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INTERLETRAS, ISSN Nº 1807-1597. V. 3, Edição número 21, de Abril, a Setembro 2015 - p 1 O BRINCAR NA EDUCAÇÃO ESPECIAL NOS PRIMEIROS ANOS DAS SERIES INICIAIS DE UMA ESCOLA MUNICIPAL DA CIDADE DE DOURADOS MS Edilson Rebelo dos Santos* Gislaine Lopes Vivente** Marcia Jane Capuano Brandt *** RESUMO: Esta pesquisa foi desenvolvida na perspectiva de demonstrar a importância do brincar como fator de desenvolvimento de crianças e adultos com necessidades especiais. Este trabalho tem como objetivo compreender a importância do brincar na Educação Especial como fator de interação, socialização, desenvolvimento motor. Para a obtenção dos dados foi realizada uma pesquisa bibliográfica em busca de periódicos no banco de dados da Scielo (biblioteca eletrônica que abrange uma coleção selecionada de periódicos científicos brasileiros). A coleta de dados ocorreu em uma Escola Municipal da Cidade de Dourados-MS, com uso da prática de atividades lúdicas que tinham por finalidade descobrir as seguintes habilidades nas crianças com necessidades especiais coordenação motora, sequência lógica, memória visual, noções de tamanho e formas, a amostra foi composta por 10 participantes com faixa etária entre 08 e 35 anos, no período de 06 a 20 de agosto de 2014. Em última análise pode-se concluir que é de suma importância a aplicação desta prática dentro e fora da sala de aula, como mediador de aprendizagem. Neste momento vale lembrar que o brincar tanto na educação especial como na regular traz inúmeros benefícios para o indivíduo, tanto na vida social, afetiva, cognitiva, entre tantos outros que propicia um aprendizado melhor tanto na escola quanto no meio em que está inserido. ABSTRACT:This research was developed with the objective of showing the importance of playing, as a development factor of children and adults with special needs. This work aims to comprehend the importance of playing in the Special Education as an interaction factor, as well as socialization and motor development. To obtain data, a literature research was conducted in search of journals in the Scielo archive (electronic library that include a selected collection of Brazilian scientific journals). The collection of data occurred at a Municipal School in Dourados-MS, using playful activities in order to ascertain the following abilities in children with special needs: motor coordination, logical sequence, visual memory, notions of sizes and shapes. The sample was composed by 10 participants, between 8 and 35 years old, from August 6 to 20, 2014. Ultimately, we can conclude that it is of paramount importance the use of this practice inside and outside the classroom, as a mediator of learning. This time, it is worth remembering that playing both in special and regular education brings numerous benefits to the individual, both in social, affective and cognitive life, among so many others that provide a better learning both at school and in the environment they are inserted. Palavras-chave: Educação especial. Brincadeiras e Brincar Keywords: Special Education, Games, Playing.

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INTERLETRAS, ISSN Nº 1807-1597. V. 3, Edição número 21, de Abril, a Setembro 2015 - p

1

O BRINCAR NA EDUCAÇÃO ESPECIAL NOS PRIMEIROS ANOS DAS

SERIES INICIAIS DE UMA ESCOLA MUNICIPAL DA CIDADE DE

DOURADOS – MS

Edilson Rebelo dos Santos*

Gislaine Lopes Vivente**

Marcia Jane Capuano Brandt ***

RESUMO: Esta pesquisa foi desenvolvida na perspectiva de demonstrar a importância do brincar como

fator de desenvolvimento de crianças e adultos com necessidades especiais. Este trabalho tem como

objetivo compreender a importância do brincar na Educação Especial como fator de interação,

socialização, desenvolvimento motor. Para a obtenção dos dados foi realizada uma pesquisa

bibliográfica em busca de periódicos no banco de dados da Scielo (biblioteca eletrônica que abrange

uma coleção selecionada de periódicos científicos brasileiros). A coleta de dados ocorreu em uma Escola

Municipal da Cidade de Dourados-MS, com uso da prática de atividades lúdicas que tinham por

finalidade descobrir as seguintes habilidades nas crianças com necessidades especiais coordenação

motora, sequência lógica, memória visual, noções de tamanho e formas, a amostra foi composta por 10

participantes com faixa etária entre 08 e 35 anos, no período de 06 a 20 de agosto de 2014. Em última

análise pode-se concluir que é de suma importância a aplicação desta prática dentro e fora da sala de

aula, como mediador de aprendizagem. Neste momento vale lembrar que o brincar tanto na educação

especial como na regular traz inúmeros benefícios para o indivíduo, tanto na vida social, afetiva,

cognitiva, entre tantos outros que propicia um aprendizado melhor tanto na escola quanto no meio em

que está inserido.

