O brincar no consultório.pdf

25
UNIS CENTRO UNIVERSITÁRIO DO SUL DE MINAS PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA ANA LYGIA VIEIRA SCHIL DA VEIGA O BRINCAR NO CONSULTÓRIO PSICOPEDAGÓGICO: Os pequenos bonecos da família flexível Varginha 2005 T

Transcript of O brincar no consultório.pdf

Page 1: O brincar no consultório.pdf

UNIS

CENTRO UNIVERSITÁRIO DO SUL DE MINAS

PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA

ANA LYGIA VIEIRA SCHIL DA VEIGA

O BRINCAR NO CONSULTÓRIO PSICOPEDAGÓGICO:

Os pequenos bonecos da família flexível

Varginha

2005

T

Page 2: O brincar no consultório.pdf

ANA LYGIA VIEIRA SCHIL DA VEIGA

O BRINCAR NO CONSULTÓRIO PSICOPEDAGÓGICO:

Os pequenos bonecos da família flexível

Varginha

2005

Trabalho apresentado para aprovação na

disciplina Diagnóstico e Intervenção

Psicopedagógica - Teoria e Prática e

Organização de um consultório

Psicopedagógico, do Centro Universitário do

Sul de Minas – UNIS. Sob orientação da Profa.

Ms. Elaine das Graças Frade.

Page 3: O brincar no consultório.pdf

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO......................................................................................................................3

1 O BRINCAR .......................................................................................................................5

2 O BRINCAR DE BONECAS .............................................................................................9

3 O BONECO ......................................................................................................................10

4 OS MENINOS E O BRINCAR DE BONECAS .............................................................11

5 O BRINCAR COM OS PEQUENOS BONECOS DE PANO FLEXÍVEIS ....................12

6 A ATIVIDADE LÚDICA NO CONSULTÓRIO PSICOPEDAGÓGICO ......................14

7 O AMBIENTE DO CONSULTÓRIO ..............................................................................16

8 O SIGNIFICADO TERAPÊUTICO DO BRINCAR COM OS BONECOS DA FAMÍLIA

FLEXÍVEL ...........................................................................................................................18

CONCLUSÃO .....................................................................................................................20

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................23

Page 4: O brincar no consultório.pdf

INTRODUÇÃO

Através do brincar, a criança organiza seu mundo

interior em relação a seu mundo exterior.

Erik Erikson

O presente trabalho pretende apresentar um aspecto muito particular da terapia

psicopedagógica. Aspecto este que é ao mesmo tempo lúdico e pedagógico, possibilitando

tanto o diagnóstico como a terapêutica. Ao lembrar que o psicanalista inglês Winnicott

considerava como um dos princípios gerais da psicoterapia a superposição de duas áreas

lúdicas, a do paciente e a do terapeuta, abordaremos o brincar em uma de suas muitas

especificidades: o brincar com bonecos. Mais diretamente, se falará sobre o brincar de

casinha no consultório psicopedagógico com os pequenos bonecos de pano flexíveis,

conhecidos como "família".

Encontra-se pouca literatura sobre o brincar terapêutico com bonecos e menos ainda

sobre o brincar de casinha com a família flexível. Por isso, uma parte do enfoque do tema

se dará de maneira empírica, fruto de conversas informais com psicopedagogos e da prática

pessoal da autora, de mais de dez anos observando este brincar em escolas e no consultório.

Mesmo com literatura pouco específica, procuraremos descrever alguns dos

pressupostos que embasam o trabalho com o brincar em psicopedagogia, por intermédio de

autores como Fernandez, Weiss, Piaget, o já citado Winnicott, entre outros.

Este ensaio tem como uma de suas finalidades começar a expor uma particularidade

do caminho terapêutico, refletindo-o com base nas aprendizagens adquiridas no curso de

Psicopedagogia Clínica do UNIS-MG. Sempre na tentativa de formalizar um conhecimento

de base intuitiva sobre a experiência do brincar terapêutico, desenvolvido a partir da

experiência da pesquisadora em Pedagogia Waldorf e Pedagogia Terapêutica. Assim,

pretende-se chegar a uma sistematização desta experiência peculiar, que envolve áreas de

conhecimento pouco estudadas simultaneamente.

Page 5: O brincar no consultório.pdf

Apesar de presente no cotidiano infantil e de ser usualmente utilizado nos

consultórios terapêuticos, o brinquedo ainda é pouco estudado. Ficando quase sem

aprofundamento em pesquisas ou sistematização dentro do processo educativo e

psicológico, sobretudo em se tratando de bonecas. O reconhecimento do valor desse

material pela academia, colaborará para introduzir no debate este tema que consideramos

de grande importância para a construção do conhecimento psicopedagógico. Assim como,

poderá oferecer para a sociedade um novo olhar sobre o modo de atuar em um determinado

seguimento, contribuindo para o fortalecimento do processo lúdico-terapêutico como um

todo, na medida em que estes procedimentos estão diretamente ligados à formação

pedagógica e psicológica de professores e terapeutas.

Para melhor percorrer este caminho, além das observações pessoais da autora, esta

pesquisa será realizada a partir de levantamento bibliográfico, na tentativa de embasar

teoricamente os princípios que regem o brincar de casinha com os pequenos bonecos de

pano flexíveis. Com o decorrer desta escrita, esperamos que muitas outras questões

apareçam, e que mais pesquisadores se interessem no aprofundamento e na ampliação desta

análise sobre o brincar como instrumento de diagnóstico e terapia.

