/114
28
venda em logradouros públicos, por grupos de jovens que levam o característico
estandarte rubro com o leão rompante. O símbolo seria uma referência a um grupo
de militantes da Igreja tradicionalista do início do século XX.
1.3.1. O “racha” da TFP
Matéria publicada pela revista Veja25 menciona que as grandes brigas que
racharam a TFP se deram após a morte de Plínio, como mencionado, em
decorrência da disputa por donativos entre a TFP e os Arautos do Evangelho.
Matéria publicada pela Folha de S.Paulo, e reproduzida no site
www.fundadores.org.br, datada de 13 de dezembro de 2008, afirma:
Eles perderam o controle da entidade em 2004, numa disputa judicial quehavia começado em 1997. Um grupo dissidente, liderado pelo hojemonsenhor João Scognamiglio Clá Dias, exigiu na Justiça o direito de queas decisões da organização não fossem tomadas apenas pelo pequenogrupo de, então, oito sócios-fundadores remanescentes. Os dissidentesperderam em primeira instância, mas ganharam a causa e o controle daTFP em decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo em 2004. Desde entãoo processo aguarda julgamento final no STJ (Superior Tribunal de Justiça).
Entre 2004 e 2006, os sócios-fundadores e seus seguidores se separaramda “nova” TFP e passaram a se denominar “Associação dos Fundadores daTFP”. Há dois anos, nova decisão proibiu o uso da sigla pelos fundadores.Eles então passaram a se denominar apenas “Associação dos Fundadores”.Clá Dias e seus seguidores, também fundadores da associação ligada àIgreja Católica Arautos do Evangelho, são acusados pelos fundadores deterem tomado o controle da entidade que teve seu auge no regime militar(1964-1985) para abandonar a principal característica da TFP: a militânciapolítica em defesa intransigente do direito de propriedade e combate amovimentos sociais que ameacem esse princípio. (FOLHA DE S.PAULO; 13de dezembro de 2008)
A matéria afirma, na ocasião em que se celebrava o centenário de Plínio(2008), que fundadores do grupo perderam o direito de usar a sigla da TFP e que
disputas judiciais após a morte de Plínio deram poder ao grupo dos Arautos do
Evangelho, que teria deixado de fazer militância política.
Aqui caberia questionar se na ênfase da vertente nas questões de disputas
judiciais estaria sinalizada, na realidade, uma disputa financeira.
25 Matéria “A TFP do B”, publicada pela revista Veja em 28 de abril de 2004. Disponível emhttp://veja.abril.com.br/280404/p_094.html. Acesso em 24.06.2011.
http://www.fundadores.org.br/http://www.fundadores.org.br/
-
8/15/2019 O Católico Ideal_ Dissertaçãod e Mestrado
31/114
29
1.3.2. João Clá Dias e Plínio Corrêa
Dados históricos como os citados revelam que na base da disputa pelas
propriedades deixadas pela TFP e pelo legado da Sociedade surgem os Arautos do
Evangelho. Embora não haja sequer uma citação sobre a TFP no site oficial, é
possível encontrar referências do vínculo entre a TFP e os Arautos em diversas
publicações.
No site oficial da TFP (www.tfp.org.br), por exemplo, a imagem de Nossa
Senhora de Fátima aparece nos mesmos moldes de utilização do site oficial dos
Arautos do Evangelho.
Figura 4 - Home do site www.tfp.org
Fonte: www.tfp.org (acesso em 18.08.12)
-
8/15/2019 O Católico Ideal_ Dissertaçãod e Mestrado
32/114
30
Figura 5 - Home do site www.tfp.org - “Visitas da Imagem de Nossa Senhora deFátima”.
Fonte: site www.tfp.org (acesso em 18.08.12)
Figura 6 - Home do blog desdobramento do portal dos Arautos do Evangelho.
Fonte: www.cavalariademaria.blog.arautos.org. Acesso em 18.08.12.
-
8/15/2019 O Católico Ideal_ Dissertaçãod e Mestrado
33/114
31
Figura 7 - Home do site desdobramento dos Arautos do Evangelho. Sob o título“Imagem peregrina recebe devotas manifestações de afeto” constata-se que no site
dos Arautos e no da Cavalaria de Maria, a ‘visita da Imagem’ está em destaque.