ABSTRACT:This research was developed with the objective of showing the importance of playing, as a

development factor of children and adults with special needs. This work aims to comprehend the

importance of playing in the Special Education as an interaction factor, as well as socialization and

motor development. To obtain data, a literature research was conducted in search of journals in the

Scielo archive (electronic library that include a selected collection of Brazilian scientific journals). The

collection of data occurred at a Municipal School in Dourados-MS, using playful activities in order to

ascertain the following abilities in children with special needs: motor coordination, logical sequence,

visual memory, notions of sizes and shapes. The sample was composed by 10 participants, between 8 and

35 years old, from August 6 to 20, 2014. Ultimately, we can conclude that it is of paramount importance

the use of this practice inside and outside the classroom, as a mediator of learning. This time, it is worth

remembering that playing both in special and regular education brings numerous benefits to the

individual, both in social, affective and cognitive life, among so many others that provide a better

learning both at school and in the environment they are inserted.

Palavras-chave: Educação especial. Brincadeiras e Brincar

Keywords: Special Education, Games, Playing.

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INTRODUÇÃO

Esta pesquisa foi desenvolvida na perspectiva de demonstrar a importância do brincar;

como fator de desenvolvimento de crianças e adultos com necessidades especiais. Para a

obtenção dos dados apresentados no desenvolvimento do trabalho, foi realizada uma

pesquisa bibliográfica, em busca de periódicos no banco de dados da scielo (biblioteca

eletrônica que abrange uma coleção selecionada de periódicos científicos brasileiros),

sobre a temática, e também estudos Aguiar, 2004 Educação Inclusiva: Jogos para o

ensino de conceitos e Figueira, 2011 O que é educação inclusiva. As palavras chaves

para a busca no banco de dados foram: Educação Especial, Brincadeira e Brincar, onde

estas poderiam estar citadas em qualquer parte do corpo do texto, como: título palavras

chaves, resumo.

Sendo assim o estudo direcionado neste trabalho tem como problema norteador de

pesquisa a seguinte questão: Qual a relação do brincar na educação especial como fator

de desenvolvimento nas habilidades de aprendizagem?A prática cotidiana prova que

através do lúdico, o aluno com necessidades especiais desenvolve-se com mais

facilidade, uma vez que o ensino por meio de brincadeiras se torna um grande mediador

entre aprendizagem e assimilação de conteúdo, possibilitando uma forma mais

agradável e prazerosa de adquirir conhecimento, prepara o aluno tanto nos âmbitos

cognitivo, afetivo e social trazendo, inúmeros benefícios para sua vida cotidiana.

Este trabalho tem como objetivo compreender a importância do brincar na educação

especial como fator de interação, socialização, desenvolvimento motor, neste momento

vale lembrar as brincadeiras que encontradas na literatura voltadas a educação especial

no processo de aprendizagem, no processo de interação, socialização entre crianças

especiais e pessoas que estão voltadas ao seu meio, convém ressaltar importância de ter

profissional qualificado para atuar com brincadeiras para ajudar no processo de

aprendizagem de criança (as).

O trabalho está dividido em três seções, a primeira mostra o conceito e o processo evolutivo da educação especial no Brasil, enfatizando sua relevância para esta prática. A segunda seção mostra o uso de jogos e brincadeiras na educação especial e o porquê esta prática é tão importante nesse cenário. A terceira seção vem mostrando o uso de atividades lúdicas como mediador de avaliação, possibilitando uma compreensão fundamental desta prática. Por fim, encerramos o trabalho com algumas considerações finais. 1 ASPECTOS HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL NO BRASIL

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Para que possa compreender O que é brincar na Educação Especial, temos

primeiramente que demonstrar o que é educação especial e quais foram os seus marcos

históricos até os dias de hoje, para isto iremos fazer uma retrospectiva dos principais

acontecimentos que nortearam a educação especial. Entende-se por Educação especial,

mediante a ―Lei de Diretrizes e Bases Nacionais Brasileiras – LDB, Lei n° 9.394/96, em

seu artigo 58° que:educação especial é a modalidade de educação escolar, oferecida

preferencialmente na rede regular de ensino, para educando portadores de necessidades

especiais‖.