Primeiramente, serão levantados e analisados fundamentos teóricos que compõe os

elementos que constituem o brincar de uma forma geral. Em seguida, concentraremos nossa

atenção no brincar com bonecos e algumas de suas particularidades, como o preconceito

que envolve o brincar de bonecos por meninos. Analisaremos também os aspectos físicos e

psicológicos característicos da maioria dos bonecos de pano.

Chegando mais perto do nosso foco, apresentaremos os pequenos bonecos de pano

flexíveis e sua adequação à faixa etária mais encontrada nos consultórios de

psicopedagogia. Composta de crianças na primeira fase escolar, entre sete e doze anos.

Finalmente, associando a análise bibliográfica à observação, passaremos a falar da prática

em consultório e o significado deste brincar para no tratamento psicopedagógico.

Com a apresentação deste recorte sobre o brincar, buscamos contribuir com a

discussão sobre o papel dos bonecos na terapia e, em especial, no espaço do consultório de

psicopedagogia.

Page 6: O brincar no consultório.pdf

1 O BRINCAR

O brincar para a criança é tão importante e sério como trabalhar é para o adulto.

Dificilmente encontramos um adulto tão dedicado ao trabalho como a criança à sua

brincadeira. Através da brincadeira, a criança descobre o mundo. Ela imita os gestos do

adulto, vivencia suas leis sem fazer conceitos lógicos sobre elas. Quando ela brinca com

água, por exemplo, experimenta como se forma uma poça e acompanha os círculos

concêntricos que vão se abrindo cada vez mais até chegar na beirada. Pode ainda fazer de

uma folha seca um barquinho e deixá-lo flutuar. Isto tudo para a criança é pura vivência.

Se o adulto tenta levar estas experiências à consciência da criança, explicando-a de

forma intelectual o que ela vivenciou com seus sentidos, ele estraga a brincadeira,

afastando-a da ação e do movimento e separando-a do mundo ao qual ela ainda esta muito

unida. A criança é inteiramente força de vontade. Ela quer agir, transformar, brincar. No

entanto, além destes, há um outro componente no brincar, que Piaget chama de semiótico,

como explica Brougère:

A brincadeira não pode estar limitada ao agir: o que a criança faz

tem sentido, é a lógica do fazer de conta e de tudo o que Piaget

chama de brincadeira simbólica (ou semiótica). O objeto tem o

papel de despertar imagens que permitirão dar sentido a essas

ações. O brinquedo é, assim, um fornecedor de representações

manipuláveis, de imagens com volume: está aí, sem dúvida, a

grande originalidade e especificidade do brinquedo que é trazer a

terceira dimensão para o mundo da representação [...] (2004, p.14).

Porém, não somente no processo simbólico ou na representação se encontra a

importância do brinquedo, a necessidade de brincar é inserida também no organismo da

criança. Esse organismo, ao nascer, ainda não está pronto. As forças vitais plasmam o

organismo da criança, continuando e aperfeiçoando o trabalho que foi começado no útero

materno. Forças estas que trabalham ritmicamente. Tudo o que a criança faz tem como

origem esse processo plasmador que esta acontecendo em seu interior. Por isso ela não

Page 7: O brincar no consultório.pdf

pode parar quieta e tem de brincar. Ignácio (1995) diz que este brincar não é necessidade

externa, como o trabalho para o adulto, não possui finalidade lógica imposta de fora, mas

segue os impulsos rítmicos que tem sua origem dentro do organismo.

Uma criança pode fazer uma casinha de panos, dali a pouco tira o

pano da parede e embrulha nele seu filhinho para passear. Logo

junta as cadeiras para formar um ônibus, mas, de repente, vê

algumas pedrinhas no chão, que são os peixinhos que ela vai

pescar. O barco é uma casca de coco. Quando a casca esta cheia,

despeja tudo no chão porque quer usar o coco como panelinha.

Assim vai, sem nenhuma constância, pulando de brinquedo para

brinquedo (Idem, p. 23).

Por isso, muitas vezes, ao presenciar a fluidez do brincar, reflexo do ritmo orgânico,

os adultos não consideram que brincar seja atividade séria, porém, como afirma White,

deve ser vista com seriedade, em suas palavras: “[...] a brincadeira pode ser vista como uma

coisa séria, ainda que para ela – a criança - seja algo simplesmente interessante e divertido

de fazer” (1959 apud CURI, 2005, §12). Observando de forma mais profunda o que

acontece com a criança ao brincar, compreendemos que brincar é uma necessidade vital, e

que a forma como a criança brinca influencia sobre o trabalho plasmador que ocorre no

interior de seu organismo porque, como afirma Anders (1982) ao mesmo tempo em que a

criança esta totalmente voltada para o seu interior, ela é aberta e muito sensível a tudo o que

esta ao seu redor.

Evidentemente, o mundo humano tem o maior peso no brincar da

criança. Este mundo é aprendido pela imitação e fixado na criança

pelo brincar de casinha, respeitando os fatos corriqueiros da vida

diária, tendo o seu ápice na primeira vivência que a criança tem de

si mesma como um eu, vivência que muitas vezes encontra a sua

expressão mais profunda no brincar com uma boneca, com a qual

se identifica. Tudo isto devemos levar em nossa consciência em

uma época da vida em que a procura do sucesso está pondo em

perigo, a perder de vista, o homem, a noção do seu verdadeiro ser e

com isto cada vez menos tem a capacidade de ter uma

compreensão dos processos que transcorrem no interior de uma

criança (Idem, §23).