Fonte: Disponível em www.cavalariademaria.blog.arautos.org. Acesso em 18.08.12
Na matéria veiculada pela Veja, a relação de João Clá Dias e Plínio Corrêa é
clara. João Clá teria militado por mais de 30 anos na TFP. Nos anos 60 se
aproximou de Plínio, de quem foi secretário particular.
O fundador dos Arautos do Evangelho se tornou uma espécie de ‘amigo da
família’ e da mãe de Plínio, conhecida por dona Lucília, e “se prontificado a escrever
um livro sobre ela: uma obra de três volumes ricamente ilustrada”
26
.
1.3.3. Sociedade secreta
Este capítulo será encerrado com informações sobre a possível participação
de João Clá Dias em uma ‘sociedade secreta’.
A matéria da revista Veja menciona, sem citar a fonte, que um ex-teefepista
declarou ao repórter a participação do fundador dos Arautos do Evangelho em ‘uma
26 Ver www.tfp.org.br/fundador. Acesso em 20.07.2012.
-
8/15/2019 O Católico Ideal_ Dissertaçãod e Mestrado
34/114
32
ala da TFP que cultuava as figuras de Plínio e de dona Lucília como se fossem
santos’, ou seja, uma sociedade com ritos secretos, fazendo referência a João Clá
como sucessor espiritual de Plínio.
Sérias acusações sobre o mesmo assunto são feitas ainda pela Associação
Cultural Monfort27, vertente tradicionalista que prega a defesa da Igreja Católica e
seus ensinamentos contra o que denominam “erros do tempo”. Em seu site oficial28
há uma série de artigos que relacionam os Arautos à TFP. A Monfort menciona que
essa sociedade secreta, intitulada “Sempre Viva”, era citada em código como
‘Família de Almas’.
Seu grupo inicial permaneceu longo tempo muito reduzido, um tanto estranho,e muito reservado. Ele inicialmente fazia reuniões na Rua Martim Francisco,onde morava o Cônego Antônio de Castro Mayer. Depois, ao receberem doisapartamentos num edifício da Rua Vieira de Carvalho, doados a eles, depoisda morte de um membro do grupo inicial, este passou a se denominarcorriqueiramente como o grupo da Vieira de Carvalho. Como na Maçonaria,se designam as lojas com o nome de Loja da Rua Tal, assim também semprefoi costume na TFP: as várias sedes sempre eram designadas como grupo darua Tal ou da rua Tal outra. E sua gíria interna sempre teve termos usados naMaçonaria. (Site oficial da Associação Monfort.http://www.montfort.org.br/old/index.php?secao=cadernos&.subsecao=religiao&artigo=pco-vii&lang=bra )
O texto menciona que o grupo de Plínio manteve-se reduzido até a década de
1950.
A Monfort teria denunciado a sociedade secreta conhecida por “Sempre Viva”
por trás da TFP na obra “Por trás do estandarte” (Editora: 2000) . Afirma ainda que
em 1975 Plínio teria se declarado fundador da instituição secreta, que passou a ser
intitulada “Sagrada Escravidão”, pois todos os seus membros, na cerimônia de
iniciação, deviam fazer uma consagração pessoal como escravos do Dr. Plínio,entregando-lhe sua pessoa, corpo e alma, bens interiores e exteriores.
27 De acordo com seu site oficial, a Associação Cultura Monfort é formada por leigos católicos,fundada por Orlando Fedeli em 1983. O grupo declara seguir as orientações de dom CastroMayer, bispo da Igreja Católica que, durante o Concílio Vaticano II, assumiu-se como um doslíderes da área conservadora, especialmente no campo da ortodoxia. Ainda define em seu site queo centro de suas atividades “é a luta em defesa da Igreja Católica e de seus ensinamentos, contraos erros de nosso tempo, especialmente no que se refere às doutrinas modernas e suasconsequências que se difundiram na Igreja após o Concílio Vaticano II”. Mais detalhes noendereço http://www.montfort.org.br/quem-somos/. Acesso em 10.05.2013.