Figueira (2011), em sua obra O que é educação inclusiva relata que os primeiros atos de exclusão, descasos, abandonos, crueldades com crianças nascidas no Brasil ocorreram com os povos indígenas, onde eles abandonavam estas crianças nas matas ou atirava-os do alto da montanha, ou em casos mais extremos sacrificavam em rituais de purificação, pois se acreditava que estas crianças poderiam trazer maldição à tribo.

Passados esta época o Brasil já colonizado, a Educação Especial tem seus primeiros registros no período final do Brasil Colônia, com a implantação do “Instituto dos Meninos Cegos”, em 1854, sob a direção de Benjamin Constant, onde hoje é o atual Instituto Benjamin Constant. Este espaço foi criado no Rio de Janeiro, pelo imperador D. Pedro II, através do Decreto Imperial n°. 1.428, de 12/09/1854. E também em 1857, pelo Decreto-Lei n° 839, de 26/09/1857 é criado o Instituto de Surdos, pelo mestre francês Ernest Huet, hoje denominado Instituto Nacional de Educação dos Surdos (MAZZOTTA, 1995).

Fica explicito ainda que a educação especial durante o Período Imperial até o início do Período Republicano, não houve nenhum atendimento educacional especializado para estas crianças, sendo apenas pautado nestas épocas registros de internações em hospitais psiquiátricos.

Mediante a esses registros fica evidenciado o descaso que ocorriam naquelas épocas. Mas em 1889 o Brasil é proclamado e com isso os estudantes e profissionais que estavam na Europa retornam ao Brasil com intuito de modernizar. (ARANHA, 2005).

E são os médicos os primeiros a estudar crianças com prejuízos mais sérios e são eles a criarem instituições para estas crianças junto a sanatórios (Pereira, 1993). De acordo com autor ainda houve um grande interesse por parte dos médicos por causa da criação dos serviços de higiene-mental e saúde pública, que em alguns lugares deu origem ao serviço de Inspeção médico-escolar e à preocupação com a identificação e educação dos estados anormais de inteligência.

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E com o passar dos anos a educação especial vai ganhando novos caminhos e é através de Francisco Campos, que era Secretário de Educação do estado de Minas Gerais, preocupado com o desenvolvimento da educação especial, onde ele era um dos adeptos da escola nova, trouxe ao Brasil em 1929 a psicóloga Helena Antipoff, com isso no Brasil foi criado o Laboratório de Psicologia da Escola de Aperfeiçoamento de Professores, que tinha seu trabalho inicial de organizar a educação primária na rede comum de ensino baseado na composição de classes homogenias.

Após a criação e coordenação deste Laboratório Helena passa a fazer parte no

movimento das Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAEs), decorrentes

a estes movimentos, as APAEs foram ganhando forças e em 1962, já possui doze

instituições voltadas a atender crianças portadoras de deficiências em todo o país

(CAMPOS, 2003; D’ ANTINO, 1998).

Retrocedendo um pouco, outro grande marco histórico ocorreu em 1957, quando foram

implantadas as campanhas para as pessoas com deficiências, financiadas pelo governo

federal, que logo após houve uma grande evolução através da Campanha para a

Educação do Surdo Brasileiro e com isto no mesmo ano foi assinado um Decreto

Federal n° 42.728, de 03/12/1957. Que tinha por finalidade ―promover, por todos os

meios a seu alcance, as medidas necessárias à educação e assistência, no mais amplo

sentido, em todo o Território Nacional‖ (art.2º) (FIGUERA, 2011).

Para que se possa compreender de forma clara e objetiva é necessário um avanço e que

pontue, os marcos importantes que ocorreram a partir dos anos de 1994, onde neste foi

organizado um documento contendo as ações e políticas voltadas a educação especial. A

partir desta organização de documentos surge a Política Nacional de Educação Especial.