Page 8: O brincar no consultório.pdf

O brincar da criança é a manifestação mais profunda do impulso que conduz ao

fazer, sendo que neste fazer, o homem tem a sua verdadeira essência humana. Winnicott

(1975) fala que é somente no brincar que o homem pede ser integral, diz ele "É no brincar,

e somente no brincar, que o indivíduo, criança ou adulto, pode ser criativo e utilizar sua

personalidade integral: e é somente sendo criativo que o indivíduo descobre o eu (self) [...]

(p. 80).

Rudolf Steiner coloca o brincar como a força libertadora do ser humano "Não seria

possível imaginar uma criança que não desejasse ser ativa, como o é quando brinca, pois o

brincar representa a liberação de uma atividade [...]" (STEINER apud ANDERS, 1982).

Esta atividade construtora permeia todas as instâncias da criança, dando-lhe forma tanto

física como psicologicamente. É dessa atividade do brincar infantil que se constituirá toda a

experiência cultural do adulto e seu desenvolvimento emocional.

Este aspecto psicológico, que envolve diretamente os chamados “objetos

transicionais", como é tratado por Winnicott, é que nos aponta para a importância do lúdico

na terapia. Winnicott busca trazer à luz do conhecimento a questão da vida imaginativa

desde a mais tenra idade. Para ele, o valor do ato de brincar vai além do entretenimento.

Afirma que é no brincar que a criança tem a possibilidade de fruir o sentido de liberdade de

criação, abrindo espaço à experiência cultural, o que leva a um desenvolvimento pessoal

emocional propício à vida ambiente. Bastante interessante é a idéia sobre criatividade

desenvolvida pelo autor: “É através da apercepção criativa, mais do que qualquer outra

coisa, que o indivíduo sente que a vida é digna de ser vivida” (WINNICOTT, 1975, p.96).

E, de acordo com Erikson, através do brincar, "a criança organiza seu mundo

interior em relação a seu mundo exterior. Aprendendo novas modalidades de brincar, a

criança avança sua prontidão para ingressar em estados superiores de desenvolvimento". A

partir dessa reflexão, de que os objetos transicionais levam ao desenvolvimento pessoal,

tanto cultural como emocionalmente, pode-se referendar a importância do brinquedo e, em

especial, da boneca como importantes elementos na clínica psicopedagógica.

Page 9: O brincar no consultório.pdf

2 O BRINCAR DE BONECAS

Ao se observar crianças brincando de casinha, pode-se vê-las construindo seus lares,

dividindo os papéis familiares entre os coleguinhas, conversando com as bonecas-filho. As

meninas normalmente fazem o papel materno, alimentando, dando banho, e os meninos o

papel paterno, dirigindo carros, fazendo compras, vendo televisão e distribuindo ordens. Os

arquétipos são divididos com naturalidade pelas próprias crianças desde o início da

brincadeira. Estas atividades não são triviais nem vazias e é disso que parece depender

grande parte do seu desenvolvimento cognitivo.

Tereza Cristina Manso (2000), lembra que, segundo Piaget, brincando, os meios

muitas vezes se tornam fins e muitas respostas são emitidas apenas para serem emitidas. Os

esquemas dos modos de brincar freqüentemente são ritualizados e a acomodação - processo

de modificar esquemas para resolver problemas que resultam de experiências novas dentro

do ambiente - torna-se subordinada a assimilação - processo de incorporação de objetos ou

experiências novas.

Observa-se através desta seqüência proposta por Piaget que a

criança, através do brincar, resolve problemas, desenvolve a

linguagem e suas relações pessoais. Através do brincar, a criança é

um agente ativo em seu próprio desenvolvimento, construindo e

adaptando-se ao ambiente ao modificar seus esquemas básicos. As

habilidades cognitivas da criança não só dependem do

conhecimento e perícia específicos, mas também do ambiente que

facilitará o brincar da criança (Idem, §7).

É, justamente, este ambiente facilitador para o desenvolvimento que o brincar de

casinha com bonecas proporciona. O brincar livre resolve problemas, desenvolve a

linguagem e suas relações pessoais. O brincar de boneca possibilita uma intimidade e

importância que não ocorre com os outros brinquedos. A boneca acompanha a criança em

todos os seus caminhos, na cama, no brincar, no consolo de suas tristezas e nas suas

alegrias. A criança não estabelece este relacionamento com uma bola ou um carrinho.

Como veremos a seguir ao começarmos a falar mais especificamente do boneco.

Page 10: O brincar no consultório.pdf

3 O BONECO

Como vimos nos capítulo anterior, o brincar de bonecas possibilita que a criança se

exercite na resolução de problemas, que desenvolva a linguagem e fortaleça suas relações

pessoais. O boneco ou a boneca tem espaço preponderante neste brincar, principalmente no

que se refere ao campo da afetividade.