28 No endereço em que está disponível uma extensa coleção de artigos acusando os Arautos do
Evangelho de ‘esconderem’ uma sociedade secreta, há uma coleção digital de arquivos referentesà história da Igreja, do Papa, arte, ciência e fé, dentre outras. Disponível emhttp://www.montfort.org.br/old/index.php?secao=cadernos&. subsecao=religiao&artigo=pco-vii&lang=bra . Acesso em 15.07.2011.
http://www.montfort.org.br/old/index.php?secao=cadernos&.%20subsecao=religiao&artigo=pco-vii&lang=brahttp://www.montfort.org.br/old/index.php?secao=cadernos&.%20subsecao=religiao&artigo=pco-vii&lang=brahttp://www.montfort.org.br/old/index.php?secao=cadernos&.%20subsecao=religiao&artigo=pco-vii&lang=brahttp://www.montfort.org.br/old/index.php?secao=cadernos&.%20subsecao=religiao&artigo=pco-vii&lang=brahttp://www.montfort.org.br/old/index.php?secao=cadernos&.%20subsecao=religiao&artigo=pco-vii&lang=brahttp://www.montfort.org.br/old/index.php?secao=cadernos&.%20subsecao=religiao&artigo=pco-vii&lang=brahttp://www.montfort.org.br/old/index.php?secao=cadernos&.%20subsecao=religiao&artigo=pco-vii&lang=brahttp://www.montfort.org.br/old/index.php?secao=cadernos&.%20subsecao=religiao&artigo=pco-vii&lang=bra
-
8/15/2019 O Católico Ideal_ Dissertaçãod e Mestrado
35/114
33
Todas as teses da Monfort resultariam na publicação “No país das
maravilhas: a gnose burlesca da TFP e dos Arautos do Evangelho”, escrita por
Orlando Fedelli. O resumo do livro (tem, no total, mais de 300 páginas) está
disponível para download em diversos sites da internet.
Sociedades secretas ou não, TFP e Arautos do Evangelho possuem em sua
configuração diversas semelhanças. Gizele Zanotto (2006), que estudou a TFP e
seus conceitos, afirma que a prática social do grupo vivenciada por seus membros
baseia-se essencialmente em três fontes:
Que sistematizam a compreensão de que o mundo moderno é tido por
catastrófico em função de um pluricelular processo maligno de destruição dacivilização cristã, que só será detido se os homens novamente seconverterem à verdadeira fé e praticarem a verdadeira devoção a NossaSenhora, padroeira da Contrarrevolução e responsável pela vitória do bemsobre o mal pela distribuição da graça. As três fontes são “Revolução econtrarrevolução”, obra de Plínio Corrêa de Oliveira lançada em 1959; adevoção Mariana, fundamentada na obra de São Luís Maria Grignion deMonfort, “Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem”; e amensagem contrarrevolucionária de Nossa Senhora de Fátima (ZANOTTO,Gizele, 2006; p.2).29
Além dos citados elementos da estética classicista encontrados na
comunicação dos Arautos do Evangelho, há aqui esse tipo de presença igualmente
na TFP. Como exemplo, a revolução em busca dos ideais de perfeição humana.
É possível verificar ainda que os Arautos do Evangelho herdaram da TFP
toda a espiritualidade e devoção a Nossa Senhora de Fátima, que aparece em
vários momentos. O devotamento segue o modelo traçado por São Luís Maria
Grignion de Monfort.
1.4. Cavaleiros Templários
Em busca dos referenciais simbólicos que norteiam os Arautos do Evangelho,
deparamo-nos com as constantes semelhanças com os Cavaleiros Templários.
29 A publicação da pesquisadora Gizele Zanotto cita que nas obras mencionadas acima, o fundadorda TFP descreve os problemas que impulsionaram a decadência da cristandade e quais as táticasde contrarrevolução para combater a decadência da cristandade. Sobre São Luís Maria Grignion
de Monfort, os Arautos do Evangelho declaram em seu site que a espiritualidade da vertente, ouseja, o modo como costumam vivenciar a prática da fé baseia-se, segundo o santo, conhecidopela crença católica, no trabalho com os pobres e por ser defensor da piedade, e ‘pelaconsagração a cristo pelas mãos de Maria’. Ver: www.cademeusanto.com.br.