Em 1996, o então Presidente Fernando Henrique Cardoso, sanciona a nova Lei de

Diretrizes e Bases da Educação – Lei n° 9.394 em 20 de dezembro de 1996 (LDB

9394/96, BRASIL, 1996).

Segundo Figueira (2011), a educação especial era apenas contemplada como

modalidade de ensino, e com isso a duas questões que se deve considerar, o direito à

educação comum a todas as pessoas e o direito de receber esta educação junto com

outras pessoas. O autor enfatiza que:

Durantes muitos anos, o conceito de Educação Especial teve uma forte

aceitação em nosso país. Era um modelo educacional-médico, ou seja,

instituições que mantinham equipes multidisciplinares, formandos por

professores especializados, médicos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos,

terapeutas ocupacionais, psicólogos e outros profissionais menos comuns. Essa

equipe tinha como meta habilitar as pessoas que nasciam com algum tipo de

deficiência ou reabilitar aqueles que, ao longo de sua vida, viessem adquirir

alguma deficiência, seja por meio de doenças ou acidentes, dentre outros

motivos. Eram os profissionais que preparavam crianças ou pessoas com

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deficiência para depois integrá-las na sociedade – e em muitos resultados

positivos. (FIGUEIRA, 2011, p. 27).

Percebe-se nas entrelinhas de Figueira (2011), a visão que a sociedade tinha (ou tem)

sobre essas pessoas com necessidades especiais, ainda fazendo o uso das palavras do

autor, ele menciona que por muito tempo as pessoas especiais se mantiveram excluídas

da sociedade, pelo fato deste olhar preconceituoso.

Para concluir esta seção, de forma clara e compreensiva, em 1994, surge então a

Declaração de Salamanca – Princípios Políticos e Práticas em Educação Especial, onde

este documento visa e assegura à educação as pessoas com necessidades especiais, para

que elas possam frequentar o ensino regular, com isso se ganha mais força e através do

mesmo uma nova visão: a de inclusão escolar e social, onde essas pessoas eram

expostas a situações de reabilitação para estarem juntas a sociedade e com este

documento fica fomentada que é a sociedade que deve se readaptar para estar junto a

estas pessoas.

2 A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR

O brincar é um ato de muita importância no desenvolvimento da criança, pois através

dele podemos perceber inúmeros avanços no desenvolvimento cognitivo, afetivo e

social da criança, com ele pode-se fazer o processo de interação social tanto no

ambiente escolar como também familiar, e é através do brincar que profissionais e pais

podem perceber o processo de desenvolvimento motor, lateralidade, domínio espacial,

concentração entre outros estímulos na (as) criança (s) que estão a sua volta, e, além

disso, é brincando que a criança se conhece (PEREIRA; LIMBERGER, 2014).

Para Piaget (1978), os jogos desenvolvem a inteligência, as percepções e os instintos

sociais. Quando a criança joga, ela aprende expressa, assimila e constrói a sua realidade,

por meio da aplicação de seus esquemas mentais.

O brincar não só aumenta a motivação da criança para aprender como também

desenvolve a autoconfiança, a capacidade de organização, a imaginação, concentração

raciocínio lógico-dedutivo e proporciona também a sociabilidade, é preciso insistir

também no fato de que o lúdico semeia a possibilidade de que o indivíduo possa

interagir com outras pessoas. Vale contemporizar, segundo Piaget (1978), os jogos

potencializam o trabalho em equipe a comunicação, estabelece a aquisição de novos

conhecimentos e experiências, viabiliza o aspecto físico e mental além de dignificar a

criança a procurar alternativas para solucionar problemas.

Convém ressaltar que através do brincar, a criança vê e constrói seu mundo, a prática

cotidiana prova que é de suma importância que os professores resgatem as atividades

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lúdicas, e pulverizem esse processo trabalhando com a diversidade cultural e

despertando no indivíduo a vontade de aprender (PIAGET, 1971).

É preciso insistir no fato de que brincar não é só é essencial para o desenvolvimento da

identidade como também da autonomia do indivíduo, se por um lado promove a

comunicação por outro lado semeia a inclusão de uma forma mais ampla, assegurando

que o indivíduo por meio do brincar possa se expressar com muito mais facilidade, além

de potencializar a sua imaginação (LOPES, 2006).