É fácil observar como os bebês, com poucos meses de idade, de ambos os

sexos, gostam de brincar com bonecas. Como já mencionamos, e agora vamos aprofundar,

Winnicott definiu este momento como o início de um tipo afetuoso de relação com o objeto

e a ele deu o nome científico de “objeto transicional”, isto é, um boneco ou um pedaço de

pano, enfim um objeto sobre o qual o bebê assume direitos sobre ele, sendo sempre o

mesmo não deve ser mudado a não ser por desejo da criança, deve ser resistente aos tratos

de amor, ódio, ou agressividade se for o caso. Deve transmitir calor, movimento, textura

mostrando vitalidade ou realidade próprias. Assim, Winnicott desenvolveu importante tese

valorizando esta experiência, além das brincadeiras compartilhadas, como determinante

para uma formação saudável do ser humano, “então a vida cultural e fruição de herança

cultural estarão a seu alcance” (WINNICOTT,1975, p.98).

Mas qualquer boneco poderia ser este objeto transicional? Aparentemente sim, até

mesmo um pedaço de pano, como afirma Winnicott. No entanto, para o trabalho

psicopedagógico, onde as forças criativas da criança devem ser consideradas, seria

interessante que o boneco seguisse algumas características.

Por exemplo, se no consultório, déssemos uma boneca perfeita para a criança,

aquela que pisca os olhos, tem um rosto bem definido, chora, anda, faz tudo "de verdade", é

como se puséssemos então a fantasia da criança numa camisa de força, podendo atrofiar-se.

Assim como o corpo da criança se atrofia quando não se movimenta o suficiente, sua

imaginação também precisa de movimento.

No entanto, é certo que uma criança mais velha do que o bebê referido por

Winnicott quer uma boneca um pouco mais requintada. Podemos então oferecer uma

boneca de pano para ela, com braços pernas, roupas, cabelos, um rosto pintado ou bordado,

talvez dois pontinhos indicando os olhos, outro a boca, de qualquer forma, sem expressão

Page 11: O brincar no consultório.pdf

definida, para que a criança possa projetar nela todas as suas emoções com maior

naturalidade.

Afinal, a boneca é a imagem do ser humano. A criança a imita e se identifica com

ela. E é isso que sempre temos de ter em mente quando escolhemos o boneco terapêutico.

Este boneco deverá ter a forma esférica de sua cabeça, representando o "duro", o que

protege, o osso externo determinado pela forma. Esta forma redonda, esférica e dura da

cabeça deve estar colocada em repouso e absolutamente ereta sobre o corpo. No corpo do

boneco, o que está dentro deve pedir para ser protegido, deverá proporcionar calor,

aconchego, envolvimento. Seu rosto deverá ser neutro, para que ofereça a possibilidade,

como já dissemos, de acompanhar a criança em suas emoções.

A boneca também deve ser um espelho para a criança, onde ela possa refletir sua

anatomia e características étnicas. No consultório devemos ter bonecas de todas as etnias.

Se a criança for negra, a boneca também o será, se loira seus cabelos devem ser loiros,

assim sucessivamente. No entanto, a escolha da etnia cabe a criança. Para isso, no

consultório, ela deve encontrar todos os tipos e cores de bonecos para escolheras. Sendo

que esta escolha já pode começar a sinalizar para nós algo sobre a criança.

Page 12: O brincar no consultório.pdf

4 OS MENINOS E O BRINCAR DE BONECAS

Existe o preconceito de que só as meninas devem brincar com bonecas, e que os

meninos já devem mostrar uma certa dureza, lutando com outros meninos, chutando bola

ou brincando com armar e videogames de luta para mostrar que eles já são pequenos

homens. Como é possível ter pais de família sensíveis e carinhosos se desde cedo é

colocado na cabeça dos meninos que carinho é coisa de mulher?

Muitas vezes, professores observam um menino pegando uma boneca escondido dos

outros, levando-a para um cantinho onde ninguém pudesse observá-lo. Ali, então, ele

conversa com a boneca, dá mamadeira para ela, troca a roupa dela, com os olhos brilhantes

e felizes. Mas se nessa hora alguém diz: que é isto? Menino brincando com bonecas? Seu

rosto se fecha e podemos observar uma grande decepção, que é compensada, depois, com

brincadeiras brutas, as chamadas "brincadeiras de meninos" e muita agressão. Quando se

compreende o ato de brincar livre como uma fantasia importante para o desenvolvimento

do ser humano, independente de ser homem ou mulher, podemos ter uma idéia de como

estes preconceitos são prejudiciais.

O brincar com bonecas tem uma importância especial para os meninos. Todo menino deve

ter o seu boneco que o acompanhe em todos os seus momentos, no brincar, no consolo de

suas tristezas e nas suas alegrias. “O menino não estabelece esse relacionamento com uma

bola ou um carrinho” (SCHEVEN, 2006, p. 31). Além disso, quando o pai presenteia o

filho com um boneco colabora para a quebra de estereótipos que podem atrapalhar a criança

em suas relações sociais e familiares quando adulto. Ao brincar com seu boneco, o menino

amplia sua possibilidade de se tornar um ser humano mais completo e amoroso.

Page 13: O brincar no consultório.pdf

5 O BRINCAR COM OS PEQUENOS BONECOS DE PANO

FLEXÍVEIS

Cabe aos pequenos bonecos flexíveis uma grande variedade de tarefas na idade

escolar, mais especialmente entre sete e doze anos. A casinha de bonecas com a

correspondente família flexível permite, como já vimos anteriormente, que a criança se

familiarize com as relações sociais. Mesmo quando sua própria família apresentar algumas

particularidades, como por exemplo, pais separados ou avós falecidos. No brincar com os

bonecos pode ser vivenciada a totalidade da família. Isto terá uma atuação complementar

positiva sobre a criança.