-
8/15/2019 O Católico Ideal_ Dissertaçãod e Mestrado
36/114
34
Na história, tudo o que provoca pouca informação é passível de devaneios,
oriundos da capacidade imaginativa do ser humano. Encontrar informações que
sejam fiéis aos Cavaleiros Templários não foi tarefa fácil, dado o número de
especulações sobre sua verdadeira história.
Esta pesquisa não tem como objetivo principal aprofundar-se na história da
‘Ordem Militar e Religiosa’, mas pretendeu averiguar as semelhanças entre os
Cavaleiros Templários e os Arautos do Evangelho, a fim de compreender as
influências dos Templários. As semelhanças vão além da indumentária.
Figura 8 - Indumentária Arautos do Evangelho (Reprodução livro comemorativo pelaaprovação do grupo como Associação de Direito Pontifício, publicado em julho de
2001).
-
8/15/2019 O Católico Ideal_ Dissertaçãod e Mestrado
37/114
35
Figura 9 - Arautos do Evangelho perfilados como exército (reprodução livrocomemorativo pela aprovação do grupo como Associação de Direito Pontifício,
publicado em julho de 2001).
Figura 10 - Indumentária dos Cavaleiros Templários
Fonte: www.ohistoriador.com.br. Acesso em 15.05.12
-
8/15/2019 O Católico Ideal_ Dissertaçãod e Mestrado
38/114
36
Figura 11 - Indumentária dos Cavaleiros Templários
Fonte: www.virgiliocamposhistoriaantiga.blogspot.com. Acesso em 15.05.12
O fascínio pelas sociedades secretas alimenta lacunas dos mais diversos
tipos, que vão do fanatismo religioso às teorias de conspiração, não muito diferentes
do que se lê sobre os Templários e do que se estudou aqui sobre os Arautos.
Oddvar Olsen, no livro “Templários: as sociedades secretas e o mistério do
Santo Graal” (1971; p. 24), menciona que, se “por um lado os Templários eram
conhecidos como devotos, leais e famosos guerreiros monásticos das Cruzadas – os
cavaleiros brancos da cristandade medieval, por outro lado havia rumores de que
eles faziam rituais místicos, guardavam o Santo Graal e possuíam tesouros perdidos
no Templo de Jerusalém”.
Em artigo apresentado no Congresso Internacional de História (setembro de
2011), Augusto Moretti Junior e Jaime Estêvão dos Reis30 citam que em 1120
“alguns cavaleiros cruzados que participaram da tomada de Jerusalém, receberam a
missão de proteger os peregrinos que viajavam à Terra Santa contra os ataques dos
muçulmanos”.
Segundo Oddvar Olsen, autor de “Templários - sociedade secreta e o mistério
do santo graal (Editora Best Seller, 2011), a Ordem dos Cavaleiros Templários
30 Artigo intitulado “A estruturação do poder na Ordem Militar dos Cavaleiros Templários”,apresentado no Congresso Internacional de História, setembro de 2011, disponível emhttp://www.cih.uem.br/anais/2011/trabalhos/68.pdf. Acesso em 20.12.2012.
-
8/15/2019 O Católico Ideal_ Dissertaçãod e Mestrado
39/114
37
existiu de 1118 a 1312; segundo Willian de Tiro (cidade localizada no Líbano, na
costa do Mar Mediterrâneo), arcebispo de Acre (região ao sul de Sidônia, também no
Líbano), que escreveu o livro “The History of the Deeds Byoung the Sea”,
considerada uma das obras mais confiáveis em termos de informações históricas a
respeito do assunto, os primeiros Templários eram de famílias nobres da França. Ele
cita como os mais notáveis dos nove cavaleiros fundadores: Hugo de Payen e
Godofredo de St. Homer, além de André Montbard, Payen de Montdidier,
Achambaud de St. Amand, Geoffroi Bisol e Godofredo de Boillon.