Cumpre assinalar que segundo, (Vygostki, 1997), as crianças com necessidades

especiais o seu desenvolvimento difunde-se mais nas áreas das funções superiores, do

que nas áreas inferiores. Nessa estrutura, salienta-se que as funções superiores são mais

educáveis, que as funções superiores estão ligadas ao orgânico, enquanto que os

elementares são culminados pelos grupos sociais.

Assinale, ainda que a partir da plasticidade do funcionamento humano, aliados as

experiências vividas semeiam grandes avanços na formação do indivíduo seja ele ―dito

normal‖ ou com necessidades especiais, principalmente quando a experiência

vivenciada é feita de forma positiva no meio em que está inserido (VYGOSTKI, 1997).

Através do brincar, é possível ensinar coisas essenciais para vida diária de uma criança

com necessidades especiais, atravessar uma rua, comer alimentos saudáveis, higiene

pessoal, sendo estes essenciais para um dia a dia independente, podendo realizar

pequenas tarefas sem nenhuma ou com pouca ajuda (LOPES, 2006).

No âmbito escolar estimula todos os estados de desenvolvimento da criança, físico,

cognitivo, linguagem, social e emocional. É importante que se faça realçar para que esta

fase do aprendizado ocorra com êxito, pois do contrário criará uma barreira de difícil

acesso entre a criança e o seu desenvolvimento, dessa maneira afetará sua vida mais

tarde, criando danos irreparáveis (BOMTEMPO, 1997).

Vale ratificar que a brincadeira tem que ser feita de forma prazerosa, a criança tem que

sentir à vontade, para que possa canalizar aquele momento com pontos positivos para

ela, quando a brincadeira se torna entediante, desagradável ela não consegue

contemporizar de forma positiva por isso o profissional tem que estar atento a isso para

não frustrar a criança de modo que ela não queira mais participar (BORGES, 1994).

A prática cotidiana prova que nos dias de hoje, os recursos para propiciar essas

atividades vêm aumentando e ganhando espaço nas escolas, mas vale salientar que

mesmo que se tenha um vasto conhecimento desses recursos, sem qualidade e sem

realizá-lo de forma coerente não serve de nada, sempre lembrando que o papel do

professor é de suma importância, ele que irá nortear as brincadeiras, com regras,

espaços e impor respeito entre colegas (BRAGA, 2005).

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De acordo com Friedmann (1996) em sua obra O Direito de Brincar: a brinquedoteca

descreve bem à importância do brincar, a autora salienta o brincar da seguinte maneira:

O brincar traz de volta a alma da nossa criança: no ato de brincar, o

ser humano se mostra na sua essência, sem sabê-lo, de forma

inconsciente. O brincante troca, socializa, coopera e compete ganha e

perde. Emociona-se, grita, ri, perde a paciência, fica ansioso, aliviado.

Erra, acerta. Põe em jogo seu corpo inteiro: suas habilidades motoras e

de movimento vêem-se desafiadas (FRIEDMANN, 1996, p. 88).

Awad (2012), em sua obra intitulada Brinque, jogue, cante e encante com a recreação:

conteúdos de aplicações pedagógicos teórico/prático não faz o uso do termo ―brincar‖

como Friedmann citada anteriormente o autor usa ―brincadeira‖, para demonstrar o peso

desse termo no processo de interação da criança, ele se expressa da seguinte maneira:

Brincadeira: é uma ação lúdica espontânea e desprovida de

regras preestabelecidas que permita que a criança se expresse

naturalmente por meio da sua imaginação, fantasia e uma

mistura do faz de conta com a realidade que a cerca em busca

de momentos de diversão que a levem ao estado de prazer,

alegria e encantamento, tornando-se essencial para o seu

desenvolvimento e construção de sua identidade social

(AWAD, 2012, p. 15).

Percebe-se que tanto o termo utilizado por Friedmann quanto por Awad andam lado a

lado, para a criança brincar ou realizar brincadeiras é a mesma coisa, o que eles (as)

querem é se divertir-se, se para a criança dita ―normal‖ perante a sociedade é prazeroso,

imagina para a criança com alguma necessidade especial. E é através deste prazer que o

brincar proporciona aos seres humanos que devemos brincar mais.