Pode-se perfeitamente dizer à criança que há famílias de todos os tipos, que em

algumas faltam o pai, noutras os avós, podemos mostrar que o número de filhos é variável,

no entanto, esta percepção durante o brincar é vivenciada com maior naturalidade, sem

necessidade de intelectualização. Também pode a criança durante a brincadeira fazer

"desaparecer" o pai, a mãe ou um irmãozinho. Todos estes gestos da criança no brincar

servirão como material a ser observado pelo terapeuta.

Em conversas com adultos sobre este tipo de brincadeira, muitas vezes é colocado o

temor que o brincar com bonecas reproduza esquemas sociais e fixe funções. Questiona-se

o por que a mãe deve cozinhar e o homem consertar o carro. Perguntam se isso tudo não

poderia ser diferente. É obvio que sim. A mulher pode ser motorista de caminhão e o

homem professor de jardim-de-infância. Hoje em dia, ninguém tem algo contra este tipo de

escolha de emprego e as decisões são livres. Porém, no brincar de casinha, naturalmente os

arquétipos femininos e masculinos são mantidos pelas crianças. As situações que fogem aos

modelos, são especialmente apresentadas durante o brincar que, desta forma, torna-se um

instrumento da fala da criança.

Uma das características essenciais do brincar de casinhas com a família de pano

flexível é a não diretividade da ação. Isto significa que a criança, na relação com o

psicopedagogo no consultório, é quem tem melhores condições de dirigir o processo

terapêutico, selecionando dentre as suas vivências aquelas que necessitam ser trabalhadas e

resignificadas. Assim, o brincar torna-se livre e o terapeuta pode exercitar sua escuta. O que

reforça ainda mais a importância para a atuação psicopedagógica destes pequenos bonecos

Page 14: O brincar no consultório.pdf

de pano. É o que poderemos constatar nos próximos capítulos, quando falaremos sobre a

atividade lúdica geral do consultório psicopedagógico e, em particular, do brincar

terapêutico com a família de pano.

Page 15: O brincar no consultório.pdf

6 A ATIVIDADE LÚDICA NO CONSULTÓRIO PSICOPEDAGÓGICO

Neste capítulo, usaremos como principal referencial o livro de Maria Lucia Lemme

Weiss, intitulado "Psicopedagogia clínica: uma visão diagnóstica", nele Weiss (1992) fala

que, de uma forma geral, todo profissional que trabalha com crianças sente que é

indispensável haver um espaço e tempo para a criança brincar e assim melhor se

comunicar, se revelar. Dá como exemplo o médico que cria jogos, o professor que

possibilita situações lúdicas em sala de aula e até comenta sobre o vendedor que provoca

uma brincadeira com o comprador-mirim. Dá estes exemplos para ilustrar que no trabalho

psicopedagógico, tanto no diagnóstico como no tratamento também o profissional sente

necessidade do brincar "Empregamos a palavra lúdico ao longo do texto no sentido do

processo de 'jogar', 'brincar', 'representar' e 'dramatizar' como condutas semelhantes na vida

infantil [...]" (Idem, p. 58-59). E continua, mostrando como o brincar é vantajoso para o

trabalho em consultório:

Criar uma atmosfera de brincadeira durante a terapia não tem só o

objetivo de divertir, é vantajoso porque a criança tem a possibilidade

de investir ativamente, de explorar a atividade e o ambiente com

maior sucesso, uma vez que esse é estruturado para tal, permitindo a

criança tornar-se madura e capaz de organizar de maneira eficiente à

informação sensorial, aumentando sua autoconfiança e auto-estima o

que, conseqüentemente, irá ajudá-la a desempenhar seu papel

ocupacional, que o do brincar (Idem, p. 59)

Weiss cita muitas vezes Winnicott, falando do espaço transacional, e afirma que é

neste espaço transacional (criança-outro; indivíduo-meio) que se dá a aprendizagem. E

conclui dizendo que, por essa razão, o processo lúdico é fundamental no trabalho

psicopedagógico. Fala que as situações lúdicas no consultório permitem compreender o

funcionamento dos processos cognitivos e afetivo-sociais em suas interferências mútuas, no

Modelo de Aprendizagem1 do paciente. Além disso, possibilita ao terapeuta a construção de

1 O conceito de modalidade de aprendizagem, dado por Alicia Fernández (1991), propicia-nos uma passagem

do universal para o particular; da análise estática do aqui/agora para o estudo de um processo dinâmico; de

Page 16: O brincar no consultório.pdf

sua forma própria de agir. A idéia que apresentamos no início, de que o brincar é tanto

diagnóstico, como terapêutico é reforçada por Weiss

Ao se abrir um espaço de brincar durante o diagnóstico, já se está

possibilitando um movimento na direção da saúde, da cura, pois

brincar é "universal e saudável". Rompe- se assim a fronteira entre

o diagnóstico e o tratamento, já que o próprio diagnóstico passa a

ter um caráter terapêutico [...] A sessão lúdica diagnóstica

distingue-se da terapêutica porque nessa o processo de brincar

ocorre espontaneamente, enquanto que na diagnóstica há limites

mais definidos. Nesta última podem ser feitas intervenções

provocadoras e limitadoras para se observar a reação da criança: se

aceita ou não as propostas, se revela como quer ou pode brincar

naquela situação, como resiste às frustrações, como elabora

desafios e mudanças propostas na situação, etc. (Idem).