Olsen contextualiza:
Ao chegarem à Terra Santa, eles se apresentaram ao irmão mais jovem deGodofredo de Boillon (que havia aceitado o título de Rei Balduíno II deJerusalém), que deu à Ordem recém-fundada instalações com conexão coma mesquita Al-Aqsa. A missão dos Templários, como declarado na obra deWillian de Tyre, era ‘(...) guardar as rotas e as estradas (...) com umaatenção especial para a proteção dos peregrinos...(ODDVAR, Olsen. 2011;p. 25)
Augusto Moretti Junior e Jaime Estêvão dos Reis (2011) definem de forma
semelhante a estruturação do poder na Ordem Militar dos Cavaleiros Templários. O
grupo buscou, como afirmam, a proteção dos peregrinos e o reconhecimento da
Igreja Católica para oficialmente terem uma identidade.
Ao completarem nove anos de estadia em Jerusalém, Hugo de Payns,representando aquele pequeno grupo de cavaleiros, compareceu diante doConcílio de Troyes, com a intenção de obter o reconhecimento da Ordempela Igreja Católica, acabar com a crise de identidade que os irmãospassavam e conseguir uma Regra que pudesse normatizar seufuncionamento” (MORETTI, A. e ESTEVAO, Jaime Apud Demurger. 2011).31
A publicação “Sociedades secretas”, número 1, da Editora Escala (55; 2011),
reproduz as informações dos pesquisadores citadas nas duas fontes acima.
Segundo a revista, “em 1118, após a tomada de Jerusalém pela Pr imeira Cruzada e
o surgimento de um reino cristão no Oriente, Hugo de Payen e oito cavaleiros que
31 Augusto Moretti Junior e Jaime Estêvão dos Reis citam os estudos de Alain Demurger sobre aestruturação do poder na Ordem dos Templários. Moretti e Estêvão mencionam que em 26 denovembro de 1095 “um dia antes da proclamação da primeira Cruzada”, houve uma discussão
sobre as mudanças de propostas de direcionamento da Igreja Católica, que ficou conhecida comoReforma Gregoriana. Apoiados nos estudos de Demurger, os historiadores mencionam que “areforma visava, prioritariamente, libertar a Igreja do domínio dos laicos”. O artigo pode ser lido naíntegra no link: http://www.cih.uem.br/anais/2011/trabalhos/68.pdf
-
8/15/2019 O Católico Ideal_ Dissertaçãod e Mestrado
40/114
38
participaram da empreitada pediram autorização a Bauduíno II para permanecer na
cidade. O objetivo era defender os territórios cristãos conquistados e proteger os
peregrinos que se deslocavam ao local sagrado” (2011; p.55).
Os historiadores Moretti Junior e Estevão dos Reis destacam que as origens
da Ordem do Templo são pouco conhecidas em consequência da ausência de
documentos.
Os relatos históricos que abordam a fundação da Ordem são bemposteriores à sua fundação. O mais célebre relato pertence ao bispoGuilherme de Tiro. Esse religioso escreve que os primeiros fundadoresforam Hugo de Pains e Godofredo de Saint Omer. Segundo ele, a nova
Ordem não tinha Igreja e nem um domicílio permanente. Então, o Rei deJerusalém, Balduíno II, permitiu que eles se alojassem por certo tempo nopalácio real, situado ao lado do Templo do Senhor, a Cúpula da Rocha.(MORETTI, A. e ESTEVAO, Jaime. 2011; p. 4)
A partir daí encontramos as primeiras semelhanças entre os Arautos do
Evangelho e os Cavaleiros Templários. Segundo o livro de Olsen, em 1139, no
Concílio de Troyes, em Champagne, França, “os Cavaleiros Templários foram
reconhecidos por São Bernardo de Claraval e criaram a Regra dos Cavaleiros
Templários. Essa regra outorgou aos Templários autonomia legal e o direito de, apartir de então, obedecerem apenas ao papa e a Deus. O papa aprovou oficialmente
a Ordem em 1139”.