3 Usos de Atividades Lúdicas como Mediador de Avaliação

Este estudo é bibliográfico, qualitativo e quantitativo que busca descrever, analisar, interpretar fatos ou fenômenos (LAKATOS, MARCONI, 2011).

Para a obtenção dos dados apresentados no desenvolvimento do trabalho, foi realizada

uma pesquisa bibliográfica, em busca de periódicos no banco de dados da scielo

(biblioteca eletrônica que abrange uma coleção selecionada de periódicos científicos

brasileiros), sobre a temática, e também estudos Aguiar, 2004 Educação Inclusiva:

Jogos para o ensino de conceitos e Figueira, 2011 O que é educação inclusiva. As

palavras chaves para a busca no banco de dados foram: Educação Especial, Brincadeira

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e Brincar, onde estas poderiam estar citadas em qualquer parte do corpo do texto, como:

título palavras chaves, resumo.

A coleta de dados ocorreu em uma Escola Municipal da cidade de Dourados- MS, com

o uso da prática de atividades lúdicas. A amostra foi composta por 10 participantes com

faixa etária entre8 a 35 anos, no período de 06 a 20 de agosto de 2014.Para a busca dos

resultados foi realizada algumas atividades lúdicas que tinham por finalidade descobrir

as seguintes habilidades nas crianças com necessidades especiais: coordenação motora

sequência lógica, memória visual, noções de tamanhos e formas. A tabela 1 apresenta a

caracterização dos participantes envolvidos na pesquisa.

Tabela 1 Caracterização dos Participantes

Participantes Sexo Idade (*) Patologia

A F 35 anos 10 meses Autismo + DI severo

B M 16 anos 5 meses TDAH + síndrome do Pânico

C M 8 anos 11 meses TDAH

D M 8 anos 7 meses TDAH

E M 17 anos 2 meses DOWN

F F 20 anos 7 meses DI moderado

G F 15 anos 3 meses DI moderado

H F 14 anos 8 meses DI moderado

I F 8 anos 4 meses DI leve

J F 10 anos 11 meses DI moderado + Baixa visão

(*) idade que os participantes envolvidos na pesquisa apresentavam durante a realização da mesma.

Para uma boa obtenção dos dados, foram selecionadas algumas atividades lúdicas

através de manuais para professores, cuja procedência dos materiais era todos

comprados, para que envolvesse os conceitos alvos, que seriam objetos de estudo. A

tabela 2 demonstra quais foram às atividades aplicadas, juntamente com todas as

informações necessárias para uma boa compreensão de todos.

Tabela 2 Descrições das Atividades aplicadas para a coleta de dados.

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Atividades Habilidades

esperadas

Descrição Material

Quebra-cabeça Coordenação

motora;

Memória visual;

Agilidade.

10 tabuleiros em

MDF;

Tamanho de 29 cm

x21cm.

Imagens grandes

variadas e coloridas

10 tabuleiros em

MDF.

Jogo da memória Memória visual;

Concentração;

20 pares de imagens

variadas;

Confeccionada em

MDF.

Saco de sensações Percepção através do

Tato;

1 saco de tecido;

Vários objetos de

todos os tamanhos e

formas.

Vários objetos que

possam ser

identificados através

do tato

Sequência lógica das

cores

Memória visual;

Raciocínio;

O jogo é composto

por 7 papeis de

diferentes cores

Papel A4 de

diferentes cores

Formas Geométricas Coordenação

motora;

Percepção;

Espaço.

O jogo é composto

por uma casinha,

onde a criança deve

encaixar as formas

geométricas no seu

devido lugar.

Casinha em MDF,

8 peças em madeira

no formato de

formas geométricas

A amostra ficou constituída por 10 indivíduos sendo 5 Deficiente Intelectual (DI), 3

Transtorno Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), 1 Down e 1 Autista, com

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faixa etária de 8 a 35 anos ambos alunos de uma escola municipal da cidade de

Dourados-MS.