Os pequenos bonecos de pano flexíveis, representando membros de uma família,

são utilizados na clínica tanto para as vivências ludodiagnósticas quanto ludoterapêuticas.

De uma forma geral, o uso de brinquedos do ponto de vista psicopedagógico, necessita da

percepção do contexto em que se encontram inseridos. É preciso que o psicopedagogo

identifique a matriz simbólica anterior do objeto, para entender melhor as necessidades e

dificuldades mais imediatas dos alunos. Bonecos não são objetos que trazem um saber

pronto e acabado. Ao contrário, eles são objetos que trazem um saber em potencial. Este

saber potencial pode ou não ser ativado pela criança. Isso porque o sistema simbólico e

imaginário do aluno é único, não se devendo lidar com ele a partir de esquemas

generalizadores.

Como vimos pelo apresentado neste capítulo, na construção e sistematização do

conhecimento psicopedagógico, muito se terá de investigar sobre o uso do brinquedo no

consultório. Aqui, com a ajuda de Weiss, foi dado um parecer geral do tema, mas ainda há

muito que se aprofundar.

um objeto de conhecimento construído para um objeto de conhecimento em construção. A autora nos fala de um molde, uma forma como os esquemas operam nas diferentes situações de aprendizagem, sendo, portanto,

um molde relacional (2001). O fundamental aqui é o modo como ocorre o processo de construção de

conhecimento no interior do sujeito que aprende. Cada um de nós apresenta uma forma, um modo singular, de

entrar em contato com o conhecimento. Isso significa que cada um de nós tem uma modalidade de

aprendizagem particular, que oferece uma maneira própria de aproximar-se do objeto de conhecimento,

formando um saber que lhe é peculiar. Constrói-se essa modalidade de aprendizagem desde o nascimento do

indivíduo, modalidade com a qual ele se enfrenta com angústia inerente ao conhecer–desconhecer (GRIZ,

2005).

Page 17: O brincar no consultório.pdf

7 O AMBIENTE DO CONSULTÓRIO

A forma, a cor e a decoração da sala, assim como o tipo de brinquedos e tudo o que

a criança vivência em seu meio ambiente trazem-lhe impressões no sentido mais literal da

palavra: imprime-se em seu corpo físico e determina saúde ou doença, para a vida toda.

Por isso, o primeiro passo para criar um ambiente de consultório propício ao brincar

livre começa na montagem da sala. O pensar sobre o brincar deve estar presente desde as

escolha dos móveis e do piso. Como fruto deste exercício de pensar sobre o brincar pode-se

perceber que se trata de uma alternativa de aproximação ao mundo da criança, fazendo com

que aquele espaço torne-se menos ameaçador. Tendo em vista que o brinquedo é um

instrumento terapêutico importante, o consultório deve dispor de um cantinho

especialmente montado para a casinha e seus habitantes, possibilitando que a criança

encontre seu meio de expressão com naturalidade.

Dorfman (1992) relata que, geralmente, a criança é trazida à terapia devido ao fato

de ter desagradado ou preocupado algum adulto. Desta forma, raramente chega ao encontro

terapêutico com desejo de auto-explorar-se. “Ela se lança nessa experiência singular do

mesmo modo que penetraria em outras novas experiências – amedrontada, entusiasmada,

cuidadosa, ou de qualquer outra maneira que lhe seja típica em sua reação ante situações

novas”(Axline, 1984, p.68).

No caso dos atendimentos psicopedagógicos, as crianças chegam encaminhadas

pela equipe escolar, sendo em sua maioria as crianças trazem como queixa problemas

disciplinares, uma vida familiar complicada e baixa auto-estima. Assim, quando encontram

um ambiente acolhedor no consultório podem começar a sentir o afeto como parte

integrante da terapia. É o que sugere Curi (2005) ao falar da importância do cenário para

que sentimentos e desejos sejam revelados, nas suas palavras:

Num cenário lúdico, uma criança revelará desejos, sentimentos,

temores, queixas, dificuldades físicas e outras condições

perturbadoras. No processo do brincar a criança pode solucionar

problemas impostos na sua vida privada no seu cotidiano.

Page 18: O brincar no consultório.pdf

Assim, os déficits no brincar afetam padrões subseqüentes de

aprendizagem na infância e uma avaliação precisa do brincar torna-

se um aspecto crítico do planejamento da terapia para a criança (§ 6).

Page 19: O brincar no consultório.pdf

8 O SIGNIFICADO TERAPÊUTICO DO BRINCAR COM OS

BONECOS DA FAMÍLIA FLEXÍVEL

No desenho de uma família há sempre um personagem que ganha mais destaque que

outros. Ele pode, por exemplo, estar vestido de modo ridículo, usando uma bengala, um

chapéu ou carregando um cachimbo, que são atributos de virilidade. Ou então usará

vestido, bijuterias ou um penteado com coroa, ornamentos da feminilidade. Esses

personagens são, obviamente, o pai e a mãe, E a criança, ao dar destaque a um deles,

mostra sua identificação, porque admira o personagem escolhido ou quer ser amada.