Moretti Junior e Estevão dos Reis mencionam que com a formação da Ordem
do templo surgiria a figura dos monges-cavaleiros.
Esses monges viviam sob uma Regra, e diferentemente dos seuspredecessores que viviam isolados em monastérios e levavam uma vidacontemplativa, atuavam no mundo em defesa de Cristo e a serviço daIgreja, embora pertencessem a uma instituição independente,vinculada diretamente ao papa (MORETTI, A. e ESTEVAO, Jaime ApudDemurger. 2011)32.
A edição da revista “Sociedades secretas”33 menciona que “uma das
principais características da Ordem era sua autonomia em relação à hierarquia da
32 Artigo intitulado “A estruturação do poder na Ordem Militar dos Cavaleiros Templários”,
apresentado no Congresso Internacional de História, setembro de 2011, disponível emhttp://www.cih.uem.br/anais/2011/trabalhos/68.pdf
33 A revista “Sociedades secretas” utilizada como fonte nesta pesquisa é a edição de número 1 e foipublicada pela Editora Escala no ano de 2001.
-
8/15/2019 O Católico Ideal_ Dissertaçãod e Mestrado
41/114
39
Igreja. Seus membros estavam sujeitos apenas ao papa” (2011; p. 56).
Os Arautos do Evangelho se preocupam em se respaldar em um estatuto que
os ampara nas regras e orientações de vida do membro. Por esse estatuto o grupoconseguiu a Aprovação de Direito Pontifício34, que lhe dá, assim como aos
Templários, o direito de responder diretamente ao papa, o que é na realidade o que
os caracteriza no cenário das vertentes católicas do Brasil. Outra semelhança refere-
se ao estilo de vida dos Templários: votos de castidade, pobreza e dedicação
altruística, e ‘uma vida monástica bastante disciplinada e de rotina rígida’.
Destaca-se ainda a opção dos Cavaleiros Templários, segundo Olsen, pelas
catedrais góticas.
Os Cavaleiros Templários usaram sua sabedoria e suas habilidades paraconstruir muitas das magníficas catedrais góticas. O conhecimento daOrdem sobre geometria e simbolismo sacro pode ser visto em Chartres,Notre Dame, e em outras maravilhas arquitetônicas. Além disso, a influênciado design do Santo Sepulcro (em Jerusalém) pode ser vista nas clássicasigrejas redondas dos Templários, baseadas na geometria octogonal”.(OLSEN , Odwar. 1971; p. 21)
Os Arautos do Evangelho manifestam, igualmente, sua opção pela arquiteturagótica, haja vista o belíssimo templo construído pelo grupo em São Paulo (SP), no
alto da Serra da Cantareira.
34 Trecho da homilia citada em publicação comemorativa da aprovação dos Arautos como
Associação de Direito Pontifício, datada de julho de 2001 e distribuída gratuitamente relata: “Aaprovação não é uma coisa estática, é preciso sublinhar, é uma coisa dinâmica, é um mandato.Sabendo o que os senhores querem fazer, o que os senhores se propuseram a fazer, depois deum atento exame, a Santa Sé, pelo Conselho dos Leigos, o Santo Padre, por meio desteConselho, considera oportuno, importante e atual. Isso, os senhores, a partir de agora, a partirdesta aprovação-ereção pontifícia, o fazem com esta orientação, decisão, mandato especial. Oque implica que a comunidade dos senhores estendida pelo mundo adquire com a Cátedra dePedro uma relação própria. E o ponto de referência dos senhores, que até agora era o bispo tal ouqual, o bispo da diocese em que os senhores já haviam sido previamente aprovados, agora, oponto de referência é o que está representado aqui acima de mim, ou seja, a Santa Sé, a Cátedrade Pedro". Trecho da homilia do cardeal Jorge María Mejia, Arquivista da Igreja Católica epresidente da Biblioteca Vaticana, em 27 de fevereiro de 2001, que concelebrou a missa queconcedeu aos Arautos o Título de Associação Internacional de Direito Pontifício. Dessa forma, a
Associação ganhou autonomia para suas atividades de evangelização, sem necessariamenteprecisar de autorização do bispo da diocese à qual pertencem. Essa relação é estabelecida comoforma de orientação e 'respeito' ao bispo, e não implicitamente aprovação do que o grupo desejarealizar.