Pode-se perceber que tanto a criança autista como a criança Down apresentou uma

elevada dificuldade em executar a atividade das formas geométricas, como também no

saco das sensações. Foi ainda percebido que a criança autista, só conseguiu realizar a

atividade depois que a professora da sala de recursos ajudava a conduzir sua mão até as

formas geométricas, e a aluna tinha que mover a peça para ver se possuía o encaixe

certo, já com a criança Down não houve esse recurso, mais o que ficou evidente é a

difícil compreensão dos formatos das peças com seus respectivos encaixes. Quanto ao

saco das sensações ambos não conseguiram identificar os objetos escolhidos por eles.

Evidencia-se que todos ao realizar a atividade de quebra-cabeça tiveram facilidade em

desenvolver mediante ao reconhecimento das imagens. Quando colocada às peças

embaralhadas houve uma dificuldade maior entre o DI moderado do que o TDAH.

Salienta ai que através do jogo da memória o aluno com síndrome de Down apresentou

melhor desempenho ao realizar o jogo do que o aluno com TDAH, pois o mesmo

apresentava capacidade em reconhecimento e contagem dos números, já o aluno com

TDAH fazia a contagem com o auxílio da professora e não reconhecia os números

apresentados no jogo.

Em uma comparação com duas alunas da mesma patologia (DI), pode observar que uma

apresentou mais desenvolvimento e compreensão na realização das atividades do que a

outra. Pode observar ainda que outra aluna com DI ao realizar uma atividade de

sequência lógicas das cores apresentou muita dificuldade em montar a sequência lógica

proposta, pois ela memorizava apenas as duas cores que estavam nas pontas.

Fomenta-se ainda que todos os jogos a serem realizados pelos participantes envolvidos

na pesquisa, ao final de cada acerto ou erro era realizado uma estimulação através de

palmas para que os mesmos tivessem motivação para continuar a executar os jogos

propostos, pois era evidente que o jogo apresentasse dificuldades o participante

envolvido se sentia desmotivado para continuar a brincar.

CONCLUSÃO

O trabalho apresentado teve como tema central o brincar na educação especial, como o

objetivo decompreender a importância do brincar na educação especial como fator de

interação, socialização, desenvolvimento motor. E mediante a esse pressuposto

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podemos fomentar que o brincar é alvo de estudos de vários autores, e que o brincar na

educação especial vem sendo mediador de estudos nos tempos de hoje.

Com o presente trabalho podemos concluir como é de suma importância a aplicação

desta prática dentro e fora da sala de aula, como mediador de aprendizagem, pois os

jogos e atividades lúdicas possibilitam inúmeros benefícios. É bem verdade que quando

se trata de ensinar utilizando o lúdico como ponto de partida para alguma atividade, seja

ela ler, escrever, contar se torna mais simples e agradável, e ao mesmo tempo prazerosa,

e obtendo bons resultados. Nesse sentido pode-se dizer que o brincar traz inúmeros

benefícios para o indivíduo, tanto no social, afetivo, cognitivo, entre tantos outros que

propicia um aprendizado melhor tanto na escola quanto no meio em que está inserido.

Como remate é importante frisar que à prática do brincar na educação especial ocorra de

forma coerente denodo a ter profissionais que compreendam todas as importâncias desta

ferramenta como mediador de ensino e aprendizagem, e também possuir um domínio

sobre o acervo de jogos e brincadeiras que podem ser aplicadas para possibilitar todas as

habilidades esperadas.

REFERÊNCIAS

Aranha, M. S. F., 2005, Projeto Escola Viva: garantindo o acesso e permanência de

todos os alunos na escola: necessidades educacionais especiais dos alunos,

Brasília,Ministério da Educação, Secretaria de EducaçãoEspecial.

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*Graduado em Educação Física no Centro Universitário da Grande Dourados – UNIGRAN; Especialista

em Educação Especial ESAP – Instituto de Estudos Avançados e Pós-Graduação e UNIVALE –

Faculdades Integradas do Vale do Ivaí.

Graduada em Educação Física no Centro Universitário da Grande Dourados – UNIGRAN; Especialista

em Educação Especial ESAP – Instituto de Estudos Avançados e Pós-Graduação e UNIVALE –

Faculdades Integradas do Vale do Ivaí.

*** Graduada em Educação Física no Centro Universitário da Grande Dourados – UNIGRAN;

Especialista em Educação Especial ESAP – Instituto de Estudos Avançados e Pós-Graduação e

UNIVALE – Faculdades Integradas do Vale do Ivaí.