Da mesma forma, podemos observar a criança no brincar de casinha com a família

de bonecos. O tema familiar da brincadeira também dá indicações sobre o modo como a

criança se refere a seus irmãos e irmãs: um irmão mais jovem e inoportuno pode, por

exemplo, ser eliminado da brincadeira porque "não tinha mais lugar na casinha".

Olhar esse território íntimo do brincar permite a aproximação com a criança,

ajudando-a a superar uma fase difícil que a trouxe até o consultório.

Não se pode esquecer que esse mundo revelado pelo brincar merece uma maior

quantidade de pesquisas, pois o que temos até agora é inferido de atividades como o

desenho da família. Mesmo assim, é possível perceber relações importantes e escutar a fala

da criança durante o brincar.

A fim de entender melhor o que este brincar significa, o ideal é aprender o sentido e

a escolha de cada um dos elementos-personagens. Importante também é deixar que a

própria criança identifique os personagens, sem tentar influenciar com frases como "este é

o papai" ou "esta é a mamãe". Com alguns elementos de base, um pouco de bom senso e

muita intuição, pode-se captar as mensagens das crianças e ajudá-las em seu processo

terapêutico.

Podemos recorrer, mais uma vez, a Winnicott, para ilustrar a importância dessa

intuição para o trabalho terapêutico

Em termos de associação livre, isso significa que se deve permitir

ao paciente no divã, ou ao paciente criança entre os brinquedos no

chão, que comuniquem uma sucessão de idéias, pensamentos,

Page 20: O brincar no consultório.pdf

impulsos, sensações sem conexão aparente, exceto do ponto de

vista neurológico ou fisiológico, ou talvez além da detecção. Isso

equivale a dizer: é ali, onde há intenção, ou onde há ansiedade, ou

onde há falta de confiança baseada na necessidade de defesa que o

analista poderá reconhecer e apontar a conexão (ou diversas

conexões) existentes entre vários componentes do material da

associação livre (WINNICOTT, 1975, p. 81).

Vale lembrar uma expressão de Alícia Fernandez (2002) quando ela diz que o

psicopedagogo deve oferecer o corpo, no sentido de se entregar completamente ao processo

terapêutico. No brincar de casinha, a criança também oferece o corpo, se envolve

completamente com os bonecos, refletindo neles suas emoções, seus conflitos e desejos.

Este, o envolvimento completo, é um dos principais pontos a ser considerado no brincar

com bonecos. Poucas atividades no consultório conseguem este grau de concentração e

participação da criança.

Page 21: O brincar no consultório.pdf

CONCLUSÃO

O caminho percorrido até aqui, neste ensaio, é apenas um esboço, um começo.

Como dissemos, logo no início deste trabalho, apesar de ter parte importante no cotidiano

infantil e ser comumente adotado nos consultórios terapêuticos em geral, o brinquedo ainda

é pouco estudado. Por isso, acreditamos que este pequeno estudo possa colaborar para o

aprofundamento do tema.

Nos capítulos iniciais da nossa escrita, falamos do brincar e do brinquedo como um

fornecedor de representações manipuláveis, de imagens com volume. Destacamos o brincar

como uma força orgânica, baseada em ritmos vitais. O brinquedo foi relacionado como um

objeto transacional, conforme conceito de Winnicott, nisso residindo a gênese de sua

atribuição terapêutica.

Na seqüência, direcionamos nossa atenção para o brincar com bonecos. Falamos da

mobilidade do brincar, de sua relação com conceitos piagetianos, relacionando os esquemas

dos modos de brincar com a acomodação subordinada a assimilação. Procuramos mostrar

que o brincar de casinha se diferencia de outros tipos de brincar, como, por exemplo, jogos

de tabuleiro e brincadeiras de roda, porque é um brincar livre, onde a criança é quem

direciona a atividade, não de acordo com aquilo que está estabelecido nas regras ou nos

ritos, mas a partir da leitura que faz do social, do cultural e do emocional.

Em seguida, apresentamos as principais características do boneco de pano. Seu

diferencial em relação aos bonecos mais elaborados e os motivos que leva-nos a preferi-lo

como objeto de terapia. Lembramos que o boneco deve ser a imagem do ser humano, deve

corresponder à etnia da criança, evitando estereótipos, desproporções e caricaturas.

Ainda debatemos um pouco sobre o preconceito sofrido pelos meninos em relação

ao brincar com bonecos e os danos que isso pode ocasionar na construção de um adulto

saudável e um pai amoroso.

Depois destas apresentações e reflexões que ajudaram a delimitar um pouco mais o

objeto do nosso estudo, focalizamos os pequenos bonecos de pano flexíveis e suas

particularidades no brincar. Indicamos que a principal faixa etária para a brincadeira de

casinha com a família flexível é a idade escolar, justamente onde há maior demanda no

consultório psicopedagógico. Esta é uma das razões pela qual os pequenos bonecos ocupam

Page 22: O brincar no consultório.pdf

posição de relevância no brincar terapêutico. Comentamos o receio de alguns adultos com a

possibilidade da fixação de papéis que este brincar proporciona, esclarecendo que os

arquétipos não eliminam a possibilidade de escolha da criança, mas que surgem

naturalmente. Por fim, completando este tópico, chamamos a atenção para as inúmeras

possibilidades de leitura que o brincar de casinha proporciona, permitindo ao terapeuta a

possibilidade de organizar seu tratamento de uma forma mais profunda.