-
8/15/2019 O Católico Ideal_ Dissertaçãod e Mestrado
42/114
40
Figura 12 - Catedral de Notre Dame
Fonte: megaconstrucciones.net/images/edificios-religiosos/foto/catedral-notre-dame-2.jpg. Acesso em15.05.12
Figura 13 - Igreja Nossa Senhora do Rosário – Serra da Cantareira, construída ecoordenada pelos Arautos do Evangelho.
Fonte: www.thabor.blog.arautos.br. Acesso em 15.05.2012
1.4.1. Guardiães do Santo Graal?
Sobre as especulações acerca do segredo que a Ordem protegia, mais se
destaca a de que os Templários seriam guardiões do Santo Graal. O mistério
-
8/15/2019 O Católico Ideal_ Dissertaçãod e Mestrado
43/114
41
acontece pelo que realmente seria o Santo Graal e quais indícios fizeram com que
essa questão permanecesse latente no imaginário humano. O Graal, segundo a
revista Sociedades Secretas, seria uma taça.
Diz a lenda que foi a taça na qual Jesus bebeu na última ceia; outra lendadiz que foi a taça em que José de Arimateia colheu o sangue que saiu dasferidas de Jesus na cruz. Uma terceira versão da mesma lenda diz queMaria Madalena teria coletado o sangue de Jesus nessa taça.(SOCIEDADES SECRETAS, Escala, 2011; p. 96).
Jean Chevalier, no “Diccionario de los Símbolos” (1986, p. 536), cita várias
definições para o Graal. Menciona Julius Evola (Julius Evola, en BOUM, 53), quando
define “el grial... es propriamente un objeto sobrenatural, cuyas principales virtudesson: que alimenta (don de vida); ilumina (espiritualmente); hace invencible.
Segundo o autor, entre as várias explicações, a menos delirante é a de Albert
Béguin, que define o Graal como sangue de Jesus Cristo; o do cálice, que segundo
a doutrina católica foi oferecido aos discípulos na última ceia, no ritual em que é
lembrado em todas as missas, e aquele sangue que impregnou os tecidos do
sepulcro:
El graal representa a la vez, y substancialmente, a Cristo muerto por loshombres, el cáliz de la santa cena (es decir la gracia divina concedida porCristo a sus discípulos), y en fin el cáliz de la misa, que contiene la sangrereal del Salvador. La mesa donde reposa el vaso es, pues, según estos tres planos, la piedra del santo sepulcro, la mesa de los doce apóstoles, y por finel altar donde se celebra el sacrificio cotidiano. Estas tres realidades, lacrucifixión, la cena y la eucaristía, son inseparables y la ceremonia del griales su revelación, al ofrecer en la comunión el conocimiento de la persona deCristo y la participación en su sacrifício salvifico. (CHEVALIER, 1986, apudBEGG, p. 18).
Lendas e especulações à parte, é possível analisar pela contextualização do
surgimento dos Arautos do Evangelho que há a busca incessante pelo modelo de
perfeição e beleza.
Os elementos de semelhança com os Cavaleiros Templários permitiriam
afirmar que se acreditaria defensora de um Santo Graal.
Em ambas as Ordens estão implícitos conceitos de eugenia: para ‘ser de
Deus’ é preciso, além de aceitá-lo e viver de acordo com os ensinamentos da Igreja
Católica, pertencer a um grupo de pares idênticos, belos e perfeitos.