No capítulo sobre a atividade lúdica no consultório psicopedagógico, não podemos

deixar de lançar mão da ajuda de Maria Lúcia Lemme Weiss. Em seu livro

"Psicopedagogia clínica: uma visão diagnóstica", ela apresenta importantes observações

sobre o brincar no consultório. Trazendo contribuições importantes para a fundamentação

teórica deste trabalho.

Sendo este um trabalho de conclusão de disciplina, achamos importante incluir

neste ensaio um tópico sobre a organização do ambiente do brincar no consultório, já que

este foi um dos elementos abordados durante o módulo "Diagnóstico e Intervenção

Psicopedagógica - Teoria e Prática e Organização de um Consultório Psicopedagógico".

Assim, nos baseando em conservas com psicopedagogos e terapeutas infantis e em alguns

autores, como Curi, Dorfman e Axline, que exploraram o tema, damos algumas orientações

para que a montagem do cantinho do brincar seja feita de maneira a facilitar o processo

terapêutico.

Encerrando o trabalho, quisemos, mesmo que apenas superficialmente, pois como

dissemos, faltam estudos mais objetivos neste sentido, apontar os principais pontos do

significado do brincar com a família no consultório. Para isso, nos valemos de uma

analogia com a técnica do desenho da família. Levantando algumas observações que

poderiam inspirar outros pesquisadores a aprofundar sua investigação.

Por tudo que tentamos apresentar, concluímos que ficamos devendo um maior

tempo de pesquisa, inclusive com a ida ao campo direto de observação de forma mais

sistemática do que intuitiva. Além disso, poderíamos ter estendido nosso comentários ao

fator cultural do brinquedo, incluindo aí, autores como Paulo Sales de Oliveira, Esdras

Paiva, entre outros. Assim como, ter aprofundado um pouco mais na apresentação do

pensamento do professor francês Gilles Brougère, um dos mais importantes

sistematizadores do conhecimento sobre o brinquedo. Sem contar, as inferências sobre o

Page 23: O brincar no consultório.pdf

desenvolvimento cognitivo da criança e o brinquedo feitas por Clara Regina Rappaport, em

Psicologia do Desenvolvimento, onde a autora apresenta as contribuições de Piaget sobre o

assunto.

No entanto, terminamos este ensaio com a sensação de que iniciamos um processo

que poderá ter uma boa continuidade, abrindo um novo campo de pesquisa, tanto na

academia, quanto na clínica. Com isso, nos sentimos dispostos, em um futuro breve, a

retomar estas anotações, como quem retoma um rascunho, e aprimorá-las colaborando

assim para o fortalecimento da psicopedagogia como ciência.

Page 24: O brincar no consultório.pdf

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDERS, Ursula. O brincar como primeiro experimento do mundo e como linguagem

da criança. Elternbrief, 1982 Disponível em:<www.jardimdasamoras.com.br > Acesso: 12

nov.2005.

AXLINE, Virginia. Ludoterapia. Belo Horizonte: Interlivros, 1984.

BROUGÈRE, Gilles. Brinquedo e cultura. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2004.

CURI, Lucinina Moreira. O Brincar e a Integração Sensorial. [S.l.] Crescer, 2005.

Dispopnível em: <http://www.cicrescer.com.br/?secao=ler_artigos&id_art=28>

Acesso em: 5 nov. 2005.

DORFMAN, Eliane. Ludoterapia. In: ROGERS, Carl R. Terapia Centrada na Cliente

São Paulo: Martins Fontes, 1992. p.268-317.

FERNÁNDEZ, Alicia. Os idiomas do aprendente: Análise das modalidades ensinantes

com famílias, escolas e meios de comunicação. Porto Alegre: Artmed Editora, 2001.

GRIZ, Maria das Graças Sobral. Avaliação psicopedagógica: verificação de talentos e

potencialidades. [S.l.] Cepai, 2004. Disponível em: <http://www.cepai.com.br/v2/artigo>

Acesso em: 6 nov. 2005.

IGNÁCIO, Renate Keller. Criança Querida O dia-a-dia das creches e jardim-de-

infância.2. ed. São Paulo: Editora Antroposófica, 1995. 112 p.

MANSO, Tereza Cristina. A importância do brincar como facilitador do

desenvolvimento. Varginha – MG, 2000. Disponível em: <www.psicopedagogia.com.br>

Acesso em: 12 nov. 2005.

RAPPAPORT, Clara Regina. Psicologia do desenvolvimento. São Paulo: EPU, 1981.

SCHEVEN Karin Evelyn. Minha querida boneca. São Paulo: FEWB, 2006.

STEINER, Rudolf. A arte da educação baseada na compreensão do ser humano: ciclo

de sete conferências pronunciadas em Torquay, Inglaterra, de 12 a 20 de agosto de 1924.

Tradução de Rudolf Nobiling. São Paulo: Associação Pedagógica Rudolf Steiner, 1978.

Page 25: O brincar no consultório.pdf

WEISS, Maria Lúcia Lemme. Psicopedagogia Clínica: uma visão diagnóstica. Porto

Alegre, Artes Médicas, 1992.

WINNICOTT, D.W. O Brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago Editora Ltda, 1975.