-
8/15/2019 O Católico Ideal_ Dissertaçãod e Mestrado
44/114
42
No documentário “Arquitetura da destruição”35 (Peter Cohen, Suécia, 1992),
há a descrição de toda a ação do ditador alemão Adolph Hitler para eliminar o que
não se enquadrava no que entendia por perfeição. A produção detalha em imagens
e descrições históricas como o ditador alemão sacrificou vidas que se não se
encaixavam no seu padrão de beleza: assassinou doentes mentais, idosos e
portadores de deficiência física. Outro documentário do mesmo diretor, “Homo
Sapiens 1900” (1998), detalha em fotografias e documentos o que é o conceito de
limpeza racial para a construção de uma raça superior. O ideal de perfeição é o que
hoje entendemos por ‘eugenia’. O termo foi popularizado no século XIX por Francis
Galton, que se consagrou, entre outras teorias, como um dos fundadores da
antropologia, segundo estudo de Geraldo Salgado-Neto36.
Segundo Salgado-Neto, Galton apresentou o termo “eugenia” pela primeira
vez na obra “Inquiries into human faculty” (1883) que significaria “de boa cepa” ou
“bem nascer”. O autor afirma que nessa obra Galton cunhou o termo “nature and
nurture” (Natureza e Criação), em uma versão vitoriana da eugenia, que vinha desde
Platão.
Platão descrevia, em ‘A República’, a sociedade humana se aperfeiçoandopor processos seletivos (Esparta já praticava a eugenia frente aos recém-nascidos 700 a.C.). Galton propôs que o homem pode dirigir a suaevolução, descreveu os resultados dos seus estudos e concluiu que seriaperfeitamente possível criar uma raça de homens altamente dotados, pormeio de casamentos escolhidos durante gerações consecutivas, e sugeriuque a espécie humana poderia ser artificialmente melhorada através dereprodução seletiva. (SALGADO-NETO, G. 2011; p. 227)
Com a evolução dos estudos de Galton e o trabalho de Gregor Mendel, no
campo da hereditariedade, em 1900, a eugenia ganhou ainda mais notoriedade. Em
nome de estudos da área da ciência genética milhões de vidas foram sacrificadas
em busca de uma ‘raça pura, bela e perfeita’. Entra em foco a luta das raças. (acho
dispensável isso, deixe terminando em perfeita(...)
A realidade é ainda mais gritante quando são detalhadas a proporção e as
35 No documentário “Arquitetura da destruição”, de aproximadamente 121 minutos, o sueco PeterCohen enfoca a trajetória do ditador alemão Adolph Hitler, que culminou no extermínio de milhares
de judeus, sob a prerrogativa de purificação da raça humana.36 Citação de Geraldo Salgado-Neto, doutor em Agronomia pela Universidade Federal de SantaMaria, em artigo Sir Francis Galton e os extremos superiores da curva normal. Publicado naRevista de Ciências Humanas - Florianópolis - Volume 45, Número 1 - p. 223-239 - Abril de 2011.
-
8/15/2019 O Católico Ideal_ Dissertaçãod e Mestrado
45/114
43
consequências do que viveu a Alemanha. Salgado-Neto destaca apurações do
alemão Alfred Ploetz (1860 –1940), que ‘se impressiona com as ideias de Francis
Galton e cria a Sociedade para Higiene Racial (1880)’.
Foi a estreia da eugenia na Alemanha. Hitler foi responsável em pouco maisde 12 anos pelo genocídio de quase 12 milhões de pessoas. Com suaautorização, antissemitas queimaram dezenas de sinagogas, mataramcentenas de judeus e levaram mais de 30 mil pessoas para os campos deconcentração. O ‘programa eutanásia’ matou mais de 70 mil doentesmentais e portadores de deficiência. (SALGADO-NETO, G. 2011; p. 232)
Não é objetivo desta pesquisa se aprofundar no tema eugenia, mas as
citações demonstram como na contemporaneidade alguns ideais permanecem vivos
nos discursos, inclusive no âmbito religioso.
Já são uma realidade as discussões acerca da pesquisa genética
contemporânea, que tem a clonagem como objeto, reavivando os ideais eugênicos.
A primeira imagem sobre os Arautos do Evangelho é a indumentária e a
relação que se estabelece com os Cavaleiros Templários, incluídas a organização e
a semelhança dos integrantes. Em uma primeira análise, chega-se a supor que se
trata de uma vertente tradicional do catolicismo.
O que não se pode afirmar é se os Arautos se veem como releitura dos
Cavaleiros Templários, desde a sua essência